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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Fama

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consumidor, para sorver os produtos da sua recente revolução industrial<br />

ocorrida na segunda metade do Século XVIII. Temos que acabar com a<br />

escravidão, mesmo que seja matando os escravos!<br />

Buscando o reconhecimento da sua independência iniciada em 1822,<br />

em 1826 o Brasil assina um tratado com a Inglaterra, decretando o fim do<br />

tráfico negreiro no país. Tal tratado causou grande revolta dos escravocratas<br />

do Brasil, mas o número de negros que chegavam a esta condição só<br />

aumentava: 30.000 em 1827, 38.000 em 1828 e 45.000 em 1829. 5<br />

Um momento importante da história brasileira e muito pouco divulgado<br />

ocorreu em 1831. O então Padre Diogo Feijó, ministro da Justiça à época,<br />

decretou uma lei segundo a qual: “todos os escravos que entrarem no território<br />

ou portos do Brasil vindos de foram, ficam livres” 6 . Assim, juridicamente, a<br />

primeira abolição da escravatura no Brasil ocorreu em 1831. Entretanto o<br />

costume de violar as normas legais que hoje é comum no país chamado<br />

República Federativa do Brasil já tinha grande adeptos naquela época. Em<br />

1843 chegaram 64.000 escravos ao Brasil e nenhum deles ficou livre:<br />

“Explica-se: a regência aumentara muito o poder dos juízes locais.<br />

Vários deles eram donos de fazendas e de es-cravos. Os que não<br />

erram, passaram a cobrar 10,8% do valor de cada africano<br />

desembarcado para fazer vista grossa. Os poucos juízes que tentaram<br />

impor a lei foram ameaçados de morte”. 7<br />

Mais um descompasso entre a lei e a realidade.<br />

3. Os Dias no Navio Negreiro<br />

“Mas é igualmente fácil capturar o verdadeiro lugar dos desgraçados<br />

por quem a piedade é sincera: embora irmanados a todos os homens<br />

<strong>pela</strong> condição de criaturas de Deus, os africanos encontram-se em<br />

estado de profunda degeneração, “tribos bárbaras e selvagens”<br />

presas a uma inferioridade apenas revertida por obra da graça da<br />

“civilização e do cristianismo” – os principais legados do homem<br />

branco”. 8<br />

“...além do perfeito conhecimento dos capitães tripulantes aprisionados<br />

acerca da corrupção vigente no Brasil e em portos da África...”<br />

Entre os anos de 1842 e 1843 o reverendo Pascoe Grenfell Hill<br />

5CULTURA BRASIL. A Inglaterra decreta o fim do tráfico negreiro para o Brasil. Disponível em < http://<br />

www.culturabrasil.org/fimdotraficonegreiro.htm>. Acesso em 12 nov 2007.<br />

6 CULTURA BRASIL. Ibidem.<br />

7 CULTURA BRASIL. Ibidem.<br />

8 FLORENTINO, Manolo. Prefácio in HILL, Pascoe Grenfell. Cinqüenta dias a bordo de um navio negreiro.<br />

Tradução de Maria Murray. Rio de Janeiro: José Olympio: 2006, p.16.<br />

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acompanhou um navio militar da marinha inglesa. A função deste navio era<br />

navegar <strong>pela</strong> costa africana com o intuito de capturar navios que servissem ao<br />

tráfico de escravos e ao invés de jogar os negros no mar, o objetivo podia ser<br />

também a escolta desta navio até a África, onde os negros seriam libertos e os<br />

responsáveis <strong>pela</strong> captura presos. A Inglaterra tinha proibido o trafico<br />

internacional de escravos da África para as suas colônias.<br />

Em 12 de Abril de 1843 foi capturado, na costa africana, o navio Progresso<br />

de origem Brasileira, cujo destino era o Rio de Janeiro e que transportava 447<br />

negros submetidos à condição de escravos. 9 Com a interceptação, teoricamente,<br />

os 447 negros agora estavam livres, não eram mais escravos seqüestrados em<br />

suas terra natal, e agora seriam levados de volta para a África. Ocorre que<br />

uma questão de justiça já se impõe inicialmente: quando os navios com os<br />

negros eram capturados pelos ingleses, estes navios eram levados a cidade do<br />

Cabo, no Sul do continente Africano quando lá eram “liberados” os escravos.<br />

Entretanto, em muitas vezes, estes homens e mulheres, tinham sido capturados<br />

em regiões centrais, ou até mesmo no norte da África. Quando deixados no<br />

Sul do país do Continente, eles não conseguiam e muitas vezes nem sabiam<br />

como voltar a sua terra natal. Ou seja, como a finalidade das ações inglesas<br />

não eram devolver o individuo a sua liberdade e a sua vida, era apenas evitar<br />

o tráfico prejudicial ao comércio inglês, a captura destes escravos, quando no<br />

território africano já significava o banimento total da sua vida anterior, da sua<br />

família e de seus entes.<br />

Com a substituição do comando do navio negreiro Progresso pelo ingleses,<br />

à marinheiros não acostumados a transportar escravos ou pessoas foram<br />

delegadas as funções de levar o navio até a cidade do Cabo. Já na primeira<br />

noite, face uma tempestade, os escravos foram obrigados a se trancafiarem no<br />

porão. A noite quente e um porão de navio apertado deram o seguinte resultado:<br />

54 mortes na primeira noite. 10<br />

Em 15 de Abril de 1843 escreve o reverendo Pascoe Hill: “O mundo não<br />

consegue apresentar um espetáculo mais chocante a desgraça humano do que<br />

esse nosso navio apresenta”. 11 A degradação que eram submetidos os negros,<br />

agora libertos, mas ainda presos aos porões dos navios e a imensidão do mar,<br />

demonstram tamanha a brutalidade que um ser humano pode tratar outro.<br />

Quanto racional é um homem que explora seu semelhante, por coisa tão vil<br />

como dinheiro? Aqueles homens brancos que tinham como intenção civilizar a<br />

África selvagem demonstram como irracional e animal pode ser o nosso conceito<br />

de civilização, tratando objetivos financeiros e o dinheiro como objetos mais<br />

importantes que a vida humana.<br />

O Progresso brasileiro chegou a cidade do Cabo 50 dias após a<br />

interceptação por parte da marinha britânica. Neste espaço de tempo 163<br />

negros morreram devido a doenças, as fétidas condições de viagens e a<br />

9 HILL, Pascoe Grenfell. Cinqüenta dias a bordo de um navio negreiro. Tradução de Maria Murray. Rio de<br />

Janeiro: José Olympio: 2006, p.62.<br />

10 HILL, Pascoe Grenfell. Ibidem. p. 67.<br />

11 HILL, Pascoe Grenfell. Ibidem. p. 70.

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