O método indutivo - FLF
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Resumo:<br />
O <strong>método</strong> <strong>indutivo</strong><br />
Gerardo Valdisio Rodrigues Viana<br />
Rev. Cient. Fac. Lour. Filho – v.5, n.1, 2007<br />
Universidade Federal do Ceará - Universidade Estadual do Ceará<br />
Eliéser Sales Pereira<br />
Faculdade Lourenço Filho<br />
A indução tem sido utilizada para justificar a maioria das leis e teorias científicas. O <strong>método</strong><br />
<strong>indutivo</strong> parte da experiência de casos particulares para a generalização ou universalização; ou seja, as<br />
conclusões são mais abrangentes que as premissas, objetivando, para os indutivistas como Bacon, uma<br />
clara ampliação do conhecimento; no entanto, esta questão não é consensual, pois na investigação das<br />
chamadas “verdades gerais”, a partir de um número impreciso de casos observados, a inferência para os<br />
demais casos pode ser ilegítima, denotando uma falibilidade do <strong>método</strong>. Portanto, para os críticos do<br />
indutivismo, como Hume e Popper, as falhas conceituais inerentes ao princípio da indução não podem<br />
comprovar cientificamente uma teoria, daí ter surgido o chamado “problema da indução”, que será<br />
apresentado neste trabalho através do enfoque conceitual de toda sua fundamentação, origem e soluções<br />
apresentadas por consagrados filósofos.<br />
Palavras-chave: Raciocínio Indutivo. Redução ao Absurdo. Probabilidade Indutiva. Indução<br />
Matemática.<br />
Introdução<br />
Em sua fase inicial de reflexão filosófica o ser humano tinha interesse em conhecer bem a<br />
cosmologia e a cosmogonia, ou seja, ele desejava entender o funcionamento do universo, de<br />
seus fenômenos, de suas forças e de sua origem [14]. Esta busca do conhecimento estava em<br />
todas as religiões e mitologias.<br />
A fase seguinte da evolução do conhecimento humano é caracterizada pelo surgimento da<br />
Teoria, onde se buscava uma unidade de compreensão racional baseada na organização, na<br />
integração e na dinamização do conhecimento. Atribui-se aos gregos esta substituição do<br />
estágio mítico-religioso do conhecimento por uma explicação teórica e racional; para Tales de<br />
Mileto (625–548 a.C.), a origem de todas as coisas era a água ou physis que significava tanto<br />
“fonte originária” como “processo de surgimento e desenvolvimento” [02]; Pitágoras (582–500
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a.C.) defendia que todas as coisas do universo tinham uma estrutura numérica; Parmênides<br />
(530–460 a.C.) estabeleceu pela primeira vez o princípio lógico-ontológico de identidade “o que<br />
é, é - e não pode deixar de ser”.<br />
O terceiro momento do pensamento humano é atribuído a Aristóteles (384–322 a.C.) por<br />
ter estabelecido uma visão realista do mundo e do homem, destacando a elaboração de um<br />
<strong>método</strong> de pesquisa (a lógica) e de uma forma de exposição (o tratado), estabelecendo, em<br />
definitivo, a sistematização, o <strong>método</strong>, a linguagem, a experiência e a racionalidade como base<br />
do conhecimento.<br />
A trajetória do saber se configura, então, em duas dimensões, uma “ampliativa” que<br />
trouxe como conseqüência o constante crescimento do saber, tanto qualitativa como<br />
quantitativamente e outra “delimitativa” através das quais poderiam ser definidas as fronteiras e<br />
as relações entre os diversos tipos de saber [15].<br />
Pode-se afirmar que a partir de Sócrates (470–399 a.C.), Platão (427–347 a.C.), e<br />
Aristóteles, a aventura do conhecimento foi conduzida pela reflexão racional; quando são<br />
definidas a lógica formal aristotélica e os principais problemas de ordem gnosiológica: realismo<br />
ou idealismo; conhecimento objetivo ou subjetivo; certeza ou conjectura; conhecimento a priori<br />
ou a posteriori; conhecimento dedutivo ou <strong>indutivo</strong>.<br />
Aristóteles usou e definiu a indução como uma ascensão do particular ao universal<br />
(inverso do silogismo), admitido que o universal na indução resulte de uma enumeração<br />
adequada, dita também enumeração suficiente, quando fosse possível enumerar todos os dados<br />
