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A guerra do caju e as relações Moçambique-Ìndia na ... - Lusotopie

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308 Joa<strong>na</strong> LEITE<br />

comerciantes (ibid. : 2).<br />

Seguiram-se negociações que conduziram a uma aproximação <strong>do</strong>s<br />

preços propostos pelos comerciantes e industri<strong>as</strong>, 1 750 meticais/kg e 1 600<br />

meticais/kg, respectivamente. No entanto em fi<strong>na</strong>is de Janeiro, a um mês<br />

<strong>do</strong> fim da campanha, mantinha-se a disputa entre os agentes envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong><br />

comercialização inter<strong>na</strong> da c<strong>as</strong>tanha, com reflexos negativos para a<br />

monetarização daquela oleaginosa <strong>na</strong> província de Nampula. Com efeito<br />

quan<strong>do</strong> a perspectiva era de ultrap<strong>as</strong>sar, finda a campanha 1993-94, <strong>as</strong><br />

40 000 tonelad<strong>as</strong>, até 24 de Janeiro apen<strong>as</strong> tinham si<strong>do</strong> comprad<strong>as</strong> aos<br />

camponeses 32 177 tonelad<strong>as</strong>, preven<strong>do</strong>-se a formação de um excedente de<br />

c<strong>as</strong>tanha por comercializar que, à falta de acor<strong>do</strong> entre os agentes envolvi<strong>do</strong>s<br />

no negócio, ameaçava ficar reti<strong>do</strong> no sector familiar. É neste contexto<br />

que o gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r de Nampula, Alfre<strong>do</strong> Gamito, anuncia a intervenção <strong>do</strong><br />

governo <strong>na</strong> negociação 35.<br />

No entanto « Saranga não consegiu solução », <strong>as</strong>sim noticiava o<br />

MediaFax 7 de Fevereiro de 1994. Com efeito, a mediação <strong>do</strong> secretário de<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Caju não consegue estabelecer a ponte entre os comerciantes e a<br />

indústria. Ambos persistem n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> posições relativamente ao preço da<br />

c<strong>as</strong>tanha necessária ao ab<strong>as</strong>tecimento da Companhia <strong>do</strong> <strong>caju</strong> <strong>do</strong> Mo<strong>na</strong>po.<br />

Assim, de acor<strong>do</strong> com <strong>as</strong> autoridades competentes, d<strong>as</strong> 32 000 tonelad<strong>as</strong><br />

comercializad<strong>as</strong> <strong>na</strong> província de Nampula, apen<strong>as</strong> 3 800 tonelad<strong>as</strong> tinham<br />

si<strong>do</strong> ca<strong>na</strong>lizad<strong>as</strong> para aquela unidade de desc<strong>as</strong>que. De facto tu<strong>do</strong> indicava<br />

que os armazenist<strong>as</strong> retinham a c<strong>as</strong>tanha em armazém, aguardan<strong>do</strong> a<br />

oportunidade de um preço melhor. Por sua vez, aqueles que, no âmbito da<br />

discipli<strong>na</strong> <strong>do</strong> « Aviso » de Novembro de 1993, eram candidatos à exportação<br />

no limite máximo de 5 000 tonelad<strong>as</strong>, esperavam o momento de ser<br />

remunera<strong>do</strong>s por essa opção. Aparentemente, no Norte de <strong>Moçambique</strong>, a<br />

campanha saldava-se pela manutenção <strong>do</strong> braço de ferro entre interesses<br />

<strong>do</strong> comércio e da indústria. Face a esta intransigência e à impotência <strong>do</strong><br />

governo <strong>na</strong> regulação <strong>do</strong> conflito, <strong>as</strong> fontes oficiais apontavam entre 5 e<br />

7 000 tonelad<strong>as</strong> o quantitativo que ameaçava ficar por comercializar finda a<br />

campanha 36.<br />

Tu<strong>do</strong> parecia sugerir que, num contexto de insuficiente monetarização<br />

da c<strong>as</strong>tanha disponibilizada pela economia familiar, cuj<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> se<br />

anunciavam gravos<strong>as</strong> ao nível da repartição <strong>do</strong> rendimento no sector, os<br />

camponeses se apresentavam no fi<strong>na</strong>l como os principais lesa<strong>do</strong>s.<br />

Contu<strong>do</strong>, a existência de tal excedente, ainda que confirma<strong>do</strong> pel<strong>as</strong> entidades<br />

oficiais, seria prontamente questio<strong>na</strong><strong>do</strong> pela indústria. Por um la<strong>do</strong>,<br />

relativamente às aquisições de matéria prima efectuad<strong>as</strong> pelo sector, avançam<br />

quantitativos inferiores (2 750 tonelad<strong>as</strong>) aos que haviam si<strong>do</strong> anteriormente<br />

anuncia<strong>do</strong>s à imprensa aquan<strong>do</strong> da presença em Nampula <strong>do</strong><br />

secretário de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Caju (3 800 tonelad<strong>as</strong>) (Correia 1994a : 3). Por<br />

outro, sugerem que toda a c<strong>as</strong>tanha disponibilizada pela economia familiar<br />

havia si<strong>do</strong> adquirida, engrossan<strong>do</strong> os stocks <strong>do</strong>s grandes comerciantes, que<br />

insistiam em vendê-la a preços especulativos. Afirmava <strong>as</strong>sim Neves<br />

35. « O diferen<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>caju</strong> », MediaFax, 433, 31 de Jan. de 1994 : 2 e 3.<br />

36. « Saranga não conseguiu solução », MediaFax, 437, 7 de Febr. de 1994 : 2. O quantitativo de<br />

c<strong>as</strong>tanha por comercializar <strong>na</strong> campanha de 1993-94 (isto é, de Novembro a Março), da<br />

ordem <strong>do</strong>s 5 a 7 000 tonelad<strong>as</strong>, é confirma<strong>do</strong> por Alfre<strong>do</strong> Gamito em entrevista com o<br />

MediaFax, 465, 17 de Março de 1994 : 3.

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