17.04.2013 Views

Aline Luiza Fernandes - Desconstrução_A influência do ...

Aline Luiza Fernandes - Desconstrução_A influência do ...

Aline Luiza Fernandes - Desconstrução_A influência do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE<br />

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

DESCONSTRUÇÃO: A INFLUÊNCIA DO<br />

PENSAMENTO DERRIDIANO NAS TEORIAS PÓS-<br />

ESTRUTURALISTAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

- A dicotomia inside/outside-<br />

Belo Horizonte<br />

2008<br />

<strong>Aline</strong> <strong>Luiza</strong> Santos <strong>Fernandes</strong>


ALINE LUIZA SANTOS FERNANDES<br />

DESCONSTRUÇÃO: A INFLUÊNCIA DO<br />

PENSAMENTO DERRIDIANO NAS TEORIAS PÓS-<br />

ESTRUTURALISTAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

- A dicotomia inside/outside-<br />

Belo Horizonte<br />

2008<br />

Monografia apresentada ao Centro<br />

Universitário de Belo Horizonte como<br />

requisito parcial à obtenção <strong>do</strong> título de<br />

bacharel em Relações Internacionais.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Cristiano Garcia Mendes<br />

8


ALINE LUIZA SANTOS FERNANDES<br />

DESCONSTRUÇÃO: A INFLUÊNCIA DO<br />

PENSAMENTO DERRIDIANO NAS TEORIAS PÓS-<br />

ESTRUTURALISTAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

- A dicotomia inside/outside-<br />

Monografia apresentada ao Centro<br />

Universitário de Belo Horizonte como<br />

requisito parcial à obtenção <strong>do</strong> título de<br />

bacharel em Relações Internacionais.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Cristiano Garcia Mendes<br />

Monografia aprovada em: 11 de dezembro de 2008.<br />

Banca Examina<strong>do</strong>ra:<br />

Prof. Leonar<strong>do</strong> César Souza Ramos<br />

Prof. Danny Zahreddine<br />

9


“A comunicação é impossível”.<br />

Apel respondeu: “Concor<strong>do</strong>”.<br />

Derrida não deixou por menos:<br />

“Então eu me expressei mal”.<br />

(Jacques Derrida)<br />

10


RESUMO<br />

Este trabalho mostra a <strong>influência</strong> <strong>do</strong> pensamento derridiano nas abordagens teóricas pós-<br />

estruturalistas de Relações Internacionais. O pensamento de Jacques Derrida surge como uma<br />

crítica aos pressupostos da lingüística moderna estrutural saussuriana e se insere dentro <strong>do</strong><br />

movimento filosófico pós-estrutural e mais amplamente dentro da corrente de pensamento pós-<br />

moderna. É dentro deste contexto, pois, que surge o desconstrucionismo filosófico. O trabalho<br />

demonstrará como o desconstrucionismo forneceu as bases para a argumentação teórica e para a<br />

problematização da dicotomia inside/outside <strong>do</strong> autor pós-estrutural das Relações Internacionais,<br />

R.B.J Walker.<br />

Palavras-Chave: Saussure, Pós-modernismo, Pós-estruturalismo, Derrida, Desconstrucionismo,<br />

Walker, Dicotomia inside/outside.<br />

11


ABSTRACT<br />

This paper shows the influence of the derridian thought on the theoretical poststructuralist<br />

approaches of International Relations. The Jacques Derrida thought emerges as a critical to the<br />

assumptions of the modern structural linguistics saussurean and falls into the philosophical post<br />

structural movement, and more widely into the stream of the post-modern thought. In this context,<br />

the philosophical desconstructionism arrises. This paper is going to demonstrate how this<br />

desconstructionism provides the basis for the theoretical arguments, and for the dichotomy<br />

problematization inside/outside, of the post structural author of the International Relations, R.B.J.<br />

Walker.<br />

Keywords: Saussure, Postmodernism, Poststructuralism, Derrida, Desconstructionism, R.B.J<br />

Walker, Inside / outside dichotomy.<br />

12


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9<br />

1-A LINGUÍSTICA SAUSSURIANA................................................................................... 12<br />

1.1- Signo, Significa<strong>do</strong> e Significante. ................................................................................. 12<br />

1.2- A Arbitrariedade <strong>do</strong> signo ............................................................................................. 14<br />

1.3- Imutabilidade e Mutabilidade <strong>do</strong> Signo ........................................................................ 15<br />

1.3.1-Imutabilidade: ......................................................................................................... 16<br />

1.3.2-Mutabilidade: .......................................................................................................... 17<br />

1.4 - O papel da escrita para Saussure .................................................................................. 18<br />

1.5- Valor Lingüístico e o Caráter Linear <strong>do</strong> Significante ................................................... 20<br />

2-PÓS-MODERNISMO E PÓS-ESTRURALISMO .......................................................... 24<br />

2.1- Conceituações: Modernidade/Pós-Modernidade e Modernismo/Pós-Modernismo ...... 24<br />

2.2-Precedentes e Precursores <strong>do</strong> Pós-modernismo ............................................................. 27<br />

2.2.1- Pós-modernismo Latente ........................................................................................ 27<br />

2.2.2- Início da Sistematização Teórica............................................................................ 30<br />

2.3-Estruturalismo em cena .................................................................................................. 32<br />

2.4- Pós-estruturalismo em cena ........................................................................................... 34<br />

2.4.1. A base para a crítica pós-estrutural em Nietzsche e Heidegger ............................. 34<br />

2.4.2- Contexto político .................................................................................................... 35<br />

2.4.3- A crítica pós-estrutural ........................................................................................... 36<br />

2.4.4- Proposições Pós-estruturalistas .............................................................................. 36<br />

3-DERRIDA E A DESCONSTRUÇÃO ............................................................................... 38<br />

3.1- Derrida e as críticas a Saussure ..................................................................................... 38<br />

3.2-Escritura ......................................................................................................................... 42<br />

3.2.1- Derrida em Freud: Sonho e Significante ................................................................ 43<br />

3.3- Oposição Binária ........................................................................................................... 45<br />

3.4- <strong>Desconstrução</strong> ............................................................................................................... 45<br />

3.4.1- Inversão e Deslocamento ....................................................................................... 45<br />

4- WALKER E A DICOTOMIA INSIDE/OUTSIDE NAS RELAÇÕES<br />

INTERNACIONAIS ............................................................................................................... 48<br />

4.1- As Relações Internacionais ........................................................................................... 48<br />

4.1.1- Mitos de Origem .................................................................................................... 48<br />

4.1.2-A Teoria Realista como apagamento das diferenças ............................................... 49<br />

13


4.1.3- A Modernidade e suas implicações para as relações internacionais ...................... 51<br />

4.2- A dicotomia inside/outside ............................................................................................ 52<br />

4.2.1. A caricatura da dicotomia e o julgamento de valores ............................................. 53<br />

4.2.2- As questões éticas .................................................................................................. 55<br />

4.3- A <strong>Desconstrução</strong> na dicotomia inside/outside .............................................................. 57<br />

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 59<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................. 61<br />

14


INTRODUÇÃO<br />

Jacques Derrida foi um <strong>do</strong>s críticos de maior importância <strong>do</strong> pensamento<br />

estruturalista 1 . Destacan<strong>do</strong>-se como um <strong>do</strong>s maiores filósofos pós-estruturalistas 2 , juntamente<br />

com alguns nomes como Lyotard, Heidegger e Nietzsche; ten<strong>do</strong> sofri<strong>do</strong> forte <strong>influência</strong> em<br />

seus escritos destes <strong>do</strong>is últimos. A crítica tecida pelo filósofo ao estruturalismo lingüístico 3<br />

instituí<strong>do</strong> por Ferdinand de Saussure é central no seu pensamento. Destas críticas, surge o<br />

termo pelo qual Derrida torna-se notório, o desconstrutivismo 4 que inaugura um novo mo<strong>do</strong><br />

de pensar dentro da filosofia.<br />

O teórico das Relações Internacionais 5 R.B.J Walker estabelece as bases para a<br />

construção <strong>do</strong> seu arcabouço teórico sob os alicerces <strong>do</strong> pensamento de Derrida e <strong>do</strong> seu<br />

desconstrucionimo filosófico. Toman<strong>do</strong> de empréstimo <strong>do</strong> pensamento derridiano as questões<br />

e implicações concernentes à a<strong>do</strong>ção da oposição binária como constitui<strong>do</strong>ra ou dita<strong>do</strong>ra da<br />

forma de pensamento social como preconiza<strong>do</strong> por Derrida. Walker por sua vez mostra a<br />

forma pela qual estas oposições trabalham na construção da realidade dentro das Relações<br />

Internacionais e posteriormente realiza a desconstrução de uma destas oposições em especial,<br />

a dicotomia inside/outside.<br />

1 Na definição de Japiassú e Marcondes é uma <strong>do</strong>utrina filosófica que considera a noção de estrutura<br />

fundamental como conceito teórico e meto<strong>do</strong>lógico. Concepção meto<strong>do</strong>lógica em diversas ciências<br />

(lingüística,antropologia,psicologia,etc) que tem como procedimento a determinação e a análise de<br />

estruturas.Ainda também pode-se considerar o estruturalismo como uma das principais correntes de pensamento<br />

sobretu<strong>do</strong> nas ciências humanas,em nosso século. O méto<strong>do</strong> estruturalista de investigação científica foi<br />

estabeleci<strong>do</strong> pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), que afirma ver na linguagem a<br />

pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> sistema sobre os elementos, visan<strong>do</strong> extrair a estrutura <strong>do</strong> sistema através da análise das<br />

relações ente os elmentos. ( JAPIASSÚ,Hilton;MARCONDES,Danilo, 1998,p. 92).<br />

2 A constituição da abordagem teórica pós-estrutural se inicia a partir da crítica aos pressupostos estruturalistas.<br />

(BEST; KELLNER, 2001). Ver segun<strong>do</strong> capítulo deste trabalho.<br />

3 To<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> lingüístico será dividi<strong>do</strong> entre antes e depois de Saussure. Para Saussure, a lingüística é um<br />

sistema, uma forma e não uma substância. É um sistema de valores, sen<strong>do</strong> suas unidades, opositivas, diferenciais<br />

e negativas. Estas unidades nunca são isoladas, pois depende uma das outras para seu funcionamento. Nisto<br />

consiste a lingüística de Saussure. (DUBOIS, Jean, et all, 1973, p.390,391). Ver primeiro capítulo deste trabalho.<br />

4 Termo cunha<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> pelo filósofo. Ver capítulo três. Note-se que existem diferentes traduções <strong>do</strong><br />

termo. No original em francês “déconstruction”. Em português encontra-se três diferentes traduções, a ver:<br />

desconstrucionismo, desconstrução, desconstrutivismo, to<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s para designar a déconstruction de<br />

Derrida.<br />

5 As Relações Internacionais designam o campo acadêmico funda<strong>do</strong> em 1919, quan<strong>do</strong> foi criada a primeira<br />

cadeira acadêmica,sob os auspícios <strong>do</strong> filantropo David Davies, na Universidade de Gles,no Reino Uni<strong>do</strong>,sob o<br />

nome de Cátedra Woodrow Wilson de Política Intenacional(SARFATI,2005,p.9).O objeto de estu<strong>do</strong> da<br />

disciplina são as relações internacionais,entendidas,no senti<strong>do</strong> mais amplo,como os vínculos entre as unidades<br />

políticas autônomas chamadas Esta<strong>do</strong>s-Nações,ou entre indivíduos membros destas unidades quan<strong>do</strong> interatuam<br />

através de suas fronteiras.(ORTIZ,2000,p.9).<br />

9


A proposta deste trabalho consiste em mostrar como o pensamento de Derrida fora<br />

de crucial importância para o pós-estruturalismo nas Relações Internacionais, utilizan<strong>do</strong> para<br />

tal fim a obra de Rob Walker a fim de corroborar o intenciona<strong>do</strong>.<br />

O trabalho está estrutura<strong>do</strong> em quatro capítulos. No primeiro será demonstra<strong>do</strong> o<br />

pensamento de Saussure, os principais conceitos cria<strong>do</strong>s pelo lingüista e as implicações destes<br />

conceitos para a constituição da lingüística moderna. Neste capítulo, nossa intenção será<br />

somente a de demonstrar de forma mais fidedigna e genuína possível o pensamento <strong>do</strong><br />

lingüista, pois será de crucial importância para o entendimento <strong>do</strong>s demais pensamentos e<br />

conceituações que desenvolveremos ao longo <strong>do</strong> trabalho.<br />

No segun<strong>do</strong> capítulo apresentaremos uma explanação a cerca das teorias pós-<br />

modernas e pós-estruturais, com as ressalvas necessárias à cerca da sistematização e unidade<br />

das mesmas, apresentan<strong>do</strong> os pontos centrais destes pensamentos, bem como os pontos de<br />

convergência e divergência.<br />

O terceiro capítulo é dedica<strong>do</strong> a demonstrar o pensamento de Derrida. As críticas<br />

que são constitutivas <strong>do</strong> seu pensamento, das quais se destacam as tecidas em relação à<br />

metafísica ocidental 6 e ao pensamento de Saussure. Esta última servin<strong>do</strong> de aparato para a<br />

criação <strong>do</strong> desconstrucionismo, que será também aborda<strong>do</strong> neste capítulo.<br />

Por fim, no capítulo quatro será apresentada à abordagem teórica de Walker. As<br />

preconizações <strong>do</strong> autor em relação à constituição da tradição teórica das Relações<br />

Internacionais, a dicotomia inside/outside seu estabelecimento e suas conseqüências para as<br />

Relações Internacionais e a desconstrução da mesma.<br />

A estruturação destes capítulos seguiu uma ordem de linearidade. Apresentaremos<br />

primeiramente o pensamento de Saussure, pois, é a obra <strong>do</strong> lingüista que oferece o arcabouço<br />

para a crítica posteriormente que será realizada por Derrida e que acabará por dimanar na<br />

criação <strong>do</strong> desconstrucionismo. No segun<strong>do</strong> capítulo apresentaremos as teorias pós- modernas<br />

e pós-estruturais a fim de oferecer uma contextualização para o surgimento <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong><br />

filósofo francês e que servirá também para demonstrar as principais características deste<br />

6 A metafísica é a parte mais central da filosofia, a ontologia geral, o trata<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser enquanto ser. A metafísica<br />

define-se assim como filosofia primeira, como ponto de partida <strong>do</strong> sistema filosófico, tratan<strong>do</strong> daquilo que é<br />

pressuposto por outras partes <strong>do</strong> sistema, na medida em que examina os princípios e causas primeiras, e que se<br />

constitui como <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong> ser em geral. (JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo, 1998, p.180). De acor<strong>do</strong><br />

com Giles, Metafísica é uma explicação compreensiva, coerente e total (uma visão) da realidade (<strong>do</strong> ser, da<br />

realidade, <strong>do</strong> universo) como totalidade, ou ainda, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser enquanto ser,e não <strong>do</strong> ser enquanto ente<br />

particular,ou ainda,o estu<strong>do</strong> das características mais gerais,persistentes e onipresentes no universo,a saber:a<br />

existência,a mudança,o espaço,o tempo,causa e efeito,relação,substância,identidade,dentre outros, ou ainda, o<br />

estu<strong>do</strong> da última realidade: a realidade tal como é constituída em si,fora das aparências ilusórias que se<br />

apresentam à percepção.(GILES,Thomas,1993,p.101,102). A metafísica <strong>do</strong> ocidente é centrada no significa<strong>do</strong>.<br />

(SANTIAGO, Silviano (org),1976,p.56).<br />

10


pensamento. Após, será introduzi<strong>do</strong> o pensamento de Derrida e o desconstrucionismo que<br />

será utiliza<strong>do</strong> como arcabouço teórico posteriormente por Walker.<br />

No que diz respeito aos procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos, utilizamos à revisão<br />

bibliográfica das obras centrais <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong>s autores trabalha<strong>do</strong>s. Optamos por utilizar<br />

as obras <strong>do</strong>s próprios autores no que concerne aos capítulos dedica<strong>do</strong>s a Saussure, Derrida e<br />

Walker, afim de não nos perdemos em interpretações e ou traduções errôneas que<br />

eventualmente poderíamos nos deparar. Em relação ao capítulo dedica<strong>do</strong> ao pós-modernismo<br />

e pós-estruturalismo nossa opção foi pela obra <strong>do</strong>s autores Steven Best e Douglas Kellner,<br />

uma vez que inexiste uma obra centraliza<strong>do</strong>ra ou que possa ser tomada como referência<br />

absoluta sobre estas teorias. Dessa forma, a obra destes autores nos pareceu fidedigna na<br />

tarefa que a mesma se propõe, pois os autores utilizam de uma considerável investigação<br />

histórica sobre os termos valen<strong>do</strong>-se de um rigor ético na medida em que diversificam as<br />

abordagens expon<strong>do</strong> o conceito de vários autores sobre as teorias em questão.<br />

A importância deste trabalho, no nosso entender, se dá na medida em que existe uma<br />

tendência nas Relações Internacionais, devi<strong>do</strong> à própria tradição Realista da mesma, de não se<br />

realizar trabalhos sobre teorias que sejam mais periféricas. O que se nota é sempre a<br />

realização de um sem número de trabalhos sobre teorias mainstream. Este fato por sua vez,<br />

não é exclusivo somente no que concerne a produção de trabalhos no campo das Relações<br />

Internacionais, mas se dá em todas as áreas <strong>do</strong> conhecimento. A partir da observância desta<br />

lacuna no que diz respeito às Relações Internacionais, procuramos contribuir um pouco para<br />

que a lacuna deste campo aos poucos seja preenchida.<br />

.<br />

11


1-A LINGUÍSTICA SAUSSURIANA<br />

Saussure (1969) foi o responsável pelo desenvolvimento de uma série de conceitos<br />

que culminaram na gênese da lingüística moderna, determinan<strong>do</strong> a língua como objeto de<br />

estu<strong>do</strong>. A partir da concepção e compreensão da língua como um fenômeno de ordem<br />

sistemática, o autor elaborou uma série de novos conceitos que contribuiriam para a formação<br />

da nova ciência da linguagem moderna. Seu ponto de iniciação para tal seria a proposta de<br />

que a língua é constituída de um signo, um significante e um significa<strong>do</strong>.<br />

1.1- Signo, Significa<strong>do</strong> e Significante.<br />

Segun<strong>do</strong> Saussure (1969) a língua em uma primeira e superficial análise parece ser<br />

constituída de uma porção de termos que se liga a uma porção de coisas. Para cada coisa e ou<br />

objeto (material) parece haver um outro termo e ou palavra correspondente. Como mostra a<br />

figura seguinte:<br />

Fonte: SAUSSURE, p.79<br />

Porém, o autor crítica essa visão demasiadamente simplificada e temerária, pois,<br />

“supõe idéias completamente feitas, preexistentes às palavras (...) ela faz supor que o vínculo<br />

que une um nome a uma coisa constitui uma operação muito simples” (SAUSSURE, 1969, p.<br />

79). Essa visão, tão pouco também esclarece se a natureza da palavra é física/ vocal ou<br />

puramente psíquica.<br />

A conceituação saussuriana de signo, significa<strong>do</strong> e significante nos permitem<br />

entender como se dá o funcionamento da língua e nega a visão simplista de anteriormente.<br />

