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corrente contínua corrente contínua - Eletronorte

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<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

18<br />

Arco<br />

e flexa,<br />

o maior<br />

símbolo<br />

do povo<br />

Kinja<br />

e estudioso das questões indígenas. São as<br />

palavras de um kaminja, expressão da língua<br />

materna Waimiri Atroari que provém da família<br />

linguística Karib e significa pessoa não-índia,<br />

que há 42 anos acompanha ativamente a vida<br />

da etnia, cujo território se localiza nas regiões<br />

sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas.<br />

Com a construção da BR-174, rodovia<br />

construída entre 1974 e 1977, que liga Manaus<br />

(AM) a Boa Vista (RR) e atravessa a terra<br />

indígena Waimiri Atroari no sentido sul-norte,<br />

a situação piorou. A rodovia trouxe o contato<br />

com o homem branco e doenças como sarampo,<br />

malária, verminose<br />

e leishmaniose, matando<br />

inúmeros kinja, autodenominação<br />

dos Waimiri Atroari<br />

para si mesmos. Além desse<br />

empreendimento, a vida da<br />

comunidade foi afetada pela<br />

Mineração Taboca, instalada<br />

na parte leste da terra indígena,<br />

e pela construção da Usina<br />

Hidrelétrica Balbina. Entre<br />

1974 e 1987, a população<br />

Waimiri Atroari foi reduzida<br />

de 1.500 para 374 pessoas<br />

distribuídas em sete aldeias.<br />

Na década de 1980 foram<br />

realizados estudos para<br />

identificar o nível de impacto ambiental que o<br />

reservatório de Balbina causaria à terra indígena<br />

Waimiri Atroari. O resultado mostrou que<br />

seriam inundados 30 mil hectares. O líder dos<br />

índios, Parwe Mário (acima), lembra-se que,<br />

em 1986, a comunidade passou a exigir me-<br />

Proteção ambiental<br />

preserva espécies<br />

em Balbina<br />

Percorrer o Centro de Proteção Ambiental – CPA da<br />

Usina Hidrelétrica Balbina é deparar-se com um universo<br />

de cores, sons e imagens vivas. Nos finais de tarde,<br />

essas sensações intensificam-se com a chegada gradativa<br />

de araras que realizam performances e provocam<br />

admiração. Após algum tempo, elas saem em revoada,<br />

deixando no céu a impressão de um dia multicor. Nesse<br />

cenário, encontramos a médica veterinária Stella Maris<br />

Lazzarini (na foto, com o peixe-boi), que em 1987 iniciou<br />

o trabalho de resgate de fauna em Balbina. Quando<br />

o CPA começou a funcionar efetivamente, em 1992,<br />

ela passou a trabalhar no local e hoje é a coordenadora<br />

dos programas ambientais da Usina.<br />

Para a veterinária, apesar da construção da hidrelétrica<br />

ter inundado uma floresta primária de terra firme<br />

e impactado várias espécies animais e vegetais, houve<br />

medidas compensatórias importantes como a Reserva<br />

Biológica Uatumã, que preserva intacta uma floresta<br />

com extensão duas vezes maior do que a área alagada<br />

pelo reservatório da Hidrelétrica; o Centro de Preservação<br />

e Pesquisa de Quelônios Aquáticos – CPPQA<br />

e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos<br />

Aquáticos – CPPMA. “Além do Programa Waimiri<br />

Atroari e da Reserva Biológica Uatumã, foram preconizados<br />

programas ambientais já prevendo o impacto<br />

ambiental de Balbina, com o objetivo de mitigar os impactos<br />

negativos da hidrelétrica. São os programas de<br />

mamíferos e quelônios aquáticos que surgiram devido<br />

à interrupção da migração desses animais com a construção<br />

do empreendimento”, esclarece Stella.<br />

Em 1986, descobriu-se que cerca de 370 tartarugas<br />

da Amazônia (podocnemis expansa) agruparam-se<br />

didas que mitigassem os danos da inundação.<br />

“Quando soubemos da hidrelétrica procuramos<br />

conhecer os impactos e começamos a<br />

cobrar os nossos direitos. Ao serem feitos os<br />

estudos, ficamos sabendo que duas aldeias<br />

seriam alagadas - a Tapypyna e a Taquari.<br />

Em 1988, a <strong>Eletronorte</strong> implantou o Programa<br />

Waimiri Atroari, que trouxe os benefícios<br />

que consideramos os mais importantes para<br />

