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35-47 - Universidade de Coimbra

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AXKO I — 4 9 O DEFENSOR DO POVO 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> ÍSOS<br />

C R Y S T A IEJS<br />

ROSICLER<br />

Eu sinto que os teus- olhos,, minha doce amada,<br />

pousando sobre mim são como a alvorada<br />

esplendida que brilha nas regiões do poio;<br />

infiltram na minha alma um cálido consolo,<br />

emanações subtis <strong>de</strong> aromas virginaes.. .<br />

São como duas pombas, brancas, muito eguaes,<br />

que trazem ao mau peito o ramo d'oliveira,<br />

nuncias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> paz na minha vida inteira;<br />

e a minha alma, em sorrisos, dá-lhes o agasalho<br />

que as pétalas dos lyrios dão também ao orvalho,<br />

que <strong>de</strong>sce e as vem beijar nos cálices <strong>de</strong> neve.<br />

Demora sobre mim o teu olhar, tão leve<br />

como a nuvem subtil <strong>de</strong> fumo que se esvae.. .<br />

Ha um fluido d'amor, magnético, que attrahe<br />

as almas como as nossas, que confun<strong>de</strong> os sábios;<br />

por isso <strong>de</strong>ixa-me ir beber sobre os teus lábios,<br />

na doce confusão dos nossos dois olhares,<br />

esse filtro subtil que anda pelos ares,<br />

que enche o coração das aves e das flores,<br />

o fluido que irradia lúbricos amores<br />

na natureza inteira — o fluido dos <strong>de</strong>sejos;<br />

e as nossas almas, numa confusão <strong>de</strong> beijos,<br />

vôem serenamente pelos ares fóra,<br />

banhadas pelo effluvio d'uma eterna aurora.. .<br />

LETTRAS<br />

Uma historia<br />

Sobre a encosta do monte ficava o<br />

alegre casal do Carvalhão. Esta vivenda<br />

respirava franqueza e alegria, e dos ramos<br />

frondosos das arvores e das hastes<br />

flexíveis das trepa<strong>de</strong>iras como que se<br />

escoavam para o ambiente aromas incessantes<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e bem estar.<br />

