Continuemos - Diocese de Dourados
Continuemos - Diocese de Dourados
Continuemos - Diocese de Dourados
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Novembro/2009<br />
Entrevista<br />
Diálogo entre fé e ciência é possível<br />
A ciência, que pergunta o “como” sobre o mundo, precisa dialogar com a religião e a filosofia, que perguntam<br />
o “por que”, para a construção <strong>de</strong> uma ética sadia. Em entrevista à Gazeta do Povo (PR), o biólogo e sociólogo<br />
Francisco Borba Ribeiro Neto, um dos organizadores <strong>de</strong> “Um diálogo latino-americano: bioética & documento<br />
<strong>de</strong> Aparecida”, fala sobre o livro, sobre a ativida<strong>de</strong> da Igreja Católica no campo da bioética e sobre a relação<br />
entre ciência e fé.<br />
Qual é a proposta do livro “Um diálogo<br />
latino-americano: bioética & documento <strong>de</strong><br />
Aparecida”, e por quê usar o documento<br />
<strong>de</strong> Aparecida?<br />
Nosso objetivo é fazer uma ponte entre<br />
ciência e religião usando a discussão sobre<br />
bioética e partindo do documento <strong>de</strong> Aparecida,<br />
que é o texto mais recente da Igreja Católica<br />
na América Latina. Em relação à bioética, o<br />
documento não chega a trazer gran<strong>de</strong>s<br />
novida<strong>de</strong>s: ele reafirma a posição católica <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da vida, dizendo<br />
“não” ao aborto e à eutanasia, mas é importante mostrar que não se<br />
trata <strong>de</strong> uma posição negativa. Os “nãos” são a consequência lógica<br />
<strong>de</strong> um “sim” maior, dado à vida, à beleza e ao amor.<br />
Qual é sua avaliação sobre a ação da Igreja nos temas <strong>de</strong><br />
bioética?<br />
A Igreja no Brasil é muito ativa nos temas polêmicos, mas a mídia<br />
criou uma imagem muito reducionista da Igreja. A participação da<br />
CNBB em audiências no Legislativo ou no Judiciário aparece mais<br />
que as ações concretas em prol das pessoas. Quem lê jornal acaba<br />
pensando que a Igreja só sabe con<strong>de</strong>nar as pessoas, mas no dia a<br />
dia a sua gran<strong>de</strong> ação se dá nas experiências <strong>de</strong> acolhida. Esse tipo<br />
<strong>de</strong> atuação silenciosa, que é a mais extensa, fica perdida. Quando o<br />
Papa veio ao Brasil, ele disse que a questão do aborto, seja por que<br />
motivo for, sempre é uma questão <strong>de</strong> perda da esperança e da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver a beleza da vida. Então, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a vida significa<br />
ser capaz <strong>de</strong> retomar essa beleza e dar às pessoas uma esperança,<br />
um rumo. O Papa é muito mais propositivo que negativo.<br />
Qual a legitimida<strong>de</strong> da religião – qualquer uma, não apenas<br />
a católica – para dizer o que se po<strong>de</strong> e o que não se po<strong>de</strong> fazer<br />
em termos <strong>de</strong> experimentos científicos?<br />
Eu prefiro falar em legitimida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ias, seja quais forem. As<br />
i<strong>de</strong>ias se <strong>de</strong>finem pelo que têm <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro e a<strong>de</strong>quado à realida<strong>de</strong>,<br />
e não por quem falou primeiro. Mas as i<strong>de</strong>ias sobre bioética, <strong>de</strong> modo<br />
geral, pa<strong>de</strong>cem da noção <strong>de</strong> que a solução técnica resolve todos os<br />
problemas e <strong>de</strong> que o fato <strong>de</strong> termos a técnica para fazer algo tornaria<br />
esse algo permitido, lícito, bom ou recomendável. A técnica em si, por<br />
mais aprimorada que seja, não resolve os problemas. Ela tem <strong>de</strong> ser<br />
utilizada com sabedoria.<br />
O problema da ciência é que ela não é um conhecimento <strong>de</strong>stinado<br />
a gerar sabedoria. A ciência pergunta como as coisas funcionam ou<br />
como po<strong>de</strong>m ser modificadas ou utilizadas, mas não pergunta por que<br />
ou para que as coisas existem. Historicamente, quem respon<strong>de</strong> melhor<br />
esse tipo <strong>de</strong> pergunta são as religiões. Na encíclica Caritas in Veritate,<br />
Bento XVI diz que a ciência e a técnica não tem por finalida<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />
