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O pão, o vinho e fungos em ação

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O <strong>pão</strong>, o <strong>vinho</strong> e <strong>fungos</strong> <strong>em</strong> <strong>ação</strong><br />

Entenda como um ser microscópico ajuda a produzir bebidas e<br />

alimentos!<br />

Uma bola de farinha e água vai ao forno e um <strong>pão</strong> fofo e saboroso é<br />

retirado quentinho após alguns minutos. Curioso, não? E o que você<br />

diria do suco de uva, que, descansando <strong>em</strong> contato com o ar, se<br />

transforma <strong>em</strong> <strong>vinho</strong>? Pois por muito t<strong>em</strong>po a orig<strong>em</strong> desses alimentos<br />

foi atribuída aos deuses. Até que a ciência descobriu <strong>fungos</strong> <strong>em</strong> <strong>ação</strong>...<br />

Há muito e muito t<strong>em</strong>po, cerca de cinco mil anos antes do nascimento<br />

de Cristo, o <strong>vinho</strong> já existia. Não era produzido <strong>em</strong> vinícolas, como se faz<br />

hoje. A bebida simplesmente surgia depois de algum t<strong>em</strong>po que o suco<br />

de uva era deixado <strong>em</strong> contato com ar.<br />

Como os homens da época não sabiam explicar a transform<strong>ação</strong> de um<br />

suco <strong>em</strong> algo que proporcionava uma grande sens<strong>ação</strong> de alegria,<br />

achavam que a bebida era obra dos deuses. Os antigos egípcios diziam<br />

que era o deus Osíris que mandava aquela dádiva para aliviar o<br />

sofrimento dos homens na Terra. Mais tarde, os gregos diziam ser um<br />

néctar de seu deus Dionísio e os romanos, de seu deus Baco.<br />

Embora não envolvesse divindades, o <strong>pão</strong> era outro mistério para os<br />

povos da Antigüidade. Foram também os egípcios que o inventaram,<br />

deixando uma mistura de água e farinha ao Sol até formar bolhas para,<br />

depois, assar entre pedras aquecidas. Com o t<strong>em</strong>po, tiveram a idéia de<br />

guardar um pouco da massa com bolhas para juntar a uma massa nova,<br />

acelerando seu processo de crescimento.<br />

Assim, os anos foram passando e as pessoas que sabiam preparar um<br />

bom <strong>pão</strong> s<strong>em</strong>pre tinham <strong>em</strong> casa um tasco da massa anterior para juntar<br />

a uma nova. Passou a ser costume na Europa que as mães dess<strong>em</strong> para<br />

as filhas que se casavam um pouco de sua massa de <strong>pão</strong> com a idéia de<br />

que elas fizess<strong>em</strong> o mesmo com suas filhas para que se comesse s<strong>em</strong>pre<br />

um <strong>pão</strong> gostoso!<br />

Mas ao contrário do que pensavam os povos antigos, o <strong>pão</strong> e o <strong>vinho</strong><br />

nunca resultaram de mágica e, sim, da <strong>ação</strong> de um ser microscópio, um<br />

fungo chamado levedura! A levedura é uma espécie microscópica de<br />

fungo que vive no ar e que, ao entrar <strong>em</strong> contato com alimentos, como a<br />

massa do <strong>pão</strong> e o suco de uva, provoca duas reações: a leved<strong>ação</strong> e a<br />

ferment<strong>ação</strong>.<br />

No caso do <strong>pão</strong>, é a leved<strong>ação</strong> -- ou respir<strong>ação</strong> da levedura -- que faz a<br />

massa crescer. E a massa cresce porque a levedura se alimenta de<br />

componentes dela; nessa ingestão, absorve oxigênio presente na massa;<br />

e, como nós, elimina gás carbônico. Resultado: as bolhas formadas por<br />

esse gás vão fazendo a massa aumentar de volume.


