Marmeleiro 'Japonês': - IAC
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INFORMAÇÕES TÉCNICAS<br />
<strong>Marmeleiro</strong> ‘Japonês’:<br />
nova opção de porta-enxerto para marmelos<br />
Dentre as fruteiras originárias das<br />
regiões temperadas, o marmelo é, historicamente,<br />
uma das frutas mais importantes<br />
e apreciadas em todo o mundo,<br />
principalmente pela beleza de seus frutos,<br />
conhecidos como “pomo dourado”, pelo<br />
seu alto teor de pectina e larga aplicação<br />
na industrialização para a fabricação de<br />
marmeladas, compotas e geléias (Rigitano,<br />
1957).<br />
Os marmelos foram introduzidos no<br />
Brasil em 15 2 por Martim Afonso de<br />
Souza. Tamanha foi a importância alcançada<br />
pela cultura, que a marmelada tornou-se<br />
o principal e o primeiro produto<br />
de exportação paulista na época colonial,<br />
antecessora ao café, onde os doces eram<br />
comercializados em caixas e caixetas. No<br />
mundo antigo e no Brasil, poucos frutos<br />
como os do marmeleiro tiveram tão relevante<br />
papel. Apesar disso, atualmente é<br />
difícil encontrar uma frutífera com esse<br />
valor histórico-social tão pouco difundida<br />
e estudada como o marmelo. As causas<br />
prováveis desse pequeno interesse<br />
devem residir na utilização pouco nobre<br />
do marmelo, máxime como matéria-prima<br />
industrial e no incipiente consumo ao<br />
natural (Pio et al., 2005a).<br />
O Brasil, no ano de 19 0, foi considerado<br />
um dos maiores produtores mundiais<br />
de marmelos, mas devido à falta de incentivos<br />
em anos posteriores e à falta de investimentos<br />
em programas de pesquisas<br />
e extensão, houve quase dizimação dessa<br />
cultura nas regiões produtoras do país,<br />
principalmente no sul de Minas Gerais.<br />
A diminuição da oferta dessa matériaprima<br />
e sua conseqüente valorização vêm<br />
sendo sentidas pelas fábricas de doces,<br />
que a têm importado sob a forma de polpa,<br />
principalmente da Argentina, ou a têm<br />
substituído pela mistura de outras frutas.<br />
Assim, atualmente os frutos podem ser<br />
comercializados a preços atraentes devido<br />
à baixa oferta no mercado nacional.<br />
Esse fato fez com que surgisse, novamente,<br />
estímulo gradual para a produção<br />
comercial de marmelo. Pode-se dizer que<br />
a cultura do marmeleiro encontra-se, hoje,<br />
em fase de transição, ou seja, existe forte<br />
tendência em sair do ponto de estagnação,<br />
com a implantação de novos e mais<br />
produtivos marmeleirais. Esse fato pode<br />
ser observado pelo interesse em novos<br />
plantios de marmelos em outras regiões,<br />
como é o caso dos municípios de Luziânia<br />
e Morrinhos, em Goiás e em Capelinha,<br />
no norte de Minas Gerais. No sul de Minas,<br />
também se observa uma tendência de<br />
ampliação de cultivos e recuperação de<br />
pomares existentes (Abrahão et al., 1996;<br />
Pio et al., 2005a).<br />
Vale ressaltar que os marmelos são<br />
excelente alternativa para a diversificação<br />
dos pomares comerciais, por tratar-se de<br />
uma fruteira que possui produção tardia<br />
em relação às demais frutas utilizadas<br />
na fabricação de doces, como o figo e o<br />
pêssego.<br />
A produção mundial de marmelos gira<br />
em torno de 80 mil toneladas ao ano, em<br />
área de 57 mil hectares, o que proporciona<br />
a média ao redor de 7 t/ha, pouco mais<br />
que 10 kg de frutas por planta. A Turquia<br />
é o maior produtor da fruta no mundo (28<br />
%), seguida pela China, com 2 %. Na<br />
América do Sul, a Argentina é o principal<br />
