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Semiedu 2009 - Instituto de Educação/UFMT

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RELATOS, PRÁTICAS E ESTUDOS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA<br />

RESUMO<br />

Izolda Strentzke<br />

Professora Formadora do CEFAPRO/Cbá<br />

izoldacba@gmail.com<br />

Eliane Ap. Martins <strong>de</strong> Almeida<br />

Professora Formadora do CEFAPRO/Cbá<br />

lianymartins@yahoo.com.br<br />

No Mato Grosso, o paradigma que ainda norteia o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem em<br />

nossas escolas continua centrado na aquisição <strong>de</strong> conteúdos. Busca-se neste relato <strong>de</strong>stacar<br />

as idéias dos professores frente a atualização e a transposição didática das aulas presenciais<br />

do curso Práticas Pedagógicas <strong>de</strong> Matemática. De acordo com o relato <strong>de</strong> experiências os<br />

mesmos confundiam as idéias e procedimentos dos algoritmos das operações,<br />

<strong>de</strong>senvolviam a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma mecânica seguindo apenas mo<strong>de</strong>los, não conseguindo<br />

perceber que existem formas diferenciadas <strong>de</strong> se chegar à solução. A reflexão critica sobre<br />

a prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula auxiliou os professores nas mudanças <strong>de</strong> suas concepções<br />

metodológicas frente ao como ensinar. Também observamos que passaram a perceber a<br />

importância do trabalho cooperativo e colaborativo.<br />

Palavras-chave: <strong>Educação</strong> Continuada, <strong>Educação</strong> Matemática, Professores reflexivos.<br />

Introdução<br />

No Brasil, o paradigma que ainda norteia o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem em<br />

nossas escolas continua centrado na aquisição <strong>de</strong> conteúdos. O professor é que possui o<br />

papel <strong>de</strong> transmissor e único <strong>de</strong>tentor do conhecimento. Busca-se neste relato <strong>de</strong>stacar as<br />

idéias dos professores frente a atualização e a transposição didática que é apresentada no<br />

socializando das aulas presenciais do curso Práticas Pedagógicas realizado no CEFAPRO<br />

<strong>de</strong> Cuiabá no <strong>de</strong>correr do primeiro semestre <strong>de</strong> 2008, que teve como uma das finalida<strong>de</strong>s<br />

colaborar para a transformação da educação à luz <strong>de</strong> um novo olhar levando em<br />

1


consi<strong>de</strong>ração os princípios da UNESCO: apren<strong>de</strong>r a ser, apren<strong>de</strong>r a fazer, apren<strong>de</strong>r a<br />

apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>r a conviver, na busca <strong>de</strong> uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

Esta formação apresenta o professor como elemento chave na organização das<br />

situações <strong>de</strong> aprendizagem, estimulando a articulação entre saberes e competências, em que<br />

o sujeito é o aluno. Ainda enfatiza o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações que propiciem uma<br />

constante retomada dos conhecimentos com os quais trabalha, refletindo sobre sua prática e<br />

ampliando seus conhecimentos.<br />

Paulo Freire (1996, p. 43), afirma que “pensando criticamente a pratica <strong>de</strong> hoje ou<br />

<strong>de</strong> ontem é que se po<strong>de</strong> melhorar a próxima prática”.<br />

O grupo <strong>de</strong> formadores do CEFAPRO <strong>de</strong> Cuiabá <strong>de</strong> matemática tem como objetivo<br />

contribuir para a reflexão do ensino/aprendizagem e a elevação da motivação dos<br />

professores em mudarem suas concepções metodológicas frente ao como ensinar, bem<br />

como enfatizar a importância do trabalho cooperativo e colaborativo.<br />

Dinâmica da formação<br />

Os encontros presenciais são <strong>de</strong>senvolvidos em forma <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong> reflexão e<br />

manipulação <strong>de</strong> material para <strong>de</strong>monstrar conceitos presentes nas operações com Números<br />

Naturais seguida <strong>de</strong> discussões com a mediação do formador quando necessário.<br />

