A Megafauna Pleistocênica na Região do Cariri Paraibano - Uepb
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TARAIRIÚ – Revista eletrônica <strong>do</strong> Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB<br />
A <strong>Megafau<strong>na</strong></strong> <strong>Pleistocênica</strong> <strong>na</strong> <strong>Região</strong> <strong>do</strong> <strong>Cariri</strong><br />
<strong>Paraibano</strong><br />
Mali Pereira TREVAS 1<br />
1 Mali Trevas é professora licenciada em História pela UFPB e participou das atividades desenvolvidas pelo<br />
Professor Dr. Castor Cartelle <strong>na</strong> Paraíba.<br />
E-mail: malitrevaspereira@hotmail.com<br />
Campi<strong>na</strong> Grande, Ano II – Vol. 1 - Número 03 – Set/Out 2011
TARAIRIÚ – Revista eletrônica <strong>do</strong> Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB<br />
A MEGAFAUNA PLEISTOCÊNICA NA REGIÃO DO CARIRI<br />
PARAIBANO<br />
RESUMO<br />
O conhecimento da pré-história contribui para a compreensão de eventos <strong>na</strong>turais, como os que<br />
provocaram a extinção de espécies da fau<strong>na</strong> e flora, e com isso a humanidade traz à luz novas<br />
experiências e novas possibilidades de renovar o conhecimento acerca <strong>do</strong>s ciclos de vida no<br />
Planeta. A extinção da megafau<strong>na</strong> pleistocênica, assim como a extinção <strong>do</strong>s dinossauros,<br />
certamente foram eventos que se relacio<strong>na</strong>ram com mudanças ambientais semelhantes as que<br />
se vive <strong>na</strong> atualidade. Entretanto, os centros acadêmicos da Paraíba e os órgão de fiscalização<br />
pouco tem se esforça<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de estudar ou proteger as inúmeras jazidas paleontológicas<br />
de seu território, que a cada dia vão sen<strong>do</strong> saqueadas ou destruídas. Este artigo tem por objetivo<br />
sumariar as poucas ações de cunho científico em jazidas fosselíferas pleistocênicas <strong>na</strong> Paraíba<br />
e chamar a atenção das instituições de proteção e estu<strong>do</strong> destes lugares para que se possa<br />
efetivamente se realizar ações no Esta<strong>do</strong> para a preservação e pesquisa deste patrimônio préhistórico.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Jazidas fossilíferas, preservação, pesquisa<br />
ABSTRACT<br />
Knowledge of pre-history contributes to the understanding of <strong>na</strong>tural events, such as those that<br />
caused the extinction of species of fau<strong>na</strong> and flora, and thus humanity brings to light new<br />
experiences and new possibilities to renew the knowledge of life cycles in planet. The extinction<br />
of Pleistocene megafau<strong>na</strong>, as well as the extinction of the dinosaurs certainly were events related<br />
to the environmental changes similar to those which we live today. However, the academic<br />
centers of Paraíba and the supervisory board have made little effort to study or protect numerous<br />
paleontologic of its territory, which every day are being looted or destroyed. This article aims to<br />
summarize the few actions of a scientific <strong>na</strong>ture in fosselíferas Pleistocene deposits in Paraiba<br />
and draw the attention of institutions for the protection and study of these places so you can<br />
effectively take action in the state for preservation and research of prehistoric heritage .<br />
KEY WORDS: Fossiliferous deposits, preservation, search.<br />
Campi<strong>na</strong> Grande, Ano II – Vol. 1 - Número 03 – Set/Out 2011
INTRODUÇÃO<br />
TARAIRIÚ – Revista eletrônica <strong>do</strong> Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB<br />
O renoma<strong>do</strong> paleontólogo Carlos de Paula Couto divulgou em 1962 as análises de uma<br />
