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Livro BTS-Humanas.pdf - UFRB

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474 | Baía de Todos os Santos<br />

Não temos aqui espaço para tratar do saber acumulado sobre a Baía de Todos os<br />

Santos. Não pouco se tem produzido a esse respeito, graças aos esforços de geógrafos,<br />

geólogos, historiadores, sociólogos, economistas, urbanistas, biólogos, ecólogos,<br />

antropólogos. Mas o tesouro de conhecimento assim acumulado permanece, em<br />

grande medida, ignorado no processo de policy-making relativo à região.<br />

Comecemos por Salvador, a grande metrópole que seus gestores se recusam<br />

a tratar como metrópole. Por mais que insista a sociedade civil organizada, os go-<br />

vernantes fazem ouvidos moucos e fecham os olhos à absoluta necessidade de<br />

elaborar um plano diretor metropolitano que dê orientação sistêmica e de longo<br />

prazo à dinâmica de seu desenvolvimento. O chamado PDDU de Salvador ignora<br />

a Região Metropolitana da capital baiana. A rigor, não é plano, nem diretor, pois<br />

lhe falta base técnica; descura inteiramente a problemática urbana. E tampouco<br />

se preocupa com desenvolvimento: sequer tem o alcance de uma visão de longo<br />

prazo. Foi feito apenas para atender à ganância imobiliária, que em tudo prevalece<br />

nesta urbe. O estado miserável de Salvador reflete o obscurantismo de uma política<br />

divorciada do interesse público.<br />

Jorge Amado certamente lamentaria muito se pudesse ver o estado atual<br />

de sua querida cidade, profundamente desfigurada. São gritantes os sintomas do<br />

colapso urbano de nossa metrópole: estrangulamento viário, falência do sistema de<br />

transportes, redução progressiva da mobilidade urbana; crise habitacional, faveliza-<br />

ção crescente, aumento dramático da pobreza e da desigualdade (em que Salvador<br />

é uma triste campeã, com escandalosa concentração de renda); precarização das<br />

condições de trabalho, incremento crônico do desemprego, do subemprego e da<br />

informalidade; surtos epidêmicos ameaçadores; escalada feroz da violência, a dizimar,<br />

principalmente, a juventude negra das áreas periféricas; expansão e consolidação do<br />

crime organizado; avanço do turismo sexual e do abuso contra menores; gigantesco<br />

desmatamento, com redução galopante das áreas verdes; aterro de lagoas e sepultamento<br />

de rios urbanos; poluição exacerbada de fontes e mananciais, das praias e<br />

do mar; ausência de coleta seletiva, de tratamento e reciclagem do lixo; acelerada<br />

degradação ambiental. Acrescente-se o descalabro da falta de políticas públicas que<br />

enfrentem seriamente esses problemas e o escandaloso tratamento dispensado ao<br />

espaço urbano, visto apenas como mercadoria a negociar.<br />

O mesmo se passa com toda a Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde<br />

há municípios de renda muito elevada com população miserável.<br />

A rigor, a RMS vem a ser uma espécie de ficção jurídica, porquanto não existe<br />

planejamento nem política que a contemple seriamente como região.<br />

Segue o divórcio absurdo entre a metrópole e seu entorno natural.<br />

No belo panorama da Baía de Todos os Santos, celebrado com tanto lirismo por<br />

nosso grande escritor, registra-se o descontrole de atividades industriais, sem respeito<br />

para com o ecossistema; constata-se o envenenamento crescente do fundo do mar

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