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corrente contínua corrente contínua - Eletronorte

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<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

Ano XXXII - nº 227 - Julho/Agosto - 2009 A REVIstA DA ElEtRonoRtE<br />

Waimiri Atroari,<br />

os filhos da esperança<br />

<strong>Eletronorte</strong>


sumáRIo<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

2<br />

tRAnsmIssÃo<br />

ONS: as linhas<br />

do desenvolvimento<br />

Página 3<br />

tECnologIA<br />

Inovações que<br />

transformam<br />

Página 11<br />

CIRCuIto IntERno<br />

Corpo técnico<br />

da <strong>Eletronorte</strong><br />

leva conhecimento<br />

a outras instituições<br />

do Setor Elétrico<br />

Página 31<br />

EnERgIA AtIVA<br />

Eficiência<br />

e crescimento<br />

Página 36<br />

AmAZÔnIA E nÓs<br />

Rondônia:<br />

diversidade, superação<br />

e desenvolvimento<br />

Página 44<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

SCN - Quadra 06 - Conjunto A<br />

Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2<br />

CEP: 70.716-901<br />

Asa Norte - Brasília - DF.<br />

Fones: (61) 3429 6146/ 6164<br />

e-mail: imprensa@eletronorte.gov.br<br />

site: www.eletronorte.gov.br<br />

Prêmios 1998/2001/2003<br />

mEIo AmBIEntE<br />

Um corredor para a diversidade<br />

Página 38<br />

REsPonsABIlIDADE soCIAl<br />

Waimiri Atroari:<br />

etnia que renasce a cada dia<br />

Página 16<br />

CoRREIo<br />

ContÍnuo<br />

Página 54<br />

FotolEgEnDA<br />

Página 55<br />

Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia<br />

- Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor<br />

Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso<br />

- Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - gerência de<br />

Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF)<br />

- Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine<br />

(DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298- RS)<br />

- Terezinha Félix de Brito (DRT 954 –RO) - Assessorias de Comunicação das unidades<br />

regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias<br />

de Comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica:<br />

Jorge Ribeiro - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da contracapa: Alexandre Velloso - Impressão:<br />

Brasília Artes Gráficas - tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral<br />

tRAnsmIssÃo<br />

ons: as linhas<br />

do desenvolvimento<br />

Byron de Quevedo<br />

O sistema elétrico brasileiro movimenta<br />

em torno de 66 mil megawatts/dia. Porém, é<br />

a interconexão do sistema, com 93 mil quilômetros<br />

de linhas, e a sua versatilidade que o<br />

tornam único e especial. Esse sistema de vascularização<br />

da energia, com a predominância<br />

de hidrelétricas e com múltiplos proprietários,<br />

se entrelaça por meio do Sistema Interligado<br />

Nacional – SIN, sendo que apenas 3,4% da<br />

eletricidade do País está fora do SIN, em sistemas<br />

isolados na Amazônia. O coração da rede<br />

pulsa em Brasília, mais precisamente no Centro<br />

Nacional de Operação do Sistema – CNOS,<br />

principal agente do Operador Nacional do Sistema<br />

Elétrico - ONS. Mas é nas extremidades<br />

que ele mostra a sua plenitude, iluminando<br />

campos e cidades.<br />

Uma complexa malha de providências está<br />

por trás do simples ato de se ligar uma lâmpada.<br />

Elas começam na sala de comando do<br />

CNOS, que é semelhante a um centro de comando<br />

de voos e aeronaves, como o Sindacta<br />

(foto). A diferença básica é que, enquanto<br />

os pontos luminosos dos painéis do Sindacta<br />

indicam aviões com centenas de pessoas<br />

dentro deles, cada ponto iluminado nas telas<br />

do CNOS significa milhões de pessoas que<br />

também não podem prescindir da energia. A<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

3


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

4<br />

semelhança entre os dois centros é tanta que<br />

durante recente crise dos aeroportos, o local<br />

recebeu técnicos da Infraero, que queriam<br />

adaptar o sistema para o controle aéreo.<br />

Hoje, o sistema elétrico em alta tensão<br />

tem capacidade instalada para o transporte<br />

o que significou a criação do<br />

ons para o setor Elétrico brasileiro?<br />

Desde meados da década de 1970 até o final dos anos<br />

de 1990, o sistema elétrico interligado brasileiro teve sua<br />

operação coordenada por organismos colegiados, dos quais<br />

participavam as principais concessionárias do País. Eram os<br />

grupos coordenadores da Operação Interligada Sul/Sudeste<br />

e Nordeste e o Grupo Técnico Operacional da Região Norte.<br />

Em 1998, quando a reforma institucional do Setor Elétrico<br />

criou o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, já existiam<br />

as bases metodológicas, os modelos computacionais<br />

e os recursos humanos necessários para assumir a missão<br />

de operar o sistema elétrico de forma centralizada, com o<br />

objetivo de garantir ao mesmo tempo a segurança do atendimento<br />

e a redução dos custos operativos. Com a criação<br />

do ONS, a responsabilidade que era compartilhada pelos<br />

integrantes dos organismos colegiados passou a ser atribuída<br />

a uma única organização, que tem a missão de operar o<br />

Sistema Interligado Nacional - SIN com transparência, equidade<br />

e neutralidade.<br />

Que papel o ons desempenha<br />

no atual modelo do setor Elétrico?<br />

O ONS é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos,<br />

que coordena e controla a operação dos sistemas de<br />

geração e transmissão de energia elétrica no SIN, sob fiscalização<br />

e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica<br />

- Aneel. O Operador é uma associação civil, que tem como<br />

membros associados os agentes de geração, de transmissão,<br />

de distribuição, importadores e exportadores de energia<br />

e consumidores livres. Também participam representantes<br />

do Ministério de Minas e Energia e dos conselhos de consumidores.<br />

Seu papel é cuidar dos múltiplos aspectos técnicos<br />

relacionados à operação do SIN, fazendo a gestão dos recursos<br />

eletroenergéticos disponibilizados pelos agentes, na<br />

busca de prover a sociedade com segurança de suprimento<br />

e respeitando a modicidade tarifária. O ONS está estruturado<br />

com base em três macrofunções, que abrangem as<br />

diferentes atividades que lhe são atribuídas por lei: a administração<br />

dos serviços de transmissão, o planejamento e a<br />

programação da operação e a operação propriamente dita,<br />

executada em tempo real pelos seus centros de operação.<br />

A execução dessas atividades envolve de forma integrada<br />

diferentes campos do conhecimento técnico especializado.<br />

de 98,8 mil MW. O recorde de consumo é<br />

de 65,5 mil MW, evidenciando uma reserva<br />

energética. A energia hidráulica representa<br />

89% do consumo brasileiro; as usinas térmicas<br />

convencionais (carvão, gás e óleo diesel)<br />

fornecem 11.895 MW; e as termonucleares<br />

Diretor-Geral do ONS, Hermes Chipp<br />

Para o ons, que influência têm o tamanho<br />

e a complexidade do sistema elétrico brasileiro?<br />

O sistema elétrico brasileiro é singular, tanto por suas<br />

dimensões geográficas, quanto por seu porte. Mas a característica<br />

que mais nos diferencia dos outros países é a<br />

relevância da hidroeletricidade em nossa matriz energética.<br />

A maior parte da energia produzida no País depende<br />

de um insumo cuja disponibilidade não pode ser completamente<br />

garantida nem prevista em um horizonte extenso.<br />

Em nosso caso, coordenar a operação significa definir, a<br />

cada instante, de que forma os recursos hídricos e termoelétricos<br />

serão utilizados para garantir o atendimento dos<br />

consumidores, com continuidade, segurança e ao menor<br />

custo de produção. E isso deve ser feito analisando-se<br />

um horizonte plurianual, em que possam ser avaliadas as<br />

consequências futuras das decisões tomadas no presente.<br />

Nesse cenário, a rede elétrica e, principalmente, as<br />

interligações entre regiões assumem um papel muito importante,<br />

pois viabilizam o aproveitamento da diversidade<br />

de comportamento entre as diferentes bacias hidrográficas,<br />

bem como o atendimento de regiões em situação de<br />

escassez de recursos hídricos com energia exportada por<br />

outras partes do sistema.<br />

o sIn é um dos mais modernos do mundo.<br />

A sua expansão conta com várias obras do<br />

Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.<br />

Qual a importância delas para o futuro do País?<br />

O Plano Anual da Operação Energética de 2009, divulgado<br />

em junho passado e disponível para consulta em<br />

nosso site (www.ons.org.br/), avalia, sob a ótica da operação,<br />

as condições de atendimento ao SIN para o quinquênio<br />

2009-2013, recomendando, se necessário, ações<br />

adicionais para a adequação da oferta ao mercado previsto<br />

de energia elétrica. As avaliações realizadas indicam<br />

uma situação confortável de atendimento ao mercado nos<br />

próximos cinco anos. O critério de garantia de suprimento<br />

preconizado pelo Conselho Nacional de Política Energética,<br />

riscos de déficit de energia abaixo de 5%, é atendido<br />

com folga em todas as regiões, durante todo o quinquênio.<br />

Essa situação favorável de atendimento se deve,<br />

principalmente, à oferta agregada pelos leilões de energia<br />

nova e de linhas de transmissão realizados desde 2005.<br />

No total, nos próximos cinco anos deverão ser acrescidos<br />

Angra I e II e pequenas centrais geradoras<br />

suprem 2.007 MW.<br />

O CNOS possui centros regionais que<br />

conversam com 200 agentes de geração,<br />

transmissão e distribuição 24 horas por dia:<br />

o COSRS, no Sul; o COSRSE, no Sudeste;<br />

ao SIN cerca de 28 mil MW. A oferta de energia elétrica<br />

proveniente das usinas que fazem parte do PAC é extremamente<br />

importante para a manutenção dessa situação<br />

confortável. Ela é composta por 124 usinas e soma<br />

21.900 MW, aproximadamente 78% de toda a expansão<br />

considerada para o SIN no período 2009-2013.<br />

Em relação aos sistemas isolados, qual<br />

a expectativa de interligação deles ao sIn?<br />

A expansão das fronteiras do SIN começa a tornar-se<br />

uma realidade com a integração do Acre e de Rondônia,<br />

cujos testes de sincronização foram realizados com sucesso<br />

no final de julho, de acordo com as condições indicadas<br />

pelos estudos pré-operacionais do ONS. Na prática,<br />

a integração plena da Região Norte contempla diferentes<br />

marcos. Os outros dois são igualmente ambiciosos: a interligaçãoTucuruí-Manaus-Macapá<br />

e o sistema de escoamento<br />

da geração das usinas do Rio<br />

Madeira. Em todos esses casos,<br />

o ONS promove estudos com vistas<br />

a realizar a integração ao SIN.<br />

No caso de Tucuruí-Manaus-Macapá,<br />

os contratos de concessão<br />

com os vencedores dos três lotes<br />

foram assinados em outubro do<br />

ano passado, e a expectativa é<br />

de que a linha - com cerca de<br />

1.800 km de extensão - comece<br />

a operar em 2011. Por fim,<br />

o Complexo do Madeira, considerado<br />

um dos maiores desafios<br />

para o Setor Elétrico, em razão<br />

da magnitude das duas usinas e<br />

da extensão das linhas de transmissão,<br />

tem previsão de início de operação em 2012. O<br />

Operador teve o cuidado de colocar como requisitos do<br />

edital de licitação do Madeira algumas medidas de gestão<br />

do conhecimento na área de transmissão em <strong>corrente</strong><br />

<strong>contínua</strong>, em vista da necessidade de ampliação da formação<br />