país produtor de marmelos, seguida pelo<br />
Uruguai, Brasil, Peru e Chile.<br />
Figura 1. Frutos do marmeleiro ‘Japonês’ no ponto de colheita.<br />
Rafael Edvan<br />
Fernando Wilson<br />
O Brasil é importador de marmelos,<br />
mas suas compras vêm reduzindo-se muito<br />
nos últimos anos. Em 200 importaram-se<br />
apenas toneladas, procedentes<br />
de Argentina, Uruguai e Chile, a um valor<br />
médio de 1,20 dólares por quilo. Com relação<br />
à área plantada, dados divulgados<br />
pelo IBGE mostram redução drástica até<br />
1996, onde atingiu-se área média de 204<br />
hectares. A partir desse ano, observa se<br />
o início de recuperação com incrementos<br />
significativos (Pio et al., 2005a).<br />
O principal estado produtor de marmelos<br />
é Minas Gerais, onde a marmelocultura<br />
teve seu apogeu no sul do estado<br />
na década de 0, inclusive com pequenas<br />
indústrias instaladas na região, tendo<br />
como principais municípios produtores<br />
Marmelópolis, Delfim Moreira, Virgínia,<br />
Cristina e Maria da Fé. Atualmente, o Estado<br />
de Minas Gerais representa mais de<br />
50 % da produção nacional, seguido pelo<br />
Rio Grande do Sul (25 %), Bahia (5 %) e<br />
Goiás ( %). São Paulo possui apenas<br />
ha cultivados com marmelos, sendo 2 ha<br />
na região de Tietê, 0,5 ha em Pindamonhangaba<br />
e 0,5 ha na região de São João<br />
da Boa Vista (Abrahão et al., 1996).<br />
A Empresa de Pesquisa Agropecuária<br />
de Minas Gerais (EPAMIG) junto com<br />
o Centro de Frutas do Instituto Agronômico<br />
(<strong>IAC</strong>) vem executando vários trabalhos<br />
no sentido de definir a tecnologia<br />
de produção de mudas do marmeleiro e,<br />
mais recentemente, selecionou um novo<br />
marmeleiro para porta-enxerto para as<br />
demais cultivares, o marmeleiro ‘Japonês’<br />
ou ‘Marmelo do Japão’ (Chaenomeles sinensis<br />
L.). Esse marmeleiro possui como<br />
vantagem a grande quantidade de sementes<br />
por fruto (aproximadamente 150), cinco<br />
vezes mais que os demais marmeleiros<br />
da espécie Cydonia (em média 0 a 40<br />
sementes por fruto) (Campo Dall´Orto,<br />
1982), alta germinação, uniformidade e<br />
O Agronômico, Campinas, 57(1), 2005 15
afinidade com os marmeleiros cultivares<br />
copa ‘Portugal’, ‘Provence’ e ‘Mendoza<br />
INTA- 7’ (Abrahão et al., 1991; 1996).<br />
Além disso, essa cultivar possui resistência<br />
à requeima ou entomosporiose [Entomosporium<br />
maculatum (Lév.)], além de<br />
alto vigor e produtividade, podendo ser<br />
utilizada como cultivar copa (Abrahão et<br />
al., 1992), utilizada no processamento industrial<br />
na confecção de doces e ainda ser<br />
misturada com outras cultivares (50%),<br />
originando doce de excelente qualidade.<br />
Recentemente, foi realizada uma série<br />
de trabalhos no Centro de Frutas do <strong>IAC</strong>,<br />
visando detectar qual o melhor meio de<br />
estratificação das sementes e o tempo<br />
de estratificação, velocidade de emergência<br />
dos seedlings, sobrevivência após<br />
transplantio e performance no viveiro,<br />
comparando-se o marmeleiro ‘Japonês’<br />
com demais marmeleiros (‘Provence’,<br />
‘Portugal’ e ‘Mendoza INTA- 7’). Os<br />
resultados foram animadores, uma vez<br />
que as sementes do marmeleiro ‘Japonês’<br />
não apresentaram nenhuma dificuldade<br />
de germinação, tanto estratificadas em<br />
algodão, como em areia e água; 0 dias<br />
foram suficientes para quebrar a dormência<br />
de suas sementes; houve mais de 70%<br />
de emergência dos seedlings e em apenas<br />
seis meses após o transplantio, as mudas<br />
já estavam aptas a serem enxertadas<br />
