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“Aqueles que têm transtornado o mundo chegaram à nossa cidade ...

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<strong>“A<strong>que</strong>les</strong> <strong>que</strong> <strong>têm</strong> <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong> <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>”.<br />

Paulo e Silas passaram <strong>chegaram</strong> a Tessalônica, onde havia uma sinagoga. Conforme o seu costume, Paulo a<br />

freqüentou durante três sábados e falou sobre as Escrituras Sagradas com os freqüentadores. Paulo lhes explicava e<br />

provava <strong>que</strong> o Cristo precisava sofrer e <strong>que</strong>, depois de morrer, ressuscitaria. Ele dizia: ‘Este Jesus <strong>que</strong> estou<br />

anunciando a vocês é o Cristo!’. Paulo e Silas conseguiram converter várias pessoas <strong>que</strong> se juntaram a eles. Mas os<br />

judeus ficaram com inveja e chamaram alguns arruaceiros <strong>que</strong> formaram um bando. Eles fizeram muita confusão na<br />

<strong>cidade</strong> e atacaram a casa onde Paulo e Silas estavam hospedados, gritando: <strong>“A<strong>que</strong>les</strong> homens <strong>que</strong> <strong>têm</strong> <strong>transtornado</strong><br />

o <strong>mundo</strong> também <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>”. Tanto a multidão como as autoridades ficaram agitadas quando<br />

ouviram essas palavras”. Atos 17.1-6<br />

Nos últimos meses ouvi por duas vezes essa frase, dita de outras maneiras: “por <strong>que</strong> a Igreja Anglicana<br />

chegou a Campo Grande?” e “o <strong>que</strong> vocês vieram fazer aqui?”.<br />

Sim, é verdade - a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> tem <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong> <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>, e vieram perturbar a<br />

“paz” da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> influenciam religiosamente a <strong>cidade</strong>.<br />

Paulo e Silas em sua viagem missionária <strong>chegaram</strong> a Tessalônica, <strong>cidade</strong> da Grécia, acostumada a uma<br />

religiosidade <strong>que</strong> não promovia a igualdade, mas <strong>que</strong> só favorecia aos poderosos. A mensagem de Paulo e Silas<br />

simplesmente dizia <strong>que</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> foi perseguido, morto e crucificado, ressuscitou para trazer vida a todos os<br />

perseguidos, a todos os crucificados, a todos os marginalizados, a todos a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> não tinham direito <strong>à</strong> vida.<br />

Era uma mensagem <strong>que</strong> impactava o coração das pessoas e <strong>que</strong> promovia novos valores; era uma<br />

mensagem cujas conseqüências levava as pessoas a pensar: “<strong>que</strong> religião é essa, <strong>que</strong> sigo, e <strong>que</strong> ao invés de<br />

melhorar a sociedade, a piora cada vez mais?”; era uma mensagem <strong>que</strong> anunciava a possibilidade de uma nova vida,<br />

liberta das amarras dos principados e potestades, das autoridades <strong>que</strong> exerciam o poder com violência e coação,<br />

<strong>que</strong> fazia com <strong>que</strong> as pessoas não mais temessem aos ricos, sábios e poderosos. Era uma mensagem para o povo<br />

sofrido.<br />

Sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> tem <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong>, <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>...<br />

Todos nós sabemos o quanto <strong>nossa</strong> sociedade também precisa ser impregnada por novos valores, os valores<br />

do evangelho de Cristo e não os valores do consumismo, da prosperidade, da violência religiosa, da prepotência;<br />

mas os valores do perdão, do amor, do acolhimento, do serviço e da inclusão.<br />

A Igreja Anglicana tem há anos redescoberto esses valores em várias partes do <strong>mundo</strong> e, particularmente no<br />

Brasil. O lema atual de <strong>nossa</strong> Igreja é “acolher e servir”. A mensagem <strong>que</strong> pregamos não é de dominação, mas de<br />

liberdade. O lema da Comunhão Anglicana é o versículo de João 8: “conhecereis a verdade, e a verdade vos<br />

libertará”, e esse lema tem ensejado inúmeras iniciativas na defesa da dignidade humana, da voz dos excluídos, dos<br />

direitos indígenas, dos direitos <strong>à</strong> saúde e proteção dos idosos e crianças, ao direito das minorias, aos direitos das<br />

pessoas homoafetivas, aos direitos das pessoas <strong>que</strong> são consideradas abomináveis em outros grupos.<br />