O momento socializando é o instante em que o professor fala <strong>de</strong> sua prática e<br />

efetivamente compreen<strong>de</strong> seu trabalho e relata as experiências <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />

em sala <strong>de</strong> aula.<br />

O cursista é avaliado pela participação nos encontros (discussão sobre os temas,<br />

dúvidas, grupos <strong>de</strong> trabalho); e os <strong>de</strong>poimentos referentes à transposição didática dos<br />

assuntos trabalhados e registrados em Portfólio.<br />

Mudanças Observadas ao Longo da Formação<br />

De acordo com o relato <strong>de</strong> experiências do grupo em enten<strong>de</strong>r os conceitos básicos<br />

matemáticos envolvidos nas operações fundamentais, uma das dificulda<strong>de</strong>s está relacionada<br />

aos conteúdos que são trabalhados separadamente sem estabelecer conexões entre as<br />

operações.<br />

Ainda observamos que os mesmos confundiam as idéias e procedimentos dos<br />

algoritmos das operações, <strong>de</strong>senvolviam a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma mecânica seguindo apenas<br />

2


mo<strong>de</strong>los, não conseguindo perceber que existem formas diferenciadas <strong>de</strong> se chegar à<br />

solução. Dessa forma argumentaram que os alunos também passavam pelo mesmo<br />

processo: não entendiam os procedimentos apresentados.<br />

Adição e subtração com Números Naturais.<br />

As idéias da adição e subtração precisam ser vistas numa perspectiva <strong>de</strong> tratamento<br />

integrado, tendo como contexto a resolução <strong>de</strong> problemas e como suporte a experiência em<br />

situações reais e concretas com pequenas quantida<strong>de</strong>s, com a contagem ou ainda com a<br />

sobrecontagem.<br />

No <strong>de</strong>correr das ativida<strong>de</strong>s abordamos problemas em situações aditivas e subtrativas<br />

ao mesmo tempo em que trabalhamos a construção do significado do número natural, sem<br />

se preocupar com o registro, porém dando ênfase as idéias veiculadas por esses problemas.<br />

O importante a ser trabalhado nesse tipo <strong>de</strong> situação não é apenas o algoritmo, mas sim dar<br />

oportunida<strong>de</strong>s aos professores para vivenciarem e perceberem a resolução <strong>de</strong> situações<br />

problema através <strong>de</strong> material manipulativo (dinheirinho, material dourado, carrinho, palitos<br />

e etc.). A partir disso, observarem a importância <strong>de</strong> utilizar o material manipulativo para<br />

compreensão do conceito, visualização da idéia central do problema, elaboração <strong>de</strong><br />

estratégias próprias, o respeito às regras, a socialização e a comunicação com os colegas.<br />

Porém, alerta Bittar (2005) <strong>de</strong>vem ser tomados alguns cuidados para evitar o uso<br />

ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>sses materiais e também é importante observar que o uso <strong>de</strong> material<br />

manipulativo não dispensa em modo algum a passagem para o abstrato.<br />

E essas ativida<strong>de</strong>s realizadas com material manipulativo <strong>de</strong>vem subsidiar a<br />

construção dos conceitos abstratos, contanto que ao usar um material para ensinar o<br />

conceito <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> base <strong>de</strong>z, à medida que são efetuadas trocas com o material <strong>de</strong>vem-<br />

se representar essas trocas em linguagem matemática. Segundo Bittar “o uso do material<br />

concreto <strong>de</strong>ve permitir, entre outras coisas, que o aluno construa conhecimentos que<br />

precisam, muitas vezes, ser aplicadas em situações que exigem abstração” (Bittar, 2005 -p.<br />

29).<br />

Foram propostos aos cursistas os seguintes problemas:<br />

1. Numa caixa há três maçãs, quantas maçãs tenho que colocar na caixa para que<br />

ela fique com 5 maçãs? (TP3 – GESTAR I) - idéia aditiva.<br />

3


2. Margarida tem 8 bolachas para comer na escola, ao voltar para casa, verificou<br />

que ainda tinha 3 bolachas. Quantas bolachas Margarida comeu na escola?(TP3-GESTAR<br />

I) – idéia subtrativa.<br />

Em seguida solicitamos que os cursistas elaborassem problemas envolvendo as<br />

idéias aditivas e subtrativas para seus alunos. Esses encontraram dificulda<strong>de</strong>s na criação<br />

