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A Inadimplência nas Instituições de Ensino Superior Privadas ... - FLF

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Resumo:<br />

A <strong>Inadimplência</strong> <strong>nas</strong> <strong>Instituições</strong> <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> <strong>Superior</strong><br />

<strong>Privadas</strong>: Causas Financeiras ou Sociais?<br />

Ari Holanda Júnior<br />

Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho (<strong>FLF</strong>)<br />

Heber José <strong>de</strong> Mora<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (UNIFOR)<br />

A nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases para a Educação Brasileira proporcionou uma expansão sem igual<br />

na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> IES, proporcionando uma oportunida<strong>de</strong> para milhares <strong>de</strong> brasileiros terem acesso ao<br />

ensino superior, mas em contrapartida, surgiu um fenômeno <strong>de</strong> proporções até então nunca vista: a<br />

inadimplência estudantil. Com o objetivo <strong>de</strong> estudar quais os fatores que condicionam o fenômeno,<br />

elaborou-se este estudo em uma IES privada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza-CE. Constatou-se que a produção<br />

acadêmica sobre o tema no Brasil é escassa. Assim utilizaram-se, como referencial teórico, várias<br />

pesquisas realizadas em outros países, que abordaram o assunto. Através <strong>de</strong> análise estatística, com a<br />

utilização <strong>de</strong> Análise Discriminante com validação cruzada, para a <strong>de</strong>terminação dos principais fatores<br />

condicionantes, verificou-se na amostra estudada que a inadimplência tem relação com fatores pessoais,<br />

sócio-econômicos, acadêmicos e institucionais, portanto gerenciáveis. O pressuposto <strong>de</strong> que a<br />

inadimplência estudantil está relacionada somente com fatores financeiros não se confirmou..<br />

Palavras-chave: Educação Brasileira, <strong>Ensino</strong> superior, <strong>Inadimplência</strong> escolar.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O tema associado aos fatores que condicionam a inadimplência em instituições<br />

particulares <strong>de</strong> ensino superior se refere à análise do perfil dos alunos inadimplentes e<br />

adimplentes, segundo suas características sócio-econômicas, relacionamento acadêmico, e<br />

características <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> ensino superior privada, localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza-<br />

CE. Esta análise se fez necessária tendo em vista a expansão do mercado <strong>de</strong> ensino superior,<br />

tanto em nível Brasil quanto em nível local, e os alarmantes índices <strong>de</strong> inadimplência<br />

registrados pelas instituições <strong>de</strong> ensino superior privadas, que já experimentam um ambiente<br />

cada vez mais competitivo na busca da sobrevivência e da sedimentação no mercado <strong>de</strong> ensino<br />

superior. Segundo a Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>Superior</strong> do Ministério da Educação (MEC),<br />

somente em Fortaleza, existem trinta e uma <strong>Instituições</strong> <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> <strong>Superior</strong> (IES) privadas e<br />

três públicas.


50 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Constata-se no Brasil, entre 1997 e 2003, uma evolução radical no número <strong>de</strong><br />

instituições <strong>de</strong> ensino superior (IES). Ao cenário apresentado, é razoável supor que o<br />

incremento no número <strong>de</strong> IES, e a conseqüente oferta <strong>de</strong> vagas, resultaram em modificação no<br />

comportamento da <strong>de</strong>manda (representada por aqueles que se inscrevem para a seleção),<br />

concernente à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do consumidor por uma ou outra IES.<br />

Este contexto irá requerer uma melhor compreensão <strong>de</strong>ste ambiente, um conhecimento<br />

mais acurado do mercado, da inadimplência <strong>nas</strong> IES e as possíveis características dos alunos, e<br />

também, da instituição, face à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> diferenças significativas entre<br />

aqueles que honram suas responsabilida<strong>de</strong>s financeiras assumidas, referentes à prestação <strong>de</strong><br />

serviços educacionais no ensino <strong>de</strong> graduação, e aqueles que alimentam as estatísticas da<br />

inadimplência escolar.<br />

Assim, se preten<strong>de</strong> contribuir com a elaboração <strong>de</strong> novos conhecimentos, <strong>de</strong>monstrando<br />

quais os elementos ou fatores que condicionam o fenômeno da inadimplência, possibilitando,<br />

assim, às instituições <strong>de</strong> ensino superior proce<strong>de</strong>rem à formulação <strong>de</strong> suas estratégias,<br />

direcionando-as à prevenção, ou à redução dos índices que consi<strong>de</strong>ram significativos.<br />

No Brasil, uma das especificida<strong>de</strong>s das instituições <strong>de</strong> ensino superior é a origem <strong>de</strong><br />

seus recursos financeiros. Sob este aspecto têm-se dois tipos <strong>de</strong> instituições: a) as que são<br />

mantidas pelo Po<strong>de</strong>r Público - instituições públicas e b) as que se mantém com recursos<br />

próprios – instituições privadas.<br />

Esta distinção jurídica resulta numa segmentação <strong>de</strong> mercado. Para efeito <strong>de</strong>ste estudo,<br />

o mercado <strong>de</strong> ensino superior é entendido como um conjunto, do qual fazem parte: a) os<br />

consumidores dos serviços <strong>de</strong> ensino superior (aqueles que já estão matriculados); b) os agentes<br />

potenciais para o ingresso no ensino superior (aqueles que concorrem a uma vaga <strong>nas</strong> IES); c)<br />

as instituições que ofertam ensino superior.<br />

A caracterização da segmentação se observa com os números das matrículas no ensino<br />

público e no ensino privado. Segundo o INEP - Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas<br />

Educacionais, em CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 2003, em 2004, o Brasil já<br />

apresentava 1.137.119 matrículas no ensino público e 2.750.652 matrículas no ensino privado.


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 51<br />

Estes dados mostram que o ensino público <strong>de</strong>tém 29,2% das matrículas enquanto que o ensino<br />

privado <strong>de</strong>tém 70,8%.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, a expansão já vinha se dando ao longo do tempo. Porém, se verifica a<br />

maior variação no período 1996 – 2000, justamente quando passou a vigorar a nova Lei <strong>de</strong><br />

Diretrizes e Bases para a Educação (LDB) e o surgimento das novas IES.<br />

Vários efeitos <strong>de</strong>sta expansão já se fazem sentir: aumento da oferta <strong>de</strong> cursos, da oferta<br />

<strong>de</strong> vagas, da competição entre as IES, redução no valor das mensalida<strong>de</strong>s, redução da qualida<strong>de</strong><br />

do ensino, aumento da evasão <strong>de</strong> alunos e da inadimplência das mensalida<strong>de</strong>s escolares.<br />

Cabem, portanto, as seguintes interrogações:<br />

• Quais as características que diferenciam os estudantes inadimplentes daqueles<br />

adimplentes em uma instituição <strong>de</strong> ensino superior?<br />

• perfil do novo universitário, e seu <strong>de</strong>sempenho acadêmico estão relacionados à taxa<br />

<strong>de</strong> inadimplência escolar?<br />

• valor da mensalida<strong>de</strong> cobrada influi na taxa <strong>de</strong> inadimplência?<br />

• grau <strong>de</strong> satisfação do aluno influi na taxa <strong>de</strong> inadimplência?<br />

• Existem características relacionadas à instituição que influenciem na taxa <strong>de</strong><br />

inadimplência?<br />

• Caso positivo, que instrumentos apoiariam os gestores das IES na prevenção da<br />

inadimplência?<br />

As respostas a estas indagações requerem um estudo aprofundado <strong>de</strong>stas organizações<br />

acadêmicas, do ambiente em que estão inseridas e, sem dúvida, do perfil <strong>de</strong> seus alunos.<br />

Agrava-se a questão, pois, se uma instituição <strong>de</strong> ensino superior se reorganiza e<br />

aumenta sua estrutura para satisfazer a maior diversificação <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s acadêmicas, e<br />

continua se financiando, praticamente, ape<strong>nas</strong> com o ensino <strong>de</strong> graduação, então po<strong>de</strong>rá passar<br />

por problemas financeiros graves advindos <strong>de</strong> altos custos operacionais. Isto po<strong>de</strong>rá se traduzir,<br />

ao seu tempo, em <strong>de</strong>svantagem competitiva com riscos acentuados <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda,<br />

aumento no valor das mensalida<strong>de</strong>s, aumento da inadimplência, aumento da evasão escolar por


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<strong>de</strong>sistências, redução significativa dos resultados financeiros da instituição, redução do nível <strong>de</strong><br />

investimentos, sucateamento institucional e, até mesmo, a paralisação <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Uma argumentação sempre presente é a <strong>de</strong> que, cientes que a Lei proíbe o<br />

constrangimento <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>ve para instituições <strong>de</strong> ensino, os responsáveis financeiros<br />

postergam o pagamento das mensalida<strong>de</strong>s escolares. Desta forma, o ensino superior particular<br />

ganha uma nova barreira à sua sustentabilida<strong>de</strong>, além da concorrência já existente. Sendo,<br />

portanto, necessário o emprego <strong>de</strong> estratégias alternativas para garantir a viabilida<strong>de</strong> financeira.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se que ao aluno optar por cursar o ensino superior em uma instituição<br />

privada, estará fazendo um investimento em capital intangível, cujo retorno somente se dará<br />

após a conclusão dos estudos. Este investimento se dará sob a forma <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s escolares,<br />

custos com aquisição <strong>de</strong> livros e materiais escolares, além <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> manutenção do aluno,<br />

como aluguel, transportes e outras <strong>de</strong>spesas.<br />

A partir da experiência vivida pelo setor financeiro, ten<strong>de</strong>-se a supor que a causa da<br />

inadimplência está relacionada com o perfil econômico e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagamento do aluno.<br />

Entretanto, no caso do setor educacional, não é difícil também supor que, o mesmo aluno<br />

inadimplente apresenta características sociais e comportamentais que po<strong>de</strong>m contribuir para o<br />

problema.<br />

Existindo uma gran<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> educação, aliada a uma<br />

legislação que impe<strong>de</strong> uma punição aos inadimplentes, leva-se a crer que diversos outros<br />

fatores além do financeiro estão relacionados à inadimplência educacional.<br />

Isto posto, apresenta-se a hipótese <strong>de</strong> que o fenômeno da inadimplência no ensino<br />

superior privado é função da realida<strong>de</strong> sócio-econômica <strong>de</strong> cada aluno, do seu grau <strong>de</strong><br />

comprometimento e <strong>de</strong>sempenho acadêmico, do conceito do curso e do nível dos serviços<br />

prestados pela instituição, os quais têm influência na predisposição do responsável financeiro<br />

pelas mensalida<strong>de</strong>s, em honrar ou não o compromisso assumido perante a Instituição <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong><br />

<strong>Superior</strong>.<br />

Os objetivos <strong>de</strong>sta pesquisa convergem para o conhecimento mais acurado entre o<br />

perfil sócio-econômico dos alunos, sua predisposição para a inadimplência, as características e


