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35-47 - Universidade de Coimbra

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" V I t t o , a f o l i a i<br />

Tudo a postos. Está a chegar o<br />

rei e a rainha <strong>de</strong> Portugal da viagem<br />

que fizeram a Hespanha.<br />

O regosijo generalisa-se, toma<br />

proporções <strong>de</strong>lirantes, toca a meta<br />

do sobrenatural.<br />

Na capital preparam-se graridio-<br />

.sas manifestações á chegada <strong>de</strong> suas<br />

magesta<strong>de</strong>s.<br />

Manifestações calorosas.<br />

Manifestações espontaneas.<br />

De toda a parte, das cida<strong>de</strong>s<br />

como das al<strong>de</strong>ias, levantam-se estrepitosas<br />

saudações aos reis <strong>de</strong> Portugal<br />

pelo seu regresso á patria-amada.<br />

De todos os peitos brotam torrentes<br />

copiosas <strong>de</strong> jubilantes alegrias<br />

sem que as empanne uma só nota<br />

<strong>de</strong>stoante, o mais tenue sopro <strong>de</strong><br />

reacção.<br />

Perante as magesta<strong>de</strong>s que vêem<br />

<strong>de</strong> — <strong>de</strong> quê? — <strong>de</strong> cimentar a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />

nacional numa sabia diplomacia,<br />

tudo ajoelha, commovido<br />

até ás lagrimas, numa eloquente<br />

prostração indicativa d'uma veneração<br />

servil.<br />

O jacobino e o monarchico, irmãmente<br />

enlaçados na mais confraternal<br />

solidarieda<strong>de</strong>, calam os seus<br />

queixumes <strong>de</strong> partidarismo para que<br />

os seus brados <strong>de</strong> — viva o rei! viva<br />

a Inglaterra!—se confundam consonantemente<br />

num irrequieto torvelinho<br />

<strong>de</strong> epilepsia.<br />

Pois que suas magesta<strong>de</strong>s são o<br />

penhor da in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia nacional<br />

tão custosamente reconquistada pelos<br />

homens <strong>de</strong> 1640; pois que suas<br />

magesta<strong>de</strong>s encarnam o espirito nacional<br />

numa estranha vibração <strong>de</strong><br />

patriotismo; pois que suas magesta-i<br />

ges são a causa originaria do bemestar<br />

geral da nação:—ninguém po<strong>de</strong>rá<br />

na hora solemne em que eltas<br />

chegam <strong>de</strong> Madrid, enramadas dos<br />

ouropéis resplen<strong>de</strong>ntes d'uma victo-.<br />

ria diplomatica, soffrear estes gritos<br />

stri<strong>de</strong>ntes, cheios <strong>de</strong> amor, cheios<br />

<strong>de</strong> vida:<br />

—Viva o rei! viva a folia!<br />

Sim: viva o rei! viva a folia!<br />

A nação <strong>de</strong>finha miseravelmente,<br />

<strong>de</strong>cae <strong>de</strong> todos os lados, lacera-se a<br />

cada embate? O povo geme "sob<br />

uma pezada distribuição tributaria<br />

que o faz morrer <strong>de</strong> fome para saturar<br />

as exigencias do fisco ? Os<br />

credores estrangeiros reclamam<br />

ameaçadoramente o pagamento dos<br />

juros a receber? O thesouro está<br />

exhausto <strong>de</strong> recursos não po<strong>de</strong>ndo<br />

satisfazer os encargos mais elementares<br />

? O estado financeiro é in<strong>de</strong>scriptivelmente<br />

péssimo ? O commercio<br />

arrasta uma existencia difíicilima<br />

evi<strong>de</strong>nciada nas fallencias diariamente<br />

notadas ? A industria nacional<br />

restringe-se á mais infima expansão,<br />

estranha ao proteccionismo do Estado?<br />

A agricultura morre progressivamente<br />

? O povo emigra ? A<br />

honra coilectiva <strong>de</strong>sfaz-se num louco<br />

rodopio <strong>de</strong> corrupção ?<br />

Que importa tudo isso se as magesta<strong>de</strong>s<br />

regressam <strong>de</strong> Madrid alegremente<br />

<strong>de</strong>spreoccupadas das misérias<br />

nacionaes, dominados péla<br />

systematica indifferença pelos negocios<br />

do paiz?<br />

Que importa tudo isso se suas<br />

magesta<strong>de</strong>s veem da opulência para<br />

a opulência, nada ímportando-se com<br />

o soffrimento do seu povo, tudo importando-se<br />

com as exigencias do<br />

seu commodismo ?<br />

Sim, que importa isso?<br />

—Viva o rei! Viva a folia!<br />

Vamos, senhores. Tudo a postos.<br />

Que ninguém falte ao seu <strong>de</strong>ver.<br />

Que ninguém se acobar<strong>de</strong> em prestar<br />

ao seu rei as homenagens mais<br />

frisantes <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>al affecto.<br />