importante expedição realizada pelo Nordeste a serviço <strong>do</strong> Museu Nacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />
onde os fósseis da megafau<strong>na</strong> <strong>Pleistocênica</strong> encontra<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Paraíba receberam grande<br />
destaque juntamente com os fósseis cearenses. Nesta pesquisa foram identifica<strong>do</strong>s mamíferos<br />
<strong>do</strong>s grupos Marsupialia, Xe<strong>na</strong>rthra, Artiodactyla, Perissodactyla, Proboscidea e Carnivora, além<br />
de aves e répteis.<br />
O paleontólogo coletou restos de paleofau<strong>na</strong> nos municípios de Taperoá, Caiçaras,<br />
Catolé <strong>do</strong> Rocha e Curimatãs. Nesta tarefa, foram identificadas quatorze taxa semelhantes às<br />
formas presentes nos demais esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Pleistoceno Superior:<br />
Eremoterium laurillardi (Lund, 1842); Panochtus sp Feli<strong>na</strong>e;<br />
Glossotherium sp; Xenorihinotherium bahiensis;<br />
Ocnopus Gracilis; Toxo<strong>do</strong>ntidae;<br />
Holmesi<strong>na</strong> paulacoltoi; Haplomasto<strong>do</strong>n Waringi,<br />
Panochthus greslebni (1941); Hippidium principale;<br />
Panochtus jaguaribensis; Equus (Amerhipus) neoguaneos<br />
Paleolama major. (Bergqvist, 1989)<br />
No fi<strong>na</strong>l da década de 1980 os fósseis <strong>do</strong> cariri paraibano foram novamente estuda<strong>do</strong>s<br />
através de uma pesquisa realizada pela paleontóloga Lilian Paglarelli Bergqvist, que revisou o<br />
trabalho de Paula Couto e publicou o seu trabalho para obtenção <strong>do</strong> grau de mestre pela UFRJ<br />
(1989).<br />
Já no ano de 1993, os fósseis <strong>do</strong> <strong>Cariri</strong> voltam a ser pesquisa<strong>do</strong>s. Neste ano, o nordeste<br />
brasileiro foi marca<strong>do</strong> por mais um intenso perío<strong>do</strong> de estiagem 1 o que representou sofrimento e<br />
fome para os nordestinos <strong>do</strong> semiári<strong>do</strong>. E neste contexto, no distrito <strong>do</strong> Marinho, município de<br />
Boqueirão, os trabalha<strong>do</strong>res rurais da frente de emergência foram recruta<strong>do</strong>s pela prefeitura<br />
local para realizar a limpeza (esvaziamento) de tanques <strong>na</strong>turais retiran<strong>do</strong> de lá to<strong>do</strong> o entulho<br />
que os obstruía para que, com a chegada das chuvas, este pudesse servir de cister<strong>na</strong> para<br />
armaze<strong>na</strong>mento de águas meteóricas. Este tanque em pauta se localizava <strong>na</strong>s terras <strong>do</strong> senhor<br />
Antônio Leandro, conheci<strong>do</strong> <strong>na</strong> região como seu Tempório.<br />
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O trabalho de desobstrução se deu por meio braçal, com o uso de ferramentas agrícolas<br />
como picaretas, pás, enxadas e marretas, e to<strong>do</strong> o processo era realiza<strong>do</strong> com grupos mínimos<br />
de dez homens remunera<strong>do</strong>s pela Prefeitura Municipal com subsidio <strong>do</strong> Governo Federal.<br />
Durante três sema<strong>na</strong>s de trabalho, mais de uma tonelada de material foi retirada <strong>do</strong> tanque.<br />
Mesmo se tratan<strong>do</strong> de operários leigos, alguns trabalha<strong>do</strong>res observaram que havia<br />
algumas pedras com formatos estranhos, parecen<strong>do</strong>, como diziam: “ossos <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r de boi”.<br />
Figura 1. O tanque de onde foram retira<strong>do</strong>s os fósseis da megafau<strong>na</strong> pleistocênica. Ao la<strong>do</strong> o Sr.<br />
Tempório proprietário <strong>do</strong> sítio. (Foto Mali Trevas, 1993)<br />
