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SESSÃO: Ordinária - Câmara dos Deputados

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA<br />

REVISÃO E REDAÇÃO<br />

<strong>SESSÃO</strong>: 063.1.52.O<br />

DATA: 30/04/03<br />

TURNO: Vespertino<br />

TIPO <strong>SESSÃO</strong>: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

LOCAL: Plenário Principal - CD<br />

HORA INÍCIO: 14h<br />

HORA TÉRMINO: 16h32min<br />

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO<br />

Hora Fase Orador Dt. Devol.<br />

14:48 PE BASSUMA<br />

Observações:


CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />

Ata da 063ª Sessão, em 30 de abril de 2003<br />

Presidência <strong>dos</strong> Srs. ...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

ÀS 14 HORAS COMPARECEM OS SENHORES:<br />

João Paulo Cunha<br />

Inocêncio Oliveira<br />

Luiz Piauhylino<br />

Geddel Vieira Lima<br />

Severino Cavalcanti<br />

Nilton Capixaba<br />

Ciro Nogueira<br />

Gonzaga Patriota<br />

Wilson Santos<br />

Confúcio Moura<br />

João Caldas


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

I - ABERTURA DA <strong>SESSÃO</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Havendo número regimental,<br />

declaro aberta a sessão.<br />

trabalhos.<br />

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos<br />

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.<br />

II - LEITURA DA ATA<br />

O SR. ..........................................................., servindo como 2° Secretário,<br />

procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações,<br />

aprovada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Passa-se à leitura do expediente.<br />

O SR. ..........................................................., servindo como 1° Secretário,<br />

procede à leitura do seguinte<br />

III - EXPEDIENTE<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Finda a leitura do expediente,<br />

vai-se passar ao<br />

IV - PEQUENO EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao nobre Deputado Jair Bolsonaro.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JAIR BOLSONARO (PTB-RJ. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, tenho acompanhado na Casa a atuação da<br />

Comissão da Amazônia e de Desenvolvimento Regional e sinto-me bastante<br />

reconfortado com o que vem acontecendo por lá.<br />

Hoje, com a presença do Ministro José Viegas, nova bateria de<br />

questionamentos, propostas e sugestões foi levada à pauta. Não se poderia discutir<br />

a Amazônia sem deixar de discutir as reservas indígenas. Vou ler matéria publicada<br />

no jornal O Globo, em 1992, sobre a reserva indígena ianomâmi:<br />

“Criada por portaria do Ministro da Justiça, a<br />

reserva ianomâmi não conseguiu esconder, pelo tamanho<br />

descomunal, 9,4 milhões de hectares, portanto, duas<br />

vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro, os seus<br />

defeitos congênitos. A correção desse acúmulo de erros<br />

começa agora com a aprovação unânime pela Comissão<br />

de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, da <strong>Câmara</strong>,<br />

do Projeto de Decreto Legislativo que simplesmente<br />

extingue a reserva indígena.<br />

Falarão ainda outras Comissões. Porém, a<br />

perspectiva é que o projeto Bolsonaro avance sem<br />

maiores dificuldades.<br />

A reação do Congresso não precisa, entretanto,<br />

chegar ao fim radicalizada. Bastará substituir a idéia da<br />

extinção da reserva por outra mais racional, realista e<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

praticável, a partir do fato de que existem apenas dez mil<br />

ianomâmis para a ocupação e a proteção de tanto e tão<br />

rico território.<br />

Houve, sem dúvida, demagogia indigenista e<br />

ecológica às vésperas da Rio- 92. Na decisão precipitada<br />

do Governo, buscou-se sobretudo revisão de imagem e<br />

aplausos do testemunho internacional. Mas é o interesse<br />

interno que deve predominar no trato de uma matéria que<br />

somente os brasileiros estão prepara<strong>dos</strong> para conhecer e<br />

assimilar em toda a sua complexa realidade”.<br />

Sr. Presidente, ato contínuo, consegui a assinatura para a votação em regime<br />

de urgência desse projeto de decreto legislativo, porque a demarcação foi feita ao<br />

arrepio da nossa Constituição, que diz que cabe ao Congresso Nacional, com a<br />

sanção do Presidente da República, dispor sobre todas as matérias de competência<br />

da União, e compete à União demarcar as terras indígenas.<br />

Portanto, como não poderiam ter sido feitas naquela época, hoje também não<br />

podem continuar sendo demarcadas reservas indígenas de forma unilateral pelo<br />

Executivo.<br />

O jornal O Globo, naquela oportunidade, estava a meu favor e do Brasil.<br />

Vieram a esta Casa naquela época o Ministro da Justiça, Sr. Nelson Jobim, e o<br />

Ministro do Exército, para participar de audiência pública. Logicamente, fez-se valer<br />

a vontade deles naquela oportunidade. Perdi por diferença enorme na votação do<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

meu requerimento para tornar sem efeito a demarcação da reserva ianomâmi. A<br />

partir daquele momento, lamentavelmente, o jornal O Globo silenciou.<br />

Nos últimos anos, Sr. Presidente, cada vez mais, temos assistido a<br />

demarcações de terras indígenas em áreas ricas da nossa Amazônia. Hoje em dia, o<br />

Estado de Roraima está praticamente inviabilizado, porque 60% de sua área foram<br />

demarcadas como terra indígena.<br />

A grande dúvida é: quando o Supremo Tribunal Federal vier a julgar um dia<br />

uma ADIN para tornar sem efeito a reserva ianomâmi, ou quando o Governo Federal<br />

resolver discutir a demarcação daquela área, será que o Brasil agüentará a pororoca<br />

americana contra a nossa vontade? Será que somos um país soberano?<br />

Está mais do que na cara, Sr. Presidente, que no momento não temos<br />

condições de mexer nessa questão, porque parece que os americanos têm aquela<br />

área como território seu.<br />

O que podemos fazer? A Comissão da Amazônia vem propondo que façamos<br />

uma legislação que venha não só facilitar a instalação de pelotões de fronteira do<br />

nosso Exército, como também permita que eles sirvam de pólo de colonização para<br />

garantir aquela área ao nosso País.<br />

Espero que o Projeto Calha Norte não seja sepultado por incompetência<br />

legislativa ou falta de recursos no Orçamento.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. MORONI TORGAN (PFL-CE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, quero abordar tema que está chegando hoje à Casa por<br />

meio do Executivo: as reformas.<br />

Na questão da reforma tributária, por exemplo, não vejo nenhum Estado<br />

disposto a perder arrecadação, mas dizem que ela vai melhorar a vida do brasileiro.<br />

Como poderá ser melhor para a vida do brasileiro, se a tendência é aumentar a<br />

arrecadação de impostos?<br />

Seria melhor se aumentassem a taxação do lucro do sistema financeiro, se<br />

houvesse a taxação das grandes fortunas e das empresas que mandam todo seu<br />

lucro para fora do País. Aí, sim, concordaria com essa reforma tributária. Se for para<br />

aumentar ainda mais os impostos que o brasileiro médio já sofre para pagar, não<br />

haverá qualquer melhora para o cidadão brasileiro.<br />

Dizem também, Sr. Presidente, que a reforma da Previdência melhorará as<br />

condições de vida <strong>dos</strong> brasileiros. Será melhor para os brasileiros acabar com o<br />

sistema legal do País? Quando forem mexer no direito adquirido, que é uma<br />

cláusula pétrea da nossa Constituição, em que os constitucionalistas, os juristas, os<br />

legalistas embasarão o desconto do inativo? Se acabarem com o direito adquirido,<br />

estarão acabando também com o Direito. Estão falando nisso com a maior<br />

simplicidade, como se fosse a coisa mais comum do mundo.<br />

Vemos ainda que quem mais está devendo à Previdência são os banqueiros<br />

e o próprio Governo Federal. Antes de cobrar desses, não vejo como pedirmos<br />

sacrifícios ao aposentado, ao servidor público e ao povo. Então, os banqueiros e o<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

próprio Governo devem arcar com a dívida, porque o prejuízo não é deles, mas da<br />

Nação.<br />

Quero que se entenda direito esse negócio de reformas. Estamos<br />

apresentando a reforma como se fosse a libertação do País. Pelo contrário, reforma<br />

pode representar a escravidão definitiva ao Sistema Financeiro Internacional. A<br />

verdade é esta: o que chamam de reforma é um grilhão que estamos colocando na<br />

sociedade brasileira; o que chamam de reforma é o aprisionamento do País às<br />

regras do Sistema Financeiro Internacional, a fim de colocar a Nação nas mãos<br />

desse poder que tem dirigido as ações em todo o mundo.<br />

Acredito que devemos mesmo ter coragem de iniciar reformas: investigar<br />

quem está roubando ou roubou a Previdência, quem sonegou ou sonega imposto e<br />

pegar o dinheiro de volta. Aí, vou acreditar em reforma. Agora, taxar mais nosso<br />

povo, taxar o aposentado! Como vamos ter amparo legal para taxar o aposentado?<br />

De onde vamos tirar essa legalidade? Não há como encontrar legalidade para isso!<br />

Querer que servidor público, de regime de dedicação exclusiva, que não pode<br />

ter outra função na vida, tenha como aposentadoria um quinto do que recebe na<br />

ativa é justiça? Teremos que convencer servidores públicos que se dedicam<br />

exclusivamente à sua função a aceitar que, depois de aposentado, ganhe 20% do<br />

que ganhava quando estava na ativa. Como chegaremos a um acordo?<br />

Para finalizar, agradeço a V.Exa. e deixo registrado que reformas são as que<br />

venham em benefício do povo e em detrimento do poder financeiro internacional e<br />

nacional. Acredito nessa reforma e manifesto-me desde já na luta contra a que<br />

apregoa o contrário.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. CARLOS NADER (PFL-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, nesta quinta-feira é comemorado o Dia do<br />

Trabalho, o dia do trabalhador. Faço uso desta tribuna, hoje, para levar uma<br />

saudação a to<strong>dos</strong> os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, uma saudação<br />

dentro da nossa realidade. E qual é a nossa realidade? Precisamos gerar mais<br />

empregos. Temos plena consciência de que os trabalhadores do Brasil sonham com<br />

dias melhores, com salários mais dignos, com mais tempo para o lazer e a família. E<br />

há aqueles que, antes disso, sonham conquistar um lugar ao sol no mercado de<br />

trabalho.<br />

Sabemos das aspirações da classe trabalhadora brasileira, que, com seu<br />

esforço e dedicação na labuta do dia-a-dia, impulsiona nosso País. Por isso, esta<br />

data nos leva a inevitáveis reflexões.<br />

O mundo passou por grandes transformações no século passado e não será<br />

diferente neste que está começando. O avanço da tecnologia e as crises<br />

econômicas que afetaram a economia global mudaram muito o cenário do emprego<br />

não só no Brasil, mas também no mundo inteiro.<br />

Atualmente, a geração de postos de trabalho está entre os grandes desafios<br />

da humanidade. Não é diferente no nosso País. Temos uma taxa de desemprego<br />

elevada e devemos combatê-la com todas as nossas forças. É preciso o Brasil<br />

crescer não somente para produzir mais emprego, mas também para dar<br />

estabilidade aos trabalhadores brasileiros. Nenhuma medida, por mais<br />

aparentemente eficaz que seja na geração de emprego, surtirá efeito se não houver<br />

crescimento econômico.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Nas décadas de 70 e 80, éramos classifica<strong>dos</strong> como “o país do futuro”. O<br />

futuro chegou, virou presente e sabemos o quanto decepcionante ele tem sido para<br />

inúmeras gerações que atingiram a idade economicamente ativa e colheram a<br />

desilusão da falta de empregos, um cenário bem diferente daquele que os jovens de<br />

gerações passadas acreditavam encontrar. É um débito histórico que o nosso País<br />

precisa quitar.<br />

Mas eu confio, Sr. Presidente, na capacidade do Brasil de superar desafios.<br />

Nosso País é muito mais pujante do que em geral se mostra. E acredito que vivemos<br />

um momento especial, de amadurecimento, de estabilidade econômica conquistada<br />

a duras penas, conquistada até a um preço elevado para milhões de brasileiros.<br />

Vencemos a inflação, que pulverizava em dias correções salariais<br />

conquistadas depois de meses de luta. Temos estabilidade política, fundamental<br />

para planejar o futuro do País. Temos, em resumo, condições apropriadas para<br />

crescer e proporcionar ao trabalhador brasileiro tempos melhores. Nada humilha<br />

mais o ser humano do que a falta do emprego. Pais e mães de família se sentem<br />

excluí<strong>dos</strong> da sociedade, e de fato estão, se não tiverem o emprego.<br />

Nosso desafio é imenso, mas não deve nos desanimar. A persistência do<br />

povo brasileiro deve estimular a to<strong>dos</strong> — Governo, instituições, sociedade — na<br />

busca por novos tempos, em que emprego não seja um sonho, mas uma realidade<br />

para to<strong>dos</strong>.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que autorize a divulgação deste meu<br />

pronunciamento no programa A Voz do Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. VIGNATTI (PT-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o trabalhador brasileiro vive dias de esperança. A<br />

comemoração do Dia do Trabalho ganha sentido concreto com a perspectiva de dias<br />

melhores neste País. Dias melhores para milhares de homens e mulheres, do<br />

campo e da cidade, que utilizam sua força de trabalho para gerar riqueza e produzir<br />

o desenvolvimento.<br />

A maior riqueza de um país é o seu povo trabalhador, que constrói o<br />

progresso, faz elevar os índices do Produto Interno Bruto, constrói o superávit da<br />

balança comercial, faz cair o Risco Brasil, cultiva a terra e faz brotar dela o alimento<br />

que sacia a fome de gerações. São esses mesmos trabalhadores que fazem baixar<br />

a inflação e que contribuem para que alcancemos a estabilidade no País.<br />

A contribuição da classe trabalhadora, em todas as instâncias, nos serviços<br />

público e privado, é responsável pelo progresso alicerçado nos índices de<br />

desenvolvimento de uma nação.<br />

Os trabalhadores, neste País, têm motivos para se orgulhar. Depois de cinco<br />

séculos marca<strong>dos</strong> por políticas colonialistas, temos, hoje, um País governado por<br />

um Presidente da República surgido da classe trabalhadora. Com o metalúrgico que<br />

virou Presidente da República, inaugura-se uma nova era, um novo tempo marcado<br />

pela esperança. Esta conquista precisa ser comemorada neste 1º de maio.<br />

Os trabalhadores deste País não faltarão ao apoio às medidas saneadoras<br />

que ora serão anunciadas. Não temos dúvida de que serão solidários com o apoio<br />

ao Presidente da República e aos Parlamentares empenha<strong>dos</strong> na construção de um<br />

futuro com justiça social.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A apresentação da reforma da Previdência, a ser trazida a esta Casa pelo<br />

próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda hoje, atesta que vivemos novos<br />

tempos, marca<strong>dos</strong> pelo diálogo, pela confiança do povo nos governantes.<br />

O Brasil tem muitos desafios a superar, entre os quais o de vencer a exclusão<br />

social nas mais variadas áreas. Só para citar alguns da<strong>dos</strong>, lembramos que, embora<br />

tenhamos uma das áreas agricultáveis mais férteis do mundo, ainda convivemos<br />

com milhares de trabalhadores sem acesso à terra. Possuímos 40 milhões de<br />

brasileiros subnutri<strong>dos</strong>. A terra, mal distribuída, expulsa dela milhares de<br />

trabalhadores, obriga<strong>dos</strong> a enfrentar o latifúndio e a resistir, clamando pelo direito de<br />

produzir. Na educação, temos 20 milhões de pessoas com mais de 15 anos que não<br />

sabem ler ou escrever.<br />

Para modificar este quadro, o atual Governo está propondo um conjunto de<br />

reformas que põem o Brasil no rumo do crescimento sustentável e na redução das<br />

desigualdades sociais e regionais.<br />

As reformas da Previdência e tributária, que chegam hoje a esta Casa, são o<br />

sinal concreto do compromisso do Governo com a mudança rumo à eqüidade e à<br />

justiça social.<br />

E não havia melhor dia para esse ato: véspera de 1º de maio, Dia do<br />

Trabalho, o primeiro de um novo tempo, de um Estado operário, com um Presidente<br />

da República operário. Isto sim é motivo para comemorar, e é só o começo. Muito<br />

mais virá.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que meu discurso seja divulgado no programa<br />

A Voz do Brasil e nos órgãos de comunicação da Casa.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. VICENTINHO (PT-SP. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras.<br />

e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, caros telespectadores, no último final de semana, visitei as<br />

cidades de Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo e Ipauçu, região muito alvissareira.<br />

Aproveito a oportunidade para mandar meu abraço às lideranças que me acolheram:<br />

o Sr. Elias, de Ourinhos, os Presidentes regionais do PT de Santa Cruz do Rio<br />

Pardo e de Ipauçu, companheiros que lutam conosco há muito tempo.<br />

Nas palestras ministradas nas Faculdades Estácio de Sá e de Ourinhos,<br />

constatei que as pessoas têm muitas dúvidas. Ali, promovemos análise de<br />

conjuntura para as comunidades que precisam de informação.<br />

Um <strong>dos</strong> temas mais debati<strong>dos</strong> foi o da Previdência Social.<br />

Percebi que a mídia não tem dado as informações devidas.<br />

Quero destacar gesto altamente positivo do Presidente da República, Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, que hoje virá a esta Casa para entregar as propostas de<br />

reforma da Previdência e tributária. Depois que elas forem apresentadas, espero<br />

que as fofocas e os disse-que-disse acabem. Vamos nos basear no que estiver<br />

escrito, no que for concreto.<br />

Por experiência de vida, posso ter divergências e dúvidas em relação à<br />

reforma da Previdência Social, mas a confiança que tenho no Governo Lula é<br />

extraordinariamente superior a qualquer dúvida que possa ter. Muitos no País<br />

pensam que o desconto <strong>dos</strong> inativos será para to<strong>dos</strong>, mas não será. Refere-se ao<br />

setor público. Aliás, estou achando muito baixo o valor que foi sugerido e vamos<br />

propor modificações aqui.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A comunidade não sabe que o servidor público passou a pagar a Previdência<br />

Social a partir de 1992. Não paga há 30 nem há 35 anos. Talvez por isso haja essa<br />

grande divergência. Uma Deputada desta Casa me disse, em viagem internacional,<br />

que se envergonhava de dizer que sua aposentadoria é de 19 mil reais, além do<br />

salário de Deputada.<br />

Essas questões tem de ser analisadas. Temos de apresentar uma proposta<br />

de reforma da Previdência que combata privilégios, que assegure direitos e que dê<br />

resposta aos nossos filhos que, se Deus quiser, trabalharão e precisarão de<br />

Previdência que tenha sustentabilidade.<br />

Sr. Presidente, as visitas às cidades e as conversas nas fábricas têm indicado<br />

a necessidade de a comunidade ser mais bem informada. Pedimos sempre que as<br />

pessoas não se baseiem apenas no que diz a mídia. É importante conversar.<br />

Com a proposta do Governo em mão, poderemos apresentar as nossas. O<br />

Governo apresentará um projeto, ao qual estou disposto a votar favoravelmente.<br />

Mas, se pudermos apresentar emendas, esta é a Casa e o espaço que finalmente<br />

decidirá o verdadeiro encaminhamento.<br />

Este debate é extremamente importante e já dura muitos anos. Constato uma<br />

evolução. O nobre Presidente era Líder do Governo em 1995, quando houve grande<br />

debate sobre a Previdência Social nesta Casa. E o assunto era a contribuição. Hoje,<br />

nem falamos mais sobre isso; já aceitamos, virou consenso. Evoluímos. Naquela<br />

época, apanhávamos quando falávamos nisso. Hoje compreendemos a importância<br />

de se ter uma Previdência solidária e universal. Por isso, precisamos contribuir com<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

igualdade. A Previdência Social tem de ser eficaz e atender também àqueles que<br />

precisam e não podem pagar por ela.<br />

Considero importantíssimo o Sr. Presidente da República sair do Palácio do<br />

Planalto e vir a pé a esta Casa para nos entregar as propostas.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PASTOR AMARILDO (PSB-TO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, sabemos que alguns Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal se aposentarão em breve. Em virtude disso, gostaria que fossem<br />

lembra<strong>dos</strong> pelo Sr. Presidente da República nomes femininos, para que as mulheres<br />

também possam chegar a ser Ministras.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Esta Presidência vai reduzir o<br />

tempo de cada orador para três minutos, porque há dois inscritos para falar no<br />

Grande Expediente e, às 16h, o Sr. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da<br />

Silva, estará nesta Casa para apresentar duas propostas de emenda à Constituição,<br />

sobre a reforma tributária e sobre a reforma da Previdência Social.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Alceu Collares.<br />

O SR. ALCEU COLLARES (PDT-RS. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, recebi hoje nos corredores da <strong>Câmara</strong> elenco<br />

de propostas feitas pelo Presidente Lula, durante a campanha, com relação aos<br />

servidores públicos.<br />

Desse documento destaquei alguns itens que me parecem importantes:<br />

abertura imediata de negociação com os trabalhadores do serviço público;<br />

recuperação do poder de compra do salário <strong>dos</strong> servidores públicos — acho que o<br />

Presidente se esqueceu disso e lhes deu 1% de reajuste, mas foi apenas um<br />

esquecimento do Presidente, não foi uma maldade —; manutenção e melhoria <strong>dos</strong><br />

órgãos públicos; retorno da paridade entre ativos, aposenta<strong>dos</strong> e pensionistas;<br />

abertura de concurso público; respeito às entidades sindicais.<br />

Refiro-me também a manchete do jornal Folha de S.Paulo que diz: FMI cobra<br />

mais reformas do Brasil. O diretor-gerente do FMI, disfarçadamente,<br />

desavergonhadamente, agressivamente, provocativamente, chegou a dizer que as<br />

reformas que estão sendo discutidas são “inconsistentes”. Mais adiante, disse: “O<br />

País ainda não conseguiu sair do meio da floresta”. Eu tenho a impressão de que ele<br />

ainda nos imagina como tribos, como as <strong>dos</strong> nossos irmãos índios, que estiveram<br />

aqui há alguns dias.<br />

Há outro dado, Sr. Presidente: um documento que o Presidente Lula assinou<br />

no Rio Grande do Sul, durante o Fórum Social, em que ele diz ser imoral, indigno<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

taxar o aposentado. Isso está escrito, foi assinado por ele e hoje está sendo citado<br />

por matérias de vários jornais, principalmente da Folha de S.Paulo.<br />

O documento que o Presidente, por intermédio de sua assessoria, produziu é<br />

tão confuso, de redação tão ruim, que parece uma espécie de convênio que o time<br />

de uma vila faz com o time de outra vila, prometendo jogadores, alguns direitos,<br />

alguns reconhecimentos.<br />

A falta de técnica legislativa dessa carta demonstra que o Governo Lula está<br />

perdido, assim como o cusco que cai do caminhão de mudança. Ele perdeu o faro,<br />

lamentavelmente. E agora o Presidente ainda vem com esse ar de arrogância<br />

autoritária, ditatorial, para aqueles que têm coragem de divergir das suas posições<br />

equivocadas! Não foi isso que ele prometeu na campanha.<br />

Na verdade, os companheiros do PT que estão tendo coragem de contestá-lo<br />

prestam-lhe relevante serviço, antes que ele se transforme no Lionel Jospin, da<br />

Esquerda festiva da França que foi esmagada pela Direita, em virtude de seus atos<br />

inconseqüentes; antes que aconteça o que está acontecendo com Fernando de La<br />

Rúa e Carlos Menem na Argentina; ou o que aconteceu com Lech Walessa. To<strong>dos</strong><br />

estavam comprometi<strong>dos</strong> com o capital internacional, assim como Lula está.<br />

Os Srs. Palocci e Henrique Meirelles encaminharam uma carta a esse senhor<br />

que disse que vivemos no meio da floresta.<br />

Não vou descansar enquanto o Presidente Lula não me disser de onde tirou<br />

Henrique Meirelles. Ele era da juventude do PT no passado? Ele integrava a CUT?<br />

Ele integrava algum organismo do PT? Quem obrigou Lula a colocar na Presidência<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

do Banco Central Henrique Meirelles, que sempre esteve a serviço da ditadura e do<br />

capital financeiro internacional especulativo?<br />

Sr. Presidente, peço que o Presidente Lula retire este projeto, porque é<br />

imprestável. Li mil vezes esse projeto — sou professor de Português — e constatei<br />

que se trata de confissão pura e simples de que Lula deseja, assim como Fernando<br />

Henrique desejava, privatizar a Previdência Social, não só o Regime Geral de<br />

Previdência Social, mas o regime <strong>dos</strong> servidores públicos.<br />

Este momento é de rebeldia, de inconformismo. Aqueles que têm consciência<br />

devem dizer a Lula — até para alertá-lo, enquanto é tempo — que o caminho que<br />

está percorrendo levará os trabalhadores e os servidores públicos ao inferno das<br />

necessidades maiores que ele está criando.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – A Presidência informa aos<br />

Parlamentares que darão como li<strong>dos</strong> seus pronunciamentos que, às 15h, abrirá um<br />

espaço de dez minutos para que o façam, pois às 16h o Presidente Lula estará no<br />

plenário.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Concedo a palavra ao Sr.<br />

Deputado Luiz Bittencourt.<br />

O SR. LUIZ BITTENCOURT (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, quero congratular-me com a direção, a equipe<br />

de jornalistas e os funcionários do jornal O Estado de S.Paulo, que nesta<br />

quinta-feira, 25 de abril, chega à edição de nº 40.000, cumprindo uma trajetória que<br />

é referência de isenção e imparcialidade para a imprensa não só do Brasil, mas de<br />

todo o mundo.<br />

O jornal circula desde 1875, quando surgiu com o nome de Província de São<br />

Paulo. Ao longo do tempo, sempre na vanguarda do jornalismo brasileiro, conquistou<br />

o respeito e o crédito da opinião pública nacional.<br />

Pode-se discordar do jornal O Estado de S.Paulo, mas jamais deixar de<br />

reconhecer a contribuição da família Mesquita na construção da democracia em<br />

nosso País, sobretudo na conquista e na garantia das liberdades individuais e do<br />

Estado de Direito.<br />

Deixo, portanto, registra<strong>dos</strong>, Sr. Presidente — sei que V.Exa. defende o<br />

mesmo ponto de vista —, os meus cumprimentos aos diretores, jornalistas e<br />

funcionários do Estadão, com votos de longevidade para a imprensa livre e<br />

democrática no Brasil.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – A Presidência parabeniza o jornal<br />

O Estado de S.Paulo pelo transcurso de mais um aniversário. É raro uma empresa<br />

de qualquer cunho no Brasil ter mais de 100 anos. Esse jornal engloba diversas<br />

atividades, que nos mantêm muito bem informa<strong>dos</strong> sobre o que se passa em nosso<br />

País.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A SRA. PERPÉTUA ALMEIDA (PCdoB-AC. Sem revisão da oradora.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, de certa forma, não ando muito contente com o<br />

que está acontecendo nesta Casa, e boa parte do povo do meu Estado também não.<br />

O jornal Correio Braziliense de hoje traz grande matéria, que diz:<br />

Continua a matéria:<br />

“Acre tem Deputado sobrando.<br />

(...) o Acre deve ter oito Deputa<strong>dos</strong> Federais.<br />

Desde o dia 9, porém, o Estado tem nove representantes<br />

na <strong>Câmara</strong>”.<br />

"De acordo com a Justiça Federal, com o aval do<br />

Supremo Tribunal Federal, o oitavo deputado federal,<br />

Narciso Mendes (PP-AC), deveria ter saído. Decisão do<br />

Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ratificada pelo STF,<br />

tomou-lhe o mandato. Em seu lugar, deveria entrar o nono<br />

deputado, João Tota (PMDB-AC).<br />

Por enquanto, porém, o oitavo parlamentar acreano<br />

permanece com gabinete, salários, regalias, broche de<br />

parlamentar e direito a voto. E o nono representante do<br />

Acre continua sem nada disso, mas com um diploma do<br />

Tribunal Regional Eleitoral..."<br />

Então, vejamos, o que ocorre hoje. O Tribunal Regional Eleitoral do Acre<br />

comunicou a esta Casa a inelegibilidade do Deputado em questão. Em seguida,<br />

comunicou também a necessidade do cumprimento da decisão da Justiça. No dia 19<br />

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de dezembro, o TRE deu diploma de suplente ao Deputado João Tota. Após a<br />

decisão da Justiça — e decisão da Justiça se cumpre —, o TRE do Acre deixou bem<br />

claro o cancelamento do diploma do Deputado, e o painel deste plenário continua<br />

registrando sua presença, e diplomou um novo Deputado.<br />

Portanto, ou esta Casa cumpre decisão da Justiça e faz o que o Acre inteiro<br />

está aguardando ou estará incorrendo em improbidade administrativa, porque há 20<br />

dias está pagando incorretamente um Parlamentar em detrimento de quem tem seus<br />

direitos. Aguardamos que essa decisão seja tomada hoje pela Mesa da Casa para o<br />

bem da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> e para que não mais sejamos motivo de manchetes<br />

na imprensa nacional.<br />

Muito obrigada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Em nome do Presidente João<br />

Paulo Cunha, informo à ilustre Deputada que a Mesa está tomando todas as<br />

providências e deverá decidir hoje. Precisávamos assegurar o amplo direito de<br />

defesa, pois é o mais sagrado depois <strong>dos</strong> direitos à vida e à liberdade. Aguardamos<br />

as cinco sessões regimentais para que não houvesse nova decisão judicial contra a<br />

Casa. O caso está sendo tratado da melhor maneira possível, resguardando a<br />

imagem deste Poder e para que não paire a menor dúvida sobre a lisura desta<br />

Casa, tão bem presidida pelo Deputado João Paulo Cunha.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Nelson Proença, para uma Comunicação de Liderança, pelo PPS. S.Exa.<br />

disporá de três minutos.<br />

O SR. NELSON PROENÇA (PPS-RS. Como Líder. Sem revisão do orador.) –<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, venho hoje a este plenário fazer um alerta e<br />

defender a nossa legislação sobre biossegurança, que, infelizmente, vem sendo alvo<br />

de vontades de grupos políticos radicais e pouco conhecedores do cuidado que o<br />

Brasil tem com a segurança <strong>dos</strong> produtos geneticamente modifica<strong>dos</strong>.<br />

Minha preocupação respalda-se em várias matérias divulgadas pela mídia<br />

brasileira e em documento que vem circulando informalmente no Congresso<br />

Nacional, mais precisamente um esboço de medida provisória propondo alterações<br />

na Lei de Biossegurança, sobretudo no tocante às atribuições da CTNBio —<br />

Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Esse documento corrobora<br />

informações que vimos recebendo de entidades e de técnicos sobre a intenção do<br />

