Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
situar o <strong>Brasil</strong>, com suas particulari<strong>da</strong>des, no âmbito de uma <strong>história</strong> geral. Dizia<br />
<strong>Bomfim</strong> que de na<strong>da</strong> serviria uma <strong>escrita</strong> <strong>da</strong> <strong>história</strong> que só provocasse "indigestão<br />
de erudição para mostrar: como arrotavam os Etruscos, e a que horas se benzia<br />
Camarão..." (1930:53).<br />
<strong>Bomfim</strong> julgava necessário reexaminar o material que sustenta o trabalho<br />
historiográfico, visan<strong>do</strong> “depurar” a tradição que as fontes expressavam. Sobre a<br />
redução <strong>da</strong> <strong>história</strong> à enunciação de fatos e à listagem de nomes, <strong>Bomfim</strong> afirma<br />
que se trata de influência positivista associa<strong>da</strong> à opção de escrever uma <strong>história</strong><br />
“vista de cima”. O autor se posiciona contra uma historiografia “oficializa<strong>da</strong>”, que<br />
reduz a <strong>história</strong> à crônica política ou militar, valorizan<strong>do</strong> personagens que,<br />
“inteiramente ilógicos; surgem como deuses, ou se movem como títeres, porque –<br />
ou não se destacam, quase <strong>do</strong>s acontecimentos, ou são apresenta<strong>do</strong>s como a causa<br />
definitiva deles...”. Pelo contrário o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>história</strong> deveria desenvolver a noção<br />
de que “um homem não cria uma época, mas pode concentrá-la, sen<strong>do</strong> o realiza<strong>do</strong>r<br />
de uma aspiração” (BOMFIM apud ALVES FILHO, 1992:42). Uma <strong>da</strong>s utili<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />
<strong>história</strong> seria, portanto, mostrar em que medi<strong>da</strong> os indivíduos poderiam influir<br />
sobre a “marcha <strong>do</strong>s acontecimentos” e de que forma esses indivíduos seriam<br />
capazes de articular necessi<strong>da</strong>des e aspirações gerais.<br />
Resumi<strong>da</strong>mente, o bom historia<strong>do</strong>r seria aquele capaz de valorizar a<br />
tradição brasileira, enaltecen<strong>do</strong>-a de acor<strong>do</strong> com certo rigor investigativo na busca<br />
<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de. Além disso, esse historia<strong>do</strong>r ideal deveria possuir imaginação,<br />
segurança de conceitos, erudição, lógica e senso crítico, de mo<strong>do</strong> a poder construir<br />
uma <strong>história</strong> afasta<strong>da</strong> de preconceitos. O autor toca no problema <strong>da</strong> narrativa ao<br />
valorizar a “capaci<strong>da</strong>de reconstrutora” ou o “poder evoca<strong>do</strong>r” <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r, cujo<br />
estilo deve ser <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de arte, elegância e leveza, além de algo que o autor define<br />
como um “tom humano”.<br />
No terceiro capítulo de O <strong>Brasil</strong> na <strong>história</strong>, intitula<strong>do</strong> Os que fizeram a<br />
História <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, o autor identifica parte <strong>da</strong> produção historiográfica brasileira que<br />
considerava ilegítima, através de uma crítica aos historia<strong>do</strong>res que responsabiliza<br />
pela deturpação <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>do</strong> país. Seu principal alvo é Francisco A<strong>do</strong>lfo de<br />
Varnhagen (1816-1878), Visconde de Porto Seguro, autor <strong>da</strong> História Geral <strong>do</strong><br />
<strong>Brasil</strong> (1854-1857) e <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Independência (1916), para quem reservou<br />
uma série de adjetivos injuriosos: “historia<strong>do</strong>r mercenário”; o “menos humano <strong>do</strong>s<br />
homens”; “brasileiro de encomen<strong>da</strong>”; “sem bon<strong>da</strong>de”; “patriotismo de convenção”;<br />
16