especializada nessa área.<br />

A Rede de gerenciamento de Energia - Reger é um<br />

dos projetos relevantes para o setor Elétrico brasileiro.<br />

o que esse projeto mudará nos sistemas de controle?<br />

Certamente, a Reger está hoje entre os trabalhos mais<br />

estratégicos realizados pelo Operador. A implantação desse<br />

novo sistema de supervisão e controle representará um<br />

grande marco para a coordenação do SIN. Isto faz parte<br />

Arquivo ONS<br />

e COSRN, no Nordeste; e o COSRNCO, no<br />

Norte-Centro-Oeste. E o SIN opera em vários<br />

níveis de tensão com milhares de pontos de<br />

torres, o que demonstra a importante função<br />

do ONS, monitorando e supervisionando a extensa<br />

rede. Segundo o engenheiro operador<br />

do contínuo aperfeiçoamento dos processos, inerente à atividade<br />

de uma instituição que precisa lidar com tecnologia<br />

de ponta, no estado da arte. O primeiro passo do projeto<br />

Reger aconteceu com a recente assinatura dos contratos<br />

com o consórcio Siemens-Cepel e com a OSIsoft, para desenvolvimento<br />

do primeiro ciclo. A propósito, o Reger colhe<br />

os frutos do trabalho conjunto desenvolvido no âmbito do<br />

VLPGO (Very Large Power Grid Operators),onde foi estabelecida<br />

uma especificação de referência para sistemas de<br />

gerenciamento de energia. A partir da implantação de uma<br />

plataforma unificada de supervisão e controle, em substituição<br />

aos atuais recursos operacionais providos por diferentes<br />

fornecedores, o ONS terá melhores condições para garantir<br />

a continuidade dos processos de supervisão. Cada um dos<br />

seus centros de operação poderá ter as atribuições assumidas<br />

por outro, sem prejuízo para o sistema.<br />

O projeto tem um horizonte de longo prazo,<br />

dividido em ciclos. A primeira dessas fases<br />

será concluída em 30 meses, o que significa<br />

que a Reger estará em funcionamento<br />

já no segundo semestre de 2011.<br />

o ons tem um corpo de profissionais<br />

qualificados. Como o operador<br />

desenvolve seus recursos humanos?<br />

O cumprimento da missão institucional<br />

do ONS depende de uma bem-sucedida<br />

interação entre o desenvolvimento de<br />

sistemas e recursos tecnológicos e a capacitação<br />

de seus recursos humanos. Ao<br />

longo dos anos, temos investido em programas<br />

de desenvolvimento tecnológico e<br />

de gestão, utilizando o suporte de empresas<br />

de consultoria, centros de pesquisa e<br />

universidades. Além disso, temos tratado<br />

com muito cuidado a questão da gestão do conhecimento<br />

na organização. Em 2005, foi elaborado um Plano Diretor<br />

de Gestão do Conhecimento e, em 2007, iniciou-se a implantação<br />

de um processo estruturado para essa gestão.<br />

Hoje, já identificamos os conhecimentos de foco prioritário<br />

do ONS, isto é, aqueles que são estratégicos ou de<br />

responsabilidade específica do Operador, ou ainda que<br />

apresentem algum aspecto de criticidade, como concentração<br />

em poucos profissionais ou risco de perda desses<br />

conhecimentos. As iniciativas para sua retenção, criação<br />

ou disseminação são importantes para o fortalecimento e<br />

a perenidade do Operador. Afinal, o conhecimento é nosso<br />

maior patrimônio.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

5


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

6<br />

em tempo real do CNOS, João Lúcio Machado<br />

Fernandes, a coordenação começa na sede<br />

do Operador, no Rio de Janeiro, passa pela<br />

operação de tempo real e se conclui no dia<br />

seguinte com o relatório de análises.<br />

Tempo real – Operações em tempo real são<br />

aquelas preventivas para se manter a reserva<br />

operativa, controlar tensão e frequências, os<br />

limites das linhas de transmissão e demais<br />

normas e procedimentos. João Lúcio descreve<br />

a rotina: “Recebemos do Rio de Janeiro as<br />

instruções de operação, que são centenas.<br />

Vamos então para o tempo real. Às 6h30,<br />

recebo o programa de operações, vejo as intervenções<br />

e vou acompanhando, pois pode<br />

haver mudanças. Lidamos com mil unidades<br />

geradoras e 700 circuitos, sujeitos a intempéries<br />

e falhas operacionais e humanas. Temos<br />

a previsão de cargas, mas se há uma frente<br />

fria, a carga diminui; se ocorrer um ‘veranico’,<br />

a carga aumentará. Aí tomamos ações corretivas<br />

e reprogramamos a carga de energia de<br />

uma região para a outra, religamos equipamentos,<br />

flexibilizamos limites operativos, tudo<br />

sem exceder a capacidade de transporte das<br />

linhas de transmissão”.<br />

Os turnos vão se revezando,<br />

trocam-se os operadores e, enquanto<br />

isso, o País realiza suas<br />

atividades normalmente e poucos<br />

sabem daqueles que varam<br />

dias e noites atentos. Rostos iluminados<br />

pelas telas, olhos fixos,<br />

um turbilhão de pensamentos e<br />

um único desejo: que o novo dia<br />

traga a melhor surpresa, ou seja,<br />

nenhuma surpresa. João Lúcio<br />

(ao lado) lembra um caso: “Em<br />

12 de março de 1998, por volta<br />

das 22 horas, horário de cargas<br />

altas, tínhamos as usinas do Rio Paraná cheias<br />

d’água e precisando gerar. Então veio o tal raio<br />

de Bauru, desligando as dez linhas da subestação<br />

que supre São Paulo. Aí, pela sobrecarga e<br />

queda da frequência e tensão, outras subestações<br />

foram sendo desligadas em série. Esse foi<br />

o resultado de dez anos sem investimentos na<br />

expansão da transmissão. O atual modelo do<br />

Setor Elétrico criou o ONS, a ANA, fortaleceu a<br />

Aneel, trouxe novas metodologias, melhorou a<br />

avaliação e a segurança eletromagnética. Dificilmente<br />

a mesma situação se repetirá”.<br />

Brasil x Argentina - No campo da energia<br />

não existe a rivalidade Brasil versus Argentina,<br />

nem contra os tradicionais adversários do futebol,<br />

Uruguai e Paraguai; pelo contrário, todos<br />

se ajudam principalmente em situações de crise.<br />

O CNOS ‘conversa’ com esses países por<br />

meio de acordos internacionais. No caso do<br />

Paraguai, via Itaipu, onde consumimos toda a<br />

energia do lado brasileiro e compramos 90%<br />

da produzida do lado paraguaio. João Lúcio<br />

observa que com a Argentina temos pontos<br />

de conversão em Garabi I e II e Uruguaiana,<br />

porque a nossa frequência é de 60 hertz, e<br />

a dela, 50 hertz. “Melhoramos o intercâmbio.<br />

Agora enviamos a energia para a Argentina no<br />

período do inverno de lá. Depois ela nos devolve,<br />

a partir de outubro, quando as nossas<br />

hidrelétricas estão com cotas baixas”.<br />

O superintendente de<br />

Comercialização de Energia<br />

da <strong>Eletronorte</strong>, José<br />

Serafim Sobrinho (ao lado),<br />

não vê problema em<br />

interligar o SIN com sistemas<br />

de outros países da<br />

América do Sul. “Basta<br />

um bom acordo de despachos<br />

de cargas. Em<br />

breve, teremos uma série<br />

de usinas na Bolívia, no<br />

Peru, e de lá puxaremos<br />

as linhas, ajudando, inclusive,<br />

os outros países a crescerem. Com a<br />

diversidade climática, as bacias hidrográficas<br />

podem contribuir umas com as outras. No<br />

vale do Rio Orinoco, na Venezuela, o pico de<br />

vazão é em julho, junto, por exemplo, com a<br />

Usina Hidrelétrica Balbina, no Amazonas. Já<br />

na região central do Brasil, o pico das chuvas<br />

acontece entre fevereiro e março. A gestão das<br />

bacias propicia melhor<br />

uso de recursos e investimentos,<br />

pois a eletricidade<br />

pode transitar nos<br />

dois sentidos e garantir<br />

um abastecimento perene<br />

em todo continente ”,<br />

afirma.<br />

Copa do Mundo – O<br />

maior evento esportivo<br />

do planeta também é um<br />

bom termômetro para<br />

testar o sistema elétrico<br />

brasileiro. O coordenador de Certificação do<br />

CNOS, Plínio de Oliveira (acima), conta que<br />

durante os jogos da Seleção Brasileira de futebol<br />

o consumo sobe 11.500 mil MW em<br />

minutos, o equivalente ao que é consumido<br />

pela Região Sul em um único dia.<br />

Quem imaginaria que assistir televisão economiza<br />

eletricidade e que o aumento no gasto<br />

de energia revela perda de popularidade?<br />

Segundo Plínio, no final da novela das 8h da<br />

noite há picos de até 4.500 MW. “Depois dela<br />

todos vão tomar banho, aparelhos e luzes são<br />

ligados e o consumo sobe. Durante o horário<br />

político, as pessoas vão procurar outra coisa<br />

para fazer e o consumo vai às alturas: quatro<br />

mil MW sobem em segundos”.<br />

E por falar em Copa do Mundo, lembram-se<br />

do Zagalo gritando para a Seleção Brasileira:<br />

“Joga pelas pontas!”. Com a eletricidade é a<br />

mesma coisa, mas é o País inteiro que grita:<br />

“Mais energia nas pontas!”. Ouviram o eco da<br />

torcida e as vitórias foram chegando aos consumidores<br />

residenciais, comerciais, industriais<br />

e de serviço público. Mas, como o Garrincha,<br />

jogam muito bem pelas pontas os técnicos dos<br />

centros regionais de operação da <strong>Eletronorte</strong><br />

na região amazônica.<br />

De acordo com o superintendente de Engenharia<br />

de Operação e Manutenção da Transmissão,<br />

Sidney Custódio Santana Junior (abaixo),<br />

“com o ONS houve evolução nas formas<br />

de supervisão. Antes tínhamos uma subestação<br />

1, que atendia a uma carga 1; e outra subestação<br />

2 e uma geradora. Havia uma linha<br />

de transmissão unindo essa usina a uma subestação<br />

e mais uma linha. Isto é o que chamamos<br />

de critério ‘N’ de segurança. Significa<br />

que se perdêssemos essa linha o sistema seria<br />

interrompido. Agora temos o critério ‘N-1’, por<br />

meio do qual é possível manter o atendimento<br />

mesmo que se perca uma linha, uma vez que<br />

outra linha fará o abastecimento”.<br />

Segurança sem cochilos - Os operadores<br />

e técnicos da Subestação Presidente Dutra,<br />

no Maranhão, bateram o recorde mundial<br />

em segurança no trabalho em 2009: são 21<br />

anos sem acidentes do trabalho com afastamento<br />

do serviço. Um desempenho assim traz<br />

mais responsabilidades. Odorico Paulo Vieira<br />

Garcez, operador de tempo real do Centro de<br />

Operação Regional do Maranhão, conta que<br />

se sente realizado com sua profissão, tanto é<br />

que abandonou o jornalismo para ficar com ela,<br />

muito embora viva sob tensão. “É verdade: lidar<br />

com tensões é meu trabalho. Mas alivio-as fazendo<br />

trabalhos comunitários voluntários junto<br />

a jovens e idosos. A importância do operador<br />

em tempo real numa regional está na resposta<br />

diante de situações possíveis de causar blecautes.<br />

Um controle mal executado no meu<br />

sistema pode comprometer o fornecimento de<br />

energia elétrica em grande parte do País. Não<br />

posso cochilar. Se na saída de uma carga, por<br />

exemplo, eu cometo uma falha entre a média e<br />

a alta tensão, essa carga provoca rejeições na<br />

geradora, em nosso caso, na Usina Hidrelétrica<br />

Tucuruí. Tenho pouco tempo para restabelecer<br />

o fornecimento, principalmente para os grandes<br />

consumidores industriais que precisam manter<br />

os autofornos perenes. Manter as tensões dentro<br />

das faixas, com o mínimo de oscilações, é o<br />

que determina a qualidade da energia. E ainda<br />

há multas severas se a indisponibilidade do sistema<br />

ultrapassar o tempo previsto nos procedimentos<br />

estabelecidos pela Aneel. Um minuto é<br />

o tempo que tenho para dar uma resposta ao<br />

Odorico<br />

e Hamilton:<br />

decisões<br />

rápidas<br />

em tempo<br />

mínimo<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

7


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

8<br />

Secretário Nacional de Energia,<br />

Josias Matos de Araújo<br />

Qual a influência do governo junto ao ONS?<br />

O ONS tem participação junto ao governo no Comitê de<br />

Monitoramento do Setor Elétrico, órgão coordenado pelo<br />

Ministro de Minas e Energia, que conta ainda com a Empresa<br />

de Pesquisa Energética – EPE, ANA, Aneel, ANP e<br />

demais órgãos envolvidos. É nesse Comitê que são tomadas<br />

as deliberações com relação ao Sistema Interligado Nacional<br />

- SIN. O ONS faz os estudos restabelecendo níveis<br />

de armazenamento de reservatório que vêm para o Comitê<br />

deliberar. O Operador tem total independência para operar,<br />

coordenar e verificar as mudanças de regra no setor, pois<br />

é também um órgão fiscalizador do sistema elétrico sob o<br />

ponto de vista de operação. A Aneel, em última instância, é<br />

a fiscalizadora do sistema.<br />

A parcela variável, calculada<br />

pelo ONS, é outra forma<br />

de multar as empresas?<br />

De fato a parcela variável acaba incidindo sobre o faturamento<br />

das empresas. Os cálculos são feitos pelo ONS, baseados<br />

na saída de atividade do equipamento e de acordo<br />

com o período que ele ficará indisponível. Se um equipamento<br />

ficar fora de ação por 20 horas, por exemplo, então<br />

ao ser feito o pagamento da receita anual permitida, o valor<br />

da penalização será automaticamente deduzido da receita<br />

da empresa.<br />

O sistema de transmissão<br />

brasileiro é suficiente para atender<br />

ao crescimento da demanda?<br />

Sim. Mas é necessário que o Brasil continue investindo<br />

no setor. Têm acontecido os leilões, os denominados A-3,<br />

das usinas térmicas; e os A-5, para geração hidráulica. Significa<br />

que a partir do momento em que a empresa vence<br />

ONS, avisando-o da disponibilidade do equipamento<br />

para a religação”.<br />

Já para o operador em tempo real, Hamilton<br />

Caldas da Silva, o seu trabalho é especial porque<br />

está à frente da atividade-fim da Empresa.<br />

“Só no Maranhão coordenamos nove subestações,<br />

além de instruir os operadores locais. Já<br />

vivemos situações de emergência resolvidas<br />

sob a coordenação do ONS para recompor o<br />

sistema. Há três anos perdemos duas linhas<br />

simultaneamente. Ver uma cidade apagada<br />

para nós é algo muito sério. E mesmo que<br />

a culpa não seja diretamente nossa, se não<br />

soubermos administrar esse sentimento, ele<br />

o leilão, ela tem cinco anos para entregar as obras. Para<br />

usinas térmicas, a entrega é prevista para três anos e temos<br />

os leilões para se criar reservas energéticas. O Brasil<br />

cresce a uma taxa de 4,5% a 5% ao ano; ou seja, é<br />

necessário colocar todos os anos no sistema mais quatro<br />

mil MW. Por isto o Programa de Aceleração do crescimento<br />

- PAC já prevê obras vitais como Belo Monte, a<br />

ser leiloada ainda este ano; os projetos do Rio Tapajós,<br />

usinas térmicas e usinas alternativas, como é o caso das<br />

eólicas, com leilão previsto para novembro próximo.<br />

O SIN poderá vir a ser um sistema<br />

internacional na América do Sul?<br />

Queremos estreitar o relacionamento com os países<br />

vizinhos. Estamos negociando com o Peru uma linha de<br />

transmissão entre os dois países e a construção de várias<br />

hidrelétricas no lado peruano, cujo potencial é de 20 mil<br />

MW. Destes, seis mil já podem ser explorados por usinas<br />

de médio porte. Há um estudo sendo feito pela Aneel<br />

para regulamentar o atendimento energético às nossas<br />

áreas de fronteiras. Essas interligações não nos prejudicariam,<br />

pois nossas linhas já possuem boa margem de<br />

segurança, fazendo com que as linhas de um sistema<br />

interligado internacional adquiram o mesmo perfil.<br />

A solução para os sistemas<br />

isolados está a caminho?<br />

O objetivo do governo é interligar os sistemas do Acre,<br />

Rondônia, Amapá, Roraima e Manaus, hoje abastecidos<br />

por usinas térmicas na sua quase totalidade. Temos as<br />

hidrelétricas Balbina (AM), Samuel (RO) e Coaracy Nunes<br />

(AP), mas o restante é atendido com energia vinda<br />

de usinas térmicas caras, movidas a derivados de petróleo,<br />

o que leva as concessionárias, principalmente a Ele-<br />

perdurará. Temos que nos conscientizar que<br />

somos profissionais capacitados e momentos<br />

como esse surgirão, não é um processo fácil.<br />

Mas é bom saber da nossa importância”.<br />

O gerente do Centro Regional, Décio Bueno,<br />

lista os principais clientes atendidos no<br />

Maranhão: a distribuidora estadual Cemar e<br />

os eletrointensivos Alumar e Vale. “Hoje o consumo<br />

da Alumar é uma vez e meia o consumo<br />

diário de todo o Maranhão, de 800 MW, em<br />

decorrência do processo de eletrólise durante<br />

a fabricação de alumínio, onde 85% do custo<br />

é energia elétrica. Mas o consumo do estado<br />

também tem crescido. Hoje nós temos duas<br />

tronorte, a terem sérios problemas financeiros. Com<br />

o objetivo de eliminar o problema, a primeira decisão<br />

foi interligar o Acre a Rondônia, e Rondônia a Mato<br />

Grosso, o que será feito ainda este ano. Em 2011 teremos<br />

a interligação de Tucuruí com Manaus e Amapá.<br />

Já existem projetos de interligação de Roraima com o<br />

Amazonas. Quando essas providências se tornarem<br />

realidade, reduziremos muito o prejuízo, o que é chamado<br />

pela Aneel de custo evitado; ou seja, a cada<br />

linha construída, se evita custo de mais geração térmica.<br />

É bom lembrar que o valor aprovado, este ano,<br />

para a conta CCC, pela Aneel, é de R$ 2,5 bilhões.<br />

Ano passado esse valor foi superior a R$ 3,8 bilhões.<br />

Ou seja, já fizemos uma economia em torno de R$ 1<br />

bilhão. Mas a CCC, pela lei atual, só encerrará seus<br />

benefícios no ano de 2023. Na região amazônica, certos<br />

locais serão atendidos por sistemas isolados específicos<br />

de unidades de células fotovoltaicas, energia<br />

eólica, bioenergia, biomassa, já contempladas pelo<br />

programa Luz para Todos.<br />

linhas de transmissão para São Luís, que estão<br />

sendo recapacitadas e expandidas. Os nossos<br />

operadores são muito exigidos, mas a modernização<br />

dos equipamentos e sistemas ajuda<br />

na tomada de decisões”.<br />

Luzes da cidade – Num apagão há dois<br />

momentos periclitantes: quando o problema é<br />

técnico, vem o sentimento de desgaste devido<br />

à responsabilidade pela manutenção. Quando<br />

a falha é humana, o sentimento é pior. “A solução<br />

é dialogar com os companheiros e manter<br />

a tranquilidade, lembrando que as próximas<br />

ações devem ser mais cuidadosas, mas não<br />

podemos perder de vista a importância de<br />

tudo que fizemos e que ainda faremos. Nesses<br />

momentos valorizamos ainda mais os treinamentos.<br />

E não podemos desvalorizar o profissional,<br />

derrubando a sua autoestima, pois não<br />

dá para formar técnicos desse nível da noite<br />

para o dia. E a despeito do erro, temos que<br />

contar com o profissional de mente saudável<br />

e pronto para agir. Por exemplo, minha válvula<br />

de escape para aliviar as tensões é fazer trilha<br />

e mergulhar”, conta Décio.<br />

O gerente da Regional de Transmissão do<br />

Maranhão, Mauro Luiz Aquino dos Santos,<br />

no intuito de reduzir os problemas de comunicação<br />

entre os operadores de tempo real,<br />

instalou há alguns anos placas e câmeras de<br />

vídeo para gravar as instruções aos técnicos<br />

durante as trocas de turnos. “Desde então, as<br />

imagens gravadas não só servem como instrução<br />

de rotina, mas também se transformaram<br />

em importantes documentos de consulta e de<br />

aprendizado”.<br />

Como as luzes da cidade não podem se<br />

apagar, a energia dos nossos técnicos não<br />

pode esmorecer. Ninguém quer ficar no escuro.<br />

Afinal, a escuridão pode nublar a visão dos<br />

homens e roubar o brilho das cidades.<br />

Décio, à esquerda, e Mauro, à direita: valorizando treinamentos<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

9


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

10<br />

Hamilton e família<br />

Mulheres<br />

em tempo real<br />

Quando elas caíram na real, já estavam casadas<br />

com operadores de tempo real. Aí foi um Deus nos<br />

acuda. Eram homens diferentes: sumiam no meio da<br />

noite para áreas de alta periculosidade. “Nós trabalhamos<br />

em subestações!” explicavam eles. Só que<br />

como elas nunca podiam entrar lá, por algum tempo<br />

pensaram que as subestações eram algum tipo de<br />

submundo. “Tá vindo aí um blecaute, tô indo para<br />

uma operação especial!”, gritavam eles lá de fora da<br />

casa, já entrando no carro. “Ahn han, eu ainda vou<br />

descobrir quem é esse ‘black’ e essa tal de ‘out’. É só<br />

faltar a luz que esses dois telefonam pra cá!”, murmuravam<br />

as jovens esposas daqueles operários tão apaixonados<br />

pelo trabalho de manter acesa as luzes da<br />

cidade. Agora são recordações e as famílias felizes,<br />

com os filhos já criados e encaminhados, juntam-se<br />

para rir, mas no início foi difícil, muito difícil. É o que<br />

dizem elas.<br />

Discussões, risos, lágrimas e abraços: foi assim. Alguns<br />

já calvos, outros com os cabelos brancos. Mas o<br />

que nunca mudou entre eles foi a amizade. Arcelino da<br />

Silva Nascimento, José Martins Soares, José Antônio,<br />

Joaquim Carlos Brito, Hamilton Caldas da Silva e Odorico<br />

Paulo Vieira Garcez são operadores em tempo real<br />

do Centro de Operações do Maranhão. Sim senhor, e<br />

suas mulheres, ‘operadoras da realidade do tempo’.<br />

Dona Valma Fontes Ribeiro Garcez é casada com<br />

Odorico há 21 anos. O casal tem dois filhos, Marcos<br />

Paulo e André Luiz. Ela conta que foi difícil adaptarse<br />

ao sistema de trabalho de turno do marido, pois<br />

impedia que eles participassem de festas, casamentos<br />

e encontros de casais. São religiosos e ficava difícil<br />

para ela ser conselheira com um marido que faltava<br />

Odorico e família<br />

muito aos encontros. “Procuro entender a profissão<br />

dele, mas os treinamentos são em locais tão distantes.<br />

O André Luiz só conheceu o pai quando tinha<br />

quatro meses. O Odorico estava fazendo um curso<br />

em Tucuruí. Mas olhando para trás, vendo tudo que<br />

construímos, mesmo com tudo que passamos, eu<br />

agradeço a Deus!”.<br />

Já dona Isabel Cristina, casada há 20 anos, a esposa<br />

do Hamilton, é mãe do Daniel e da Débora Cristina.<br />

Ela comenta como a rotina de sua família é diferente<br />

das demais: “Todo mundo vai ao cinema no final<br />

de semana, a gente não, só na quarta-feira. Este ano<br />

nem fizemos festa de Ano Novo, ele sempre trabalha<br />

nessa data!”. A família conseguiu adaptar-se à rotina<br />

de trabalho do pai, o mesmo não se pode dizer dos<br />

seus cães. Hamilton e Daniel chegaram à conclusão<br />

que é melhor não tê-los para não perdê-los. E Débora<br />

Cristina relata uma triste história: “Já tivemos quatro<br />

cães e foi um fracasso. As duas cadelas morreram<br />

logo, um fugiu e jamais foi encontrado e o outro enlouqueceu.<br />

Este último, um fila brasileiro enorme, de<br />

uma hora para outra começou a destruir tudo dentro<br />

de casa, possesso. Tivemos que sacrificá-lo!”.<br />

Hamilton adorava seus cães e seus cães o adoravam;<br />

mas agora vai explicar para um cachorro o sistema<br />

de turnos da <strong>Eletronorte</strong>! Já a Débora, que na sua<br />

meninice assistiu tantos cães partirem, sem dúvida<br />

hoje busca na ciência a resposta de tal incompatibilidade<br />

do seu lar com o lar dos seres caninos. Está estudando,<br />

ao mesmo tempo, veterinária e biologia. “Eu<br />

amo cães!” diz ela com uma ponta de saudade. Mas<br />

dona Isabel retruca. “Que nada, ela quer os coitados<br />

é para dissecar. Aqui cachorro não entra!”.<br />

tECnologIA<br />

César Fechine<br />

“E como é que vocês conseguiram imprimir<br />

essa dinâmica, que parece típica de empresa<br />

privada? Porque isso não é comum.” A pergunta<br />

é feita pelo editor da revista Época Negócios,<br />

Marcos Todeschini, em entrevista realizada<br />

em Brasília, da qual participaram Neusa<br />

Maria Lobato Rodrigues, superintendente de<br />

Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e<br />

Eficiência Energética da <strong>Eletronorte</strong>, e os empregados<br />

João Nilson de Oliveira, de Tucuruí,<br />

e Raimundo Nonato de Oliveira Guimarães,<br />

de Macapá.<br />

As respostas enchem de lágrimas os olhos<br />

do entrevistador e entrevistados. “O amor que<br />

eu tenho pela <strong>Eletronorte</strong> é uma coisa maravilhosa.<br />

Nós, ‘eletrossauros’, somos apaixonados<br />

pela Empresa e esse amor consegue romper<br />

todos os problemas e percalços que temos.<br />

Divulgação<br />

Inovações que transformam<br />

<strong>Eletronorte</strong> é a única estatal entre as<br />

25 empresas mais inovadoras do Brasil<br />

Cada pessoa aqui dentro sabe da importância<br />

do seu papel”, responde Neusa.<br />

“Com o tempo, a gente vai criando amor<br />

pela equipe de trabalho e tem as pessoas<br />

como se fossem parentes, familiares nossos.<br />

Nós desenvolvemos as atividades juntos e, às<br />

vezes, se um colega precisar, ele está à vontade<br />

para ligar, porque me considera como irmão.<br />

Em nossa Divisão nós temos um slogan: o<br />

fácil foi feito, o difícil nós estamos fazendo e o<br />

impossível demora um pouco. E tudo isso vai<br />

alavancar o processo como um todo”, ensina<br />

Guimarães.<br />

João Nilson acrescenta: “Nós fazemos por<br />

amor à Empresa. Queremos ver uma <strong>Eletronorte</strong><br />

que não para, que continue funcionando<br />

e gerando energia. Como eu tinha isso de<br />

Wady Charone (à direita) recebe prêmio de Kátia Militello e Nelson Blecher<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