<strong>de</strong>sses problemas, principalmente no contexto da realida<strong>de</strong> dos alunos, conseguindo apenas<br />

seguir os mo<strong>de</strong>los propostos até então, mudando apenas os nomes dos personagens ou<br />

valores.<br />

Vale ressaltar então que, após a análise, ficou claro que um dos maiores <strong>de</strong>safios<br />

para o professor é criar situações-problema que sejam significativas para o aluno. É<br />

necessário investigar os conhecimentos prévios dos alunos, eles precisam manifestar suas<br />

dúvidas para que esses dados sirvam como subsídio para o planejamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

matemáticas interessantes.<br />

Multiplicação e Divisão com Números Naturais.<br />

Após <strong>de</strong>senvolver a etapa da formação sobre as idéias aditivas e subtrativas, foram<br />

propostas situações contextualizadas envolvendo as idéias multiplicativas. Na maioria das<br />

escolas em que os participantes da formação trabalham, a multiplicação é vista somente<br />

como adição <strong>de</strong> parcelas iguais. Esse fato foi constatado com base nas discussões e<br />

ativida<strong>de</strong>s propostas sobre o assunto, pois parte <strong>de</strong>les <strong>de</strong>sconheciam e não exploravam as<br />

outras idéias da multiplicação. Também trabalhamos a multiplicação relacionada ao aspecto<br />

combinatório e a configuração retangular.<br />

Os cursistas perceberam que as primeiras experiências com “problemas <strong>de</strong><br />

contagem” só po<strong>de</strong>m ser resolvidos na ação, ou seja, experimentando, obtendo alguns<br />

agrupamentos possíveis, inicialmente sem a preocupação <strong>de</strong> esgotar todas as possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Essas primeiras experiências servem apenas como familiarização com o tema, não sendo<br />

possível esperar que ao trabalhar, elas se conscientizem sobre o raciocínio combinatório<br />

envolvido. Por volta do final do 2º ciclo, após manipular materiais, é possível representar as<br />

idéias e organizá-las em tabelas <strong>de</strong> dupla entrada e o diagrama <strong>de</strong> árvores iniciando o<br />

registro em linguagem matemática.<br />

4


Trabalhar a multiplicação por organização espacial na forma <strong>de</strong> uma superfície<br />

retangular permite aos estudantes no final do 2º ciclo construir o significado da fórmula <strong>de</strong><br />

área <strong>de</strong> uma superfície retangular.<br />

No <strong>de</strong>correr do estudo surgiram indagações a respeito da tabuada: Após compreen<strong>de</strong>r a<br />

multiplicação, torna-se necessário a memorização da tabuada? Como tornar agradável e<br />

prazerosa uma ativida<strong>de</strong>? Quais as melhores estratégias a serem utilizadas?<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> solucionar essas dúvidas foram trabalhados diversos jogos<br />

envolvendo a multiplicação <strong>de</strong> números naturais, sendo alguns sugeridos pelos formadores<br />

e outros pelos cursistas. Essas ativida<strong>de</strong>s os <strong>de</strong>ixaram bastante empolgados. Entretanto, os<br />

professores foram alertados para serem cautelosos ao se trabalhar com jogos, pois é uma<br />

estratégia que precisa ser cuidadosamente planejada, com objetivos pré-estabelecidos, para<br />

não correrem o risco <strong>de</strong> se per<strong>de</strong>r o sentido para a aprendizagem dos educandos.<br />

Na seqüência das ativida<strong>de</strong>s que envolvem os fatos fundamentais da multiplicação foi<br />

possível falar sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do cálculo, chamando a atenção sobre a necessida<strong>de</strong><br />

do professor consi<strong>de</strong>rar e respeitar os procedimentos próprios <strong>de</strong> cada aluno. Muitos<br />

<strong>de</strong>senvolvem formas particulares <strong>de</strong> efetuar cálculos mentais, <strong>de</strong>ssa maneira não se po<strong>de</strong><br />

ignorar o conhecimento prévio <strong>de</strong>les. Além disso, os cursistas se conscientizaram <strong>de</strong> que<br />

cada procedimento utilizado tem uma justificativa, pois nenhuma regra <strong>de</strong>ve ser<br />

memorizada sem que se tenha uma explicação lógica. Os próprios cursistas <strong>de</strong>sconheciam<br />

essas justificativas, ou seja, repassavam para as crianças regras, sem apoio <strong>de</strong> material<br />

manipulativo, pois tinham dificulda<strong>de</strong>s para compreen<strong>de</strong>r o algoritmo da multiplicação.<br />

