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viria a saber. Nunca saberia que o sentimento avassalador que os unira naquela noite já<br />
tão distante não era consequência da divina mão do amor, mas sim um acto consciente e<br />
premeditado de Adrian, ainda que ditado <strong>pelo</strong>s instintos mais básicos do caçador.<br />
A verdade é que, naquela noite, como em muitas outras antes e muitas outras depois,<br />
Adrian Black, o vampiro, saíra para a escuridão das ruas nocturnas com o único<br />
objectivo de caçar o seu alimento. E fora apenas guiado <strong>pelo</strong>s seus instintos de predador<br />
que Adrian encontrara, caminhando sozinha pelas ruas escuras, a figura triste da mulher<br />
que passava, os olhos molhados de lágrimas, os braços abraçando o próprio corpo,<br />
como se, sem resultado, tentasse conceder algum conforto a si própria.<br />
Uma vítima fora escolhida, aquela mulher frágil, carente e indefesa. Era, pois, tempo de<br />
atrair a presa para a sua armadilha. Com um leve suspiro, Adrian deixou que a sua aura<br />
atractiva de ser sobrenatural se espalhasse no ar, como um sedutor a<strong>pelo</strong> à mulher que<br />
escolhera para seu alimento.<br />
Como se tivesse todo o tempo do mundo pela frente, esperou que a mulher viesse ao seu<br />
encontro e, recebendo-a com um sorriso encantador, estendeu-lhe os braços e deixou<br />
que ela o abraçasse, completamente rendida aos seus encantos superiores. Suavemente,<br />
beijou os lábios ardentes da mulher, tocando-os com os seus lábios glaciais, enquanto,<br />
cuidadosamente, afastava os longos cabelos de fogo do pescoço da sua vítima.<br />
Contudo, chegado o momento de atacar e de saciar, enfim, a sua sede, Adrian encontrou<br />
o olhar desamparado da mulher e, no azul daqueles olhos leu uma tristeza tão intensa e<br />
uma solidão tão profunda, sentimentos tão semelhantes aos que habitavam a sua alma<br />
morta, fria e condenada, que foi incapaz de continuar.<br />
Forçando-se a controlar o seu desejo de sangue, Adrian deixou que a ligação de atracção<br />
que estabelecera com a sua presa quebrasse, mas, fragilizada devido à sua inconsciente<br />
submissão, bem como pela tristeza que, constantemente, a habitava, a mulher lançou-se<br />
desesperadamente nos braços do desconhecido que a fitava com uma expressão amável<br />
no profundo negro do seu olhar, chorando inconsolavelmente.<br />
- O meu nome é Adrian Black. – disse o vampiro, sentindo que a fria insensibilidade do<br />
seu coração acabava de partir, para dar lugar a algo de infinitamente mais forte.<br />
- Eva. – respondeu ela, por entre as lágrimas – O meu nome é Eva Rothschild.<br />
Naquela noite, três anos depois, os instintos de caçador de Adrian não estavam tão<br />
apurados quanto deveriam, pois pensava mais nas memórias do passado e na dor que<br />
provocara à mulher que amava, que na sua refeição dessa noite.<br />
Não esperava, por isso, ouvir uma voz sinistra surgir a poucos passos de si,<br />
pronunciando o seu nome num tom cuidadosamente neutro:<br />
- Black!<br />
- Quem está aí? – perguntou Adrian, reconhecendo no ar a aura de um outro vampiro e<br />
adoptando, instintivamente, uma posição de ataque.<br />
- Paz. – respondeu a voz – Não pretendo atacar-te. Muito <strong>pelo</strong> contrário.<br />
- Então, porque não sais das sombras? – inquiriu Adrian, alimentando uma persistente<br />
suspeita.<br />
- Prometes que não me fazes mal?<br />
Adrian sorriu, ao ver que, fosse quem fosse o outro vampiro, não só temia a sua força<br />
como deixava que isso transparecesse.<br />
- Prometo que não te atacarei, se não me atacares. – respondeu.<br />
Poucos segundos depois, uma figura surgia das sombras, movendo-se com uma<br />
graciosidade felina. A sua figura magra, vestida de cabedal negro, da cor da sua própria<br />
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