11


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

12<br />

inventar coisas para mim, não foi difícil pensar<br />

em como melhorar os processos empresariais.<br />

O principal é o reconhecimento. A Empresa<br />

pede o registro da patente, divulga a inovação<br />

e divide o lucro com o empregado.”<br />

A entrevista foi feita para o Anuário de<br />

Inovação de Época Negócios, que teve edição<br />

lançada em julho de 2009 com a primeira edição<br />

do prêmio ‘As empresas mais inovadoras<br />

do Brasil/2009’. A <strong>Eletronorte</strong> ficou entre as<br />

25 primeiras e foi reconhecida com o prêmio,<br />

uma parceria da revista e o Fórum de Inovação<br />

da Fundação Getúlio Vargas - FGV, juntamente<br />

com o instituto Great Place to Work - GPTW,<br />

e apoio técnico da Fundação Nacional de<br />

Qualidade - FNQ, na categoria Processo de<br />

Inovação.<br />

“Fizemos esse levantamento em parceria<br />

com a FGV para o anuário sobre inovação, que<br />

aborda os fenômenos que estão acontecendo<br />

nas empresas, processos e novos negócios. É<br />

a primeira vez que fazemos esse especial. Os<br />

pesquisadores visitaram as empresas, distribuíram<br />

os questionários e recebemos o resultado<br />

com os destaques”, explica o jornalista Marcos<br />

Todeschini (acima, ao lado de João Nilson), 28<br />

anos, com passagens por veículos como Veja,<br />

Exame, 4Rodas e Superinteressante, trabalhando<br />

em Época Negócios desde o início deste<br />

ano como editor. “A primeira coisa que chama<br />

a atenção é a <strong>Eletronorte</strong> ser a única empresa<br />

estatal na pesquisa”, diz o jornalista. Por isso a<br />

pergunta citada no início desta matéria.<br />

Após a premiação, o diretor de Produção e<br />

Comercialização, Wady Charone, afirmou que<br />

um dos fatores mais importantes para uma<br />

organização é manter a equipe motivada. “Um<br />

dos fatores que levam a isso é o reconhecimento,<br />

ver o brilho nos olhos dos empregados. Esse<br />

prêmio valoriza a <strong>Eletronorte</strong>, a única empresa<br />

do governo a ser agraciada, o que aumenta o<br />

nosso desafio para construir, inovar, crescer,<br />

agregar valor e mostrar que podemos fomentar<br />

a inovação.”<br />

O diretor-presidente, Jorge Palmeira, lembra<br />

que o processo de inovação na <strong>Eletronorte</strong> começou<br />

há anos, ou seja, com o programa TPM<br />

e vem se aprimorando. Hoje, com a carteira<br />

de projetos de pesquisa e desenvolvimento,<br />

temos não só no nível interno, mas também<br />

no externo, várias tecnologias e procedimentos<br />

que promovem a inovação, principalmente nos<br />

processos produtivos da organização e nos<br />

diversos pedidos de patentes.”<br />

Investimentos - Desde 2002, a <strong>Eletronorte</strong><br />

celebrou contratos de projetos de P&D com<br />

uma rede de universidades e centros de pesquisa<br />

sediados em 20 estados, com o envolvimento<br />

de mais de 700 pesquisadores. Além<br />

dessa rede de instituições, a Empresa também<br />

executa pesquisas em seu Centro de Tecnologia,<br />

em Belém (PA), e no Centro de Pesquisa<br />

do Sistema Eletrobrás - Cepel (RJ).<br />

Atualmente, a Empresa faz a gestão direta<br />

de 205 projetos de P&D e participa de outros<br />

Diferenciais importantes<br />

A primeira lista anual de Época Negócios com as empresas<br />

mais inovadoras do Brasil foi formada a partir de uma pesquisa<br />

feita por professores do Fórum de Inovação da Fundação<br />

Getúlio Vargas/ Escola de Administração de São Paulo – FGV-<br />

Eaesp. O Fórum conduz há sete anos estudos a respeito dos<br />

fatores que contribuem para que uma empresa ou instituição<br />

seja permeada por um processo contínuo de inovações, tanto<br />

tecnológicas quanto organizacionais. “O que se busca com a<br />

investigação é uma visão integrada da companhia”, sintetiza<br />

Marcos Vasconcellos, coordenador do Fórum.<br />

Mais de cem empresas<br />

se inscreveram para<br />

o prêmio e o levantamento<br />

foi resultado de<br />

14 meses de trabalho.<br />

As candidatas preencheram<br />

extenso questionário<br />

que, no conjunto,<br />

radiografa todos os processos<br />

internos, capazes<br />

de levá-las – ou não – à<br />

condição de ‘organização<br />

inovadora’. Para se<br />

assegurar da precisão<br />

das informações enviadas,<br />

examinadores da<br />

Fundação Nacional da Qualidade – FNQ, juntamente com o<br />

instituto Great Place To Work – GPTW, deram apoio técnico<br />

ao levantamento e visitaram as 35 finalistas.<br />

Cinco dimensões foram analisadas pelos especialistas,<br />

cada uma com peso diferente no cômputo final: o papel<br />

da liderança na definição das estratégias e no incentivo<br />

à criatividade; o meio inovador interno, que estimula a<br />

iniciativa e o envolvimento das pessoas; as pessoas que<br />

87. Os projetos de inovação já geraram 111<br />

produtos, sendo 22 protótipos, 34 softwares<br />

e 55 métodos. Esses projetos também resultaram<br />

em 31 soluções tecnológicas para a<br />

Empresa, sendo 20 na área de geração e 11<br />

na de transmissão.<br />

Os investimentos em inovação não param<br />

de crescer. “O investimento médio da Empresa<br />

é de R$ 10 milhões por ano.<br />

E há R$ 50 milhões provisionados<br />

para os próximos três<br />

anos”, informa Álvaro Raineri<br />

(ao lado), gerente dos programas<br />

de P&D da <strong>Eletronorte</strong>.<br />

Mais de R$ 410 mil foram<br />

distribuídos aos empregados<br />

conduzem o processo de inovação; o processo de inovação,<br />

que se inicia com a alocação de recursos e compreende as<br />

etapas de geração de ideias, desenvolvimento e implementação<br />

das inovações; e os resultados, evidenciados pelos ganhos<br />

financeiros gerados pelas dimensões anteriores.<br />

“A pesquisa procurou identificar os fatores que conferem<br />

a determinadas companhias diferenciais importantes em<br />

um mercado cada vez mais padronizado”, declarou ao final<br />

do evento de premiação o diretor-geral da Editora Globo,<br />

Frederic Zoghaib (acima). O Anuário de Inovação Época<br />

Negócios contém o perfil das 25 empresas vencedoras e de<br />

como foi feito o estudo que buscou entender os processos<br />

de produção para que as companhias fossem consideradas<br />

continuamente inovadoras. A maneira holística com que<br />

analisa as empresas possibilita ao Fórum de Inovação da<br />

FGV-Eaesp conciliar as modernas visões das práticas de<br />

inovação e da ‘arte de fazer a diferença’.<br />

que desenvolveram projetos inovadores<br />

por meio do Prêmio Muiraquitã.<br />

“Tudo isso levou ao aumento do número<br />

de pedidos de patentes da Empresa,<br />

que chegam hoje a 51 solicitações.<br />

Os autores dos projetos ganham<br />

20% sobre o que for comercializado”,<br />

relata Neusa Lobato (ao lado).<br />

Retífica - Na entrevista com os<br />

nossos dois ‘professores pardais’<br />

depreende-se que o dom para a invenção<br />

manifesta-se ainda na infância. O auxiliar<br />

técnico de manutenção João Nilson, desde<br />

pequeno inventa coisas e diz que nas empresas<br />

em que trabalhou sempre procurou um<br />

Divulgação<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

13


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

14<br />

jeito para melhorar o trabalho. Na <strong>Eletronorte</strong><br />

desde 1984, João Nilson (à direita) tem várias<br />

inovações registradas, como o dispositivo para<br />

a usinagem de eixos mecânicos em tornos de<br />

pequeno porte.<br />

“Os equipamentos disponíveis na Usina<br />

Hidrelétrica Tucuruí não suportavam o diâmetro<br />

do anel coletor das máquinas da primeira<br />

etapa, que era maior do que o torno que nós<br />

temos para manutenção. E sem o anel a máquina<br />

não gera energia. Nós estamos falando<br />

de uma unidade geradora de 350 MW de<br />

potência, com três anéis, cada, totalizando<br />

36”, detalha.<br />

Para fazer a retífica do anel coletor, a unidade<br />

geradora chegava a ficar parada por 30<br />

dias e uma verdadeira operação de guerra era<br />

montada para transportar a peça com mais de<br />

dois metros de diâmetro até São Paulo, por<br />

meio de balsas e caminhão, muitas vezes em<br />

estradas intransitáveis. O custo total evitado<br />

pela Empresa após a utilização do dispositivo<br />

para usinagem é estimado em mais de R$<br />

28 milhões. “Eu pensava: já fiz tanta coisa e<br />

para eu fazer isso não vai custar. Falei para<br />

as pessoas que ia fazer, algumas duvidaram,<br />

O futuro da inovação<br />

O engenheiro Luis Cláudio Silva Frade (foto), chefe<br />

do Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás,<br />

está participando de um projeto iniciado em 2008 (estilo<br />

wikipédia), coordenado pelas professoras Anna Trifilova e<br />

Bettina von Stamm, ligadas<br />

ao Innovation Leadership<br />

Forum (ILF), que resultará<br />

na publicação de um livro<br />

sobre ‘O Futuro da Inovação’.<br />

O projeto contou<br />

com a contribuição de 350<br />

profissionais de 60 países,<br />

sendo que cerca de 200<br />

foram escolhidos para a<br />

publicação do livro que será<br />

lançado em novembro.<br />

No mês passado, o site<br />

do livro foi lançado na 20th<br />

Conference of The International<br />

Society for Professional Innovation Management<br />

(ISPIM), em Viena, na Áustria, e contém um artigo escrito<br />

por Frade, que retrata o pensamento sobre o futuro da<br />

inovação no Brasil. O site traz artigos sobre inovação de<br />

diversas vertentes, países e pessoas e pode ser consultado<br />

no endereço http://thefutureofinnovation.org/.<br />

e eu disse, dá. Quando retifiquei o primeiro<br />

anel o pessoal disse, agora você concluiu a<br />

sua ideia. Eu tinha certeza que ia fazer e fiz”,<br />

diz o coautor de outras inovações.<br />

Após o dispositivo ser criado, o tempo máximo<br />

de manutenção dos anéis passou para três<br />

dias, tudo feito na própria Usina. “E o melhor<br />

é que, depois que nós começamos a fazer a<br />

retífica, a máquina parou de dar problema<br />

no anel coletor, aparece uma vez ou outra”,<br />

acrescenta Nilson.<br />

Escavadeira - O paraense Raimundo Nonato<br />

de Oliveira Guimarães (abaixo, ao centro)<br />

só foi registrado aos dois anos de idade. “Eu<br />

sou paraense, mas fui para o Amapá com dois<br />

anos e a minha mãe deixou para me registrar<br />

lá porque o meu avô era tabelião. Eu nasci<br />

em Belém, mas sou amapaense”, diz, num<br />

paradoxo compreensível para quem conhece<br />

o imenso ‘nortão’ do País.<br />

Ensaios garantem<br />

confiabilidade<br />

de equipamentos<br />

O Centro de Tecnologia da <strong>Eletronorte</strong>, em Belém (PA),<br />

montou um laboratório a céu aberto para ensaios com alta<br />

tensão em buchas de transformadores e reatores de até<br />

500 kV. O laboratório foi montado para propor soluções de<br />

modo a aumentar a confiabilidade das buchas de reatores<br />

e transformadores de potência de alta tensão, armazenados<br />

em almoxarifados da Empresa. E após a ocorrência<br />

de três sinistros no biênio 2008/2009 em reatores da<br />

Empresa, causados por avarias originadas nessas buchas.<br />

“Como resultado, foi emitido um relatório sugerindo maior<br />

eficiência e eficácia no armazenamento, padronização da<br />

especificação técnica e a realização de ensaios periódicos<br />

para avaliar o estado das buchas de reserva”, esclarece<br />

Francisco Roberto Reis França, superintendente do Centro<br />

de Tecnologia.<br />

Segundo Lídio Nascimento, gerente da Divisão de Tecnologia<br />

de Ensaios, a realização desses estudos pela equipe<br />

interna da <strong>Eletronorte</strong> evitará um gasto aproximado de R$<br />

1,4 milhão. “A <strong>Eletronorte</strong>, ao atuar dessa forma, reduz<br />

significativamente a possibilidade de ocorrência de novos<br />

sinistros e, portanto, de multas impostas pelo Operador<br />

Nacional do Sistema - ONS, de valor bastante elevado,<br />

conhecidas como parcela variável.”<br />

A opção por realizar os testes em laboratórios externos<br />

foi descartada em função do custo elevado, além da<br />

complexidade na logística de transporte das buchas, já<br />

que os principais laboratórios se situam nas regiões Sul e<br />

Sudeste do País. Frente a esse novo desafio, a equipe do<br />

processo de ensaios elétricos com alta tensão montou o<br />

Técnico industrial de engenharia, Guimarães<br />

está há 32 anos na <strong>Eletronorte</strong> e trabalha<br />

na Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, a<br />

primeira hidrelétrica da Amazônia, localizada<br />

no município de Ferreira Gomes (AP). Ele é<br />

outro dos inventores premiados da Empresa.<br />

E pensar que tudo pode ter começado com<br />

uma brincadeira de menino. “Quando eu era<br />

criança, via aquelas pás carregadeiras. Aí eu<br />

peguei uma lata de leite, enchi de terra, furei<br />

do lado, inseri um arame, peguei uma lata de<br />

óleo, daquelas retangulares, cortei de fora a<br />

fora, amarrei um fio e um arame e ela puxava<br />

e ‘basculhava’”, conta.<br />

Hoje, Guimarães é autor de projetos como<br />

o reservatório para uso em máquinas pesadas,<br />

com sistema de retrolavagem, que permite a<br />

laboratório para realizar os ensaios. Os técnicos já realizam<br />

diversas atividades, tais como ensaios de tensão suportável<br />

à frequência industrial, medição de capacitância e fator de<br />

dissipação, medição de descargas parciais e medição de<br />

radiointerferência, limitados ao nível de tensão de 800 mil<br />

Volts em <strong>corrente</strong> alternada.<br />

Após a entrega do novo laboratório, que está em construção,<br />

também serão realizados ensaios de impulso atmosférico<br />

(simulação de uma descarga atmosférica) e ensaios de impulso<br />

de manobra (simulação de um chaveamento), em até<br />

2.400.000 Volts. Além de reduzir as despesas operacionais,<br />

o laboratório possibilitará a prestação de serviços para outras<br />

empresas, o que já acontece, por exemplo, com a Alunorte.<br />

“Executar esses ensaios é motivo de orgulho para a equipe<br />

e serve de estímulo à determinação na superação de novas<br />

dificuldades para ajudar a <strong>Eletronorte</strong> a atingir as suas metas<br />

de ser uma Empresa lucrativa”, finaliza Lídio.<br />

limpeza dos radiadores sem a necessidade de<br />

parada da máquina, entre outros. O projeto<br />

diminuiu significativamente os custos relativos à<br />

perda de produção, com uma economia estimada<br />

para a Empresa em R$ 440 mil por ano.<br />

Mas, afinal, como surgem essas inovações?<br />

Guimarães responde: “A inovação cai como<br />

se fosse uma tela, um quadro na frente da<br />

gente. De acordo com os problemas, aquilo<br />

vem na hora. A gente visualiza a solução e<br />

coloca em prática essa percepção. É um dom<br />

e uma aptidão.” E que dependem também<br />

de muito trabalho e observação. O mérito<br />

pelas inovações e melhorias que mudam a<br />

Empresa é, principalmente, de vocês, Guimarães,<br />

João Nilson e tantos outros valorosos<br />

empregados.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

15


REsPonsABIlIDADE soCIAl<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

16<br />

Waimiri Atroari: etnia<br />

que renasce a cada dia<br />

Érica Neiva<br />

“Em 1986, quando retomei os contatos<br />

com os índios Waimiri Atroari, após um afastamento<br />

de cerca de 12 anos, os encontrei<br />

numa situação muito difícil. Estavam doentes,<br />

tristes, perambulando pela rodovia BR-174,<br />

pedindo carona a caminhoneiros, dependentes<br />

de alimentação e doações. Morriam, em<br />

média, 20% ao ano. Podia-se dizer que es-<br />

tavam caminhando para o extermínio. Aquele<br />

povo que conheci em 1969, de guerreiros<br />

altivos, defensores do seu território e de suas<br />

vidas, estava triste, aguardando algo que não<br />

sabia exatamente o que era... Ainda não havia<br />

demarcação nem definição dos limites de<br />

suas terras”.<br />

A descrição feita pelo consultor indigenista<br />

da <strong>Eletronorte</strong>, José Porfírio Carvalho, não<br />

é apenas a constatação de um especialista<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

17


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

18<br />

Arco<br />

e flexa,<br />

o maior<br />

símbolo<br />

do povo<br />

Kinja<br />

e estudioso das questões indígenas. São as<br />

palavras de um kaminja, expressão da língua<br />

materna Waimiri Atroari que provém da família<br />

linguística Karib e significa pessoa não-índia,<br />

que há 42 anos acompanha ativamente a vida<br />

da etnia, cujo território se localiza nas regiões<br />

sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas.<br />

Com a construção da BR-174, rodovia<br />

construída entre 1974 e 1977, que liga Manaus<br />

(AM) a Boa Vista (RR) e atravessa a terra<br />

indígena Waimiri Atroari no sentido sul-norte,<br />

a situação piorou. A rodovia trouxe o contato<br />

com o homem branco e doenças como sarampo,<br />

malária, verminose<br />

e leishmaniose, matando<br />

inúmeros kinja, autodenominação<br />

dos Waimiri Atroari<br />

para si mesmos. Além desse<br />

empreendimento, a vida da<br />

comunidade foi afetada pela<br />

Mineração Taboca, instalada<br />

na parte leste da terra indígena,<br />

e pela construção da Usina<br />

Hidrelétrica Balbina. Entre<br />

1974 e 1987, a população<br />

Waimiri Atroari foi reduzida<br />

de 1.500 para 374 pessoas<br />

distribuídas em sete aldeias.<br />

Na década de 1980 foram<br />

realizados estudos para<br />

identificar o nível de impacto ambiental que o<br />

reservatório de Balbina causaria à terra indígena<br />

Waimiri Atroari. O resultado mostrou que<br />

seriam inundados 30 mil hectares. O líder dos<br />

índios, Parwe Mário (acima), lembra-se que,<br />

em 1986, a comunidade passou a exigir me-<br />

Proteção ambiental<br />

preserva espécies<br />

em Balbina<br />

Percorrer o Centro de Proteção Ambiental – CPA da<br />

Usina Hidrelétrica Balbina é deparar-se com um universo<br />

de cores, sons e imagens vivas. Nos finais de tarde,<br />

essas sensações intensificam-se com a chegada gradativa<br />

de araras que realizam performances e provocam<br />

admiração. Após algum tempo, elas saem em revoada,<br />

deixando no céu a impressão de um dia multicor. Nesse<br />

cenário, encontramos a médica veterinária Stella Maris<br />

Lazzarini (na foto, com o peixe-boi), que em 1987 iniciou<br />

o trabalho de resgate de fauna em Balbina. Quando<br />

o CPA começou a funcionar efetivamente, em 1992,<br />

ela passou a trabalhar no local e hoje é a coordenadora<br />

dos programas ambientais da Usina.<br />

Para a veterinária, apesar da construção da hidrelétrica<br />

ter inundado uma floresta primária de terra firme<br />

e impactado várias espécies animais e vegetais, houve<br />

medidas compensatórias importantes como a Reserva<br />

Biológica Uatumã, que preserva intacta uma floresta<br />

com extensão duas vezes maior do que a área alagada<br />

pelo reservatório da Hidrelétrica; o Centro de Preservação<br />

e Pesquisa de Quelônios Aquáticos – CPPQA<br />

e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos<br />

Aquáticos – CPPMA. “Além do Programa Waimiri<br />

Atroari e da Reserva Biológica Uatumã, foram preconizados<br />

programas ambientais já prevendo o impacto<br />

ambiental de Balbina, com o objetivo de mitigar os impactos<br />

negativos da hidrelétrica. São os programas de<br />

mamíferos e quelônios aquáticos que surgiram devido<br />

à interrupção da migração desses animais com a construção<br />

do empreendimento”, esclarece Stella.<br />

Em 1986, descobriu-se que cerca de 370 tartarugas<br />

da Amazônia (podocnemis expansa) agruparam-se<br />

didas que mitigassem os danos da inundação.<br />

“Quando soubemos da hidrelétrica procuramos<br />

conhecer os impactos e começamos a<br />

cobrar os nossos direitos. Ao serem feitos os<br />

estudos, ficamos sabendo que duas aldeias<br />

seriam alagadas - a Tapypyna e a Taquari.<br />

Em 1988, a <strong>Eletronorte</strong> implantou o Programa<br />

Waimiri Atroari, que trouxe os benefícios<br />

que consideramos os mais importantes para<br />

nosso povo - saúde, educação, fiscalização<br />

e demarcação. A nossa terra foi demarcada,<br />

homologada e registrada em cartório”, recorda<br />

Parwe. É importante frisar que após o contato<br />

com os brancos, como forma de facilitar a co-<br />

perto da futura barragem, sem poder subir o rio para desovar<br />

nos tabuleiros a montante. Em função disso, foram<br />

criadas praias artificiais para permitir a desova das tartarugas.<br />

Hoje o Centro possui 315 quelônios. “As tartarugas<br />

vêm entre os meses de agosto e outubro, encontram as<br />

praias artificiais e desovam em tabuleiros. Os ovos são<br />

cuidados e em janeiro e fevereiro são devolvidos à natureza.<br />

É um programa em que rapidamente se pode vislumbrar<br />

uma melhoria”, afirma a veterinária. De 1986 a 2008<br />

já foram soltos cerca de 100 mil filhotes de tartaruga no<br />

Rio Uatumã e nos lagos da região.<br />

municação, eles passaram a usar dois nomes,<br />

um indígena e outro em português, a exemplo<br />

de Parwe Mário; antes disso possuíam apenas<br />

o nome indígena.<br />

Anterior à implantação do Programa, como<br />

parte das ações mitigadoras, a <strong>Eletronorte</strong> se<br />

responsabilizou pelo financiamento da demarcação<br />

da área Waimiri Atroari que culminou na<br />

sua homologação em junho de 1989, por meio<br />

do Decreto nº 97.837/89, com uma área de<br />

2.585.911 ha. Na mesma ocasião, no Estado<br />

do Pará, como forma de compensação pelos<br />

impactos causados pela Usina Hidrelétrica Tucuruí,<br />

a <strong>Eletronorte</strong> criou o Programa Paraka-<br />

Usina não impediu a desova da tartaruga da Amazônia<br />

Em busca da liberdade – Os peixes-boi são outra espécie<br />

impactada pela construção de Balbina, pois são habitantes<br />

naturais do Rio Uatumã. Hoje estão isolados em duas populações<br />

– uma está acima da barragem, e talvez fique no<br />

futuro como uma reserva genética da espécie; há também<br />

os que estão abaixo e provavelmente vão acompanhar os<br />

nativos e ganhar o Amazonas.<br />

O CPPMA foi criado para reabilitar esses animais, mas um<br />

dos dilemas é a sua superpopulação. Hoje são 45 peixes-boi,<br />

número considerado excessivo pela veterinária. “No início, o<br />

objetivo era apenas fazer a reabilitação, mas hoje é soltá-los<br />

para aumentar sua variabilidade genética. Mas para isso precisamos<br />

de mais apoio do Sistema Eletrobrás para monitorálos<br />

por meio de radiotransmissores, experiência que outras<br />

instituições realizam com grande êxito. Gastamos anualmente<br />

cerca de R$ 2 milhões com alimentação, mão de obra<br />

e medicamentos para mantê-los. Com a soltura seria R$ 1<br />

milhão por ano. Eles viveriam um tempo no Uatumã e depois<br />

acompanhariam a migração dos nativos”, destaca Stella.<br />

Vários filhotes que estão no Centro tiveram as mães mortas<br />

por caçadores que ainda hoje capturam os animais, não<br />

mais pelo valor do couro, mas pela carne. O fato de a espécie<br />

reproduzir em cativeiro não diminui o risco de ser extinta.<br />

“Há filhotes que reabilitamos e conseguiram reproduzir. Agora<br />

queremos soltá-los para que se reproduzam na natureza<br />

e a espécie tenha uma chance de sobrevivência. Sabemos<br />

que manter o animal reproduzindo em cativeiro não tira o<br />

perigo de ser extinto”, explica Stella.<br />

nã, adotando a mesma filosofia do Programa<br />

Waimiri Atroari.<br />

Invertendo a situação – Fruto de um convênio<br />

entre a <strong>Eletronorte</strong> e a Funai, o Programa<br />

Waimiri Atroari é um conjunto de ações<br />

indigenistas e ambientais voltado à valorização<br />

cultural, melhoria da qualidade de vida e<br />

preparação dos índios para se relacionarem<br />

de forma igualitária, esclarecida e autônoma<br />

com a sociedade à sua volta. Criado em 1988,<br />

com duração prevista de 25 anos, reúne 96<br />

colaboradores nas áreas de saúde, educação,<br />

proteção ambiental, apoio à produção, docu-<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