Governo de reformular as competências, a composição e o poder vinculante das<br />

decisões da Comissão, alegando que a lei não apresenta clareza quanto a esses<br />

aspectos.<br />

Em primeiro lugar, quero deixar clara a minha posição contrária a qualquer<br />

alteração na Lei de Biossegurança por meio de medida provisória. Além de não<br />

obedecer aos requisitos de urgência e relevância, a introdução de mudanças com o<br />

objetivo de enfraquecer ou mudar a composição de órgãos técnicos deve ser<br />

rigorosa e amplamente analisada pela <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> e pelo Senado<br />

Federal, sem que tenhamos que nos submeter à ditadura da vigência imediata e <strong>dos</strong><br />

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prazos estabeleci<strong>dos</strong> pelo instituto da medida provisória. Mais do que isso, é um<br />

desrespeito ao Congresso Nacional enviar medidas que seriam, na verdade,<br />

compilações de leis já existentes, com alterações pontuais, visando unicamente a<br />

atender demandas de setores específicos do Governo, quando, na verdade, esses<br />

aspectos já foram devidamente discuti<strong>dos</strong> com a presença de autoridades científicas<br />

e da sociedade civil, quando da formulação da lei.<br />

Sr. Presidente, estamos diante da possibilidade de alteração sumária de uma<br />

de nossas melhores legislações, pensada e analisada por cientistas e políticos da<br />

mais alta qualidade e renome e que vem inclusive servindo de modelo para vários<br />

países da América do Sul e da Europa.<br />

Este Congresso passou três anos discutindo e analisando normas de<br />

segurança e mecanismos de fiscalização para o uso da engenharia genética em<br />

organismos geneticamente modifica<strong>dos</strong>. O Relator da matéria na <strong>Câmara</strong>, o então<br />

Deputado Sérgio Arouca, reconhecido homem vinculado às pesquisas e líder<br />

nacional do meu partido, o PPS, preocupou-se em ouvir pesquisadores, entidades<br />

científicas e representantes da sociedade civil para que pudéssemos ter hoje uma<br />

das mais avançadas leis do mundo, tal como é hoje considerada por autoridades<br />

internacionais da área de biotecnologia a nossa Lei de Biossegurança.<br />

Temos um <strong>dos</strong> melhores aparatos de segurança para organismos<br />

transgênicos, fundado nas atribuições da CTNBio, e não podemos permitir que a lei<br />

seja modificada sem as devidas discussões e participação <strong>dos</strong> diversos segmentos<br />

da sociedade.<br />

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Na verdade, o que esses documentos mostram é a clara intenção de<br />

enfraquecer o poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança — CTNBio,<br />

eliminando o poder vinculante de seus pareceres técnicos e permitindo que eles<br />

sejam refuta<strong>dos</strong>. Nós sabemos que hoje a CTNBio, ligada ao Ministério da Ciência e<br />

Tecnologia, é responsável pelo estabelecimento de normas técnicas de segurança e<br />

pela elaboração de pareceres referentes à proteção da saúde humana e do meio<br />

ambiente, para atividades que envolvam construção, experimentação, cultivo e<br />

comercialização de Organismos Geneticamente Modifica<strong>dos</strong> (OGMs) e seus<br />

deriva<strong>dos</strong>. É composta por dezoito membros titulares, oito <strong>dos</strong> quais especialistas de<br />

notório saber científico e técnico, em exercício na área de biotecnologia (dois da<br />

área humana, dois da área animal, dois da área vegetal e dois da área ambiental),<br />

além de representantes de órgãos legalmente constituí<strong>dos</strong> de defesa do consumidor<br />

e da saúde do trabalhador, do setor empresarial de biotecnologia e <strong>dos</strong> Ministérios<br />

da Ciência e Tecnologia, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Saúde, do<br />

Meio Ambiente, da Educação e das Relações Exteriores. Sua composição foi<br />

concebida justamente para contemplar discussões e interesses de diversos<br />

segmentos sociais liga<strong>dos</strong> ao uso de transgênicos, na intenção de formular<br />

documentos coesos e apoia<strong>dos</strong> pela comunidade científica.<br />

A criação de uma Comissão de tão alta qualidade técnico-científica e<br />

representatividade social foi estabelecida pela Lei de Biossegurança como forma de<br />

estabelecer um modelo regulatório ligado ao princípio da precaução; ou seja, como<br />

forma de garantir a segurança <strong>dos</strong> produtos geneticamente modifica<strong>dos</strong> para a<br />

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saúde humana e para o meio ambiente, caso a caso, antes mesmo de sua liberação<br />

para cultivo.<br />

É por essa razão, Sr. Presidente, que os pareceres técnicos da CTNBio são<br />

considera<strong>dos</strong> conclusivos e vinculantes pela lei atual, pois eles visam orientar e<br />

subsidiar os órgãos de fiscalização em cada área de atuação. O que o Governo<br />

parece estar tramando é a verdadeira desmoralização <strong>dos</strong> pareceres técnicos, ao<br />

propor que estes possam ser refuta<strong>dos</strong> por qualquer parecer de órgãos que<br />

atendam a critérios de motivação, fundamentação, razoabilidade e legalidade — a<br />

nosso ver, princípios bastante subjetivos. Se aprovarmos essa proposta, estaremos<br />

prevendo em lei o caos na área de biotecnologia. Estaremos abrindo espaço para as<br />

brigas entre Ministérios e entre pontos de vista econômicos versus e pontos de vista<br />

de ambientalistas, agricultores ou de órgãos de defesa do consumidor; o que só<br />

trará prejuízos para a nossa agricultura e para o nosso desenvolvimento<br />

socioeconômico.<br />

Acredito que agora seja o momento de esclarecer falsas dicotomias, de<br />

eliminar preconceitos contra a ciência, de incentivar e respeitar a pesquisa científica<br />

no Brasil. É nesse sentido que nós, do PPS, nos preocupamos em trazer técnicos de<br />

renome para discutir o uso de transgênicos. E é também nesse sentido que a<br />

Comissão de Agricultura e Política Rural desta Casa vem promovendo um ciclo de<br />

seminários sobre inovações biotecnológicas na agricultura. É muito importante que o<br />

País honre a sua legislação e seus cientistas e esteja preparado e competitivo para<br />

a revolução na agricultura mundial. O caminho deve ser esse: debate,<br />

esclarecimento e biotecnologia com biossegurança, a nosso favor.<br />

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Gostaria, aqui, de ressaltar um <strong>dos</strong> pontos que foram discuti<strong>dos</strong> em nosso<br />

seminário sobre o tema e que ilustra a importância de termos lucidez diante <strong>dos</strong><br />

avanços tecnológicos: Por um erro grave, que chegou a contar com o apoio das<br />

Esquerdas, perdemos a oportunidade de acompanhar mais de perto a revolução e<br />

as conquistas na área da informática, quando o Brasil adotou, sob o regime <strong>dos</strong><br />

militares, a reserva de mercado. A biotecnologia também é uma revolução científica<br />

de grandes proporções e não podemos ficar de fora dela, até mesmo porque temos<br />

possibilidades reais de ser um protagonista ativo do que vem sendo feito em escala<br />

internacional nesta área. A EMBRAPA e tantos centros universitários e de pesquisa<br />

públicos e priva<strong>dos</strong> são os nossos principais instrumentos nesta corrida. Espero que<br />

o Congresso seja um aliado da ciência e de seus avanços, não o seu coveiro, o seu<br />

algoz.<br />

Nesse sentido, cabe lembrar que a Comissão de Ciência e Tecnologia,<br />

Comunicação e Informática já criou uma Subcomissão Especial destinada<br />

exclusivamente a analisar a situação <strong>dos</strong> alimentos transgênicos no Brasil, na qual<br />

estaremos dispostos a discutir to<strong>dos</strong> os assuntos relaciona<strong>dos</strong> à matéria, no intuito<br />

de colher informações e formular políticas adequadas ao uso de OGMs.<br />

Portanto, Sr. Presidente, eu não poderia me calar diante da ameaça que paira<br />

sobre a nossa Lei de Biossegurança. Se há polarizações entre grupos políticos<br />

antagônicos, por mais que estendamos nossos conceitos de liberdade e democracia,<br />

não podemos aceitar que a Presidência da República traga para cá<br />

desentendimentos que devem ser decidi<strong>dos</strong> no seu âmbito. Não podemos assistir ao<br />

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enfraquecimento de um <strong>dos</strong> melhores órgãos técnicos nacionais — a CNTBio e de<br />

seus técnicos.<br />

Quero, por fim, ressaltar que a Liderança do PPS sempre defendeu e<br />

continuará defendendo o amplo debate para formulação de políticas para o nosso<br />

desenvolvimento biotecnológico, a exemplo da concepção da Lei de Biossegurança,<br />

não somente pela excelência de seu modelo, reconhecido internacionalmente, mas<br />

sobretudo por ser um símbolo de nossa capacidade de diálogo democrático e de<br />

preparo para um futuro tecnológico inevitável.<br />

Creio que a política, se quer conduzir os destinos do Brasil, precisa andar de<br />

braços da<strong>dos</strong> com os pesquisadores e com a ciência. Obviamente, sempre levando<br />

em consideração os interesses nacionais, o meio ambiente e a defesa da vida.<br />

Sr. Presidente, essa tentativa de alteração da Lei de Biossegurança por<br />

medida provisória precisa encontrar o repúdio da integralidade desta Casa. Se se<br />

pretende fazer alterações na lei, é preciso que o Congresso Nacional discuta em<br />

profundidade, em conjunto com a sociedade brasileira, essas alterações. O Brasil já<br />

cometeu erros pareci<strong>dos</strong> no passado, quando ingressou na aventura da reserva de<br />

mercado para a informática. Isso acarretou enorme atraso para o Brasil. Não<br />

podemos, de novo, ir na contramão da história e prejudicar a pesquisa científica que<br />

se faz no Brasil na área de biossegurança.<br />

Faço este alerta a todas as pessoas envolvidas no assunto, inclusive aos<br />

meus companheiros da bancada do Rio Grande do Sul. Sei que muitos deles não<br />

concordam com a minha posição, mas tenho certeza de que concordarão com a<br />

necessidade de se discutir em profundidade esse assunto e com o fato de que não<br />

se pode fazer alterações na Lei de Biossegurança por meio de medida provisória.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Esta Presidência informa ao<br />

Plenário que o Deputado Nelson Proença falou como Líder pois S.Exa. é Vice-Líder<br />

do PPS e hoje não há Ordem do Dia.<br />

to<strong>dos</strong> falem.<br />

Peço aos Srs. Deputa<strong>dos</strong> que observem rigorosamente o tempo para que<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Tem a palavra o Sr. Deputado<br />

Edson Duarte.<br />

O SR. EDSON DUARTE (PV-BA. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,<br />

quero registrar um fato histórico. Participamos há pouco, nesta Casa, do<br />

encerramento do Encontro Nacional <strong>dos</strong> Povos Indígenas, no qual foram elabora<strong>dos</strong><br />

documentos importantes que gostaria que fossem incluí<strong>dos</strong> nos Anais desta Casa: o<br />

documento final do Encontro Nacional <strong>dos</strong> Povos Indígenas; o decreto que institui a<br />

Comissão Provisória de Parlamentares Indígenas e, por último, um abaixo-assinado<br />

do povo xavante — Região Centro-Oeste.<br />

Solicito a transcrição desses documentos visando a providências desta Casa.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – V.Exa. será atendido.<br />

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 732 A 732-G)<br />

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O SR. LOBBE NETO (PSDB–SP. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o escritor e professor de Letras da Universidade<br />

Federal de São Carlos, Deonísio da Silva, em sua coluna no site Eptv.com desta<br />

semana, faz uma analise da atual conjuntura política do Governo Federal, sob o<br />

comando petista, que nos chamou a atenção.<br />

Essa análise, cuja íntegra relato neste pronunciamento, nos mostra<br />

sinteticamente o quanto é “mais fácil falar do que fazer” e que governar é um ato que<br />

vem após o palanque eleitoral. Acima de tudo nos mostra o que a grande maioria<br />

daqueles que desejavam mudanças está pensando sobre o tratamento dado à<br />

população pelo Governo petista.<br />

Segue a transcrição do artigo:<br />

“Inativos? Somente alguns vulcões<br />

No Brasil pós-64, durante a travessia do deserto<br />

ditatorial, rumo à terra prometida da democracia, foram<br />

anuncia<strong>dos</strong> leite e mel. Mas os profetas esqueceram de<br />

avisar ao distinto público que vacas podem dar também<br />

guampadas e coices. E abelhas, ferroadas.<br />

Semana passada, na Granja do Torto, onde há<br />

quase 20 anos nenhum ditador põe os pés, o presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com 27 governadores<br />

e to<strong>dos</strong> chegaram a certos consensos. Um deles pode ser<br />

emblema das reformas em andamento. Os servidores<br />

aposenta<strong>dos</strong>, também chama<strong>dos</strong> inativos, que ganham<br />

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mais do que R$ 1.058,00 — pouco mais do que o salário<br />

mínimo de algumas nações que não são ricas,<br />

equivalente a mais ou menos U$ 340,00 — vão ser<br />

taxa<strong>dos</strong> outra vez.<br />

Li as declarações emanadas daquele encontro e<br />

voltei à preparação de aulas que ministro no curso de<br />

Letras da Universidade Federal de São Carlos. Uma das<br />

disciplinas tem Os Lusíadas como bibliografia solar. Ali<br />

está muito claro que o rei português reinava e governava,<br />

ao contrário de outros soberanos europeus, que<br />

reinavam, mas não governavam. Tudo era com ele,<br />

incluindo a arrecadação que financiou as navegações que<br />

levaram à descoberta do Brasil.<br />

Pois o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha a<br />

cada dia o perfil de estadista que tantos lhe negaram.<br />

Está preocupado com todas as questões, dá evidentes<br />

amostras do quanto algumas delas o angustiam, mas<br />

começa a navegar em mares que se antevêem<br />

procelosos. Seu governo vai dar de cara com o gigante<br />

Adamastor, o sexto episódio de Os Lusíadas. Depois <strong>dos</strong><br />

delica<strong>dos</strong> primeiros 100 sóis que são passa<strong>dos</strong>, ‘cortando<br />

mares nunca de outrem navega<strong>dos</strong>/ prosperamente os<br />

ventos assoprando’, seu governo tem pela frente uma<br />

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nuvem ‘que os ares escurece’, ‘sobre nossas cabeças<br />

aparece’ e que já em outras ocasiões ‘pôs nos corações<br />

um grande medo’.<br />

O governo ameaça perder as primeiras batalhas<br />

para si mesmo e para notórios alia<strong>dos</strong>. Por que tratar<br />

como inativo quem não é e nem está? Muitos pais e avós<br />

estão sustentando filhos e netos desemprega<strong>dos</strong>. Às<br />

vezes, com aposentadorias acrescidas de novos<br />

trabalhos. Não é mais aconselhável fazer uma devassa<br />

nas aposentadorias suspeitas? O presidente não perderia<br />

os apoios que já tem e ainda ganharia outros. Por que<br />

oferecer 1% de aumento aos servidores que estavam e<br />

estão esperando Godot? Aumento zero seria melhor do<br />

que 1%, que humilha e ofende. Os verdadeiros problemas<br />

são outros. Não é melhor ser franco e dizer que Godot<br />

não virá este ano e nem no próximo?<br />

Churchill fez assim e ganhou a Segunda Guerra<br />

Mundial. Charuto na boca, semblante irritado, prometeu<br />

"sangue, suor e lágrimas". Nenhum publicitário teria<br />

aprovado, mas felizmente aquele era um tempo diferente.<br />

Quem mandava, reinava e governava. Inclusive nos<br />

publicitários, que sempre os houve, mas no lugar deles! É<br />

verdade que Churchill perdeu em seguida as eleições<br />

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Era o que tinha a dizer.<br />

para vereador. Mas o que lembramos é que ele ganhou a<br />

guerra e a medalha que até então tinha sido conferida<br />

apenas ao cadáver de Lorde Nelson, que morreu em<br />

Trafalgar, depois de vencer a batalha a bordo de uma nau<br />

chamada apropriadamente Vitória”.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. NEUTON LIMA (PTB – SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é com imenso júbilo que desejo registrar, nos<br />

Anais da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, um aniversário <strong>dos</strong> mais importantes para a minha<br />

cidade: os quarenta e oito anos do jornal Tribuna de Indaiá.<br />

Fundado em 17 de abril de 1955, por Rafael Elias José Aun e Renato Laércio<br />

Talli, foi adquirido em 1960 pelo Sr. Gabino Ferreira de Miranda.<br />

Moderno, ágil, equilibrado e independente, esse excelente jornal é um<br />

exemplo de iniciativa vitoriosa, que tem sabido conciliar a boa administração<br />

financeira com as exigências éticas decorrentes de sua importância social.<br />

Os frutos que hoje colhem os diretores e funcionários dessa empresa são<br />

resulta<strong>dos</strong> de um longo e vigoroso trabalho de aprimoramento, que progrediu passo<br />

a passo, em sintonia com o desenvolvimento do País, de São Paulo e de toda a<br />

região que tem em Indaiatuba um eixo de referência econômica e cultural.<br />

Este foi sem dúvida o século que trouxe as mais amplas e profundas<br />

transformações à sociedade brasileira, que viu sua condição agrária evoluir para<br />

uma organização espacial e produtiva baseada no impulso da industrialização.<br />

Foram décadas de lutas, conquistas, impasses e interrogações cujas conseqüências<br />

se fizeram sentir em todo o País, com destaque para São Paulo, líder do processo<br />

de acumulação industrial.<br />

Nesse ambiente rico e estimulante, o jornal Tribuna de Indaiá soube absorver<br />

as melhores influências e captar com sensibilidade as demandas comunitárias e a<br />

síntese que ali se fazia <strong>dos</strong> sentimentos nacionais.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Como to<strong>dos</strong> sabemos, não foram poucas as dificuldades de administrar uma<br />

empresa brasileira nesse século, marcado por oscilações políticas e instabilidades<br />

econômicas de toda ordem. Manter a saúde financeira de uma empresa de<br />

comunicação foi, em muitos momentos, uma atitude heróica, como comprovam as<br />

dificuldades por que passaram e ainda passam jornais de todo o País.<br />

No caso do jornal Tribuna de Indaiá, sua sintonia com as necessidades da<br />

comunidade possibilitou o acompanhamento <strong>dos</strong> avanços tecnológicos, utiliza<strong>dos</strong><br />

para garantir a prestação de serviços de qualidade. Isso significa que a rapidez na<br />

difusão de informações foi sempre acompanhada da responsabilidade jornalística<br />

imprescindível no trabalho de uma empresa formadora da opinião pública.<br />

Mais do que nunca vemos como é decisivo o papel da imprensa na<br />

estabilidade democrática. Sua intervenção no controle das ações do Estado mostra-<br />

se imprescindível, mas deve ser feita com cautela e critérios éticos, sob pena de<br />

confundir os cidadãos que deveria informar.<br />

Por isso mesmo, sentimo-nos à vontade para elogiar a ação de nosso<br />

homenageado, que soube manter-se vigilante e participativo em to<strong>dos</strong> os momentos<br />

políticos, sem nunca perder sua autonomia nem deixar-se influenciar pelas correntes<br />

partidárias e ideológicas que se sobressaíram nas campanhas, debates e<br />

movimentos culturais que dominaram a cena ao longo da história local e nacional.<br />

Essa empresa moderna, que dispõe de amplos recursos técnicos e grande<br />

corpo jornalístico, tem sabido como poucas realizar o papel social que dela esperam<br />

seus leitores e a comunidade de um modo geral.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Estão de parabéns os membros da família Miranda, pela sobriedade e<br />

coerência administrativa com que dirigem a empresa, e os emprega<strong>dos</strong>, que tanto<br />

têm contribuído para manter a respeitabilidade de um jornal cuja influência se faz<br />

sentir por todo o interior de São Paulo.<br />

Deixo aqui registrado, como representante de Indaiatuba, votos de que seus<br />

serviços jornalísticos possam aprimorar-se cada vez mais, mantendo a sintonia com<br />

a comunidade que sempre foi sua marca e sua razão de ser.<br />

Gostaria também de encaminhar uma indicação ao Ministério da Educação,<br />

que sugere a adoção de providências no sentido de incluir a disciplina Cidadania nos<br />

currículos escolares.<br />

Obrigado.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. CONFÚCIO MOURA (PMDB-RO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, visitei a cidade de Buritis nos dias 21 e 22 de<br />

abril deste ano. Não vou falar de diversos assuntos e problemas que me foram<br />

relata<strong>dos</strong> devido à imensa abrangência de to<strong>dos</strong>. Vou me restringir ao tema saúde<br />

pública.<br />

A cidade de Buritis é nova. Tem seu segundo Prefeito. É antes de tudo a<br />

cidade da reforma agrária, da pequena agricultura familiar, onde todo mundo<br />

trabalha com imensa dedicação, passando por cima de todas as dificuldades<br />

naturais de uma cidade em implantação.<br />

Este foi o ano — e vi com meus próprios olhos — da abundância na colheita<br />

do café. Os produtores não têm onde armazenar o café. As sacarias ficam expostas<br />

do lado de fora, inclusive recebendo águas das chuvas. E o comércio agradece todo<br />

esse esforço produtivo <strong>dos</strong> pequenos produtores rurais <strong>dos</strong> mais de 16 projetos de<br />

assentamentos da região.<br />

As estatísticas mostram que é uma das cidades de maior incidência de<br />

malária do Estado de Rondônia. O isolamento geográfico do Município no tempo<br />

chuvoso é uma constante, devido aos atoleiros e às pontes caídas. Mas deixemos<br />

esses assuntos de lado. Como disse anteriormente, abordarei o tema da saúde<br />

pública.<br />

O belo hospital construído com recursos federais — por interferência deste<br />

Parlamentar — todo equipado e ainda muito bem conservado, passa por uma<br />

situação de constrangimento. O seu pessoal, desde a inauguração, há 3 anos, vem<br />

desempenhando suas funções sob a aberrante condição de “trabalho emergencial”.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A cada fim de ano é uma nova agonia, são to<strong>dos</strong> demiti<strong>dos</strong>. Além da insegurança<br />

natural, sofrem a indefinição de não saberem a quem estão subordina<strong>dos</strong>.<br />

Conforme depoimentos <strong>dos</strong> trabalhadores do Hospital de Buritis, o que não é<br />

diferente do Hospital de Extrema, Distrito de Porto Velho, os salários estão quatro<br />

meses atrasa<strong>dos</strong>. Por falta de mão-de-obra especializada, os médicos, enfermeiros,<br />

bioquímicos, auxiliares de enfermagem, to<strong>dos</strong> foram atraí<strong>dos</strong> de outras cidades.<br />

Portanto, têm despesas obrigatórias com aluguel, energia elétrica, alimentação e<br />

outras necessidades. Diante da imprevisibilidade, muitos deles estão trabalhando<br />

nas roças de café, para ganhar um complemento salarial, ajudando os pagamentos<br />

mais urgentes.<br />

Sr. Presidente, nessa anarquia desmoralizadora do Estado não se definem<br />

regras claras. É sabido e notório que esse Município e o Distrito de Extrema não têm<br />

como assumir o controle do hospital público devido aos imensos custos de<br />

manutenção e gastos com o pagamento de pessoal. Hoje, estima-se que os gastos<br />

sejam em torno de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) por mês.<br />

E o Estado, distante, faz o remendo do atendimento, que mais prejudica a<br />

imagem do que representa uma solução prática das necessidades. Todo mundo por<br />

ali trabalha sem a motivação necessária, exaustos diante da expectativa que se<br />

distancia. E não é difícil, Sr. Presidente, resolver o problema da saúde nas duas<br />

localidades citadas.<br />

O primeiro passo é o pedido, em caráter de urgência da parte do Exmo. Sr.<br />

Governador do Estado, pedindo a autorização à Assembléia Legislativa para a<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

contratação emergencial do pessoal <strong>dos</strong> hospitais e o pagamento retroativo até o<br />

final deste ano.<br />

O segundo passo é a abertura de concurso público, com a criação <strong>dos</strong> cargos<br />

básicos e a fixação <strong>dos</strong> salários específicos para essas duas localidades isoladas e<br />

distantes <strong>dos</strong> centros administrativos do Estado, incluindo na proposta o diferencial<br />

de incentivo à interiorização e a difícil acesso.<br />

Além disso, proporíamos a municipalização de to<strong>dos</strong> os serviços de saúde,<br />

desde que o Estado faça a cessão do pessoal, vez que os Municípios ultrapassariam<br />

os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, caso ficassem sob suas atribuições<br />

to<strong>dos</strong> os encargos incidentes sobre a folha de salário.<br />

Não há mistério para a solução rápida da crise vivida pelos dois hospitais no<br />

Estado. Não digo que os outros estejam às mil maravilhas, mas estes estão caóticos<br />

e inadministráveis.<br />

Há dezenas de modelos alternativos para a gerência dessas unidades<br />

especiais, basta que se tenha boa vontade, além do forte desejo do atendimento<br />

básico e primário das necessidades de gente humilde — e posso falar sem medo de<br />

errar, gente humilde e trabalhadora, que está fazendo sua parte plantando sua roça,<br />

criando seu gado e gerando emprego para suas famílias. Então, são brasileiros<br />

dignos, digníssimos, que envaidecem qualquer governante pela coragem e pela<br />

devoção com que enfrentam todas as adversidades.<br />

Sr. Presidente, este é um discurso de denúncia, que reflete todas as vozes<br />

daquela gente. E desta tribuna, consolido todas elas, nas minhas palavras, dizendo<br />

com voz firme: Chega! Basta de tanta omissão. Basta de tanta burocracia e<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

indiferença. Ao Governo cabe o papel de simplesmente governar, e não o de<br />

atrapalhar a vida das pessoas.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. BENJAMIN MARANHÃO (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, talvez o maior motivo de orgulho de<br />

qualquer integrante da raça humana seja sua capacidade de raciocínio, de criação,<br />

de aprendizado através da experiência, do enfrentamento de dificuldades, da<br />

solução imaginativa de seus problemas e da transmissão <strong>dos</strong> conhecimentos<br />

adquiri<strong>dos</strong> aos seus sucessores.<br />

Contrariamente a essa tão decantada qualidade, um <strong>dos</strong> maiores defeitos<br />

humanos é justamente o de, passada a dificuldade inicial, desprezar o problema,<br />

menosprezar sua solução e o esforço despendido para se chegar a ela, como se, a<br />

partir de então, tudo na vida viesse a ser fácil, descomplicado e prazeroso.<br />

Esse é, talvez, o maior erro que se pode cometer, pois, ao nos habituarmos<br />

com tal procedimento, amortecemos nossa capacidade criativa, sufocamos nossa<br />

disposição de luta e entregamos o rumo mesmo de nossas vidas, nossa própria<br />

independência, ao sabor <strong>dos</strong> acontecimentos ou da vontade alheia.<br />

É nesse erro crasso que nós, no Brasil, temos seguidamente incorrido.<br />

Primeiramente, lutamos para ver soluciona<strong>dos</strong> nossos problemas mais graves;<br />

depois, quando passamos por perío<strong>dos</strong> de maior tranqüilidade, abandonamos to<strong>dos</strong><br />

os acertos que tivemos e nos pomos, irresponsavelmente, a imitar comportamentos<br />

alheios, por puro comodismo, esquecendo-nos de que, na maioria das vezes,<br />

soluções alheias são boas apenas para problemas alheios, e sua aplicação a nossos<br />

casos pode apenas substituir a dificuldade atual por outra, talvez de solução mais<br />

difícil ainda que a inicial.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Foi exatamente assim que procedemos quando, na década de setenta, todo o<br />

mundo foi obrigado a enfrentar, por duas vezes, os chama<strong>dos</strong> “choques do<br />

petróleo”, com abruptas altas nos preços cobra<strong>dos</strong> pelos principais países<br />

exportadores desse energético, que causaram profun<strong>dos</strong> impactos na economia de<br />

virtualmente todas as nações do planeta.<br />

Demonstrando nosso valor, nossa disposição de luta e nossa coragem e<br />

criatividade para enfrentar e vencer dificuldades, engendramos o Programa Nacional<br />

do Álcool, mais conhecido como PROALCOOL, que tratou de buscar, através da<br />

produção de álcool etílico a partir da cana-de-açúcar, a substituição de uma parcela<br />

<strong>dos</strong> combustíveis deriva<strong>dos</strong> do petróleo que éramos obriga<strong>dos</strong> a importar, para<br />

suprir nossas necessidades de consumo.<br />

Durante sua existência, o PROALCOOL mostrou ser um programa coroado<br />

de êxitos, ajudando o País a conquistar independência tecnológica, com a utilização<br />

em larga escala de um combustível renovável, experiência única no mundo, hoje<br />

ambicionada por outros países, como a França, Suécia e até mesmo os Esta<strong>dos</strong><br />

Uni<strong>dos</strong>; ofereceu amplas e novas possibilidades de emprego a centenas de milhares<br />

de brasileiros, empregando mais de um milhão de trabalhadores e constituiu-se em<br />

importante fator de alavancagem para a vida econômica nacional, pois, para um<br />

investimento de pouco mais de 11 bilhões de dólares, gerou para o País uma<br />

economia de divisas superior a 27 bilhões de dólares, através da substituição da<br />

importação de combustíveis.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Não fosse tudo isso bastante, devemos ainda creditar ao PROALCOOL uma<br />

acentuada melhoria na qualidade de vida no Brasil, com a redução de mais de 50%<br />

da emissão de poluentes atmosféricos em nossas cidades maiores.<br />

No entanto, apesar de to<strong>dos</strong> esses magníficos resulta<strong>dos</strong>, esse programa foi<br />

sendo abandonado e esquecido, em virtude de quedas episódicas <strong>dos</strong> preços<br />

internacionais do petróleo, de momentâneas dificuldades de abastecimento de álcool<br />

e de graves indefinições na política nacional de preços de combustíveis.<br />

Hoje, vemos com tristeza que o País anda na contramão da história: enquanto<br />

nos países mais ricos e desenvolvi<strong>dos</strong> se busca incentivar o uso de combustíveis<br />

renováveis, como o álcool, visando a reduzir seus níveis de poluição atmosférica, o<br />