Que todos bra<strong>de</strong>m — viva o rei!<br />

viva a Inglaterra!—que são as únicas<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

manifestações <strong>de</strong> caracter legal<br />

actualmente toleradas no nosso paiz.<br />

Quem exclama —viva o rei! —<br />

evoca toda uma epopeia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas,<br />

cujos factores, antepassados<br />

hierarchicos d'esse rei, escutam nos<br />

tumulos as vibrantes translusidaçõeS<br />

da sua gloria sempiterna. Quem diz<br />

—viva o rei!—honra essa nobilíssima<br />

esteira <strong>de</strong> semi <strong>de</strong>uses da historia<br />

patria que vem por esses séculos<br />

além tendó pôr mãe d\igoa a D.<br />

Aftonso Henriques e por seguidores<br />

invictos arautos <strong>de</strong> amplos feitos,<br />

<strong>de</strong>stacando-se, ao vivo, projectados<br />

<strong>de</strong> intensas rutilancias, uns D. Fernando,<br />

D.. João III, car<strong>de</strong>al D. Henrique,<br />

D. Affonso VI, D. João V,<br />

D. João VI, etc., etc... .<br />

Quem exclama,—viva a Inglaterra!—faz<br />

vibrar <strong>de</strong> enthusiasmo todas<br />

as fibras do nosso organismo,<br />

faz enlouquecer <strong>de</strong> jubilo os que<br />

ainda amam este empobrecido torrão<br />

natal.<br />

Porque a Inglaterrá tem sido a<br />

nossa fiel alliada, tem sido a maternal<br />

protectora em todos os transes<br />

custosos da nossa existencia. Porque<br />

a Inglaterra tem Curado com amor<br />

e ardor dos nossos interesses cóloniaes,<br />

<strong>de</strong>scurando dos seus proprios...<br />

E' por isso que a <strong>de</strong>speito d'èssa<br />

jacobinagem contra quem Sergio<br />

ergue as suas ancas, que porfia em<br />

âmesquinhar a diplomacia <strong>de</strong> Carlos<br />

na sua viagem á Hespanha, nós bradaremos,<br />

no regresso <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s,<br />

banhados num escorrente<br />

suor <strong>de</strong> enthusiasmo :<br />

—Viva o rei! Viva a Inglaterra!<br />

Viva a folia!<br />

João Chagas<br />

As ulliniíis noticias dão este nosso<br />

valerite correligionário, perseguido pelas<br />

justiças'bòrtugVezás, a caminho <strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s.<br />

Contas do thesouro<br />

0 Diário publicou as contas do thesouro,<br />

fóra do continente, relativas aos<br />

mezes <strong>de</strong> setembro e outubro <strong>de</strong> 1891.<br />

Pelo resumo comparado das receitas<br />

e das <strong>de</strong>spezas em dinheiro, ordinarias<br />

sem distíneção <strong>de</strong> exercícios, em eguaes<br />

períodos dos annos economicos <strong>de</strong> 1890-<br />

1891 e 1891-1892, vè-se"o seguinte:<br />

Receitas<br />

1890-1891. . 37,.537;.98fl$930<br />

1891-189 2 37.320:93<br />

Differeuça pura<br />

menos 2l7:049$326<br />

Despezas<br />

1890-1891. . 43.537:110$691<br />

1891-180 2 <strong>47</strong>.214:648^963<br />

Oiflereiíf» pnra<br />

mais 3.677:538^273<br />

As receitas <strong>de</strong>sceram, segundo<br />

as contas publicada-*, dueentos e <strong>de</strong>zesete<br />

contos, e as <strong>de</strong>spezas subiram,<br />

no mesmo periodo, tres mil<br />

seiscentos setenta e sete contos.<br />

Segundo as mesmas contas temos em<br />

Receitas ....<br />

1890-1891<br />

37.537:980^.930<br />

Despezas ..<br />

43.537:110^691<br />

Deficit. . . ..... 5.999:129^761<br />

Receitas .. .<br />

1891-1892<br />

37.320:931^604<br />

Despezas...<br />

<strong>47</strong>.214:648j$955<br />

Deficit. . . 9:893:717^<strong>35</strong>9<br />

Pelas contas já publicadas o <strong>de</strong>ficit<br />

era 1891-1892 foi superior ao do anno<br />

anterior em tres mil oitocentos<br />

noventa e quatro contos.<br />

PELOS JORNAES<br />

Acerca da nossa situação financeira<br />

ouçamos no Economista o conselheiro<br />

CafrilliA; pàdrè mestre da oryíinieiíMogia<br />

indígena :<br />

«Emquanto não forem publicadas<br />

todas as contas do thesouro na gerencia<br />

<strong>de</strong> (891-1892, isto é, as <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1891 a junho <strong>de</strong> 1892 dos cofres fóra<br />