19


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

20<br />

mentação e memória, e administração.<br />

“O excelente desempenho<br />

dos colaboradores, a boa aplicação<br />

dos recursos e a continuidade das<br />

ações garantem o sucesso alcançado.<br />

Os Waimiri Atroari saíram de<br />

um índice de mortalidade de 20%<br />

ao ano para um crescimento de<br />

5,8% ao ano. Hoje sua população<br />

é de 1.330 pessoas”, frisa o gerente<br />

do Programa, Marcelo de Sousa<br />

Cavalcante (à esquerda).<br />

A sede do Programa fica em Manaus,<br />

mas para as atividades em campo foi<br />

estruturado um centro denominado Núcleo de<br />

Apoio Waimiri Atroari – Nawa que possui múltiplas<br />

funções: infraestrutura de apoio, realização<br />

de reuniões, treinamentos, e projetos demonstrativos<br />

e experimentais. Localizado nas<br />

proximidades da BR-174 com o Rio Alalaú,<br />

o Nawa é um ponto estratégico no apoio às<br />

aldeias e postos de serviço. Existem ainda na<br />

terra indígena escolas, postos de saúde, laboratórios,<br />

casas de apoio e postos de vigilância<br />

que dão o suporte necessário às ações do Programa.<br />

Todas as instalações citadas, inclusive<br />

as aldeias, contam com energia solar para o<br />

desenvolvimento das atividades.<br />

Para Porfírio Carvalho, idealizador do Programa<br />

Waimiri Atroari, o trabalho mudou a<br />

vida dessa comunidade indígena. “Não é um<br />

trabalho qualquer, mas de sentimento, de<br />

amor. Hoje, os Waimiri Atroari são um povo<br />

orgulhoso da sua vida, do seu território e da<br />

sua cultura. Tenho que agradecer à Eletronor-<br />

Alfabetização em duas línguas<br />

Porfírio, ao centro, de braços dados com os índios<br />

te que pode se orgulhar de salvar uma etnia.<br />

Como branco, sou o homem mais feliz por<br />

chegar onde chegamos. São pessoas que poderiam<br />

não existir, poderiam ter morrido. É um<br />

trabalho em grupo, de dedicação e carinho”,<br />

emociona-se o indigenista.<br />

Educação – “Tenho 32 anos e comecei<br />

a estudar com 12, no início do Programa,<br />

quando conheci a gramática Waimiri Atroari.<br />

A nossa língua materna é chamada de kinja<br />

iara, que significa pessoa verdadeira. Depois<br />

de escrever a língua materna fui aprendendo<br />

aos poucos a falar e escrever o português. Temos<br />

uma escola diferenciada. Aprendemos a<br />

nossa língua, depois o português. Temos que<br />

aprender a nossa língua para respeitarmos a<br />

nossa própria identidade. Há o rodízio de ma-<br />

térias como ciências, geografia, matemática, e<br />

aquelas que a comunidade julgar importante<br />

conhecermos. Desde menino tinha o sonho de<br />

ser inpany, professor”.<br />

A declaração acima é de Tuwadja Joanico<br />

(ao lado), coordenador de Educação das aldeias<br />

do ‘eixo-rio’, e ilustra um pouco o processo<br />

educativo implantado com o Subprograma<br />

de Educação, cujo maior objetivo é a alfabetização<br />

de todo o povo<br />

Waimiri Atroari na língua<br />

materna, orientados por<br />

princípios básicos da procura<br />

<strong>contínua</strong> por uma<br />

pedagogia e metodologias<br />

apropriadas à sua<br />

cultura. Isto significa que<br />

eles têm uma educação<br />

bilíngue com o principio<br />

básico da troca de conhecimentos<br />

entre o kinja<br />

e o kaminja. É importante<br />

destacar que toda a educação reflete a<br />

realidade dos Waimiri Atroari por meio de suas<br />

manifestações culturais, do seu trabalho e da<br />

sua língua. As aulas não se limitam à escola,<br />

mas podem ser explorados outros espaços<br />

como recurso didático, a exemplo de caçadas,<br />

pescarias, construção de malocas.<br />

Hoje há 801 alunos nas 22 aldeias, 61,85%<br />

da população. O índice de alfabetização é de<br />

38,66%. Existem 19 escolas, 54 professores<br />

Waimiri Atroari e sete não-índios que auxiliam<br />

em disciplinas como ciências, geografia e matemática.<br />

É fundamental destacar que, no início<br />

do Programa, não havia professores da etnia, o<br />

que foi acontecendo com a realização de cursos<br />

de capacitação e formação. “A importância<br />

da educação é aprendermos para registrarmos<br />

nossa cultura e defendermos nossas terras.<br />

Preparamos os nossos jovens para aprender,<br />

mas para isso não precisam ir à cidade. Tivemos<br />

uma oportunidade muito grande com a<br />

força da <strong>Eletronorte</strong>. Sem essa oportunidade<br />

a educação não ia andar. Essa força é fundamental<br />

na formação do povo Waimiri Atroari”,<br />

confirma Tuwadja.<br />

Saúde – O objetivo do Subprograma de<br />

Saúde é garantir boas condições de vida à po-<br />

Irineide, à direita, e parte da equipe de saúde<br />

As aulas<br />

não se<br />

limitam<br />

à escola<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

21


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

22<br />

Funai vivencia últimas demarcações de terras indígenas<br />

Hoje, no Brasil, de acordo<br />

com a Fundação Nacional<br />

do Índio – Funai, vivem<br />

cerca de 460 mil índios,<br />

distribuídos entre 225 sociedades<br />

indígenas, que<br />

perfazem cerca de 0,25%<br />

da população brasileira.<br />

Além desse número, existem<br />

entre 100 mil e 190<br />

mil vivendo fora das terras<br />

indígenas, inclusive em áreas<br />

urbanas. À Funai cabe<br />

estabelecer e executar a<br />

Política Indigenista no Brasil. O antropólogo e ex-presidente<br />

da Instituição, que hoje coordena a área de Documentação<br />

e Tecnologia da Informação, Artur Nobre Mendes (foto), fala<br />

um pouco sobre a política indigenista brasileira.<br />

Qual o papel da Funai na atual<br />

política indigenista brasileira?<br />

Além de demarcar a terra, a Funai procura desenvolver<br />

alguns projetos econômicos, de autosustentação, visando<br />

a garantir a segurança alimentar dos índios. A atenção às<br />

questões culturais e educacionais é muito deficiente se compararmos<br />

com a demarcação das terras, onde a Fundação<br />

avançou muito. Há tempos a questão da terra era a mais urgente<br />

e vital, por isso se concentraram recursos humanos e<br />

financeiros nessa tarefa. Nessa época, a missão era salvar<br />

os índios que estavam se acabando. Com a demarcação de<br />

Raposa Serra do Sol (RR), é o momento de refletir sobre o<br />

que foi feito e canalizar os esforços para garantir a permanência<br />

dos índios nessas áreas com qualidade de vida, tentando<br />

construir um conceito de desenvolvimento que seja adequado<br />

à realidade indígena.<br />

De que maneira os índios são compensados<br />

com a construção de grandes obras, a exemplo<br />

de usinas e projetos minerometalúrgicos?<br />

No início da década de 1980, começou-se a questionar o<br />

pulação Waimiri Atroari, valorizar a medicina<br />

tradicional e repassar conhecimentos das outras<br />

formas de medicina. Ao ser implantado, o<br />

Subprograma desenvolveu ações de inquérito<br />

epidemiológico, atendimento médico de urgência<br />

a toda a comunidade, vacinação contra<br />

todas as doenças imunopreveníveis, instalação<br />

de banco de dados visando ao monitoramento<br />

do grupo, instalação de postos de saúde para<br />

atendimento primário na terra indígena e mecanismos<br />

para atendimento secundário e terciário<br />

na cidade.<br />

impacto que as grandes obras trariam ao meio ambiente<br />

e às populações indígenas. Naquela época as terras indígenas<br />

não eram demarcadas. Antes dos programas, os<br />

índios recebiam indenizações, mas logo depois o dinheiro<br />

acabava. Os impactos eram potencializados, ao invés de<br />

mitigados. Programas indígenas como o Waimiri Atroari e<br />

o Parakanã mudaram essa realidade.<br />

Qual a importância desses programas<br />

desenvolvidos em parceria com a <strong>Eletronorte</strong>?<br />

Os programas introduziram medidas mitigadoras que<br />

reduziram os impactos de<strong>corrente</strong>s da construção de usinas<br />

hidrelétricas, com uma filosofia de educação, saúde,<br />

meio ambiente e apoio à produção que modificou a vida<br />

dos índios. Eles viabilizaram a vida dos Waimiri Atroari e<br />

dos Parakanã, que está em total equilíbrio. As pessoas<br />

falam que os programas têm muitos recursos, mas não é<br />

bem assim. Se contabilizarmos o que o Governo Federal<br />

investe nos índios por meio da Funai, ministérios da Saúde,<br />

Educação e Desenvolvimento Social, não é mais do<br />

que os programas investem. O investimento não tem que<br />

ser alto, mas bem pensado e aplicado. Nesse momento<br />

de reflexão, esses dois programas têm um papel muito<br />

importante a cumprir, pois podem apontar um caminho.<br />

Eles poderiam ser replicados<br />

em outras etnias indígenas?<br />

Cada caso é um caso. Os índios são muitos diferentes,<br />

a exemplo dos Waimiri Atroari e Parakanã. Eles têm características<br />

particulares que determinam algumas diferenças<br />

entre um programa e outro. No entanto, o modelo<br />

de gestão, de aplicação dos recursos, pode ser replicado<br />

e aproveitado. E, principalmente, acho que os programas<br />

são inovadores e exemplares na questão do tratamento<br />

indigenista. O diálogo que temos é o fiador do sucesso deles.<br />

Se impuséssemos nossa visão, o programa fracassaria,<br />

pois os índios não nos aceitariam como interlocutores;<br />

por outro lado se déssemos tudo nas mãos deles, seria<br />

um fracasso, pois repetiríamos os erros que nos propusemos<br />

a não repetir, como os cometidos no projeto Carajás,<br />

a exemplo das indenizações financeiras.<br />

Atualmente, a saúde da comunidade está<br />

equilibrada, inclusive não se constatam doenças<br />

que são muito comuns em nossa sociedade.<br />

“Fazemos o controle de todas as ações de<br />

saúde que são desenvolvidas na terra indígena<br />

Waimiri Atroari, por meio de atividades preventivas<br />

dos programas de tuberculose, imunização,<br />

malária e doenças crônicas, de acordo<br />

com as normas do Ministério da Saúde. Há<br />

também o programa de saúde bucal com<br />

atendimentos preventivo, curativo e corretivo.<br />

As doenças mais comuns são as verminoses<br />

e as infecções respiratórias. É importante destacar<br />

que na comunidade não há hipertensão,<br />

diabetes, doenças sexualmente transmissíveis,<br />

hanseníase ou mesmo tuberculose”, afirma a<br />

médica Irineide Assunpção Antunes.<br />

Na reserva existem 19 postos de saúde e<br />

oito laboratórios. As atividades são realizadas<br />

por 21 profissionais<br />

- uma médica, uma enfermeira,<br />

uma odontóloga,<br />

18 agentes técnicos<br />

de saúde, um motorista;<br />

contando ainda com<br />

o apoio de 39 agentes<br />

técnicos de saúde e 12<br />

laboratoristas indígenas.<br />

“No início todos os laboratoristas<br />

eram brancos,<br />

mas depois os primeiros<br />

kinja foram sendo treinados<br />

e repassaram os conhecimentos<br />

para outras<br />

pessoas da comunidade.<br />

Hoje somos 12 escolhidos<br />

pelo nosso povo. O Programa é muito importante,<br />

pois trouxe o estudo para que pudéssemos<br />

trabalhar e assim proteger nossa gente,<br />

que antes morria muito”, diz o laboratorista<br />

Djawa Rubens (acima).<br />

Apoio à produção – Antes do Programa, os<br />

Waimiri Atroari viviam a desagregação de seus<br />

processos produtivos, passando para uma dependência<br />

alimentar. Agora, os índios voltaram<br />

a realizar seus roçados tradicionais e sua independência<br />

alimentar foi resgatada. No entanto,<br />

surgiu a necessidade de manter os sistemas<br />

produtivos ativos e incrementar outros. Assim,<br />

nasceu o Subprograma de Apoio à Produção,<br />

que vem adotando técnicas simples de criações<br />

de animais e produções agrícolas.<br />

As atividades produtivas - Projetos de frutíferas<br />

e plantas ornamentais; bovinocultura;<br />

coturnicultura - criação de codornas; ovinocultura<br />

- criação de carneiros; avicultura - galinha<br />

de corte e de postura; cunicultura - criação de<br />

coelhos; piscicultura; e quelônios - manejo de<br />

tartarugas, criação de jabutis e animais silvestres<br />

- são desenvolvidas por um engenheiro<br />

florestal supervisor de produção, três técnicos<br />

agrícolas, cinco agentes operacionais e 45 colaboradores<br />

indígenas. Os alimentos produzidos<br />

são destinados ao consumo das aldeias,<br />

do Nawa, dos oito postos de vigilância da reserva<br />

e das 19 casas de apoio que abrigam os<br />

profissionais da saúde e educação. As mudas<br />

de plantas frutíferas, medicinais e nativas também<br />

são levadas para as aldeias.<br />

Esses projetos experimentais e demonstrativos<br />

também capacitam os Waimiri Atroari.<br />

Entre eles, está Pikirida Paulistinha, que trabalha<br />

nas atividades produtivas desde 2000.<br />

“Comecei como técnico agrícola na produção<br />

de mudas frutíferas e nativas, depois passei<br />

para a área de hortas, avicultura e manejo de<br />

coelhos. Participei de todos os treinamentos<br />

ministrados por técnicos agrícolas. Estou inserido<br />

nas equipes que trabalham 15 dias no<br />

Núcleo e 15 na aldeia. Na minha aldeia, trabalho<br />

na produção de bananeiras, macaxeira e<br />

melancia. É bom aprendermos e levarmos os<br />

conhecimentos para a comunidade”, esclarece<br />

Pikirida.<br />

Para o coordenador das atividades produtivas<br />

do Nawa, Antônio Carlos Andrade do<br />

Nascimento, o trabalho ao lado dos índios é<br />

encantador. “Trabalho aqui desde 1989. Sintome<br />

da família dos índios. Eles nos emocionam<br />

Antônio<br />

Carlos e<br />

Pikirida:<br />

garantindo<br />

a produção<br />

e repassando<br />

conhecimentos<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

23


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

24<br />

com sua alegria e companheirismo. É algo<br />

que nos contagia. Todos passam uma energia<br />

muito positiva. Isso faz com que você cresça e<br />

continue junto deles. Aqui é outra vida. Eles vivem<br />

realmente em comunidade. É uma união<br />

que não vejo em nosso mundo”, reflete.<br />

Proteção ambiental – Com o objetivo de<br />

manter a integridade do território Waimiri Atroari<br />

e garantir o usufruto<br />

exclusivo de suas<br />

riquezas naturais foi<br />

criado o Subprograma<br />

de Proteção Ambiental.<br />

A equipe de<br />

trabalho é composta<br />

por um biólogo, dois<br />

coordenadores de<br />

área – ‘eixo-rio’ e ‘eixo-estrada’,<br />

18 agentes<br />

de proteção, três<br />

agentes operacionais,<br />

55 fiscais índios e dez<br />

não índios. Os fiscais<br />

trabalham nos oito<br />

postos de vigilância<br />

- Trairi, Jundiá, Abonari,<br />

Mahoa, Waba<br />

Manja, Ariné, Vicinal I e Vicinal II, região atravessada<br />

pela BR -174.<br />

Entre as atividades realizadas estão a vigilância<br />

e a proteção ambiental; o controle de<br />

tráfego de veículos na rodovia, no trecho em<br />

que atravessa a reserva; e campanhas de sen-<br />

Mingau de buriti, iguaria que alimenta a todos<br />

sibilização por meio de folhetos educativos,<br />

alertando sobre a importância da preservação<br />

ambiental. A BR-174 atravessa a terra indígena<br />

Waimiri Atroari em um percurso de 125 km<br />

de extensão, trecho em que a mata se encontra<br />

bem preservada devido às ações de proteção<br />

ambiental.<br />

Mesmo assim, são comuns os atropelamentos<br />

de animais na estrada e a presença do lixo<br />

deixado pelos motoristas que trafegam na BR.<br />

O fiscal de estrada, Alcenir Pereira dos Santos<br />

(à esquerda), conta um pouco da sua rotina<br />

de trabalho: “Saio às 7h para a fiscalização de<br />

carros. Recolhemos o lixo jogado e pegamos<br />

os dados dos animais atropelados. De agosto<br />

de 1997 a maio de 2009, foram 4.723 animais<br />

atropelados, como cobras, cutias, capivaras,<br />

pássaros e até jacarés. A fiscalização é feita<br />

no trecho que corta a reserva. Retiramos, em<br />

média, 500 quilos de lixo por mês. Hoje as<br />

pessoas estão mais conscientes. Abordamos<br />

e explicamos que é uma reserva indígena. Há<br />

campanhas nos finais de semana. Entregamos<br />

panfletos, alertando para a questão do lixo e<br />

dos animais mortos. Costumamos também<br />

distribuir água de coco gratuitamente para os<br />

motoristas como forma de sensibilização, o<br />

que trouxe uma ótima resposta no sentido de<br />

diminuir a quantidade de lixo na rodovia”.<br />

Dia a dia na aldeia – “Na aldeia temos o<br />

costume de dormir por volta de 19h30. Todos<br />

dormem numa grande mydy, maloca. No caso<br />

da minha aldeia, Iawara, são 85 pessoas. Geralmente<br />

levantamos às 5h e tomamos banho<br />

de água encanada ou igarapé. As mulheres<br />

acordam mais cedo para preparar a alimentação.<br />

Pela manhã comemos mingau de buriti,<br />

açaí ou patoá, uma espécie de palmeira. Depois<br />

nos dividimos em grupos para caçar, pescar<br />

e ir para a roça. O nosso trabalho é sempre<br />

coletivo. Plantamos banana, abacaxi, mamão,<br />

cana, mandioca, macaxeira e batata. As weri<br />

(mulheres) cozinham e tiram lenha. O artesanato<br />

como redes de fibra de buriti, adornos e<br />

panelas de barro é desenvolvido pelas mulheres;<br />

já os wykyry (homens) fazem as cestarias<br />

com o arumã. É importante que todos saibam<br />

que nossa vida e alimentação estão ligadas à<br />

natureza. Vivemos de acordo com o que ela<br />

nos oferece”.<br />

Esse depoimento é de<br />

Wame Viana (à esquerda), 42<br />

anos, o primeiro índio Waimiri<br />

Atroari a aprender o português<br />

e um dos primeiros da<br />

nova geração a ter contato<br />

com os brancos. Ele conta<br />

que foi um choque a sua<br />

primeira viagem fora da reserva<br />

indígena: “Quando tive<br />

contato com o mundo fora<br />

da reserva fiquei muito triste.<br />

Me senti numa caverna e não enxergava nada<br />

no mundo dos brancos. Dói muito para quem<br />

nasceu no mato ver o desmatamento e saber<br />

que várias pessoas só querem saber da riqueza<br />

da terra, prejudicando a natureza. Foi estranho<br />

também quando vi os brancos pagando<br />

pela alimentação. Não circula dinheiro entre<br />

nosso povo. Vivemos do que a natureza nos<br />

oferece”, esclarece Wame.<br />

Apesar da dificuldade de Wame no seu primeiro<br />

contato com o mundo dos brancos há<br />

mais de 20 anos, ele continua mantendo relacionamentos<br />

quando necessário e sabe da importância<br />

de se respeitar as diversas culturas.<br />

“Temos que conhecer culturas diferentes da<br />

nossa. Precisamos saber o que essas pessoas<br />

fazem. Posso viajar, conhecer a cultura deles<br />

e respeitar. Somos indígenas, nascemos no<br />

mato. Devemos saber usar os rios, os recursos<br />

da natureza, a riqueza da vegetação e da fauna.<br />

Mas lá fora temos que saber que a cultura<br />

dos brancos é diferente. Às vezes as pessoas<br />

acham que não temos uma cultura rica. Não<br />

posso falar isso da cultura deles, pois estão no<br />

seu espaço”, analisa.<br />

Organização – A reunião mais importante<br />

das lideranças das 22 aldeias Waimiri Atroari é<br />

a de prestação de contas anual que, em 2009,<br />

ocorreu nos dias 18 e 19 de julho, no Nawa.<br />

Reunião<br />

de prestação<br />

de contas,<br />

a mais<br />

importante<br />

do ano<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

25


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

26<br />

Alguns líderes das aldeias do ‘eixo-rio’ chegam<br />

a viajar 15 horas de barco para estarem presentes.<br />

Mas esse esforço parece pouco diante<br />

da alegria e satisfação de abrirem a reunião<br />

cantando o maryba, festa-ritual mais importante<br />

da etnia. Os 135 líderes dão boas-vindas<br />

aos 24 não-índios presentes,<br />

e recebem uma cópia da<br />

prestação de contas dos seus<br />

gastos durante 2008.<br />

As reuniões de prestação<br />

de contas acontecem desde<br />

1994. Segundo Warakaxi Zé<br />

Maria (ao lado), da aldeia<br />

Paryry, a reunião é feita para<br />

que haja um controle dos<br />

gastos e um planejamento<br />

dos recursos. “É o momento<br />

de acompanharmos nossos<br />

gastos. Se não fizermos a<br />

prestação de contas não saberemos<br />

como está sendo<br />

gasto o nosso recurso para<br />

que possamos economizar. As reuniões são<br />

muito comuns nas nossas aldeias, onde nos<br />

reunimos três vezes por semana. Uma com a<br />

comunidade geral, com jovens e adolescentes<br />

para que eles possam entender que devemos<br />

Vocabulário kinja iara<br />

Conheça o significado e a pronúncia<br />

de algumas palavras da língua falada<br />

pelos Waimiri Atroari: índio Waimiri<br />

Atroari – kinja (quinhá); mulher – weri<br />

(ueri); homem – wykyry (ukuru); maloca<br />

– mydy (mudu); ritual – maryba (marubá);<br />

idosos – txamyry (tiamuru); brancos<br />

– kaminja (caminhá); convite – katyba<br />

(katubá); antepassados – tahkome (takome);<br />

guerreiros – itxi iapyna (ithi iapuná);<br />

professor – inpany (impanu); flecha<br />

– pyruwa (puruá); língua materna – kinja<br />

iara (quinhá iara).<br />

Mais informações e contatos, nos<br />

endereços www.eletronorte.gov.br<br />

e www.waimiriatroari.org.br.<br />

estar sempre juntos para nos fortalecer. Outra<br />

com as mulheres, e a terceira, que discute a<br />

saúde e educação da comunidade. Temos orgulho<br />

da nossa união e vamos nos fortalecer<br />

cada vez mais”, destaca.<br />

Os recursos financeiros dos Waimiri Atroari<br />

provêm da comercialização de artesanato, produtos<br />

agrícolas, criação de peixes, galinhas e<br />

carneiros, e também da taxa pelo uso de uma<br />

estrada que dá acesso à Mineração Taboca.<br />

Com os recursos, eles compram utensílios domésticos,<br />

roupas, equipamentos de navegação,<br />

material de pesca e combustível.<br />

Ao fim dos dois dias de reunião foi a vez da<br />

equipe de trabalho do Programa se reunir e<br />

fazer uma avaliação das atividades. Para Porfírio<br />

Carvalho, toda reunião envolve um esforço<br />

conjunto. “O nosso trabalho é de todos. Se o<br />

trabalho está dando certo é porque todos estamos<br />

dando certo. O gesto dos Waimiri Atroari<br />

de cantarem no início e final da reunião é uma<br />

expressão de carinho demonstrada por poucos<br />

povos. É bom lembrarmos que esse povo<br />

alegre um dia já foi triste e que a transformação<br />

foi resultado de um trabalho de amor e<br />

respeito”, reafirma.<br />

Maryba – Após a reunião de prestação de<br />

contas, os Waimiri Atroari convidaram todos a<br />

participarem do maryba. No momento do convite,<br />

nossa reportagem não conteve a felicidade,<br />

pois a cobertura jornalística previa a visita a<br />

duas aldeias, mas a decisão sobre a realização<br />

de rituais festivos cabia somente aos índios.<br />

Na aldeia Iawara, as weri itxi iapyna, mulheres<br />

guerreiras, nos recepcionaram com o símbolo<br />

dos Waimiri Atroari empunhado, a pyruwa,<br />

que quer dizer flecha. Elas tomam conta da<br />

aldeia quando os líderes estão ausentes.<br />

Depois da recepção das guerreiras, todos os<br />

85 membros da aldeia pintados com tinta de<br />

jenipapo no corpo, nos aguardavam alinhados<br />

e cantando. Saudamos um a um antes de en-<br />

trarmos na maloca onde aconteceria o ritual. O<br />

canto de um maryba impressiona. A força e a<br />

reverência das vozes provocam a sensação de<br />

que uma cultura milenar se consolida a cada<br />

momento. O canto está plantado no coração e<br />

representa a força de uma identidade que se<br />

fortalece continuamente.<br />

Eles iniciam a manifestação saudando os<br />

convidados e agradecendo à <strong>Eletronorte</strong> pelo<br />

Programa Waimiri Atroari. Homenageiam os<br />

guerreiros que foram mortos devido aos problemas<br />

trazidos com a construção da BR-<br />

174. A kinja Tamy Paula (abaixo) destaca<br />

que eles precisam ser sempre fortes e que<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

