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LITERATURA – Profª Ana Cristina R. Pereira 2ª Série do Ensino Médio

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A partir de uma educação sofisticada para o meio em que vive, Pombinha,<br />

"a flor <strong>do</strong> cortiço", é uma das poucas personagens femininas que conseguem<br />

refletir sobre sua própria condição. Impedida, no início, de casar por não estar<br />

fisicamente apta e, depois, incapaz de submeter-se a uma vida familiar<br />

insuportável, acaba por adquirir uma visão, até certo ponto, crítica <strong>do</strong> meio em<br />

que vive e <strong>do</strong> futuro que no mesmo lhe está reserva<strong>do</strong>. Prostituir-se significa<br />

até certo ponto, para ela, revoltar-se contra as condições impostas pelo meio<br />

em que vive. A beleza é a arma que lhe permite trilhar outros caminhos que<br />

não os delimita<strong>do</strong>s pelo espaço social <strong>do</strong> cortiço.<br />

Depois da chegada de sua menstruação, Pombinha desenvolve sua “alma<br />

enfermiça e aleijada”, viven<strong>do</strong> uma rápida experiência homossexual com a<br />

prostituta (e madrinha) Léonie e depois se casan<strong>do</strong> com um rapaz que ela já<br />

não ama. Trai várias vezes o mari<strong>do</strong>, mas só encontra seu destino quan<strong>do</strong> vai<br />

viver definitivamente com Léonie e deixa-se levar sem remorsos para a<br />

prostituição:<br />

“Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se tão perfeita no<br />

ofício como a outra; a sua infeliz inteligência, nascida e criada no modesto lo<strong>do</strong><br />

da estalagem, medrou logo admiravelmente na lama forte <strong>do</strong>s vícios de largo<br />

fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar to<strong>do</strong>s os segre<strong>do</strong>s daquela<br />

vida.”<br />

Assim, se alguém escapa da corrupção <strong>do</strong> meio, naufraga, a seguir, na<br />

corrupção de sua própria animalidade. O reducionismo biológico da estética<br />

naturalista transforma to<strong>do</strong> ser humano em um animal. É o substrato comum<br />

que unifica os homens. Como diz Antonio Candi<strong>do</strong>, “há uma tendência a<br />

conceber a vida como a soma das atividades <strong>do</strong> sexo e da nutrição, sem outras<br />

esferas significantes”.<br />

Enfim, a pressão rasteira da animalidade manifesta-se no dia-a-dia <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cortiço, os quais parecem viver tão-somente para atender as<br />

suas necessidades primárias: beber, comer, <strong>do</strong>rmir, fazer sexo, brigar e<br />

divertir-se como bichos. Os que aspiram a algo mais são implacavelmente<br />

leva<strong>do</strong>s à perversão, a exemplo de Pombinha e Jerônimo.

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