teria uma indução completa ou virtualmente completa, chamada científica.<br />
O problema da indução somente veio a ser questionado por David Hume (1711–1776)<br />
quando levantou, e negou através de exemplos, questões da validade lógica do <strong>método</strong> <strong>indutivo</strong><br />
[07], abalando a confiança dos indutivistas e causando discussões sobre o tema que persistem<br />
até hoje.<br />
As ciências empíricas se caracterizam pelo fato de empregarem o pensamento <strong>indutivo</strong><br />
[11]. Uma inferência é dita indutiva, caso ela conduza enunciados “particulares”, tais como<br />
descrições dos resultados das observações ou experimentos, para enunciados “universais”, tais<br />
como hipóteses ou teorias. Karl Popper (1902–1994) considera que do ponto de vista lógico isto
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não se justifica por mais numerosos que sejam os enunciados particulares; e cita “independente<br />
de quantos casos de cisnes brancos possamos observar isso não justifica que todos os cisnes<br />
sejam brancos” [11].<br />
Tais discussões, juntamente com diversos conceitos sobre o <strong>método</strong> <strong>indutivo</strong> descritos<br />
neste trabalho, têm por objetivo a compreensão da problemática do raciocínio <strong>indutivo</strong> [02].<br />
1 RACIOCÍNIO INDUTIVO<br />
A lógica da indução ou da inferência indutiva é conhecida como “generalização indutiva”<br />
[15]. Consiste na derivação de um juízo universal a partir de um particular. O termo “particular”<br />
refere-se a observações singulares que geram um número igual de verdades; assim, quando se<br />
diz que um cisne é branco, o predicado “branco” aplica-se somente ao cisne observado e não<br />
aos outros. Já o termo “universal”, ao contrário, é extensivo; indicando que o predicado<br />
“branco” aplica-se a qualquer cisne existente; o que significa dizer que a partir do conhecimento<br />
de casos particulares, através da observação, pode-se chegar ao conhecimento do universo em<br />
estudo.<br />
A dificuldade deste enfoque reside no fato de se determinar a quantidade de experiências<br />
suficientes para a passagem de um nível para outro, de modo que a relação “particular /<br />
universal” deve estar bem definida.<br />
1.1 O Universal<br />
O universal é alguma coisa que se predica a um objeto particular. Kant fez uma revolução<br />
na concepção dos universais; para ele o conhecimento não está nos objetos que são<br />
incognoscíveis, mas sim no sujeito (cognoscente) que possui formas e categorias a priori, isto é,<br />
anteriores à experiência empírica, independentemente de qualquer relação com o objeto.<br />
As soluções apresentadas para o problema dos universais foram o “realismo” e o<br />
“nominalismo”, porém, segundo Popper, nenhuma delas fornece fundamentação lógica para o<br />
problema da indução; pois se o realismo fosse a solução o universal seria a designação de todos<br />
os objetos de uma mesma espécie, assim a passagem do particular para o universal exigiria o<br />
conhecimento do que existe em todos os objetos de uma mesma espécie o que não é possível. Se<br />
o nominalismo fosse uma explicação coerente dos universais estes seriam apenas nomes com
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função única de predicado de um objeto particular e a passagem de um nível para outro exigiria<br />
a predicação deste universal a cada um e a todos os objetos passíveis.<br />
1.2 Redução ao Absurdo<br />
Zenão de Eléia (488–430 a.C.), introduziu o absurdo aparente como princípio de<br />
raciocínio filosófico; ele é considerado o criador da dialética, isto é, da lógica entendida como<br />
redução ao absurdo [04].<br />
Tal <strong>método</strong> servia para demonstrar, ironicamente, a falsidade das proposições de um<br />
adversário, através de dois <strong>método</strong>s contestatórios: a probatio per absurdum (prova pelo<br />
absurdo) e a reductio ad absurdum (redução ao absurdo). No primeiro caso, se pretendia provar<br />
a verdade de uma proposição pela falsidade evidente de sua contraditória e no segundo caso<br />
