A guerra do caju e as relações Moçambique-Ìndia na ... - Lusotopie
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314 Joa<strong>na</strong> LEITE<br />
diferentes actores <strong>as</strong>socia<strong>do</strong>s ao meio <strong>do</strong> <strong>caju</strong> sobre <strong>as</strong> teses veicula<strong>do</strong>s pelo<br />
estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco mundial.<br />
É interessante notar que os exporta<strong>do</strong>res, ainda que consider<strong>as</strong>sem que,<br />
« Falan<strong>do</strong> estritamente em termos de retenção de divis<strong>as</strong> dentro <strong>do</strong> país e<br />
receit<strong>as</strong> para o orçamento geral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a ideia da liberalização total d<strong>as</strong><br />
exportações da c<strong>as</strong>tanha é difícil de contrapor », entendiam no entanto que<br />
« o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> BM é muito vago quanto ao ganho <strong>do</strong>s exporta<strong>do</strong>res »,<br />
admitin<strong>do</strong> existir « um ganho substancial m<strong>as</strong> […], não o ganho<br />
<strong>as</strong>tronómico sugeri<strong>do</strong> » 51.<br />
Por seu turno fontes ligad<strong>as</strong> à Acia<strong>na</strong>, <strong>as</strong>sociação reunin<strong>do</strong> interesses da<br />
agricultura, comércio e indústria, ao apelarem para a necessidade de uma<br />
maior intervenção <strong>do</strong> governo <strong>na</strong> mediação <strong>do</strong>s conflitos no seio da sector,<br />
sublinham ainda a importância d<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociações profissio<strong>na</strong>is no esforço de<br />
concertação entre <strong>as</strong> partes. Sabe-se, no entanto, que aquel<strong>as</strong> <strong>na</strong>da haviam<br />
manifesta<strong>do</strong> acerca da opção de desindustrialização avançada pelo BM.<br />
Também o representante <strong>do</strong> grupo João Ferreira <strong>do</strong>s Santos, um exporta<strong>do</strong>r<br />
com interesses recentes <strong>na</strong> indústria, contor<strong>na</strong>va a sua tomada de posição<br />
ao<br />
afirmar que « A grande questão não é comércio ou indústria, m<strong>as</strong> sim como<br />
aumentar o <strong>caju</strong>al » 52.<br />
Já Alfre<strong>do</strong> Gamito, representante <strong>do</strong> governo com responsabilidades<br />
históric<strong>as</strong> no sector de <strong>caju</strong> em <strong>Moçambique</strong>, reagia de forma vigorosa, <strong>na</strong><br />
colu<strong>na</strong> de opinião <strong>do</strong> MediaFax de 11 de Novembro, ao que ele considerava<br />
ser « uma monstruosidade » : « paralisar <strong>as</strong> fábric<strong>as</strong>, esterilizan<strong>do</strong> os investimentos<br />
já feitos e desincentivan<strong>do</strong> novos investimentos para a implementação<br />
de nov<strong>as</strong> fábric<strong>as</strong> é, de facto, uma monstruosidade. Será conde<strong>na</strong>r<br />
<strong>Moçambique</strong> a produtor de matéria prima » (Gamito 1994 : 4).<br />
A opinião mais estruturada foi, <strong>na</strong>turalmente, aquela que os representantes<br />
da indústria <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l transmitiram a Carlos Car<strong>do</strong>so. O seu comentário,<br />
ao denunciar a acção de um lobby indiano que no Banco mundial agia<br />
com o objectivo de reter para Índia o qu<strong>as</strong>e monopólio mundial da<br />
produção de amên<strong>do</strong>a, rebate em diferentes pontos a análise apresentada.<br />
No que respeita a um <strong>do</strong>s elementos centrais da argumentação <strong>do</strong> BM, a<br />
questão da influência <strong>do</strong>s preços pagos ao produtor <strong>na</strong> quantidade de<br />
c<strong>as</strong>tanha produzida, entendem que a principal razão « tem mais a ver com<br />
a <strong>guerra</strong> <strong>do</strong> que com os preços. E tem a ver com outro factor de fun<strong>do</strong> : não<br />
há fomento real da produção de <strong>caju</strong> por parte <strong>do</strong> governo » 53.<br />
Fi<strong>na</strong>lmente, também o Sindicato <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>caju</strong> se<br />
opunha à liberalização d<strong>as</strong> exportações de c<strong>as</strong>tanha. Interroga<strong>do</strong> pelo<br />
MediaFax sobre a proposta <strong>do</strong> Banco, Boaventura Mondlane, secretário<br />
geral <strong>do</strong> Sindicato <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res da indústria <strong>do</strong> <strong>caju</strong> (Sintinc),<br />
relembrava que a execução de tal política ameaçaria o emprego de cerca de<br />
10 000 trabalha<strong>do</strong>res. Aproveitava ainda para sublinhar que a ausência de<br />
51. Ibid. : 2. Recordamos que apen<strong>as</strong> cinco exporta<strong>do</strong>res realizaram o escoamento para a Índia<br />
d<strong>as</strong> 21 600 tonelad<strong>as</strong> de c<strong>as</strong>tanha comercializada durante a campanha 1993-94 (Quadro VI).<br />
52. Ibid. : 3.<br />
53. In « Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco mundial (3) », MediaFax, 10 de Nov. de 1994 : 2-3. Aliás, conhece<strong>do</strong>r da<br />
versão integral da análise sobre <strong>caju</strong>, que julgamos ter inspira<strong>do</strong> a síntese incorporada no<br />
referi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> BM, prepara<strong>do</strong> para a reunião <strong>do</strong> Grupo consultivo de Paris de 1995, a<br />
AICaju preparava-se já para produzir uma « Contestação <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco mundial ».<br />
Com efeito uma primeira versão de « C<strong>as</strong>hew pricing and marketing in Mozambique »,<br />
texto da autoria de Hilmar Hilmarsson, era já conhecida em Novembro de 1994.