Formas da Apresentação: da exposição à ... - ppgav
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Revista PALÍNDROMO 2<br />
FERVENZA, Hélio.<br />
Ao longo <strong>da</strong>s páginas do livro acima citado, podemos acompanhar a serie de<br />
mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s na arte em relação ao uso e ao estatuto desse espaço, sua<br />
incorporação pelas práticas artísticas ou os impasses produzidos diante destas. O que<br />
essas práticas nos mostram é que a <strong>exposição</strong> e seu espaço não são “neutros”, nem<br />
dizem respeito a aspectos puramente técnicos, nem são um simples espaço de<br />
recepção de objetos “autônomos”, de por si sós detentores de valor artístico sem<br />
relação com esse espaço. O que essas práticas nos mostram é que a <strong>exposição</strong> é um<br />
meio, conotado historicamente, ideologicamente, socialmente. A arte <strong>da</strong> <strong>exposição</strong> é a<br />
percepção <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de de atuação desse meio na visuali<strong>da</strong>de e na concepção <strong>da</strong><br />
arte.<br />
Marcel Duchamp, com seus ready-mades, realizou, de uma certa forma, a<br />
demonstração desse funcionamento:<br />
Em 1913, Duchamp apresenta os primeiros ready-mades, Ro<strong>da</strong> de<br />
bicicleta; anos depois, em 1917, Fonte, no Salão dos Independentes<br />
de Nova York. Ele deixou o terreno estético propriamente dito, o ‘feito<br />
<strong>à</strong> mão’. Não mais a habili<strong>da</strong>de, não mais o estilo – apenas ‘signos’,<br />
ou seja, um sistema de indicadores que delimitam os locais. Expondo<br />
objetos ‘prontos’, já existentes e em geral utilizados na vi<strong>da</strong> cotidiana,<br />
como a bicicleta ou o mictório batizado de fontaine [fonte], ele faz<br />
notar que apenas o lugar de <strong>exposição</strong> torna esses objetos obras de<br />
arte. É ele que dá o valor estético de um objeto, por menos estético<br />
que seja. É justamente o continente que concede o peso artístico:<br />
galeria, salão, museu. Ou, ain<strong>da</strong>, textos, jornais, notas,<br />
publicações... 19 .<br />
Nas atuais circunstâncias, tanto os operadores <strong>da</strong> visão de arte, dos quais nos fala<br />
Lyotard, quanto os sistemas de indicadores ou de signos (funcionando em rede),<br />
citados por Cauquelin, adquiriram uma importância excepcional. Mas o espaço de<br />
<strong>exposição</strong> não continuaria a ser fun<strong>da</strong>mental, sendo o modelo a partir do qual surgem<br />
e se articulam esses operadores e redes? Assim, não poderíamos considerar o<br />
espaço de <strong>exposição</strong> como paradigma <strong>da</strong> apresentação e <strong>da</strong> recepção nas artes<br />
plásticas? Ao se configurar esse espaço, não se produziria também uma concepção<br />
<strong>da</strong> arte? Dito de outro modo, as concepções <strong>da</strong> arte não estariam diretamente<br />
relaciona<strong>da</strong>s <strong>à</strong>s suas formas de apresentação?<br />
19 CAUQUELIN, op. cit. p. 93-94.<br />
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