Resenha do filme: A história oficial

Maria Clara Miceli Gonçalves RA:397725
Disciplina: ACIEPE – Direitos Humanos e Cinema
Resenha do filme: A história oficial
Diretor: Luis Puenzo Origem: Argentina Ano:1985
O filme com a história da professora Alicia e de seu marido Roberto que
adotam sua filha Gaby na época da ditadura militar argentina. Após o encontro
com a amiga Anna, que passa alguns anos exilada, Alicia se depara com
algumas verdades que antes parecia não ver, verdades essas que mudaram a
história de seu país e a própria história particular de Alicia.
Quando Alicia encontra sua amiga Anna durante um encontro de
colegas de escola, Anna explica que passou esses anos todos exilada por
conta da ditadura e que foi torturada pelo regime para revelar informações
sobre o paradeiro de seu companheiro Pedro. A reação de Alicia a essas
informações é de choque e espanto, o que revela sua total ignorância sobre a
repressão ditatorial. Vale lembrar que isso também ocorreu aqui no Brasil,
muitas pessoas não se davam conta das reais intenções da ditadura, que eram
mascaradas pela mídia e pelo governo.
Anna também conta sobre a situação das gestantes e mães torturadas
que perderam seus filhos, pois o regime vendia ou entregava essas crianças a
igrejas e a outras famílias; o tema principal do filme. Essas crianças viveram
por muito tempo ou até hoje sem saber sua verdadeira história. Muitas das
famílias que as adotaram também não sabiam de onde elas vieram, como é
caso de Alicia.
A partir desse momento, Alicia passa a se questionar sobre a origem da
filha e a investigar quem são seus pais com a ajuda de Anna. Em nenhum
momento recebe o apoio do marido Roberto, que deixa clara sua posição sobre
o regime militar e as pessoas torturadas; Roberto é um funcionário de uma
corporação que enriquecera durante a ditadura. Não fica claro, durante todo
filme, se ele tinha conhecimento sobre a origem da filha.

Nesse contexto, Alicia conhece as Abuelas de la Plaza de Mayo, uma
“associação” de avós que perderam seus filhos para a ditadura e buscam o
paradeiro de netos desaparecidos. Uma das abuelas, Sara, conta para Alicia a
história de sua filha grávida que desapareceu após um incêndio e que ela acha
que pode ser a avó e Gaby. Durante todo tempo Alicia teme em perder a filha,
mas continua buscando sua origem.
O final é inconclusivo, não deixando claro se Gaby é mesmo filha de
uma prisioneira política, mas tudo indica que sim. Vale lembrar que o filme foi
lançado dois anos após o fim da ditadura, portanto foi produzido durante o
regime militar. Nessa época, as avós e mães da praça de maio ainda não
tinham paradeiro de muitas crianças, o que pode explicar a o final inconclusivo
do filme, retratando a realidade das mães e avós da praça de maio.
O filme não deixa de ser um documento histórico que tenta dar
visibilidade a história argentina que muitos não enxergaram. Um documento
histórico que faz com que a realidade vivida na época do regime militar não
seja apagada e que se repita. Hoje em dia, várias crianças foram encontradas
pelas madres e abuelas, muitos direitos foram conquistados e os responsáveis
pelo desaparecimentos das crianças estão respondendo processos ou sendo
presos.
Mas acredito que, apesar das conquistas, é muito difícil para uma
criança descobrir que seus pais adotivos não seus pais, que eles podem ter
sido os responsáveis pelo desaparecimento ou morte de seus pais biológicos,
que sua origem é outra e que precisam reconstruir sua história. Deve ser
também é muito difícil para os pais que não sabiam da origem de seus filhos
adotivos, como o filme mostra muito bem através de Alicia. E por fim, a dor das
famílias que perderam seus filhos torturados pela ditadura e que tem que lidar
com o sentimento de não saber o paradeiro de seus netos ou filhos, uma dor
que as vezes pode ser maior que a dor da perda pela morte.