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Guardados na Memória - Academia Brasileira de Letras

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Os livros vão e não voltam – O que se encontra <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les<br />

Dizia certo bibliófilo a um amigo:<br />

“Como quer V. que eu empreste livros a quem não faz caso <strong>de</strong>les? Emprestou-me<br />

V. alguns, e nunca os reclamou!”<br />

Razão <strong>de</strong>cisiva: e há muitas outras também excelentes.<br />

Lembrarei ape<strong>na</strong>s duas, porque o papel não dá para mais.<br />

A primeira é que mal o estudioso emprestou um livro vem logo a precisar<br />

<strong>de</strong>le. Parece mentira, mas é assim.<br />

A outra é que, para certas pessoas, um livro é mais que um livro: é gaveta <strong>de</strong><br />

papéis íntimos, é escrínio para relíquias, é cofre <strong>de</strong> segredos, é até carteira para<br />

dinheiro.<br />

Por conseguinte, emprestar um livro é, às vezes, correr o risco <strong>de</strong> comunicar<br />

a outrem o que não queríamos revelar a ninguém, fazer confidências que po<strong>de</strong>m<br />

prejudicar a terceiros, é sofrer algum <strong>de</strong>sfalque.<br />

Dentro <strong>de</strong> livros que dormitavam à minha espera, <strong>na</strong>s lojas dos antiquários, já<br />

encontrei folhas secas, bilhetes <strong>de</strong> amor, cartas sobre negócios e contas <strong>de</strong> armazém.<br />

Não conto novida<strong>de</strong>. Isso é comum. Durante a gran<strong>de</strong> guerra, muitas mulheres<br />

caridosas, acudindo ao apelo do governo, enviavam para o campo <strong>de</strong> batalha<br />

romances <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>dos a entreter os combatentes. Nesses livros, lidos com pressa e<br />

oferecidos sem maior exame, iam grampos, pedaços <strong>de</strong> fita, e cartas comprometedoras.<br />

Não sei se algum romancista aproveitou esta levianda<strong>de</strong> para arquitetar tragédia<br />

conjugal: o marido, recebendo em romance, vindo da pátria, e que lhe caíra<br />

<strong>na</strong>s mãos por acaso, a prova certa <strong>de</strong> que em sua ausência madame estava figurando<br />

em outro romance mais impressio<strong>na</strong>nte para ele e ela do que o impresso.<br />

<br />

Eu, que tenho achado algumas coisas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> livros, só não encontrei dinheiro.<br />

Sei, porém, <strong>de</strong> fonte limpa que há quem o guar<strong>de</strong> entre pági<strong>na</strong>s <strong>de</strong> livros.<br />

Varia recente do Jor<strong>na</strong>l do Commercio notícia o que contou o Evening News <strong>de</strong><br />

Londres, acerca da sorte gran<strong>de</strong> que saiu ao estudante Eugenio Lacosta, quando<br />

lia <strong>na</strong> Biblioteca Vatica<strong>na</strong>.<br />

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