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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da UCS<br />
Laboratório de Jornalismo Impresso<br />
Caxias do Sul | Ano 2011<br />
No Brasil, cerca de 18 milhões de brasileiros são dependentes<br />
químicos. Em Caxias do Sul, uma casa acolhe qu<strong>em</strong> está disposto<br />
a deixar o vício de lado, com trabalho terapêutico e recuperação<br />
da auto-estima. Além disso, acolhe moradores de rua, <strong>em</strong> parceira<br />
com a administração municipal.<br />
p. 10 e 11<br />
CIDADE<br />
De pai para filho:<br />
tradição no comércio<br />
p. 4 e 5<br />
ECONOMIA<br />
Bom pra cachorro:<br />
crescimento do mercado pet<br />
p. 14 e 15<br />
RESENHA<br />
Cin<strong>em</strong>a <strong>em</strong> Caxias:<br />
do Apollo ao Ópera<br />
p. 4 e 5
2<br />
EDITORIAL<br />
Jornalistas <strong>em</strong> teste<br />
Chegamos à metade de julho com<br />
muitas expectativas. Enquanto os amigos<br />
estavam ansiosos para o início do recesso<br />
acadêmico, nosso pequeno grupo esperava a<br />
hora de começar a disciplina de férias para,<br />
enfim, saber como é o dia a dia <strong>em</strong> uma redação<br />
de jornal. Pela prática do jornal Textando<br />
sentimos o clima de viver na pressão de<br />
conseguir as fontes, a decepção quando uma<br />
pauta cai, as dificuldades de diagramação.<br />
Em busca de informação com qualidade,<br />
o sarampo, o novo aeroporto, a Feira<br />
do Livro, a segurança <strong>em</strong> parques públicos,<br />
os novos políticos e a tradição no comércio<br />
integram o nosso jornal.<br />
Nossa matéria especial do caderno<br />
de Cultura recorda os idos t<strong>em</strong>pos do<br />
Cine Ópera, que iniciou como Cine Teatro<br />
Apollo, nos anos 20, e era o ponto de encontro<br />
dos jovens da época. Hoje, abriga um estacionamento<br />
e um dos principais terminais<br />
de ônibus da cidade. A rua movimentada e<br />
requintada, hoje é um ponto de lojas populares<br />
e também de assaltos. Na região central<br />
da cidade, a uma quadra da praça Dante<br />
Alighieri, o antigo cin<strong>em</strong>a ainda é l<strong>em</strong>brado<br />
pela comunidade caxiense com saudades.<br />
As tradicionais lojas, quase centenárias e<br />
que sobreviv<strong>em</strong> às mudanças, contrastam<br />
com o novo comércio caxiense. Nas ruas<br />
onde antes circulavam jovens casais apaixonados,<br />
carroças, charretes e cavalos, hoje o<br />
que se vê são pessoas apressadas, os grandes<br />
ônibus e uma infinidade de carros e motos.<br />
As pessoas, sentadas uma ao lado das outras,<br />
n<strong>em</strong> sequer se olham, quanto menos<br />
EXPEDIENTE<br />
Reitor – Isidoro Zorzi<br />
Vice-Reitor – José Carlos Köche<br />
Pró-Reitor Acadêmico – Evaldo Antonio<br />
Kuyava<br />
Diretora do Centro de Ciências da<br />
Comunicação – Marliva Vanti Gon-<br />
conversam. A calma e tranquilidade de antigamente,<br />
foram substituídas pela correria<br />
e insegurança.<br />
Em qualquer lugar da cidade, você<br />
s<strong>em</strong>pre corre o risco de ser assaltado, a<br />
qualquer momento por algum jov<strong>em</strong> que<br />
vai usar o dinheiro para comprar drogas. E<br />
o aumento do consumo de drogas é um dos<br />
t<strong>em</strong>as que v<strong>em</strong> preocupando Caxias do Sul.<br />
Os usuários da maconha, crack e cocaína<br />
usam os lugares públicos, como parques e<br />
praças para esconder e saciar seus vícios.<br />
O lugar que foi criado com o intuito de ser<br />
um recanto de paz e alegria, com as crianças<br />
brincando, os pais passeando com os filhos,<br />
jovens se conhecendo e conversando, transformou-se<br />
<strong>em</strong> um lugar de medo, tristeza e<br />
vergonha. Os principais parques da região<br />
central da cidade, o Parque Cinquentenário<br />
e o Parque Getúlio Vargas (Macaquinhos)<br />
são pontos de assaltos, estupros e consumo<br />
de drogas.<br />
E quase todo mundo que entra nesse<br />
caminho, acaba no mesmo lugar: na rua,<br />
s<strong>em</strong> amigos, s<strong>em</strong> família, s<strong>em</strong> dinheiro. Somente<br />
a louca vontade de sustentar o vício.<br />
Alguns procuram ajuda espontaneamente,<br />
sabendo que jamais chegarão a algum lugar<br />
além do que já estão: o fundo do poço. Com<br />
o apoio de familiares e orientação adequada,<br />
os ex-dependentes químicos se recuperam, e<br />
ajudam outros a saír<strong>em</strong> do buraco. Infelizmente,<br />
n<strong>em</strong> todos t<strong>em</strong> essa chance. Muitas<br />
vezes, os primeiros a abandonar o barco são<br />
os próprios familiares. E algumas pessoas<br />
não consegu<strong>em</strong> se reerguer sozinhas.<br />
çalves<br />
Coordenador do curso de Jornalismo<br />
– Álvaro Benevenutto Júnior<br />
Professor – Dinarte Albuquerque Filho<br />
Textando é um produto da disciplina<br />
Laboratório de Jornalismo Impresso<br />
/ 1º s<strong>em</strong>estre de 2011<br />
A turma<br />
Cassiane Silveira Osório, Clarissa<br />
Biasuz De Antoni, Ger<strong>em</strong>ias Orlandi,<br />
Felizmente exist<strong>em</strong> as instituições<br />
que ajudam, gratuitamente, essas pessoas. E<br />
de um jeito prazeroso. No interior da cidade,<br />
ao ar livre, ouvindo o som dos pássaros<br />
e interagindo com a natureza, os internos<br />
mantém a mente ocupada e longe das drogas.<br />
Após reabilitados, ganham uma nova<br />
oportunidade de recomeçar a vida, e ajudar<br />
outras pessoas.<br />
Ir “à campo”, buscar as fontes, conhecer<br />
as pessoas, suas histórias, ouvir seus<br />
relatos e depois passar isso para o papel,<br />
querendo que o leitor sinta o mesmo que<br />
nós quando ouvimos a história pela primeira<br />
vez. Esse é um dos nossos objetivos. Fazer<br />
com que o texto “entre” no leitor e o faça<br />
refletir, buscando uma solução para os probl<strong>em</strong>as,<br />
e adotando como ex<strong>em</strong>plo algumas<br />
ações.<br />
Como foi fazer o Textando? Nos<br />
sentimos verdadeiros jornalistas, afinal, vir<br />
para aula era quase como ir para a redação.<br />
Discutir <strong>em</strong> que pé estão as matérias,<br />
como poderiam ser as fotos utilizadas, qual<br />
a melhor pauta para ser a capa, diagramar<br />
o jornal, encaixando todo o conteúdo e, o<br />
mais difícil: cortar o texto. Porque quando o<br />
professor exigia um texto de até 5 mil caracteres,<br />
nos desesperamos, porque era d<strong>em</strong>ais.<br />
De onde tiraríamos tanto? Então, na hora de<br />
diagramar, o probl<strong>em</strong>a: os textos chegavam<br />
com sete, oito, dez mil caracteres. Nosso<br />
jornal poderia ter 30 páginas, tamanha foi<br />
a <strong>em</strong>polgação. Começar a escrever é difícil.<br />
Mas depois que pega o <strong>em</strong>balo, o difícil é<br />
parar. E saber parar também é ser jornalista.<br />
Leonardo Lopes, Letícia Kirchheim,<br />
Marco Antonio de Matos, Marcos<br />
Camargo, Marjory de Vargas, Nestor<br />
Junior Copeli, Raquel de Almeida.<br />
Projeto gráfico: Cassiane Silveira<br />
FOI DITO<br />
“Tirar os livros de quatro paredes e levar até<br />
o povo.” Maria Helena Lacava, livreira, sobre<br />
um dos prazeres <strong>em</strong> participar da Feira do Livro<br />
“N<strong>em</strong> acaba uma t<strong>em</strong>porada e já t<strong>em</strong>os que começar<br />
a procura por dinheiro para outra. Praticamente<br />
o trabalho começa do zero, mesmo<br />
tendo conquistado bons resultados.” Gabriel<br />
Citton, técnico da Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura<br />
de Caxias do Sul<br />
“Enquanto o motorista t<strong>em</strong> medo, ele está seguro.<br />
A auto-confiança <strong>em</strong> excesso traz a falta<br />
de limites.” Joel Portela, fiscal de trânsito<br />
“Os filmes antigos eram mais calmos, davam<br />
importância à arte cin<strong>em</strong>atográfica. Hoje <strong>em</strong><br />
dia, estão submetidos à técnica, não mais a<br />
arte.” Sônia Regina Adami, professora e artista<br />
plástica.<br />
“O jov<strong>em</strong> está na inércia.” Rafael Bueno, assessor<br />
parlamentar, sobre a participação do<br />
jov<strong>em</strong> na política.<br />
“A música também é uma forma de trabalho e<br />
tenho muito orgulho <strong>em</strong> dizer que hoje a música<br />
é o meu trabalho.” Tatiéle Bueno, cantora e<br />
estudante de Relações Públicas da UCS.<br />
“Atualmente, o esporte caxiense depende dos<br />
paitrocinios. É mãe de uma atleta que t<strong>em</strong> uma<br />
<strong>em</strong>presa, um pai que conhece um <strong>em</strong>presário...<br />
é o apoio que receb<strong>em</strong>os.” Fernando L<strong>em</strong>os,<br />
técnico da UCS/Mais Fruta/IMEC/APAAVôlei.<br />
Osório e Letícia Kirchheim<br />
Editora de fotografia: Raquel de<br />
Almeida.<br />
Impressão: Gráfica da UCS<br />
Tirag<strong>em</strong>: 400 ex<strong>em</strong>plares<br />
Milena Leal
3<br />
CIDADE<br />
Lazer é restringido pela insegurança<br />
Parques e praças da região central da cidade são usados para consumo de drogas e a diss<strong>em</strong>inação de atos violentos<br />
MARJORY VARGAS<br />
marjory.vargas@ucs.br<br />
Toda cidade, independente<br />
de ter 5 mil ou 500 mil habitantes<br />
t<strong>em</strong>, no mínimo, uma área<br />
de lazer urbana. Seja a pracinha<br />
com dois balanços, um canteirinho<br />
de flores e três bancos, ou<br />
os grandes parques com árvores,<br />
lagos, calçadas e pistas de atletismo.<br />
Caxias do Sul, com seus<br />
mais de 400 mil habitantes, conta<br />
com três pontos de lazer na sua<br />
área central: o Parque Cinquentenário,<br />
o Parque Getúlio Vargas,<br />
mais conhecido como Parque dos<br />
Macaquinhos, e a Praça Dante<br />
Alighieri.<br />
O Parque dos Macaquinhos<br />
é uma área verde de 9,8<br />
hectares. Qu<strong>em</strong> frequenta o local<br />
desfruta de uma ampla estrutura<br />
para a prática de esportes, com a<br />
ciclovia, a pista de skate, as vias<br />
pavimentadas para as caminhadas,<br />
quadras de vôlei, futebol e<br />
basquete. Além disso, as fontes,<br />
as árvores e os bancos são um<br />
convite ao descanso da vida agitada.<br />
Já o Parque Cinquentenário<br />
dispõe de uma infra-estrutura<br />
parecida, <strong>em</strong> proporções menores,<br />
já que sua área é de 2,8 hectares,<br />
além da cancha de bocha<br />
coberta e dos monumentos artísticos<br />
espalhados pelo local.<br />
Os dois parques têm uma<br />
grande área verde e, nos finais de<br />
s<strong>em</strong>ana, as famílias e amigos lotam<br />
os gramados para beber um<br />
chimarrão e jogar conversa fora.<br />
Já a praça está s<strong>em</strong>pre movimentada.<br />
Durante a s<strong>em</strong>ana, é comum<br />
encontrar pessoas sentadas nos<br />
bancos, lendo um jornal ou livro,<br />
ou alimentando as pombas<br />
que ficam por ali. A praça fica no<br />
coração de Caxias, e é ponto de<br />
passag<strong>em</strong> para se chegar aos quatro<br />
cantos da cidade.<br />
No entanto, tanta movimentação<br />
e circulação gera um<br />
pequeno probl<strong>em</strong>a: a insegurança.<br />
Pequenos assaltos, vandalismo<br />
e uso de drogas são comuns<br />
nesses lugares.<br />
Há 30 anos, dona Antônia<br />
passa boa parte do seu dia<br />
na praça. Dona de uma banca de<br />
revistas, ela conta que a praça e<br />
as pessoas que passam por ali,<br />
mudaram muito. “Antes, qu<strong>em</strong><br />
passava por aqui era a elite caxiense.<br />
Hoje, é comum a circulação<br />
das pessoas de baixo nível<br />
social”, comenta. Ainda, segundo<br />
ela, quando a avenida Júlio ocupou<br />
o lugar do calçadão, no final<br />
de 2003, a tranquilidade da praça<br />
acabou, devido ao intenso movimento<br />
dos carros.<br />
A banca fica aberta até as<br />
19horas, pois, segundo dona Antônia,<br />
depois disso é muito arriscado.<br />
“T<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre quatro rapazes,<br />
sentados <strong>em</strong> um banco, que ficam<br />
o dia todo bebendo. As prostitutas<br />
marcam território. Você pode estar<br />
sentado <strong>em</strong> um banco, ela chegam<br />
e te mandam sair, por que aquele é<br />
o ponto delas.”<br />
Para dona Antônia, a praça<br />
está abandonada. “É comum<br />
as pessoas ficar<strong>em</strong> subindo pelos<br />
monumentos, estragando os bancos.”<br />
A Guarda Municipal possuiu<br />
um posto 24h, mas, segundo<br />
a comerciante, “dependendo do<br />
guarda, ele não faz nada”. Apesar<br />
da situação, os t<strong>em</strong>pos são bons.<br />
Já houve casos de assalto à mão<br />
armada às 16h; no entanto, no último<br />
ano a criminalidade na praça<br />
diminuiu.<br />
Tranquilidade <strong>em</strong> meio ao caos<br />
Paulo Luiz Zugno, 76 anos, é professor aposentado. Mora<br />
perto da praça, e gosta de alimentar as pombas que estão s<strong>em</strong>pre<br />
por lá. “S<strong>em</strong>pre dou uns três ou quatro pãezinhos, e depois a sobr<strong>em</strong>esa.”<br />
A sobr<strong>em</strong>esa são dois sacos de milho pipoca. E o revoar<br />
das pombas atrás dos grãos é encantador. Pessoas param e tiram<br />
fotos. “Eu gosto de ver as crianças brincando com elas”, conta. Ele<br />
vai quase todo dia e diz ter até um pomba que é sua amiga.<br />
Zugno cresceu nos arredores da praça. “L<strong>em</strong>bro da praça<br />
quando ela ainda tinha cascalho.” O lugar era o preferido para os<br />
jovens namorar. “Mas tudo muito supervisionado. Não como hoje,<br />
que sa<strong>em</strong> e os pais n<strong>em</strong> sab<strong>em</strong> aonde estão”, compara.<br />
Para ele, “depois que abriram a avenida, ela ficou mais<br />
barulhenta. Mas ainda é um bom lugar para passar o t<strong>em</strong>po”. Ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po, com a reforma, a praça ficou mais limpa, e menos<br />
perigosa. “Tinha muito matagal, e os maconheiros e prostitutas<br />
ficavam por aí.”<br />
Orientação da BM é para rondas<br />
A Brigada Militar possui um<br />
módulo <strong>em</strong> cada parque, além de um<br />
toldo na praça. Os policiais que ficam<br />
no módulo do Parque dos Macaquinhos<br />
são responsáveis por toda a área<br />
central da cidade, e abrang<strong>em</strong>, também,<br />
os bairros Rio Branco, São Pelegrino,<br />
Nossa Senhora de Lourdes e<br />
Exposição. Já o módulo localizado<br />
no Parque Cinquentenário responde<br />
por toda a parte norte e oeste de Caxias.<br />
Em qualquer um dos módulos<br />
há s<strong>em</strong>pre um PM 24 horas por dia.<br />
Nos finais de s<strong>em</strong>ana, quando<br />
os parques ficam lotados, a Brigada<br />
Montada auxilia, com rondas<br />
pelo Parque dos Macaquinhos. Na<br />
praça, ponto de referência da cidade,<br />
há s<strong>em</strong>pre um PM que circula pelo<br />
local e assegura a tranquilidade do<br />
ambiente, além de auxiliar as pessoas<br />
que precisam de algum tipo de informação.<br />
Além do policial, há duas<br />
câmeras ligadas direto à Brigada Militar,<br />
pelas quais é possível monitorar<br />
todo o movimento na praça.<br />
O capitão Alencastro e o major<br />
Ribas afirmam que os parques,<br />
apesar da má fama que os ronda, são<br />
seguros. Segundo o capitão Alencastro,<br />
“no último ano, não houve<br />
registros de assalto no Parque dos<br />
Macaquinhos. Somente flagrantes de<br />
usuários de drogas”.<br />
Os PMs são orientados a,<br />
pelo menos meia hora antes de encerrar<br />
seu turno, fazer uma ronda pelo<br />
Parque dos Macaquinhos, abordan-<br />
Parque dos Macaquinhos t<strong>em</strong> intenso movimento nos dias ensolarados<br />
do as pessoas que estão no local. A<br />
droga mais usada ainda é a maconha,<br />
<strong>em</strong>bora o número de usuários do crack<br />
aumente a cada dia.<br />
Mas, ressaltam os policiais,<br />
dificilmente alguém será atacado por<br />
algum deles. “Eles vão lá fumar e ficar<br />
tranquilos. O que incomoda é o<br />
cheiro. As pessoas vão ao parque caminhar,<br />
sent<strong>em</strong> o cheiro da maconha<br />
e não se sent<strong>em</strong> seguras”, ressalta o<br />
capitão Alencastro.<br />
O major Ribas destaca que os<br />
módulos da Brigada não estão disponíveis<br />
somente para a vigilância dos<br />
parques. Tanto no módulo do Parque<br />
dos Macaquinhos quanto no do Cinquentenário,<br />
é possível fazer registros<br />
de ocorrência de assaltos.<br />
Já a Guarda Municipal é um<br />
Fotos Marjory Vargas<br />
Praça Dante Alighieri é ponto de encontro e referência de localização <strong>em</strong> Caxias, <strong>em</strong>bora alguns frequentadores reclam<strong>em</strong><br />
órgão da Prefeitura responsável por<br />
proteger o patrimônio municipal. No<br />
momento, a Guarda Municipal caxiense<br />
conta com 165 servidores, que<br />
se revezam <strong>em</strong> quatro turnos. Segundo<br />
o diretor geral da Secretaria Municipal<br />
da Segurança Pública e Proteção<br />
Social, José Francisco Barden da<br />
Rosa, há um guarda, 24h, na guarita<br />
da Praça Dante Alighieri. No Parque<br />
Cinquentenário, as rondas ocorr<strong>em</strong><br />
durante o dia, das 6h às 20h. E no<br />
Parque dos Macaquinhos, durante as<br />
24 horas, é possível ver guardas municipais<br />
<strong>em</strong> rondas motorizadas.<br />
Segundo Barden “a função<br />
da Guarda não é proteger as pessoas”,<br />
somente o patrimônio público.<br />
Para isso, diz, exist<strong>em</strong> órgãos responsáveis,<br />
como a Brigada Militar.