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 53<br />

práticas da IES e o conseqüente índice real <strong>de</strong> não recebimentos pertinentes ao serviço <strong>de</strong><br />

educação superior numa instituição privada. Assim, <strong>de</strong>terminar fatores que expliquem a<br />

inadimplência em uma IES privada (fatores estes gerenciáveis pelos alunos e pela instituição),<br />

encontrar a relação entre o perfil sócio-econômico do aluno <strong>de</strong> nível superior e a inadimplência<br />

e verificar relação entre as características da instituição <strong>de</strong> ensino superior estudada e o índice<br />

<strong>de</strong> inadimplência, é o que se propõe o trabalho.<br />

2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL<br />

O Relatório do Censo da Educação no Brasil, elaborado pelo MEC – Ministério da<br />

Educação em 2003 e divulgado no segundo semestre <strong>de</strong> 2004, relata que o ensino superior<br />

brasileiro teve nos últimos anos crescimento recor<strong>de</strong> no número <strong>de</strong> instituições privadas. No<br />

período, a média foi <strong>de</strong> quase um estabelecimento particular novo a cada dia. Segundo o MEC,<br />

somente <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2001 até 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, as instituições privadas aumentaram<br />

45% - 544 foram autorizadas a funcionar, ou seja, um estabelecimento a cada 1,2 dia. Entre<br />

1998 e 2001, essa média era <strong>de</strong> uma instituição privada a cada 2,5 dias. De 1995 a 1998, ficava<br />

em uma a cada 13,7 dias. Em 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2001, data <strong>de</strong> início da coleta do Censo da<br />

Educação <strong>Superior</strong>, o MEC indicava a existência <strong>de</strong> 1.392 instituições, sendo 1.208 privadas<br />

(86,8% do total). No resultado do Censo <strong>de</strong> 2003 o cadastro do ministério indica que o total<br />

chegou a 1.859, sendo 1.652 particulares (88,9%).<br />

O número <strong>de</strong> instituições públicas também aumentou <strong>de</strong> 2001 até julho <strong>de</strong> 2003: <strong>de</strong> 183<br />

para 207, ou uma a cada 25 dias. Toda essa expansão, no entanto, não elevou significativamente<br />

o número <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> classes mais baixas na Escola. O país também está ainda muito longe da<br />

meta estipulada no PNE (Plano Nacional <strong>de</strong> Educação).<br />

O aumento da concorrência entre instituições, a queda na renda média do brasileiro e a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expandir o sistema incluindo um estudante <strong>de</strong> perfil mais carente estão<br />

obrigando os estabelecimentos privados <strong>de</strong> ensino superior a mudar o seu perfil. Um estudo<br />

feito pela consultoria Hoper mostra que, <strong>de</strong> 1997 a 2002, o preço médio da mensalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 208<br />

cursos <strong>de</strong> administração das regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste caiu 22%, <strong>de</strong> R$ 498 para R$ 387.


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Um dos autores do estudo, o consultor <strong>de</strong> marketing educacional Ryon Braga, afirma<br />

que essa redução se <strong>de</strong>ve, principalmente, à oferta <strong>de</strong> novos cursos <strong>de</strong> administração, que<br />

chegam ao mercado oferecendo uma mensalida<strong>de</strong> menor do que a das instituições já<br />

estabelecidas. Braga diz que a expansão do ensino superior, antes restrita às classes A e B, já<br />

chegou à classe C. “Na década <strong>de</strong> 90, havia uma <strong>de</strong>manda bastante reprimida <strong>nas</strong> classes A e B.<br />

A partir <strong>de</strong> 2000, essa <strong>de</strong>manda já foi atendida, e as projeções indicam que, a partir <strong>de</strong> agora, o<br />

crescimento do ensino superior acontecerá ape<strong>nas</strong> <strong>nas</strong> classes C e D”, diz Braga. Para isso, o<br />

consultor afirma que as instituições <strong>de</strong> ensino superior terão <strong>de</strong> encontrar uma maneira <strong>de</strong><br />

oferecer cursos com mensalida<strong>de</strong>s mais baratas, sem perda da qualida<strong>de</strong>. “Acabou a fartura”.<br />

Apesar do crescimento significativo das matrículas nos últimos anos, a realida<strong>de</strong> do ensino<br />

superior não é mais aquela que as pessoas imaginam.<br />

As instituições hoje são preparadas para aten<strong>de</strong>r ape<strong>nas</strong> as classes A e B. O valor das<br />

mensalida<strong>de</strong>s não é compatível com o que po<strong>de</strong> pagar a classe C, on<strong>de</strong> crescerá a <strong>de</strong>manda. No<br />

estudo, Hoper leva em conta que uma família brasileira consegue comprometer até 25% <strong>de</strong> sua<br />

renda com o pagamento <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s escolares. Como o estudo consi<strong>de</strong>rou como sendo <strong>de</strong><br />

classe C um brasileiro com renda familiar <strong>de</strong> R$ 844, o máximo que essa família po<strong>de</strong>ria gastar<br />

com educação seria R$ 211,00. Para o ex-ministro da educação Paulo Renato Souza a classe C<br />

representará 60% dos estudantes <strong>de</strong> ensino superior até o ano <strong>de</strong> 2008.<br />

3 O FINANCIAMENTO DO ENSINO SUPERIOR PRIVADO<br />

O financiamento estudantil po<strong>de</strong> ser analisado sob a perspectiva da teoria do capital<br />

humano (SCHWARTZMAN, 2003). Da mesma forma que uma organização empresarial busca<br />

financiamento para capital físico, no sistema bancário, o mesmo po<strong>de</strong>rá ser feito para o capital<br />

humano. Em ambos o caso, se espera que os recursos <strong>de</strong>spendidos na aquisição do capital<br />

(físico ou intangível) sejam recuperados, no futuro, acrescidos <strong>de</strong> um rendimento (incluindo-se<br />

o custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> dos recursos empregados). Para o investimento em capital físico, é<br />

possível para os investidores a análise da perspectiva do negócio, tendo em vista as garantias<br />

reais existentes: o próprio bem físico ou garantias reais. Para o investimento em capital


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 55<br />

humano, torna-se difícil a obtenção <strong>de</strong> uma garantia real, pois via <strong>de</strong> regra trata-se <strong>de</strong> pessoas<br />

que buscam uma escolarida<strong>de</strong> superior, sem muitas garantias a oferecer, perspectivas incertas<br />

no mercado <strong>de</strong> trabalho futuro, tanto em termos <strong>de</strong> prazo, quanto <strong>de</strong> remuneração e, certamente<br />

será muito difícil encontrar avalistas aceitáveis, ou seja, seu único ativo é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda futura.<br />

Neste cenário, é normal se esperar que não exista muito interesse do setor privado <strong>de</strong><br />

mercado <strong>de</strong> capitais, em realizar esse tipo <strong>de</strong> empréstimo ou, fazê-lo a taxas <strong>de</strong> juros elevadas,<br />

em função do alto risco e da falta <strong>de</strong> garantias reais. Some-se a isto a falta <strong>de</strong> tradição na<br />

concessão <strong>de</strong> crédito pessoal <strong>de</strong> longo prazo, em vários países. Segundo Johnstone (2000), os<br />

programas <strong>de</strong> financiamentos estudantis estão entre os mais complexos, controversos,<br />

freqüentemente mal compreendidos, e potencialmente importantes elementos que constituem as<br />

finanças da educação superior. A importância dos programas tem raiz na crescente necessida<strong>de</strong><br />

da divisão <strong>de</strong> custos – significando que ao menos uma parte dos custos da educação superior<br />

<strong>de</strong>verá ser passada dos governos e contribuintes aos pais e alunos – existente <strong>nas</strong> agendas <strong>de</strong><br />

políticas públicas para a educação superior na maioria dos países.<br />

4 O FINANCIAMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES<br />

As instituições <strong>de</strong> ensino superior privadas brasileiras, além da concorrência oriunda do<br />

salto no número <strong>de</strong> instituições existentes, têm um fator limitador no que se refere ao<br />

financiamento. A alocação <strong>de</strong> recursos públicos às instituições privadas é vedada pelo artigo<br />

213 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, que abre exceção ape<strong>nas</strong> às instituições confessionais,<br />

comunitárias ou filantrópicas, além <strong>de</strong> permitir a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos à pesquisa científica.<br />

Como as instituições privadas estão mais voltadas para o ensino <strong>de</strong> graduação, a principal<br />

forma <strong>de</strong> financiamento se dá através da cobrança <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s.<br />

Segundo Schwartzman (2003), a experiência internacional mostra que dificilmente uma<br />

universida<strong>de</strong> que tenha padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na graduação, pesquisa, pós-graduação “stricto-<br />

sensu” e extensão, po<strong>de</strong> se custear ape<strong>nas</strong> com a cobrança <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s, e o Brasil não se<br />

configura numa exceção. A solução, portanto, é utilizar alguns poucos recursos públicos e <strong>de</strong>


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outras fontes privadas para complementar os recursos necessários à manutenção <strong>de</strong> um corpo<br />

docente titulado exclusivo, assim como um quadro <strong>de</strong> funcionários preparados.<br />

As outras formas <strong>de</strong> organização do ensino superior: Centros Universitários,<br />

Faculda<strong>de</strong>s Integradas e Faculda<strong>de</strong>s Isoladas, por estarem voltadas predominantemente para o<br />

ensino da graduação, ten<strong>de</strong>m a ser custeadas basicamente pela cobrança <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s.<br />

Contudo, o fazem aparentemente com padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> inferior ao das universida<strong>de</strong>s, que<br />

aten<strong>de</strong>m ao princípio da indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e extensão, previsto no artigo<br />

207 da nova LDB. A qualida<strong>de</strong> inferior no ensino reflete-se no valor das mensalida<strong>de</strong>s, que<br />

não permitem remuneração condigna aos docentes e nem o investimento em instalações<br />

a<strong>de</strong>quadas, tais como laboratórios e bibliotecas (SCHWARTZMAN, 2003).<br />

O setor privado <strong>de</strong> ensino superior no Brasil atingiu dimensão respeitável em termos <strong>de</strong><br />

movimentação <strong>de</strong> recursos financeiros, segundo Schwartzman (2004), essa dimensão alcança a<br />

cifras entre <strong>de</strong> 4,5 e 5 bilhões <strong>de</strong> dólares ao ano.<br />

O financiamento <strong>de</strong>stes recursos baseia-se, fortemente, na cobrança <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s,<br />

incluindo os cursos <strong>de</strong> pós-graduação “lato sensu”, situando-se entre 95 e 100% dos recursos<br />

captados, com exceção <strong>de</strong> algumas instituições confessionais que conseguem algum<br />

financiamento público.<br />

Com a expansão do ensino superior e uma participação cada vez maior <strong>de</strong> estudantes<br />

oriundos <strong>de</strong> classes <strong>de</strong> renda mais baixa criou-se uma enorme capacida<strong>de</strong> ociosa, em função da<br />

elevação da evasão escolar. Estima-se que tal evasão seja fruto do fato <strong>de</strong> que o ingresso e a<br />

permanência dos estudantes <strong>de</strong> baixa renda no ensino superior <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pagamento, da existência <strong>de</strong> crédito educativo e da concessão <strong>de</strong> bolsas e da sua convicção, ao<br />

longo do curso, em relação à efetivação do retorno do investimento que vem sendo realizado<br />

(SCHWARTZMAN, 2004).<br />

As tendências para o setor privado são <strong>de</strong> agravamento da situação no futuro: não<br />

preenchimento das vagas oferecidas para ingresso, elevados índices <strong>de</strong> evasão ao longo do<br />

curso, crescente inadimplência dos alunos e participação ainda maior <strong>de</strong> estudantes oriundos <strong>de</strong><br />

classes <strong>de</strong> renda mais baixa, o que gera uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagamento marginal <strong>de</strong>crescente.