Depois que o <strong>de</strong>senvolvimento das idéias e do cálculo foram esclarecidas e os<br />

cursistas com mais segurança e autonomia para elaborarem situações didáticas relacionadas<br />

à multiplicação, foram propostas situações sobre uma das operações mais polêmicas: a<br />

divisão. Então, fez-se necessário a exploração do significado da divisão e foram trabalhadas<br />

as idéias <strong>de</strong> “medir” e “repartir”, com a utilização <strong>de</strong> material manipulativo para facilitar a<br />

aprendizagem.<br />

É importante ressaltar que os cursistas resolviam os problemas sempre se colocando<br />

no lugar do aluno, ou seja, imaginando <strong>de</strong> acordo com experiências anteriores sobre o<br />

assunto, quais seriam as estratégias <strong>de</strong> resolução e registro dos alunos. Os cursistas<br />

exploravam o algoritmo da divisão, por meio do processo americano e o processo<br />

5


euclidiano “longo” e “curto”. Em relação aos processos do algoritmo da divisão surgiram<br />

dúvidas, questionamentos sobre qual <strong>de</strong>les seria mais a<strong>de</strong>quado para o aluno compreen<strong>de</strong>r.<br />

Uns argumentaram que o processo “breve” é mais simples, porém mostramos através <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que o processo envolve, basicamente, cálculo mental, o que ainda é muito<br />

abstrato quando se inicia o trabalho com a divisão. Na verda<strong>de</strong> o processo “longo”<br />

<strong>de</strong>monstra o caminho do cálculo registrando passo a passo na linguagem matemática a<br />

compreensão das idéias e do cálculo, os alunos chegarão naturalmente ao processo “breve”<br />

à medida que forem dominando o processo da divisão. Em termos <strong>de</strong> aprendizagem não faz<br />

diferença que a criança utilize este ou aquele processo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que compreenda o que está<br />

fazendo.<br />

Parte dos livros didáticos apresentam apenas o processo euclidiano e ainda<br />

resumido, e na maioria das vezes nem os professores compreen<strong>de</strong>m o que realmente<br />

acontece no <strong>de</strong>senvolvimento do cálculo. Diante disso é pertinente apresentar formas<br />

diferenciadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a operação, com o material dourado e “dinheirinho”,<br />

explorando o Sistema <strong>de</strong> Numeração. Observamos que a divisão através <strong>de</strong> material<br />

manipulável com os professores apresentou dificulda<strong>de</strong>s para alguns, pois disseram que é<br />

uma maneira muito difícil para o aluno apren<strong>de</strong>r, visto que eles próprios não tinham<br />

domínio com a manipulação do material. Depois que manusearam e fizeram várias<br />

resoluções, o pensamento mudou. Perceberam que tudo se torna mais fácil quando se<br />

compreen<strong>de</strong> o que se faz.<br />

A operação em que os alunos apresentam maior dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

segundo os cursistas é a divisão. Por isso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram a idéia <strong>de</strong> que o aluno precisa saber a<br />

tabuada para conseguir dividir corretamente, porém o fato do aluno saber a tabuada não<br />

significa que ele seja capaz <strong>de</strong> operar e vice e versa. Nesse contexto o professor precisa<br />

estar seguro quanto ao que preten<strong>de</strong> trabalhar: se é domínio sobre os resultados da tabuada<br />

ou a compreensão do processo da divisão. Se o objetivo é ajudar o aluno a <strong>de</strong>senvolver a<br />

divisão é preferível que, antes <strong>de</strong> iniciar a divisão em si, o aluno construa a tabuada em<br />

questão, para consultá-la quando necessitar.<br />

Os educadores foram incentivados a buscar formas diferenciadas <strong>de</strong> ensino para<br />

levarem à sala <strong>de</strong> aula. É comum ouvir inúmeras reclamações a respeito do assunto, porém,<br />

não buscam alternativas para mediar o processo <strong>de</strong> aprendizagem. Todos dizem que<br />