ocorria uma inversão do significado inicial de uma proposição, provando-se a sua falsidade.<br />
A noção do absurdo esteve, assim, latente nas chamadas filosofias irracionais, ou seja,<br />
aquelas que se recusavam a encontrar uma explicação racional para a existência. Tal noção era<br />
encontrada em muitas expressões artísticas do passado, sobretudo nas manifestações do<br />
nonsense, do fantástico, da literatura dos sonhos e do humor negro.<br />
1.3 A Indução Matemática<br />
Como já foi mencionada, a indução, usada em todas as ciências, é o processo de<br />
descoberta de leis gerais pela observação e combinação de exemplos particulares. A indução<br />
matemática é usada apenas na matemática para provar certos tipos de teoremas; aplica-se aos<br />
conjuntos enumeráveis, tendo uma “Base”, onde se mostra que uma propriedade P é verdadeira<br />
para certo elemento deste conjunto X1, uma “Hipótese”, onde assume que P é verdadeira para o<br />
elemento Xk e um “Passo Indutivo” onde se mostra que P é verdadeira para o elemento Xk+1.<br />
Não há muita ligação lógica entre os processos da indução generalizada e da indução<br />
matemática, no entanto, há algumas ligações práticas. Polya [10] critica a semelhança destas<br />
designações dizendo que esta proximidade não é conveniente já que não se refere a um mesmo<br />
processo.<br />
Através do caso particular 1 3 + 2 3 + 3 3 + 4 3 = 10 2 , Polya coloca a seguinte hipótese: A<br />
soma dos primeiros n cubos é um quadrado. O autor tenta seguir os mesmos passos que um<br />
naturalista seguiria para provar a existência de uma lei geral, ou seja, ele investigaria outros
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casos especiais. Para n=2 ou 3 a certificação é simples; o caso n=5 é o próximo (1 3 + 2 3 + 3 3 + 4 3<br />
+ 5 3 = 15 2 ), acrescentaria, para salvaguardar a uniformidade e completude, o caso n=1 e<br />
arranjando todos estes casos, como um geólogo arranjaria os espécimes de um certo minério,<br />
obteria uma tabela verdade.<br />
É difícil acreditar que todos estes resultados sejam verdadeiros por mero acaso; do mesmo<br />
modo, o naturalista teria poucas dúvidas de que a lei geral sugerida pelos casos especiais até<br />
então observados não fosse correta; a lei geral é quase provada por indução.<br />
O matemático se expressa com maior reserva embora fundamentalmente pense da mesma<br />
forma. Ele diria que o teorema seguinte é fortemente sugerido por indução: “a soma dos<br />
primeiros n cubos é um quadrado”. Surge aqui a diferença entre os dois processos em causa;<br />
para o naturalista a lei geral é quase provada por indução; para Polya a matemática tem uma<br />
fase experimental muito parecida com as ciências da natureza, no entanto, a observação de<br />
alguns casos particulares arranjados elegantemente apenas lhe permite dizer que o teorema é<br />
fortemente sugerido, mas não permite provar a sua verdade.<br />
Poder-se-ia dizer que a indução matemática difere da indução clássica, na medida em que<br />
contém uma demonstração.<br />
1.4 A Indução segundo Bacon<br />
Francis Bacon (1561–1626) diz que “toda ciência começa pela observação, para depois,<br />
proceder vagarosa e cautelosamente à formulação de teorias” [11]; e sintetiza “a observação é<br />
uma fonte verdadeira do conhecimento científico”. Bacon preconizava que a experiência e a<br />
razão comporiam as pilastras de seu novo <strong>método</strong> científico: a “indução experimental” [02]; ele<br />
defendia a necessidade de que o cientista se afastasse do empirismo radical e do racionalismo<br />
exagerado.<br />
De acordo com Bacon a indução exige o cumprimento das seguintes etapas: primeiro,<br />
neutralizar o <strong>método</strong> da antecipação da natureza; segundo, estabelecer o conhecimento da forma<br />
(estrutura e lei que regula o seu processo); terceiro, organizar um registro do fenômeno<br />
estudado; quarto, enunciar a primeira hipótese explicativa provisória; quinto, testar a hipótese<br />
através das instâncias prerrogativas e por último confirmar ou não a hipótese; se não confirmada<br />
enunciar nova hipótese provisória e repetir o procedimento a partir da quarta etapa.
