Produto Nacional: uma história da indústria no Brasil - CNI
Produto Nacional: uma história da indústria no Brasil - CNI
Produto Nacional: uma história da indústria no Brasil - CNI
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
advento <strong>da</strong> Era de Mauá – o primeiro industrial brasileiro dig<strong>no</strong><br />
do <strong>no</strong>me. Mas a nação de Mauá era também <strong>uma</strong> nação escravista,<br />
vincula<strong>da</strong> à grande lavoura cafeeira. E a “banca<strong>da</strong> ruralista” do<br />
Senado tratou de abortar seu projeto. Mas também caberia ao café<br />
decretar o fi m <strong>da</strong> escravidão, estimular a vin<strong>da</strong> de imigrantes,<br />
precipitar o advento <strong>da</strong> República e gerar os capitais responsáveis<br />
pela eclosão do surto industrialista de São Paulo, entre 1890 e<br />
1920, tão prenhe de <strong>no</strong>mes lendários, como Matarazzo, Klabin,<br />
Lafer, Pereira Ignácio e Ermírio de Moraes.<br />
Foi n<strong>uma</strong> reação à “República do café com leite” que Getúlio<br />
Vargas partiu do Sul, defl agrando o movimento que <strong>da</strong>ria início<br />
à era <strong>da</strong> <strong>indústria</strong> de base <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. E estimulando também,<br />
outra vez por vias transversas, o advento <strong>da</strong> liderança classista de<br />
Roberto Simonsen. Achando-se, a princípio, em campos opostos,<br />
Vargas e Simonsen logo estariam conectados. A ponte foi obra<br />
do mineiro Euvaldo Lodi. Mas não se restringiria a isso o papel<br />
fun<strong>da</strong>mental desempenhado por Lodi na <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>indústria</strong><br />
brasileira. Ao a<strong>da</strong>ptar seus interesses patronais às regras do<br />
sindicalismo varguista, ele seria, junto com o parceiro Simonsen,<br />
o principal artífi ce <strong>da</strong> Confederação <strong>Nacional</strong> <strong>da</strong> Indústria, bem<br />
como o primeiro e mais longevo presidente <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de que<br />
comandou com destreza e competência ao longo de 16 a<strong>no</strong>s.<br />
Gera<strong>da</strong> em meio às turbulências do Estado Novo, a <strong>CNI</strong><br />
concretizou os anseios dos industrialistas de constituir <strong>uma</strong> enti<strong>da</strong>de<br />
sóli<strong>da</strong> o bastante para defender seus interesses. Ao fazê-lo, tor<strong>no</strong>u<br />
reali<strong>da</strong>de o sonho de fi guras heróicas, quase quixotescas, como<br />
Inácio Álvares Pinto de Almei<strong>da</strong> (fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> SAIN), Antônio<br />
Felício dos Santos (idealizador <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Industrial) e Sezerdelo<br />
Correia e Jorge Street (criadores do CIB), personagens com os quais<br />
o leitor se familiarizará ao longo do livro.<br />
A partir do surgimento <strong>da</strong> <strong>CNI</strong>, o antigo confronto entre<br />
agricultura e <strong>indústria</strong>, comércio e <strong>indústria</strong>, livre iniciativa e<br />
intervenção estatal; to<strong>da</strong>s as mazelas e deslizes, suplantações<br />
e conquistas – em s<strong>uma</strong>, to<strong>da</strong> a <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>indústria</strong> nacional<br />
– passaram a se concentrar em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de, que acompanhou<br />
o início, o meio e o fi m <strong>da</strong> Era Vargas, vivendo os a<strong>no</strong>s dourados de<br />
JK, os a<strong>no</strong>s de chumbo do regime militar e aju<strong>da</strong>ndo a concretizar<br />
a redemocratização plena do país.<br />
Tão plena que em 1º de janeiro de 2003, na aurora do <strong>no</strong>vo<br />
milênio, Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva – ex-torneiro mecânico formado<br />
pelo SENAI – tomou posse na presidência do país sem turbulências<br />
ou rumores golpistas. Um momento que pareceu concretizar também<br />
<strong>uma</strong> vitória <strong>da</strong> <strong>indústria</strong> nacional – sóli<strong>da</strong> o sufi ciente para formar<br />
um líder <strong>da</strong>s dimensões de Lula; madura o bastante para vê-lo<br />
assumir o comando <strong>da</strong> nação.<br />
Embora feito por encomen<strong>da</strong> <strong>da</strong> própria <strong>CNI</strong>, <strong>Produto</strong><br />
<strong>Nacional</strong> foi escrito com total liber<strong>da</strong>de editorial. Na<strong>da</strong><br />
mais natural: liber<strong>da</strong>de, <strong>indústria</strong> e livre iniciativa sempre<br />
caminharam juntas. Até porque, há exatos 200 a<strong>no</strong>s, a <strong>indústria</strong><br />
ajudou a libertar de vez o <strong>Brasil</strong>.<br />
Eduardo Bue<strong>no</strong><br />
Porto Alegre, julho de 2008