4 CIDADE<br />
De pai para filho, a tradição permanece<br />
Herdeiros se orgulham por honrar as tradições e o trabalho s<strong>em</strong>eado pela família, ao longo dos anos, <strong>em</strong> suas lojas<br />
Caxias do Sul não é mais<br />
uma cidade pequena, a maioria da<br />
sua população não t<strong>em</strong> mais orig<strong>em</strong><br />
Italiana, a agricultura não é<br />
mais a base da economia. Os t<strong>em</strong>pos<br />
são outros e os costumes também<br />
mudaram através dos anos.<br />
Das décadas passadas resta muito<br />
pouco: algumas construções,<br />
igrejas, escolas e, claro, algumas<br />
lojas.<br />
O comércio s<strong>em</strong>pre movimentou<br />
a cidade, principalmente<br />
na área central do município.<br />
Lojas que hoje mudaram de donos<br />
estão nas mão daqueles que<br />
eram crianças na época de sua<br />
fundação. Mais que uma herança,<br />
o ritual do trabalho é passado de<br />
geração para geração, como se<br />
definisse a personalidade de cada<br />
família.<br />
CASA DA ELITE CAXIENSE<br />
A Óptica Martinato foi<br />
fundada <strong>em</strong> 12 de agosto de<br />
1912, na cidade de Rio Grande,<br />
por Guerino Martinato. Com a<br />
mudança da família – a esposa,<br />
Margherita Giacomini, e quatro<br />
filhos – para Caxias do Sul no<br />
ano de 1934, a loja “veio” na bagag<strong>em</strong>.<br />
Na <strong>em</strong>presa, que então<br />
se chamava Eberle, Martinato<br />
& Cia, comercializava-se diversos<br />
artigos, desde joias, relógios<br />
e bijuterias até cristais al<strong>em</strong>ães,<br />
perfumes franceses e bandejas de<br />
prata boliviana. Assim, a <strong>em</strong>presa<br />
passou a ser considerada a casa<br />
da elite caxiense.<br />
Ao longo do t<strong>em</strong>po, a loja<br />
s<strong>em</strong>pre preservou essa característica<br />
de comercializar itens de<br />
MARCO MATOS<br />
marco.matos@ucs.br<br />
Bom atendimento e uma<br />
linha variada de produtos<br />
Uma das lojas mais antigas da cidade é a ferrag<strong>em</strong><br />
Luiz Andreazza, fundada <strong>em</strong> 1919 pelo próprio<br />
Luiz. O local é ponto de referência de qualquer<br />
outro estabelecimento que fica <strong>em</strong> sua volta. Com<br />
mais de 90 anos e com um número incontável de<br />
itens para venda, a ferrag<strong>em</strong> se destaca pela versatilidade<br />
e o jeito caseiro de atender.<br />
Logo após sua criação, na loja vendia-se<br />
inclusive alfafa, milho e cereais. Na época, David<br />
Andreazza era criança mas, desde os anos 80, administra<br />
a <strong>em</strong>presa. David, hoje com 84 anos, s<strong>em</strong>pre<br />
trabalhou com o pai e aprendeu o ofício ainda<br />
jov<strong>em</strong>, com 18. “Naquela época tínhamos muitos<br />
clientes do interior, hoje exist<strong>em</strong> casas especializadas<br />
para isso “, conta.<br />
A transformação do antigo local onde se<br />
qualidade. Em 1939, Guerino<br />
Martinato adquiriu a parte de<br />
seus sócios e passou a ser o único<br />
dono do estabelecimento. A família<br />
s<strong>em</strong>pre ajudou no negócio<br />
e, com o passar do t<strong>em</strong>po, o filho<br />
Carlos Antonio Martinato d<strong>em</strong>onstrou<br />
grande interesse pelos<br />
negócios do pai.<br />
O menino, que cursou<br />
mat<strong>em</strong>ática na Universidade de<br />
Caxias do Sul e fez curso de contabilidade,<br />
s<strong>em</strong>pre trabalhou na<br />
<strong>em</strong>presa. No início dos anos 80,<br />
com a saída dos irmãos da loja,<br />
Carlos passou a administrar o negócio<br />
e contou com o apoio de<br />
sua mulher e de seus filhos. “A<br />
minha família s<strong>em</strong>pre me ajudou<br />
muito, estando do meu lado <strong>em</strong><br />
todos os momentos”, conta.<br />
Com o desenvolvimento<br />
do ramo ótico a Casa Martinato<br />
se transformou <strong>em</strong> Óptica Martinato,<br />
e passou a oferecer cada vez<br />
mais produtos ligados ao ramo.<br />
Carlos, que t<strong>em</strong> uma fotografia<br />
de seu pai – feita pelo fotógrafo<br />
Ulysses Ger<strong>em</strong>ias – pendurada<br />
atrás da mesa de trabalho, considera<br />
o fato da <strong>em</strong>presa ser familiar<br />
como um dos grandes motivos<br />
para ela perdurar todos esses<br />
anos. “A maneira de trabalhar de<br />
forma correta, assim como aprendi<br />
com meu pai, é o que orienta a<br />
firma até hoje”, diz.<br />
Perto do aniversário de<br />
100 anos da <strong>em</strong>presa, Carlos<br />
pretende, com o t<strong>em</strong>po, passar<br />
a administração para sua filha,<br />
Vera Martinato, mas não pretende<br />
abandonar o trabalho. “Quero<br />
ficar na loja até a hora de morrer”,<br />
planeja.<br />
Fotos Marco Matos<br />
Relógio da Casa das Arnas, compl<strong>em</strong>entando o estilo rústico da decoração da <strong>em</strong>presa e informando, s<strong>em</strong>pre, a hora certa.<br />
Carlos Martinato, <strong>em</strong> frente ao balção principal da loja<br />
vendiam os tecidos a metro <strong>em</strong> um local onde está o<br />
bazar, com artigos de decoração e utensílios domésticos<br />
, foi provocada para adequar a loja às novas<br />
necessidades. “A venda de tecidos tinha caído muito,<br />
então colocamos o bazar”, diz. As mudanças são<br />
necessárias para a <strong>em</strong>presa se manter no mercado.<br />
“Hoje, por ex<strong>em</strong>plo, não há como trabalhar s<strong>em</strong> o<br />
computador, coisa que antes n<strong>em</strong> precisávamos”,<br />
completa.<br />
As mudanças influenciaram diretamente o<br />
desenvolvimento do comércio na cidade, mas a tradição<br />
<strong>em</strong> trabalhar no que foi construído pela sua<br />
própria família é um estímulo a mais para seguir <strong>em</strong><br />
frente, s<strong>em</strong> desistir. “Nós mant<strong>em</strong>os a tradição, pois<br />
tratamos o negócio como se fosse a nossa família”,<br />
diz o lojista.<br />
David Andreazza, pronto para atender clientes, na venda de ferragens e de artigos do bazar
5 CIDADE<br />
Mais de 60 anos incentivando o<br />
esporte de caça e tiro na região<br />
A Casa das Armas foi fundada<br />
no ano de 1947 por Orildo Stédile e<br />
Nercy Sambaquy. Funcionário da extinta<br />
Ferragens Triches, Sambaquy percebeu<br />
o potencial do ramo e resolveu<br />
arriscar e montar um negócio próprio.<br />
Algum t<strong>em</strong>po depois, <strong>em</strong> 1952, Stédile<br />
retirou-se da <strong>em</strong>presa e sua parte foi<br />
vendida para Silviro Cassina, cunhado<br />
de Sambaquy.<br />
Em 1967, Sambaquy faleceu<br />
e, então, Cassina continuou administrando<br />
o negócio. Nos primeiros anos<br />
de <strong>em</strong>presa, o ramo da caça e da pesca<br />
eram muito fortes na cidade, fato que<br />
ajudou a alavancar os negócios com<br />
as vendas de espingardas e munições.<br />
Cassina teve cinco filhos, mas apenas<br />
três deles seguiram com o comércio<br />
do pai. São eles: Flávio, Rui e Raul<br />
Cassina, que ainda trabalham na loja.<br />
O ramo da caça se expandiu<br />
muito desde a orig<strong>em</strong> da <strong>em</strong>presa. “A<br />
tradição italiana ajudou a desenvolver<br />
a atividade de caça, e se tornou comum<br />
os pais levar<strong>em</strong> os filhos para as<br />
caçadas, tornando-a um esporte familiar”,<br />
conta Rui. Caxias chegou a ter<br />
mais de 7 mil caçadores ativos na década<br />
de 1960.<br />
Com as novas legislações e<br />
barreiras impostas à prática esportiva<br />
da caça, o ramo passou por uma transformação.<br />
Enquanto antes vendiam<br />
muitas espingarda, passaram a vender<br />
armas de defesa, como revólveres e<br />
pistolas, já que a cidade começou a<br />
crescer rapidamente, o que provocou<br />
o aumento dos índices de criminalidade.<br />
Conservar as tradições s<strong>em</strong>pre<br />
foi um dos principais valores da <strong>em</strong>presa,<br />
até a decoração da loja é <strong>em</strong> estilo<br />
rústico e cheia de objetos antigos. No<br />
meio das cabeças de javalis <strong>em</strong>palhadas<br />
e das carcaças de alguns animais,<br />
é possível “viajar no t<strong>em</strong>po” com os<br />
relógios, rádios e pôsteres de época.<br />
Os irmãos Raul (E), e Rui (D), dando continuidade aos negócios da família.<br />
Se há lojas são antigas<br />
que conservam as tradições,<br />
também encontra-se funcionários<br />
que praticamente cresceram<br />
junto com as <strong>em</strong>presas. É o<br />
caso de Leandro Baldissarini, 45<br />
anos, que, aos 19, após sair do<br />
quartel, foi trabalhar na Casa das<br />
Armas, onde teve sua primeira<br />
oportunidade de <strong>em</strong>prego. Até aí<br />
nada de diferente, exceto o fato<br />
do Baldissarini ainda trabalhar<br />
na loja 25 anos depois.<br />
Baldissarini, que, influenciado<br />
pelo pai, s<strong>em</strong>pre gostou de<br />
caçar, pescar e, principalmente<br />
acampar, se identificou com<br />
o estabelecimento e ali ficou,<br />
perto de tudo que mais gosta.<br />
“Bodas de Prata” no mesmo <strong>em</strong>prego<br />
“L<strong>em</strong>bro da época que a caça<br />
era permitida, as exigências para<br />
a aquisição de armas eram menores,<br />
o que impulsionava o negócio”,<br />
conta.<br />
Os 25 anos de dedicação<br />
à mesma <strong>em</strong>presa lhe renderam<br />
muito mais do que o <strong>em</strong>prego<br />
ou o salário; a maior conquista<br />
é a amizade de clientes e de<br />
seus chefes. “Gosto daqui, acho<br />
até que virou rotina, criei muitos<br />
amigos e estou perto de pessoas<br />
de qu<strong>em</strong> eu gosto”, diz. Mesmo<br />
após todo esse t<strong>em</strong>po, Baldissarini<br />
n<strong>em</strong> pensa <strong>em</strong> mudar de<br />
<strong>em</strong>prego, e completa: “Pretendo<br />
continuar aqui, pois gosto do<br />
que faço.”<br />
“Acredito que a tradição é o que nos faz<br />
prosseguir na <strong>em</strong>presa que pertencia a<br />
nosso pai”, diz Rui.<br />
Ao l<strong>em</strong>brar do t<strong>em</strong>po de criança,<br />
Rui conta que algumas ruas do<br />
centro da cidade não eram calçadas e<br />
muitos clientes iam fazer suas compras<br />
a cavalo, e que na loja havia um local<br />
para amarrar os animais e tirar o barro<br />
das botas.<br />
O segmento cresceu muito, principalmente<br />
o de camping, entretanto a<br />
concorrência também; os supermercados,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, passaram a comercializar<br />
grande parte dos produtos de<br />
aventura. Mas mesmo com as dificuldades<br />
de manter um negócio por tantos<br />
anos, a vontade de seguir com os negócios<br />
da família é maior. “Não é apenas<br />
uma herança, isso aqui faz parte da<br />
nossa família, é a nossa personalidade”,<br />
define Rui.<br />
Agora resta esperar a terceira<br />
geração; logo, será a vez dos netos.<br />
Baldissarini na venda de armas há 25 anos<br />
Fotos Marco Matos<br />
Tanques <strong>em</strong> miniatura na vitrine.<br />
Decoração com animais <strong>em</strong>palhados<br />
Adote um amigo estranho e<br />
leve a encrenca de “brinde”<br />
Amigo estranho. Todos t<strong>em</strong> um. Todos mesmo. Você<br />
pode ser cético e afirmar com toda convicção que não possui,<br />
mas na verdade não há como escapar desta estatística. Mas<br />
como pod<strong>em</strong>os identificar um ex<strong>em</strong>plar dessa espécie? Muito<br />
fácil. Vamos usar situações cotidianas para ilustrar melhor o<br />
que é um amigo estranho.<br />
Amigo estranho é aquela pessoa que fala muito, muito<br />
mesmo, e , além disso, fala mais alto que todos do seu<br />
grupo, que faz as outras pessoas alheias a sua turma te perguntar<strong>em</strong>:<br />
Ei cara, o que t<strong>em</strong> o seu amigo? Tipo, além de falar<br />
alto, fala pra caramba...<br />
Calma, é só o jeito dele mesmo...<br />
Mas ele está perturbando a paz do ambiente...<br />
Eu sei meu senhor, mas é melhor não contrariar...sabe<br />
como é né...<br />
Entre algumas desculpas, você acaba sendo amigo<br />
deste tipo de amigo estranho por muito t<strong>em</strong>po, praticamente<br />
toda a vida. Afinal, um amigo estranho vale mais que mil<br />
palavras.<br />
Mas o que dizer daquele amigo que chega no final do<br />
jogo na sua casa, assiste ao narrador na televisão indignado<br />
com o que acabou de ver e pergunta:<br />
O Brasil perdeu?<br />
Não não calma, eles só erraram os quatro pênaltis que<br />
bateram, mas foi culpa do campo...<br />
Eu não acredito que o Brasil perdeu...<br />
Calma, é só um jogo de futebol, vai melhorar, t<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po<br />
ainda pra Copa do Mundo <strong>em</strong> 2014...<br />
Copa do Mundo de 2014??<br />
O pior nessas horas é quando o amigo estranho começa<br />
a chorar, e alguém t<strong>em</strong> que consolar a criança de 35 anos<br />
que está ali, naquela situação. É , mais uma coisa <strong>em</strong> que a<br />
culpa pode ser atribuída ao campo. E ao atraso das obras...<br />
E aquele amigo que usa os óculos do pai, achando que<br />
é surfista? Aqueles mesmos óculos que Raul Seixas mencionava<br />
<strong>em</strong> uma das suas canções mais conhecidas. Isso, aquela<br />
mesma que t<strong>em</strong> uma frase que diz mais ou menos assim:<br />
“qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> colírio, usa óculos escuros”. E ninguém vai<br />
falar pra ele cair na real, que estamos a quase mil metros do<br />
nivel do mar. Não pod<strong>em</strong>os fazer isso. Afinal, ele é estranho,<br />
mas é nosso amigo. E não t<strong>em</strong> colírio.<br />
T<strong>em</strong> aquele amigo que não bebe nada, e consegue<br />
se divertir nas festas mais que o resto do grupo inteiro,<br />
que acabou com o estoque do bar. E t<strong>em</strong> uma outra versão<br />
deste amigo festeiro, aquele que você convida pra balada,<br />
e ele v<strong>em</strong> com a desculpa clássica que não vai sair porque<br />
está s<strong>em</strong> dinheiro. Tudo b<strong>em</strong>, você entende, ou tenta, pois<br />
você sabe que ele acabou de ser promovido. Bom, ele deve<br />
ter os seus motivos para estar mentindo.<br />
Como é um amigo querido você simplesmente aceita<br />
estas desculpas. Você então vai para balada e ao chegar, para<br />
sua surpresa, lá está esse mesmo amigo pagando bebidas pra<br />
todo mundo. Ao te ver, não pestaneja e lhe paga muitas bebidas,<br />
como se não se l<strong>em</strong>brasse que havia acabado de lhe<br />
mentir algumas horas atrás. Bom, bebida paga por amigo a<br />
gente nunca pode negar. Mas que isso é b<strong>em</strong> estranho, isso<br />
sim. Pelo menos ele mesmo tenta te ajudar a esquecer a situação.<br />
Amigo estranho é aquele que fala que vai xingar<br />
muito no twitter. Este fenômeno pode ser raro, mas acontece<br />
com alguma frequência, por mais redundante que possa<br />
parecer. E a situação pode ficar #tensa quando você<br />
perceber que ele xingou, xingou muito mesmo, e o alvo<br />
dos xingamentos era você. Muito estranho, principalmente<br />
por que você o segue, claro, obviamente, por que ele é seu<br />
amigo. Você até fica com vontade de dar um unfollow de<br />
vez <strong>em</strong> quando, mas seria muita falta de sacanag<strong>em</strong> de<br />
sua parte. E não poderia acompanhar quando ele voltasse<br />
a te xingar.<br />
E a pior parte é quando você olha para todos os lados<br />
e todos os seus amigos parec<strong>em</strong> ser da espécie amigo estranho.<br />
E não há nada que se possa fazer. Existe uma explicação<br />
