Páginas - ed. 115 - agosto 06.p65 - Arquidiocese de Florianópolis
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Agosto <strong>de</strong> 2006<br />
EDITORIAL<br />
Tenho S<strong>ed</strong>e! – A Vocação Cristã<br />
Tenho s<strong>ed</strong>e! (Jo 18,28). Os gran<strong>de</strong>s santos, que privaram<br />
da amiza<strong>de</strong> divina, não viram na s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> Jesus Cristo<br />
s<strong>ed</strong>e física, mas outra s<strong>ed</strong>e, mais profunda e dolorosa: a<br />
s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> almas. Todo o mistério da encarnação está centrado<br />
na doação do Filho para aplacar a s<strong>ed</strong>e do Pai pelas almas.<br />
A multidão perdida no pecado, na <strong>de</strong>sesperança, aumenta a<br />
s<strong>ed</strong>e do Senhor.<br />
Os santos e os cristãos que enten<strong>de</strong>ram sua vocação<br />
como intercessão pelos pecadores assumiram para si essa<br />
mesma s<strong>ed</strong>e: também eles gemem, em suas orações e em<br />
seu ministério, ar<strong>de</strong>ndo em s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> almas, na <strong>de</strong>cisão insaciável<br />
<strong>de</strong> oferecer almas para saciar a s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> Cristo. Os<br />
algozes ofereceram vinagre ao Crucificado: os cristãos oferecem<br />
almas, a preocupação missionária, a oferta da oração.<br />
Em junho <strong>de</strong> 1897 Santa Teresinha, após sofrer a experiência<br />
das “almas que não têm fé”, tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> sentar-se<br />
à mesa dos “pobres pecadores”, para com eles comer<br />
“o pão da dor” e <strong>de</strong> não querer, <strong>de</strong> jeito nenhum, “levantar-se<br />
<strong>de</strong>ssa mesa <strong>de</strong> amargura até que o Senhor os acolha a todos<br />
na sua misericórdia”. O amor e a compaixão por toda a<br />
humanida<strong>de</strong>, dos quais nasce o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que todos se salvem,<br />
é um dom <strong>de</strong> Deus, uma graça. Não são sentimentos<br />
humanos, mas <strong>de</strong>spertados e forjados no coração pelo Espírito<br />
Santo, afirma São Silvano do Monte Atos.<br />
O Espírito suscita muitas vocações para a vida da Igreja,<br />
e todas elas têm como causa final a salvação do mundo, das<br />
pessoas, das almas. O fogo do Espírito Santo, envolvendonos<br />
em suas chamas, aumenta nos que o aceitam essa s<strong>ed</strong>e<br />
dolorosa dos que compartilham a s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> Jesus.<br />
Constituímos um povo sacerdotal. E o que faz o sacerdote,<br />
se não interc<strong>ed</strong>er pela salvação do mundo? É essa a missão<br />
<strong>de</strong> todos os que foram batizados e participam do sacerdócio<br />
<strong>de</strong> Cristo. São João Crisóstomo, comentando a parábola<br />
dos talentos (cf. Mt 25,24-<br />
25), afirma: “Aquele que enterrou<br />
o talento era irrepreensível,<br />
mas inútil. Nada há<br />
<strong>de</strong> mais insignificante, frio,<br />
do que um cristão que não<br />
salva os irmãos” (Hom. sobre<br />
os Atos 20,4). Quem<br />
cuida só <strong>de</strong> sua salvação,<br />
em livrar a própria pele, é<br />
como o soldado que no campo <strong>de</strong> batalha pensa apenas em<br />
si: acaba provocando a morte dos outros e a sua.<br />
Um gran<strong>de</strong> Pai da Igreja, Isaac o sírio (séc. VII), anima os<br />
que se preocupam ativamente com a salvação do próximo:<br />