da metropole, que segundo o<br />

nosso modo «le calcular<br />

não <strong>de</strong>ixarao cio aggra><br />

rar <strong>de</strong> 3:000 contos,<br />

pelo menos, o «<strong>de</strong>ficit» já<br />

conhecido <strong>de</strong> 8:305 contos,<br />

o qne, com uns 1:500<br />

<strong>de</strong> differeiiças <strong>de</strong> câmbios,<br />

fará. com qne o <strong>de</strong>sequilíbrio<br />

orçamental<br />

na. ultima gerencia tenha<br />

sido um dos maiores senão<br />

o maior das epochas<br />

mo<strong>de</strong>rnas — não será possível<br />

conhecer a quantia exacta d'esse <strong>de</strong>sequilíbrio,<br />

nein com elementos palpitantes<br />

da actualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a incrédulos<br />

que não bastam os saerifieios<br />

feitos nem as reducções 9e renda impostas<br />

aos credores' do Estado para<br />

egualarmos as receitas com as <strong>de</strong>spezas.»<br />

Quando Carrilho diz "isto tudo, quanto<br />

a mais não irá lá pelas entrelinhas orçamentaes...<br />

É <strong>de</strong> fugir!<br />

Aos que do iberismo fazem o seu<br />

principal espectro <strong>de</strong> propaganda antirepublicana<br />

respon<strong>de</strong> eloquentemente a<br />

Nação, insuspeito <strong>de</strong> jacobinismo :<br />

«Em Hespanha espera-se uma gravíssima<br />

conflagração no dia em que<br />

fulleeer el-rey nino. Mas como temem<br />

lá D. Canos VII e a republica, lembraram-lhe<br />

<strong>de</strong> cá pôrem a coroa 11a cabeça<br />

do sr. D. Carlos Coburgo, rei liberal<br />

d'este jardim á beira mar implantado,<br />

por graça da imbecilida<strong>de</strong> e mercenarismo<br />

indígena.<br />

«Ficam assim reunidos, sob o mesmo<br />

sceptro os dois paizes, Portugal e<br />

Husp»nha, ou fallando mais positivamente,<br />

fica assim absorvida a metropole<br />

portugueza pelo leão <strong>de</strong> Castella.<br />

«Província <strong>de</strong> Hespanha consi<strong>de</strong>rado<br />

ha muito tempo, Portugal passará<br />

a sel-o, <strong>de</strong> facto com o <strong>de</strong>spreso da.<br />

Europa inteira que terá o direito <strong>de</strong><br />

cuspir sobre a sua campa se tamanha<br />

affronta triumphar dos vestígios do brio<br />

nacioital. •.»<br />

Depois d'isto nada mais nos resta<br />

dizer. Está conforme.<br />

Escreveram as Novida<strong>de</strong>s:<br />

«Está organisada uma gran<strong>de</strong> commissão<br />

para promover uma imponente<br />

recepção a suas magesta<strong>de</strong>s, por occasião<br />

do seu regresso <strong>de</strong> Madrid.<br />

«São numerosas e variadas as festas<br />

que a commissão tenciona realisar.<br />

Entre ellas <strong>de</strong>staca-se a generosa idéa<br />

<strong>de</strong> dar, nesse dia, em uma Vistosa barraca<br />

armada no Terreiro do Paço, ura<br />

bodo a 1:500 pobres. A' noite será facultada<br />

ao povo a entrada em todos os<br />

espectáculos e haverá, além d'isso, um<br />

gran<strong>de</strong> concerto <strong>de</strong> gala no theatro <strong>de</strong><br />

S. Carlos. A costa da Outra Banda será<br />

toda illuminada com barricas <strong>de</strong> alcatrão,<br />

e na rotunda da Avenida far-seha<br />

uma brilhante illuminação, sendo<br />

queimada uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fogo <strong>de</strong> artificio. Nas principaes ruas<br />

da cida<strong>de</strong> haverá também vistosas illuminações.»<br />

Com justa razão o nosso collega a<br />

Batalha commenia esta noticia dizendo<br />

que tristezas não pagam dividas e termina<br />

com a conhecida copia do Burro<br />

do sr. Alcai<strong>de</strong>:<br />

Viva a folia<br />

Dançar, dançar!<br />

finja alegria<br />

A' beira mar 1<br />

Sob o titulo —Os vivas ao rei — diz<br />

a Batalha:<br />

«As festas para a recepção do rei<br />

estão sendo preparadas no governo<br />

civil.<br />

«Hoje o galopim Pinoia andou em<br />

correrias para alli, sendo allnal encarregado<br />

da queima <strong>de</strong> barricas <strong>de</strong> alcatiâo<br />

na outra banda.<br />

«Os <strong>de</strong>mais galopins ficaram encar-<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

