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Guardados na Memória - Academia Brasileira de Letras

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<strong>Memória</strong>s – Doação do Petit Trianon<br />

<strong>de</strong> fogo no valor <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> francos. Quando foi o caso exposto à <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>,<br />

assustaram-se os acadêmicos com a responsabilida<strong>de</strong>, chegando o Sr.<br />

Coelho Neto, em home<strong>na</strong>gem a uma citação imprópria <strong>de</strong> Virgílio, a exclamar:<br />

–“Timeo Da<strong>na</strong>os, et don<strong>na</strong> ferentes, isto é, temia aos gregos e aos presentes <strong>de</strong><br />

gregos.”<br />

A França <strong>de</strong>via nos estar armando uma cilada como a do cavalo <strong>de</strong> Tróia.<br />

Em home<strong>na</strong>gem a esta literatura inteiramente i<strong>na</strong><strong>de</strong>quada ao caso, rejeitou a<br />

<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> uma dádiva que por muito tempo, senão sempre, seria talvez a única<br />

tapeçaria <strong>de</strong> arte vinda à América do Sul.<br />

Só me conformei com o disparate acadêmico, pensando que talvez fosse<br />

melhor assim para a cultura universal. Aqui, as baratas, as traças, os cupins,<br />

talvez vencessem Alexandre, nela <strong>de</strong>buxado. Per<strong>de</strong>ria a humanida<strong>de</strong> com isso,<br />

restituída à França lá se conservaria para a admiração do mundo. O Brasil não<br />

a merecia. Digo isto, porque é transido <strong>de</strong> horror à barbaria e pelo perigo que<br />

correm que vejo a todas as recepções os vasos azuis <strong>de</strong> Sèvres, cheios <strong>de</strong> flores.<br />

A cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l não admite ainda que o vaso <strong>de</strong> arte se baste. E po<strong>de</strong>m quebrá-lo<br />

um <strong>de</strong>stes dias, pondo aí as florecas que a sentimentalida<strong>de</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l põe<br />

em todas as coisas sérias, até <strong>na</strong> intelectualida<strong>de</strong> acadêmica, coroada <strong>de</strong> flores.<br />

À minha presidência intentei por cobro a isso. Cui<strong>de</strong>i que fazendo aos recém-vindos<br />

pagar as flores com que se <strong>de</strong>sejam or<strong>na</strong>r, que a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>de</strong>ixasse<br />

<strong>de</strong> ser vítima <strong>de</strong>sses enfeites. Não é possível. Aqui os hábitos <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong><br />

aos floristas são tais que até automóveis <strong>de</strong> praça, velhos e <strong>de</strong>sasseados embora,<br />

não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter algumas rosas num vasinho para os enfeitar.<br />

Como um acadêmico po<strong>de</strong>rá dispensar tais mostras da sensibilida<strong>de</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l?<br />

Essa sensibilida<strong>de</strong> nossa é o fundo do caráter brasileiro e portanto também<br />

acadêmico.<br />

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