Brasil lança mão, cada vez mais, de combustíveis deriva<strong>dos</strong> do petróleo, fazendo<br />

retornarem seus antigos problemas de poluição urbana — sem contar com a<br />

constante instabilidade <strong>dos</strong> preços internacionais do petróleo e com a ameaça<br />

sempre presente do retorno à dependência da importação de combustíveis.<br />

Por isso mesmo, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é que precisamos<br />

rapidamente fazer o Brasil retornar ao rumo certo do seu desenvolvimento<br />

sustentável, através de um novo modelo de matriz energética que fuja da atual<br />

baseada em combustíveis fósseis, e envidar nossos melhores esforços para a<br />

retomada do PROALCOOL, incentivando sua expansão nas áreas das novas<br />

fronteiras agrícolas do País, além de fomentar novos investimentos para a<br />

introdução, em áreas tradicionais de produção de cana-de-açúcar, de novas<br />

tecnologia, inclusive com a inclusão <strong>dos</strong> pequenos engenhos de açúcar e álcool.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Também é necessário a retomada da cultura da mamona, para a produção do<br />

biodiesel, cultura essa ecologicamente adaptada ao semi-árido.<br />

Tudo isso com vistas a melhorias de produtividade, de modo a gerar mais<br />

empregos, fixar o trabalhador rural ao campo, produzir combustíveis renováveis,<br />

fontes de energia farta, barata e não-poluente e economizar as reservas financeiras<br />

nacionais, poupadas pela não-importação de petróleo, para aplicação em programas<br />

sociais, como o Fome Zero, agora lançado pelo Governo Federal, objetivando<br />

reduzir a imensa desigualdade e injustiça social e, sobretudo, a miséria que,<br />

infelizmente, ainda existe no País.<br />

Temos certeza de que, assim procedendo, estaremos lançando as fundações<br />

de um Brasil rico, progressista e desenvolvido, onde to<strong>dos</strong> seus cidadãos tenham<br />

direito a uma boa qualidade de vida e tenham orgulho de sua nacionalidade.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. IVO JOSÉ - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. IVO JOSÉ (PT-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, gostaria de anunciar com tristeza o falecimento de um estadista<br />

brasileiro, o ex-Vice-Presidente da República Aureliano Chaves de Mendonça, a<br />

quem prezamos muito. Ex-Governador e ex-Deputado, S.Exa. foi um parceiro, um<br />

companheiro de trincheira na defesa do nacionalismo brasileiro.<br />

Nesta oportunidade, rendemos nossas condolências e as da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong><br />

Deputa<strong>dos</strong> a seus familiares.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Esta Presidência associa-se às<br />

homenagens póstumas que V.Exa. presta ao ilustre homem público que foi<br />

Aureliano Chaves. Tive a oportunidade de conviver com S.Exa. durante mais de<br />

vinte anos e posso falar de sua honestidade, seriedade e espírito público.<br />

Nacionalista convicto, sempre defendeu os interesses de sua terra natal, do seu<br />

Estado, Minas Gerais, e sobretudo os mais sagra<strong>dos</strong> interesses do nosso País. É<br />

justa a homenagem que V.Exa. presta nesta hora ao ilustre homem público.<br />

Esta Presidência informa que o Deputado João Paulo Cunha determinou que<br />

se hasteasse a bandeira a meio pau em homenagem póstuma ao Dr. Aureliano<br />

Chaves, que foi também nosso colega nesta Casa.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Adão Pretto.<br />

O SR. ADÃO PRETTO (PT-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, venho a esta tribuna para informar com<br />

entusiasmo que não temos apenas notícias ruins no que se refere às rádios<br />

comunitárias em nosso País. Temos também boas notícias.<br />

E quero registar a corajosa decisão da Juíza Federal Dra. Márcia Vogel Vidal<br />

de Oliveira, de Porto Alegre, que respondeu a um mandado de segurança da Rádio<br />

Comunitária Integração, de Alvorada, que vinha sofrendo fortes ameaças pela<br />

ANATEL e pela Polícia Federal de ter os seus equipamentos lacra<strong>dos</strong>.<br />

A resposta da juíza foi uma liminar afirmando que a ANATEL não tem<br />

mandado judicial nem poder de polícia para lacrar e aprender equipamentos, além<br />

de afirmar que a ANATEL age ilegalmente ao impedir o livre direito de comunicação.<br />

Além disso, determinou que nenhuma ação poderá ser feita nem pela<br />

ANATEL nem pela Polícia Federal até que haja uma decisão definitiva do Ministério<br />

das Comunicações sobre o pedido de autorização de funcionamento da rádio<br />

comunitária.<br />

Sr. Presidente, cumprimento a Juíza Márcia Vogel Vidal de Oliveira por sua<br />

decisão. Decisões como esta ajudam o avanço do Movimento das Rádios<br />

Comunitárias, o nosso Governo, porque retira da ANATEL o poder de polícia que ela<br />

hoje exerce contra as rádios, e também o processo de democratização da<br />

comunicação em nosso País.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Aproveito a oportunidade para remeter ao Ministro da Previdência Social<br />

pedido de informações sobre a dívida da empresa Agroceres. Segundo a imprensa,<br />

a dívida com o INSS é de 44 milhões de reais. Quero saber do Ministro se isso é<br />

verdade.<br />

Sr. Presidente, registro a decisão da juíza gaúcha nos Anais desta Casa e<br />

solicito a V.Exa. que autorize a divulgação do meu pronunciamento nos órgãos de<br />

comunicação da Casa.<br />

Muito obrigado.<br />

DECISÃO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 751)<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ARY VANAZZI (PT-RS. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,<br />

viveremos hoje um momento histórico no Poder Legislativo: o Presidente da<br />

República, juntamente com os Governadores <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> e alguns Prefeitos,<br />

entregará, num simbolismo democrático importante, os projetos de reformas<br />

previdenciária e tributária. A partir deste momento, a Casa tem a responsabilidade<br />

de aprofundar o debate e fazer as emendas necessárias para adequar o projeto às<br />

discussões e idéias representadas por cada um de nós, membros do Poder<br />

Legislativo.<br />

O nosso Governo tem tido a coragem de apresentar à sociedade o debate<br />

sobre a questão previdenciária, que continuaremos a fazer com muita tranqüilidade<br />

e responsabilidade. A previdência pública é direito <strong>dos</strong> trabalhadores, mas, hoje,<br />

muitos brasileiros continuam excluí<strong>dos</strong>.<br />

Sr. Presidente, há alguns elementos no projeto que evidentemente não<br />

podemos admitir. Um deles é a questão da taxação <strong>dos</strong> inativos. O problema da<br />

Previdência não está nos inativos. O Governo Federal está sofrendo um desgaste<br />

político tremendo ao enfrentar esse debate, sem nenhum resultado econômico que<br />

possa resolver o problema da Previdência, que gasta 88 bilhões de reais por mês.<br />

Com a taxação, receberá apenas 1 bilhão de reais.<br />

A taxação <strong>dos</strong> inativos é uma exigência <strong>dos</strong> Governadores e Prefeitos, que<br />

precisam resolver o problema em seus Esta<strong>dos</strong> e Municípios. Os Deputa<strong>dos</strong> devem<br />

ter a coerência de defender os interesses de seus Esta<strong>dos</strong> e não, sem a menor<br />

responsabilidade, fazer um discurso equivocado para atacar o Governo.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O Deputado Moroni Torgan disse, desta tribuna, que o Governo não tem<br />

coragem de cobrar a dívida à Previdência. Olhe a ira do destino, Sr. Presidente: a<br />

Previdência tem uma dívida de 150 bilhões de reais.<br />

Os Governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o<br />

ajuizaram 2% dessa dívida para serem cobradas na Justiça e não tiveram coragem<br />

de enfrentar o monopólio econômico, as grandes corporações e o sistema<br />

financeiro. Agora querem que em quatro, cinco ou em um ano o atual Governo<br />

resolva o problema.<br />

Há que se dizer a verdade! A reforma da Previdência tem de incluir os<br />

cidadãos, principalmente os agricultores, que têm 55 anos e não conseguem se<br />

aposentar. Devemos fazer emendas que possibilitem ao Governo brasileiro<br />

assegurar uma aposentadoria para quem trabalhou toda sua vida neste País. Este é<br />

o debate que devemos fazer com responsabilidade neste Parlamento.<br />

Não é possível responsabilizar o Governo por tudo o que acontece, pois os<br />

problemas vêm de Governos anteriores. Aqueles que governaram este País têm de<br />

assumir a responsabilidade, ter autocrítica e dizer em que erraram, para que o atual<br />

Governo possa construir um sistema previdenciário responsável para a grande<br />

maioria do povo brasileiro, principalmente os trabalhadores de baixa renda.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. ADÃO PRETTO (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, em meu pronunciamento, falei que a Agroceres devia 44 bilhões de<br />

reais. O correto são 44 milhões de reais. Pode ser que funcionários da Casa já<br />

tenham feito a devida correção. Em todo caso, peço que o engano seja corrigido.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. BASSUMA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO BASSUMA QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A SRA. TEREZINHA FERNANDES (PT-MA. Pronuncia o seguinte discurso.)<br />

– Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, recebi recentemente em meu gabinete<br />

uma representação de funcionários da Companhia Energética do Maranhão, a<br />

CEMAR. Eles vieram a Brasília conversar com autoridades do setor energético e<br />

propor alternativas definitivas para a solução de uma insustentável situação que já<br />

se arrasta desde junho de 2000, quando a empresa teve seu controle acionário<br />

transferido à empresa americana PPL. A privatização da empresa, apregoada como<br />

tábua de salvação, conduziu-a na verdade a uma situação de colapso.<br />

O agravamento da situação da CEMAR, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, coincide com o<br />

início do processo de privatização. Como já assinalei, a CEMAR teve seu controle<br />

acionário adquirido pela empresa americana PPL, em junho de 2000, num processo<br />

que à época levantou fundadas suspeitas de irregularidades. Menos de um ano<br />

após, a PPL publicou documento anunciando desinteresse em realizar novos<br />

investimentos. Logo depois foi pedida a concordata, seguida de uma intervenção da<br />

ANEEL, em agosto de 2002, por 180 dias, prorrogada por igual período em<br />

fevereiro próximo passado. Enquanto isso, fracassaram as iniciativas de nova<br />

transferência do controle acionário, ora por falta de interessa<strong>dos</strong>, ora por decisão<br />

liminar da Justiça Federal.<br />

Disso tudo decorre uma situação que coloca os mais de 1.400 funcionários da<br />

CEMAR em situação de aflitiva e permanente indefinição quanto ao futuro. Vale<br />

destacar que no final de 1999 o patrimônio líquido da empresa era de 401 milhões<br />

reais e agora em 2002 o balanço apresentou um patrimônio líquido negativo de 120<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

milhões de reais, o que apresenta de forma inequívoca o processo de aniquilamento<br />

da empresa.<br />

Igualmente grave é o processo de deterioração <strong>dos</strong> serviços, que causa<br />

incalculáveis prejuízos para a população e compromete a normalidade no<br />

indispensável fornecimento de energia para o Maranhão. Estu<strong>dos</strong> realiza<strong>dos</strong><br />

atestam que os índices DEC — Duração do Corte por Consumidor/ano e FEC —<br />

Número de Interrupção por Consumidor/ano aumentaram sensivelmente, superando<br />

os limites fixa<strong>dos</strong> pelo contrato de concessão. Em alguns meses, Sr. Presidente,<br />

Municípios maranhenses ficaram até 140 horas sem energia.<br />

Os funcionários da CEMAR, diante disso tudo, reivindicam uma tomada de<br />

posição firme do Governo Federal. A saída que eles apontam para revitalizar a<br />

empresa, reorganizando-a e capacitando-a a novamente prestar os serviços que a<br />

população merece, é efetivamente federalizá-la. Hoje, liminares concedidas no<br />

âmbito da Justiça Federal em ações populares e ação civil pública do Ministério<br />

Público Federal impedem a transferência do controle acionário da CEMAR. Mas,<br />

para além dessas garantias transitórias, o que se requer do nosso Governo, que<br />

tantas mudanças já implementa no Brasil, é a adoção da federalização da CEMAR<br />

como patamar para a efetiva recuperação da empresa.<br />

Por fim, Sr. Presidente, encaminhei à Mesa desta Casa requerimento de<br />

informação à Agência Nacional de Energia Elétrica, para fornecimento de cópia do<br />

relatório da comissão encarregada do procedimento administrativo referente à<br />

intervenção na CEMAR. Espero aprovação. É um documento de suma importância<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

para que saibamos a que conclusões se chegou no Relatório e com que<br />

conseqüências.<br />

Muito obrigada.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. RENATO CASAGRANDE (PSB-ES. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, sou membro da Comissão Especial de Reforma<br />

Tributária. Hoje o Presidente da República entregará o projeto das reformas<br />

tributária e previdenciária.<br />

A reforma tributária precisa avançar em alguns pontos mais do que o Governo<br />

está anunciando, para acabar com a isenção fiscal de setores privilegia<strong>dos</strong> da<br />

sociedade. Vimos o Ministro Cristovam Buarque, há alguns dias, reclamar que não<br />

havia recursos para investir 5,4 bilhões de reais no Ministério da Educação. Realiza-<br />

se também o debate sobre a contribuição <strong>dos</strong> inativos. A argumentação de nossa<br />

base no Parlamento a favor da reforma do Governo é a de que as reformas são<br />

necessárias para que haja recursos.<br />

A reforma tributária deve avançar em especialmente três pontos não incluí<strong>dos</strong><br />

nas medidas do Governo.<br />

De início, é preciso haver uma grande reforma no Imposto de Renda,<br />

levando-se em consideração três pontos fundamentais: primeiro, acabar com a<br />

isenção de cobrança do Imposto de Renda sobre lucros e dividen<strong>dos</strong>, que existe<br />

desde 1996, o que faria com que mais 4,2 bilhões de reais fossem incorpora<strong>dos</strong> aos<br />

cofres do Governo; segundo, fazer com que o Governo arrecade quando as<br />

empresas enviam recursos para o exterior, o que geraria um ganho de 2,2 bilhões<br />

de reais; terceiro, acabar com a permissão para que as empresas abatam de seu<br />

lucro os juros correspondentes à remuneração do capital próprio.<br />

Essas medidas gerariam recursos de mais de 10 bilhões de reais.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O sistema tributário precisa avançar na redistribuição de renda. Defenderei<br />

essa posição na bancada de meu partido, para que seja adotada como diretriz pelo<br />

PSB na discussão da reforma tributária.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. IVAN VALENTE (PT-SP. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, chegam hoje ao Congresso Nacional as propostas de<br />

emendas constitucionais relativas às reformas previdenciária e tributária. Na nossa<br />

opinião, a reforma que deveria chegar aqui hoje é a reforma tributária.<br />

Temos de convencer a população brasileira de que é possível aumentar a<br />

arrecadação de impostos. Antes de pedir sacrifícios ao povo e ao servidor público,<br />

os impostos têm de ser progressivos, as heranças e as grandes fortunas têm de ser<br />

taxadas, particularmente o capital financeiro. Esse é o ponto inicial.<br />

Em segundo lugar, viria a reforma previdenciária. Previdência como<br />

seguridade social tem de ter a marca da proteção social e não do ajuste fiscal. É<br />

nessa linha que o Congresso Nacional deve trabalhar. Por isso, não podemos<br />

trabalhar só e friamente com números. Não adianta dizer que a reforma<br />

previdenciária economizará, até 2032, 56 bilhões de reais — 2 bilhões por ano —<br />

quando o aumento de juros, de 0,5%, consome 2 bilhões de reais.<br />

Temos de dar explicações à sociedade se for necessário fazer ajustes na<br />

Previdência, com a possibilidade de modificação do tempo de serviço do servidor<br />

público e a definição de um teto para a aposentadoria, mas não podemos impor<br />

sacrifícios. Queremos discutir o caráter do Estado brasileiro no que se refere ao<br />

serviço público que queremos oferecer à maioria do povo e à qualidade do<br />

atendimento do Poder Judiciário e <strong>dos</strong> serviços de saúde e de educação, para<br />

garantir que o funcionário sirva satisfatoriamente o público e o serviço público não<br />

seja sucateado a partir de reformas prejudiciais e de arrochos ao funcionalismo.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Na reforma da Previdência, talvez a primeira iniciativa seja propagandear nos<br />

meios de comunicação de massa quem deve a ela e qual é o montante da dívida<br />

ativa. Listar as grandes empresas deste País, entre as quais as estatais, que não<br />

pagam INSS, já é um bom começo.<br />

Agindo assim, teremos moral para dizer à sociedade que desejamos fazer um<br />

ajuste na Previdência — e o devemos fazer pelo cálculo atuarial, com justiça social,<br />

visando eliminar os supersalários condenáveis, que não se justificam. Precisamos<br />

garantir a integralidade, de modo que os inativos não sejam taxa<strong>dos</strong>. Também não<br />

devemos, de forma alguma, aumentar arbitrariamente a idade de aposentadoria para<br />

60 anos. As pessoas já tinham uma expectativa e não podemos frustrar-lhes esse<br />

anseio.<br />

Mais do que nunca, precisamos ser coerentes com nosso discurso. Nesse<br />

sentido, as futuras reformas não podem ser feitas para prejudicar a maioria. Neste<br />

País, há os que se beneficiam com o chamado capital financeiro, que tem de ser<br />

atacado para que haja recursos, distribuição de renda e justiça social.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. BABÁ (PT-PA. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,<br />

companheiros trabalhadores e servidores públicos, ontem, o Presidente Lula<br />

convocou a bancada do Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores para um almoço. Esperávamos<br />

que viesse alguma mudança na rota da Previdência Social, mas percebemos que foi<br />

uma tentativa de enquadrar os Deputa<strong>dos</strong> contrários à reforma e sugerir uma saída<br />

forçada do partido. S.Exa. inclusive citou a expulsão de três Deputa<strong>dos</strong> do PT na<br />

época do Colégio Eleitoral.<br />

Por que lamentamos essa situação? Porque nós — os companheiros Luciana<br />

Genro, Heloísa Helena, João Fontes e eu — estamos defendendo o programa<br />

histórico do PT, mais precisamente as decisões tiradas no 12º encontro do partido,<br />

realizado em Olinda, no final de 2001.<br />

Concluímos naquele encontro que a implementação do nosso programa de<br />

Governo representaria romper com o modelo econômico então vigente. E mais: novo<br />

modelo apenas seria possível a partir de nova coalizão de forças, diferente da<br />

coalizão conservadora montada por FHC e que rompesse com os sucessivos pactos<br />

conservadores. E o que estamos vendo hoje? Infelizmente, logo mais, o Presidente<br />

Lula virá a esta Casa com Governadores que representam justamente os<br />

conservadores deste País — PFL, PSDB, PTB, e PMDB —, com raras exceções,<br />

para entregar a reforma que sempre criticamos arduamente. Aliás, o companheiro<br />

Lula também era contra a cobrança <strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong>, que não gosto de chamar de<br />

inativos — afinal, muitos deles estão em atividade, porque tiveram o salário<br />

congela<strong>dos</strong> durante oito anos no serviço público.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Refiro-me agora tanto aos servidores da ativa quanto aos aposenta<strong>dos</strong>. Eles<br />

não podem ser trata<strong>dos</strong> como se fossem pessoas privilegiadas, como vêm repetindo<br />

algumas lideranças do PT, para tentar colocá-los no mesmo bloco das altas<br />

aposentadorias, das quais discordamos. Não podemos colocá-los no mesmo bolo<br />

das poucas pessoas que recebem 53 mil reais de aposentadoria, quando nós<br />

sabemos que a maioria <strong>dos</strong> servidores públicos recebe menos de 700 reais. Os que<br />

estiverem na faixa acima de 1.058 reais — e estes não são os grandes privilegia<strong>dos</strong><br />

— têm que descontar para a Previdência Social.<br />

Essa reforma que o Presidente da República está trazendo hoje ao<br />

Congresso Nacional foi votada no Conselho de Desenvolvimento Econômico e<br />

Social, integrado por 43 empresários, <strong>dos</strong> quais nove devem 1,3 bilhão à<br />

Previdência Social. Como esses senhores podem ter moral para apresentar<br />

proposta de reforma da Previdência se são os causadores da crise previdenciária?<br />

Governadores, Prefeituras e empresas estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa<br />

Econômica Federal, são devedores da Previdência. E agora os trabalhadores, os<br />

servidores públicos são os culpa<strong>dos</strong>?<br />

Fomos convida<strong>dos</strong> a comparecer, na segunda-feira, dia 12, à executiva do<br />

PT, para respondermos provavelmente a processo na Comissão de Ética. Olhem a<br />

contradição, companheiros. Vamos à Comissão de Ética porque estamos sendo<br />

coerentes com o que sempre defendemos. Responderemos a processo, com<br />

ameaça de expulsão, porque defendemos proposta histórica do Partido <strong>dos</strong><br />

Trabalhadores.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Ora, companheiros Deputa<strong>dos</strong> do PT, o Presidente Lula virá a esta Casa<br />

hoje, mas preferiria que S.Exa. estivesse vindo aqui com representantes da CUT, do<br />

MST e <strong>dos</strong> sindicatos, para nos trazer uma reforma tributária que tingisse o sistema<br />

financeiro e as grandes fortunas, que não pagam impostos.<br />

Dessa forma, o Presidente Lula estaria cumprindo sua histórica tarefa.<br />

Infelizmente, essa reforma só atende aos interesses do capital internacional e <strong>dos</strong><br />

fun<strong>dos</strong> de pensão e às exigências do Fundo Monetário Internacional, contra o qual<br />

sempre lutamos nesta Casa.<br />

Não podem agora querer expulsar do PT este Deputado e os companheiros<br />

Heloísa Helena, Luciana Genro, Lindberg Farias e João Fontes. Estamos<br />

simplesmente sendo coerentes com o que o partido sempre defendeu.<br />

Peço ao Presidente Lula que reflita e nos respeite. Vamos continuar exigindo<br />

nesta Casa nossa participação no PT.<br />

Ontem, S.Exa. disse que apenas a “Gazeta do Pará” me dá atenção, que eu<br />

só aparecia naquele jornal. Naquele Estado nem existe esse periódico.<br />

Não tenho orgulho de mostrar-me na mídia. Aliás, quando nela apareço é<br />

apenas para defender nossas históricas propostas. O fato de eu estar aparecendo<br />

no Jornal Nacional, ou em outro qualquer, não me orgulha.<br />

Ontem, naquele jantar, o Presidente Lula passou-me um pito. Disse-me que<br />

apenas estou aparecendo na mídia porque ataco o PT. Não o estou atacando, mas,<br />

sim — volto a repetir — defendendo o que o partido sempre pregou. Estou, por isso,<br />

sendo ameaçado de expulsão. Não mereço isso.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Vamos continuar lutando para permanecer no partido, mas nos posicionando<br />

ao lado <strong>dos</strong> servidores.<br />

Enquanto o Presidente Lula se dirige para cá com os Governadores<br />

conservadores, vou sair daqui para acompanhar os servidores que estão<br />

caminhando em direção a esta Casa, trazendo-nos suas propostas.<br />

O Presidente da República devia estar junto com esses trabalhadores, não<br />

com esses conservadores.<br />

Muito obrigado. (Palmas.)<br />

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eclamação.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN - Sr. Presidente, peço a palavra para uma<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB-AM. Reclamação. Sem revisão da<br />

oradora.) - Sr. Presidente, infelizmente, quero encaminhar a Mesa uma reclamação.<br />

Cheguei aqui antes da abertura da sessão, às 14 horas. Cheguei mais cedo para<br />

inscrever-me no Pequeno Expediente. Acompanhei quando V.Exa. chamou to<strong>dos</strong> os<br />

Deputa<strong>dos</strong> inscritos que estavam ausentes do plenário.<br />

Se V.Exa., conforme determina o Regimento, tivesse seguido a ordem <strong>dos</strong><br />

Parlamentares inscritos, eu já teria falado há muito tempo. Infelizmente V.Exa<br />

preferiu fazer uma rechamada, o que não é prática nesta Casa. Assim, os<br />

Parlamentares que chegam cedo, que se inscrevem, que estão presentes na<br />

abertura <strong>dos</strong> trabalhos, não têm oportunidade de falar. Eu esperei até agora, quando<br />

V.Exa. chamou o último orador.<br />

Isso é um desrespeito, não comigo, Sr. Presidente, mas com to<strong>dos</strong> os<br />

Parlamentares que cumprem rigorosamente o que determina o nosso Regimento<br />

Interno.<br />

Muito obrigada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Esta Presidência recebe a<br />

reclamação de V.Exa. No entanto, V.Exa. esqueceu-se de ler o Regimento, de<br />

acordo com o qual agi estritamente. V.Exa. precisa conhecê-lo melhor, mas recebo<br />

sua reclamação.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. CORIOLANO SALES (PFL-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, os bancos nunca cobraram tanto para<br />

emprestar dinheiro aos clientes desde que o Banco Central passou a acompanhar<br />

esse indicador, o spread bancário. A diferença entre o que os bancos pagam de<br />

juros e o que eles cobram <strong>dos</strong> clientes, o spread, chegou a 33 pontos percentuais<br />

em março, o maior nível desde junho de 2000, quando o Governo começou a<br />

acompanhar o indicador. Para pessoas físicas, o spread subiu em março para 59,9<br />

pontos percentuais, também o maior nível desde o início da contagem.<br />

O aumento do que é cobrado pelos bancos, aliado à alta <strong>dos</strong> juros básicos<br />

pelo Banco Central nos últimos meses, também levou a taxa média do cheque<br />

especial para o maior nível desde abril de 1999, chegando a 177,9% ao ano. Em 12<br />

meses, a taxa do cheque especial já subiu 18,3 pontos percentuais. A taxa de juros<br />

do crédito pessoal em março foi de 100,6%, a maior desde abril de 1999, um<br />

aumento de 17 pontos percentuais desde março de 2002.<br />

O Banco Central justifica que os bancos estão mais conservadores ao<br />

conceder empréstimos, principalmente por causa do aumento da inadimplência,<br />

característico nos primeiros meses do ano, quando se acumulam pagamentos das<br />

compras de Natal, impostos e outros gastos anuais para as famílias. A redução da<br />

massa real de salário resultou em maior utilização do crédito rotativo por parte das<br />

famílias, assim como na elevação da inadimplência.<br />

No entanto, na comparação do mês de março com o mesmo período de 2002,<br />

o spread subiu muito mais que a inadimplência. Enquanto a inadimplência da<br />

pessoa física subiu de 15,4% do total de empréstimos em março de 2002 para<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

15,7% no mês passado, o spread para esses clientes aumentou 6,5 pontos<br />

percentuais no período, de 53,4 pontos para 59,9 pontos percentuais. Ou seja, o<br />

nível de inadimplência da pessoa física subiu 2,0% de março de 2002 até o mês<br />

passado, enquanto o spread estava em março 12,2% maior que os 53,4 pontos<br />

registra<strong>dos</strong> no mesmo período de 2002.<br />

Os órgãos responsáveis devem intervir para diminuir os spreads bancários. A<br />

população não pode continuar vivendo sob altas taxas que crescem cada dia mais,<br />

impedindo o crédito para to<strong>dos</strong> aqueles que precisam.<br />

Sr. Presidente, peço a inteira divulgação do meu pronunciamento nos meios<br />

de comunicação da Casa.<br />

Muito obrigado pela tolerância.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ZÉ LIMA (PPB-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o Brasil está convivendo com uma verdadeira guerra, com a<br />

violência em níveis crescentes e alarmantes, medi<strong>dos</strong> não apenas pelos índices de<br />

criminalidade que assustam a Nação, mas também pela violência no trânsito urbano,<br />

nas estradas, no transporte fluvial e marítimo, inclusive na área do turismo e lazer,<br />

com a insegurança decorrente da precariedade de embarcações utilizadas.<br />

De fato, Sr. Presidente, enquanto o crime organizado avança nos grandes<br />

centros urbanos e até em localidades de médio e pequeno porte, tendo como base<br />

principal o tráfico de drogas, fazendo vítimas, espalhando o terror e ditando normas,<br />

evidencia-se cada vez mais a incapacidade de controle por parte das autoridades,<br />

que se batem em disputa para definir a quem cabe realmente a responsabilidade<br />

pelo combate ao crime.<br />

Estamos assistindo, com freqüência, a trocas de acusações e críticas veladas<br />

entre chefes de diferentes esferas da administração pública e, ainda mais grave,<br />

entre chefes do Poder. Refiro-me, por exemplo, às palavras ásperas trocadas entre<br />

o Presidente da República e os Presidentes do Supremo Tribunal Federal e de<br />

outros Tribunais Superiores.<br />

A questão da reforma da Previdência e da profunda disparidade nos valores<br />

de pensões e aposentadorias referentes aos servidores <strong>dos</strong> três Poderes desponta<br />

como uma das razões para este momento de discórdia. Mas a causa principal, sem<br />

dúvida, é a notória divergência entre a atuação de cada um no combate ao crime,<br />

em seus respectivos papéis de fazer a lei, executar o que ela determina e zelar pelo<br />

seu fiel cumprimento.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Felizmente, vislumbra-se o procedimento sensato e de grande competência<br />

do Ministro da justiça, Márcio Thomaz Bastos, que busca coordenar a tão desejada<br />

ação conjunta de todo o aparato existente nas corporações policiais e militares,<br />

condição indispensável para o êxito dessa missão tão espinhosa quanto complexa<br />

de vencer o crime e devolver a paz e a tranqüilidade à população.<br />

É preciso que haja o firme engajamento <strong>dos</strong> Governadores <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>, a<br />

quem se subordinam as Polícias Militar e Civil, promovendo ações e realizando os<br />

investimentos necessários para um efetivo combate à violência e à criminalidade. De<br />

um lado, cabe exigir-se a execução do Orçamento federal mediante a transferência<br />

<strong>dos</strong> recursos previstos nos programas e ações de segurança. Nos últimos anos, não<br />

obstante o clamor da sociedade por medidas rigorosas e urgentes na área da<br />

segurança pública, a execução orçamentária do setor tem ficado muito aquém do<br />

aprovado pelo Congresso Nacional.<br />

Muito grave também tem sido o posicionamento <strong>dos</strong> Governadores Estaduais,<br />

com raras exceções. A falta de medidas para prover as comunidades de efetivo<br />

policial demonstra que a segurança pública não os sensibiliza o suficiente para<br />

atribuir ao setor o devido caráter de prioridade.<br />

Menciono dois exemplos típicos de Municípios do Estado do Pará que não<br />

dispõem do mínimo de aparato policial para enfrentar quaisquer possíveis<br />

ocorrências.<br />

O Município de Novo Repartimento, Sr. Presidente, do qual muito me honra<br />

ter sido Prefeito e representar na Assembléia Legislativa do meu Estado e, agora, na<br />

<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, não vem recebendo a merecida atenção do Governo do<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Pará. A delegacia de polícia ocupa casa construída com recursos da Prefeitura, e a<br />

