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<strong>Maracujá</strong>-<strong>roxo</strong><br />
‘iAc-Paulista’<br />
nova oportunidade para<br />
o agronegócio de frutas<br />
O Instituto Agronômico<br />
está lançando no<br />
mercado de frutas<br />
frescas uma nova cultivar<br />
de maracujá, a ‘IAC<br />
Paulista’, como parte<br />
das comemorações<br />
dos seus 120 anos de<br />
fundação. Trata-se do<br />
primeiro maracujá<strong>roxo</strong><br />
a ser cultivado<br />
comercialmente em<br />
pomares nacionais, um<br />
tipo desconhecido da<br />
maioria da população,<br />
que visa a diversificação<br />
dos pomares e abertura<br />
de novos mercados.<br />
Para os produtores, este maracujá representa uma alternativa<br />
de comercialização, uma nova oportunidade de geração de renda<br />
em curto prazo. Para os consumidores, a fruta apresenta características<br />
distintas, mais atrativas que o maracujá-amarelo amplamente<br />
cultivado de norte a sul do país. Com sabor diferenciado, agradável,<br />
menos ácido e mais aromático que o maracujá-amarelo, foi<br />
desenvolvido para ocupar espaço importante no mercado de frutas<br />
frescas, sempre ávido por novidades e produtos diferenciados<br />
em sabor, forma ou coloração. O maracujá-<strong>roxo</strong> agrada também<br />
pela aparência externa, capaz de se destacar em qualquer banca de<br />
mercado, uma vez que possui casca <strong>roxo</strong>-avermelhada, com pintas<br />
de coloração clara. Esta cultivar é indicada principalmente para o<br />
mercado de frutas frescas, onde essas características diferenciadas<br />
resultam em agregação de valor ao produto.<br />
Os exportadores também enxergam neste maracujá uma<br />
oportunidade comercial atrativa. O maracujá-<strong>roxo</strong> já é bastante<br />
conhecido no exterior e corresponde à preferência internacional<br />
na Europa e nos Estados Unidos, onde são apreciadas frutas menores<br />
e menos ácidas. Esses países importam maracujá-<strong>roxo</strong>, que<br />
predomina nos pomares da África do Sul e Austrália, ao contrário<br />
do Brasil, onde o maracujá-amarelo é cultivado em grande escala,<br />
ocupando 95 % da área destinada a esta frutífera. Portanto, já existe<br />
mercado sólido e de grande aceitação para este produto, fora do<br />
país, que pode ser acessado na medida em que houver oferta regular<br />
de maracujá-<strong>roxo</strong> resultante da produção nacional.<br />
Bernacci<br />
Marta<br />
Camilla<br />
Laura<br />
Joaquim<br />
O Agronômico | Campinas | 58(1/2) | 2006 | Página 27
Origem<br />
O programa de melhoramento genético de maracujá do Instituto<br />
Agronômico foi iniciado em 1990 e tem como principal objetivo<br />
o desenvolvimento de cultivares com garantia de origem, alto<br />
potencial produtivo e qualidade de frutos, para os diferentes segmentos<br />
de mercado (frutas frescas, agroindústria e exportação).<br />
A cultivar IAC-Paulista resultou do cruzamento controlado<br />
entre a cultivar de maracujá-amarelo IAC-277 e um maracujá<strong>roxo</strong><br />
selvagem, de fruto redondo e pequeno (com menos de 4 cm<br />
de diâmetro), cor <strong>roxo</strong>-intenso e polpa bastante doce, nativo da<br />
Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Este cruzamento foi realizado<br />
pelo Instituto Agronômico, em 1995. Do genitor nativo,<br />
herdou a coloração atrativa do fruto e acidez<br />
menor. Assim, o cruzamento com o maracujá-amarelo<br />
comercial, de frutos grandes e<br />
pesados, conferiu o acréscimo em tamanho<br />
necessário para comercialização.<br />
Após vários ciclos de seleção massal com<br />
teste de progênie e retrocruzamentos para o<br />
progenitor de casca roxa, foram selecionadas<br />
plantas produtoras de frutos <strong>roxo</strong>s de<br />
tamanho mediano, de polpa amarela e suculenta,<br />
de baixa acidez, com mais resistência<br />
ao murchamento após a colheita que os dois<br />