(comprimento médio de 111,8 cm e diâmetro<br />
de 70 mm), ou seja, demandando<br />
apenas nove meses para se produzir os<br />
porta-enxertos, desde a extração das sementes<br />
até o ponto de enxertia.<br />
Estão sendo estudadas no momento no<br />
Centro de Frutas do <strong>IAC</strong>, a performance<br />
no viveiro de 1 cultivares de marmeleiros<br />
enxertadas sobre o marmeleiro ‘Japonês’,<br />
Figura 2. Brindila (ramo florífero)<br />
do marmeleiro ‘Japonês’.<br />
Figura 4. Mudas enxertadas em marmeleiro<br />
‘Japonês’ após 60 dias da enxertia.<br />
além de demais trabalhos envolvendo técnicas<br />
de enxertia (diferentes metodologias<br />
e épocas de realização). Essas 1 cultivares<br />
de marmeleiros (‘Constantinopla’,<br />
‘Zuquerinetta’, ‘D’Angers’, ‘Alongado’,<br />
‘Bereckzy’, ‘Du Lot’, ‘Champion’, ‘Lajeado’,<br />
‘Alaranjado’, ‘De Vranja’, ‘Apple’,<br />
‘Kiakami’, ‘Radaelli’, ‘CTS 207’, ‘BA<br />
29’, ‘Japonês’, ‘Marmelo Pêra’, ‘Smyrna’,<br />
‘Cheldow’, ‘Van Deman’, ‘Portugal’,<br />
‘Provence’, ‘Mendoza INTA- 7’, ‘Rea’s<br />
Mamouth’, ‘Fuller’, ‘De Patras’, ´Pineapple’,<br />
‘Meech Prolific’, ‘Meliforme’, ‘MC’<br />
e ‘Adans’), introduzidos em 2005 pelo<br />
Centro de Frutas, de instituições como a<br />
Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS),<br />
FEPAGRO (Veranópolis-RS) e UFPel<br />
(Pelotas-RS), já estão em campo no Centro<br />
de Frutas do <strong>IAC</strong>, em Jundiaí-SP e na<br />
Estação Experimental de Maria da Fé da<br />
EPAMIG, Maria da Fé-MG, onde, no<br />
futuro, serão disponibilizados dados de<br />
produção e vigor dessas cultivares sobre<br />
o marmeleiro ‘Japonês’.<br />
A tecnologia de produção de mudas<br />
para o marmeleiro ‘Japonês’ por propagação<br />
vegetativa, em especial pelo processo<br />
de estaquia, não está ainda definida, uma<br />
vez que os resultados não são animadores,<br />
havendo registros de baixa porcentagem<br />
de enraizamento (Pio et al., 2004a; 2004b;<br />
2005b). Assim, outras possibilidades foram<br />
verificadas, a priori estudando a época<br />
de coleta das estacas e demais alternativas,<br />
como a mergulhia aérea ou alporquia<br />
e estaqueamento de ramos juvenis. Os<br />
trabalhos realizados pelos pesquisadores<br />
do Centro de Frutas do <strong>IAC</strong> em conjunto<br />
com a EPAMIG encontram-se em fase de<br />
publicação e logo serão divulgados para a<br />
comunidade científica.<br />
Figura 3. Pomar de<br />
marmeleiro ‘Japonês’.<br />
Figura 5: Marmelada oriunda de<br />
frutos do marmeleiro ‘Japonês’.<br />
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CAMPO DAll’ORTO, F. A. <strong>Marmeleiro</strong> (Cydonia<br />
oblonga Mill.): propagação seminífera,<br />
citogenética e radiossensitividade – bases<br />
ao melhoramento genético e a obtenção<br />
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de São Paulo, Escola Superior de Agricultura<br />
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Rafael Pio, Edvan Alves Chagas,<br />
Fernando Antônio Campo Dall’Orto<br />
Instituto Agronômico, Centro de Frutas<br />
fone (11) 4582-7284<br />
rafaelpio@iac.sp.gov.br,<br />
echagas@iac.sp.gov.br,<br />
facampo@iac.sp.gov.br<br />
Wilson Barbosa<br />
Instituto Agronômico, Jardim Botânico<br />
fone (19) 241-5188 ramal 0<br />
wbarbosa@iac.sp.gov.br<br />
Ângelo Albérico Alvarenga,<br />
Enilson Abrahão<br />
Empresa de Pesquisa Agropecuária<br />
de Minas Gerais (EPAMIG) – Centro<br />
Tecnológico do Sul de Minas (CTSM),<br />
Lavras - MG<br />
angelo@epamig.ufla.br,<br />
enilson@epamig.ufla.br<br />
16 O Agronômico, Campinas, 57(1), 2005