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 57<br />

A reação das entida<strong>de</strong>s privadas tem sido acirrar a concorrência entre elas, o que po<strong>de</strong><br />

ser observado através das agressivas campanhas <strong>de</strong> marketing, redução do valor das<br />

mensalida<strong>de</strong>s, localização das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino em locais próximos ao trabalho ou residência<br />

dos alunos, processos seletivos mais fáceis e, em alguns casos, a busca <strong>de</strong> uma diferenciação<br />

através <strong>de</strong> uma elevada qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Isto leva a crer que o sistema passará por um<br />

período <strong>de</strong> ajustes, com fusões, vendas e <strong>de</strong>sativação <strong>de</strong> cursos e programas.<br />

O mecanismo potencialmente fundamental para a sobrevivência <strong>de</strong> parte significativa<br />

do setor privado é o FIES – Financiamento ao Estudante, programa <strong>de</strong> financiamento estudantil<br />

do Governo Fe<strong>de</strong>ral, que financia até 70% do valor das mensalida<strong>de</strong>s escolares. A manutenção<br />

<strong>de</strong> alunos mais carentes <strong>nas</strong> escolas <strong>de</strong> nível superior não importa somente para as IES<br />

privadas, mas também, para o cumprimento das metas do PNE - Plano Nacional <strong>de</strong> Educação,<br />

que propõe uma taxa <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> escolarização da população entre 19-24 anos até 2010, e que<br />

hoje se situa em menos <strong>de</strong> 12%. É importante frisar que o PNE menciona que o setor privado<br />

tem um importante papel no processo, contudo, não <strong>de</strong>talha os meios para se chegar aos<br />

resultados (SCHWARTZMAN, 2004).<br />

Apesar <strong>de</strong> sua importância, o FIES está longe <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s atuais e muito<br />

menos ao crescimento da <strong>de</strong>manda que já se verifica. Os recursos do orçamento anual do FIES<br />

são provenientes, em sua gran<strong>de</strong> parte, da arrecadação dos concursos <strong>de</strong> prognósticos (Loterias)<br />

administrados pela CEF – Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral e do orçamento do MEC, não sendo ainda<br />

relevante o reembolso dos empréstimos já realizados. Entretanto os recursos têm se<br />

<strong>de</strong>monstrado insuficientes, face a crescente <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> alunos carentes, o que força o MEC a<br />

se provir <strong>de</strong> outras fontes, que estão em cogitação, entre as quais: a utilização <strong>de</strong> parte dos<br />

recursos do Fundo <strong>de</strong> Garantia por Tempo <strong>de</strong> Serviço, dos <strong>de</strong>pósitos compulsórios dos bancos,<br />

<strong>de</strong> parte das isenções das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter filantrópico e a entrada das próprias IES<br />

privadas, complementando os recursos atuais. Os empréstimos do FIES estão sujeitos a uma<br />

taxa <strong>de</strong> juros <strong>de</strong>terminada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), sendo exigida a<br />

apresentação <strong>de</strong> um fiador com idoneida<strong>de</strong> cadastral e renda comprovada <strong>de</strong>, no mínimo, o<br />

dobro da mensalida<strong>de</strong> integral do curso financiado. O prazo para pagamento do FIES esten<strong>de</strong>-se


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até uma vez e meia o período <strong>de</strong> utilização do financiamento, sendo o valor das prestações<br />

calculado pela Tabela Price.<br />

O Governo Fe<strong>de</strong>ral também instituiu em 2004 o programa PROUNI – Universida<strong>de</strong><br />

para todos. Destinado à concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudo integrais e bolsas <strong>de</strong> estudo parciais<br />

(meia-bolsa) para cursos <strong>de</strong> graduação e seqüenciais <strong>de</strong> formação específica, em instituições<br />

privadas <strong>de</strong> ensino superior, com ou sem fins lucrativos.<br />

O PROUNI compra vagas, em instituições privadas que a<strong>de</strong>rirem ao programa, para<br />

alunos carentes e <strong>de</strong> minorias. A instituição <strong>de</strong> ensino privada, com ou sem fins lucrativos, que<br />

a<strong>de</strong>rir ao programa ficará isenta dos seguintes impostos: a) Imposto <strong>de</strong> Renda das Pessoas<br />

Jurídicas, b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, c) Contribuição Social para<br />

Financiamento da Segurida<strong>de</strong> Social e, d) Contribuição para o Programa <strong>de</strong> Integração Social.<br />

Uma outra forma <strong>de</strong> financiamento estudantil, só recentemente posta em prática no<br />

Brasil, partiu da iniciativa privada, quando foi fundada uma empresa especificamente para<br />

<strong>de</strong>senvolver soluções financeiras exclusivamente para o mercado educacional, funcionando<br />

como uma ponte entre investidores, instituições e estudantes. A estratégia é reunir investidores<br />

qualificados, dispostos a aplicar recursos e a buscar a remuneração <strong>de</strong> seu capital no setor<br />

educacional brasileiro. A taxa <strong>de</strong> juros aplicada aos financiamentos estudantis situa-se bem<br />

abaixo dos percentuais praticados pelo mercado financeiro brasileiro.<br />

Outra atuação da empresa é na assessoria às instituições <strong>de</strong> ensino, através da<br />

recuperação <strong>de</strong> débitos inadimplentes, financiamento para expansões e melhorias ou quitação<br />

<strong>de</strong> empréstimos. Até meados <strong>de</strong> 2005, 85 instituições <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> todas as regiões do Brasil,<br />

contavam com os benefícios <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> programa.<br />

No âmbito internacional, o financiamento estudantil po<strong>de</strong> assumir diferentes formas,<br />

porém todas as formas têm em comum a cobertura <strong>de</strong> uma parte dos custos da educação<br />

superior – custos <strong>de</strong> instrução (mensalida<strong>de</strong>s), outros custos educacionais (livros e materiais<br />

escolares), ou custos <strong>de</strong> manutenção do aluno (aluguel, transportes, e outras <strong>de</strong>spesas) -<br />

previstas para serem pagas no futuro. Assim, o investidor, quer seja a própria IES, o governo,<br />

um banco ou qualquer outro ator financeiro, arca com estes custos no presente, mas será


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reembolsado com juros, pelo estudante (talvez com auxílio do governo) como o beneficiário do<br />

financiamento (JOHNSTONE, 2000).<br />

Segundo Johnstone (2000), o empréstimo estudantil po<strong>de</strong>rá assumir duas formas<br />

básicas, com inúmeras variações cada, sendo possível também uma forma híbrida <strong>de</strong> ambas:<br />

Empréstimo Convencional - Esta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento apresenta uma taxa <strong>de</strong><br />

juros expressa em percentuais anuais sobre o valor financiado, um período para amortização, ou<br />

o tempo que o aluno terá para reembolsar o empréstimo tomado. Apresenta ainda, os termos da<br />

amortização tais como: se os pagamentos <strong>de</strong>verão ser mensais e <strong>de</strong> igual valor, ou se os<br />

pagamentos <strong>de</strong>verão iniciar com pequenos valores e aumentarão com o tempo, ou qualquer<br />

outro termo que crie um fluxo <strong>de</strong> pagamentos suficiente para amortizar o empréstimo <strong>nas</strong> taxas<br />

<strong>de</strong> juros contratadas.<br />

Empréstimo Com Renda Contigenciada - O empréstimo com renda contigenciada (ou<br />

“pagamento contigenciado”) apresenta uma obrigação contratual <strong>de</strong> reembolsar um percentual<br />

sobre a renda futura, geralmente até o empréstimo ter sido quitado com a taxa <strong>de</strong> juros<br />

contratada, ou até o aluno ter pago um “valor máximo” pré-<strong>de</strong>finido, ou por um <strong>de</strong>terminado<br />

número <strong>de</strong> anos. Este tipo <strong>de</strong> empréstimo é, equivocadamente, tido como sempre o <strong>de</strong> menor<br />

custo financeiro para os estudantes que sejam incapazes <strong>de</strong> conseguir uma renda razoável, no<br />

futuro. Contudo isto só é verda<strong>de</strong> para aqueles empréstimos que tenha uma fonte <strong>de</strong> alternativa<br />

<strong>de</strong> subsídios que complemente o fluxo <strong>de</strong> pagamentos dos estudantes com baixa renda, que<br />

nunca pagam o custo total do dinheiro.<br />

Uma variante do empréstimo com renda contigenciada é o “Imposto <strong>de</strong> Graduado”,<br />

on<strong>de</strong> o estudante, após o término do curso, em retorno aos subsídios obtidos do governo torna-<br />

se obrigado a pagar um imposto adicional sobre sua renda, em geral pelo resto <strong>de</strong> sua vida<br />

profissional. Esta modalida<strong>de</strong> tem uma falha conceitual grave: sendo consi<strong>de</strong>rada como um<br />

imposto e não como o pagamento <strong>de</strong> um empréstimo, diferentemente <strong>de</strong> contratos que têm que<br />

ser pagos, po<strong>de</strong>rá ser abandonada por um outro governo. Esta falha talvez explique a razão pela<br />

qual a modalida<strong>de</strong> seja tão pouco utilizada nos países <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Johnstone (2000) apresentou alguns programas <strong>de</strong> financiamento estudantil, aplicados<br />

no período 1999-2000 em alguns países como: Estados Unidos, Escandinávia, Alemanha,


60 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Países Baixos, Reino Unido, África do Sul, Austrália, Quênia e China que utilizam os mo<strong>de</strong>los<br />

conceituais <strong>de</strong>scritos acima.<br />

Qualquer que seja a modalida<strong>de</strong> praticada para financiar o ensino superior, a eficiência<br />

do programa está condicionada à recuperação dos custos envolvidos. Johnstone (2000) aponta<br />

que o problema com os financiamentos estudantis, especialmente nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, é a existência significante <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> perda, ou “vazamentos” <strong>de</strong> difícil<br />

reparo, na recuperação dos custos na maioria dos programas. O primeiro <strong>de</strong>stes “vazamentos” é<br />

a inadimplência. A ocorrência <strong>de</strong> altas taxas representa um perigo “real e imediato” à saú<strong>de</strong> dos<br />

programas e coloca em risco a própria sobrevivência do ensino superior privado. Estudos<br />

realizados apontam que o problema se agrava nos países ditos em <strong>de</strong>senvolvimento ou em<br />

transição, e apontam que os parcos dados existentes são inconsistentes e não confiáveis.<br />

