16.04.2013 Views

figurações do feminino em frei luís de sousa de almeida garrett

figurações do feminino em frei luís de sousa de almeida garrett

figurações do feminino em frei luís de sousa de almeida garrett

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

FIGURAÇÕES DO FEMININO EM FREI LUÍS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRETT<br />

Lugares <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> Frei Luís <strong>de</strong> Sousa<br />

Posto isto, creio que <strong>do</strong>is aspectos relativos à representação <strong>do</strong> género <strong>f<strong>em</strong>inino</strong><br />

e da mulher no texto <strong>em</strong> análise merec<strong>em</strong> alguma atenção. Por um la<strong>do</strong>, a projecção<br />

<strong>do</strong> paradigma romântico sobre o t<strong>em</strong>po histórico da ficção, na caracterização das<br />

figuras f<strong>em</strong>ininas e das relações que estabelec<strong>em</strong> com as figuras masculinas (D.<br />

Sebastião, D. João <strong>de</strong> Portugal, Telmo Pais, Manuel <strong>de</strong> Sousa Coutinho, Frei Jorge),<br />

<strong>do</strong>minantes, note-se, na acção dramática. Por outro, a existência <strong>de</strong> duas figuras –<br />

Maria e Telmo - nas quais po<strong>de</strong> ser lida a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dissociação entre sexo<br />

e género.<br />

São quatro as representantes <strong>do</strong> sexo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> no texto <strong>de</strong> Garrett: D. Madalena,<br />

Maria <strong>de</strong> Vilhena, Doroteia e Joana <strong>de</strong> Castro, con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Vimioso. Em cada uma<br />

<strong>de</strong>las, se b<strong>em</strong> que diversamente, irá Garrett inscrever a diferença f<strong>em</strong>inina face a um<br />

universo masculino on<strong>de</strong> o papel da mulher surge circunscrito pela família e pela<br />

religião e confina<strong>do</strong> ao espaço da casa.<br />

D. Madalena <strong>de</strong> Vilhena, esposa, viúva e mãe<br />

Quan<strong>do</strong> a acção começa, D. Madalena está no “quarto <strong>de</strong> lavor”, uma sala que<br />

comunica com o interior e o exterior da casa. Lugar teatral, por excelência, on<strong>de</strong> as<br />

figuras da casa e as <strong>de</strong> fora verosimilmente se encontram: não d<strong>em</strong>asia<strong>do</strong> público,<br />

não completamente priva<strong>do</strong>. Está entregue à leitura <strong>de</strong> um livro que, no dizer <strong>de</strong><br />

Telmo Pais, o seu escu<strong>de</strong>iro velho, é “para damas - e para cavaleiros...e para to<strong>do</strong>s” 14 .<br />

Os Lusíadas surge como leitura a<strong>de</strong>quada, e a par <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> tapeçaria, nas<br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta senhora nobre. Mais tar<strong>de</strong>, na acção, o facto <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>ste<br />

espaço, que <strong>do</strong>mina, para um outro marca<strong>do</strong> pela m<strong>em</strong>ória <strong>do</strong> seu primeiro mari<strong>do</strong>,<br />

será habilmente explora<strong>do</strong> por Garrett para amplificar a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da<br />

personag<strong>em</strong>. Pela primeira vez, diz D. Madalena (“eu nunca me opus ao teu querer,<br />

nunca soube que coisa era ter outra vonta<strong>de</strong> diferente da tua”, I acto, cena VIII ), o<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>do</strong> casal se autonomiza. Através da recusa <strong>em</strong> regressar à antiga<br />

casa, a “natural” passivida<strong>de</strong> da mulher perante as <strong>de</strong>cisões unilaterais tomadas pelo<br />

chefe <strong>de</strong> família (“estou pronta a obe<strong>de</strong>cer-te s<strong>em</strong>pre, cegamente <strong>em</strong> tu<strong>do</strong>.” I acto,<br />

cena VIII), é questionada <strong>de</strong> forma eloquente, sobretu<strong>do</strong> se tivermos <strong>em</strong> conta que o<br />

14 As citações serão feitas a partir da edição <strong>de</strong> Frei Luís <strong>de</strong> Sousa, prefácio <strong>de</strong> António Mega Ferreira, Lisboa,<br />

Texto Editora, col. Clássicos li<strong>do</strong>s por cont<strong>em</strong>porâneos, 2004.<br />

38 DISCURSOS. SÉRIE: ESTUDOS PORTUGUESES E COMPARADOS<br />

© Universida<strong>de</strong> Aberta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!