“No dia em que te afligires pelo fato <strong>de</strong> alguém estar doente<br />
no corpo ou na alma, tenhas certeza <strong>de</strong> que naquele dia és<br />
um mártir, pois sofreste por Cristo e foste digno <strong>de</strong> confessálo”<br />
(Disc. I,58). O mártir é o que <strong>de</strong>rrama o sangue pelo Cristo:<br />
po<strong>de</strong>mos ser mártires <strong>de</strong>rramando nosso suor/sangue<br />
pelos que são <strong>de</strong> Cristo, por toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
A crise vocacional, sempre se diz, é uma crise <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> misericórdia, <strong>de</strong> compaixão. É a ausência da preocupação<br />
pela “s<strong>ed</strong>e” <strong>de</strong> Cristo, julgando-se que a vida cristã<br />
comprometida se r<strong>ed</strong>uz a uns 10% <strong>de</strong> oração e outros 90%<br />
<strong>de</strong> compromisso. Por esse motivo, muitos ricos e países<br />
ricos entram em crise <strong>de</strong> fé: tornam-na inútil, por terem r<strong>ed</strong>uzido<br />
o crer a não fazer o mal.<br />
A Cruz <strong>de</strong> Cristo é o “sinal” dos cristãos: contemplando-a<br />
na profundida<strong>de</strong> da fé, sentiremos o abismo <strong>de</strong> compaixão<br />
daquele que foi crucificado pelo mundo. E, casados ou solteiros,<br />
crianças ou jovens, leigos ou consagrados, nos ofereceremos,<br />
como Santa Teresinha, para aplacar a s<strong>ed</strong>e <strong>de</strong> almas<br />
estampada nos lábios e na face do Senhor.<br />
Nossa gran<strong>de</strong> vocação é sentar-nos à mesa dos pecadores,<br />
como fez Jesus, e transformá-la em mesa <strong>de</strong> salvação:<br />
um cristão não consegue viver sem proclamar a misericórdia<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Pe. José Artulino Besen<br />
www.arquifloripa.org.br/jornal<br />
e-mail: jornal@arquifloripa.org.br<br />
“Constituímos um povo sacerdotal.<br />
E o que faz o sacerdote,<br />
se não interc<strong>ed</strong>er pela salvação<br />
do mundo? É essa a missão<br />
<strong>de</strong> todos os que foram<br />
batizados e participam<br />
do sacerdócio <strong>de</strong> Cristo.”<br />
Periodicida<strong>de</strong> mensal - 21.000 exemplares<br />
Rua Esteves Júnior, 447<br />
88015-130 - <strong>Florianópolis</strong> - SC<br />
Fone/Fax: (048) 3224-4799<br />
OPINIÃO<br />
PALAVRA DO BISPO<br />
Diretor e Revisor: Pe. Ney Brasil Pereira - Conselho Editorial: Dom Murilo S. R. Krieger, Dom José<br />
Negri, Pe. João Francisco Salm, Pe. José Artulino Besen, Pe. Vitor Galdino Feller, Ir. Marlene Bertoldi,<br />
Luciano Leite da Silva Filho, Carlos Martendal e Fernando Anísio Batista - Jornalista Responsável:<br />
Zulmar Faustino - SC 01224 JP - Departamento <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>: Pe. Francisco Rohling - Editoração<br />
e Fotos: Zulmar Faustino - Distribuição: Juarez João Pereira - Impressão e Fotolitos: Gráfica Rio Sul<br />
V Conferência Episcopal<br />
Estávamos em preparação<br />
do 15° Congresso Eucarístico<br />
Nacional quando<br />
foram dados os primeiros passos<br />
em vista da V Conferência<br />
do Episcopado da América<br />
Latina e do Caribe, que acontecerá<br />
em Aparecida, em maio<br />
do próximo ano. Se não tivemos<br />
condições <strong>de</strong> multiplicar<br />
encontros para respon<strong>de</strong>r às<br />
questões formuladas pelo texto preparatório, certamente<br />
<strong>de</strong>mos nossa contribuição <strong>de</strong> modo indireto,<br />