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ensinam, mas os alunos não apren<strong>de</strong>m, por isso é imprescindível mudança <strong>de</strong> postura para<br />

transformação e construção <strong>de</strong> um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

Transposição Didática<br />

O conhecimento matemático é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

humanida<strong>de</strong>. Entretanto o conhecimento científico (saber) não po<strong>de</strong> ser transmitido<br />

mecanicamente ao aluno, pois a finalida<strong>de</strong> da atuação profissional é a Aprendizagem.<br />

Então, o professor não po<strong>de</strong> trabalhar a matemática <strong>de</strong> forma que a mesma não tenha uma<br />

construção histórica, pois essa abstração é <strong>de</strong> difícil assimilação para a criança.<br />

Cabe ao professor a<strong>de</strong>quar a matemática e torná-la acessível ao aluno <strong>de</strong> acordo<br />

com seus interesses e necessida<strong>de</strong>s, ou seja, ocorra uma transformação <strong>de</strong>sse saber<br />

matemático. Essa transformação é <strong>de</strong>nominada transposição didática.<br />

Essas idéias são <strong>de</strong>finidas por Chevallard(1991):<br />

Um conteúdo do conhecimento, tendo sido <strong>de</strong>signado como saber a<br />

ensinar, sofre então um conjunto <strong>de</strong> transformações adaptativas que<br />

vão torná-lo apto a tomar lugar entre os objetos <strong>de</strong> ensino. O<br />

trabalho que, <strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong> saber a ensinar faz um objeto <strong>de</strong><br />

ensino, é chamado <strong>de</strong> transposição didática. (In: PAIS,2008, p. 19)<br />

Um dos maiores <strong>de</strong>safios quando se trabalha numa formação com professores é a<br />

continuida<strong>de</strong> das propostas pedagógicas na prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Além <strong>de</strong> estudar a teoria<br />

é necessário que ela esteja articulada com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na escola. Dessa<br />

maneira, a formação não po<strong>de</strong> ser apenas um curso a mais para os professores. É necessário<br />

ir mais além, os professores precisam colocar na prática o que apren<strong>de</strong>m na formação.<br />

Garcia (1999) expressa sua percepção, nesse sentido, afirmando que:<br />

“Uma formação continuada centrada na ativida<strong>de</strong> cotidiana <strong>de</strong> sala <strong>de</strong><br />

aula, próxima dos problemas reais dos professores, tendo com referencia<br />

central o trabalho das equipes docentes, assumindo, portanto, uma<br />

dimensão participativa, flexível e ativa/investigadora”.(GARCIA, 1999,<br />

p.54)<br />

Nesse sentido foi proposto aos professores que fizessem a transposição didática do<br />

que foi vivenciado no <strong>de</strong>correr do curso. Como as realida<strong>de</strong>s eram diferentes tiveram que<br />

fazer as adaptações necessárias. Então, os professores elaboraram situações didáticas<br />

a<strong>de</strong>quadas ao nível dos alunos e propuseram algumas ativida<strong>de</strong>s práticas aos estudantes da<br />

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escola em que trabalham. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as ativida<strong>de</strong>s com os alunos eles<br />

registraram o resultado do <strong>de</strong>sempenho e da experiência realizada.<br />

Abaixo, estão alguns trechos escritos pelos cursistas:<br />

A professora Mairza relatou a seguinte experiência:<br />

A professora Sandra <strong>de</strong>screve:<br />

A professora Marcela comenta:<br />

“ Os conteúdos trabalhados no 1° ano foram adição e subtração<br />

<strong>de</strong> números naturais na idéia <strong>de</strong> acrescentar, juntar, completar e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do cálculo; tratamento <strong>de</strong> informação e a<br />

proporcionalida<strong>de</strong>.<br />

Os alunos correspon<strong>de</strong>ram às ativida<strong>de</strong>s [...] com gran<strong>de</strong><br />

entusiasmo e curiosida<strong>de</strong>. Acredito que o processo ensino-aprendizagem é<br />

mais eficaz quando o aluno é um agente ativo neste processo. Ele <strong>de</strong>ve<br />

construir o conceito a ser aprendido, por meio <strong>de</strong> aproximações<br />