Diante de tal singularidade, os campesinos passaram a acreditar que se tratava de<br />
animais vitima<strong>do</strong>s pelo dilúvio bíblico. Este fato chamou a atenção <strong>do</strong> então prefeito da cidade de<br />
Boqueirão, João Fer<strong>na</strong>ndes da Silva, que em contato com o professor Dr. Josemir Camilo de<br />
Melo, da UFPB (<strong>na</strong> época assim denomi<strong>na</strong>da a atual UFCG) solicitan<strong>do</strong> visita técnica da<br />
Universidade para saber quais as providências a serem tomadas.<br />
Depois de descoberto de que se tratava de fósseis de animais quaternários extintos, o<br />
presidente da Fundação Casa de José Américo, professor José Elias Barbosa Borges, ofereceu<br />
a assistência necessária para acomodar o material encontra<strong>do</strong> bem como para articular uma<br />
parceria interinstitucio<strong>na</strong>l com o objetivo de dar aos fósseis o tratamento adequa<strong>do</strong> sem que<br />
estes tivessem de ser removi<strong>do</strong>s para outro esta<strong>do</strong>. O prefeito de Boqueirão concor<strong>do</strong>u com a<br />
sugestão e os fósseis foram remeti<strong>do</strong>s a FCJA. Na ocasião houve algumas reuniões entre a<br />
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FCJA, a UFPB a Prefeitura Municipal de Boqueirão e a PB-TUR e a professora Dra. Rosa Maria<br />
Go<strong>do</strong>y Silveira, <strong>do</strong>utora em História e pró-reitora exerceu um papel preponderante ao tomar a<br />
iniciativa de contatar a professora e bióloga Takako Wata<strong>na</strong>be, <strong>do</strong> departamento de Biologia da<br />
UFPB, campus de João Pessoa, que indicou o renoma<strong>do</strong> Professor Dr. Castor Cartelle Maria<br />
Guerra, da Universidade Federal de Mi<strong>na</strong>s Gerais, para a identificação <strong>do</strong> material fóssil.<br />
Figura 2 – O paleontólogo Castor Cartelle. (Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)<br />
Cartelle atendeu sumariamente ao convite não ape<strong>na</strong>s para a<strong>na</strong>lisar os fósseis, mas<br />
prestou uma grande assessoria técnica, <strong>na</strong> qual alunos de graduação da UFPB puderam<br />
participar de um curso introdutório de paleontologia com aulas teóricas e práticas ministradas por<br />
ele. A Universidade Federal da Paraíba passou então a atuar em parceria com a PB-TUR e a<br />
FCJA até o início de 1994.<br />
Como fora dito anteriormente, os fósseis estuda<strong>do</strong>s foram retira<strong>do</strong>s de maneira aleatória<br />
e descuidada pelos trabalha<strong>do</strong>res rurais, no momento em que se fazia a limpeza no tanque <strong>do</strong><br />
sitio <strong>do</strong> senhor Tempório. Devi<strong>do</strong> a esse fato (corriqueiro <strong>na</strong> Paraíba e no nordeste brasileiro),<br />
diversas informações importantes sobre os processos tafonômicos que ocorreram <strong>na</strong>quele<br />
tanque foram perdidas e quase <strong>na</strong>da pode ser identifica<strong>do</strong>.<br />
Grande parte deste material retira<strong>do</strong> ficou no depósito da <strong>na</strong> Fundação Casa de José<br />
Américo (João Pessoa) e outra parte foi guardada <strong>na</strong> Escola Técnica Agrícola Municipal de<br />
Boqueirão. Ape<strong>na</strong>s uma peque<strong>na</strong> fração deste material paleontológico foi classificada pelo<br />
paleontólogo da Universidade Federal de Mi<strong>na</strong>s Gerais, Castor Cartelle Maria Guerra,<br />
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apresentan<strong>do</strong> a seguinte taxa: Eremotherium laurillardi (Lund, 1842) ; Sceli<strong>do</strong><strong>do</strong>n Cuvieri;<br />
Hippidium Principale; Equus ( Ameriphus ) neogaeus; Pamphatherium humboldti;<br />