1.5 Probabilidade Indutiva<br />
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John Locke (1632–1704) distingue os argumentos em demonstrativos e prováveis,<br />
dividindo-os em demonstrações, provas e probabilidades; entendendo-se por prova todo o<br />
argumento derivado da experiência que não suscita dúvida ou oposição [07].<br />
Hume diz que “embora o acaso seja algo inexistente no mundo, a nossa ignorância da<br />
causa real de qualquer acontecimento tem a mesma influência sobre o entendimento, e produz<br />
idêntica espécie de crença ou opinião” [07]. Se um número grande de casos favoráveis para um<br />
dado objeto é observado é mais provável que a expectativa relativa que o mesmo resultado se<br />
repita é mais firme e segura.<br />
Nessa forma de raciocínio <strong>indutivo</strong> o que interessa é a probabilidade de conclusão que<br />
corresponde à probabilidade indutiva do argumento, por exemplo, se 90% dos estudantes de<br />
computação são criativos, e o aluno X é um estudante de computação, então X é criativo.<br />
Esse <strong>método</strong> é aplicado nas pesquisas eleitorais; quando se observa, por exemplo, que<br />
60% de uma amostra de 5000 eleitores, escolhidos ao acaso, dizem votar num candidato X, logo<br />
(conclusão provável) 60% de todos os eleitores votarão em X.<br />
Embora demos nossa preferência ao que se constatou mais usual, e acreditamos que esse é<br />
o efeito que vai ocorrer, não podemos negligenciar os restantes efeitos, mas temos que atribuir a<br />
cada um deles um particular peso proporcionalmente à freqüência maior ou menor que se tem<br />
apresentado.<br />
O PROBLEMA DA INDUÇÃO<br />
O problema da demonstração indutiva está em como caminhar de dados singulares para<br />
uma conclusão universal. Esta caminhada se apresenta, sobretudo, difícil para as doutrinas<br />
empiristas, que em princípio, reduzem os dados individuais à sua individualidade apenas.<br />
Um dos problemas básicos da filosofia do conhecimento diz respeito à justificação das leis<br />
e teorias científicas; para saber se são verdadeiras utilizam-se a dedução e a indução, ou a<br />
combinação destes dois processos. Relativamente à dedução não há controvérsias, uma vez que<br />
os processos lógico-dedutivos estão bem definidos. O problema do raciocínio <strong>indutivo</strong>
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está no fato de que, contrariamente à dedução, a verdade das premissas não<br />
garante a verdade da conclusão.<br />
A observação científica não é simples observação de fatos: a ciência não parte da<br />
observação dos fenômenos, mas da formulação de problemas. Observado ou analisado o<br />
fenômeno, o cientista passa à formulação de uma hipótese que o explique; essa hipótese,<br />
embora se relacione com os dados da observação, não deriva diretamente deles; no entanto, a<br />
indução está na base de muitas hipóteses. A partir dos casos observados pode-se formular uma<br />
hipótese que explique não apenas esses casos, mas todos os da mesma espécie. Hume criticou<br />
esse salto no desconhecido (a passagem da análise de casos particulares para o caráter geral da<br />
hipótese) indicando que formulada a hipótese, deve-se deduzir as conseqüências que não<br />
puderam ser diretamente verificadas; a seguir, faz-se a constatação experimental das<br />
conseqüências da hipótese. Se estas forem confirmadas, a hipótese está verificada; caso<br />
contrário, será rejeitada (e, eventualmente, formulada uma outra).<br />
O <strong>método</strong> científico não é exclusivamente <strong>indutivo</strong>; o indutivismo experimental (e uma<br />
visão inteiramente mecanicista da Natureza) foi posto em questão pelo princípio de<br />
indeterminação de Werner Heisenberg (1901-1976) [11].<br />
A relação entre a hipótese e a experiência é o aspecto mais decisivo da ciência. Nas<br />
palavras de Ian Hacking [03], que reproduz uma comunicação sua sobre fatos e hipóteses, "as<br />
pessoas propõem hipóteses, mas os fatos da natureza determinam quais as hipóteses que são<br />
aceitáveis e quais as erradas". No entanto, a experiência científica é seletiva (em relação aos<br />
aspectos considerados relevantes) e, portanto de certo modo, criativa.<br />
1.6 As inferências indutivas de acordo com Karl Popper<br />
