corrente contínua corrente contínua - Eletronorte
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<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
Ano XXXII - nº 227 - Julho/Agosto - 2009 A REVIstA DA ElEtRonoRtE<br />
Waimiri Atroari,<br />
os filhos da esperança<br />
<strong>Eletronorte</strong>
sumáRIo<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
2<br />
tRAnsmIssÃo<br />
ONS: as linhas<br />
do desenvolvimento<br />
Página 3<br />
tECnologIA<br />
Inovações que<br />
transformam<br />
Página 11<br />
CIRCuIto IntERno<br />
Corpo técnico<br />
da <strong>Eletronorte</strong><br />
leva conhecimento<br />
a outras instituições<br />
do Setor Elétrico<br />
Página 31<br />
EnERgIA AtIVA<br />
Eficiência<br />
e crescimento<br />
Página 36<br />
AmAZÔnIA E nÓs<br />
Rondônia:<br />
diversidade, superação<br />
e desenvolvimento<br />
Página 44<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
SCN - Quadra 06 - Conjunto A<br />
Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2<br />
CEP: 70.716-901<br />
Asa Norte - Brasília - DF.<br />
Fones: (61) 3429 6146/ 6164<br />
e-mail: imprensa@eletronorte.gov.br<br />
site: www.eletronorte.gov.br<br />
Prêmios 1998/2001/2003<br />
mEIo AmBIEntE<br />
Um corredor para a diversidade<br />
Página 38<br />
REsPonsABIlIDADE soCIAl<br />
Waimiri Atroari:<br />
etnia que renasce a cada dia<br />
Página 16<br />
CoRREIo<br />
ContÍnuo<br />
Página 54<br />
FotolEgEnDA<br />
Página 55<br />
Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia<br />
- Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor<br />
Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso<br />
- Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - gerência de<br />
Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF)<br />
- Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine<br />
(DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298- RS)<br />
- Terezinha Félix de Brito (DRT 954 –RO) - Assessorias de Comunicação das unidades<br />
regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias<br />
de Comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica:<br />
Jorge Ribeiro - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da contracapa: Alexandre Velloso - Impressão:<br />
Brasília Artes Gráficas - tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral<br />
tRAnsmIssÃo<br />
ons: as linhas<br />
do desenvolvimento<br />
Byron de Quevedo<br />
O sistema elétrico brasileiro movimenta<br />
em torno de 66 mil megawatts/dia. Porém, é<br />
a interconexão do sistema, com 93 mil quilômetros<br />
de linhas, e a sua versatilidade que o<br />
tornam único e especial. Esse sistema de vascularização<br />
da energia, com a predominância<br />
de hidrelétricas e com múltiplos proprietários,<br />
se entrelaça por meio do Sistema Interligado<br />
Nacional – SIN, sendo que apenas 3,4% da<br />
eletricidade do País está fora do SIN, em sistemas<br />
isolados na Amazônia. O coração da rede<br />
pulsa em Brasília, mais precisamente no Centro<br />
Nacional de Operação do Sistema – CNOS,<br />
principal agente do Operador Nacional do Sistema<br />
Elétrico - ONS. Mas é nas extremidades<br />
que ele mostra a sua plenitude, iluminando<br />
campos e cidades.<br />
Uma complexa malha de providências está<br />
por trás do simples ato de se ligar uma lâmpada.<br />
Elas começam na sala de comando do<br />
CNOS, que é semelhante a um centro de comando<br />
de voos e aeronaves, como o Sindacta<br />
(foto). A diferença básica é que, enquanto<br />
os pontos luminosos dos painéis do Sindacta<br />
indicam aviões com centenas de pessoas<br />
dentro deles, cada ponto iluminado nas telas<br />
do CNOS significa milhões de pessoas que<br />
também não podem prescindir da energia. A<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
3
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
4<br />
semelhança entre os dois centros é tanta que<br />
durante recente crise dos aeroportos, o local<br />
recebeu técnicos da Infraero, que queriam<br />
adaptar o sistema para o controle aéreo.<br />
Hoje, o sistema elétrico em alta tensão<br />
tem capacidade instalada para o transporte<br />
o que significou a criação do<br />
ons para o setor Elétrico brasileiro?<br />
Desde meados da década de 1970 até o final dos anos<br />
de 1990, o sistema elétrico interligado brasileiro teve sua<br />
operação coordenada por organismos colegiados, dos quais<br />
participavam as principais concessionárias do País. Eram os<br />
grupos coordenadores da Operação Interligada Sul/Sudeste<br />
e Nordeste e o Grupo Técnico Operacional da Região Norte.<br />
Em 1998, quando a reforma institucional do Setor Elétrico<br />
criou o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, já existiam<br />
as bases metodológicas, os modelos computacionais<br />
e os recursos humanos necessários para assumir a missão<br />
de operar o sistema elétrico de forma centralizada, com o<br />
objetivo de garantir ao mesmo tempo a segurança do atendimento<br />
e a redução dos custos operativos. Com a criação<br />
do ONS, a responsabilidade que era compartilhada pelos<br />
integrantes dos organismos colegiados passou a ser atribuída<br />
a uma única organização, que tem a missão de operar o<br />
Sistema Interligado Nacional - SIN com transparência, equidade<br />
e neutralidade.<br />
Que papel o ons desempenha<br />
no atual modelo do setor Elétrico?<br />
O ONS é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos,<br />
que coordena e controla a operação dos sistemas de<br />
geração e transmissão de energia elétrica no SIN, sob fiscalização<br />
e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica<br />
- Aneel. O Operador é uma associação civil, que tem como<br />
membros associados os agentes de geração, de transmissão,<br />
de distribuição, importadores e exportadores de energia<br />
e consumidores livres. Também participam representantes<br />
do Ministério de Minas e Energia e dos conselhos de consumidores.<br />
Seu papel é cuidar dos múltiplos aspectos técnicos<br />
relacionados à operação do SIN, fazendo a gestão dos recursos<br />
eletroenergéticos disponibilizados pelos agentes, na<br />
busca de prover a sociedade com segurança de suprimento<br />
e respeitando a modicidade tarifária. O ONS está estruturado<br />
com base em três macrofunções, que abrangem as<br />
diferentes atividades que lhe são atribuídas por lei: a administração<br />
dos serviços de transmissão, o planejamento e a<br />
programação da operação e a operação propriamente dita,<br />
executada em tempo real pelos seus centros de operação.<br />
A execução dessas atividades envolve de forma integrada<br />
diferentes campos do conhecimento técnico especializado.<br />
de 98,8 mil MW. O recorde de consumo é<br />
de 65,5 mil MW, evidenciando uma reserva<br />
energética. A energia hidráulica representa<br />
89% do consumo brasileiro; as usinas térmicas<br />
convencionais (carvão, gás e óleo diesel)<br />
fornecem 11.895 MW; e as termonucleares<br />
Diretor-Geral do ONS, Hermes Chipp<br />
Para o ons, que influência têm o tamanho<br />
e a complexidade do sistema elétrico brasileiro?<br />
O sistema elétrico brasileiro é singular, tanto por suas<br />
dimensões geográficas, quanto por seu porte. Mas a característica<br />
que mais nos diferencia dos outros países é a<br />
relevância da hidroeletricidade em nossa matriz energética.<br />
A maior parte da energia produzida no País depende<br />
de um insumo cuja disponibilidade não pode ser completamente<br />
garantida nem prevista em um horizonte extenso.<br />
Em nosso caso, coordenar a operação significa definir, a<br />
cada instante, de que forma os recursos hídricos e termoelétricos<br />
serão utilizados para garantir o atendimento dos<br />
consumidores, com continuidade, segurança e ao menor<br />
custo de produção. E isso deve ser feito analisando-se<br />
um horizonte plurianual, em que possam ser avaliadas as<br />
consequências futuras das decisões tomadas no presente.<br />
Nesse cenário, a rede elétrica e, principalmente, as<br />
interligações entre regiões assumem um papel muito importante,<br />
pois viabilizam o aproveitamento da diversidade<br />
de comportamento entre as diferentes bacias hidrográficas,<br />
bem como o atendimento de regiões em situação de<br />
escassez de recursos hídricos com energia exportada por<br />
outras partes do sistema.<br />
o sIn é um dos mais modernos do mundo.<br />
A sua expansão conta com várias obras do<br />
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.<br />
Qual a importância delas para o futuro do País?<br />
O Plano Anual da Operação Energética de 2009, divulgado<br />
em junho passado e disponível para consulta em<br />
nosso site (www.ons.org.br/), avalia, sob a ótica da operação,<br />
as condições de atendimento ao SIN para o quinquênio<br />
2009-2013, recomendando, se necessário, ações<br />
adicionais para a adequação da oferta ao mercado previsto<br />
de energia elétrica. As avaliações realizadas indicam<br />
uma situação confortável de atendimento ao mercado nos<br />
próximos cinco anos. O critério de garantia de suprimento<br />
preconizado pelo Conselho Nacional de Política Energética,<br />
riscos de déficit de energia abaixo de 5%, é atendido<br />
com folga em todas as regiões, durante todo o quinquênio.<br />
Essa situação favorável de atendimento se deve,<br />
principalmente, à oferta agregada pelos leilões de energia<br />
nova e de linhas de transmissão realizados desde 2005.<br />
No total, nos próximos cinco anos deverão ser acrescidos<br />
Angra I e II e pequenas centrais geradoras<br />
suprem 2.007 MW.<br />
O CNOS possui centros regionais que<br />
conversam com 200 agentes de geração,<br />
transmissão e distribuição 24 horas por dia:<br />
o COSRS, no Sul; o COSRSE, no Sudeste;<br />
ao SIN cerca de 28 mil MW. A oferta de energia elétrica<br />
proveniente das usinas que fazem parte do PAC é extremamente<br />
importante para a manutenção dessa situação<br />
confortável. Ela é composta por 124 usinas e soma<br />
21.900 MW, aproximadamente 78% de toda a expansão<br />
considerada para o SIN no período 2009-2013.<br />
Em relação aos sistemas isolados, qual<br />
a expectativa de interligação deles ao sIn?<br />
A expansão das fronteiras do SIN começa a tornar-se<br />
uma realidade com a integração do Acre e de Rondônia,<br />
cujos testes de sincronização foram realizados com sucesso<br />
no final de julho, de acordo com as condições indicadas<br />
pelos estudos pré-operacionais do ONS. Na prática,<br />
a integração plena da Região Norte contempla diferentes<br />
marcos. Os outros dois são igualmente ambiciosos: a interligaçãoTucuruí-Manaus-Macapá<br />
e o sistema de escoamento<br />
da geração das usinas do Rio<br />
Madeira. Em todos esses casos,<br />
o ONS promove estudos com vistas<br />
a realizar a integração ao SIN.<br />
No caso de Tucuruí-Manaus-Macapá,<br />
os contratos de concessão<br />
com os vencedores dos três lotes<br />
foram assinados em outubro do<br />
ano passado, e a expectativa é<br />
de que a linha - com cerca de<br />
1.800 km de extensão - comece<br />
a operar em 2011. Por fim,<br />
o Complexo do Madeira, considerado<br />
um dos maiores desafios<br />
para o Setor Elétrico, em razão<br />
da magnitude das duas usinas e<br />
da extensão das linhas de transmissão,<br />
tem previsão de início de operação em 2012. O<br />
Operador teve o cuidado de colocar como requisitos do<br />
edital de licitação do Madeira algumas medidas de gestão<br />
do conhecimento na área de transmissão em <strong>corrente</strong><br />
<strong>contínua</strong>, em vista da necessidade de ampliação da formação<br />
especializada nessa área.<br />
A Rede de gerenciamento de Energia - Reger é um<br />
dos projetos relevantes para o setor Elétrico brasileiro.<br />
o que esse projeto mudará nos sistemas de controle?<br />
Certamente, a Reger está hoje entre os trabalhos mais<br />
estratégicos realizados pelo Operador. A implantação desse<br />
novo sistema de supervisão e controle representará um<br />
grande marco para a coordenação do SIN. Isto faz parte<br />
Arquivo ONS<br />
e COSRN, no Nordeste; e o COSRNCO, no<br />
Norte-Centro-Oeste. E o SIN opera em vários<br />
níveis de tensão com milhares de pontos de<br />
torres, o que demonstra a importante função<br />
do ONS, monitorando e supervisionando a extensa<br />
rede. Segundo o engenheiro operador<br />
do contínuo aperfeiçoamento dos processos, inerente à atividade<br />
de uma instituição que precisa lidar com tecnologia<br />
de ponta, no estado da arte. O primeiro passo do projeto<br />
Reger aconteceu com a recente assinatura dos contratos<br />
com o consórcio Siemens-Cepel e com a OSIsoft, para desenvolvimento<br />
do primeiro ciclo. A propósito, o Reger colhe<br />
os frutos do trabalho conjunto desenvolvido no âmbito do<br />
VLPGO (Very Large Power Grid Operators),onde foi estabelecida<br />
uma especificação de referência para sistemas de<br />
gerenciamento de energia. A partir da implantação de uma<br />
plataforma unificada de supervisão e controle, em substituição<br />
aos atuais recursos operacionais providos por diferentes<br />
fornecedores, o ONS terá melhores condições para garantir<br />
a continuidade dos processos de supervisão. Cada um dos<br />
seus centros de operação poderá ter as atribuições assumidas<br />
por outro, sem prejuízo para o sistema.<br />
O projeto tem um horizonte de longo prazo,<br />
dividido em ciclos. A primeira dessas fases<br />
será concluída em 30 meses, o que significa<br />
que a Reger estará em funcionamento<br />
já no segundo semestre de 2011.<br />
o ons tem um corpo de profissionais<br />
qualificados. Como o operador<br />
desenvolve seus recursos humanos?<br />
O cumprimento da missão institucional<br />
do ONS depende de uma bem-sucedida<br />
interação entre o desenvolvimento de<br />
sistemas e recursos tecnológicos e a capacitação<br />
de seus recursos humanos. Ao<br />
longo dos anos, temos investido em programas<br />
de desenvolvimento tecnológico e<br />
de gestão, utilizando o suporte de empresas<br />
de consultoria, centros de pesquisa e<br />
universidades. Além disso, temos tratado<br />
com muito cuidado a questão da gestão do conhecimento<br />
na organização. Em 2005, foi elaborado um Plano Diretor<br />
de Gestão do Conhecimento e, em 2007, iniciou-se a implantação<br />
de um processo estruturado para essa gestão.<br />
Hoje, já identificamos os conhecimentos de foco prioritário<br />
do ONS, isto é, aqueles que são estratégicos ou de<br />
responsabilidade específica do Operador, ou ainda que<br />
apresentem algum aspecto de criticidade, como concentração<br />
em poucos profissionais ou risco de perda desses<br />
conhecimentos. As iniciativas para sua retenção, criação<br />
ou disseminação são importantes para o fortalecimento e<br />
a perenidade do Operador. Afinal, o conhecimento é nosso<br />
maior patrimônio.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
5
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
6<br />
em tempo real do CNOS, João Lúcio Machado<br />
Fernandes, a coordenação começa na sede<br />
do Operador, no Rio de Janeiro, passa pela<br />
operação de tempo real e se conclui no dia<br />
seguinte com o relatório de análises.<br />
Tempo real – Operações em tempo real são<br />
aquelas preventivas para se manter a reserva<br />
operativa, controlar tensão e frequências, os<br />
limites das linhas de transmissão e demais<br />
normas e procedimentos. João Lúcio descreve<br />
a rotina: “Recebemos do Rio de Janeiro as<br />
instruções de operação, que são centenas.<br />
Vamos então para o tempo real. Às 6h30,<br />
recebo o programa de operações, vejo as intervenções<br />
e vou acompanhando, pois pode<br />
haver mudanças. Lidamos com mil unidades<br />
geradoras e 700 circuitos, sujeitos a intempéries<br />
e falhas operacionais e humanas. Temos<br />
a previsão de cargas, mas se há uma frente<br />
fria, a carga diminui; se ocorrer um ‘veranico’,<br />
a carga aumentará. Aí tomamos ações corretivas<br />
e reprogramamos a carga de energia de<br />
uma região para a outra, religamos equipamentos,<br />
flexibilizamos limites operativos, tudo<br />
sem exceder a capacidade de transporte das<br />
linhas de transmissão”.<br />
Os turnos vão se revezando,<br />
trocam-se os operadores e, enquanto<br />
isso, o País realiza suas<br />
atividades normalmente e poucos<br />
sabem daqueles que varam<br />
dias e noites atentos. Rostos iluminados<br />
pelas telas, olhos fixos,<br />
um turbilhão de pensamentos e<br />
um único desejo: que o novo dia<br />
traga a melhor surpresa, ou seja,<br />
nenhuma surpresa. João Lúcio<br />
(ao lado) lembra um caso: “Em<br />
12 de março de 1998, por volta<br />
das 22 horas, horário de cargas<br />
altas, tínhamos as usinas do Rio Paraná cheias<br />
d’água e precisando gerar. Então veio o tal raio<br />
de Bauru, desligando as dez linhas da subestação<br />
que supre São Paulo. Aí, pela sobrecarga e<br />
queda da frequência e tensão, outras subestações<br />
foram sendo desligadas em série. Esse foi<br />
o resultado de dez anos sem investimentos na<br />
expansão da transmissão. O atual modelo do<br />
Setor Elétrico criou o ONS, a ANA, fortaleceu a<br />
Aneel, trouxe novas metodologias, melhorou a<br />
avaliação e a segurança eletromagnética. Dificilmente<br />
a mesma situação se repetirá”.<br />
Brasil x Argentina - No campo da energia<br />
não existe a rivalidade Brasil versus Argentina,<br />
nem contra os tradicionais adversários do futebol,<br />
Uruguai e Paraguai; pelo contrário, todos<br />
se ajudam principalmente em situações de crise.<br />
O CNOS ‘conversa’ com esses países por<br />
meio de acordos internacionais. No caso do<br />
Paraguai, via Itaipu, onde consumimos toda a<br />
energia do lado brasileiro e compramos 90%<br />
da produzida do lado paraguaio. João Lúcio<br />
observa que com a Argentina temos pontos<br />
de conversão em Garabi I e II e Uruguaiana,<br />
porque a nossa frequência é de 60 hertz, e<br />
a dela, 50 hertz. “Melhoramos o intercâmbio.<br />
Agora enviamos a energia para a Argentina no<br />
período do inverno de lá. Depois ela nos devolve,<br />
a partir de outubro, quando as nossas<br />
hidrelétricas estão com cotas baixas”.<br />
O superintendente de<br />
Comercialização de Energia<br />
da <strong>Eletronorte</strong>, José<br />
Serafim Sobrinho (ao lado),<br />
não vê problema em<br />
interligar o SIN com sistemas<br />
de outros países da<br />
América do Sul. “Basta<br />
um bom acordo de despachos<br />
de cargas. Em<br />
breve, teremos uma série<br />
de usinas na Bolívia, no<br />
Peru, e de lá puxaremos<br />
as linhas, ajudando, inclusive,<br />
os outros países a crescerem. Com a<br />
diversidade climática, as bacias hidrográficas<br />
podem contribuir umas com as outras. No<br />
vale do Rio Orinoco, na Venezuela, o pico de<br />
vazão é em julho, junto, por exemplo, com a<br />
Usina Hidrelétrica Balbina, no Amazonas. Já<br />
na região central do Brasil, o pico das chuvas<br />
acontece entre fevereiro e março. A gestão das<br />
bacias propicia melhor<br />
uso de recursos e investimentos,<br />
pois a eletricidade<br />
pode transitar nos<br />
dois sentidos e garantir<br />
um abastecimento perene<br />
em todo continente ”,<br />
afirma.<br />
Copa do Mundo – O<br />
maior evento esportivo<br />
do planeta também é um<br />
bom termômetro para<br />
testar o sistema elétrico<br />
brasileiro. O coordenador de Certificação do<br />
CNOS, Plínio de Oliveira (acima), conta que<br />
durante os jogos da Seleção Brasileira de futebol<br />
o consumo sobe 11.500 mil MW em<br />
minutos, o equivalente ao que é consumido<br />
pela Região Sul em um único dia.<br />
Quem imaginaria que assistir televisão economiza<br />
eletricidade e que o aumento no gasto<br />
de energia revela perda de popularidade?<br />
Segundo Plínio, no final da novela das 8h da<br />
noite há picos de até 4.500 MW. “Depois dela<br />
todos vão tomar banho, aparelhos e luzes são<br />
ligados e o consumo sobe. Durante o horário<br />
político, as pessoas vão procurar outra coisa<br />
para fazer e o consumo vai às alturas: quatro<br />
mil MW sobem em segundos”.<br />
E por falar em Copa do Mundo, lembram-se<br />
do Zagalo gritando para a Seleção Brasileira:<br />
“Joga pelas pontas!”. Com a eletricidade é a<br />
mesma coisa, mas é o País inteiro que grita:<br />
“Mais energia nas pontas!”. Ouviram o eco da<br />
torcida e as vitórias foram chegando aos consumidores<br />
residenciais, comerciais, industriais<br />
e de serviço público. Mas, como o Garrincha,<br />
jogam muito bem pelas pontas os técnicos dos<br />
centros regionais de operação da <strong>Eletronorte</strong><br />
na região amazônica.<br />
De acordo com o superintendente de Engenharia<br />
de Operação e Manutenção da Transmissão,<br />
Sidney Custódio Santana Junior (abaixo),<br />
