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1000 Universos <strong>03</strong><br />
Mal invadimos a mangueira do casebre sombrio, Bentinho não<br />
contou passo. Desmontou do seu jumento raquítico e mandou pernas<br />
na direção da porta <strong>de</strong> entrada do cafua do Tonhão! Não chamou o<br />
vivente pelo nome, tampouco bateu palmas pra se fazer anunciar.<br />
Empurrou a entrada do batente e mergulhou lá <strong>de</strong>ntro, emproado, que<br />
nem galo velho quando faz presença pra galinha nova! E eu, na cola<br />
<strong>de</strong>le, fui junto, não com a mesma empáfia porque sou criatura <strong>de</strong> paz,<br />
temente ao nosso senhor Jesus Cristo!<br />
Lá estava o Tonhão bem do aboletado atrás da velha mesa <strong>de</strong><br />
carvalho!<br />
Cruz credo! Não conhecia o cabra <strong>de</strong> presença porque <strong>de</strong>le só<br />
ouvira falar estórias! E, <strong>de</strong> fato, como se dizia nas conversas, o homem<br />
mais parecia um cão chupando manga <strong>de</strong> tão feio. O ambiente funesto<br />
do cômodo escuro, a vela <strong>de</strong> chama tremeluzente próxima <strong>de</strong>le, mais<br />
as folhas <strong>de</strong> papéis em <strong>de</strong>salinho por todos os lados, não lhe faziam<br />
melhor a figura. De começo, após nossa entrada <strong>de</strong> supetão, ele não<br />
nos <strong>de</strong>u atenção, ou fez que não viu, não sei dizer. Bentinho tomou<br />
aquilo como uma afronta. O porquêra pigarreou forçando o barulho <strong>de</strong><br />
engasgamento <strong>de</strong> quem puxa catarro pra limpar o gorgomio e cuspiu<br />
no chão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira tosca da sala. Os olhos negros da cara amassada e<br />
empalamada <strong>de</strong> Tonhão, estando <strong>de</strong> pouso nos papéis por cima da<br />
mesa, tomaram prumo e buscaram nossa direção. Só da mirada que o<br />
caboclo me <strong>de</strong>u veio um sopro <strong>de</strong> frio forte que me arrepiou todo o<br />
corpo, dos pés à cabeça! Bentinho não tomou tento <strong>de</strong> apresentar-se,<br />
foi logo intimando:<br />
— Tonhão, comi muita poeira nestas estradas pra mo<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vosmecê me dizê cumé que tá a minha santa mãezinha, que bateu a<br />
caçuleta não faz nem cinco dias! Quero sabê se a pobre tá percisada <strong>de</strong><br />
alguma coisa?<br />
A vosmecê que me ouve, não sei direito como explicar o<br />
acontecido. Tenho pra mim que Tonhão já <strong>de</strong>via <strong>de</strong> tá <strong>de</strong> conluio com<br />
o Sacripanta, em meio d'algum tipo <strong>de</strong> ritual, porque assim que<br />
Bentinho <strong>de</strong>u intimação, ele começou a rabiscar a folha <strong>de</strong> papel num<br />
apressamento <strong>de</strong>sembestado, os olhos se fugiram pra não sei d'on<strong>de</strong><br />
e, por pouco, não me borrei nas calças, quando ouvi a voz espremida e<br />
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