para isso: neste momento o amigo estranho só pode ser<br />
você! (Ger<strong>em</strong>ias Orlandi)
6 CIDADE<br />
Associação resulta <strong>em</strong> boas vendas<br />
O crescimento de hiper-mercados <strong>em</strong> Caxias fez mercados menores unir<strong>em</strong> forças para sobreviver<strong>em</strong><br />
NESTOR JÚNIOR COPELI<br />
nestor.copeli@ucs.br<br />
Caxias do Sul conta com quatro associações de supermercados:<br />
Multi Mercados, Rede Fort, Super Bom e Smart<br />
Supermercados. Para o representante da Associação Gaúcha<br />
de Supermercados (Agas) no município, Ild<strong>em</strong>ar José Bressan,<br />
a união de mercados menores gera um fortalecimento<br />
para a concorrência contra os grandes mercados. “A Agas vê<br />
com bons olhos essas uniões, pois fortalece o mercado, e os<br />
menores consegu<strong>em</strong> agir com maior ‘agressividade’ na busca<br />
por preços e campanhas de marketing”, diz Bressan. O representante<br />
explica, ainda, que o ranking estadual contabiliza a<br />
lucratividade somente por CNPJ, o que resulta na não divulgação<br />
das associações, por conta de cada mercado ter seu próprio<br />
registro. As redes mercadistas encontram-se no ranking<br />
das centrais de negócios da Agas, que divulga somente as 18<br />
principais redes do estado.<br />
As redes de associação possibilitam aos mercados<br />
menores contar com preços competitivos, produtos de marca<br />
própria, otimização no processo de compras e campanhas<br />
promocionais. Conforme a Agas, o Rio Grande do Sul t<strong>em</strong> 18<br />
redes de supermercados. Uma das associações, s<strong>em</strong> fins lucrativos,<br />
a Multi Mercados, ficou <strong>em</strong> 8 lugar <strong>em</strong> lucratividade<br />
no ranking estadual das centrais de negócios de 2009/2010.<br />
Fundada <strong>em</strong> 2002, a Multi promove a união de mer-<br />
Bom atendimento e satisfação dos clientes e funcionários está inserido na missão da Multi Mercados<br />
Para se associar<br />
Para fazer parte da rede Multi Mercados é necessário preencher alguns requisitos.<br />
O interessado passa por entrevista e consultas de créditos (SPC e Serasa).<br />
O estabelecimento deve estar <strong>em</strong> atuação há, no mínimo, cinco anos e dispor de<br />
CNPJ. Além disso, o super-mercado deve respeitar as distâncias entre associados<br />
da rede (2 Km no Centro e 5 Km <strong>em</strong> bairros).<br />
Após esta etapa, é realizado o pagamento de uma taxa de adesão. Todas<br />
as tratativas são feitas da mesma maneira quando da aquisição de uma franquia.<br />
Depois de aprovado, o associado adquire o direito de usar o nome e o logotipo da<br />
associação, começa a pagar mensalidades referentes às campanhas de divulgação<br />
e passa a cumprir com as normas do estatuto da associação. Torna-se, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, responsável pelo bom des<strong>em</strong>penho e pela organização da associação, conforme<br />
o presidente Gelson Zapparoli.<br />
Para qu<strong>em</strong> faz parte do quadro de associados e pretende abrir uma nova<br />
loja na rede, a associação não auxilia na aquisição desta, mas possibilita o não<br />
pagamento das mensalidades por um determinado t<strong>em</strong>po, que é acordado entre os<br />
integrantes de sua comissão.<br />
cados e proporciona competitividade, expansão e aprimoramento<br />
das atividades. Como o próprio nome diz, a rede t<strong>em</strong><br />
o intuito de causar impacto e d<strong>em</strong>onstrar sua grandeza. Atualmente,<br />
figura entre as principais redes do Estado, contando<br />
com 21 lojas, distribuídas <strong>em</strong> Caxias, Bento Gonçalves,<br />
Farroupilha, Flores da Cunha e Canela, e proporciona cerca<br />
de 350 <strong>em</strong>pregos diretos. Segundo a Associação Brasileira de<br />
Super-Mercados (Abras) e a revista Super Hiper, <strong>em</strong> 2010<br />
a rede Multi Mercados ocupou a 33ª posição no ranking do<br />
país, com faturamento superior a R$ 98 milhões.<br />
A soma de experiências, campanhas promocionais,<br />
aperfeiçoamento profissional, mídias cooperativadas, folheteria<br />
padrão, aumento das vendas e otimização no processo<br />
de compras, além de estar presente junto aos principais fornecedores<br />
do país, são alguns dos benefícios para o associado<br />
da rede.<br />
Conforme o presidente da associação, Gelson Zapparoli,<br />
a Multi proporciona poder de mídia e preços que, sozinhos,<br />
os <strong>em</strong>presários não conseguiriam. “Nos unimos pois<br />
sentimos a necessidade de fazer algo. Os grandes (mercados)<br />
estavam dominando o mercado.” Zapparoli explica que a associação<br />
compra de 30% a 40% dos produtos da rede, disponibilizando<br />
os itens <strong>em</strong> seu site. “Os super-mercadistas associados<br />
faz<strong>em</strong> seus pedidos conforme a necessidade. O valor é<br />
igual para todos independente da necessidade e quantidade. O<br />
pagamento dos pedidos é realizado pelo CNPJ de cada mer-<br />
cado.” O restante da aquisição das mercadorias fica a cargo do<br />
proprietário de cada loja.<br />
A rede divulga um único panfleto de ofertas nas mídias<br />
e impresso, que circula nos primeiros 15 dias do mês e<br />
vale para todos os Multi Mercados. No restante do mês cada<br />
associado faz a promoção conforme achar melhor, podendo<br />
até fazer novos panfletos, mas por conta própria. Só não pode<br />
fazer concorrência com outros mercados da associação.<br />
Ao longo dos nove anos de atividade, a Multi procurou<br />
estabelecer um novo conceito sobre associativismo, ao<br />
estabelecer <strong>em</strong> seu plano estratégico sua missão: comercializar<br />
produtos e serviços satisfazendo plenamente seus clientes,<br />
funcionários, fornecedores e a comunidade. Com a linha de<br />
projeto b<strong>em</strong> definida, a rede colhe os frutos do trabalho realizado.<br />
A presidência da associação é escolhida por votação e<br />
disponibilidade de t<strong>em</strong>po, mas no futuro a ideia é que todos<br />
os associados pass<strong>em</strong> pelo cargo para obter um maior envolvimento<br />
e comprometimento de todos.<br />
O associado participa de reuniões técnicas e comerciais<br />
<strong>em</strong> que são tratadas as atividades principais da associação.<br />
Segundo Zapparoli, “<strong>em</strong> 2011 o Multi Mercados está se reposicionando,<br />
através do Planejamento Estratégico 2011/2013,<br />
que vislumbra um maior crescimento para os associados, b<strong>em</strong><br />
como a abertura de novas lojas”. Em abril de 2012, a rede<br />
Multi Mercados completa 10 anos, e ações de marketing estão<br />
sendo planejadas e desenvolvidas para marcar a data.<br />
Fotos Nestor Júniro Copeli<br />
Marca própria de produtos influênciam diretamente na busca de preço e nas promoções diárias
7 CIDADE<br />
Aeroporto movimentará Serra gaúcha<br />
Interior de Caxias do Sul já se movimenta por conta do novo aeroporto. Obras dev<strong>em</strong> começar <strong>em</strong> 2012<br />
GEREMIAS ORLANDI<br />
ger<strong>em</strong>ias.orlandi@ucs.br<br />
Vila Oliva, localidade do interior<br />
de Caxias do Sul, terá <strong>em</strong> breve<br />
sua rotina mudada para s<strong>em</strong>pre.<br />
Essa é a certeza depois que foi anunciado<br />
que o novo aeroporto regional<br />
ali será construído. E não apenas<br />
este distrito, mas praticamente toda<br />
a região da Serra gaúcha sentirá um<br />
impacto positivo. Mas isso vai d<strong>em</strong>orar<br />
um pouco. Ainda há muito o<br />
que ser feito antes de o novo aeroporto<br />
começar a ser efetivamente<br />
construído.<br />
Distante cerca de 45 Km do<br />
centro de Caxias, para se chegar <strong>em</strong><br />
Vila Oliva exist<strong>em</strong> vários caminhos<br />
pelo interior da cidade, mas o mais<br />
aconselhado é passando pelo distrito<br />
de Fazenda Souza. Por este caminho,<br />
existe uma estrada que está <strong>em</strong> fase<br />
de asfaltamento, devendo estar pronta<br />
até março de 2012. Antes de chegarmos<br />
no centro do distrito, passase<br />
por uma enorme propriedade rural<br />
onde existe um pomar de maçãs,<br />
onde será o futuro aeroporto.<br />
Por essa localização, percebe-se<br />
que este futuro aeroporto poderá<br />
movimentar de maneira nunca<br />
vista o interior o município. Conforme<br />
o destino dos passageiros que<br />
des<strong>em</strong>barcar<strong>em</strong> no futuro aeroporto,<br />
eles terão, a princípio, duas rotas: ou<br />
Entre todos os envolvidos<br />
na mobilização pela<br />
busca de recursos para o<br />
novo aeroporto, com diversas<br />
autoridades públicas e<br />
lideranças da iniciativa privada<br />
da Serra gaúcha, uma<br />
participação importante é a<br />
do prefeito de Farroupilha,<br />
Ad<strong>em</strong>ir Baretta.<br />
Depois de uma longa<br />
disputa política para que<br />
o aeroporto fosse para a região<br />
de Monte Bérico, com<br />
o anúncio oficial de Vila Oliva<br />
ele, literalmente, “baixou<br />
as armas” e declarou apoio<br />
incondicional ao <strong>em</strong>preendimento.<br />
“S<strong>em</strong>pre lutamos pela<br />
instalação do aeroporto na região<br />
de Farroupilha. A partir<br />
do momento que foi definida<br />
a área de Caxias do Sul, decidimos<br />
dar nosso apoio total<br />
ao <strong>em</strong>preendimento”, decretou<br />
Baretta.<br />
Esta declaração é<br />
importantíssima para simbolizar<br />
uma união da Serra gaúcha<br />
<strong>em</strong> torno de um objetivo<br />
que beneficiará a todos.<br />
Daneluz já visualiza novas oportunidades para o pequeno negócio. Atualmente ele serve de 20 a 30 refeições diariamente<br />
passarão por Fazenda Souza, <strong>em</strong> direção<br />
a Rota do Sol; ou passarão por<br />
Vila Oliva, por uma estrada que, 25<br />
Km depois, os conduzirá à cidade turística<br />
de Gramado.<br />
Este é apenas um dos diversos<br />
ex<strong>em</strong>plos que mostram o grau<br />
de importância que a instalação do<br />
aeroporto representará. O prefeito<br />
de Gramado, Nestor Tissot, já<br />
Ao analisar o projeto do aeroporto,<br />
que custará cerca de R$<br />
200 milhões, o governo prefere ser<br />
mais cauteloso e adotar, a princípio,<br />
um modelo similar ao já existente<br />
no aeroporto Hugo Cantegiani, <strong>em</strong><br />
Caxias do Sul, apenas com voos<br />
nacionais. Segundo dados da diretoria<br />
do aeroporto de Caxias, para<br />
2011 existe a projeção de que 194<br />
mil passageiros <strong>em</strong>barcarão a partir<br />
do solo caxiense. Número que poderia<br />
subir facilmente para mais de<br />
200 mil se houvesse alternativas de<br />
voos, ou seja, mais linhas.<br />
Conforme Roberto Barbosa<br />
de Carvalho Netto, diretor do Departamento<br />
Aeroportuário do Estado<br />
(DAP), o novo aeroporto deverá ter<br />
capacidade para, inicialmente, 400<br />
mil passageiros por ano. Mas a obra<br />
vai d<strong>em</strong>orar para começar. “Dentro<br />
de um ano e meio ter<strong>em</strong>os o projeto<br />
executivo, com todas as definições<br />
necessárias para o início das obras”,<br />
declarou Carvalho Netto.<br />
Questionado sobre que melhorias<br />
no sist<strong>em</strong>a viário seriam necessárias<br />
para quando o aeroporto<br />
efetivamente começar a funcionar,<br />
reinvidica obras na estrada que une<br />
Vila Oliva a Gramado. “Depend<strong>em</strong>os<br />
muito do futuro aeroporto,<br />
pois receb<strong>em</strong>os cerca de 1 milhão<br />
de turistas por ano vindos do aeroporto<br />
Salgado Filho”, comenta<br />
Tissot. Este número deverá aumentar<br />
com a conclusão do aeroporto<br />
e o consequente asfaltamento desta<br />
rota turística.<br />
o secretário municipal do Trânsito,<br />
Transportes e Mobilidade (SMT-<br />
TM), Jorge Dutra foi franco. “Já<br />
exist<strong>em</strong> diretrizes para a construção<br />
de estruturas viárias para atender a<br />
essa área. A Rota do Sol pode ser<br />
aproveitada, mas obviamente deverá<br />
haver uma melhoria”, aponta Dutra.<br />
De fato, a melhoria já começa<br />
a acontecer com o asfaltamento da<br />
estrada até Vila Oliva.<br />
Mas a grande aposta, mesmo,<br />
é uma compl<strong>em</strong>entação no anel<br />
viário do municipio, denominada<br />
Fotos Ger<strong>em</strong>ias Orlandi<br />
MUDANÇAS A CAMINHO<br />
Em Vila Oliva, cuja principal<br />
atividade econômica é a fruticultura,<br />
a rotina também deve mudar.<br />
Em vários sentidos: poderão<br />
surgir ali pousadas, lancherias, uma<br />
infinidade de negócios. “Vai trazer<br />
desenvolvimento, e vai tumultuar<br />
um pouco nossa rotina”, diz, <strong>em</strong><br />
Contorno Sul-Leste. Com 27 km,<br />
serviria como uma variante da BR<br />
116. Entretanto, o custo da obra é<br />
elevado, cerca de R$ 850 milhões,<br />
e não existe orçamento previsto. A<br />
solução seria incluir o projeto, já conhecido<br />
pela comunidade, no plano<br />
viário nacional, o que possibilitaria<br />
buscar recursos federais para a execução<br />
da obra. “Com a chegada do<br />
aeroporto, essa estrada será de fundamental<br />
importância, as duas obras<br />
t<strong>em</strong> que tomar forma juntas”, argumenta<br />
Dutra.<br />
tom descontraído, o sub-prefeito<br />
Nelson Marcarini, que mora no distrito<br />
desde que nasceu, <strong>em</strong> 1947.<br />
O <strong>em</strong>presário Rogério Daneluz,<br />
46 anos, também nasceu no<br />
distrito, saiu para estudar, mas retornou<br />
anos depois para montar o<br />
restaurante Vilaggio Point Lanches.<br />
Sobre o futuro aeroporto, Daneluz<br />
comenta: “Uma alternativa de<br />
desenvolvimento, vai aproximar<br />
o interior da cidade, não ser<strong>em</strong>os<br />
mais vistos como final de linha.”<br />
O <strong>em</strong>presário ainda menciona que<br />
a intenção é manter o restaurante,<br />
onde serve uma média de 20 a 30<br />
refeições diárias, e ampliá-lo. “Eu<br />
normalmente sei b<strong>em</strong> certo a quantidade<br />
de pessoas que almoçam,<br />
mas com o aeroporto a clientela irá<br />
aumentar bastante”, visualiza Daneluz.<br />
Segundo Milton Corlatti,<br />
presidente da Câmara da Indústria,<br />
Comércio e Serviços (CICS), de Caxias<br />
do Sul, <strong>em</strong> uma reunião realizada<br />
ainda <strong>em</strong> julho, a intenção é a<br />
reinvidicação por um aeroporto com<br />
capacidade para voos internacionais.<br />
“Hoje, mais da metade das pessoas<br />
da nossa região que precisam viajar<br />
de avião <strong>em</strong>barcam <strong>em</strong> Porto Alegre”,<br />
aponta Corlatti. Aparent<strong>em</strong>ente,<br />
este novo aeroporto poderá ser<br />
uma alternativa para o Aeroporto<br />
Internacional de Porto Alegre, o Salgado<br />
Filho.<br />
Fim da briga Estrutura exigirá recursos milionários<br />
Sub-prefeito Nelson Marcarini mostra o terreno do aeroporto O asfaltamento da estrada deve ser concluído até 2012<br />
O deputado federal Assis<br />
Mello (PC do B), <strong>em</strong> nota de sua<br />
assessoria de imprensa, assume o<br />
compromisso na busca de recursos<br />
para a viabilização das diferentes<br />
etapas do projeto e construção do<br />
novo aeroporto. “Esta conquista<br />
histórica para a Serra Gaúcha exige<br />
uma responsabilidade individual e<br />
coletiva de todos que lutam <strong>em</strong> defesa<br />
do desenvolvimento, da geração<br />
de <strong>em</strong>prego e renda e pela conquista<br />
de melhores dias para os moradores<br />
de nossa próspera região.”