“com o ONS houve evolução nas formas<br />
de supervisão. Antes tínhamos uma subestação<br />
1, que atendia a uma carga 1; e outra subestação<br />
2 e uma geradora. Havia uma linha<br />
de transmissão unindo essa usina a uma subestação<br />
e mais uma linha. Isto é o que chamamos<br />
de critério ‘N’ de segurança. Significa<br />
que se perdêssemos essa linha o sistema seria<br />
interrompido. Agora temos o critério ‘N-1’, por<br />
meio do qual é possível manter o atendimento<br />
mesmo que se perca uma linha, uma vez que<br />
outra linha fará o abastecimento”.<br />
Segurança sem cochilos - Os operadores<br />
e técnicos da Subestação Presidente Dutra,<br />
no Maranhão, bateram o recorde mundial<br />
em segurança no trabalho em 2009: são 21<br />
anos sem acidentes do trabalho com afastamento<br />
do serviço. Um desempenho assim traz<br />
mais responsabilidades. Odorico Paulo Vieira<br />
Garcez, operador de tempo real do Centro de<br />
Operação Regional do Maranhão, conta que<br />
se sente realizado com sua profissão, tanto é<br />
que abandonou o jornalismo para ficar com ela,<br />
muito embora viva sob tensão. “É verdade: lidar<br />
com tensões é meu trabalho. Mas alivio-as fazendo<br />
trabalhos comunitários voluntários junto<br />
a jovens e idosos. A importância do operador<br />
em tempo real numa regional está na resposta<br />
diante de situações possíveis de causar blecautes.<br />
Um controle mal executado no meu<br />
sistema pode comprometer o fornecimento de<br />
energia elétrica em grande parte do País. Não<br />
posso cochilar. Se na saída de uma carga, por<br />
exemplo, eu cometo uma falha entre a média e<br />
a alta tensão, essa carga provoca rejeições na<br />
geradora, em nosso caso, na Usina Hidrelétrica<br />
Tucuruí. Tenho pouco tempo para restabelecer<br />
o fornecimento, principalmente para os grandes<br />
consumidores industriais que precisam manter<br />
os autofornos perenes. Manter as tensões dentro<br />
das faixas, com o mínimo de oscilações, é o<br />
que determina a qualidade da energia. E ainda<br />
há multas severas se a indisponibilidade do sistema<br />
ultrapassar o tempo previsto nos procedimentos<br />
estabelecidos pela Aneel. Um minuto é<br />
o tempo que tenho para dar uma resposta ao<br />
Odorico<br />
e Hamilton:<br />
decisões<br />
rápidas<br />
em tempo<br />
mínimo<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
7
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
8<br />
Secretário Nacional de Energia,<br />
Josias Matos de Araújo<br />
Qual a influência do governo junto ao ONS?<br />
O ONS tem participação junto ao governo no Comitê de<br />
Monitoramento do Setor Elétrico, órgão coordenado pelo<br />
Ministro de Minas e Energia, que conta ainda com a Empresa<br />
de Pesquisa Energética – EPE, ANA, Aneel, ANP e<br />
demais órgãos envolvidos. É nesse Comitê que são tomadas<br />
as deliberações com relação ao Sistema Interligado Nacional<br />
- SIN. O ONS faz os estudos restabelecendo níveis<br />
de armazenamento de reservatório que vêm para o Comitê<br />
deliberar. O Operador tem total independência para operar,<br />
coordenar e verificar as mudanças de regra no setor, pois<br />
é também um órgão fiscalizador do sistema elétrico sob o<br />
ponto de vista de operação. A Aneel, em última instância, é<br />
a fiscalizadora do sistema.<br />
A parcela variável, calculada<br />
pelo ONS, é outra forma<br />
de multar as empresas?<br />
De fato a parcela variável acaba incidindo sobre o faturamento<br />
das empresas. Os cálculos são feitos pelo ONS, baseados<br />
na saída de atividade do equipamento e de acordo<br />
com o período que ele ficará indisponível. Se um equipamento<br />
ficar fora de ação por 20 horas, por exemplo, então<br />
ao ser feito o pagamento da receita anual permitida, o valor<br />
da penalização será automaticamente deduzido da receita<br />
da empresa.<br />
O sistema de transmissão<br />
brasileiro é suficiente para atender<br />
ao crescimento da demanda?<br />
Sim. Mas é necessário que o Brasil continue investindo<br />
no setor. Têm acontecido os leilões, os denominados A-3,<br />
das usinas térmicas; e os A-5, para geração hidráulica. Significa<br />
que a partir do momento em que a empresa vence<br />
ONS, avisando-o da disponibilidade do equipamento<br />
para a religação”.<br />
Já para o operador em tempo real, Hamilton<br />
Caldas da Silva, o seu trabalho é especial porque<br />
está à frente da atividade-fim da Empresa.<br />
“Só no Maranhão coordenamos nove subestações,<br />
além de instruir os operadores locais. Já<br />
vivemos situações de emergência resolvidas<br />
sob a coordenação do ONS para recompor o<br />
sistema. Há três anos perdemos duas linhas<br />
simultaneamente. Ver uma cidade apagada<br />
para nós é algo muito sério. E mesmo que<br />
a culpa não seja diretamente nossa, se não<br />
soubermos administrar esse sentimento, ele<br />
o leilão, ela tem cinco anos para entregar as obras. Para<br />
usinas térmicas, a entrega é prevista para três anos e temos<br />
os leilões para se criar reservas energéticas. O Brasil<br />
cresce a uma taxa de 4,5% a 5% ao ano; ou seja, é<br />
necessário colocar todos os anos no sistema mais quatro<br />
mil MW. Por isto o Programa de Aceleração do crescimento<br />
- PAC já prevê obras vitais como Belo Monte, a<br />
ser leiloada ainda este ano; os projetos do Rio Tapajós,<br />
usinas térmicas e usinas alternativas, como é o caso das<br />
eólicas, com leilão previsto para novembro próximo.<br />
O SIN poderá vir a ser um sistema<br />
internacional na América do Sul?<br />
Queremos estreitar o relacionamento com os países<br />
vizinhos. Estamos negociando com o Peru uma linha de<br />
transmissão entre os dois países e a construção de várias<br />
hidrelétricas no lado peruano, cujo potencial é de 20 mil<br />
MW. Destes, seis mil já podem ser explorados por usinas<br />
de médio porte. Há um estudo sendo feito pela Aneel<br />
para regulamentar o atendimento energético às nossas<br />
áreas de fronteiras. Essas interligações não nos prejudicariam,<br />
pois nossas linhas já possuem boa margem de<br />
segurança, fazendo com que as linhas de um sistema<br />
interligado internacional adquiram o mesmo perfil.<br />
A solução para os sistemas<br />
isolados está a caminho?<br />
O objetivo do governo é interligar os sistemas do Acre,<br />
Rondônia, Amapá, Roraima e Manaus, hoje abastecidos<br />
por usinas térmicas na sua quase totalidade. Temos as<br />
hidrelétricas Balbina (AM), Samuel (RO) e Coaracy Nunes<br />
(AP), mas o restante é atendido com energia vinda<br />
de usinas térmicas caras, movidas a derivados de petróleo,<br />
o que leva as concessionárias, principalmente a Ele-<br />
perdurará. Temos que nos conscientizar que<br />
somos profissionais capacitados e momentos<br />
como esse surgirão, não é um processo fácil.<br />
Mas é bom saber da nossa importância”.<br />
O gerente do Centro Regional, Décio Bueno,<br />
lista os principais clientes atendidos no<br />
Maranhão: a distribuidora estadual Cemar e<br />
os eletrointensivos Alumar e Vale. “Hoje o consumo<br />
da Alumar é uma vez e meia o consumo<br />
diário de todo o Maranhão, de 800 MW, em<br />
decorrência do processo de eletrólise durante<br />
a fabricação de alumínio, onde 85% do custo<br />
é energia elétrica. Mas o consumo do estado<br />
também tem crescido. Hoje nós temos duas<br />
tronorte, a terem sérios problemas financeiros. Com<br />
o objetivo de eliminar o problema, a primeira decisão<br />
foi interligar o Acre a Rondônia, e Rondônia a Mato<br />
Grosso, o que será feito ainda este ano. Em 2011 teremos<br />
a interligação de Tucuruí com Manaus e Amapá.<br />
Já existem projetos de interligação de Roraima com o<br />
Amazonas. Quando essas providências se tornarem<br />
realidade, reduziremos muito o prejuízo, o que é chamado<br />
pela Aneel de custo evitado; ou seja, a cada<br />
linha construída, se evita custo de mais geração térmica.<br />
É bom lembrar que o valor aprovado, este ano,<br />
para a conta CCC, pela Aneel, é de R$ 2,5 bilhões.<br />
Ano passado esse valor foi superior a R$ 3,8 bilhões.<br />
Ou seja, já fizemos uma economia em torno de R$ 1<br />
bilhão. Mas a CCC, pela lei atual, só encerrará seus<br />
benefícios no ano de 2023. Na região amazônica, certos<br />
locais serão atendidos por sistemas isolados específicos<br />
de unidades de células fotovoltaicas, energia<br />
eólica, bioenergia, biomassa, já contempladas pelo<br />
programa Luz para Todos.<br />
linhas de transmissão para São Luís, que estão<br />
sendo recapacitadas e expandidas. Os nossos<br />
operadores são muito exigidos, mas a modernização<br />
dos equipamentos e sistemas ajuda<br />
na tomada de decisões”.<br />
Luzes da cidade – Num apagão há dois<br />
momentos periclitantes: quando o problema é<br />
técnico, vem o sentimento de desgaste devido<br />
à responsabilidade pela manutenção. Quando<br />
a falha é humana, o sentimento é pior. “A solução<br />
é dialogar com os companheiros e manter<br />
a tranquilidade, lembrando que as próximas<br />
ações devem ser mais cuidadosas, mas não<br />
podemos perder de vista a importância de<br />
tudo que fizemos e que ainda faremos. Nesses<br />
momentos valorizamos ainda mais os treinamentos.<br />
E não podemos desvalorizar o profissional,<br />
derrubando a sua autoestima, pois não<br />
dá para formar técnicos desse nível da noite<br />
para o dia. E a despeito do erro, temos que<br />
contar com o profissional de mente saudável<br />
e pronto para agir. Por exemplo, minha válvula<br />
de escape para aliviar as tensões é fazer trilha<br />
e mergulhar”, conta Décio.<br />
O gerente da Regional de Transmissão do<br />
Maranhão, Mauro Luiz Aquino dos Santos,<br />
no intuito de reduzir os problemas de comunicação<br />
entre os operadores de tempo real,<br />
instalou há alguns anos placas e câmeras de<br />
vídeo para gravar as instruções aos técnicos<br />
durante as trocas de turnos. “Desde então, as<br />
imagens gravadas não só servem como instrução<br />
de rotina, mas também se transformaram<br />
em importantes documentos de consulta e de<br />
aprendizado”.<br />
Como as luzes da cidade não podem se<br />
apagar, a energia dos nossos técnicos não<br />
pode esmorecer. Ninguém quer ficar no escuro.<br />
Afinal, a escuridão pode nublar a visão dos<br />
homens e roubar o brilho das cidades.<br />
Décio, à esquerda, e Mauro, à direita: valorizando treinamentos<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
9
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
10<br />
Hamilton e família<br />
Mulheres<br />
em tempo real<br />
Quando elas caíram na real, já estavam casadas<br />
com operadores de tempo real. Aí foi um Deus nos<br />
acuda. Eram homens diferentes: sumiam no meio da<br />
noite para áreas de alta periculosidade. “Nós trabalhamos<br />
em subestações!” explicavam eles. Só que<br />
como elas nunca podiam entrar lá, por algum tempo<br />
pensaram que as subestações eram algum tipo de<br />
submundo. “Tá vindo aí um blecaute, tô indo para<br />
uma operação especial!”, gritavam eles lá de fora da<br />
casa, já entrando no carro. “Ahn han, eu ainda vou<br />
descobrir quem é esse ‘black’ e essa tal de ‘out’. É só<br />
faltar a luz que esses dois telefonam pra cá!”, murmuravam<br />
as jovens esposas daqueles operários tão apaixonados<br />
pelo trabalho de manter acesa as luzes da<br />
cidade. Agora são recordações e as famílias felizes,<br />
com os filhos já criados e encaminhados, juntam-se<br />
para rir, mas no início foi difícil, muito difícil. É o que<br />
dizem elas.<br />
Discussões, risos, lágrimas e abraços: foi assim. Alguns<br />
já calvos, outros com os cabelos brancos. Mas o<br />
que nunca mudou entre eles foi a amizade. Arcelino da<br />
Silva Nascimento, José Martins Soares, José Antônio,<br />
Joaquim Carlos Brito, Hamilton Caldas da Silva e Odorico<br />
Paulo Vieira Garcez são operadores em tempo real<br />
do Centro de Operações do Maranhão. Sim senhor, e<br />
suas mulheres, ‘operadoras da realidade do tempo’.<br />
Dona Valma Fontes Ribeiro Garcez é casada com<br />
Odorico há 21 anos. O casal tem dois filhos, Marcos<br />
Paulo e André Luiz. Ela conta que foi difícil adaptarse<br />
ao sistema de trabalho de turno do marido, pois<br />
impedia que eles participassem de festas, casamentos<br />
e encontros de casais. São religiosos e ficava difícil<br />
para ela ser conselheira com um marido que faltava<br />
Odorico e família<br />
muito aos encontros. “Procuro entender a profissão<br />
dele, mas os treinamentos são em locais tão distantes.<br />
O André Luiz só conheceu o pai quando tinha<br />
quatro meses. O Odorico estava fazendo um curso<br />
em Tucuruí. Mas olhando para trás, vendo tudo que<br />
construímos, mesmo com tudo que passamos, eu<br />
agradeço a Deus!”.<br />
Já dona Isabel Cristina, casada há 20 anos, a esposa<br />
do Hamilton, é mãe do Daniel e da Débora Cristina.<br />
Ela comenta como a rotina de sua família é diferente<br />
das demais: “Todo mundo vai ao cinema no final<br />
de semana, a gente não, só na quarta-feira. Este ano<br />
nem fizemos festa de Ano Novo, ele sempre trabalha<br />
nessa data!”. A família conseguiu adaptar-se à rotina<br />
de trabalho do pai, o mesmo não se pode dizer dos<br />
seus cães. Hamilton e Daniel chegaram à conclusão<br />
que é melhor não tê-los para não perdê-los. E Débora<br />
Cristina relata uma triste história: “Já tivemos quatro<br />
cães e foi um fracasso. As duas cadelas morreram<br />
logo, um fugiu e jamais foi encontrado e o outro enlouqueceu.<br />
Este último, um fila brasileiro enorme, de<br />
uma hora para outra começou a destruir tudo dentro<br />
de casa, possesso. Tivemos que sacrificá-lo!”.<br />
Hamilton adorava seus cães e seus cães o adoravam;<br />
mas agora vai explicar para um cachorro o sistema<br />
de turnos da <strong>Eletronorte</strong>! Já a Débora, que na sua<br />
meninice assistiu tantos cães partirem, sem dúvida<br />
hoje busca na ciência a resposta de tal incompatibilidade<br />
do seu lar com o lar dos seres caninos. Está estudando,<br />
ao mesmo tempo, veterinária e biologia. “Eu<br />
amo cães!” diz ela com uma ponta de saudade. Mas<br />
dona Isabel retruca. “Que nada, ela quer os coitados<br />
é para dissecar. Aqui cachorro não entra!”.<br />
tECnologIA<br />
César Fechine<br />
“E como é que vocês conseguiram imprimir<br />
essa dinâmica, que parece típica de empresa<br />
privada? Porque isso não é comum.” A pergunta<br />
é feita pelo editor da revista Época Negócios,<br />
Marcos Todeschini, em entrevista realizada<br />
em Brasília, da qual participaram Neusa<br />
Maria Lobato Rodrigues, superintendente de<br />
Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e<br />
Eficiência Energética da <strong>Eletronorte</strong>, e os empregados<br />
João Nilson de Oliveira, de Tucuruí,<br />
e Raimundo Nonato de Oliveira Guimarães,<br />
de Macapá.<br />
As respostas enchem de lágrimas os olhos<br />
do entrevistador e entrevistados. “O amor que<br />
eu tenho pela <strong>Eletronorte</strong> é uma coisa maravilhosa.<br />
Nós, ‘eletrossauros’, somos apaixonados<br />
pela Empresa e esse amor consegue romper<br />
todos os problemas e percalços que temos.<br />
Divulgação<br />
Inovações que transformam<br />
<strong>Eletronorte</strong> é a única estatal entre as<br />
25 empresas mais inovadoras do Brasil<br />
Cada pessoa aqui dentro sabe da importância<br />
do seu papel”, responde Neusa.<br />
“Com o tempo, a gente vai criando amor<br />
pela equipe de trabalho e tem as pessoas<br />
como se fossem parentes, familiares nossos.<br />
Nós desenvolvemos as atividades juntos e, às<br />
vezes, se um colega precisar, ele está à vontade<br />
para ligar, porque me considera como irmão.<br />
Em nossa Divisão nós temos um slogan: o<br />
fácil foi feito, o difícil nós estamos fazendo e o<br />
impossível demora um pouco. E tudo isso vai<br />
alavancar o processo como um todo”, ensina<br />
Guimarães.<br />
João Nilson acrescenta: “Nós fazemos por<br />
amor à Empresa. Queremos ver uma <strong>Eletronorte</strong><br />
que não para, que continue funcionando<br />
e gerando energia. Como eu tinha isso de<br />
Wady Charone (à direita) recebe prêmio de Kátia Militello e Nelson Blecher<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
11
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
12<br />
inventar coisas para mim, não foi difícil pensar<br />
em como melhorar os processos empresariais.<br />
O principal é o reconhecimento. A Empresa<br />
pede o registro da patente, divulga a inovação<br />
e divide o lucro com o empregado.”<br />
A entrevista foi feita para o Anuário de<br />
Inovação de Época Negócios, que teve edição<br />
lançada em julho de 2009 com a primeira edição<br />
do prêmio ‘As empresas mais inovadoras<br />
do Brasil/2009’. A <strong>Eletronorte</strong> ficou entre as<br />
25 primeiras e foi reconhecida com o prêmio,<br />
uma parceria da revista e o Fórum de Inovação<br />
da Fundação Getúlio Vargas - FGV, juntamente<br />
com o instituto Great Place to Work - GPTW,<br />
e apoio técnico da Fundação Nacional de<br />
Qualidade - FNQ, na categoria Processo de<br />
Inovação.<br />
“Fizemos esse levantamento em parceria<br />
com a FGV para o anuário sobre inovação, que<br />
aborda os fenômenos que estão acontecendo<br />
nas empresas, processos e novos negócios. É<br />
a primeira vez que fazemos esse especial. Os<br />
pesquisadores visitaram as empresas, distribuíram<br />
os questionários e recebemos o resultado<br />
com os destaques”, explica o jornalista Marcos<br />
Todeschini (acima, ao lado de João Nilson), 28<br />
anos, com passagens por veículos como Veja,<br />
Exame, 4Rodas e Superinteressante, trabalhando<br />
em Época Negócios desde o início deste<br />
ano como editor. “A primeira coisa que chama<br />
a atenção é a <strong>Eletronorte</strong> ser a única empresa<br />
estatal na pesquisa”, diz o jornalista. Por isso a<br />
pergunta citada no início desta matéria.<br />
Após a premiação, o diretor de Produção e<br />
Comercialização, Wady Charone, afirmou que<br />
um dos fatores mais importantes para uma<br />
organização é manter a equipe motivada. “Um<br />
dos fatores que levam a isso é o reconhecimento,<br />
ver o brilho nos olhos dos empregados. Esse<br />
prêmio valoriza a <strong>Eletronorte</strong>, a única empresa<br />
do governo a ser agraciada, o que aumenta o<br />
nosso desafio para construir, inovar, crescer,<br />
agregar valor e mostrar que podemos fomentar<br />
a inovação.”<br />
O diretor-presidente, Jorge Palmeira, lembra<br />
que o processo de inovação na <strong>Eletronorte</strong> começou<br />
há anos, ou seja, com o programa TPM<br />
e vem se aprimorando. Hoje, com a carteira<br />
de projetos de pesquisa e desenvolvimento,<br />
temos não só no nível interno, mas também<br />
no externo, várias tecnologias e procedimentos<br />
que promovem a inovação, principalmente nos<br />
processos produtivos da organização e nos<br />
diversos pedidos de patentes.”<br />
Investimentos - Desde 2002, a <strong>Eletronorte</strong><br />
celebrou contratos de projetos de P&D com<br />
uma rede de universidades e centros de pesquisa<br />
sediados em 20 estados, com o envolvimento<br />
de mais de 700 pesquisadores. Além<br />
dessa rede de instituições, a Empresa também<br />
executa pesquisas em seu Centro de Tecnologia,<br />
em Belém (PA), e no Centro de Pesquisa<br />
do Sistema Eletrobrás - Cepel (RJ).<br />
Atualmente, a Empresa faz a gestão direta<br />
de 205 projetos de P&D e participa de outros<br />
Diferenciais importantes<br />
A primeira lista anual de Época Negócios com as empresas<br />
mais inovadoras do Brasil foi formada a partir de uma pesquisa<br />
feita por professores do Fórum de Inovação da Fundação<br />
Getúlio Vargas/ Escola de Administração de São Paulo – FGV-<br />
Eaesp. O Fórum conduz há sete anos estudos a respeito dos<br />
fatores que contribuem para que uma empresa ou instituição<br />
seja permeada por um processo contínuo de inovações, tanto<br />
tecnológicas quanto organizacionais. “O que se busca com a<br />
investigação é uma visão integrada da companhia”, sintetiza<br />
Marcos Vasconcellos, coordenador do Fórum.<br />
Mais de cem empresas<br />
se inscreveram para<br />
o prêmio e o levantamento<br />
foi resultado de<br />
14 meses de trabalho.<br />
As candidatas preencheram<br />
extenso questionário<br />
que, no conjunto,<br />
radiografa todos os processos<br />
internos, capazes<br />
de levá-las – ou não – à<br />
condição de ‘organização<br />
inovadora’. Para se<br />
assegurar da precisão<br />
das informações enviadas,<br />
examinadores da<br />
Fundação Nacional da Qualidade – FNQ, juntamente com o<br />
instituto Great Place To Work – GPTW, deram apoio técnico<br />
ao levantamento e visitaram as 35 finalistas.<br />
Cinco dimensões foram analisadas pelos especialistas,<br />