Polícia Militar funciona de forma precária, em casa de madeira mantida igualmente<br />

pela administração do Município.<br />

Em Santa Maria das Barreiras, outro importante Município paraense, a falta<br />

de segurança vem preocupando a população de toda a região de Casa de Tábua,<br />

onde acontecem atos de banditismo como assaltos, assassinatos, plantio e tráfico<br />

de drogas, entre outros delitos.<br />

Em ofício da <strong>Câmara</strong> Municipal, os Vereadores de Santa Maria das Barreiras<br />

expressam a este Parlamentar a absoluta carência com a falta de aparelhamento da<br />

polícia para exercer suas atividades, como, por exemplo, a realização de diligências<br />

para coibir os delitos que estão ocorrendo no Município.<br />

A população da região de Casa de tábua, que abrange as áreas de Inapurú e<br />

Nicobram, assentamentos provi<strong>dos</strong> pelo Governo Federal e onde vivem seiscentas<br />

famílias humildes, está sendo aterrorizada e, por isso, clama por providências<br />

urgentes no sentido de se investigar o plantio de maconha, bem como a ação das<br />

quadrilhas que agem naquela área.<br />

Faço um apelo ao Governo Federal para que, mediante a atuação da Polícia<br />

Federal, adote medidas rigorosas e urgentes para restabelecer a tranqüilidade na<br />

região de Casa de Tábua, combatendo o crime e desbaratando e prendendo grupos<br />

de bandi<strong>dos</strong> que estão espalhando medo entre a população.<br />

Reitero ainda ao Governador Simão Jatene, do Pará, as justas reivindicações<br />

de Santa Maria das Barreiras, Novo Repartimento e outros Municípios do Estado,<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

para receberem recursos e pessoal em condições de exercer as funções de<br />

policiamento e de manter a segurança pública naquelas localidades.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, gostaria que V.Exa. divulgasse meu<br />

pronunciamento nos meios de comunicação desta Casa.<br />

regimentais.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – V.Exa. será atendido nos termos<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

A SRA. ALMERINDA DE CARVALHO (PSB-RJ. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, comemora-se no dia 1º de maio<br />

o Dia Internacional do Trabalho.<br />

Por certo, é a primeira vez que se comemora neste País o Dia Internacional<br />

do Trabalho tendo à frente da Presidência um cidadão originário <strong>dos</strong> setores de<br />

base, o que gera uma expectativa positiva por parte <strong>dos</strong> trabalhadores que<br />

conduziram S.Exa. ao cargo de Presidente da República.<br />

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva guarda relação estreita com sua luta em<br />

prol <strong>dos</strong> trabalhadores, contra os desman<strong>dos</strong> então vigentes.<br />

É verdade que o curto espaço de tempo à frente do Governo não foi<br />

suficiente para mudanças substanciais.<br />

Entretanto, muitos já são os reflexos favoráveis na economia: confiabilidade<br />

na queda do dólar, do risco Brasil, perspectiva de geração de emprego e melhoria<br />

das condições de vida <strong>dos</strong> brasileiros.<br />

Também é verdade que fixar o salário mínimo em 240 reais custou muito para<br />

um Presidente que passou toda sua militância sindical na defesa do salário do<br />

trabalhador. Em razão <strong>dos</strong> números de nossa economia, o valor não é justo, mas é o<br />

possível para mantê-la estável.<br />

Ao manter estável nossa economia, cria-se uma expectativa de, no próximo<br />

dia 1º de maio, S.Exa. vir a público com muito maior satisfação anunciar não só um<br />

salário mínimo mais representativo, como também a real melhoria das condições de<br />

vida do nosso povo.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Por tudo isso, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, quero parabenizar<br />

to<strong>dos</strong> os trabalhadores brasileiros pela passagem do seu dia e conclamar a to<strong>dos</strong><br />

para que mantenhamos viva a esperança real de que dias melhores virão.<br />

Outro assunto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>. Como qualquer outra<br />

epidemia, propaga-se rapidamente por diversos países do mundo a Síndrome<br />

Respiratória Aguda Grave (SARS), conhecida como pneumonia asiática.<br />

Segundo da<strong>dos</strong> da Organização Mundial de Saúde, a epidemia espalha-se de<br />

forma mais intensa nos seguintes países: China, Vietnã, Cingapura, Hong Kong e<br />

Canadá.<br />

Os números são assustadores e, segundo a mesma organização, já foram<br />

registra<strong>dos</strong> cerca de 5.050 casos em 28 países do mundo.<br />

Das ocorrências registradas, 332 resultaram em morte, com perspectiva de<br />

aumento da propagação da doença por todo o mundo.<br />

Em países de maior incidência da doença, como na China, a epidemia vem<br />

causando crises em diversos setores, com reflexo inclusive na economia, prevista<br />

para encolher cerca de 2% no segundo semestre do ano, exigindo do governo local<br />

medidas urgentes para dificultar a propagação da doença, o que, em conseqüência,<br />

gera danos à economia, como o fechamento <strong>dos</strong> locais de entretenimento e a<br />

proibição da entrada e saída de turistas.<br />

Se, por um lado, nosso País não tem registro definitivo da doença, por outro,<br />

muitos têm sido os casos suspeitos, que estão a merecer por parte <strong>dos</strong> setores da<br />

saúde uma maior atenção, sob pena de vermos se repetir o mesmo que ocorreu<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

com outras epidemias originárias de outras partes do mundo que aqui chegaram, se<br />

instalaram e se propagaram, como é caso da AIDS.<br />

Por isso, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é que venho chamar a<br />

atenção do Governo Federal, por intermédio do Ministério da Saúde, da Agência<br />

Nacional de Vigilância Sanitária, para que somem to<strong>dos</strong> os esforços no sentido de<br />

evitar que nosso País, que já registra tanta dificuldade na área da saúde, seja<br />

incluído no rol <strong>dos</strong> atingi<strong>dos</strong> pela epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JEFFERSON CAMPOS (PSB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) –<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, desta tribuna, venho expressar-lhes (não<br />

somente a V.Exas., mas também a toda a Nação brasileira) minha repulsa e<br />

profunda indignação pela onda de violência que tem atingido nosso País.<br />

Diariamente, vemos registrado nos noticiários o resultado funesto dessa<br />

situação que constrange o cidadão brasileiro, vítima constante da violência não<br />

apenas física, mas também mental, cultural e social. Violência tamanha, que atinge<br />

desde a população carente de nossa sociedade até os caros colegas de Parlamento.<br />

Isso tem transformado a vida de cidadãos comuns, que se dirigem ao trabalho<br />

persegui<strong>dos</strong> pelo medo, apesar da pretensa segurança de sua casa ou automóvel.<br />

Homens e mulheres que tiveram uma vida de labuta árdua para conquistar um<br />

patrimônio vêem-se ameaça<strong>dos</strong> de seqüestro. Ou seja, tornou-se a vida um objeto<br />

de barganha nas mãos daqueles que violam as leis.<br />

Exemplo explícito disso foi o que lamentavelmente ocorreu dias atrás e<br />

vitimou uma das figuras expoentes do Estado de São Paulo na luta contra o crime, o<br />

Juiz Corregedor Antônio José Machado Dias, homem sem medo, marcado pela luta<br />

incansável para manter a segurança e garantir a punição <strong>dos</strong> culpa<strong>dos</strong>, de<br />

dedicação extrema à Justiça e que teve a vida brutalmente arrancada.<br />

Quero deixar este registro nesta <strong>Câmara</strong>, onde certamente muitos já se<br />

pronunciaram a respeito. Mas não quero ser mais um. Quero ser aquele que não<br />

somente com palavras escreve a história da Nação brasileira. Temos de continuar a<br />

luta do juiz para não deixar morrer a esperança de um povo que participa do filme da<br />

vida real, que nada mais é que a marca da violência, do medo e da morte.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Até quando, caros colegas? Quantos mártires mais surgirão até que se ponha<br />

fim ao crime organizado, que cada vez mais faz questão de demonstrar seu poder,<br />

intimidando o Poder Público de dentro de suas celas, nas penitenciárias onde<br />

planejam e comemoram seu êxito, já que tem acesso à Internet, a fax e a telefones<br />

celular.<br />

Até quando iremos narrar a violência e, no final, ver o bandido vencer o<br />

mocinho, ostentando a impunidade como troféu?<br />

Não devemos baixar nossas cabeças. Não podemos perder a coragem. Não<br />

seremos reféns da criminalidade.<br />

Para isso, algo precisa ser feito, medidas precisam ser tomadas nesta Casa<br />

de leis, devem ser implementadas mudanças, de forma coesa, contundente e<br />

incisiva, para caminharmos em direção a uma reformulação total do Código Penal<br />

brasileiro.<br />

Existem mais de cem projetos na <strong>Câmara</strong> que tratam dessas mudanças, aos<br />

quais é necessário dar prioridade, colocando-os em pauta para que sejam<br />

discuti<strong>dos</strong>, pois, numa conjuntura como esta, não há espaço para projetos pessoais.<br />

É hora de unidade para um projeto de segurança nacional que funcione.<br />

Proponho:<br />

♦ o empenho <strong>dos</strong> nobres companheiros para detectarmos as falhas nos<br />

sistemas competentes que envolvem a segurança e a justiça de nossa<br />

Nação;<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

♦ a dedicação em achar os cúmplices, os que facilitam a ação de<br />

transgressores da lei em troca de benefícios financeiros, colaborando dessa<br />

forma para o aumento da marginalidade;<br />

♦ darmos mais atenção às crianças e aos jovens de nosso País, para que no<br />

futuro não tenhamos que nos preocupar em construir mais e mais cadeias ou<br />

presídios de segurança máxima;<br />

♦ e, principalmente, clamarmos a Deus para que nos ajude, como constituintes<br />

desta Nação, a cumprirmos de forma sábia o papel de legislar e zelar pelo<br />

bem <strong>dos</strong> cidadãos brasileiros que aqui nos colocaram, confiando o futuro em<br />

nossas mãos.<br />

É com o coração apertado e com grande preocupação que deixo aqui o meu<br />

protesto e desabafo, como também uma singela homenagem ao Sr. Juiz Corregedor<br />

Antônio José Machado Dias, um homem que deixou ao mundo um exemplo a ser<br />

seguido.<br />

Passo a abordar outro assunto, Sr. Presidente. O Governo do Presidente Luiz<br />

Inácio herdou uma série de problemas nas área social e econômica. São<br />

dificuldades que existem em todas as partes do País, de norte a sul. Destaco a<br />

questão grave do desemprego, da moradia, da segurança pública, da educação, da<br />

saúde e da justiça.<br />

Nesta oportunidade, faço uma análise do problema da violência urbana e da<br />

criminalidade que campeiam no Brasil. Elas crescem a cada dia, principalmente<br />

após o inchaço populacional das grandes cidades pelo permanente êxodo rural,<br />

onde a pobreza é provocada tanto pela baixa qualificação da mão-de-obra sem<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

acesso à escola pública de qualidade quanto pelo baixo índice de crescimento<br />

econômico, que tem pouco gerado ocupação e emprego, proporcionando a<br />

manutenção da forte concentração de renda.<br />

As pessoas que habitam morros, favelas e periferias nas grandes cidades<br />

sofrem há décadas com os chefões do submundo do crime organizado e com as<br />

nefastas atitudes do narcotráfico. Sem perspectivas de um futuro próspero, eles<br />

partem para os assaltos, seqüestros, roubos e estupros e operam execuções<br />

sumárias de policiais militares, invadem delegacias para resgatar prisioneiros<br />

bandi<strong>dos</strong> e comandam o dia-a-dia nos 512 presídios existentes no Brasil, onde se<br />

aglomeram 214 mil presos.<br />

No Brasil, a preocupação <strong>dos</strong> brasileiros com o crime e a violência já supera<br />

de longe qualquer outro temor. Infelizmente, essa tendência somente vem se<br />

agravando. Diante desse triste quadro, a comunidade exige providências<br />

consistentes de curto prazo das autoridades <strong>dos</strong> Três Poderes da República, pois<br />

não bastam medidas paliativas como erguer muros e grades mais altas nas<br />

residências, blindar automóveis e contratar seguranças pessoais.<br />

O meu partido, o PSB, apóia a guerra ao crime organizado, estimula as ações<br />

contra as quadrilhas formadas e propõe o sistemático combate à corrupção nas<br />

corporações militares.<br />

Ofereço minha contribuição de incentivo à valorização e formação de<br />

profissionais habilita<strong>dos</strong>; à melhoria salarial <strong>dos</strong> policiais; à criação de presídios de<br />

segurança máxima; à integração das informações militares com bancos de da<strong>dos</strong><br />

interliga<strong>dos</strong> via Internet; ao aprofundamento das investigações e, sobretudo, ao<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

trabalho de prevenção da violência nas escolas e nas ruas. Há que existir penas<br />

mais severas para quem cometer crimes contra policiais civis e militares, juízes,<br />

promotores e agentes penitenciários.<br />

Enquanto persistir essa escalada da violência, quanto mais armada estiver a<br />

população, quanto maior for o risco e a insegurança, mais forte será o clamor por<br />

medidas coordenadas, enérgicas e urgentes por parte <strong>dos</strong> dirigentes constituí<strong>dos</strong> da<br />

República.<br />

As elevadas taxas de criminalidade se configuram como verdadeira guerra. E,<br />

como guerra, deve ser enfrentada por to<strong>dos</strong> nós. Que Deus ilumine as autoridades<br />

civis e militares. Que, numa ação conjunta <strong>dos</strong> três níveis da administração pública,<br />

possam combater esses gravíssimos delitos que atingem comunidades inteiras,<br />

espalhando pânico pelos Esta<strong>dos</strong>, antes que os clones das estrelas do crime<br />

organizado se multipliquem pelo Brasil.<br />

regimental.<br />

Muito obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – V.Exa. será atendido na forma<br />

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O SR. FERNANDO FERRO (PT-PE. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />

Presidente, o seminário que realizamos sobre as agências reguladoras serviu para<br />

constatar sua insuficiência no momento atual e mostrar a necessidade de melhorá-<br />

las.<br />

O Consenso de Washington fracassou redondamente. A privatização no<br />

Brasil trouxe uma seqüência de mazelas. Houve aumento de tarifas e não vimos<br />

acontecer a chamada competição para melhorar os serviços. Essas agências que<br />

hoje fazem parte das instituições que visam regular os setores da infra-estrutura do<br />

Brasil merecem correções. A constatação de que precisamos dar novo rumo a essas<br />

agências foi unânime.<br />

Enfim, teremos de fazer alterações legislativas sobre esses procedimentos,<br />

que serão objeto de debate nesta Casa, para melhorar a situação dessas agências<br />

reguladoras.<br />

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A SRA. NICE LOBÃO (PFL-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o Governo Lula, por intermédio do Ministro<br />

Ricardo Berzoini, anuncia hoje uma reforma da Previdência muito estranha aos<br />

interesses <strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong> brasileiros.<br />

Insistem em incluir na tal reforma, a taxação <strong>dos</strong> inativos, a partir de uma<br />

aposentadoria de R$1.058,00, atribuindo aos Governadores a exigência desse<br />

indigesto confisco.<br />

Pretendem ainda sacrificar conquistas <strong>dos</strong> servidores públicos, tudo em nome<br />

do superávit primário exigido pelo FMI.<br />

Os aposenta<strong>dos</strong> brasileiros não merecem este tratamento que o Governo<br />

pretende estabelecer no País, penalizando os mais pobres.<br />

O custo de vida, o descontrole <strong>dos</strong> preços, principalmente <strong>dos</strong> alimentos e<br />

remédios, e o congelamento do salário <strong>dos</strong> trabalhadores e aposenta<strong>dos</strong> por mais<br />

de oito anos têm causado danos incalculáveis às famílias brasileiras e em especial<br />

aos aposenta<strong>dos</strong> de menor renda.<br />

Em vez de falar em reajuste das aposentadorias, melhoria de salários e<br />

ampliação de benefícios sociais, o Governo pretende instituir uma cobrança —<br />

ilegal, imoral e desumana — de 11% (onze por cento) nos proventos <strong>dos</strong><br />

aposenta<strong>dos</strong> brasileiros.<br />

Isto quer dizer, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, que um aposentado<br />

que recebe R$1.058,00, descontará <strong>dos</strong> seus irrisórios vencimentos, R$116,38 todo<br />

mês!<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Quem contribuiu a vida inteira para o sistema previdenciário e agora, ao<br />

usufruir desses mingua<strong>dos</strong> vencimentos, recebe uma notícia de redução do valor da<br />

sua aposentadoria, só pode manifestar revolta, indignação e repúdio aos homens<br />

insensíveis do Governo Lula.<br />

É uma traição espetacular de quem prometeu exatamente o contrário na<br />

campanha eleitoral de 2002.<br />

A minha posição é de defesa intransigente <strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong> brasileiros, <strong>dos</strong><br />

assalaria<strong>dos</strong>, e tanto hoje como ontem, tanto neste Governo como no passado,<br />

votarei contra a taxação <strong>dos</strong> inativos, por considerar um desrespeito, um golpe, uma<br />

afronta aos brasileiros mais carentes, aos aposenta<strong>dos</strong> e aos pensionistas, que não<br />

merecem este tratamento absurdo e desumano pretendido pelo atual Governo.<br />

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viveu tantos sacrifícios e<br />

dificuldades na sua vida, não poderia aceitar passivamente esta crueldade contra os<br />

aposenta<strong>dos</strong>, em nome das contas superavitárias da Previdência!<br />

Peço ao Presidente da República que consulte a sua consciência, a sua<br />

história de vida e reflita sobre este ato insensível, que transfere a conta pesada da<br />

suposta crise da Previdência para as costas <strong>dos</strong> servidores públicos, <strong>dos</strong><br />

aposenta<strong>dos</strong> e pensionistas.<br />

Nenhum ajuste fiscal justifica a cobrança aos aposenta<strong>dos</strong> e pensionistas.<br />

Nenhuma auditoria que identifique a sangria <strong>dos</strong> recursos públicos foi solicitada pelo<br />

atual Governo.<br />

Quem trabalhou a vida inteira, contribuiu durante anos e anos para o sistema<br />

previdenciário, chega ao final da vida com a garantia jurídica para usufruir os<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

benefícios da aposentadoria, cujos descontos foram efetua<strong>dos</strong> nos rendimentos<br />

salariais, ao longo <strong>dos</strong> anos.<br />

São direitos sacrossantos, universais, que não comportam lesões pelos<br />

gestores de plantão da Previdência, nomea<strong>dos</strong> pelo Presidente Lula.<br />

A Previdência Social, de caráter público e permanente, é uma garantia do<br />

cidadão. Tem fundamento a solidariedade aos que trabalham para a sobrevivência<br />

daqueles que, na velhice, merecem o descanso <strong>dos</strong> últimos anos de vida.<br />

A Previdência não é mercadoria, nem pode ser instrumento de especulação<br />

financeira, do lucro fácil da sociedade capitalista contemporânea.<br />

É importante que o Ministro Ricardo Berzoini responda às seguintes questões:<br />

1- qual é mesmo o déficit da Previdência?<br />

2- como surgiu este déficit e quais as suas causas?<br />

3- há auditoria em vigor para constatar desvios e fraudes?<br />

A taxação <strong>dos</strong> inativos vai “salvar” a Previdência Social no Brasil ou não<br />

passa de um “bode” para empurrar goela abaixo da Nação o filé mignon da cobrança<br />

complementar?<br />

Estas questões, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, não são abordadas<br />

pelos homens do Governo, são colocadas à margem do debate, mas são muito<br />

importantes porque delas dependem a decisão de reformar o sistema.<br />

As bravatas do Governo, de demissão de Ministros e expulsão de Deputa<strong>dos</strong><br />

do PT que divergirem da reforma, em nada contribuem para a construção de uma<br />

Previdência Social justa e voltada aos interesses do nosso povo.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Causa espécie, Sr. Presidente, a utilização de méto<strong>dos</strong> estranhos ao modo<br />

petista de governar, divulga<strong>dos</strong>, sem contestação, pelo jornal Folha de S.Paulo de<br />

ontem.<br />

A utilização de mais de cem cargos para distribuir aos Deputa<strong>dos</strong> fiéis e a<br />

retirada de qualquer cargo existente entre os Deputa<strong>dos</strong> da “esquerda rebelde”,<br />

entre outras medidas palacianas, abastarda o Governo, colocando-o na vala comum<br />

de qualquer governo sem ética ou compromisso com princípios morais.<br />

O Senador Paulo Paim, o homem do salário mínimo de 100 dólares, ou<br />

melhor, 240 reais, informa à Nação que os brasileiros que puderem, aposentem-se<br />

logo este ano porque a reforma do seu governo é contra os trabalhadores!<br />

E diz mais: “a Previdência não é deficitária, há desvios de recursos”.<br />

Infelizmente, diz o Senador petista: “O Governo Lula está contrariando tudo o que foi<br />

pregado durante 17 anos de Congresso, pelo menos na reforma previdenciária”.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, fica muito evidente que esta reforma<br />

do Governo Lula é antipovo, insensível, sem lastro na opinião pública, no Congresso<br />

e até no seu governo, que pretende implantá-la!<br />

Nesta marcha, visando agradar ao mercado, ao JP Morgan e o seu Risco<br />

Brasil, à banca internacional, ao FMI e a outros organismos de controle das<br />

economias nacionais, o Governo Lula e sua reforma da Previdência corre o risco,<br />

em futuro muito próximo, de ter que pedir votos em Wall Street ou na Quinta Avenida<br />

para conseguir novos mandatos.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Não concordo com uma reforma que pretende confiscar os aposenta<strong>dos</strong>,<br />

alterar as regras de transição <strong>dos</strong> servidores públicos, extinguir o seu regime próprio<br />

e alterar os seus ganhos integrais.<br />

Querem acabar com as superaposentadorias? Querem acabar com<br />

aposentadorias privilegiadas? Então, Sr. Presidente, que se defina, de uma vez por<br />

todas, a lei que estabelece o teto de remuneração <strong>dos</strong> três Poderes da República,<br />

sempre adiada por conta de interesses localiza<strong>dos</strong>.<br />

A minha esperança é de que os aposenta<strong>dos</strong> brasileiros não se tornem, mais<br />

uma vez, os “bodes expiatórios” — chama<strong>dos</strong> de marajás e vagabun<strong>dos</strong> em tempos<br />

recentes — para satisfazer uma política econômica equivocada e distante da<br />

expectativa nacional de desenvolvimento e prosperidade.<br />

Estou encaminhando ao Tribunal de Contas da União pedido de auditoria<br />

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial no INSS, com alcance<br />

no sistema de previdência social <strong>dos</strong> servidores públicos e do regime geral.<br />

Com esta providência, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, poderemos<br />

tomar decisões com segurança, em assunto de tamanha relevância para o Brasil e o<br />

nosso povo.<br />

Esta é a minha manifestação solidária e convicta da justa luta <strong>dos</strong><br />

aposenta<strong>dos</strong> brasileiros.<br />

Tenho esperança, Sr. Presidente, de que o Congresso Nacional saberá<br />

resistir a este absurdo e barrar esta “pouca-vergonha” que pretendem aplicar aos<br />

aposenta<strong>dos</strong>, sobretudo aos que passam maiores dificuldades de sobrevivência.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Sr. Presidente, quero salientar que infelizmente não tenho conseguido<br />

inscrever-me para falar em plenário, mesmo com a ajuda do meu partido.<br />

Muito obrigada.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. FRANCISCO APPIO (PPB-RS. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, solicito seja registrado nos Anais desta Casa manifesto <strong>dos</strong> produtores<br />

de alho do Rio Grande do Sul, que estão preocupa<strong>dos</strong> com a importação de alho da<br />

China.<br />

Segue anexo o manifesto do Presidente da Associação Gaúcha <strong>dos</strong><br />

Produtores de Alho — AGAPA, Sr. João Andréa Vanin.<br />

Aproveito para esclarecer nossa posição de votar contra a Medida Provisória<br />

nº 107. É porque somos contra o aumento de impostos neste País.<br />

MANIFESTO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 791 A 791-A)<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras.<br />

e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o Vereador Francisco de Assis Torres da Silva, do Município de<br />

Quixaba, no Estado da Paraíba, está sendo ameaçado de morte.<br />

Houve uma tentativa de agressão física por parte do Sr. Ronaldo Candeia da<br />

Silva, irmão do ex-Prefeito de Quixaba, Sr. Laerte Candeia Anastacio, esposo da<br />

atual Prefeita, Sra. Marli da Silva Candeia. O Vereador pediu apenas para que o<br />

Prefeito devolvesse 240 mil reais, já que ele foi condenado pela Justiça.<br />

Estou pedindo proteção de vida para o De Assis, como é conhecido, porque<br />

S.Exa. está exercendo seu mandato de Vereador e não pode ser ameaçado nem<br />

agredido desta forma.<br />

A minha solidariedade e apoio ao companheiro Vereador De Assis, que vai<br />

continuar, com certeza, na luta em defesa da democracia, contra a corrupção e todo<br />

tipo de fraude que possa ser cometido naquele Município.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. RICARDO IZAR (PTB-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

hoje, a Frente Parlamentar de Habitação e Desenvolvimento Urbano se reuniu e<br />

elaborou documento, que vamos levar ao Presidente Lula na semana que vem,<br />

sobre a nova política habitacional do País.<br />

Nesse documento, especificamos de onde poderão vir os recursos para a<br />

implementação do plano habitacional: caderneta de poupança; Fundo de Garantia<br />

do Tempo de Serviço. Os bancos não estão utilizando o dinheiro da caderneta de<br />

poupança para a construção civil.<br />

A Frente Parlamentar da Habitação e eu, como seu coordenador, anunciamos<br />

aos Srs. Deputa<strong>dos</strong> que encaminharemos ao Presidente da República um plano<br />

habitacional para o País, uma nova política habitacional.<br />

Passo a tratar de outro assunto, Sr. Presidente. O Governo Federal, em 1994,<br />

através do Ministério <strong>dos</strong> Transportes e do extinto DNER, implantou o chamado<br />

Programa Federal de Concessão de Rodovias Federais. Na oportunidade, concedeu<br />

à iniciativa privada uma extensão de aproximadamente 870 quilômetros nas BRs-<br />

116 e 040 e a Ponte Rio–Niterói. O programa implantado se revelou um absoluto<br />

sucesso, os trechos concedi<strong>dos</strong> em ótimo estado, com conforto e segurança para os<br />

usuários, em total contraste com a malha rodoviária não objeto de concessão.<br />

Pesquisas de opinião, realizadas com os usuários, revelaram total satisfação com as<br />

condições das rodovias concedidas.<br />

Com o sucesso alcançado, Sr. Presidente, o Ministério <strong>dos</strong> Transportes<br />

iniciou, em 1998, uma segunda etapa do programa, envolvendo, nesta fase,<br />

inclusive a anuência e o estímulo do Banco Mundial. Desta vez, fizeram-se os<br />

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procedimentos pertinentes, dentro da mais absoluta transparência e legalidade, para<br />

a concessão de mais sete trechos, sendo três na BR-116 e quatro nas BRs-101,<br />

153, 381 e 393.<br />

Esses trechos, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, totalizando 2.584<br />

quilômetros de rodovias federais, envolvem investimentos, sem ônus para o Estado,<br />

da ordem de 2 bilhões e 700 milhões de dólares. As novas concessões iriam gerar<br />

cerca de 5 mil empregos diretos e 10 mil indiretos. Além disso, os cofres públicos<br />

seriam robusteci<strong>dos</strong> com mais de 2 bilhões e 300 milhões de dólares de impostos,<br />

durante o período da concessão.<br />

Mas o processo parou. Com a extinção do DNER, em fevereiro do ano<br />

passado, e a transferência das licitações em andamento para a Agência Nacional de<br />

Transportes Terrestres, to<strong>dos</strong> esses procedimentos, que já duram mais de quatro<br />

anos, vêm trazendo sérios prejuízos para o setor de transporte nacional. Rodovias<br />

que poderiam estar hoje totalmente recuperadas, proporcionando fluidez ao tráfico e<br />

segurança a seus usuários, estão se deteriorando a cada dia que passa,<br />

encarecendo o transporte nacional e fazendo mais vítimas fatais, escrevendo uma<br />

triste e vergonhosa estatística.<br />

É imperioso, fundamental, o retorno imediato do processo licitatório desses<br />

sete trechos e a retomada do Programa Federal de Concessão de Rodovias. O<br />

Brasil exige isto.<br />

Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, fica o nosso apelo ao<br />

Governo Federal, ao Exmo. Dr. Anderson Adauto Pereira, Ministro <strong>dos</strong> Transportes,<br />

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para uma tomada de decisão urgente sobre este assunto, sem protelações, no<br />

interesse maior do povo brasileiro.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, faço este pronunciamento para registrar um<br />

momento histórico que vivemos em nosso País. O Presidente da República, Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, acompanhado por vários Governadores, virá pessoalmente ao<br />

Congresso Nacional, nesta quarta-feira, para trazer as propostas de emendas à<br />

Constituição (PECs) sobre as reformas da Previdência e do sistema tributário.<br />

O texto final das alterações no modelo previdenciário foi apresentado à<br />

bancada do PT nesta segunda-feira pelo Ministro da Previdência, Ricardo Berzoini.<br />

A maioria <strong>dos</strong> Parlamentares manifestou-se favorável às modificações<br />

apresentadas. O único ponto polêmico da proposta é a taxação <strong>dos</strong> inativos. O texto<br />

estabelece o valor de R$1.058,00 para a isenção da taxação — mesmo valor da<br />

isenção do Imposto de Renda. A partir deste valor, o aposentado contribuirá com<br />

11%. Alguns Deputa<strong>dos</strong> defendem o valor de R$2.400,00 para a isenção — valor<br />

definido na reforma como novo teto do benefício para o setor privado. Mas 90% da<br />

bancada apóia os R$1.058,00 fixa<strong>dos</strong> pelo Governo, a pedido <strong>dos</strong> Governadores.<br />

Todo barulho e toda sensação provoca<strong>dos</strong> pela imprensa não resistem a um<br />

bom debate de esclarecimento do conteúdo das reformas. Esses debates passam a<br />

acontecer naturalmente agora, quando to<strong>dos</strong> terão conhecimento completo das<br />

matérias trazidas a esta Casa pelo Presidente Lula.<br />

Outro ponto importante na reforma previdenciária diz respeito ao teto salarial.<br />

A proposta do Governo definirá como teto <strong>dos</strong> três Poderes o valor de R$12.720,00<br />

o que corresponde ao salário recebido por Ministro do Supremo Tribunal Federal<br />

(STF), sem a gratificação pelo exercício de Ministro do Tribunal Superior Eleitoral<br />