8<br />
SAÚDE<br />
Elas “ench<strong>em</strong> a cara” nas baladas<br />
Pesquisa revela que mais de 10 milhões de mulheres consom<strong>em</strong> bebidas alcoólicas regularmente<br />
MARCO MATOS<br />
marco.matos@ucs.br<br />
De acordo com a última<br />
pesquisa do Ministério da Saúde<br />
(MS) sobre o consumo de bebidas<br />
alcoólicas, as mulheres beb<strong>em</strong><br />
cada vez mais. Em 2006, o índice<br />
de mulheres que consumiam<br />
bebidas alcoólicas regularmente<br />
era de 8,2%, na pesquisa divulgada<br />
<strong>em</strong> abril deste ano, o índice<br />
aumentou 2,4%, passando para<br />
10,6% da população f<strong>em</strong>inina, o<br />
que corresponde a mais de 10 milhões<br />
de mulheres que consom<strong>em</strong><br />
bebidas alcoólicas regularmente.<br />
Em Caxias do Sul, a situação<br />
se revela verdadeira. Nas<br />
baladas, fica claro que as mulheres<br />
beb<strong>em</strong> cada vez mais. André<br />
Souza, 31 anos, trabalha como<br />
barman <strong>em</strong> uma casa noturna<br />
da cidade e revela que, constant<strong>em</strong>ente,<br />
vê mulheres bêbadas<br />
durante as festas. “Elas estão bebendo<br />
igual aos homens, ou até<br />
mais. Depois da 1 hora da manhã<br />
a maioria delas já está mais pra lá<br />
do que pra cá”, conta.<br />
Márcio*, proprietário de<br />
uma boate tradicional de Caxias<br />
do Sul, conta que as mulheres têm<br />
se tornado suas melhores clientes<br />
nos últimos anos. “Ultimamente<br />
elas têm consumido mais, mesmo<br />
Em Caxias do Sul, 63 pessoas lotaram<br />
o auditório da Secretaria de Trânsito,<br />
Transportes e Mobilidade (SMTTM), <strong>em</strong><br />
um sábado pela manhã do mês de julho.<br />
Ocorria, na ocasião, mais uma edição da<br />
palestra “Superando o medo de dirigir”,<br />
promovida pela Escola Pública de Trânsito<br />
da cidade, como parte do Programa de Humanização<br />
no Trânsito.<br />
Todos eram b<strong>em</strong>-vindos; entretanto,<br />
apenas três homens destacavam-se entre as<br />
60 mulheres. Tudo teve início com a fala<br />
do gerente de educação para o trânsito e<br />
fiscal de trânsito Joel Portela, que conduziu<br />
a primeira hora de palestra com informações<br />
sobre trânsito e atitudes seguras<br />
para os participantes do evento.<br />
“É natural sentir medo diante do<br />
desconhecido. Enquanto o motorista t<strong>em</strong><br />
medo, ele está seguro. A auto-confiança<br />
<strong>em</strong> excesso traz a falta de limites. Vocês<br />
não vão sair daqui com o medo superado,<br />
mas este é um pequeno passo, e gradativamente<br />
vocês irão conseguir”, explicou o<br />
palestrante.<br />
legenda cp 9<br />
Álcool associado à direção é um probl<strong>em</strong>a que atinge homens e mulheres; hoje, mulheres já chegam bêbadas nas baladas<br />
Para encarar o trânsito com segurança<br />
CLARISSA DE ANTONI<br />
clarissa.biasuz@ucs.br<br />
com os limitantes, como o preço<br />
alto das bebidas nas festas”, diz o<br />
comerciante.<br />
“Muitas das gurias que<br />
beb<strong>em</strong> d<strong>em</strong>ais sa<strong>em</strong> dirigindo<br />
daqui”, revela. O fato preocupa,<br />
pois, o álcool, associado à direção,<br />
pode ocasionar diversos acidentes<br />
de trânsito. “O que acontece<br />
muito é que algumas mulheres<br />
já chegam bêbadas na festa, pois<br />
o costume de fazer o ‘aquece’ antes<br />
da balada é tradicional aqui na<br />
O MEDO TOMA CONTA<br />
A segunda parte da palestra foi ministrada<br />
pela psicóloga Paula Bisol, que<br />
enfatizou aos participantes a diferença entre<br />
medo e fobia, e incentivou a busca pela<br />
cura. “Quando tenho medo de algo, evito,<br />
mas sou capaz de fazer. A fobia é algo mais<br />
intenso, uma patologia que deve ser tratada<br />
com medicamento e terapia”, esclareceu.<br />
A fobia é o caso de Ida Marini,<br />
56 anos. Ela cursava as aulas teóricas no<br />
Centro de Formação de Condutores (CFC)<br />
mas, quando viu que as práticas se aproximavam,<br />
desistiu. “Tenho verdadeiro<br />
Tratamento para fobia<br />
A psicóloga Paula Bisol aconselha, <strong>em</strong> casos mais extr<strong>em</strong>os, terapia cognitivacomportamental.<br />
Na primeira fase do tratamento o profissional detecta a orig<strong>em</strong> do<br />
medo. Após, é feito um trabalho de relaxamento muscular profundo. Neste momento,<br />
o paciente libera suas tensões e aprende exercícios de respiração. É recomendada a<br />
prática de exercícios físicos, o que faz liberar, naturalmente, endorfinas. O tratamento<br />
não fica somente na teoria, os pacientes dirig<strong>em</strong> com acompanhamento de um instrutor<br />
de trânsito e discut<strong>em</strong> cada aula com o psicólogo. Depois, v<strong>em</strong> a fase da “meia independência”,<br />
quando o aluno vai às ruas e é seguido pelo instrutor. No fim do tratamento<br />
o paciente já dirige sozinho, repete s<strong>em</strong>pre o mesmo trajeto até superar seus medos.<br />
Fotos Guilherme Dedececk<br />
pânico, tenho pesadelos, penso que estou<br />
dirigindo, tento frear e o carro nunca para.<br />
Acordo suada, com dor na panturrilha. Espero<br />
encontrar alguma orientação nesta palestra”,<br />
contou.<br />
A participante Neiva Ceconi, 55,<br />
também não dirige. Ela cursa auto-escola,<br />
porém, já mudou de CFC três vezes, pois<br />
nunca está suficient<strong>em</strong>ente segura para<br />
fazer a prova. “Meu caso é um trauma<br />
de infância, sofri um acidente quando era<br />
nova, e sinto um pavor terrível já ao ligar o<br />
motor carro. Simplesmente não consigo ir<br />
adiante, tudo tr<strong>em</strong>e e o coração fica acelerado”,<br />
lamentou.<br />
cidade”, conclui.<br />
Em contrapartida, elas defend<strong>em</strong><br />
o direito de consumir álcool.<br />
Caroline Schiavo, 24, estudante<br />
universitária, é uma mulher<br />
que gosta de sair à noite e beber<br />
uma cervejinha com os amigos.<br />
“Gosto da sensação da bebida. Se<br />
eles pod<strong>em</strong> beber, porque as mulheres<br />
não pod<strong>em</strong>?”, questiona. E<br />
continua: “Não pod<strong>em</strong> julgar as<br />
mulheres por beber<strong>em</strong>, mas sim<br />
pelo seu comportamento. Também<br />
não aprovo as que beb<strong>em</strong><br />
até cair, mas o consumo de forma<br />
social não pode ser condenado.”<br />
A nutricionista Luiza* é<br />
uma notívaga de carteirinha, adora<br />
sair com os amigos e está s<strong>em</strong>pre<br />
nas baladas da região, e, para<br />
ela, a bebida alcoólica é um it<strong>em</strong><br />
obrigatório das festas. “A bebida<br />
é uma necessidade. Não adianta<br />
sair à noite pra ficar bebendo<br />
água”, diz.<br />
Mas Luiza s<strong>em</strong>pre se previne<br />
quanto ao modo como voltará<br />
para casa depois da festa.<br />
“S<strong>em</strong>pre volto de táxi, ou pego<br />
carona com algum amigo que<br />
está sóbrio”, conta. E afirma: “A<br />
sociedade já recrimina o cigarro,<br />
só falta agora querer intervir no<br />
que cada um bebe.”<br />
*As fontes preferiram não se identificar.<br />
Persistência<br />
pela superação<br />
De acordo com a psicóloga Paula Bisol,<br />
as vítimas desse medo são pessoas que<br />
têm um mesmo perfil. Todas responsáveis,<br />
organizadas, com ansiedade generalizada, e<br />
que não admit<strong>em</strong> erros <strong>em</strong> qualquer setor de<br />
suas vidas. Normalmente, sofr<strong>em</strong> preconceito<br />
e por medo de críticas abandonam o<br />
volante.<br />
O trabalho <strong>em</strong> terapia faz com que a<br />
pessoa se permita a errar. “Será que todos<br />
acertam s<strong>em</strong>pre? Todos humanos erram e<br />
isso não significa que sejam incapacitados.<br />
Dev<strong>em</strong>os aprender com nossos erros, e ter<br />
persistência. Nos momentos de enfrentamento<br />
a pessoa costuma fugir, é preciso resistência<br />
para se superar”, alertou.<br />
A palestra “Superando o Medo de<br />
Dirigir” acontece a cada 60 dias, s<strong>em</strong>pre às<br />
9h, no prédio da SMTTM, na Rua Moreira<br />
César, 1666.<br />
As próximas datas já estão definidas:<br />
10 de set<strong>em</strong>bro e 12 de nov<strong>em</strong>bro. As vagas<br />
são limitadas, e as inscrições são feitas pelo<br />
telefone (54) 3290.3955. Informações pelo<br />
e-mail: escolatransito@caxias.rs.gov.br
9 SAÚDE<br />
Sarampo retorna e país recorre<br />
à nova campanha de vacinação Qu<strong>em</strong><br />
Doença voltou a ser foco de atenção na área da saúde, mesmo <strong>em</strong> países que não apresentavam mais casos<br />
Cristofer Giacomet/Divulgação<br />
GEREMIAS ORLANDI<br />
ger<strong>em</strong>ias.orlandi@ucs.br<br />
Uma doença morta.<br />
Segundo especialistas da<br />
saúde, no Brasil sim. Erradicada.<br />
Essa é a palavra que<br />
decreta que o sarampo, tecnicamente,<br />
não se desenvolve<br />
<strong>em</strong> terras brasileiras. Mas ela<br />
ainda existe <strong>em</strong> outros países,<br />
principalmente aqueles<br />
subdesenvolvidos e que não<br />
têm campanhas de vacinação<br />
contra este tipo de doença.<br />
Mas de algum modo, a doença<br />
voltou ao Brasil, provavelmente<br />
trazida por turistas.<br />
Pessoas que visitaram outros<br />
países recent<strong>em</strong>ente foram<br />
detectadas com a doença.<br />
Há notícias vindas da<br />
Europa que mostram a ocorrência de um surto no velho<br />
continente. Principalmente na França. Informações recentes<br />
da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam<br />
que os franceses estão assustados com cerca de 5 mil<br />
casos registrados da doença. E outros 32 países também<br />
t<strong>em</strong> apresentam casos. Conforme dados da OMS, <strong>em</strong> 2008<br />
morreram 164 mil pessoas <strong>em</strong> todo o mundo vitímas do<br />
sarampo. A grande maioria espalhada pelos continentes<br />
africano e asiático. Atualmente se t<strong>em</strong> notícias de uma epid<strong>em</strong>ia<br />
que atingiu o Congo, onde morreram cerca de 32<br />
pessoas no mês de junho e mais de 800 estavam infectadas.<br />
Segundo informações no portal do Ministério da<br />
Saúde do Brasil, a vacina contra o sarampo é a única medida<br />
preventiva, e também a mais segura. É importante<br />
que o esqu<strong>em</strong>a vacinal esteja completo. A primeira dose<br />
deve ser aplicada aos 12 meses de vida, e o reforço entre<br />
quatro a seis anos de idade. Todas as mulheres até 49 anos<br />
dev<strong>em</strong> receber uma dose da vacina e os homens até 39<br />
anos também dev<strong>em</strong> ser vacinados, independente de seu<br />
histórico <strong>em</strong> relação à doença. Frequent<strong>em</strong>ente, são reali-<br />
Relatos históricos registram pela primeira vez a existência<br />
do sarampo na Europa nos séculos II e III d.C. A primeira<br />
grande vítima que se t<strong>em</strong> notícia foi o Império Romano;<br />
uma grande proporção da população não totalmente imune à<br />
doença acabou vitimada. O sarampo, junto com outros doenças<br />
como a varíola, foi um dos grandes responsáveis, segundo<br />
alguns historiadores, pela queda do império Romano.<br />
Aparent<strong>em</strong>ente, quando surgiu, muitos adultos economicamente<br />
ativos não haviam contraído a doença na infância,<br />
não tendo portanto, resistência natural a ela, o que<br />
explica o enorme estrago que causou nesta época. Diminuiu<br />
a população do império ao ponto de leis ser<strong>em</strong> decretadas,<br />
como a da hereditariedade das profissões, postos oficiais e<br />
redução à servidão dos agricultores, antes livres, dando orig<strong>em</strong><br />
ao feudalismo.<br />
Ainda desta época, relatos históricos apontam que o<br />
sarampo também pode ter sido a causa da queda do império<br />
Han, na China. Já muitos séculos depois, a doença veio para<br />
a América, trazida da Europa com a chegada de Cristóvão<br />
Colombo. Obviamente causou muitas mortes, praticamente<br />
ajudando a dizimar as civilizações asteca e inca. Junto com<br />
doenças como a varíola e a varicela, ela matou cerca de 90%<br />
da população até então existente no recém-descoberto con-<br />
Crianças de zero a seis anos receberam gotinhas contra o sarampo <strong>em</strong> campanha nacional<br />
zadas campanhas de vacinação no Brasil.<br />
Conforme a chefe do Núcleo de Imunizações da<br />
Secretária de Saúde do Estado, Taine Rainieri, sete casos<br />
já foram registrados no Rio Grande do Sul neste ano de<br />
2011. “No ano passado foram oito casos, todos importados<br />
por turistas gaúchos que visitaram países que ainda<br />
têm surtos da doença”, compl<strong>em</strong>enta Taine. Em decorrência<br />
do risco de a doença se espalhar, houve uma nova campanha.<br />
Em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria<br />
Municipal da Saúde foram vacinadas mais ou menos 95%<br />
das crianças com idade até seis anos, que geralmente são<br />
as que corr<strong>em</strong> maiores riscos de contraír<strong>em</strong> a doença.<br />
Também é importante l<strong>em</strong>brar dos estudantes que<br />
vão fazer intercâmbios. Para Scheila Salvati, diretora de<br />
intercâmbios da agência CI, é muito válido que a pessoa<br />
que irá fazer um intercâmbio tenha consciência da importância<br />
de fazer a vacina. “Embora os países não exijam<br />
a vacina como um dos requisitos para entrar na Europa,<br />
ela é altamente recomendada, para o b<strong>em</strong> do estudante”,<br />
afirma Scheila.<br />
Destruidora de civilizações<br />
Em países sub-desenvolvidos, como na África, doença ainda é risco<br />
tinente. O vírus do sarampo só foi isolado pela primeira vez<br />
<strong>em</strong> 1954, e, quase uma década depois, no ano de 1963, foi<br />
desenvolvida a vacina contra a doença.<br />
No Brasil, até o final dos anos 70, esta virose era<br />
uma das principais causas de óbito dentre as doenças infectocontagiosas,<br />
sobretudo <strong>em</strong> menores de cinco anos, <strong>em</strong> decorrência<br />
de complicações, especialmente a pneumonia. Em<br />
1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para<br />
o ano 2000.<br />
Onde esse probl<strong>em</strong>a<br />
vai parar<br />
discorda que a palavra probl<strong>em</strong>a desde seu<br />
nome indica que algo está errado? Independente do tamanho,<br />
grau ou circunstância, probl<strong>em</strong>a é sinônimo de algo<br />
ruim. Dev<strong>em</strong>os saber lidar com as situações, pois probl<strong>em</strong>as<br />
todos t<strong>em</strong>os. Tirar conhecimento dos momentos de<br />
probl<strong>em</strong>as serve e ajuda para a vida toda, basta ter paciência.<br />
Era noite de uma quarta-feira típica de inverno,<br />
chovia muito, aliás, havia chovido durante todo o dia, s<strong>em</strong><br />
trégua, e o frio também incomodava. Eu acabara de realizar<br />
uma entrevista no bairro Ana Rech, zona norte de Caxias<br />
do Sul, para escrever uma matéria para a faculdade.<br />
Estava com os pés congelados e molhados, além da fome,<br />
por não ter feito nenhum lanche durante a tarde. Mas, tudo<br />
estava tranquilo, nenhum probl<strong>em</strong>a me incomodava. A<br />
chuva iria <strong>em</strong>balar meu sono durante toda a noite.<br />
Esperei por alguns minutos o Visate, até que apontou<br />
lá adiante o ônibus que me faria ver, pessoalmente,<br />
uma cena nunca presenciada antes. Embarquei no ônibus,<br />
linha Ana Rech/Salgado Filho, rumo ao Centro. Eu ainda<br />
teria que pegar mais um antes de chegar <strong>em</strong> casa e tirar os<br />
calçados molhados, tomar um banho quente e comer algo.<br />
Na parada localizada <strong>em</strong> frente à <strong>em</strong>presa Marcopolo<br />
é que tudo iria acontecer. Alguns passageiros <strong>em</strong>barcaram<br />
e um deles estava acompanhado de sua parceira. Eu<br />
estava b<strong>em</strong> acomodado no antepenúltimo banco do lado<br />
esquerdo do ônibus. Percebi uma movimentação estranha<br />
lá na frente e espichei um pouco o pescoço para ver melhor<br />
o que acontecia.<br />
O rapaz que entrou acompanhado estava enfurecido,<br />
tentando agredir o motorista, este no seu lugar. O motivo,<br />
segundo os berros do rapaz - que d<strong>em</strong>onstrava estar<br />
drogado - era que o motorista não queria dar carona para<br />
ele e sua mulher, grávida. Gritava chamando o motorista<br />
para a briga, insultando-o com adjetivos como “velho filho<br />
da p...”, “velho careca”, “seu m...”, e prometendo “quebrar”<br />
o velho “a pau” quando o encontrasse pela frente.<br />
Questionava se o “velho” nunca havia precisado de ajuda.<br />
O condutor aparentava ter uns 50 anos e manteve-se<br />
calmo. Seus cabelos brancos d<strong>em</strong>onstravam o aprendizado<br />
que a vida lhe concedeu ao longo de sua história.<br />
A agressão não chegou a acontecer porque um passageiro,<br />
que não tinha nada a ver com a situação, pagou<br />
as duas tarifas. O casal passou a catraca, mas a indignação<br />
do rapaz não. Seguiu falando <strong>em</strong> bater, xingava <strong>em</strong><br />
voz alta, mandava o motorista andar e este não arrancou<br />
o carro. Cansado dos insultos, levantou-se de seu banco e<br />
falou que chamaria a polícia caso o revoltado não calasse<br />
a boca. Nesse momento, o rapaz pulou do banco e tentou<br />
partir novamente para cima do motorista; sua acompanhante<br />
não deixou, pedia para ele pensar <strong>em</strong> seu filho. Depois<br />
de uns 15minutos o ônibus voltou a andar. A polícia<br />
não foi acionada e nada aconteceu para o “valente” rapaz.<br />
Uma pessoa que trabalha de forma correta e que<br />
t<strong>em</strong> seus probl<strong>em</strong>as para tratar, quase foi agredida pelo<br />
probl<strong>em</strong>a de outra pessoa. Uma criança que ainda não<br />
nasceu causou um enorme constrangimento dentro uma<br />
condução urbana, s<strong>em</strong> saber, por culpa de seu pai, que<br />
não tinha 5 reais para pagar o transporte. Em nenhum<br />
momento o hom<strong>em</strong> ouviu ou, ao menos, deixou transparecer<br />
preocupação com a esposa e seu herdeiro, ainda no<br />
ventre da mãe, que ali, de certa forma, passou vergonha<br />
pela circunstância causada pela falta de razão, além de<br />
dinheiro.<br />
Se antes de nascer, o filho é motivo de desculpa para<br />
o pai não ter verba n<strong>em</strong> pra pagar uma condução, dev<strong>em</strong>os<br />
t<strong>em</strong>er o futuro. Pois se, naquela noite, o escolhido para a<br />
culpa foi o motorista do ônibus e, amanhã, poderá ser um<br />
de nós, qual o ex<strong>em</strong>plo, a educação que este pai vai dar<br />
para a criança? Culpar o ensino público não poderá, pois<br />
educação se aprende <strong>em</strong> de casa. Dev<strong>em</strong>os saber resolver<br />
os nossos probl<strong>em</strong>as e não descarregar no próximo nossas<br />
raivas. T<strong>em</strong>o que, no futuro, a pobre criança que está para<br />
nascer seja um probl<strong>em</strong>a de todos nós, nas ruas. (Nestor<br />
Júnior Copeli)
10<br />
ESPECIAL<br />
Hora de recomeçar<br />
Espaço para recuperação de dependentes químicos é ex<strong>em</strong>plo<br />
de superação e se mantém somente com doações da comunidade<br />
NESTOR JÚNIOR COPELI<br />
nestor.copeli@ucs.br<br />
Um lugar onde você chega<br />
e é recebido com um sorriso<br />
e chamado de irmão. A Casa de<br />
Apoio Celeiro de Cristo foi fundada<br />
<strong>em</strong> 2008, no bairro Vale Verde,<br />
zona norte de Caxias do Sul, após<br />
se desm<strong>em</strong>brar da Igreja localizada<br />
<strong>em</strong> parte do terreno ao lado da<br />
Casa. O responsável pela organização<br />
do lugar é José Fernando Silva<br />
Andrade, que prefere ser chamado<br />
apenas de Fernando, diretor geral,<br />
também ex-dependente químico,<br />
assim como os 62 internos, hoje,<br />
que procuraram ajuda para tratar<br />
de seus vícios.<br />
A equipe é formada pelo<br />
diretor, mais José Mario Wodzik,<br />
pastor presidente e três monitores.<br />
Contam ainda com o apoio de<br />
obreiros (ex-pacientes que optam<br />
<strong>em</strong> permanecer na Casa prestando<br />
apoio aos internos). Todas as<br />
sextas-feiras receb<strong>em</strong> a visita e<br />
atendimento de uma psicóloga, financiada<br />
por uma igreja parceira<br />
do Celeiro.<br />