as perguntas sobre o sentido da vida. Então, uma ética que nascesse<br />
pura e simplesmente da ciência seria totalmente vã. A ciência precisa<br />
dialogar com os campos do saber que se perguntam sobre o sentido:<br />
a Filosofia e a Teologia.<br />
AGA - OXISOLDA<br />
Comércio <strong>de</strong> Gases e Equipamentos Ltda.<br />
Fone: (67) 3422-5938<br />
Rua Aquidauana, 260 - Centro<br />
CEP 79806-070 - <strong>Dourados</strong> - MS<br />
Um argumento muito usado é o <strong>de</strong> que a Igreja está tentando<br />
impor suas convicções a um Estado laico.<br />
Por muitos anos, a Igreja usou sua influência política para conseguir<br />
coisas na socieda<strong>de</strong>, mas a própria Igreja abandonou essa prática;<br />
então, a crítica atinge um tipo <strong>de</strong> comportamento que não existe mais.<br />
Hoje se usa esse raciocínio para neutralizar a influência da Igreja no<br />
<strong>de</strong>bate. Bento XVI é muito consciente sobre o papel da Igreja numa<br />
socieda<strong>de</strong> laica e plural – até mais que muitos <strong>de</strong>fensores do Estado<br />
laico. A Igreja traz a mensagem <strong>de</strong> uma tradição <strong>de</strong> 20 séculos, na qual<br />
a socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal cresceu e se <strong>de</strong>senvolveu. A civilização oci<strong>de</strong>ntal<br />
é filha <strong>de</strong>ssa tradição, goste-se ou não, e essa tradição tem algo a dizer.<br />
As proposições da Igreja estão sujeitas ao <strong>de</strong>bate racional no Estado<br />
<strong>de</strong>mocrático, mas o laicismo exacerbado dos nossos tempos nega a<br />
possibilida<strong>de</strong> do diálogo racional. Assim caímos na censura, na postura<br />
segundo a qual a Igreja não tem o direito <strong>de</strong> se pronunciar sobre certos<br />
assuntos, sem saber se o que ela tem a dizer é bom ou não.<br />
Ano passado a encíclica Humanae Vitae, <strong>de</strong> Paulo VI, que<br />
reafirmava a proibição à contracepção artificial, fez 40 anos. Na<br />
ocasião, um médico espanhol a classificou como “profética”, em<br />
vista <strong>de</strong> estudos ligando tipos <strong>de</strong> câncer em mulheres ao uso da<br />
pílula. É possível fazer esse avaliação?<br />
Se olharmos com olhos <strong>de</strong> hoje a pertinência dos postulados da<br />
Humanae Vitae, vamos <strong>de</strong>scobrir que praticamente todos eles, <strong>de</strong> alguma<br />
forma, se confirmaram. A maioria dos métodos artificiais <strong>de</strong> contracepção<br />
mostrou efeitos colaterais muito gran<strong>de</strong>s e perigosos, enquanto o método<br />
natural evoluiu e se tornou cada vez mais eficiente. A população mundial<br />
está mais se<strong>de</strong>nta por soluções naturais – há uma <strong>de</strong>silusão com a<br />
solução técnica que se reflete na busca por todo tipo <strong>de</strong> terapias alternativas.<br />
E tivemos, particularmente, a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> aids.<br />
Quanto à AIDS, o Papa causou furor com uma <strong>de</strong>claração em<br />
sua viagem à África.<br />
Ele disse que o preservativo não solucionará o problema da AIDS<br />
na África. E, se existe um lugar no mundo on<strong>de</strong> a camisinha realmente<br />
não é a solução, esse lugar é a África. Em geral, trata-se <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s<br />
muito machistas, em que a mulher é vista como proprieda<strong>de</strong> do homem,<br />
que por sua vez tem o “direito” <strong>de</strong> satisfazer sua sexualida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> e<br />
quando quiser, com quem quiser. Ele se contamina com facilida<strong>de</strong> e<br />
passa isso para a esposa. Distribuir preservativos até protege da AIDS<br />
um homem não contaminado, mas é quase uma carta branca para ele<br />
continuar a ter o mesmo comportamento promíscuo.<br />
Ainda que todos usassem preservativo, o problema da aids estaria<br />
resolvido, mas não se teria avançado um milímetro na promoção da<br />
mulher. Só que nem todos usam, então a doença se espalha e a<br />
mulher continua <strong>de</strong>svalorizada. A Igreja quer não só o fim da epi<strong>de</strong>mia,<br />
mas o respeito à mulher e à família. Em Uganda, a epi<strong>de</strong>mia começou<br />