nosso povo - saúde, educação, fiscalização<br />

e demarcação. A nossa terra foi demarcada,<br />

homologada e registrada em cartório”, recorda<br />

Parwe. É importante frisar que após o contato<br />

com os brancos, como forma de facilitar a co-<br />

perto da futura barragem, sem poder subir o rio para desovar<br />

nos tabuleiros a montante. Em função disso, foram<br />

criadas praias artificiais para permitir a desova das tartarugas.<br />

Hoje o Centro possui 315 quelônios. “As tartarugas<br />

vêm entre os meses de agosto e outubro, encontram as<br />

praias artificiais e desovam em tabuleiros. Os ovos são<br />

cuidados e em janeiro e fevereiro são devolvidos à natureza.<br />

É um programa em que rapidamente se pode vislumbrar<br />

uma melhoria”, afirma a veterinária. De 1986 a 2008<br />

já foram soltos cerca de 100 mil filhotes de tartaruga no<br />

Rio Uatumã e nos lagos da região.<br />

municação, eles passaram a usar dois nomes,<br />

um indígena e outro em português, a exemplo<br />

de Parwe Mário; antes disso possuíam apenas<br />

o nome indígena.<br />

Anterior à implantação do Programa, como<br />

parte das ações mitigadoras, a <strong>Eletronorte</strong> se<br />

responsabilizou pelo financiamento da demarcação<br />

da área Waimiri Atroari que culminou na<br />

sua homologação em junho de 1989, por meio<br />

do Decreto nº 97.837/89, com uma área de<br />

2.585.911 ha. Na mesma ocasião, no Estado<br />

do Pará, como forma de compensação pelos<br />

impactos causados pela Usina Hidrelétrica Tucuruí,<br />

a <strong>Eletronorte</strong> criou o Programa Paraka-<br />

Usina não impediu a desova da tartaruga da Amazônia<br />

Em busca da liberdade – Os peixes-boi são outra espécie<br />

impactada pela construção de Balbina, pois são habitantes<br />

naturais do Rio Uatumã. Hoje estão isolados em duas populações<br />

– uma está acima da barragem, e talvez fique no<br />

futuro como uma reserva genética da espécie; há também<br />

os que estão abaixo e provavelmente vão acompanhar os<br />

nativos e ganhar o Amazonas.<br />

O CPPMA foi criado para reabilitar esses animais, mas um<br />

dos dilemas é a sua superpopulação. Hoje são 45 peixes-boi,<br />

número considerado excessivo pela veterinária. “No início, o<br />

objetivo era apenas fazer a reabilitação, mas hoje é soltá-los<br />

para aumentar sua variabilidade genética. Mas para isso precisamos<br />

de mais apoio do Sistema Eletrobrás para monitorálos<br />

por meio de radiotransmissores, experiência que outras<br />

instituições realizam com grande êxito. Gastamos anualmente<br />

cerca de R$ 2 milhões com alimentação, mão de obra<br />

e medicamentos para mantê-los. Com a soltura seria R$ 1<br />

milhão por ano. Eles viveriam um tempo no Uatumã e depois<br />

acompanhariam a migração dos nativos”, destaca Stella.<br />

Vários filhotes que estão no Centro tiveram as mães mortas<br />

por caçadores que ainda hoje capturam os animais, não<br />

mais pelo valor do couro, mas pela carne. O fato de a espécie<br />

reproduzir em cativeiro não diminui o risco de ser extinta.<br />

“Há filhotes que reabilitamos e conseguiram reproduzir. Agora<br />

queremos soltá-los para que se reproduzam na natureza<br />

e a espécie tenha uma chance de sobrevivência. Sabemos<br />

que manter o animal reproduzindo em cativeiro não tira o<br />

perigo de ser extinto”, explica Stella.<br />

nã, adotando a mesma filosofia do Programa<br />

Waimiri Atroari.<br />

Invertendo a situação – Fruto de um convênio<br />

entre a <strong>Eletronorte</strong> e a Funai, o Programa<br />

Waimiri Atroari é um conjunto de ações<br />

indigenistas e ambientais voltado à valorização<br />

cultural, melhoria da qualidade de vida e<br />

preparação dos índios para se relacionarem<br />

de forma igualitária, esclarecida e autônoma<br />

com a sociedade à sua volta. Criado em 1988,<br />

com duração prevista de 25 anos, reúne 96<br />

colaboradores nas áreas de saúde, educação,<br />

proteção ambiental, apoio à produção, docu-<br />

<strong>corrente</strong> <strong>contínua</strong><br />

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