27


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

28<br />

No ritual<br />

do Marayba<br />

Kinjas e<br />

Kaminjas<br />

se juntam<br />

numa<br />

grande<br />

roda<br />

Presidente da Eletrobrás foi um dos impulsionadores do Programa Waimiri Atroari<br />

O presidente da Eletrobrás,<br />

José Antonio Muniz<br />

Lopes, fala sobre a sua experiência<br />

no Programa Waimiri<br />

Atroari, quando esteve<br />

na presidência da <strong>Eletronorte</strong>,<br />

e comenta o contexto<br />

da implantação da Usina<br />

Hidrelétrica Balbina.<br />

Em que condição<br />

Balbina foi criada?<br />

Muitas pessoas criticam,<br />

sem conhecer as<br />

condições em que as decisões<br />

sobre a criação de<br />

Balbina foram tomadas. No momento vivíamos uma crise de<br />

petróleo que mudou a história do mundo. Desde que entrou<br />

em operação, em 1989, Balbina já produziu quase 23 milhões<br />

de MWh. Isso significa que se fôssemos gerar essa<br />

energia a óleo diesel, teríamos que gastar R$ 10 bilhões.<br />

E ainda teríamos produzido 1,2 milhão de toneladas de<br />

CO2. Esses números credenciariam Balbina como um dos<br />

importantes instrumentos de desenvolvimento, pois assegurou<br />

a existência da Zona Franca de Manaus.<br />

Qual das medidas compensatórias pela<br />

construção de Balbina teve grande destaque?<br />

Até pelo meu envolvimento pessoal, foi o Programa Wai-<br />

Jorge Coelho/Eletrobrás<br />

miri Atroari. Na década de 1990 fui presidente da <strong>Eletronorte</strong><br />

e juntamente com o Porfírio Carvalho impulsionei<br />

o Programa. Fica até suspeito falar. Costumo dizer que<br />

a etnia Waimiri Atroari é a comunidade social do Brasil<br />

que tem a melhor qualidade de vida proporcional à sua<br />

cultura, hábitos e valores. Acho impossível detectarmos<br />

núcleos que têm a mesma organização. O Programa faz<br />

o acompanhamento contínuo da saúde, situação escolar<br />

e demais atividades, mas não perdendo de vista a tradição,<br />

a cultura e os valores. Tenho pelo Programa uma admiração<br />

que não sei qualificar. É um dos trabalhos mais<br />

perfeitos que já vi na área de tratamento de comunidades<br />

atingidas por empreendimentos hidrelétricos.<br />

Como foi a sua visita à<br />

terra indígena Waimiri Atroari?<br />

Foi emocionante. São surpreendentes as atividades<br />

produtivas ali desenvolvidas, as instalações para cuidar<br />

da saúde. Fomos às aldeias. Vimos a organização em<br />

que vivem, as escolas com professores filhos dos índios<br />

que foram treinados e capacitados ali mesmo na aldeia.<br />

O brasileiro que conhecer aquilo vai mudar a concepção<br />

sobre o modo como devíamos tratar as comunidades<br />

indígenas.<br />

Seria possível surgir outros programas<br />

semelhantes como forma de compensação pela<br />

construção de novos empreendimentos hidrelétricos?<br />

Existem especificidades. É difícil dizer se teremos<br />

outros programas como este, mas a vontade de dar o<br />

sua tradição deve ser passada de pais para<br />

filhos. “Os nossos tahkome, antepassados,<br />

sempre estarão vivos em nossas memórias.<br />

Não somos homens brancos, não bebemos,<br />

não fumamos, nem andamos com dinheiro.<br />

Somos índios. Sempre pegamos nosso<br />

alimento. Nunca estudamos na cidade.<br />

Aprendemos a falar português aqui na nossa<br />

aldeia. Sempre vamos nos fortalecer e lutar<br />

pelo nosso território”, frisa.<br />

Os homens abrem o ritual cantando e dançando<br />

e, em seguida, é a vez das mulheres.<br />

Logo depois, elas oferecem mingau de buriti<br />

e tapioca aos convidados. Neste dia os cantos<br />

contaram histórias dos antepassados, falaram<br />

dos sofrimentos passados, mas, sobretudo,<br />

evocaram a paz e liberdade que os Waimiri<br />

Atroari vivem agora. Ao final do ritual, kinja e<br />

kaminja se juntam numa imensa roda, mostrando<br />

que o respeito e a tolerância à diversidade<br />

são possíveis e muito saudáveis.<br />

melhor tratamento possível às comunidades indígenas<br />

está nos genes da <strong>Eletronorte</strong> e Eletrobrás. Pretendemos<br />

apoiar outras etnias por meio de outros programas. Dificilmente<br />

teremos como replicar um Programa Waimiri<br />

Atroari, mas podemos utilizar as mesmas bases em situações<br />

diferentes.<br />

Qual a preocupação da Eletrobrás com os índios<br />

que serão afetados por novos empreendimentos?<br />

Ao contrário do que aconteceu com os Waimiri Atroari,<br />

que tiveram de ser deslocados das suas terras, não temos<br />

hoje projetos que alaguem aldeias. Por isso não teremos<br />

que replicar na íntegra o Programa. Mas desejamos implantar<br />

uma estrutura que contemple as áreas de educação,<br />

saúde, cultura e produção voltada para as etnias<br />

que serão, por exemplo, indiretamente afetadas com a<br />

construção de Belo Monte, por exemplo.<br />

O senhor se sente feliz por<br />

ter ajudado a salvar uma etnia?<br />

Sinto-me muito feliz. Hoje tenho 64 anos e penso que<br />

não tenho esta idade, pois olho para trás e vejo tanta coisa<br />

feita; e olho para frente e vejo que tenho condições de<br />

fazer tantas outras coisas. Olhando para trás, o Programa<br />

Waimiri Atroari é uma das coisas que mais me orgulha,<br />

pois não é uma ação que faça parte da atividade direta<br />

da Eletrobrás. Isso é maravilhoso. O Programa é o exemplo<br />

de sucesso maior desse trabalho, por isso tenho uma<br />

amizade inquebrantável com o Porfírio Carvalho. Ele é um<br />

grande parceiro, o grande batalhador do Programa.<br />

Entendendo o maryba – O maryba é uma<br />

festa-ritual que cada aldeia habitualmente promove,<br />

convidando as demais a participarem.<br />

Geralmente dura de três a sete dias, período<br />

em que os Waimiri Atroari cantam, dançam,<br />

tocam flauta e chocalho. É também o momento<br />

de iniciação das crianças do sexo masculino,<br />

de idade entre dois e cinco anos, para<br />

que se tornem bons guerreiros, trabalhadores,<br />

caçadores e pescadores.<br />

Antes do maryba há uma verdadeira preparação<br />

do pai do menino que será iniciado.<br />

Ele sai para as várias aldeias levando o katyba,<br />

um convite feito de capim flecheira, que marca<br />

exatamente o dia da festa. Deve também,<br />

juntamente com os outros pais que terão filhos<br />

iniciados, caçar, pescar e colher alimentos<br />

para todos os dias da celebração, além de<br />

confeccionar cestarias, flechas e lanças para<br />

os convidados. Como no maryba várias aldeias<br />

estão reunidas, é também a ocasião dos casamentos<br />

e reuniões políticas.<br />

Crianças<br />

alegres<br />

e fortes:<br />

muito mingau<br />

de banana<br />

com tapioca<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

29


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

30<br />

As festas são lideradas pelos cantores,<br />

homens que durante muitos anos aprendem<br />

a dominar todos os cantos do ritual. Esses<br />

cantos falam de todos os aspectos da cultura<br />

Waimiri Atroari, desde a origem das plantas<br />

da roça e dos animais até as estrelas e mitologia<br />

em geral. Para o cantor de maryba, Kabaha<br />

Paulo (abaixo), que foi iniciado no ritual<br />

por seus pais e recentemente iniciou o seu<br />

filho, é o momento de tornar a criança um<br />

guerreiro forte e com muita saúde.<br />

“Essa é uma tradição do nosso<br />

povo. Quando era menino, os<br />

meus pais fizeram o meu katyba<br />

para convidar os parentes de<br />

outras aldeias. Caçamos, pescamos,<br />

colhemos alimentos e preparamos<br />

as comidas para o ritual.<br />

No ano passado houve o maryba<br />

do meu filho. Durante o ritual nos<br />

pintamos, nos enfeitamos com<br />

cocás e trocamos flechas com<br />

os outros guerreiros. Cantamos e<br />

tomamos muito mingau de banana.<br />

Os cantos reverenciam a natureza,<br />

como as árvores, plantio,<br />

peixe, porco, anta, gavião, tatu e<br />

pássaros”, ilustra Kabaha.<br />

Vídeo nas aldeias – “Vamos levantar gente.<br />

Quem vai buscar comida para nós? Vamos<br />

sair para a mata e buscar caça para nossos<br />

filhos”. Esse diálogo abre o documentário<br />

Kinja Iakaha – Um Dia na Aldeia. O vídeo de<br />

40 minutos foi realizado durante uma oficina<br />

do projeto Vídeo nas Aldeias, na aldeia Cacau,<br />

em 2003. É importante destacar que a<br />

produção, filmagem e direção do filme foram<br />

realizadas pelos Waimiri Atroari. Tiveram auxílio<br />

externo somente no processo de legendagem,<br />

uma vez que a história é contada na<br />

língua materna kinja iara com legendas em<br />

português. O resultado é o olhar do próprio<br />

índio sobre a sua cultura, que geralmente é<br />

mostrada nos filmes sob a ótica da sociedade<br />

não-índia.<br />

Um dos responsáveis pelo documentário,<br />

Sanapyty Gerôncio (abaixo), aprendeu a filmar<br />

com o kinja Wame, em 1988. “Tínhamos<br />

interesse em fazer um vídeo do dia a dia<br />

da aldeia, para que as pessoas lá fora pudessem<br />

conhecer a nossa vida. Como somos da<br />

própria comunidade, conversamos com os<br />

kinja e pedimos que agissem com espontaneidade.<br />

No filme mostramos a pesca, caça,<br />

a coleta das frutas pelas mulheres e o preparo<br />

dos alimentos”, explica.<br />

O objetivo do projeto Vídeo nas Aldeias é<br />

possibilitar aos índios que documentem a<br />

sua história, mostrando manifestações culturais<br />

co mo o maryba e as atividades que<br />

desenvolvem no cotidiano. Depois de prontos,<br />

os vídeos são exibidos nas televisões das<br />

22 aldeias. Sim! Todas as aldeias possuem<br />

TVs que funcionam com energia solar, mas<br />

não veiculam as programações que estamos<br />

acostumados a ver. O objetivo é apenas exibir<br />

os vídeos feitos pelos Waimiri Atroari. “Queremos<br />

uma televisão que mostre a nossa<br />

realidade. Fazemos imagens do nosso dia a<br />

dia, escolhemos as mais importantes e editamos.<br />

Depois exibimos em todas as aldeias<br />

para que possamos ter a nossa memória. Os<br />

txamyry, mais velhos, falam que temos que<br />

fazer nossos próprios filmes, pois estes sim<br />

mostram a nossa cultura”.<br />

CIRCuIto IntERno<br />

Corpo técnico da <strong>Eletronorte</strong> leva conhecimento<br />

a outras instituições do setor Elétrico<br />

Empregados cedidos ou aposentados contam sobre a nova<br />

experiência e lembram da época em que estiveram na Empresa<br />

Bruna Maria Netto<br />

Atuar na Amazônia enfrentando adversidades<br />

pouco re<strong>corrente</strong>s nas demais regiões do<br />

Brasil tem suas vantagens. Os engenheiros<br />

e técnicos da <strong>Eletronorte</strong>, após anos de dedicação<br />

na Região Norte, tornam-se aptos a<br />

trabalhar em quaisquer ramos do Setor Elétrico,<br />

agregando novos valores e contribuindo para o<br />

desenvolvimento energético do País. De acordo<br />

com a Superintendência de Gestão de Pessoas<br />

da Empresa, há 131 empregados cedidos<br />

a instituições que vão desde empresas de<br />

construção ao Ministério de Minas e Energia,<br />

além daqueles já aposentados que voltaram a<br />

trabalhar. O que eles têm em comum de longe<br />

se limita à competência. O currículo desses<br />

profissionais descreve a passagem pela <strong>Eletronorte</strong><br />

como um aprendizado para a toda a vida,<br />

acrescido de boas histórias, grandes amizades<br />

e valiosa lembrança na memória.<br />

Fora da <strong>Eletronorte</strong>, mas ainda por ela –<br />

Quem começa narrando sua trajetória é Warfield<br />

Ramos (abaixo). Warfield é diretor Técnico da<br />

Águas da Pedra, sociedade de propósito específico<br />

que tem como acionistas a Neoenergia,<br />

a Chesf e a própria <strong>Eletronorte</strong>, e é responsável<br />

pela construção do Aproveitamento Hidrelétrico<br />

Dardanelos, em Mato Grosso. Logo, vê-se que<br />

sua indicação ao cargo não foi por acaso, e de<br />

certa forma o engenheiro continua na Empresa.<br />

O motivo não poderia ser outro: Ramos passou<br />

25 anos na <strong>Eletronorte</strong>, entre os anos de 1975<br />

e 2000. Durante esse tempo, atuou na Diretoria<br />

de Gestão Corporativa, como gerente de<br />

divisão, de departamento, superintendente de<br />

Suprimentos e assistente. Na extinta Diretoria<br />

Técnica, trabalhou no gabinete. Já na Presidência,<br />

passou pelo Escritório de Coordenação<br />

de Empreendimentos, onde foi coordenador da<br />

Expansão de Tucuruí.<br />

Para o engenheiro, trabalhar na <strong>Eletronorte</strong><br />

foi uma experiência de vida: “Aliás, uma excelente<br />

experiência. Nessa vida estamos em um<br />

contínuo aprendizado, e posso afirmar que para<br />

mim foi bastante profícuo durante o período que<br />

estive trabalhando diretamente na <strong>Eletronorte</strong>.<br />

Digo diretamente porque me considero ainda<br />

como um integrante dessa Empresa, agora<br />

representando-a em um de seus novos negócios”,<br />

afirma.<br />

A experiência de trabalhar na <strong>Eletronorte</strong><br />

rendeu bons frutos. De acordo com Warfield,<br />

“todos os objetivos traçados foram alcançados,<br />

e gostaria de ressaltar que eles obtiveram pleno<br />

êxito muito em função do excelente corpo<br />

técnico e funcional que a <strong>Eletronorte</strong> possui.<br />

Em minha passagem pela Empresa, além de<br />

todo o aprendizado adquirido - que é um bem<br />

que ninguém poderá usurpar-me - fica ainda<br />

um enorme quadro de amizades sinceras, que<br />

também é um bem inestimável”.<br />

O convite para trabalhar na Águas da Pedra<br />

surgiu pela convergência de interesses. Warfield<br />

estava retornando de Fortaleza, onde gerenciou<br />

12 usinas termelétricas da empresa Enguia, do<br />

Grupo Harbi. A <strong>Eletronorte</strong> estava estruturando<br />

sua participação em Dardanelos e o engenheiro<br />

não pensou duas vezes ao convite de voltar a<br />

trabalhar na Região Norte. “Como diz o dito<br />

popular, foi juntar a fome com a vontade de comer.<br />

Para mim foi muito bom, pois assim estou<br />

tendo novamente a oportunidade de conviver<br />

profissionalmente com o corpo técnico da Empresa<br />

e estar participando de um dos negócios<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

