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Revista 2011 - Beija-Flor

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A FORÇA DA COMUNIDADE<br />

Os detratores dos desfiles da escola de samba – e existem<br />

muitos - costumam propalar que as escolas de samba hoje<br />

em dia são todas iguais. Que se prestigia o espetáculo em<br />

detrimento dos componentes, e que as baterias estão mais<br />

preocupadas em inventar firulas do que sustentar o vigor<br />

do samba e da dança.<br />

Como diz na gíria: tudo papo furado.<br />

A vitalidade das escolas de samba e, por consequência, do<br />

desfile das escolas reside exatamente na constante revitalização<br />

que acontece.<br />

Só não vê quem não quer.<br />

O que essas pessoas não percebem é que tudo muda, a<br />

cidade, as pessoas, o modo de se observar o que se passa<br />

ao redor e a quantidade de informações que chega para<br />

todos e de todas as formas.<br />

É isso que determina a mutação incontrolável da nossa<br />

maior festa e do seu momento maior.<br />

Não há fórmulas estabelecidas ou não teríamos as surpresas<br />

que a cada ano nos são apresentadas.<br />

Aí está, acredito, o fator que torna imprevisível e excitante<br />

os desfiles das escolas de samba. As características básicas<br />

de cada uma permanecem mas, cada uma a seu modo,<br />

trata de surpreender o público e a comissão julgadora.<br />

Com o passar do tempo, os enredos vêm adquirindo uma<br />

linguagem especial no que diz respeito ao desenvolvimento.<br />

É aí que o carnavalesco revela sua criatividade e integração<br />

com o todo da escola. Essa integração é absolutamente<br />

necessária, porque não se deve trair as ansiedades<br />

dos componentes.<br />

A visão estética da escola, ainda que esta expressão pareça<br />

sofisticada e pedante, existe, e de maneira até<br />

contundente. Esta visão é o resultado das suas observações<br />

e do processamento que cada pessoa<br />

ou grupo costumam dar à carga de informações<br />

que todo mundo recebe hoje em dia,<br />

seja pela televisão, internet, twitter,<br />

iPod ou outras ferramentas que<br />

estão à disposição de qualquer um,<br />

não importa onde resida.<br />

HAROLDO COSTA<br />

Portanto, o carnavalesco tem que estar atento a esta realidade,<br />

que se torna sua também à medida que ele convive<br />

com as bases, e passa a adotar este olhar que faz a diferença.<br />

E esta é a força da comunidade. Que não é um coletivo<br />

ou ajuntamento de pessoas que moram numa mesma<br />

região, mas sim a expressão de uma forma solidária às vezes<br />

imposta pelas circunstâncias, mas que depois ganha<br />

uma poderosa significação e personalidade próprias.<br />

É isto que se observa na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. É uma escola que reflete<br />

a sua comunidade e dela recebe toda a seiva que faz, de<br />

cada desfile, uma ato de paixão, de entrega e amor total.<br />

Assistir a um ensaio na quadra é viver momentos de inesquecível<br />

beleza. O empenho com que os vários setores<br />

se dedicam é no mínimo comovente. Ali está a base do<br />

samba, a crença no seu poder e na sua importância como<br />

elemento transformador. Não há como ficar indiferente à<br />

batida da bateria que, por horas a fio, mantém o ritmo sem<br />

alteração e com uma pontuação rígida e permanente. As<br />

alas fluem e refluem como onda em maré cheia. É visível<br />

o orgulho que eles sentem e transmitem. Não há idade<br />

nem sexo, todos estão lá como que exercendo uma missão<br />

especial, única, onde cada um tem uma parte a cumprir.<br />

É a força da comunidade, base da existência e do sucesso<br />

da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Ganhar é uma contingência, o desfile é uma<br />

competição, e devem existir ganhadores e perdedores. Mas<br />

isso não afeta o principal, sem o qual nenhuma escola<br />

existe; a compreensão que a comunidade<br />

tem do seu papel no momento glorioso<br />

e sempre diferente dos desfiles<br />

das escolas de samba.<br />

Março <strong>2011</strong> 55

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