Infernus #16 - Associação Portuguesa de Satanismo
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Contra-História das Drogas<br />
“Quem ficar ofendido com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que engolir<br />
um comprimido po<strong>de</strong> contribuir para uma experiência<br />
genuinamente religiosa <strong>de</strong>verá recordar que todas as<br />
mortificações normais – o jejum, a vigília voluntária e<br />
a autoflagelação – que os ascetas <strong>de</strong> todas as religiões<br />
se autoinfligem com o objectivo <strong>de</strong> adquirir mérito são<br />
também, como as drogas alteradoras da mente, po<strong>de</strong>rosos<br />
dispositivos para alterar a química do corpo em<br />
geral e o sistema nervoso em particular.”<br />
Aldous Huxley<br />
As ingestões <strong>de</strong> substâncias integram<br />
permanentemente a existência<br />
humana, tal como as alterações por<br />
elas <strong>de</strong>rivadas, aquilo que se ingere<br />
será parte daquilo que efectivamente<br />
se é, entre as interacções do açúcar<br />
com a bioquímica humana, ou o café,<br />
entre as potências alteradoras <strong>de</strong> neuroquímicas<br />
pelo cloridrato <strong>de</strong> sertrali-<br />
32 ~ <strong>Infernus</strong> XVI<br />
na, ou a dietilamida do ácido lisérgico,<br />
é um princípio inequívoco a ingestão<br />
<strong>de</strong> pluralida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> substâncias por<br />
pluralida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formas possíveis, procedimentos<br />
universais ao mais basilar<br />
existencialismo humano, as dinâmicas<br />
químicas e nervosas surgem assim em<br />
alteração permanente.<br />
Afigura-se então a necessida<strong>de</strong> im-<br />
periosa <strong>de</strong> conhecimento entre o que é<br />
e o que não é, entre as possibilida<strong>de</strong>s<br />
e as alterações albergando a clarividência<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar radicalmente<br />
qualquer forma legislativa <strong>de</strong> proibição<br />
da natureza, ou partes da mesma, por<br />
forma a não eliminar partes <strong>de</strong> história<br />
e evolução humana, ou seus retrocessos,<br />
percepção espiritual e as mais profundas<br />
consciências da consciência, a<br />
exemplo, a avaliação da relação entre<br />
botânica e a história humana, território<br />
pouco explorado pelo conhecimento<br />
<strong>de</strong> forma mais ou menos abrangente,<br />
remetido constantemente ao oculto<br />
pelos constantes medos infundamentados,<br />
pelas produções <strong>de</strong> <strong>de</strong>monizações<br />
perpétuas por estruturas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinformação<br />
<strong>de</strong> culturas dominantes, e pela<br />
histeria popular, <strong>de</strong>rivada da aberrante<br />
ignorância histórica, consequente da<br />
mitologia urbana propagada em chavões<br />
jornalísticos. A Natureza po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>rada como o laboratório máximo<br />
da experimentação, o pensamento<br />
científico alarga-se então e não se resume<br />
à escolástica amorfa <strong>de</strong>rivada das<br />
raízes judaico-cristãs, não é portanto<br />
imperioso conhecer processos complexos<br />
da termodinâmica para conseguir<br />
cozer batatas.