cada uma com peso diferente no cômputo final: o papel<br />
da liderança na definição das estratégias e no incentivo<br />
à criatividade; o meio inovador interno, que estimula a<br />
iniciativa e o envolvimento das pessoas; as pessoas que<br />
87. Os projetos de inovação já geraram 111<br />
produtos, sendo 22 protótipos, 34 softwares<br />
e 55 métodos. Esses projetos também resultaram<br />
em 31 soluções tecnológicas para a<br />
Empresa, sendo 20 na área de geração e 11<br />
na de transmissão.<br />
Os investimentos em inovação não param<br />
de crescer. “O investimento médio da Empresa<br />
é de R$ 10 milhões por ano.<br />
E há R$ 50 milhões provisionados<br />
para os próximos três<br />
anos”, informa Álvaro Raineri<br />
(ao lado), gerente dos programas<br />
de P&D da <strong>Eletronorte</strong>.<br />
Mais de R$ 410 mil foram<br />
distribuídos aos empregados<br />
conduzem o processo de inovação; o processo de inovação,<br />
que se inicia com a alocação de recursos e compreende as<br />
etapas de geração de ideias, desenvolvimento e implementação<br />
das inovações; e os resultados, evidenciados pelos ganhos<br />
financeiros gerados pelas dimensões anteriores.<br />
“A pesquisa procurou identificar os fatores que conferem<br />
a determinadas companhias diferenciais importantes em<br />
um mercado cada vez mais padronizado”, declarou ao final<br />
do evento de premiação o diretor-geral da Editora Globo,<br />
Frederic Zoghaib (acima). O Anuário de Inovação Época<br />
Negócios contém o perfil das 25 empresas vencedoras e de<br />
como foi feito o estudo que buscou entender os processos<br />
de produção para que as companhias fossem consideradas<br />
continuamente inovadoras. A maneira holística com que<br />
analisa as empresas possibilita ao Fórum de Inovação da<br />
FGV-Eaesp conciliar as modernas visões das práticas de<br />
inovação e da ‘arte de fazer a diferença’.<br />
que desenvolveram projetos inovadores<br />
por meio do Prêmio Muiraquitã.<br />
“Tudo isso levou ao aumento do número<br />
de pedidos de patentes da Empresa,<br />
que chegam hoje a 51 solicitações.<br />
Os autores dos projetos ganham<br />
20% sobre o que for comercializado”,<br />
relata Neusa Lobato (ao lado).<br />
Retífica - Na entrevista com os<br />
nossos dois ‘professores pardais’<br />
depreende-se que o dom para a invenção<br />
manifesta-se ainda na infância. O auxiliar<br />
técnico de manutenção João Nilson, desde<br />
pequeno inventa coisas e diz que nas empresas<br />
em que trabalhou sempre procurou um<br />
Divulgação<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
13
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
14<br />
jeito para melhorar o trabalho. Na <strong>Eletronorte</strong><br />
desde 1984, João Nilson (à direita) tem várias<br />
inovações registradas, como o dispositivo para<br />
a usinagem de eixos mecânicos em tornos de<br />
pequeno porte.<br />
“Os equipamentos disponíveis na Usina<br />
Hidrelétrica Tucuruí não suportavam o diâmetro<br />
do anel coletor das máquinas da primeira<br />
etapa, que era maior do que o torno que nós<br />
temos para manutenção. E sem o anel a máquina<br />
não gera energia. Nós estamos falando<br />
de uma unidade geradora de 350 MW de<br />
potência, com três anéis, cada, totalizando<br />
36”, detalha.<br />
Para fazer a retífica do anel coletor, a unidade<br />
geradora chegava a ficar parada por 30<br />
dias e uma verdadeira operação de guerra era<br />
montada para transportar a peça com mais de<br />
dois metros de diâmetro até São Paulo, por<br />
meio de balsas e caminhão, muitas vezes em<br />
estradas intransitáveis. O custo total evitado<br />
pela Empresa após a utilização do dispositivo<br />
para usinagem é estimado em mais de R$<br />
28 milhões. “Eu pensava: já fiz tanta coisa e<br />
para eu fazer isso não vai custar. Falei para<br />
as pessoas que ia fazer, algumas duvidaram,<br />
O futuro da inovação<br />
O engenheiro Luis Cláudio Silva Frade (foto), chefe<br />
do Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás,<br />
está participando de um projeto iniciado em 2008 (estilo<br />
wikipédia), coordenado pelas professoras Anna Trifilova e<br />
Bettina von Stamm, ligadas<br />
ao Innovation Leadership<br />
Forum (ILF), que resultará<br />
na publicação de um livro<br />
sobre ‘O Futuro da Inovação’.<br />
O projeto contou<br />
com a contribuição de 350<br />
profissionais de 60 países,<br />
sendo que cerca de 200<br />
foram escolhidos para a<br />
publicação do livro que será<br />
lançado em novembro.<br />
No mês passado, o site<br />
do livro foi lançado na 20th<br />
Conference of The International<br />
Society for Professional Innovation Management<br />
(ISPIM), em Viena, na Áustria, e contém um artigo escrito<br />
por Frade, que retrata o pensamento sobre o futuro da<br />
inovação no Brasil. O site traz artigos sobre inovação de<br />
diversas vertentes, países e pessoas e pode ser consultado<br />
no endereço http://thefutureofinnovation.org/.<br />
e eu disse, dá. Quando retifiquei o primeiro<br />
anel o pessoal disse, agora você concluiu a<br />
sua ideia. Eu tinha certeza que ia fazer e fiz”,<br />
diz o coautor de outras inovações.<br />
Após o dispositivo ser criado, o tempo máximo<br />
de manutenção dos anéis passou para três<br />
dias, tudo feito na própria Usina. “E o melhor<br />
é que, depois que nós começamos a fazer a<br />
retífica, a máquina parou de dar problema<br />
no anel coletor, aparece uma vez ou outra”,<br />
acrescenta Nilson.<br />
Escavadeira - O paraense Raimundo Nonato<br />
de Oliveira Guimarães (abaixo, ao centro)<br />
só foi registrado aos dois anos de idade. “Eu<br />
sou paraense, mas fui para o Amapá com dois<br />
anos e a minha mãe deixou para me registrar<br />
lá porque o meu avô era tabelião. Eu nasci<br />
em Belém, mas sou amapaense”, diz, num<br />
paradoxo compreensível para quem conhece<br />
o imenso ‘nortão’ do País.<br />
Ensaios garantem<br />
confiabilidade<br />
de equipamentos<br />
O Centro de Tecnologia da <strong>Eletronorte</strong>, em Belém (PA),<br />
montou um laboratório a céu aberto para ensaios com alta<br />
tensão em buchas de transformadores e reatores de até<br />
500 kV. O laboratório foi montado para propor soluções de<br />
modo a aumentar a confiabilidade das buchas de reatores<br />
e transformadores de potência de alta tensão, armazenados<br />
em almoxarifados da Empresa. E após a ocorrência<br />
de três sinistros no biênio 2008/2009 em reatores da<br />
Empresa, causados por avarias originadas nessas buchas.<br />
“Como resultado, foi emitido um relatório sugerindo maior<br />
eficiência e eficácia no armazenamento, padronização da<br />
especificação técnica e a realização de ensaios periódicos<br />
para avaliar o estado das buchas de reserva”, esclarece<br />
Francisco Roberto Reis França, superintendente do Centro<br />
de Tecnologia.<br />
Segundo Lídio Nascimento, gerente da Divisão de Tecnologia<br />
de Ensaios, a realização desses estudos pela equipe<br />
interna da <strong>Eletronorte</strong> evitará um gasto aproximado de R$<br />
1,4 milhão. “A <strong>Eletronorte</strong>, ao atuar dessa forma, reduz<br />
significativamente a possibilidade de ocorrência de novos<br />
sinistros e, portanto, de multas impostas pelo Operador<br />
Nacional do Sistema - ONS, de valor bastante elevado,<br />
conhecidas como parcela variável.”<br />
A opção por realizar os testes em laboratórios externos<br />
foi descartada em função do custo elevado, além da<br />
complexidade na logística de transporte das buchas, já<br />
que os principais laboratórios se situam nas regiões Sul e<br />
Sudeste do País. Frente a esse novo desafio, a equipe do<br />
processo de ensaios elétricos com alta tensão montou o<br />
Técnico industrial de engenharia, Guimarães<br />
está há 32 anos na <strong>Eletronorte</strong> e trabalha<br />
na Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, a<br />
primeira hidrelétrica da Amazônia, localizada<br />
no município de Ferreira Gomes (AP). Ele é<br />
outro dos inventores premiados da Empresa.<br />
E pensar que tudo pode ter começado com<br />
uma brincadeira de menino. “Quando eu era<br />
criança, via aquelas pás carregadeiras. Aí eu<br />
peguei uma lata de leite, enchi de terra, furei<br />
do lado, inseri um arame, peguei uma lata de<br />
óleo, daquelas retangulares, cortei de fora a<br />
fora, amarrei um fio e um arame e ela puxava<br />
e ‘basculhava’”, conta.<br />
Hoje, Guimarães é autor de projetos como<br />
o reservatório para uso em máquinas pesadas,<br />
com sistema de retrolavagem, que permite a<br />
laboratório para realizar os ensaios. Os técnicos já realizam<br />
diversas atividades, tais como ensaios de tensão suportável<br />
à frequência industrial, medição de capacitância e fator de<br />
dissipação, medição de descargas parciais e medição de<br />
radiointerferência, limitados ao nível de tensão de 800 mil<br />
Volts em <strong>corrente</strong> alternada.<br />
Após a entrega do novo laboratório, que está em construção,<br />
também serão realizados ensaios de impulso atmosférico<br />
(simulação de uma descarga atmosférica) e ensaios de impulso<br />
de manobra (simulação de um chaveamento), em até<br />
2.400.000 Volts. Além de reduzir as despesas operacionais,<br />
o laboratório possibilitará a prestação de serviços para outras<br />
empresas, o que já acontece, por exemplo, com a Alunorte.<br />
“Executar esses ensaios é motivo de orgulho para a equipe<br />
e serve de estímulo à determinação na superação de novas<br />
dificuldades para ajudar a <strong>Eletronorte</strong> a atingir as suas metas<br />
de ser uma Empresa lucrativa”, finaliza Lídio.<br />
limpeza dos radiadores sem a necessidade de<br />
parada da máquina, entre outros. O projeto<br />
diminuiu significativamente os custos relativos à<br />
perda de produção, com uma economia estimada<br />
para a Empresa em R$ 440 mil por ano.<br />
Mas, afinal, como surgem essas inovações?<br />
Guimarães responde: “A inovação cai como<br />
se fosse uma tela, um quadro na frente da<br />
gente. De acordo com os problemas, aquilo<br />
vem na hora. A gente visualiza a solução e<br />
coloca em prática essa percepção. É um dom<br />
e uma aptidão.” E que dependem também<br />
de muito trabalho e observação. O mérito<br />
pelas inovações e melhorias que mudam a<br />
Empresa é, principalmente, de vocês, Guimarães,<br />
João Nilson e tantos outros valorosos<br />
empregados.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
15
REsPonsABIlIDADE soCIAl<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
16<br />
Waimiri Atroari: etnia<br />
que renasce a cada dia<br />
Érica Neiva<br />
“Em 1986, quando retomei os contatos<br />
com os índios Waimiri Atroari, após um afastamento<br />
de cerca de 12 anos, os encontrei<br />
numa situação muito difícil. Estavam doentes,<br />
tristes, perambulando pela rodovia BR-174,<br />
pedindo carona a caminhoneiros, dependentes<br />
de alimentação e doações. Morriam, em<br />
média, 20% ao ano. Podia-se dizer que es-<br />
tavam caminhando para o extermínio. Aquele<br />
povo que conheci em 1969, de guerreiros<br />
altivos, defensores do seu território e de suas<br />
vidas, estava triste, aguardando algo que não<br />
sabia exatamente o que era... Ainda não havia<br />
demarcação nem definição dos limites de<br />
suas terras”.<br />
A descrição feita pelo consultor indigenista<br />
da <strong>Eletronorte</strong>, José Porfírio Carvalho, não<br />
é apenas a constatação de um especialista<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
17
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
18<br />
Arco<br />
e flexa,<br />
o maior<br />
símbolo<br />
do povo<br />
Kinja<br />
e estudioso das questões indígenas. São as<br />
palavras de um kaminja, expressão da língua<br />
materna Waimiri Atroari que provém da família<br />
linguística Karib e significa pessoa não-índia,<br />
que há 42 anos acompanha ativamente a vida<br />
da etnia, cujo território se localiza nas regiões<br />
sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas.<br />
Com a construção da BR-174, rodovia<br />
construída entre 1974 e 1977, que liga Manaus<br />
(AM) a Boa Vista (RR) e atravessa a terra<br />
indígena Waimiri Atroari no sentido sul-norte,<br />
a situação piorou. A rodovia trouxe o contato<br />
com o homem branco e doenças como sarampo,<br />
malária, verminose<br />
e leishmaniose, matando<br />
inúmeros kinja, autodenominação<br />
dos Waimiri Atroari<br />
para si mesmos. Além desse<br />
empreendimento, a vida da<br />
comunidade foi afetada pela<br />
Mineração Taboca, instalada<br />
na parte leste da terra indígena,<br />
e pela construção da Usina<br />
Hidrelétrica Balbina. Entre<br />
1974 e 1987, a população<br />
Waimiri Atroari foi reduzida<br />
de 1.500 para 374 pessoas<br />
distribuídas em sete aldeias.<br />
Na década de 1980 foram<br />
realizados estudos para<br />
identificar o nível de impacto ambiental que o<br />
reservatório de Balbina causaria à terra indígena<br />
Waimiri Atroari. O resultado mostrou que<br />
seriam inundados 30 mil hectares. O líder dos<br />
índios, Parwe Mário (acima), lembra-se que,<br />
em 1986, a comunidade passou a exigir me-<br />
Proteção ambiental<br />
preserva espécies<br />
em Balbina<br />
Percorrer o Centro de Proteção Ambiental – CPA da<br />
Usina Hidrelétrica Balbina é deparar-se com um universo<br />
de cores, sons e imagens vivas. Nos finais de tarde,<br />
essas sensações intensificam-se com a chegada gradativa<br />
de araras que realizam performances e provocam<br />
admiração. Após algum tempo, elas saem em revoada,<br />
deixando no céu a impressão de um dia multicor. Nesse<br />
cenário, encontramos a médica veterinária Stella Maris<br />
Lazzarini (na foto, com o peixe-boi), que em 1987 iniciou<br />
o trabalho de resgate de fauna em Balbina. Quando<br />
o CPA começou a funcionar efetivamente, em 1992,<br />
ela passou a trabalhar no local e hoje é a coordenadora<br />
dos programas ambientais da Usina.<br />
Para a veterinária, apesar da construção da hidrelétrica<br />
ter inundado uma floresta primária de terra firme<br />
e impactado várias espécies animais e vegetais, houve<br />
medidas compensatórias importantes como a Reserva<br />
Biológica Uatumã, que preserva intacta uma floresta<br />
com extensão duas vezes maior do que a área alagada<br />
pelo reservatório da Hidrelétrica; o Centro de Preservação<br />
e Pesquisa de Quelônios Aquáticos – CPPQA<br />
e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos<br />
Aquáticos – CPPMA. “Além do Programa Waimiri<br />
Atroari e da Reserva Biológica Uatumã, foram preconizados<br />
programas ambientais já prevendo o impacto<br />
ambiental de Balbina, com o objetivo de mitigar os impactos<br />
negativos da hidrelétrica. São os programas de<br />
mamíferos e quelônios aquáticos que surgiram devido<br />
à interrupção da migração desses animais com a construção<br />
do empreendimento”, esclarece Stella.<br />
Em 1986, descobriu-se que cerca de 370 tartarugas<br />
da Amazônia (podocnemis expansa) agruparam-se<br />
didas que mitigassem os danos da inundação.<br />
“Quando soubemos da hidrelétrica procuramos<br />
conhecer os impactos e começamos a<br />
cobrar os nossos direitos. Ao serem feitos os<br />
estudos, ficamos sabendo que duas aldeias<br />
seriam alagadas - a Tapypyna e a Taquari.<br />
Em 1988, a <strong>Eletronorte</strong> implantou o Programa<br />
Waimiri Atroari, que trouxe os benefícios<br />
que consideramos os mais importantes para<br />
nosso povo - saúde, educação, fiscalização<br />
e demarcação. A nossa terra foi demarcada,<br />
homologada e registrada em cartório”, recorda<br />
Parwe. É importante frisar que após o contato<br />
com os brancos, como forma de facilitar a co-<br />
perto da futura barragem, sem poder subir o rio para desovar<br />
nos tabuleiros a montante. Em função disso, foram<br />
criadas praias artificiais para permitir a desova das tartarugas.<br />
Hoje o Centro possui 315 quelônios. “As tartarugas<br />
vêm entre os meses de agosto e outubro, encontram as<br />
praias artificiais e desovam em tabuleiros. Os ovos são<br />
cuidados e em janeiro e fevereiro são devolvidos à natureza.<br />
É um programa em que rapidamente se pode vislumbrar<br />
uma melhoria”, afirma a veterinária. De 1986 a 2008<br />
já foram soltos cerca de 100 mil filhotes de tartaruga no<br />
Rio Uatumã e nos lagos da região.<br />
municação, eles passaram a usar dois nomes,<br />
um indígena e outro em português, a exemplo<br />
de Parwe Mário; antes disso possuíam apenas<br />
o nome indígena.<br />
Anterior à implantação do Programa, como<br />
parte das ações mitigadoras, a <strong>Eletronorte</strong> se<br />
responsabilizou pelo financiamento da demarcação<br />
da área Waimiri Atroari que culminou na<br />
sua homologação em junho de 1989, por meio<br />
do Decreto nº 97.837/89, com uma área de<br />
2.585.911 ha. Na mesma ocasião, no Estado<br />
do Pará, como forma de compensação pelos<br />
impactos causados pela Usina Hidrelétrica Tucuruí,<br />
a <strong>Eletronorte</strong> criou o Programa Paraka-<br />
Usina não impediu a desova da tartaruga da Amazônia<br />
Em busca da liberdade – Os peixes-boi são outra espécie<br />
impactada pela construção de Balbina, pois são habitantes<br />
naturais do Rio Uatumã. Hoje estão isolados em duas populações<br />
– uma está acima da barragem, e talvez fique no<br />
futuro como uma reserva genética da espécie; há também<br />
os que estão abaixo e provavelmente vão acompanhar os<br />
nativos e ganhar o Amazonas.<br />
O CPPMA foi criado para reabilitar esses animais, mas um<br />
dos dilemas é a sua superpopulação. Hoje são 45 peixes-boi,<br />
número considerado excessivo pela veterinária. “No início, o<br />
objetivo era apenas fazer a reabilitação, mas hoje é soltá-los<br />
para aumentar sua variabilidade genética. Mas para isso precisamos<br />
de mais apoio do Sistema Eletrobrás para monitorálos<br />
por meio de radiotransmissores, experiência que outras<br />
instituições realizam com grande êxito. Gastamos anualmente<br />
cerca de R$ 2 milhões com alimentação, mão de obra<br />
e medicamentos para mantê-los. Com a soltura seria R$ 1<br />
milhão por ano. Eles viveriam um tempo no Uatumã e depois<br />
acompanhariam a migração dos nativos”, destaca Stella.<br />
Vários filhotes que estão no Centro tiveram as mães mortas<br />
por caçadores que ainda hoje capturam os animais, não<br />
mais pelo valor do couro, mas pela carne. O fato de a espécie<br />
reproduzir em cativeiro não diminui o risco de ser extinta.<br />
“Há filhotes que reabilitamos e conseguiram reproduzir. Agora<br />
queremos soltá-los para que se reproduzam na natureza<br />
e a espécie tenha uma chance de sobrevivência. Sabemos<br />
que manter o animal reproduzindo em cativeiro não tira o<br />
perigo de ser extinto”, explica Stella.<br />
nã, adotando a mesma filosofia do Programa<br />
Waimiri Atroari.<br />
Invertendo a situação – Fruto de um convênio<br />
entre a <strong>Eletronorte</strong> e a Funai, o Programa<br />
Waimiri Atroari é um conjunto de ações<br />
indigenistas e ambientais voltado à valorização<br />
cultural, melhoria da qualidade de vida e<br />
preparação dos índios para se relacionarem<br />
de forma igualitária, esclarecida e autônoma<br />
com a sociedade à sua volta. Criado em 1988,<br />
com duração prevista de 25 anos, reúne 96<br />
colaboradores nas áreas de saúde, educação,<br />
proteção ambiental, apoio à produção, docu-<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
19
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
20<br />
mentação e memória, e administração.<br />
“O excelente desempenho<br />
dos colaboradores, a boa aplicação<br />
dos recursos e a continuidade das<br />
ações garantem o sucesso alcançado.<br />
Os Waimiri Atroari saíram de<br />
um índice de mortalidade de 20%<br />
ao ano para um crescimento de<br />
5,8% ao ano. Hoje sua população<br />
é de 1.330 pessoas”, frisa o gerente<br />
do Programa, Marcelo de Sousa<br />
Cavalcante (à esquerda).<br />
A sede do Programa fica em Manaus,<br />
mas para as atividades em campo foi<br />
estruturado um centro denominado Núcleo de<br />
Apoio Waimiri Atroari – Nawa que possui múltiplas<br />
funções: infraestrutura de apoio, realização<br />
de reuniões, treinamentos, e projetos demonstrativos<br />
e experimentais. Localizado nas<br />
proximidades da BR-174 com o Rio Alalaú,<br />
o Nawa é um ponto estratégico no apoio às<br />
aldeias e postos de serviço. Existem ainda na<br />
terra indígena escolas, postos de saúde, laboratórios,<br />
casas de apoio e postos de vigilância<br />
que dão o suporte necessário às ações do Programa.<br />
Todas as instalações citadas, inclusive<br />
as aldeias, contam com energia solar para o<br />
desenvolvimento das atividades.<br />