A <strong>Inadimplência</strong> Educacional<br />

No âmbito educacional, se configura a inadimplência pela falta <strong>de</strong> pagamento, em dia,<br />

<strong>de</strong> uma ou mais mensalida<strong>de</strong>s, por parte do contratante dos serviços educacionais em que ele ou<br />

seus <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes são beneficiados.<br />

Segundo Braga (2004), a inadimplência <strong>de</strong>ve ser dividida em três grupos: a<br />

inadimplência do dia seguinte ao vencimento; após 30 dias do vencimento e a inadimplência na<br />

re-matrícula. O Quadro 1 <strong>de</strong>monstra a média da inadimplência nacional <strong>nas</strong> instituições <strong>de</strong><br />

ensino.<br />

Quadro 1 – <strong>Inadimplência</strong> Média no Brasil<br />

Período<br />

Taxa <strong>de</strong><br />

<strong>Inadimplência</strong><br />

Dia seguinte ao vencimento 50 a 60 %<br />

Após 30 dias do vencimento 25 a 30 %<br />

Após a rematrícula 5 a 7 %<br />

Fonte: Braga (2004).<br />

A legislação em vigor veda, à instituição <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> impedir que os alunos<br />

inadimplentes assistam às aulas ou <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> prestar exames. A<strong>de</strong>mais, a IES não po<strong>de</strong> negar


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 61<br />

aos alunos em atraso os documentos necessários à sua transferência ao final do período letivo, o<br />

que implica na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua saída sem a quitação da dívida. O principal recurso legal<br />

que resta, à instituição, é o <strong>de</strong> não recontratar com o aluno inadimplente no semestre seguinte e<br />

cobrar a dívida na justiça. Po<strong>de</strong>rá, também, inscrever o <strong>de</strong>vedor nos cadastros dos serviços <strong>de</strong><br />

proteção ao crédito. Porém, várias são as instituições que preferem negociar com seus alunos<br />

em dificulda<strong>de</strong>s, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mantê-los na escola e não agravar os índices <strong>de</strong> evasão.<br />

De todo modo, os custos da inadimplência são reais, sejam por atrasos ou falta <strong>de</strong> pagamento e,<br />

cada vez mais, têm sido um item importante na <strong>de</strong>terminação dos resultados <strong>de</strong> uma empresa<br />

educacional (SCHWARTZMAN, 2004).<br />

Como forma <strong>de</strong> obter melhores resultados na recuperação <strong>de</strong> créditos, Rodrigues (2004)<br />

apresenta as seguintes sugestões:<br />

1. I<strong>de</strong>ntificar claramente o contexto econômico em que a IES está inserida;<br />

2. Medir os índices sistematicamente;<br />

3. I<strong>de</strong>ntificar as causas da inadimplência, e<br />

4. Trabalhar com profissionais e empresas especializadas.<br />

Rodrigues (2004) afirma que a inadimplência educacional se distingue completamente<br />

daquela enfrentada pelas organizações dos setores financeiro, comercial ou industrial. Isto<br />

ocorre porque a educação é a concessão <strong>de</strong> um serviço público, essencial para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do país. Aqueles que buscam uma educação superior, o fazem com intuito <strong>de</strong><br />

uma ascensão cultural e talvez financeira e não por status material. A inadimplência comercial,<br />

financeira e industrial é mais perniciosa, pois o <strong>de</strong>vedor muitas vezes age com má fé, sabendo o<br />

que está fazendo.<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

54<br />

17 15<br />

8 6<br />

Desemprego<br />

Endividamento<br />

Fiança ou Aval<br />

Empréstimos e<br />

Documentos<br />

Saú<strong>de</strong> e Outros<br />

Figura 1 – Causas da <strong>Inadimplência</strong> - Fonte: Rodrigues (2004)


62 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Sendo a inadimplência educacional diferente da inadimplência comercial, financeira e<br />

industrial, quais são as suas causas? Porque os contratantes não pagam as mensalida<strong>de</strong>s em dia?<br />

Quais problemas os contratantes po<strong>de</strong>m enfrentar? Existe a pré-disposição em dar um “calote”<br />

na escola? O contratante é realmente um mal pagador? O contratante está buscando solucionar<br />

seu problema?<br />

Enten<strong>de</strong>r as causas que levam à inadimplência é importante para não haver pré-<br />

julgamentos, e para <strong>de</strong>finir uma estratégia mais apropriada à realida<strong>de</strong>. A Associação<br />

Comercial <strong>de</strong> São Paulo (ACSP) elaborou um estudo (GRÁFICO 1) em que procurou expor<br />

percentualmente as principais causas e motivos da inadimplência.<br />

Para Rodrigues (2004), o inadimplente educacional é basicamente aquela pessoa que<br />

está passando por um mau momento, <strong>de</strong>sta forma é obrigado a escolher quais os compromissos<br />

serão cumpridos ou adiados, <strong>de</strong>terminando suas priorida<strong>de</strong>s.<br />

Infelizmente a falta <strong>de</strong> conscientização do brasileiro leva a uma lista <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s que<br />

não se alinha com aquelas que as instituições <strong>de</strong> ensino adotariam ou que buscam repassar aos<br />

seus alunos. Segundo Rodrigues (2004), as priorida<strong>de</strong>s dos brasileiros por grau <strong>de</strong> importância,<br />

ou as que <strong>de</strong>veriam ser primeiramente honradas são: 1-Financiamento <strong>de</strong> Imóvel, 2-<br />

Financiamento <strong>de</strong> Automóvel, 3-Despesas Básicas, 4-Cartão <strong>de</strong> Crédito e Comércio, 5-Saú<strong>de</strong> e<br />

6-Educação.<br />

Percebe-se que a educação não é a priorida<strong>de</strong> para os brasileiros. O cenário indica uma<br />

maior preocupação com o status social aparente. Suspeita-se, também, que a atual legislação<br />

esteja contribuindo para os atuais índices <strong>de</strong> inadimplência educacional.<br />

Ao passo que vários estudos prévios, realizados nos Estados Unidos, avaliaram uma<br />

associação entre as características dos alunos ou da instituição e o comportamento da<br />

inadimplência, o pensamento geral da maioria dos pesquisadores atualmente é que o sucesso<br />

acadêmico tem um papel maior na previsão <strong>de</strong> quem ficará inadimplente, do que o histórico<br />

(financeiro) do aluno e o tipo <strong>de</strong> instituição freqüentada. Caso tudo o mais seja igual, alunos<br />

que tenham um bom <strong>de</strong>sempenho escolar ten<strong>de</strong>m a ter um taxa <strong>de</strong> inadimplência menor do que<br />

aqueles com baixo <strong>de</strong>sempenho. Isto é uma conclusão esperançosa, no sentido em que o<br />

pagamento das mensalida<strong>de</strong>s escolares ou do financiamento estudantil aparenta estar ligado a


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 63<br />

fatores que estão pelo menos parcialmente sob o controle do aluno, da escola, ou <strong>de</strong> ambos. A<br />

revisão da literatura americana, cobre uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores que po<strong>de</strong>m ter um papel<br />

importante na inadimplência.<br />

Analisando as mo<strong>de</strong>lagens e a seleção <strong>de</strong> variáveis, na literatura pesquisada, verifica-se<br />

a incorporação <strong>de</strong> cinco perspectivas diferentes, corroborando a pesquisa <strong>de</strong> Volkwein et al.<br />

(1998). Tomando-se por base o comportamento econômico, <strong>de</strong>monstrado na literatura, as três<br />

primeiras perspectivas estão relacionadas à teoria do capital humano, ao subsídio público, e a<br />

habilida<strong>de</strong> do tomador <strong>de</strong> pagar o empréstimo; a quarta perspectiva está fundamentada na<br />

abordagem organizacional e estruturalista-funcional; e a quinta incorpora a adaptação dos<br />

estudantes ao sistema acadêmico superior.<br />

A Teoria do capital humano enfatiza as variáveis que refletem o <strong>de</strong>sejo do aluno em<br />

investir em educação e treinamento <strong>de</strong> modo a obter um maior retorno ou compensação<br />

financeira no futuro (BECKER, 1964; FREEMAN, 1983 apud VOLKWEIN et al., 1998),<br />

quando os benefícios são maiores que os custos. Os benefícios incluem o aperfeiçoamento das<br />

habilida<strong>de</strong>s e potencial <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> melhores salários. Os custos envolvem não ape<strong>nas</strong> as<br />

mensalida<strong>de</strong>s escolares e <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> manutenção, como também custos indiretos por não<br />

trabalhar. Ao passo que os custos <strong>de</strong>vem ser pagos no presente, os benefícios po<strong>de</strong>m ser<br />

usufruídos ape<strong>nas</strong> no futuro. Devido ao fato <strong>de</strong> que os benefícios econômicos da educação<br />

variam conforme o nível <strong>de</strong> treinamento e a carreira escolhida, supõe-se que o comportamento<br />

da inadimplência varie <strong>de</strong> acordo com a titulação obtida e a área <strong>de</strong> conhecimento estudada<br />

(COHEN & GESKE, 1990).<br />

O primeiro estudo estatístico sobre os padrões da inadimplência escolar com uma<br />

ampla leitura acadêmica foi o artigo intitulado “Whose Fault is Default?”, que resumiu a<br />

agenda <strong>de</strong> pesquisa da maior literatura do campo <strong>de</strong> estudo (WILMS et al., 1987 Apud<br />

MONTEVERDE, 2000). O estudo pretendia investigar as características e práticas das<br />

instituições <strong>de</strong> ensino superior, que tinham taxas <strong>de</strong> inadimplência “excessivamente altas”<br />

(15% ou maior). Suas conclusões enfatizaram os preditores, pre<strong>de</strong>terminados e não<br />

institucionais, da inadimplência escolar como sendo a etnia, a renda familiar,<br />

nacionalida<strong>de</strong>/naturalida<strong>de</strong> e o programa acadêmico escolhido. Estudos posteriores


64 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

confirmaram a principal conclusão <strong>de</strong> Wilms et al. - que as características dos estudantes, muito<br />

mais do que as características institucionais, eram melhores preditores para a inadimplência.<br />

