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EXPRESSÃO DO SAMBA<br />
O TALENTO É O PASSAPORTE DO ARTISTA<br />
MIRO LOPES<br />
– “Sabe com quem está falando?” É a forma arrogante como as ‘otoridades’ continuam intimidando as pessoas. Enquanto<br />
esse abuso não acaba, é bom que se tenha nome e sobrenome de pai e mãe (afinal, se precisa de dois para fazer um) para<br />
ser identificado.<br />
Essa exigência não vale para um artista de verdade. Para ele ser reconhecido, basta-lhe o talento. Identifica, abre portas<br />
e fronteiras. O sucesso é a assinatura da sua arte. E o passaporte para a fama aqui e lá fora.<br />
Nesse universo pluralista que é o samba, pode-se reconhecer “com quem se está falando” de duas maneiras simples:<br />
pela arte ou pelo codinome – que ofusca a identidade oficial, mas que revela verdadeiros gênios e grandes composições.<br />
Assim, Dominguinhos é do Estácio. Moacyr é o de “Saudades da Guanabara”, considerado o hino oficial do efêmero<br />
Estado. Elza é a “mulata assanhada, que ainda passa com graça fazendo pirraça”. Paulinho Rezende é o inspirado poeta<br />
que perdeu a conta de tanto que compôs. Marcos Moran é o samba de verão, maneiro e com muito balanço. Todos são<br />
facilmente identificados pelo seu talento e pela sua arte.<br />
– Sabe com quem falamos?! Com intérpretes e compositores que são a verdadeira “Expressão do Samba”.<br />
PAULINHO REZENDE<br />
E tudo começa com samba<br />
Paulinho Rezende tem mais de mil músicas gravadas. Além<br />
de sambas, compôs outros gêneros. Depois da gravação<br />
da sua primeira composição – “O Surdo” – que ocupou<br />
durante duas décadas as listas dos mais vendidos, se não<br />
dos mais ouvidos sambas românticos. Na década seguinte,<br />
dominada pelos cantores sertanejos, trabalhou com Daniel,<br />
Chitãozinho e Xororó, Leonardo, entre outros, que<br />
gravaram mais de 20 músicas suas. “De samba, então, eu<br />
perco assim de vista, o tanto que já gravei”, afirma ele.<br />
De origem humilde, o pai era pintor de parede e a mãe<br />
trabalhava com tecelagem numa<br />
fábrica de tecidos, ficou órfão com<br />
apenas 22 dias de nascido. Como o<br />
pai tinha problemas com bebida e<br />
nenhuma condição financeira, sua<br />
avó, que morava em Bom Jesus de<br />
Itaboapana, buscou o ainda menino<br />
para ser criado no interior do<br />
Estado, onde ficou até os 15 anos.<br />
Depois foi estudar em Campo dos<br />
Goytacazes, num colégio interno e<br />
voltou para o Rio de Janeiro. Desde<br />
garoto sonhava em ser cantor e no<br />
colégio aprendeu a tocar piano, violão<br />
e a escrever músicas.<br />
O primeiro grande sucesso foi em 1975 com um samba<br />
gravado pela cantora Alcione, “Amigo que ironia desta<br />
vida/ Você passa na avenida...” De lá até hoje não teve um<br />
ano sequer sem ter uma música de sucesso. Em tempos<br />
que o samba não era admirado pelos jovens, o sucesso<br />
da Alcione foi maravilhoso. Depois disso veio uma série<br />
de outras músicas gravadas por sambistas. Paulinho se<br />
considera um ‘reprecursor’ do samba numa época que o<br />
samba não estava tão bem.<br />
Paulinho prefere trabalhar com parceiros mandando a<br />
melodia para se colocar a letra em<br />
cima, porque acredita que a melodia<br />
chama a letra, vem com a letra implícita<br />
nela.<br />
Mangueirense de coração, a ligação<br />
com o samba e o Carnaval é forte<br />
porque vem do berço. Paulinho gosta<br />
do espetáculo do Carnaval, e mesmo<br />
quando a Mangueira não vem bem na<br />
avenida torce pela vitória daquela que<br />
vier melhor.<br />
Apaixonadíssimo pelo carnaval, Carnaval,<br />
admite que o do Rio de Janeiro<br />
é imbatível porque não existe nada<br />
igual no mundo. “Já tive a opor-<br />
100 <strong>Revista</strong> <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> de Nilópolis www.beija-flor.com.br