A guerra do caju e as relações Moçambique-Ìndia na ... - Lusotopie
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310 Joa<strong>na</strong> LEITE<br />
responsáveis <strong>do</strong> grupo Entreposto referem que para além d<strong>as</strong><br />
2 750 tonelad<strong>as</strong> adquirid<strong>as</strong> até ao início de Março de 1994, seriam ainda<br />
necessári<strong>as</strong> 6 500 tonelad<strong>as</strong> para <strong>as</strong>segurar a laboração d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> unidades<br />
de desc<strong>as</strong>que 40. Para além <strong>do</strong> mais, sublinham que estava em jogo não<br />
apen<strong>as</strong> a manutenção <strong>do</strong>s 1 500 postos de trabalho <strong>as</strong>socia<strong>do</strong>s a fábrica <strong>do</strong><br />
Mo<strong>na</strong>po, em funcio<strong>na</strong>mento ininterrupto desde o início <strong>do</strong>s anos 1970, m<strong>as</strong><br />
também a actividade <strong>do</strong>s 750 trabalha<strong>do</strong>res da unidade de desc<strong>as</strong>que de<br />
Angoche bem como a criação de 750 postos de trabalho para laboração <strong>do</strong><br />
novo projecto de Nacala (Correia 1994a : 3).<br />
As estatístic<strong>as</strong> oficiais confirmam a crise anunciada para a indústria.<br />
Com efeito os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> comércio externo (Quadro I.1) <strong>as</strong>si<strong>na</strong>lam, entre<br />
1993 e 1994, uma quebra da ordem 78,6 % nos quantitativos exporta<strong>do</strong>s da<br />
amên<strong>do</strong>a de <strong>caju</strong>. Ou seja um decréscimo da ordem <strong>do</strong>s 72,8 %, <strong>na</strong><br />
valorização exter<strong>na</strong> <strong>do</strong> output da indústria <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, explicada pela<br />
evolução positiva registada <strong>na</strong> cotação da amên<strong>do</strong>a de <strong>caju</strong> no merca<strong>do</strong><br />
mundial (Quadro I.1). É de facto <strong>na</strong> sequência desta campanha que a<br />
economia moçambica<strong>na</strong> regista os níveis mais baixos <strong>na</strong> valorização<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l da sua indústria <strong>do</strong> Caju (600 tonelad<strong>as</strong> no valor 2,5 milhões<br />
de dólares), o pior resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s últimos vinte anos, ou seja uma ruptura<br />
da ordem 97 % relativamente ao quantitativo exporta<strong>do</strong> em 1975 (Quadro<br />
I.1) (e de 99,6 % relativamente a 1974, ano em que se exportaram 24 600<br />
tonelad<strong>as</strong> de amên<strong>do</strong>a) (Leite 1995 : Quadro I).<br />
Sem dúvida que, em 1994, o balanço positivo da economia <strong>do</strong> <strong>caju</strong><br />
deveu-se à expansão <strong>do</strong> fluxo exporta<strong>do</strong>r de c<strong>as</strong>tanha para a Índia 41. Com<br />
efeito, d<strong>as</strong> 29 990 tonelad<strong>as</strong> comercializad<strong>as</strong> durante a campanha 1993-94<br />
(Quadro II), 21 600 tonelad<strong>as</strong> alimentaram <strong>as</strong> receit<strong>as</strong> de exportação <strong>do</strong><br />
território (<strong>na</strong> ordem <strong>do</strong>s 16,9 milhões de <strong>do</strong>lares – Quadro I.3), fazen<strong>do</strong><br />
com que os produtos <strong>do</strong> <strong>caju</strong>eiro no seu conjunto mantivessem a segunda<br />
posição, no computo <strong>do</strong>s principais produtos da economia de exportação<br />
moçambica<strong>na</strong> (ou seja 12,9 % <strong>do</strong> valor total d<strong>as</strong> receit<strong>as</strong> <strong>do</strong> comércio<br />
externo – no mesmo ano o camarão contribuiu com 41,9 % e o algodão com<br />
12,6 % – Quadro IV). De facto, uma vez mais, o ritmo a que se repunha o<br />
circuito inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de c<strong>as</strong>tanha (atingin<strong>do</strong> este ano uma expansão <strong>do</strong>s<br />
quantitativos exporta<strong>do</strong>s da ordem <strong>do</strong>s 127 % relativamente a 1993 –<br />
Quadro I.3) <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> a uma tendência crescente <strong>na</strong> evolução d<strong>as</strong> cotações<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is desta matéria prima (Quadro V - de 689 US$ em 1993 para<br />
697 US$ em 1994 - preços Fob), justificava uma taxa de crescimento d<strong>as</strong><br />
receit<strong>as</strong> de exportação de c<strong>as</strong>tanha (da ordem <strong>do</strong>s 160 %) fortemente<br />
remunera<strong>do</strong>ra em termos <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong>s objectivos de estabilização<br />
fi<strong>na</strong>nceira impostos à debilitada economia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Num momento em que a sociedade moçambica<strong>na</strong> dava os primeiros<br />
p<strong>as</strong>sos no relançamento da economia de merca<strong>do</strong>, perío<strong>do</strong>s difíceis se<br />
40. Isto é, matéria prima necessária ao funcio<strong>na</strong>mento da fábrica <strong>do</strong> Mo<strong>na</strong>po, à reactivação da<br />
fabrica de « Antenes » em Angoche, recentemente adquirida, e ao arranque da laboração da<br />
fábrica de Nacala, previsto para Agosto desse mesmo ano (CORREIA 1994a : 3). Note-se que o<br />
déficit no aprovisio<strong>na</strong>mento em matéria prima d<strong>as</strong> unidades de desc<strong>as</strong>que levou o grupo<br />
Entreposto a não realizar, <strong>na</strong> sequência da campanha 1993-94, o seu projecto de exportação<br />
de 5 000 tonelad<strong>as</strong> de c<strong>as</strong>tanha. Em entrevista concedida ao MediaFax, em Março de 1994,<br />
um <strong>do</strong>s responsáveis <strong>do</strong> grupo esclarecerá que « A Samo terá si<strong>do</strong> autorizada <strong>na</strong> campanha<br />
em curso a exportar 1 000 tonelad<strong>as</strong>… Não <strong>as</strong> exportou, porém, nem exportará, devi<strong>do</strong> à<br />
situação da indústria...» (in « Entrevista com Neves Correia », op. cit. : 3).<br />
41. Tal como no ano transacto, os baixos níveis de laboração da indústria de desc<strong>as</strong>que não<br />
geraram um output de óleo (CNSL) que aliment<strong>as</strong>se a exportação (Quadro II.2).