31


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

32<br />

da <strong>Eletronorte</strong>, nada mais é do que continuar<br />

colocando em prática todos os conhecimentos<br />

até hoje adquiridos”, conta Warfield.<br />

Pelo Sistema Eletrobrás - Esse sentimento<br />

também é compartilhado por Luiz Henrique<br />

Hamman (abaixo), diretor Financeiro de<br />

Furnas Centrais Elétricas e empregado da<br />

<strong>Eletronorte</strong> desde 1981: “O que sinto falta é<br />

da união de todos frente aos inúmeros desafios<br />

enfrentados, mesmo naqueles em que o<br />

sucesso, embora não sendo total, nos propiciou<br />

oportunidades de melhoria em nossas<br />

atitudes, ampliando nossos conhecimentos<br />

e habilidades”. Hamman iniciou na Empresa<br />

na área de contabilidade, onde permaneceu<br />

até 1985, quando passou a compor o time do<br />

GAT-CRN, na Coordenação da Comissão de<br />

Serviços Contábeis e Financeiros. Foi em 1988<br />

a primeira vez que Luiz Henrique usaria seus<br />

conhecimentos adquiridos na <strong>Eletronorte</strong> em<br />

outras instituições, sendo cedido ao governo<br />

do então Território de Roraima para compor a<br />

Diretoria Econômico-Financeira das Centrais<br />

Elétricas de Roraima - CER.<br />

Depois, as conexões foram sendo feitas em<br />

diversas entidades: “Com a absorção do parque<br />

térmico da CER pela <strong>Eletronorte</strong>, continuei em<br />

Boa Vista como gerente da Divisão Administrativa<br />

da recém-criada Regional de Produção<br />

e Comercialização de Roraima, até 1991. Voltando<br />

a Brasília, agora no quadro da Diretoria<br />

de Engenharia, trabalhei no Departamento de<br />

Planejamento e, posteriormente, fui gerente da<br />

Divisão de Coordenação de Projetos Eletromecânicos<br />

de Geração até 1995, quando compus a<br />

equipe de assistentes especiais da Presidência,<br />

cujo titular era o atual presidente da Eletrobrás,<br />

José Antonio Muniz Lopes. Posteriormente,<br />

ocupei a presidência da Previnorte, depois a<br />

Diretoria Financeira da Manaus Energia e da<br />

Companhia Energética do Amazonas”.<br />

Desde abril de 2008, Hamman ocupa a<br />

Diretoria Financeira de Furnas, em consequência<br />

do trabalho realizado anteriormente.<br />

Do período de atuação na <strong>Eletronorte</strong>, ele<br />

conta que adquiriu um conhecimento permanente.<br />

“Aprendi a aprender com as oportunidades<br />

proporcionadas, tanto nas áreas de administração<br />

e contábil, quanto nas de geração,<br />

operação e manutenção”. Aos colegas, deixa<br />

o recado: “Trabalhamos em um setor vital, por<br />

isso extremamente estratégico para a economia<br />

de um modo geral e para a condição de vida e<br />

a sustentabilidade ambiental, sendo, portanto,<br />

um vetor sumamente importante no futuro da<br />

Nação. Fazemos parte dessa importância toda.<br />

Cada um de si e em equipe pode, e deve, se<br />

desenvolver cada vez mais, aproveitando as<br />

oportunidades ensejadas pela Empresa, degrau<br />

por degrau, em prol de um País melhor”.<br />

Da Amazônia à Esplanada dos Ministérios – É<br />

no Ministério de Minas e Energia que o Secretário<br />

Nacional de Energia Elétrica lembra<br />

dos 26 anos passados na <strong>Eletronorte</strong>. Josias<br />

Matos Araújo, engenheiro de operação, relata<br />

que “com certeza trabalhar na <strong>Eletronorte</strong> foi<br />

muito importante para enfrentar o desafio de<br />

solucionar conflitos, estabelecer políticas e<br />

diretrizes governamentais, que asseguram a<br />

transparência, a isonomia e a continuidade<br />

dos serviços que o Setor Elétrico proporciona<br />

à sociedade brasileira”. O currículo de Josias<br />

na Empresa não deixa de ser admirável: foi<br />

contratado para a Divisão de Estudos Elétricos<br />

do Departamento de Engenharia de Operação,<br />

atuando nas áreas de dinâmica, transitório e<br />

qualidade de energia elétrica. Também teve a<br />

oportunidade de assumir a gerência do Setor<br />

de Ensaios Elétricos do Laboratório Central da<br />

Empresa, em Belém (PA).<br />

“A seguir fui conduzido à Superintendência<br />

de Operação e Manutenção da Transmissão,<br />

sendo que, em 2005, passei a assistente do<br />

Presidente, sendo novamente reconduzido<br />

àquela Superintendência”, cargo em que ficou<br />

até 2008, quando foi convidado para assumir<br />

a Secretaria Nacional de Energia Elétrica. “Assim<br />

como a ascensão na <strong>Eletronorte</strong>, o convite<br />

para integrar a equipe do Ministério de Minas e<br />

Energia foi um acontecimento natural na minha<br />

carreira profissional. Após um período para<br />

avaliar o convite, decidi aceitá-lo encarando<br />

como uma missão de forma a contribuir para<br />

o desenvolvimento do Setor Elétrico do meu<br />

País, e usando todos os<br />

conhecimentos técnicos<br />

e gerenciais que a<br />

<strong>Eletronorte</strong> me proporcionou”,<br />

afirma.<br />

A experiência na<br />

Empresa foi fundamental<br />

para o novo<br />

posto: “A <strong>Eletronorte</strong><br />

é e continuará sendo<br />

uma grande escola,<br />

pois sempre ofereceu todas as oportunidades<br />

para o meu crescimento profissional e aperfeiçoamento<br />

técnico e gerencial, além de abrir<br />

caminho para a ampliação de meu relacionamento<br />

interno e externo. Foram momentos<br />

de grandes desafios, que me impulsionaram<br />

a fazer o melhor pela organização, além de<br />

incentivar aqueles que trabalharam sob minha<br />

orientação a buscar permanentemente o caminho<br />

dos melhores resultados. Tudo para que a<br />

nossa <strong>Eletronorte</strong> se mantenha à frente das demais<br />

empresas do Setor Elétrico, conquistando<br />

a credibilidade, disseminando conhecimentos e<br />

tornando a sua marca um símbolo de respeito.<br />

Aprendi que vale a pena acreditar no potencial<br />

das pessoas e com elas fazer acontecer, conquistar<br />

resultados e abrir oportunidades para<br />

o crescimento”.<br />

Do que o Secretário (acima) sente mais falta<br />

da época de <strong>Eletronorte</strong> são as pessoas com<br />

quem conviveu durante anos e que compartilharam<br />

os seus conhecimentos e experiências,<br />

fundamentais para o seu crescimento profissional.<br />

“Vale ressaltar que, do mais humilde<br />

ao mais letrado, todos, sem exceção, foram<br />

importantes nas conquistas alcançadas durante<br />

minha permanência na <strong>Eletronorte</strong>”. Com<br />

clima de saudosismo, Josias deixa um recado<br />

aos colegas: “Sintam orgulho de trabalhar na<br />

<strong>Eletronorte</strong>. É uma Empresa que se preocupa<br />

com o bem-estar dos empregados, que busca o<br />

crescimento de todos, abre oportunidades para<br />

a conquista de novos espaços, está ao seu lado<br />

nos momentos mais difíceis de sua vida e de<br />

seus familiares. Tornem-se guardiões e unamse<br />

por inteiro para manter a Empresa viva e forte<br />

para as futuras gerações. Vocês representam<br />

na essência o maior tesouro, os líderes mais<br />

importantes que com certeza estarão sempre<br />

lutando por uma organização melhor, respeitada<br />

e referencial de excelência”.<br />

O futuro é de volta para casa - Um companheiro<br />

de Josias é Robésio Maciel de Sena,<br />

diretor do Departamento de Monitoramento do<br />

Sistema Elétrico do Ministério de Minas Energia,<br />

cuja carreira na <strong>Eletronorte</strong> começou em dezembro<br />

de 1980. Robésio conta que, 24 anos depois,<br />

alguns fatos ocorridos no Setor Elétrico salientaram<br />

a necessidade de melhorar a estrutura do<br />

Ministério. “Com esse objetivo, a ministra Dilma<br />

Roussef, à época, solicitou que a Eletrobrás cedesse<br />

empregados das empresas federais, para<br />

compor o quadro ministerial. Na oportunidade<br />

recebi o convite para fazer parte dessa equipe e<br />

desde então estou prestando serviço aqui”.<br />

Na <strong>Eletronorte</strong>, Robésio (abaixo) iniciou carreira<br />

na Regional de Operação de Mato Grosso.<br />

Ele lembra que depois de quatro anos trabalhando<br />

na Cemig, em Belo Horizonte, aceitou<br />

o desafio na <strong>Eletronorte</strong>. “O objetivo era desenvolver<br />

profissionalmente, crescer na carreira de<br />

engenheiro, conhecer outros locais e contribuir<br />

para o desenvolvimento do Norte do País. Passados<br />

29 anos, considero que obtive quase tudo<br />

que planejei, aprendi muito no lado profissional<br />

e pessoal. Consegui um patrimônio de forma<br />

honesta, que dá segurança à minha família. Sou<br />

muito grato por tudo que pude obter<br />

nesses anos de trabalho”.<br />

Depois de Mato Grosso, trabalhou<br />

no Maranhão e em Brasília,<br />

onde atuou na Divisão de Treinamento<br />

e Desenvolvimento, foi<br />

assistente do Diretor de Operação,<br />

passou pela Divisão de Operação e<br />

Manutenção da Geração Hidráulica,<br />

encerrando - por enquanto<br />

- a carreira na <strong>Eletronorte</strong> na<br />

Superintendência de Operação e<br />

Manutenção da Transmissão, em<br />

2005. Para ele, toda a experiência<br />

adquirida na Empresa está sendo<br />

útil no trabalho desenvolvido hoje em dia. “As<br />

atividades daqui têm uma variedade muito<br />

grande e a habilidade, capacitação e experiência<br />

adquiridas na <strong>Eletronorte</strong> estão sendo<br />

fundamentais para a execução delas. Ainda<br />

não conheci nenhum outro local melhor para<br />

trabalhar, aprender, crescer profissionalmente<br />

e ser valorizado e com tantos benefícios”.<br />

Dos tempos de Empresa, Robésio fala do<br />

que mais sente falta, e dá um conselho aos<br />

que continuam na <strong>Eletronorte</strong>: “O que mais<br />

sinto falta são as relações profissionais, que<br />

são mais informais, a objetividade das ações e<br />

a obtenção de resultados, o trabalho de campo<br />

nas regionais. Quando saímos e conhecemos<br />

outras realidades passamos a reconhecer ainda<br />

mais a grandeza da nossa Empresa, por isso<br />

façam valer esse privilégio de trabalhar na nossa<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

33


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

34<br />

<strong>Eletronorte</strong>”. Talvez por isso, o futuro profissional<br />

de Robésio é de volta para a sua ‘segunda<br />

casa’: “Não penso em parar de trabalhar tão<br />

cedo. Enquanto estiver sendo útil no Ministério<br />

vou ficando por aqui. Penso sim em voltar à<br />

<strong>Eletronorte</strong>, pois acredito que ainda posso contribuir<br />

muito. Trabalhar na <strong>Eletronorte</strong> sempre<br />

me orgulhou e quando você faz o que gosta não<br />

existe diferença entre lazer e trabalho”.<br />

De Minas para o Norte. Do Norte para<br />

Minas - Jorge Ivanovitch de Sousa (abaixo) é<br />

gerente de Manutenção de Infraestrutura de<br />

Telecomunicações da Cemig. Mas não foi sempre<br />

que ficou em terras mineiras. Ele saiu da<br />

sua terra natal rumo a Tucuruí (PA), em 1986.<br />

Na <strong>Eletronorte</strong>, Ivanovitch atuou na área de<br />

Suprimentos, a começar pelo Departamento de<br />

Contratos Especiais, no Grupamento Industrial<br />

Tucuruí-Extensão, cuidando da coordenação<br />

de contratos das máquinas 9 a 12. “Depois<br />

gerenciei a Divisão de Obras e Licitações e o<br />

Departamento de Atendimento de Suprimento<br />

à Geração e Instalação. Quando fui cedido,<br />

estava como assistente do Diretor de Gestão<br />

Corporativa”, conta.<br />

A vida pessoal de Jorge evolui juntamente<br />

com a experiência adquirida na <strong>Eletronorte</strong>.<br />

“Quando fui do sul de Minas Gerais para a<br />

<strong>Eletronorte</strong> era casado há pouco tempo e o meu<br />

primeiro filho era bebê. Hoje ele tem 23 anos e<br />

já está formado em engenharia elétrica, como<br />

eu. Minha filha fez o caminho inverso, nasceu<br />

em Brasília e hoje tem 20 anos, cursa nutrição<br />

na Universidade Federal de Minas Gerais. Fui<br />

cheio de planos e sonhos e muitos deles se<br />

transformaram em realidade. Muito do que<br />

sou hoje devo à <strong>Eletronorte</strong>: tive a felicidade<br />

de trabalhar com grandes mestres – Warfield,<br />

Neiron, Brasil, Xavier, Ronaldo Alves, Almendra,<br />

José Antônio Coimbra, Zenon, Benjamin, Tião<br />

Otaviano, entre tantos outros e procurei aprender<br />

muito com eles”, recorda.<br />

Porém, o coração desse mineiro apertou e ele<br />

voltou à sua terra: “Eu busquei a cessão para a<br />

Cemig por motivos particulares, uma vez que<br />

minha família reside em Belo Horizonte desde<br />

2001, quando vim cedido para a Agência Nacional<br />

de Telecomunicações – Anatel”. Jorge está<br />

na Companhia há um ano e meio, após oito anos<br />

de trabalho na Agência. Da <strong>Eletronorte</strong>, obteve<br />

uma ótima experiência em lidar com pessoas e<br />

em gerenciar conflitos. “Desde o início exercitei<br />

esses pontos. Eu me formei profissionalmente<br />

com grandes mestres e aprendi bastante também<br />

com as viagens para a Região Norte, que<br />

não conhecia e que me mostraram um País<br />

bem diferente do que já havia vivenciado. Nós<br />

trabalhamos numa das melhores empresas do<br />

Brasil, e apenas quando estamos cedidos é<br />

que verificamos isto mais fortemente. Espero<br />

retornar em breve!”<br />

Filho da <strong>Eletronorte</strong> - A história de outro mineiro,<br />

Zenon Pereira Leitão, também se confunde<br />

com a da <strong>Eletronorte</strong>. Zenon está na Empresa<br />

desde seus 19 anos de idade. O aprendizado<br />

lhe rendeu o cargo de assessor de Relações<br />

Institucionais e Parlamentares da Eletrobrás,<br />

onde está há um ano e meio. “A Eletrobrás<br />

não dispunha de uma assessoria parlamentar<br />

e entendíamos que era uma lacuna. Com a<br />

chegada do presidente José Antonio, em abril<br />

de 2008, e a aprovação da lei que transformou<br />

a holding em uma empresa internacional – somadas<br />

ao conhecimento do Presidente acerca<br />

do trabalho realizado na <strong>Eletronorte</strong> -, foi sugerida<br />

a criação da área e ele acatou a sugestão,<br />

entendendo que eu poderia contribuir, o que<br />

muito me honrou”.<br />

Na <strong>Eletronorte</strong>, o que não faltaram foram possibilidades<br />

de crescimento a Zenon, e talvez por<br />

isso sua experiência em outro lugar tenha vindo<br />

apenas depois de 33 anos na <strong>Eletronorte</strong>: “Eu<br />

nunca havia sido cedido a um órgão externo.<br />

Sempre relutei muito, pois sou muito apegado<br />

à Empresa e às pessoas, mas a experiência<br />

está sendo boa e estou fazendo tudo para bem<br />

representar a Empresa”, afirma Zenon.<br />

Ele lista as áreas por onde passou: “Iniciei<br />

no Departamento de Operação e Manutenção<br />

e depois trabalhei na assessoria da Diretoria de<br />

Operação. Em seguida passei pela Gerência da<br />

Divisão Administrativa da Regional de Transmissão<br />

de Mato Grosso e exerci a mesma função na<br />

Regional de Transmissão do Maranhão. De volta<br />

a Brasília, fui gerente da Divisão de Benefícios,<br />

assistente do Diretor de Produção e Comercialização,<br />

e diretor de Benefícios da Previnorte”.<br />

Zenon (acima) ainda voltou a ser assistente<br />

da diretoria, quando, em junho de 2004, foi<br />

designado assessor Parlamentar da <strong>Eletronorte</strong>.<br />

“Com o apoio de alguns colegas, montamos a<br />

Assessoria Parlamentar onde, em semelhança a<br />

outras grandes instituições, foi possível realizar<br />

um trabalho muito importante, quando passamos<br />

a acompanhar a tramitação de projetos de<br />

lei no Congresso Nacional, de interesse do Setor<br />

Elétrico, receber as autoridades, dispensando a<br />

elas um atendimento profissional, o que acabou<br />

contribuindo para o fortalecimento da imagem<br />

da <strong>Eletronorte</strong>”.<br />

Com a fusão da Assessoria Parlamentar com<br />

a Superintendência de Comunicação Empresarial,<br />

Zenon ainda foi coordenador de Comunicação<br />

até 2008. O conhecimento da <strong>Eletronorte</strong><br />

inspirou a holding: “Estamos aplicando na<br />

Eletrobrás os conhecimentos adquiridos na<br />

<strong>Eletronorte</strong>, para a estruturação da Assessoria<br />

de Relações Institucionais e Parlamentares,<br />

que atenderá também às demais empresas do<br />

Sistema Eletrobrás”, afirma.<br />

Zenon não se esquece dos personagens<br />

de sua história na <strong>Eletronorte</strong>: “Tudo que sei<br />

e tenho, devo à <strong>Eletronorte</strong>, e embora tenha<br />

começado a trabalhar aos 15 anos de idade, a<br />

minha grande experiência foi nessa extraordinária<br />

Empresa. Ingressei como nível médio, cursei<br />

administração de empresas e aproveitei todas<br />

as oportunidades, sempre me aperfeiçoando e<br />

trabalhando em várias áreas, inclusive no chão<br />

de fábrica, o que me deu uma experiência muito<br />

importante. A <strong>Eletronorte</strong> é parte da minha vida.<br />

Deixei muitos amigos, afinal foram 33 anos de<br />

convívio. Sinto muita falta. Por isso, sempre que<br />

possível, procuro almoçar na praça da alimentação<br />

onde está instalada a Empresa, para matar a<br />

saudade de amigos que encontro pelo caminho.<br />

Alguns dizem que no trajeto entre o Edifício Varig<br />

e o prédio da <strong>Eletronorte</strong> eu pareço político,<br />

cumprimentando a todos. Digo que sempre fui<br />

assim, não mudarei nunca e fico muito feliz ao<br />

reencontrar os colegas. Me faz muito bem”.<br />

Levando precisão para a holding – Ainda na<br />

Eletrobrás, um dos colegas de Zenon é Moisés<br />

Aben-Athar, que trabalhou exatamente 29 anos<br />

e dois meses como empregado da <strong>Eletronorte</strong>,<br />

“acrescidos de dois anos como empregado da<br />

Celpa, cedido, até chegar na Eletrobrás, onde<br />

estou há um ano e cinco meses”. Tanta exatidão<br />

não teria outra justificativa senão a profissão<br />

de Moisés, economista. Na <strong>Eletronorte</strong>, levou<br />

a precisão com números às áreas de logística<br />

e financeira. “Eu tive a felicidade de chegar à<br />

<strong>Eletronorte</strong> quando tudo ainda era novidade,<br />

desafios e permanente crescimento profissional,<br />

superando, em muito, as minhas melhores expectativas<br />

relativas a uma grande empresa, pois<br />

ao mesmo tempo em que aprendia, tinha a oportunidade<br />

de repassar os meus conhecimentos<br />

e experiências a tantos outros companheiros, o<br />

que nos fez crescer juntos com a Empresa”.<br />

Moisés conta que a <strong>Eletronorte</strong> continua<br />

sendo a força motora da sua vida. “O presidente<br />

José Antonio, conhecendo o meu trabalho, fez<br />

o honroso convite para integrar o quadro de<br />

colaboradores da Eletrobrás, e levei todos os ensinamentos<br />

e experiências vivenciadas nas mais<br />

diversas áreas de trabalho da <strong>Eletronorte</strong>. Sem<br />

dúvida alguma, o trabalho e desafios enfrentados<br />

durante todo o meu tempo de <strong>Eletronorte</strong><br />

estão sendo de enorme valia nas minhas atuais<br />

atribuições, que requerem um conhecimento<br />

profundo do Setor Elétrico brasileiro.<br />

Da <strong>Eletronorte</strong>, Moisés (abaixo) sente falta<br />

dos desafios típicos de uma grande Empresa.<br />

“Tive a oportunidade de participar de todos os<br />

seus momentos, a partir praticamente da sua<br />

criação e que marcou indelevelmente a minha<br />

vida”. Aos colegas que aqui deixou fica a mensagem:<br />

“A <strong>Eletronorte</strong> marca para sempre a<br />

vida de todos aqueles que têm a felicidade de<br />

integrar o seu quadro de colaboradores, e têm<br />

a oportunidade de desenvolvimento profissional<br />

e social, aliada a uma política de benefícios e<br />

proteção aos trabalhadores, sem precedentes<br />

em qualquer outra empresa”.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

35


EnERgIA AtIVA<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

36<br />

Para transformar processos, mudar atitudes,<br />

vencer desafios e gerar resultados, duas palavras:<br />

eficiência e crescimento<br />

A competição em leilões de empreendimentos de geração<br />

e de transmissão, a questão da renovação das concessões,<br />

a transformação do Sistema Eletrobrás e a resolução de<br />

problemas estruturais colocam a <strong>Eletronorte</strong> diante de novos<br />

desafios empresariais. Para alcançar novo patamar de eficiência<br />

operacional e de crescimento, alinhado às iniciativas do<br />

planejamento estratégico, a Empresa está desenvolvendo o<br />

projeto Eficiência e Crescimento, que prevê, entre outras coisas,<br />

a implantação de 111 iniciativas num período de três anos, que<br />

possibilitarão ganhos superiores a R$ 150 milhões por ano.<br />

Confira nesta entrevista com o diretor-presidente da <strong>Eletronorte</strong>,<br />