É que o tio Antonio do Couto fôra<br />

sempre trabalhador e honra'do, e por isso<br />

vivia tranquillo e satisfeito entre a mediania<br />

da sua casa e a estima dos seus<br />

visinhos. Para esta felicida<strong>de</strong> concorria<br />

também, e muito principalmente, a sua<br />

filha, a Elisa. E orgulhava-se d'ella, o<br />

bom do velho !<br />

Na verda<strong>de</strong>, dizia-se por toda a parte<br />

que naquelles arredores não havia cara<br />

tao risonha <strong>de</strong> frescura e <strong>de</strong> belleza. E<br />

por isso o pae se revia nella como um<br />

apaixonado se rtveria numa planta preciosa<br />

e rara, que a muito custo conservasse<br />

numa estufa.<br />

A Elisita tinha 18 annos Um bom<br />

rapaz d'alli, o Antonio da Coutada, valente<br />

como um touro e bom como um<br />

cor<strong>de</strong>iro, couversava-a então. Estimavam-se<br />

ambos, e elle um dia disse ao<br />

pae da Eli-a, com a franqueza generosa<br />

e aberta d'uín homem honrado:<br />

— Sr. Antonio, vou lallar-lbc, com a<br />

Iranqueza d'um homem <strong>de</strong> bem. Ha tempo<br />

ja que eu sinto por sua filha uma<br />

amisa<strong>de</strong> bem sincera, como se eu fosse<br />

da familia, e tanto eu como ella estimamo-nos<br />

intimamente. Como sabe, sr. Antonio,<br />

eu uão possuo manadas nem quintas,<br />

mas tenho uma junta <strong>de</strong> bois, um<br />

carro e um arado, estes braços vigorosos<br />

e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Assim, sr. Antonio<br />

do Couto, venho pedir-lhe que dê<br />

licença a sua filha paia nos casarmos.<br />

— Diabo, rapaz ; isto não se faz assim<br />

do pe para a mão. Preciso fallar<br />

com a rapariga, e <strong>de</strong>pois... ella está<br />

tão nova.. . Emfim, tu és bom rapaz e<br />

trabalhador, e, se ella quizer, não me<br />

opporei. Eu também comecei como tu,<br />

e, bem vês, hoje pertencem-me este casal,<br />

estes campos, estas arvores. Portanto,<br />

se trabalhares, ainda po<strong>de</strong>s ajuntar<br />

mais. Eu fadarei com a pequena, e<br />

como ella resolver te darei a resposta.<br />

Passados dias já corria pela al<strong>de</strong>ia<br />

que o Antonio da Coutada era o noivo<br />

da Elisa do Carvalhão, e que o casamento<br />

se realisaria pelas ceifas.<br />

*<br />

Abril; dia glorioso <strong>de</strong> sol esplendido;<br />

no azul puríssimo do ceu não se percebia<br />

a nodoa d'uma nuvem. A al<strong>de</strong>ia<br />

estava em festa. Ouviam-se por toda a<br />

parte <strong>de</strong>scantes e gargalhadas, violas e<br />

guitarra^. A multidão risonha e festiva<br />

agglomerava-se principalmente em diversos<br />

pontos, on<strong>de</strong> sobresahia o vulto<br />

negro mas aprasivel d'uma pipa <strong>de</strong> carrascão<br />

a 30 réis o quartilho. E todos<br />

aquelles rapazes, ar<strong>de</strong>ntes e enthusiasmados,<br />

num gran<strong>de</strong> ruido <strong>de</strong> risos e <strong>de</strong><br />

alegria, soltavam pelos ares, resoantes<br />

Franco Ascot.<br />

<strong>de</strong> cantigas e <strong>de</strong> animação, as gargalhadas<br />

expansivas dos seus espíritos alegres.<br />

Era d'uma miscellanea piltoresca aquelle<br />

brouhaha <strong>de</strong> festa. Entre os sons agudos<br />

dos pifaros e da gaita-<strong>de</strong>-folles' distinguia-se<br />

o som baixo, profumfò do bombo,<br />

as notas alegres do tambor, e, harmoniosamente,<br />

as nolas <strong>de</strong>licadas e sentidas<br />

das violas e das guitarras, que soltavam,<br />

ca<strong>de</strong>nciadas, o gemer d'um fado <strong>de</strong>dilhado<br />

por um rapagão robusto, <strong>de</strong> cacete<br />

<strong>de</strong>baixo do braço, emquanto, ao lado, o<br />

acompanhava a voz sonora d'um romeiro,<br />

chapéu para a nuca, lenço encarnado<br />

alado ao pescoço, collete aberto, cinta<br />

encarnada, calça clara e sapatos brancos,<br />

e flexível vara <strong>de</strong> marmelleiro na mão<br />

callosa e larga. E d envolla com tudo<br />

islo uma nuvem <strong>de</strong> poeira e uma torrente<br />

<strong>de</strong> sol.<br />

Proximo d'uma roda <strong>de</strong> dança estavam<br />

a Elisa e o pae, acompanhados do<br />

Antonio da Coutada e alguns visinhos.<br />

Conversavam sobre a belleza da festa,<br />

commentavam a nomeação dos novos<br />

mordomos para o anno seguinte, que<br />

promettiam fazel-a melhor, e afinal <strong>de</strong>scahia<br />

a conversa sobre o milho que <strong>de</strong>spontava,<br />

na ultima geada que queimara<br />

os pomares e na abundancia da próxima<br />

colheita.<br />

Passado pouco tempo chegou o morgado<br />

da Sobereira montado num cavallo<br />

novo e valente, que um creado pren<strong>de</strong>u<br />

a uma oliveira. Apenas chegou dirigiu-se<br />

logo para o Antonio do Carvalhão, cumprimentando<br />

sobranceiramente os camponezes<br />

que se <strong>de</strong>sbarretavam.<br />

Era alto e hercúleo o morgado. Os<br />

olhos pretos, escondidos quasi sob as<br />

sobrancelhas espessas, <strong>de</strong>spediam muitas<br />

vezes olhares duros e imperiosos. Era<br />

respeitado por todos, mais por medo que<br />

por estima.<br />

Acompanhou durante toda a tar<strong>de</strong> a<br />

Elisa e o pae, e frequentes vezes fez<br />

corar a Elisita com cumprimentos e sorrisos,<br />

ralando <strong>de</strong> raiva o noivo que os<br />

não perdia <strong>de</strong> vista. A' tar<strong>de</strong> acompanhou-os<br />

