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a poesia vai - Retorta Net

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O HOMEM<br />

Mal das águas, ó Terra, te brotavam<br />

Os cumes dos montes jovens, e cheirosas,<br />

Exalando desejo, cheias de bosques verdes,<br />

No cinzento deserto do Oceano<br />

Surgiam as primeiras ilhas belas; e o olhar alegre<br />

Do Deus do Sol contemplava as recém-nadas<br />

Plantas, da sua eterna juventude<br />

As filhas sorridentes, de ti nascidas.<br />

Eis na mais bela das ilhas, onde sempre<br />

O ar banhava de repouso manso o bosque,<br />

Jazia entre cachos de uvas, após morna<br />

Noite, na hora da manhã crepuscular<br />

Nascido, ó Mãe Terra! O teu mais belo filho;-<br />

E para Hélios, o pai, olha confiado<br />

O menino, e desperto alegre, provando<br />

Os doces bagos, para sua ama<br />

A videira sagrada; e breve cresce; os animais<br />

Receiam-no, pois é diferente deles<br />

O homem; não é igual a ti nem ao pai,<br />

Pois dentro dele, ousada e única,<br />

Está unida, ó Terra! o seu orgulho o afasta<br />

Do teu coração, e as tuas dádivas são<br />

Em vão, e os teus laços ternos;<br />

Pois algo busca de melhor, o indómito!<br />

Do prado rescendente da sua margem tem<br />

De partir o Homem pra a água sem flores,<br />

E embora brilhe, como noite estrelada, o seu<br />

Pomar de frutos de ouro, ele <strong>vai</strong> cavar<br />

87<br />

Cavernas nos montes, e rebusca na mina,<br />

Longe da luz alegre de seu Pai, infiel<br />

Também ao Deus do Sol, que não ama<br />

Escravos e escarnece dos cuidados.<br />

Pois mais livres respiram as aves do bosque,<br />

Embora mais magnífico arqueje o peito do Homem,<br />

E ele, que vê o escuro futuro, tem também<br />

De ver a morte, entre todos sozinho ter-lhe medo.<br />

E contra todos os que respiram usa o Homem<br />

Armas em seu orgulho e medo eternos; no dissídio<br />

Se consome, e a flor da sua paz,<br />

Delicada, é breve e passageira.<br />

Não é ele de todos os companheiros de vida<br />

O mais infeliz? Mas mais fundo dilacera<br />

O Destino, que tudo iguala e equilibra,<br />

O peito inflamável do forte.<br />

Hölderlin<br />

(trad. Paulo Quintela), “Poemas”, Lisboa,<br />

Relógio D`Água, 1991,<br />

p.p. 95-99.

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