Logo, antigamente, ao misturar um pouco de massa descansada a uma<br />

massa nova, as pessoas estavam acrescentando mais levedura à massa<br />

e, com mais levedura eliminando gás carbônico, mais depressa a massa<br />

cresce. Sabia que foi da observ<strong>ação</strong> desse fenômeno que surgiu o<br />

fermento?<br />

Conta-se que os irmãos Fleishmann, da Áustria, ao visitar<strong>em</strong>, <strong>em</strong> 1865,<br />

uma irmã que morava nos Estados Unidos, ficaram horrorizados com a<br />

qualidade do <strong>pão</strong> daquele país. E que dois anos depois, quando também<br />

se mudaram para lá, levaram no bolso um pouco da massa de <strong>pão</strong> -- ou<br />

da levedura, pod<strong>em</strong>os dizer assim -- usada <strong>em</strong> casa pela mãe. Resultado:<br />

criaram uma indústria para produzir levedura -- o fermento! -- e<br />

passaram a vendê-lo <strong>em</strong> pó ou prensado para o mundo inteiro!<br />

Por trás do <strong>vinho</strong>...<br />

A ferment<strong>ação</strong>, re<strong>ação</strong> provocada pela levedura no caso do <strong>vinho</strong>, não<br />

faz a bebida aumentar de volume e, sim, dá a ela um teor alcoólico. A<br />

maneira como isso acontece permaneceu misteriosa até 1860, quando o<br />

cientista francês Louis Pasteur d<strong>em</strong>onstrou que não eram os deuses e,<br />

sim, a levedura que estava por trás da transform<strong>ação</strong> do suco de uva <strong>em</strong><br />

<strong>vinho</strong>.<br />

Sabe o que ele fez para provar isso? Simplesmente pegou um pouco de<br />

suco de uva deixado <strong>em</strong> contato com o ar por algum t<strong>em</strong>po e observou-o<br />

ao microscópio, percebendo a presença dos <strong>fungos</strong>, ou melhor, da<br />

levedura. Aí, ele ferveu esse suco e observou que a ferment<strong>ação</strong><br />

cessava, porque a levedura morria com o calor. Pronto: estava provado<br />

que esses <strong>fungos</strong> microscópicos eram os responsáveis pela<br />

transform<strong>ação</strong> do suco de uva <strong>em</strong> <strong>vinho</strong>.<br />

Mais tarde foi descoberto que, por <strong>ação</strong> da levedura, era o açúcar da<br />

uva que passava por vários estágios até se transformar <strong>em</strong> álcool.<br />

Portanto: os deuses não tinham nada a ver com isso!<br />

Se o suco de uva passa a <strong>vinho</strong>, este também passa a vinagre. Aí, a<br />

transform<strong>ação</strong> não é mais obra da levedura e, sim, de uma bactéria<br />

trazida aos ambientes pela mosquinha das frutas, a Drosophila. Essa<br />

bactéria atua no <strong>vinho</strong> deixado <strong>em</strong> contato com o ar e transforma o<br />

álcool <strong>em</strong> vinagre.<br />

Mais uma vez foi Pasteur o ator da descoberta. Em 1862, ele foi<br />

chamado no palácio do imperador Luiz Napoleão para saber por que o<br />

<strong>vinho</strong> que a França ia vender a outros países estava azedando --<br />

passando a vinagre -- dentro da garrafa. Sua pesquisa começou com o<br />

recolhimento de amostras de <strong>vinho</strong>s e com a observ<strong>ação</strong> delas ao<br />

microscópio. O que ele percebeu? Que essas bactérias só sobreviviam e<br />

se multiplicavam na presença de oxigênio. Provou isso isolando um


pouco de <strong>vinho</strong> dentro de um tubo de ensaio, s<strong>em</strong> contato com o ar, e<br />

mostrando que ele não alterava seu sabor.<br />

Pasteur, então, propôs que as garrafas foss<strong>em</strong> aquecidas, antes de<br />

receber o <strong>vinho</strong>, para eliminar qualquer microrganismo, e arrolhadas<br />

logo depois de cheias, para evitar que a bebida entrasse <strong>em</strong> contato com<br />

o ar. O processo de descontaminar e vedar as <strong>em</strong>balagens foi aplicado<br />

para conservar outros produtos, como o leite e, <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> a Louis<br />

Pasteur, ficou conhecido como pasteuriz<strong>ação</strong>.<br />

Ciência Hoje das Crianças 138, agosto 2003<br />

Anita D. Panek,<br />

Departamento de Bioquímica,<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro.<br />

Disponível <strong>em</strong>:<br />

http://cienciahoje.uol.com.br/materia/view/1965

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