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ESPORTE<br />
Entre crescer e desaparecer<br />
Caxias do Sul corre o risco de ter apenas a dupla Ca-Ju como representante do esporte de alto rendimento<br />
Há menos de um ano do início dos Jogos Olímpicos de Londres<br />
uma preocupante tendência pode ser constatada: o maior município da<br />
Serra gaúcha não terá representantes na competição. A falta de atletas<br />
de alto rendimento é um reflexo do panorama esportivo da cidade.<br />
A Universidade de Caxias do Sul (UCS), última referência esportiva<br />
com equipes que disputavam a Superliga Masculina de Vôlei<br />
e a Liga de Futsal, mudou sua política de apoio e “passou a bola” para<br />
o poder público e <strong>em</strong>presários da cidade. “Como uma universidade<br />
comunitária a UCS não pode lidar com custos tão altos para manter<br />
projetos externos. A nossa filosofia, agora, é que os projetos têm que<br />
ser auto-sustentáveis, e a universidade contribui com o espaço físico e<br />
a marca”, avalia o coordenador de Esportes e Formação da Vila Olímpica,<br />
professor Ubirajara Klamos Maciel.<br />
S<strong>em</strong> uma política de apoio dos governos municipal e estadual,<br />
e s<strong>em</strong> a valorização das grandes <strong>em</strong>presas da região, o esporte de alto<br />
rendimento resiste graças a pessoas que se sacrificam <strong>em</strong> nome da sua<br />
modalidade.<br />
ORGULHO PESSOAL<br />
LEONARDO LOPES<br />
leonardo.lopes@ucs.br<br />
Se Caxias t<strong>em</strong> uma equipe que ainda pratica esporte de primeiro<br />
escalão, a “culpa” é de Gabriel Citton, 33 anos. Caxiense, formado<br />
<strong>em</strong> Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), <strong>em</strong><br />
2005, ele se “divide” <strong>em</strong> seis para manter a cidade no cenário do handebol<br />
nacional.<br />
Citton começou como treinador de goleiros da modalidade na<br />
UCS <strong>em</strong> 1999. Aos poucos o trabalho consolidou-se, conquistaramse<br />
títulos e meninas foram convocadas para as seleções de base. Dez<br />
anos depois, já como o supervisor do handebol, Citton conseguiu montar<br />
uma equipe para disputar a Liga Nacional de Handebol F<strong>em</strong>inino<br />
2009.<br />
Tendo como base meninas formadas na universidade, reforçada<br />
por atletas experientes, a equipe fez história. Gabriel Citton se tornou o<br />
técnico mais novo a participar da competição, com 30 anos, e a equipe<br />
sagrou-se a primeira estreante a chegar à s s<strong>em</strong>ifinais do torneio. O<br />
sucesso do primeiro ano trouxe mais investimentos, e aquela equipe<br />
feita para disputar a Liga Nacional se transformou numa categoria profissional.<br />
Em 2011, com o nome de Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de<br />
Caxias do Sul, a equipe é motivo de orgulho. Com um orçamento que<br />
é a metade do das adversárias, a representante caxiense na Liga Nacional<br />
encaminha, pela terceira edição consecutiva, a classificação para<br />
a fase final. No ano passado viu sua atleta Laís Bordin da Silva, 19,<br />
ser a primeira caxiense a conquistar uma medalha oficial do Comitê<br />
Olímpico Internacional (COI), com o bronze nos Jogos Olímpicos da<br />
Juventude, <strong>em</strong> Cingapura.<br />
Porém, a história de sucesso dentro da quadra não é um reflexo<br />
dos bastidores. São quatro pessoas, que divid<strong>em</strong> um orçamento de R$<br />
50 mil por ano e se esforçam para manter a existência do clube. Citton,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, t<strong>em</strong> de fazer as funções de supervisor, coordenador<br />
técnico, técnico da equipe adulta, técnico da categoria juvenil, gerente<br />
geral e captador de recursos. “Faz três anos que não tenho salário, todo<br />
o dinheiro acaba indo para a equipe. Eu faço isso por mim, pelo orgulho<br />
pessoal de ver o handebol na minha cidade... mas está chegando a<br />
um ponto insustentável”, declara.<br />
Das sete equipes que disputam a Liga Nacional, quatro t<strong>em</strong> um<br />
orçamento estimado <strong>em</strong> mais de R$ 450 mil. Os custos mínimos para<br />
participar giram <strong>em</strong> torno de R$ 180 mil. A representante caxiense<br />
conta, neste ano, com um orçamento de R$ 230 mil, sendo 65% proveniente<br />
da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal. E a Luna<br />
ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul ainda disputa o Campeonato<br />
Gaúcho, a Copa Mercosul e a Copa do Brasil. “Falta incentivo<br />
tanto público quanto privado. A cidade só dá valor ao esporte às vésperas<br />
das Olimpíadas, quando v<strong>em</strong> as cobranças por falta de representantes”,<br />
avalia Citton, que não garante que a equipe vá ter forças para<br />
continuar na próxima t<strong>em</strong>porada.<br />
Artilheira da t<strong>em</strong>porada, a ponta Samira Rocha (e) abandonou a equipe <strong>em</strong> meio à Liga Nacional para receber mais na Europa<br />
Jonas Ramos