12


Sobre o signo lingüístico o autor o considera como sen<strong>do</strong> de natureza psíquica e dicotômica;<br />

psíquica, pois deriva de <strong>do</strong>is conceitos também psicológicos, o significante e o significa<strong>do</strong>,<br />

que veremos mais adiante, pois são de natureza abstrata e apenas representam o objeto<br />

real/material; e dicotômico por que se divide em duas partes, o conceito e a imagem acústica a<br />

serem substituí<strong>do</strong>s por significa<strong>do</strong> e significante respectivamente. Pode-se dizer, pois que a<br />

junção e ou interação desses <strong>do</strong>is elementos (imagem acústica/conceito) culminariam na<br />

formação <strong>do</strong> signo, que se refere ao total gera<strong>do</strong> entre significa<strong>do</strong> e significante; “O signo<br />

lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica”<br />

(SAUSSURE, 1969, p.80) Com relação ao conceito de significante, segun<strong>do</strong> o autor<br />

corresponderia a uma imagem acústica, seria a impressão de um som que já está impresso no<br />

nosso psíquico, logo, de caráter não material. De acor<strong>do</strong> com autor, podemos observar esse<br />

caráter psicológico <strong>do</strong> significante quan<strong>do</strong>, por exemplo: “Sem movermos os lábios nem a<br />

língua, podemos falar conosco ou recitar mentalmente um poema (...) porque as palavras da<br />

língua são para nós imagens acústicas” (SAUSSURE, 1969, p. 80). O segun<strong>do</strong> conceito o de<br />

significa<strong>do</strong> que substitui o conceito e ou idéia; nada mais é <strong>do</strong> que a representação na mente<br />

de um objeto real qualquer.<br />

Dessa maneira, Saussure (1969) concluiu que significante e significa<strong>do</strong> não somente<br />

tem uma relação de dependência mútua como são de natureza indissociável, não podem se<br />

separar, pois sem um não há como o outro existir. “Esses <strong>do</strong>is elementos estão intimamente<br />

uni<strong>do</strong>s e um reclama o outro” (SAUSSURE, 1969, p.80). Ou seja, estamos o tempo to<strong>do</strong><br />

estabelecen<strong>do</strong> relação entre o conceito e a imagem acústica. Quan<strong>do</strong> evocamos uma imagem<br />

acústica logo associamos a um conceito, o contrário também é verdadeiro. Este conceito que<br />

se forma em nossa mente de uma coisa física qualquer é somente virtual/ psíquico e se nos é<br />

permiti<strong>do</strong> realizar tal façanha é devi<strong>do</strong> a um contato sensorial realiza<strong>do</strong> anteriormente com<br />

aquele determina<strong>do</strong> objeto real. Portanto, não é o nosso pensamento que criará de forma<br />

facultativa um determina<strong>do</strong> conceito, esse já existe no mun<strong>do</strong> real. É o conceito real que<br />

permitirá uma ilustração <strong>do</strong> mesmo na mente, que por sua vez irá reclamar por associação a<br />

imagem acústica; ainda que de forma arbitrária, como veremos mais adiante.<br />

Ilustremos da seguinte maneira: Ao lermos em um livro a palavra “pássaro”, logo a<br />

impressão psíquica desse som (significante) nos remete ao significa<strong>do</strong>, que o nosso cérebro<br />

une por associação, e representamos ou ilustramos mentalmente o conceito de um animal que<br />

tem asas, penas, canta, vôa, etc. A resultante desses elementos forma o signo “pássaro”; que<br />

nada tem de material também, é apenas uma abstração mental; pois material é somente o<br />

animal no mun<strong>do</strong> real/ o objeto palpável em si.<br />

13


1.2- A Arbitrariedade <strong>do</strong> signo<br />

O princípio saussuriano de arbitrariedade <strong>do</strong> sigo preconiza que:<br />

14<br />

“O laço que une o significante ao significa<strong>do</strong> é arbitrário ou então, visto que<br />

entendemos por signo o total resultante da associação de um significante<br />

com um significa<strong>do</strong>, podemos dizer simplesmente: o signo lingüístico é<br />

arbitrário” (1969, p. 81).<br />

Dessa maneira, podemos afirmar que o signo é arbitrário, pois entre o conceito e a imagem<br />

acústica não há um elo natural. A relação de ligação é meramente social e produzida através<br />

<strong>do</strong> hábito coletivo adquiri<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo de uma determinada língua. Prova disso,<br />

segun<strong>do</strong> o autor, seriam as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas<br />

diferentes; “o significa<strong>do</strong> da palavra francesa bouef (““ boi”) tem por significante b-o-f de um<br />

la<strong>do</strong> da fronteira franco-germânica, e o-k-s (ochs) <strong>do</strong> outro “(SAUSSURE, 1969, p. 82).<br />

Portanto, há vários significantes para um mesmo significa<strong>do</strong>, isso se torna evidente quan<strong>do</strong><br />

analisamos algum mesmo conceito em significantes diferentes, como nos foi mostra<strong>do</strong> na<br />

citação acima, percebemos que um determina<strong>do</strong> conceito pode-se ligar a inúmeras imagens<br />

acústicas nos mais varia<strong>do</strong>s idiomas. Assim, o autor afirma que inexiste uma relação à priori<br />

que irá unir um determina<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> a um significante. “A idéia de “mar” não está ligada<br />

por relação alguma interior a seqüência de sons m-a-r que lhe serve de significante: poderia<br />

ser representada igualmente bem por outra seqüência” (SAUSSURE, 1969, p.81). É por isso,<br />

que Saussure (1969) irá chamar o significante de imotiva<strong>do</strong>, pois é arbitrário em relação ao<br />

seu conceito; o autor enfatiza que devemos entender por arbitrariedade <strong>do</strong> signo somente essa<br />

relação imotivada <strong>do</strong> significante com o significa<strong>do</strong>. Pois o termo arbitrário poderia dar<br />

margem a outras interpretações.<br />

“(...) Não deve dar a idéia de que o significante dependa da livre escolha <strong>do</strong><br />

que fala (...); queremos dizer que o significante é imotiva<strong>do</strong>, isto é, arbitrário<br />

em relação ao significa<strong>do</strong>, com o qual não tem nenhum laço natural na<br />

realidade.” (1969, p.83).<br />

Convencionou-se a usar a palavra símbolo para referir-se ao signo. Contu<strong>do</strong>,<br />

Saussure (1969) considera inconveniente essa relação, pois prejudica a compreensão <strong>do</strong><br />

caráter imotiva<strong>do</strong> <strong>do</strong> signo, pois o autor entende que:


15<br />

“O símbolo tem como característica não ser jamais completamente<br />

arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o<br />

significante e o significa<strong>do</strong>. O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser<br />

substituí<strong>do</strong> por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.” (1969, p.82).<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Saussure (1969) algumas contra-argumentações poderiam ser feitas a<br />

respeito da arbitrariedade <strong>do</strong> signo. Por exemplo, com relação às palavras que parecem imitar<br />

um determina<strong>do</strong> som produzi<strong>do</strong> pela natureza, pelos animais, um determina<strong>do</strong> objeto, etc.<br />

Pois, a princípio pode-se argumentar que a relação entre a imagem acústica e o conceito são<br />

liga<strong>do</strong>s de uma maneira natural. Contu<strong>do</strong>, o autor afirma que:<br />

“(...) sua escolha é já, em certa medida, arbitrária, pois não passam de<br />

imitação aproximativa e já meio convencional de certos ruí<strong>do</strong>s (...) Além<br />

disso, uma vez introduzidas na língua, elas se engrenam mais ou menos na<br />

evolução fonética, morfológica etc, que sofrem as outras palavras (...) Prova<br />

evidente de que perderam algo de seu caráter primeiro para adquirir o <strong>do</strong><br />

signo lingüístico em geral, que é imotiva<strong>do</strong>.” (1969, p. 83).<br />

Uma segunda contra-argumentação poderia ser feita em relação às exclamações, que<br />

para o autor, assim como as onomatopéias são em parte contestáveis. Pois o vínculo natural<br />

entre significa<strong>do</strong> e significante que tornaria o signo não arbitrário, também inexiste, embora<br />

em um primeiro momento acreditemos que sim. Para tal, “Basta comparar duas línguas, sob<br />

esse aspecto, para ver o quanto tais expressões variam de uma língua para outra (por exemplo,<br />

ao francês aie! Corresponde em alemão au! E em português ai!)” (SAUSSURE, 1969, p.84).<br />

1.3- Imutabilidade e Mutabilidade <strong>do</strong> Signo<br />

O Caráter arbitrário <strong>do</strong> signo permite que o mesmo seja imutável e mutável ao<br />

mesmo tempo, essa aparente contradição será explicada pelo autor nos parágrafos seguintes.


1.3.1-Imutabilidade:<br />

Já tratamos anteriormente que a a<strong>do</strong>ção de determina<strong>do</strong> signo nada tem de natural, é<br />

arbitrária; o seu estabelecimento é um fato social e histórico. Em uma determinada época de<br />

uma língua (que não conseguimos definir qual, pois não nos cabe tencionar descobrir a<br />

origem da mesma), atribuíram-se imagens acústicas aos objetos da matéria. A partir de então,<br />

estabeleceu-se um sistema lingüístico o qual to<strong>do</strong>s os indivíduos da posteridade<br />

reconheceriam e a<strong>do</strong>tariam como um meio de comunicação. Em outras palavras, a língua é<br />

um hábito social adquiri<strong>do</strong> e ou herda<strong>do</strong>. Sobre essa questão, Saussure afirma que o<br />

significante “(...) com relação à comunidade lingüística que o emprega não é livre: é imposto.<br />

Nunca se consulta a massa social (...) Diz-se à língua:” Escolhe!;"mas acrescenta-se:O signo,<br />

será este, não outro” (SAUSSURE,1969.p. 85).<br />

Contu<strong>do</strong>, poderia indagar-se porque a língua não muda e ou por que ela é imutável;<br />

para essa pergunta poderíamos pensar a língua como um produto social, que de fato o é dessa<br />

maneira é necessário que não somente um indivíduo queira mudá-la, mas toda uma sociedade.<br />

E por que uma sociedade desejaria mudá-la, se essa está lhe servin<strong>do</strong> de maneira satisfatória?<br />

Para Saussure (1969) essas questões, são importantes mais ainda não atingem o cerne da<br />

problemática. Uma das respostas apontadas pelo autor, diz respeito ao princípio de<br />

arbitrariedade <strong>do</strong> signo, para ele o fato de o signo ser arbitrário, permite que o mesmo não<br />

mude, pois não há motivo para querer trocar bouef, por ox ou boi. To<strong>do</strong>s os significantes são<br />

imotiva<strong>do</strong>s em relação ao que significam, ou significa<strong>do</strong>. Seria possível “discutir um sistema<br />

de símbolos, pois que o símbolo tem uma relação racional com o significa<strong>do</strong>; mas para a<br />

língua, sistema de signos arbitrários, falta essa base, e com ela desaparece to<strong>do</strong> terreno sóli<strong>do</strong><br />

de discussão”. (SAUSSURE, 1969.p. 87). A segunda questão à cerca da imutabilidade se<br />

deita na questão de que para se formar uma língua seriam necessários um sem número de<br />

signos. Seria relativamente fácil trocar um alfabeto, por exemplo. Contu<strong>do</strong>, a língua possui<br />

milhares de conceitos e não seria tarefa fácil a<strong>do</strong>tar significantes para to<strong>do</strong>s. Disso, deriva<br />

uma outra resposta <strong>do</strong> autor que afirma ser a língua um sistema demasia<strong>do</strong> complexo, por isso<br />

não passível de mutações. “Pois, tal sistema é um mecanismo complexo; só se pode<br />

compreendê-lo pela reflexão (...) Não se poderia conceber uma transformação que tal sem a<br />

intervenção de especialistas (...) e as intervenções nesse senti<strong>do</strong> não tiveram êxito algum.”<br />

(SAUSSURE, 1969. p.88). E por último, o autor cita a falta de vontade e inércia da sociedade<br />

que não permite mudanças. A to<strong>do</strong> o momento nos servimos da língua, quan<strong>do</strong> estamos nos<br />

16


comunican<strong>do</strong> com outrem, ou até mesmo quan<strong>do</strong> estamos sozinhos em casa len<strong>do</strong> um livro,<br />

ela se faz presente sempre em nossas vidas, desde o momento de quan<strong>do</strong> aprendemos aos<br />

poucos os códigos de funcionamento lingüísticos. Para o autor:<br />

1.3.2-Mutabilidade:<br />

17<br />

“ Esse fato capital basta para demonstrar a impossibilidade de uma<br />

revolução. (...) A língua, de todas as instituições sociais, é a que oferece<br />

menos oportunidades às iniciativas. A língua forma um to<strong>do</strong> com a vida da<br />

massa social e esta, sen<strong>do</strong> naturalmente inerte, aparece antes de tu<strong>do</strong> como<br />

um fator de conservação.”(1969, p. 88).<br />

O signo com o seu caráter arbitrário possibilita que a língua sofra mudanças, pois<br />

embora ele apregoe que o signo não mude porque qualquer outro que a<strong>do</strong>tarmos será<br />

igualmente arbitrário e não há razões para predileções de um significante qualquer, ele ao<br />

mesmo tempo faz com que não haja regras, nem impedimentos se caso desejarmos. Pois, o<br />

signo é completamente imotiva<strong>do</strong> e não há nada que impeça de associarmos um significa<strong>do</strong><br />

qualquer a um outro significante. Ele nos dá liberdade para efetuarmos quaisquer mudanças.<br />

“Uma língua é radicalmente incapaz de se defender <strong>do</strong>s fatores que deslocam, de minuto a<br />

minuto, a relação entre significa<strong>do</strong> e significante. É uma das conseqüências da arbitrariedade<br />

<strong>do</strong> signo.” (SAUSSURE, 1969, p. 90).<br />

O tempo é um outro fator que permite que a língua sofra mutações, é ele que faz<br />

com que também a língua não se modifique, como trata<strong>do</strong> anteriormente. Esse argumento,<br />

que a princípio parece se contradizer, se explica segun<strong>do</strong> o autor, pois:<br />

“Os <strong>do</strong>is fatos são solidários: o signo está em condições de alterar-se porque<br />

se continua. O que <strong>do</strong>mina, em toda alteração, é a persistência da matéria<br />

velha; a infidelidade ao passa<strong>do</strong> é apenas relativa. Eis por que o princípio de<br />

alteração se baseia no princípio de continuidade.” (1969, p.89).<br />

Saussure (1969) abre um parêntese e ressalta a importância de se entender<br />

apropriadamente o termo “alteração”. Para ele o termo deve ser entendi<strong>do</strong> como o<br />

deslocamento da relação entre o significa<strong>do</strong> e significante. O autor elucida a questão com a<br />

seguinte exemplificação, “o latim necáre, “matar”, deu em francês noyer, “ afogar”. Tanto a<br />

imagem acústica como o conceito mudaram(...) o vínculo entre idéia e signo se afrouxou e


que houve um deslocamento em sua relação. ”( SAUSSURE, 1969, p.89). Ainda, sobre o<br />

papel <strong>do</strong> tempo nas alterações lingüísticas, o autor escreve que essas alterações são também<br />

evoluções, pois a língua sen<strong>do</strong> um fato social é uma instituição e como tal, passível de sofrer<br />

as modificações provocadas pelo fenômeno da evolução.<br />

18<br />

“A língua é uma instituição pura (...). Isso se vê bem pela maneira<br />

por que a língua evolui; nada mais complexo: situada, simultaneamente, na<br />

massa social e no tempo, ninguém lhe pode alterar nada e, de outro la<strong>do</strong>, a<br />

arbitrariedade de seus signos implica, teoricamente, a liberdade de<br />

estabelecer não importa que relação entre a matéria fônica e as idéias. Disso<br />

resulta que esses <strong>do</strong>is elementos uni<strong>do</strong>s nos signos guardam sua vida própria<br />

(...) e que a língua se altera ou, melhor evolui, sob a <strong>influência</strong> de to<strong>do</strong>s os<br />

agentes que possam atingir quer os sons, quer os significa<strong>do</strong>s. Essa evolução<br />

é fatal; não há exemplo de uma língua que lhe resista. Ao fim de certo<br />

tempo, podem-se sempre comprovar deslocamentos sensíveis” (1969 p.90-<br />

91).<br />

Contu<strong>do</strong>, essas alterações não podem ser realizadas por somente um indivíduo<br />

desejoso de realizar tal façanha. Para que uma língua adquira condições de existência é<br />

necessário o individuo, como massa falante. Mas as alterações não se podem dar segun<strong>do</strong> a<br />

vontade de um único indivíduo, pois a língua como já trata<strong>do</strong> anteriormente é um fato social.<br />

1.4 - O papel da escrita para Saussure<br />

“Se tomasse a língua no tempo, sem a massa falante- suponha-se o indivíduo<br />

isola<strong>do</strong> que vivesse durante vários séculos- não registraria talvez nenhuma<br />

alteração; o tempo não agiria sobre ela. Inversamente, se se considerasse a<br />

massa falante sem o tempo, não se veria o efeito das forças sociais agin<strong>do</strong><br />

sobre a língua.” (1969, p. 92-93).<br />

É fato notável que o senso-comum considere que a escrita exerça preponderância<br />

sobre a fala ou ainda que não se faça diferenciação das duas. Enxergan<strong>do</strong> ambas inseparáveis<br />

uma da outra, sen<strong>do</strong> assim, impossível dissociar a língua de sua ortografia e por conseguinte<br />

guardan<strong>do</strong> a impressão que só há razão de ser se a outra também existir; se analisarmos uma<br />

tribo de índios perceberemos que esse argumento cai logo por terra, pois estes não possuem<br />

um alfabeto ou qualquer outro sistema de escrita e somente se comunicam através da fala.<br />

Portanto, podemos afirmar que a língua/fala oral é independente da escrita. Sen<strong>do</strong> assim,<br />

“deve-se priorizar o estu<strong>do</strong> da língua oral, porque a escrita obscurece a visão da língua; não é


um traje, mas um disfarce” (SAUSSURE, 1969, p.40). Pois, existem muitas incoerências na<br />

escrita, “percebe-se bem isso pela ortografia da palavra francesa oiseau,onde nenhum <strong>do</strong>s<br />

sons da palavra falada (wazo), é representa<strong>do</strong> pelo seu signo próprio; nada resta da imagem da<br />

língua.” (SAUSSURE,1969,p. 40) A escrita somente existe para simbolizar a língua oral,<br />

dessa maneira uma vez que a língua é um significante a escrita seria portanto, o significante<br />

<strong>do</strong> significante, de acor<strong>do</strong> com a visão <strong>do</strong> autor. Podemos também preconizar segun<strong>do</strong> ele que<br />

a fala antecede a escrita, basta analisarmos o fato de que primeiro aprendemos a falar e<br />

somente depois a escrever.<br />

19<br />

“Língua e escrita são <strong>do</strong>is elementos distintos de signos; a única razão de ser<br />

<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> é representar o primeiro; o objeto lingüístico não se define pela<br />

combinação da palavra escrita e da palavra falada; esta última por si só,<br />

constitui tal objeto. Mas a palavra escrita se mistura tão intimamente com a<br />

palavra falada, da qual é a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel<br />

principal; terminamos por dar maior importância à representação <strong>do</strong> signo<br />

vocal <strong>do</strong> que ao próprio signo.” (1969, p.34).<br />

Contu<strong>do</strong>, a escrita para o senso-comum é ainda considerada mais importante <strong>do</strong> que<br />

a fala. Saussure (1969) aponta que isso se dá, pois, em primeira instância as imagens gráficas<br />

da ortografia nos impressionam mais facilmente <strong>do</strong> que os sons; e pelo fato de que ficam mais<br />

facilmente guardadas na memória <strong>do</strong> que as impressões sonoras. Depois por que se<br />

estabeleceu um código da escrita, em que se legitimou o uso da escrita através de livros de<br />

gramática, dicionários, etc. Nestes códigos a fala não entra em cena, somente ficam<br />

registradas e fixadas as normas da escrita. E finalmente por que quan<strong>do</strong> há divergência entre a<br />

maneira que uma palavra é pronunciada e sua ortografia, considera-se a escrita em detrimento<br />

da fala.<br />

Saussure (1969) nos mostra que existem <strong>do</strong>is sistemas de escrita somente, o<br />

ideográfico e o fonético; o primeiro é “representa<strong>do</strong> por um signo único e estranho aos sons<br />

de que ela se compõe. Esse signo se relaciona com o conjunto da palavra, e por isso,<br />

indiretamente, com a idéia que exprime.” (SAUSSURE, 1969.p.36) Como exemplo, temos o<br />

sistema de escrita japonês e chinês. O segun<strong>do</strong> diz respeito ao sistema que a maioria das<br />

línguas ocidentais se dispõe e tentam “reproduzir a série de sons que se sucedem na palavra.<br />

As escritas fonéticas são tanto silábicas como alfabéticas (...)” (SAUSSURE, 1969. p. 36). O<br />

autor a<strong>do</strong>tara como recorte de estu<strong>do</strong> o sistema “fonético” mais especificamente o alfabeto<br />

grego.<br />

Analisan<strong>do</strong> o sistema fonético grego Saussure (1969) percebe que essa “série de<br />

sons que se sucedem na palavra” não é tão simétrica nem tão pouco harmônica como se


supõe. O autor concluiu que isso se deve ao fato de que é mais fácil que a língua mude, pois<br />

fazemos uso dela o tempo inteiro e logo esta mais passível de modificações, mesmo que não<br />

intencionais, enquanto as mudanças na escrita são mais difíceis, pois como já dito<br />

anteriormente, esta é regida por regras afixadas, nas gramáticas, dicionários, etc. O autor<br />

exemplifica essa mudança no exemplo seguinte “o l palatal francês se converte em jod; os<br />

franceses pronunciam essuyer, éueyer, mouyer como essuyer, nettoyer; mas continuamos a<br />

escrever éveiller ,mouiller”.( SAUSSURE,1969. p. 38). E acrescenta ainda que:<br />