Para Porfírio Carvalho, idealizador do Programa<br />
Waimiri Atroari, o trabalho mudou a<br />
vida dessa comunidade indígena. “Não é um<br />
trabalho qualquer, mas de sentimento, de<br />
amor. Hoje, os Waimiri Atroari são um povo<br />
orgulhoso da sua vida, do seu território e da<br />
sua cultura. Tenho que agradecer à Eletronor-<br />
Alfabetização em duas línguas<br />
Porfírio, ao centro, de braços dados com os índios<br />
te que pode se orgulhar de salvar uma etnia.<br />
Como branco, sou o homem mais feliz por<br />
chegar onde chegamos. São pessoas que poderiam<br />
não existir, poderiam ter morrido. É um<br />
trabalho em grupo, de dedicação e carinho”,<br />
emociona-se o indigenista.<br />
Educação – “Tenho 32 anos e comecei<br />
a estudar com 12, no início do Programa,<br />
quando conheci a gramática Waimiri Atroari.<br />
A nossa língua materna é chamada de kinja<br />
iara, que significa pessoa verdadeira. Depois<br />
de escrever a língua materna fui aprendendo<br />
aos poucos a falar e escrever o português. Temos<br />
uma escola diferenciada. Aprendemos a<br />
nossa língua, depois o português. Temos que<br />
aprender a nossa língua para respeitarmos a<br />
nossa própria identidade. Há o rodízio de ma-<br />
térias como ciências, geografia, matemática, e<br />
aquelas que a comunidade julgar importante<br />
conhecermos. Desde menino tinha o sonho de<br />
ser inpany, professor”.<br />
A declaração acima é de Tuwadja Joanico<br />
(ao lado), coordenador de Educação das aldeias<br />
do ‘eixo-rio’, e ilustra um pouco o processo<br />
educativo implantado com o Subprograma<br />
de Educação, cujo maior objetivo é a alfabetização<br />
de todo o povo<br />
Waimiri Atroari na língua<br />
materna, orientados por<br />
princípios básicos da procura<br />
<strong>contínua</strong> por uma<br />
pedagogia e metodologias<br />
apropriadas à sua<br />
cultura. Isto significa que<br />
eles têm uma educação<br />
bilíngue com o principio<br />
básico da troca de conhecimentos<br />
entre o kinja<br />
e o kaminja. É importante<br />
destacar que toda a educação reflete a<br />
realidade dos Waimiri Atroari por meio de suas<br />
manifestações culturais, do seu trabalho e da<br />
sua língua. As aulas não se limitam à escola,<br />
mas podem ser explorados outros espaços<br />
como recurso didático, a exemplo de caçadas,<br />
pescarias, construção de malocas.<br />
Hoje há 801 alunos nas 22 aldeias, 61,85%<br />
da população. O índice de alfabetização é de<br />
38,66%. Existem 19 escolas, 54 professores<br />
Waimiri Atroari e sete não-índios que auxiliam<br />
em disciplinas como ciências, geografia e matemática.<br />
É fundamental destacar que, no início<br />
do Programa, não havia professores da etnia, o<br />
que foi acontecendo com a realização de cursos<br />
de capacitação e formação. “A importância<br />
da educação é aprendermos para registrarmos<br />
nossa cultura e defendermos nossas terras.<br />
Preparamos os nossos jovens para aprender,<br />
mas para isso não precisam ir à cidade. Tivemos<br />
uma oportunidade muito grande com a<br />
força da <strong>Eletronorte</strong>. Sem essa oportunidade<br />
a educação não ia andar. Essa força é fundamental<br />
na formação do povo Waimiri Atroari”,<br />
confirma Tuwadja.<br />
Saúde – O objetivo do Subprograma de<br />
Saúde é garantir boas condições de vida à po-<br />
Irineide, à direita, e parte da equipe de saúde<br />
As aulas<br />
não se<br />
limitam<br />
à escola<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
21
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
22<br />
Funai vivencia últimas demarcações de terras indígenas<br />
Hoje, no Brasil, de acordo<br />
com a Fundação Nacional<br />
do Índio – Funai, vivem<br />
cerca de 460 mil índios,<br />
distribuídos entre 225 sociedades<br />
indígenas, que<br />
perfazem cerca de 0,25%<br />
da população brasileira.<br />
Além desse número, existem<br />
entre 100 mil e 190<br />
mil vivendo fora das terras<br />
indígenas, inclusive em áreas<br />
urbanas. À Funai cabe<br />
estabelecer e executar a<br />
Política Indigenista no Brasil. O antropólogo e ex-presidente<br />
da Instituição, que hoje coordena a área de Documentação<br />
e Tecnologia da Informação, Artur Nobre Mendes (foto), fala<br />
um pouco sobre a política indigenista brasileira.<br />
Qual o papel da Funai na atual<br />
política indigenista brasileira?<br />
Além de demarcar a terra, a Funai procura desenvolver<br />
alguns projetos econômicos, de autosustentação, visando<br />
a garantir a segurança alimentar dos índios. A atenção às<br />
questões culturais e educacionais é muito deficiente se compararmos<br />
com a demarcação das terras, onde a Fundação<br />
avançou muito. Há tempos a questão da terra era a mais urgente<br />
e vital, por isso se concentraram recursos humanos e<br />
financeiros nessa tarefa. Nessa época, a missão era salvar<br />
os índios que estavam se acabando. Com a demarcação de<br />
Raposa Serra do Sol (RR), é o momento de refletir sobre o<br />
que foi feito e canalizar os esforços para garantir a permanência<br />
dos índios nessas áreas com qualidade de vida, tentando<br />
construir um conceito de desenvolvimento que seja adequado<br />
à realidade indígena.<br />
De que maneira os índios são compensados<br />
com a construção de grandes obras, a exemplo<br />
de usinas e projetos minerometalúrgicos?<br />
No início da década de 1980, começou-se a questionar o<br />
pulação Waimiri Atroari, valorizar a medicina<br />
tradicional e repassar conhecimentos das outras<br />
formas de medicina. Ao ser implantado, o<br />
Subprograma desenvolveu ações de inquérito<br />
epidemiológico, atendimento médico de urgência<br />
a toda a comunidade, vacinação contra<br />
todas as doenças imunopreveníveis, instalação<br />
de banco de dados visando ao monitoramento<br />
do grupo, instalação de postos de saúde para<br />
atendimento primário na terra indígena e mecanismos<br />
para atendimento secundário e terciário<br />
na cidade.<br />
impacto que as grandes obras trariam ao meio ambiente<br />
e às populações indígenas. Naquela época as terras indígenas<br />
não eram demarcadas. Antes dos programas, os<br />
índios recebiam indenizações, mas logo depois o dinheiro<br />
acabava. Os impactos eram potencializados, ao invés de<br />
mitigados. Programas indígenas como o Waimiri Atroari e<br />
o Parakanã mudaram essa realidade.<br />
Qual a importância desses programas<br />
desenvolvidos em parceria com a <strong>Eletronorte</strong>?<br />
Os programas introduziram medidas mitigadoras que<br />
reduziram os impactos de<strong>corrente</strong>s da construção de usinas<br />
hidrelétricas, com uma filosofia de educação, saúde,<br />
meio ambiente e apoio à produção que modificou a vida<br />
dos índios. Eles viabilizaram a vida dos Waimiri Atroari e<br />
dos Parakanã, que está em total equilíbrio. As pessoas<br />
falam que os programas têm muitos recursos, mas não é<br />
bem assim. Se contabilizarmos o que o Governo Federal<br />
investe nos índios por meio da Funai, ministérios da Saúde,<br />
Educação e Desenvolvimento Social, não é mais do<br />
que os programas investem. O investimento não tem que<br />
ser alto, mas bem pensado e aplicado. Nesse momento<br />
de reflexão, esses dois programas têm um papel muito<br />
importante a cumprir, pois podem apontar um caminho.<br />
Eles poderiam ser replicados<br />
em outras etnias indígenas?<br />
Cada caso é um caso. Os índios são muitos diferentes,<br />
a exemplo dos Waimiri Atroari e Parakanã. Eles têm características<br />
particulares que determinam algumas diferenças<br />
entre um programa e outro. No entanto, o modelo<br />
de gestão, de aplicação dos recursos, pode ser replicado<br />
e aproveitado. E, principalmente, acho que os programas<br />
são inovadores e exemplares na questão do tratamento<br />
indigenista. O diálogo que temos é o fiador do sucesso deles.<br />
Se impuséssemos nossa visão, o programa fracassaria,<br />
pois os índios não nos aceitariam como interlocutores;<br />
por outro lado se déssemos tudo nas mãos deles, seria<br />
um fracasso, pois repetiríamos os erros que nos propusemos<br />
a não repetir, como os cometidos no projeto Carajás,<br />
a exemplo das indenizações financeiras.<br />
Atualmente, a saúde da comunidade está<br />
equilibrada, inclusive não se constatam doenças<br />
que são muito comuns em nossa sociedade.<br />
“Fazemos o controle de todas as ações de<br />
saúde que são desenvolvidas na terra indígena<br />
Waimiri Atroari, por meio de atividades preventivas<br />
dos programas de tuberculose, imunização,<br />
malária e doenças crônicas, de acordo<br />
com as normas do Ministério da Saúde. Há<br />
também o programa de saúde bucal com<br />
atendimentos preventivo, curativo e corretivo.<br />
As doenças mais comuns são as verminoses<br />
e as infecções respiratórias. É importante destacar<br />
que na comunidade não há hipertensão,<br />
diabetes, doenças sexualmente transmissíveis,<br />
hanseníase ou mesmo tuberculose”, afirma a<br />
médica Irineide Assunpção Antunes.<br />
Na reserva existem 19 postos de saúde e<br />
oito laboratórios. As atividades são realizadas<br />
por 21 profissionais<br />
- uma médica, uma enfermeira,<br />
uma odontóloga,<br />
18 agentes técnicos<br />
de saúde, um motorista;<br />
contando ainda com<br />
o apoio de 39 agentes<br />
técnicos de saúde e 12<br />
laboratoristas indígenas.<br />
“No início todos os laboratoristas<br />
eram brancos,<br />
mas depois os primeiros<br />
kinja foram sendo treinados<br />
e repassaram os conhecimentos<br />
para outras<br />
pessoas da comunidade.<br />
Hoje somos 12 escolhidos<br />
pelo nosso povo. O Programa é muito importante,<br />
pois trouxe o estudo para que pudéssemos<br />
trabalhar e assim proteger nossa gente,<br />
que antes morria muito”, diz o laboratorista<br />
Djawa Rubens (acima).<br />
Apoio à produção – Antes do Programa, os<br />
Waimiri Atroari viviam a desagregação de seus<br />
processos produtivos, passando para uma dependência<br />
alimentar. Agora, os índios voltaram<br />
a realizar seus roçados tradicionais e sua independência<br />
alimentar foi resgatada. No entanto,<br />
surgiu a necessidade de manter os sistemas<br />
produtivos ativos e incrementar outros. Assim,<br />
nasceu o Subprograma de Apoio à Produção,<br />
que vem adotando técnicas simples de criações<br />
de animais e produções agrícolas.<br />
As atividades produtivas - Projetos de frutíferas<br />
e plantas ornamentais; bovinocultura;<br />
coturnicultura - criação de codornas; ovinocultura<br />
- criação de carneiros; avicultura - galinha<br />
de corte e de postura; cunicultura - criação de<br />
coelhos; piscicultura; e quelônios - manejo de<br />
tartarugas, criação de jabutis e animais silvestres<br />
- são desenvolvidas por um engenheiro<br />
florestal supervisor de produção, três técnicos<br />
agrícolas, cinco agentes operacionais e 45 colaboradores<br />
indígenas. Os alimentos produzidos<br />
são destinados ao consumo das aldeias,<br />
do Nawa, dos oito postos de vigilância da reserva<br />
e das 19 casas de apoio que abrigam os<br />
profissionais da saúde e educação. As mudas<br />
de plantas frutíferas, medicinais e nativas também<br />
são levadas para as aldeias.<br />
Esses projetos experimentais e demonstrativos<br />
também capacitam os Waimiri Atroari.<br />
Entre eles, está Pikirida Paulistinha, que trabalha<br />
nas atividades produtivas desde 2000.<br />
“Comecei como técnico agrícola na produção<br />
de mudas frutíferas e nativas, depois passei<br />
para a área de hortas, avicultura e manejo de<br />
coelhos. Participei de todos os treinamentos<br />
ministrados por técnicos agrícolas. Estou inserido<br />
nas equipes que trabalham 15 dias no<br />
Núcleo e 15 na aldeia. Na minha aldeia, trabalho<br />
na produção de bananeiras, macaxeira e<br />
melancia. É bom aprendermos e levarmos os<br />
conhecimentos para a comunidade”, esclarece<br />
Pikirida.<br />
Para o coordenador das atividades produtivas<br />
do Nawa, Antônio Carlos Andrade do<br />
Nascimento, o trabalho ao lado dos índios é<br />
encantador. “Trabalho aqui desde 1989. Sintome<br />
da família dos índios. Eles nos emocionam<br />
Antônio<br />
Carlos e<br />
Pikirida:<br />
garantindo<br />
a produção<br />
e repassando<br />
conhecimentos<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
23
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
24<br />
com sua alegria e companheirismo. É algo<br />
que nos contagia. Todos passam uma energia<br />
muito positiva. Isso faz com que você cresça e<br />
continue junto deles. Aqui é outra vida. Eles vivem<br />
realmente em comunidade. É uma união<br />
que não vejo em nosso mundo”, reflete.<br />
Proteção ambiental – Com o objetivo de<br />
manter a integridade do território Waimiri Atroari<br />
e garantir o usufruto<br />
exclusivo de suas<br />
riquezas naturais foi<br />
criado o Subprograma<br />
de Proteção Ambiental.<br />
A equipe de<br />
trabalho é composta<br />
por um biólogo, dois<br />
coordenadores de<br />
área – ‘eixo-rio’ e ‘eixo-estrada’,<br />
18 agentes<br />
de proteção, três<br />
agentes operacionais,<br />
55 fiscais índios e dez<br />
não índios. Os fiscais<br />
trabalham nos oito<br />
postos de vigilância<br />
- Trairi, Jundiá, Abonari,<br />
Mahoa, Waba<br />
Manja, Ariné, Vicinal I e Vicinal II, região atravessada<br />
pela BR -174.<br />
Entre as atividades realizadas estão a vigilância<br />
e a proteção ambiental; o controle de<br />
tráfego de veículos na rodovia, no trecho em<br />
que atravessa a reserva; e campanhas de sen-<br />
Mingau de buriti, iguaria que alimenta a todos<br />
sibilização por meio de folhetos educativos,<br />
alertando sobre a importância da preservação<br />
ambiental. A BR-174 atravessa a terra indígena<br />
Waimiri Atroari em um percurso de 125 km<br />
de extensão, trecho em que a mata se encontra<br />
bem preservada devido às ações de proteção<br />
ambiental.<br />
Mesmo assim, são comuns os atropelamentos<br />
de animais na estrada e a presença do lixo<br />
deixado pelos motoristas que trafegam na BR.<br />
O fiscal de estrada, Alcenir Pereira dos Santos<br />
(à esquerda), conta um pouco da sua rotina<br />
de trabalho: “Saio às 7h para a fiscalização de<br />
carros. Recolhemos o lixo jogado e pegamos<br />
os dados dos animais atropelados. De agosto<br />
de 1997 a maio de 2009, foram 4.723 animais<br />
atropelados, como cobras, cutias, capivaras,<br />
pássaros e até jacarés. A fiscalização é feita<br />
no trecho que corta a reserva. Retiramos, em<br />
média, 500 quilos de lixo por mês. Hoje as<br />
pessoas estão mais conscientes. Abordamos<br />
e explicamos que é uma reserva indígena. Há<br />
campanhas nos finais de semana. Entregamos<br />
panfletos, alertando para a questão do lixo e<br />
dos animais mortos. Costumamos também<br />
distribuir água de coco gratuitamente para os<br />
motoristas como forma de sensibilização, o<br />
que trouxe uma ótima resposta no sentido de<br />
diminuir a quantidade de lixo na rodovia”.<br />
Dia a dia na aldeia – “Na aldeia temos o<br />
costume de dormir por volta de 19h30. Todos<br />
dormem numa grande mydy, maloca. No caso<br />
da minha aldeia, Iawara, são 85 pessoas. Geralmente<br />
levantamos às 5h e tomamos banho<br />
de água encanada ou igarapé. As mulheres<br />
acordam mais cedo para preparar a alimentação.<br />
Pela manhã comemos mingau de buriti,<br />
açaí ou patoá, uma espécie de palmeira. Depois<br />
nos dividimos em grupos para caçar, pescar<br />
e ir para a roça. O nosso trabalho é sempre<br />
coletivo. Plantamos banana, abacaxi, mamão,<br />
cana, mandioca, macaxeira e batata. As weri<br />
(mulheres) cozinham e tiram lenha. O artesanato<br />
como redes de fibra de buriti, adornos e<br />
panelas de barro é desenvolvido pelas mulheres;<br />
já os wykyry (homens) fazem as cestarias<br />
com o arumã. É importante que todos saibam<br />
que nossa vida e alimentação estão ligadas à<br />
natureza. Vivemos de acordo com o que ela<br />
nos oferece”.<br />
Esse depoimento é de<br />
Wame Viana (à esquerda), 42<br />
anos, o primeiro índio Waimiri<br />
Atroari a aprender o português<br />
e um dos primeiros da<br />
nova geração a ter contato<br />
com os brancos. Ele conta<br />
que foi um choque a sua<br />
primeira viagem fora da reserva<br />
indígena: “Quando tive<br />
contato com o mundo fora<br />
da reserva fiquei muito triste.<br />
Me senti numa caverna e não enxergava nada<br />
no mundo dos brancos. Dói muito para quem<br />
nasceu no mato ver o desmatamento e saber<br />
que várias pessoas só querem saber da riqueza<br />
da terra, prejudicando a natureza. Foi estranho<br />
também quando vi os brancos pagando<br />
pela alimentação. Não circula dinheiro entre<br />
nosso povo. Vivemos do que a natureza nos<br />
oferece”, esclarece Wame.<br />
Apesar da dificuldade de Wame no seu primeiro<br />
contato com o mundo dos brancos há<br />
mais de 20 anos, ele continua mantendo relacionamentos<br />
quando necessário e sabe da importância<br />
de se respeitar as diversas culturas.<br />
“Temos que conhecer culturas diferentes da<br />
nossa. Precisamos saber o que essas pessoas<br />
fazem. Posso viajar, conhecer a cultura deles<br />
e respeitar. Somos indígenas, nascemos no<br />
mato. Devemos saber usar os rios, os recursos<br />
da natureza, a riqueza da vegetação e da fauna.<br />
Mas lá fora temos que saber que a cultura<br />
dos brancos é diferente. Às vezes as pessoas<br />
acham que não temos uma cultura rica. Não<br />
posso falar isso da cultura deles, pois estão no<br />
seu espaço”, analisa.<br />
Organização – A reunião mais importante<br />
das lideranças das 22 aldeias Waimiri Atroari é<br />
a de prestação de contas anual que, em 2009,<br />
ocorreu nos dias 18 e 19 de julho, no Nawa.<br />
Reunião<br />
de prestação<br />
de contas,<br />
a mais<br />
importante<br />
do ano<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
25
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
26<br />
Alguns líderes das aldeias do ‘eixo-rio’ chegam<br />
a viajar 15 horas de barco para estarem presentes.<br />
Mas esse esforço parece pouco diante<br />
da alegria e satisfação de abrirem a reunião<br />
cantando o maryba, festa-ritual mais importante<br />
da etnia. Os 135 líderes dão boas-vindas<br />
aos 24 não-índios presentes,<br />
e recebem uma cópia da<br />
prestação de contas dos seus<br />
gastos durante 2008.<br />
As reuniões de prestação<br />
de contas acontecem desde<br />
1994. Segundo Warakaxi Zé<br />
Maria (ao lado), da aldeia<br />
Paryry, a reunião é feita para<br />
que haja um controle dos<br />
gastos e um planejamento<br />
dos recursos. “É o momento<br />
de acompanharmos nossos<br />
gastos. Se não fizermos a<br />
prestação de contas não saberemos<br />
como está sendo<br />
gasto o nosso recurso para<br />
que possamos economizar. As reuniões são<br />
muito comuns nas nossas aldeias, onde nos<br />
reunimos três vezes por semana. Uma com a<br />
comunidade geral, com jovens e adolescentes<br />
para que eles possam entender que devemos<br />
Vocabulário kinja iara<br />
Conheça o significado e a pronúncia<br />
de algumas palavras da língua falada<br />
pelos Waimiri Atroari: índio Waimiri<br />
Atroari – kinja (quinhá); mulher – weri<br />
(ueri); homem – wykyry (ukuru); maloca<br />
– mydy (mudu); ritual – maryba (marubá);<br />
idosos – txamyry (tiamuru); brancos<br />
– kaminja (caminhá); convite – katyba<br />
(katubá); antepassados – tahkome (takome);<br />
guerreiros – itxi iapyna (ithi iapuná);<br />
professor – inpany (impanu); flecha<br />
– pyruwa (puruá); língua materna – kinja<br />
iara (quinhá iara).<br />
Mais informações e contatos, nos<br />
endereços www.eletronorte.gov.br<br />
e www.waimiriatroari.org.br.<br />
estar sempre juntos para nos fortalecer. Outra<br />
com as mulheres, e a terceira, que discute a<br />
saúde e educação da comunidade. Temos orgulho<br />
da nossa união e vamos nos fortalecer<br />
cada vez mais”, destaca.<br />
Os recursos financeiros dos Waimiri Atroari<br />
provêm da comercialização de artesanato, produtos<br />
agrícolas, criação de peixes, galinhas e<br />
carneiros, e também da taxa pelo uso de uma<br />
estrada que dá acesso à Mineração Taboca.<br />
Com os recursos, eles compram utensílios domésticos,<br />
roupas, equipamentos de navegação,<br />
material de pesca e combustível.<br />
Ao fim dos dois dias de reunião foi a vez da<br />
equipe de trabalho do Programa se reunir e<br />
fazer uma avaliação das atividades. Para Porfírio<br />
Carvalho, toda reunião envolve um esforço<br />
conjunto. “O nosso trabalho é de todos. Se o<br />
trabalho está dando certo é porque todos estamos<br />
dando certo. O gesto dos Waimiri Atroari<br />
de cantarem no início e final da reunião é uma<br />
expressão de carinho demonstrada por poucos<br />
povos. É bom lembrarmos que esse povo<br />