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(TSE), cargo preenchido por rodízio. O teto é fundamental para cortar altas<br />

aposentadorias.<br />

Sr. Presidente, as reformas que estão chegando ao Congresso Nacional vêm<br />

para corrigir antigas distorções nos sistemas previdenciário e tributário, restabelecer<br />

a justiça e o princípio de igualdade entre os brasileiros, combater privilégios e<br />

garantir a cidadania. Parabenizo o Presidente Lula pela sua postura de respeito e<br />

valorização ao Poder Legislativo, na sua terceira visita ao Congresso Nacional em<br />

apenas 120 dias de governo. Gestos como este de trazer pessoalmente as PECs<br />

das reformas não têm precedentes na história política de nosso País e é uma honra<br />

para to<strong>dos</strong> nós.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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O SR. CARLOS ABICALIL (PT-MT. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, há mais de um século, em quase todo o mundo,<br />

comemora-se o dia do trabalhador. Não o dia do trabalho, como querem alguns,<br />

porque mais importante é o ser humano, medida de todas as coisas. Trabalho é<br />

direito humano de homens e mulheres de todas as raças, de to<strong>dos</strong> os lugares, de<br />

to<strong>dos</strong> os cre<strong>dos</strong>.<br />

Neste 1º de maio, pela primeira vez, em 503 anos, a trabalhadora e o<br />

trabalhador brasileiros convivem com novidade que anima e enche de esperanças a<br />

alma <strong>dos</strong> que constróem, com seu esforço, sua garra, seu conhecimento e seu suor,<br />

esta Nação e que nunca perderam a esperança de que é possível ter uma vida<br />

melhor.<br />

Estou falando da esperança de nosso povo i<strong>dos</strong>o, adulto, jovem e criança,<br />

negro, branco, índio, imigrante de to<strong>dos</strong> os rincões, que pode, hoje, comemorar o<br />

sucesso que, por si só, marca o início de outra era, neste começo de novo século.<br />

Temos um Presidente operário: Luiz Inácio Lula da Silva.<br />

Foi rompida a tradição das elites brasileiras em sempre negar reconhecimento<br />

ao saber, ao fazer e ao modo de apreensão da realidade das classes trabalhadoras<br />

e de seus movimentos sociais.<br />

Este 1º de maio aponta a afirmação e a consolidação de direitos. Em pouco<br />

mais de cem dias de mandato, o Presidente Lula, ainda que a braços com as<br />

dificuldades impostas por essa herança e pela conjuntura mundial, já consegue dar<br />

alguns passos rumo à superação <strong>dos</strong> obstáculos, em benefício da maioria.<br />

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Mostrando absoluta garra para trabalhar e total conhecimento do que seja o<br />

sonho coletivo de libertação e de felicidade, tem S.Exa., sereno, confiante, sem faltar<br />

um dia, tem dado passos seguros rumo à concretização de nossos sonhos.<br />

Sabe, como nós, que este 1º de maio ainda é de muita dor. Há notícias de<br />

ocorrências de trabalho escravo, principalmente no Pará, no Maranhão, em Mato<br />

Grosso; de impunidade para os assassinos de índios e de trabalhadores do campo;<br />

de exploração de mão-de-obra infantil e de prostituição de crianças e adolescentes;<br />

da existência de milhões de desemprega<strong>dos</strong> e de desesperança<strong>dos</strong>; de<br />

desigualdade persistente entre homens e mulheres; de mais de 40 milhões de<br />

brasileiros e brasileiras sem previdência, na informalidade.<br />

A queda <strong>dos</strong> preços do gás de cozinha, da gasolina, do óleo diesel, do dólar e<br />

do índice do chamado Risco Brasil, com que tantas vezes tentaram impedir o voto<br />

em Lula, despenca para um terço em relação aos do início do ano. Estamos<br />

cristalizando as bases para duplicar o salário mínimo em quatro anos e reduzir a<br />

carestia.<br />

O Governo eleito orienta-se para outras prioridades, aquelas da maioria da<br />

população, <strong>dos</strong> desassisti<strong>dos</strong>. Corajosamente, vamos aperfeiçoar a proposta da<br />

reforma da Previdência, com critérios de justiça e de repartição, com administração<br />

democrática, com garantias para a nossa geração e para as futuras. Ampliar o<br />

emprego formal, estimular a contribuição autônoma e diminuir custos para<br />

organizações cooperativas e de autogestão, para o pequeno e o micronegócio e<br />

para a produção familiar são metas inadiáveis.<br />

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Ver as políticas públicas para a juventude, para a idade adulta e para os<br />

i<strong>dos</strong>os na conformação de outro cenário de inclusão e de alegria, de valorização de<br />

todo esforço produtivo e de criação, de fortalecimento das economias locais e de<br />

integração regional inteligente significa levar em conta a dignidade das pessoas, a<br />

necessidade de organização e mobilização, o reconhecimento de nossos sindicatos,<br />

associações e movimentos, que reclamam por trabalho digno, salário decente e uma<br />

vida melhor.<br />

O 1º de maio coloca-nos frente aos sonhos e aos desafios. A perplexidade<br />

não nos paralisa. A história continua e a luta não nos dispensa.<br />

Viva a teimosia! Viva a memória <strong>dos</strong> que foram antes de nós e por nós! Viva o<br />

direito ao trabalho e ao bom emprego!<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. EDUARDO VALVERDE (PT-RO. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, não poderia deixar de me pronunciar a respeito<br />

do Dia Internacional do Trabalho, que será comemorado amanhã. Assim como<br />

grande parcela do povo brasileiro, orgulho-me de ter ajudado a eleger Presidente do<br />

Brasil um legítimo representante da classe trabalhadora. Entre as muitas lutas que<br />

Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará ao longo destes quatro anos estão as polêmicas<br />

e necessárias reformas, que devem gerar uma verdadeira revolução na história de<br />

nosso País. A reforma trabalhista que o Governo pretende implantar será<br />

amplamente discutida entre os diferentes setores sociais interessa<strong>dos</strong>.<br />

Os desafios coloca<strong>dos</strong> hoje para o mundo do trabalho pedem soluções cada<br />

vez mais duradouras, que somente serão alcançadas com o reconhecimento de que<br />

os conflitos são parte constitutiva das relações entre capital e trabalho.<br />

A garantia e o estímulo ao diálogo, às negociações e ao fortalecimento das<br />

instituições representativas do patronato e <strong>dos</strong> trabalhadores devem integrar, de<br />

forma relevante, as políticas de Estado. Mais do que uma legislação sobre direitos<br />

mínimos, o equilíbrio nas relações de trabalho requer a existência de sindicatos<br />

livres, autônomos, representativos e independentes. É preciso que as centrais<br />

sindicais sejam reconhecidas como legítimos interlocutores <strong>dos</strong> interesses <strong>dos</strong><br />

trabalhadores.<br />

A diminuição das taxas de desemprego é outro desafio de nosso Governo.<br />

Vale lembrar que a questão está intimamente ligada ao declínio do número de<br />

desemprega<strong>dos</strong> entre os jovens, que gira, hoje, em 30%. A queda da renda familiar,<br />

provocada pela relativa estagnação da economia, a alta taxa de desemprego e a<br />

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inadequação do sistema educacional, vem gerando um número cada vez maior de<br />

jovens que não conseguem ingressar nem permanecer no mercado de trabalho.<br />

Por esta razão, está sendo criado um programa nacional de incentivo à<br />

contratação de jovens pelas empresas e de estagiários comunitários, que dará uma<br />

primeira oportunidade de trabalho a milhares de brasileiros.<br />

E se vamos tentar resolver a questão da falta de emprego, não podemos nos<br />

esquecer também daqueles que já possuem trabalho, mas têm seus direitos<br />

constantemente viola<strong>dos</strong>. A CLT completa sessenta anos e é corriqueiramente<br />

descumprida.<br />

No Governo anterior, em que se avolumou a inadimplência nas relações de<br />

trabalho, ocorrida não apenas nas pequenas e microempresas, mas principalmente<br />

nas grandes empresas do setor financeiro e do setor bancário, que acumularam<br />

volumosos lucros durante os oito anos de governo neoliberal, ela foi violada com<br />

freqüência.<br />

A revolução industrial trouxe grandes avanços à sociedade, mas, ao mesmo<br />

tempo, desempregou, subempregou e explorou milhões de homens, mulheres e<br />

crianças.<br />

A Segunda Internacional, conferência ocorrida em Paris em 4 de julho de<br />

1894 — cem anos depois da tomada da Bastilha —, logrou, entre outras propostas,<br />

a aprovação do 1º de maio como Dia Internacional do Trabalho. Desde então, o<br />

trabalho passou a ser defendido como direito inalienável do homem, assim<br />

incorporado às declarações de direitos humanos, desde o da revolução na França<br />

até a carta das Organizações das Nações Unidas.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Gostaria de finalizar meu breve pronunciamento, congratulando ainda com os<br />

milhares de trabalhadores informais, que, mesmo sem as garantias previstas na lei,<br />

não esmorecem. Movimentam a economia do País com suas ocupações informais.<br />

São manicuras, vendedores de sanduíche, artesãos, pescadores, doceiras e muitos<br />

outros que arregaçam as mangas e lutam por uma vida mais digna.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. SANDES JÚNIOR (PPB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, com grande preocupação pude ler matéria<br />

publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, na edição de domingo último, segundo a<br />

qual existem hoje 15 mil servidores públicos da União ganhando mais do que o<br />

Presidente da República, cujo salário soma a cifra de R$8.797,00 mensais.<br />

Como bem argumenta o jornalista, em tese e legalmente, esse deveria ser o<br />

teto máximo de remuneração <strong>dos</strong> funcionários do Executivo, mas na prática<br />

milhares, principalmente aposenta<strong>dos</strong>, conseguem na Justiça a manutenção de<br />

salários de até R$27.000,00.<br />

É importante dizer que existe uma desorganização salarial no Brasil que não<br />

está restrita apenas ao serviço público, mas atinge também trabalhadores da<br />

iniciativa privada. É correta a informação de que em to<strong>dos</strong> os Ministérios existem<br />

servidores com o vencimento duas ou três vezes superior ao do Presidente da<br />

República, como também é verdade que, na iniciativa privada, existem muitos<br />

médicos ganhando menos que um motorista de ônibus.<br />

Reputo como absolutamente imprescindível uma ampla reformulação salarial<br />

no Brasil, que não passa apenas por colocar servidores à execração pública. Sou a<br />

favor de uma discussão madura em torno das chamadas “vantagens pessoais”, que<br />

trazem grandes repercussões nos salários. A grande verdade é que os Poderes<br />

estão cada vez mais distantes da previsão de um verdadeiro teto para o serviço<br />

público. Nem mesmo o remendo de reforma administrativa, feito em 1998, conseguiu<br />

aprovar tal teto.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

No Executivo, segundo números apura<strong>dos</strong> pelo jornal, 10.848 salários e<br />

aposentadorias e 2.250 pensões estão acima de R$10.000,00. E não estão<br />

localiza<strong>dos</strong> apenas nos gabinetes da Esplanada <strong>dos</strong> Ministérios, mas em todo o<br />

País.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, jamais pregaria aqui a redutibilidade<br />

salarial pura e simples, até porque ela é inconstitucional. Mas não há dúvida de que<br />

o País não suporta a desorganização salarial. É preciso que se crie regras justas e<br />

duradouras, que impeçam distorções que venham a comprometer investimentos em<br />

áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional. É preciso também corrigir<br />

graves distorções na iniciativa privada, de modo a garantir que o trabalho<br />

verdadeiramente possa ser sinônimo de dignidade profissional.<br />

Sr. Presidente, elogio o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo<br />

compromisso que assumiu com o Governador de Goiás, Marconi Perillo, para criar a<br />

agência de desenvolvimento do Centro-Oeste.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. LINCOLN PORTELA (PL-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, a sociedade assiste, estarrecida, a uma<br />

escalada de crimes no âmbito familiar da classe média brasileira.<br />

cidades.<br />

respeito.<br />

O assassinato familiar tornou-se pauta ordinária das delegacias de polícia.<br />

O inimigo está dentro <strong>dos</strong> lares, não somente nas esquinas e vielas das<br />

As famílias estão sendo destruídas pelo ódio, pelas drogas, pela falta de<br />

É incompreensível, mas vítimas e criminosos assinam o mesmo sobrenome e<br />

estão uni<strong>dos</strong> pela indissolubilidade do DNA.<br />

A multiplicação <strong>dos</strong> crimes tem deixado to<strong>dos</strong> pasmos, em estado de choque,<br />

atordoa<strong>dos</strong>, tentamos encontrar resposta para tanta maldade.<br />

A desestruturação da família está de fato na raiz da tragédia, e cada vez mais<br />

pais não conhecem seus filhos e filhos não se interessam por seus pais e avós.<br />

Os jovens estão crescendo sem carinho, sem referências morais e<br />

afetividade. Recebem boas mesadas, carros, viagens, mas certamente trocariam<br />

tudo isso pela simples presença <strong>dos</strong> pais.<br />

Sabemos que os surtos psicóticos existem e que são responsáveis pelos<br />

grandes crimes brutais, porém, a doença <strong>dos</strong> nossos dias tem um nome menos<br />

técnico, mas cruel: a dissolução das relações familiares.<br />

O uso de drogas, a falta de limites, de autoridade, e o consumismo alucinado<br />

estão resultando na falência da família.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O sacrifício, a renúncia e o sofrimento, realidades inerentes ao nosso<br />

cotidiano, foram excomunga<strong>dos</strong>, sobrando a barbárie.<br />

Precisamos de um choque de bom senso, o erro deve ser condenado e<br />

punido, mas a solidariedade deve ser recuperada. Precisamos identificar a relação<br />

que existe entre o medo de educar e os seus assustadores efeitos anti-sociais.<br />

Sr. Presidente, para finalizar, creio que pais, crianças e jovens precisam<br />

urgentemente aprender que o ser está acima do ter.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. SERAFIM VENZON (Sem Partido-SC. Pronuncia o seguinte discurso.)<br />

– Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, diante de inúmeros avanços tecnológicos<br />

que modificam a qualidade de vida e o seu ponto de vista, cria-se a necessidade de<br />

adequar a legislação para manter o Estado de Direito das pessoas em equilíbrio<br />

para preservar a boa convivência.<br />

Alguns princípios sociais são pétreos, imutáveis, mas os seus<br />

desmembramentos precisam ser adequa<strong>dos</strong> com as variações sociais. Por exemplo,<br />

o respeito a propriedade individual é um principio pétreo. Mas o conceito de<br />

propriedade é que se modifica.<br />

A maior propriedade que cada um tem é o direito social. Tudo o que somos e<br />

o que temos é resultado da organização da sociedade. Para ser médico, dentista,<br />

torneiro mecânico etc. não basta saber fazer, nem apenas ter feito o curso, é preciso<br />

ter o aceite-se da sociedade expresso no diploma, caso contrário, seria um<br />

charlatão.<br />

Para ter um carro, uma casa ou um terreno não basta compra-lo, é preciso ter<br />

a escritura pública. É também semelhante ser proprietário de parte de um espectro<br />

de ondas eletromagnéticos para uma emissora de rádio ou TV; não é diferente ser<br />

dono de um software, de um programa de Internet.<br />

A todas essas propriedades, quando adquiridas a prazo, é conferido um<br />

documento de expectativa de direito.<br />

A melhor propriedade, seguramente, não é carro nem casa, é a Seguridade<br />

Social: é a aposentadoria que pagamos a prazo durante a vida laborial. É pelo<br />

trabalho que revelamos o que somos. O que fazemos e como fazemos revela a<br />

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nossa alma, o nosso ser. Cada um de nós tira o sustento de si mesmo e <strong>dos</strong><br />

familiares do seu trabalho. O trabalho gera principalmente um beneficio social que<br />

faz bem a muita gente, próximos ou distantes, impossível de nominá-los.<br />

Qual é o beneficio social do agricultor? É o alimento que chega a mesa de<br />

to<strong>dos</strong> os que tem outra atividade; do professor, é o aprendizado da comunidade; do<br />

tecelão, é a disponibilidade de roupa; do juiz, é o cumprimento da lei.<br />

E o do Deputado? Certamente, num momento de mudanças — necessárias,<br />

concordo —, é o respeito com a maior propriedade de cada um: a aposentadoria ou<br />

a sua expectativa.<br />

Por isso, quero assegurar ao cidadão brasileiro que farei tudo para que o<br />

respeito à propriedade continue sendo um princípio pétreo.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, aproveito a oportunidade para<br />

convidar V.Exas. a participarem da XII Festa Nacional da Maçã, em São Joaquim, a<br />

cidade mais fria de Santa Catarina em temperatura, porém a mais quente em calor<br />

humano, especialmente em recepção a turistas.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. FERNANDO GONÇALVES (PTB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o aparecimento e a rápida expansão da<br />

chamada pneumonia asiática, uma doença com características de extrema<br />

gravidade e violência, que já provocou a morte de centenas de pessoas no mundo<br />

inteiro, está a exigir das autoridades brasileiras responsáveis pela área da saúde<br />

pública atenção e fortes medidas para evitar que haja o contágio em nosso País.<br />

Nações de to<strong>dos</strong> os continentes, não apenas da Ásia, estão adotando<br />

decisões enérgicas no sentido de isolar as pessoas identificadas com a doença para<br />

a realização do tratamento necessário e sobretudo visando evitar que a pneumonia<br />

se espalhe ainda mais.<br />

Torna-se absolutamente impossível imaginar como o Brasil iria enfrentar uma<br />

doença desse tipo, tão letal, dadas as condições em que se encontra todo o nosso<br />

sistema hospitalar e as imensas dificuldades para levar à população os cuida<strong>dos</strong><br />

necessários à prevenção. Ainda ontem, ocorreu o registro de mais um óbito por falta<br />

de leito na UTI de hospital público em Fortaleza, fato que se repete com freqüência,<br />

deixando pessoas enfermas sem as mínimas condições de atendimento compatível,<br />

formando uma verdadeira fila de espera até a morte chegar.<br />

Pergunto: que possibilidades teríamos para impor a medida do isolamento<br />

das pessoas, a denominada quarentena, forma adotada na China e nos demais<br />

países para conter o avanço dessa Síndrome Respiratória Aguda Grave? O Governo<br />

chinês decretou a quarentena forçada de todas as pessoas que tiveram contato mais<br />

próximo com algum suspeito de estar infectado.<br />

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Utilizo-me da hipótese alarmante porque realmente é muito grave a situação<br />

vivida pela China, que, aos primeiros sinais da epidemia, não acionou mecanismos<br />

de defesa e agora sofre com o pânico instalado entre a população, com reflexos<br />

sociais e econômicos de grande extensão. No Canadá, único país fora da Ásia onde<br />

ocorreram mortes, a doença também já adquiriu proporções dramáticas.<br />

É fundamental, portanto, que o Brasil passe a exercer um rigoroso controle<br />

sobre todas as pessoas que chegam ao nosso País, em portos e aeroportos, bem<br />

como nas áreas de nossa extensa fronteira terrestre, a fim de criar mecanismos<br />

capazes de impedir casos da pneumonia asiática no Brasil.<br />

Tenho recorrido com insistência à análise sobre questões de saúde pública<br />

porque, como médico e Parlamentar preocupado com os problemas sociais, avalio a<br />

grande importância de um trabalho coordenado e persistente do Ministério da Saúde<br />

e das secretarias estaduais com o propósito de se proporcionar à população<br />

adequadas condições de vida.<br />

Enquanto não se modificar o atual quadro de absoluta carência no<br />

atendimento médico-hospitalar do sistema público e na prevenção de doenças, bem<br />

como na área do saneamento básico, o Brasil não alcançará o desejado nível de<br />

desenvolvimento nem irá eliminar as profundas desigualdades sociais.<br />

É importante realizar-se vigilância rigorosa contra a pneumonia asiática, tal<br />

como é significativa a atuação do Ministério da Saúde em programas de amplo<br />

alcance, como os <strong>dos</strong> agentes de saúde e de atendimento diretamente às famílias,<br />

conforme ressaltei anteontem aqui nesta tribuna.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. LEANDRO VILELA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, na divisão de esferas administrativas do<br />

País, a mais importante é a esfera municipal. É nos Municípios que o administrador<br />

sente os problemas de perto, em face da proximidade com as pessoas. Não dá para<br />

resolver os problemas do Brasil sem resolver os problemas das cidades.<br />

Essa lógica simples e clara, no entanto, foi sumariamente ignorada nos<br />

últimos anos. Em vez de receber apoio, os Municípios foram sacrifica<strong>dos</strong> e<br />

assumiram responsabilidades que seriam <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> e até da União, sem receber<br />

a devida contrapartida financeira, realidade que deixa a maioria das Prefeituras em<br />

situação pré-falimentar.<br />

Um <strong>dos</strong> casos mais graves é o do transporte escolar. Em Goiás, como na<br />

maioria <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> brasileiros, os Governos Estaduais ignoram sua<br />

responsabilidade e deixam essa responsabilidade toda para as Prefeituras arcarem,<br />

quando o certo seria os Municípios cuidarem do transporte <strong>dos</strong> alunos da rede<br />

municipal, ficando os demais para o Estado.<br />

Essa realidade se repete em to<strong>dos</strong> os setores. Hoje, em milhares de<br />

Municípios, se os Prefeitos não abastecem os carros da polícia simplesmente não<br />

há segurança na cidade. A maioria <strong>dos</strong> prédios ocupa<strong>dos</strong> por órgãos estaduais no<br />

interior, como DETRAN, delegacias e outros, têm seus aluguéis arca<strong>dos</strong> pelas<br />

Prefeituras.<br />

Essa sobrecarga financeira onera os cofres municipais e gera distorções.<br />

Outros investimentos que são da responsabilidade local acabam não sendo<br />

realiza<strong>dos</strong> por falta de recursos.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Agora temos a chance, nesta <strong>Câmara</strong>, de regulamentar o transporte escolar.<br />

Está em tramitação um projeto que define claramente as responsabilidades do<br />

Estado e das Prefeituras. Os Prefeitos cuidam da rede municipal, e o Estado, da<br />

rede estadual. Os Governos Estaduais podem até transferir a responsabilidade para<br />

os Municípios, desde que acompanhada da contrapartida financeira.<br />

Sei que a maioria <strong>dos</strong> Parlamentares é sensível às causas municipalistas.<br />

Mesmo assim, registro o meu apelo para a aprovação dessa matéria. Não será,<br />

obviamente, a solução para os graves problemas <strong>dos</strong> Municípios, mas significará um<br />

avanço no sentido de fazermos justiça tributária no País.<br />

Precisamos também ficar atentos à proposta de reforma tributária, que<br />

chegará a esta Casa nas próximas semanas. Terá que ser uma reforma justa,<br />

especialmente com dois segmentos: o setor produtivo, que gera empregos; e os<br />

Municípios, que lidam diretamente com os problemas mais urgentes da população.<br />

A minha posição é bem clara: não apoiarei nenhuma lei que represente<br />

aumento na carga tributária de quem produz e gera empregos; e lutarei com todas<br />

as forças para que os Municípios possam ser mais bem aquinhoa<strong>dos</strong> na distribuição<br />

do bolo tributário brasileiro. Dois pontos justos e fundamentais para o progresso do<br />

Brasil.<br />

Passo a abordar outro assunto, Sr. Presidente. Esta semana a <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong><br />

Deputa<strong>dos</strong> promove um importante ato: a criação da Frente Parlamentar da<br />

Juventude. Uma frente suprapartidária que irá trabalhar tendo como foco principal a<br />

implantação de políticas para os jovens e adolescentes.<br />

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Número Sessão: 063.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

To<strong>dos</strong> os indicadores sociais mostram que a situação da juventude vem se<br />

agravando no Brasil, especialmente no tocante ao mercado de trabalho. É preciso<br />

desenvolver uma ação específica para os jovens, que representam o presente e o<br />

futuro do País.<br />

Hoje, no Brasil, pelo menos 5 milhões de jovens entre 15 e 24 anos estão<br />

precisando de estudo e trabalho, ou apenas de trabalho, ou estão em busca de<br />

estágios e aperfeiçoamento, sem obter êxito. Para se ter uma idéia da gravidade da<br />

situação, os jovens já representam metade <strong>dos</strong> desemprega<strong>dos</strong> no Brasil.<br />

Desse contingente, pelo menos 1 milhão não estuda, não trabalha e não tem<br />

opção de lazer, o que o torna presa fácil para as drogas, a prostituição e o crime<br />

organizado.<br />

A atuação da Frente Parlamentar da Juventude precisa centrar seu trabalho<br />

em quatro focos diferentes.<br />

Primeiro, forçar a adoção, pelo Governo Federal e pelos Governos Estaduais,<br />

de uma política agressiva de primeiro emprego. Quando digo “política agressiva” falo<br />

numa forte intervenção do Poder Público nas empresas para a contratação de<br />

jovens, inclusive com concessões de incentivos fiscais, se necessário. O primeiro<br />

emprego é que dará experiência ao jovem para que ele possa, pelos próprios<br />

méritos, se arranjar no mercado de trabalho. Nós sabemos que não basta apenas<br />

formação e capacitação, mas, sobretudo experiência, para se conseguir um bom<br />

emprego. Os programas de primeiro emprego supririam essa lacuna para os jovens.<br />

Em segundo lugar, o País precisa aprimorar sua política de estágios para os<br />

que ainda estão nos bancos das escolas e das universidades. Uma medida urgente<br />

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é a revogação da lei que proíbe a contratação de estagiários que ainda não<br />

possuem o curso secundário completo.<br />

Além disso, é fundamental levar para as salas de aula os jovens que não<br />

estão estudando. Um <strong>dos</strong> mecanismos seria o de condicionar a todas as famílias<br />

beneficiadas com qualquer programa oficial o recebimento do benefício à matrícula e<br />

à freqüência escolar <strong>dos</strong> jovens.<br />

Por fim, há que se combater a prostituição e o trabalho infantil, impondo<br />

penas rigorosas aos aliciadores. Aqui também é preciso uma política agressiva. A<br />

prostituição juvenil está institucionalizada no Brasil. Chega a ser vendida no exterior,<br />

através de pacotes de turismo, como atração para se viajar ao Brasil.<br />

Defendo uma fiscalização rigorosa nas empresas que exploram o turismo<br />

sexual, além da proibição da entrada de turistas estrangeiros que adquiram esse tipo<br />

de pacote. Ao serem identifica<strong>dos</strong>, eles deveriam ser deporta<strong>dos</strong> ao seu país de<br />

origem.<br />

O Brasil daria um recado ao mundo: aqui não se permite a entrada de turistas<br />

interessa<strong>dos</strong> somente em abusar de nossas crianças.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, a criação da Frente Parlamentar da<br />

Juventude é um avanço, pois dará força às ações <strong>dos</strong> governos em favor <strong>dos</strong><br />

jovens. Precisamos somar nossos esforços com o Programa de Combate ao Abuso<br />

e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, do Governo Federal, com os<br />

Governos Estaduais para buscarmos medidas eficazes.<br />

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A criação dessa frente é o pontapé inicial de uma luta difícil, mas de grande<br />

importância para o futuro do Brasil. Uma luta na qual, como Deputado Federal,<br />

estarei empenhado com todas as minhas forças.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. REMI TRINTA (PL-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, vem-se consolidando no País,<br />

progressivamente, a tendência de revitalizar os centros das grandes cidades, que,<br />

quase sempre, abrigam um grande acervo arquitetônico de interesse histórico.<br />

Assim acontece tanto em Capitais do Sul e Sudeste — Rio de Janeiro, São Paulo,<br />

Curitiba ou Porto Alegre — como do Nordeste — Salvador, Maceió, Recife, Fortaleza<br />

ou São Luís, apenas para citar algumas.<br />

O Rio de Janeiro, por exemplo, viu ressurgir a vocação cultural do centro da<br />

cidade após a instalação do Centro Cultural Banco do Brasil no centenário prédio do<br />

banco e a recuperação do histórico prédio da Alfândega, transformado na Casa de<br />

Cultura França—Brasil; São Paulo, há pouco mais de meia década, recuperou a<br />

antiga e bela estação ferroviária Júlio Prestes, já deteriorada pelo descaso, e<br />

construiu um <strong>dos</strong> melhores teatros de concertos do mundo, hoje sede da Orquestra<br />

Sinfônica estadual; a recuperação do bairro mais velho do Recife, conhecido<br />

justamente como Recife Antigo, deu novo ímpeto à vida cultural daquela cidade,<br />

concentrando boa parte <strong>dos</strong> mais marcantes eventos populares; a força que ganhou<br />

a vida cultural de Fortaleza após a inauguração do Centro Cultural Dragão do Mar e<br />

a recuperação <strong>dos</strong> prédios antigos na sua adjacência é inegável; e em Maceió, o<br />

mesmo aconteceu com a revitalização do bairro do Jaraguá, que se tornou o ponto<br />

da vida noturna daquela cidade.<br />

O que dizer, então, de Salvador, após a restauração do Pelourinho e a<br />

redefinição de sua área para fins eminentemente culturais e turísticos? Será difícil<br />

para qualquer visitante dizer o que mais o impressiona na Capital baiana, se a<br />

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paisagem do litoral ou o conjunto arquitetônico colonial recuperado e cheio de vida<br />

que é hoje o Pelourinho.<br />

Pois bem, Sr. Presidente, a verdade é que, igual ou mais imponente que a<br />

Salvador colonial é — sem falsa modéstia — a São Luís colonial, que abriga um<br />

acervo arquitetônico único no Brasil no chamado Centro Histórico.<br />

Mas é lamentável saber que anos e anos de descaso com o patrimônio da<br />

Capital quase acabam com o que ela tem de melhor a oferecer aos que a visitam.<br />

Por outro lado, felizmente, vêm sendo tomadas ações decisivas no sentido não só<br />

de conservar o que ainda não ruiu, mas também e principalmente recuperar para<br />

fins culturais e turísticos todo esse magnífico conjunto.<br />

Assim, é com satisfação que tomei conhecimento do plano do Governo<br />

Estadual de fazer parcerias com a comunidade e órgãos de serviços para<br />

implementar um amplo programa de revitalização daquela área.<br />

O raciocínio é simples: para o Estado, de pouco adianta apenas recuperar os<br />

prédios se não lhes for dada uma destinação que os mantenha. Ao turista, por seu<br />

lado, de pouco adianta ir ao Centro Histórico para apenas olhar os casarões<br />

recupera<strong>dos</strong>; muito mais interessante é que o lugar abrigue serviços que o<br />

interessem, como restaurantes, lojas de artesanato, centros culturais, museus etc. e<br />

também tenha quem os guie, alguém sobretudo que conheça bem o lugar.<br />

Portanto, nesse processo, é essencial a cooperação <strong>dos</strong> moradores e de<br />

to<strong>dos</strong> os que trabalham no Centro Histórico, como, por exemplo, comerciantes,<br />

taxistas, artesãos, guias turísticos e outros.<br />

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Hoje, ali se encontra uma grande comunidade de crianças, jovens e velhos, e<br />

estes podem perfeitamente ser aproveita<strong>dos</strong> no processo de revitalização da região.<br />