20<br />

“O que fixa a pronúncia de uma palavra não é sua ortografia, mas sua<br />

história. Sua forma, num da<strong>do</strong> momento, representa um momento da<br />

evolução que ela se vê forçada a seguir e que é regulada por leis precisas.<br />

Cada etapa pode ser fixada pela que precede. A única coisa a considerar, e a<br />

que mais se esquece, é a ascendência da palavra, sua etimologia.” (1969 p<br />

40-41).<br />

Contu<strong>do</strong>, para o autor essas mudanças fonéticas deveriam ser seguidas pelas<br />

mudanças na escrita, pois a função da escrita nada mais é <strong>do</strong> que a de representar a língua e<br />

este exemplo como um sem número de outros, é algo simplesmente estranho à língua, e o<br />

resulta<strong>do</strong> disto é “que a escrita obscurece a visão da língua (...) quanto menos a escritura<br />

representa o que deve representar, tanto mais se reforça a tendência de tomá-la por base (...)<br />

como se o signo gráfico fosse à norma.” (SAUSSURE, 1969, p.40).<br />

1.5- Valor Lingüístico e o Caráter Linear <strong>do</strong> Significante<br />

Para se entender o conceito de valor lingüístico é necessário, de acor<strong>do</strong> com<br />

Saussure (1969), que entendamos primeiramente <strong>do</strong>is elementos que através de seu<br />

funcionamento permitem que a língua se constitua como um sistema de valores, as<br />

idéias/pensamentos e os sons. As idéias nada mais são <strong>do</strong> que “(...) uma massa amorfa e<br />

indistinta (...) o pensamento é como uma nebulosa onde nada está necessariamente<br />

delimita<strong>do</strong>. Não existem idéias preestabelecidas, e nada é distinto antes <strong>do</strong> aparecimento da<br />

língua.” (SAUSSURE, 1969, p.130.). Enquanto os sons são “(...) uma matéria plástica que se<br />

divide por sua vez, em partes distintas, para fornecer os significantes <strong>do</strong>s quais o pensamento<br />

necessita.”( SAUSSURE,1969.p.130). Dessa maneira, a língua seria um elo entre pensamento<br />

e o som. Que pode ser representa<strong>do</strong> através da figura seguinte, em que a língua é ilustrada


pelos pontilha<strong>do</strong>s que marcam as subdivisões nos planos das idéias (A) e no plano <strong>do</strong>s sons<br />

(B).<br />

Fonte: SAUSSURE, p.131.<br />

Essa concepção nos mostra que é o conceito de arbitrariedade <strong>do</strong> signo que<br />

determina que a língua seja um sistema de valores relativo, pois percebemos que:<br />

21<br />

“Não só os <strong>do</strong>is <strong>do</strong>mínios liga<strong>do</strong>s pelo fato lingüístico são confusos e<br />

amorfos como a escolha que se decide por tal porção acústica para tal idéia é<br />

perfeitamente arbitrária. Se esse não fosse o caso, a noção de valor perderia<br />

algo de seu caráter, pois conteria um elemento de fora. Mas de fato, os<br />

valores continuam a ser inteiramente relativos, e eis porque o vínculo entre a<br />

idéia e som é radicalmente arbitrário (...) A coletividade é necessária para<br />

estabelecer os valores cuja única razão de ser está no consenso geral (...).”<br />

(SAUSSURE, p.132).<br />

Saussure (1969) postulou que o valor lingüístico, funcionaria como um sistema <strong>do</strong><br />

qual os elementos da língua dependem um <strong>do</strong>s outros, portanto sua significação e ou valor<br />

não pode ser dá em isola<strong>do</strong>. É através da relação que os elementos adquirem suas diferenças e<br />

também semelhanças. O signo tal como já trata<strong>do</strong> anteriormente, em que o significante<br />

reclama o significa<strong>do</strong>, como mostra a figura seguinte, pode erroneamente nos levar a pensar<br />

que faça parte de algo que adquire sua significação por si só, que seja resulta<strong>do</strong> somente da<br />

simples associação de significa<strong>do</strong>/significante.<br />

Fonte: SAUSSURE, p.133.


Contu<strong>do</strong>, esta visão é errônea, pois, “a língua é um sistema em que to<strong>do</strong>s os termos<br />

são solidários e o valor de um resulta tão somente da presença simultânea de outros”<br />

(SAUSSURE, 1969, p. 133). O autor exemplifica a questão comparan<strong>do</strong> o sistema de valores<br />

com um jogo de xadrez:<br />

22<br />

“Tomemos um cavalo; será por si só um elemento no jogo? Certamente que<br />

não, pois, na sua materialidade pura, fora de sua casa e das outras condições<br />

<strong>do</strong> jogo, não representa nada para o joga<strong>do</strong>r e não se torna elemento real e<br />

concreto senão quan<strong>do</strong> revesti<strong>do</strong> de seu valor e fazen<strong>do</strong> corpo com ele. “<br />

(SAUSSURE, p. 128).<br />

Portanto a significação só é dada através das relações de um elemento com outro. É<br />

necessário não somente que estejam linearmente dispostos e ou estrutura<strong>do</strong>s (vide caráter<br />

linear <strong>do</strong> significante), como também que sejam distintos uns <strong>do</strong>s outros, como ilustrará a<br />

figura seguinte:<br />

Fonte: SAUSSURE, p.133.<br />

Saussure (1969) propõe definir o signo não por aquilo que ele é, pois o valor de um<br />

signo não existe por si só, é adquiri<strong>do</strong> na sua relação e principalmente pela sua diferença com<br />

os outros termos; o autor define o signo por aquilo que ele não é. Analisemos a frase: A/ casa/<br />

é/ grande/ e/ bonita. Só nos é permiti<strong>do</strong> apreender o senti<strong>do</strong> desta frase, pois as palavras estão<br />

não somente linearmente ordenadas, mas principalmente por que o significante/ significa<strong>do</strong><br />

casa é diferente de bonita que por sua vez é diferente de grande e assim por diante. Ou ainda,<br />

o conceito de casa só significa casa, pois existe algo que não é conceitua<strong>do</strong> como casa.<br />

Com relação ao caráter linear <strong>do</strong> significante, Saussure (1969) postula que to<strong>do</strong><br />

significante desenvolve-se através de uma linha, ou seja, só é possível que funcione de<br />

maneira sucessiva. Não há como se pensar em <strong>do</strong>is significantes ao mesmo tempo. Pensemos<br />

da seguinte maneira: não pronunciamos duas palavras ao mesmo tempo, dizemos uma de cada<br />

vez; nem tão pouco se consegue escrever várias letras de uma só vez e em um mesmo espaço,<br />

escrevemos uma seguida de outra, em diferentes espaços. Essa impossibilidade de pensá-lo<br />

sem a linearidade, é devi<strong>do</strong> ao fato de que segun<strong>do</strong> o autor:


23<br />

“ O significante, sen<strong>do</strong> de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo,<br />

unicamente, e tem características que toma <strong>do</strong> tempo:a) representa uma<br />

extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão: é uma<br />

linha(...) Se, por exemplo, acentuo uma sílaba, parece que acumulo em um<br />

só ponto elementos significativos diferentes. Mas trata-se de uma ilusão: a<br />

sílaba e seu acento constituem apenas um ato fonatório(...)”(1969,p. 84)<br />

Disto resulta que o caráter linear e o valor lingüístico são complementares. Como já<br />

dito anteriormente só apreendemos os senti<strong>do</strong>s das frases devi<strong>do</strong> aos elementos estarem<br />

linearmente dispostos e por serem uns distintos <strong>do</strong>s outros.


2-PÓS-MODERNISMO E PÓS-ESTRURALISMO<br />

A teoria pós-moderna que invadiu o panorama cultural, artístico e filosófico em<br />

mea<strong>do</strong>s da década de 70, irrompeu-se já comemoran<strong>do</strong> o fim <strong>do</strong> pensamento modernista,<br />

critican<strong>do</strong>-o e consequentemente crian<strong>do</strong> novas teorias políticas e sociais. Contu<strong>do</strong>, a teoria<br />

pós-moderna ainda nos dias de hoje carece de uma unidade. Apresentan<strong>do</strong> variadas<br />

concepções e percepções <strong>do</strong>s diferentes autores a respeito <strong>do</strong> termo, como veremos adiante.<br />

Embora,o termo muitas vezes seja usa<strong>do</strong> de forma una, negligencian<strong>do</strong> a pluralidade e por<br />

vezes conflituosas posições a cerca <strong>do</strong> pós-modernismo. Best e Kellner (2001) propõem<br />

então, realizar a intricada tarefa de nos mostrar as mais expressivas visões conceituais da<br />

teoria pós-moderna, bem como suas posições centrais e limitações. Procuran<strong>do</strong> assinalar as<br />

principais rupturas e diferenças discursivas modernas e pós-modernas, em busca de identificar<br />

“algumas das palavras chaves dentro da família de conceitos pós-modernos” (BEST;<br />

KELLNER, 2001, p.2). 7<br />

2.1- Conceituações: Modernidade/Pós-Modernidade e Modernismo/Pós-Modernismo<br />

De acor<strong>do</strong> com Best e Kellner (2001) é preciso primeiramente fazer a distinção entre<br />

alguns termos utiliza<strong>do</strong>s no texto, afim de não confundi-los. Os autores utilizam o termo “pós-<br />

modernidade” para referirem à época que se segue a modernidade, enquanto o termo “pós-<br />

modernismo” é utiliza<strong>do</strong> para designar os “movimentos e artefatos no campo cultural, que se<br />

distinguem <strong>do</strong>s movimentos, textos e práticas modernistas” (BEST; KELLNER, 2001, p. 5).<br />

Feitas as distinções e ressalvas necessárias, os autores entram na discussão conceitual <strong>do</strong>s<br />

termos modernidade e pós-modernidade. Para eles a “modernidade é conceituada como o<br />

perío<strong>do</strong> da idade moderna e pós-modernidade, como o perío<strong>do</strong> que segue a modernidade”<br />

(BEST; KELLNER, 2001, p.2). 8 Entretanto, há diferentes conceituações à cerca <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da<br />

idade moderna, bem como também diferentes concepções <strong>do</strong> que caracterizaria a pós-<br />

modernidade. Para alguns autores como Weber e Marx, modernidade seria o perío<strong>do</strong> que<br />

7 Some of the key words within the family of concepts of the postmodern (Tradução nossa).<br />

8 Modernity conceptualized as the modern age and postmodernity as an epochal term for describing the period<br />

wich allegedly follows modernity.( Tradução nossa).<br />

24


sucede a idade média. Para outros como Descartes, é o perío<strong>do</strong> onde reina a razão e o<br />

progresso social. Para Best e Kellner:<br />

25<br />

“A modernidade entrou no cotidiano, através da disseminação da arte<br />

moderna, <strong>do</strong>s produtos da sociedade de consumo, das novas tecnologias (...).<br />

As dinâmicas das quais a modernidade produziu um novo mun<strong>do</strong> industrial e<br />

colonial, podem ser definidas como “modernização”-um termo que denota<br />

esses processos de individualização, secularização, industrialização,<br />

diferenciação cultural, mercantilização, urbanização, burocratização e<br />

racionalização, que junto constituíram o mun<strong>do</strong> moderno (...).A<br />

modernidade também produziu um conjunto de instituições disciplina<strong>do</strong>ras,<br />

práticas e discursos que legitimaram seus mo<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>minação e<br />

controle.”(2001.p.2-3). 9<br />

A pós-modernidade para os seus defensores é assinalada por uma sociedade na qual<br />

se tem como fator característico a alta tecnologia. Essa nova sociedade não mais tem a ver<br />

com aquela de antigamente marcada principalmente pela industrialização. Irrompe-se, então,<br />

uma nova sociedade nomeada pós-moderna. “Constituin<strong>do</strong> um novo estágio na história e uma<br />

nova formação sócio-cultural que requer novos conceitos e teorias.” (BEST; KELLNER,<br />

2001, p. 3). 10<br />

Surgem, portanto, os teóricos defensores da idéia de sociedade pós-moderna, os<br />

chama<strong>do</strong>s pós-modernistas. Braudillard, Lyotard, Harvey são alguns <strong>do</strong>s nomes de destaque,<br />

dentre esses novos teóricos. Esses autores preconizam que o desenvolvimento das novas<br />

tecnologias e as mudanças no sistema sócio-econômico estão forman<strong>do</strong> a sociedade pós-<br />

moderna.<br />

“Esses processos estão produzin<strong>do</strong> também aumento na fragmentação<br />

cultural, mudanças na experiência de espaço e tempo, e novos mo<strong>do</strong>s de<br />

experiência, subjetividade, e cultura. Essas condições promovem as bases<br />

econômicas e socioculturais para a teoria pós-moderna (...).” (2001, p.3). 11<br />

9<br />

Modernity entered everyday life through the dissemination of modern art,the produtcs of consumer society,new<br />

technologies. The dynamics by wich modernity produced a new industrial and colonial world can be described as<br />

modernization-a term denoting those processes of individualization, secularization,industrialization,cultural<br />

differentiantion,commodification,urbanization,bureaucratization, and rationalization wich together have<br />

constituted the modern world.Modernity also produced a set of disciplinary institutions,practices,and discourses<br />

wich legitimate its modes of <strong>do</strong>mination and control.(Tradução nossa).<br />

10<br />

Constitutes a novel stage of history and novel sociocultural formation wich requires nem concepts and<br />

theories.( Tradução nossa).<br />

11<br />

These processes are also producing incresead cultural fragmentation,changes in the experience of space and<br />

time, and new modes of experience,subjectivity,and culture. These conditions provide the socioeconomic and<br />

cultural basis for postmodern theory. ( Tradução nossa).


Contu<strong>do</strong>, há diferentes formas de interpretações, percepções e consequentemente,<br />

resulta<strong>do</strong>s que essa nova sociedade gera ou gerará, dentre os teóricos pós-modernos. Para<br />

Harvey, a pós-modernidade inaugura um novo estágio <strong>do</strong> capitalismo, um estágio ainda mais<br />

alto, onde este se expandirá por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Já na concepção de Baudrillard a pós-<br />

modernidade é vista em termos de produção de novas informações, tecnologias e<br />

conhecimento. Desta maneira, podemos perceber que o conceito de pós-modernidade mesmo<br />

que apresente alguns elementos comuns entre os autores, ainda sim é marca<strong>do</strong> por diferenças<br />

conceituais, que variam de autor para autor. (BEST; KELLNER, 2001).<br />

Nos mais varia<strong>do</strong>s campos, desde o cultural perpassan<strong>do</strong> pelo artístico ao teórico,<br />

Best e Kellner (2001) procuram fazer a distinção entre os principais pontos característicos <strong>do</strong><br />

modernismo e pós-modernismo. No campo cultural e artístico os autores escrevem que o<br />

modernismo é representa<strong>do</strong> principalmente pelo impressionismo, expressionismo, surrealismo<br />

e outras artes vanguardistas. Ao passo de que o pós-modernismo é marca<strong>do</strong> pelas “diversas<br />

formas estéticas e práticas que vieram depois e romperam com o modernismo” (BEST;<br />

KELLNER, 2001.p.4). 12 Dentre os principais expoentes culturais <strong>do</strong> pós-modernismo<br />

podemos citar: Warhol, Rauschenberg, Lynch, Ballard e John Cage. No campo teórico, as<br />

diferenças são marcadas principalmente pelas críticas <strong>do</strong>s teóricos pós-modernos em relação<br />

aos teóricos modernos, critican<strong>do</strong>:<br />

A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> em contrapartida uma visão teórica:<br />

26<br />

“Suas buscas e tentativas por uma fundação <strong>do</strong> conhecimento, por suas<br />

"universais” e “totalizantes” alegações, por sua arrogância em tentar fornecer<br />

verdades (...). (...) criticam a crença moderna de que a teoria reflete a<br />

realidade (...). Rejeitam os pressupostos modernos de coerência social e<br />

noções de causalidade.” (2001, p.4). 13<br />

“Perspectivista e relativista, argumentan<strong>do</strong> que as teorias no máximo<br />

proporcionam perspectivas parciais de seus objetos, e que todas as<br />

representações cognitivas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> são historicamente e linguisticamente<br />

mediadas. (...) a<strong>do</strong>tam uma posição em favor da multiplicidade, pluralidade,<br />

fragmentação e indeterminação.” (2001, p.4). 14<br />

12<br />

Postmodernis can describe those diverse aesthetic forms and pratices which come afther break with<br />

modernism.( Tradução nossa).<br />

13<br />

Is critized for its research for foundation of knowledge,for its universalizing and totalizing claims,for its hubris<br />

to supply apodictic truth.the modern belief that theory mirrors reality. Rejects modern assumptions of social<br />

coherence and notions of causality, and indeterminancy.( Tradução nossa).<br />

14<br />

Perspectivist and relativist positions that theoris at bets provide partial perspectives on their objects,and that all<br />

cognitive representations of the world are historically and linguistically mediated. taking in favour of<br />

multiplicity, pluracity,fragmentations and indeterminacy.( Tradução nosa).


2.2-Precedentes e Precursores <strong>do</strong> Pós-modernismo<br />

2.2.1- Pós-modernismo Latente<br />

O termo pós-modernismo tal qual o conhecemos, nem sempre fora usa<strong>do</strong> para<br />

referir-se ao conceito pelo qual o entendemos nos dias de hoje. Outrora, já fora diversas vezes<br />

utiliza<strong>do</strong>s em outros desígnios. Esta é apenas uma das descobertas realizadas por Best e<br />

Kellner (2001) que, em busca de uma clarificação sobre o termo, realizaram uma verdadeira<br />

“escavação” sobre as camadas de sua história, promoven<strong>do</strong> uma arqueologia 15 <strong>do</strong> termo. A<br />

utilização <strong>do</strong> termo pós-modernismo data de épocas bastante remotas, já no ano de 1870 como<br />

os autores apontam, um pintor chama<strong>do</strong> John Chapman, já utilizara o termo “pintura pós-<br />

modernista”, para referir-se a pinturas mais modernas e de vanguarda que as pinturas<br />

impressionistas francesas da mesma época (BEST; KELLNER, 2001).<br />

Alguns <strong>do</strong>s precursores <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> termo, que surgiam com uma sugestão de - pós-<br />

modernismo e pós-modernidade - para designar algo por vezes distante, por vezes próximo <strong>do</strong><br />

atual, foram revela<strong>do</strong>s através da investigação de Best e Kellner (2001). No ano de 1947, o<br />

historia<strong>do</strong>r inglês Arnold Toynbee cita<strong>do</strong> pelos autores surge com a noção de uma era pós-<br />

moderna no primeiro volume de seu livro intitula<strong>do</strong>: “A Study of History”. O livro constituiu-<br />

se ao to<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ze volumes e o termo pós-moderno é não somente a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> nos demais<br />

volumes, como também é subsequentemente trabalha<strong>do</strong> nos volumes VIII e IX,como<br />

aponta<strong>do</strong> pelos autores. Para Toynbee (1947), segun<strong>do</strong> Best e Kellner (2001), por volta <strong>do</strong><br />

ano de 1875, a sociedade ocidental adentrou em uma nova era denominada pós-moderna, que<br />

rompeu completamente com a era anterior que fora “(...) marcada por uma estabilidade social,<br />

racionalismo e progresso - uma típica concepção de uma burguesia de classe média, de uma<br />

era marcada por ciclos de crises, guerras e revoluções.” (BEST, KELLNER, 2001, p.6). 16 Ao<br />

passo de que está nova, passava a ser caracterizada pela descrença nos idéias iluministas e<br />

racionalistas. Best e Kellner (2001) chamam atenção para o fato de que faltou a Toynbee<br />

(1947) uma teoria sistematizada sobre o que ele escrevera sobre a pós-modernidade e<br />

15 Os autores esclarecem que o termo arqueologia é usa<strong>do</strong> de uma forma metafórica,não aquele usa<strong>do</strong> por<br />

Focault que sugere uma análise que articula as regras que constituí e governa um da<strong>do</strong> discurso. A arqueologia<br />

<strong>do</strong>s autores explora a história no termo na sua forma mais desigual dentro de diversos campos teóricos.<br />