regados <strong>de</strong> arranjar garotos para o vi vorio,<br />

a mil réis por cabeça.<br />

«Esta noticia é exacta.»<br />

É a?sim que se fazem todas as manifestações<br />

nionarchicas neste <strong>de</strong>sgraçado<br />

paiz I<br />

E o paiz paga e... consente.<br />

Um nosso collega da capital recebeu<br />

o seguinte telegramma :<br />

«O concerto no palacio real offerecido<br />

aos reis <strong>de</strong> Portugal, esteve brilhante.<br />

Assistiu toda a aristocracia e o eiemento<br />

official.<br />

«Todos os festejos ofFerecem<br />

11111 caracter palaciano,<br />

sem que o povo tome<br />

parte nelles.<br />

«Assegnra-se que a visita<br />

dos reis <strong>de</strong> Portugal<br />

tem caracter politico<br />

aproveitando-se as festas<br />

do centenário afim <strong>de</strong><br />

não alarmar a opinião.<br />

«Os ministros dos dois<br />

paizes celebraram repetidas<br />

entrevistas sobre<br />

as quaes se guarda absoluto<br />

segredo, por mais<br />

que se diga o contrario.<br />

«Crê-se que se trata <strong>de</strong><br />

salvar a situação monarchica<br />

em Portugal.»<br />

Avalie-se por isto o mais que virá.<br />

E' <strong>de</strong> apitar, meus amigos.<br />

Ponham o lenço na nariz e leiam o<br />

Sergio:<br />

«O calão jornalístico da jacohinagem,<br />

que é uma especialida<strong>de</strong> indígena,<br />

percorre toda a gomma das achinealhações,<br />

da baboseira, dos patriotismos <strong>de</strong><br />

sobréposse, das indignações cynicas,<br />

dos protestos idiotas. A historia, a critica,<br />

a doutrina, o direito publico e a<br />

<strong>de</strong>cencia, andam aos trambulhões, numa<br />

dança macabra <strong>de</strong> patetices, <strong>de</strong> facécias<br />

<strong>de</strong> viella, <strong>de</strong> baboseiras <strong>de</strong> pasquim,<br />

sem que á lei as cóhiba.»<br />

Com que então a famosa vestal pelo<br />

que respeita a si, queria que respon<strong>de</strong>ssem<br />

aos seus insultos <strong>de</strong> todos os dias<br />

com beijos e abraços ?<br />

Está doido.<br />

Agarrem que é ladrão! Mais Sergio:<br />

«E alias o melhor é fugir a esta socieda<strong>de</strong>,<br />

que parece primitiva, que parece<br />

rudimentar, que parece embryonaria,<br />

fóra <strong>de</strong> todos os princípios e leis<br />

<strong>de</strong> civilização.»<br />

Fugir? Espere ahi, Sergio. Então<br />

você <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> insultar tudo e todos<br />

quer fugir? Ora essa; espere ahi que<br />

ha <strong>de</strong> levar o correctivo.<br />

Que tal o meliante !<br />

O nosso <strong>de</strong>dicado correligionário e<br />

amigo Heliodoro Salgado, dirigiu ao sr.<br />

Feio Terenas, da Batalha, uma carta explicativa<br />

da sua contenda com o Século,<br />

que abre assim :<br />

«Amigo Terenas:—Havemos <strong>de</strong> confessar<br />

que, dado o meu temperamento<br />

e o pé em que a minha questão<br />

cora o Século foi eollocada, eu tenho<br />

sido d'um comedimento que, porque<br />

me violenta bastante, é ura verda<strong>de</strong>iro<br />

sacrifício, e bem penoso, que faço ao<br />

partido republicano; que, se enten<strong>de</strong><br />

não ter razões para duvidar <strong>de</strong> Magalhães,<br />

que tem a sua folha <strong>de</strong> serviços<br />

incontestáveis e incontestados, também<br />

não tem motivos para duvidar <strong>de</strong> mim,<br />

que, se não tenho dinheiro nem sou<br />

empresário d'um jornal <strong>de</strong> larga extracção,<br />

tenho todavia doze annos <strong>de</strong><br />

activo trabalho <strong>de</strong> propaganda, com alguns<br />

<strong>de</strong>sgostos e dissabores, e uma<br />

gran<strong>de</strong> accumulaçáo do odios por parte<br />

dos meus adversarios—dos nossos adversári&s—que<br />

me perseguem com um<br />

encarniçamento muito especial.»<br />

Depois <strong>de</strong> se referir a vários correligionários<br />

que impensada e impru<strong>de</strong>ntemente<br />

lhe atiram com o epitheto <strong>de</strong> calumniador,<br />

termina o nosso amigo:<br />

«Mas, para que eu me cale será<br />

bom:<br />

«1.°—Que o Século <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> dar logar<br />

nas suas columnas a umas manifestações<br />

provocadas por uma mentira,<br />

lá da casa, quando disseram que eu<br />

accusára Magalhães Lima <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>nunciado<br />

João Chagas, Inexactidão que<br />

eu me apressei a rectificar com toda a<br />

lealda<strong>de</strong>.<br />

«2.°—Que o Século diga aos adoradores<br />

do <strong>de</strong>us Milhão que lhe estão servindo<br />

<strong>de</strong> caudatarios, que hajam por<br />

bem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer e <strong>de</strong> escrever asneiras,<br />

eiles, que se não atreveram a vifm'as<br />

dizer <strong>de</strong> frente emquanto eu ahi<br />

estive.<br />

«3.°—Que o dr. Magalhães Lima,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler a carta do nosso amigo<br />

commum José Barbosa, <strong>de</strong>clare peremptória<br />

e cafhegoricamente, sob sua palavra<br />

<strong>de</strong> honra, sem tergiversações e<br />

sem sophismas, se é ou não verda<strong>de</strong><br />

ter feito uma campanha <strong>de</strong> diffamação<br />

e <strong>de</strong> troça contra o nome <strong>de</strong> João Chagas.»<br />