Acolher e Servir! Esse é o lema atual de <strong>nossa</strong> Igreja no Brasil – acolher os inacolhíveis; incluir os excluídos;<br />

fazer com <strong>que</strong> os pobres, os fracos, os discriminados recuperem sua dignidade.<br />

Sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> tem <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong>, <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>, e os poderes da religião estabelecida<br />

já começaram a se manifestar. Não temamos! Isso é normal. Quando a luz chega, as trevas se abalam; quando a<br />

liberdade chega, os opressores se irritam; quando o amor e o acolhimento chegam, o ódio e a tirania se exacerbam;<br />

quando a mensagem de liberdade chega, os <strong>que</strong> se beneficiam da dominação se sentem atingidos e ameaçados;<br />

quando o Espírito de Deus se manifesta, os demônios se abalam, gritam, se sacodem, e esperneiam por<strong>que</strong> são<br />

desmascarados.<br />

Sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> tem <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong>, <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>... a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> estão modificando<br />

velhas estruturas, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> estão transformando o <strong>mundo</strong>, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> estão propondo um cristianismo mais<br />

livre e arejado <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>;


Sim a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> falam mais na graça e no amor de Deus do <strong>que</strong> na culpa e na condenação, <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong><br />

<strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>;<br />

Sim a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> defendem o direito e a justiça e apregoam a misericórdia <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>;<br />

Sim a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> afirmam a dignidade humana <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>; sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> relendo I Pedro 2,<br />

anunciam <strong>à</strong>s minorias crucificadas: “vocês são povo eleito, sacerdotes reais, vocês <strong>que</strong> antes não eram povo de<br />

Deus, mas agora são seu povo, vocês <strong>que</strong> não conheciam a misericórdia de Deus mas agora a conhecem”, <strong>chegaram</strong><br />

<strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>...<br />

O trabalho missionário de Paulo e Silas não foi fácil. Todos conhecemos as histórias de perseguições contra<br />

os apóstolos. Isso é comum <strong>à</strong><strong>que</strong>les <strong>que</strong> pregam uma mensagem <strong>que</strong> desestabiliza o poder religioso, <strong>que</strong> mostra<br />

suas fragilidades e contradições, <strong>que</strong> incomoda os líderes estabelecidos. A mensagem de Paulo e Silas não foi<br />

recebida de modo pacífico na<strong>que</strong>la <strong>cidade</strong>. Ao contrário, enquanto muitos abraçavam a fé, as Escrituras dizem <strong>que</strong><br />

os líderes religiosos, motivados pela inveja, convocaram arruaceiros para perseguir os apóstolos.<br />

Alguns de vocês leram a pe<strong>que</strong>na crônica publicada na 6ª feira no jornal “Correio do Estado” sobre meu<br />

encontro com um pastor homofóbico <strong>que</strong> divulga ideais neonazistas contra homossexuais, negros, indígenas, etc. Já<br />

comecei a receber emails de pessoas esperneando e se debatendo; contudo, muito mais me alegram as várias<br />

mensagens de apoio e solidariedade <strong>que</strong> recebi por email ou <strong>que</strong> foram postadas em nosso site.<br />

Respondi a todos os <strong>que</strong> me escreveram (inclusive com ameaças, principalmente evangélicos), <strong>que</strong> deixemnos<br />

em paz realizando nosso trabalho. Seria muito desagradável solicitar proteção policial para a realização de<br />

nossos cultos, mas se for preciso isso será feito, a imprensa e a promotoria serão informadas e a<strong>que</strong>les <strong>que</strong><br />

incomodarem o direito constitucional <strong>à</strong> liberdade de culto, responderão criminalmente. Podem ter absoluta certeza<br />

<strong>que</strong> registrarei quantos Boletins de Ocorrência forem necessários para <strong>que</strong> eles sejam responsabilizados<br />

criminalmente, não apenas pela homofobia, mas pela perturbação do direito constitucional do serviço religioso.<br />