Popper diz que, para justificar as inferências indutivas deve-se, antes de tudo, determinar<br />
um princípio da indução capaz de auxiliar a ordenar estas inferências de forma logicamente<br />
aceitável, porém, para aceitá-lo teríamos que recorrer a outras inferências indutivas e para<br />
justificar estas teríamos de admitir um princípio <strong>indutivo</strong> mais elevado e assim por diante, de<br />
modo que a tentativa de alicerçar tal princípio conduz a uma regressão infinita.<br />
Popper recusa o caráter <strong>indutivo</strong> da ciência; ele defende que a ciência parte da teoria e não<br />
da observação e que o erro é fator dinâmico do progresso, citando que: “só tem caráter científico
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a teoria que for refutável”, e acrescenta “não se pode demonstrar a verdade de nenhuma teoria<br />
científica, mas apenas a sua falsidade” [12]. Assim entendidas, as teorias são conjecturais e<br />
provisórias, acentuando-se deste modo o caráter aproximativo e probabilístico da ciência.<br />
Popper acha que a indução tornar-se-ia um procedimento válido se a pretensão clássica, de<br />
se chegar a um enunciado verdadeiro ou uma lei natural, for substituída por um objetivo mais<br />
modesto, qual seja o de se chegar a um enunciado da probabilidade [13].<br />
Outra tese levantada por Popper é que a indução é validada pela sua própria prática e se<br />
apóia na premissa de que os usos factuais estabelecem padrões. A polêmica reside na distinção<br />
entre questões de validade e questões de fato. A questão da validade a ser feita é a seguinte:<br />
“existem razões para confiar que a indução conduz a proposições, leis ou teorias verdadeiras?”.<br />
Popper acha que não. As questões de fato são formuladas de outro modo: “as pessoas confiam<br />
na indução?”, “as pessoas usam procedimentos <strong>indutivo</strong>s?”, “alguém afirma que chegou a uma<br />
determinada teoria através da indução?”. Popper acha que as respostas positivas a estas<br />
perguntas não seriam suficientes para validar a indução, pois a epistemologia [03] não se<br />
preocupa com os procedimentos psicológicos utilizados pelas pessoas na geração de suas idéias<br />
e sim com a validade do processo de demonstração da verdade das proposições.<br />
A solução de Popper é que, em vez de provar que as teorias, hipóteses ou conjecturas são<br />
verdadeiras, demonstrar que elas são falsas, ou seja, em vez de demonstrar sua verificabilidade,<br />
demonstrar sua falseabilidade. É, portanto, a falseabilidade o critério que separa o<br />
conhecimento científico dos outros saberes: o mundo da incerteza do mundo da certeza [12].<br />
Para Popper testar uma teoria científica significa: i) que desta teoria possam ser deduzidas<br />
hipóteses que sejam formuladas através de sentenças singulares e existenciais; ii) que estas<br />
sentenças sejam formuladas de tal maneira que possibilitem a demonstração de sua falsidade<br />
através de experiências particulares; por exemplo, a sentença singular e existencial para o caso<br />
universal “todos os cisnes são brancos” seria “existe algum cisne não branco ?”.Este enunciado<br />
permite que a sentença universal possa ser falseada (o que de fato aconteceu quando se<br />
encontrou um cisne negro na Austrália) [02].<br />
A solução apresentada por Popper para o problema do conhecimento científico e da<br />
indução seria o cientista responder a três perguntas básicas: dadas teorias em competição: i)
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qual a mais fácil de ser rejeitada, isto é, qual a mais falseável ? ii) qual a mais verossímil, isto é,<br />
qual a que mais se aproxima da verdade ou qual a que mais vem resistindo a críticas severas e<br />
testes? iii) qual a mais corroborada, isto é, qual apresenta razões mais fortes, oriundas das<br />
críticas e dos testes a que foram submetidas, para que se acredite estar mais próxima da<br />
verdade? As respostas a estas perguntas indicarão a melhor opção a ser feita pelo cientista. Esta<br />
proposta é chamada de “<strong>método</strong> dedutivo de confirmação”.<br />
1.7 A Solução de Stuart Mill<br />
A solução de Stuart Mill para o problema da indução tem sua base teórica no princípio da<br />
causalidade, cujas soluções, embora não exatamente iguais, são bastantes próximas uma das<br />