A casa aceita somente homens,<br />
entre 18 e 59 anos. Entre<br />
eles, está Allan Cristiano Borges<br />
de Farias, 35 anos, que mostra,<br />
com orgulho, o certificado de monitor<br />
da Casa pendurado na parede<br />
do escritório da entidade. Exdependente<br />
químico, conheceu<br />
as drogas aos 22. Estas o fizeram<br />
morar nas ruas, passar fome e, in-<br />
clusive, o levaram a roubar para<br />
sustentar o vício. Farias perdeu<br />
a esposa e o contato com a filha,<br />
hoje com sete anos. Mas a maior<br />
dor foi ver sua mãe sofrer com a<br />
sua situação. “Minha mãe chorou<br />
ao me proibir de entrar <strong>em</strong> casa<br />
porque eu roubava as coisas, me<br />
alcançava comida pela janela e,<br />
banho, só tomava quando conseguia<br />
entrar <strong>em</strong> casa”, diz.<br />
O medo da morte o fez<br />
buscar ajuda por conta própria<br />
há três anos. O monitor salienta<br />
que não há centros que recuperam<br />
100%, mas a pessoa precisa<br />
[<br />
“A vontade do<br />
ex-dependente<br />
nunca vai deixar<br />
de existir”,<br />
diz Farias<br />
[<br />
se ajudar e contar com ajuda. Na<br />
Casa, sua vida começou a mudar;<br />
ele reconquistou a confiança da<br />
família, recebendo um convite<br />
carinhoso da mãe para voltar a<br />
morar com ela. O convite não foi<br />
aceito, pois o trabalho no Celeiro<br />
e o amor pela nova família o<br />
fez ficar. “Não trocaria a vivência<br />
que tenho aqui por nenhuma das<br />
profissões que já exerci, entre elas<br />
soldador e programador de torno<br />
CNC.”<br />
Uma figura diferente, por<br />
sua alegria, é Jairo, somente Jairo,<br />
mais conhecido como “Barbeiro”.<br />
Ele prefere ouvir a falar. “Tenho<br />
duas orelhas para ouvir muito<br />
e uma boca para falar a metade”,<br />
diz. Cortar o cabelo de todos os<br />
internos é motivo de mais alegria.<br />
Jairo garante que o trabalho é de<br />
primeiro mundo e brinca com o<br />
colega na cadeira e os outros ao<br />
seu redor que ninguém reclama de<br />
seus cortes, até porque é ele qu<strong>em</strong><br />
está com a navalha na mão, soltando<br />
uma enorme risada <strong>em</strong> alto<br />
som, acompanhada pelos colegas.<br />
“Para estar aqui no Celeiro deve<br />
ser por amor e não pela dor”, salienta<br />
o “Barbeiro”.<br />
Outro ex<strong>em</strong>plo de superação<br />
é o do monitor Marciano Luis<br />
de Oliveira, 34. Morador da Casa<br />
há um ano e quatro meses, além<br />
de monitor é diretor da Chácara<br />
Celeiro de Cristo. Permanece na<br />
entidade por se sentir seguro, distante<br />
das drogas, e por amor ao<br />
trabalho que ali realiza. “Recebi<br />
proposta para voltar ao meu antigo<br />
trabalho, mas recusei. Prefiro ficar<br />
aqui, pois posso ajudar as pessoas<br />
que chegam debilitadas”, afirma<br />
Oliveira. O monitor destaca ainda a<br />
maravilhosa sensação de ver a evolução<br />
daqueles que chegaram mal<br />
saír<strong>em</strong> com suas famílias. Oliveira<br />
trata os pacientes como “almas”.<br />
“O dependente químico t<strong>em</strong> um<br />
vazio profundo dentro de si; este<br />
representa sua alma que deve ser<br />
preenchida com coisas boas, <strong>em</strong><br />
busca da paz interior”, afirma<br />
Atividades envolv<strong>em</strong> todos os internos, inclusive na manutenção dos produtos recebidos por doações da comunidade<br />
Espaço onde acontece as rodas de chimarrão serve para internos encontrar<strong>em</strong> os familiares<br />
Marciano (c) entre amigos, d<strong>em</strong>onstra a alegria de sua vida hoje, como monitor da Casa<br />
Para entrar <strong>em</strong> contato<br />
Divulg<br />
Para ajudar a Casa de Apoio Celeiro de Cristo, ou buscar ajuda, os contato são:<br />
8426.5871, com Fernando, ou 9903.0027, com pastor José Mario<br />
Celeiro15@hotmail.com
ação<br />
11<br />
Ex-usuários obedec<strong>em</strong> rotina para recuperação<br />
A rotina é rigorosamente<br />
cumprida por todos. O despertar<br />
acontece às 7h e até às 8h todos<br />
se preparam para tomar o café<br />
matinal. Após, é realizado um<br />
culto. Às 10h todos participam da<br />
laborterapia – trabalhos diversos<br />
que ocupam a cabeça dos pacientes,<br />
para evitar que pens<strong>em</strong> nas<br />
drogas. No restante da manhã,<br />
os 42 moradores se reún<strong>em</strong> para<br />
repensar<strong>em</strong> <strong>em</strong> seus erros e buscar<strong>em</strong><br />
soluções para reparar<strong>em</strong> os<br />
danos causados no passado. Em<br />
seguida, é servido o almoço. A<br />
tarde se inicia com oração e, novamente,<br />
segu<strong>em</strong>-se os trabalhos<br />
de laborterapia, até a hora do lanche<br />
da tarde, 15h30min. Os trabalhos<br />
se encerram às 16h, com a<br />
lavag<strong>em</strong> e a organização de todo<br />
o material usado durante o dia.<br />
Com tudo limpo e arrumado, é a<br />
hora do banho e da confraternização,<br />
com uma roda de chimarrão<br />
que segue até o sinal do jantar.<br />
Depois, todos participam de um<br />
novo culto, antes do toque de silêncio;<br />
a noite é finalizada com<br />
um lanche.<br />
O t<strong>em</strong>po na Casa é repleto<br />
de atividades, mas nos momentos<br />
de lazer os internos pod<strong>em</strong> ler<br />
jornal. Este é o principal meio de<br />
informação externa que eles têm;<br />
além disso, só livros evangélicos.<br />
Ouv<strong>em</strong> músicas, também evangélicas,<br />
e quanto ao uso do aparelho<br />
de televisão, somente para assistir<br />
filmes de ensinos bíblicos.<br />
Fotos Nestor Júnior Copeli<br />
Ainda participam de oficinas e<br />
cursos que igrejas oferec<strong>em</strong> para<br />
os internos.<br />
Outra atividade que envolve<br />
toda a casa é o Grupo de Teatro<br />
da Casa da Apoio, montado<br />
<strong>em</strong> 2010 pelos próprios internos.<br />
Este trabalho também traz reconhecimento<br />
para o lugar. Segundo<br />
Fernando, o dinheiro arrecadado<br />
pelo teatro é somente para<br />
os custos do grupo teatral. “O<br />
grupo já se apresentou <strong>em</strong> diversas<br />
escolas, teatros da cidade e todos<br />
os domingos se apresenta <strong>em</strong><br />
diferentes igrejas evangélicas”,<br />
destaca o diretor.<br />
O Celeiro sobrevive de<br />
doações de <strong>em</strong>presas parceiras,<br />
s<strong>em</strong> nenhuma ajuda dos governos<br />
municipal ou estadual. Durante o<br />
inverno, serve também de abrigo<br />
para muitos moradores de rua que<br />
chegam até a Casa por meio da<br />
Prefeitura de Caxias do Sul. De<br />
acordo com Fernando, a partir do<br />
mês de agosto o Banco de Alimentos<br />
de Caxias passa a ajudar<br />
com doação de alimentos para o<br />
local. Algumas famílias dos internados<br />
que têm condições ajudam<br />
com R$ 250, cada. A Prefeitura<br />
liberou, uma vez por mês, a Casa<br />
fazer os chamados pedágios nas<br />
sinaleiras no centro da cidade<br />
para a arrecadação de fundos que<br />
serv<strong>em</strong> de ajuda nos custos. O<br />
auxílio da comunidade é um importante<br />
impulso para o Celeiro<br />
de Cristo seguir com seu trabalho. “Barbeiro” retoma sua profissão e é referência entre colegas do Celeiro, e também é qu<strong>em</strong> cuida da aparência dos amigos<br />
Divulgação<br />
Peças contra drogas são encenadas <strong>em</strong> escolas e igrejas da cidade e resultam <strong>em</strong> benefícios à Casa<br />
Chácara Celeiro de Cristo<br />
“afasta” as tentações<br />
A extensão, localizada <strong>em</strong> Vila<br />
Oliva, abriga 20 internos. No local, ficam<br />
longe das tentações da cidade grande, uma<br />
segurança a mais para os primeiros dias de<br />
abstinência. O novo morador é encaminhado<br />
para o anexo no segundo dia de internação.<br />
Na Chácara, como é conhecido o local,<br />
são realizadas as mesmas atividades que na<br />
Casa. A permanência inicial é de 30 dias,<br />
mas pode ser alterada conforme o caso.<br />
O TRATAMENTO<br />
O paciente pode procurar ajuda na<br />
Casa por conta própria, s<strong>em</strong> custo algum<br />
para ele ou seus familiares. O primeiro passo<br />
é assinar um documento confirmando a<br />
livre e espontânea vontade de buscar ajuda,<br />
ou de familiares que se responsabiliz<strong>em</strong><br />
pelo interno. Após, é realizada uma avaliação<br />
médica na UBS do bairro, caso o paciente<br />
não tenha um atestado comprovando<br />
suas condições de saúde. No lugar, ele será<br />
medicado e tratado da maneira adequada<br />
para curar suas dependências, sejam quais<br />
for<strong>em</strong>.<br />
A internação de cada um dura nove<br />
meses, mas este período pode ser maior,<br />
conforme a melhora ou a confiança que<br />
cada paciente adquiriu <strong>em</strong> si para voltar a<br />
enfrentar o mundo fora dos muros da Casa.<br />
O Celeiro mantém um projeto com as <strong>em</strong>presas<br />
parceiras, que ajudam a manter o<br />
local, onde faz<strong>em</strong> a recolocação do interno<br />
no mercado de trabalho. Todos que estão ali<br />
têm alguma profissão interrompida pelas<br />
drogas.<br />
Após o período na Casa, o paciente<br />
que resolve sair t<strong>em</strong> um acompanhamento<br />
mensal, oferecido somente àqueles que segu<strong>em</strong><br />
morando <strong>em</strong> Caxias.<br />
O último domingo do mês é reservado<br />
para a visita de familiares, que participam<br />
de um churrasco. Os internos com<br />
mais de 45 dias de internação, se autorizados,<br />
pod<strong>em</strong> visitar a família aos domingos.<br />
Para aqueles com mais de 75 dias, também<br />
com autorização da família e comprometimento<br />
da mesma <strong>em</strong> buscar e trazer de volta<br />
à Casa, pod<strong>em</strong> passar o final de s<strong>em</strong>ana<br />
com os familiares. Um quadro na parede da<br />
sala destaca os nomes autorizados para essa<br />
“regalia”: os na parte azul são os liberados<br />
às saídas, enquanto os nomes que figuram<br />
no vermelho ainda não estão preparados<br />
para tal atividade.
12<br />
Depois do telejornal,<br />
v<strong>em</strong> a telenovela<br />
São nove horas da noite e o hábito manda ligar a televisão.<br />
Começa a novela, e os enredos direcionam a atenção<br />
de grande parte da população para a ‘telinha’. Virou rotina<br />
assistir aos dramas das mocinhas e dos vilões da ficção.<br />
Não vou entrar no mérito de discutir o conteúdo das<br />
telenovelas, mas o efeito que isso causa nas pessoas comuns,<br />
que t<strong>em</strong> apenas a TV como meio de informação. O fato é<br />
que o entretenimento s<strong>em</strong>pre dominou a grade televisiva e o<br />
jornalismo s<strong>em</strong>pre foi um plus na programação. Basta comparar<br />
o t<strong>em</strong>po de duração do Jornal Nacional, com o somatório<br />
das novelas que a Globo exibe. Também não quero<br />
criticar a <strong>em</strong>issora por produzir ficção, pois também sou da<br />
geração dos que assist<strong>em</strong> as novelas, mas eu leio jornal e<br />
revista, e uso a internet para ler notícias e me atualizar dos<br />
acontecimentos do mundo.<br />
Imagine a parte da população que não t<strong>em</strong> acesso a<br />
internet, n<strong>em</strong> t<strong>em</strong> hábito de ler, apenas assiste, passivamente,<br />
a televisão. Essa pessoa possivelmente não esteja acostumada<br />
a contestar o que o apresentador diz. Para eles tudo é<br />
aceito, s<strong>em</strong> questionar. Essa é a receita dos meios de comunicação<br />
de massa, principalmente da televisão.<br />
Uma população que está extr<strong>em</strong>amente acostumada a<br />
assistir ficção, que, por se tratar de algo inventado, faz com<br />
que o telespectador se acostume a não ter poder de ação,<br />
e a se sentir impotente diante dos assassinatos e das traições<br />
da novela. Neste caso t<strong>em</strong>os um probl<strong>em</strong>a: as pessoas<br />
se acostumam <strong>em</strong> receber e não <strong>em</strong>itir, e passam a fazer isso<br />
com tudo o que vê<strong>em</strong> na televisão. Até mesmo os telejornais.<br />
A ficção da novela e a realidade do jornalismo se confund<strong>em</strong><br />
e tudo vira o famoso “vi na TV”, mas não passa disso.<br />
Os folhetins são criados a partir da realidade, mas não<br />
a substitu<strong>em</strong>. É preciso reeducar os telespectadores e parar<br />
de acreditar que todo mundo sabe e entende tudo. Na prática<br />
não é b<strong>em</strong> assim.<br />
Recent<strong>em</strong>ente o caso Palocci invadiu as telas e passou<br />
a ser pauta <strong>em</strong> todos os telejornais por cerca de um mês.<br />
As pessoas viram tudo, desde as denúncias de enriquecimento<br />
súbito até o pedido de d<strong>em</strong>issão do ministro, que poucos<br />
anos atrás já esteve envolvido <strong>em</strong> outro escândalo s<strong>em</strong>elhante,<br />
que também lhe tirou da cena política. A população assistiu<br />
a tudo do sofá da sua casa, mas quando foram questionadas<br />
pelos institutos de pesquisa quanto à avaliação do<br />
governo Dilma, a grande maioria respondeu que tudo estava<br />
ótimo.<br />
É o que acontece quando depois dos desastres e falcatruas<br />
que o jornal apresenta começa uma novela, com<br />
uma estética limpa, cheia de personagens com contradições<br />
e, principalmente, com gente e histórias de mentira, que não<br />
permit<strong>em</strong> que ninguém interceda.<br />
As coisas não vão b<strong>em</strong> não, o governo não está tudo<br />
aquilo. Basta analisar os aumentos dos produtos básicos,<br />
como leite, pão, feijão, ou até mesmo o aumento da gasolina<br />
e do diesel. Mesmo com o “monstro” da inflação rondando<br />
o bolso do cidadão, ainda assim, está tudo certo. O diagnóstico<br />
para a população brasileira não é otimismo, mas<br />
sim comodismo. Está tudo relativizado, poucos têm opinião<br />
própria. Enquanto no Egito usaram o Facebook e o Twitter<br />
como uma maneira de organizar a população para derrubar<br />
o governo de um ditador, aqui no Brasil Facebook é usado<br />
para postar as fotos das festas e Twitter para escrever o itinerário<br />
do dia: “Fui pro cin<strong>em</strong>a”; “Vou almoçar”, “Tô no<br />
banho”...<br />
Não estou pedindo que par<strong>em</strong> de ver novelas, mas que<br />
tenham discernimento suficiente para entender que n<strong>em</strong> tudo<br />
é irreal e não está ao nosso alcance. A família Sarney não é<br />
intocável como se pensa. Nenhum governo resiste à oposição<br />
do povo. Mas aqui no país do “jeitinho”, as coisas são diferentes.<br />
E eu não estou sendo pessimista, mas, sim, realista.<br />
Entendo perfeitamente que as pessoas que lê<strong>em</strong> jornal, como<br />
este aqui, poderão achar bonitas essas palavras e concordar,<br />
mas o público que eu gostaria de atingir com esse texto não<br />
são os leitores de jornais, mas sim o que não o julga importante<br />
suficient<strong>em</strong>ente para dedicar-lhe alguns minutos do<br />
seu dia. Minutos esses que os tirariam da escuridão. (Marco<br />
Matos)<br />
POLÍTICA<br />
Jovens se interessam pouco<br />
pela luta social e pelos debates<br />
Em Caxias, o assunto não chama a atenção de grande parte do público<br />
MARCOS CAMARGO<br />
marcos.camargo@ucs.br<br />
O jov<strong>em</strong> foi muito importante<br />
para a história do País e lutou <strong>em</strong> várias<br />
frentes para promover avanços sociais.<br />
Mas será que a juventude de hoje se interessa<br />
pelo debate e pela luta política?<br />
Segundo o vereador Rodrigo Beltrão<br />
(PT), 32 anos, a participação desse<br />
público na política é muito pequena. Ele<br />
reconhece que alguns estão preocupados,<br />
mas prefer<strong>em</strong> não se envolver. Outros<br />
têm a ideologia do consumo e não se interessam<br />
<strong>em</strong> discutir o contexto social no<br />
qual viv<strong>em</strong>, estão acomodados.<br />
Beltrão foi eleito vereador <strong>em</strong><br />
2008, mas conta que sua trajetória nas<br />
lutas sociais começou muito antes, ao<br />
ser eleito presidente do DCE da Universidade<br />
de Caxias do Sul (UCS), aos<br />
18 anos. Ele também já trabalhou <strong>em</strong><br />
ONGs e foi secretário municipal da Juventude,<br />
<strong>em</strong> 2003.<br />
Conforme Beltrão, a sociedade<br />
espera grande participação dos jovens,<br />
pois eles têm grande destaque <strong>em</strong> outros<br />
setores, como nos clubes esportivos<br />
e nas igrejas; porém, quando o<br />
assunto é política, surge o desinteresse.<br />
“Lotam estádios, mas não participam<br />
de reuniões”, constata.<br />
Já o vereador Vinícius Ribeiro<br />
(PDT), 34, diz que a juventude não<br />
está mobilizada porque, <strong>em</strong> primeiro<br />
lugar, está preocupada com sua sobrevivência.<br />
“O jov<strong>em</strong> trabalha o dia todo,<br />
depois vai para a universidade e chega<br />
tarde <strong>em</strong> casa. As condições não proporcionam<br />
que ele se dedique aos movimentos<br />
sociais”, relata.<br />
Enquanto estudante, Ribeiro<br />
N<strong>em</strong> todos os cidadãos são desinteressados<br />
pelos t<strong>em</strong>as sociais e pela<br />
política. Assim como os vereadores,<br />
outros jovens também estão preocupados<br />
com os probl<strong>em</strong>as da comunidade,<br />
e decidiram lutar pelos seus objetivos<br />
por meio da política.<br />
Um ex<strong>em</strong>plo é o universitário Rafael<br />
Bueno, 20 anos, que atua como assessor<br />
parlamentar. Ele conta que se interessou<br />
pela liderança política desde cedo, o<br />
que o motivou, quando cursava a 5 a série<br />
do Ensino Fundamental, a fundar o grêmio<br />
estudantil na escola onde estudava.<br />
Movido pela perspectiva de mudança,<br />
e s<strong>em</strong>pre motivado pelos colegas,<br />
Bueno continuou sua atuação até ser convocado<br />
a filiar-se a um partido político,<br />
Os microfones estão abertos, mas falta a participação da juventude na política local<br />
participou do DCE e do DA de Arquitetura<br />
da UCS. Ele enfatiza também, suas<br />
participações no Cenáculo de Maria,<br />
no Movimento Escoteiro e na prática<br />
de judô, que concentram jovens para a<br />
conscientização <strong>em</strong> diversos aspectos,<br />
inclusive na política.<br />
Participação deve começar cedo<br />
aos 15 anos, e ampliou seu trabalho.<br />
Hoje, ele cursa História e Sociologia<br />
na UCS e é presidente do bairro Boa<br />
Vista, sendo o mais jov<strong>em</strong> nessa função<br />
na UAB de Caxias do Sul. Ele também<br />
foi coordenador de comunicação na gestão<br />
2010 do DCE da UCS e, hoje, milita<br />
na União da Juventude Socialista (UJS).<br />
Bueno concorda que a participação<br />
do jov<strong>em</strong> na política é pequena.<br />
Para ele, a economia corrompe o jov<strong>em</strong>,<br />
o deixa <strong>em</strong> situação de comodismo, s<strong>em</strong><br />
vontade de lutar e protestar por seus<br />
interesses. “O jov<strong>em</strong> está na inércia”,<br />
constata. Ele l<strong>em</strong>bra que a juventude foi<br />
fundamental na história do País, <strong>em</strong> fatos<br />
como a derrubada do presidente Fernando<br />
Collor de Mello, nos anos 90.<br />
Marcos Camargo<br />
Para Ribeiro, a presença do jov<strong>em</strong><br />
no meio político é fundamental, pois ele<br />
precisa conhecer a realidade do espaço<br />
<strong>em</strong> que vive. “Ele não deve procurar a<br />
política apenas num momento de dificuldade.<br />
Ele precisa entender o ambiente ao<br />
seu redor durante toda a formação”, diz.<br />
O assessor também está engajado<br />
na reativação da União Caxiense dos<br />
Estudantes Secundaristas (UCES). Nesse<br />
projeto, também está presente o estudante<br />
do Ensino Médio, Cláudio Libardi Jr., 16.<br />
Além desse projeto, Libardi ainda<br />
participa do Grêmio do colégio onde<br />
estuda. Sua motivação é a vontade de<br />
evoluir, de lutar pelos interesses dos estudantes.<br />
“O Grêmio não era muito atuante,<br />
estamos tentando mudar essa realidade.”<br />
Com o novo Grêmio, ele está<br />
promovendo jogos inter-séries e a criação<br />
de uma biblioteca com conteúdo<br />
específico para o vestibular. Para Libardi,<br />
o jov<strong>em</strong> perdeu a noção de luta. “O<br />
jov<strong>em</strong> espera que o outro lute por ele,<br />
está acomodado.”