A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é muito antiga e muito séria. Não brin<strong>que</strong>m conosco. Não pensem <strong>que</strong><br />

somos iguais <strong>à</strong>s pessoas a <strong>que</strong>m eles dominam com seu discurso bíblico e com suas palavras autoritárias. A conversa<br />

conosco é em outro nível, bem mais elevado <strong>que</strong> a baixaria com a qual eles estão acostumados.<br />

Logo no início do ministério de Jesus, enquanto ele pregava em uma sinagoga, um homem, incomodado com<br />

a pregação, começou a perturbar a mensagem. Era um espírito i<strong>mundo</strong>. Se o espírito dessas pessoas for i<strong>mundo</strong><br />

também, e regido pelo anticristo, saibam <strong>que</strong> o poder do Espírito Santo <strong>que</strong> está conosco é muito maior do <strong>que</strong><br />

seus gritos. O <strong>que</strong> lhes falta é o amor de Deus.<br />

Esse, porém, não é o único desafio da mensagem do evangelho no Mato Grosso do Sul. Essa semana dois mil<br />

índios foram expulsos de terras <strong>que</strong> o governo já reconheceu legitimamente como deles em Sidrolândia. Dentre<br />

esses dois mil índios estavam várias crianças. A defesa do Evangelho exige nosso confronto também com esses<br />

poderosos <strong>que</strong> ajuntam propriedades e se julgam senhores da situação;<br />

Quase todos os dias lemos notícias sobre casos de pedofilia. Crianças abusadas sexualmente por pais,<br />

padrastos, tios; crianças agredidas fisicamente e de modo covarde, chicoteadas, <strong>que</strong>imadas com bitucas de cigarro,<br />

espancadas e até mesmo embebedas para <strong>que</strong> durmam;<br />

Nas duas últimas semanas estive fazendo visitas em hospitais públicos da capital. Em uma dessas visitas,<br />

cheguei a acompanhar uma senhora <strong>que</strong> esteve morrendo no quarto ao lado e me chamaram para fazer uma oração<br />

na hora de sua morte. Havia várias pessoas jogadas nos corredores, deitadas em macas e até mesmo no chão.<br />

Dentre essas pessoas vários idosos. Se a mensagem não atingir também a defesa do direito de todo cidadão <strong>à</strong> saúde,<br />

de <strong>que</strong> adianta apenas nos reunirmos para falar da Bíblia e cantar hinos?<br />

Sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> <strong>têm</strong> transformado o <strong>mundo</strong> por<strong>que</strong> não pregam uma fé espiritualizada, mas encarnada,<br />

<strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>.


A partir do próximo domingo, a liturgia começa a nos preparar, em todas as Igrejas Anglicanas do Brasil e do<br />

<strong>mundo</strong>, para a festa de Pentecostes. Na liturgia de hoje, o prelúdio já nos traz essa oração: “Espírito do Trino Deus,<br />

vem sobre nós... renova-nos, conforta-nos, transforma-nos”. Nos próximos domingos continuaremos a clamar para<br />

<strong>que</strong> o Espírito Santo venha e renove a criação.<br />

De fato, precisamos clamar, rogar, suplicar para <strong>que</strong> o Espírito Santo nos dê forças para continuar <strong>nossa</strong><br />

missão, pois sem o poder, o consolo e a companhia do Espírito Santo, nada seremos e nada faremos.<br />

Ouvimos, porém, as animadoras palavras de Jesus no evangelho de hoje: “não fi<strong>que</strong>m aflitos em seus<br />

corações... creiam em Deus, creiam também em mim... na casa de meu pai há muitas moradas”.<br />

Os sinais do Reino estão começando a se manifestar – a canção <strong>que</strong> cantaremos como fixação da mensagem<br />

de hoje diz <strong>que</strong> o Reino de Deus está onde a esperança estiver; sempre <strong>que</strong> houver acolhimento, partilha,<br />

solidariedade, inclusão, esse é o sinal do Reino. Sempre <strong>que</strong> alguém orar, com humildade ao Senhor, buscando um<br />

sonho, um ideal, do Reino de Deus haverá um sinal.<br />

Sim, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> tem <strong>transtornado</strong> o <strong>mundo</strong>, <strong>chegaram</strong> <strong>à</strong> <strong>nossa</strong> <strong>cidade</strong>...

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