Se nos permittem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir<br />

na contenda <strong>de</strong>vemos dizer que<br />

achamos <strong>de</strong>sleal a insistência do Século<br />

<strong>de</strong>pois das explicações leaes <strong>de</strong> Heliodoro,<br />

porque é inquestionável que este nosso<br />

correligionário tem sido dos mais infatjgaveis<br />

trabalhadores do edifício dcmocralico<br />

e nâo merece por isso que sobre elle se<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iem as fúrias stultas <strong>de</strong> quem<br />

quer que soja.<br />

Tê<strong>de</strong>bè.<br />

O R Y S T A B S<br />

A verda<strong>de</strong> e as mentiras<br />

(De Ramon <strong>de</strong> Campoamor)<br />

Quando por toda a esperança<br />

O padre diz ao nascer<br />

A' estremecida criança :<br />

— E's pó e pó lias <strong>de</strong> ser,<br />

Repetem num doce grito -<br />

A mãe e a ama também:<br />

— Como elle será bonito I<br />

— Bonito e homem <strong>de</strong> bem I<br />

E logo após a Esperança<br />

Faz o estribilho á cançao :<br />

— Será feliz a criança I<br />

— Será rei I brada a Ambição.<br />

E emquanto o tempo procura<br />

O menino engran<strong>de</strong>cer,<br />

A religião murmura:<br />

— E's pó e pó has <strong>de</strong> ser.<br />

Cheias <strong>de</strong> fé e certeza,<br />

Exclamam com porte audaz:<br />

— Será ura Creso I a Avareza ;<br />

A vaida<strong>de</strong>: — Oh I muito mais!<br />

E o seu nome se <strong>de</strong>rrama<br />

Da terra aos eternos céns...<br />

— E' Homero I grita a Fama,<br />

Volve a Razão: — E' um <strong>de</strong>us I<br />

Mas a voz solemne e pura<br />

Ao nascer como ao morrer,<br />

Diz no ouvido á creatura:<br />

— E's pó e pó has <strong>de</strong> ser.<br />

É bem feito<br />

Luiz GUIMARÃES.<br />

Os nossos correligionários que foram<br />

presos na capital na occasião em que<br />

davam vivas á patria, vão processar o<br />

sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima e mais agentes policiaes<br />

por motivo <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>.<br />

É bera feito. É possível que os tribunaes<br />

não façam justiça, mas todavia<br />

far-se-ha luz, moslrando-se mais uma<br />

vez a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>coro em todos os<br />

actos da monarchia.<br />

Sim, sim<br />

Na. capital disseram as Novida<strong>de</strong>s que<br />

se formou uma commissão para realisar<br />

as festas <strong>de</strong> recepção da familia real sem<br />

auxilio do thesouro.<br />

Ora isto é simplesmente para armar<br />

ao effeito, porque bem nos recordamos<br />

<strong>de</strong> que quando foi do casamento do actual<br />

rei, também se nomearam commissões<br />

para festejos e afinal o que essas commissões<br />

não pagaram teve o thesouro <strong>de</strong><br />

pagar, havendo ainda algumas contas por<br />

satisfazer, como a do gaz, por exemplo.<br />

É isto precisamente o que agora vae<br />

acontecer. Vá o povo preparando a bolsa<br />

para pagar as festas que não hão <strong>de</strong> li<br />

car nada baratas...<br />

Aguenta, Zé!


AXKO i — N. 0 84 O BEFEXIdR DO POVO 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 18©2<br />

LETTRAS<br />

A <strong>de</strong>functa<br />

Amára-a doidamente ! Porque é que<br />

se ama?! Que coisa tão extravagante<br />

não se ver no mundo mais que uma<br />

erealura, não se ter no espirito mais que<br />

um pensamento, no coração mais que um<br />

<strong>de</strong>sejo, ua bôcca mais do que um nome:<br />

—t um nome que sobe incessantemente,<br />

que sobe, como a agua d'uma nascente,<br />

das profun<strong>de</strong>zas da alma, que sobe aos<br />

lábios, e que se diz, que se rediz, que<br />

se murmura sem cessar, em toda a parte,<br />

conto se fora uma oração !<br />

Não contarei a nossa historia. O amor<br />

só tem uma historia que é sempre a mesma.<br />

Encontrei-a e amei-a. Eis tudo. E<br />

durante um anno vivi da sua ternura,<br />

nos seus braços, nas suas caricias, no<br />

seu olhar, nos seus vestidos, na sua voz,<br />

dominado, enleiado, preso por tudo o<br />

que vinha d'ella, <strong>de</strong> um modo tão completo,<br />

que eu nem já sabia quando era<br />

noite, e se estava morto ou vivo, na velha<br />

terra ou em outro mundo.<br />

E eis que ella morre ! Como... não<br />

o sei; já o sei.<br />

Regressou a casa, molhada, numa<br />

tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> chuva ; no dia seguinte tinha<br />

tosse. Tossiu durante uma semana, e<br />

recolheu se á cama.<br />

Que se passou ? I Já o não sei.<br />

Os médicos vinham, escreviam, retira<br />

vam-se.<br />

Chegavam remedios; uma mulher fazia-lh'os<br />

tomar. Às suas mãos estavam<br />

quentes, a testa ar<strong>de</strong>nte e húmida, o<br />

olhar brilhante e triste. Faliava-lhe e<br />

respondia-me. Que foi o que urn ao outro<br />

dissemos? Já o não sei. Tudo esqueci,<br />

tudo, tudo 1 Ella. .. morreu ! Lemhro-me<br />

muito bem do seu ultimo suspiro, um<br />

pequeno suspiro, tão débil... o ultimo.<br />

A enfermeira disse : Ah ! comprehendi,<br />

comprehendi 1<br />

Nada mais soube. Nada. Vi um sacerdote<br />

que me disse estas palavras: a<br />

sua amante. Pareceu-me que a insultava.<br />

Visto que estava morta ninguém tinha<br />

direito <strong>de</strong> saber isso. Pul-o fóra <strong>de</strong> casa.<br />