genitores.<br />
Essas seleções foram plantadas em campo<br />
e avaliadas quanto à qualidade do fruto nos<br />
municípios de Pindorama, Tietê e Campinas.<br />
Aquelas que apresentaram comportamento<br />
agronômico compatível com os pomares atualmente<br />
existentes foram cruzadas entre si, por polinização manual<br />
controlada e resultaram na cultivar ora apresentada.<br />
Características do fruto e mercado<br />
Os frutos da cultivar IAC-Paulista são de cor <strong>roxo</strong>-avermelhada,<br />
com pintas brancas na casca e polpa amarelo-claro (Figura 1),<br />
suculenta e menos ácida. Quando é realizada a polinização natural<br />
das flores, feita por mamangavas, a polpa representa cerca de 47 %<br />
do fruto. Quando o produtor adota a prática da polinização manual,<br />
os frutos ficam maiores e mais pesados, com maior porcentagem<br />
de polpa, que aumenta para cerca de 60 % do peso do fruto.<br />
O peso médio dos frutos varia de 100 a 180 g.<br />
Tabela 1. Médias de análise física comparativa entre frutos de maracujá-amarelo e maracujá-<strong>roxo</strong>. Instituto Agronômico,<br />
safra 2007.<br />
Cultivar<br />
Peso do fruto<br />
(g)<br />
Página 28 | O Agronômico | Campinas | 58(1/2) | 2006<br />
Ǿ L<br />
(cm)<br />
Ǿ T<br />
(cm)<br />
Polpa<br />
(g)<br />
Polpa<br />
(%)<br />
Coloração de<br />
polpa<br />
N o de sementes<br />
por fruto<br />
IAC-Paulista (<strong>Maracujá</strong>-<strong>roxo</strong>) 98,61 b 6,75 b 6,01 b 61,34 b 62,2 a Alaranjada 198 b<br />
IAC-277<br />
(<strong>Maracujá</strong>-amarelo)<br />
A maior aceitabilidade demonstrada pelos consumidores baseia-se<br />
na sua menor acidez, o que lhe confere um sabor diferenciado<br />
em relação ao maracujá-amarelo, o padrão nacional atual<br />
para esta fruta.<br />
A análise dos frutos está apresentada nas Tabelas 1 e 2, que<br />
correspondem a médias de avaliação de parâmetros físicos e químicos,<br />
respectivamente, de frutos de maracujá-amarelo e maracujá-<strong>roxo</strong>,<br />
procedentes dos matrizeiros do Instituto Agronômico.<br />
Conforme os dados da Tabela 1 e 2, os frutos do maracujá-<strong>roxo</strong><br />
diferem significativamente dos maracujás-amarelos, sendo fisicamente<br />
menores e mais leves, mas com maior quantidade de polpa<br />
por fruto. Por isso, o fato de possuir frutos pequenos para o padrão<br />
nacional não representa uma desvantagem comercial, uma<br />
vez que eles possuem também maior<br />
quantidade de açucares, menor acidez<br />
e maior teor de sólidos solúveis<br />
totais, o que significa que são frutos<br />
de sabor pouco ácido, mais agradável<br />
ao paladar e não resultam em<br />
desconforto gástrico, comum para<br />
algumas pessoas que não consomem<br />
o maracujá-amarelo justamente em<br />
função de sua elevada acidez. Com<br />
estas características, é um produto<br />
recomendado para o mercado de<br />
frutas frescas, por apresentar frutos<br />
diferenciados, que podem ser comercializados<br />
por unidade em grandes<br />
redes de supermercados, como hoje<br />
é feito com o maracujá-doce. Nesta<br />
condição, os preços têm sido bastante<br />
interessantes para os pequenos produtores. Opcionalmente, em<br />
função da qualidade da sua polpa, o suco do maracujá-<strong>roxo</strong> pode<br />
ser colocado também na agroindústria, misturado ao suco do maracujá-amarelo,<br />
embora o mercado de frutas frescas remunere melhor<br />
esse tipo de produto.<br />
A cultivar IAC-Paulista tem sido bastante procurada neste<br />
primeiro ano de cultivo para fins de exportação, onde já existe a<br />
preferência pelo maracujá-<strong>roxo</strong>. Para incremento deste potencial<br />
de mercado, conforme explicado anteriormente, nem seria necessária<br />
a abertura de mercado, mas sim, uma organização do setor<br />
produtivo visando a regularidade de oferta, condição para a exportação<br />
bem sucedida de qualquer fruta.<br />