13<br />
ECONOMIA<br />
O otimismo que move o brasileiro<br />
Apesar das dificuldades o povo nunca perde as esperanças e consegue superar os probl<strong>em</strong>as do dia a dia<br />
MARCOS CAMARGO<br />
marcos.camargo@ucs.br<br />
O povo brasileiro é mundialmente<br />
conhecido pelo seu<br />
otimismo, alegria, solidariedade<br />
e <strong>em</strong>preendedorismo. Há alguns<br />
anos atrás, uma campanha publicitária<br />
da Associação Brasileira<br />
de Anunciantes (ABA) difundiu a<br />
expressão “brasileiro não desiste<br />
nunca”, e reforçou ainda mais essas<br />
características. O povo tupiniquim<br />
já passou por muitas dificuldades,<br />
como a inflação e as crises econômicas,<br />
mas, mesmo assim, s<strong>em</strong>pre<br />
deu a “volta por cima” e superou as<br />
dificuldades.<br />
Hoje, a economia se encontra<br />
estável e o surgimento de facilidades,<br />
como os financiamentos e<br />
os auxílios governamentais, faz<strong>em</strong><br />
com que o otimismo do brasileiro<br />
seja ainda maior. As dificuldades<br />
do passado, e aquelas ainda existentes<br />
na sociedade, são superadas<br />
por meio do que é retratado na expressão<br />
“jeitinho brasileiro”.<br />
Segundo pesquisa realizada<br />
nos anos 80 pela antropóloga Lívia<br />
Barbosa, citada pelo professor<br />
Robson Stigar <strong>em</strong> artigo, o jeitinho<br />
brasileiro pode ser definido como<br />
uma forma especial ou criativa de<br />
se resolver um probl<strong>em</strong>a ou <strong>em</strong>ergência,<br />
que pode se caracterizar por<br />
um acordo, um ato de esperteza ou<br />
habilidade, ou até mesmo, a quebra<br />
de alguma regra.<br />
O jeitinho brasileiro é l<strong>em</strong>brado<br />
pela professora do curso de<br />
Economia da UCS, Maria Carolina<br />
Gullo, 41 anos. Ela r<strong>em</strong><strong>em</strong>ora que<br />
o povo utilizou do jeitinho para driblar<br />
as dificuldades nos anos 80 e<br />
90 quando o País viveu a inflação<br />
na economia. “Todos arranjaram<br />
alternativas para sobreviver à economia<br />
instável”, argumenta.<br />
A professora faz uma comparação<br />
da situação atual com a<br />
situação de 1985, época <strong>em</strong> que a<br />
inflação estava <strong>em</strong> seu auge e era<br />
conhecida como “dragão”. Segundo<br />
ela, o brasileiro é um dos povos<br />
mais <strong>em</strong>preendedores e criativos<br />
do planeta, e esses fatores foram<br />
fundamentais para a superação dos<br />
probl<strong>em</strong>as. “Foi um salto muito<br />
grande, e o povo foi muito otimista<br />
para vencer esse probl<strong>em</strong>a. Passamos<br />
de uma instabilidade, para a<br />
estabilidade econômica”, comenta.<br />
Em comparação com outros<br />
países, Maria Carolina vê com<br />
bons olhos a economia brasileira e<br />
acredita que o país está <strong>em</strong> situação<br />
privilegiada. Em 2009, juntamente<br />
com outros países <strong>em</strong> desenvolvimento,<br />
como China e Índia, o<br />
Brasil superou a crise s<strong>em</strong> grandes<br />
dificuldades. “Isso é reflexo de uma<br />
economia mais madura e menos<br />
vulnerável”, diz.<br />
Maria Carolina l<strong>em</strong>bra,<br />
porém, de um grave probl<strong>em</strong>a do<br />
país: as desigualdades sociais. Por<br />
outro lado, a economia deixou mais<br />
otimistas as classes menos favorecidas,<br />
que agora, se tornaram consumidores<br />
<strong>em</strong> potencial.<br />
Conforme a professora,<br />
quando o governo faz reduções de<br />
impostos para compra de produtos,<br />
como ocorreu com o IPI sobre carros,<br />
móveis e eletrodomésticos na<br />
última crise mundial, a população<br />
responde imediatamente, pois se<br />
tratam-se de necessidades. “As<br />
classes C, D, e E representam uma<br />
d<strong>em</strong>anda reprimida, ou seja, elas<br />
têm uma necessidade de consumo,<br />
pois ainda não têm os produtos”,<br />
explica.<br />
MERCADO<br />
Gerente de uma concessionária<br />
de veículos, Ronaldo Peirano,<br />
38, é otimista com a situação atual<br />
da economia. Segundo ele, a redução<br />
do IPI fez com que o consumo<br />
aumentasse e, mesmo com a volta<br />
do imposto ao seu índice normal, a<br />
venda não diminuiu como esperado,<br />
e até registrou recorde.<br />
O carro é um desejo de consumo<br />
e as facilidades proporcionadas,<br />
conforme Peirano, s<strong>em</strong>pre<br />
aumentam as vendas. “A economia<br />
sólida e o aumento da renda, transformaram<br />
<strong>em</strong> consumidores pessoas<br />
que antes não podiam adquirir<br />
um veículo”, comenta. Na hora de<br />
pagar, segundo ele, os números diz<strong>em</strong><br />
que o brasileiro t<strong>em</strong> conseguido<br />
saldar suas dívidas.<br />
Os veículos mais comercializados<br />
são os populares, e representam<br />
55%, mas o aumento<br />
das vendas se deu <strong>em</strong> todos os<br />
modelos. Peirano revela, como<br />
uma característica que d<strong>em</strong>onstra o<br />
otimismo do brasileiro, que as pessoas<br />
estão s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> busca de um<br />
veículo mais completo. “Qu<strong>em</strong> não<br />
t<strong>em</strong>, quer ter. Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>, quer ter<br />
melhor”, ex<strong>em</strong>plifica.<br />
Já nos supermercados, segundo<br />
o gerente José César Miola,<br />
45, o consumo caiu <strong>em</strong> relação ao<br />
ano passado. Para ele, o reflexo<br />
dessa diminuição é visto <strong>em</strong> todos<br />
os produtos, desde os mais básicos,<br />
até os de maior valor.<br />
Miola alerta para um<br />
Economia favorável<br />
Fotos Marcos Camargo<br />
Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a população sai às compras<br />
Sonho de consumo dos brasileiros, o automóvel zero km está mais acessível<br />
Os indicadores econômicos mostram uma situação favorável<br />
para os brasileiros. Segundo dados da Fundação de Economia<br />
e Estatística (FEE/RS), no Rio Grande do Sul, a porcentag<strong>em</strong><br />
de pobres (que receb<strong>em</strong> até ½ salário mínimo por mês) caiu de<br />
37,7%, <strong>em</strong> 2001, para 25,3% <strong>em</strong> 2008. Já a renda real per capita,<br />
que era de R$ 491,00 <strong>em</strong> 2001, subiu para R$ 597,00 <strong>em</strong> 2008.<br />
Em janeiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e<br />
Estatística (IBGE), divulgou que o poder de compra da população<br />
ocupada brasileira, teve um crescimento de 19%, entre 2003<br />
e 2010.<br />
ponto negativo do otimismo exagerado:<br />
a acomodação. Com os<br />
benefícios e descontos concedidos<br />
nos últimos anos, o povo passou<br />
a consumir mais, mas não poupou<br />
o dinheiro. “O povo t<strong>em</strong> dinheiro,<br />
e não guarda. Quanto mais ganha,<br />
mais gasta”, opina.<br />
NA PSICOLOGIA<br />
Para a psicóloga Marília<br />
Zanella, 40, o otimismo do ser humano<br />
pode estar ligado a diversos<br />
fatores, como os aspectos biológicos,<br />
as experiências vividas <strong>em</strong><br />
família e a influência cultural e social,<br />
que moldam a personalidade.<br />
“Experiências ricas <strong>em</strong> <strong>em</strong>oções<br />
positivas e valores como altruísmo,<br />
solidariedade, alegria e esperança,<br />
contribu<strong>em</strong> para uma postura mais<br />
positiva diante da vida”, explica.<br />
Segundo Marília, pesquisas<br />
suger<strong>em</strong> que o otimismo pode ser<br />
aprendido e ensinado. “O otimismo<br />
permite ao indivíduo transformar<br />
‘fora’ a partir de ‘dentro’, e converter<br />
criativamente aspectos negativos<br />
<strong>em</strong> possibilidades positivas e<br />
construtivas”, diz. Para a psicóloga,<br />
o povo brasileiro, <strong>em</strong> especial,<br />
é muito criativo, e busca se “reinventar”<br />
constant<strong>em</strong>ente.<br />
O “segredo” do otimismo,<br />
segundo Marília, pode estar também<br />
na natureza exuberante, no<br />
clima e na forma afetiva e extrovertida<br />
com que o brasileiro se relaciona.<br />
Esses fatores faz<strong>em</strong> com que<br />
as pessoas se sintam mais alegres,<br />
promovam o b<strong>em</strong>-estar e tenham<br />
uma postura mais otimista diante<br />
da vida.<br />
CONTRAPONTO<br />
Para a terapeuta Luciana<br />
Lourdes Mattana Thomé, 49, parte<br />
do povo brasileiro é otimista, e<br />
outra, <strong>em</strong> seu entender, é acomodada.<br />
“O otimismo faz parte da vida<br />
do ser humano, mas o que ocorre<br />
no Brasil é um comodismo geral”,<br />
opina. Para ela, a população está<br />
imóvel diante da realidade do País<br />
e se mostra satisfeita.<br />
Não há protestos <strong>em</strong> defesa<br />
dos direitos dos cidadãos e contra<br />
as injustiças que ocorr<strong>em</strong>. A<br />
terapeuta não se mostra otimista,<br />
e alega que os impostos são altos<br />
para as <strong>em</strong>presas, o que dificulta o<br />
crescimento. “Como pod<strong>em</strong>os ter<br />
uma economia atuante e <strong>em</strong> desenvolvimento<br />
se exportamos matériaprima<br />
e importamos o que deveria<br />
ser produzido aqui?”, desabafa.
14 ECONOMIA<br />
Serviços e produtos são cada vez mais solicitados, para atender as necessidades do animal ou de seus donos<br />
LETÍCIA KIRCHHEIM<br />
leticia.kirchheim@ucs.br<br />
Há algum t<strong>em</strong>po os cachorros<br />
deixaram de ser apenas o<br />
melhor amigo do hom<strong>em</strong> para se<br />
tornar<strong>em</strong> integrantes da família <strong>em</strong><br />
milhões de lares brasileiros. A “humanização”<br />
dos animais e a opção<br />
<strong>em</strong> não ter filhos, são tendências<br />
que influenciam o comportamento<br />
das pessoas. Consequent<strong>em</strong>ente, o<br />
crescimento deste segmento é tanto<br />
que, a cada dia, o mercado lança<br />
novos produtos e serviços, para<br />
satisfazer as necessidades dos animais<br />
de estimação e, principalmente,<br />
as necessidades de seus donos.<br />
Os números são impressionantes<br />
e evidenciam o sucesso do setor.<br />
Segundo a Anfal Pet (Associação<br />
Nacional dos Fabricantes de Alimentos<br />
para Pequenos Animais),<br />
o crescimento <strong>em</strong> 2010 foi de 3%.<br />
Para este ano, a estimativa é de 4%.<br />
Os dados de 2010 ainda revelam<br />
que o Brasil t<strong>em</strong> a segunda<br />
maior população do mundo <strong>em</strong> cães<br />
e gatos: são 34,3 milhões de cães<br />
e 18,3 milhões de gatos. O Brasil<br />
também é o quarto maior do mundo<br />
<strong>em</strong> população total de animais de<br />
estimação, e o sexto <strong>em</strong> faturamento,<br />
que chega a movimentar R$ 11<br />
bilhões ao ano. Os pet foods, como<br />
são chamadas as comidas para os<br />
animais, lideram as vendas, com<br />
66% do mercado; <strong>em</strong> seguida, estão<br />
os serviços, com 20%. O país<br />
t<strong>em</strong> hoje o segundo maior mercado<br />
pet do mundo, perdendo apenas<br />
para os Estados Unidos.<br />
Com o setor aquecido, a<br />
quantidade de pet shops e clínicas<br />
veterinárias duplicou nas cidades.<br />
Contam com inúmeros produtos<br />
curiosos, e até excêntricos, à disposição<br />
para todos os tipos de cães,<br />
gatos e donos. Coleiras que mais<br />
parec<strong>em</strong> joias, roupas de pele, perfumes,<br />
petiscos, chicletes, tosa artística,<br />
massag<strong>em</strong> relaxante e hotel<br />
para cachorro, são alguns dos muitos<br />
produtos e serviços diferenciados,<br />
oferecidos no mercado.<br />
Nivaldo Corrêa e Caroline<br />
Rossa, há dois anos, fizeram da<br />
necessidade uma oportunidade de<br />
negócio. “Estava des<strong>em</strong>pregado<br />
quando surgiu a ideia. No início<br />
era para ser somente um comércio<br />
de rações e acessórios”, conta<br />
Corrêa. Com um estudo mais detalhado<br />
do setor, viram que tinha<br />
espaço no mercado <strong>em</strong> Caxias para<br />
oferecer o banho e a tosa, junto<br />
com uma clínica. Segundo Corrêa,<br />
o mercado para pet cresce a cada<br />
dia. “Empresas de ração aparec<strong>em</strong><br />
todos os dias. Mas as que ficam são<br />
poucas”, afirma.<br />
Caroline conta que a televisão<br />
e as propagandas também influenciam<br />
os consumidores. “Esses<br />
dias fiz<strong>em</strong>os uma tosa artística e<br />
pintamos de rosa um poodle, igual<br />
ao cachorro da novela das sete,<br />
[ [ “Empresas de ração<br />
aparec<strong>em</strong> todos<br />
os dias.<br />
Mas as que<br />
ficam são poucas.”<br />
(Nivaldo Corrêa)<br />
Morde e assopra”, diz. Para Corrêa,<br />
apesar de tantos produtos, o cuidado<br />
começa com carinho. “Oferecer<br />
uma boa ração, fazer todas as vacinas<br />
e, depois de certa idade, fazer<br />
uma bateria de exames no seu pet.<br />
Além, de dar carinho e atenção”,<br />
completa.<br />
OPORTUNIDADES<br />
Novos postos de trabalho<br />
surgiram com os novos serviços<br />
oferecidos, principalmente para o<br />
banho e a tosa. Vanessa Santos, 28<br />
anos, trabalhou durante seis anos<br />
no ramo da contabilidade. A rotina<br />
estressante e burocrática a fez pensar<br />
<strong>em</strong> mudar de área radicalmente.<br />
Há três meses, dá banho e faz<br />
tosa <strong>em</strong> um pet e pretende entrar<br />
de cabeça na área. Vanessa garante<br />
Maurício Concatto/Divulgação<br />
Bom pra cachorro<br />
Roupas para cães: de olho no mercado, confecções se multiplicaram e oferec<strong>em</strong> produtos para todos os gostos e tamanhos<br />
[<br />
“Trabalhar com<br />
animais é gratificante.<br />
E o melhor, não se<br />
leva probl<strong>em</strong>a<br />
para casa.”<br />
(Vanessa Santos)<br />
[<br />
que valeu a pena a troca. “Não me<br />
arrependo. Trabalhar com animais<br />
é gratificante. E o melhor, não se<br />
leva probl<strong>em</strong>a para casa”, diz. A<br />
estética nos animais é um mercado<br />
amplo, uma espécie de cabe-<br />
leireiros para animais. “As pessoas<br />
gostam de exibir seus animais<br />
domésticos. Por isso eles exig<strong>em</strong><br />
que eles saiam do pet impecáveis”,<br />
conta Vanessa.<br />
HOTEL E ADESTRAMENTO<br />
Os hoteis para cachorros viraram<br />
moda e se espalharam pelas<br />
cidades. S<strong>em</strong> ter com qu<strong>em</strong> deixar,<br />
muita gente opta pelas diárias caninas,<br />
tanto para um dia ou dois fora<br />
da cidade, quanto nos períodos de<br />
festas de final de ano e de férias.<br />
Marcelo Luis Marcílio é adestrador<br />
de cães há 10 anos. Um dia, deixou<br />
sua cachorra <strong>em</strong> um hotel para viajar<br />
e quando retornou ela estava sedada.<br />
“Ela era extr<strong>em</strong>amente dócil,<br />
mas por ser da raça pitbull, a sedaram<br />
todos os dias”, conta Marcílio.<br />
Depois desse episódio, ele se especializou<br />
na área e resolveu montar<br />
um local para adestrar e hospedar<br />
os animais. “Eu s<strong>em</strong>pre gostei bastante<br />
de cachorros. Por causa da<br />
carência de hoteis <strong>em</strong> Caxias do<br />
Sul que soltass<strong>em</strong> os animais, pois<br />
geralmente eles ficam presos, comprei<br />
uma chácara e montei o hotel”,<br />
diz.<br />
O hotel Sul Serra e Adestramento<br />
existe há seis anos. Localizado<br />
na Rota do Sol, t<strong>em</strong> espaços<br />
individuais para 25 cachorros, <strong>em</strong><br />
box com 10 m2. Dependendo do<br />
porte do animal, t<strong>em</strong> espaço para<br />
dividir o box com outro cachorro.<br />
Com seis hectares de terra, a chácara<br />
t<strong>em</strong> espaço para os cachorros<br />
ficar<strong>em</strong> soltos. “No hotel, o cachorro<br />
sai <strong>em</strong> média cinco vezes por dia<br />
do box, para poder brincar, <strong>em</strong> uma<br />
área de 3,6 mil m2. Eu tiro a energia<br />
do cão através do exercício, assim<br />
ele fica mais relaxado”, explica<br />
Marcílio.<br />
Para adestrar o seu pet, é<br />
necessário que ele tenha oito meses<br />
de idade e é preciso que ele fique,<br />
<strong>em</strong> média, dois meses com o treinador.<br />
“Obrigatoriamente o dono t<strong>em</strong><br />
que vir aqui todos os sábados, para<br />
passar para ele o que eu trabalhei<br />
com o cachorro durante a s<strong>em</strong>ana.<br />
Ele só sai daqui quando aprender<br />
tudo”, diz. O preço do adestramento<br />
básico varia <strong>em</strong> torno de R$ 750.<br />
As diárias do hotel variam de R$<br />
20 a R$ 30, dependendo do tamanho<br />
do animal.<br />
Marcílio mora na chácara<br />
onde t<strong>em</strong> alguns animais de estimação<br />
próprios: três pitbull, dois<br />
rottweiler e três pastor-al<strong>em</strong>ão,<br />
além de 20 vira-latas. Para ele, o<br />
crescimento dessa área aconteceu<br />
porque ter filhos se tornou caro. As<br />
pessoas estão substituindo os filhos<br />
pelo animal de estimação, os tratando<br />
como criança. “Eu não concordo<br />
<strong>em</strong> substituir uma criança<br />
por um cachorro. Acho que dá para<br />
ter os dois. Hoje <strong>em</strong> dia, t<strong>em</strong> gente<br />
que faz apartamento com quarto<br />
para o cachorro, com guarda-roupa<br />
e tudo”, revela.