Veio outro, que se mo^rou muito bom,<br />

muito <strong>de</strong>licado. Chorei quando me fallou<br />

d'ella.<br />

Consultaram-me sobre mil coisas para<br />

o enterro. Já o não sei. Lembra-me todavia<br />

do caixão mortuário, das pancadas<br />

<strong>de</strong> martello, quando a <strong>de</strong>itaram <strong>de</strong>ntro.<br />

Ah 1 meu Deus I<br />

Foi enterrada ! Enterrada I Ella, naquella<br />

cova! Assistiram algumas pessoas,<br />

algumas amigas. Fugi. Deitei a correr.<br />

Caminhei por muito tempo atravez das<br />

rua*. Depois, entrei em casa. No dia<br />

seguinte parti para uma viagem.<br />

Hontem regressei a Paris. Quando<br />

tornei a ver o meu quarto <strong>de</strong> dormir, o<br />

nosso quarto <strong>de</strong> dormir, a nossa cama,<br />

os nossos moveis, esra casa toda, em que<br />

ficára tudo o que lica da vida d'um ser<br />

<strong>de</strong>pois da sua morte, fui a-saltado por<br />

um novo accesso <strong>de</strong> dôr Ião violenta, que<br />

estive quasi para abrir a janella, e <strong>de</strong>i<br />

tar-me á rua. Não po<strong>de</strong>ndo permanecer<br />

por mais tempo no meio d'es


AN.\0 ff —M. 0 <strong>35</strong> O DKFEWSOR DO POVO 1 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1 SOS<br />

exigências do fisco são maiores e mais<br />

vexatórias, por isso que colloca o commercio<br />

nas ciicuiustancias dolorosas <strong>de</strong><br />

ficar sem uma gran<strong>de</strong> parte dos seus<br />

consumidores, pelas razões expostas,<br />

cumpre lhe envidar todos os seus esforços<br />

a fim <strong>de</strong> ohter do governo o suspensão<br />

immediata <strong>de</strong> tão iníqua medida.<br />

E se os novos <strong>de</strong>putados quizerem<br />

já mostrar a sua hoa vonta<strong>de</strong> e a sua<br />

<strong>de</strong>dicação pelos interesses d'esta cida<strong>de</strong>;<br />

boa occasião é esta para que, <strong>de</strong> accordo<br />

com a Associação Commercial, empenhem<br />

junto do governo a sua importancia<br />

a lim <strong>de</strong> terminarem d'uma vez para<br />

sempre tão vergonhosas scenas.<br />

Mas se assim não acontecer, e la&s<br />

medidas não sejam revogadas, ao commercio<br />

cumpre tomar uma resolução<br />

enérgica, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo os seus inlresses,<br />

porque estamos convencidos que a maioria<br />

da imprensa local não ha <strong>de</strong> negarlhe<br />

o apoio que merece e a justiça que<br />

lhe assiste.<br />

P«zaiueg<br />

Enviamos ao nosso bom antigo sr.<br />

Joaquim da Silva e Sousa Júnior, e a sua<br />

familia, sentidos pezames pela morte <strong>de</strong><br />

sua extremosa mãe, uma boa velhinha<br />

que bem mereceu o carinho e a <strong>de</strong>dicação<br />

cont que seus filhos a trataram.<br />

Couhecendo nós bem <strong>de</strong> perto os<br />

dotes e qualida<strong>de</strong>s do nosso antigo sr.<br />

Joaquim da Silva, po<strong>de</strong>mos avaliar quanto<br />

sera pr.ofundo o golpe que acaba <strong>de</strong> ferir<br />

o seu coração <strong>de</strong> filho <strong>de</strong>dicado.<br />

E como, para estas fatalida<strong>de</strong>s da<br />

vida, não ha palavras <strong>de</strong> conforto que<br />

<strong>de</strong>eni lenitivo a tamanha dôr, limitamonos<br />

a consignar aqui o nosso pezar por<br />

tão triste acontecimento.<br />

Theatro-Circo<br />

Foi hontem a primeira recita dada<br />

pela Companhia Infantil, que está contractada<br />

para dar neste theatro cinco recitas.<br />

É-nos impossível dar hoje noticia<br />

circumstanciada do <strong>de</strong>sempenho, o que<br />

faremos no proximo numero; é <strong>de</strong> crér,<br />

porém, que os graciosos artistas continuem<br />

a manter os seus botts créditos.<br />

Hoje representa-se a opereta-comica<br />

em 3 actos — A Mascotte, que tem musica<br />

lindíssima e que o nosso publico já<br />

conhece.<br />

No sabbado, domingo e segunda feira<br />

ha espectáculo, representando-se novas<br />

e escolhidas peças.<br />

Uma publicação valiosa<br />

A imprensa Nacional eslá incumbida<br />

da reproducção d'uma cltronica d» convénio<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz, cujo exemplar conhecido<br />

pertence a uni cidadão portuguez<br />

resi<strong>de</strong>nte em Paris.<br />

Esta cltronica, dizem, é muitíssimo<br />

curiosa, e, como se vê, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rarida<strong>de</strong>.<br />