sucessivas, integrando as novas informações àquelas que já possui em sua<br />

estrutura cognitiva [...]”.<br />

“Vivenciei nesses encontros uma importância para minha<br />

formação [...] Criei várias vezes situações didáticas para levar o aluno a<br />

reconhecer as idéia das operações [...].<br />

Com o manuseio <strong>de</strong> materiais e jogos o aluno tem uma<br />

aprendizagem significativa.[...]. No entanto, com a utilização <strong>de</strong> materiais<br />

pedagógicos em sala <strong>de</strong> aula, o professor consegue facilmente obter<br />

resultados positivos. Participando <strong>de</strong>ste curso, consegui enten<strong>de</strong>r a<br />

importância <strong>de</strong> trabalhar a matemática até mesmo através <strong>de</strong> jogos e<br />

brinca<strong>de</strong>iras”.<br />

“[...] o fato <strong>de</strong> trabalhar com notas (dinheirinho) <strong>de</strong>spertou o<br />

interesse dos alunos, em buscar respostas para as perguntas<br />

apresentadas.<br />

[...]Com isso, tivemos respostas absurdas e não coerentes<br />

com a pergunta proposta. O que me fez reavaliar a metodologia até<br />

então aplicada, se estava mesmo atingindo o objetivo proposto.<br />

Então fui em busca <strong>de</strong> uma metodologia que explorasse ainda<br />

mais a realida<strong>de</strong> do aluno, o seu cotidiano, para que ele possa fazer<br />

o elo entre a teoria apresentada em sala e o cotidiano do aluno. [...]<br />

vivenciando <strong>de</strong>sta forma estratégias que permitam justificar as<br />

técnicas operatórias da adição e subtração[...] A resolução <strong>de</strong><br />

problemas é a metodologia mais coerente com o objetivo proposto<br />

nos dias atuais, que atenta a formar cidadãos críticos e criativos”.<br />

Essas experiências <strong>de</strong>scritas foram socializadas no encontro com todo o grupo.<br />

Todos <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra fizeram a transposição didática. A socialização da<br />

8


transposição didática foi muito proveitosa, e todos pu<strong>de</strong>ram verificar os pontos positivos e<br />

negativos dos trabalhos realizados na escola.<br />

Um fato interessante que ocorreu no curso foi quanto ao público participante, pois<br />

na mesma sala havia uma turma mista, ou seja, professores matemáticos e pedagogos. No<br />

entanto, isso possibilitou troca <strong>de</strong> experiências muito valiosas para o grupo. Aqueles que<br />

trabalham com alunos do 3° ciclo passaram a compreen<strong>de</strong>r alguns aspectos que levam o<br />

aluno a não aprendizagem <strong>de</strong> alguns conceitos fundamentais e os pedagogos perceberam a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar as idéias envolvidas nas operações e não se pren<strong>de</strong>r apenas nos<br />

cálculos.<br />

Conclusão<br />

A formação cumpriu seus objetivos <strong>de</strong> auxiliar os professores na reflexão critica<br />

sobre sua prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, sobre a aprendizagem e na elevação da motivação dos<br />

professores em fazerem mudanças em suas concepções metodológicas frente ao como<br />

ensinar. Também observamos que passaram a perceber a importância do trabalho<br />

cooperativo e colaborativo.<br />

Outro aspecto percebido é a importância dada às leituras e as teorias<br />

contemporâneas para auxiliar e fortalecer sua formação contínua, que permite a atualização<br />

e aprofundamento <strong>de</strong> temáticas da área <strong>de</strong> educação.<br />

Nos relatos <strong>de</strong> suas experiências e nas discussões dos pontos <strong>de</strong> possíveis estratégias<br />

diferenciadas passaram a compreen<strong>de</strong>r seu trabalho, a natureza dos conteúdos com os quais<br />

trabalha cotidianamente e, sobretudo a compreensão das relações nas quais seu aluno está<br />

inserido.<br />

Os professores começaram a elaborar situações didáticas fundamentadas em<br />

métodos inovadores e <strong>de</strong> técnicas diferenciadas que estimulam e enriquecem o processo <strong>de</strong><br />

ensino e aprendizagem priorizando ativida<strong>de</strong>s práticas e reflexivas.<br />

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