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Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Uepb

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<strong>Boletim</strong> <strong>Informativo</strong> <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Paraibana</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> - Nº 59<br />

IPHAN quer mo<strong>de</strong>rnizar políticas <strong>de</strong> tombamento<br />

De tudo o que está sendo<br />

construído atualmente, o que será<br />

preservado <strong>da</strong>qui a 50 anos? “Está na<br />

hora <strong>de</strong> os brasileiros se fazerem esta<br />

pergunta”, afirma o arquiteto mineiro Luiz<br />

Fernando <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, <strong>de</strong> 48 anos,<br />

presi<strong>de</strong>nte do Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional (Iphan) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006. O órgão tem a<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger, preservar e divulgar os principais cartões-postais do país: Ouro<br />

Preto e Congonhas (MG), Corcovado (RJ), Pelourinho (BA) e a arquitetura <strong>de</strong> Brasília, por<br />

exemplo – acervo que orgulha os brasileiros. Tarefa na<strong>da</strong> simples, sujeita a polêmicas, poucos<br />

recursos e cobranças.<br />

Como o tombamento é política <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930, explica Luiz Fernando <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>,<br />

há bens apropriados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que já são parte do imaginário do brasileiro e <strong>de</strong>sfrutam <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> junto à população. Ouro Preto é exemplo disso. “Qualquer coisa que ocorre<br />

lá, todo mundo – e não só o Iphan – protesta”, observa. Por outro lado, há bens alvo <strong>de</strong><br />

discórdia. “O tombamento do encontro <strong>da</strong>s águas dos rios Solimões e Negro, em Manaus,<br />

patrimônio paisagístico, foi bastante polêmico. Como havia a intenção <strong>de</strong> construir um porto no<br />

local, o processo gerou embate entre os valores simbólico e econômico”, conta.<br />

O presi<strong>de</strong>nte do Iphan avisa: patrimônio é conceito <strong>de</strong> valor, está ligado à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong>. “Po<strong>de</strong>-se, com políticas patrimoniais, intervir no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

o que significa <strong>de</strong>sarticulação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana, ausência <strong>de</strong> espaços públicos que congreguem<br />

as pessoas”, acrescenta. Reverter isso se dá, primeiramente, como exemplo. Ou seja,<br />

mostrando que ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do período colonial têm quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, observa Luiz Fernando.<br />

“Depois, a construção do patrimônio do futuro é tema colocado para to<strong>da</strong> política pública. Se<br />

temos <strong>de</strong> erguer uma ponte, por que ela não po<strong>de</strong> ter quali<strong>da</strong><strong>de</strong> arquitetônica?”, questiona.<br />

IDENTIDADE O especialista lembra que o conceito <strong>de</strong> patrimônio surgiu na vira<strong>da</strong> do século 19<br />

para o 20, na Europa, regido pelo tema <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional, procurando proteger a<br />

excepcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do artístico ou <strong>de</strong> bens alusivos a fatos históricos. “Atualmente, o processo<br />

está ligado a indicadores <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, não se volta apenas para a<br />

história e o passado. Patrimônio cultural <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se ater às exceções para se tornar política<br />

pública”, pon<strong>de</strong>ra. “To<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> tem seu patrimônio, ele agrega uma população e cria<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> coletiva compartilha<strong>da</strong>”.<br />

Esse conceito vem sendo ampliado. “É o modo como a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> produz e usufrui <strong>de</strong><br />

bens culturais. Não é algo estático, mas dinâmico e vem se expandindo”, reforça Luiz Fernando<br />

<strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Em análise no conselho do Iphan estão gran<strong>de</strong>s inventários do conhecimento <strong>de</strong><br />

caráter regional, caso <strong>da</strong>s embarcações tradicionais do litoral brasileiro, <strong>da</strong> marcha<br />

empreendi<strong>da</strong> pelo marechal Rondon ou <strong>da</strong> re<strong>de</strong> ferroviária brasileira. “Conhecemos pouco<br />

esses bens. As análises vão gerar propostas <strong>de</strong> proteção que <strong>da</strong>rão origem a novos<br />

patrimônios e a novas referências para políticas patrimoniais <strong>de</strong> estados e municípios”, explica<br />

Na opinião <strong>de</strong> Luiz Fernando, a política <strong>de</strong> patrimônio cultural <strong>de</strong> Minas é bem<br />

consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>. “Mas há <strong>de</strong>safios a serem enfrentados. É preciso ir um pouco além <strong>da</strong><br />

onipresença do período colonial, do barroco e do rococó, compreen<strong>de</strong>r o patrimônio em<br />

dimensão mais ampla, <strong>de</strong> forma que incorpore todo o território do estado”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>. Outro<br />

<strong>de</strong>safio: superar a setoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>. “Patrimônio ambiental não po<strong>de</strong> ser só ambiental. Ele <strong>de</strong>ve<br />

Março <strong>de</strong> 2011<br />

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