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O primO basíliO - COC Educação

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Aol-11<br />

21. Segundo flagrante<br />

31<br />

O primo basílio<br />

Nessa semana, uma manhã, Jorge, que se não recordava que era dia de gala, encontrou<br />

a secretaria fechada, e voltou para casa ao meio-dia. Joana à porta conversava<br />

com a velha que comprava os ossos; a cancela em cima estava aberta; e Jorge, chegando<br />

despercebido ao quarto, surpreendeu Juliana comodamente deitada na chaise-longue,<br />

lendo tranquilamente o jornal.<br />

Ergueu-se, muito vermelha, mal o viu, balbuciou:<br />

– Peço desculpa, tinha-me dado uma palpitação tão forte...<br />

– Que se pôs a ler o jornal, hem?.. – disse Jorge, apertando instintivamente o castão<br />

da bengala. – Onde está a senhora?<br />

– Deve estar pra a sala de jantar – disse Juliana, que se pôs logo a varrer, muito<br />

apressada.<br />

Jorge não encontrou Luísa na sala de jantar; foi dar com ela no quarto dos engomados,<br />

despenteada, em roupão de manhã, passando roupa, muito aplicada e muito<br />

desconsolada.<br />

– Tu estás a engomar? – exclamou.<br />

Luísa corou um pouco; pousou o ferro. A Juliana estava adoentada; juntara-se<br />

uma carga de roupa...<br />

– Dize-me cá: quem é aqui a criada e quem é aqui a senhora? A sua voz era tão<br />

áspera, que Luísa fez-se pálida, murmurou:<br />

– Que queres tu dizer?<br />

– Quero dizer que te venho encontrar a ti a engomar, e que a encontrei a ela lá<br />

embaixo muito repimpada na tua cadeira, a ler o jornal!<br />

Luísa, atarantada, abaixou-se sobre o cesto da roupa lavada, começou a remexer,<br />

a desdobrar, a sacudir com a mão trêmula...<br />

– Tu não podes fazer ideia do que aqui vai por fazer – ia dizendo. – É a limpeza;<br />

são os engomados; é um servição. A pobre de Cristo tem estado doente...<br />

– Pois se está doente que vá para o hospital!<br />

– Não, também, não tens razão!<br />

Aquela insistência em defender a outra, que se repoltreava embaixo na sua chaise-<br />

-longue, exasperou-o:<br />

– Dize cá, tu dependes dela? Havia de dizer que tens medo dela! – Ah! Se estás<br />

com esse gênio! – fez Luísa com os beiços trêmulos, uma lágrima já nas pálpebras.<br />

Mas Jorge continuava, muito zangado:<br />

– Não, essas condescendências hão de acabar por uma vez! Ver aquele estafermo,<br />

com os pés pra a cova, a prosperar em minha casa, a deitar-se nas minhas cadeiras, a<br />

passear, e tu a defendê-la, a fazer-lhe o serviço, ah! Não! É necessário acabar com isso.<br />

Sempre desculpas! Sempre desculpas! Se não pode que arreie. Que vá pra o hospital, que<br />

vá pra o inferno!

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