Jorge Nassar Palmeira, as informações sobre o andamento do<br />

projeto, os benefícios esperados e como ajudar a alavancar o<br />

desempenho empresarial.<br />

O que vem a ser o projeto<br />

<strong>Eletronorte</strong> Eficiência e Crescimento?<br />

O projeto surgiu a partir do desdobramento do<br />

Plano Estratégico 2009/2011. Além das medidas<br />

estruturantes do objetivo 3, ficou clara a necessidade<br />

de se promover a eficiência dos processos<br />

empresariais, a redução de perdas e custos e o<br />

aperfeiçoamento da gestão, preconizados nos<br />

objetivos 6, 7 e 8. Esse conjunto de medidas é<br />

que possibilitará a obtenção do lucro.<br />

Quais são essas medidas estruturais?<br />

Entre elas, podemos citar a Medida Provisória<br />

nº 466, recentemente aprovada, que vai<br />

regularizar a questão dos sistemas isolados, que<br />

vêm causando grandes prejuízos à <strong>Eletronorte</strong><br />

ao longo dos anos. Há também a federalização<br />

da Companhia Energética do Amapá – CEA, que<br />

tem uma dívida de cerca de R$ 600 milhões com<br />

a <strong>Eletronorte</strong>. Uma vez federalizada, passando<br />

para o controle da Eletrobrás, poderemos fazer<br />

um encontro de contas e saldar parte da nossa<br />

dívida com a holding. Depois, o repasse para as<br />

concessionárias estaduais dos ativos de transmissão<br />

abaixo de 230 kV. Já fechamos o laudo<br />

do Acre e Rondônia e somente nesses estados<br />

vamos ter uma receita de R$ 300 milhões que<br />

também nos levarão a outro encontro de contas<br />

com a Eletrobrás. Tem ainda a reversão da provisão<br />

de Balbina, de R$ 275 milhões. Por sua<br />

vez, a Eletrobrás está fazendo a reavaliação dos<br />

ativos de todas as empresas do Sistema, com<br />

vistas à capitalização, e a <strong>Eletronorte</strong> poderá<br />

saldar mais uma parte de sua dívida deixando de<br />

pagar juros e correção monetária para começar<br />

a pagar dividendos. Mas temos outras ações<br />

importantes em andamento, que também vão<br />

nos ajudar a conseguir o máximo de eficiência<br />

e crescimento.<br />

O projeto está alinhado ao plano de<br />

transformação do Sistema Eletrobrás?<br />

Qual a importância dele para<br />

todos os atores envolvidos?<br />

Sim, o projeto <strong>Eletronorte</strong> Eficiência e Crescimento<br />

está perfeitamente alinhado ao plano de<br />

transformação da Eletrobrás, seguindo a diretriz<br />

emanada pelo Presidente da República de fazer<br />

da holding uma megaempresa que conquiste o<br />

mundo com a mesma respeitabilidade da Petrobras.<br />

Nós já apresentamos o nosso projeto no<br />

âmbito do Conselho Superior do Sistema Eletrobrás-<br />

Consise, onde foi bem acatado pelos dirigentes<br />

de todas as empresas do Sistema, inclusive<br />

algumas já estão se movimentando no sentido<br />

de programar algo semelhante. O importante é<br />

que vamos produzir resultados financeiros que<br />

sustentarão o nosso crescimento empresarial. A<br />

<strong>Eletronorte</strong> será um grande ator na expansão do<br />

sistema elétrico brasileiro, notadamente na região<br />

onde vem atuando, a Amazônia, como um consolidador<br />

de parcerias para a realização de grandes<br />

empreendimentos de geração e transmissão de<br />

energia elétrica. É fundamental que a Empresa<br />

tenha capacidade financeira para participar de<br />

novos negócios.<br />

Como estão sendo desenvolvidas<br />

as etapas do projeto?<br />

Como disse, tudo começou com o planejamento<br />

estratégico. Vamos obter o lucro e aumentar o<br />

resultado empresarial equacionando os problemas<br />

estruturais e aperfeiçoando a gestão dos processos.<br />

No desenvolvimento do projeto, tivemos uma<br />

primeira etapa, quando comparamos a <strong>Eletronorte</strong><br />

com as outras empresas do Sistema Eletrobrás. Por<br />

que umas dão lucro e nós damos prejuízo? Numa<br />

segunda etapa comparamos o negócio de geração<br />

e de transmissão, e a parte corporativa que suporta<br />

o negócio. Verificamos como estamos de produtividade<br />

em comparação com as empresas do<br />

Sistema e outras concessionárias de capital aberto.<br />

Numa terceira etapa identificamos as iniciativas e<br />

estamos implementando os planos de ação. Diria<br />

que primeiro fizemos uma fotografia, depois uma<br />

radiografia e agora uma ressonância magnética<br />

para identificar oportunidades de reduzir custos<br />

e aumentar a produtividade.<br />

Houve envolvimento do<br />

corpo funcional da Empresa?<br />

Para quando estão previstos resultados?<br />

Mais de 100 técnicos e 80 gerentes da Empresa<br />

têm participado desse processo. Na realidade,<br />

todas as iniciativas vislumbradas como possibilidades<br />

de melhoria de gestão e processos foram<br />

formuladas pelo nosso corpo técnico. A consultoria<br />

contratada entra apenas com o apoio metodológico<br />

para que consigamos maior velocidade e capacidade<br />

de gerar soluções. A Diretoria Executiva<br />

já definiu uma meta de redução de custos e as<br />

13 equipes de melhorias já trabalham iniciativas<br />

para mudar o patamar de produtividade. A meta,<br />

quando todas as iniciativas estiverem implementadas,<br />

é de, até 2013, conseguir uma redução de<br />

custos superior a R$ 150 milhões por ano, que<br />

serão destinados ao crescimento da Empresa,<br />

nos investimentos em novos negócios. Na terceira<br />

etapa do projeto estamos detalhando os planos<br />

de ação das 111 iniciativas identificadas pelos<br />

grupos, de modo a colher resultados a partir de<br />

setembro de 2009. Em novembro próximo termina<br />

o trabalho da consultoria e a partir de dezembro<br />

a Empresa toca o projeto sozinha até 2013. Cada<br />

gestor de empreendimento, cada gerente envolvido<br />

será responsável pelo compromisso junto<br />

à Diretoria, inclusive com a assinatura de um<br />

contrato de gestão.<br />

Certamente, os resultados dos<br />

planos e do próprio projeto levarão<br />

ao fortalecimento da Empresa<br />

em sua participação em leilões<br />

de geração e transmissão.<br />

Sem dúvida. É importante entender por que a<br />

<strong>Eletronorte</strong> participa de sociedades de propósito<br />

específico em novos negócios. Não é apenas pelo<br />

desenho do modelo atual do Setor Elétrico. Primei-<br />

ro, ao fazer um empreendimento de grande vulto,<br />

precisamos dos valores de investimento definidos<br />

no Orçamento Geral da União. Sem saber se vamos<br />

ganhar ou não um leilão, como orçar valores<br />

vultosos que terão impacto nas contas públicas<br />

via superávit primário? Depois, precisamos de<br />

agilidade. Como Empresa estatal, estamos presos<br />

à legislação e a processos burocráticos com os<br />

quais não conseguimos enfrentar as verdadeiras<br />

batalhas que são os leilões. Em parceria com a<br />

iniciativa privada ganhamos a agilidade necessária.<br />

Finalmente, graças ao trabalho das equipes<br />

envolvidas, conseguimos aperfeiçoar o processo<br />

econômico-financeiro. Na verdade, quem ganha<br />

o leilão não é a parte técnica, mas a engenharia<br />

financeira.<br />

O que podem esperar<br />

empregados e gerentes do projeto<br />

Eficiência e Crescimento?<br />

Lançamos o projeto durante as comemorações<br />

dos 36 anos da <strong>Eletronorte</strong>, no último dia 13 de<br />

agosto, e reforçamos a mensagem: ninguém dê<br />

ouvidos aos mensageiros do apocalipse! Não<br />

haverá demissões, nem punições. Queremos<br />

pedir tranquilidade e trabalho em prol de uma<br />

Empresa melhor. Acabamos de reformular o quadro<br />

de pessoal e certamente haverá um plano de<br />

desligamento voluntário, o que já vem ocorrendo<br />

em outras empresas do Sistema Eletrobrás. Mas<br />

tudo para melhorar a eficiência empresarial, sem<br />

nenhuma outra conotação política ou técnica.<br />

Uma novidade criada diretamente pela Diretoria<br />

é a figura do gerente de empreendimentos, que<br />

vai acompanhar a obra do começo até o final,<br />

para garantir a taxa de retorno e principalmente<br />

acompanhar os prazos e não deixar nenhum furo.<br />

Agora, os gerentes são os gestores de todos os processos<br />

e precisam ter uma postura diferenciada,<br />

não somente para acompanhar procedimentos,<br />

mas acompanhar custos e prazos essencialmente.<br />

Não dá, por exemplo, para uma obra nossa atrasar<br />

45 meses; ou a Empresa gastar R$ 2,4 mil para<br />

comprar R$ 400. O comprometimento com prazos<br />

e custos deve ser de todos.<br />

Uma mensagem final.<br />

Eu entendo que o projeto <strong>Eletronorte</strong>, Eficiência<br />

e Crescimento é positivo para todas as partes<br />

interessadas. Para a Eletrobrás, que terá uma<br />

controlada dando resultados em vez de prejuízos.<br />

Para os empregados uma Empresa forte,<br />

focada na sustentabilidade. Para a sociedade<br />

brasileira, a garantia de um suprimento de energia<br />

elétrica com mais qualidade. Não é um projeto<br />

desta Diretoria, mas de todos nós, que teremos<br />

uma Empresa blindada contra ações externas,<br />

fortalecida no que tem de melhor. Isto é extremamente<br />

importante: entender que esse projeto é<br />

fundamental para garantir o nosso futuro, a nossa<br />

empregabilidade.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

37


mEIo AmBIEntE<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

38<br />

um corredor para<br />

a biodiversidade<br />

Avaliação e monitoramento das comunidades de<br />

vertebrados em Tucuruí aponta caminhos promissores<br />

Michele Silveira<br />

Imagine um corredor com paredes de floresta.<br />

Enquanto seus passos amassam as folhas<br />

que cobrem o chão, um rápido macaco cuxiú<br />

pula de uma árvore para outra com a mesma<br />

agilidade com que um jacu se equilibra entre os<br />

galhos das árvores ao seu lado. Apesar da ideia<br />

de um corredor ser muito familiar a qualquer<br />

um de nós, pensar num espaço assim dá uma<br />

sensação de dever cumprido. Pelo menos é o<br />

que devem sentir alguns dos pesquisadores<br />

que, desde 2004, dedicam-se ao projeto “Avaliação<br />

e Monitoramento das Comunidades de<br />

Vertebrados na Área de Influência do Reservatório<br />

da Usina Hidrelétrica Tucuruí”. O corredor<br />

é uma das propostas indicadas pelo grupo de<br />

pesquisadores e ligaria a Terra Indígena Parakanã<br />

à Base 3, uma das áreas onde a pesquisa foi<br />

realizada. “O ideal é que tivéssemos essa conectividade,<br />

para que se mantenham as áreas<br />

de preservação efetivamente, constituindo um<br />

corredor para que as espécies se desloquem e<br />

garantam a biodiversidade. É uma ação difícil,<br />

mas possível. É preciso uma articulação com<br />

moradores do entorno do lago de Tucuruí, órgãos<br />

ambientais, prefeituras, enfim, uma ação<br />

integrada”, explica o analista<br />

ambiental da <strong>Eletronorte</strong>,<br />

Rubens Ghilardi Junior.<br />

Um dos compromissos da<br />

<strong>Eletronorte</strong> com o processo de licenciamento<br />

ambiental da Hidrelétrica junto à<br />

Secretaria de Meio Ambiente do Estado do<br />

Pará, o projeto foi viabilizado entre a Empresa<br />

e o Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG; por<br />

meio da Sociedade Zeladora do MPEG e com a<br />

participação de pesquisadores da Universidade<br />

Federal do Pará - UFPA e do Instituto Nacional<br />

de Pesquisas da Amazônia – Inpa. O projeto<br />

representa a consolidação do Subprograma<br />

de Monitoramento, Manejo e Conservação da<br />

Fauna, proposto no processo de licenciamento<br />

ambiental da Usina, e tem permitido o desenvolvimento<br />

de pesquisas relevantes sobre a<br />

diversidade, ecologia e conservação da fauna<br />

de vertebrados no sistema formado pelo reservatório,<br />

incluindo suas margens e ilhas, estabelecidos,<br />

desde 2002, como Área de Proteção<br />

Ambiental – APA do Lago de Tucuruí.<br />

Fauna ameaçada - A macrorregião de Tucuruí<br />

é considerada como área prioritária para<br />

conservação. Lá estão espécies que constam<br />

na lista oficial do<br />

Ibama, como o cuxiús<br />

(Chiropotes sp), macaco-caiarara<br />

(Cebus kaapori), onça-pintada (Panthera<br />

onça), ariranha (Pteronura brasiliensis),<br />

tatu-canastra (Priodontes maximus) e as aves<br />

jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis) e<br />

ararajuba (Guaruba guarouba). Até o final da<br />

pesquisa foram identificadas 481 aves, 36 mamíferos<br />

de médio e grande porte, 36 anfíbios,<br />

39 répteis terrestres, três jacarés e quatro tartarugas.<br />

Inclusive, a margem direita se destaca<br />

por abrigar uma população de Cebus kaapori,<br />

considerada a espécie de mamífero mais<br />

ameaçada da Amazônia. Além disso, a área de<br />

soltura conhecida como Base 4 é considerada<br />

importante refúgio para a fauna de mamíferos.<br />

E os botos? O estudo revelou a presença da<br />

espécie Inia geoffrensis,<br />

o chamado<br />

boto-cor-de-rosa. Entretanto,<br />

não há um consenso sobre a presença<br />

do boto-tucuxi, de cor cinza. Mas os moradores<br />

a jusante da barragem garantem que ele<br />

aparece por lá.<br />

Durante três anos o projeto investigou e<br />

avaliou o atual estado de conservação de anfíbios,<br />

répteis, aves e mamíferos, levando em<br />

consideração as modificações resultantes da<br />

formação do lago de Tucuruí. De acordo com<br />

Ghilardi, os estudos sobre a fauna terrestre se<br />

concentraram nas duas zonas de Preservação<br />

de Vida Silvestre (ZPVS) da APA, localizadas nas<br />

bases de soltura 3 e 4. Já as espécies aquáticas<br />

e semiaquáticas, compostas principalmente<br />

por jacarés, quelônios, botos e aves, foram<br />

estudadas em várias regiões do lago. Também<br />

foram feitas análises das atividades de caça<br />

nas áreas das reservas de Desenvolvimento<br />

Sustentável (RDS) Pucuruí, Ararão e Alcobaça,<br />

além da ocorrência de agentes infecciosos em<br />

carnívoros silvestres, bem como em animais<br />

domésticos, potencial fonte de risco de transmissão<br />

de doenças à fauna silvestre.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

39


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

40<br />

Ainda em 2006, um seminário avaliou os<br />

resultados preliminares do estudo. Reunidos no<br />

Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA,<br />

em Belém, pesquisadores explicaram que o<br />

inventário de diferentes grupos de fauna resultou<br />

na geração de diversos dados que podem<br />

ajudar no estudo dos efeitos causados pela<br />

fragmentação de florestas sobre a diversidade<br />

das espécies. Praticamente todas as equipes do<br />

projeto observaram a presença de atividade de<br />

caça nas áreas estudadas, o que indica a necessidade<br />

de maior esforço de conscientização<br />

das comunidades locais.<br />

Ilhas - Segundo Rubens Ghillardi, uma das<br />

linhas de pesquisa foi avaliar quais das cerca de<br />

1.700 ilhas do lago seriam mais significativas.<br />

“As ilhas maiores e mais próximas ao continente<br />

são as mais importantes para a manutenção da<br />

biodiversidade e, de posse dessa informação,<br />

sabemos como atuar de forma mais efetiva.<br />

Outra constatação importante foi confirmarmos<br />

que nas duas margens temos espécies diferentes,<br />

e por isso é fundamental a manutenção das<br />

duas áreas para a biodiversidade”<br />

O responsável pelo convênio, o biólogo e<br />

coordenador da equipe de Zoologia do Museu<br />

Goeldi, professor Ulisses Galatti, lista os principais<br />

objetivos do projeto: indicar o estado de<br />

conservação de anfíbios, répteis, aves e mamíferos<br />

em relação às modificações no ambiente<br />

causadas pela formação do lago de Tucuruí;<br />

avaliar a importância das Zonas de Preservação<br />

da Vida Silvestre (ZPVS) para a conservação da<br />

fauna local; e estabelecer as bases para um<br />

programa de monitoramento, conservação e<br />

manejo da fauna. Mas do início das pesquisas<br />

até a entrega do relatório final – que hoje tramita<br />

na Secretaria de Meio Ambiente do Pará – foram<br />

anos de pesquisas de campo que renderam<br />

muitas histórias em busca da observação de<br />

uma fauna que, na maioria das vezes, é que<br />

parece observar.<br />

É ainda escuro quando acorda a equipe que<br />

acompanha as aves e mamíferos. E é também<br />

escuro quando o pessoal que trabalha com<br />

anfíbios e répteis sai para campo. Há quem<br />

acorde ainda de madrugada e quem não<br />

durma durante a madrugada. De acordo com<br />

Ulisses, a maior parte dos pesquisadores ficou<br />

alojada na Base 4, a cerca de uma hora de<br />

barco da Usina. “Lá há refeitório, cozinheiro e<br />

alguns quartos. O excedente do pessoal ficava<br />

em barracas montadas na parte externa dos<br />

alojamentos e dormia em redes”. Nas chamadas<br />

voadeiras, as equipes fizeram os percursos<br />

até às bases 4 e 3, esta última uma viagem de<br />

três horas. Para as equipes que trabalharam<br />

com tartarugas, jacarés, botos e aves aquáticas,<br />

as voadeiras também eram instrumento<br />

diário de trabalho.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

41


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

42<br />

Já no primeiro ano do projeto foram realizadas<br />

mais de 40 expedições de campo para<br />

coleta de dados. “Nesse trabalho enfrentamos<br />

dificuldades técnicas, algumas delas relacionadas<br />

à identificação das áreas mais apropriadas<br />

para o estabelecimento de pontos de amostragem<br />

e instalação de armadilhas”, relata o<br />

pesquisador.<br />

Aprendizado - Para Ulisses é preciso destacar<br />

o apoio do Centro de Proteção Ambiental<br />

– CPA, de Tucuruí e da Superintendência de<br />

Meio Ambiente da <strong>Eletronorte</strong>. Cerca de R$ 1,6<br />

milhão foi investido na condução das atividades.<br />

O projeto tem atraído o interesse de especialistas<br />

para a condução de estudos de ecologia e<br />

conservação na área do reservatório de Tucuruí.<br />

O primeiro passo na preservação<br />

Antes da formação do lago de Tucuruí, a chamada<br />

Operação Curupira suscitou discussão sobre seu principal<br />

objetivo: procurar garantir a vida dos animais ilhados no<br />

reservatório, além de colaborar com a consciência de um<br />

espírito conservacionista na região, bem como na implantação<br />

de áreas de proteção da fauna. Houve quem criticasse<br />

os custos e a metodologia, e quem afirmasse que os animais<br />

resgatados não sobreviveriam em outras áreas.<br />

Numa época em que ainda não havia legislação ou<br />

compensação ambiental, a Operação Curupira promoveu<br />

a discussão sobre estratégias de conservação; estimulou<br />

estudos numa região pouco conhecida em termos biológi-<br />

Cinco dissertações de mestrado e uma tese de<br />

doutorado, viabilizadas pelo projeto, já foram<br />

concluídas e uma dissertação e uma tese devem<br />

ser terminadas nos próximos anos.<br />

O curso de campo ‘Conservação e Ecologia<br />

de Populações em Áreas Fragmentadas’,<br />

destinado a alunos de mestrado e doutorado,<br />

foi realizado em 2006 e 2007 como disciplina<br />

regular do programa de pós-graduação<br />

em zoologia da UFPA e do MPEG. Esforços<br />

também têm sido direcionados ao repasse<br />

de informações para as comunidades do entorno<br />

do reservatório, por meio de palestras e<br />

cartilhas. “A experiência do curso de campo<br />

foi única, principalmente para os alunos, que<br />

tiveram a oportunidade de treinar a pesquisa<br />

científica, desde a formulação de hipóteses,<br />

cos e propiciou um campo de estudo aos pesquisadores<br />

que dela participaram.<br />

Foram resgatados cerca de 300 mil animais. Além<br />

das dificuldades logísticas, as equipes enfrentam os<br />

desafios da inexistência de experiência prévia do Setor<br />

Elétrico na Amazônia, um cronograma exíguo para o<br />

planejamento, as grandes dimensões do reservatório e<br />

o pequeno conhecimento da fauna local.<br />

Hoje, 25 anos depois, o projeto Avaliação e Monitoramento<br />

das Comunidades de Vertebrados na Área de<br />

Influência do Reservatório de Tucuruí priorizou as áreas<br />

de soltura dos animais resgatados durante a Operação<br />

passando pela metodologia e desenho experimental<br />

adequados, até a apresentação final<br />

dos resultados. Tudo isso em uma área que<br />

engloba florestas conservadas e fragmentadas<br />

na mesma região”, afirma Galatti.<br />

A expectativa agora é que o relatório seja avaliado<br />

e as novas etapas estabelecidas. “Estamos<br />

aguardando o encaminhamento da Secretaria<br />

para então definirmos se haverá um novo convênio,<br />

ou de que forma vamos dar continuidade<br />

a cada uma das ações. As próximas etapas<br />

devem contemplar ações de monitoramento,<br />

com muitas atividades de pesquisa e formação”,<br />

explica o biólogo Ralph Kronemberger<br />

Lippi, analista ambiental da <strong>Eletronorte</strong>. Com<br />

foco também na educação ambiental, o projeto<br />

oferece dados que podem ser aproveitados por<br />

Curupira. Nos relatórios da Operação, os primeiros<br />

esboços das ideias que, anos depois, seriam pautadas<br />

pela legislação ambiental e consideradas no<br />

relatório final do projeto atual: “Vale salientar ainda,<br />

que os reservatórios, assim que se formam, tendem<br />

a atrair ocupação humana para suas margens, o<br />

que acabará por acarretar devastações na fauna e<br />

flora. Portanto, a simples colocação dos animais nas<br />

margens não lhes garantirá a sobrevivência, a não<br />

ser que as áreas de relocação sejam preservadas.<br />

Essa preservação só será possível pelo manejo das<br />

áreas”. Era o embrião dos corredores.<br />

quem tiver interesse na área ou informações<br />

sobre a biologia das espécies.<br />

Chegar até a proposta de consolidação<br />

daquele corredor ecológico não foi uma tarefa<br />

fácil, menos ainda uma teoria individual. Na<br />

opinião do coordenador, o projeto possibilitou<br />

o desenvolvimento de pesquisas relevantes<br />

sobre a diversidade, ecologia e conservação<br />

da fauna de vertebrados presentes no sistema<br />

formado pelo lago de Tucuruí. As bases 3 e 4,<br />

segundo Galatti, são importantes para estudos<br />

de ecologia aplicada como sobre os efeitos da<br />

fragmentação florestal por implementação de<br />

grandes barragens e ecologia de paisagem, entre<br />

outros temas que fornecem subsídios para o<br />

estabelecimento de estratégias de conservação<br />

biológica no bioma amazônico.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

43


AmAZÔnIA E nÓs<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

44<br />

Foto: Isac Pinheiro<br />

Terezinha Félix de Brito<br />

Entre banzeiros e cachoeiras de inúmeros<br />

rios, ou pelos trilhos da lendária Estrada de<br />

Ferro Madeira-Mamoré, ou ainda pelas belezas<br />

tropicais do Vale do Guaporé, do Forte Príncipe<br />

da Beira, e de muitas outras riquezas culturais<br />

e históricas, Rondônia tornou-se conhecida de<br />

brasileiros e estrangeiros. É preciso se aventurar<br />

para entender sobre essa terra tão rica e de muitos<br />

mistérios, de mitos, folclores, lendas, fases,<br />

lutas, superação. Hoje, o Estado de Rondônia<br />

é visto como referencial de desenvolvimento,<br />

Rondônia:<br />

diversidade,<br />

superação e<br />

desenvolvimento<br />

principalmente pela construção das usinas<br />

do Complexo do Rio Madeira (Jirau e Santo<br />

Antônio), obras grandiosas do Setor Elétrico<br />

brasileiro.<br />

A história de Rondônia é marcada pela<br />

construção da Estrada de Ferro Madeira-<br />

Mamoré, que nasceu da necessidade de<br />

permitir o escoamento de produtos ao país<br />

vizinho, a Bolívia, até o Pacífico. Ao longo<br />

de 400 km de distância entre Porto Velho e<br />

Guajará-Mirim, a obra foi construída por meio<br />

do ‘Tratado de Petrópolis’, que colocou fim à<br />

questão do Acre (1899-1902), anexando-o<br />

ao território brasileiro. Com a construção da<br />

ferrovia, em apenas dois anos, a capital Porto<br />

Velho foi considerada uma cidade cosmopolita<br />

no meio da selva e em pleno início do século<br />

XX era comparada com cidades europeias.<br />

Por lá já havia serviço de esgoto e telefone.<br />

Geradores de eletricidade eram responsáveis<br />

pela iluminação pública e, no cais, lâmpadas<br />

de arco voltaico permitiam o trabalho<br />

noturno. Foram montadas também fábricas<br />

de biscoitos, de gelo, padarias, lanchonetes,<br />

lavanderias, cinemas, hospitais, banda de<br />

música e tipografia. Eram poucos os estados<br />

da Federação que possuíam empreendimentos<br />

semelhantes.<br />

Mesmo com toda tecnologia e conforto, a cidade<br />

que foi o berço da ‘Ferrovia do Diabo’, como foi<br />

intitulada pelo jornalista Manoel Rodrigues Ferreira,<br />

fascinou muita gente e, ao mesmo tempo,<br />

tornou-se motivo de decepção para aqueles que<br />

se aventuraram num lugar até então desconhecido.<br />

Há um mito de que cada dormente da obra<br />

equivale à morte de um trabalhador. Atualmente,<br />

o complexo ferroviário é um dos pontos turísticos<br />

mais visitados, atraindo a curiosidade de pesquisadores,<br />

estudantes e turistas.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

45


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

46<br />

Fotos: Isac Pinheiro<br />

Porto<br />

Velho, a<br />

capital<br />

está<br />

rodeada<br />

de rios e<br />

florestas<br />

Miscigenação – Entre as décadas de 1960<br />

e 1990, Rondônia recebe um grande número<br />

de migrantes, em decorrência da euforia<br />

econômica estimulada por grandes investimentos<br />

do Governo Federal para povoar<br />

a Região Norte. O estado é um verdadeiro<br />

mosaico de diferentes culturas, de muitas<br />

identidades, de miscigenação face à chegada<br />

de brasileiros de todas as regiões, principalmente<br />

de São Paulo, Minas Gerais, Rio<br />

Grande do Sul, Paraná e parte do Nordeste,<br />

além da forte descendência indígena. Entre<br />

1960 e 1980, a população cresce quase<br />

oito vezes, passando de 70 mil para 500 mil<br />

habitantes. E somente em 1981, Rondônia<br />

ganha a condição de estado.<br />

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística – IBGE, em 2008 a população<br />