16 Marked by social stability,rationalism,and progress, a typical burgeois middle-class conception of na era<br />

marked by cycles of crisis,war,revolution.(Tradução nossa).<br />

27


acrescentam ainda que: “os traços religiosos de sua análise seria totalmente estranho para com<br />

aqueles que trabalham com o conceito de pós-modernidade no cenário contemporâneo.”<br />

(BEST; KELLNER, p.6). 17<br />

Uma “avalanche” de novas conceituações sobre pós-modernidade e pós-modernismo<br />

inun<strong>do</strong>u o panorama da década de 50 invadin<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> os campos de estu<strong>do</strong>s histórico-<br />

sociológico da América <strong>do</strong> Norte. Neste cenário, Best e Kellner (2001) escrevem que surge<br />

Bernard Rosenberg (1957), argumentan<strong>do</strong> que a sociedade e a cultura não eram mais as<br />

mesmas e as mudanças eram cada vez mais crescentes e visíveis. Rosenberg (1957),de<br />

acor<strong>do</strong> com os autores, passou a utilizar o termo pós-modernismo para referir-se as novas<br />

condições de vida da sociedade de massa. (BEST; KELLNER, 2001).<br />

28<br />

“(...) uma certa uniformidade desenvolve em to<strong>do</strong> lugar. Clement Greenberg<br />

pode significativamente falar sobre uma cultura de massa universal (...) que<br />

une um residente de Johanesburgo a seu vizinho em San Juan, Hong Kong,<br />

Moscou, Paris, Bogotá, Sydney e Nova Iorque. Aborígines Africanos (...)<br />

dão um salto para fora de seu passa<strong>do</strong> primitivo - direto ao espetáculo onde<br />

(...) eles podem ser enfeitiça<strong>do</strong>s como o resto de nós. Primeiro envolvi<strong>do</strong><br />

pelas “commodities” o homem pós-moderno torna-se uma parte trocável no<br />

processo cultural. “(1957, p.4)”. 18<br />

Best e Kellner (2001) citam outro autor que escrevera dentro <strong>do</strong> mesmo perío<strong>do</strong><br />

supracita<strong>do</strong>, Peter Drucker, autor de “The Landmarks of Tomorrow: A report on the New<br />

Post-Modern World” (1957), escreve em seu livro que a sociedade caminhou sem ao menos<br />

se dar conta, nos últimos vinte anos para uma nova sociedade, a qual ele não consegue ainda<br />

atribuir um nome. Para Best e Kellner (2001), Drucker se assemelha bem ao estilo <strong>do</strong>s<br />

teóricos da “sociedade pós-industrial” bastante otimista em relação à nova era, o que ao final<br />

o próprio Drucker (1957) acaba por confirmar segun<strong>do</strong> os autores. Peter Drucker (1957)<br />

“acreditava que o mun<strong>do</strong> pós-moderno poderia ver o fim da pobreza e ignorância, o declínio<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>-nação, o fim das ideologias e um processo de modernização a nível mundial”<br />

(BEST, KELLNER, 2001, p.8). 19<br />

Escreven<strong>do</strong> a mesma época, porém, compartilhan<strong>do</strong> de uma visão um tanto quanto<br />

mais negativista que a de Drucker; o sociólogo Wright Mills (1959), cita<strong>do</strong> por Best e Kellner<br />

17 The religious overtones of his analysis would be totally foreign to those who took up the concept of<br />

postmodernity in the contemporary scene. (Tradução nossa)<br />

18 A certain sameness develops every where.Clement Greenberg can meaningfully speak of a universal mass<br />

culture wich unites a resident of Johannesburg with his neigbord in San Juan,Hong<br />

Kong,Moscow,Paris,Bogotá,Sydney na New york.African Aborígines, leap out of their primitive past-straight<br />

into the movie house where,they be mesmerized like the rest of us. First besiege with commodities,postmodern<br />

man becomes interchangeable part in the whole cultural process.( Tradução nossa)<br />

19 Believed that the postmodern world would see the end of poverty and ignorance,the decline of the nation<br />

state,the end of ideology,and a worldwide process of modernization.( tradução nossa).


(2001) a<strong>do</strong>ta uma conceituação de pós-modernidade em seu livro “The Sociological<br />

Imagination” (1959) em que escreve que a nova sociedade é um produto natural e histórico<br />

“Assim como a antiguidade fora seguida por séculos de ascendência Oriental (...) agora a<br />

idade moderna está sen<strong>do</strong> sucedida por um perío<strong>do</strong> de pós-modernidade” (MILLS, Wright,<br />

1959, apud, BEST; KELLNER, 2001, p.8) 20 . Contu<strong>do</strong>, Mills não cria um conceito claro <strong>do</strong><br />

que caracteriza e ou caracterizaria a pós-modernidade; ele apenas escreve sobre uma “nova<br />

realidade” a qual está mudan<strong>do</strong> nossa concepção de sociedade e que precisamos nos adequar<br />

pelo fato de estarmos ainda presos a certos padrões que não estão mais em vigor. Porém,<br />

Mills (1959), como escreve os autores, também assinala com uma certa carga de<br />

descontentamento que todas essas novas mudanças, estariam in<strong>do</strong> de encontro a um<br />

“aumento” da racionalização da sociedade, o que em sua fórmula, resulta na diminuição de<br />

liberdade da mesma. Wright Mills (1959), segun<strong>do</strong> Best e Kellner(2001) trabalha com a<br />

noção de sociedade de “rôbores satisfeitos” que segun<strong>do</strong> o próprio, pode nos levar ao aumento<br />

da servidão.<br />

Best e Kellner (2001) abrem um parênteses neste ponto para destacar que to<strong>do</strong>s os<br />

teóricos trata<strong>do</strong>s até esse ponto, seriam autores mais modernistas <strong>do</strong> que pós-modernistas,<br />

pois:<br />

29<br />

“realizam generalizações sociológicas, totalizam levantamentos de<br />

sociologia e história e tem a crença no poder da imaginação sociológica para<br />

iluminar a realidade social e para mudar a sociedade. Consequentemente, os<br />

usos precedentes <strong>do</strong> termo pós-modernismo nas teorias sociais e culturais<br />

não fizeram a mudança conceitual (...) que poderia caracterizar a virada<br />

teórica no pós-modernismo.” (2001, p.8). 21<br />

Ainda nesse contexto, o historia<strong>do</strong>r Geoffrey Barraclough, cita<strong>do</strong> por Best e Kellner<br />

(2001) desenvolve em seu: “An Introduction to Contemporary History” (1964), uma<br />

conceituação mais metódica sobre pós-modernidade, ainda que um pouco distante da sonhada<br />

“virada” teórica pós-modernista. Barraclough (1964),segun<strong>do</strong> os autores, argumenta que o<br />

mun<strong>do</strong> que vivemos hoje é consideravelmente e indubitavelmente diferente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

século passa<strong>do</strong>; e um mun<strong>do</strong> diferente requer uma estrutura também diferente. Barraclough<br />

(1964) preconiza que a história contemporânea, a qual ele intitula de era pós-moderna é<br />

20 Just like as antiquity was followe by several centuries of oriental ascendancy, so now the modern age is being<br />

suceeded by a post-modern period.( Tradução nossa).<br />

21 Given to sweeping sociological generalization,totalizing surveys of sociology and history and history,and<br />

belief in the power of the sociological imagination to iluminate social reality and to change<br />

society.Consequently,the early uses of the term postmodern in social and cultural theory had not the conceptual<br />

shifhts wich would come to characterize the postmodern tun in theory.( Tradução nossa).


completamente diferente da era que a precede, a era moderna, que por conseguinte é diferente<br />

da era medieval e assim sucessivamente. Para ele cada perío<strong>do</strong> histórico ou eras tem suas<br />

características próprias e despreza qualquer noção de continuidade histórica. Como<br />

características próprias da era pós-moderna Barraclough (1964) sugere que os traços<br />

delimita<strong>do</strong>res ou limita<strong>do</strong>res dessa era seriam os desenvolvimentos científicos e tecnológicos,<br />

a transição <strong>do</strong> individualismo para a sociedade de massa e os movimentos revolucionários <strong>do</strong><br />

terceiro mun<strong>do</strong>, contrários a expansão <strong>do</strong> capitalismo. (BEST; KELLNER, 2001.)<br />

2.2.2-Início da Sistematização Teórica<br />

Na década de 60, alguns autores começavam a trabalhar para conseguirem realizar a<br />

embaraçada tarefa de desenvolver a tão desejada mudança conceitual pós-moderna. Nas<br />

décadas anteriores, o termo pós-modernismo como já vimos anteriormente era usa<strong>do</strong> ou de<br />

maneira temerária e infundada, sem uma preocupação com uma sistematização teórica ou era<br />

utiliza<strong>do</strong> “para descrever novas formas de arquitetura ou poesia, não era usa<strong>do</strong> amplamente<br />

no campo da teoria cultural para descrever artefatos que opusessem ou que vieram depois <strong>do</strong><br />

modernismo, até a década de 60 e 70.” (BEST; KELLNER, 2001, p.9,10). 22<br />

As discussões começavam a ficar cada vez mais acaloradas entre os teóricos sociais<br />

que insistiam numa ruptura radical com a cultura modernista em detrimento <strong>do</strong> surgimento de<br />

uma nova cultura pós-moderna. Com o surgimento na década de 60 de novas expressões<br />

culturais, como a arte pop, que se destoava quase que por completo <strong>do</strong> modelo artístico<br />

moderno, ficava cada vez mais difícil negar o surgimento de senão algo “pós” – que se rompe<br />

e sucede seu precedente - ao menos deixava os defensores da modernidade em alerta para com<br />

os novos acontecimentos.<br />

30<br />

“Os anos 60 foi o perío<strong>do</strong> da arte pop, filmes de cultura, acontecimentos<br />

multimídia, shows e concertos de rock, e outras formas culturais (...) esses<br />

desenvolvimentos transcendem as limitações e formas anteriores como à<br />

poesia e o romance. Artistas em muitos campos começaram a misturar e<br />

incorporar mídia (...) e cultura popular em sua estética. Consequentemente, a<br />

nova sensibilidade era mais pluralista, menos séria e moralista que a<br />

modernista (...). (contra valores modernistas de seriedade, pureza e<br />

22 To describe new forms of archictecture or poetry,it was not widely used in the field of cultural theory to<br />

describe artifacts that opposed and/or came after modernism until 1960s and 1970s.( Tradução nossa)


individualidade a arte pós-moderna exibia uma despreocupação, diversão e<br />

um novo ecletismo” (2001 p.10-11). 23<br />

Nas décadas de 70 e 80 surgiam cada vez mais discursos de prismas pós-modernistas<br />

e que agora se estendiam pelos mais diversos campos, desde a arquitetura, seguin<strong>do</strong> pela<br />

literatura e chegan<strong>do</strong> ao filosófico. Despontan<strong>do</strong> como um grande expoente da concepção de<br />

literatura pós-moderna; insere-se: Hassan (1971, 1979, 1987),cita<strong>do</strong> por Best Kellner (2001).<br />

Ele insere os termos “anti-literatura” e “literatura <strong>do</strong> silêncio” e afirma ser uma contra-<br />

resposta à sociedade ocidental. No campo arquitetônico o nome de destaque, que sugere em<br />

seu livro: “The Language of Modern Architecture” (1977), é Charles Jenck, como aponta Best<br />

e Kellner(2001) que preconiza o surgimento de um novo estilo pós-moderno, onde<br />

pre<strong>do</strong>minaria uma forma e ou estilo “eclético”.<br />

No flanco <strong>do</strong>s teóricos que viam as mudanças com “bons olhos”, de acor<strong>do</strong> com Best<br />

e Kellner (2001), encontravam-se autores como: Susan Sontag (1972), Leslie Fiedler (1971),<br />

Ihab Hassan (1971), dentre outros. Para estes a cultura pós-moderna é: “opositora <strong>do</strong>s<br />

aspectos opressivos <strong>do</strong> modernismo (...). Expressan<strong>do</strong> sua insatisfação com a ficção e mo<strong>do</strong>s<br />

de interpretação modernista” (BEST; KELLNER, 2001.p.10). 24 Ao la<strong>do</strong> partidário da<br />

perspectiva negativista, que preconizavam que o surgimento da nova cultura pós-moderna,<br />

causaria, sobretu<strong>do</strong>, a decadência <strong>do</strong> racionalismo acaban<strong>do</strong> por culminar no anti-<br />

intelectualismo; encontravam-se: Irving Howe (1970), Harry Levin (1966) e George Steiner<br />

(1971). Este ainda mais hostil ao pós-modernismo <strong>do</strong> que aqueles. Steiner (1971) cita<strong>do</strong> pelos<br />

autores reconhecia, assim como os outros, que inegavelmente, a pós-modernidade havia<br />

toma<strong>do</strong> conta <strong>do</strong>s novos tempos, inditosamente, mas havia. E para ele a pós-modernidade era<br />

destrutiva, pois, em suma arruinava os valores da sociedade ocidental, promovia uma perda de<br />

identidade e centralidade geográfica bem como sociológica. Não tão entusiasta da idéia como<br />

o primeiro grupo, contu<strong>do</strong>, tampouco pessimista como o segun<strong>do</strong>, Amitai Etzioni (1968)<br />

realizou um discurso mais social, argumentan<strong>do</strong> que o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> pós-guerra com todas as<br />

mudanças que trouxera em especial as tecnológicas, inaugurou o perío<strong>do</strong> da pós-modernidade.<br />

Acrescentou ainda que essa tecnologia poderá ser usada tanto para o bem quanto para o mal<br />

23 The 1960s were the period of pop art,film culture,happenings,multi-media light shows and rock concerts,and<br />

other new cultural forms.This developments transcend the limitations of previous forms like poetry or the novel.<br />

Artists in many fields began mixing media and incorporating kitsch and popular culture into ther<br />

aesthetic,Consequently,the new sensibility was more pluralistic and less serious and moralistic than<br />

modernist.Against modernist values of seriousness,purity,and individuality,postmodern art exhibitis a new<br />

insouciance, a new playfuness,and a new eclectism.( Tradução nossa).<br />

24 Opposes her dissatisfaction with modernist fiction and modes of interpretation.( Tradução nossa)<br />

31


da humanidade. Etzioni (1968) era esperançoso de que fosse usada para o bem, na melhora da<br />

qualidade de vida social humana. Best e Kellner (2001) acrescentam que:<br />

2.3-Estruturalismo em cena<br />

32<br />

“Teóricos positivistas e negativistas estavam responden<strong>do</strong> a<br />

desenvolvimentos contemporâneos capitalistas (...) que estava entran<strong>do</strong> em<br />

um ciclo expansionista e produzin<strong>do</strong> novas commodities, abundância, e um<br />

mo<strong>do</strong> de vida mais afluente. Seus espetáculos de publicidade, planos de<br />

créditos, mídia e merca<strong>do</strong>rias estavam encorajan<strong>do</strong> a satisfação, o<br />

he<strong>do</strong>nismo e a a<strong>do</strong>ção de novos hábitos, formas culturais e estilos de vida<br />

que mais tarde seriam nomea<strong>do</strong>s de pós-modernismo. Alguns teóricos<br />

estavam celebran<strong>do</strong> a nova afluência e diversidade, enquanto outros estavam<br />

critican<strong>do</strong> a decadência <strong>do</strong>s valores tradicionais e o aumento das forças de<br />

controle social. Em suma, os discursos pós-modernos são respostas aos<br />

desenvolvimentos sócio-econômicos que por vezes eles nomeiam e por<br />

vezes obscurecem.” (2001, p.15). 25<br />

As décadas de 60,70 e 80 foram de intensa produtividade teórica, a sociedade pós-<br />

guerra e pós-industrial sentiam “na pele” as rápidas transformações no cotidiano social e<br />

cultural. Novas teorias se tornavam emergenciais para a interpretação e ou explicação da nova<br />

sociedade que agora presenciava o surgimento <strong>do</strong>s arranha-céus, <strong>do</strong>s shoppings centers, <strong>do</strong><br />

consumismo e da tecnologia. Ten<strong>do</strong> como pano de fun<strong>do</strong> esta nova realidade, a França<br />

desponta como palco principal para o desenvolvimento destas novas teorias (Best;<br />

Kellner,2001).<br />

Nos anos iniciais subseqüentes a Segunda Guerra, teorias como o marxismo e o<br />

existencialismo estavam em voga. Nos anos 60 essas teorias foram suprimidas pelo<br />

estruturalismo lingüístico. Teóricos como Lacan, Lévi- Strauss e Althusser passaram a utilizar<br />

e ou incorporar o estruturalismo lingüístico de Saussure nos campos da psicanálise,<br />

antropologia e teoria política respectivamente. Nas palavras de Barthes (1964) cita<strong>do</strong>s por<br />

Best e Kellner (2001), assinala que: “O objetivo de toda atividade estruturalista (...) é<br />

25 Both the positive and negative theorists were responding to developments in contemporary capitalism-thought<br />

rarely conceptualizing the as such-wich was going through na expansionist cycle and producing new<br />

commodities,abundance, and a more affluent lifestyle. Its advertising,credit plans,media, and the a<strong>do</strong>ption of<br />

new habits,cultural forms,and lifestyles which would be termed postmodern. Some theorists were celebrating the<br />

new diversity and affluence,with others were criticing the decay of traditional values or incresead powers of<br />

social control. In a sense,then,the discourses of the postmodern are responses to socioeconomic developments<br />

which they sometimes name and sometimes obscure.( Tradução nossa)


econstituir o objeto e por esse processo fazer-se conhecer as regras de funcionamento ou as<br />

funções desse objeto.” (BARTHES, 1964, apud, BEST; KELLNER, 2001. p.18). 26<br />

Best e Kellner (2001) afirmam que a grande inovação e ou mudança da nova<br />

abordagem teórica lingüística é a eliminação da prática humana e <strong>do</strong> próprio sujeito humano<br />

(que <strong>do</strong>minara até então as teorias sociais e humanas até aquele momento). O conceito de<br />

sujeito incorpora<strong>do</strong> nas filosofias de até então fora aboli<strong>do</strong> em detrimento da primazia <strong>do</strong>s<br />

sistemas de símbolos e <strong>do</strong> inconsciente “o sujeito em si é constituí<strong>do</strong> pelas relações dentro da<br />

língua, dessa maneira a subjetividade é vista como uma construção lingüística e social.”<br />

(BEST; KELLNER, 2001, p.19). 27<br />

33<br />

“As novas correntes estruturalistas(...) tem suas raízes na teoria semiótica<br />

de Ferdinand de Saussure (1857-1913). Argumentan<strong>do</strong> que a língua pode<br />

ser analisada em termos de sua presente lei de operação, sem referência as<br />

suas propriedades históricas e de evolução, Saussure interpreta o signo<br />

lingüístico consisti<strong>do</strong> de duas partes integralmente relacionadas: um<br />

componente acústico-visual, o significante e um componente conceitual, o<br />

significa<strong>do</strong>. A língua é um “sistema de signos que expressa idéias”, ou<br />

significantes, através de diferentes significa<strong>do</strong>s que produzem senti<strong>do</strong>.<br />

Saussure enfatiza duas propriedades da língua que são de crucial<br />

importância para entender os desenvolvimentos teóricos atuais. Primeiro,<br />

ele viu que o signo lingüístico é arbitrário (...). Segun<strong>do</strong>, ele enfatizou que<br />

o signo é diferencial, parte de um sistema de significa<strong>do</strong>s onde as palavras<br />

adquirem significação somente pela diferença <strong>do</strong> que não são.” (2001,<br />

p.19) 28<br />

26 The aim of all structuralistic activity, in the fields of both thought and poetry,is to reconstitute an object,and,by<br />

this process,to make known the rules of functioning,or functions,of this object.( Tradução nossa)<br />

27 The subject itself was constituted by its relations its relations within language by individual subjects,was<br />

determined by language was seen as a social and linguistic construct.<br />

28 The new structuralist currents were in part products of a linguistic turn which had roots in the semiotic theory<br />

of Ferdinand de Saussure( 1857-1913).Arguing that language can be analyzed in terms of its presents laws of<br />

operation, without reference to its historical properties and evolution, Saussure interprete the linguistic sign as<br />

comprised of two integrally related parts: an acoustic-visual component,the signifier,and a conceptual<br />

componet,the signified.Language is a system of signs that expresses ideas,or signifieds,through differing<br />

signifiers that produce meaning. Saussure emphasized two properties of language that are crucial importance for<br />

understanding contemporary theoretical developments. First,he saw that the linguistic sign was arbitrary,Second<br />

he emphasized that the sign is differential,part of a system of meanings where words acquire significance only<br />

by reference to what they are not.( Tradução nossa).