alegre um dia já foi triste e que a transformação<br />
foi resultado de um trabalho de amor e<br />
respeito”, reafirma.<br />
Maryba – Após a reunião de prestação de<br />
contas, os Waimiri Atroari convidaram todos a<br />
participarem do maryba. No momento do convite,<br />
nossa reportagem não conteve a felicidade,<br />
pois a cobertura jornalística previa a visita a<br />
duas aldeias, mas a decisão sobre a realização<br />
de rituais festivos cabia somente aos índios.<br />
Na aldeia Iawara, as weri itxi iapyna, mulheres<br />
guerreiras, nos recepcionaram com o símbolo<br />
dos Waimiri Atroari empunhado, a pyruwa,<br />
que quer dizer flecha. Elas tomam conta da<br />
aldeia quando os líderes estão ausentes.<br />
Depois da recepção das guerreiras, todos os<br />
85 membros da aldeia pintados com tinta de<br />
jenipapo no corpo, nos aguardavam alinhados<br />
e cantando. Saudamos um a um antes de en-<br />
trarmos na maloca onde aconteceria o ritual. O<br />
canto de um maryba impressiona. A força e a<br />
reverência das vozes provocam a sensação de<br />
que uma cultura milenar se consolida a cada<br />
momento. O canto está plantado no coração e<br />
representa a força de uma identidade que se<br />
fortalece continuamente.<br />
Eles iniciam a manifestação saudando os<br />
convidados e agradecendo à <strong>Eletronorte</strong> pelo<br />
Programa Waimiri Atroari. Homenageiam os<br />
guerreiros que foram mortos devido aos problemas<br />
trazidos com a construção da BR-<br />
174. A kinja Tamy Paula (abaixo) destaca<br />
que eles precisam ser sempre fortes e que<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
27
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
28<br />
No ritual<br />
do Marayba<br />
Kinjas e<br />
Kaminjas<br />
se juntam<br />
numa<br />
grande<br />
roda<br />
Presidente da Eletrobrás foi um dos impulsionadores do Programa Waimiri Atroari<br />
O presidente da Eletrobrás,<br />
José Antonio Muniz<br />
Lopes, fala sobre a sua experiência<br />
no Programa Waimiri<br />
Atroari, quando esteve<br />
na presidência da <strong>Eletronorte</strong>,<br />
e comenta o contexto<br />
da implantação da Usina<br />
Hidrelétrica Balbina.<br />
Em que condição<br />
Balbina foi criada?<br />
Muitas pessoas criticam,<br />
sem conhecer as<br />
condições em que as decisões<br />
sobre a criação de<br />
Balbina foram tomadas. No momento vivíamos uma crise de<br />
petróleo que mudou a história do mundo. Desde que entrou<br />
em operação, em 1989, Balbina já produziu quase 23 milhões<br />
de MWh. Isso significa que se fôssemos gerar essa<br />
energia a óleo diesel, teríamos que gastar R$ 10 bilhões.<br />
E ainda teríamos produzido 1,2 milhão de toneladas de<br />
CO2. Esses números credenciariam Balbina como um dos<br />
importantes instrumentos de desenvolvimento, pois assegurou<br />
a existência da Zona Franca de Manaus.<br />
Qual das medidas compensatórias pela<br />
construção de Balbina teve grande destaque?<br />
Até pelo meu envolvimento pessoal, foi o Programa Wai-<br />
Jorge Coelho/Eletrobrás<br />
miri Atroari. Na década de 1990 fui presidente da <strong>Eletronorte</strong><br />
e juntamente com o Porfírio Carvalho impulsionei<br />
o Programa. Fica até suspeito falar. Costumo dizer que<br />
a etnia Waimiri Atroari é a comunidade social do Brasil<br />
que tem a melhor qualidade de vida proporcional à sua<br />
cultura, hábitos e valores. Acho impossível detectarmos<br />
núcleos que têm a mesma organização. O Programa faz<br />
o acompanhamento contínuo da saúde, situação escolar<br />
e demais atividades, mas não perdendo de vista a tradição,<br />
a cultura e os valores. Tenho pelo Programa uma admiração<br />
que não sei qualificar. É um dos trabalhos mais<br />
perfeitos que já vi na área de tratamento de comunidades<br />
atingidas por empreendimentos hidrelétricos.<br />
Como foi a sua visita à<br />
terra indígena Waimiri Atroari?<br />
Foi emocionante. São surpreendentes as atividades<br />
produtivas ali desenvolvidas, as instalações para cuidar<br />
da saúde. Fomos às aldeias. Vimos a organização em<br />
que vivem, as escolas com professores filhos dos índios<br />
que foram treinados e capacitados ali mesmo na aldeia.<br />
O brasileiro que conhecer aquilo vai mudar a concepção<br />
sobre o modo como devíamos tratar as comunidades<br />
indígenas.<br />
Seria possível surgir outros programas<br />
semelhantes como forma de compensação pela<br />
construção de novos empreendimentos hidrelétricos?<br />
Existem especificidades. É difícil dizer se teremos<br />
outros programas como este, mas a vontade de dar o<br />
sua tradição deve ser passada de pais para<br />
filhos. “Os nossos tahkome, antepassados,<br />
sempre estarão vivos em nossas memórias.<br />
Não somos homens brancos, não bebemos,<br />
não fumamos, nem andamos com dinheiro.<br />
Somos índios. Sempre pegamos nosso<br />
alimento. Nunca estudamos na cidade.<br />
Aprendemos a falar português aqui na nossa<br />
aldeia. Sempre vamos nos fortalecer e lutar<br />
pelo nosso território”, frisa.<br />
Os homens abrem o ritual cantando e dançando<br />
e, em seguida, é a vez das mulheres.<br />
Logo depois, elas oferecem mingau de buriti<br />
e tapioca aos convidados. Neste dia os cantos<br />
contaram histórias dos antepassados, falaram<br />
dos sofrimentos passados, mas, sobretudo,<br />
evocaram a paz e liberdade que os Waimiri<br />
Atroari vivem agora. Ao final do ritual, kinja e<br />
kaminja se juntam numa imensa roda, mostrando<br />
que o respeito e a tolerância à diversidade<br />
são possíveis e muito saudáveis.<br />
melhor tratamento possível às comunidades indígenas<br />
está nos genes da <strong>Eletronorte</strong> e Eletrobrás. Pretendemos<br />
apoiar outras etnias por meio de outros programas. Dificilmente<br />
teremos como replicar um Programa Waimiri<br />
Atroari, mas podemos utilizar as mesmas bases em situações<br />
diferentes.<br />
Qual a preocupação da Eletrobrás com os índios<br />
que serão afetados por novos empreendimentos?<br />
Ao contrário do que aconteceu com os Waimiri Atroari,<br />
que tiveram de ser deslocados das suas terras, não temos<br />
hoje projetos que alaguem aldeias. Por isso não teremos<br />
que replicar na íntegra o Programa. Mas desejamos implantar<br />
uma estrutura que contemple as áreas de educação,<br />
saúde, cultura e produção voltada para as etnias<br />
que serão, por exemplo, indiretamente afetadas com a<br />
construção de Belo Monte, por exemplo.<br />
O senhor se sente feliz por<br />
ter ajudado a salvar uma etnia?<br />
Sinto-me muito feliz. Hoje tenho 64 anos e penso que<br />
não tenho esta idade, pois olho para trás e vejo tanta coisa<br />
feita; e olho para frente e vejo que tenho condições de<br />
fazer tantas outras coisas. Olhando para trás, o Programa<br />
Waimiri Atroari é uma das coisas que mais me orgulha,<br />
pois não é uma ação que faça parte da atividade direta<br />
da Eletrobrás. Isso é maravilhoso. O Programa é o exemplo<br />
de sucesso maior desse trabalho, por isso tenho uma<br />
amizade inquebrantável com o Porfírio Carvalho. Ele é um<br />
grande parceiro, o grande batalhador do Programa.<br />
Entendendo o maryba – O maryba é uma<br />
festa-ritual que cada aldeia habitualmente promove,<br />
convidando as demais a participarem.<br />
Geralmente dura de três a sete dias, período<br />
em que os Waimiri Atroari cantam, dançam,<br />
tocam flauta e chocalho. É também o momento<br />
de iniciação das crianças do sexo masculino,<br />
de idade entre dois e cinco anos, para<br />
que se tornem bons guerreiros, trabalhadores,<br />
caçadores e pescadores.<br />
Antes do maryba há uma verdadeira preparação<br />
do pai do menino que será iniciado.<br />
Ele sai para as várias aldeias levando o katyba,<br />
um convite feito de capim flecheira, que marca<br />
exatamente o dia da festa. Deve também,<br />
juntamente com os outros pais que terão filhos<br />
iniciados, caçar, pescar e colher alimentos<br />
para todos os dias da celebração, além de<br />
confeccionar cestarias, flechas e lanças para<br />
os convidados. Como no maryba várias aldeias<br />
estão reunidas, é também a ocasião dos casamentos<br />
e reuniões políticas.<br />
Crianças<br />
alegres<br />
e fortes:<br />
muito mingau<br />
de banana<br />
com tapioca<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
29
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
30<br />
As festas são lideradas pelos cantores,<br />
homens que durante muitos anos aprendem<br />
a dominar todos os cantos do ritual. Esses<br />
cantos falam de todos os aspectos da cultura<br />
Waimiri Atroari, desde a origem das plantas<br />
da roça e dos animais até as estrelas e mitologia<br />
em geral. Para o cantor de maryba, Kabaha<br />
Paulo (abaixo), que foi iniciado no ritual<br />
por seus pais e recentemente iniciou o seu<br />
filho, é o momento de tornar a criança um<br />
guerreiro forte e com muita saúde.<br />
“Essa é uma tradição do nosso<br />
povo. Quando era menino, os<br />
meus pais fizeram o meu katyba<br />
para convidar os parentes de<br />
outras aldeias. Caçamos, pescamos,<br />
colhemos alimentos e preparamos<br />
as comidas para o ritual.<br />
No ano passado houve o maryba<br />
do meu filho. Durante o ritual nos<br />
pintamos, nos enfeitamos com<br />
cocás e trocamos flechas com<br />
os outros guerreiros. Cantamos e<br />
tomamos muito mingau de banana.<br />
Os cantos reverenciam a natureza,<br />
como as árvores, plantio,<br />
peixe, porco, anta, gavião, tatu e<br />
pássaros”, ilustra Kabaha.<br />
Vídeo nas aldeias – “Vamos levantar gente.<br />
Quem vai buscar comida para nós? Vamos<br />
sair para a mata e buscar caça para nossos<br />
filhos”. Esse diálogo abre o documentário<br />
Kinja Iakaha – Um Dia na Aldeia. O vídeo de<br />
40 minutos foi realizado durante uma oficina<br />
do projeto Vídeo nas Aldeias, na aldeia Cacau,<br />
em 2003. É importante destacar que a<br />
produção, filmagem e direção do filme foram<br />
realizadas pelos Waimiri Atroari. Tiveram auxílio<br />
externo somente no processo de legendagem,<br />
uma vez que a história é contada na<br />
língua materna kinja iara com legendas em<br />
português. O resultado é o olhar do próprio<br />
índio sobre a sua cultura, que geralmente é<br />
mostrada nos filmes sob a ótica da sociedade<br />
não-índia.<br />
Um dos responsáveis pelo documentário,<br />
Sanapyty Gerôncio (abaixo), aprendeu a filmar<br />
com o kinja Wame, em 1988. “Tínhamos<br />
interesse em fazer um vídeo do dia a dia<br />
da aldeia, para que as pessoas lá fora pudessem<br />
conhecer a nossa vida. Como somos da<br />
própria comunidade, conversamos com os<br />
kinja e pedimos que agissem com espontaneidade.<br />
No filme mostramos a pesca, caça,<br />
a coleta das frutas pelas mulheres e o preparo<br />
dos alimentos”, explica.<br />
O objetivo do projeto Vídeo nas Aldeias é<br />
possibilitar aos índios que documentem a<br />
sua história, mostrando manifestações culturais<br />
co mo o maryba e as atividades que<br />
desenvolvem no cotidiano. Depois de prontos,<br />
os vídeos são exibidos nas televisões das<br />
22 aldeias. Sim! Todas as aldeias possuem<br />
TVs que funcionam com energia solar, mas<br />
não veiculam as programações que estamos<br />
acostumados a ver. O objetivo é apenas exibir<br />
os vídeos feitos pelos Waimiri Atroari. “Queremos<br />
uma televisão que mostre a nossa<br />
realidade. Fazemos imagens do nosso dia a<br />
dia, escolhemos as mais importantes e editamos.<br />
Depois exibimos em todas as aldeias<br />
para que possamos ter a nossa memória. Os<br />
txamyry, mais velhos, falam que temos que<br />
fazer nossos próprios filmes, pois estes sim<br />
mostram a nossa cultura”.<br />
CIRCuIto IntERno<br />
Corpo técnico da <strong>Eletronorte</strong> leva conhecimento<br />
a outras instituições do setor Elétrico<br />
Empregados cedidos ou aposentados contam sobre a nova<br />
experiência e lembram da época em que estiveram na Empresa<br />
Bruna Maria Netto<br />
Atuar na Amazônia enfrentando adversidades<br />
pouco re<strong>corrente</strong>s nas demais regiões do<br />
Brasil tem suas vantagens. Os engenheiros<br />
e técnicos da <strong>Eletronorte</strong>, após anos de dedicação<br />
na Região Norte, tornam-se aptos a<br />
trabalhar em quaisquer ramos do Setor Elétrico,<br />
agregando novos valores e contribuindo para o<br />
desenvolvimento energético do País. De acordo<br />
com a Superintendência de Gestão de Pessoas<br />
da Empresa, há 131 empregados cedidos<br />
a instituições que vão desde empresas de<br />
construção ao Ministério de Minas e Energia,<br />
além daqueles já aposentados que voltaram a<br />
trabalhar. O que eles têm em comum de longe<br />
se limita à competência. O currículo desses<br />
profissionais descreve a passagem pela <strong>Eletronorte</strong><br />
como um aprendizado para a toda a vida,<br />
acrescido de boas histórias, grandes amizades<br />
e valiosa lembrança na memória.<br />
Fora da <strong>Eletronorte</strong>, mas ainda por ela –<br />
Quem começa narrando sua trajetória é Warfield<br />
Ramos (abaixo). Warfield é diretor Técnico da<br />
Águas da Pedra, sociedade de propósito específico<br />
que tem como acionistas a Neoenergia,<br />
a Chesf e a própria <strong>Eletronorte</strong>, e é responsável<br />
pela construção do Aproveitamento Hidrelétrico<br />
Dardanelos, em Mato Grosso. Logo, vê-se que<br />
sua indicação ao cargo não foi por acaso, e de<br />
certa forma o engenheiro continua na Empresa.<br />
O motivo não poderia ser outro: Ramos passou<br />
25 anos na <strong>Eletronorte</strong>, entre os anos de 1975<br />
e 2000. Durante esse tempo, atuou na Diretoria<br />
de Gestão Corporativa, como gerente de<br />
divisão, de departamento, superintendente de<br />
Suprimentos e assistente. Na extinta Diretoria<br />
Técnica, trabalhou no gabinete. Já na Presidência,<br />
passou pelo Escritório de Coordenação<br />
de Empreendimentos, onde foi coordenador da<br />
Expansão de Tucuruí.<br />
Para o engenheiro, trabalhar na <strong>Eletronorte</strong><br />
foi uma experiência de vida: “Aliás, uma excelente<br />
experiência. Nessa vida estamos em um<br />
contínuo aprendizado, e posso afirmar que para<br />
mim foi bastante profícuo durante o período que<br />
estive trabalhando diretamente na <strong>Eletronorte</strong>.<br />
Digo diretamente porque me considero ainda<br />
como um integrante dessa Empresa, agora<br />
representando-a em um de seus novos negócios”,<br />
afirma.<br />
A experiência de trabalhar na <strong>Eletronorte</strong><br />
rendeu bons frutos. De acordo com Warfield,<br />
“todos os objetivos traçados foram alcançados,<br />
e gostaria de ressaltar que eles obtiveram pleno<br />
êxito muito em função do excelente corpo<br />
técnico e funcional que a <strong>Eletronorte</strong> possui.<br />
Em minha passagem pela Empresa, além de<br />
todo o aprendizado adquirido - que é um bem<br />
que ninguém poderá usurpar-me - fica ainda<br />
um enorme quadro de amizades sinceras, que<br />
também é um bem inestimável”.<br />
O convite para trabalhar na Águas da Pedra<br />
surgiu pela convergência de interesses. Warfield<br />
estava retornando de Fortaleza, onde gerenciou<br />
12 usinas termelétricas da empresa Enguia, do<br />
Grupo Harbi. A <strong>Eletronorte</strong> estava estruturando<br />
sua participação em Dardanelos e o engenheiro<br />
não pensou duas vezes ao convite de voltar a<br />
trabalhar na Região Norte. “Como diz o dito<br />
popular, foi juntar a fome com a vontade de comer.<br />
Para mim foi muito bom, pois assim estou<br />
tendo novamente a oportunidade de conviver<br />
profissionalmente com o corpo técnico da Empresa<br />
e estar participando de um dos negócios<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
31
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
32<br />
da <strong>Eletronorte</strong>, nada mais é do que continuar<br />
colocando em prática todos os conhecimentos<br />
até hoje adquiridos”, conta Warfield.<br />
Pelo Sistema Eletrobrás - Esse sentimento<br />
também é compartilhado por Luiz Henrique<br />
Hamman (abaixo), diretor Financeiro de<br />
Furnas Centrais Elétricas e empregado da<br />
<strong>Eletronorte</strong> desde 1981: “O que sinto falta é<br />
da união de todos frente aos inúmeros desafios<br />
enfrentados, mesmo naqueles em que o<br />
sucesso, embora não sendo total, nos propiciou<br />
oportunidades de melhoria em nossas<br />
atitudes, ampliando nossos conhecimentos<br />
e habilidades”. Hamman iniciou na Empresa<br />
na área de contabilidade, onde permaneceu<br />
até 1985, quando passou a compor o time do<br />
GAT-CRN, na Coordenação da Comissão de<br />
Serviços Contábeis e Financeiros. Foi em 1988<br />
a primeira vez que Luiz Henrique usaria seus<br />
conhecimentos adquiridos na <strong>Eletronorte</strong> em<br />
outras instituições, sendo cedido ao governo<br />
do então Território de Roraima para compor a<br />
Diretoria Econômico-Financeira das Centrais<br />
Elétricas de Roraima - CER.<br />
Depois, as conexões foram sendo feitas em<br />
diversas entidades: “Com a absorção do parque<br />
térmico da CER pela <strong>Eletronorte</strong>, continuei em<br />
Boa Vista como gerente da Divisão Administrativa<br />
da recém-criada Regional de Produção<br />
e Comercialização de Roraima, até 1991. Voltando<br />
a Brasília, agora no quadro da Diretoria<br />
de Engenharia, trabalhei no Departamento de<br />
Planejamento e, posteriormente, fui gerente da<br />
Divisão de Coordenação de Projetos Eletromecânicos<br />
de Geração até 1995, quando compus a<br />
equipe de assistentes especiais da Presidência,<br />
cujo titular era o atual presidente da Eletrobrás,<br />
José Antonio Muniz Lopes. Posteriormente,<br />
ocupei a presidência da Previnorte, depois a<br />
Diretoria Financeira da Manaus Energia e da<br />
Companhia Energética do Amazonas”.<br />
Desde abril de 2008, Hamman ocupa a<br />
Diretoria Financeira de Furnas, em consequência<br />
do trabalho realizado anteriormente.<br />
Do período de atuação na <strong>Eletronorte</strong>, ele<br />
conta que adquiriu um conhecimento permanente.<br />
“Aprendi a aprender com as oportunidades<br />
proporcionadas, tanto nas áreas de administração<br />
e contábil, quanto nas de geração,<br />
operação e manutenção”. Aos colegas, deixa<br />
o recado: “Trabalhamos em um setor vital, por<br />
isso extremamente estratégico para a economia<br />
de um modo geral e para a condição de vida e<br />
a sustentabilidade ambiental, sendo, portanto,<br />
um vetor sumamente importante no futuro da<br />
Nação. Fazemos parte dessa importância toda.<br />
Cada um de si e em equipe pode, e deve, se<br />
desenvolver cada vez mais, aproveitando as<br />
oportunidades ensejadas pela Empresa, degrau<br />
por degrau, em prol de um País melhor”.<br />
Da Amazônia à Esplanada dos Ministérios – É<br />
no Ministério de Minas e Energia que o Secretário<br />
Nacional de Energia Elétrica lembra<br />
dos 26 anos passados na <strong>Eletronorte</strong>. Josias<br />
Matos Araújo, engenheiro de operação, relata<br />
que “com certeza trabalhar na <strong>Eletronorte</strong> foi<br />
muito importante para enfrentar o desafio de<br />
solucionar conflitos, estabelecer políticas e<br />
diretrizes governamentais, que asseguram a<br />
transparência, a isonomia e a continuidade<br />
dos serviços que o Setor Elétrico proporciona<br />
à sociedade brasileira”. O currículo de Josias<br />
na Empresa não deixa de ser admirável: foi<br />
contratado para a Divisão de Estudos Elétricos<br />
do Departamento de Engenharia de Operação,<br />
atuando nas áreas de dinâmica, transitório e<br />
qualidade de energia elétrica. Também teve a<br />
oportunidade de assumir a gerência do Setor<br />
de Ensaios Elétricos do Laboratório Central da<br />
Empresa, em Belém (PA).<br />
“A seguir fui conduzido à Superintendência<br />
de Operação e Manutenção da Transmissão,<br />
sendo que, em 2005, passei a assistente do<br />
Presidente, sendo novamente reconduzido<br />
àquela Superintendência”, cargo em que ficou<br />
até 2008, quando foi convidado para assumir<br />
a Secretaria Nacional de Energia Elétrica. “Assim<br />
como a ascensão na <strong>Eletronorte</strong>, o convite<br />
para integrar a equipe do Ministério de Minas e<br />
Energia foi um acontecimento natural na minha<br />
carreira profissional. Após um período para<br />
avaliar o convite, decidi aceitá-lo encarando<br />
como uma missão de forma a contribuir para<br />
o desenvolvimento do Setor Elétrico do meu<br />
País, e usando todos os<br />
conhecimentos técnicos<br />
e gerenciais que a<br />
<strong>Eletronorte</strong> me proporcionou”,<br />
afirma.<br />
A experiência na<br />
Empresa foi fundamental<br />
para o novo<br />
posto: “A <strong>Eletronorte</strong><br />
é e continuará sendo<br />
uma grande escola,<br />
