Abel e Helena, de Artur Azevedo Fonte - EE JOSE DE ALENCAR
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Benjamim - Vejamos.<br />
Cascais - Tercio, Dona <strong>Helena</strong>, me quereria mal, se fosse eu que a levasse para o convento...<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - Bem pensado. E o quarto?<br />
Cascais - Não há mais.<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - E o quinto?<br />
Cascais (Encarando-o) - O quinto é que você é um tolo!<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - Ora é boa! Podia não haver um quarto, mas haver um quinto...<br />
Cascais - Então, pediu-me o Nicolau que lhe lembrasse um alvitre qualquer, que fosse eficaz. Disselhe<br />
que havia na corte um fra<strong>de</strong>, amigo meu <strong>de</strong> velha data e pessoa <strong>de</strong> maior confiança, que viria buscar<br />
Dona <strong>Helena</strong>, se lho eu pedisse por meio <strong>de</strong> uma cartinha.<br />
Pedrinho - E o Nicolau aceitou a alvitre?<br />
Cascais - Aceitou. O fra<strong>de</strong> entrega-a à superiora do convento, que já está prevenida para recebê-la e<br />
competentemente autorizada. Deo Gratia.<br />
Pedrinho - Isso é inverossímil! Isto só se vê em comédias!<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - Ou em paródias!<br />
Cascais - Pois é a pura verda<strong>de</strong>. Eu sou como o outro. A Deo veritatis diligens era, ut ne loco qui<strong>de</strong>m<br />
mentiretur... Ora a<strong>de</strong>us! Vocês não sabem disso; estou per<strong>de</strong>ndo meu latim...<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - Mas é uma malda<strong>de</strong> roubar uma <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> à socieda<strong>de</strong> e entregá-la a um fra<strong>de</strong> para<br />
levá-la para a cida<strong>de</strong>! É uma atrocida<strong>de</strong>!...<br />
Cascais - Oh! Senhor Alferes! quanta rima perdida! Quando quiser dizer versos, previna a música:<br />
cante-os.<br />
Pedrinho - Rapaziada, vamos dar uma volta; o trem ainda se <strong>de</strong>mora um quarto <strong>de</strong> hora.<br />
Benjamim - Contanto que não <strong>de</strong>ixemos <strong>de</strong> ver o fra<strong>de</strong>!<br />
Alferes Andra<strong>de</strong> - Voltaremos. Vamos, vamos dar uma volta; eu também não sei estar parado.<br />
Pedrinho - Irá, com a condição <strong>de</strong> não puxar a espada em caminho...<br />
Alferes Andra<strong>de</strong>- Vocês tomaram-me à sua conta; vocês não me conhecem!<br />
Todos - Até logo, senhor vigário.<br />
Benjamim (Batendo com liberda<strong>de</strong> no ombro <strong>de</strong> Cascais.) - Até logo!<br />
Cascais (Tomando-o pelo braço.) - Menino, adolescentis est majore nutu vereri...<br />
Benjamim - Fiquei na mesma.<br />
Cascais (Recomeçando.)- Adolescentis,,,<br />
Todos - Vamos! Vamos! (Saem.)<br />
(Alguns têm já se retirado pouco a pouco da cena. A orquestra toca em surdina o estribilho das<br />
voltas cantadas por Pedrinho na cena primeira. Cascais fica só.)<br />
Cena III<br />
Cascais (Só)<br />
(Cascais) (Dirigindo-se ao público com toda naturalida<strong>de</strong>.) - Os senhores hão <strong>de</strong> estar lembrados<br />
daquela cartinha que recebi <strong>de</strong> meu irmão no primeiro ato. Pois bem: ouçam a resposta. (Tirando uma carta<br />
e lendo.)<br />
“Meu mano e prezado amigo,<br />
estimo que passes bem,<br />
pois é o que se dá comigo<br />
e coa comadre também .<br />
Os pequerruchos vão indo,<br />
mas muito mal, caro irmão:<br />
com coqueluche o Clarindo<br />
e o Nho-nhô com <strong>de</strong>ntição”<br />
(Declama.)<br />
- Isto não, intimida<strong>de</strong>s. Inter amicus...(Continuando.)