Utilizando como fonte dados, mais ampla, a publicação patrocinada pelo governo<br />

americano, conhecida como “NPSAS”, edição <strong>de</strong> 1987, Flint (1997) utilizou a análise<br />

discriminante, <strong>de</strong> forma similar ao estudo <strong>de</strong> Wilms et al., para analisar blocos <strong>de</strong> possíveis<br />

preditores. Concluiu que apesar das características pessoais dos estudantes estarem fortemente<br />

ligadas à inadimplência, existe uma contribuição muito pequena dos blocos <strong>de</strong> variáveis<br />

analisados após as características pessoais dos estudantes.<br />

Através <strong>de</strong> uma metodologia diferente, Knapp e Seaks (1992) analisaram alunos, <strong>de</strong><br />

cursos com duração entre dois e quatro anos, <strong>de</strong> instituições tradicionais do estado da<br />

Pennsylvania-USA, e que eram beneficiários <strong>de</strong> financiamentos governamentais. Utilizando a<br />

regressão probabilística, os autores concluíram que as seguintes características pessoais tinham<br />

uma associação estatística significante com uma menor probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inadimplência: (1)<br />

Renda familiar, (2) Presença dos pais no lar, (3) Sucesso acadêmico e (4) Etnia (taxa <strong>de</strong><br />

inadimplência maior entre negros). As variáveis consi<strong>de</strong>radas mais importantes foram: o<br />

sucesso acadêmico e a etnia.<br />

Utilizando como fonte <strong>de</strong> informação o NPSAS <strong>de</strong> 1987, Volkwein e Szelest (1995)<br />

apresentaram dois mo<strong>de</strong>los para possibilitar a previsão da inadimplência. No primeiro mo<strong>de</strong>lo,<br />

as características pessoais dos estudantes foram analisadas para verificar a associação com a<br />

inadimplência, conjuntamente com um grupo <strong>de</strong> variáveis utilizadas na tentativa <strong>de</strong> encontrar<br />

alguma associação do tipo <strong>de</strong> instituição com a inadimplência. O teste realizado com a<br />

categorização do tipo <strong>de</strong> instituição freqüentada como sendo universida<strong>de</strong> ou, faculda<strong>de</strong><br />

integrada com cursos 4 anos, faculda<strong>de</strong> integrada com cursos <strong>de</strong> 2 anos ou ainda escola<br />

vocacional <strong>de</strong> nível superior (Proprietary School). Várias características pessoais –<br />

consi<strong>de</strong>rando todos os tipos <strong>de</strong> estudantes – foram <strong>de</strong>finidas como <strong>de</strong> alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> previsão do<br />

risco <strong>de</strong> inadimplência (etnia, estado civil, quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filhos, titulação obtida, <strong>de</strong>sempenho<br />

acadêmico, suporte familiar e renda atual).


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 65<br />

O segundo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>vido à limitação dos dados, excluiu as escolas vocacionais, e um<br />

conjunto mais exaustivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scritores da instituição foi testado para verificar a associação com<br />

o risco <strong>de</strong> inadimplência. Apesar <strong>de</strong> dois fatores terem <strong>de</strong>monstrado ser estatisticamente<br />

significantes, os autores concluíram que existia pequena evidência <strong>de</strong> que as características<br />

institucionais impactavam na inadimplência.<br />

Baseado <strong>nas</strong> evidências estatísticas disponíveis, Montever<strong>de</strong> (200) consi<strong>de</strong>ra haver um<br />

consenso, entre os pesquisadores, <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>terminantes da inadimplência educacional estão,<br />

antes <strong>de</strong> tudo, relacionados às características dos alunos, do que tendo alguma relação com a<br />

instituição freqüentada. On<strong>de</strong> exista uma relação <strong>de</strong>tectada entre um tipo <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong><br />

ensino e os altos índices <strong>de</strong> inadimplência, o fato não é causado pelas características da<br />

instituição. <strong>Instituições</strong> que têm altos índices <strong>de</strong> inadimplência são aquelas que atraem<br />

estudantes com alta probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> inadimplência. A tendência <strong>de</strong> inadimplência é<br />

uma condição pré-existente.<br />

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

A população objeto <strong>de</strong>ste estudo consistiu dos alunos <strong>de</strong> uma Instituição <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong><br />

<strong>Superior</strong> Privada, localizada em Fortaleza-CE, que oferta cursos <strong>de</strong> graduação em nível <strong>de</strong><br />

bacharelado, licenciatura, e graduação tecnológica. Os dados foram obtidos a partir <strong>de</strong><br />

relatórios gerenciais, fornecidos pela IES pesquisada, referentes ao segundo semestre letivo <strong>de</strong><br />

2004 e ao primeiro semestre letivo <strong>de</strong> 2005.<br />

O discurso da instituição ressalta uma preocupação com a qualida<strong>de</strong> e com o<br />

posicionamento no mercado da educação superior. Sua estratégia <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> alunos é<br />

reforçada por ações concretas, <strong>de</strong>senvolvidas através <strong>de</strong> importantes programas <strong>de</strong><br />

Responsabilida<strong>de</strong> Social. Como estratégia <strong>de</strong> combate à inadimplência a instituição pratica<br />

<strong>de</strong>scontos diferenciados para aqueles alunos que pagarem suas mensalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma<br />

antecipada ou no vencimento.<br />

Os alunos foram divididos em dois grupos, distintos entre si pela característica objeto<br />

<strong>de</strong>sta análise: estarem ou não inadimplentes com suas mensalida<strong>de</strong>s escolares. Como <strong>de</strong>finição


66 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

para o estudo se consi<strong>de</strong>rou como inadimplente aqueles alunos que não honraram os<br />

pagamentos <strong>de</strong> três ou mais mensalida<strong>de</strong>s escolares durante o segundo semestre letivo do ano<br />

<strong>de</strong> 2004. Tendo em vista que a aplicação do questionário estruturado, seria efetuada durante o<br />

primeiro semestre letivo do ano <strong>de</strong> 2005, excluiu-se aqueles alunos que não renovaram sua<br />

matrícula ao final do ano <strong>de</strong> 2004. Para compor os grupos, em função do alto índice <strong>de</strong> recusa<br />

em participar da pesquisa, foi retirada uma amostra não probabilística, por conveniência, <strong>de</strong><br />

igual tamanho para o grupo <strong>de</strong> inadimplentes e adimplentes, estratificada por curso.<br />

Os alunos inadimplentes foram escolhidos, em número <strong>de</strong> 200, aleatoriamente, <strong>de</strong>ntre<br />

os 3257 alunos consi<strong>de</strong>rados inadimplentes no período acima <strong>de</strong>finido. Desta forma, fez-se<br />

necessário a aplicação <strong>de</strong> 400 questionários, sendo 200 para os alunos consi<strong>de</strong>rados<br />

inadimplentes e 200 para aqueles adimplentes.<br />

Em face da falta <strong>de</strong> uma teoria consolidada, no cenário brasileiro, que forneça o<br />

completo embasamento do problema e a conseqüente escolha das melhores variáveis para o<br />

estudo da inadimplência, foram utilizadas inicialmente como variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou<br />

preditoras aquelas mais comuns nos estudos, realizados nos estados Unidos, que prece<strong>de</strong>ram a<br />

este.<br />

Foi adotado o questionário estruturado, por tratar-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva.<br />

Possibilitando <strong>de</strong>screver o fenômeno estudado, e verificar a correlação entre as variáveis,<br />

permitindo se chegar a respostas do problema e alcançar os objetivos propostos.<br />

As variáveis utilizadas neste estudo foram <strong>de</strong>finidas a partir dos trabalhos <strong>de</strong> Rodrigues<br />

(2004), Steiner e Teszler (2003), Volkwein et al. (1998), Volkwein e Cabrera (1998), Volkwein<br />

e Szelest (1995), Flint (1997), Dynarski (1994) e Montever<strong>de</strong> (2000). As variáveis são<br />

concernentes ao fenômeno da inadimplência, a fatores pessoais e sócio-econômicos do aluno, a<br />

fatores acadêmicos, e às características e práticas da instituição <strong>de</strong> ensino. Foram codificadas<br />

em escala <strong>de</strong> Likert, para medir os itens relacionados aos grupos <strong>de</strong> fatores consi<strong>de</strong>rados. A<br />

variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é a medida dicotômica <strong>de</strong> “inadimplência ou adimplência”, as variáveis<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou preditoras foram divididas em 4 grupos: Fatores pessoais, fatores<br />

econômicos, fatores acadêmicos e fatores institucionais (QUADRO 2).


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 67<br />

Variáveis relacionadas a Fatores Pessoais são variáveis que compõem o grupo dos<br />

indicadores dos fatores pessoais e objetivam caracterizar o perfil pessoal e social do aluno;<br />

Variáveis relacionadas a Fatores Econômicos são variáveis que compõem o grupo dos<br />

indicadores dos fatores econômicos e objetivam caracterizar o perfil econômico e situação<br />

financeira do aluno; variáveis relacionadas a Fatores Acadêmicos são variáveis que compõem o<br />

grupo dos indicadores dos fatores acadêmicos que objetivam caracterizar os fatores<br />

relacionados com a vida acadêmica que possam influenciar no comportamento do aluno; e<br />

Variáveis relacionadas a Fatores Institucionais são variáveis que compõem o grupo dos<br />

indicadores dos fatores institucionais que objetivam caracterizar os fatores relacionados com a<br />

IES que possam influenciar no comportamento do aluno, são fatores gerenciáveis por parte da<br />

IES.<br />

Quadro 2 – Variáveis In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da Pesquisa<br />

Fator Ref Variável Especificação Valores<br />

Fatores Pessoais<br />

Fatores Econômicos<br />

Fatores<br />

Acadêmi<br />

cos<br />

X01 Ida<strong>de</strong> Faixa etária em que situa o aluno 1 – 5<br />

X02 Sexo Gênero dos alunos 1 – 2<br />

X03 Raça Grupo racial a que pertence o 1 – 5<br />

X04 Estado Civil Situação conjugal do aluno 1 – 5<br />

X05 Qtd <strong>de</strong> Filhos Número <strong>de</strong> filhos sob a guarda do 0 – 4<br />

X06 Ocupação Tipo <strong>de</strong> emprego do aluno 1 – 5<br />

X07 <strong>Ensino</strong> Médio Tipo <strong>de</strong> escola on<strong>de</strong> cursou ensino 1 – 3<br />

X08 Ingresso Forma <strong>de</strong> ingresso no ensino 1 – 3<br />

X09 Motivação p/ pagar Grau <strong>de</strong> motivação para pagar as 1 – 5<br />

X10 Incentivo familiar Incentivo da família para a 1 – 5<br />

X11 Renda Própria Faixa <strong>de</strong> renda pessoal do aluno 1 – 5<br />

X12 Renda Familiar Faixa <strong>de</strong> renda familiar do aluno 1 – 5<br />

X13 Responsável Financeiro Quem respon<strong>de</strong> pelo pagamento 1 – 5<br />

X14 Celular Tipo <strong>de</strong> linha celular que utiliza 1 – 5<br />

X15 Cartão <strong>de</strong> Credito Limite do cartão <strong>de</strong> crédito 1 – 5<br />