outras nos seus processos operacionais. Mill apresenta seu “Sistema da Lógica” onde define que<br />
“a indução é um procedimento por inferência que vai do conhecido para o desconhecido ou<br />
como uma operação de descobrir e provar proposições gerais” [09]. Este procedimento consiste<br />
em inferir, de alguns casos particulares em que um fenômeno é observado, que ocorrerá em<br />
todos os casos de uma determinada classe que se assemelham aos primeiros.<br />
Para Mill não existe uma uniformidade, mas uniformidades, isto é, a regularidade geral<br />
resulta de regularidades parciais. Para ele a lei da causalidade é universal e co-extensiva a todo<br />
o campo dos fenômenos sucessivos, sendo todos e quaisquer casos de sucessão exemplos dela.<br />
Esta solução do problema da indução baseada na uniformidade e na causalidade sofre<br />
ainda muitas críticas. Questionam-se seus fundamentos: existe mesmo tal uniformidade? A<br />
definição de causalidade não foi feita, arrumada, desenhada para fundamentar a crença anterior<br />
na indução? O próprio Stuart Mill se indaga: “por que um único exemplo, em alguns casos, é<br />
suficiente para uma indução completa, enquanto que em outros com exemplos coincidentes,<br />
sem uma única exceção conhecida ou presumida, caminham tão pouco para o estabelecimento<br />
de uma proposição universal?”. Não é sabido que ele respondeu a sua própria pergunta.<br />
1.8 A Solução de Hans Reichenbach<br />
Na solução do problema da indução, proposta por Reichenbach, alguns pontos devem ser<br />
destacados. Em primeiro lugar, para ele, a indução não é um <strong>método</strong> de descoberta, muito<br />
menos uma receita que automaticamente transforma fatos em teorias [02]. Ele inverte a<br />
conceituação clássica da indução; não se parte mais do particular para o universal; começa-se
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com uma generalização e procura-se nas observações particulares alguma evidência empírica<br />
que possa justificar a crença nessa generalização; para ele uma lei científica deve poder ser<br />
verificada falsa ou verdadeira em casos particulares, concordando com Popper.<br />
O segundo ponto a ser considerado é o abandono da lógica tradicional onde, dada uma<br />
proposição, esta seria necessariamente falsa ou verdadeira. Reichenbach passa a utilizar uma<br />
lógica de valores múltiplos, baseado na teoria das probabilidades; nesse caso a uma proposição<br />
“p”, por hipótese verdadeira seria atribuído um valor de verdade igual a 1, denotando-se P(p)=1;<br />
se uma proposição “q” fosse falsa então P(q)=0. Entre estes dois valores extremos, haveria<br />
proposições com valores verdadeiros que serão dados pelos valores das probabilidades que a<br />
elas se puder atribuir; construindo uma lógica de valores múltiplos numa escala contínua de 0 a<br />
1.<br />
Assim, para Reichenbach, o uso da teoria das probabilidades é a solução do problema da<br />
indução e conclui “todas as inferências indutivas que não tem a forma da indução por<br />
enumeração devem ser construídas com base nos teoremas do cálculo das probabilidades”.<br />
A maneira proposta por Reichenbach para a determinação do valor de verdade de uma<br />
proposição compreende os seguintes passos; i) observa-se para “n” casos o número de vezes<br />
“m” em que uma proposição “p” se mostra verdadeira; a seguir obtém-se uma freqüência<br />
relativa fn = m/n; ii) fazendo “n” variar sucessivamente a partir de 1 e repetindo-se o<br />
procedimento “i” seriam obtidas as freqüências relativas f1, f2, f3, . . ., fn; iii) determina-se o<br />
limite desta seqüência que será o valor verdade da proposição “p”.<br />
Porém, este processo seria simples se a seqüência de freqüências relativas pudesse ter uma<br />
definição matemática, ou seja, tivessem um termo geral, entretanto, isso nem sempre ocorre,<br />
além do mais, não se pode garantir a existência de um limite para a seqüência construída. Uma<br />
saída para este problema seria estabelecer provisoriamente fn como a probabilidade da<br />
proposição considerada e a medida que novas observações fossem feitas este valor seria<br />
corrigido; a este processo Reichenbach chamou de “<strong>método</strong> da correção” ou “<strong>método</strong> da<br />
aproximação”.