pois sempre ofereceu todas as oportunidades<br />
para o meu crescimento profissional e aperfeiçoamento<br />
técnico e gerencial, além de abrir<br />
caminho para a ampliação de meu relacionamento<br />
interno e externo. Foram momentos<br />
de grandes desafios, que me impulsionaram<br />
a fazer o melhor pela organização, além de<br />
incentivar aqueles que trabalharam sob minha<br />
orientação a buscar permanentemente o caminho<br />
dos melhores resultados. Tudo para que a<br />
nossa <strong>Eletronorte</strong> se mantenha à frente das demais<br />
empresas do Setor Elétrico, conquistando<br />
a credibilidade, disseminando conhecimentos e<br />
tornando a sua marca um símbolo de respeito.<br />
Aprendi que vale a pena acreditar no potencial<br />
das pessoas e com elas fazer acontecer, conquistar<br />
resultados e abrir oportunidades para<br />
o crescimento”.<br />
Do que o Secretário (acima) sente mais falta<br />
da época de <strong>Eletronorte</strong> são as pessoas com<br />
quem conviveu durante anos e que compartilharam<br />
os seus conhecimentos e experiências,<br />
fundamentais para o seu crescimento profissional.<br />
“Vale ressaltar que, do mais humilde<br />
ao mais letrado, todos, sem exceção, foram<br />
importantes nas conquistas alcançadas durante<br />
minha permanência na <strong>Eletronorte</strong>”. Com<br />
clima de saudosismo, Josias deixa um recado<br />
aos colegas: “Sintam orgulho de trabalhar na<br />
<strong>Eletronorte</strong>. É uma Empresa que se preocupa<br />
com o bem-estar dos empregados, que busca o<br />
crescimento de todos, abre oportunidades para<br />
a conquista de novos espaços, está ao seu lado<br />
nos momentos mais difíceis de sua vida e de<br />
seus familiares. Tornem-se guardiões e unamse<br />
por inteiro para manter a Empresa viva e forte<br />
para as futuras gerações. Vocês representam<br />
na essência o maior tesouro, os líderes mais<br />
importantes que com certeza estarão sempre<br />
lutando por uma organização melhor, respeitada<br />
e referencial de excelência”.<br />
O futuro é de volta para casa - Um companheiro<br />
de Josias é Robésio Maciel de Sena,<br />
diretor do Departamento de Monitoramento do<br />
Sistema Elétrico do Ministério de Minas Energia,<br />
cuja carreira na <strong>Eletronorte</strong> começou em dezembro<br />
de 1980. Robésio conta que, 24 anos depois,<br />
alguns fatos ocorridos no Setor Elétrico salientaram<br />
a necessidade de melhorar a estrutura do<br />
Ministério. “Com esse objetivo, a ministra Dilma<br />
Roussef, à época, solicitou que a Eletrobrás cedesse<br />
empregados das empresas federais, para<br />
compor o quadro ministerial. Na oportunidade<br />
recebi o convite para fazer parte dessa equipe e<br />
desde então estou prestando serviço aqui”.<br />
Na <strong>Eletronorte</strong>, Robésio (abaixo) iniciou carreira<br />
na Regional de Operação de Mato Grosso.<br />
Ele lembra que depois de quatro anos trabalhando<br />
na Cemig, em Belo Horizonte, aceitou<br />
o desafio na <strong>Eletronorte</strong>. “O objetivo era desenvolver<br />
profissionalmente, crescer na carreira de<br />
engenheiro, conhecer outros locais e contribuir<br />
para o desenvolvimento do Norte do País. Passados<br />
29 anos, considero que obtive quase tudo<br />
que planejei, aprendi muito no lado profissional<br />
e pessoal. Consegui um patrimônio de forma<br />
honesta, que dá segurança à minha família. Sou<br />
muito grato por tudo que pude obter<br />
nesses anos de trabalho”.<br />
Depois de Mato Grosso, trabalhou<br />
no Maranhão e em Brasília,<br />
onde atuou na Divisão de Treinamento<br />
e Desenvolvimento, foi<br />
assistente do Diretor de Operação,<br />
passou pela Divisão de Operação e<br />
Manutenção da Geração Hidráulica,<br />
encerrando - por enquanto<br />
- a carreira na <strong>Eletronorte</strong> na<br />
Superintendência de Operação e<br />
Manutenção da Transmissão, em<br />
2005. Para ele, toda a experiência<br />
adquirida na Empresa está sendo<br />
útil no trabalho desenvolvido hoje em dia. “As<br />
atividades daqui têm uma variedade muito<br />
grande e a habilidade, capacitação e experiência<br />
adquiridas na <strong>Eletronorte</strong> estão sendo<br />
fundamentais para a execução delas. Ainda<br />
não conheci nenhum outro local melhor para<br />
trabalhar, aprender, crescer profissionalmente<br />
e ser valorizado e com tantos benefícios”.<br />
Dos tempos de Empresa, Robésio fala do<br />
que mais sente falta, e dá um conselho aos<br />
que continuam na <strong>Eletronorte</strong>: “O que mais<br />
sinto falta são as relações profissionais, que<br />
são mais informais, a objetividade das ações e<br />
a obtenção de resultados, o trabalho de campo<br />
nas regionais. Quando saímos e conhecemos<br />
outras realidades passamos a reconhecer ainda<br />
mais a grandeza da nossa Empresa, por isso<br />
façam valer esse privilégio de trabalhar na nossa<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
33
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
34<br />
<strong>Eletronorte</strong>”. Talvez por isso, o futuro profissional<br />
de Robésio é de volta para a sua ‘segunda<br />
casa’: “Não penso em parar de trabalhar tão<br />
cedo. Enquanto estiver sendo útil no Ministério<br />
vou ficando por aqui. Penso sim em voltar à<br />
<strong>Eletronorte</strong>, pois acredito que ainda posso contribuir<br />
muito. Trabalhar na <strong>Eletronorte</strong> sempre<br />
me orgulhou e quando você faz o que gosta não<br />
existe diferença entre lazer e trabalho”.<br />
De Minas para o Norte. Do Norte para<br />
Minas - Jorge Ivanovitch de Sousa (abaixo) é<br />
gerente de Manutenção de Infraestrutura de<br />
Telecomunicações da Cemig. Mas não foi sempre<br />
que ficou em terras mineiras. Ele saiu da<br />
sua terra natal rumo a Tucuruí (PA), em 1986.<br />
Na <strong>Eletronorte</strong>, Ivanovitch atuou na área de<br />
Suprimentos, a começar pelo Departamento de<br />
Contratos Especiais, no Grupamento Industrial<br />
Tucuruí-Extensão, cuidando da coordenação<br />
de contratos das máquinas 9 a 12. “Depois<br />
gerenciei a Divisão de Obras e Licitações e o<br />
Departamento de Atendimento de Suprimento<br />
à Geração e Instalação. Quando fui cedido,<br />
estava como assistente do Diretor de Gestão<br />
Corporativa”, conta.<br />
A vida pessoal de Jorge evolui juntamente<br />
com a experiência adquirida na <strong>Eletronorte</strong>.<br />
“Quando fui do sul de Minas Gerais para a<br />
<strong>Eletronorte</strong> era casado há pouco tempo e o meu<br />
primeiro filho era bebê. Hoje ele tem 23 anos e<br />
já está formado em engenharia elétrica, como<br />
eu. Minha filha fez o caminho inverso, nasceu<br />
em Brasília e hoje tem 20 anos, cursa nutrição<br />
na Universidade Federal de Minas Gerais. Fui<br />
cheio de planos e sonhos e muitos deles se<br />
transformaram em realidade. Muito do que<br />
sou hoje devo à <strong>Eletronorte</strong>: tive a felicidade<br />
de trabalhar com grandes mestres – Warfield,<br />
Neiron, Brasil, Xavier, Ronaldo Alves, Almendra,<br />
José Antônio Coimbra, Zenon, Benjamin, Tião<br />
Otaviano, entre tantos outros e procurei aprender<br />
muito com eles”, recorda.<br />
Porém, o coração desse mineiro apertou e ele<br />
voltou à sua terra: “Eu busquei a cessão para a<br />
Cemig por motivos particulares, uma vez que<br />
minha família reside em Belo Horizonte desde<br />
2001, quando vim cedido para a Agência Nacional<br />
de Telecomunicações – Anatel”. Jorge está<br />
na Companhia há um ano e meio, após oito anos<br />
de trabalho na Agência. Da <strong>Eletronorte</strong>, obteve<br />
uma ótima experiência em lidar com pessoas e<br />
em gerenciar conflitos. “Desde o início exercitei<br />
esses pontos. Eu me formei profissionalmente<br />
com grandes mestres e aprendi bastante também<br />
com as viagens para a Região Norte, que<br />
não conhecia e que me mostraram um País<br />
bem diferente do que já havia vivenciado. Nós<br />
trabalhamos numa das melhores empresas do<br />
Brasil, e apenas quando estamos cedidos é<br />
que verificamos isto mais fortemente. Espero<br />
retornar em breve!”<br />
Filho da <strong>Eletronorte</strong> - A história de outro mineiro,<br />
Zenon Pereira Leitão, também se confunde<br />
com a da <strong>Eletronorte</strong>. Zenon está na Empresa<br />
desde seus 19 anos de idade. O aprendizado<br />
lhe rendeu o cargo de assessor de Relações<br />
Institucionais e Parlamentares da Eletrobrás,<br />
onde está há um ano e meio. “A Eletrobrás<br />
não dispunha de uma assessoria parlamentar<br />
e entendíamos que era uma lacuna. Com a<br />
chegada do presidente José Antonio, em abril<br />
de 2008, e a aprovação da lei que transformou<br />
a holding em uma empresa internacional – somadas<br />
ao conhecimento do Presidente acerca<br />
do trabalho realizado na <strong>Eletronorte</strong> -, foi sugerida<br />
a criação da área e ele acatou a sugestão,<br />
entendendo que eu poderia contribuir, o que<br />
muito me honrou”.<br />
Na <strong>Eletronorte</strong>, o que não faltaram foram possibilidades<br />
de crescimento a Zenon, e talvez por<br />
isso sua experiência em outro lugar tenha vindo<br />
apenas depois de 33 anos na <strong>Eletronorte</strong>: “Eu<br />
nunca havia sido cedido a um órgão externo.<br />
Sempre relutei muito, pois sou muito apegado<br />
à Empresa e às pessoas, mas a experiência<br />
está sendo boa e estou fazendo tudo para bem<br />
representar a Empresa”, afirma Zenon.<br />
Ele lista as áreas por onde passou: “Iniciei<br />
no Departamento de Operação e Manutenção<br />
e depois trabalhei na assessoria da Diretoria de<br />
Operação. Em seguida passei pela Gerência da<br />
Divisão Administrativa da Regional de Transmissão<br />
de Mato Grosso e exerci a mesma função na<br />
Regional de Transmissão do Maranhão. De volta<br />
a Brasília, fui gerente da Divisão de Benefícios,<br />
assistente do Diretor de Produção e Comercialização,<br />
e diretor de Benefícios da Previnorte”.<br />
Zenon (acima) ainda voltou a ser assistente<br />
da diretoria, quando, em junho de 2004, foi<br />
designado assessor Parlamentar da <strong>Eletronorte</strong>.<br />
“Com o apoio de alguns colegas, montamos a<br />
Assessoria Parlamentar onde, em semelhança a<br />
outras grandes instituições, foi possível realizar<br />
um trabalho muito importante, quando passamos<br />
a acompanhar a tramitação de projetos de<br />
lei no Congresso Nacional, de interesse do Setor<br />
Elétrico, receber as autoridades, dispensando a<br />
elas um atendimento profissional, o que acabou<br />
contribuindo para o fortalecimento da imagem<br />
da <strong>Eletronorte</strong>”.<br />
Com a fusão da Assessoria Parlamentar com<br />
a Superintendência de Comunicação Empresarial,<br />
Zenon ainda foi coordenador de Comunicação<br />
até 2008. O conhecimento da <strong>Eletronorte</strong><br />
inspirou a holding: “Estamos aplicando na<br />
Eletrobrás os conhecimentos adquiridos na<br />
<strong>Eletronorte</strong>, para a estruturação da Assessoria<br />
de Relações Institucionais e Parlamentares,<br />
que atenderá também às demais empresas do<br />
Sistema Eletrobrás”, afirma.<br />
Zenon não se esquece dos personagens<br />
de sua história na <strong>Eletronorte</strong>: “Tudo que sei<br />
e tenho, devo à <strong>Eletronorte</strong>, e embora tenha<br />
começado a trabalhar aos 15 anos de idade, a<br />
minha grande experiência foi nessa extraordinária<br />
Empresa. Ingressei como nível médio, cursei<br />
administração de empresas e aproveitei todas<br />
as oportunidades, sempre me aperfeiçoando e<br />
trabalhando em várias áreas, inclusive no chão<br />
de fábrica, o que me deu uma experiência muito<br />
importante. A <strong>Eletronorte</strong> é parte da minha vida.<br />
Deixei muitos amigos, afinal foram 33 anos de<br />
convívio. Sinto muita falta. Por isso, sempre que<br />
possível, procuro almoçar na praça da alimentação<br />
onde está instalada a Empresa, para matar a<br />
saudade de amigos que encontro pelo caminho.<br />
Alguns dizem que no trajeto entre o Edifício Varig<br />
e o prédio da <strong>Eletronorte</strong> eu pareço político,<br />
cumprimentando a todos. Digo que sempre fui<br />
assim, não mudarei nunca e fico muito feliz ao<br />
reencontrar os colegas. Me faz muito bem”.<br />
Levando precisão para a holding – Ainda na<br />
Eletrobrás, um dos colegas de Zenon é Moisés<br />
Aben-Athar, que trabalhou exatamente 29 anos<br />
e dois meses como empregado da <strong>Eletronorte</strong>,<br />
“acrescidos de dois anos como empregado da<br />
Celpa, cedido, até chegar na Eletrobrás, onde<br />
estou há um ano e cinco meses”. Tanta exatidão<br />
não teria outra justificativa senão a profissão<br />
de Moisés, economista. Na <strong>Eletronorte</strong>, levou<br />
a precisão com números às áreas de logística<br />
e financeira. “Eu tive a felicidade de chegar à<br />
<strong>Eletronorte</strong> quando tudo ainda era novidade,<br />
desafios e permanente crescimento profissional,<br />
superando, em muito, as minhas melhores expectativas<br />
relativas a uma grande empresa, pois<br />
ao mesmo tempo em que aprendia, tinha a oportunidade<br />
de repassar os meus conhecimentos<br />
e experiências a tantos outros companheiros, o<br />
que nos fez crescer juntos com a Empresa”.<br />
Moisés conta que a <strong>Eletronorte</strong> continua<br />
sendo a força motora da sua vida. “O presidente<br />
José Antonio, conhecendo o meu trabalho, fez<br />
o honroso convite para integrar o quadro de<br />
colaboradores da Eletrobrás, e levei todos os ensinamentos<br />
e experiências vivenciadas nas mais<br />
diversas áreas de trabalho da <strong>Eletronorte</strong>. Sem<br />
dúvida alguma, o trabalho e desafios enfrentados<br />
durante todo o meu tempo de <strong>Eletronorte</strong><br />
estão sendo de enorme valia nas minhas atuais<br />
atribuições, que requerem um conhecimento<br />
profundo do Setor Elétrico brasileiro.<br />
Da <strong>Eletronorte</strong>, Moisés (abaixo) sente falta<br />
dos desafios típicos de uma grande Empresa.<br />
“Tive a oportunidade de participar de todos os<br />
seus momentos, a partir praticamente da sua<br />
criação e que marcou indelevelmente a minha<br />
vida”. Aos colegas que aqui deixou fica a mensagem:<br />
“A <strong>Eletronorte</strong> marca para sempre a<br />
vida de todos aqueles que têm a felicidade de<br />
integrar o seu quadro de colaboradores, e têm<br />
a oportunidade de desenvolvimento profissional<br />
e social, aliada a uma política de benefícios e<br />
proteção aos trabalhadores, sem precedentes<br />
em qualquer outra empresa”.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
35
EnERgIA AtIVA<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
36<br />
Para transformar processos, mudar atitudes,<br />
vencer desafios e gerar resultados, duas palavras:<br />
eficiência e crescimento<br />
A competição em leilões de empreendimentos de geração<br />
e de transmissão, a questão da renovação das concessões,<br />
a transformação do Sistema Eletrobrás e a resolução de<br />
problemas estruturais colocam a <strong>Eletronorte</strong> diante de novos<br />
desafios empresariais. Para alcançar novo patamar de eficiência<br />
operacional e de crescimento, alinhado às iniciativas do<br />
planejamento estratégico, a Empresa está desenvolvendo o<br />
projeto Eficiência e Crescimento, que prevê, entre outras coisas,<br />
a implantação de 111 iniciativas num período de três anos, que<br />
possibilitarão ganhos superiores a R$ 150 milhões por ano.<br />
Confira nesta entrevista com o diretor-presidente da <strong>Eletronorte</strong>,<br />
Jorge Nassar Palmeira, as informações sobre o andamento do<br />
projeto, os benefícios esperados e como ajudar a alavancar o<br />
desempenho empresarial.<br />
O que vem a ser o projeto<br />
<strong>Eletronorte</strong> Eficiência e Crescimento?<br />
O projeto surgiu a partir do desdobramento do<br />
Plano Estratégico 2009/2011. Além das medidas<br />
estruturantes do objetivo 3, ficou clara a necessidade<br />
de se promover a eficiência dos processos<br />
empresariais, a redução de perdas e custos e o<br />
aperfeiçoamento da gestão, preconizados nos<br />
objetivos 6, 7 e 8. Esse conjunto de medidas é<br />
que possibilitará a obtenção do lucro.<br />
Quais são essas medidas estruturais?<br />
Entre elas, podemos citar a Medida Provisória<br />
nº 466, recentemente aprovada, que vai<br />
regularizar a questão dos sistemas isolados, que<br />
vêm causando grandes prejuízos à <strong>Eletronorte</strong><br />
ao longo dos anos. Há também a federalização<br />
da Companhia Energética do Amapá – CEA, que<br />
tem uma dívida de cerca de R$ 600 milhões com<br />
a <strong>Eletronorte</strong>. Uma vez federalizada, passando<br />
para o controle da Eletrobrás, poderemos fazer<br />
um encontro de contas e saldar parte da nossa<br />
dívida com a holding. Depois, o repasse para as<br />
concessionárias estaduais dos ativos de transmissão<br />
abaixo de 230 kV. Já fechamos o laudo<br />
do Acre e Rondônia e somente nesses estados<br />
vamos ter uma receita de R$ 300 milhões que<br />
também nos levarão a outro encontro de contas<br />
com a Eletrobrás. Tem ainda a reversão da provisão<br />
de Balbina, de R$ 275 milhões. Por sua<br />
vez, a Eletrobrás está fazendo a reavaliação dos<br />
ativos de todas as empresas do Sistema, com<br />
vistas à capitalização, e a <strong>Eletronorte</strong> poderá<br />
saldar mais uma parte de sua dívida deixando de<br />
pagar juros e correção monetária para começar<br />
a pagar dividendos. Mas temos outras ações<br />
importantes em andamento, que também vão<br />
nos ajudar a conseguir o máximo de eficiência<br />
e crescimento.<br />
O projeto está alinhado ao plano de<br />
transformação do Sistema Eletrobrás?<br />
Qual a importância dele para<br />
todos os atores envolvidos?<br />
Sim, o projeto <strong>Eletronorte</strong> Eficiência e Crescimento<br />
está perfeitamente alinhado ao plano de<br />
transformação da Eletrobrás, seguindo a diretriz<br />
emanada pelo Presidente da República de fazer<br />
da holding uma megaempresa que conquiste o<br />
mundo com a mesma respeitabilidade da Petrobras.<br />
Nós já apresentamos o nosso projeto no<br />
âmbito do Conselho Superior do Sistema Eletrobrás-<br />
Consise, onde foi bem acatado pelos dirigentes<br />
de todas as empresas do Sistema, inclusive<br />
algumas já estão se movimentando no sentido<br />
de programar algo semelhante. O importante é<br />
que vamos produzir resultados financeiros que<br />
sustentarão o nosso crescimento empresarial. A<br />
<strong>Eletronorte</strong> será um grande ator na expansão do<br />
sistema elétrico brasileiro, notadamente na região<br />
onde vem atuando, a Amazônia, como um consolidador<br />
de parcerias para a realização de grandes<br />
empreendimentos de geração e transmissão de<br />
energia elétrica. É fundamental que a Empresa<br />
tenha capacidade financeira para participar de<br />
novos negócios.<br />
Como estão sendo desenvolvidas<br />
as etapas do projeto?<br />
Como disse, tudo começou com o planejamento<br />
estratégico. Vamos obter o lucro e aumentar o<br />
resultado empresarial equacionando os problemas<br />
estruturais e aperfeiçoando a gestão dos processos.<br />
No desenvolvimento do projeto, tivemos uma<br />
primeira etapa, quando comparamos a <strong>Eletronorte</strong><br />
com as outras empresas do Sistema Eletrobrás. Por<br />
que umas dão lucro e nós damos prejuízo? Numa<br />
segunda etapa comparamos o negócio de geração<br />
e de transmissão, e a parte corporativa que suporta<br />
o negócio. Verificamos como estamos de produtividade<br />
em comparação com as empresas do<br />
Sistema e outras concessionárias de capital aberto.<br />
Numa terceira etapa identificamos as iniciativas e<br />
estamos implementando os planos de ação. Diria<br />
que primeiro fizemos uma fotografia, depois uma<br />
radiografia e agora uma ressonância magnética<br />
para identificar oportunidades de reduzir custos<br />
e aumentar a produtividade.<br />
Houve envolvimento do<br />
corpo funcional da Empresa?<br />
Para quando estão previstos resultados?<br />
Mais de 100 técnicos e 80 gerentes da Empresa<br />
têm participado desse processo. Na realidade,<br />
todas as iniciativas vislumbradas como possibilidades<br />
de melhoria de gestão e processos foram<br />
formuladas pelo nosso corpo técnico. A consultoria<br />
contratada entra apenas com o apoio metodológico<br />
para que consigamos maior velocidade e capacidade<br />
de gerar soluções. A Diretoria Executiva<br />
já definiu uma meta de redução de custos e as<br />
13 equipes de melhorias já trabalham iniciativas<br />
para mudar o patamar de produtividade. A meta,<br />
quando todas as iniciativas estiverem implementadas,<br />