2.4- Pós-estruturalismo em cena<br />

2.4.1. A base para a crítica pós-estrutural em Nietzsche e Heidegger<br />

Best e Kellner (2001) enfatizam o papel de destaque que filósofos como Nietzsche e<br />

Heidegger tiveram sobre a constituição <strong>do</strong> pensamento pós-estrutural, através da crítica tecida<br />

sobre a modernidade. O ataque de Nietzsche a filosofia ocidental e de Heidegger a metafísica<br />

estimulou vários teóricos a questionar e consequentemente produzir novas bases e concepções<br />

filosóficas, que culminou na gênese das teorias pós-modernas e pós-estruturalistas.<br />

Nietzsche criticou energicamente os fundamentos da filosofia ocidental tais como os<br />

conceitos de: causa/efeito, sistema, sujeito, verdade e valores; a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> em contrapartida o<br />

perspectivismo “o qual não há fatos, somente interpretações, nem verdade objetiva, somente a<br />

construção de indivíduos e grupos”. (BEST; KELLNER, 2001, p.22). 29 Nietzsche imaginou<br />

uma nova forma de escrita e vida, sobretu<strong>do</strong> desejou fundamentar um novo modelo de<br />

filosofia. “Ele insistiu que toda língua é metafórica e que o sujeito é apenas um produto da<br />

língua e pensamento.(...) atacou as pretensões de razão e defendeu os desejos <strong>do</strong> corpo (...) a<br />

superioridade da arte sobre a teoria.(BEST;KELLNER,2001,p.22). 30 Nietzsche também<br />

considerava as concepções democráticas, liberais,racionalistas,dentre outras; provindas da<br />

modernidade e a própria modernidade em si um estágio de avança<strong>do</strong> declínio <strong>do</strong> homem,<br />

onde os instintos naturais são postos de la<strong>do</strong>.<br />

Heidegger (1977), também cita<strong>do</strong> pelos autores, não somente criticou como rejeitou<br />

a modernidade, juntamente com o racionalismo e humanismo frutos daquela árvore, bem<br />

como a metafísica ocidental. Heidegger (1977) preconizou que o racionalismo e seu desejo<br />

pela transposição <strong>do</strong> homem e da natureza dimanaria no que ele chamou de “esquecimento <strong>do</strong><br />

ser/natureza”. (BEST; KELLNER, 2001).<br />

29<br />

There are no facts,only interpretations,and no objective truths, only the constructs of groups and individuals<br />

groups.( Tradução nossa).<br />

30<br />

He insisted that all language was metaphorical and that the subject was only a product of reason and defended<br />

the desires of the body and the life-enhancing superiority of art over theory.( Tradução nossa).<br />

34


2.4.2- Contexto político<br />

Os acontecimentos políticos de maio de 68, como é conheci<strong>do</strong> contribuiu para a<br />

difusão e aceitação de novas idéias em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> ocidental, bem como aju<strong>do</strong>u a<br />

impulsionar o pensamento pós-moderno e pós-estrutural que estava em plena concernência<br />

com as reivindicações da sociedade, como assinala<strong>do</strong> por Best e Kellner (2001). Nos anos 60<br />

a França era governada pelo general De Gaulle e sua política era extremamente conserva<strong>do</strong>ra.<br />

A sociedade era retrograda, a homossexualidade era vista como uma <strong>do</strong>ença, as mulheres<br />

viviam sob a sombra de seus mari<strong>do</strong>s e os negros eram ti<strong>do</strong>s como inferiores. Os estudantes<br />

franceses decidiram então realizar uma greve em maio de 68, que rapidamente alcançou a<br />

adesão <strong>do</strong> resto da sociedade. Os acontecimentos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> “assinalaram o desejo por uma<br />

ruptura radical com as instituições políticas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e evidenciou o fracasso das<br />

instituições liberais”. (BEST; KELLNER, 2001, p.23). 31 A descrença no sistema de ensino<br />

acadêmico e consequentemente seu questionamento, também fora um <strong>do</strong>s acontecimentos<br />

marcantes <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Os estudantes criticaram a “produção de conhecimento como um meio<br />

de poder e <strong>do</strong>minação (...) que forçam a conformidade (...) compartimenta conhecimentos que<br />

são irrelevantes para existência real (...)” (BEST; KELLNER, 2001, p.23). 32 Nas palavras de<br />

Best e Kellner (2001) os acontecimentos desse perío<strong>do</strong> tiveram impacto na teoria pós-<br />

estruturalista na medida em que:<br />

35<br />

“A força das circunstâncias tornaram difícil de negar (...) o papel da<br />

história na experiência humana (...) as brigas políticas (...) <strong>do</strong>s pensa<strong>do</strong>res<br />

pós-estruturalistas que febrilmente tentaram combinar teoria e prática,<br />

escrita e política (...) mais atenção foi dada a subjetividade, diferença, e<br />

aos elementos marginais da cultura (...)houve intensos debates sobre como<br />

o sujeito é forma<strong>do</strong>(...)as multiplicidades de formas de poder na sociedade<br />

e no dia-dia.” (2001,p.24). 33<br />

31<br />

The upheaval signalled desires for a radical break with institutions and politics of the past and dramatized the<br />

failure of liberal institutions.( Tradução nossa).<br />

32<br />

The production of knowledge as a means of power and <strong>do</strong>mination,its enforced conformity,and its specialized<br />

and compartmentalized knowledge that are irrelevant to real existence.( Tradução nossa).<br />

33<br />

The force of circumstances made it difflicult to avoid conceptualizing the constituted role of history in human<br />

experiende,the political struggles, of the poststructuralist thinkers who feverishly attempted to combine theory<br />

and practice,wrting,politics. More attention was paid to subjectivity,difference,and the marginal elements of<br />

culture and everyday life.( Tradução nossa).


2.4.3- A crítica pós-estrutural<br />

A constituição da abordagem teórica pós-estrutural se inicia a partir da crítica aos<br />

pressupostos estruturalistas. Best e Kellner (2001) apontam os principais pontos da crítica<br />

pós-estruturalista ao estruturalismo que se deita em questões como: às aspirações cientificas<br />

destes, em que buscam “criar uma base cientifica para o estu<strong>do</strong> da cultura e trabalha pelos<br />

padrões modernos (...) de fundamento, verdade, objetividade, certeza e sistema.” (BEST;<br />

KELLNER, 2001.p.19). 34 Criticam também a idéia de que a mente tem uma estrutura<br />

universal e ingênita, bem como o “mito e outras formas simbólicas trabalhadas para resolver<br />

as inalteráveis contradições entre natureza e cultura.” (BEST; KELLNER, 2001, p.19). 35 A<br />

premissa estruturalista que confina o papel da língua a uma simples e pura estrutura fechada<br />

de oposições, também é duramente criticada. Os pós-estruturalistas chamam a atenção e<br />

também criticam o fato de que os estruturalistas não romperam completamente com a noção<br />

de conceito humanista, pelo fato de eles ainda trabalharem com a perspectiva da inalterável<br />

natureza humana. Outra critica é tecida no campo filosófico estrutural, pela sua tentativa de<br />

fundação <strong>do</strong> conhecimento e verdade.<br />

2.4.4- Proposições Pós-estruturalistas<br />

Os pós-estruturalistas constroem suas premissas teóricas em cima de uma<br />

perspectiva mais histórica “que vê diferentes formas de consciência, identidades, significação<br />

(...) como historicamente produzidas e por conseguinte varian<strong>do</strong> nos diferentes perío<strong>do</strong>s<br />

históricos.”(BEST;KELLNER,2001,p.20). 36 A teoria pós-estruturalista é estabelecida sob a<br />

égide da pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> significante sobre o significa<strong>do</strong>, pelo fato de que “o significa<strong>do</strong> é<br />

apenas um momento no processo de significação que nunca acaba, onde o senti<strong>do</strong> é produzi<strong>do</strong><br />

não em uma estável e referencial relação entre sujeito e objeto, mas (...) pelo papel<br />

34<br />

Created a scientific base for the study of cultural and work for the modern standard, of<br />

principles,truth,objectivity,sure and system.( Tradução nossa).<br />

35<br />

Myth and another symbolics forms works to set up the unchangeable contradiction between nature and<br />

culture.( Tradução nossa).<br />

36<br />

View wich sees different forms of consciousness,identities,signification,and so on as historically produced<br />

and therefore varying in different historical periods.( Tradução nossa).<br />

36


intertextual <strong>do</strong> significante.” (BEST; KELLNER, 2001, p.21). 37 Derrida (1973) cita<strong>do</strong> por<br />

Best e Kellner (2001) dá o nome de “disseminação” a esta produção de significação, nas<br />

palavras de Derrida (1973): “O senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> é uma implicação infinita, a referência<br />

indefinida de siginificante para significa<strong>do</strong>...força uma certa(...) questionabilidade que não dá<br />

descanso ao significa<strong>do</strong>(...)que sempre significa de novo e difere.”( DERRIDA,1973,apud,<br />

BEST;KELLNER,2001). 38<br />

Best e Kellner (2001) destacam o ponto de que fora Derrida (1973) que também<br />

criou o conceito de “metafísica da presença” que supostamente garante ao sujeito um acesso a<br />

realidade sem media<strong>do</strong>r. Derrida (1973) segun<strong>do</strong> os autores, afirma que a cultura e filosofia<br />

ocidentais são compostas de termos de oposições binárias metafísicas, tais como: fala/escrita,<br />

sujeito/objeto, bom/mal, razão/natureza, mulher/homem,dentre outras ; constroem uma<br />

hierarquia de valores que criam e ou estabelecem as verdades, mas também excluem,<br />

denigrem e inferiorizam os outros termos. Estes conceitos cria<strong>do</strong>s e trabalha<strong>do</strong>s por Derrida<br />

(1973) foram de crucial importância não só para o estabelecimento de uma filosofia pós-<br />

estruturalista, mas também influenciou muitos autores; que passaram a argumentar que uma<br />

desconstrução da filosofia moderna era necessária, bem como o estabelecimento de uma nova.<br />

No campo político, o pós-estruturalismo apresenta um discurso radical. Critican<strong>do</strong> formas<br />

políticas vigentes e reivindican<strong>do</strong> políticas vanguardistas concernentes com a teoria pós-<br />

estrutural.<br />

37 The signifier is only a moment in a never-ending process of signification where meaning is produced not in a<br />

stable,referential between object and subject,but only within the infinite,intertextual play of signifiers.( Tradução<br />

nossa).<br />

38 The meaning of meaning....Its force is a certain pure and infinite equivocality wich gives signified meaning<br />

and respite,no rest...its always signifies again and differs.( Tradução nossa).<br />

37


3-DERRIDA E A DESCONSTRUÇÃO<br />

O filósofo francês Jacques Derrida é ti<strong>do</strong> não somente como o grande nome <strong>do</strong><br />

pensamento pós-estrutural, mas também como um <strong>do</strong>s principais expoentes da filosofia <strong>do</strong><br />

último século. O conceito de “desconstrução” cria<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> pelo filósofo é a<br />

principal marca <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> de Derrida. As críticas tecidas pelo filósofo, as noções de<br />

metafísica logocêntrica 39 e principalmente ao estruturalismo lingüístico, é a égide sobre a qual<br />

seus pressupostos são fundamenta<strong>do</strong>s.<br />

Em seu paciente e complexo trabalho realiza<strong>do</strong> em Gramatologia (1973) e em A<br />

Escritura e a Diferença (1976) o filósofo desconstrutor surge com uma proposta filosófica que<br />

difere de todas as outras de até então. Através da crítica <strong>do</strong>s pressupostos supracita<strong>do</strong>s e <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de conceitos como o de escritura (écriture), oposições binárias, inversão e<br />

deslocamento- conceitos e termos os quais serão expostos e esmiuça<strong>do</strong>s no desenrolar deste<br />

capítulo- Derrida inaugura um novo mo<strong>do</strong> de pensar filosófico: o desconstruticionismo .<br />

3.1- Derrida e as críticas a Saussure<br />

Os pressupostos trata<strong>do</strong>s no Curso de Lingüística geral (1969) que acabou por instituir<br />

a lingüística moderna, como já vimos no capítulo de mesma intitulação, encontrou na obra <strong>do</strong><br />

filósofo francês- Jacques Derrida (1973)- suas críticas mais agudas. Em Gramatologia (1973)<br />

Derrida tece suas críticas ao pensamento saussuriano, mostran<strong>do</strong> as limitações, os perigos e as<br />

contradições <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong> lingüista genebrino.<br />

O ponto inicial da crítica derridiana é o fato de Saussure (1969) dar prioridade e<br />

enaltecer a phoné ou fala e reservar à escrita um caráter completamente marginal. Para este,<br />

“Língua e escrita são <strong>do</strong>is elementos distintos de signos; a única razão de ser <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> é<br />

representar o primeiro; o objeto lingüístico não se define pela combinação da palavra escrita e<br />

da palavra falada; esta última por si só, constitui tal objeto.” (SAUSSURE, 1969, p.34).<br />

39 Centramento da metafísica ocidental no significa<strong>do</strong>, que tem privilégio da proximidade com o logos,com a<br />

determinação metafísica da verdade – ei<strong>do</strong>s-(...)Um <strong>do</strong>s elementos básicos sobre o qual se construiu o<br />

pensamento ocidental. A metafísica atribuiu ao logos a origem da verdade <strong>do</strong> ser, inseparável da phoné-<br />

substância fônica, - que se confunde o ser como presença. (...) é um (pré) conceito que se instala com o<br />

platonismo.( SANTIAGO,Silviano(org), 1976,p.56).<br />

38


Derrida (1973) chama a atenção para o fato de o tratamento de caráter principal e central da<strong>do</strong><br />

à fala por Saussure (1969) seria um resgate da tradição de Platão e Aristóteles que reservara a<br />

escrita e ou escritura um caráter secundário. Derrida (1973) cita uma definição de Aristóteles<br />

que demonstra bem essa tradição: “os sons emiti<strong>do</strong>s pela voz, são símbolos <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s da<br />

alma e as palavras escritas os símbolos das palavras emitidas pela voz” (Aristóteles, apud,<br />

DERRIDA, 1973, p.13).Portanto, segun<strong>do</strong> essa tradição“ a voz é o que está mais próximo <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong>(...)o significante escrito seria sempre deriva<strong>do</strong>.Seria sempre técnico e<br />

representativo.”(DERRIDA,1973,p.14). O filósofo francês atribuiu a esse pensamento o papel<br />

de genitor <strong>do</strong> pensamento logocêntrico e acrescenta ainda que “(...) logocentrismo é também<br />

um fonocentrismo: proximidade absoluta da voz <strong>do</strong> ser, da voz e <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser, da voz e<br />

da idealidade <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.” (DERRIDA, 1973, p.14).<br />

Jacques Derrida (1973) procura mostrar por sua vez então, o quão perniciosa é a<br />

visão que relega a escritura a um papel secundário e o quanto têm-se a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> o logocentrismo<br />

em várias práticas ocidentais, principalmente na filosofia, sem ao menos percebermos.<br />

Derrida (1973) tenta também, dar uma outra visão ao papel da escritura, mostran<strong>do</strong> que ela<br />

não somente não é secundária, mas como a escritura tem excedi<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo à<br />

própria linguagem, e que por esse fato, torna-se-ia necessário considerar a existência de uma<br />

escritura primeira, uma arquiescritura 40 . Nas palavras de Derrida (1973):<br />

39<br />

“(...) o conceito de escritura começava a ultrapassar a extensão da<br />

linguagem. Em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s desta palavra, a escritura compreenderia a<br />

linguagem. Não que a palavra “ escritura” deixe de designar o significante<br />

<strong>do</strong> significante, mas aparece, sob uma luz estranha, que o “significante <strong>do</strong><br />

significante” não mais define a reduplicação acidental e a secundária<br />

decaída.(...) O significa<strong>do</strong> funciona aí desde sempre como um significante.”<br />

(1973,p.8).<br />

Saussure (1969) restringe seu escopo de estu<strong>do</strong> ao sistema de escrita fonético grego,<br />

desprezan<strong>do</strong> os demais. Derrida (1973) escreve que esta limitação é explicada por Saussure<br />

(1969) devi<strong>do</strong> ao caráter arbitrário <strong>do</strong> signo “A escritura sen<strong>do</strong> definida como “um sistema de<br />

signos” não há escritura “simbólica” (...), nem escritura figurativa (...) o conceito de escritura<br />

pictográfica ou de escritura natural seria contraditório para Saussure. (DERRIDA, 1973,<br />

p.40). Na visão de Derrida ( 1973):<br />

40 Escritura primeira, não no senti<strong>do</strong> de precedência histórica à palavra proferida, mas que antecede a linguagem<br />

falada e a escrita vulgar. (SANTIAGO,Silviano(org), 1976, p.11).


40<br />

“Se pensarmos na fragilidade agora reconhecida das noções de pictograma,<br />

de ideograma, etc, na incerteza das fronteiras entre as escrituras ditas<br />

pictográficas, ideográficas, fonéticas, medimos não só a imprudência da<br />

limitação saussuriana mas também a necessidade para a lingüística geral, de<br />

aban<strong>do</strong>nar toda uma família de conceitos herda<strong>do</strong>s da<br />

metafísica.”(1973,p.40).<br />

Uma outra crítica é tecida a Saussure (1969) pela afirmação de que a fala sofre com<br />

a escrita na medida em que a “escrita obscurece a visão da língua” (SAUSSURE, 1969, p.40).<br />

Em outras palavras,quan<strong>do</strong> a escrita muda à forma de uma palavra da escrita fônica e deixa de<br />

representar o que ela deve representar -a fala-(SAUSSURE,1969). Derrida (1973) o crítica<br />

indagan<strong>do</strong> qual seria o peca<strong>do</strong> da escrita contra a fala, por quê a necessidade de<br />

Saussure(1969) a protegê-la tanto, não mereceria ela ter também uma história?. O filósofo<br />

acrescenta ainda que, “enquanto se colocar a questão das relações entre a fala e a escritura,<br />

consideran<strong>do</strong> unidades indivisíveis “pensamento-som” a resposta já estará pronta. A escritura<br />

será “fonética”,será o fora, a representação exterior da linguagem e desse “pensamento-<br />

som”(DERRIDA,1973,p.38). Dessa maneira, Saussure (1969) define um “fora e dentro” da<br />

língua; o fora é a escrita e o dentro e ou interno é a fala. Disso deriva, segun<strong>do</strong> Derrida (1973)<br />

a criação de uma série de oposições por Saussure (1969) <strong>do</strong> tipo interno/externo,<br />

realidade/imagem, etc. O filósofo conclui:<br />

“(...) tal é a velha grade a que está entregue o desejo de desenhar o campo de<br />

uma ciência. (...) De uma ciência que não mais pode responder ao conceito<br />

clássico de episteme porque seu campo tem como originalidade- uma<br />

originalidade que ele inaugura- que a abertura da “imagem”, que nele se dá,<br />

aparece como a condição da realidade: relação que não mais se deixa pensar<br />

na diferença simples e na exterioridade sem compromisso da “imagem” e da<br />

“realidade”,<strong>do</strong> “fora” e <strong>do</strong> “dentro”(...).(1973,p.41).<br />

O lingüista de Genebra a<strong>do</strong>ta uma conceituação de signo substanciosamente criticada<br />

por Derrida (1973). Para Saussure (1969) a idéia da qual o signo tem um significa<strong>do</strong><br />

independente e ou a parte <strong>do</strong> significante, possuin<strong>do</strong> dessa maneira, um caráter transcendente<br />

não é aceita pelo filósofo. Uma vez que para Derrida (1973) não há significa<strong>do</strong> em si- que se<br />

encerre em si- cren<strong>do</strong> assim, que a função da língua é apenas ser o intermediário ou<br />

transporta<strong>do</strong>r de um significa<strong>do</strong> já existente a priori. E a qual cabe ao significante exercer tal<br />

função. Não que o filósofo dê a idéia de que não haja senti<strong>do</strong> algum na linguagem. Mas<br />

questiona o fato de se pressupor- leia-se por Saussure (1969)- que haja um significa<strong>do</strong><br />

primeiro e ou inato. Derrogar a idéia de um significa<strong>do</strong> que exista por si só, é eliminar a


noção de metafísica da presença (que pressupõe a presença e a origem); a idéia da presença 41<br />

de um senti<strong>do</strong>-que existe por si e preceda toda referência-. Dessa maneira, o significa<strong>do</strong> seria<br />

uma utopia e ou fantasia para o filósofo, haven<strong>do</strong> somente significantes, como veremos mais<br />

adiante. (DERRIDA, 1973).<br />

O conceito de linearidade <strong>do</strong> significante de Saussure (1969) o qual preconiza que<br />