a casa.<br />

Bem sabia o morgado que o casamento<br />

eslava projectado; mas lembrarase<br />

um dia <strong>de</strong> aspirar a fragrancia da<br />

formosura <strong>de</strong> Elisa, e esforçava-se por o<br />

conseguir.<br />

As suas visitas ao casal do Carvalhão<br />

repetiam-se a miúdo. Ja se murmurava<br />

na al<strong>de</strong>ia, e, apesar dos protestos<br />

da sua noiva, o Antonio da Coutada<br />

andava sombrio e apprehensivo.<br />

A noite <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio apresentou-se<br />

tenebrosamente escura. No firmamento<br />

opaco e entenebrecido, não scinlillava<br />

uma estrella, e <strong>de</strong> vez em quando um<br />

trovão longínquo precedia um relampago<br />

enorme, que num listão <strong>de</strong> fogo atravessava<br />

o espaço. Era uma d'estas noites<br />

que inspiram as scenas sanguinolentas<br />

dos dramas sombrios, noites que nos<br />

trazem á imaginação bandidos e emboscadas,<br />

roubos e assassínios.<br />

Acabavam <strong>de</strong> baler 8 horas na torre<br />

da egreja. Um vulto cautelloso <strong>de</strong>slisou<br />

ao longo da casa do Antonio do Couto,<br />

inlreduziu-se no telheiro on<strong>de</strong> eslava<br />

preso o cavallo do morgado, que nesse<br />

dia alli fora lambem, e chegou-se ao<br />

cavallo que mordia o freio d'impaciencia<br />

Levantou o selim, collocou entre elle e<br />

o dorso do cavallo um ranio <strong>de</strong> tojeiro<br />

secco e resistente, aíivellou as cilhas e<br />

<strong>de</strong>sappareceu cautellosamente.<br />

Passado tempo, quando o morgado<br />

ia para sahir, conduziu á mão para a<br />

rua o cavallo, que <strong>de</strong>sconfiado e tremulo,<br />

respirava com força dilatando as na-,<br />

rinas e filando as orelhas. O morgado<br />

allrihuiu este estado anormal do seu<br />

cavallo ao ruido dos trovões, que cada<br />

vez se approximava mais. Montou; mas<br />

apenas cahiu sohre o sellim, o cavallo,<br />

até alli agitado e nervoso, encahritou-se<br />

<strong>de</strong> repente, e <strong>de</strong>spediu quasi ao mesmo<br />

tempo numa carreira furiosa e tremenda<br />

relinchando <strong>de</strong> dôr. Não obe<strong>de</strong>cia nem á<br />

redia nem á voz do cavalleiro, e em<br />

corcovos rápidos e saltos traiçoeiros tentava<br />

lafiçar fóra do selim o cavalleiro<br />

que o opprimia.<br />

No caminho da quinta da Sobereira,<br />

a quinta do morgado, havia um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />

temeroso, acima do qual passava<br />

a estrada péssima e pedregosa. O<br />

<strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro teria, neste sitio, uns vinte<br />

pas«os <strong>de</strong> largura, e cortava-se abruptamente<br />

em rochas agudas e pedregulhos<br />

enormes. Em menos <strong>de</strong> cinco minutos<br />

chegou alli o cavallo. O estampido medonho<br />

d'um trovão, que semelhava um<br />

<strong>de</strong>rruir <strong>de</strong> montanhas, um cataclysmo<br />

enorme, aterrorisou o animal, que subitamente<br />

se levantou a pino. Para traz<br />

ficava o abysmo negro como aquella noite<br />

<strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>, e cavallo e cavalleiro se<br />