é de, até 2013, conseguir uma redução de<br />
custos superior a R$ 150 milhões por ano, que<br />
serão destinados ao crescimento da Empresa,<br />
nos investimentos em novos negócios. Na terceira<br />
etapa do projeto estamos detalhando os planos<br />
de ação das 111 iniciativas identificadas pelos<br />
grupos, de modo a colher resultados a partir de<br />
setembro de 2009. Em novembro próximo termina<br />
o trabalho da consultoria e a partir de dezembro<br />
a Empresa toca o projeto sozinha até 2013. Cada<br />
gestor de empreendimento, cada gerente envolvido<br />
será responsável pelo compromisso junto<br />
à Diretoria, inclusive com a assinatura de um<br />
contrato de gestão.<br />
Certamente, os resultados dos<br />
planos e do próprio projeto levarão<br />
ao fortalecimento da Empresa<br />
em sua participação em leilões<br />
de geração e transmissão.<br />
Sem dúvida. É importante entender por que a<br />
<strong>Eletronorte</strong> participa de sociedades de propósito<br />
específico em novos negócios. Não é apenas pelo<br />
desenho do modelo atual do Setor Elétrico. Primei-<br />
ro, ao fazer um empreendimento de grande vulto,<br />
precisamos dos valores de investimento definidos<br />
no Orçamento Geral da União. Sem saber se vamos<br />
ganhar ou não um leilão, como orçar valores<br />
vultosos que terão impacto nas contas públicas<br />
via superávit primário? Depois, precisamos de<br />
agilidade. Como Empresa estatal, estamos presos<br />
à legislação e a processos burocráticos com os<br />
quais não conseguimos enfrentar as verdadeiras<br />
batalhas que são os leilões. Em parceria com a<br />
iniciativa privada ganhamos a agilidade necessária.<br />
Finalmente, graças ao trabalho das equipes<br />
envolvidas, conseguimos aperfeiçoar o processo<br />
econômico-financeiro. Na verdade, quem ganha<br />
o leilão não é a parte técnica, mas a engenharia<br />
financeira.<br />
O que podem esperar<br />
empregados e gerentes do projeto<br />
Eficiência e Crescimento?<br />
Lançamos o projeto durante as comemorações<br />
dos 36 anos da <strong>Eletronorte</strong>, no último dia 13 de<br />
agosto, e reforçamos a mensagem: ninguém dê<br />
ouvidos aos mensageiros do apocalipse! Não<br />
haverá demissões, nem punições. Queremos<br />
pedir tranquilidade e trabalho em prol de uma<br />
Empresa melhor. Acabamos de reformular o quadro<br />
de pessoal e certamente haverá um plano de<br />
desligamento voluntário, o que já vem ocorrendo<br />
em outras empresas do Sistema Eletrobrás. Mas<br />
tudo para melhorar a eficiência empresarial, sem<br />
nenhuma outra conotação política ou técnica.<br />
Uma novidade criada diretamente pela Diretoria<br />
é a figura do gerente de empreendimentos, que<br />
vai acompanhar a obra do começo até o final,<br />
para garantir a taxa de retorno e principalmente<br />
acompanhar os prazos e não deixar nenhum furo.<br />
Agora, os gerentes são os gestores de todos os processos<br />
e precisam ter uma postura diferenciada,<br />
não somente para acompanhar procedimentos,<br />
mas acompanhar custos e prazos essencialmente.<br />
Não dá, por exemplo, para uma obra nossa atrasar<br />
45 meses; ou a Empresa gastar R$ 2,4 mil para<br />
comprar R$ 400. O comprometimento com prazos<br />
e custos deve ser de todos.<br />
Uma mensagem final.<br />
Eu entendo que o projeto <strong>Eletronorte</strong>, Eficiência<br />
e Crescimento é positivo para todas as partes<br />
interessadas. Para a Eletrobrás, que terá uma<br />
controlada dando resultados em vez de prejuízos.<br />
Para os empregados uma Empresa forte,<br />
focada na sustentabilidade. Para a sociedade<br />
brasileira, a garantia de um suprimento de energia<br />
elétrica com mais qualidade. Não é um projeto<br />
desta Diretoria, mas de todos nós, que teremos<br />
uma Empresa blindada contra ações externas,<br />
fortalecida no que tem de melhor. Isto é extremamente<br />
importante: entender que esse projeto é<br />
fundamental para garantir o nosso futuro, a nossa<br />
empregabilidade.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
37
mEIo AmBIEntE<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
38<br />
um corredor para<br />
a biodiversidade<br />
Avaliação e monitoramento das comunidades de<br />
vertebrados em Tucuruí aponta caminhos promissores<br />
Michele Silveira<br />
Imagine um corredor com paredes de floresta.<br />
Enquanto seus passos amassam as folhas<br />
que cobrem o chão, um rápido macaco cuxiú<br />
pula de uma árvore para outra com a mesma<br />
agilidade com que um jacu se equilibra entre os<br />
galhos das árvores ao seu lado. Apesar da ideia<br />
de um corredor ser muito familiar a qualquer<br />
um de nós, pensar num espaço assim dá uma<br />
sensação de dever cumprido. Pelo menos é o<br />
que devem sentir alguns dos pesquisadores<br />
que, desde 2004, dedicam-se ao projeto “Avaliação<br />
e Monitoramento das Comunidades de<br />
Vertebrados na Área de Influência do Reservatório<br />
da Usina Hidrelétrica Tucuruí”. O corredor<br />
é uma das propostas indicadas pelo grupo de<br />
pesquisadores e ligaria a Terra Indígena Parakanã<br />
à Base 3, uma das áreas onde a pesquisa foi<br />
realizada. “O ideal é que tivéssemos essa conectividade,<br />
para que se mantenham as áreas<br />
de preservação efetivamente, constituindo um<br />
corredor para que as espécies se desloquem e<br />
garantam a biodiversidade. É uma ação difícil,<br />
mas possível. É preciso uma articulação com<br />
moradores do entorno do lago de Tucuruí, órgãos<br />
ambientais, prefeituras, enfim, uma ação<br />
integrada”, explica o analista<br />
ambiental da <strong>Eletronorte</strong>,<br />
Rubens Ghilardi Junior.<br />
Um dos compromissos da<br />
<strong>Eletronorte</strong> com o processo de licenciamento<br />
ambiental da Hidrelétrica junto à<br />
Secretaria de Meio Ambiente do Estado do<br />
Pará, o projeto foi viabilizado entre a Empresa<br />
e o Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG; por<br />
meio da Sociedade Zeladora do MPEG e com a<br />
participação de pesquisadores da Universidade<br />
Federal do Pará - UFPA e do Instituto Nacional<br />
de Pesquisas da Amazônia – Inpa. O projeto<br />
representa a consolidação do Subprograma<br />
de Monitoramento, Manejo e Conservação da<br />
Fauna, proposto no processo de licenciamento<br />
ambiental da Usina, e tem permitido o desenvolvimento<br />
de pesquisas relevantes sobre a<br />
diversidade, ecologia e conservação da fauna<br />
de vertebrados no sistema formado pelo reservatório,<br />
incluindo suas margens e ilhas, estabelecidos,<br />
desde 2002, como Área de Proteção<br />
Ambiental – APA do Lago de Tucuruí.<br />
Fauna ameaçada - A macrorregião de Tucuruí<br />
é considerada como área prioritária para<br />
conservação. Lá estão espécies que constam<br />
na lista oficial do<br />
Ibama, como o cuxiús<br />
(Chiropotes sp), macaco-caiarara<br />
(Cebus kaapori), onça-pintada (Panthera<br />
onça), ariranha (Pteronura brasiliensis),<br />
tatu-canastra (Priodontes maximus) e as aves<br />
jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis) e<br />
ararajuba (Guaruba guarouba). Até o final da<br />
pesquisa foram identificadas 481 aves, 36 mamíferos<br />
de médio e grande porte, 36 anfíbios,<br />
39 répteis terrestres, três jacarés e quatro tartarugas.<br />
Inclusive, a margem direita se destaca<br />
por abrigar uma população de Cebus kaapori,<br />
considerada a espécie de mamífero mais<br />
ameaçada da Amazônia. Além disso, a área de<br />
soltura conhecida como Base 4 é considerada<br />
importante refúgio para a fauna de mamíferos.<br />
E os botos? O estudo revelou a presença da<br />
espécie Inia geoffrensis,<br />
o chamado<br />
boto-cor-de-rosa. Entretanto,<br />
não há um consenso sobre a presença<br />
do boto-tucuxi, de cor cinza. Mas os moradores<br />
a jusante da barragem garantem que ele<br />
aparece por lá.<br />
Durante três anos o projeto investigou e<br />
avaliou o atual estado de conservação de anfíbios,<br />
répteis, aves e mamíferos, levando em<br />
consideração as modificações resultantes da<br />
formação do lago de Tucuruí. De acordo com<br />
Ghilardi, os estudos sobre a fauna terrestre se<br />
concentraram nas duas zonas de Preservação<br />
de Vida Silvestre (ZPVS) da APA, localizadas nas<br />
bases de soltura 3 e 4. Já as espécies aquáticas<br />
e semiaquáticas, compostas principalmente<br />
por jacarés, quelônios, botos e aves, foram<br />
estudadas em várias regiões do lago. Também<br />
foram feitas análises das atividades de caça<br />
nas áreas das reservas de Desenvolvimento<br />
Sustentável (RDS) Pucuruí, Ararão e Alcobaça,<br />
além da ocorrência de agentes infecciosos em<br />
carnívoros silvestres, bem como em animais<br />
domésticos, potencial fonte de risco de transmissão<br />
de doenças à fauna silvestre.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
39
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
40<br />
Ainda em 2006, um seminário avaliou os<br />
resultados preliminares do estudo. Reunidos no<br />
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA,<br />
em Belém, pesquisadores explicaram que o<br />
inventário de diferentes grupos de fauna resultou<br />
na geração de diversos dados que podem<br />
ajudar no estudo dos efeitos causados pela<br />
fragmentação de florestas sobre a diversidade<br />
das espécies. Praticamente todas as equipes do<br />
projeto observaram a presença de atividade de<br />
caça nas áreas estudadas, o que indica a necessidade<br />
de maior esforço de conscientização<br />
das comunidades locais.<br />
Ilhas - Segundo Rubens Ghillardi, uma das<br />
linhas de pesquisa foi avaliar quais das cerca de<br />
1.700 ilhas do lago seriam mais significativas.<br />
“As ilhas maiores e mais próximas ao continente<br />
são as mais importantes para a manutenção da<br />
biodiversidade e, de posse dessa informação,<br />
sabemos como atuar de forma mais efetiva.<br />
Outra constatação importante foi confirmarmos<br />
que nas duas margens temos espécies diferentes,<br />
e por isso é fundamental a manutenção das<br />
duas áreas para a biodiversidade”<br />
O responsável pelo convênio, o biólogo e<br />
coordenador da equipe de Zoologia do Museu<br />
Goeldi, professor Ulisses Galatti, lista os principais<br />
objetivos do projeto: indicar o estado de<br />
conservação de anfíbios, répteis, aves e mamíferos<br />
em relação às modificações no ambiente<br />
causadas pela formação do lago de Tucuruí;<br />
avaliar a importância das Zonas de Preservação<br />
da Vida Silvestre (ZPVS) para a conservação da<br />
fauna local; e estabelecer as bases para um<br />
programa de monitoramento, conservação e<br />
manejo da fauna. Mas do início das pesquisas<br />
até a entrega do relatório final – que hoje tramita<br />
na Secretaria de Meio Ambiente do Pará – foram<br />
anos de pesquisas de campo que renderam<br />
muitas histórias em busca da observação de<br />
uma fauna que, na maioria das vezes, é que<br />
parece observar.<br />
É ainda escuro quando acorda a equipe que<br />
acompanha as aves e mamíferos. E é também<br />
escuro quando o pessoal que trabalha com<br />
anfíbios e répteis sai para campo. Há quem<br />
acorde ainda de madrugada e quem não<br />
durma durante a madrugada. De acordo com<br />
Ulisses, a maior parte dos pesquisadores ficou<br />
alojada na Base 4, a cerca de uma hora de<br />
barco da Usina. “Lá há refeitório, cozinheiro e<br />
alguns quartos. O excedente do pessoal ficava<br />
em barracas montadas na parte externa dos<br />
alojamentos e dormia em redes”. Nas chamadas<br />
voadeiras, as equipes fizeram os percursos<br />
até às bases 4 e 3, esta última uma viagem de<br />
três horas. Para as equipes que trabalharam<br />
com tartarugas, jacarés, botos e aves aquáticas,<br />
as voadeiras também eram instrumento<br />
diário de trabalho.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
41
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
42<br />
Já no primeiro ano do projeto foram realizadas<br />
mais de 40 expedições de campo para<br />
coleta de dados. “Nesse trabalho enfrentamos<br />
dificuldades técnicas, algumas delas relacionadas<br />
à identificação das áreas mais apropriadas<br />
para o estabelecimento de pontos de amostragem<br />
e instalação de armadilhas”, relata o<br />
pesquisador.<br />
Aprendizado - Para Ulisses é preciso destacar<br />
o apoio do Centro de Proteção Ambiental<br />
– CPA, de Tucuruí e da Superintendência de<br />
Meio Ambiente da <strong>Eletronorte</strong>. Cerca de R$ 1,6<br />
milhão foi investido na condução das atividades.<br />
O projeto tem atraído o interesse de especialistas<br />
para a condução de estudos de ecologia e<br />
conservação na área do reservatório de Tucuruí.<br />
O primeiro passo na preservação<br />
Antes da formação do lago de Tucuruí, a chamada<br />
Operação Curupira suscitou discussão sobre seu principal<br />
objetivo: procurar garantir a vida dos animais ilhados no<br />
reservatório, além de colaborar com a consciência de um<br />
espírito conservacionista na região, bem como na implantação<br />
de áreas de proteção da fauna. Houve quem criticasse<br />
os custos e a metodologia, e quem afirmasse que os animais<br />
resgatados não sobreviveriam em outras áreas.<br />
Numa época em que ainda não havia legislação ou<br />
compensação ambiental, a Operação Curupira promoveu<br />
a discussão sobre estratégias de conservação; estimulou<br />
estudos numa região pouco conhecida em termos biológi-<br />
Cinco dissertações de mestrado e uma tese de<br />
doutorado, viabilizadas pelo projeto, já foram<br />
concluídas e uma dissertação e uma tese devem<br />
ser terminadas nos próximos anos.<br />
O curso de campo ‘Conservação e Ecologia<br />
de Populações em Áreas Fragmentadas’,<br />
destinado a alunos de mestrado e doutorado,<br />
foi realizado em 2006 e 2007 como disciplina<br />
regular do programa de pós-graduação<br />
em zoologia da UFPA e do MPEG. Esforços<br />
também têm sido direcionados ao repasse<br />
de informações para as comunidades do entorno<br />
do reservatório, por meio de palestras e<br />
cartilhas. “A experiência do curso de campo<br />
foi única, principalmente para os alunos, que<br />
tiveram a oportunidade de treinar a pesquisa<br />
científica, desde a formulação de hipóteses,<br />
cos e propiciou um campo de estudo aos pesquisadores<br />
que dela participaram.<br />
Foram resgatados cerca de 300 mil animais. Além<br />
das dificuldades logísticas, as equipes enfrentam os<br />
desafios da inexistência de experiência prévia do Setor<br />
Elétrico na Amazônia, um cronograma exíguo para o<br />
planejamento, as grandes dimensões do reservatório e<br />
o pequeno conhecimento da fauna local.<br />
Hoje, 25 anos depois, o projeto Avaliação e Monitoramento<br />
das Comunidades de Vertebrados na Área de<br />
Influência do Reservatório de Tucuruí priorizou as áreas<br />
de soltura dos animais resgatados durante a Operação<br />
passando pela metodologia e desenho experimental<br />
adequados, até a apresentação final<br />
dos resultados. Tudo isso em uma área que<br />
engloba florestas conservadas e fragmentadas<br />
na mesma região”, afirma Galatti.<br />
A expectativa agora é que o relatório seja avaliado<br />
e as novas etapas estabelecidas. “Estamos<br />
aguardando o encaminhamento da Secretaria<br />
para então definirmos se haverá um novo convênio,<br />
ou de que forma vamos dar continuidade<br />
a cada uma das ações. As próximas etapas<br />
devem contemplar ações de monitoramento,<br />
com muitas atividades de pesquisa e formação”,<br />
explica o biólogo Ralph Kronemberger<br />
Lippi, analista ambiental da <strong>Eletronorte</strong>. Com<br />
foco também na educação ambiental, o projeto<br />
oferece dados que podem ser aproveitados por<br />
Curupira. Nos relatórios da Operação, os primeiros<br />
esboços das ideias que, anos depois, seriam pautadas<br />
pela legislação ambiental e consideradas no<br />
relatório final do projeto atual: “Vale salientar ainda,<br />
que os reservatórios, assim que se formam, tendem<br />
a atrair ocupação humana para suas margens, o<br />
que acabará por acarretar devastações na fauna e<br />
flora. Portanto, a simples colocação dos animais nas<br />
margens não lhes garantirá a sobrevivência, a não<br />
ser que as áreas de relocação sejam preservadas.<br />
Essa preservação só será possível pelo manejo das<br />
áreas”. Era o embrião dos corredores.<br />
quem tiver interesse na área ou informações<br />
sobre a biologia das espécies.<br />
Chegar até a proposta de consolidação<br />
daquele corredor ecológico não foi uma tarefa<br />
fácil, menos ainda uma teoria individual. Na<br />
opinião do coordenador, o projeto possibilitou<br />
o desenvolvimento de pesquisas relevantes<br />
sobre a diversidade, ecologia e conservação<br />
da fauna de vertebrados presentes no sistema<br />
formado pelo lago de Tucuruí. As bases 3 e 4,<br />
segundo Galatti, são importantes para estudos<br />
de ecologia aplicada como sobre os efeitos da<br />
fragmentação florestal por implementação de<br />
grandes barragens e ecologia de paisagem, entre<br />
outros temas que fornecem subsídios para o<br />
estabelecimento de estratégias de conservação<br />
biológica no bioma amazônico.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
43
AmAZÔnIA E nÓs<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
44<br />
Foto: Isac Pinheiro<br />
Terezinha Félix de Brito<br />
Entre banzeiros e cachoeiras de inúmeros<br />
rios, ou pelos trilhos da lendária Estrada de<br />
Ferro Madeira-Mamoré, ou ainda pelas belezas<br />
tropicais do Vale do Guaporé, do Forte Príncipe<br />
da Beira, e de muitas outras riquezas culturais<br />
e históricas, Rondônia tornou-se conhecida de<br />
brasileiros e estrangeiros. É preciso se aventurar<br />
para entender sobre essa terra tão rica e de muitos<br />
mistérios, de mitos, folclores, lendas, fases,<br />
lutas, superação. Hoje, o Estado de Rondônia<br />
é visto como referencial de desenvolvimento,<br />
Rondônia:<br />
diversidade,<br />
superação e<br />
desenvolvimento<br />
principalmente pela construção das usinas<br />
do Complexo do Rio Madeira (Jirau e Santo<br />
Antônio), obras grandiosas do Setor Elétrico<br />
brasileiro.<br />
A história de Rondônia é marcada pela<br />
construção da Estrada de Ferro Madeira-<br />
Mamoré, que nasceu da necessidade de<br />
permitir o escoamento de produtos ao país<br />
vizinho, a Bolívia, até o Pacífico. Ao longo<br />
de 400 km de distância entre Porto Velho e<br />
Guajará-Mirim, a obra foi construída por meio<br />
do ‘Tratado de Petrópolis’, que colocou fim à<br />
questão do Acre (1899-1902), anexando-o<br />
ao território brasileiro. Com a construção da<br />
ferrovia, em apenas dois anos, a capital Porto<br />
Velho foi considerada uma cidade cosmopolita<br />
no meio da selva e em pleno início do século<br />
XX era comparada com cidades europeias.<br />
Por lá já havia serviço de esgoto e telefone.<br />
Geradores de eletricidade eram responsáveis<br />
pela iluminação pública e, no cais, lâmpadas<br />
de arco voltaico permitiam o trabalho<br />
noturno. Foram montadas também fábricas<br />
de biscoitos, de gelo, padarias, lanchonetes,<br />
lavanderias, cinemas, hospitais, banda de<br />
música e tipografia. Eram poucos os estados<br />
da Federação que possuíam empreendimentos<br />
semelhantes.<br />
Mesmo com toda tecnologia e conforto, a cidade<br />
que foi o berço da ‘Ferrovia do Diabo’, como foi<br />
intitulada pelo jornalista Manoel Rodrigues Ferreira,<br />
fascinou muita gente e, ao mesmo tempo,<br />
tornou-se motivo de decepção para aqueles que<br />
se aventuraram num lugar até então desconhecido.<br />
Há um mito de que cada dormente da obra<br />
equivale à morte de um trabalhador. Atualmente,<br />
o complexo ferroviário é um dos pontos turísticos<br />
mais visitados, atraindo a curiosidade de pesquisadores,<br />
estudantes e turistas.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
45
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
46<br />
Fotos: Isac Pinheiro<br />
Porto<br />
Velho, a<br />
capital<br />
está<br />
rodeada<br />
de rios e<br />
florestas<br />
Miscigenação – Entre as décadas de 1960<br />
e 1990, Rondônia recebe um grande número<br />
de migrantes, em decorrência da euforia<br />
econômica estimulada por grandes investimentos<br />
do Governo Federal para povoar<br />
a Região Norte. O estado é um verdadeiro<br />
mosaico de diferentes culturas, de muitas<br />
identidades, de miscigenação face à chegada<br />
de brasileiros de todas as regiões, principalmente<br />
de São Paulo, Minas Gerais, Rio<br />
Grande do Sul, Paraná e parte do Nordeste,<br />
além da forte descendência indígena. Entre<br />
1960 e 1980, a população cresce quase<br />
oito vezes, passando de 70 mil para 500 mil<br />
habitantes. E somente em 1981, Rondônia<br />