Um alegrão para os colleccionadores.<br />

Theatro 1>. Luiz<br />

Realisou-se no sabbado o annunciado<br />

espectáculo em que tomou parle o<br />

actor Taborda e os amadores Luiz da<br />

Gama, Francisco Lucas, Ereio e outros.<br />

O espectáculo correu animadamente,<br />

como era <strong>de</strong> esperar, <strong>de</strong>-tacando se sobretudo,<br />

como é natural o vulto eminente<br />

<strong>de</strong> Taborda.<br />

Francisco Lucas, muitíssimo Item no<br />

Tio Torquuto, e Luiz da Gama houve se<br />

um pouco correctamente no Inylez e<br />

Francez, notando-se todavia que na Casa<br />

<strong>de</strong> liabél exággeròu elle um tanto o<br />

seu papel, o que alterou <strong>de</strong>sagradavelmeute<br />

o apreciavel amador que temos<br />

applaudido.<br />

Também agradou muito o monologo<br />

Pisca-pisca revelando o sr. Oliveira,<br />

muita habilida<strong>de</strong> para a scena.<br />

Bilhetes postaes<br />

Na repartição do correio d'esta cida<strong>de</strong><br />

tem havido falta <strong>de</strong> bilhetes postaes,<br />

<strong>de</strong>ixando-se por isso <strong>de</strong> satisfazer ás<br />

requisições do publico.<br />

A recebedoria do concelho que é a<br />

que I9rn_r.ce as repartições postaes esgotou<br />

por completo o seu <strong>de</strong>posito.<br />

Iiente cathedratico<br />

Vae ser promovido a lente cathedratico<br />

da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina o illustrado<br />

professor sr. dr. Luiz Pereira da Costa.<br />

Visita «las magesta<strong>de</strong>»<br />

Alguns jornaes affirniam que suas<br />

ntagesla<strong>de</strong>s virão a <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong>pois do<br />

seu regresso <strong>de</strong> Hespanha.<br />

A noticia, <strong>de</strong>cididamente, não passa<br />

<strong>de</strong> boato.<br />

Estudantes <strong>de</strong> Medicina<br />

Acerca da pretensão dos estudantes<br />

<strong>de</strong> medicina da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que pediram<br />

áo governo a suppressãò das ca<strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong> grego e allemão, nos preparatórios<br />

dè medicina, éonsta que este assumpto'<br />

vae ser tratado no conselho superior <strong>de</strong><br />

instriicção publica.<br />

Recita dos quintanistas<br />

Reunido o curso do 5.° anno <strong>de</strong> direito<br />

<strong>de</strong>liberou promover a recita <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida,<br />

dando começo aos trábalbos preparatórios.<br />

Contam po<strong>de</strong>r realisar esta festa antes<br />

das ferias da Pascltoa.<br />

Congresso <strong>de</strong> Medicina<br />

A faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina acaba <strong>de</strong><br />

receber convite do professor Baccelli,<br />

para se representar no congresso internacional<br />

<strong>de</strong> Medicina que ha <strong>de</strong> realisar<br />

em Roma, no mez <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1893.<br />

Deliberou o conselho da mesma Faculda<strong>de</strong><br />

nomear para seu representante,<br />

o sr. dr. Augusto Rocha, que, dizem,<br />

aceitara o encargo d'esta missão.<br />

Inventario<br />

Ao sr. reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi<br />

entregue o inventario dos differentes<br />

objectos tpie existem 110 paço.<br />

Recenseamento militar<br />

O sorteio dos mancebos recenseados<br />

110 presente anno para o serviço do exercito<br />

e da armada pertencentes aos concelhos<br />

<strong>de</strong> Sourer Cantanhe<strong>de</strong>, Mira e<br />

Louzã, lia <strong>de</strong> realisar-se 110 dia 24 do<br />

corrente.<br />

Assumptos agrícolas<br />

Na ultima reunião do conselho superior<br />

<strong>de</strong> agricultura tratou-se dos programmas<br />

da Escola Central <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, do<br />

preço das vi<strong>de</strong>iras vendidas aos agricultores<br />

e das tarifas dos cantinhos <strong>de</strong> ferro.<br />

Curso <strong>de</strong> pharmacia<br />

Reunida ullimamente a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina fez a distribuição <strong>de</strong> prémios<br />

aos alumnosi do curso <strong>de</strong> pharmacia.,<br />

sendo premiados os seguintes:<br />

2. c anno—José Yictorino jíaptista dos<br />

Santos, natural <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com o partido<br />

<strong>de</strong> 30/000 réis.<br />

Domingos Simões Sampaio, natural<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, i<strong>de</strong>m.<br />

