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Infernus #16 - Associação Portuguesa de Satanismo

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Dependência vs Compulsão<br />

Paradoxalmente, como em tudo o<br />

que nos move, existe a outra face da<br />

moeda, bem mais positivista, ou antes<br />

realista, quando se compreen<strong>de</strong> do indivíduo<br />

a sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> algo ou<br />

alguém como carência inerente à sua<br />

natureza existencial, à qual não se <strong>de</strong>ve<br />

subjugar compulsivamente, mas <strong>de</strong>la<br />

tirar proveito, compreen<strong>de</strong>ndo a pulsação<br />

do seu íntimo, e direccionando<br />

a sua cadência para um sentido mais<br />

construtivo e evolutivo.<br />

Interessa por isso reflectir sobre<br />

ambos os prismas paralelamente, con<strong>de</strong>nando<br />

o primeiro, mais redutor, regressivo<br />

e infelizmente massificado no<br />

comportamento individual e social do<br />

Homem, e aprofundando o segundo,<br />

mais introspectivo, naturista, e produtivo,<br />

usufruindo do seu intelecto como<br />

canalizador das <strong>de</strong>pendências intrínsecas,<br />

e não castrador ou exorcizador<br />

compulsivo das mesmas!<br />

Individualmente, o Homem, como<br />

qualquer outro animal, é um ser afectivo,<br />

e como tal Ama e precisa <strong>de</strong> ser<br />

Amado. Negar esta <strong>de</strong>pendência é ir<br />

contra a natureza do Ser Vivo na mais<br />

primária forma <strong>de</strong> o ser, pois qual é o<br />

animal doméstico ou selvagem que se<br />

furta a umas festas dadas pelo “dono”<br />

e/ou carícias <strong>de</strong> outros membros da sua<br />

espécie? E até mesmo as plantas sentem<br />

e se <strong>de</strong>senvolvem com o afecto que lhes<br />

<strong>de</strong>dicamos… (A Vida Secreta das Plantas,<br />

<strong>de</strong> Peter Tompkins e Christopher Bird)<br />

28 ~ <strong>Infernus</strong> XVI<br />

O Amor, ou Afecto, tem o condão, ou<br />

efeito catalítico, <strong>de</strong> mobilizar o lado<br />

sensitivo e espiritual do Ser, sendo uma<br />

carência saudável e mesmo Essencial à<br />

vivência e evolução da espécie. Por outro<br />

lado atinge extremos compulsivos<br />

e mesmo doentios no Homem, quando<br />

lhe <strong>de</strong>sperta o sentido <strong>de</strong> possessão a<br />

que chamamos ciúme, o qual po<strong>de</strong> ser<br />

responsável por actos opressivos, como<br />

o sufoco do companheiro(a), a monopolização<br />

do seu tempo e atenção, até<br />

actos <strong>de</strong> violência física. Estas atitu<strong>de</strong>s<br />

revelam negligência do indivíduo<br />

perante o seu lado sentimental, e um<br />

profundo <strong>de</strong>srespeito pelo do próximo,<br />

que, tal como ele, <strong>de</strong>ve ser livre e timoneiro<br />

<strong>de</strong> si mesmo, não obe<strong>de</strong>cendo a<br />

uma exclusivida<strong>de</strong> afectiva.<br />

Da mesma forma o Homem, por<br />

falta <strong>de</strong> informação, ou mero comodismo<br />

da ignorância, não é capaz <strong>de</strong><br />

reconhecer e tomar contacto com a sua<br />

divinda<strong>de</strong> própria, e fazer-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>la autonomamente para encontrar o<br />

seu equilíbrio e força interiores para<br />

alcançar os seus <strong>de</strong>sejos e objectivos<br />

<strong>de</strong> vida. Por isso surgiram as divinda<strong>de</strong>s<br />

comuns, que suprimem esse vazio<br />

e falta <strong>de</strong> confiança nas mentes ocas<br />

e amedrontadas, e atingem extremos<br />

compulsivos, como a Imposição <strong>de</strong><br />

uma doutrina religiosa, por vias tão<br />

ditadoras e triviais, como os sacrifícios<br />

<strong>de</strong> animais, as guerras que a história<br />

vem retratando ao longo do tempo, até<br />

à célebre Inquisição, passando pelos<br />

mártires que a Humanida<strong>de</strong> contempla,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o profeta do cristianismo aos<br />

kamikazes muçulmanos, espectros <strong>de</strong><br />

pura vitimização com <strong>de</strong>sígnios re<strong>de</strong>ntores,<br />

que operam em nome <strong>de</strong> uma sagrada<br />

divinda<strong>de</strong> que lhes foi imposta,<br />

e à qual é suposto todo o ser humano<br />

se vergar.<br />

Para alguns dissi<strong>de</strong>ntes da religião,<br />

na maior parte das vezes por<br />

mera rebeldia <strong>de</strong> “ser do contra”, sem<br />

fundamento sustentado, surgiu, em<br />

substituição do “<strong>de</strong>us oculto”, o culto<br />

da personalida<strong>de</strong> alheia, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>fendida por uma pessoa,<br />

(seja um filósofo, um artista, um<br />

político) se torna mais <strong>de</strong> que um objecto<br />

<strong>de</strong> análise, sujeito à interpretação e<br />

filtragem do seu receptor, e passa a ser<br />

verda<strong>de</strong> absoluta e a dominá-lo como<br />

lei existencial. Exemplos compulsivos<br />

<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>pendência são vários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

seitas suicidas, que agem por intenção<br />

manipuladora, aos venerados ícones <strong>de</strong><br />

uma geração, que expressando o seu<br />

mundo interior e condutas próprias<br />

da sua individualida<strong>de</strong>, são elevados<br />

a um pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> adoração por parte<br />

dos seus seguidores mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

e influenciáveis … Quem não se lembra<br />

dos acontecimentos subsequentes à<br />

morte do malogrado lí<strong>de</strong>r dos Nirvana,<br />

Kurt Cobain? Em que houve fãs doentios<br />

a seguir o exemplo do seu ídolo, e<br />

foi instalada <strong>de</strong> emergência uma linha

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