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Aol-11<br />
17<br />
O primo basílio<br />
(...) E, então, invocou a opinião de Jorge. Não lhe parecia que o bom Ernesto devia<br />
perdoar?<br />
– Eu, conselheiro? De modo nenhum. Sou pela morte. Sou inteiramente pela morte!<br />
E exijo que a mates, Ernestinho! D. Felicidade acudiu, toda bondosa:<br />
anjo!<br />
– Deixe falar, Senhor Ledesma. Está a brincar. E ele então que é um coração de<br />
– Está enganada, D. Felicidade – disse Jorge, de pé, diante dela. – Falo sério e sou<br />
uma fera! Se enganou o marido, sou pela morte. No abismo, na sala, na rua; mas que a<br />
mate. Posso lá consentir que, num caso desses, um primo meu, uma pessoa da minha<br />
família, do meu sangue, se ponha a perdoar como um lamecha! Não! Mata-a! É um<br />
princípio de família. Mata-a quanto antes!<br />
(...) O conselheiro, então, interveio, grave:<br />
– Não – disse – não creio que o nosso Jorge fale sério. É muito instruído para ter<br />
ideias tão...<br />
– ...Tão anticivilizadoras.<br />
– Pois está enganado, conselheiro, tenho-as – afirmou Jorge. São as minhas ideias.<br />
E aqui tem, se em lugar de se tratar de um final de ato, fosse um caso da vida real; se o<br />
Ernesto viesse dizer-me: sabes, encontrei minha mulher...<br />
– Oh, Jorge! – disseram, repreensivamente.<br />
– ... Bem, suponhamos; se ele mo viesse dizer, eu respondia-lhe o mesmo. Dou a<br />
minha palavra de honra, que lhe respondia o mesmo: mata-a!<br />
3. assim que Jorge parte para alentejo, a trabalho, chega o primo Basílio.<br />
Luísa desceu o véu branco, calçou devagar as luvas de peau de suède claras, deu<br />
duas pancadinhas fofas ao espelho na gravata de renda, e abriu a porta da sala. Mas<br />
quase recuou; fez ah! toda escarlate. Tinha-o reconhecido logo. Era o primo Basílio.<br />
Houve um shake-hands demorado, um pouco trêmulo. Estavam ambos calados;<br />
ela com todo o sangue no rosto, um sorriso vago; ele fitando-a muito, com um olhar admirado.<br />
Mas as palavras, as perguntas vieram logo, muito precipitadamente: – Quando<br />
tinha ele chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa? Como soubera a morada dela?<br />
Chegara na véspera no paquete de Bordéus. Perguntara no ministério; disseram-<br />
-lhe que Jorge estava no Alentejo; deram-lhe a adresse... – Como tu estás mudada,<br />
Santo Deus!<br />
– Velha?<br />
– Bonita!<br />
– Ora!