15 ECONOMIA<br />
Crescimento do mercado se dá pela renovaçãoFotos<br />
Letícia Kirchheim<br />
Entre tantos produtos oferecidos,<br />
o que chama a atenção<br />
são as roupas para cachorros. De<br />
olho nesse potencial, Felipe Egger<br />
e Gabriela Sartor Egger criaram a<br />
Dig Doggy Pet, uma confecção de<br />
roupas para cães. A marca t<strong>em</strong> coleção<br />
de outono/inverno e primavera/verão,<br />
além de fazer<strong>em</strong> cama<br />
para os pets. Pioneiros nesse ramo<br />
<strong>em</strong> Caxias, começou <strong>em</strong> janeiro de<br />
2009, e mostra que cachorro pode<br />
ter estilo.<br />
Os <strong>em</strong>presários acreditam<br />
que o crescimento nesse ramo se<br />
dá principalmente pela renovação<br />
dos investidores. “Os jovens começaram<br />
a montar pets e ir para<br />
São Paulo e vir com informação.<br />
O pessoal mais antigo dos pets já<br />
sabia o que queria, roupa de soft e<br />
camas baratas”, revela Egger. Gabriela<br />
é estudante de Moda e Estilo<br />
na UCS e desenha as peças da coleção.<br />
Apesar de ser filha de veterinário,<br />
ela nunca teve um cachorrinho.<br />
Há cerca de três anos, ela ganhou<br />
uma cachorra e surgiu a ideia de fazer<br />
roupas para cachorro. A partir<br />
de então ela começou a pesquisar<br />
<strong>em</strong> sites, a comprar roupinhas e a<br />
participar de feiras <strong>em</strong> São Paulo.<br />
“Começamos a fazer lacinhos, que<br />
Mercado Pet 2010<br />
era o mais fácil”, l<strong>em</strong>bra.<br />
No início, a Dig Doggy trabalhava<br />
com uma linha de roupas<br />
mais infantilizadas. “Com o t<strong>em</strong>po<br />
mudamos e seguimos uma linha de<br />
roupas mais para adultos, seguindo<br />
a tendência da moda <strong>em</strong> cores e tecidos.<br />
Como o xadrez está <strong>em</strong> alta,<br />
o usamos também na nossa coleção<br />
de inverno”, diz.<br />
Segundo Gabriela, o mercado<br />
está <strong>em</strong> ascensão porque as<br />
pessoas têm o seu estilo e gostam<br />
que o seu cachorro o acompanhe.<br />
“As pessoas quer<strong>em</strong> que o cachorro<br />
seja uma extensão da roupa que<br />
ela está vestindo. Não quer<strong>em</strong> mais<br />
uma roupa tão infantil”, conta.<br />
A aceitação das roupas foi<br />
difícil no início, principalmente na<br />
Serra, mas de um ano para cá os<br />
pedidos duplicaram “Eu tenho pedidos<br />
já para o inverno inteiro, e a<br />
mão de obra está escassa, tá difícil<br />
encontrar costureiras nos mercado”,<br />
conta Gabriela.<br />
A Dig Doggy atende praticamente<br />
a todo o estado. Em algumas<br />
regiões, como Porto Alegre,<br />
a <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> uma distribuidora.<br />
Em Caxias do Sul, quase todas as<br />
petshops vend<strong>em</strong> as roupinhas da<br />
Dig Doggy.<br />
População de animais no Brasil<br />
Dados Anfalpet 2010<br />
Felipe Egger e Gabriela S. Egger, sócios da Dig Doggy Pet, confeccionam roupas para cães e distribu<strong>em</strong> para todo o Estado<br />
Não é de hoje que os benefícios<br />
da relação entre o hom<strong>em</strong> e<br />
os animais, se tornaram objeto de<br />
pesquisa. Um estudo realizado <strong>em</strong><br />
2008, pela Universidade de Missouri-Columbia,<br />
nos Estados Unidos,<br />
d<strong>em</strong>onstrou que brincar por 15 minutos<br />
com um cão faz o nosso cérebro<br />
liberar hormônios como a serotonina<br />
e a ocitocina, que melhoram<br />
o humor e reduz<strong>em</strong> a irritabilidade.<br />
O crescimento do segmento<br />
de pet shops nos últimos anos indica<br />
uma mudança, tanto no mercado<br />
quanto no comportamento das pessoas:<br />
os animais passaram a ser tratados<br />
como um m<strong>em</strong>bro da família.<br />
Devido à necessidade que as pessoas<br />
têm de companhia, os animais<br />
de estimação passaram a ocupar um<br />
espaço importante na vida delas.<br />
“Hoje, para a família ter um crescimento<br />
<strong>em</strong> número de filhos, gera<br />
grandes gastos. Por isso as pessoas<br />
prefer<strong>em</strong> ter animais”, conta Nilton<br />
Messerschmidt, veterinário há 25<br />
anos e que t<strong>em</strong> clínica para os cães e<br />
gatos há 15 anos.<br />
O veterinário t<strong>em</strong> oito animais<br />
de estimação, entre cachorros<br />
e gatos. “É uma companhia que t<strong>em</strong><br />
retorno. Eu chego na clinica e eles<br />
me receb<strong>em</strong>, ficam comigo o t<strong>em</strong>po<br />
todo. Esse carinho, não t<strong>em</strong> o que<br />
substitua”, diz. Para ele, a variedade<br />
Novo m<strong>em</strong>bro na família<br />
Nilton Messerschimidt é veterinário há 25 anos e t<strong>em</strong> cliníca há 15 <strong>em</strong> Caxias<br />
de produtos é maior para atingir<br />
as necessidades do proprietário,<br />
que exagera nos gastos para ver<br />
o animal bonito. “T<strong>em</strong> artigos de<br />
necessidade e artigos de ‘desnecessidade’.<br />
Nunca um cachorro<br />
usou roupa”, completa.<br />
O número de veterinárias,<br />
de r<strong>em</strong>édios, exames e tratamentos<br />
na área também teve<br />
aumento. Messerschmidt é natural<br />
de Passo Fundo e mora há<br />
15 anos na cidade. “Quando eu<br />
vim para Caxias, tinha <strong>em</strong> média<br />
45 clínicas, durante esses<br />
10 anos esse número dobrou”,<br />
conta. Com tantos animais por<br />
aí, exist<strong>em</strong> aqueles que cuidam<br />
de forma exagerada e outros<br />
que abandonam. “Animal<br />
não é brinquedo, as pessoas<br />
dev<strong>em</strong> ter essa consciência.<br />
Alguns pais dão de presente<br />
para a criança brincar como se<br />
foss<strong>em</strong> objetos”, diz Messerschmidt.
16<br />
SEGURANÇA<br />
Com o crescimento dos investimentos no ramo de segurança privada, as salas de aula dos cursos de formação de vigilantes ganham cada vez mais alunos<br />
Vigilantes são opção de tranquilidade<br />
Com um efetivo maior que o da Brigada Militar, o crescimento da profissão indica o aumento da criminalidade<br />
MARCO MATOS<br />
marco.matos@ucs.br<br />
Estima-se, segundo o Sindicato Profissional<br />
dos Vigilantes de Caxias do Sul e da Região<br />
da Serra (SINVICXS), que haja mais de 3<br />
mil pessoas <strong>em</strong>pregadas na área <strong>em</strong> Caxias do<br />
Sul. O aumento da criminalidade e os altos índices<br />
de violência estimulam os investimentos<br />
<strong>em</strong> segurança privada.<br />
Com tamanha oferta de <strong>em</strong>prego, os<br />
profissionais precisam estar cada vez mais atualizados.<br />
Para o exercício da profissão é necessário<br />
fazer um curso de formação de vigilantes,<br />
regulamentado pela Polícia Federal.<br />
Para ser vigilante não basta apenas ter<br />
vontade, pois, para fazer o curso de formação,<br />
é preciso ser idôneo, ou seja, não apresentar<br />
antecedentes criminais; ter 21 anos completos;<br />
apresentar comprovante de escolaridade, no<br />
mínimo, da 4a série do ensino básico; e realizar<br />
exames médico e psicotécnico. Após a conclusão<br />
do curso, o certificado é homologado pela<br />
Polícia Federal.<br />
Quando o vigilante começa a trabalhar<br />
na área, a <strong>em</strong>presa a qual ele estará vinculado<br />
deve encaminhar para a Polícia Federal o pedido<br />
de <strong>em</strong>issão da Carteira Nacional de Vigilante<br />
(CNV), que serve como uma habilitação<br />
para o exercício da função, e é uma obrigatoriedade<br />
da <strong>em</strong>presa contratante providenciá-la.<br />
Em 2010, foram solicitadas apenas 137 carteiras<br />
na delegacia da Polícia Federal de Caxias<br />
do Sul.<br />
O curso de formação é de 160 horas/<br />
aulas, divididas entre as disciplinas de armamento<br />
e tiro, noções de Direito Penal, defesa<br />
pessoal, relações humanas no trabalho, sist<strong>em</strong>a<br />
nacional de segurança pública e crime orga-<br />
nizado, criminalística e técnica de entrevista,<br />
prevenção e combate a incêndios e primeiros<br />
socorros, rádio-comunicação e alarmes, vigilância<br />
e noções de segurança privada. O custo<br />
do curso na região da Serra gaúcha é, <strong>em</strong> média,<br />
R$ 730.<br />
A PROFISSIONALIZAÇÃO<br />
Em 2010, <strong>em</strong> Caxias, 215 pessoas concluíram<br />
o curso de formação de vigilantes, e<br />
682 realizaram o curso de reciclag<strong>em</strong>, atualização<br />
que deve ser feita a cada dois anos por<br />
todos os profissionais que exerc<strong>em</strong> a função.<br />
A psicóloga Monica Boone, 37 anos, é<br />
coordenadora da escola de formação de vigilantes<br />
e gerente de gestão de pessoas da Protesul.<br />
Segundo ela, o público que busca o curso<br />
é, na maioria, composto de pessoas entre 25 e<br />
40 anos, e cerca de 70% de homens contra 30%<br />
de mulheres, diferença que v<strong>em</strong> diminuindo<br />
nos últimos t<strong>em</strong>pos. Além dessas estatísticas,<br />
Monica ainda diz que a maior parte dos alunos<br />
não é natural de Caxias do Sul. “A maioria v<strong>em</strong><br />
de fora, principalmente pessoas da fronteira,<br />
pois lá a formação militar é muito presente, e<br />
trabalhar com a área de segurança é uma das<br />
profissões de maior status para eles.”<br />
O mercado de trabalho está aquecido e,<br />
cada vez mais, oferece oportunidades para os<br />
vigilantes. “Nos últimos anos, as pessoas passaram<br />
a investir <strong>em</strong> segurança privada. Infelizmente,<br />
isso acontece devido ao aumento da criminalidade.”<br />
E completa: “Todas as <strong>em</strong>presas<br />
de segurança estão contratando profissionais.”<br />
Monica não acredita que a segurança<br />
privada possa, um dia, substituir a presença do<br />
Estado no setor, já que a função de vigilante é<br />
apenas a prevenção e não a ação contra a cri-<br />
Números<br />
78<br />
Tiros efetuados no curso de formação<br />
de vigilante<br />
137*<br />
Solicitações da Carteira Nacional<br />
de Vigilante (CNV)<br />
215*<br />
Pessoas que fizeram o curso de<br />
formação<br />
682*<br />
Vigilantes que fizeram o curso de<br />
reciclag<strong>em</strong><br />
R$ 730<br />
Valor médio do curso de formação<br />
R$ 903,96<br />
Piso da categoria na Região da<br />
Serra Gaúcha<br />
* Dados da Delegacia de Polícia<br />
Federal de Caxias do Sul.<br />
minalidade. “Hoje o efetivo da segurança privada<br />
é maior do que o da segurança pública,<br />
entretanto não acredito que possa haver uma<br />
substituição”, diz.<br />
Quanto ao uso de armas de fogo no local<br />
do trabalho, Monica é cautelosa e diz que é<br />
preciso fazer uma análise <strong>em</strong> cada caso, pen-<br />
sando se a utilização do armamento irá mesmo<br />
ser eficaz. “Os shoppings, por ex<strong>em</strong>plo, têm<br />
grande circulação de pessoas. Dessa forma,<br />
é provável que a utilização de armas não seja<br />
uma boa opção”, conclui.<br />
ARMAMENTO E TIRO<br />
Uma das disciplinas do curso de formação<br />
de vigilantes, e também da reciclag<strong>em</strong>, é a<br />
de armamento e tiro. Os instrutores da disciplina<br />
de armamento e tiro são credenciados pela<br />
Polícia Federal, e, para isso, passam por testes<br />
e avaliações criteriosas para ser<strong>em</strong> aprovados.<br />
Douglas Cioato, 37 anos, é instrutor de<br />
tiro credenciado pela Polícia Federal e professor<br />
do curso de formação de vigilantes. Ele afirma:<br />
“Na instrução de armamento e tiro é mais<br />
interessante habilitar o aluno a usar a arma de<br />
forma legal e defensiva do que, simplesmente,<br />
usar armas.”<br />
O uso do armamento pelo vigilante<br />
deve ocorrer só <strong>em</strong> casos extr<strong>em</strong>os, quando a<br />
vida dele ou a de pessoas sob sua responsabilidade<br />
estiver<strong>em</strong> <strong>em</strong> risco. “Para questão de patrimônio,<br />
eles não são orientados a reagir com<br />
o uso de força letal”, diz Cioato.<br />
As mulheres que procuram a profissão,<br />
cada vez mais, normalmente têm um bom des<strong>em</strong>penho<br />
com a utilização de armamento nas<br />
provas para a formação. “Quanto ao tiro, as<br />
mulheres chegam a ser melhores que os homens,<br />
pois são mais dedicadas”, afirma.<br />
A função do vigilante não é agir contra<br />
a criminalidade, mas sim tentar inibi-la. “A<br />
função básica do vigilante é alertar as autoridades<br />
competentes, visto que o vigilante deve<br />
vigiar, já a polícia que t<strong>em</strong> o dever de policiar”,<br />
define.<br />
Foto: Marco Matos
17<br />
O perigo do “bico”: o barato que pode sair caro<br />
Em busca da diminuição de custos com vigilância,<br />
algumas pessoas contratam profissionais não habilitados<br />
para exercer a função, principalmente <strong>em</strong> alguns mercados e<br />
como vigilantes de quadra, aqueles que vigiam as ruas durante<br />
as madrugadas. Entretanto, n<strong>em</strong> todos pod<strong>em</strong> ser pessoas,<br />
de fato, confiáveis.<br />
O presidente do Sindicato Profissional dos Vigilantes<br />
de Caxias do Sul e da Região da Serra (SINVICXS), Claudiomir<br />
Brum, alerta a população para esse tipo de contra-<br />
“Quero ser<br />
vigilante pois eu<br />
gosto de fazer<br />
coisas novas e de<br />
aprender atividades<br />
diferentes”<br />
Nome: Marcos João Volpatto<br />
Idade: 37 anos<br />
Estado civil: Casado<br />
Cidade: Carlos Barbosa/RS<br />
Antiga profissão: Vendedor autônomo<br />
Nome: Rosangela Malgarin<br />
Idade: 25 anos<br />
Estado civil: Casada<br />
Cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Auxiliar de segurança<br />
“Por ser mulher<br />
t<strong>em</strong>os que enfrentar<br />
grandes desafios,<br />
mas as criticas me<br />
dão mais força para<br />
continuar”<br />
Nome: Keli Luz<br />
Idade: 23 anos<br />
Estado civil: Casada com um vigilante<br />
Cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Secretária<br />
“Pretendo melhorar<br />
minhas condições<br />
financeiras e ter<br />
uma vida um pouco<br />
melhor”<br />
tação: “É possível que você contrate um informante de um<br />
futuro assalto”. Segundo ele, “na busca de segurança, muitas<br />
pessoas acabam contratando criminosos”.<br />
Além de pessoas s<strong>em</strong> qualificação para exercer a<br />
função, há também muitos policiais militares que faz<strong>em</strong><br />
o famoso “bico”, para compl<strong>em</strong>entar a renda. Entretanto,<br />
a legislação não permite que funcionário público exerça<br />
outra função fora de seu horário de trabalho. “O ‘bico’<br />
não é certo, a Brigada Militar t<strong>em</strong> o dever de prestar o<br />
Quero ser vigilante<br />
“S<strong>em</strong>pre gostei de<br />
quartel e de manusear<br />
armas de fogo”<br />
Nome: Vinícius Capeletti de Morais<br />
Idade: 22 anos<br />
Estado civil: Solteiro<br />
Cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Motorista<br />
“Meu marido também<br />
é vigilante, ele me<br />
incentivou,<br />
e eu gosto de trabalhar<br />
com pessoas e <strong>em</strong> um<br />
local livre”<br />
Nome: Rosária Teresinha Herold<br />
Idade: 29 anos<br />
Estado civil: Casada<br />
Cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Metalúrgica<br />
“Há t<strong>em</strong>po tinha<br />
decidido fazer o curso,<br />
daí aproveitei que meu<br />
filho ia fazer e vim<br />
junto com ele”<br />
Nome: Marcos Roberto Vieira<br />
Idade: 45 anos<br />
Estado civil: Casado<br />
Cidade: Vacaria<br />
Antiga profissão:Metalúrgico e Pintor<br />
serviço para a comunidade, s<strong>em</strong> cobrar para isso”, afirma<br />
Brum.<br />
Outro probl<strong>em</strong>a, segundo Brum, é o excesso de <strong>em</strong>presas<br />
“picaretas” no mercado. “Elas acabam fazendo preços<br />
muito baixos e depois não cumpr<strong>em</strong> com as normas trabalhistas.<br />
Dessa forma estão prostituindo a categoria”, diz.<br />
Hoje, o piso da profissão é de R$ 903,96 adicionado de 20%,<br />
devido ao risco de vida, assim como os benefícios de valetransporte<br />
e adicional noturno, se for o caso.<br />
“Espero conseguir<br />
um bom <strong>em</strong>prego, na<br />
área, <strong>em</strong> Vacaria”<br />
Nome: Jeferson Roberto de Oliveira Vieira<br />
Idade: 23 anos<br />
Estado civil: Solteiro<br />
Cidade: Vacaria<br />
Antiga profissão: Metalúrgico<br />
Nome: Eberson Freire Pereira<br />
Idade: 23 anos<br />
Estado civil: Solteiro<br />
Cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Auxiliar de frigorífico<br />
“A r<strong>em</strong>uneração é<br />
melhor que no meu<br />
antigo <strong>em</strong>prego (...),meu<br />
pai é vigilante há 15<br />
anos e me incentivou a<br />
fazer o curso”<br />
Nome: Tiago Klain<br />
Idade: 23 anos<br />
Estado civil: Solteiro<br />
cidade: Caxias do Sul/RS<br />
Antiga profissão: Metalúrgico<br />
“S<strong>em</strong>pre gostei da<br />
área, servi o Exército<br />
e gostei dos<br />
treinamentos de lá”<br />
Fotos: Marco Matos
18<br />
ESPORTE<br />
Entre crescer e desaparecer<br />
Caxias do Sul corre o risco de ter apenas a dupla Ca-Ju como representante do esporte de alto rendimento<br />
Há menos de um ano do início dos Jogos Olímpicos de Londres<br />
uma preocupante tendência pode ser constatada: o maior município da<br />