a ser vencida com uma campanha que colocava a abstinência e a<br />
fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> em primeiro lugar. Não é à toa que o maior especialista em<br />
AIDS da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard, Edward Green, veio em <strong>de</strong>fesa do<br />
Papa dizendo que ele tinha razão.<br />
NOVEMBRO.P65 15<br />
03/11/2009, 09:15<br />
15<br />
15<br />
O Pastor e as<br />
ovelhas à beira da<br />
Estrada<br />
Dom Redovino <strong>de</strong>cidiu visitar a comunida<strong>de</strong><br />
Kaiowá Guarani <strong>de</strong> Laranjeira Nhan<strong>de</strong>ru, que em<br />
setembro foi expulsa para a beira da estrada. Um<br />
gesto sem dúvida louvável e até inédito para esse tipo<br />
<strong>de</strong> circunstância. Afinal <strong>de</strong> contas o bispo visitar e dar<br />
apoio à luta dos índios pelos seus direitos,<br />
especialmente à terra, <strong>de</strong>ve ser no mínimo um gesto<br />
in<strong>de</strong>sejado pelas elites, muitas vezes católicas e<br />
contrárias aos direitos dos povos indígenas.<br />
Até o Papa sabe disso<br />
Com simplicida<strong>de</strong> e carinho o bispo foi recebido<br />
pela comunida<strong>de</strong>. Depois das informações<br />
preliminares sobre o ocorrido e suas causas e<br />
conseqüências, o bispo foi sendo conduzido entre os<br />
barracos <strong>de</strong> lona preta. Sentado num banquinho <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, foi ro<strong>de</strong>ado por crianças, jovens e adultos.<br />
Após uma introdução sobre a luta da comunida<strong>de</strong>,<br />
para enten<strong>de</strong>r o contexto atual, foi a vez <strong>de</strong> D. Redovino<br />
externar sua solidarieda<strong>de</strong> ao grupo, lamentando que<br />
não po<strong>de</strong> estar fazendo mais pelo grupo. Ressaltou,<br />
porém, que tem o pessoal do Cimi que os está ajudando<br />
e que procura fazer o que está ao seu alcance.<br />
Disse que já falou sobre a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les em<br />
vários lugares. “No dia em que vocês foram expulsos,<br />
dia 11 <strong>de</strong> setembro, eu estava em Roma. Lá tanto eu<br />
como D. Vitório falamos sobre a realida<strong>de</strong> dos povos<br />
indígenas no Mato Grosso do Sul”.<br />
A visibilida<strong>de</strong> incômoda<br />
Os fazen<strong>de</strong>iros da Famasul externaram pela<br />
imprensa local que se sentem incomodados pela<br />
situação dos índios aí na beira da estrada. “Segundo o<br />
presi<strong>de</strong>nte da Famasul, A<strong>de</strong>mar da Silva Junior, os<br />
índios estão correndo risco <strong>de</strong> ser atropelados e até<br />
mesmo <strong>de</strong> contrair alguma doença no local. Por isso,<br />
uma sugestão <strong>de</strong> A<strong>de</strong>mar é que o acampamento seja<br />
transferido para a região do Panambi” (Campo Gran<strong>de</strong><br />
News, 25/09/09). Querem que eles saiam daí. Um<br />
dos lí<strong>de</strong>res indígenas, Zezinho, não <strong>de</strong>ixou por menos<br />
“Não vamos sair. Vamos ficar na beira da estrada e<br />
esperar os estudos antropológicos. Aqui [na rodovia]<br />
ninguém po<strong>de</strong> botar a mão em nós (sic)... Não vamos<br />
ocupar nenhuma fazenda. Queremos a nossa terra,<br />
mas só vamos entrar após a <strong>de</strong>marcação,<br />
acompanhados pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral e pelo Ministério<br />
Público Fe<strong>de</strong>ral”(Cacique Zezinho,25/09/09)<br />
O sofrimento molda e sensibiliza. Deixar-se<br />
embeber da realida<strong>de</strong> dura da gente simples e<br />
<strong>de</strong>sprezada, leva à conversão, <strong>de</strong>sperta a<br />
sensibilida<strong>de</strong>, gera compromisso. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Laranjeira Nhan<strong>de</strong>ru certamente saiu fortalecida na luta<br />
por seus direitos e convicta <strong>de</strong> ter mais aliados<br />
importantes.<br />
Egon Dionísio Heck - Cimi MS<br />
Síntese do artigo publicado no no site Adital dia<br />
25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2009<br />
Comércio <strong>de</strong> Confecções Ltda.<br />
Fone: (67) 3421-7857<br />
Av. Marcelino Pires, 2.044 - Centro<br />
<strong>Dourados</strong> - MS