alexandre herculano e antero de quental - Rotary Club Coimbra
alexandre herculano e antero de quental - Rotary Club Coimbra
alexandre herculano e antero de quental - Rotary Club Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
quotodiano, real, pessoal. Assim o poema é a palavra do<br />
Guia e o poeta transcen<strong>de</strong> o homem individual e passa a<br />
ser o sujeito que veicula a Voz – a voz bíblica e<br />
profética. Daí que se compreenda om frequento recurso<br />
da poesia <strong>de</strong> Alexandre Herculano ao mo<strong>de</strong>lo bíblico 2 .<br />
Na sua poesia, a generalização e a abstração<br />
superam e ultrapassam o individual e pessoal: é disso<br />
exemplo “Tristezas do <strong>de</strong>sterro” em que Herculano <strong>de</strong>ixa<br />
na sombra o caso do seu próprio exílio, <strong>de</strong> que parte a<br />
sua reflexão, para abordar a questão geral do exilado e <strong>de</strong><br />
alguém que per<strong>de</strong>u a pátria. Esta ausência do pessoal é<br />
significativa da postura do autor <strong>de</strong> Harpa do Crente, já<br />
que contrasta com o que é usual no seu tempo e na escola<br />
romântica. O discurso poético <strong>de</strong> Herculano assenta<br />
assim em valores morais que se sobrepõem a quaisquer<br />
valores estéticos <strong>de</strong> escola 3 . O poeta fala em nome <strong>de</strong><br />
algo que o transcen<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que a sua voz é instrumento. E,<br />
em Herculano, esse algo transcen<strong>de</strong>nte é Deus.<br />
Os poemas, longos, <strong>de</strong> métrica variável, mas em<br />
que predominam os <strong>de</strong>cassílabos, procuram criar um<br />
ambiente emocional pela junção <strong>de</strong> quadros que<br />
2 ‐ Em “Semana Santa” faz mesmo adaptações <strong>de</strong> salmos e da <br />
passos da Lamentações <strong>de</strong> Jeremias. <br />
3- Vi<strong>de</strong> Maria da Graça Vi<strong>de</strong>ira Lopes, A Poesia <strong>de</strong> Alexandre<br />
Herculano (Lisboa, 1981), p. 25.<br />
16