Haplomasto<strong>do</strong>n waringi; Toxo<strong>do</strong>n.<br />
Figura 3 - Fragmento da omoplata <strong>do</strong> Eremotherium Lauillardi - fóssil encontra<strong>do</strong> no tanque o Tempório<br />
deposita<strong>do</strong> <strong>na</strong> Escola Agrícola <strong>do</strong> município de Boqueirão PB (Foto Mali Trevas, 1993)<br />
É importante salientar que no ano de resgate desses fósseis (1993) não foi a<strong>do</strong>tada<br />
nenhuma forma sistemática de escavação arqueo-paleontológica no local. Além <strong>do</strong>s fósseis<br />
foram encontra<strong>do</strong>s também material lítico e cerâmica associa<strong>do</strong>s, entretanto esse fato não é, por<br />
si só, suficiente para se caracterizar uma associação entre estes <strong>do</strong>is tipos de vestígios.<br />
Apesar desta classificação prelimi<strong>na</strong>r, este trabalho não foi publica<strong>do</strong> até o momento<br />
pelo professor Cartelle<br />
A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO ‘’TANQUES’’ PARA A ARQUEOLOGIA<br />
E PALEONTOLOGIA DA PARAÍBA.<br />
A Formação tanques trata-se de um fenômeno geológico origi<strong>na</strong><strong>do</strong> a partir da erosão<br />
diferencial de blocos graníticos fratura<strong>do</strong>s, trabalha<strong>do</strong>s por esfoliação. Esta formação possui uma<br />
morfologia variada com aspectos esféricos, elípticos e ovóides com tamanhos e volumes<br />
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também distintos. Tais formações são comuns no Nordeste. O conteú<strong>do</strong> destes depósitos está<br />
freqüentemente preenchi<strong>do</strong> de restos fósseis de mamíferos pleistocênicos e indústrias líticas e<br />
oferecem as condições necessárias para a preservação de vestígios paleo-ambientais, além de<br />
vestígios arqueológicos.<br />
Ocorrências semelhantes são encontradas <strong>na</strong> África <strong>do</strong> Sul, com a denomi<strong>na</strong>ção local<br />
de „‟dambos‟‟. Dambos fósseis para representar depósitos de terraços fluviais antigos e recentes,<br />
forma<strong>do</strong>s em condições climáticas semelhantes àquelas <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes no Pleistoceno continental<br />
<strong>do</strong> Nordeste Brasileiro. A formação „‟cacimbas‟‟ pode ser definida como uma unidade<br />
estratigráfica inserida <strong>na</strong> região semiárida <strong>do</strong> Nordeste típica <strong>do</strong> Quaternário.<br />
Figura 4 - Fragmento de um fêmur <strong>do</strong> E. Laurillardi encontra<strong>do</strong> no sítio paleontológico <strong>do</strong> tanque <strong>do</strong><br />
Tempório, deposita<strong>do</strong> <strong>na</strong> Escola Agrícola <strong>do</strong> município de Boqueirão-PB (Foto Mali Trevas, 1993)<br />
Bigarella et al. (1994) salientam alguns sinônimos para a mesma formação: depressões<br />
de intemperismo, panelas de intemperismo, marmitas (caldeirões), cacimbas e g<strong>na</strong>mas. Já<br />
Oliveira (1989) adverte tanques, cacimbas e caldeirões são feições topográficas de origens<br />
diferentes, portanto sen<strong>do</strong> formações diferentes e devem ser a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s como tal. As cacimbas<br />
são feições artificiais, produto de trabalho humano, que consistem em um buraco cava<strong>do</strong> no<br />
sedimento até atingir o nível de água subterrânea. Destaca ainda que o termo “Formação<br />
Cacimbas” usa<strong>do</strong> para os tanques como unidade formal não deve ser utiliza<strong>do</strong> como uma<br />
unidade litoestratigráfica, por não preencher os requisitos para tal.<br />