com a reflexão do tema: “Ele está<br />
no meio <strong>de</strong> nós!” A partir <strong>de</strong>ssa<br />
certeza é que a Igreja po<strong>de</strong>rá se<br />
<strong>de</strong>bruçar sobre o tema da Conferência<br />
<strong>de</strong> Aparecida: “Discípulos<br />
e missionários <strong>de</strong> Jesus Cristo,<br />
para que nele nossos povos tenham<br />
vida. Eu sou o Caminho, a<br />
Verda<strong>de</strong> e a Vida” (Jo 14,6).<br />
O “Documento <strong>de</strong> Participação”,<br />
<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do Conselho<br />
Episcopal Latino-Americano,<br />
ao contrário <strong>de</strong> outros textos, especialmente<br />
os da CNBB, não usa o tradicional método ver, julgar,<br />
agir e celebrar. Usa, sim, o seguinte esquema:<br />
apresentação do tema; <strong>de</strong>safios; perspectivas pastorais.<br />
Naturalmente, esta terceira parte está por<br />
ser construída, com as colaborações que forem<br />
enviadas das dioceses, dos regionais e das conferências<br />
episcopais.<br />
Digno <strong>de</strong> atenção, no texto preparativo, é o Anexo<br />
3, que respon<strong>de</strong> à pergunta: “Como ser discípulo<br />
<strong>de</strong> Cristo hoje?” Cada discípulo, no ambiente<br />
PALAVRA DO PAPA<br />
Para a Igreja, a Sexta-Feira Santa e a Páscoa<br />
existem sempre juntas (...). A Igreja e, nela, Cristo,<br />
sofre hoje também. Nela, Cristo é sempre escarnecido<br />
<strong>de</strong> novo e atingido; sempre <strong>de</strong> novo se procura<br />
pô-lo fora do mundo. Sempre <strong>de</strong> novo a pequena<br />
barca da Igreja é abalada pelo vento das i<strong>de</strong>ologias,<br />
que com as suas águas pene-<br />
tram nela e parecem con<strong>de</strong>ná-la<br />
a afundar. E, contudo, precisamente<br />
na Igreja sofr<strong>ed</strong>ora, Cristo<br />
é vitorioso. Apesar <strong>de</strong> tudo, a fé<br />
nele retoma força sempre <strong>de</strong><br />
novo. Também hoje o Senhor or<strong>de</strong>na<br />
às águas e <strong>de</strong>monstra-se o<br />
Senhor dos elementos. Ele permanece<br />
na sua barca, na barca<br />
da Igreja. Assim também no ministério <strong>de</strong> P<strong>ed</strong>ro se<br />
revela, por um lado, a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> do que é próprio<br />
do homem, mas, ao mesmo tempo, também a força<br />
<strong>de</strong> Deus: precisamente na <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> dos homens<br />
o Senhor manifesta a sua força; <strong>de</strong>monstra<br />
que é ele mesmo quem constrói, através <strong>de</strong> homens<br />
débeis, a sua Igreja. (...)<br />
No caso <strong>de</strong> Jó, Deus conc<strong>ed</strong>e a Satanás a liberda<strong>de</strong><br />
exigida precisamente para po<strong>de</strong>r, com ela,<br />
“Tema da Conferência:<br />
‘Discípulos e missionários<br />
<strong>de</strong> Jesus Cristo,<br />
para que nele nossos<br />
povos tenham vida.<br />
Eu sou o Caminho, a V<br />
erda<strong>de</strong> e a Vida’ (Jo 14,6)”.<br />
Cristo é vitorioso<br />
“Seu po<strong>de</strong>r não é um<br />
po<strong>de</strong>r segundo as<br />
modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste mundo.<br />
É o po<strong>de</strong>r do bem, da<br />
verda<strong>de</strong> e do amor, que é<br />
mais forte que a morte..”<br />
social em que vive e no meio em que trabalha, precisa:<br />
(1°) fazer uma experiência <strong>de</strong> Jesus Cristo,<br />
por meio <strong>de</strong> um encontro forte com ele, e renovar<br />