X16 Veículo Próprio Veículo próprio e se existe ônus 1 – 5<br />

X17 Residência Imóvel próprio e se existe ônus 1 – 4<br />

X18 Padrão do Imóvel Padrão do imóvel em resi<strong>de</strong> 1 – 5<br />

X19 Tempo <strong>de</strong> Residência Tempo que mora na atual 1 – 5<br />

X20 Referência Bancária Existência <strong>de</strong> referências 1 – 5<br />

X21 Membros no <strong>Ensino</strong> Qtd <strong>de</strong> membros da família em 0 – 4<br />

X22 Membros no <strong>Ensino</strong> Qtd <strong>de</strong> membros da família em 0 – 4<br />

X23 Tipo <strong>de</strong> Curso Tipo <strong>de</strong> curso freqüentado 1 – 2<br />

X 24 Área <strong>de</strong> Conhecimento Área <strong>de</strong> conhecimento do curso 1 – 4<br />

X 25 Duração do Curso Tempo normal <strong>de</strong> conclusão do 1 – 4<br />

X 26 Importância do Importância do conhecimento 1 – 5<br />

X 27 Contribuição do Curso Contribuição do curso para 1 – 5


68 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

X28 Tempo <strong>de</strong> Estudo Tempo <strong>de</strong>dicado aos estudos 1 – 4<br />

X29 Estímulo Intelectual Freqüência <strong>de</strong> estimulação 1 – 5<br />

X30 Satisfação em Sala Freqüência <strong>de</strong> satisfação com as 1 – 5<br />

X31 Satisfação no Campus Freqüência <strong>de</strong> satisfação no 1 – 5<br />

X32 Novos Conhecimentos Freqüência <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> novos 1 – 5<br />

X33 Ativida<strong>de</strong>s Freqüência <strong>de</strong> participação 1 – 5<br />

X34 Preparação das aulas Freqüência <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> aulas 1 – 5<br />

X35 Comunicação Docente Freqüência <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> boa 1 – 5<br />

X36 Desempenho Desempenho acadêmico no 1 – 5<br />

X48 Freqüência Semestral Percentual <strong>de</strong> Freqüência às aulas 1 – 5<br />

X37 Escolha da IES O que influenciou na escolha da 1 – 5<br />

X38 Reputação da IES Reputação da IES na socieda<strong>de</strong> 1 – 5<br />

X39 Satisfação com a IES Grau <strong>de</strong> satisfação para com a IES 1 – 5<br />

X40 Qualida<strong>de</strong> do Corpo Percepção da qualida<strong>de</strong> do corpo 1 – 5<br />

X41 Qualida<strong>de</strong> do Programa Percepção da qualida<strong>de</strong> do 1 – 5<br />

X42 Estrutura da IES Qualida<strong>de</strong> da estrutura física da 1 – 5<br />

X43 Qualida<strong>de</strong> dos Serviços Qualida<strong>de</strong> dos serviços prestados 1 – 5<br />

X44 Respeito Percepção do respeito da IES ao 1 – 5<br />

X45 Acompanhamento Percepção do acompanhamento 1 – 5<br />

X46 Controle Financeiro Percepção do nível <strong>de</strong> controle 1 – 5<br />

X47 Mensalida<strong>de</strong> Valor da mensalida<strong>de</strong> cobrada 1 – 5<br />

Fonte: Elaborado pelos Autores.<br />

Fatores Institucionais<br />

Tendo em vista a natureza da pesquisa e os objetivos já <strong>de</strong>scritos, a análise <strong>de</strong> dados<br />

será efetuada em duas etapas: 1) Análise estatística <strong>de</strong>scritiva, comparando os resultados com<br />

os discutidos no referencial teórico, e 2) Análise multivariada <strong>de</strong> dados, utilizando-se a análise<br />

discriminante, para <strong>de</strong>finição das variáveis com maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> discriminação entre os alunos<br />

adimplentes e inadimplentes.<br />

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

Foram aplicados 400 questionários, sendo 200 para alunos consi<strong>de</strong>rados inadimplentes<br />

(mais <strong>de</strong> 90 dias <strong>de</strong> atraso) e 200 para alunos consi<strong>de</strong>rados adimplentes, constituindo uma<br />

amostragem não probabilística. Dentre alunos inadimplentes 43 recusaram-se a respon<strong>de</strong>r à<br />

pesquisa e 57 preencheram o questionário <strong>de</strong> forma incorreta ou incompleta, inviabilizando sua<br />

utilização; no grupo <strong>de</strong> alunos adimplentes, 12 recusaram-se a participar e 26 preencheram o<br />

questionário <strong>de</strong> forma incorreta ou incompleta. Assim, o número <strong>de</strong> questionários utilizados na<br />

tabulação e análise foi <strong>de</strong> 262, sendo 162 questionários referentes aos alunos adimplentes e 100<br />

questionários <strong>de</strong> alunos inadimplentes. Dentre os alunos pesquisados observaram-se fatos que


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 69<br />

corroboraram as pesquisas <strong>de</strong>scritas no referencial teórico <strong>de</strong>ste trabalho; outros fatos<br />

contrapuseram-se.<br />

A distribuição <strong>de</strong> freqüência com relação ao sexo dos alunos pesquisados apresentou<br />

normalida<strong>de</strong>, com participações aproximadamente iguais, com 49,2% dos respon<strong>de</strong>ntes sendo<br />

do sexo masculino e 50,8% do sexo feminino. Os respon<strong>de</strong>ntes do sexo feminino representaram<br />

56% do total <strong>de</strong> inadimplentes, indicando uma ligeira propensão do sexo feminino à<br />

inadimplência. Um contraponto às conclusões <strong>de</strong> Woo (2002), Podgursky et al. (2002) e Flint<br />

(2002) que <strong>de</strong>tectaram que o sexo feminino seria menos propenso à inadimplência.<br />

Esta propensão se refletiu em todas as faixas etárias estudadas. Volkwein e Szelest<br />

(1995) e Knapp e Seaks (1992) não encontraram, em suas pesquisas, evidências significativas<br />

entre os sexos <strong>nas</strong> taxas <strong>de</strong> inadimplência.<br />

Volkwein et al. (1998) relacionaram a raça e o estado civil às taxas <strong>de</strong> inadimplência.<br />

Na presente pesquisa esta relação não ficou evi<strong>de</strong>nciada.<br />

Através <strong>de</strong> uma tabulação cruzada entre a condição <strong>de</strong> inadimplência e o número <strong>de</strong><br />

filhos, verificou-se que 71% dos inadimplentes não tinham filhos. A análise da amostra<br />

estudada sugere que a inadimplência não está relacionada ao fato <strong>de</strong> ter ou ao número <strong>de</strong> filhos,<br />

tendo em vista que o percentual <strong>de</strong> inadimplentes com filhos permaneceu praticamente<br />

imutável, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filhos.<br />

Rodrigues (2004) afirmou que, segundo a ACSP, o <strong>de</strong>semprego e a baixa renda são as<br />

maiores causas da inadimplência. Esta afirmação não é corroborada pela presente pesquisa.<br />

Verificou-se que 85,5% dos alunos respon<strong>de</strong>ntes, e que estavam inadimplentes, têm uma renda<br />

familiar superior à R$ 1.000 e, somente, pouco mais <strong>de</strong> 2% da inadimplência correspon<strong>de</strong>u a<br />

alunos com renda familiar até R$ 500. Observando que daqueles com renda familiar até R$<br />

500, ape<strong>nas</strong> 22,2% eram inadimplin<strong>de</strong>ntes, contra 47,6% <strong>de</strong> inadimplentes entre os alunos com<br />

renda familiar da faixa <strong>de</strong> R$ 2001 a R$ 3000. Percebeu-se, assim, que o percentual <strong>de</strong><br />

inadimplentes, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada faixa <strong>de</strong> renda familiar, cresceu com o aumento da renda,<br />

sugerindo que o risco <strong>de</strong> inadimplência é maior entre aqueles com um maior po<strong>de</strong>r aquisitivo.<br />

Rodrigues (2004) também afirmou que a maior da causa da inadimplência é o<br />

<strong>de</strong>semprego, o que não foi corroborado pela presente pesquisa. Dentre os alunos sem ocupação


70 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

profissional 31,1% estavam entre os inadimplentes, participação bem inferior às <strong>de</strong>mais classes,<br />

<strong>de</strong>stacando-se que, <strong>de</strong>ntre os alunos da Classe Empresário 64% estavam no grupo dos<br />

inadimplentes.<br />

Podgursky et al. (2002) verificaram em seu estudo que estudantes mais velhos eram<br />

mais propensos a inadimplir. Esta tendência foi corroborada pela presente pesquisa, on<strong>de</strong> se<br />

verificou um aumento do percentual <strong>de</strong> alunos inadimplentes para faixas etárias mais altas,<br />

34,6% para alunos até 21 anos contra 55% para alunos com mais <strong>de</strong> 40 anos.<br />

Dos alunos respon<strong>de</strong>ntes oriundos do ensino supletivo 33,3% fazem parte do grupo <strong>de</strong><br />

inadimplentes nos cursos até 2,5 anos <strong>de</strong> duração. Este percentual salta para 75% nos cursos <strong>de</strong><br />

3 anos e 40% nos cursos <strong>de</strong> 4 anos ou mais. Dentre os alunos oriundos da escola pública este<br />

percentual foi <strong>de</strong> 28,2% em cursos <strong>de</strong> 2,5 anos e 36,8% nos cursos <strong>de</strong> 4 anos ou mais. De uma<br />

forma geral, verificou-se que quanto maior a duração do curso, maior será o percentual <strong>de</strong><br />

alunos inadimplentes, salvo para o curso da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com duração maior que 4 anos, que<br />

apresentou uma inadimplência menor.<br />

Montever<strong>de</strong> (2000) e Christman (2000) relataram correlações entre a inadimplência e a<br />

atitu<strong>de</strong> do estudante perante o débito. O presente estudo <strong>de</strong>monstrou que 7% dos inadimplentes<br />

têm conhecimento dos benefícios da “Lei do Calote”, 58,6% dos inadimplentes afirmaram que<br />

“atrasam somente se necessário”, um viés em relação às respostas: 32,4% dos inadimplentes<br />

afirmaram que nunca atrasam as mensalida<strong>de</strong>s ou sempre as pagam <strong>de</strong> forma antecipada ao<br />

vencimento e 2% atrasam em até 15 dias. Este viés, contudo, não invalida as suposições<br />

<strong>de</strong>correntes, <strong>de</strong> que os atrasos estão relacionados a uma momentânea dificulda<strong>de</strong> financeira.<br />