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Na região <strong>do</strong> <strong>Cariri</strong>, estas ocorrências são bastante freqüentes poden<strong>do</strong> contribuir para o<br />
estu<strong>do</strong> da pré-história <strong>na</strong> Paraíba desde que seja feito um estu<strong>do</strong> detalha<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong><br />
bem como que se faça um levantamento e catalogação dessas jazidas para pesquisas futuras.<br />
CONSIDERAÇÕES<br />
Nos vizinhos esta<strong>do</strong>s de Per<strong>na</strong>mbuco, Grande <strong>do</strong> Norte, Sergipe e Ceará as pesquisas<br />
paleontológicas tem si<strong>do</strong> realizadas por equipes de paleontólogos das universidades Estadual e<br />
Federal, produzin<strong>do</strong> discípulos e segui<strong>do</strong>res que darão continuidade às pesquisas e<br />
enriquecen<strong>do</strong> os conhecimentos sobre a Paleontologia <strong>do</strong> Nordeste.<br />
Nestes esta<strong>do</strong>s, os vestígios fósseis encontra<strong>do</strong>s são identifica<strong>do</strong>s com precisão e<br />
servem de referência para pesquisas futuras. Recebem tratamento e classificação adequa<strong>do</strong>s e<br />
são deposita<strong>do</strong>s em segurança nos centros de pesquisa, como é o caso <strong>do</strong> Museu Câmara<br />
Cascu<strong>do</strong>, da UFRN e da Fundação Mossoroense de VIngt Um Rosa<strong>do</strong>, no município norte-<br />
riograndense de Mossoró.<br />
Sem desmerecer o esforço <strong>do</strong>s que lutam para ver uma Paraíba melhor, eu gostaria de<br />
encerrar este texto incentivan<strong>do</strong> ao poder público e às autoridades por ele constituídas para que<br />
estes venham a atentar para o patrimônio cultural e <strong>na</strong>tural enquanto ainda há tempo.<br />
Lamentavelmente, após 49 <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de Paula Couto no <strong>Cariri</strong> da Paraíba, 22 anos depois<br />
das pesquisas de Lilian Paglarelli e 18 anos depois da ocorrência de fósseis no tanque <strong>do</strong><br />
Marinho, verifica-se que de lá para cá muito pouco mu<strong>do</strong>u.<br />
Até quan<strong>do</strong> os paraibanos vão ter que aguardar ações das Universidades e <strong>do</strong>s<br />
governos no senti<strong>do</strong> de criar museus de história <strong>na</strong>tural e centros de pesquisa capazes de<br />
abrigar o acervo existente em solo paraibano? Até quan<strong>do</strong> será necessário requisitar professores<br />
visitantes e especialistas para cuidar os acha<strong>do</strong>s arqueológicos e paleontológicos deste Esta<strong>do</strong>?<br />
Sabe-se que existem pesquisa<strong>do</strong>res interessa<strong>do</strong>s e comprometi<strong>do</strong>s com a preservação <strong>do</strong><br />
patrimônio local, mas isso não basta, pois estes necessitam de mais apoio e de<br />
comprometimento <strong>do</strong> poder público para viabilizar estu<strong>do</strong>s.<br />
Existem muitos hiatos quanto a origem pré-histórica paraiba<strong>na</strong> aguardan<strong>do</strong> por<br />
respostas que só poderão ser conhecidas à custa de muito trabalho e de muita pesquisa.<br />
Enquanto não houver um espaço dedica<strong>do</strong> a arqueologia e a paleontologia <strong>na</strong> Paraíba,<br />
infelizmente não se poderá ir muito longe.<br />
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Questões como quais os animais que conviveram com os primeiros humanos que por<br />
aqui viveram, quais as técnicas utilizadas para a montagem das itacoatiaras, que idade tem as<br />
manifestações culturais mais remotas, etc. dependem de muito trabalho e de muita dedicação,<br />
que só será possível se houver compromisso <strong>do</strong> poder público deste esta<strong>do</strong>.<br />