Serra gaúcha não terá representantes na competição. A falta de atletas<br />
de alto rendimento é um reflexo do panorama esportivo da cidade.<br />
A Universidade de Caxias do Sul (UCS), última referência esportiva<br />
com equipes que disputavam a Superliga Masculina de Vôlei<br />
e a Liga de Futsal, mudou sua política de apoio e “passou a bola” para<br />
o poder público e <strong>em</strong>presários da cidade. “Como uma universidade<br />
comunitária a UCS não pode lidar com custos tão altos para manter<br />
projetos externos. A nossa filosofia, agora, é que os projetos têm que<br />
ser auto-sustentáveis, e a universidade contribui com o espaço físico e<br />
a marca”, avalia o coordenador de Esportes e Formação da Vila Olímpica,<br />
professor Ubirajara Klamos Maciel.<br />
S<strong>em</strong> uma política de apoio dos governos municipal e estadual,<br />
e s<strong>em</strong> a valorização das grandes <strong>em</strong>presas da região, o esporte de alto<br />
rendimento resiste graças a pessoas que se sacrificam <strong>em</strong> nome da sua<br />
modalidade.<br />
ORGULHO PESSOAL<br />
LEONARDO LOPES<br />
leonardo.lopes@ucs.br<br />
Se Caxias t<strong>em</strong> uma equipe que ainda pratica esporte de primeiro<br />
escalão, a “culpa” é de Gabriel Citton, 33 anos. Caxiense, formado<br />
<strong>em</strong> Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), <strong>em</strong><br />
2005, ele se “divide” <strong>em</strong> seis para manter a cidade no cenário do handebol<br />
nacional.<br />
Citton começou como treinador de goleiros da modalidade na<br />
UCS <strong>em</strong> 1999. Aos poucos o trabalho consolidou-se, conquistaramse<br />
títulos e meninas foram convocadas para as seleções de base. Dez<br />
anos depois, já como o supervisor do handebol, Citton conseguiu montar<br />
uma equipe para disputar a Liga Nacional de Handebol F<strong>em</strong>inino<br />
2009.<br />
Tendo como base meninas formadas na universidade, reforçada<br />
por atletas experientes, a equipe fez história. Gabriel Citton se tornou o<br />
técnico mais novo a participar da competição, com 30 anos, e a equipe<br />
sagrou-se a primeira estreante a chegar à s s<strong>em</strong>ifinais do torneio. O<br />
sucesso do primeiro ano trouxe mais investimentos, e aquela equipe<br />
feita para disputar a Liga Nacional se transformou numa categoria profissional.<br />
Em 2011, com o nome de Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de<br />
Caxias do Sul, a equipe é motivo de orgulho. Com um orçamento que<br />
é a metade do das adversárias, a representante caxiense na Liga Nacional<br />
encaminha, pela terceira edição consecutiva, a classificação para<br />
a fase final. No ano passado viu sua atleta Laís Bordin da Silva, 19,<br />
ser a primeira caxiense a conquistar uma medalha oficial do Comitê<br />
Olímpico Internacional (COI), com o bronze nos Jogos Olímpicos da<br />
Juventude, <strong>em</strong> Cingapura.<br />
Porém, a história de sucesso dentro da quadra não é um reflexo<br />
dos bastidores. São quatro pessoas, que divid<strong>em</strong> um orçamento de R$<br />
50 mil por ano e se esforçam para manter a existência do clube. Citton,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, t<strong>em</strong> de fazer as funções de supervisor, coordenador<br />
técnico, técnico da equipe adulta, técnico da categoria juvenil, gerente<br />
geral e captador de recursos. “Faz três anos que não tenho salário, todo<br />
o dinheiro acaba indo para a equipe. Eu faço isso por mim, pelo orgulho<br />
pessoal de ver o handebol na minha cidade... mas está chegando a<br />
um ponto insustentável”, declara.<br />
Das sete equipes que disputam a Liga Nacional, quatro t<strong>em</strong> um<br />
orçamento estimado <strong>em</strong> mais de R$ 450 mil. Os custos mínimos para<br />
participar giram <strong>em</strong> torno de R$ 180 mil. A representante caxiense<br />
conta, neste ano, com um orçamento de R$ 230 mil, sendo 65% proveniente<br />
da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal. E a Luna<br />
ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul ainda disputa o Campeonato<br />
Gaúcho, a Copa Mercosul e a Copa do Brasil. “Falta incentivo<br />
tanto público quanto privado. A cidade só dá valor ao esporte às vésperas<br />
das Olimpíadas, quando v<strong>em</strong> as cobranças por falta de representantes”,<br />
avalia Citton, que não garante que a equipe vá ter forças para<br />
continuar na próxima t<strong>em</strong>porada.<br />
Artilheira da t<strong>em</strong>porada, a ponta Samira Rocha (e) abandonou a equipe <strong>em</strong> meio à Liga Nacional para receber mais na Europa<br />
Jonas Ramos
Paulo Augusto Goldani Pasa<br />
19<br />
Para lançar o projeto, o técnico Fernando L<strong>em</strong>os foi até Antonio Prado e Lajeado encontrar <strong>em</strong>presas dispostas a investir um valor mínimo, o que obriga as meninas a trabalhar<strong>em</strong> de dia e treinar apenas à noite<br />
Base consolidada à espera de uma Superliga<br />
Recent<strong>em</strong>ente, Caxias do Sul perdeu<br />
sua equipe que disputava a Superliga<br />
Masculina de Vôlei. A mudança de política<br />
de investimentos da UCS e a falta de patrocinadores<br />
obrigaram o clube a se “refugiar”<br />
<strong>em</strong> Porto Alegre. Porém, o trabalho nas categorias<br />
de base continua e mantém acesa a<br />
esperança da cidade voltar a representar o<br />
estado <strong>em</strong> cenário nacional.<br />
Esta é a aposta de Fernando L<strong>em</strong>os,<br />
Esforço<br />
olímpico<br />
técnico das categorias f<strong>em</strong>ininas da UCS/<br />
APAAVôlei/Prefeitura de Caxias do Sul.<br />
Sua crença e força de vontade é tamanha<br />
que, nesta t<strong>em</strong>porada, ele conseguiu montar<br />
uma equipe para disputar o Campeonato<br />
Gaúcho Adulto de Vôlei com um custo mínimo.<br />
“Tanto eu quanto as atletas estamos<br />
jogando por amor à camisa, ao esporte.<br />
Nenhum de nós t<strong>em</strong> salário para estar na<br />
equipe”, comenta o técnico caxiense.<br />
Jonas Ramos<br />
Se nos esportes coletivos é difícil, no<br />
atletismo a saga vira épica. Em Caxias, a modalidade<br />
está diretamente ligada ao t<strong>em</strong>po de<br />
escola. “Logo que terminam o 2º grau, mesmo<br />
os nossos atletas mais promissores abandonam<br />
o esporte para trabalhar. É um ciclo natural do<br />
atletismo na cidade”, relata Gisele Nogueira,<br />
supervisora do atletismo da UCS/Sesi/Prefeitura<br />
de Caxias do Sul.<br />
Para ultrapassar esta barreira é necessária<br />
muita força de vontade. E esta é a principal<br />
característica de Diogo Mello da Rosa, 18<br />
anos, único representante do alto rendimento<br />
<strong>em</strong> Caxias. Praticante desde os dez anos, Rosa<br />
definiu como objetivo de vida ser atleta, e move<br />
montanhas para isso. Por conta, ele procurou<br />
a Eletrobras e, através de um edital, conseguiu<br />
patrocínio. Para cursar Educação Física garantiu<br />
bolsa integral na UCS e começou a trabalhar<br />
como estagiário no Programa UCS Olimpíadas.<br />
A gana <strong>em</strong> seguir <strong>em</strong> frente comove<br />
os que o cercam e deixam uma certeza: se o<br />
atletismo caxiense tiver um representante nas<br />
Olimpíadas do Brasil, o nome será Diogo<br />
Mello da Rosa. Diogo treina forte e sonha com as Olimpíadas<br />
L<strong>em</strong>os, que trabalha há 15 anos<br />
com o voleibol da categoria de base, 12<br />
deles com o naipe f<strong>em</strong>inino, afirma ter o<br />
projeto pronto para participar da principal<br />
competição nacional de vôlei f<strong>em</strong>inino –<br />
só falta o dinheiro. “Tenho dez atletas, formadas<br />
aqui, com experiência de Superliga,<br />
interessadas <strong>em</strong> retornar e representar a<br />
cidade, entre elas a central Angélica Maliverno<br />
que está na Seleção Brasileira de<br />
À procura de um nome<br />
Desde 2009, com a criação do Novo<br />
Basquete Brasil (NBB), a modalidade v<strong>em</strong><br />
reconquistando espaço na mídia nacional.<br />
Mas este é mais um esporte <strong>em</strong> que os gaúchos<br />
não contam com um representante na<br />
elite. O Caxias do Sul Basquete, projeto<br />
desenvolvido <strong>em</strong> 2005 pelo técnico Rodrigo<br />
Barbosa, almeja levantar as cores do<br />
Estado, mas esbarra na falta de um grande<br />
parceiro. “Falta uma cultura esportiva<br />
aos nossos <strong>em</strong>presários. Esporte não é<br />
uma ajuda, é um negócio. Investir dá visão,<br />
consolida a imag<strong>em</strong> e torna conhecida<br />
marca”, avalia .<br />
Para participar do NBB, a Liga<br />
Nacional de Basquete (LNB) exige que a<br />
Novas”, afirma.<br />
Para participar da Superliga F<strong>em</strong>inina<br />
calcula-se necessário um orçamento mínimo<br />
de R$ 800 mil. Um investimento alto,<br />
mas com um retorno de mídia garantido. A<br />
competição já t<strong>em</strong> os direitos de transmissões<br />
acertados com três canais de televisão<br />
de âmbito nacional. Vale ressaltar que o<br />
Rio Grande do Sul atualmente não conta<br />
com nenhuma representante nesta liga.<br />
equipe tenha um orçamento mínimo de um<br />
milhão de reais. Um investimento que se<br />
mostra como um retorno seguro: na t<strong>em</strong>porada<br />
de 2010, participando do Campeonato<br />
Gaúcho e da Copa do Brasil, o Caxias<br />
do Sul Basquete teve um retorno de<br />
mídia de R$ 1,3 milhão. “O que nos falta<br />
é um patrocinador máster, aquele que t<strong>em</strong><br />
a marca diretamente ligada ao nome da<br />
equipe. O suporte e a estrutura necessários<br />
t<strong>em</strong>os garantidos graças à parceria com o<br />
Clube Juvenil”, informa Barbosa.<br />
Além disso, segundo o técnico, para<br />
o esporte caxiense se desenvolver é preciso<br />
“um novo pensamento político ou dos<br />
<strong>em</strong>presários” .<br />
Lei de Incentivo ao Esporte<br />
A Lei do Incentivo ao Esporte permite que parte do imposto que seria pago<br />
ao governo seja repassado a projetos esportivos e paradesportivos pré-aprovados.<br />
Uma pessoa física pode deduzir até 6% do imposto de renda devido, enquanto<br />
pessoa jurídica tributada com base no lucro real pode repassar 1%. Vale ressaltar<br />
que este benefício não compete com outros incentivos fiscais, sendo exclusivo<br />
para o setor esportivo. Qu<strong>em</strong> tiver interesse basta entregar uma carta de intenções<br />
ao responsável pela equipe a ser privilegiada.
Mais que torcer, eles “viv<strong>em</strong>” o clube<br />
LEONARDO LOPES<br />
leonardo.lopes@ucs.br<br />
No S.E.R. Caxias, o momento<br />
é de harmonia e foco para voltar à<br />
Série B. Qu<strong>em</strong> garante isto é Alceu<br />
Fassbinder, 64 anos de idade e mais<br />
de 50 deles dedicados ao clube do<br />
seu coração.<br />
Atual presidente do Conselho<br />
Deliberativo do Caxias, Fassbinder é<br />
o responsável por manter a sintonia<br />
entre, aproximadamente, 136 torcedores<br />
fanáticos. “O conselheiro é<br />
um torcedor dedicado, que conhece<br />
mais, vive o cotidiano e sente o sangue<br />
ferver pelo clube”, analisa.<br />
Para fazer parte do Conselho<br />
Deliberativo do clube basta ser sócio<br />
grená, se cadastrar e ser aprovado <strong>em</strong><br />
eleição dos sócios. Entre as obrigações<br />
de um conselheiro, há o pagamento<br />
de uma taxa mensal, no valor<br />
de R$ 150, e a participação <strong>em</strong> reuniões,<br />
quando convocados. Em contrapartida,<br />
ganha livre trânsito pelas<br />
dependências do clube e t<strong>em</strong> direito<br />
a opinião <strong>em</strong> reuniões com outros<br />
conselheiros.<br />
Todo torcedor de futebol sonha<br />
<strong>em</strong> ter acesso ao vestiário do seu<br />
clube, falar com comissão técnica e<br />
grupo de jogadores, opinar e ser ouvido.<br />
É importante ressaltar que isto<br />
só cabe ao Departamento de Futebol,<br />
mas um m<strong>em</strong>bro do Conselho pode<br />
chegar b<strong>em</strong> perto disto. “Por ser<br />
conselheiro nós conhec<strong>em</strong>os mais,<br />
viv<strong>em</strong>os o cotidiano do Caxias. T<strong>em</strong>os<br />
contato com qu<strong>em</strong> trabalha no<br />
dia a dia, por isso é importante saber<br />
manter a harmonia e sintonizar com a<br />
diretoria”, conta o conselheiro.<br />
Esta vivência do cotidiano e<br />
a ligação com os principais assuntos<br />
do clube, discutidos nas reuniões do<br />
Conselho Deliberativo, dá a oportunidade<br />
de ascender no Departamento<br />
de Futebol do clube. Um ex<strong>em</strong>plo<br />
disso é a história de Fassbinder que,<br />
<strong>em</strong> tanto anos de dedicação, já foi<br />
dirigente <strong>em</strong> algumas oportunidades,<br />
entre elas <strong>em</strong> 2000, ano do maior<br />
título da história do S.E.R. Caxias,<br />
com a conquista do Campeonato<br />
Gaúcho, quando ele era vice de futebol.<br />
“A cidade parou. Chegamos de<br />
avião e encontramos um estádio lotado<br />
<strong>em</strong> plena madrugada”, rel<strong>em</strong>bra.<br />
Atualmente, como presidente<br />
do Conselho Deliberativo, Fassbinder<br />
se orgulha da organização do Caxias,<br />
com salários <strong>em</strong> dia e harmonia<br />
entre os comandos, <strong>em</strong> termos de<br />
clube, e pelas histórias que pode contar<br />
depois de tantos anos. “Pela minha<br />
experiência, 64 anos hoje, t<strong>em</strong>os<br />
que ter uma história, uma contribuição<br />
social para com a sociedade da<br />
qual usufruimos. Valorizar os clubes<br />
da nossa cidade é uma dessas formas,<br />
pois sab<strong>em</strong>os que há muita coisa por<br />
trás”, afirma.<br />
O Conselho Deliberativo é o órgão máximo de um clube de futebol profissional. Nas reuniões<br />
são decididas mudanças no estatuto, controle do patrimônio e a prestação de contas. Ser<br />
um conselheiro envolve mais do que votar e supervisionar o clube, é se dedicar a uma paixão.<br />
Fotos Leonardo Lopes<br />
Segundo Segat, ser conselheiro acresce responsabilidade ao torcedor, que “aprende a ouvir, conciliar o torcedor e dirigente”<br />
Com sua experiência, Fassbinder diz que a participação no Conselho é uma forma de contribuir socialmente com a cidade<br />
No Esporte Clube Juventude<br />
o ano é de restruturação. Após um<br />
período conturbado, marcado por rebaixamentos,<br />
o clube alviverde busca<br />
absorver a nova realidade para iniciar<br />
uma reação rumo à elite brasileira<br />
novamente. Qu<strong>em</strong> sintetiza este momento<br />
é Rodrigo Tramontina Segat,<br />
35 anos, ativo nos bastidores do clube<br />
desde 2002.<br />
Secretário da Mesa Diretora<br />
do Conselho Deliberativo do Juventude,<br />
Segat relata um bom momento<br />
interno. “Não pod<strong>em</strong>os ser hipócritas,<br />
exist<strong>em</strong> alas dentro do Conselho<br />
e já tiv<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>pos conturbados internamente<br />
no clube, mas o momento<br />
agora é pacificador, de foco no Juventude”,<br />
relata o secretário.<br />
Para ser um conselheiro papo<br />
o torcedor precisa ser sócio há mais<br />
de três anos ininterruptos, para então<br />
encaminhar um pedido, via outro<br />
conselheiro, e ser aprovado <strong>em</strong> reunião<br />
do Conselho Deliberativo. Atualmente,<br />
o clube conta com aproximadamente<br />
220 conselheiros, de um<br />
total de 300 permitidos por estatuto.<br />
Nestes nove anos como conselheiro,<br />
Segat acompanhou de perto<br />
momentos distintos do clube. Dos<br />
bastidores, ele destaca 2006, quando<br />
era diretor de futebol, como um dos<br />
melhores momentos. “Foi uma campanha<br />
brigando até o fim por vaga na<br />
Sul-Americana. Convivi com grandes<br />
jogadores e lideranças no vestiário<br />
como o Antonio Carlos, o André<br />
Doring, o Cristian...”, rel<strong>em</strong>bra.<br />
É importante ressaltar que<br />
ser conselheiro não garante o direito<br />
de se intrometer no Departamento<br />
de Futebol. Mas estar nesta posição<br />
significa estar no cotidiano do clube,<br />
discutir os assuntos mais importantes,<br />
<strong>em</strong> sintonia com qu<strong>em</strong> busca o<br />
melhor para o clube. E este convívio<br />
abre portas, faz amizades e lhe dá a<br />
oportunidade de, <strong>em</strong> uma rápida passag<strong>em</strong>,<br />
trocar palavras de incentivos<br />
com o técnico, os dirigentes e jogadores.<br />
“Futebol é um negócio s<strong>em</strong><br />
garantias. Quando t<strong>em</strong>os este convívio,<br />
perceb<strong>em</strong>os que todos quer<strong>em</strong><br />
o melhor para o clube, mas às vezes<br />
não dá certo”, conta Segat.<br />
Ingressar no conselho é o primeiro<br />
passo para aquele torcedor que<br />
se acha capaz de trabalhar no Futebol<br />
de um clube. Assim, começa o “viver<br />
o clube”, se familiariza com as pessoas<br />
e a rotina, e ganha o direito de<br />
montar uma chapa e ser eleito para<br />
cargos como presidente, vice de futebol<br />
e vice de finanças. “Ser conselheiro<br />
nos torna torcedores com mais<br />
responsabilidades. Aprend<strong>em</strong>os a<br />
ouvir, conciliar o torcedor e dirigente,<br />
para tomar as melhores decisões<br />
para o clube que amamos”, resume.