Quem visita Olinda pode-se servir <strong>dos</strong> guias mirins locais, que são cadastra<strong>dos</strong> e<br />

passam por um treinamento específico. O mesmo pode ser feito em São Luís,<br />

garantindo sustento para famílias e sobretudo evitando a ociosidade na infância e<br />

adolescência, pois bem diz o antigo provérbio: a ociosidade é a mãe de to<strong>dos</strong> os<br />

vícios.<br />

O desemprego entre os jovens de São Luís é, sem dúvida, um <strong>dos</strong> maiores<br />

problemas sociais da cidade, e pode ser minimizado com o aproveitamento <strong>dos</strong><br />

jovens do Centro Histórico que, sem terem o que fazer, não raro são leva<strong>dos</strong> ao<br />

submundo das drogas e do crime. Os mais i<strong>dos</strong>os, por sua vez, são preciosos<br />

depositários da história da região, e o trabalho na atividade cultural e turística pode<br />

contribuir para engordar os parcos rendimentos de aposentadoria que geralmente<br />

auferem.<br />

Em resumo: o programa de preservação e revitalização do Centro Histórico<br />

de São Luís envolve muito mais do que os arquitetos e pedreiros que trabalham na<br />

recuperação <strong>dos</strong> prédios históricos; vai além daí. Após a recuperação física <strong>dos</strong><br />

edifícios, começa o verdadeiro programa social que lhe dá continuidade e garante o<br />

seu sucesso.<br />

Parabenizo, portanto, o Governo Estadual por esta iniciativa de descentralizar<br />

a gestão do Centro Histórico e criar oportunidades para a população local. Como<br />

disse e repito, sem medo de ser tachado de bairrista, São Luís não fica nada a dever<br />

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a Salvador, Olinda ou Ouro Preto em termos de patrimônio histórico, e essa<br />

preciosidade tem de ser conhecida pelo resto do País e do mundo.<br />

O turismo é hoje das atividades que mais geram empregos, e empregos de<br />

to<strong>dos</strong> os níveis. Portanto, deve ser incentivado. E São Luís tem tudo o que o turista<br />

busca no Nordeste: praia, boa culinária, festa, gente alegre e hospitaleira, e história.<br />

É, portanto, dever do Estado oferecer sempre melhores condições para que o turista<br />

seja bem recebido e saia satisfeito, o que inclui, sem dúvida, uma boa acolhida e<br />

estada no Centro Histórico.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PASTOR PEDRO RIBEIRO (PTB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.)<br />

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, com o hasteamento das bandeiras do<br />

Brasil, do Ceará e do PTB, o Sr. Deputado Roberto Jefferson e eu, acompanha<strong>dos</strong><br />

do Pastor Pedro Cavalcante Falcão, coordenador político da Assembléia de Deus,<br />

no Ceará, iniciamos a festa cívico-política de entrega ao povo cearense, no dia 28<br />

do corrente mês, das dependências da nova sede do Partido Trabalhista Brasileiro,<br />

em Fortaleza.<br />

Representando o Diretório Nacional do partido, o 2º Vice-Presidente e Líder<br />

da bancada federal, Deputado Roberto Jefferson, proferiu tocante e entusiasmado<br />

discurso, discorrendo sobre a importância da nova e bela sede no Ceará,<br />

conclamando àqueles que já militavam no PTB e aos recém-vin<strong>dos</strong> do PSD para se<br />

unirem em prol do engrandecimento da sigla no Estado.<br />

Fizeram-se presentes os Deputa<strong>dos</strong> Federais Almeida de Jesus, Presidente<br />

do Diretório Estadual do PL, Inácio Arruda, Líder da bancada do Ceará, e Leônidas<br />

Cristino, do PPS. Compareceram também os Deputa<strong>dos</strong> Estaduais Pastor Ronaldo<br />

Martins, representante da Assembléia Legislativa, e Carlomano Marques, do PMDB.<br />

Abrilhantaram também a festa, com sua presença, Presidentes <strong>dos</strong> Diretórios<br />

Estaduais do PCdoB e do PDT, Prefeitos, Vereadores, Presidentes de Comissões<br />

Provisórias recém-nomea<strong>dos</strong>, Pastores da Igreja Assembléia de Deus e o<br />

representante da Federação das Indústrias do Ceará, Sr. Alcântara Macedo.<br />

Impossibilita<strong>dos</strong> de comparecer à solenidade, solidarizaram-se com a direção<br />

do PTB, no Estado, e comigo o Presidente da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, Deputado<br />

João Paulo Cunha; o Prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães; o Presidente da<br />

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Assembléia Legislativa do Ceará, Deputado Marcos Cals; o Secretário de<br />

Planejamento e Coordenação do Governo do Ceará, Dr. Maia Junior; o Presidente<br />

da <strong>Câmara</strong> Municipal de Fortaleza, Vereador Carlos Mesquita; e diversos<br />

Parlamentares.<br />

Aquela solenidade nos fez lembrar o passado histórico e glorioso do PTB.<br />

Fundado por Getúlio Vargas, em 15 de maio de 1945, consolidou-se como uma das<br />

legendas de maior apelo popular e teve em seus quadros figuras proeminentes da<br />

política nacional: Presidente João Goulart, Marechal Teixeira Lott, Alberto<br />

Pasqualini, Ministro Marcondes Filho, Hermes Lima, San Thiago Dantas, Presidente<br />

Jânio Quadros e Deputa<strong>dos</strong> Leonel Brizola, Almino Afonso, Rubens Paiva e<br />

Fernando Ferrari, que lideraram a Frente Parlamentar Nacionalista.<br />

Apesar de proscrito pelo regime militar, no período 1965-1980, o Partido<br />

Trabalhista Brasileiro continua vivo no imaginário popular, que sempre o associou às<br />

grandes lutas pela valorização do trabalho, pela preservação das riquezas nacionais,<br />

pela democracia e pela justiça social. Considerado como partido reformista, o PTB<br />

continua como um movimento de vanguarda, dinâmico e em consonância com o que<br />

já afirmara Getúlio Vargas: "O PTB é uma revolução em marcha".<br />

Dentro do espírito trabalhista que marcou o surgimento do partido, na década<br />

de 40, o PTB, no Ceará, vem se estruturando e se afirmando como um <strong>dos</strong><br />

instrumentos de mudança e de renovação da vida democrática no Estado.<br />

Tendo sempre em mente a necessidade da democratização da estrutura<br />

partidária, o partido vem se organizando em nosso Estado a partir da base.<br />

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Entendemos que só assim é possível construir parti<strong>dos</strong> sóli<strong>dos</strong>, que assegurem,<br />

com o seu funcionamento, ativa participação política popular.<br />

O PTB ressurge, no Ceará, como a força de uma grande agremiação<br />

partidária, com seus quadros amplia<strong>dos</strong> pela via eleitoral e pelas adesões, em face<br />

da incorporação do Partido Social Democrático — PSD.<br />

Hoje, 31 Municípios do Estado são governa<strong>dos</strong> por Prefeitos do PTB. Para as<br />

<strong>Câmara</strong>s Municipais foram eleitos, pela legenda do PTB e do PSD, 485 Vereadores.<br />

Deste total, permanecem no PTB, após o processo de incorporação do PSD, 357<br />

Vereadores.<br />

O Partido Trabalhista Brasileiro, no Estado do Ceará, está consciente de seu<br />

papel de caixa de ressonância do clamor das ruas. Sem esquecer a<br />

responsabilidade pelo atendimento de toda a sociedade, tem preocupação especial<br />

pelo segmento <strong>dos</strong> excluí<strong>dos</strong>, tanto do meio rural, quanto das cidades,<br />

principalmente daqueles que não têm voz, daqueles que estão desorganiza<strong>dos</strong> e<br />

que não têm acesso aos bens de consumo essenciais à vida. Nossa bandeira de<br />

luta é a definitiva erradicação da miséria e da desigualdade social. Não seremos<br />

omissos nem complacentes com a fome, com o analfabetismo, com a falta de<br />

escolas de qualidade e de atendimento básico de saúde. Ingovernabilidade para o<br />

PTB é não cuidar do social.<br />

Aos poucos, vamos redefinindo o nosso papel e o nosso projeto político no<br />

Brasil e, de forma velada, no Estado do Ceará.<br />

Era o que tínhamos a dizer.<br />

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O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, requeremos, nos termos regimentais, a<br />

transcrição nos Anais desta Casa de correspondência que recebemos da professora<br />

aposentada Lydia Vinholi Féres, do Município de Santo Anastácio, São Paulo,<br />

associada da APAMPESP — Associação <strong>dos</strong> Professores Aposenta<strong>dos</strong> do<br />

Magistério Público do Estado de São Paulo. A professora nos enviou carta de uma<br />

colega, a professora aposentada Maria Aparecida De Sordi de Aguiar, dirigida ao<br />

Exmo. Sr. Governador do Estado de São Paulo, Dr. Geraldo Alckmin, e publicada<br />

no Informe APAMPESP — Jornal de Piracicaba, carta essa que anexamos ao nosso<br />

manifesto.<br />

Nesta oportunidade, reiteramos nossa sensibilidade de, como homem público<br />

que somos e, acima de tudo, cidadão brasileiro, nos aliarmos a essa incansável luta,<br />

buscando resgatar o merecido reconhecimento, uma vida mais digna e uma<br />

remuneração justa para esses profissionais que tanto fizeram e continuam fazendo<br />

pelo engrandecimento do nosso País, os nossos mestres, em especial os nossos<br />

aposenta<strong>dos</strong>.<br />

CARTAS A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 825 a 825-B)<br />

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O SR. NELSON MARQUEZELLI (PTB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, a Constituição de 1988, em seu art. 144, §<br />

8º, autorizou os Municípios a constituírem guardas municipais destinadas à proteção<br />

<strong>dos</strong> bens, serviços e instalações municipais.<br />

Infelizmente, cedendo a pressões corporativas de alguns órgãos de<br />

segurança, o Constituinte de 1988 não relacionou a guarda municipal como um<br />

órgão de segurança pública, restringindo, assim, sua capacidade de ação. Esta, na<br />

prática, é a maior dificuldade à atuação das guardas municipais como órgãos<br />

complementares de segurança pública. Falta legislação que permita ampliar suas<br />

atividades.<br />

Os Esta<strong>dos</strong>, em face de limitações orçamentárias, não têm investido na<br />

segurança do cidadão, deixando uma perigosa lacuna na atividade estatal. O<br />

resultado tem sido o constante aumento do índice de criminalidade nos centros<br />

urbanos e nas áreas rurais.<br />

Isso é demonstrado, de forma inquestionável, pelas estatísticas da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública sobre os crimes, em suas diversas modalidades,<br />

pratica<strong>dos</strong> contra a população indefesa.<br />

Ora, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, diante desse quadro angustioso,<br />

o que se tem verificado, em especial nas cidades de médio e pequeno porte, é o<br />

progressivo aumento das ações das guardas municipais no campo da segurança<br />

pública.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Em cidades do interior do meu Estado, São Paulo, as guardas municipais já<br />

realizam rondas preventivas, motorizadas e a pé, em áreas escolares, comerciais,<br />

residenciais e rurais.<br />

De forma complementar, atendem ocorrências como acidentes de trânsito,<br />

desordem em área pública municipal, agressão, porte de arma e outras.<br />

E o fazem, Sr. Presidente, Sra. e Srs. Deputa<strong>dos</strong> não por prazer em<br />

descumprir o texto constitucional ou para concorrer com os demais órgãos de<br />

segurança pública, mas por absoluta necessidade da população, uma vez que, não<br />

raro, há mais guardas municipais na cidade do que policiais civis ou militares.<br />

Hoje, muito se fala em modernização do sistema de segurança pública, em<br />

gestão integrada, em policiamento comunitário, em melhor aproveitamento de<br />

recursos.<br />

Sem dúvida alguma, a primeira medida a ser tomada, se há efetivamente uma<br />

pretensão de enfrentar o crime organizado e a violência que assola to<strong>dos</strong> os<br />

Esta<strong>dos</strong> do nosso Brasil, é a de incluir a guarda municipal entre os órgãos<br />

integrantes do sistema de segurança pública brasileiro.<br />

E isso, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, não é difícil, venci<strong>dos</strong>,<br />

evidentemente, os obstáculos corporativos que, constantemente, impedem que se<br />

delibere no Congresso Nacional sobre matéria de segurança pública.<br />

Só na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, há, em tramitação, onze propostas de emenda<br />

à Constituição que tratam da ampliação das competências das guardas municipais.<br />

Chama a atenção a Proposta de Emenda à Constituição nº 95, de 1995, do<br />

Deputado Fernando Zuppo.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

Pasmem, Sr. Presidente, Sras. Srs. Deputa<strong>dos</strong>, esta PEC, apresentada em<br />

1995 e que tem por objetivo oferecer soluções para o grave problema de segurança<br />

pública, aguarda, até hoje, oito anos depois, a constituição da Comissão Especial<br />

que irá apreciar seu mérito. Apensadas a esta proposição estão outras duas<br />

propostas de emenda à Constituição — a PEC nº 343, de 1996, e a PEC nº 392, de<br />

1996.<br />

Em fase mais adiantada de tramitação encontra-se a PEC nº 534, de 2002, do<br />

Senado Federal, a qual tem por primeiro signatário o Senador Romeu Tuma.<br />

Essa proposição também objetiva permitir às guardas municipais a proteção<br />

da população local. A ela estão apensadas a PEC nº 87, de 1999, a PEC nº 240, de<br />

2000, a PEC nº 250, de 2000, a PEC nº 266, de 2000, a PEC nº 276, de 2000, e a<br />

PEC nº 291, de 2000.<br />

Tendo em vista que a proposição já foi aprovada no Senado, o que significa<br />

que metade do processo legislativo da Emenda Constitucional já foi realizado,<br />

solicito a V.Exa., Sr. Presidente, que adote todas as medidas regimentais possíveis<br />

para acelerar a tramitação da PEC nº 534, de 2002, no âmbito da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong><br />

Deputa<strong>dos</strong>.<br />

A segurança pública, como V.Exa., Sr. Presidente, já ressaltou em diversos<br />

pronunciamentos, é uma grave preocupação da sociedade brasileira e, por<br />

conseqüência, é uma grave preocupação para nós, Deputa<strong>dos</strong>, que fomos<br />

escolhi<strong>dos</strong> pelo povo brasileiro para sermos seus porta-vozes no Congresso<br />

Nacional.<br />

Com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 534, de 2002,<br />

conseguiremos ampliar as competências das guardas municipais, disponibilizando<br />

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um novo órgão público, com seu efetivo e experiência, para o combate à<br />

criminalidade. Assim, estaremos respondendo de forma positiva e pró-ativa aos<br />

anseios de toda a sociedade brasileira que clama, com urgência, por maior<br />

segurança.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. SEVERINO CAVALCANTI (PPB-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é com o mais profundo pesar que registro<br />

hoje, desta tribuna, a morte de um amigo, conterrâneo e companheiro de muitas<br />

lutas, o bravo advogado e Promotor de Justiça Josias Leite, que foi Deputado nesta<br />

Casa por vinte anos, com cinco mandatos consecutivos de Deputado Federal, de<br />

1967 a 1987. Josias morreu na madrugada do dia 29, aqui em Brasília, ao lado das<br />

pessoas que tanto amava, como a sua dedicada e fiel companheira Zuleide de<br />

Siqueira Ferreira Leite .<br />

Aos seus familiares e aos seus filhos Carmem Regina, Josias e Elídia Maria<br />

deixo aqui o meu conforto, pedindo a Deus que a imagem do pai que tiveram guie os<br />

seus passos, como exemplo de dignidade e correção.<br />

To<strong>dos</strong> os que acompanharam a trajetória de vida e a luta política de Josias<br />

Leite sabem da sua coerência, da sua personalidade retilínea e da sua fidelidade<br />

aos amigos e aos companheiros de partido.<br />

Fatos. Nascido na cidade pernambucana de São José do Egito, Pernambuco,<br />

em 17 de novembro de 1929, Josias Leite era filho de José Agostinho Leite e Elídia<br />

Maria Vidal. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de<br />

Recife (1957) e bacharel e professor licenciado em Geografia e História pela<br />

Universidade Católica de Pernambuco (1960), Josias Leite sempre honrou os cargos<br />

que ocupou na sua longa vida pública e profissional: Promotor de Justiça, Curador<br />

de Menores Indicia<strong>dos</strong> de Pernambuco, membro titular de várias Comissões<br />

importantes desta Casa , Vice-Líder do PDS, entre outros.<br />

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Estivemos juntos em movimentos memoráveis. E jamais escondemos o nosso<br />

apoio ao movimento de 1964, que, apesar <strong>dos</strong> erros na perseguição a adversários,<br />

trouxe para o País dias melhores e pavimentou o caminho do desenvolvimento e<br />

progresso hoje trilhado.<br />

Decidido a ficar sempre perto da sua família, que após o seu longo período<br />

como Deputado Federal acabou se estabelecendo em Brasília, Josias Leite, depois<br />

de deixar a <strong>Câmara</strong>, em janeiro de 1987, passou a se dedicar exclusivamente à<br />

advocacia em seu escritório particular nesta cidade.<br />

A to<strong>dos</strong> os familiares e amigos da família manifesto, como cristão, a minha<br />

crença de que é morrendo que se vive para a vida eterna. E Josias Leite viverá entre<br />

nós.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Concedo a palavra ao Deputado<br />

Antonio Carlos Pannunzio, para uma comunicação de Liderança, pelo PSDB.<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO (PSDB-SP. Como Líder. Sem<br />

revisão do orador.) – Sr. Presidente, associo-me às manifestações de pesar pelo<br />

falecimento do ilustre homem público e estadista Antonio Aureliano Chaves de<br />

Mendonça.<br />

Perde esta Casa e a Nação brasileira, que tiveram em sua pessoa um <strong>dos</strong><br />

mais notáveis Parlamentares, homem decidido e probo.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Concedo a palavra ao Deputado<br />

Lincoln Portela, para uma Comunicação de Liderança, pelo PL.<br />

O SR. LINCOLN PORTELA (PL-MG. Como Líder. Sem revisão do orador.) –<br />

Sr. Presidente, registro também meu pesar pelo falecimento do ex-Vice-Presidente<br />

da República e ex-Governador do Estado de Minas Gerais, Antonio Aureliano<br />

Chaves de Mendonça. A Nação brasileira perde um homem que, em momentos<br />

decisivos, esteve sempre ao seu lado.<br />

Sr. Presidente, vou me referir também a ilustres brasileiros que estão sendo<br />

assassina<strong>dos</strong> to<strong>dos</strong> os dias, em virtude da violência.<br />

criminosos.<br />

Lamento profundamente que a televisão brasileira continue formando<br />

Um dia desses, em busca de audiência, as emissoras colocaram seus<br />

helicópteros à disposição da notícia, porque bandi<strong>dos</strong> haviam sido presos e estavam<br />

sendo conduzi<strong>dos</strong> para delegacias ou penitenciárias. As imagens transformaram<br />

criminosos em pop stars, ao mostrar que o irmão de determinado bandido — não<br />

vou mencionar nomes, porque não lhes quero dar ibope — estava sendo preso.<br />

Os moços hoje excluí<strong>dos</strong> são, em sua maior parte, oriun<strong>dos</strong> da zona rural,<br />

porque o Brasil não consegue segurar seus filhos no campo, e vão para os<br />

aglomera<strong>dos</strong> urbanos, sem nenhuma perspectiva de vida. Ao assistir a essas<br />

imagens, pensam: “Ainda vou me tornar um criminoso famoso assim. As televisões<br />

estarão me filmando e transmitindo meu nome para todo o Brasil”.<br />

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Enquanto as emissoras brasileiras de televisão não entenderem que<br />

continuam contribuindo, e muito, para a violência no País, continuaremos neste<br />

caos.<br />

Sr. Presidente, os Governadores estarão aqui junto com o Presidente da<br />

República nesta tarde. Pela Liderança do PL, peço-lhes que fiquem atentos à<br />

questão da violência, que parem de maquiá-la nos jornais e televisões, dizendo que<br />

os presos estão bem, que as delegacias e os presídios não têm problemas.<br />

Isso não acontece no Brasil. S.Exas. devem ter consciência e trabalhar com<br />

afinco, a exemplo <strong>dos</strong> poucos que o estão fazendo. A área de segurança pública e o<br />

sistema prisional brasileiro carecem muito de atenção. A Lei de Execução Penal não<br />

é cumprida por culpa de muitos Governadores.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Vai-se passar ao<br />

V – GRANDE EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao Sr. Carlos Sampaio, do PSDB de São Paulo.<br />

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O SR. CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é uma alegria muito grande fazer meu primeiro<br />

pronunciamento no Grande Expediente. Não poderia deixar de agradecer os 161 mil<br />

votos recebi<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> eleitores de uma das mais importantes regiões do Estado de<br />

São Paulo, que me permitiram integrar esta importante Casa Legislativa.<br />

Ao mesmo tempo em que agradeço a essas pessoas sua confiança em mim,<br />

aproveito para dizer-lhes que estou trabalhando muito, e continuarei a fazê-lo, para<br />

honrar cada voto recebido.<br />

Nesse último pleito eleitoral, Sr. Presidente, fiz a opção que entendi mais<br />

correta e adequada: representar região composta por trinta Municípios, pelo fato de<br />

acreditar que assim poderia representá-los condignamente. Dizia eu, à época das<br />

eleições, que, se me propusesse a defender quinhentos, certamente não defenderia<br />

nenhum de forma adequada.<br />

Assumo, portanto, Sr. Presidente, minha característica de Deputado regional<br />

e, como tal, não medirei esforços para defender as trinta cidades que me trouxeram<br />

a esta Casa de leis. Entre elas, peço vênia para destacar Campinas, minha cidade<br />

natal, que me honrou com quase 100 mil votos de confiança.<br />

Mas, por ser este, Sr. Presidente, meu primeiro pronunciamento, entendi ser<br />

minha função apresentar-me às Sras. e aos Srs. Parlamentares que integram a<br />

<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>.<br />

Nasci em Campinas, em 1963, e ingressei no Ministério Público aos 23 anos,<br />

tendo a honra de ter sido Promotor de Justiça em dois importantes Esta<strong>dos</strong>: Minas<br />

Gerais e São Paulo.<br />

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Ingressei na Promotoria de Justiça, diferentemente do que poderiam pensar<br />

alguns, não por me achar dotado do pouco recomendável dom de acusar. Aliás,<br />

quem nasce com ele, penso eu, não nasce para ser feliz, na concepção mais<br />

abrangente da palavra felicidade. Aliás, também penso que o bom promotor é<br />

aquele que nasce com o dom de defender, já que é sua função primeira defender a<br />

sociedade.<br />

Para que não se perca na história, peço licença, Sr. Presidente, para fazer o<br />

registro de ensinamento que recebi de meu sábio pai. Logo que ingressei na<br />

Promotoria de Justiça, ainda jovem, aos 23 anos, indagou-me meu pai: “Filho, qual o<br />

instrumento cortante mais afiado que você conhece? Não seria a navalha?” Eu<br />

respondi que sim. Continuou meu pai: “Pois então tente separar com uma navalha<br />

as páginas de um livro, aquelas que vêm grudadas. Você perceberá que o corte sai<br />

em ziguezague, ferindo o papel. Mas, se você pegar uma espátula e tentar separar<br />

essas mesmas páginas, verá que o corte sai retilíneo e que as páginas não são<br />

machucadas”. Com isso, Sr. Presidente, quis meu pai dar-me um ensinamento muito<br />

importante, que me guia até hoje: “Meu filho, faça sempre a justiça da espátula,<br />

porque ela não machuca, não faz a pessoa ferida sentir na carne os desvios de<br />

pensamento de alguém que nasceu para acusar. Não é esse o propósito de um<br />

Promotor de Justiça”.<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, talvez por essa razão — confesso que nunca saberei<br />

a exata razão —, isto é, por procurar sempre em agir de forma a promover a justiça<br />

com a espátula, tive o privilégio, quando atuava como Promotor de Justiça do Júri de<br />

Campinas, de ter sido convidado pelo sau<strong>dos</strong>o Prefeito Magalhães Teixeira, que<br />

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muitas saudades deixou não só naquela cidade, mas também nesta Casa, onde foi<br />

um exemplar Deputado Federal, para concorrer ao cargo de Vereador.<br />

Se faço consignar aqui o nome daquele que me convidou para ingressar na<br />

vida pública, é porque tenho orgulho de ter sido guiado pelas mãos de um <strong>dos</strong> mais<br />

importantes políticos do País, o Prefeito José Roberto Magalhães Teixeira.<br />

A partir de então, Sr. Presidente, fui Secretário Municipal de Segurança<br />

Pública no Município de Campinas e duas vezes Deputado Estadual por São Paulo.<br />

Chego a esta Casa, juntamente com 62 Parlamentares, integrando a bancada<br />

do PSDB, que, por meio de nosso Líder, Deputado Jutahy Junior, muito me honrou<br />

ao nomear-me titular da Comissão de Constituição e Justiça, da Comissão de<br />

Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e do Conselho de Ética. Digo<br />

que me sinto honrado porque vivemos um momento ímpar, em que se espera <strong>dos</strong><br />

Poderes a mesma organização do crime, para que possamos combatê-lo de forma<br />

adequada.<br />

Discutem-se neste momento mudanças importantes no Código Penal, no<br />

Código de Processo Penal e na Lei de Tóxicos, e to<strong>dos</strong> esses debates estão sendo<br />

trazi<strong>dos</strong> à baila na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime<br />

Organizado.<br />

Aqui chego, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, por decisão soberana do<br />

povo brasileiro, na condição de oposição. Neste particular, permito-me uma breve<br />

digressão sobre o que penso do nosso papel.<br />

Primeiramente, quero deixar claro que, independentemente da adjetivação<br />

que se queira dar à Oposição — crítica, serena, coerente, responsável —, certo é<br />

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que to<strong>dos</strong> esses adjetivos caberiam em única frase: o PSDB, partido a que tenho a<br />

honra de pertencer, fará a oposição de quem ama o seu país e torce para que ele dê<br />

certo.<br />

Digo isso porque foi com muito pesar que vi integrantes do PT assumirem<br />

que, à época do Governo Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o, pregavam aquilo que sabiam<br />

que iria inviabilizar o País, uma vez que tinham uma meta, que era chegar ao poder<br />

— frase textualmente proferida por um importante integrante do PT. Daí a minha<br />

indagação: seria lícito buscar o poder a qualquer custo? Seria correto e justo<br />

inviabilizar o País para chegar ao poder? Será que nos é dado o direito de amar<br />

mais o poder do que a nossa própria Nação? Evidentemente, a todas essas<br />

perguntas a resposta é não.<br />

Logo, Sr. Presidente, eu gostaria que V.Exa. e o Presidente da República<br />

soubessem que nós, do PSDB, torcemos para que o Governo dê certo, porque<br />

torcer contra um Presidente da República é torcer contra o seu país, e isso o meu<br />

partido não faz. Não somos daqueles que apostam no insucesso <strong>dos</strong> outros para a<br />

obtenção de um sucesso pessoal. Aquele que torce para que alguém se dê mal a<br />

fim de que possa se dar bem reconhece em si mesmo a mediocridade. O PSDB não<br />

pensa assim.<br />

O Sr. Eduardo Gomes – V.Exa. me permite um aparte?<br />

O SR. CARLOS SAMPAIO – Pois não, tem V.Exa. a palavra.<br />

O Sr. Eduardo Gomes – Deputado Carlos Sampaio, eu gostaria de saudá-lo<br />

nessa sua estréia no Grande Expediente e dizer à população brasileira,<br />

especialmente à de São Paulo, que temos em V.Exa. um legítimo representante do<br />

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PSDB. Logo nos primeiros dias desta Legislatura, pude observar sua<br />

responsabilidade no trato de missão importante para a qual foi designado pela Mesa<br />

desta Casa, qual seja a cassação do mandato de um Deputado. Pude constatar sua<br />

firmeza, seu caráter, sua vontade de realizar um grande trabalho. Este é o momento<br />

de manifestar o orgulho da bancada do PSDB de tê-lo como integrante. To<strong>dos</strong> nós<br />

torcemos para que o partido tenha serenidade suficiente para fazer uma boa<br />

oposição ao Governo, ao lado do povo brasileiro, a fim de que daqui a três anos e<br />

meio voltemos ao poder e encontremos o País arrumado, a despeito dessa forma<br />

meio conturbada de governar. Daremos conta de manter to<strong>dos</strong> os avanços que<br />

conquistamos para a sociedade brasileira. Parabenizo V.Exa. e os eleitores de<br />

Campinas e de São Paulo, que enviaram a esta Casa um grande representante.<br />

O SR. CARLOS SAMPAIO – Agradeço a V.Exa. o aparte e aproveito a<br />

oportunidade para dizer que, de fato, no primeiro mês do meu mandato tive a honra<br />

de ser designado pelo Presidente da Casa e pelo Líder da nossa bancada um <strong>dos</strong><br />

quatro membros da Comissão que fez estudo minucioso sobre o caso Pinheiro<br />

Landim. Sem que houvesse nenhum achincalhe ou execração pública, os quatro<br />

Deputa<strong>dos</strong> deram parecer à Mesa da <strong>Câmara</strong> recomendando a cassação.<br />

Cumprimos nossa missão de forma magistral, graças ao apoio irrestrito da<br />

Presidência desta Casa.<br />

Ouço o Deputado Lobbe Neto.<br />

O Sr. Lobbe Neto – Caro Deputado Carlos Sampaio, tenho a honra de ter<br />

podido conviver com V.Exa. na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.<br />

Exemplo de político sério, V.Exa. faz um grande trabalho em toda a região de<br />

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Campinas, uma das mais prósperas do País. Parabenizo-o pelo pronunciamento e<br />

aos moradores da cidade de Campinas e região por terem neste Congresso<br />

representantes como V.Exa. e o Deputado Salvador Zimbaldi, entre outros. A análise<br />

de um processo de cassação de Parlamentar é trabalho delicado, que V.Exa.<br />

cumpriu com dignidade e perfeição, como lhe é peculiar na profissão de Promotor<br />

Público. Por fim, quero dizer que o PSDB está atônito com algumas posturas deste<br />

