You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
4 CIDADE<br />
De pai para filho, a tradição permanece<br />
Herdeiros se orgulham por honrar as tradições e o trabalho s<strong>em</strong>eado pela família, ao longo dos anos, <strong>em</strong> suas lojas<br />
Caxias do Sul não é mais<br />
uma cidade pequena, a maioria da<br />
sua população não t<strong>em</strong> mais orig<strong>em</strong><br />
Italiana, a agricultura não é<br />
mais a base da economia. Os t<strong>em</strong>pos<br />
são outros e os costumes também<br />
mudaram através dos anos.<br />
Das décadas passadas resta muito<br />
pouco: algumas construções,<br />
igrejas, escolas e, claro, algumas<br />
lojas.<br />
O comércio s<strong>em</strong>pre movimentou<br />
a cidade, principalmente<br />
na área central do município.<br />
Lojas que hoje mudaram de donos<br />
estão nas mão daqueles que<br />
eram crianças na época de sua<br />
fundação. Mais que uma herança,<br />
o ritual do trabalho é passado de<br />
geração para geração, como se<br />
definisse a personalidade de cada<br />
família.<br />
CASA DA ELITE CAXIENSE<br />
A Óptica Martinato foi<br />
fundada <strong>em</strong> 12 de agosto de<br />
1912, na cidade de Rio Grande,<br />
por Guerino Martinato. Com a<br />
mudança da família – a esposa,<br />
Margherita Giacomini, e quatro<br />
filhos – para Caxias do Sul no<br />
ano de 1934, a loja “veio” na bagag<strong>em</strong>.<br />
Na <strong>em</strong>presa, que então<br />
se chamava Eberle, Martinato<br />
& Cia, comercializava-se diversos<br />
artigos, desde joias, relógios<br />
e bijuterias até cristais al<strong>em</strong>ães,<br />
perfumes franceses e bandejas de<br />
prata boliviana. Assim, a <strong>em</strong>presa<br />
passou a ser considerada a casa<br />
da elite caxiense.<br />
Ao longo do t<strong>em</strong>po, a loja<br />
s<strong>em</strong>pre preservou essa característica<br />
de comercializar itens de<br />
MARCO MATOS<br />
marco.matos@ucs.br<br />
Bom atendimento e uma<br />
linha variada de produtos<br />
Uma das lojas mais antigas da cidade é a ferrag<strong>em</strong><br />
Luiz Andreazza, fundada <strong>em</strong> 1919 pelo próprio<br />
Luiz. O local é ponto de referência de qualquer<br />
outro estabelecimento que fica <strong>em</strong> sua volta. Com<br />
mais de 90 anos e com um número incontável de<br />
itens para venda, a ferrag<strong>em</strong> se destaca pela versatilidade<br />
e o jeito caseiro de atender.<br />
Logo após sua criação, na loja vendia-se<br />
inclusive alfafa, milho e cereais. Na época, David<br />
Andreazza era criança mas, desde os anos 80, administra<br />
a <strong>em</strong>presa. David, hoje com 84 anos, s<strong>em</strong>pre<br />
trabalhou com o pai e aprendeu o ofício ainda<br />
jov<strong>em</strong>, com 18. “Naquela época tínhamos muitos<br />
clientes do interior, hoje exist<strong>em</strong> casas especializadas<br />
para isso “, conta.<br />
A transformação do antigo local onde se<br />
qualidade. Em 1939, Guerino<br />
Martinato adquiriu a parte de<br />
seus sócios e passou a ser o único<br />
dono do estabelecimento. A família<br />
s<strong>em</strong>pre ajudou no negócio<br />
e, com o passar do t<strong>em</strong>po, o filho<br />
Carlos Antonio Martinato d<strong>em</strong>onstrou<br />
grande interesse pelos<br />
negócios do pai.<br />
O menino, que cursou<br />
mat<strong>em</strong>ática na Universidade de<br />
Caxias do Sul e fez curso de contabilidade,<br />
s<strong>em</strong>pre trabalhou na<br />
<strong>em</strong>presa. No início dos anos 80,<br />
com a saída dos irmãos da loja,<br />
Carlos passou a administrar o negócio<br />
e contou com o apoio de<br />
sua mulher e de seus filhos. “A<br />
minha família s<strong>em</strong>pre me ajudou<br />
muito, estando do meu lado <strong>em</strong><br />
todos os momentos”, conta.<br />
Com o desenvolvimento<br />
do ramo ótico a Casa Martinato<br />
se transformou <strong>em</strong> Óptica Martinato,<br />
e passou a oferecer cada vez<br />
mais produtos ligados ao ramo.<br />
Carlos, que t<strong>em</strong> uma fotografia<br />
de seu pai – feita pelo fotógrafo<br />
Ulysses Ger<strong>em</strong>ias – pendurada<br />
atrás da mesa de trabalho, considera<br />
o fato da <strong>em</strong>presa ser familiar<br />
como um dos grandes motivos<br />
para ela perdurar todos esses<br />
anos. “A maneira de trabalhar de<br />
forma correta, assim como aprendi<br />
com meu pai, é o que orienta a<br />
firma até hoje”, diz.<br />
Perto do aniversário de<br />
100 anos da <strong>em</strong>presa, Carlos<br />
pretende, com o t<strong>em</strong>po, passar<br />
a administração para sua filha,<br />
Vera Martinato, mas não pretende<br />
abandonar o trabalho. “Quero<br />
ficar na loja até a hora de morrer”,<br />
planeja.<br />
Fotos Marco Matos<br />
Relógio da Casa das Arnas, compl<strong>em</strong>entando o estilo rústico da decoração da <strong>em</strong>presa e informando, s<strong>em</strong>pre, a hora certa.<br />
Carlos Martinato, <strong>em</strong> frente ao balção principal da loja<br />
vendiam os tecidos a metro <strong>em</strong> um local onde está o<br />
bazar, com artigos de decoração e utensílios domésticos<br />
, foi provocada para adequar a loja às novas<br />
necessidades. “A venda de tecidos tinha caído muito,<br />
então colocamos o bazar”, diz. As mudanças são<br />
necessárias para a <strong>em</strong>presa se manter no mercado.<br />
“Hoje, por ex<strong>em</strong>plo, não há como trabalhar s<strong>em</strong> o<br />
computador, coisa que antes n<strong>em</strong> precisávamos”,<br />
completa.<br />
As mudanças influenciaram diretamente o<br />
desenvolvimento do comércio na cidade, mas a tradição<br />
<strong>em</strong> trabalhar no que foi construído pela sua<br />
própria família é um estímulo a mais para seguir <strong>em</strong><br />
frente, s<strong>em</strong> desistir. “Nós mant<strong>em</strong>os a tradição, pois<br />
tratamos o negócio como se fosse a nossa família”,<br />
diz o lojista.<br />
David Andreazza, pronto para atender clientes, na venda de ferragens e de artigos do bazar