Produto Nacional: uma história da indústria no Brasil - CNI
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A exploração racional de qualquer<br />
minério constitui genuína ativi<strong>da</strong>de<br />
industrial, que requer técnicas e<br />
instrumentos adequados (abaixo). Não<br />
foi o que ocorreu <strong>no</strong> ciclo <strong>da</strong>s Gerais,<br />
pelo me<strong>no</strong>s até a chega<strong>da</strong> de técnicos<br />
alemães e ingleses, entre 1819 e 1823.<br />
Ain<strong>da</strong> assim, tal era a quanti<strong>da</strong>de de<br />
ouro existente nas cercanias de Vila<br />
Rica (hoje Ouro Preto) que entre 1700<br />
e 1799 foram extraí<strong>da</strong>s, sem auxílio<br />
mecânico, cerca de 800 tonela<strong>da</strong>s de<br />
minério. O contrabando teria chegado<br />
a 35% desse montante (para fins<br />
comparativos, na déca<strong>da</strong> de 1980,<br />
Serra Pela<strong>da</strong> produziu 350 tonela<strong>da</strong>s).<br />
Cultura e opulência do <strong>Brasil</strong> por<br />
suas drogas e minas, escrito em 1711<br />
pelo jesuíta Antonil, traça um vívido<br />
pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong> região.<br />
O ciclo <strong>da</strong> mineração<br />
NEM TUDO QUE RELUZ É OURO<br />
Antes mesmo de desembarcar de seus navios,<br />
os portugueses já estavam obcecados pela<br />
idéia de encontrar ouro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O simples fato de<br />
um indígena que subira a bordo <strong>da</strong> nau capitânia<br />
indicar o colar usado por Cabral e depois apontar<br />
para a terra foi tido como sinal inequívoco de que<br />
na <strong>no</strong>va terra haveria ouro, muito ouro. E de fato<br />
muito ouro havia – só que dois séculos, incontáveis<br />
desilusões e muitas vi<strong>da</strong>s seriam gastos antes que<br />
ele se revelasse <strong>uma</strong> espantosa reali<strong>da</strong>de.<br />
Enquanto o ouro não aparecia, os portugueses<br />
precisavam ganhar o pão <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> com o suor de<br />
seus rostos, como n<strong>uma</strong> maldição bíblica. E o pior<br />
é que, quase ao lado, na vizinha e rival América<br />
Espanhola, Peru e México pareciam produzir<br />
<strong>uma</strong> quanti<strong>da</strong>de inesgotável de metais preciosos.<br />
Então, em fi ns do século 17, o rei de Portugal,<br />
D. Pedro II (1648-1706), escreveu aos “homens<br />
bons” de São Paulo clamando para que eles<br />
tornassem a buscar minas – ao mesmo tempo em<br />
que modifi cava a legislação régia que concedia à<br />
Coroa os direitos sobre todos os achados minerais.<br />
Assim, a partir de 1695, como que por encanto, as<br />
chama<strong>da</strong>s “minas gerais” surgiram às dezenas –<br />
sinal claro de que os sertanistas já as conheciam,<br />
apenas não haviam revelado a existência de<br />
riquezas que lhes seriam confi sca<strong>da</strong>s.<br />
O ouro era muito – e estava à fl or <strong>da</strong> terra e à fl or<br />
<strong>da</strong> água. Era ouro uro aluvional, resultante r de depósitos<br />
geológicos recentes, cuja exploração, ex segundo o<br />
jesuíta Antonil, resumia-se “à mera catagem, que<br />
só necessitava braço h<strong>uma</strong><strong>no</strong>, sem jeito especial<br />
ou inteligência amestra<strong>da</strong>”. Tão logo a <strong>no</strong>tícia se<br />
espalhou, cerca de 30 mil pessoas embrenharam-se<br />
nas trilhas escabrosas que separavam o litoral <strong>da</strong>s<br />
serras <strong>da</strong> fortuna e <strong>da</strong> <strong>da</strong>nação. Eram aventureiros<br />
de to<strong>da</strong>s as espécies, “os mais pobres deles só com<br />
sonhos por mantimento”, disse um cronista.<br />
A discórdia, os assassinatos e a fome – sintomas<br />
típicos <strong>da</strong> febre do ouro – transformaram as minas<br />
<strong>no</strong> lugar onde “o atrevimento imperava armado e o<br />
direito vivia inerme”.<br />
O minério foi explorado com tal avidez que os<br />
veios logo se esgotaram. Cento e vinte a<strong>no</strong>s depois,<br />
quando os primeiros técnicos em mineralogia<br />
chegaram a Minas, fi caram espantados com a<br />
imprevidência dos pioneiros. Além do esgotamento<br />
do ouro aluvional e <strong>da</strong>s técnicas de exploração<br />
inefi cientes e retrógra<strong>da</strong>s, a falta de espírito<br />
cooperativo dos mineradores para explorações<br />
conjuntas e os preços abusivos cobrados pelo<br />
material indispensável para o manejo <strong>da</strong>s jazi<strong>da</strong>s<br />
(em especial o ferro, a pólvora e os escravos)<br />
corroboraram para a derroca<strong>da</strong> <strong>da</strong> mineração.