Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
Manoel Bomfim (1868-1932) e a escrita da história do Brasil
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Bomfim</strong> acreditava que o valor geral <strong>da</strong> <strong>história</strong> seria deturpa<strong>do</strong> na medi<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> valor que ca<strong>da</strong> historia<strong>do</strong>r atribuísse ao seu povo em relação a uma "escala <strong>da</strong><br />
civilização". Deste mo<strong>do</strong>, a <strong>história</strong> ficaria a serviço <strong>da</strong>s civilizações que, num<br />
determina<strong>do</strong> momento, apresentassem um maior "valor ativo de contribuições" na<br />
escala <strong>da</strong> evolução humana. Valor que na<strong>da</strong> mais seria que uma diferença de<br />
poder. Assim, haveria <strong>história</strong>s construí<strong>da</strong>s sob o "julgamento francês" ou a<br />
"presunção germânica", em detrimento <strong>da</strong>quelas que seriam <strong>escrita</strong>s por outros<br />
povos (1930:39-40). Em suas palavras, “a <strong>história</strong> nos responde (...) no critério de<br />
quem a faz, pois que, de fato, ca<strong>da</strong> grupo vê e compreende a civilização de si para<br />
si, e deturpa os apreços gerais, como nas consciências se deturpa a noção de<br />
próprio valor pessoal (...) E aí está – a escolha, que é tu<strong>do</strong>. Verifica<strong>da</strong>s as<br />
condições em que se faz a <strong>história</strong> para o uso universal, cabe a ca<strong>da</strong> povo defender<br />
a própria <strong>história</strong>, num esforço que deve ser proporcional ao valor aparente <strong>da</strong>s<br />
<strong>história</strong>s deturpa<strong>do</strong>ras” (1930:41-42).<br />
<strong>Bomfim</strong> argumenta sobre os usos e funções <strong>da</strong> <strong>história</strong>, não apenas<br />
apontan<strong>do</strong> sua importância enquanto registro <strong>da</strong>s tradições que configuram o<br />
caráter nacional, mas critican<strong>do</strong> a <strong>história</strong> universalizante <strong>escrita</strong> pelas nações<br />
imperialistas. Mais <strong>do</strong> que qualquer instituição concreta, a <strong>história</strong> seria a<br />
depositária <strong>do</strong>s “desejos” e <strong>da</strong>s “realizações”, através <strong>do</strong>s tempos e <strong>da</strong>s classes<br />
sociais. Tais “desejos” e “realizações” representariam, para o autor, um estímulo à<br />
consciência – considera<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mental para a afirmação <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e<br />
implementação <strong>do</strong> futuro. O papel <strong>da</strong> <strong>história</strong> seria construir a consciência <strong>da</strong> nação<br />
sobre si mesma, a partir <strong>do</strong>s fatos coligi<strong>do</strong>s e interpreta<strong>do</strong>s. Por isso ela deveria<br />
ser: “sincera, purifica<strong>da</strong>, vivaz, exata... capaz de orientar, estimular e defender o<br />
desenvolvimento nacional de que participamos, e que se torna ca<strong>da</strong> vez mais<br />
consciente nas aspirações comuns” (1930:37-38).<br />
O caso de <strong>Manoel</strong> <strong>Bomfim</strong>, um autor que não fazia parte <strong>do</strong> “pequeno<br />
mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res” – demarca<strong>do</strong> por ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>centes, exercício <strong>do</strong><br />
jornalismo e, sobretu<strong>do</strong>, pesquisas em arquivos – aju<strong>da</strong> a compreender algumas<br />
<strong>da</strong>s idéias sobre como, porque e por quem a <strong>história</strong> deveria ser <strong>escrita</strong>.<br />
Compara<strong>da</strong>s a outros discursos sobre a <strong>escrita</strong> <strong>da</strong> <strong>história</strong>, suas opiniões podem<br />
aju<strong>da</strong>r a avaliar a existência, em um mesmo perío<strong>do</strong>, de diferentes percepções <strong>do</strong><br />
trabalho historiográfico e, conseqüentemente, de diferentes usos <strong>da</strong> <strong>história</strong>. As<br />
interpretações <strong>do</strong> autor a respeito <strong>da</strong> historiografia e <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res de seu<br />
tempo não podem ser separa<strong>da</strong>s de sua compreensão <strong>da</strong> ciência e <strong>do</strong> fazer político.<br />
18