Quando o produtor adota<br />
a prática da polinização<br />
manual, os frutos ficam<br />
maiores e mais pesados,<br />
com maior porcentagem de<br />
polpa, que aumenta para<br />
cerca de 60 % do peso do<br />
fruto. O peso médio dos<br />
frutos varia de 100 a 180 g.<br />
194,31 a 9,33 a 7,45 a 100,30 a 51,6 b Amarela 316 a<br />
Fonte:*Médias seguidas de mesma letra, em cada atributo, não diferem significativamente entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo Teste de<br />
Tukey. Média de 15 frutos por cultivar, colhidos em junho/2007.<br />
Onde: Ǿ L = diâmetro longitudinal dos frutos (cm); Ǿ T = diâmetro transversal dos frutos (cm); polpa (g) = peso da polpa com sementes;
Produtividade e adaptação<br />
O potencial produtivo médio do maracujazeiro-<strong>roxo</strong> é de 25 t/ha/<br />
ano, obtido em condições de sequeiro e polinização manual complementar.<br />
Isso é inferior ao obtido atualmente nos pomares paulistas de<br />
maracujazeiro-amarelo, em função de que neste tipo padrão, o tamanho<br />
do fruto é superior para atender a um padrão específico do mercado<br />
brasileiro. Há que se considerar, também, que existe a alta pressão de<br />
seleção já exercida nessas cultivares pelos subseqüentes ciclos de seleção,<br />
que visaram basicamente a ampliação da produtividade para redução<br />
dos custos de produção. O mesmo ainda não foi feito com o maracujá<strong>roxo</strong>.<br />
O maracujazeiro-<strong>roxo</strong> IAC-Paulista desenvolve-se bem em solos<br />
profundos e bem drenados, pouco ácidos ou devidamente corrigidos.<br />
Prefere regiões de clima ameno e tolera bem a incidência de ventos frios.<br />
No entanto, regiões sujeitas a geadas fortes e freqüentes não são recomendadas<br />
para nenhum tipo de maracujá. Em regiões tropicais, de clima<br />
quente, há algumas experiências pioneiras bem sucedidas de cultivo<br />
e exportação do maracujá-<strong>roxo</strong>, embora em alguns meses do ano, o excesso<br />
de calor possa provocar esterilidade nos grãos de pólen.<br />
Polinização<br />
Há necessidade de se controlar a polinização deste maracujá. Por<br />
isso, recomenda-se plantar áreas pequenas, onde a polinização possa ser<br />
totalmente monitorada.<br />
Em pomares onde a polinização é aberta, feita por mamangavas, é<br />
bastante comum que elas circulem entre flores de maracujás amarelos,<br />
doce e <strong>roxo</strong> existentes nas proximidades ou matas nativas, misturando<br />
o pólen das diferentes plantas. Isso resulta em mistura de cor no pomar<br />
e perda de tipo, fator altamente indesejável, que prejudica a comercialização.<br />
Para que não haja mistura de pólen entre diferentes tipos de maracujá,<br />
além da polinização manual, é necessário erradicar plantas de outros<br />
maracujás, ainda que não comerciais, num raio mínimo de 6 km do<br />
pomar de maracujá-<strong>roxo</strong>. Mamangavas que venham de matas próximas<br />
também podem contaminar o campo. Não se deve produzir maracujáamarelo<br />
e maracujá-<strong>roxo</strong> em áreas próximas. Haverá cruzamento natural,<br />
resultando num fruto de casca rosada, com menor valor comercial<br />
e inadequado para o mercado de frutas frescas. Apenas a agroindústria<br />
aceita frutos de casca rosada.<br />
Se for realmente necessária maior proximidade entre os campos,<br />
deve-se utilizar barreiras vegetais densas, que impeçam o vôo de insetos<br />
de um campo para outro.<br />
Tabela 2. Médias de análise química comparativa entre frutos de maracujá-amarelo e maracujá-<strong>roxo</strong>. Instituto Agronômico,<br />
safra 2007.<br />
Cultivar pH<br />
IAC-Paulista<br />
(<strong>Maracujá</strong>-<strong>roxo</strong>)<br />
IAC-277<br />
(<strong>Maracujá</strong> -amarelo)<br />
Sólidos Solúveis<br />
Totais (%)<br />
Acidez Titulável<br />
(g ác. cítrico/100 g)<br />
Época de produção<br />
A produção da cv. IAC-Paulista<br />
ocorre de janeiro a julho,<br />