“os significantes acústicos dispõem apenas da linha <strong>do</strong> tempo (...) sen<strong>do</strong> de natureza auditiva,<br />

desenvolve-se no tempo, unicamente e tem as características que toma <strong>do</strong> tempo (...)”<br />

(SAUSSURE, 1969, p.84). É de acor<strong>do</strong> com Derrida (1973) resultante de uma abordagem da<br />

qual o caráter linear <strong>do</strong> tempo-como linha contínua-que <strong>do</strong>minou to<strong>do</strong> um pensamento<br />

filosófico de Aristóteles a Hegel, se fundiu e acabou por dimanar no conceito descrito acima<br />

<strong>do</strong> lingüista, “um conceito <strong>do</strong> tempo pensa<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> movimento espacial ou <strong>do</strong> agora (...)<br />

conceito que determina toda a ontologia clássica.(...)é interior à totalidade da história <strong>do</strong><br />

ocidente”(DERRIDA,1973,p.88). Acrescenta ainda que a fonética é solidária a<br />

linearidade,uma vez que esta “(...)pode elevar a voz na medida mesma em que uma escritura<br />

linear pode parecer submeter-se a ele.”(DERRIDA,1973,p.88). Contu<strong>do</strong>, para o filósofo<br />

francês a regra da linearidade não pode jamais se querer soberana, pois “A “linha” representa<br />

apenas um modelo particular (...) o modelo enigmático da linha é, portanto, aquilo mesmo que<br />

a filosofia não podia ver enquanto tinha os olhos abertos sobre o dentro de sua própria<br />

história.” (DERRIDA, 1973, p.107). Dessa maneira, o filósofo nos abre a perspectiva de uma<br />

nova temporalidade, através de uma escritura não linear. “O acesso à pluridimensionalidade e<br />

a uma temporalidade des-linearizada não é uma simples regressão ao<br />

“mitograma” 42 .(DERRIDA,1973,p.109). O filósofo acrescenta que “o fim da escritura linear é<br />

efetivamente o fim <strong>do</strong> livro”(DERRIDA,1973,p.108).<br />

41<br />

“A conservação <strong>do</strong> pensamento pode agora ser concebida de outro mo<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

que nos livros, que ainda conservam (...), a vantagem de seu rápi<strong>do</strong><br />

manuseio. Uma vasta “magnoteca” de seleção eletrônica fornecerá, num<br />

futuro próximo, a informação pré-selecionada e restituída instantaneamente<br />

(...) a escritura (entendemo-la no senti<strong>do</strong> de inscrição linear) está<br />

verossimilmente convidada a desaparecer depressa, substituída por<br />

aparelhos-ditafone de impressão automática.” (1973, p.108).<br />

41 “A metafísica logocêntrica colocou a presença, designada por ei<strong>do</strong>s,arché,telos,energeia,ousia<br />

(essência,existência,substância,sujeito),aletheia (transcendentalidade,consciência,Deus,homem),como forma<br />

matriarcal <strong>do</strong> ser como identidade a si. O privilégio concedi<strong>do</strong> à consciência e ao presente vivo é solidário com o<br />

privilégio da phoné (fonocentrismo) e com a condenação da escritura como ameaça à presença,na medida em<br />

que se estabelece a não-presença. Considerada como ponto de origem, centro e fundamento de toda estrutura, a<br />

função da presença- o significa<strong>do</strong> transcendental- foi a de sempre orientar,equilibrar e organizar a<br />

estrutura(...).”(SANTIAGO,Silviano(org),1976,p.71).<br />

42 Escritura que soletra seus símbolos na pluridimensionalidade. (DERRIDA, 1973, p.106).


3.2-Escritura<br />

A compreensão <strong>do</strong> conceito de escritura é indispensável para o entendimento de toda<br />

obra derridiana. Entendamos, então, primeiramente porque o filósofo a<strong>do</strong>ta o termo escritura<br />

em detrimento de escrita, para depois compreendermos a noção de escritura e suas<br />

implicações.<br />

Derrida (1973) a<strong>do</strong>ta o termo escritura pelo fato de que o filósofo não se refere<br />

restritamente ao senti<strong>do</strong> de linguagem escrita. Como já cita<strong>do</strong> nos parágrafos acima, Derrida<br />

(1973) afirma que a escritura tem excedi<strong>do</strong> a própria linguagem, ela passa, consequentemente<br />

a ir para além da simples linguagem escrita; a escritura passa a abrangir a concepção de<br />

linguagem escrita e ir mais adiante, abrangen<strong>do</strong> o conceito de linguagem como um to<strong>do</strong>.<br />

Linguagem entendida como: “(...) ação, movimento, pensamento, reflexão, inconsciente,<br />

experiência, afetividade, etc.”. (DERRIDA, 1973, p10).<br />

Dessa maneira, o ponto de partida para o desenvolvimento da noção de escritura em<br />

Derrida (1973) é a questão da conceituação de escritura que abrange a própria linguagem.<br />

Uma vez que hoje já pode se falar em:<br />

42<br />

“ “ escritura “pictural, musical, escultural etc. (...) escritura atlética, (...) em<br />

escritura militar ou política. Tu<strong>do</strong> isso para descrever não apenas o sistema<br />

de notação que se anexa secundariamente a tais atividades, mas a essência e<br />

o conteú<strong>do</strong> dessas atividades mesmas. (...) o biólogo fala hoje de escritura e<br />

pro-gama, a respeito <strong>do</strong>s processos mais elementares da informação na<br />

célula viva. (...) to<strong>do</strong> o campo coberto pelo programa cibernético será campo<br />

da escritura.” (1973, p.11).<br />

O filósofo quer ir ainda além quan<strong>do</strong> fala de escritura, Derrida (1973) quer abolir<br />

com a idéia que tem-se vigora<strong>do</strong> na lingüística e de mo<strong>do</strong> mais geral na metafísica <strong>do</strong><br />

ocidente, que a escritura é mera representação da linguagem. Marginalizada por ser o<br />

“significante <strong>do</strong> significante”. Derrida (1973) quer recuperar o senti<strong>do</strong> positivo da escritura<br />

como sen<strong>do</strong> o “significante <strong>do</strong> significante”, não mais numa posição representativa e<br />

secundária, mas antes como a origem da própria linguagem, como já trata<strong>do</strong> anteriormente<br />

(vide tópico 3.1).<br />

““ significante <strong>do</strong> significante” descreve, (...) o movimento da linguagem:<br />

na sua origem (...) o significa<strong>do</strong> funciona aí desde sempre como um


3.2.1- Derrida em Freud: Sonho e Significante<br />

43<br />

significante. A secundariedade que se acreditava poder reservar à<br />

escritura,afeta to<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> em geral, afeta-o desde sempre, isto é,<br />

desde o início <strong>do</strong> jogo 43 .Não há significa<strong>do</strong> que escape mais ce<strong>do</strong> ou mais<br />

tarde, ao jogo das remessas significantes, que constitui a linguagem. O<br />

advento da escritura é o advento <strong>do</strong> jogo.”(1973,p.8).<br />

Derrida (1976) em “A escritura e a diferença (1976)” busca na psicanálise<br />

Freudiana, nas descobertas acerca <strong>do</strong> inconsciente e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como à escritura é vista pelo<br />

médico austríaco o apoio necessário para elevar a escritura <strong>do</strong> seu rebaixamento pelo<br />

fonocentrismo; uma vez que as descobertas sobre o inconsciente desestabilizam o pensamento<br />

metafísico ocidental- quan<strong>do</strong> o consciente deixa de ser prove<strong>do</strong>r de toda a significação e o<br />

inconsciente parece se servir de seus próprios significantes – Derrida (1976) também encontrará<br />

no trata<strong>do</strong> <strong>do</strong> inconsciente freudiano um melhor entendimento para seu “quase-conceito” de<br />

diferencia (differánce), uma vez que o mesmo se torna difícil dentro da lógica<br />

fonocêntrica.(DERRIDA,1976).<br />

A abertura de um parágrafo faz-se necessária nesse ponto, à medida que o “quase-<br />

conceito” de diferencia (differánce) nos é trazi<strong>do</strong> à luz <strong>do</strong> texto. A grafia da palavra “inventada”<br />

por Derrida (1976) “differánce” é propositalmente imaginada pelo filósofo. Ao francês a<br />

palavra que encontra significação nos dicionários é “différence” com e ao invés <strong>do</strong> a. Contu<strong>do</strong>,<br />

a pronunciação é a mesma. Em Santiago (1976) encontra-se a seguinte explicação:<br />

“Esta “discreta intervenção gráfica” (a em lugar de e) será significativa no<br />

decorrer de um questionamento da tradição fonocêntrica, <strong>do</strong>minante (...); o a<br />

de différance propõe-se como uma “marca muda”, se escreve ou se lê mas<br />

não se ouve. Este silêncio, funcionan<strong>do</strong> unicamente no interior <strong>do</strong> sistema da<br />

escritura fonética, “vem assinalar de maneira oportuna...que não existe<br />

escritura puramente e rigorosamente fonética.”( SANTIAGO,Silviano, 1976,<br />

p. 22).<br />

Derrida (1976) quer com a idéia de différance anular a origem (entendida como<br />

presença). Propon<strong>do</strong> a idéia de diferencialidade, ou seja, cada termo e ou elemento se estabelece<br />

em razão <strong>do</strong>s outros elementos que não sejam ele. Dessa maneira, a différance é o que torna<br />

43 “a saber a linguagem é uma linguagem finita- exclui a totalização: este campo é com efeito o de um jogo, isto<br />

é, de substituições infinitas no fechamento de um conjunto finito. “(DERRIDA,1976,p.244)


possível que “o movimento da significação só seja possível se cada elemento dito “presente”,<br />

aparecen<strong>do</strong> no cenário da presença, relacionar-se com algo que não seja ele próprio (...).<br />

”(SANTIAGO,Silviano,1976, p.22).<br />

Voltemos, então, ao inconsciente freudiano e a linguagem <strong>do</strong> sonho. Em “A<br />

escritura e a diferença (1976)” o filósofo afirma que a grande contribuição de Freud (1966),<br />

contra a metafísica logocêntrica, concerne ao que o médico escreveu sobre os sonhos. Sigmund<br />

Freud (1966), não procura apanhar um senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos que possa ser transcrito e ou<br />

traduzi<strong>do</strong> para a lógica metafísica, mas sim em perceber a “real” linguagem onírica,<br />

descreven<strong>do</strong>-a tal qual ela é, servin<strong>do</strong>-se de uma temporalidade, ou melhor, de uma não-<br />

temporalidade que só pode ser apreendida no universo <strong>do</strong> inconsciente e <strong>do</strong>s sonhos, estranha<br />

ao mun<strong>do</strong> das palavras fonéticas. (DERRIDA, 1976).<br />

O médico austríaco percebe que a linguagem <strong>do</strong> sonho difere completamente da<br />

linguagem falada “Parece-nos mais justo comparar o sonho a um sistema de escrita <strong>do</strong> que uma<br />

língua (...).” (FREUD, 1966, apud DERRIDA, 1967, p.213). A escritura que mais se<br />

assemelharia a escritura onírica seria o hieroglífico “A plurivocidade <strong>do</strong>s diferentes elementos<br />

<strong>do</strong>s sonhos tem seu equivalente neste sistema de escrita antiga (...)” (FREUD, 1966, apud<br />

DERRIDA, 1967, p.213). Derrida (1967) acrescenta ainda que “O sonha<strong>do</strong>r inventa sua própria<br />

gramática. Não há material significante ou texto prévio que ele contentasse em usar, mesmo que<br />

ele jamais se prive dele” (DERRIDA, 1967, p.196-197). Há ruptura desejada pelo filósofo e<br />

achada pelo médico encontra-se nesse ponto. A inexistência de uma referência lingüística<br />

qualquer, leva a conclusão por Derrida (1967) de que os sonhos produzem seus próprios<br />

significantes. O “significante <strong>do</strong> significante” deixa de ser secundário e passa a ser a própria<br />

origem. Dessa maneira, a idéia de significa<strong>do</strong>/significante como faces distintas de uma mesma<br />

folha, não faz mais senti<strong>do</strong>. Antes seria, “a escritura originária, se é que existe uma, deve<br />

produzir o espaço e o corpo da própria folha.” (DERRIDA, 1976, p.198).<br />

44<br />

“A experiência <strong>do</strong> inconsciente, antes <strong>do</strong> sonho que segue explorações<br />

antigas, não pede empresta<strong>do</strong>s, produz os seus próprios significantes, não os<br />

cria na verdade no seu próprio corpo mas produz a sua significância. Sen<strong>do</strong><br />

assim não se trata mais de significantes propriamente ditos.”( 1976,p.197).


3.3- Oposição Binária<br />

Na metafísica ocidental vigora-se uma hierarquização de conceitos, <strong>do</strong>s quais<br />

coexistem de forma conflitante uns com os outros. Conceitos como: “servidão/liberdade, (...)<br />

Norte/Sul, articulação/acento, consoante/vogal (...)” (DERRIDA, 1973, p.247). Uma vez que<br />

um <strong>do</strong>s conceitos ou pólos é sempre nota<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> mais importante, central e ou eleva<strong>do</strong>;<br />

ao outro reserva-se o lugar à margem.(DERRIDA,1973).<br />

Dessa maneira, Derrida (1973) assinala que a hierarquização conceitual é inerente e<br />

ou inseparável <strong>do</strong> sistema logocêntrico, basta recordamos que se relegou à escritura desde<br />

Aristóteles, um caráter exterior em detrimento <strong>do</strong> interior da fala, da verdade da phoné contra a<br />

representação da escritura. Uma vez que o caráter hierárquico é assumi<strong>do</strong>, verifica-se a<br />

imposição, logo se há uma imposição a uma certa “violência”. Onde um <strong>do</strong>s conceitos irá<br />

querer “reinar” sobre o outro. Derrida (1973) constata então que a oposição e ou conflito<br />

sempre estão presentes na constituição da metafísica ocidental. Uma metafísica que por sua vez<br />

é constituída de uma hierarquia de oposições em que favorece um <strong>do</strong>s termos em depreciação<br />

<strong>do</strong> outro, nunca sen<strong>do</strong> imparcial, e que governa toda a lógica e realidade desse sistema.<br />

(DERRIDA, 1973).<br />

3.4- <strong>Desconstrução</strong><br />

3.4.1- Inversão e Deslocamento<br />

45<br />

“A linguagem é uma estrutura- um sistema de oposições de lugares e de<br />

valores- e uma estrutura orientada. Digamos antes, brincan<strong>do</strong> um pouco, que<br />

sua orientação é uma desorientação. Poder-se-ia dizer uma polarização. A<br />

orientação dá a direção <strong>do</strong> movimento relacionan<strong>do</strong>-o à sua origem como<br />

seu oriente. E é desde a luz da origem que se pensa o ocidente, o fim e a<br />

queda, a cadência ou a caducidade, a morte ou a noite.”( 1973,p.265).<br />

Uma vez que compreendi<strong>do</strong> o caráter hierárquico que rege a estrutura de oposições<br />

binárias, suas características e implicações para o estabelecimento da metafísica ocidental e ou<br />

fonocêntrica. Derrida (1973,) irá, pois, propor uma inversão (renversement) <strong>do</strong>s conceitos


contrários- que não se tornará necessário para os propósitos <strong>do</strong> filósofo-para em seguida realizar<br />

um deslocamento. Efetuan<strong>do</strong>, dessa maneira, um duplo movimento de que se servirá a<br />

desconstrução. A abertura de um parágrafo é vital neste ponto, pois, tem o caráter de alertar ao<br />

fato de que o filósofo afirma não haver um “passo-a-passo” e ou meto<strong>do</strong>logia da desconstrução.<br />

(DERRIDA, 1976).<br />

Desconstruir os conceitos opostos implica, pois, com a inversão da hierarquia,<br />

inverter a ordem daquilo que é eleva<strong>do</strong> e ti<strong>do</strong> como centro na estrutura. Derrida (1976) escreve<br />

que: “a estrutura (...) sempre se viu (...) reduzida: por um gesto que consistia em dar-lhe um<br />

centro, em relacioná-la a um ponto de presença, a uma origem fixa. Esse centro tinha como<br />

função (...) organizar a estrutura.” (DERRIDA, 1976, p.230). Inverter resulta nada mais <strong>do</strong> que<br />

uma simples troca de lugar das oposições, colocan<strong>do</strong> o que era marginal ao centro e vice-versa.<br />

Esse movimento, apenas altera o lugar <strong>do</strong>s elementos conflitantes, a violência continuara a<br />

existir, com a única diferença de que, quem sofria a violência, agora é quem a pratica. Derrida<br />

(1976) afirma que essa é a “arapuca” que muitos filósofos já deixaram se prender. “(...) to<strong>do</strong>s<br />

estes discursos destrui<strong>do</strong>res e to<strong>do</strong>s os seus análogos estão apanha<strong>do</strong>s numa espécie de<br />

círculo.”(DERRIDA,1976,p.233).<br />

46<br />

(...) reversement- esse primeiro movimento consiste em desrecalcar o<br />

dissimula<strong>do</strong> e inverter a hierarquia das oposições.(...).A necessidade desse<br />

movimento é justamente marcar a hierarquia das oposições.(...) apenas com<br />

esse movimento permanece-se no campo que ser quer desconstruir,assegurase<br />

o <strong>do</strong>mínio das contradições,mesmo porque, diz Derrida, não se trata de<br />

opor um grafismo a um logocentrismo,nem, em geral nenhum centro ao<br />

outro.Daí a necessidade de um outro<br />

gesto(...).”(SANTIAGO,Silviano(org),1976,p.77).<br />

O outro gesto e ou movimento é o deslocamento ou descentramento. Esse movimento<br />

é necessário para pensarmos para além da estrutura em vigor. Em verdade, no momento em que<br />

um conceito é eleva<strong>do</strong> e o outro em que outrora era o que se elevava agora se vê rebaixa<strong>do</strong>, já<br />

nesse instante permiti-nos que pensemos diferentemente <strong>do</strong> que pensávamos quan<strong>do</strong> a ordem<br />

não fora invertida. Quan<strong>do</strong> se tira o “significante <strong>do</strong> significante” da secundariedade, através da<br />

inversão e posteriormente <strong>do</strong> deslocamento e o coloca como não sen<strong>do</strong> a margem <strong>do</strong> que estava<br />

em torno <strong>do</strong> centro (o significa<strong>do</strong>). Não há mais a idéia de significa<strong>do</strong>/significante. Há somente<br />

significantes que repetem os significantes uma vez que não existem mais significa<strong>do</strong>s, pois, o<br />

que era significa<strong>do</strong> é agora um significante. Dessa maneira, não estamos mais sen<strong>do</strong> regi<strong>do</strong>s<br />

pela lógica da estrutura de antes. Deu-se então a desconstrução <strong>do</strong> texto.( DERRIDA,1973).


47<br />

“A partir de uma leitura desconstrutora(...),observamos que o significa<strong>do</strong> não<br />

possui mais um lugar fixo (centro) ,mas,sim,passa a existir enquanto<br />

construção substitutiva que, na ausência de centro ou de origem,faz com que<br />

tu<strong>do</strong> se torne discurso(...).Dessa forma,eliminan<strong>do</strong>-se qualquer referência a<br />

um centro, a um sujeito, e não mais privilegian<strong>do</strong> aspecto algum sob o<br />

disfarce da “origem”, a atividade interpretativa,com base na polissemia(...)<br />

vai permanecer sempre incompleta,ou (...) nunca pretenden<strong>do</strong> chegar a<br />

esgotar o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> objeto-texto na sua<br />

totalidade.”(SANTIAGO,Silviano(org),1976,p.16).<br />

Dessa maneira, desconstruir não significa negar por completo o que se pretende<br />

relativar, mas sim aceitar até um determina<strong>do</strong> ponto o que pretende desconstruir, é necessário<br />

um ponto de referência, para que se possa realizar a desconstrução. No exemplo acima, Derrida<br />

(1973) aceita a oposição binária significa<strong>do</strong>/significante, até o momento em que ele a<br />

desconstrói. O filósofo não quer negar apenas - por puro e simples prazer algo- mas<br />

sim,realizar um descentramento estrutural,pois como já vimos anteriormente,na sociedade as<br />

dicotomias sempre acabam por privilegiar um termo em detrimento <strong>do</strong> outro. O que Derrida<br />

(1973) realiza pois, com a desconstrução é valorizar aquilo que está a margem em um primeiro<br />

momento, mostran<strong>do</strong> toda a contradição <strong>do</strong> que se pretendia sustentar, uma vez que como<br />

Derrida (1973) preconiza, nada pode se querer completo e sempre está repleto de incoerências.E<br />

uma vez que a dicotomia é invertida ela é exposta as suas contradições inerentes.