<strong>de</strong>spenharam nelle...<br />

O ruido da queda foi abafado pelo<br />

silvar do vento e o ribombo dos trovões<br />

que se repetiam pelas quebradas, mas á<br />

luz pliosphorecente d'um relampago tremendo<br />

po<strong>de</strong>r-se-hia ver aquella massa<br />

ennovellada mergulhar, precipitada, na<br />

escuridão que se abria...<br />

Na epocha <strong>de</strong>terminada realisou se<br />

o projectado enlace. Da fronte do Autonio<br />

da Coutada nunca se apagou o vinco<br />

que nella se lhe tinha sulcado, como se<br />

uma i<strong>de</strong>ia sombria 0 preoccupasse constantemente.<br />

Sua mulher, a Elisa, como<br />

que adivinhando aquella dôr, nunca lhe<br />

fallou no morgado da Sobereira.<br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

Fernão Silvestre.<br />

O nosso folhetim<br />

Ainda com o intuito <strong>de</strong> nos tornarmos<br />

o mais possível ágradaveis ao publico<br />

que nos lê, resolvemos publicar successivamente<br />

alguns romances.<br />

Para esle fim proce<strong>de</strong>remos á escolha<br />

minuciosa <strong>de</strong> bons livros, que a par d'uma<br />

leiturá interessante pelo enredo e pela<br />

belleza da acção se torne recommendavel<br />

pelo estylo e pela pureza da linguagem;<br />

escrupuloso critério nos guiará na<br />

preferencia <strong>de</strong> bons auclores, tendo sempre<br />

em vista os <strong>de</strong> melhor nome e d'estes<br />

as obras que mais se hannonisem coin<br />

o fim a que nos dirigimos.<br />

Será <strong>de</strong> Mery, o inolvidável romancista<br />

e brilhante estylista francez o primeiro<br />

romance que começaremos a publicar.<br />

Escolhemos d'esie escriplor insigne<br />

a sua bella producção litleraria<br />

A JUDIA ND VATICANO<br />

trabalho primoroso, que a um fino colorido<br />

<strong>de</strong>scriplivo a um encanto <strong>de</strong> linguagem<br />

soberba <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

poesia, allia um gran<strong>de</strong> interesse <strong>de</strong><br />

acção, d'uma simplicida<strong>de</strong> encantadora-.<br />

E' no proximo numero d'este jornal,<br />

no 1.° <strong>de</strong> jaueiro <strong>de</strong> 93, que daremos<br />

o primeiro folhetim <strong>de</strong>ste bello trabalho<br />

lilterario.<br />

Convencidos como estamos da belleza<br />

da obra que vamos publicar, po<strong>de</strong>mos<br />

afSrmar sem receio, que ha <strong>de</strong> ser apreciada<br />

pelos nossos leitores, como ella<br />

realmente merece.<br />

Reforma judicial para<br />

o Ultramar<br />

O sr. ministro da marinha não pou<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cretar em dicl'adura esta reforma, porque<br />

a isso se oppoz o sr. Dias Ferreira.<br />

Parece, pois, que em pouco tempo o<br />

sr. Ferreira do Amaral seguirá o caminho<br />

do bispo <strong>de</strong> Bethesaida.<br />

O sr. presi<strong>de</strong>nte do concelho não<br />

perda occasião que se lhe apresente <strong>de</strong><br />

mostrar aos seus collegas que elle é quem<br />

— todo lo manda,<br />

«Portugal»<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro apparecerá brevemente<br />

um jornal intitulado assim e cuja<br />

publicação será aos sabbados.<br />

Não só o titulo traduz eloquentemente,<br />

que será mais um <strong>de</strong>fensor que o<br />

nosso paiz encontrará no seio da prospera<br />

Republica Brazileira, mas ainda a<br />

sua funcção sympathica se afBrnia nas<br />

seguintes palavras do seu programma —<br />

«Defensor ar<strong>de</strong>nte dos princípios <strong>de</strong>mocráticos,<br />

elle não esquecerá uma alta<br />

missão que naturalmente lhe está indicada<br />

— <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, não menos ar<strong>de</strong>ntemente,<br />