foi estimada em 1.493.566 habitantes, o que<br />

representa um crescimento de 2,738% em<br />

relação à contagem de 2007. Pelos números,<br />

Rondônia aparece como o terceiro estado<br />

mais populoso e o mais denso da Região<br />

Norte, possuindo o terceiro melhor Índice de<br />

Desenvolvimento Humano - IDH, o quarto<br />

melhor de educação e a melhor renda de<br />

toda a região.<br />

Os números reforçam também a diversidade<br />

natural. Rondônia tem o privilégio de situar-se<br />

na divisa com Amazonas, Mato Grosso, Acre<br />

e Bolívia. Dos mais de 238 mil quilômetros<br />

quadrados, dois terços estão cobertos pela<br />

floresta amazônica. Para quem tem paixão<br />

pela natureza em seu estado mais original, vai<br />

encontrar ali as melhores áreas protegidas da<br />

Amazônia brasileira, por meio de uma rede<br />

de conservação de terras indígenas, florestas<br />

tropicais inundáveis, além de savanas, campos<br />

naturais e pantanais.<br />

Nas reservas extrativistas é possível vivenciar<br />

e conhecer os costumes e sabedorias<br />

dos povos da floresta. Nos parques nacionais,<br />

estaduais e municipais são realizados passeios<br />

em trilhas, safáris fotográficos e cruzeiros<br />

fluviais. No total, são dois parques nacionais,<br />

três parques estaduais, três municipais, quatro<br />

reservas biológicas, três estações ecológicas,<br />

24 reservas extrativistas, duas florestas nacionais,<br />

11 reservas estaduais e 21 reservas<br />

indígenas.<br />

A fauna e a flora formam o mais exótico espetáculo<br />

natural. Várias espécies de animais,<br />

vegetação multicolorida e frutos saborosos<br />

fazem parte do ‘cenário’ rondoniense. Ao<br />

todo são 52 municípios, e em todos eles há<br />

sempre algo interessante para ser apreciado<br />

e emoção para quem gosta de aventura. Mas<br />

também há lugares para quem prefere a tranquilidade,<br />

como hotéis-fazenda e pousadas<br />

ecológicas.<br />

História - “Azul, nosso céu é sempre azul.<br />

Que Deus o mantenha sem rival; cristalino,<br />

muito puro. E o conserve sempre assim. Aqui<br />

toda a vida se engalana. De beleza tropical;<br />

nossos lagos, nossos rios; nossas matas, tudo<br />

enfim”. A letra do Hino do Estado de Rondônia,<br />

de composição de Joaquim de Araújo Lima, um<br />

dos ex-governadores, quando ainda se chamava<br />

Território do Guaporé, mostra a fascinação<br />

de quem tem amor pela natureza.<br />

Agora, se o viajante preferir e tiver curiosidade<br />

sobre os monumentos históricos de<br />

Rondônia, tem que dar uma passadinha na<br />

capital, pois quase todos estão concentrados<br />

Rio Madeira,<br />

onde navegam<br />

homens<br />

e vive uma<br />

rica fauna<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

47


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

48<br />

Monumentos<br />

e a estrada<br />

de ferro<br />

Madeira<br />

Mamoré:<br />

registros<br />

históricos<br />

em Porto Velho. Como, por exemplo, o Prédio<br />

do Relógio, construído no início do século XX.<br />

Seus belos vitrais mostram os ciclos econômicos<br />

da região. Hoje é sede da Fundação<br />

Cultural e do Museu Estadual. A arquitetura<br />

lembra uma locomotiva estilizada. Já a Praça<br />

das Três Caixas D’Água, vindas embaladas<br />

dos Estados Unidos no começo do século<br />

para servir à Estrada de Ferro Madeira-<br />

Mamoré, é o símbolo oficial da cidade. Ainda<br />

em Porto Velho pode-se conhecer a catedral<br />

do Sagrado Coração de Jesus, construída<br />

em 1927 por padres salesianos, o maior e<br />

mais belo santuário rondoniense. Suas obras<br />

internas e o estilo colonial dão um contraste<br />

interessante à paisagem amazônica. Está<br />

localizada no extremo do bairro Caiari.<br />

Mais à frente fica a sede da Prefeitura Municipal,<br />

à direita o Colégio Barão do Solimões,<br />

um dos institutos educacionais públicos mais<br />

tradicionais da cidade. Nas proximidades também<br />

se encontra o Palácio Presidente Vargas,<br />

sede do Governo do Estado. O prédio, construído<br />

em 1949, foi tombado pelo Patrimônio<br />

Histórico. Foi lá que aconteceu a sessão<br />

pública de instalação do Estado de Rondônia.<br />

Já o Mercado Cultural, construído em 1915,<br />

e que funcionava como Mercado Público,<br />

acabou sendo destruído por um incêndio<br />

em 1966, mas recentemente foi reconstruído<br />

com os boxes originais, únicas estruturas que<br />

resistiram ao fogo criminoso. Atualmente, o<br />

prédio é destinado a eventos culturais e venda<br />

de produtos regionais, além de ser o ponto de<br />

encontro de artistas locais.<br />

A 700 quilômetros da capital, um monumento<br />

histórico é roteiro certo para turistas<br />

interessados no passado da segurança da fronteira<br />

nacional: o Real Forte Príncipe da Beira, à<br />

margem direita do Rio Guaporé, fronteira natural<br />

entre Brasil e Bolívia, que chama a atenção<br />

pela arquitetura rústica do século XVIII.<br />

Artesanato e festas - Sob forte influência<br />

indígena, o artesanato local é geralmente<br />

produzido de forma colorida, alegre e bonita,<br />

Foto: Beth Farias<br />

aproveitando todos os detalhes que a natureza<br />

oferece: sementes, penas de pássaros, dentes<br />

de animais, castanhas, galhos, palhas e madeiras.<br />

São peças simples, mas que surpreendem<br />

por sua beleza. Atualmente, a ‘biojóia’ rondoniense<br />

está sendo amplamente exportada para<br />

diversos países.<br />

Para muitos ribeirinhos, os elementos da<br />

natureza não são apenas cenários, e sim<br />

o modo de se viver de uma comunidade<br />

inteira. À margem de rios, lagos e igarapés,<br />

centenas de famílias mantêm o costume<br />

religioso popularmente conhecido como<br />

festejos. As manifestações de fé têm força<br />

devido às crenças em superstições e mitos,<br />

bem como as lendas da cobra grande, da<br />

mãe da mata, do mapinguari, do curupira e<br />

do boto-cor-de-rosa.<br />

As festas mais expressivas ocorrem ao<br />

longo dos principais rios - Madeira, Mamoré e<br />

A ‘biojóia’ rodoniense<br />

Festa do<br />

Divino: nos<br />

rios e igarapés<br />

se juntam<br />

famílias<br />

brasileiras<br />

e bolivianas<br />

Fotos: Regineth Tavernard<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

49


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

50<br />

Guaporé. A religiosidade e a devoção<br />

aos santos padroeiros movimentam<br />

os pequenos distritos, entre eles<br />

Nazaré, Demarcação, São Carlos,<br />

Calama, Prosperidade, Ilha<br />

Grande e Nova Esperança. Ao<br />

contrário das grandes cidades<br />

brasileiras, as procissões<br />

nesses lugares<br />

são realizadas<br />

à beira dos ‘barrancos’.<br />

Judith<br />

dos Santos, de<br />

86 anos (foto<br />

abaixo), participa<br />

até hoje dos festejos<br />

do distrito de São<br />

Carlos. Ela fala com<br />

entusiasmo sobre a<br />

devoção que os<br />

moradores desses<br />

pequenos<br />

lugarejos têm pelos santos<br />

padroeiros: “Desde que me<br />

entendo por gente estou envolvida<br />

nessas festas, que são<br />

extremamente sagradas para<br />

nós ribeirinhos.<br />

Tive dez filhos, e todos<br />

de parto normal, e tenho certeza<br />

que todos eles tiveram a proteção<br />

divina desde o nascimento”.<br />

Já no Vale do Guaporé, a Festa<br />

do Divino Espírito Santo é uma<br />

das maiores e mais importantes,<br />

pois aproxima famílias ribeirinhas<br />

bolivianas e brasileiras. A peregrinação<br />

das comunidades que<br />

moram às margens dos rios Mamoré<br />

e Guaporé - que fazem divisa<br />

com o Brasil e a Bolívia - mobiliza<br />

principalmente as cidades de Costa Marques,<br />

Pedras Negras, Rolim de Moura do Guaporé,<br />

Pimenteiras, Versalhes, Remanso e Piso Firme,<br />

sendo as três últimas na Bolívia.<br />

Jerico – Já ouviu falar da Fórmula 1 da<br />

Amazônia? Não? Então imagine um cenário<br />

com arquibancadas, camarotes, bandeirolas<br />

e, na pista, muita lama, pilotos cheios<br />

de adrenalina fazendo diversas curvas em<br />

‘supermáquinas’. Jericódromo, esse é o lugar<br />

onde se pratica a Corrida de Jericos Motorizados.<br />

Os ‘jericos’ são montados a partir de<br />

peças de modelos diversos. Cada jerico chega<br />

a até 60 km/h e possui força para puxar um<br />

Folharal, personagem exclusivo<br />

do boi-bumbá estadual Corrida maluca: jericos motorizados chegam a 60 km/h<br />

caminhão. O esporte inventado por produtores<br />

rurais tem público certo, já que a corrida<br />

é realizada todos os anos em comemoração<br />

ao aniversário da cidade de Alto Paraíso. Este<br />

ano a pequena cidade recebeu mais de 30<br />

mil pessoas.<br />

Na capital, a peça o ‘Homem de Nazaré’,<br />

com mais de 300 integrantes, é encenada na<br />

cidade cenográfica Jerusalém da Amazônia, o<br />

segundo maior teatro a céu aberto do mundo.<br />

A peça foi criação do Grupo Êxodo, formado por<br />

jovens religiosos que disseminam a arte e a fé<br />

num espaço no meio da floresta. Agora entre todas<br />

as manifestações culturais, a que não pode<br />

deixar de ser citada é o Flor do Maracujá.<br />

O mundo fascinante das lendas e mitos<br />

tradicionais da Amazônia são revelados em<br />

dez noites no maior arraial do Norte do Brasil,<br />

que acontece há 28 anos em Porto Velho.<br />

Botos que dançam e emprenham donzelas,<br />

iaras que seduzem os homens e os levam<br />

para seus reinos encantados, e o Folharal,<br />

personagem exclusivo do boi-bumbá estadual.<br />

Além de contar com personagens tradicionais<br />

de quadrilha como os doutores da vida e da<br />

cachaça, seringueiro, caçador, personagens<br />

que traduzem a cultura local.<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

51


<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

52<br />

De acordo com a professora e historiadora<br />

Yêdda Pinheiro Borzacov, a festa foi batizada<br />

como Flor do Maracujá porque as moças, em<br />

meados da década de 1950, embelezavam<br />

seus cabelos com as exuberantes flores da<br />

fruta, que ali existiam, no terreiro onde a<br />

comunidade dança. “Os moradores nomearam<br />

a quadrilha em homenagem às flores<br />

do maracujá, que durante o mês de junho<br />

apareciam em abundância naquela região.<br />

Os rondonienses têm orgulho de realizar uma<br />

das maiores e mais expressivas festas com<br />

manifestações da cultura indígena e nordestina”,<br />

afirma Yedda, que foi também uma das<br />

idealizadoras do evento.<br />

Culinária - A cozinha rondoniense é farta<br />

em aromas e sabores, devido à multiplicidade<br />

de pratos que acrescentaram peculiaridades<br />

de cada região brasileira e receitas de outros<br />

países. De acordo com Débora Cavalcante,<br />

que trabalhou durante 24 anos na área de<br />

turismo, Rondônia adotou vários pratos de<br />

diferentes lugares. “Nossa gastronomia tem<br />

forte influência do Brasil inteiro, pois aqui foi<br />

um dos lugares que mais recebeu migrantes de<br />

todo o território nacional”, afirma. Os cardápios<br />

dos restaurantes locais acrescentam aos pratos<br />

migrados, ingredientes que a floresta oferece.<br />

Portanto, não tenha medo de se deliciar com<br />

pratos como churrasco, feijoada, caruru, pato<br />

no tucupi, baião de dois, arroz carreteiro, maniçoba,<br />

vatapá, tacacá, entre outros.<br />

Mas o forte da culinária rondoniense são os<br />

peixes amazônicos, que têm como traço cultural<br />

característico a técnica de preparo indígena.<br />

Seja de couro ou de escama, de pequeno<br />

ou grande porte, frito, assado, ou cozido, são<br />

inúmeras as receitas, e entre as espécies mais<br />

consumidas estão tucunaré, tambaqui, jatuarana,<br />

piranha, dourado, cachara, pacu, sardinha,<br />

pirarara, pirapitinga e o pirarucu. Conhecido<br />

como bacalhau da Amazônia, o pirarucu pode<br />

ser consumido com farinha d’água, temperado<br />

com limão e pimenta de cheiro, pode ser preparado<br />

seco, salgado ou fresco, com os mais<br />

variados condimentos nativos.<br />

Já uma das marcas deixadas pelo país<br />

vizinho foi a Salteña. De influência boliviana, a<br />

Salteña é recheada com batata, carne bovina<br />

ou frango, e é o pedido certo em qualquer<br />

barzinho, padaria, lanchonete de escolas e<br />

praças ou feiras das cidades que ligam Porto<br />

Velho a Guajará-Mirim, município que fica na<br />

fronteira com a Bolívia. Saltenã com suco de<br />

cajá é uma delícia!<br />

Aprenda a saborosa<br />

receita do ‘pirarucu<br />

metido a besta’<br />

Ingredientes<br />

(para duas pessoas)<br />

· 500g de pirarucu em lascas (seco)<br />

· 2 batatas<br />

· 1 pimentão<br />

· 2 tomates<br />

· 3 cebolas<br />

· 2 ovos<br />

· Azeitonas verdes<br />

· Ervas de cheiro e urucum<br />

Preparo:<br />

· Deixe o pirarucu de molho durante 12<br />

horas em água fria, trocando de tempo em<br />

tempo. Escorrer.<br />

· Corte a metade da cebola em rodelas e<br />

despeje no fundo da panela de barro.<br />

· Coloque as lascas de pirarucu e distribua,<br />

por igual, as rodelas de batata, o<br />

restante da cebola, tomate, pimentão, os<br />

ovos e as azeitonas.<br />

· Regue com tintura de urucum e as<br />

ervas de cheiro.<br />

· Deixe cozinhar com a panela tampada,<br />

por 20 minutos.<br />

· Se necessário, acrescente sal a<br />

gosto.<br />

· Sirva com arroz branco e pirão.<br />

Receita preparada pela chef<br />

Débora Cavalcante, do restaurante<br />

Beiradão, Porto Velho (RO)<br />

O ipê-amarelo<br />

que virou poste,<br />

ou o poste que<br />

virou ipê-amarelo<br />

Na década de 1980, um poste de<br />

madeira foi fincado na esquina da<br />

Avenida Jatuarana com a Rua Cravo<br />

da Índia, no bairro Cohab Floresta,<br />

em Porto Velho. Até aí tudo bem.<br />

Durante alguns anos era apenas<br />

um entre tantos na cidade. Num ato<br />

silencioso e inusitado, após algum<br />

tempo o ‘poste’ se rebela exigindo<br />

seu espaço, na luta contra fios e<br />

ferragens colocados pelo homem a<br />

serviço do abastecimento da rede de<br />

energia elétrica. Dele surgem galhos<br />

e flores, e sua verdadeira identidade<br />

é descoberta: um ipê-amarelo. Foi<br />

uma surpresa para os moradores<br />

do local, que sensibilizados com<br />

a ousadia da natureza, passaram<br />

a ser verdadeiros guardiões e contempladores<br />

do ‘poste-ipê’.<br />

Com o objetivo de preservá-lo,<br />

a Secretaria do Meio Ambiente<br />

solicitou à empresa distribuidora<br />

de energia elétrica estadual que<br />

fosse transferida a fiação para um<br />

poste de concreto, instalado ao<br />

lado da árvore. Hoje, o ipê não é<br />

mais poste, mas ainda é possível<br />

ver no tronco dele a ferragem onde<br />

passava a fiação. Curiosos de vários<br />

lugares já passaram pelo local para<br />

conferir a história do ipê teimoso,<br />

que floresce sempre no final do mês<br />

de julho ou início de agosto, e que<br />

virou uma doce atração na cidade.<br />

“É uma obra da natureza que não<br />

tem explicação”, diz o comerciante<br />

Diocleciano Nogueira, morador do<br />

bairro desde 1985. “Plantei quatro<br />

mudas dele em frente à minha casa<br />

e já enviei também algumas para<br />

fazendas do interior”, conta Diocleciano,<br />

que acompanhou a trajetória<br />

da árvore e o seu desejo de viver,<br />

numa grande demonstração de que<br />

a natureza pode até demorar, mas<br />

não falha.<br />

Fotos: Priscila Leite Costa<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

53


CoRREIo ContÍnuo<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

54<br />

“Meu nome é Willian de Oliveira Marques, sou o atual presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica da<br />

Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Venho buscar informações sobre o recebimento da revista Corrente<br />

Contínua, como me cadastro, o que é necessário para receber. É importante ser dito que esta revista irá circular entre os<br />

acadêmicos da instituição, e seria muito importante que os estudantes tivessem acesso a revistas do setor para ficarem<br />

antenados com as novidades que são frequentes em nossa área. Desde já agradeço”.<br />

Willian de Oliveira Marques - Cuiabá - MT<br />

“Prezado senhor Jorge Palmeira, diretor-presidente da <strong>Eletronorte</strong>, cumprimentamos vossa senhoria e agradecemos o envio<br />

da revista Corrente Contínua da <strong>Eletronorte</strong>. Na oportunidade, informamos o nome do novo secretário de Estado da Agricultura,<br />

Pecuária e Abastecimento, Sr Gilberto Uemura. No ensejo, colocamo-nos à disposição para futuras parcerias”.<br />

Francisca Jane Rios Gonçalves<br />

- Chefe de Gabinete da Seapa<br />

“Cara Érica, somente hoje tive condições de fazer a leitura da matéria referente ao GIT. É gratificante esse contato com<br />

uma história cheia de particularidades que, no dia a dia, parece irrelevante, mas depois de algum tempo tem um significado<br />

todo especial. E tudo isso só é possível pela forma organizada como vocês jornalistas relatam tais fatos. É como fazer uma<br />

viagem ao passado e conseguir enxergar cada momento, com suas paisagens e diálogos específicos. Só há duas coisas<br />

a serem ditas no momento: parabéns pelo trabalho e, acima de tudo, muito obrigado pela oportunidade que me deu, de<br />

passear por uma história gratificante de transformação na minha vida”.<br />

Carlos Olimpio Casseb Quebra<br />

- Regional de Transmissão do Pará - Belém - PA<br />

“Prezada Bruna, recebemos a revista Corrente Contínua referente a maio/junho, que contém a entrevista com o<br />

engenheiro Airton Silveira, da Eletrosul. Apenas uma ressalva, já que o nome saiu grafado errado (Airton Araújo Silveira),<br />

quando o correto é Airton Argemiro Silveira”.<br />

Lucimar Mondini Polli<br />

- Assessoria de Comunicação Social e Marketing da Eletrosul - Florianópolis - SC<br />

“Caro Alexandre, acabo de receber o nº 226 da Corrente Contínua e aproveito para parabenizar a todos vocês da<br />

redação e, em especial Byron de Quevedo, pelo belo trabalho da reportagem sobre as eclusas de Tucuruí. Aqui no sudeste<br />

do Pará essa obra é vista como uma urgência, e o tema suscita muito interesse. A reportagem de vocês, inclusive,<br />

fornece dados importantes de pauta para uma abordagem atualizada no nosso jornal Correio do Tocantins sobre o assunto.<br />

Sempre temos colhido boas pautas baseadas no ótimo trabalho desempenhado por vocês. Parabéns e sucesso a todos,<br />

desde a equipe de jornalismo até à de fotografia”.<br />

Patrick Roberto Carvalho<br />

- Editoria do Correio do Tocantins - Marabá - Pará<br />

“Agradeço a doação e o recebimento da revista Corrente Continua, Ano 31, numero 226, maio/junho de 2009. Sua<br />

doação vem ajudando as pesquisas de nossos usuários. Solicito a continuação da doação desta publicação para a Secretaria<br />

de Estado de Meio Ambiente – Sema – Núcleo de Documentação e Arquivo”.<br />

Rosa Elena Leão Miranda<br />

- Bibliotecária da Sema - Belém - PA<br />

“ Senhor diretor-presidente Jorge Palmeira, agradecemos o envio da revista Corrente Contínua, da <strong>Eletronorte</strong>. Na<br />

oportunidade vimos parabenizá-lo, bem como os demais colaboradores dessa revista”.<br />

Maria Lúcia Cavallari Neder<br />

- Reitora da Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá - MT<br />

“Gostei muito da reportagem Saudades do Guamá, da revista Corrente Contínua número 226 - maio/junho-2009.<br />

Curiosidade: na página 65 consta a receita do biscoito amor-perfeito da D. Naninha. Nos ingredientes fala em um prato<br />

de tapioca. Fiz uma consulta a diversos colegas aqui do Tocantins, perguntei qual é o prato da tapioca e ninguém<br />

soube explicar. Poderiam nos esclarecer?”.<br />

Demerval Ferreira da Silva<br />

- Regional de Transmissão do Tocantins<br />

- Palmas – TO<br />

N.R.: trata-se de um prato raso de tapioca, também conhecida como araruta ou polvilho. Equivale a mais ou menos 200g.<br />

FotolEgEnDA<br />

Mundo emprestado aos<br />

bravos tá sofrendo!<br />

Estão indo embora<br />

os astronautas<br />

Pássaros estranhos<br />

luas ultrapassam<br />

Nós não, nós ficaremos<br />

A cuidar dos rios,<br />

lagos e cascatas<br />

Cidade estica garganta<br />

presa respira ar escuro<br />

Casa sobre outras<br />

arranha céu<br />

Ferreiro vai pro alto com<br />

a mão a nuvem cata<br />

Não nós, nós ficaremos<br />

A cuidar do chão, dos<br />

bichos e da mata<br />

Lanças lançadas ao fundo<br />

são facas, facão, estacas<br />

Ouro, diamantes<br />

dos pés se afastam<br />

Maquineiros mergulham<br />

nas terras: ponta de metal<br />

igual redemoinho<br />

Mas não nós, nós ficaremos<br />

A cuidar das pedras e caminhos<br />

Texto: Byron de Quevedo<br />

Foto: Rony Ramos<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

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