Governo, mas parabenizo aqueles que mantêm na vida pública a mesma postura de<br />

antes do período eleitoral, como o Deputado Babá, a Deputada Luciana Genro e a<br />

Senadora Heloísa Helena, que sempre tiveram identidade com o trabalhador e com<br />

o funcionalismo público federal e reivindicam no Governo o mesmo que<br />

reivindicavam quando eram oposição. Obrigado.<br />

O SR. CARLOS SAMPAIO – Agradeço o aparte de V.Exa.<br />

Continuo, Sr. Presidente. Chegamos a esta Casa na condição de oposição.<br />

Se por um lado saberemos contribuir com o atual Governo para o crescimento de<br />

nosso País, de outro, não deixaremos, em momento algum, de pontuar as<br />

incoerências, uma a uma. Afinal, nesses três primeiros meses de mandato, tenho<br />

visto, Sr. Presidente, um PT que prega e defende teses que sempre repudiou. Onde<br />

está o PT que pichava aos quatro cantos deste País os dizeres “Fora FMI?” Ao que<br />

me parece, o PT de hoje, para o bem do País, reconheço, mudou seu discurso.<br />

Porém, foi além do imaginável, transformando seu pior algoz, o FMI, em verdadeiro<br />

aliado e, no intuito de afagar-lhe, propôs até mesmo um superávit primário ainda<br />

maior. Daí outra pergunta: onde está o PT que dizia que superávit primário elevado<br />

era sinônimo de submissão aos interesses do Fundo Monetário Internacional? Onde<br />

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está o PT que dizia que o superávit primário de 3,75% proposto por Fernando<br />

Henrique Car<strong>dos</strong>o, nosso ex-Presidente, implicava cortes inaceitáveis de<br />

investimentos da área social? Hoje, esse mesmo PT propõe um superávit de 4,25%.<br />

Onde está o PT que pregava como sendo plausível um salário mínimo de 100<br />

dólares? Neste particular, não posso aceitar os argumentos do Presidente Lula,<br />

apresenta<strong>dos</strong> na data de ontem, de que seu Governo está fazendo baixar o dólar e,<br />

portanto, chegaremos a esses mesmos 100 dólares por um caminho inverso.<br />

Não posso aceitar esse argumento, porque é importante registrar que, se no<br />

ano passado o dólar subiu a patamares indesejáveis e o Risco Brasil também subiu,<br />

tais fatos foram decorrência direta da desconfiança que se tinha no próprio Governo<br />

do PT, cuja vitória se vislumbrava. Logo, não é este Governo, com medidas<br />

inovadoras, que está fazendo o dólar cair e diminuindo, efetivamente, o Risco Brasil.<br />

Ao contrário, se há queda do dólar hoje — e é bom para o País —, longe de ser<br />

conseqüência direta das políticas públicas aplicadas pelo PT, isso decorre do fato de<br />

o atual Presidente, sabiamente, estar dando continuidade às diretrizes estabelecidas<br />

pelo Governo Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o.<br />

Continuam minhas indagações: onde está o PT do Senador Aloizio<br />

Mercadante, que, em mea<strong>dos</strong> do ano passado, em pleno processo eleitoral, com<br />

calhamaço de papéis debaixo do braço, afirmava ser perfeitamente possível dar um<br />

aumento de 63% para o funcionalismo federal? Este mesmo Senador hoje apóia o<br />

aumento insignificante de 1% para o funcionalismo e, o que é pior, se aponta como<br />

alguém que vem solicitar a expulsão daqueles que só defendem aquilo que no ano<br />

passado defendia.<br />

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Aqueles Deputa<strong>dos</strong> que se contrapuseram ao aumento de 1% hoje têm, na<br />

figura do Senador Aloizio Mercadante, um algoz que pretende expulsá-los.<br />

Onde está o PT do Presidente Lula que subscrevia diversos manifestos contra<br />

a tributação <strong>dos</strong> inativos e que hoje, exatamente hoje, traz a esta Casa uma<br />

proposta de reforma previdenciária que inclui a taxação <strong>dos</strong> inativos que tanto<br />

atacou no passado?<br />

Faço uma pergunta à Deputada Luciana Genro: onde está o PT de V.Exa., do<br />

Deputado Babá, da Senadora Heloísa Helena, de tantos que apregoam hoje o que<br />

apregoavam antes e agora estão sendo critica<strong>dos</strong> no partido? Sabem por quê?<br />

Porque têm coerência, agem de acordo com a consciência e não à mercê do<br />

dinamismo político.<br />

Sabemos que a política é dinâmica, mas não podemos viver à mercê desse<br />

dinamismo, e é o que hoje vemos inúmeros integrantes do PT fazerem.<br />

Enfim, se por um lado, Sr. Presidente, faremos uma oposição de quem quer<br />

que o Brasil cresça, repito, de outro lado, não deixaremos de pontuar cada uma das<br />

incoerências vivenciadas pelo atual Governo do PT.<br />

Sr. Presidente, o Brasil vive hoje um momento ímpar. Aliás, amanhã é o Dia<br />

do Trabalhador, a quem rendo minhas homenagens, em que pese ao salário mínimo<br />

de 240 reais, até bem pouco tempo tido como miserável e inaceitável pelo PT. Hoje,<br />

este mesmo PT propõe com orgulho este valor do salário mínimo. A proposta do<br />

Ministro Antonio Palocci era de 234 reais, mas o Presidente Lula fez uma<br />

intervenção oportuna e chegou aos 240 reais, que era o que o PSDB já dizia, no ano<br />

passado, que tinha condições de dar.<br />

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Então, é com pesar que cumprimento os trabalhadores, que aguardavam<br />

certamente um aumento bem mais substancial do seu salário mínimo.<br />

Sr. Presidente, vivemos o momento das reformas. Hoje, o Sr. Presidente da<br />

República, juntamente com os Governadores, vem trazer a esta Casa as propostas<br />

das reformas previdenciária e tributária. Neste particular, não me poderia quedar<br />

inerte sem que dissesse o que penso de alguns tópicos.<br />

A bancada do PSDB — e já foi dito pelo nosso líder e por Vice-Líderes —<br />

aguarda as propostas do PT para só então adotar um posicionamento claro. No<br />

tocante à reforma previdenciária, entendemos que é oportuna e fundamental para o<br />

nosso País, mas particularmente não concebo, não aceito e voto contra a taxação<br />

<strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong>, não somente pela inconstitucionalidade da medida, como também<br />

pela falta de justiça que contém em seu bojo.<br />

Portanto, fica esse registro particular. Voto contra a taxação de aposenta<strong>dos</strong> e<br />

tenho certeza de que a orientação da bancada do PSDB terá um sentido mais<br />

amplo. Mas, qualquer que seja a posição do partido, saberão respeitar a posição de<br />

um Promotor de Justiça que, como servidor da Justiça, como servidor público, sabe<br />

o que é recolher mês a mês, ao longo de trinta anos, parte de seu salário, para no<br />

final, no momento da aposentadoria, vir um governo que sempre criticou a taxação<br />

<strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong> tentar sugar-lhe ainda mais do que foi sugado ao longo <strong>dos</strong> seus<br />

trinta anos de trabalho.<br />

No tocante à reforma tributária, Sr. Presidente, somos favoráveis a tudo aquilo<br />

que é consensual. E é consenso entre os Governadores e o Presidente da<br />

República a unificação do ICMS, que seja federalizado o imposto, com a criação de<br />

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um fundo de compensação para os Esta<strong>dos</strong> menos favoreci<strong>dos</strong>. Somos, sim,<br />

favoráveis a isso, mas registro também, particularmente, que votarei contra qualquer<br />

aumento de tributação imposto ao povo brasileiro. Sou radicalmente contra, esse<br />

não é o mecanismo adequado.<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Antonio Carlos Pannunzio.<br />

O Sr. Antonio Carlos Pannunzio – Nobre Deputado, antes de mais nada,<br />

cumprimento-o pela vibração, pelo entusiasmo, pela postura eminentemente<br />

social-democrata da qual to<strong>dos</strong> nos orgulhamos. Quero tecer dois cumprimentos<br />

adicionais. O primeiro, pela modéstia de V.Exa., que, começando sua fala,<br />

apresentou-se. V.Exa. já fez história na política paulista. E quem faz história na<br />

política paulista, assim como nos outros Esta<strong>dos</strong>, faz história no Brasil. V.Exa.,<br />

portanto, já era uma figura notória, conhecida, quando aqui chegou. Cumprimento-o,<br />

também, pela sua origem política junto ao nosso sau<strong>dos</strong>o e querido Magalhães<br />

Teixeira. Esse é um atributo que poucos podem apresentar nos cenários do PSDB<br />

de São Paulo e, por si só, atesta a nobreza da origem de V.Exa. Meus<br />

cumprimentos.<br />

O SR. CARLOS SAMPAIO – Muito obrigado a V.Exa., Deputado Antonio<br />

Carlos Pannunzio.<br />

Quanto à reforma tributária, temos de buscar mecanismos para aumentar a<br />

receita. Esse mecanismo é o desenvolvimento de políticas econômicas que<br />

promovam o crescimento do País, e não aumento de taxação ou criação de tributos.<br />

Sempre que se falar em aumento de tributo, posicionar-me-ei contra.<br />

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Com relação à reforma política, Sr. Presidente, já ouvi um político dizer que<br />

esta é a mãe de todas as reformas. De fato, ela deveria caminhar junto com as<br />

reformas previdenciária e tributária, para que resolvêssemos, de uma vez por todas,<br />

a questão da fidelidade partidária, do voto distrital e, principalmente, do<br />

financiamento público das campanhas.<br />

Por fim, Sr. Presidente, peço vênia para falar da cidade onde nasci. No ano<br />

de 2000, disputei as últimas eleições municipais com o então candidato Antônio da<br />

Costa Santos, o Toninho, com quem tive a honra de ir para o segundo turno. Ele foi<br />

o escolhido para assumir a Prefeitura de Campinas.<br />

Nos seus poucos meses de mandato, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, Toninho, de<br />

certa forma, correspondeu às expectativas da população, fato que me levou a fazer<br />

inúmeros comentários elogiosos à sua conduta administrativa. Cheguei até mesmo a<br />

conclamar to<strong>dos</strong>, indistintamente, a ajudarem o Prefeito Toninho na reconstrução da<br />

nossa cidade.<br />

É certo, e estaria sendo hipócrita se negasse, que tínhamos inúmeras<br />

divergências ideológicas, até mesmo no caminho que buscávamos percorrer para<br />

atingir nosso objetivo, qual seja o bem-estar de nossa cidade.<br />

Hoje, um ano e meio após a sua morte, posso afirmar, sem medo de errar,<br />

que a Campinas de agora nada tem a ver com a Campinas planejada por Toninho e,<br />

muito menos, com a Campinas por mim sonhada.<br />

A Prefeita Izalene Tiene desmontou a equipe de trabalho de Toninho,<br />

distanciou-se <strong>dos</strong> propósitos do Prefeito. Prova disso é a total falta de transparência<br />

que caracteriza o atual Governo.<br />

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Se aproveito esse momento para fazer essas reflexões é porque sei que a<br />

nossa cidade merece trilhar outro caminho, pautado pelo respeito ao cidadão, pela<br />

defesa intransigente do dinheiro público e pela transparência <strong>dos</strong> atos<br />

administrativos.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado José Carlos Aleluia, para uma Comunicação de Liderança, pelo PFL.<br />

S.Exa. disporá de oito minutos.<br />

O SR. JOSÉ CARLOS ALELUIA (PFL-BA. Como Líder. Sem revisão do<br />

orador.) - Sr. Presidente, estou revoltado! V.Exa., Deputado Inocêncio Oliveira, como<br />

to<strong>dos</strong> os que conviveram com Luis Eduardo, sabem que ele honrou esta Casa e a<br />

cadeira que ocupou de Presidente da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>. A Bahia quis prestar<br />

homenagem a S.Exa. e construiu um monumento, cuidado com todo carinho pelos<br />

baianos. O Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores, que hoje vem a esta Casa pedir apoio para<br />

as reformas, cobriu o rosto da estátua com uma bandeira do partido. Isso é um<br />

desrespeito! O PT estava representado pelo Deputado Yulo Oiticica, que não<br />

respeita o povo baiano nem esta Casa.<br />

Falo como Líder do PFL, pois estou indignado com a demonstração de<br />

desrespeito do Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores com o povo baiano e com o grande líder<br />

que esta Casa teve oportunidade de conhecer, honrar e prestigiar.<br />

O Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores deve à Bahia um pedido de desculpas por essa<br />

agressão. O monumento do Deputado Luis Eduardo foi pichado. E V.Exa. pode<br />

verificar na foto publicada pelo jornal que cobriram o rosto da estátua com uma<br />

bandeira do PT. É um desrespeito inaceitável. Esse partido demonstra não ter a<br />

estatura necessária para estar na posição a que foi alçado pelo povo brasileiro.<br />

Falo não só em nome da Bahia, mas também do meu partido, que se<br />

considera agredido — e certamente em nome desta Casa, que também se sente<br />

agredida com essa ofensa do Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores.<br />

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O SR. PEDRO CHAVES - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. PEDRO CHAVES (PMDB-GO. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, cumprimento os trabalhadores de Niquelândia, na pessoa do Prefeito<br />

Luiz Teixeira Chaves e do Cícero, que estão promovendo grande evento desportivo<br />

para comemorar o dia 1º de Maio, e to<strong>dos</strong> os trabalhadores de Goiás e do Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra, no período<br />

destinado ao Grande Expediente, ao segundo orador inscrito, o nobre Deputado<br />

Antonio Carlos Pannunzio. S.Exa. disporá de 25 minutos.<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO (PSDB-SP. Sem revisão do orador.)<br />

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, pode parecer até maquinação do<br />

PSDB, mas foi o acaso que pôs dois Parlamentares do PSDB para falarem hoje no<br />

Grande Expediente.<br />

Farei um histórico e algumas considerações.<br />

O Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva completará amanhã quatro<br />

meses, desde sua instalação, em 1º de janeiro, após dois meses da mais<br />

transparente e democrática transição já realizada em nosso País — inclusive, com<br />

os principais membros da nova equipe ministerial participando ativamente <strong>dos</strong><br />

acor<strong>dos</strong> e compromissos locais neste Parlamento e também <strong>dos</strong> internacionais, que<br />

antecederam à posse do novo Governo.<br />

Desde o seu primeiro dia, o atual Governo segue recebendo os aplausos e a<br />

aprovação — creio que ainda — da maioria da população brasileira e o valioso apoio<br />

<strong>dos</strong> meios de comunicação, só ofuscado pelas contundentes críticas feitas por<br />

membros do próprio Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores, que parece terem percebido a<br />

distância entre o ideário do partido, certas teses e dogmas, o discurso de campanha<br />

e a política por ele praticada.<br />

Para que tenhamos idéia, Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, do que foi<br />

apresentado ao povo brasileiro como proposta de governo pelo PT e o que está<br />

sendo efetivamente realizado, passo a reproduzir uma síntese do que foi dito em<br />

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campanha pelo candidato à Presidência e publicado pela revista Época do último dia<br />

7. Trata-se de promessa feita durante a transmissão do Jornal Nacional, da Rede<br />

Globo, no dia 26 de setembro de 2002, defendendo baixar os juros para retomar o<br />

crescimento econômico.<br />

O candidato Lula disse, então, buscando eleger-se: “Nenhum país crescerá,<br />

se a taxa do Governo for maior que o lucro das empresas. Vamos estimular a<br />

produção desde o primeiro dia”. Entretanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>,<br />

o que se viu foi o aumento da taxa básica de juros determinada pelo Banco Central,<br />

que subiu de 25% para 26,5% desde a posse do Presidente Luiz Inácio Lula da<br />

Silva.<br />

Ao tratar do superávit primário, o programa de governo do candidato Lula<br />

criticava a política de geração de superávits do Governo anterior para pagar a<br />

dívida. Não obstante, trouxe a proposta de “preservar o superávit primário o quanto<br />

for necessário, para não permitir o aumento da dívida em relação ao PIB”. Essa<br />

proposta, pasmem, foi totalmente desrespeitada em fevereiro para atender à<br />

recomendação do FMI, quando a equipe econômica de Lula elevou o superávit de<br />

2003 de 3,75% para 4,25% do PIB, índice defendido pelo Presidente do Banco<br />

Central, Henrique Meirelles (ex-Presidente do Bank Boston), para permanecer até o<br />

ano de 2011! Ao que parece, entendem agora que a prioridade do PT é o<br />

pagamento da dívida externa. Mudou. Mudou o enfoque. Mudou a prioridade<br />

Quanto às idéias de redução de impostos, a campanha do PT apregoava a<br />

redução da alíquota da CPMF para 0,08% a partir de 2004 e afirmava que a<br />

contribuição serviria apenas para ajudar a fiscalização da Receita Federal.<br />

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Comprometia-se inclusive a “reduzir a carga tributária que recai sobre o setor médio<br />

assalariado”, que na realidade resultou na versão de reforma tributária preparada<br />

pelo Governo com a manutenção da CPMF com alíquota de 0,38% até a definição<br />

de outras fontes de receitas, punindo o contribuinte com uma tabela de descontos do<br />

Imposto de Renda corrigida abaixo da inflação. E ontem, com a aprovação da<br />

Medida Provisória nº 107, houve nova derrama nas áreas da Contribuição Social<br />

sobre o Lucro Líquido e da incidência da COFINS.<br />

Promessas, Sr. Presidente, como a de dobrar o poder de compra do salário<br />

mínimo em quatro anos — ao que indica a postura do Governo diante do aumento<br />

de apenas 20% —, estão longe de serem cumpridas. Criticando o salário mínimo de<br />

irrisório, o então candidato Lula afirmou, em debate na TV Globo com José Serra,<br />

que “no mundo inteiro o aposentado ganha um prêmio e aqui no Brasil ele ganha<br />

castigo”. Essa contradição torna cada vez mais complicada a tarefa de explicar ao<br />

povo brasileiro a distância entre o que foi dito para se eleger, durante a campanha, e<br />

o que o Governo realiza agora, vencidas as eleições. Afinal, o Governo aumentou o<br />

salário mínimo de 200 reais para 240 reais, o que representa um aumento real de<br />

apenas 1,85%, enquanto que estu<strong>dos</strong> do DIEESE, sempre utiliza<strong>dos</strong> como<br />

fundamentação argumentativa pelo PT para defender seus pontos de vista, apontam<br />

para a necessidade de reajustes reais anuais de 26%, até 2006. Esse dado<br />

comprova que o aumento concedido pelo Governo Lula foi muito aquém das<br />

promessas de campanha. E mais: que a distância entre o que foi dito e o que é<br />

realizado é intransponível pelos princípios da coerência e seriedade.<br />

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, amanhã é o Dia do Trabalho. Na<br />

verdade, não tenho absolutamente nada a comemorar. Quero manifestar o meu<br />

pesar e a minha tristeza tendo em vista o que vão encontrar pela frente os<br />

trabalhadores brasileiros, diante desses acontecimentos.<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Coriolano Sales.<br />

O Sr. Coriolano Sales - Nobre Deputado Antonio Carlos Pannunzio, quero<br />

parabenizar V.Exa. pela profunda e correta análise que faz das contradições entre o<br />

programa de campanha do candidato Lula e o atual programa de governo. Acredito<br />

que o Governo está numa situação extremamente difícil para explicar à sociedade<br />

brasileira as mudanças de concepção que ocorreram da noite para o dia. Estou certo<br />

de que as reformas previdenciária e tributária apresentadas não vão resolver os<br />

problemas da sociedade brasileira. Espero que o Executivo retorne à Casa para<br />

apresentar outras reformas.<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Agradeço o aparte a V.Exa.<br />

Em relação à Previdência Social, a proposta petista, que era de criação de um<br />

regime previdenciário único para trabalhadores <strong>dos</strong> setores público e privado, não<br />

entrando em detalhes sobre as fórmulas de combate ao bilionário rombo no setor,<br />

resumiu-se ao ensaio do envio de uma proposta com teto único para aposentadorias<br />

de 2.400 reais, a taxação <strong>dos</strong> inativos do setor público, além do aumento em mais<br />

cinco anos na idade mínima para aposentadoria após 35 anos de contribuição.<br />

Este Parlamento, no que se refere à idade mínima para aposentadoria,<br />

quando tratou da aposentadoria de professores do ensino fundamental, entendeu<br />

que a profissão era penosa. Portanto, não poderemos aceitar esse aumento de<br />

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idade mínima pelo menos no que se refere aos professores, sob pena de<br />

desrespeitarmos os compromissos assumi<strong>dos</strong> nesta Casa.<br />

A Sra. Rose de Freitas - V.Exa. me concede um aparte?<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Com todo o prazer.<br />

A Sra. Rose de Freitas - Deputado Antonio Carlos Pannunzio, como é difícil<br />

a arte de governar! Taxar inativos, jamais! V.Exa. está lembrado de como criticaram<br />

o ex-Presidente Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o nesta Casa por uma contradição dita<br />

em um pronunciamento e adotada no seu programa de governo quanto à dívida<br />

externa. Taxação de inativos, aumentos inadmissíveis, juros exorbitantes, tudo isso<br />

faz parte da dura realidade da arte de governar. V.Exa., com a reflexão que faz, não<br />

está jogando na cara de ninguém as contradições entre a campanha eleitoral e a<br />

prática administrativa. Está lembrando que a responsabilidade administrativa com<br />

este País é maior do que a demagogia eleitoral das campanhas. O nobre colega traz<br />

à reflexão fato importante, que inclusive quero que esta Casa tome como lição.<br />

Refiro-me à questão da reforma previdenciária e <strong>dos</strong> professores. V.Exa. dá o toque<br />

da realidade necessário para lembrar ao PT a dura oposição que se fez não ao<br />

Governo Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o, mas ao País, ao povo brasileiro. Agora se<br />

curvam à realidade que aí está. Meus parabéns pelo brilhante discurso.<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Agradeço a V.Exa. o aparte.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, em campanha o Presidente Lula<br />

comprometeu-se a não cortar gastos sociais e criticou severamente o Governo<br />

Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o no debate da TV Globo de 3 de outubro de 2002.<br />

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No debate daquele dia, o candidato Lula disse: “Para fazer superávit, este<br />

Governo passou três anos sem investir um real em saneamento básico, embora<br />

tivesse dinheiro do FGTS e da CEF”. Entretanto, contrariando tudo o que disse, em<br />

janeiro de 2003 o Governo Lula anunciou o corte de 14 bilhões e 100 milhões de<br />

reais no Orçamento da União para 2003, sendo que um <strong>dos</strong> Ministérios mais<br />

atingi<strong>dos</strong>, com um corte de 85,2% em seu orçamento, foi o Ministério das Cidades,<br />

justamente o responsável pelo saneamento básico. Até a verba destinada ao Fome<br />

Zero foi cortada — programa cuja confusão começa pelo conceito que o inspira e dá<br />

nome ao Ministério respectivo: segurança alimentar. É uma invenção de países ricos<br />

da Europa e do Japão para justificar o protecionismo agrícola que praticam enquanto<br />

pregam o livre comércio.<br />

José Graziano e outros economistas agrícolas, Sr. Presidente, aclimataram<br />

esse conceito ao Brasil, na década de 80, para defender política que, no entender<br />

deles, garantisse a renda da agricultura e, de quebra, a estabilidade da oferta de<br />

alimentos e níveis adequa<strong>dos</strong> de consumo pelos mais pobres.<br />

A visão de Graziano não mudou muito desde então. Ele supõe que, na falta<br />

de políticas adequadas de geração de emprego e renda, de um lado, e de políticas<br />

agrícolas, do outro, a oferta e o consumo de alimentos no Brasil estariam<br />

condena<strong>dos</strong> à estagnação ou ao declínio, num círculo vicioso cujo resultado final<br />

seria a fome endêmica.<br />

O desencontro desse diagnóstico com a realidade atual é gritante. A partir do<br />

Plano Real e ao longo do Governo FHC houve: políticas deliberadas e massivas de<br />

distribuição de renda para os mais pobres, que resultaram no recuo, embora<br />

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modesto, da concentração de renda; aumento do valor real do salário mínimo e do<br />

salário médio em relação à cesta básica; expansão da renda da agricultura e<br />

aumento da oferta e do consumo interno de alimentos.<br />

O Fome Zero, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, nasce marcado por erro fatal de<br />

concepção: confunde falta de renda com falta de alimento, visto que o Brasil em<br />

nada se assemelha com países da África, por exemplo, onde a fome é de fato<br />

endêmica e não adianta dar dinheiro aos famintos, porque não há alimentos para<br />

comprar.<br />

Nos primeiros três meses do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, foram gastos em investimentos — prestem bem atenção<br />

nisso, Parlamentares da bancada de situação — apenas 0,09% do Orçamento da<br />

União para o ano de 2003, o que representou uma paralisação geral do Governo em<br />

todas as áreas, principalmente naquelas em que se esperava maior preocupação do<br />

Governo: a da assistência social, que recebeu 0% de investimento, e a da saúde,<br />

que recebeu apenas 0,04% <strong>dos</strong> investimentos autoriza<strong>dos</strong> por lei.<br />

Ao confrontarmos esses números com a execução orçamentária do<br />

acumulado de janeiro a março de 1995, início do Governo FHC, veremos que na<br />

assistência social o montante executado foi de 293 milhões e 76 mil reais,<br />

representando 28,76% de investimentos e despesas correntes no setor previsto para<br />

o ano de 1995; na saúde foram gastos mais de 2 bilhões de reais, representando<br />

18,72% do orçamento anual daquele ano.<br />

O descaso com a saúde, associado aos cortes orçamentários executa<strong>dos</strong><br />

pelo Governo Lula, são tão graves que motivaram o PSDB, representado pelo seu<br />

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Presidente, José Aníbal, e pelo Líder na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, Jutahy Junior, a<br />

entrarem com representação no Ministério Público Federal pedindo que o<br />

Procurador-Geral da República examine os atos do Governo de Luiz Inácio Lula da<br />

Silva, que reduziu as despesas com saúde pública em 2003 para um montante<br />

inferior ao exigido pela Constituição Federal. O decreto presidencial de<br />

contingenciamento das verbas do Orçamento da União bloqueou cerca de 1,6 bilhão<br />

de reais do Orçamento de 2003, de modo que o valor mínimo <strong>dos</strong> gastos foi fixado<br />

em 26 bilhões de reais, sendo que o valor mínimo fixado pela Constituição Federal é<br />

de 31,3 bilhões de reais, de acordo com a metodologia adotada pelo Ministério da<br />

Saúde e en<strong>dos</strong>sada pelo Tribunal de Contas da União, contrastando com a<br />

metodologia usada pelo Ministério da Fazenda e pela Advocacia-Geral da União,<br />

que estipulam o valor mínimo de 27,8 bilhões de reais.<br />

O PT prometeu aumentar o gasto em educação de 5% para 7% do PIB, o<br />

mesmo do Canadá e <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. A promessa é tão defensável quanto<br />

difícil de ser cumprida nas atuais condições de aperto fiscal e rigidez orçamentária.<br />

O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2004, já enviado ao Congresso,<br />

traz algum avanço significativo nesse sentido. Todavia, já fica a dúvida: seria mais<br />

uma ilusão destinada à vala comum das promessas eleitoreiras?<br />

Talvez por apostar tanto no aumento do gasto e no voto <strong>dos</strong> inconforma<strong>dos</strong><br />

com a suposta asfixia orçamentária das universidades federais pelo Governo FHC, o<br />

PT não tenha trazido para o Governo idéias claras sobre o que fazer para gastar<br />

melhor os 5% do PIB que o Brasil destina à educação. Em vez da efervescência de<br />

propostas inovadoras, Sr. Presidente, os ruí<strong>dos</strong> que vêm <strong>dos</strong> la<strong>dos</strong> do Ministério da<br />

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Educação sugerem o bater de cabeças decorrente da ocupação atabalhoada <strong>dos</strong><br />

escalões técnicos por militantes petistas originários da CUT e do atrito entre os<br />

"companheiros", recruta<strong>dos</strong> em massa no PT de Brasília, e os emplaca<strong>dos</strong> por<br />

outras facções do partido. Até agora a confusão passou relativamente despercebida<br />

graças ao estilo light do Ministro e ao seu bom relacionamento com a imprensa. Mas<br />

as conseqüências estão a caminho, como infelizmente já começam a mostrar o<br />

noticiário da TV Globo, ao documentar o retorno das crianças pobres de<br />

Pernambuco ao trabalho na lavoura de cana-de-açúcar, visto que desde janeiro não<br />

são pagos os benefícios do projeto implantado pelo Governo FHC, o Bolsa-Escola,<br />

única forma de combater a exploração da mão-de-obra infantil.<br />

No combate ao analfabetismo, anunciado como marca da gestão do Ministro,<br />

o que se desenha é um programa para ensinar adultos a ler e a escrever em seis<br />

meses, semelhante às campanhas nacionais da década de 1960.<br />

O Sr. Paulo Rocha - Deputado Antonio Carlos Pannunzio, V.Exa. vai me<br />

concede um aparte?<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO – Ainda não, Deputado. No<br />

momento em que eu o conceder, avisarei.<br />

Conforme eu dizia, isso não funcionou naquela época, nem vai funcionar hoje.<br />

Seis meses é o que os programas bem-sucedi<strong>dos</strong> levam para sensibilizar pessoas<br />

que quase sempre já tentaram e não conseguiram se alfabetizar anteriormente.<br />

debate.<br />

O Sr. Paulo Rocha - Tenho a impressão de que V.Exa. está fugindo do<br />

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O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Sr. Presidente, peço a V.Exa. que<br />

garanta o meu direito de seguir falando.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Esta Presidência informa aos<br />

Parlamentares que aparte é concessão do orador. Se o orador não quiser, ele não<br />

será concedido. Depois S.Exas. poderão se inscrever para contradizer o discurso<br />

apresentado.<br />

O SR. ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Retomando, Sr. Presidente, peço<br />

que considere essa interrupção.<br />

Quero dizer que a concessão do aparte será dada prazerosamente quando eu<br />

terminar a minha fala. Quero que os senhores escutem a verdade, porque ela é<br />

“encontrável”. Basta seguir pela Internet, no SIAFI, e ver como o Governo Lula vem<br />

gastando e priorizando os recursos do Orçamento para 2003.<br />

Quanto à alfabetização, se não houver seqüência, tempo e dinheiro são<br />

joga<strong>dos</strong> fora. Pelo menos, Sr. Presidente — e ainda bem —, manteve-se o apoio ao<br />

Alfabetização Solidária, mundialmente reconhecido como um modelo de parceria<br />