os interesses geraes da gran<strong>de</strong> colónia<br />

portugueza neste paiz».<br />

A serieda<strong>de</strong> e o brilhantismo d'este<br />

jornal é garantida pelo nome prestigioso<br />

dos seus colladoradores—Bodrigues <strong>de</strong><br />

Freitas, Guerra Junqueiro, João Chagas,<br />

ele., etc.<br />

D'aqui lhe enviamos, ao nosso aflectuoso<br />

collega americano, a expressão<br />

sincera do nosso <strong>de</strong>sejo d'uma larga<br />

prosperida<strong>de</strong>.<br />

O Porto e o governo<br />

A noticia <strong>de</strong> que o sr. José Dias<br />

Ferreira vae augmenlar no Porto o imposto<br />

<strong>de</strong> consumo causou na capital do<br />

Norte nma <strong>de</strong>sagradavel impressão.<br />

O Primeiro <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>screve a<br />

côres tétricas a situação precaria do povo<br />

do Porto e a influencia calamitosa que<br />

po<strong>de</strong> produzir aquella medida do sr. ministro<br />

da fazenda. A Tar<strong>de</strong>, que ninguém<br />

accusará <strong>de</strong> <strong>de</strong>saffecta ao actual nnuisterio,<br />

transcrevendo o artigo do Primeiro<br />

<strong>de</strong> Janeiro dá esle respeito salutares<br />

conselhos ao sr. José Dias.<br />

Aproveite os, sr. Dias Ferreira, que<br />

—-^quein me avisa meu amigo é,— e não<br />

queira meller-se em camisa <strong>de</strong> onze<br />

varas.<br />

A respeito <strong>de</strong> impostos, não estamos<br />

em tempo <strong>de</strong> mais ainda do que aquelles<br />

que já nos esmagam.<br />

Amnistia<br />

Tem corrido que vão ser amnistiados<br />

os revoltosos <strong>de</strong> 3,1 <strong>de</strong> jaueiro.<br />

Não acreditamos.<br />

O governo, que faz promessas que<br />

não cumpre nunca e que conserva no<br />

exílio ainda presos, homens amnistiados<br />

ja — não é susceptível <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias humanitárias.<br />

Os homens que estão no po<strong>de</strong>r,<br />

e que inanteem na Penitenciaria, como<br />

um criminoso cominum, um con<strong>de</strong>mnado<br />

politico — o pobre cabo Salomé, —estão<br />

<strong>de</strong>finidos. Aquelles que não obstam a<br />

que nos nossos presídios se coiumellani<br />

com os con<strong>de</strong>mnados as mais vergouhosas<br />

infâmias, os mais revoltantes crimes,<br />

sabendo que taes actos se praticam, porque<br />

lhe foram <strong>de</strong>nunciados pela imprensa—<br />

são <strong>de</strong>shumanos, são cruéis.<br />

Não ha que espetar amnistia.<br />

Mas os con<strong>de</strong>mnados <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro<br />