1.9 A Solução de Rudolf Carnap<br />
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A preocupação principal de Carnap é justificar a indução como um processo lógico; ele<br />
cita, “o processo <strong>indutivo</strong> não é um procedimento mecânico regido por regras fixas... Para o<br />
cientista é uma questão de engenhosidade e sorte encontrar uma hipótese adequada; e se<br />
encontrar uma, nunca se pode garantir que não existirá outra hipótese melhor que se adeque aos<br />
fatos antes mesmo que novas observações sejam feitas” [02].<br />
Outro ponto importante na abordagem de Carnap é que o conceito da confirmação está<br />
diretamente ligado à solução do problema da indução, ou seja, os dois problemas centrais da<br />
teoria do conhecimento são, a questão do significado e a questão da verificação. Dada uma<br />
hipótese “h” que se proponha a explicar um determinado aspecto da realidade empírica,<br />
compete ao cientista organizar as observações relevantes num relatório “r”; a análise das<br />
relações lógicas entre “h” e “r” determinará o grau de confirmação de “h” fornecido por “r”.<br />
Por fim, Carnap conclui que o problema da indução a respeito de uma hipótese, não<br />
necessariamente universal, é essencialmente o mesmo problema da relação lógica entre uma<br />
hipótese e alguma evidência que a confirma. Para ele, a lógica indutiva é a teoria baseada<br />
naquilo que pode ser chamado de grau de indutibilidade ou “grau de confirmação”. Para isso,<br />
ele introduziu dois conceitos de probabilidade, onde um é definido em termos de freqüência<br />
(concordando com Reichenbach) e é aplicado empiricamente; e o outro é um conceito lógico<br />
que é a mesma coisa que grau de confirmação, sendo possível atribuir ou estimar um valor<br />
numérico para este grau.<br />
1.10 A Solução de David Hume<br />
A idéia central da teoria de Hume é a da repetição baseada na similaridade, como<br />
resultado de uma resposta que envolve interpretações, antecipações e expectativas. Ele acha que<br />
a indução se baseia na repetição revestida de explicações psicológicas e afirma que “a inferência<br />
não é intuitiva nem demonstrativa e sim experimental” [07]. Assim, conclui-se que a base da<br />
filosofia de Hume é o empirismo.<br />
Hume admite que a razão humana é capaz de se dedicar ao estudo e à investigação das<br />
relações de idéias ou construção de relações lógicas, porém, nada se pode afirmar sobre sua
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verdade ou falsidade. Ele diz que o fundamento de todos os nossos raciocínios está baseado na<br />
relação de causa e efeito.<br />
Para Hume a noção de causa-efeito é construída pelo homem a partir de sua experiência<br />
quando observa que a ocorrência de um fato α é sempre seguida pela ocorrência de outro fato β,<br />
e cita um exemplo, a presença de uma chama junto ao corpo de uma pessoa é seguida pela<br />
presença da sensação de calor. Essa sucessão hoc post hoc ocorrida nos casos observados no<br />
passado é a primeira contribuição da experiência para a explicação do problema de causa e<br />
efeito, e para ele, também é a única e ocorre por semelhança.<br />
Hume diz [07] “o costume é, pois o grande guia da vida humana”; é baseado nele, e<br />
apoiado no hábito, que se criam expectativas sobre ocorrências futuras, animado nas<br />
experiências do passado. Portanto, a indução, processo pelo qual a partir de observações<br />
particulares, constrói-se uma afirmação geral não tem base racional; é fruto das expectativas que<br />
o homem criou sobre a realidade que o cerca; como ele se acostumou a ver dois fatos ocorrerem<br />
contígua e sucessivamente no passado espera-se que o mesmo aconteça no futuro, e conclui que<br />
“hábito e crença são os fundamentos da indução humana”.<br />
O empirismo de Hume conduz a um verdadeiro ceticismo; ele se torna, então, o pai do<br />
ceticismo moderno e todos os filósofos que lhe sucederem terão que considerar suas objeções<br />
sobre a possibilidade de se justificar racionalmente as inferências indutivas.<br />
1.11 A Solução de Bertrand Russel<br />
A primeira observação sobre a posição de Russel em relação a indução, refere-se à<br />
distinção entre inferência dedutiva e indutiva. O que ele pretendia afirmar era a necessidade da<br />
indução como instrumento do crescimento do conhecimento; enquanto que a dedução tem a<br />
função de verificar se o que foi descoberto pela indução é válido e coerente com as teorias já<br />
confirmadas e com a realidade empírica; ou seja, a descoberta se faz pela indução e é<br />
confirmada, ou não, pela dedução.<br />
Para Russel a humanidade sempre utilizou e utilizará a indução como fonte do<br />
conhecimento; as pessoas utilizam o senso comum para orientar suas vidas e tomar decisões<br />