Desta forma, se a inadimplência é maior entre os estudantes pertencentes às famílias<br />

com rendas mais altas, é lógico supor que a momentânea dificulda<strong>de</strong> financeira seja oriunda<br />

dos gastos realizados com outras contas consi<strong>de</strong>radas mais importantes pelos estudantes e/ou<br />

suas famílias. O estudo, contudo apresentou um fato paradoxal: as famílias <strong>de</strong> inadimplentes<br />

com rendas mais altas não apresentaram endividamento ou ônus financeiros sobre automóveis<br />

ou moradia.<br />

Segundo Rodrigues (2004), <strong>de</strong>spesas com financiamentos <strong>de</strong> imóvel, financiamento <strong>de</strong><br />

automóvel, <strong>de</strong>spesas básicas (telefone, água, luz etc.) e <strong>de</strong>spesas com cartão <strong>de</strong> crédito são


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 71<br />

prioritárias em relação à educação. O resultado da pesquisa apontou que para aqueles alunos<br />

com limites <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito mais elevados, portanto com um maior potencial <strong>de</strong> dívida,<br />

existe uma menor propensão à inadimplência.<br />

Analisando as variáveis que correspon<strong>de</strong>m aos fatores geradores <strong>de</strong> dívidas, verificou-<br />

se um paradoxo: alunos com menores dívidas e maiores rendas estão mais propensos à<br />

inadimplência, quando o oposto faria mais sentido, segundo Woo (2002). Desta forma, a<br />

afirmativa <strong>de</strong> Rodrigues (2004), em que a educação teria menor priorida<strong>de</strong>, fica contestada por<br />

este estudo, consi<strong>de</strong>rando que aqueles com menor renda, mesmo tendo financiamentos e/ou<br />

aluguel para pagar ficam inadimplentes em menor número.<br />

Segundo Steiner e Teszler (2003), Woo (2002), Christman (2000), Flint (1997) e<br />

Volkwein e Szelest (1995), o <strong>de</strong>sempenho acadêmico estaria relacionado com a inadimplência.<br />

A presente pesquisa parece corroborar com os citados autores, tendo em vista que a taxa <strong>de</strong><br />

inadimplência sofre reduções significativas à medida que um melhor <strong>de</strong>sempenho acadêmico é<br />

obtido, o número <strong>de</strong> inadimplentes é bem maior para alunos com baixo rendimento acadêmico.<br />

Verificou-se, <strong>de</strong>sta forma, que o sucesso acadêmico tem relação com a inadimplência:<br />

daqueles alunos que obtiveram <strong>de</strong>sempenho acadêmico inferior à média mínima exigida para<br />

dispensa do exame final em cada disciplina 50% estavam inadimplentes, contra 25% dos alunos<br />

com notas consi<strong>de</strong>radas excelentes. Vale observar que « Segundo o regimento interno da IES<br />

pesquisada, os alunos que obtiverem <strong>de</strong>sempenho acadêmico semestral, por disciplina, igual ou superior a<br />

sete, consi<strong>de</strong>rando as notas parciais, ficam dispensados <strong>de</strong> se submeterem à prova final para obter a<br />

aprovação na disciplina ».<br />

Steiner e Teszler (2003) também apontaram para um papel mo<strong>de</strong>rado da área <strong>de</strong><br />

conhecimento do curso e o caráter dos cursos nos índices <strong>de</strong> inadimplência. Tal observação foi<br />

constatada, os alunos matriculados nos cursos da área <strong>de</strong> ciências sociais aplicadas apresentam<br />

uma maior propensão para inadimplir, enquanto que a área <strong>de</strong> ciências huma<strong>nas</strong> tem uma menor<br />

propensão; as áreas <strong>de</strong> tecnologia e saú<strong>de</strong> apresentaram resultados semelhantes entre si.<br />

Com referência ao tipo <strong>de</strong> curso, observou-se que os cursos <strong>de</strong> Graduação Tecnológica<br />

apresentaram uma menor propensão à inadimplência com 28,8% dos alunos, <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong>,<br />

entrevistados consi<strong>de</strong>rados inadimplentes. Dentre os cursos <strong>de</strong> Bacharelado e Licenciatura,


72 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

on<strong>de</strong> se encontram os cursos <strong>de</strong> ciências sociais aplicadas, a participação dos inadimplentes foi<br />

<strong>de</strong> 45%.<br />

Verificou-se também que a taxa <strong>de</strong> inadimplência era maior entre aqueles alunos com<br />

uma menor <strong>de</strong>dicação aos estudos, ou seja, alunos com menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas semanais<br />

<strong>de</strong>dicadas ao estudo tiveram uma maior propensão à inadimplência.<br />

A correlação entre a <strong>de</strong>dicação ao estudo e a inadimplência é comprovada ao verificar-<br />

se que a participação <strong>de</strong> alunos inadimplentes é reduzida à medida que a freqüência às aulas<br />

aumenta: 57% entre os alunos na faixa <strong>de</strong> 75-80% <strong>de</strong> freqüência, contra 18,5% entre os alunos<br />

com mais <strong>de</strong> 95% <strong>de</strong> freqüência.<br />

Outros fatores relacionados com aspectos acadêmicos, como estimulação intelectual<br />

com o conteúdo ministrado durante as aulas, grau <strong>de</strong> satisfação com experiências adquiridas no<br />

meio acadêmico, aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos, participação em ativida<strong>de</strong>s<br />

extracurriculares, percepção do nível <strong>de</strong> preparo das aulas e comunicação com os docentes, não<br />

apresentaram resultados conclusivos sobre alguma correlação direta com a inadimplência.<br />

Contudo verificou-se uma correlação entre a freqüência às aulas e a estimulação intelectual<br />

com o conteúdo ministrado: 85% dos alunos que compareceram a mais <strong>de</strong> 82% das aulas,<br />

respon<strong>de</strong>ram que “sempre” ficavam estimulados com o conteúdo ministrado.<br />

O resultado da pesquisa apresentou um fato curioso, porém já esperado, <strong>de</strong>ntre os<br />

alunos inadimplentes: a taxa <strong>de</strong> inadimplência <strong>de</strong>cresce com o aumento do valor das<br />

mensalida<strong>de</strong>s. Isto sugere que mensalida<strong>de</strong>s mais baratas atrairiam alunos com um menor po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo, portanto, com um maior risco para a inadimplência em função da renda.<br />

Entretanto, apresentou-se um outro paradoxo: 71,7 % dos alunos com mensalida<strong>de</strong>s até<br />

R$ 300 pertencem a famílias com renda superior à R$ 1.000, e conforme já comentado, 85,5%<br />

dos inadimplentes pertencem à mesma faixa <strong>de</strong> renda, contrariando a hipótese <strong>de</strong> que<br />

mensalida<strong>de</strong>s menores atraem alunos com rendas familiares menores.<br />

Dentro dos fatores institucionais, as variáveis relativas à escolha pela instituição e grau<br />

<strong>de</strong> satisfação percebido não apresentaram indícios <strong>de</strong> contribuir para a inadimplência. A<br />

opinião dos alunos sobre a reputação da instituição perante a socieda<strong>de</strong> apresentou algum


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 73<br />

indício <strong>de</strong> influir na inadimplência ape<strong>nas</strong> entre aqueles que opinaram que a socieda<strong>de</strong> percebe<br />

a IES como <strong>de</strong> “péssima” reputação; <strong>de</strong>ntre estes alunos, 60% ficaram inadimplentes.<br />

A opinião dos alunos sobre o programa <strong>de</strong> seus respectivos cursos apresentou alguns<br />

indícios <strong>de</strong> influência na inadimplência. Alunos que classificaram os programas <strong>de</strong> seus cursos<br />

como péssimo, fraco ou regular apresentaram maiores percentuais <strong>de</strong> inadimplência, ao passo<br />

que os alunos que classificaram os programas dos cursos como bom ou excelente apresentaram<br />

menores percentuais <strong>de</strong> inadimplência.<br />

A opinião dos alunos sobre a qualida<strong>de</strong> do corpo docente e a estrutura física da IES<br />

teve resultados semelhantes; entre 67% e 70% dos alunos que consi<strong>de</strong>raram estas variáveis<br />

como <strong>de</strong>sempenho “Fraco”, situaram-se no grupo dos inadimplentes, entretanto, a participação<br />

<strong>de</strong>sses alunos, entre os inadimplentes, é mínima.<br />

Os serviços <strong>de</strong> apoio aos alunos, prestados pela IES, o nível <strong>de</strong> respeito da IES para<br />

com os alunos, segundo suas percepções, e a atitu<strong>de</strong> da IES em relação ao aprendizado dos<br />

alunos não apresentaram indícios <strong>de</strong> influir na inadimplência.<br />

Quando solicitada a opinião dos alunos sobre a atitu<strong>de</strong> da IES quanto ao controle<br />

financeiro das mensalida<strong>de</strong>s, a resposta surpreen<strong>de</strong>u: 82% dos alunos inadimplentes<br />

consi<strong>de</strong>raram a atitu<strong>de</strong> da IES como “BOA” ou ‘EXCELENTE”, <strong>de</strong>stacando que 52,9% dos<br />

alunos que opinaram a atitu<strong>de</strong> da IES como “BOA” situaram-se no grupo dos inadimplentes.<br />

Este resultado levar a crer que falta <strong>de</strong> cobrança ou até mesmo a “Lei do Calote” têm pouca<br />

influência na inadimplência, o oposto do que se esperava.<br />

Observou-se que vários fatores, quando analisados <strong>de</strong> forma individual, <strong>de</strong>monstraram<br />

ter alguma influência na inadimplência registrada na IES pesquisada. Contudo tais observações<br />

não são suficientes para afirmar se estes fatores, quando combinados, realmente têm influência<br />

no fenômeno da inadimplência.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar quais variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, analisadas em conjunto,<br />

melhor diferenciam ou discriminam os alunos adimplentes dos inadimplentes, aplicou-se uma<br />

análise discriminante com abordagem <strong>de</strong> validação cruzada. Como corolário <strong>de</strong> tal análise<br />

obteve-se um mo<strong>de</strong>lo matemático que classifica o aluno como adimplente ou inadimplente, com<br />

uma taxa <strong>de</strong> acerto <strong>de</strong> 73%, utilizando as variáveis consi<strong>de</strong>radas mais importantes. Vale


74 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

salientar que os mo<strong>de</strong>los utilizados por especialistas do sistema financeiro, para concessão <strong>de</strong><br />

crédito, apresentam taxa <strong>de</strong> acerto da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 70%. Desta forma, a taxa <strong>de</strong> acertos obtida<br />

neste trabalho cre<strong>de</strong>ncia o mo<strong>de</strong>lo obtido como aceitável, porém sugere-se cautela em sua<br />

utilização.<br />

De acordo com o mo<strong>de</strong>lo discriminante obtido, <strong>de</strong> uma forma geral, os alunos<br />

classificados como inadimplentes são aqueles que:<br />

• Não estão motivados a manter as mensalida<strong>de</strong>s em dia;<br />

• Estudam em cursos não condizentes com suas aspirações profissionais;<br />

• Estudam em cursos diferentes <strong>de</strong> suas vocações;<br />

• Têm pouco incentivo da família; e<br />

• Têm pouca participação em ativida<strong>de</strong>s extracurriculares da instituição.<br />

Assim, verificou-se que os fatores sócio-econômicos, quando combinados com fatores<br />

sociais, acadêmicos e institucionais têm pouca importância no fenômeno da inadimplência do<br />

ensino superior privado. Fatores institucionais, como estrutura física da instituição e qualida<strong>de</strong><br />

do corpo docente, também apresentaram pouca importância. Os principais fatores<br />

condicionantes da inadimplência na instituição pesquisada apresentaram-se como sendo fatores<br />

pessoais e acadêmicos, estando relacionados com o compromisso e o incentivo dado ao aluno<br />

na busca da melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

O resultado da pesquisa aponta para a Teoria do capital humano, como já exposto por<br />

Volkwein et al. (1998), que enfatizaram as variáveis que refletem o <strong>de</strong>sejo do aluno em investir<br />

em educação como forma <strong>de</strong> obter um maior retorno financeiro no futuro.<br />

O resultado, também, corrobora o trabalho <strong>de</strong> Flint (1997), quando <strong>de</strong>tectou que quanto<br />

maior a incongruência entre a área <strong>de</strong> conhecimento e o trabalho atual, maior o risco <strong>de</strong><br />

inadimplência.


