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A guerra do caju e as relações Moçambique-Ìndia na ... - Lusotopie

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312 Joa<strong>na</strong> LEITE<br />

merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>caju</strong> foi <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> por um esc<strong>as</strong>so número de comerciantes<br />

grossist<strong>as</strong>. Deste facto resulta uma redução <strong>do</strong>s rendimentos <strong>do</strong>s<br />

produtores e um encorajamento à reabilitação de industriais de capital<br />

intensivo, ineficientes, o que compromete o crescimento potencial <strong>do</strong> sector<br />

exporta<strong>do</strong>r » 44.<br />

Rapidamente surgiram <strong>as</strong> reacções a tal diagnóstico, algum<strong>as</strong> del<strong>as</strong><br />

veiculad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> <strong>do</strong> mesmo jor<strong>na</strong>l que ousara divulgar tal vaticínio.<br />

De facto, como <strong>na</strong> altura se sublinhava : « O Banco mundial parece<br />

partilhar a opinião daqueles sectores económicos que acham que o país<br />

devia exportar c<strong>as</strong>tanha em bruto em vez de tentar continuar a ser<br />

exporta<strong>do</strong>r de amên<strong>do</strong>a » 45. Certamente que Carlos Car<strong>do</strong>so, então editor<br />

<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l MediaFax, longe estava de prever a importância <strong>do</strong> impacto que<br />

esta sua intervenção viria a <strong>as</strong>sumir no desenvolvimento futuro <strong>do</strong> debate<br />

em torno da questão <strong>do</strong> <strong>caju</strong> em <strong>Moçambique</strong>.<br />

Note-se que o despertar desta polémica surgia num momento em que,<br />

no contexto <strong>do</strong> arranque da campanha 1994-95, os comerciantes industriais<br />

tinham chega<strong>do</strong> a acor<strong>do</strong> quanto ao preço da c<strong>as</strong>tanha à porta da fábrica<br />

(2 800 meticais/kg) e quan<strong>do</strong> oficialmente se estabelecera já o preço mínimo<br />

ao produtor (1 500 meticais/kg) (Quadros II e V).<br />

Na realidade, <strong>as</strong> negociações haviam-se inicia<strong>do</strong> em fi<strong>na</strong>is de Agosto<br />

com a mediação <strong>do</strong> gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r de Nampula. Na altura, os industriais<br />

partiam para o debate em confrontação directa ao governo. Argumentavam<br />

que <strong>Moçambique</strong>, da<strong>do</strong> o peso da produção <strong>do</strong> <strong>caju</strong> <strong>na</strong> sua economia, « não<br />

poderia limitar-se a entregar às forç<strong>as</strong> de merca<strong>do</strong> a solução de to<strong>do</strong>s os<br />

problem<strong>as</strong> relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com o <strong>caju</strong>, recusan<strong>do</strong>-se <strong>as</strong>sim a <strong>as</strong>sumir uma<br />

política industrial para o sector » (Companhia de <strong>Moçambique</strong> 1994 : 1).<br />

Manifestavam <strong>as</strong>sim a sua apreensão quanto ao futuro, c<strong>as</strong>o se<br />

verific<strong>as</strong>sem, <strong>na</strong> campanha que então se preparava, <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> dificuldades<br />

de ab<strong>as</strong>tecimento à indústria que haviam ocorri<strong>do</strong> em 1993-94. Da<strong>do</strong> que<br />

apen<strong>as</strong> <strong>as</strong> necessidades em matéria prima d<strong>as</strong> três fábric<strong>as</strong> <strong>do</strong> grupo<br />

Entreposto <strong>as</strong>cendiam <strong>as</strong> 16 000 tonelad<strong>as</strong>, e que outr<strong>as</strong> unidades,<br />

nomeadamente em consequência <strong>do</strong> processo de privatização ou de<br />

mudança de propriedade, em breve entrariam em laboração, a repetição da<br />

situação anterior punha de facto « em causa os postos de trabalho de toda a<br />

indústria <strong>do</strong> <strong>caju</strong> »46. Assim, a indústria não só reivindicava a publicação<br />

urgente <strong>do</strong> regulamento <strong>do</strong> <strong>caju</strong>, há muito prometi<strong>do</strong>, « contemplan<strong>do</strong> a<br />

salvaguarda de to<strong>do</strong>s os interesses legítimos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com o <strong>caju</strong>, desde<br />

a sua apanha até à exportação, quer da amên<strong>do</strong>a, quer da própria<br />

44. In « Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco mundial (3). Exportem toda a c<strong>as</strong>tanha, diz o banco. Não é bem <strong>as</strong>sim<br />

diz a indústria », MediaFax, 630, 10 de Nov. de 1994 : 1. Fr<strong>as</strong>e <strong>do</strong> Banco citada pelo MediaFax.<br />

45. Ibid.<br />

46. Ango<strong>caju</strong>, antiga de Angoche 1, integrada <strong>na</strong> Caju industrial EE, foi privatizada p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> a<br />

pertencer à E<strong>na</strong>como e à Gani comercial. Entravam também em funcio<strong>na</strong>mento a fabrica de<br />

<strong>caju</strong> Geba (João Ferreira <strong>do</strong>s Santos), e a Indu<strong>caju</strong> <strong>do</strong> Lumbo (AGT/Gani). To<strong>do</strong> este<br />

processo alargava <strong>as</strong> necessidades de inputs a 20 000 tonel<strong>as</strong> (Companhia de <strong>Moçambique</strong><br />

1995 : 2). Note-se que no Sul <strong>do</strong> país, a Anglo American Corporation obtinha a 31 de Agosto<br />

de 1994, após uma longa negociação, o controlo da fábrica Mocita, que nos últimos anos<br />

havia esta<strong>do</strong> sobre a gestão da Caju de <strong>Moçambique</strong> EE. Necessitan<strong>do</strong> de uma profunda<br />

reconversão tecnológica, não se previa relançamento próximo da sua actividade. No entanto<br />

<strong>as</strong> previsões apontam para uma capacidade de laboração de 6 a 8 000 tonelad<strong>as</strong>/ ano, sen<strong>do</strong><br />

o ab<strong>as</strong>tecimento em c<strong>as</strong>tanha feito junto aos comerciantes de Gaza e Inhambane. Mais<br />

delica<strong>do</strong> era o destino <strong>do</strong>s 754 trabalha<strong>do</strong>res, com salários em atr<strong>as</strong>o, que integravam a<br />

empresa à data da referida transferência de propriedade (« C<strong>as</strong>o Mocita resolvi<strong>do</strong> »,<br />

MediaFax, 584, 1 de Sep. de 1999).

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