4- WALKER E A DICOTOMIA INSIDE/OUTSIDE NAS RELAÇÕES<br />

INTERNACIONAIS<br />

As Relações Internacionais e suas teorias são imbuídas de conceitos empresta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

campo maior da teoria política. A teoria política por sua vez toma de empréstimo conceitos <strong>do</strong><br />

pensamento moderno. O resulta<strong>do</strong> patente é a constituição de uma disciplina e ou teoria de<br />

Relações Internacionais que se inaugura com uma série de conceitos epistemológicos e<br />

meto<strong>do</strong>lógicos já da<strong>do</strong>s pela teoria política moderna e primariamente pela filosofia moderna.<br />

(WALKER, 1993).<br />

Dessa maneira, divisamos que não é fortuitamente que conceitos e ou termos como:<br />

Esta<strong>do</strong> racional, a Anarquia <strong>do</strong> sistema internacional e a existência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> soberano fazem<br />

parte <strong>do</strong> léxico que constitui as Relações Internacionais, muito pelo contrário, Descartes e a<br />

racionalidade <strong>do</strong> indivíduo, Hobbes e a guerra de to<strong>do</strong>s contra-to<strong>do</strong>s e consequentemente a<br />

abdicação <strong>do</strong>s direitos em prol de um soberano respectivamente estão na origem deste e<br />

outros conceitos da disciplina. É sobre essa prática moderna que vigora nas relações<br />

internacionais que Walker (1993) nos alertará, e posteriormente problematizara a dicotomia<br />

<strong>do</strong> moderno conceito de soberania/anarquia ou inside/outside.<br />

4.1- As Relações Internacionais<br />

4.1.1- Mitos de Origem<br />

A problemática à cerca de quan<strong>do</strong> de fato se deu o início das relações internacionais,<br />

encontra respostas em três tradições distintas sobre a questão. A primeira hipótese ou tradição<br />

preconiza que as relações internacionais tiveram seu início no perío<strong>do</strong> das cidades-esta<strong>do</strong>s<br />

gregas, a segunda afirma que só se pode falar de relações internacionais a partir <strong>do</strong><br />

renascimento italiano, uma terceira e última propala a idéia de origem das relações<br />

internacionais mais tardiamente, somente no século XVIII com a formação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

48


modernos. Walker (1993) escreve que essas três tradições e suas reivindicações de tentar<br />

fornecer o ponto inicial das relações internacionais, não passam de mitos de origem e que são<br />

apenas convenientes para os teóricos de relações internacionais. “(...) uma conveniência<br />

prática está sempre sujeita a se transformar em um poderoso mito de origem” (WALKER,<br />

1993, p.27). 44 Uma vez que, não se a<strong>do</strong>tar nenhum destes mitos deixa lacunas que não são<br />

aceitáveis e ou quistas na teoria. “(...) a simples história de vida antes das relações<br />

internacionais-uma história de ausência contra aquela de presença das (...) relações<br />

internacionais (...)- tem se torna<strong>do</strong> implausível” (WALKER,1993,p.89). 45<br />

4.1.2-A Teoria Realista como apagamento das diferenças<br />

A teoria realista constrói sua tradição em cima de escritos de pensa<strong>do</strong>res como<br />

Thommas Hobbes, Jean-Jacques Rosseau, Tucídides e Maquiavel. Autores que não<br />

escreveram sobre o tema e nem sequer tencionaram, uma vez que o próprio conceito de<br />

internacional à época destes escritores era inexistente. Contu<strong>do</strong>, a teoria realista no anelo da<br />

construção de sua tradição não se importará- não inocentemente- com esta e outras questões,<br />

mas antes irá utilizar e ressaltar as parecenças daqueles autores em prol de sua constituição.<br />

(WALKER, 1993).<br />

Dessa maneira, o resgate e a deificação de textos clássicos de autores como os cita<strong>do</strong>s<br />

acima, estão na essência- mais <strong>do</strong> que “estar”, “são” a própria essência- da teoria realista.<br />

Walker (1993) escreve que “(...) mais <strong>do</strong> que qualquer outro (...) é o nome de Maquiavel que<br />

se tornou o símbolo <strong>do</strong> que é a tradição das Relações Internacionais.” (WALKER, 1993,<br />

p.30). 46 A despeito de quaisquer e ou mesmo de todas as discrepâncias <strong>do</strong> pensamento de<br />

Maquiavel em relação ao realismo, como a questão da temporalidade, a qual o autor trabalha;<br />

Maquiavel estava preocupa<strong>do</strong> com a questão da polis, com a questão interna e não com as<br />

relações entre Esta<strong>do</strong>s, uma vez que o mesmo nem existia. “(...) os seus pressupostos são<br />

apaga<strong>do</strong>s em favor das asserções de como eles to<strong>do</strong>s articularam verdades essenciais sobre a<br />

44 A practical convenience is always liable to turn into a powerful myth of origin.( Tradução nossa).<br />

45 A simple story of life before international relations- a story of absence against which the presence of<br />

contemporary international relations can be defined-has become quite implausible.( Tradução nossa).<br />

46 More tha almost anyone,it is the name of Machiavelli that has come to symbolise what the tradition of<br />

international relations theory is all about.(Tradução nossa).<br />

49


mesma e imutável realidade trágica: o eterno jogo das relações entre Esta<strong>do</strong>s” (WALKER,<br />

1993, p.92). 47<br />

50<br />

“Li<strong>do</strong> através de um paradigma realista, ele é imediatamente reduzi<strong>do</strong> a<br />

fórmulas instantâneas- sobre a prioridade <strong>do</strong> poder sobre a ética, sobre a<br />

necessidade da violência (...) nas relações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, sobre os fins<br />

justifican<strong>do</strong> os meios (...) o nome de Maquiavel indica como as alegações<br />

realistas são intricadamente cheias de textualizações,reificações,idealizações<br />

e mistificações.” (1993,p.34).<br />

Dessa forma, Walker (1993) mostrará que é o mo<strong>do</strong> de leitura ou interpretação que<br />

regera a maneira pela qual um autor é coloca<strong>do</strong> dentro ou fora, como ícone ou como crítico de<br />

uma certa teoria. O autor escreve que uma releitura-não mais apagan<strong>do</strong> as diferenças e<br />

ressaltan<strong>do</strong> as similaridades-de Maquiavel pode mostrar o quão incoerente é se a<strong>do</strong>tar e ou<br />

inserir Maquiavel dentro <strong>do</strong> paradigma realista.<br />

“Maquiavel aparece como (...) um codifica<strong>do</strong>r de máximas para o tirano, o<br />

inimigo da moralidade. Nesta forma, ele é famoso, mas sem muita<br />

importância teórica. Uma análise mais profunda reconhece um sem número<br />

de tensões que arruína esta leitura, apenas pela diferença entre o Príncipe e<br />

outros escritos, e a distinção entre virtù e maldade (...).” (1993, p.109).<br />

A teoria realista tende não só a apagar as dessemelhanças, mas também a estabelecer<br />

uma espécie de continuidade da tradição. Dessa maneira, o pensamento realista segue uma<br />

ordem de evolução linear <strong>do</strong> qual segue de Tucídides à Carr. “O diálogo eterno torna-se um<br />

monólogo existencialista, a despeito <strong>do</strong> número das figuras teatrais-<br />

Tucídides,Maquiavel,Hobbes,Rosseau,Hegel,Morgenthau,Carr-são convida<strong>do</strong>s a ler o script”<br />

(WALKER,1993,p.32). O recurso <strong>do</strong> apagamento das diferenças se faz necessário na<br />

manutenção <strong>do</strong> pensan<strong>do</strong> desta linha evolutiva também. Walker (1993) acrescenta ainda que:<br />

“(...) o realismo político pode ser entendi<strong>do</strong> mais como um complexo terreno de um quebra-<br />

cabeça filosófico e contradições, <strong>do</strong> que uma tradição banal que se estica de Tucídides a<br />

Morgenthau. (...)” (WALKER, 1993, p.79).<br />

47 They are caught and erased in favour of assertions about how they all articulate essential truths about the<br />

same enchanging and usually tragic reality:the eternal game of relations between states.( Tradução nossa).


4.1.3- A Modernidade e suas implicações para as relações internacionais<br />

A era moderna ou modernismo estabeleceu parâmetros sobre a forma de pensamento<br />

social como um to<strong>do</strong>; oferecen<strong>do</strong> novos conceitos e dinâmicas. “(...) a modernidade não<br />

somente como uma era de rápidas transformações político-sociais, econômicas (...) mas<br />

também de uma nova consciência de temporalidade e contingência de especificas experiências<br />

modernas” (WALKER, 1993, p.9). 48<br />

O fenômeno da modernidade é particularmente importante para as relações<br />

internacionais, não somente porque neste perío<strong>do</strong> ou contexto se insere o surgimento <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> moderno 49 , mas antes mesmo, e mais consideravelmente, porque transmite a tradição<br />

teórica das Relações Internacionais valores e conceitos modernos como o iluminismo 50<br />

“modernidade usualmente refere a uma forma de vida associada com a emergência das (...)<br />

subjetividades e precipícios deixa<strong>do</strong>s por Descartes (...) e reifica<strong>do</strong>s na caracterização popular<br />

da razão iluminista.” (WALKER, 1993, p.9) 51 ; propaga também quais valores devem ser<br />

considera<strong>do</strong>s centrais no pensamento social “o racionalismo que tem <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> o<br />

“pensamento ocidental” (...) tem provi<strong>do</strong> os critérios mais fundamentais para a distinção entre<br />

acerto e erro, realidade e ilusão, belo e feio ou bom e mal” (WALKER, 1993, p.113) 52 ; e<br />

ainda estabelece a noção de tempo-espaço e <strong>do</strong> “aqui e lá” que dimana nas relações<br />

internacionais em forma <strong>do</strong> conceito de soberania. “(...) a resolução moderna das relações<br />

espaço-temporais são expressas no princípio de soberania <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que implica na distinção<br />

fundamental entre um local autêntico de política dentro e um mero espaço de relações entre<br />

48 The theme of modernity as an era not only of rapid sócio-political,economic and technological transformations<br />

but also of a new consciouness of temporality and the contigency of specifically modern experiences.( Tradução<br />

nossa).<br />

49 Os trata<strong>do</strong>s de Westphália reconheceram explicitamente uma sociedade de Esta<strong>do</strong>s fundada no princípio da<br />

soberania territorial, não intervenção nos assuntos internos das outras unidades soberanas e a independência <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s, detentores de direitos jurídicos iguais a seres respeita<strong>do</strong>s pelos demais membros. (SARFATI, 2005,<br />

p.13). O trata<strong>do</strong> de Westphália de 1648 serve como uma demarcação crucial entre uma era que ainda era<br />

<strong>do</strong>minada por reivindicações de universalismo religioso e autoridade hierárquica e uma era de competição<br />

secular e cooperação entre comunidades políticas autônomas. (WALKER, 2003, p.90).<br />

50 A linha filosófica responsável pelo empenho de se estender a crítica e o guia da razão em to<strong>do</strong>s os campos da<br />

experiência humana. (ABBAGNANO, 1962, p.509).<br />

51 Modernity usually refer to a form of life associated with the emergence of those autonomous subjectivities adn<br />

unbridgeable chasms charted by Descartes, and reified in popular characterisations of Enlightment reasom.<br />

52 Western thought has provided the most fundamental criterion for distinguishing between truth and error,reality<br />

and illusion,beauty and ugliness,or good and evil.( Tradução nossa).<br />

51


Esta<strong>do</strong>s” (WALKER, 1993, p.20). 53 Esta noção será a mais importante em termos de<br />

<strong>influência</strong> <strong>do</strong> pensamento moderno na disciplina de Relações Internacionais, uma vez que é<br />

ela quem ditara a noção de inside-outside, como veremos no desenrolar das páginas deste<br />

capítulo.<br />

4.2- A dicotomia inside/outside<br />

52<br />

“(...) está se tornan<strong>do</strong> incrivelmente claro as regras e sobre como tem si<strong>do</strong><br />

possível falar de (...) discursos sobre limites e perigos, sobre as supostas<br />

fronteiras da possibilidade política no espaço e no tempo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

moderno, teorias de Relações Internacionais expressam e afirmam os<br />

horizontes necessários para a imaginação da política moderna. Felizmente,<br />

os horizontes necessários da imaginação da política moderna são ambos<br />

espacialmente e temporalmente contingentes.” (WALKER, 1993, p.6). 54<br />

As relações internacionais só se sustentam, segun<strong>do</strong> Walker (1993), a partir <strong>do</strong><br />

momento em que se estabelece a dicotomia inside/outside, ou seja, as relações internacionais<br />

só existem por que se nutre a idéia de que de fato exista algo que está dentro e algo que esteja<br />

fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Como conseqüência <strong>do</strong> que está inside e outside <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> irrompe uma série<br />

de conceitos como o de soberania e anarquia.<br />

“Inside/outside forma uma divisão dialética, a geometria óbvia que nos cega<br />

tão logo quanto a trazemos para jogar nos <strong>do</strong>mínios metafóricos. Tem a<br />

severidade das dialéticas <strong>do</strong> sim e <strong>do</strong> não, da qual decide tu<strong>do</strong>. Se não<br />

tomarmos cuida<strong>do</strong>, ela fornece as bases que governam to<strong>do</strong> o pensamento<br />

sobre positivo e negativo.” (BACHELARD, Gaston, apud, WALKER, 1993,<br />

p.1). 55<br />

Embora, esses conceitos pareçam para o senso-comum naturais, atemporais e<br />

imutáveis, o autor divisará que não é essa a verdadeira estória, em verdade, estes conceitos<br />

53 The early-modern resolution of all spatio-temporal relations expressed by the principle of sovereingty implies<br />

a fundamental distinction between a locus of authentic politics within and a mere space of relations between<br />

states.( Tradução nossa).<br />

54 Is to become increasingly clear about the rules under which it has been deemed possible to speak about the<br />

rules under which it has been possible to speak about politics at all. As discourses about limitis and<br />

dangers,about the presumed boundaries of political possibility in the space and time of the modern state,theories<br />

of international relations express and affirm the necessary horizons of the modern political imagination.<br />

Fortunately,the necessary horizons of the modern political imagination are both spatially and temporally<br />

contingent.( Tradução nossa).<br />

55 Outside and inside form a dialetic of division,the obvious geometry of wich blinds us as soon as we bring into<br />

play in metaphorical <strong>do</strong>mains. It has sharpness of dialetics of yes na no, wich decides everytihng. Unless one is<br />

careful,it is made into a basis of images tha govern all thoughts of positive and negative.( Tradução nossa).


são construções ontológicas e históricas que acabaram por serem incorporadas como a única<br />

verdade absoluta e suprema. A realidade <strong>do</strong> sistema de Esta<strong>do</strong>s modernos nos parece ser a<br />

única racionalidade exeqüível. Contu<strong>do</strong>, o mun<strong>do</strong> não foi sempre assim, desde sua gênese,<br />

como se possa primariamente e pressurosamente inferir. A construção destes conceitos se deu<br />

no tempo- <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s modernos e a partir da consideração <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> o principal<br />

ator 56 das relações entre os Esta<strong>do</strong>s - e como tu<strong>do</strong> que se dá no tempo é passível de mudança,<br />

estes conceitos podem ser não ti<strong>do</strong>s mais como única realidade divisível, como veremos mais<br />

adiante. (WALKER, 1993).<br />

53<br />

“Era uma vez, o mun<strong>do</strong> não era como é. O modelo de exclusão e inclusão<br />

que agora tomamos como verdades são inovações históricas. O princípio de<br />

Esta<strong>do</strong> soberano é a clássica expressão deste modelo, uma expressão que nos<br />

encoraja a acreditar que estes modelos são permanentes (...). Este fixamento<br />

de unidade e diversidade, ou de inside e outside, ou espaço e tempo não é<br />

natural. Ou inevitável. É uma parte crucial das práticas <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

modernos, mas não são naturais ou inevitáveis” (1993, p.179). 57<br />

No que tange aos estu<strong>do</strong>s acadêmicos à cerca <strong>do</strong> assunto, o autor escreve que se hoje<br />

é possível se falar de uma disciplina como a ciência política- que trata <strong>do</strong>s assuntos<br />

concernentes a política interna- e a disciplina de Relações Internacionais- que lida com as<br />

relações políticas que se dá entre os Esta<strong>do</strong>s soberanos- é devi<strong>do</strong> à dicotomia inside/outside.<br />

Sem está diferenciação dicotômica não seria necessário à divisão entre estes <strong>do</strong>is campos <strong>do</strong><br />

conhecimento, uma vez que se não se a<strong>do</strong>ta a noção de existência entre o que está dentro e o<br />

que está fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, dissolve-se a fina malha que divisa as fronteiras. (WALKER, 1993).<br />

4.2.1. A caricatura da dicotomia e o julgamento de valores<br />

A dicotomia inside/outside fornece ainda de acor<strong>do</strong> com o autor, caricaturas à cerca<br />

da vida dentro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, da vida no ambiente anárquico e no ambiente da soberania<br />

56 Ator é um termo frequentemente usa<strong>do</strong> nas Relações Internacionais, no senti<strong>do</strong> de “entidade individual ou<br />

coletiva, tal como um Esta<strong>do</strong> ou organização internacional, que tem um papel nas relações internacionais”<br />

(HENDERSON, 1998, p.27).<br />

57 Once upon a time,the world was not as it is. The patterns of inclusion and exclusion we now take for granted<br />

are historical innovantions.The principle of state sovereignty is the classic expression of those patterns are<br />

permanent, Its fixing of unity and diversity, or inside and outside,or space and time is not natural. Nor is it<br />

inevitable. It is a crucial part of the practices of all modern states,but they are not natural or inevitable either.(<br />

Tradução nossa).


estatal. Fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> à idéia de um ambiente desordena<strong>do</strong> e conflituoso, dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a<br />

visão de um ambiente ordena<strong>do</strong> e pacífico. “O principio de soberania estatal fixa uma<br />

demarcação clara entre a vida inside e outside (...) dentro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, inspirações universais<br />

para o bem, a verdade e beleza (...) mas apenas dentro de um território espacialmente<br />

delimita<strong>do</strong>.” (WALKER, 1993, p.62). 58 A conceituação de anarquia já vem carregada de uma<br />

conotação pejorativa e quan<strong>do</strong> se pensa em anarquia logo se associa a idéia de uma desordem<br />

infindável. Por sua vez, a idéia de um controle soberano rapidamente é associada e ou<br />

assimilada por nós como um ambiente onde há presença de uma certa ordem, uma certa<br />

retidão. Estas idéias não são inatas em nosso pensamento, elas foram ao longo <strong>do</strong><br />

estabelecimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> moderno firmadas no nosso imaginário. É para esse fato que<br />

Walker (1993) quer chamar a nossa atenção. O autor preconizará o quanto tomamos como<br />

dadas essas definições sem um mínimo de reflexão, pois uma vez que refletimos, todas as<br />

contradições destas conceituações vem a tona, como trataremos mais adiante.<br />

Walker (1993) nos alerta também para o fato de como as relações espaço -temporais<br />

são caricaturadas através da dicotomia inside/outside, a medida em que sempre tratamos o<br />

outside e ou ambiente internacional, como uma questão espacial, ou seja, dizemos que o<br />

ambiente internacional “é” assim, ao passo de que, quan<strong>do</strong> falamos <strong>do</strong> inside e ou <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

fazemos menção a como ele “está”, ou seja, uma questão temporal. É como se o ambiente<br />

internacional não tivesse história, não fosse passível de sofrer evoluções, em contrapartida,<br />

imputasse a idéia de constante evolução no que ocorre dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (WALKER, 1993).<br />

A dicotomia inside/outside fornece não somente como se pensar a cerca da vida<br />

dentro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mas também estabelece os limites das formas de pensar. “a divisão<br />

entre inside e outside (...) continua a informar nosso entendimento de como e quan<strong>do</strong> a prática<br />

política efetiva e progressiva pode ser desenvolvida” (WALKER, 1993, p.13). 59<br />