Muitos fósseis encontra<strong>do</strong>s em solo paraibano estão espalha<strong>do</strong>s ou amontoa<strong>do</strong>s em<br />
laboratórios e museus de outros esta<strong>do</strong>s e países. As nossas itacoatiaras (especialmente a <strong>do</strong><br />
Ingá) são divulgadas em to<strong>do</strong> o planeta e a Paraíba sabe muito pouco sobre elas.<br />
Assim, como bons salários, bons serviços de saúde e infra-estrutura representam<br />
necessidades fundamentais para o cidadão, a preservação <strong>do</strong> patrimônio e memória cultural se<br />
faz necessária, pois um povo sem identidade e sem memória perde a cidadania e com ela se<br />
perde a capacidade de lutar pelos seus direitos. Evidentemente não se come nem se bebe fóssil,<br />
mas com eles podemos aprender que o mun<strong>do</strong> está em constante mudança e evolução e que<br />
devemos preservar o mun<strong>do</strong> em que vivemos e assim evitar ações que contribuam para<br />
processos de extinção da vida.<br />
O conhecimento da pré-história contribui para a compreensão de eventos <strong>na</strong>turais, como<br />
os que provocaram a extinção de espécies da fau<strong>na</strong> e flora, e com isso a humanidade traz à luz<br />
novas experiências e novas possibilidades de renovar o conhecimento acerca <strong>do</strong>s ciclos de vida<br />
no Planeta. A extinção da megafau<strong>na</strong> pleistocênica, assim como a extinção <strong>do</strong>s dinossauros,<br />
certamente foram eventos que se relacio<strong>na</strong>ram com mudanças ambientais semelhantes as que<br />
se vive <strong>na</strong> atualidade.<br />
Ao se pesquisar as alterações ambientais de tempos pretéritos a humanidade poderá<br />
refletir melhor quanto ao tratamento que vem sen<strong>do</strong> da<strong>do</strong> ao Planeta e buscar alter<strong>na</strong>tivas de<br />
convivência sustentável bem adaptadas aos fenômenos ambientais <strong>na</strong>turais em vez de provocar<br />
alterações letais aos ecossistemas.Neste senti<strong>do</strong> tor<strong>na</strong>-se imprescindível que o Esta<strong>do</strong> da<br />
Paraíba assuma essa responsabilidade e procure se paramentar de conhecimentos também<br />
nesta área.<br />
Recentemente foram cria<strong>do</strong>s novos centros universitários em municípios que possuem<br />
destaca<strong>do</strong>s sítios arqueo-paleontológicos, mas infelizmente não foi cria<strong>do</strong> nenhum curso ou<br />
discipli<strong>na</strong> que contemplasse a nossa rica pré-história.<br />
Os pesquisa<strong>do</strong>res Câmara Cascu<strong>do</strong>, Castor Cartelle, Carlos de Paula Couto, Leon<br />
Denis, Maria de Fátima Ferreira, Giuseppe Leo<strong>na</strong>rdi, Lilian Bergqvist e muitos outros já<br />
pesquisaram ocorrências fossilíferas <strong>na</strong> Paraíba e alguns ainda podem relatar a importância de<br />
nosso esta<strong>do</strong> para a compreensão da nossa pré-história, nossa paleofau<strong>na</strong> e paleoambiente.<br />
Mas e nós? O que temos a dizer aos que chegam? Aos que <strong>na</strong>scem? Aos que nos visitam? Aos<br />
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que nos indagam? Que respostas teríamos para os que nos questio<strong>na</strong>m em sala de aula acerca<br />
da nossa pré-história?<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
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Cacimbas” e caldeirões para os tanques fossilíferos <strong>do</strong> nordeste <strong>do</strong> Brasil. In: Congresso<br />
Brasileiro de Paleontologia, 11., 1989, Curitiba. A<strong>na</strong>is..., Curitiba: SBP, 1: 535-539.<br />
PAULA COUTO, C. de 1962. Explorações paleontológicas no Pleistoceno <strong>do</strong> Nordeste. A<strong>na</strong>is da<br />
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