hão <strong>de</strong> recuperar, sem lavores, a<br />

sua liberda<strong>de</strong>, com um novo registo moral.<br />

Liga Liberal<br />

Annuncia-se para breve uma nova<br />

conferencia na Liga Liberal por um distinctissimo<br />

oflicial da nossa marinha e<br />

dramaturgo notável o sr. Lopes <strong>de</strong> Mendonça.<br />

A Heforma, querendo ridicularisar<br />

estas manifestações do nosso exercito e<br />

da nossa marinha, diz que não sabe se<br />

a conferencia sera era verso, como os<br />

dramas d'csle illustre auclor dramatico,<br />

ou se parodiará a conferencia do sr. tenente<br />

coronel Fava, intitulando-se—«A<br />

marinha <strong>de</strong> guerra e a politica.»<br />

Parece-nos que po<strong>de</strong>mos illucidar a<br />

Reforma; a conferenciado illustre oflicial<br />

basear-se-ha na seguinte these—Do bom<br />

senso e da loucura no governo das nações—.<br />

Não lhe parece que está ao pintar e<br />

que é própria da occasião?<br />

O 31 <strong>de</strong> janeiro<br />

E' um pamphlelo semanal <strong>de</strong> Propaganda<br />

Republicana e Litteratura, que<br />

no dia 1 <strong>de</strong> janeiro proximo começara a<br />

ser publicado'em Lisboa.<br />

Recommendar esta publicação ao publico<br />

é escusado, porque plenamente a<br />

recommenda o lim a que se propõe.<br />

Longa vida prospera é o que sinceramente<br />

<strong>de</strong>sejamos a este nosso novo<br />

collega.<br />

EM SURDINA<br />

Anda a correr a cida<strong>de</strong><br />

a agenciar alguns trocos<br />

a <strong>de</strong>vota irmanda<strong>de</strong><br />

dos Santos martens Marrocos.<br />

Quem levar c'o a campainha<br />

não sofTrerá prejuízo,<br />

nem terá vida mesquinha...<br />

O badalo dá juizo I<br />

E' badalo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong><br />

ainda que não o pareça;<br />

mas sóinente dá saú<strong>de</strong><br />

a quem o levar na cabeça.<br />

Liberta-nos do peccado<br />

afugenta as bruxarias...<br />

Deve ser utilisado<br />

pelo nosso Delegado<br />

e até mesmo—p'lo Zé Dias.<br />

PINTA-ROXA.<br />

Lettras portuguezas<br />

Yae-se estabelecendo pelo estrangeiro<br />

uma corrente a favor do nosso movimento<br />

lilterario, que tão <strong>de</strong>sconhecido<br />

leni andado para lá das nossas fronteiras<br />

e que tão digno é <strong>de</strong> se conhecer.<br />

Temos entre nós escriptores distinctissimos<br />

e obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mérito,<br />

bem capazes <strong>de</strong> merecer a attenção dos<br />

outros centros litterarios; todavia raros<br />

têm sido os nossos publicistas conhecidos<br />

e apreciados em paizes estranhos,<br />

Ultimamente, poréft, tem-se vul^arisado<br />

mais o conhecimento dos nossos escriplores,<br />

principalmente dos nossos poetas,<br />

e ainda agora acaba <strong>de</strong> apparecer<br />

em Paris um <strong>de</strong>licioso livro <strong>de</strong> Achille<br />

Millien, que se intitula—Fleurs <strong>de</strong> poésie<br />

porlugaise.<br />

Encerra traducções <strong>de</strong> poesias notáveis<br />

dos nossos poetas—Castilho, Thomaz<br />

Ribeiro, Gomes d'Amorim, Authero do<br />

Quental, João <strong>de</strong> Deus, Guerra Junqueiro,<br />

Gomes Leal, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Gonçalves Crespo,acon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monsaraz e<br />

Antonio Feijó.<br />

Como se vê são producções <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s<br />

das mais notáveis da nossa<br />

galeria litteraria.<br />

Ainda bem que começam 110 estrangeiro<br />

a dar aos nossos homens <strong>de</strong> lettras<br />

a consi<strong>de</strong>ração a que teem direito.<br />

As loiras<br />

Conta-se que 11111 investigador inglez<br />

fez um esiudo curioso acerca das qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> espirito e coração das mulheres.<br />

Sustenta elle que as mulheres que<br />

peior reputação teem <strong>de</strong>ixado nas paginas<br />

da Historia são as loiras, e cita :<br />

Madame Pompadour, amante <strong>de</strong> Luiz<br />

XV—loura e olhos azues, Lucrécia Borgia—a<br />

celebre envenenadora, Lady Macheiz<br />

— que fe? assassinar um rei d'Escocia.<br />

A celebre rainha Izabel dTuglaterra<br />

— que victimou a pobre Maria<br />

Stuart. Margarida <strong>de</strong> Navarra--que tinha<br />

a coragem <strong>de</strong> trazer comsigo os corações<br />

dos amantes que por causa d'ella<br />

haviam sido assassinados. Izabel <strong>de</strong> Baviera.<br />

Teroique <strong>de</strong> Mariant — uma das<br />

mais cruéis entre as heroinas da gran<strong>de</strong><br />

revolução franceza.<br />

Emfim, ura nunca acabar, que faz<br />

medo e que não repetimos para náo<br />

amargar em <strong>de</strong>masia aquellas nossas leitoras<br />

que tiverem cabellos loiros.<br />

Pelos Yencidos<br />

Subseripção <strong>de</strong> ««O réis meusaem<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

com egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 17$400<br />

Joaquim Antunes d'0. <strong>Coimbra</strong><br />

(<strong>de</strong>zembro) 200<br />

Fernan<strong>de</strong>s Costa (novembro e<br />

<strong>de</strong>zembro) 400<br />

Dr. Jeronymo Silva (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892 a março<br />

<strong>de</strong> 1893, inclusivè) 1$000<br />

Somma, réis 19$000<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humauitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

rometter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.

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