muitas vezes esse encontro durante a vida; (2°) no<br />
encontro com Cristo, escutar atentamente sua Palavra,<br />
contemplá-lo com admiração e <strong>de</strong>ixar-se invadir<br />
por ele; (3°) <strong>de</strong>ssa escuta nasce e se fortalece<br />
sempre <strong>de</strong> novo a fé, isto é, a a<strong>de</strong>são profunda e<br />
pessoal a Cristo; (4°) o discípulo <strong>de</strong>ve integrar-se<br />
na comunida<strong>de</strong> dos outros discípulos <strong>de</strong> Jesus (a<br />
Igreja); (5°) daqui nasce o seguimento <strong>de</strong> Jesus<br />
Cristo; o seguimento é a moral cristã – isto é, o<br />
discípulo procura amar como Cristo amou, viver<br />
como ele viveu e cumprir o que<br />
ele mandou; (6°) o discípulo se<br />
torna missionário; quer levar outros<br />
ao encontro com Cristo; (7°)<br />
como testemunha do amor <strong>de</strong><br />
Cristo, o discípulo trabalha na<br />
soci<strong>ed</strong>a<strong>de</strong>, para que ela acolha a<br />
todos conforme sua dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
filhos <strong>de</strong> Deus.<br />
A história <strong>de</strong> conferências anteriores<br />
– no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1955),<br />
em M<strong>ed</strong>ellín (1968), em Puebla<br />
(1979) e em Santo Domingo (1992) – mostra o quanto<br />
elas são importantes na caminhada da Igreja que<br />
está na América Latina e no Caribe. Não nos esqueçamos,<br />
porém: um acontecimento tão importante não<br />
se faz somente com estudos, reflexões e <strong>de</strong>bates;<br />
ele é feito, sobretudo, com oração, com muita oração.<br />
E é aqui que se abrem inúmeras possibilida<strong>de</strong>s<br />
à nossa participação nesta importante conferência.<br />
Dom Murilo S.R. Krieger, scj<br />
Arcebispo <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong><br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua criatura, o homem e a si mesmo.<br />
Acontece assim também com os discípulos <strong>de</strong> Jesus.<br />
Deus dá uma certa liberda<strong>de</strong> a Satanás em<br />
todos os tempos. Com freqüência, parece-nos que<br />
Deus conc<strong>ed</strong>a <strong>de</strong>masiada liberda<strong>de</strong> a Satanás; que<br />
lhe conc<strong>ed</strong>a a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos provar <strong>de</strong> maneira<br />
<strong>de</strong>masiado terrível; e que isto su-<br />
pere as nossas forças e nos oprima<br />
<strong>de</strong>masiado. Bradaremos sempre<br />
<strong>de</strong> novo a Deus: Ai <strong>de</strong> mim,<br />
olha para a miséria dos teus discípulos,<br />
protege-nos! De fato Jesus<br />
continua: “Mas eu roguei por<br />
ti, para que a tua fé não <strong>de</strong>sapareça”<br />
(Lc 22, 32). A oração <strong>de</strong> Jesus<br />
é o limite colocado ao po<strong>de</strong>r<br />
do maligno. A oração <strong>de</strong> Jesus é a proteção da Igreja.<br />
Po<strong>de</strong>mos refugiar-nos sob esta proteção, apegar-nos<br />
a ela e ter a sua certeza. (...) Seu po<strong>de</strong>r<br />
não é um po<strong>de</strong>r segundo as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste<br />
mundo. É o po<strong>de</strong>r do bem, da verda<strong>de</strong> e do amor,<br />
que é mais forte que a morte. Sim, sua promessa é<br />
verda<strong>de</strong>ira: os po<strong>de</strong>res da morte, as portas do inferno<br />
não prevalecerão contra a Igreja.<br />
(Solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. P<strong>ed</strong>ro e S. Paulo, 29.06.06)