Governo-sociedade civil na alfabetização de adultos.<br />

O analfabetismo aberto tende a desaparecer do Brasil, graças a Deus, nos<br />

próximos poucos anos, devido à universalização do acesso ao ensino fundamental.<br />

O grande problema passa a ser o analfabetismo funcional. Esse só se resolve com a<br />

continuação <strong>dos</strong> esforços para a melhoria da qualidade do ensino: melhorar as<br />

burocracias escolares, a formação de professores — a exemplo, aliás, do que fez o<br />

Governo paulista — e os conteú<strong>dos</strong> da educação.<br />

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Até agora o Governo não deu pista do que pretende fazer nesse sentido. O<br />

que existe são sinais preocupantes de descontinuidade ou desarranjo de<br />

instrumentos fundamentais de ação do MEC sobre o ensino fundamental.<br />

A bolsa-escola, diga-se, tem o empenho do Ministro, mas está rodando na<br />

banguela, sem qualquer iniciativa nova, por exemplo, de avaliação de impacto e<br />

aperfeiçoamento <strong>dos</strong> controles. Ao contrário, há dúvidas sobre o destino do sistema<br />

de controle de freqüência escolar <strong>dos</strong> beneficiários.<br />

Os preparativos para o censo escolar prosseguem, mas envolvi<strong>dos</strong> na<br />

confusão que tomou conta do INEP, com atritos entre as pessoas de confiança do<br />

Ministro e o novo presidente da entidade. Isso pode comprometer a qualidade <strong>dos</strong><br />

resulta<strong>dos</strong> e, no limite, a própria realização do censo no prazo legal.<br />

Também no FNDE a bateção de cabeça e a falta de profissionalismo lançam<br />

dúvidas sobre a pontualidade na distribuição do livro escolar. Os novos gestores não<br />

parecem ter idéia do vulto e da complexidade da operação logística, cujos<br />

preparativos começam agora para que os livros estejam nas escolas no começo de<br />

2004.<br />

Em relação ao ensino médio, Sras. e Srs. Parlamentares, as intenções até<br />

hoje anunciadas variam entre o improvável e o inconveniente.<br />

Tão improvável quanto o aumento do gasto total em educação sobre o PIB, a<br />

esta altura, parece a transformação do FUNDEF que reforça o financiamento do<br />

ensino fundamental em um grande FUNDEF que cobriria desde a pré-escola até o<br />

ensino médio.<br />

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Inconvenientes, por outro lado, são as idéias de estender a duração do 2º<br />

grau de três para quatro anos e de substituir o Exame Nacional do Ensino Médio<br />

(ENEM) por avaliações parciais no fim de cada ano, que no fim substituiriam o<br />

vestibular para as universidades federais. A primeira parece ter sido um balão de<br />

ensaio que furou no lançamento. A segunda, se não virar uma experiência-piloto, ao<br />

gosto do PT, arrisca-se a desarticular o ENEM, justamente quando ele conseguiu se<br />

consolidar do ponto de vista da execução e da aceitação pela sociedade.<br />

Por fim, o ensino superior. Aí as propostas sobre a mesa são as mais<br />

preocupantes. Para quem acenava com a redenção do arrocho supostamente<br />

promovido pelo Governo FHC, a primeira providência do novo Governo foi perfeita:<br />

mudou a periodicidade da liberação de recursos para as instituições federais de<br />

mensal para semanal. Como uma espécie de compensação política para a<br />

frustração financeira, o Ministério da Educação se disporia a abrir mão de sua<br />

responsabilidade de escolher os reitores a partir de listas tríplices e ainda a abolir o<br />

peso diferenciado <strong>dos</strong> professores nas eleições internas. Não conheço receita<br />

melhor para entregar de vez essas instituições ao corporativismo.<br />

Sem recursos adicionais e sem ingerência na escolha <strong>dos</strong> reitores, o Ministro<br />

da Educação deve contar com uma capacidade de persuasão extraordinária para<br />

levar adiante a proposta — inteiramente defensável, mas rejeitada em surdina pelo<br />

sindicalismo acadêmico — de ocupar as vagas ociosas na universidade pública.<br />

O Provão, Sr. Presidente, está na mira de uma direção do INEP que assume<br />

enfaticamente a rejeição corporativa de qualquer processo objetivo de avaliação da<br />

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universidade pública e supõe que o ensino superior privado simplesmente não<br />

deveria existir.<br />

De resto, silêncio sobre o tema da autonomia e responsabilidade gerencial da<br />

universidade, fundamentais para garantir à sociedade o retorno razoável <strong>dos</strong><br />

recursos que aí investe. E, o pior, silêncio total sobre a política para as instituições<br />

privadas, que hoje atendem a quase 70% <strong>dos</strong> estudantes do ensino superior.<br />

É lastimável, Sr. Presidente, que até o momento o Governo do Presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva não tenha feito nada, absolutamente nada pela saúde, pela<br />

educação e pela assistência social, a não ser o mais espetacular e competente<br />

programa de marketing político já visto neste País, pois, ao que parece, o Presidente<br />

da República ainda não se conscientizou de que precisa deixar de vez o palanque e<br />

governar de fato o Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

Durante o discurso do Sr. Antonio Carlos<br />

Pannunzio, assumem sucessivamente a Presidência os<br />

Srs. Pauderney Avelino, § 2º do art. 18 do Regimento<br />

Interno, e Inocêncio Oliveira, 1º Vice-Presidente.<br />

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O SR. POMPEO DE MATTOS - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. POMPEO DE MATTOS (PDT-RS. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, amanhã o Brasil pára para<br />

comemorar mais um 1º de maio, o Dia do Trabalhador. Pena que seja mais um 1º de<br />

maio na vida do trabalhador brasileiro, sem que se tenha muito o que comemorar,<br />

afinal, os trabalhadores brasileiros vivem, mais do que nunca, em permanente<br />

agonia, sempre à espera do pior. Acua<strong>dos</strong> pela onda neoliberal, lutam para segurar<br />

o emprego, muitas vezes submetendo-se a condições indignas de trabalho e à<br />

completa ausência de democracia na relações de trabalho.<br />

Por conta da modernização de mão única da economia, que dá ao capital<br />

supremacia absoluta sobre o trabalho, o que prevalece são as metas de<br />

produtividade, sempre em benefício do lucro e em prejuízo do nível de emprego e<br />

<strong>dos</strong> salários. No final do mês, sobra trabalho e falta pão, saúde, educação e lazer ao<br />

assalariado e seus familiares. Muitos são rebaixa<strong>dos</strong> à condição de trabalhadores<br />

informais (desprovi<strong>dos</strong> de direitos mínimos, como o da aposentadoria) e outros<br />

tantos são empurra<strong>dos</strong> para a miséria e engrossam o exército <strong>dos</strong> sem-renda e sem-<br />

cidadania.<br />

É nesse ambiente que tramita a proposta de mudar a CLT com o objetivo de<br />

fazer com que as condições de trabalho acertadas entre sindicatos de trabalhadores<br />

e patrões prevaleçam sobre o que é previsto na legislação.<br />

Portanto, esse Dia do Trabalhador tem que ser emblemático a ponto de<br />

conscientizar a sociedade para que as modificações na CLT não sirvam para acabar<br />

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com direitos conquista<strong>dos</strong> em um século de duras lutas travadas pelos<br />

trabalhadores, entre os quais a jornada de 8 horas, férias, o descanso semanal<br />

remunerado, a licença gestante, as horas extras e o 13º salário A livre negociação<br />

entre patrões e emprega<strong>dos</strong>, defendida por muitos, só será válida se não criar<br />

condições para o rebaixamento de direitos. Se com a CLT em vigor os trabalhadores<br />

já se vêem priva<strong>dos</strong> de direitos, imagine sem uma lei que garanta sua salvaguarda?<br />

O problema é que desejam derrubar a CLT para negociar apenas para baixo,<br />

por isso tentam mudar a legislação. Prevalece a lei do mais forte. Infelizmente,<br />

querem fazer o trabalhador mais fraco do que já é.<br />

Para quem entende que os trabalhadores têm muitos direitos, basta observar<br />

o drama que a maioria das famílias brasileiras enfrenta para garantir condições<br />

mínimas de sobrevivência. Esta semana, a revista ISTOÉ apresenta importante<br />

matéria intitulada “Qual o remédio?” Nela destaca-se a dificuldade que o trabalhador<br />

enfrenta para usar remédio no Brasil — sim, em nosso País, onde a compra de<br />

medicamentos chega a ser luxo para boa parte da população.<br />

Diz a ISTOÉ:<br />

“Para os brasileiros acostuma<strong>dos</strong> a fazer<br />

malabarismos com o dinheiro em nome da sobrevivência<br />

é praticamente impossível separar alguns reais e comprar<br />

os produtos que tratam uma doença crônica, como<br />

hipertensão. A saída para eles seria recorrer aos<br />

medicamentos distribuí<strong>dos</strong> pelo Sistema Único de Saúde<br />

(SUS). Seria, porque outro problema afeta a vida dessas<br />

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pessoas: o desabastecimento da rede pública. Segundo o<br />

Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), apenas 55,4%<br />

das drogas consideradas essenciais estão disponíveis<br />

nas farmácias do SUS. É um número que impressiona.<br />

Afinal, a legislação garante ao brasileiro o direito a<br />

receber remédios indispensáveis. Deve-se esperar,<br />

portanto, que esses produtos sejam plenamente<br />

oferta<strong>dos</strong>. Mas não é isso que vem acontecendo. O IDEC<br />

informa que entre os produtos em falta estão remédios<br />

simples como um analgésico ou preparações vitais, caso<br />

da insulina, que precisa ser reposta por diabéticos”.<br />

Nesse contexto, cabe destacar que o processo de controle ou cura das<br />

patologias inicia-se com o diagnóstico (exames clínicos e complementares) e<br />

finaliza-se com o efetivo tratamento das doenças. Contudo, o que se observa é que<br />

para a maioria <strong>dos</strong> indivíduos este processo não se completa, em virtude da<br />

insuficiência econômica para a aquisição ou manutenção da terapia medicamentosa<br />

requerida para o tratamento ou para a cura definitiva <strong>dos</strong> problemas.<br />

Dentro deste contingente encontra-se uma expressiva massa de<br />

trabalhadores com salários insuficientes para lhes garantir acessos além <strong>dos</strong><br />

produtos e serviços de primeira necessidade.<br />

Quando as necessidades ultrapassam esses limites, abrangendo tratamentos<br />

de saúde, aos medicamentos são destina<strong>dos</strong> o pouco que sobra <strong>dos</strong> recursos<br />

financeiros, que, quando chegam a permitir a aquisição de to<strong>dos</strong> os medicamentos<br />

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prescritos na receita médica, muitas vezes não dão ao assalariado condições de<br />

continuidade nas aquisições de to<strong>dos</strong> os medicamentos pelo tempo necessário ao<br />

tratamento. Desse modo, em muitas vezes não se alcança o resultado terapêutico<br />

esperado e em muitas outras as condições patológicas até se complicam pela<br />

descontinuidade da terapia.<br />

Neste ponto instala-se uma questão social dilemática. Por terem renda<br />

declarada superior ao salário mínimo e acesso a consultas e exames pelos planos<br />

de assistência à saúde priva<strong>dos</strong>, manti<strong>dos</strong> por suas empresas, essa expressiva<br />

população de emprega<strong>dos</strong> fica também impedida do acesso ao programa de<br />

medicamentos gratuitos do Governo, como que ocupando uma espécie de limbo do<br />

direito à saúde.<br />

Neste contexto, estou propondo a criação do Programa de Medicamentos ao<br />

Trabalhador — PMT, com o objetivo de proporcionar maior condição de acesso aos<br />

medicamentos necessários ao tratamento de saúde <strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong> e seus<br />

familiares, através da participação das suas empresas no custeio do tratamento<br />

medicamentoso, em complementaridade ao processo de assistência diagnóstica já<br />

proporcionado pelos seus programas assistenciais ou ocupacionais de saúde.<br />

Em contrapartida, as empresas participantes do PMT contariam com<br />

incentivos fiscais do Governo e passariam a receber das suas respectivas<br />

administradoras de programas de medicamentos informações estatísticas,<br />

financeiras e clínico-epidemiológicas (oriundas do processo de aquisição <strong>dos</strong><br />

medicamentos pelos seus beneficiários), que se transformariam em importante<br />

ferramenta de controle e redução de custos <strong>dos</strong> seus planos de saúde.<br />

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a) Para o trabalhador, o PMT propicia:<br />

I - melhoria das condições de acesso ao tratamento medicamentoso e de<br />

qualidade de vida;<br />

II - redução de riscos de acidentes de trabalho;<br />

III - redução do custo do medicamento.<br />

b) Para a empresa, as vantagens são:<br />

I - aumento de produtividade;<br />

II - maior integração entre empresa e administradora do Plano de Saúde<br />

(redução da sinistralidade);<br />

III - redução do absentismo;<br />

IV - redução da rotatividade;<br />

V - isenção de encargos sociais sobre o valor da medicação fornecida;<br />

VI - incentivo fiscal (dedução de até 5% no imposto de renda devido) .<br />

c) Para as empresas operadoras do Plano de Saúde destacam-se:<br />

I - redução de eventos clínicos (redução da sinistralidade);<br />

II - informações para gerenciamento da doença;<br />

III - programa de gerenciamento de doença (buscando evitar a evolução);<br />

IV - informações clínico-epidemiológicas de sua massa usuária;<br />

V - certeza da aquisição do medicamento prescrito.<br />

d) Para o Governo os avanços são significativos:<br />

I - redução de despesas na área de Saúde;<br />

II - menor custo na aquisição de medicamentos para a população<br />

trabalhadora;<br />

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III - maior oferta de leitos hospitalares;<br />

IV - melhor conhecimento da morbidade.<br />

Diante desse quadro de verdadeiro clamor social, apresento esta proposta<br />

com a convicção de que a mesma pode ser um importante caminho para a<br />

diminuição <strong>dos</strong> gastos governamentais com cirurgias e tratamentos de grande porte<br />

em hospitais públicos, em decorrência do fato de um maior número de pessoas<br />

terem acesso a tratamentos medicamentosos ininterruptos e completos, impactando<br />

na redução das possibilidades de agravamento das patologias e conseqüentes<br />

gastos públicos com transplantes, amputações, tratamentos de hemodiálises etc.,<br />

com exames complementares de alta complexidade e custo.<br />

Importará, também, em redução nos custos das apólices das operadoras de<br />

planos/seguros-saúde, em virtude da queda da taxa de sinistralidade <strong>dos</strong> planos<br />

pela retração do número de reconsultas, exames e internações hospitalares. Tal<br />

política resultará em aumento da disponibilidade de leitos hospitalares decorrente da<br />

redução na demanda por internações para tratamentos clínicos.<br />

Sr. Presidente, o atual Governo foi eleito com uma responsabilidade social<br />

jamais vista neste País. Tem como compromisso resgatar uma dívida social imensa,<br />

especialmente com os trabalhadores do Brasil. Neste Dia do Trabalhador, tenho a<br />

esperança de que o Presidente Lula prepara-se para pagar esta conta. Que nos<br />

próximos dias 1º de maio o trabalhador brasileiro tenha reais motivos para<br />

comemorar.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Esta Presidência informa ao<br />

Plenário que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva já saiu do Palácio do Planalto em<br />

direção ao Congresso Nacional.<br />

Esta é uma sessão ordinária da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>. Como o Presidente<br />

do Senado Federal fará um discurso na solenidade de entrega das propostas,<br />

precisamos encerrar esta sessão. Por nosso espaço ser maior, o Presidente João<br />

Paulo Cunha decidiu fazer a solenidade neste plenário.<br />

É uma honra para a <strong>Câmara</strong> receber o Presidente da República.<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. GEDDEL VIEIRA LIMA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. GEDDEL VIEIRA LIMA (PMDB-BA. Pela ordem. Sem revisão do<br />

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, faço esta intervenção por<br />

imposição da minha consciência. Há pouco, ouvi o discurso do Deputado José<br />

Carlos Aleluia. To<strong>dos</strong> aqui sabem das discordâncias políticas que tenho com o<br />

Senador Antonio Carlos Magalhães, da Bahia, e do fosso que nos separa.<br />

No entanto, seria indigno se não viesse a esta tribuna repudiar de forma<br />

veemente o ato de vandalismo perpetrado em Salvador contra o monumento que<br />

reverencia a memória do Deputado Luis Eduardo Magalhães. S.Exa. e eu<br />

mantínhamos relação fraterna e respeitosa, sobretudo porque S.Exa. exercia a vida<br />

pública de maneira diferente daqueles de quem discordo, sempre com respeito aos<br />

direitos individuais e às discordâncias.<br />

Portanto, Sr. Presidente, graças à generosidade de V.Exa., repudio, em meu<br />

nome e no do meu partido, esse ato de vandalismo perpetrado contra a memória de<br />

um grande homem público brasileiro.<br />

Muito obrigado.<br />

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A SRA. FÁTIMA BEZERRA – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

A SRA. FÁTIMA BEZERRA (PT-RN. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) –<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, gostaria que a Mesa autorizasse a<br />

divulgação nos Anais da Casa do editorial publicado hoje no Diário de Natal, jornal<br />

do meu Estado, o Rio Grande do Norte.<br />

O editorial faz um alerta à população, ao mesmo tempo em que faz um<br />

chamamento aos governantes, principalmente ao Governo Estadual, em face da<br />

situação de calamidade social da segurança pública do nosso Estado.<br />

Permita-me, Sr. Presidente, ler um trecho do editorial:<br />

“O medo é um <strong>dos</strong> males que mais afetam o ser<br />

humano. O 'direito à segurança em geral' e o 'direito à<br />

segurança pública’ são direitos humanos fundamentais,<br />

significando a proteção da sociedade a todas as espécies<br />

de medo. O noticiário diário induz o estado de choque e a<br />

ansiedade <strong>dos</strong> cidadãos, diante da repetição, quase<br />

rotineira, de atos de vandalismo e violência pratica<strong>dos</strong> por<br />

bandi<strong>dos</strong> contumazes. Em toda pesquisa de opinião<br />

pública, o item segurança é o mais reivindicado pela<br />

população. No Rio Grande do Norte não tem sido<br />

diferente”.<br />

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Sou testemunha dessa situação. No final de semana passado, em Natal e na<br />

região oeste do Estado, Mossoró, Apodi e Pau do Cerro, pude verificar o sentimento<br />

do medo, de angústia e aflição que está tomando conta do Rio Grande do Norte.<br />

Quero aqui fazer minhas as palavras do Diário de Natal, que, de forma séria e<br />

consistente, publica esse editorial fazendo um chamamento principalmente aos<br />

governantes. Está na hora de darmos um basta a essa situação. O Governo do meu<br />

Estado precisa tomar medidas urgentes, sérias e emergenciais para enfrentar essa<br />

situação, sob pena de esse quadro se agravar mais.<br />

Gostaria de abordar outro assunto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>.<br />

Houve um tempo em que os trabalhadores viviam em condições de trabalho<br />

desumanas. O tempo passou, o mundo mudou, mas a realidade continua a mesma.<br />

Houve um outro tempo em que o mundo era dividido entre nações socialistas<br />

e capitalistas. O tempo passou, o mundo mudou, mas os mesmos crimes cometi<strong>dos</strong><br />

contra a humanidade continuam.<br />

O mundo e o tempo estão mudando, mas a essência nos parece que<br />

prevalece: a exploração do homem pelo homem e a superpotência impondo regras e<br />

guerras a países desobedientes, não alinha<strong>dos</strong> com a nova ordem econômica e<br />

política.<br />

No nosso tempo, os valores e a ética começam a desaparecer. O sonho de<br />

um mundo justo e humano parece distante. E começa a imperar o temor e a<br />

intranqüilidade para uns, enquanto para outros impera o poder sem limites, cuja<br />

ética e idéias políticas são amparadas pela cegueira noturna e pela acumulação de<br />

riqueza.<br />

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No Brasil, a insegurança e a guerra começam pelo subdesenvolvimento, pela<br />

miséria e pela ignorância de milhões de brasileiros. Vivemos num país com uma<br />

herança de governos anteriores, em que convivemos lado a lado com o crime<br />

organizado, com a violência do desemprego, do trabalho infantil e onde se mata<br />

simplesmente por matar, sem nenhum respeito ao ser humano.<br />

Esse é o resultado do processo de desenvolvimento ao longo destes anos:<br />

um país com uma economia altamente dinâmica e uma sociedade fraturada. A<br />

pobreza aflige cerca de 53 milhões de brasileiros, <strong>dos</strong> quais 22 milhões encontram-<br />

se em condições de miséria. Esses valores enormes em termos absolutos são<br />

incompatíveis com o grau de desenvolvimento econômico do País. As pessoas que<br />

se encontram entre os 10% mais ricos da população se apropriam de cerca de 50%<br />

do total de renda das famílias, enquanto, no outro extremo, os 50% mais pobres<br />

detêm pouco mais de 10% da renda. Por sua vez, a desigualdade atravessa os<br />

varia<strong>dos</strong> ciclos institucionais, políticos e econômicos da história recente do País.<br />

A persistência da desigualdade no Brasil está diretamente associada à<br />

naturalidade com que é encarada, como se não fosse decorrência de um processo<br />

histórico específico ou de uma construção econômica, social e política deliberada. A<br />

“naturalização” da desigualdade é fincada em raízes históricas profundas, ligadas à<br />

escravidão e à sua abolição tardia, passiva e paternalista; mas também ao caráter<br />

inicialmente elitista (República Velha) do projeto republicano, que em certa medida<br />

persiste até os dias atuais. Desigualdade e elitismo que resultam de um acordo<br />

social excludente, que não reconhece a cidadania para to<strong>dos</strong>, dividindo a sociedade<br />

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entre os incluí<strong>dos</strong> e excluí<strong>dos</strong> e, em decorrência, também resulta em distintos<br />

direitos, oportunidades e horizontes.<br />

Essa sociedade dividida entre poucos ricos e muitos pobres, com grave<br />

subdesenvolvimento econômico, político, social e ético, deveria meditar sobre a<br />

lenda do rei Midas, pois ao querer transformar tudo em ouro, ela caminha para um<br />

fim tão trágico quanto o dele: a morte pelas próprias mãos.<br />

O problema do desemprego, onde o mercado de trabalho é caracterizado pela<br />

heterogeneidade e pela elevada subutilização da força de trabalho, não pode ser<br />

tratado somente pelo lado <strong>dos</strong> que não possuem emprego, mas também pelo <strong>dos</strong><br />

que possuem baixos rendimentos.<br />

A construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, tendo como<br />

eixo a justiça e a qualidade de vida, tem que levar em conta a pobreza e as<br />

desigualdades sociais como problemas urgentes.<br />

Defender uma política de emprego e renda tendo como objetivo básico a<br />

redução da pobreza, da miséria, das desigualdades e da exclusão social, retirando o<br />

País, a Região Nordeste e o Rio Grande do Norte desse grande abismo social, que<br />

separa alguns cidadãos da imensa maioria, parece ser o norte para alcançarmos o<br />

bem-estar da sociedade.<br />

Trabalho.<br />

Esse é o compromisso do meu partido, do Governo Lula e meu, nesse Dia do<br />

Sr. Presidente, amanhã, no meu Estado, participarei das manifestações<br />

promovidas pelos sindicatos. Estarei mais uma vez ao lado das servidoras e<br />

servidores, <strong>dos</strong> trabalhadores e trabalhadoras do Rio Grande do Norte, reafirmando<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

meu compromisso de fé, de luta e de esperança na construção de um País justo,<br />

livre, igual e soberano.<br />

EDITORIAL A QUE SE REFERE A ORADORA<br />

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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 876 A 876-A)<br />

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Data: 30/04/03 Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ROBERTO GOUVEIA – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. ROBERTO GOUVEIA (PT-SP. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, público que acompanha os<br />

nossos trabalhos nesta tarde, venho a esta tribuna para comunicar que dei entrada<br />

nesta Casa a mais uma proposição que julgo da maior importância.<br />

O déficit habitacional no Brasil, de acordo com estudo realizado pela<br />

Fundação João Pinheiro no ano de 2000, alcança a cifra de 6,6 milhões de novas<br />

moradias. Temos a convicção de que nenhum governante sozinho superará esse<br />

problema e conseguirá resolver a questão da moradia no País. Para superar o<br />

problema e garantir o acesso a habitações dignas, é necessário um processo de<br />

mobilização e participação da sociedade civil que, em conjunto com o Poder Público,<br />

viabilize soluções efetivas.<br />

O projeto de lei a que me refiro pretende assegurar que, anualmente, parcela<br />

<strong>dos</strong> recursos públicos ou controla<strong>dos</strong> pelo Poder Público sejam destina<strong>dos</strong> a<br />

financiar empreendimentos implanta<strong>dos</strong> sob regime de mutirão por associações<br />

comunitárias ou cooperativas habitacionais. A diretriz deve ser aplicada não apenas<br />

ao FGTS, mas também a to<strong>dos</strong> os fun<strong>dos</strong> federais que tenham os programas<br />

habitacionais como objeto. Além disso, propõe-se que a regra alcance os recursos<br />

gerencia<strong>dos</strong> pelo BNDES previstos no § 1º do art. 239 da Constituição Federal.<br />

A iniciativa decorre do reconhecimento da importância da autogestão e da<br />

ajuda mútua para o atendimento das necessidades de moradia da população de<br />

baixa renda. O mutirão permite uma redução significativa nos custos das obras,<br />

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difícil de ser alcançada pelos méto<strong>dos</strong> tradicionais de construção. Com isso,<br />

pretende-se assegurar que ao menos uma fatia <strong>dos</strong> recursos geri<strong>dos</strong> ou opera<strong>dos</strong><br />

pelo BNDES, pela Caixa Econômica Federal e, de uma forma geral, pelos fun<strong>dos</strong><br />

habitacionais instituí<strong>dos</strong> pela União sejam direciona<strong>dos</strong> à camada da população que<br />

tem dificuldade de se habilitar aos financiamentos tradicionais.<br />

Cabe dizer, ainda, que o conteúdo da proposição inspira-se na Lei nº 9.142,<br />

de 1995, do Estado de São Paulo, também conhecida como a “Lei do Mutirão”. Essa<br />

norma legal, que dispõe sobre o financiamento e o desenvolvimento de programas<br />

habitacionais sociais vem sendo aplicada com grande êxito.<br />

A presente propositura visa cumprir o direito à habitação, entendido como<br />

direito de cidadania. Estaremos, assim, fortalecendo os movimentos sociais ao<br />

mesmo tempo em que promovemos o desenvolvimento com sustentabilidade e o<br />

cooperativismo, gerando renda e trabalho, em busca de uma sociedade saudável,<br />

com justiça e eqüidade.<br />

Diante da extrema importância do tema, contamos com o apoio <strong>dos</strong><br />

movimentos de luta por terra e moradia de nosso País e <strong>dos</strong> nossos ilustres pares.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que autorize a divulgação do meu<br />

pronunciamento nos meios de comunicação desta Casa e no programa A Voz do<br />

Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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A SRA. LUCIANA GENRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

A SRA. LUCIANA GENRO (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, senhoras e senhores que nos vêem e<br />

escutam, venho a esta tribuna para lamentar que, nesta véspera do dia 1º de maio,<br />

tenhamos de presenciar no Congresso Nacional a entrega da proposta de reforma<br />

da Previdência por esta unidade construída pelo Governo Federal com os<br />

Governadores <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>.<br />

Não me causa estranheza essa unidade, Sr. Presidente. De fato, em sua<br />

ampla maioria, os Governadores pertencem aos parti<strong>dos</strong> que deram sustentação ao<br />

Governo Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o e estão, na verdade, querendo que o Governo<br />

Lula faça a reforma que o Governo anterior deixou incompleta, apesar de ter<br />

conseguido perpetrar terríveis ataques contra a Previdência <strong>dos</strong> trabalhadores da<br />

iniciativa privada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) – Nobre Deputada Luciana Genro, a<br />

Presidência pede licença a V.Exa. para informar ao Plenário que o Presidente da<br />

República acaba de subir a rampa do Congresso Nacional.<br />

Solicito a V.Exa. que conclua seu pronunciamento em um minuto.<br />

A SRA. LUCIANA GENRO – Pois não, Sr. Presidente.<br />

Não podemos aceitar que esta nova reforma da Previdência ataque os<br />

direitos <strong>dos</strong> servidores públicos, como o Governo Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o<br />

tentou fazer, e não conseguiu.<br />

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A política econômica do Governo, neste momento, está afinada com os<br />

interesses do capital financeiro internacional, em especial do Fundo Monetário<br />

Internacional. É uma política que visa a agradar aos merca<strong>dos</strong>, por intermédio das<br />

altas metas de superávit e do arrocho salarial imposto aos trabalhadores do serviço<br />

público e da iniciativa privada.<br />

Ficamos admira<strong>dos</strong> e ao mesmo tempo constrangi<strong>dos</strong> ao ouvir o Ministro do<br />

Trabalho dizer que, se os metalúrgicos de São José <strong>dos</strong> Campos conquistassem o<br />

gatilho salarial, o Governo iria intervir, porque essa medida é incompatível com a<br />

atual política econômica.<br />

Portanto, o arrocho salarial, as altas metas de superávit e as reformas, como<br />

a da Previdência, é que vão agradar o mercado, via fun<strong>dos</strong> de pensão e cortes de<br />

direitos.<br />

Sr. Presidente, entristece-nos ver que o Governo cedeu ao lobby da cúpula do<br />

Judiciário, aumentando o teto para mais de 17 mil reais, e está absolutamente surdo<br />

às reivindicações <strong>dos</strong> servidores, que recusam essa reforma, que recusam os<br />

fun<strong>dos</strong> de pensão, a contribuição <strong>dos</strong> aposenta<strong>dos</strong> e o fim da paridade entre<br />

trabalhadores da ativa e aposenta<strong>dos</strong>.<br />

Sr. Presidente, este 1º de maio será um dia triste para a classe trabalhadora,<br />

mas temos a esperança de que a luta mudará esse rumo.<br />

Muito obrigada.<br />

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VI - ORDEM DO DIA<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Encerrado o Grande Expediente,<br />

vai-se passar à Ordem do Dia.<br />

Apresentação de proposições<br />

Os Srs. Deputa<strong>dos</strong> que tenham proposições a apresentar queiram fazê-lo.<br />

APRESENTAM PROPOSIÇÕES OS SENHORES:<br />

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VII - ENCERRAMENTO<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Nada mais havendo a tratar, vou<br />

encerrar a sessão.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Encerro a sessão, convocando<br />

para sexta-feira, dia 2 de maio, às 9 horas, sessão ordinária da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong><br />

Deputa<strong>dos</strong>.<br />

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(Encerra-se a sessão às 16 horas e 32 minutos.)<br />

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