existenciais da maior relevância fundamentadas no processo <strong>indutivo</strong>. Para ele as teorias da<br />
indução são o que Freud (1856–1939) chama de “racionalização”, isto é, consistem de razões
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inventadas posteriormente para provar que o que fizemos foi uma coisa sensata, mesmo que não<br />
sejamos capazes de provar que foi.<br />
Russel tenta responder à pergunta de Hume sobre se é possível, a partir de coisas<br />
experimentadas, conhecer coisas das quais ainda não se tem experiência. Ele procura mostrar<br />
que existem fatos lógicos que estão além da experiência; e cita, através de um exemplo: sabe-se<br />
que “a seqüência de números primos não tem máximo”; e acrescenta que este conhecimento não<br />
vem da experiência uma vez que qualquer que seja o número primo que se possa pensar, haverá<br />
sempre um maior que ele no qual não se tinha pensado antes.<br />
A indução é aceita por Russel como um procedimento que, se não pode ser demonstrado<br />
logicamente válido, também não pode ser provado inválido; sua posição é, pois pragmática e<br />
merecem destaque em três pontos [02]: i) a indução foi e é praticada por todas as pessoas no seu<br />
dia-a-dia; ii) a indução se fundamenta numa crença a priori na validade de seu princípio, sendo,<br />
pois, por analogia, um tipo de conhecimento sintético a priori; iii) não havendo como provar a<br />
validade lógica da indução, pode-se, entretanto, atribuir às conclusões obtidas certo grau de<br />
probabilidade.<br />
Conclusão<br />
A lógica do pensamento <strong>indutivo</strong> é um assunto bastante discutido, sendo um vasto objeto<br />
de pesquisa.<br />
A indução, como <strong>método</strong> de raciocínio, apresenta-se sob diversas formas e pode ser<br />
estudada sob diversos pontos de vista [01]; conseqüentemente, vários <strong>método</strong>s e técnicas<br />
indutivas têm sido empregados com sucesso em sistemas de computação.<br />
Observa-se também que o conhecimento científico possui um componente empírico que<br />
pode ser submetido a testes rigorosamente planejados com a finalidade de confirmá-lo (Carnap),<br />
justificá-lo (Reichenbach) ou corroborá-lo (Popper); e possui um caráter racional, ou seja, pode<br />
resistir a uma análise crítica de seus fundamentos e <strong>método</strong>s.<br />
Pôde-se ainda constatar que as conclusões podem ser atingidas por meio de elementos<br />
racionais, embora existam fatores emocionais e intuitivos, tais como, associação de idéias,
Rev. Cient. Fac. Lour. Filho – v.5, n.1, 2007 14<br />
imaginação e recursos, cujos resultados podem ser desde crença e opiniões até sentenças<br />
científicas.<br />
Abstract:<br />
A study on the induction<br />
Traditionally, the induction has been used to justify scientific laws and theories. An inductive<br />
method starts of the experience of particular cases for the generalization or universalization; that is, the<br />
conclusions are more including than the premises, objectifying, for the inductivist as Bacon, a clear<br />
enlargement of the knowledge; however, this matter is not consensual, therefore in the investigation of<br />
the calls "general truths", from an inexact number of observed cases, the inference for the too much cases<br />
can be illegitimate, denoting a fallibity of the method. Therefore, for the critics of the inductivism, as<br />
Hume and Popper, the conceptual failures to the principle of the induction cannot prove a scientific<br />
theory, from there to have appeared the call "problem of the induction" that we will present in this article<br />
through the conceptual approach of all its basement, origin and solutions presented for consecrated<br />
philosophers.<br />
Keywords: Problem and Principle of the Induction. Inductive reasoning. Reduction to the<br />
nonsense. Inductive Probability. Mathematical induction. Bacon’s inductivism. Popper’s<br />
antiinductivism.<br />
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Artificial Intelligence. Ph.D. dissertation, University of Montreal, Montreal, 2005.<br />
Prof. Gerardo Valdisio Rodrigues Viana<br />
Doutorando em Ciência da Computação - UFC/2005-<br />
Mestre em Ciência da computação - UFC/1995-1996<br />
Professor adjunto - UFC/UECE/<strong>FLF</strong><br />
Áreas de interesse: Otimização combinatória,<br />
Programação matemática, Algoritmos,<br />
Metaheuristica e Bioinformática.<br />
e-mail: valdisio@ufc.br<br />
Prof. M. Sc. Eliéser Sales Pereira<br />
Professor de Metodologia Científica e Monografia da Faculdade Lourenço Filho.<br />
Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino Superior, UFC.<br />
Mestre em Química Inorgânica, USP.<br />
Rua Barão do Rio Branco, 2101 – Centro – Fortaleza – Ce. CEP: 60025-062.<br />
e-mail: eliesersp@terra.com.br Fone: 4009 6054.