7 CONCLUSÃO<br />

Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 75<br />

Utilizando uma metodologia quantitativa e qualitativa, por meio <strong>de</strong> análise estatística o<br />

objetivo do trabalho foi atingido. Contudo, os resultados obtidos, resultantes <strong>de</strong> indicadores<br />

oriundos da instituição pesquisada, <strong>de</strong>verão ser utilizados com cautela em outras IES, dado que<br />

o cenário gerador dos indicadores po<strong>de</strong>rá ser completamente diferente.<br />

Os fatores mais importantes, que pu<strong>de</strong>ram ser inferidos, foram:<br />

A motivação do aluno com respeito ao ato <strong>de</strong> pagar a mensalida<strong>de</strong> escolar;<br />

O tipo <strong>de</strong> curso escolhido pelo aluno;<br />

A área do conhecimento na qual <strong>de</strong>verão empreen<strong>de</strong>r seus estudos;<br />

O grau <strong>de</strong> incentivo proporcionado pela família do aluno, com respeito ao<br />

estudo <strong>de</strong> nível superior; e<br />

A freqüência das participações do aluno em ativida<strong>de</strong>s extracurriculares<br />

proporcionadas pela IES.<br />

Outras conclusões também pu<strong>de</strong>ram ser inferidas:<br />

A relação entre o perfil sócio-econômico e acadêmico dos alunos da instituição<br />

pesquisada não apresentou gran<strong>de</strong> importância na inadimplência ocorrida na instituição,<br />

embora conclusões interessantes possam tiradas, analisando-se individualmente os fatores;<br />

A relação entre as características, percebidas pelos alunos, da instituição <strong>de</strong><br />

ensino superior estudada e a inadimplência, não <strong>de</strong>monstrou ser relevante, ou seja, a percepção<br />

da qualida<strong>de</strong> estrutural da instituição não <strong>de</strong>monstrou influenciar a inadimplência;<br />

O fato dos alunos não estarem motivados a manter suas mensalida<strong>de</strong>s em dia não<br />

significa necessariamente que a IES não os incentive a pagar suas mensalida<strong>de</strong>s. O resultado da<br />

pesquisa leva a crer que a estratégia utilizada pela IES não está sendo eficazmente absorvida<br />

pelos alunos. A própria análise estatística <strong>de</strong>scritiva já apontara um viés na avaliação dos<br />

alunos, quando vários daqueles que alegaram o pagamento em dia ou antecipado, estavam<br />

incluídos no rol dos inadimplentes. Este fator é plenamente gerenciável pela IES.


76 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Os fatores Tipo <strong>de</strong> Curso e Área <strong>de</strong> Conhecimento também são gerenciáveis. A título<br />

<strong>de</strong> orientação vocacional, a IES po<strong>de</strong>, sob pena <strong>de</strong> comprometer seu negócio, participar na<br />

<strong>de</strong>cisão do aluno sob qual tipo <strong>de</strong> curso (Tecnológico ou Graduação) <strong>de</strong>verá ser cursado e em<br />

que área do conhecimento <strong>de</strong>verá realizar seus estudos. Desta forma, é possível realizar um<br />

acompanhamento mais minucioso dos alunos, <strong>de</strong> forma estratificada, por tipo <strong>de</strong> curso e área do<br />

conhecimento, dando uma maior ênfase naqueles grupos estatisticamente mais problemáticos.<br />

Com respeito à falta <strong>de</strong> incentivo da família, suspeita-se da baixa priorida<strong>de</strong> dada, pela<br />

família do aluno, à educação superior. Talvez, não sendo a educação percebida como um<br />

instrumento <strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, não dando a <strong>de</strong>vida importância no rol dos<br />

investimentos ou das <strong>de</strong>spesas prioritárias, consistindo um fator que po<strong>de</strong> ser trabalhado pela<br />

instituição.<br />

A pouca participação do aluno <strong>nas</strong> ativida<strong>de</strong>s extracurriculares sugere uma falta <strong>de</strong><br />

compromisso com os seus estudos, o que po<strong>de</strong> levá-lo a não priorizar a educação no rol dos<br />

seus gastos ou investimentos.<br />

Fatores como renda familiar, sexo, ida<strong>de</strong>, tempo <strong>de</strong> residência e existência <strong>de</strong> outros<br />

financiamentos, que normalmente são utilizados <strong>nas</strong> composições <strong>de</strong> credit scoring do sistema<br />

<strong>de</strong> financeiro, po<strong>de</strong>m apresentar correlações, algumas até surpreen<strong>de</strong>ntes, com a inadimplência,<br />

quando analisados <strong>de</strong> forma individual. .<br />

O resultado da pesquisa apresenta uma conotação social que sugere que o grau <strong>de</strong><br />

comprometimento do aluno é função do valor percebido da educação superior, que por sua<br />

feita, seria <strong>de</strong>terminada pelo convívio na socieda<strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rna. Ou seja, os alunos<br />

inadimplentes dão priorida<strong>de</strong> aos valores mais perceptíveis pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo,<br />

comprovando o paradigma pós-mo<strong>de</strong>rno: “Ter para Ser, e não, Ser para Ter”.<br />

Assim, a hipótese <strong>de</strong> que a inadimplência no ensino superior privado é função da<br />

realida<strong>de</strong> sócio-econômica <strong>de</strong> cada aluno, do seu grau <strong>de</strong> comprometimento e <strong>de</strong>sempenho<br />

acadêmico, do conceito do curso e do nível dos serviços prestados pela instituição, os quais têm<br />

influência junto ao responsável financeiro pelas mensalida<strong>de</strong>s, para honrar ou não o<br />

compromisso assumido, foi comprovada somente no que diz respeito a aspectos sociais e grau<br />

<strong>de</strong> comprometimento do aluno, os <strong>de</strong>mais fatores componentes da hipótese não foram


Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 77<br />

comprovados, havendo uma quebra no paradigma <strong>de</strong> que a inadimplência no ensino superior é<br />

fruto ape<strong>nas</strong> das realida<strong>de</strong>s econômica e financeira do aluno.<br />

Dada a limitação do estudo <strong>de</strong> caso, sugere-se a realização do estudo em outras<br />

instituições congêneres, a fim <strong>de</strong> verificar se os fatores condicionantes aqui <strong>de</strong>monstrados têm<br />

o mesmo papel nestas outras instituições.<br />

Sugere-se também a elaboração <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo estatístico <strong>de</strong> previsão com a utilização<br />

somente <strong>de</strong> fatores sociais, que possam ser coletados no ato da matrícula do aluno. Este mo<strong>de</strong>lo<br />

seria útil para i<strong>de</strong>ntificar quais alunos teriam uma maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inadimplir durante o<br />

semestre a iniciar, possibilitando à instituição elaborar alternativas e trabalhar os principais<br />

fatores junto aos alunos no <strong>de</strong>correr do período letivo.<br />

Ainda como sugestão a futuras pesquisas e complementação do presente estudo,<br />

propõe-se uma investigação dos aspectos antropológicos, sociológicos e psicológicos que<br />

<strong>de</strong>terminam a baixa priorida<strong>de</strong> dada à educação em favorecimento <strong>de</strong> outros valores.


78 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Abstract<br />

The Default on Private Higher Education Institutions:<br />

Financial or social causes?<br />

The new “Law of Gui<strong>de</strong>lines for the Brazilian Education” has promoted a unique expansion in the<br />

amount of Higher Education Institutions (HEI), providing an opportunity for thousand of Brazilians to<br />

have access to higher education, but on the other hand, a phenomenon of unseen proportions has risen:<br />

stu<strong>de</strong>nt <strong>de</strong>fault. This research aims to verify which factors have conditioned the phenomenon in a private<br />

HEI at the city of Fortaleza-CE. It was verified that aca<strong>de</strong>mic literature on the theme in Brazil is scarce.<br />

Therefore, for theoretical background, several researches accomplished at other countries, and that<br />

approached the theme, were consi<strong>de</strong>red. Through statistical analysis, using Discriminant Analysis with<br />

cross validation, it was verified in the studied sample that stu<strong>de</strong>nt <strong>de</strong>fault was related to stu<strong>de</strong>nts’ personal<br />

and social-economical profiles, aca<strong>de</strong>mic and institutional factors, therefore, manageable. The<br />

presupposition that stu<strong>de</strong>nt <strong>de</strong>fault is only related with financial factors was not confirmed.<br />

Keywords: Brazilian education, Higher education, Stu<strong>de</strong>nt <strong>de</strong>fault.<br />

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In: Seminário - A Questão do Financiamento, 2004, Havana-Cuba. Anais Eletrônicos...<br />

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80 Revista Científica da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009<br />

Ari Holanda Júnior<br />

Mestre em Administração <strong>de</strong> Empresas - UNIFOR<br />

Especialista em Gerência da Produção - UNIFOR<br />

Bacharel em Engenharia Civil<br />

Professor da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho - <strong>FLF</strong><br />

Coord. Núcleo <strong>de</strong> Desenvolvimento Profissional e Estágios da Faculda<strong>de</strong> Lourenço Filho<br />

e-mail: arijr@bay<strong>de</strong>net.com.br<br />

Heber José <strong>de</strong> Moura<br />

Doutor em Administração <strong>de</strong> Empresas – FGF-SP<br />

Mestre em Análise <strong>de</strong> Sistemas - INPE<br />

Bacharel em Estatística<br />

Professor Titular do Curso <strong>de</strong> Mestrado em Administração <strong>de</strong> Empresas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Fortaleza – UNIFOR<br />

e-mail: heberm@unifor.br

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