concentrada em março-abril<br />
na maior parte do centro-sul.<br />
Em regiões com inverno bem<br />
definido, o maracujá-<strong>roxo</strong><br />
é um pouco mais precoce,<br />
mas sua safra também é<br />
interrompida pelo inverno, por<br />
deficiência de luminosidade<br />
para o florescimento da planta.<br />
Cinzas Condutimétricas<br />
(2000μS)<br />
Açúcares<br />
Redutores Totais<br />
(%)<br />
2,78 16,4 2,4 746 7,5 3,97<br />
3,03 13,6 4,4 - - 5,1 3,09<br />
Fonte: *Média de 15 frutos por cultivar para todas as análises, exceto SST (%), para o qual a amostra representativa foi de 250 frutos por cultivar,<br />
colhidos de janeiro a julho de 2007.<br />
Vit.C<br />
(mg)<br />
O Agronômico | Campinas | 58(1/2) | 2006 | Página 29
Reação a doenças<br />
Observou-se que a ‘IAC-Paulista”<br />
comporta-se como os maracujásamarelos<br />
ora cultivados no<br />
país, em relação às principais<br />
doenças fúngicas comuns aos<br />
maracujazeiros. Faz-se necessário<br />
manejo fitossanitário cuidadoso,<br />
desde a produção das mudas,<br />
direcionado à prevenção da<br />
antracnose, bacteriose e vírus<br />
do endurecimento dos frutos.<br />
Dentre as medidas preventivas,<br />
destaca-se a obtenção de<br />
sementes e/ou mudas de origem<br />
conhecida, com garantia de<br />
origem, devidamente tratadas.<br />
Insere-se neste contexto,<br />
também, o uso de pulverizações<br />
químicas preventivas à base<br />
de oxicloreto de cobre ou<br />
calda bordalesa, desde a fase<br />
do viveiro, como é feito para<br />
todos os tipos de maracujás<br />
ora cultivados. A instalação de<br />
novos pomares longe de pomares<br />
abandonados ou mal-conduzidos<br />
é sempre interessante, porque<br />
eles contaminam as plantas novas<br />
rapidamente, por disseminação<br />
eólica ou uso concomitante de<br />
ferramentas agrícolas nos dois<br />
campos.<br />
Recomenda-se sempre o uso<br />
de quebra-ventos no pomar<br />
para reduzir a probabilidade de<br />
infecção por bacteriose, embora<br />
a cultivar seja moderadamente<br />
tolerante a esta enfermidade.<br />
O fato de se estar<br />
disponibilizando uma cultivar<br />
baseada em germoplasma<br />
nacional é, também, uma<br />
vantagem adicional ao<br />
produtor. Seus genitores são<br />
plantas totalmente adaptadas<br />
às condições climáticas locais,<br />
um deles inclusive nativo, o que<br />
representa uma ampla capacidade<br />
de adaptação em campo.<br />
Página 0 | O Agronômico | Campinas | 58(1/2) | 2006<br />
Equipe de pesquisa<br />
Melhoristas: Laura Maria Molina<br />
Meletti (IAC); Luís Carlos Bernacci<br />
(IAC); Marta Dias Soares-Scott<br />
(IAC). Fitotecnia: Joaquim Adelino<br />
de Azevedo Filho (PRDTA do Leste<br />
Paulista); Dulcinéia Elizabete Foltran<br />
(PRDTA do Centro-Sul Paulista);<br />
Antonio Lúcio Mello Martins<br />
(PRDTA do Centro-Norte Paulista);<br />
Valdemir Álvares (PRDTA do Leste<br />
Paulista). Apoio Técnico: Antonio<br />
Carlos Teixeira de Lima; Camilla de<br />
Andrade Pacheco; Maria das Graças<br />
dos Santos Lima.<br />
Informações<br />
Programa <strong>Maracujá</strong> – IAC -<br />
Campinas<br />
Laura Maria Molina Meletti e<br />
Maria das Graças dos Santos Lima<br />
( (19) 242-4246<br />
Laura M.M. Meletti, Luís C. Bernacci<br />
Instituto Agronômico, Núcleo Jardim Botânico<br />
( (19) 241-5188 – ramais 0 e 427<br />
* lmmm@iac.sp.gov.br; bernacci@iac.sp.gov.br<br />
Marta D. Soares-Scott<br />
Instituto Agronômico, Recursos Genéticos<br />
Vegetais<br />
( (19) 241-5188 – ramal 429<br />
* scott@iac.sp.gov.br<br />
Joaquim A. Azevedo Filho<br />
PRDTA do Leste Paulista<br />
( (19) 899-1286 / 899-1022 / 899-1 11<br />
* joaquimadelino@aptaregional.sp.gov.br<br />
Camilla de Andrade Pacheco<br />
Bolsista Fundag junto ao Programa <strong>Maracujá</strong> do<br />
IAC e graduanda em Engenharia Agronômica<br />
pela UFSCar<br />
( (19) 242-4246<br />
* camilla_andrade@yahoo.com.br