O estabelecimento desta caricatura à cerca <strong>do</strong> inside/outside, acaba por estabelecer<br />

valores à cerca da vida dentro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Pois, acabamos julgan<strong>do</strong> valorativamente a<br />

vida dentro destes <strong>do</strong>is ambientes. Para dentro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, a vida é “boa”, harmoniosa,<br />

pacífica, com a presença de uma autoridade, o local onde me sinto seguro, com princípios a<br />

serem segui<strong>do</strong>s, indivíduos comuns e com os mesmos interesses. É pinta<strong>do</strong> da forma que<br />

quase nos remete a vida no Éden e qualquer ação contrária em relação a estes valores é tida<br />

58 The principle of state sovereingty fixes a clear demarcation between inside and outside a centred political<br />

community. Within states, universalist aspirations to the good,the true and the beautiful may be relisable,but only<br />

within a spatially delimited territory.<br />

59 This distinction between inside outside, continues to inform our understandig of how and where effective and<br />

progressive political practice can be advanced ( Tradução nossa).<br />

54


como uma exceção. A vida para fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por sua vez, é uma vida de conflitos eternos e<br />

de impassível resolução, um lugar onde não há uma unidade de interesses, onde a presença de<br />

uma autoridade que seria fator fundamental para colocar ordem no ambiente inexiste, mais<br />

uma vez também qualquer ação que vá contra essa noção <strong>do</strong> ambiente internacional, é dita<br />

apenas como uma exceção e não a regra. Em suma, o inside/outside é visto e representa<strong>do</strong> por<br />

uma série de outras dicotomias de valor o bom/ruim, pacífico/conflitante, igual/diferente,<br />

seguro/inseguro. (WALKER,1993).<br />

4.2.2- As questões éticas<br />

A dicotomia inside/outside vai ainda além da problemática das questões já tratadas<br />

aqui- relações espaço-temporais, limitações sobre a forma de pensar política, dentre outras- a<br />

partir <strong>do</strong> momento em que passamos a relacionar o ambiente internacional a uma anarquia da<br />

qual vigora a desordem e conflitos impassíveis de resolução e perspectivamos o Esta<strong>do</strong> como<br />

um ambiente de ordem e ausente de conflitos, neste ponto começamos a estabelecer o local<br />

onde se pode falar de ética 60 e o qual não se pode.(WALKER,1993).<br />

55<br />

“As relações internacionais não fornecem as mesmas bases de uma<br />

comunidade política central para estabelecer uma forma de vida que é o<br />

objeto de orientação <strong>do</strong> estabelecimento de princípios éticos. Antes, a falta<br />

de uma comunidade central sugere- e aqui a distinção (...) é crucial-(...) a<br />

dificuldade ou a impossibilidade radical de estabelecer princípios éticos (...)”<br />

(1993,p.63). 61<br />

O autor escreve que as implicações a respeito da ética nas relações internacionais<br />

começam com a distinção entre comunidade e anarquia. Uma vez que a noção de<br />

comunidade, que vigora na tradição teórica, é um fator ou fenômeno característico de dentro<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, juntamente com a concepção de valores universais compartilha<strong>do</strong>s e de uma<br />

60 De acor<strong>do</strong> com Giles, pode ser entendida como, a análise de conceitos tais como “dever”,regras morais”, “o<br />

certo”,o “erra<strong>do</strong>”m”obrigação”,”responsabilidade”, etc., com relação ao comportamento ou à conduta,ou ainda,<br />

o inquérito que visa a natureza da moral ou de ator morais,ou ainda, A procura da vida moralmente<br />

boa.(GILES,Thomas,1993,p.51).<br />

61 Relations between states <strong>do</strong> not offer the same basis of a centred political community for establishing a form<br />

of life that is subject to the guindance of established ethical principles. Rather,the lack of a centred community<br />

suggests- and here the distinction,is crucial- either the difficulty or the radical impossibility of establishing<br />

ethical principles.( Tradução nossa).


identidade 62 comum, to<strong>do</strong>s estes fatores ou características é que viabilizaria o estabelecimento<br />

de uma ética. Por sua vez o conceito de anarquia no sistema internacional, é segun<strong>do</strong> a<br />

tradição teórica um lugar onde se encontra um mosaico de identidades, onde fica impossível<br />

de se estabelecer uma unidade, é também um lugar sem princípios e valores comuns. Uma vez<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> este estereótipo sobre o ambiente internacional, o mesmo se torna um espaço inviável<br />

para o estabelecimento de uma ética. “A pretensão ética (...) sobre uma identidade humana,<br />

uma comunidade política e uma autoridade legitima é suficiente para justificar que (...) as<br />

relações internacionais não podem ser guiadas por princípios éticos.” (WALKER, 1993,<br />

p.67). 63<br />

Walker (1993) escreve ainda que as relações internacionais e a ética, são tidas na<br />

tradição teórica como uma interseção, onde duas linhas distintas se cruzam em um<br />

determina<strong>do</strong> ponto, mas são incapazes de uma justaposição, ou até mesmo de serem vistas<br />

sem a noção de serem distintas. “(...) a suposição problemática da qual “ética e relações<br />

internacionais” são na verdade o nome de uma interseção, uma junção entre duas áreas<br />

separadas (...)” (WALKER, 1993, p.50). 64<br />

Dessa maneira, o autor concluirá afirman<strong>do</strong> que a questão da ética, já está respondida<br />

pela dicotomia inside/outside. Uma vez que a<strong>do</strong>tada esta dicotomia, o comportamento <strong>do</strong>s<br />

indivíduos vão ser completamente distintos dentro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pode-se<br />

cobrar ética e fora dele não há a mesma cobrança. Portanto, não é a anarquia a causa<strong>do</strong>ra da<br />

falta de ética, mas sim a vontade de não ser ético fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Se analisarmos mais<br />

cuida<strong>do</strong>samente observaremos que as vezes dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> tem-se anarquia e o<br />

compartilhamento de valores universais dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> não passa de uma utopia, a despeito<br />

disto as cobranças em torno da ética não deixam de existir. Dessa forma, enquanto houver a<br />

dicotomia <strong>do</strong> que esteja dentro e o que esteja fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> não haverá ética no ambiente<br />

internacional. A fronteira de onde se possa cobrar ética já estará delimitada. (WALKER,<br />

1993).<br />

62 A identidade refere-se ao entendimento que as pessoas têm sobre quem são e o que é importante para elas. A<br />

identidade social descreve as características que são atribuídas a um indivíduo por outros. Essas atribuições são<br />

amiúde feitas com base nos grupos sociais a que um indivíduo parece pertencer – como homem, asiático ou<br />

católico – e marcam de que forma um indivíduo é igual a outros. A auto-identidade, ou a identidade pessoal, nos<br />

diferencia como indivíduos distintos. Refere-se ao juízo singular de si mesmo que é produzi<strong>do</strong> pelo<br />

autodesenvolvimento e pela constante interação <strong>do</strong> indivíduo com o mun<strong>do</strong> exterior (GIDDENS, 2005, p. 56-<br />

57).<br />

63 The ethical and political claim to a statist monopoly on human identity, political community and legitimate<br />

authorithy is enough to justify a claim that humam action in the specific spatial realm of international relations<br />

cannot be guided by ethical principles.( Tradução nossa).<br />

64 The problematic assumption that ethics and international relations is indeed the name of na intersection,a<br />

junction between two separete areas.( Tradução nossa).<br />

56


4.3- A <strong>Desconstrução</strong> da dicotomia inside/outside<br />

Walker (1993), objetiva em um primeiro momento, mostrar como e sobre quais<br />

circunstâncias se deu à formação das Relações Internacionais, para em um segun<strong>do</strong> momento<br />

mostrar as contradições e ou incongruências da mesma. Através da releitura de textos<br />

clássicos da tradição teórica das Relações Internacionais, demonstran<strong>do</strong> como o apagamento<br />

das diferenças e aproximação das similaridades estão na base ou são a própria base da<br />

disciplina, ou seja, Walker (1993) demonstra que o campo das Relações Internacionais é<br />

erigi<strong>do</strong> em cima de pilares arbitrários. (WALKER, 1993).<br />

Posteriormente, o autor se engajara na questão de demonstrar como as oposições<br />

binárias- tais como abordadas por Saussure (1969) e problematizadas ulteriormente por<br />

Derrida (1976)- que constituem o léxico das Relações Internacionais, modulam o pensamento<br />

e a postura não somente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, mas também <strong>do</strong>s indivíduos e de uma forma mais geral<br />

afeta toda uma realidade e noção de mun<strong>do</strong>, na medida em que as mesmas fornecem toda a<br />

base a cerca de como se pensar para dentro e para fora <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s- com todas as implicações<br />

já vistas anteriormente, de comunidade e anarquia,conflito e estabilidade,etc- presentes na<br />

dicotomia inside/outside. (WALKER, 1993).<br />

57<br />

“(...) identidade/diferença, outro/mesmo, dentro/fora, história/contingência e<br />

iminência/transcendência permitiram que as relações internacionais fossem<br />

construídas com o discurso sobre as permanentes tragédias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

fada<strong>do</strong> a permanecer fragmenta<strong>do</strong> desejoso por conciliação e integração.”<br />

(1993, p.17). 65<br />

Dessa forma, demonstran<strong>do</strong> que a noção de internacional só se mantém a partir destas<br />

oposições binárias e seu maniqueísmo que lhe são intrínsecos, que divide o mun<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is<br />

pólos, o interno <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s e o externo de relações entre os Esta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>nde ocorre à<br />

valoração <strong>do</strong>s mesmos, como já observamos anteriormente. (WALKER, 1993).<br />

As oposições binárias como divisada por Derrida (1973), tem sempre a função dentro<br />

da metafísica ocidental de valorizar uma das partes <strong>do</strong> pólo. Onde se julga uma das partes<br />

sempre positiva em detrimento da outra. Como já aborda<strong>do</strong> por Derrida (1973) somente<br />

inverter a ordem das oposições não é suficiente, pois continuamos operan<strong>do</strong> dentro da lógica<br />

65 Indentity/difference,self/other,inside/outside,History/contingency and immincence/transcendance that have<br />

permitted theories of international relations to be constructed as a discourse about the permanent tragedies of<br />

aworld to remain fragmented while longing for reconciliation and integration.( Tradução nossa).


da estrutura. Nas palavras de Walker (1993) “a tentação é de reverter as polaridades, para<br />

mover-se <strong>do</strong> outro para o mesmo, da anarquia para comunidade.” (WALKER, 1993, p.73). 66<br />

O autor, desconstruirá está dicotomia através <strong>do</strong> processo de descentramento e<br />

tresvaloração. Walker (1993) preconiza que deve-se demonstrar como que está dicotomia se<br />

sustenta somente por um processo de apagamento de certas características presentes em cada<br />

um <strong>do</strong>s pólos, dessa maneira, fazen<strong>do</strong> com que venha à tona as diferenças entre estes <strong>do</strong>is<br />

pólos. Portanto, existe a separação e o julgamento da vida dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> melhor que<br />

a vida fora, no momento em que apagamos os conflitos, ausência de autoridade e as<br />

diferenças identitárias que possam existir dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e também pelo apagamento <strong>do</strong>s<br />

momentos de paz, governância e valores comuns que existem no ambiente internacional.<br />

(WALKER, 1993).<br />

A dicotomia inside/outside se dá no momento em que apagamos as semelhanças<br />

existentes nos <strong>do</strong>is ambientes. No momento em que não mais ressaltarmos as diferenças entre<br />

está dicotomia e passarmos a apontar as semelhanças, a divisão dicotômica entre o dentro e o<br />

fora não terá mais orientação. Basta começarmos a julgar o ambiente de fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como<br />

um ambiente onde exista a possibilidade de se cobrar ética e onde haja a possibilidade de se<br />

haver paz, ao passo de que no âmbito de dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> passemos a julgá-lo não tão<br />

pacífico e harmonioso, a divisão entre estes <strong>do</strong>is ambientes não encontraria mais significação.<br />

Á medida em que se dá a inversão da lógica de moralidade, desconstrói-se está dicotomia.<br />

(WALKER, 1993).<br />

O metó<strong>do</strong> de desconstrução derridiano é utiliza<strong>do</strong> por Walker (1993) na medida em<br />

que o autor mostra como a hierarquização destas dicotomias, assim como expostas por<br />

Derrida (1973) foram pouco a pouco sen<strong>do</strong> instituídas ,toman<strong>do</strong> espaço e estabelecen<strong>do</strong> o<br />

mo<strong>do</strong> de pensar à cerca das Relações Internacionais, através de um processo de ressaltar das<br />

diferenças entre os campos da dicotomia inside/outside. A desconstrução que Walker (1993)<br />

aplica será realizada na medida em que o autor demonstra que se apagarmos as diferenças<br />

entre está dicotomia e ressaltarmos as características comuns o inside/outside não fará mais<br />

senti<strong>do</strong>.<br />

66 The temptation is to reverse polarities, to move from the other to the same,from anarchy to community.<br />

(Tradução nossa).<br />

58


CONCLUSÃO<br />

O objetivo deste trabalho foi o de mostrar a <strong>influência</strong> <strong>do</strong> pensamento de Derrida<br />

para a teoria pós-estrutural de Relações Internacionais <strong>do</strong> autor, Walker. Demonstrou-se como<br />

o pensamento <strong>do</strong> filósofo pós-estrutural ofereceu o arcabouço teórico para o desenvolvimento<br />

da teoria <strong>do</strong> autor de Relações Internacionais, para a problematização da dicotomia<br />

inside/outside que rege to<strong>do</strong> um entendimento à cerca <strong>do</strong> internacional e para a realização da<br />

desconstrução desta dicotomia.<br />

O entendimento <strong>do</strong> funcionamento da lingüística moderna e <strong>do</strong>s seus conceitos<br />

centrais, tais como: signo, significa<strong>do</strong> e significante, arbitrariedade <strong>do</strong> signo, caráter linear <strong>do</strong><br />

significante, valorização da phoné em relação à escrita, dentre outros. Como explana<strong>do</strong>s neste<br />

trabalho permitiu nos dar a base para o entendimento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> qual iríamos caminhar ao<br />

longo <strong>do</strong> trabalho, mais <strong>do</strong> que isso, o entendimento <strong>do</strong> pensamento de Saussure não só<br />

fornece as bases para o entendimento, como constituí o próprio chão <strong>do</strong> qual caminhamos.<br />

A arqueologia realizada, sob a gênese <strong>do</strong> pensamento teórico pós-moderno e pós-<br />

estrutural, nos permitiu divisar o momento em que começaram a surgir os primeiros<br />

questionamentos e movimentos no senti<strong>do</strong> da instituição de um novo pensamento que<br />

rompesse com aquele que não mais servia para a explicação da nova sociedade e realidade da<br />

qual se vivia. A conclusão da qual chegamos neste ponto <strong>do</strong> trabalho é que apesar de todas<br />

estas novas transformações que se deram na sociedade, ainda sim é difícil e controverso se<br />

falar de uma sociedade pós-moderna, uma vez que este pensamento é duramente critica<strong>do</strong><br />

pelos sau<strong>do</strong>sos modernistas- sau<strong>do</strong>sos,pois, neste trabalho decidimos por trabalhar em cima<br />

da idéia de que vivemos de fato em uma era pós-moderna, caso contrário seria contraditório<br />

tratarmos de uma teoria pós-moderna ou pós-estrutural filosófica e das Relações<br />

Internacionais- contu<strong>do</strong>, divisamos o quanto o assunto ainda é de trato delica<strong>do</strong> e têm-se ainda<br />

nos dias de hoje uma longa jornada para se instituir o pensamento de fato, não só no senti<strong>do</strong><br />

de argumentar contra os ainda remanecentes modernistas, mas para se unificar, da<strong>do</strong> a falta de<br />

unicidade dentro destas próprias teorias como foi possível observar neste trabalho, a fim de se<br />

criar novas teorias políticas e sociais que sirvam para a explicação desta nova sociedade,que<br />

ainda se vale em muitas áreas <strong>do</strong> conhecimento, e não obstante o campo das Relações<br />

Internacionais, das teorias modernas.<br />

Como pudemos observar o filósofo pós-estruturalista Jacques Derrida valeu-se <strong>do</strong><br />

pensamento saussuriano e de seus conceitos para estabelecer seu próprio mo<strong>do</strong> de pensar. A<br />

crítica aos conceitos <strong>do</strong> proto-estruturalista Saussure, sobretu<strong>do</strong> ao papel secundário que o<br />

59


lingüista relegou a escrita, como sen<strong>do</strong> o “significante <strong>do</strong> significante” possibilitou a Derrida<br />

criar o desconstrutivismo filosófico. Observarmos e concluimos neste ponto que o<br />

desconstrucionismo possibilitou a constituição de um mo<strong>do</strong> de pensar, onde delatou a<br />

metafísica fonocêntrica, mostrou a forma pela qual às oposições binárias trabalham na<br />

constituição das verdades e ou pensamento <strong>do</strong> ocidente e nos mostrou como se desconstruir<br />

estas dicotomias sem cairmos na armadilha de ainda nos prendermos na estrutura da mesma,<br />

através de um duplo movimento <strong>do</strong> qual se constitui a desconstrução, a inversão e o<br />

descentramento.<br />

O pensamento de Derrida, por sua vez, serviu de base como concluímos, para a<br />

teoria de Walker. O teórico das Relações Internacionais percebeu que as Relações<br />

Internacionais são regidas por uma série de oposições binárias, assim como preconizada por<br />

Derrida, em que um <strong>do</strong>s pólos é sempre ti<strong>do</strong> como positivo e central; está positividade que é<br />

atribuída sempre a um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pólos implica sempre em um julgamento de valores; no<br />

campo das Relações Internacionais, Walker enfocou em uma destas oposições ou dicotomias,<br />

como vimos, a dicotomia <strong>do</strong> inside/outside que como divisamos possibilitou o<br />

estabelecimento da noção <strong>do</strong> internacional e mol<strong>do</strong>u o pensamento à cerca <strong>do</strong> que se pensa<br />

para dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e para fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, com to<strong>do</strong>s os julgamentos de valores e morais<br />

que está oposição binária implica. Através das elucidações de Walker, percebemos de que<br />

forma está dicotomia fora construída ao longo da história <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s modernos, em cima <strong>do</strong><br />

apagamento das semelhanças dentre estes <strong>do</strong>is campos.<br />

Dessa forma, concluímos que o desconstrucionismo de Derrida fora utiliza<strong>do</strong> por<br />

Walker- que embora não se afilie explicitamente ao desconstrucionismo derridiano- utilizou<br />

deste méto<strong>do</strong>, na medida em que o mesmo toma de empréstimo a problemática à cerca das<br />

oposições binárias de Derrida e realiza a desconstrução derridiana de uma dicotomia em<br />

especial que sustenta toda uma lógica dentro das Relações Internacionais, a inside/outside.<br />

Walker desconstrói a dicotomia através <strong>do</strong> descentramento pela tresvaloração, como tivemos<br />

a oportunidade de observar ao longo <strong>do</strong> esforço deste trabalho, cumprin<strong>do</strong> assim o objetivo <strong>do</strong><br />

mesmo de demonstrar a <strong>influência</strong> <strong>do</strong> filósofo francês desconstrutor na teoria pós-estrutural<br />

de Walker.<br />

60


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS<br />

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,1962.<br />

BEST, Steven; KELLNER, Douglas. Postmodern Theory: Critical Interrogations. New<br />

York: The Guilford Press, 2001<br />

DERRIDA, Jacques. A Escritura e a Diferença. São Paulo: Perspectiva, 1976.<br />

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973.<br />

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre :Artmed,2005.<br />

GILES, Thomas. Dicionário de Filosofia. São Paulo:E.P.U Editora Pedagógica e<br />

Universitária Ltda, 1993.<br />

HENDERSON. International Relations: Conflict and Cooperation at the Turn of 21st<br />

Century. USA: McGraw-Hill,1998.<br />

JAPIASSÚ,Hilton;MARCONDES,Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar.1998.<br />

JEAN, Dubois.et all. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix,1973.<br />

ORTIZ,Eduar<strong>do</strong>. El Estúdio de las Relaciones Internacionales. Chile: Fon<strong>do</strong> de Cultura<br />

Econômica,2000.<br />

SANTIAGO,Silviano(org). Glossário de Derrida. São Paulo: Livraria Francisco Alves<br />

Editora S.A,1976<br />

SARFATI,Gilberto.Teoria de Relações Internacionais.São Paulo:Saraiva,2005.<br />

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Lingüística Geral, 4ª ed. São Paulo: Cultrix, 1969.<br />

WALKER, R. Inside:outside: International Relations as Political Theory. Cambridge:<br />

Cambridge University Press,2003.<br />

61

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!