ganha a condição de estado.<br />
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia<br />
e Estatística – IBGE, em 2008 a população<br />
foi estimada em 1.493.566 habitantes, o que<br />
representa um crescimento de 2,738% em<br />
relação à contagem de 2007. Pelos números,<br />
Rondônia aparece como o terceiro estado<br />
mais populoso e o mais denso da Região<br />
Norte, possuindo o terceiro melhor Índice de<br />
Desenvolvimento Humano - IDH, o quarto<br />
melhor de educação e a melhor renda de<br />
toda a região.<br />
Os números reforçam também a diversidade<br />
natural. Rondônia tem o privilégio de situar-se<br />
na divisa com Amazonas, Mato Grosso, Acre<br />
e Bolívia. Dos mais de 238 mil quilômetros<br />
quadrados, dois terços estão cobertos pela<br />
floresta amazônica. Para quem tem paixão<br />
pela natureza em seu estado mais original, vai<br />
encontrar ali as melhores áreas protegidas da<br />
Amazônia brasileira, por meio de uma rede<br />
de conservação de terras indígenas, florestas<br />
tropicais inundáveis, além de savanas, campos<br />
naturais e pantanais.<br />
Nas reservas extrativistas é possível vivenciar<br />
e conhecer os costumes e sabedorias<br />
dos povos da floresta. Nos parques nacionais,<br />
estaduais e municipais são realizados passeios<br />
em trilhas, safáris fotográficos e cruzeiros<br />
fluviais. No total, são dois parques nacionais,<br />
três parques estaduais, três municipais, quatro<br />
reservas biológicas, três estações ecológicas,<br />
24 reservas extrativistas, duas florestas nacionais,<br />
11 reservas estaduais e 21 reservas<br />
indígenas.<br />
A fauna e a flora formam o mais exótico espetáculo<br />
natural. Várias espécies de animais,<br />
vegetação multicolorida e frutos saborosos<br />
fazem parte do ‘cenário’ rondoniense. Ao<br />
todo são 52 municípios, e em todos eles há<br />
sempre algo interessante para ser apreciado<br />
e emoção para quem gosta de aventura. Mas<br />
também há lugares para quem prefere a tranquilidade,<br />
como hotéis-fazenda e pousadas<br />
ecológicas.<br />
História - “Azul, nosso céu é sempre azul.<br />
Que Deus o mantenha sem rival; cristalino,<br />
muito puro. E o conserve sempre assim. Aqui<br />
toda a vida se engalana. De beleza tropical;<br />
nossos lagos, nossos rios; nossas matas, tudo<br />
enfim”. A letra do Hino do Estado de Rondônia,<br />
de composição de Joaquim de Araújo Lima, um<br />
dos ex-governadores, quando ainda se chamava<br />
Território do Guaporé, mostra a fascinação<br />
de quem tem amor pela natureza.<br />
Agora, se o viajante preferir e tiver curiosidade<br />
sobre os monumentos históricos de<br />
Rondônia, tem que dar uma passadinha na<br />
capital, pois quase todos estão concentrados<br />
Rio Madeira,<br />
onde navegam<br />
homens<br />
e vive uma<br />
rica fauna<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
47
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
48<br />
Monumentos<br />
e a estrada<br />
de ferro<br />
Madeira<br />
Mamoré:<br />
registros<br />
históricos<br />
em Porto Velho. Como, por exemplo, o Prédio<br />
do Relógio, construído no início do século XX.<br />
Seus belos vitrais mostram os ciclos econômicos<br />
da região. Hoje é sede da Fundação<br />
Cultural e do Museu Estadual. A arquitetura<br />
lembra uma locomotiva estilizada. Já a Praça<br />
das Três Caixas D’Água, vindas embaladas<br />
dos Estados Unidos no começo do século<br />
para servir à Estrada de Ferro Madeira-<br />
Mamoré, é o símbolo oficial da cidade. Ainda<br />
em Porto Velho pode-se conhecer a catedral<br />
do Sagrado Coração de Jesus, construída<br />
em 1927 por padres salesianos, o maior e<br />
mais belo santuário rondoniense. Suas obras<br />
internas e o estilo colonial dão um contraste<br />
interessante à paisagem amazônica. Está<br />
localizada no extremo do bairro Caiari.<br />
Mais à frente fica a sede da Prefeitura Municipal,<br />
à direita o Colégio Barão do Solimões,<br />
um dos institutos educacionais públicos mais<br />
tradicionais da cidade. Nas proximidades também<br />
se encontra o Palácio Presidente Vargas,<br />
sede do Governo do Estado. O prédio, construído<br />
em 1949, foi tombado pelo Patrimônio<br />
Histórico. Foi lá que aconteceu a sessão<br />
pública de instalação do Estado de Rondônia.<br />
Já o Mercado Cultural, construído em 1915,<br />
e que funcionava como Mercado Público,<br />
acabou sendo destruído por um incêndio<br />
em 1966, mas recentemente foi reconstruído<br />
com os boxes originais, únicas estruturas que<br />
resistiram ao fogo criminoso. Atualmente, o<br />
prédio é destinado a eventos culturais e venda<br />
de produtos regionais, além de ser o ponto de<br />
encontro de artistas locais.<br />
A 700 quilômetros da capital, um monumento<br />
histórico é roteiro certo para turistas<br />
interessados no passado da segurança da fronteira<br />
nacional: o Real Forte Príncipe da Beira, à<br />
margem direita do Rio Guaporé, fronteira natural<br />
entre Brasil e Bolívia, que chama a atenção<br />
pela arquitetura rústica do século XVIII.<br />
Artesanato e festas - Sob forte influência<br />
indígena, o artesanato local é geralmente<br />
produzido de forma colorida, alegre e bonita,<br />
Foto: Beth Farias<br />
aproveitando todos os detalhes que a natureza<br />
oferece: sementes, penas de pássaros, dentes<br />
de animais, castanhas, galhos, palhas e madeiras.<br />
São peças simples, mas que surpreendem<br />
por sua beleza. Atualmente, a ‘biojóia’ rondoniense<br />
está sendo amplamente exportada para<br />
diversos países.<br />
Para muitos ribeirinhos, os elementos da<br />
natureza não são apenas cenários, e sim<br />
o modo de se viver de uma comunidade<br />
inteira. À margem de rios, lagos e igarapés,<br />
centenas de famílias mantêm o costume<br />
religioso popularmente conhecido como<br />
festejos. As manifestações de fé têm força<br />
devido às crenças em superstições e mitos,<br />
bem como as lendas da cobra grande, da<br />
mãe da mata, do mapinguari, do curupira e<br />
do boto-cor-de-rosa.<br />
As festas mais expressivas ocorrem ao<br />
longo dos principais rios - Madeira, Mamoré e<br />
A ‘biojóia’ rodoniense<br />
Festa do<br />
Divino: nos<br />
rios e igarapés<br />
se juntam<br />
famílias<br />
brasileiras<br />
e bolivianas<br />
Fotos: Regineth Tavernard<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
49
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
50<br />
Guaporé. A religiosidade e a devoção<br />
aos santos padroeiros movimentam<br />
os pequenos distritos, entre eles<br />
Nazaré, Demarcação, São Carlos,<br />
Calama, Prosperidade, Ilha<br />
Grande e Nova Esperança. Ao<br />
contrário das grandes cidades<br />
brasileiras, as procissões<br />
nesses lugares<br />
são realizadas<br />
à beira dos ‘barrancos’.<br />
Judith<br />
dos Santos, de<br />
86 anos (foto<br />
abaixo), participa<br />
até hoje dos festejos<br />
do distrito de São<br />
Carlos. Ela fala com<br />
entusiasmo sobre a<br />
devoção que os<br />
moradores desses<br />
pequenos<br />
lugarejos têm pelos santos<br />
padroeiros: “Desde que me<br />
entendo por gente estou envolvida<br />
nessas festas, que são<br />
extremamente sagradas para<br />
nós ribeirinhos.<br />
Tive dez filhos, e todos<br />
de parto normal, e tenho certeza<br />
que todos eles tiveram a proteção<br />
divina desde o nascimento”.<br />
Já no Vale do Guaporé, a Festa<br />
do Divino Espírito Santo é uma<br />
das maiores e mais importantes,<br />
pois aproxima famílias ribeirinhas<br />
bolivianas e brasileiras. A peregrinação<br />
das comunidades que<br />
moram às margens dos rios Mamoré<br />
e Guaporé - que fazem divisa<br />
com o Brasil e a Bolívia - mobiliza<br />
principalmente as cidades de Costa Marques,<br />
Pedras Negras, Rolim de Moura do Guaporé,<br />
Pimenteiras, Versalhes, Remanso e Piso Firme,<br />
sendo as três últimas na Bolívia.<br />
Jerico – Já ouviu falar da Fórmula 1 da<br />
Amazônia? Não? Então imagine um cenário<br />
com arquibancadas, camarotes, bandeirolas<br />
e, na pista, muita lama, pilotos cheios<br />
de adrenalina fazendo diversas curvas em<br />
‘supermáquinas’. Jericódromo, esse é o lugar<br />
onde se pratica a Corrida de Jericos Motorizados.<br />
Os ‘jericos’ são montados a partir de<br />
peças de modelos diversos. Cada jerico chega<br />
a até 60 km/h e possui força para puxar um<br />
Folharal, personagem exclusivo<br />
do boi-bumbá estadual Corrida maluca: jericos motorizados chegam a 60 km/h<br />
caminhão. O esporte inventado por produtores<br />
rurais tem público certo, já que a corrida<br />
é realizada todos os anos em comemoração<br />
ao aniversário da cidade de Alto Paraíso. Este<br />
ano a pequena cidade recebeu mais de 30<br />
mil pessoas.<br />
Na capital, a peça o ‘Homem de Nazaré’,<br />
com mais de 300 integrantes, é encenada na<br />
cidade cenográfica Jerusalém da Amazônia, o<br />
segundo maior teatro a céu aberto do mundo.<br />
A peça foi criação do Grupo Êxodo, formado por<br />
jovens religiosos que disseminam a arte e a fé<br />
num espaço no meio da floresta. Agora entre todas<br />
as manifestações culturais, a que não pode<br />
deixar de ser citada é o Flor do Maracujá.<br />
O mundo fascinante das lendas e mitos<br />
tradicionais da Amazônia são revelados em<br />
dez noites no maior arraial do Norte do Brasil,<br />
que acontece há 28 anos em Porto Velho.<br />
Botos que dançam e emprenham donzelas,<br />
iaras que seduzem os homens e os levam<br />
para seus reinos encantados, e o Folharal,<br />
personagem exclusivo do boi-bumbá estadual.<br />
Além de contar com personagens tradicionais<br />
de quadrilha como os doutores da vida e da<br />
cachaça, seringueiro, caçador, personagens<br />
que traduzem a cultura local.<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
51
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
52<br />
De acordo com a professora e historiadora<br />
Yêdda Pinheiro Borzacov, a festa foi batizada<br />
como Flor do Maracujá porque as moças, em<br />
meados da década de 1950, embelezavam<br />
seus cabelos com as exuberantes flores da<br />
fruta, que ali existiam, no terreiro onde a<br />
comunidade dança. “Os moradores nomearam<br />
a quadrilha em homenagem às flores<br />
do maracujá, que durante o mês de junho<br />
apareciam em abundância naquela região.<br />
Os rondonienses têm orgulho de realizar uma<br />
das maiores e mais expressivas festas com<br />
manifestações da cultura indígena e nordestina”,<br />
afirma Yedda, que foi também uma das<br />
idealizadoras do evento.<br />
Culinária - A cozinha rondoniense é farta<br />
em aromas e sabores, devido à multiplicidade<br />
de pratos que acrescentaram peculiaridades<br />
de cada região brasileira e receitas de outros<br />
países. De acordo com Débora Cavalcante,<br />
que trabalhou durante 24 anos na área de<br />
turismo, Rondônia adotou vários pratos de<br />
diferentes lugares. “Nossa gastronomia tem<br />
forte influência do Brasil inteiro, pois aqui foi<br />
um dos lugares que mais recebeu migrantes de<br />
todo o território nacional”, afirma. Os cardápios<br />
dos restaurantes locais acrescentam aos pratos<br />
migrados, ingredientes que a floresta oferece.<br />
Portanto, não tenha medo de se deliciar com<br />
pratos como churrasco, feijoada, caruru, pato<br />
no tucupi, baião de dois, arroz carreteiro, maniçoba,<br />
vatapá, tacacá, entre outros.<br />
Mas o forte da culinária rondoniense são os<br />
peixes amazônicos, que têm como traço cultural<br />
característico a técnica de preparo indígena.<br />
Seja de couro ou de escama, de pequeno<br />
ou grande porte, frito, assado, ou cozido, são<br />
inúmeras as receitas, e entre as espécies mais<br />
consumidas estão tucunaré, tambaqui, jatuarana,<br />
piranha, dourado, cachara, pacu, sardinha,<br />
pirarara, pirapitinga e o pirarucu. Conhecido<br />
como bacalhau da Amazônia, o pirarucu pode<br />
ser consumido com farinha d’água, temperado<br />
com limão e pimenta de cheiro, pode ser preparado<br />
seco, salgado ou fresco, com os mais<br />
variados condimentos nativos.<br />
Já uma das marcas deixadas pelo país<br />
vizinho foi a Salteña. De influência boliviana, a<br />
Salteña é recheada com batata, carne bovina<br />
ou frango, e é o pedido certo em qualquer<br />
barzinho, padaria, lanchonete de escolas e<br />
praças ou feiras das cidades que ligam Porto<br />
Velho a Guajará-Mirim, município que fica na<br />
fronteira com a Bolívia. Saltenã com suco de<br />
cajá é uma delícia!<br />
Aprenda a saborosa<br />
receita do ‘pirarucu<br />
metido a besta’<br />
Ingredientes<br />
(para duas pessoas)<br />
· 500g de pirarucu em lascas (seco)<br />
· 2 batatas<br />
· 1 pimentão<br />
· 2 tomates<br />
· 3 cebolas<br />
· 2 ovos<br />
· Azeitonas verdes<br />
· Ervas de cheiro e urucum<br />
Preparo:<br />
· Deixe o pirarucu de molho durante 12<br />
horas em água fria, trocando de tempo em<br />
tempo. Escorrer.<br />
· Corte a metade da cebola em rodelas e<br />
despeje no fundo da panela de barro.<br />
· Coloque as lascas de pirarucu e distribua,<br />
por igual, as rodelas de batata, o<br />
restante da cebola, tomate, pimentão, os<br />
ovos e as azeitonas.<br />
· Regue com tintura de urucum e as<br />
ervas de cheiro.<br />
· Deixe cozinhar com a panela tampada,<br />
por 20 minutos.<br />
· Se necessário, acrescente sal a<br />
gosto.<br />
· Sirva com arroz branco e pirão.<br />
Receita preparada pela chef<br />
Débora Cavalcante, do restaurante<br />
Beiradão, Porto Velho (RO)<br />
O ipê-amarelo<br />
que virou poste,<br />
ou o poste que<br />
virou ipê-amarelo<br />
Na década de 1980, um poste de<br />
madeira foi fincado na esquina da<br />
Avenida Jatuarana com a Rua Cravo<br />
da Índia, no bairro Cohab Floresta,<br />
em Porto Velho. Até aí tudo bem.<br />
Durante alguns anos era apenas<br />
um entre tantos na cidade. Num ato<br />
silencioso e inusitado, após algum<br />
tempo o ‘poste’ se rebela exigindo<br />
seu espaço, na luta contra fios e<br />
ferragens colocados pelo homem a<br />
serviço do abastecimento da rede de<br />
energia elétrica. Dele surgem galhos<br />
e flores, e sua verdadeira identidade<br />
é descoberta: um ipê-amarelo. Foi<br />
uma surpresa para os moradores<br />
do local, que sensibilizados com<br />
a ousadia da natureza, passaram<br />
a ser verdadeiros guardiões e contempladores<br />
do ‘poste-ipê’.<br />
Com o objetivo de preservá-lo,<br />
a Secretaria do Meio Ambiente<br />
solicitou à empresa distribuidora<br />
de energia elétrica estadual que<br />
fosse transferida a fiação para um<br />
poste de concreto, instalado ao<br />
lado da árvore. Hoje, o ipê não é<br />
mais poste, mas ainda é possível<br />
ver no tronco dele a ferragem onde<br />
passava a fiação. Curiosos de vários<br />
lugares já passaram pelo local para<br />
conferir a história do ipê teimoso,<br />
que floresce sempre no final do mês<br />
de julho ou início de agosto, e que<br />
virou uma doce atração na cidade.<br />
“É uma obra da natureza que não<br />
tem explicação”, diz o comerciante<br />
Diocleciano Nogueira, morador do<br />
bairro desde 1985. “Plantei quatro<br />
mudas dele em frente à minha casa<br />
e já enviei também algumas para<br />
fazendas do interior”, conta Diocleciano,<br />
que acompanhou a trajetória<br />
da árvore e o seu desejo de viver,<br />
numa grande demonstração de que<br />
a natureza pode até demorar, mas<br />
não falha.<br />
Fotos: Priscila Leite Costa<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
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CoRREIo ContÍnuo<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
54<br />
“Meu nome é Willian de Oliveira Marques, sou o atual presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica da<br />
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Venho buscar informações sobre o recebimento da revista Corrente<br />
Contínua, como me cadastro, o que é necessário para receber. É importante ser dito que esta revista irá circular entre os<br />
acadêmicos da instituição, e seria muito importante que os estudantes tivessem acesso a revistas do setor para ficarem<br />
antenados com as novidades que são frequentes em nossa área. Desde já agradeço”.<br />
Willian de Oliveira Marques - Cuiabá - MT<br />
“Prezado senhor Jorge Palmeira, diretor-presidente da <strong>Eletronorte</strong>, cumprimentamos vossa senhoria e agradecemos o envio<br />
da revista Corrente Contínua da <strong>Eletronorte</strong>. Na oportunidade, informamos o nome do novo secretário de Estado da Agricultura,<br />
Pecuária e Abastecimento, Sr Gilberto Uemura. No ensejo, colocamo-nos à disposição para futuras parcerias”.<br />
Francisca Jane Rios Gonçalves<br />
- Chefe de Gabinete da Seapa<br />
“Cara Érica, somente hoje tive condições de fazer a leitura da matéria referente ao GIT. É gratificante esse contato com<br />
uma história cheia de particularidades que, no dia a dia, parece irrelevante, mas depois de algum tempo tem um significado<br />
todo especial. E tudo isso só é possível pela forma organizada como vocês jornalistas relatam tais fatos. É como fazer uma<br />
viagem ao passado e conseguir enxergar cada momento, com suas paisagens e diálogos específicos. Só há duas coisas<br />
a serem ditas no momento: parabéns pelo trabalho e, acima de tudo, muito obrigado pela oportunidade que me deu, de<br />
passear por uma história gratificante de transformação na minha vida”.<br />
Carlos Olimpio Casseb Quebra<br />
- Regional de Transmissão do Pará - Belém - PA<br />
“Prezada Bruna, recebemos a revista Corrente Contínua referente a maio/junho, que contém a entrevista com o<br />
engenheiro Airton Silveira, da Eletrosul. Apenas uma ressalva, já que o nome saiu grafado errado (Airton Araújo Silveira),<br />
quando o correto é Airton Argemiro Silveira”.<br />
Lucimar Mondini Polli<br />
- Assessoria de Comunicação Social e Marketing da Eletrosul - Florianópolis - SC<br />
“Caro Alexandre, acabo de receber o nº 226 da Corrente Contínua e aproveito para parabenizar a todos vocês da<br />
redação e, em especial Byron de Quevedo, pelo belo trabalho da reportagem sobre as eclusas de Tucuruí. Aqui no sudeste<br />
do Pará essa obra é vista como uma urgência, e o tema suscita muito interesse. A reportagem de vocês, inclusive,<br />
fornece dados importantes de pauta para uma abordagem atualizada no nosso jornal Correio do Tocantins sobre o assunto.<br />
Sempre temos colhido boas pautas baseadas no ótimo trabalho desempenhado por vocês. Parabéns e sucesso a todos,<br />
desde a equipe de jornalismo até à de fotografia”.<br />
Patrick Roberto Carvalho<br />
- Editoria do Correio do Tocantins - Marabá - Pará<br />
“Agradeço a doação e o recebimento da revista Corrente Continua, Ano 31, numero 226, maio/junho de 2009. Sua<br />
doação vem ajudando as pesquisas de nossos usuários. Solicito a continuação da doação desta publicação para a Secretaria<br />
de Estado de Meio Ambiente – Sema – Núcleo de Documentação e Arquivo”.<br />
Rosa Elena Leão Miranda<br />
- Bibliotecária da Sema - Belém - PA<br />
“ Senhor diretor-presidente Jorge Palmeira, agradecemos o envio da revista Corrente Contínua, da <strong>Eletronorte</strong>. Na<br />
oportunidade vimos parabenizá-lo, bem como os demais colaboradores dessa revista”.<br />
Maria Lúcia Cavallari Neder<br />
- Reitora da Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá - MT<br />
“Gostei muito da reportagem Saudades do Guamá, da revista Corrente Contínua número 226 - maio/junho-2009.<br />
Curiosidade: na página 65 consta a receita do biscoito amor-perfeito da D. Naninha. Nos ingredientes fala em um prato<br />
de tapioca. Fiz uma consulta a diversos colegas aqui do Tocantins, perguntei qual é o prato da tapioca e ninguém<br />
soube explicar. Poderiam nos esclarecer?”.<br />
Demerval Ferreira da Silva<br />
- Regional de Transmissão do Tocantins<br />
- Palmas – TO<br />
N.R.: trata-se de um prato raso de tapioca, também conhecida como araruta ou polvilho. Equivale a mais ou menos 200g.<br />
FotolEgEnDA<br />
Mundo emprestado aos<br />
bravos tá sofrendo!<br />
Estão indo embora<br />
os astronautas<br />
Pássaros estranhos<br />
luas ultrapassam<br />
Nós não, nós ficaremos<br />
A cuidar dos rios,<br />
lagos e cascatas<br />
Cidade estica garganta<br />
presa respira ar escuro<br />
Casa sobre outras<br />
arranha céu<br />
Ferreiro vai pro alto com<br />
a mão a nuvem cata<br />
Não nós, nós ficaremos<br />
A cuidar do chão, dos<br />
bichos e da mata<br />
Lanças lançadas ao fundo<br />
são facas, facão, estacas<br />
Ouro, diamantes<br />
dos pés se afastam<br />
Maquineiros mergulham<br />
nas terras: ponta de metal<br />
igual redemoinho<br />
Mas não nós, nós ficaremos<br />
A cuidar das pedras e caminhos<br />
Texto: Byron de Quevedo<br />
Foto: Rony Ramos<br />
<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />
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