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Formas da Apresentação: da exposição à ... - ppgav

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Revista PALÍNDROMO 2<br />

FERVENZA, Hélio.<br />

Gostaria também, neste momento, de aproximar outras experiências já históricas,<br />

como as do grupo Fluxus, que tenho observado ao longo <strong>da</strong> atual pesquisa. Entre<br />

muitos aspectos, interessou-me a abor<strong>da</strong>gem que faz de suas práticas o filósofo<br />

Arthur Danto. Escrevendo sobre a época na qual surgiram as ativi<strong>da</strong>des do Fluxus,<br />

nos diz ele:<br />

E mais adiante acrescenta:<br />

O lugar-comum <strong>da</strong> experiência cotidiana tinha começado a passar por<br />

um tipo de transfiguração na consciência artística. Surgia a idéia de<br />

que na<strong>da</strong> externo faria distinguir uma obra de arte dos objetos ou<br />

eventos mais comuns – que uma <strong>da</strong>nça pode consistir em na<strong>da</strong> mais<br />

extraordinário que ficar imóvel; que qualquer coisa que alguém escute<br />

poderia ser música – até o silêncio. A mais comum <strong>da</strong>s caixas de<br />

madeira, um carretel de linha de varal, uma tela de arame, uma fila de<br />

tijolos, poderia ser uma escultura. (...) A qualquer momento que o<br />

clima permitisse, um grupo se reuniria para apresentar o Winter Carol<br />

(Cântico de Natal) de Dick Higgins (1959), escutando a neve cair por<br />

um período de tempo preestabelecido. O que poderia ser mais<br />

mágico?” 33 .<br />

“Fluxus não demonstrou que nenhuma definição de arte poderia ser<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>. Ele demonstrou que qualquer definição existente deveria li<strong>da</strong>r<br />

com esses objetos e ações pouco atraentes. Maciunas cita com<br />

considerável satisfação uma apresentação Fluxus de George Brecht<br />

na qual ele ligava e desligava uma luz. ‘Essa é a peça. Ligar a luz e<br />

depois desligá-la. Você faz isso todos os dias, não faz? ’ 34 .<br />

Identifico em muitas dessas criações Fluxus a noção de autoapresentação, pois elas<br />

não visavam necessariamente a uma apresentação como <strong>exposição</strong> (observador<br />

externo), e, por outro lado, enfatizavam os processos propositivos, a realização de<br />

ações, de relação e de envolvimento como criação e vivência artística, que<br />

encontramos, por exemplo, nos Events de George Brecht. Na autoapresentação,<br />

encontramos segui<strong>da</strong>mente um exercício e uma ênfase no olhar que transforma a<br />

percepção, o sentido e o pensamento sobre as coisas. Pareceria que vemos o<br />

surgimento e a abertura do sentido. Noutras vezes, encontramos uma inter-relação<br />

entre olhar e fazer e a percepção disso como ato artístico. A possibili<strong>da</strong>de do olhar<br />

seria inseparável do fazer o objeto desse olhar, ou do fazer a experiência do fazer<br />

para esse olhar. Nessas ativi<strong>da</strong>des e produções, se enfatiza também o uso de<br />

situações ou materiais não-pertencentes em princípio ao campo <strong>da</strong> arte, <strong>à</strong>s suas<br />

práticas ou <strong>à</strong>s suas tradições, o que levanta questões sobre a natureza <strong>da</strong> arte e seus<br />

limites.<br />

33 DANTO, Arthur. O Mundo como Armazém: Fluxus e Filosofia. In: HENDRICKS, Jon (Org.). O<br />

que é Fluxus? O que não é! O porquê. Brasília, Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 24.<br />

34 Id. ibid. p. 26.<br />

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