3." anno—Diogo Augusto Coxito Granado,<br />

natural <strong>de</strong> Escalhão, i<strong>de</strong>m.<br />

300000 réis.<br />

José d'Almeida Barreio, natural <strong>de</strong><br />

Sôza, i<strong>de</strong>m.<br />

Miguel Fernan<strong>de</strong>s Ramalho, natural<br />

<strong>de</strong> Freixedas, i<strong>de</strong>m.<br />

«Povo da Figueira»<br />

É o titulo d'Um novo semanario republicano<br />

que em breve vae encetar a<br />

sua publicação na Figueira, on<strong>de</strong> o elemento<br />

republicano é já gran<strong>de</strong>.<br />

Á sua frente estão homens já experimentados<br />

nas pugnas da imprensa, o<br />

que é sobeja garantia para que o novo luctador<br />

do credo republicano possa pre,-tar<br />

naquella localida<strong>de</strong> serviços importantes.<br />

Recebemos com jubilo a noticia da<br />

appariçào do novo collega e oxalá que<br />

obtenha do publico a protecção que merece.<br />

O gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong><br />

As gentes monarchicas além das festas<br />

que promove no dia da chegada <strong>de</strong><br />

suas magesta<strong>de</strong>s, queimará na rotunda<br />

da Avenida um explenJido fogo <strong>de</strong> arlilicio,<br />

"cujo prograinnaa é o seguinte:<br />

N.° 1— Saíra <strong>de</strong> 21 tiros.<br />

N.° 2—Um bouquel <strong>de</strong> foguetes <strong>de</strong> côres.<br />

N.° 3— Gtailadas e chuva <strong>de</strong> côres e' oiro.<br />

N.° 4—Foguetes luminosos,<br />

N.° 5—Foguetes <strong>de</strong> estrellas suspensas.<br />

N.° 6—Um bouquet <strong>de</strong> foguetes venezianos.<br />

N.° 7—Fogo <strong>de</strong> estrellas do. norte.<br />

N.° 8—Granadas luminosas.<br />

N.° 9—Estrellas volantes.<br />

N,o 10—Maravilhas celestes.<br />

N.° 11—Luzes orientaes.<br />

N. e 12—Balões luminosos.<br />

N.° 13—Gran<strong>de</strong> chuva <strong>de</strong> oiro.<br />

N.° 14—Expiraes ar<strong>de</strong>ntes.<br />

N.° 15—Peça tinal.<br />

Depois d'isto só nos resta ver as<br />

condições do paiz e as contas do thesouro.<br />

Eil-as: Informa o Diário do Governo<br />

que nos <strong>de</strong>z mezes <strong>de</strong>corridos <strong>de</strong> janeiro<br />

a outubro, as receitas <strong>de</strong> 1892 na me-<br />

Iropole e consulados diminuíram 217<br />

contos e que as <strong>de</strong>spezas augmentaram<br />

3:677 contos.<br />

Nos <strong>de</strong>z mezes <strong>de</strong>corridos<br />

da gereneia do sr. José Dias<br />

Ferreira as <strong>de</strong>spezas augmentaram<br />

3:677 contos <strong>de</strong> réis!<br />

Está direito Que tem os negocios do<br />

estado tão <strong>de</strong>safogados pô<strong>de</strong> bem melterse<br />

ent extravagancias.<br />

Bem dizemos nós: — emquanto houver<br />

que ven<strong>de</strong>r e empenhar, não nos<br />

largam 1<br />

Na regencia<br />

A rainha regente acompanhada <strong>de</strong><br />

seu filho D. Affonso tem visitado a Penienciaria<br />

corveta Bartholomeu Dias e a<br />

escola <strong>de</strong>. alumnos marinheiros. Visitou<br />

lambem varias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncias do Arsenal<br />

e por fim o hospital da marinha.<br />

A GRANEL<br />

A votação republicana em Ponta Delgada<br />

foi esta: Tlteophilo Braga, 1:175;<br />

Cymbron <strong>de</strong> Sousa, 1:178, Casimiro<br />

Franco, 1:050.<br />

* * * Consta que alguns membros<br />

da commissão dos festejos realistas tentaram<br />

arrastar a commissão executiva da<br />

camara municipal a subscrever para as<br />

<strong>de</strong>spezas ou a tomar a iniciativa <strong>de</strong> alguns<br />

festejos.<br />

Diz-se que houve, porém, quem fizesse<br />

sentir que seria preferível a commissão<br />

executiva abster-se.<br />

* * # Já foram entregues ao sr.<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, inspector das escolas<br />

industriaes da circumscripção do sul, os<br />

projectos <strong>de</strong> programmas elaborado- pelos<br />

professores da e-cola «Campos Mello»,<br />

da Covilhã, para as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho,<br />

francez, mathematica, chimica e officina<br />

<strong>de</strong> tecelagem, professadas nesta escola<br />

industrial.<br />

* * # Foi enviada para Lisboa a<br />

representação da cantara municipal do<br />

Porto contra a ultima reforma administrativa.<br />

* * * Nas. ilhas do Faval, Pico e<br />

Flores lem-se apanhado bastantes baleias,<br />

que produziram consi<strong>de</strong>rável numero <strong>de</strong><br />

barris <strong>de</strong> oleo.<br />

* * * Já começaram a aftluir á Ma<strong>de</strong>ira<br />

alguns estrangeiros que vão alli<br />

passar o inverno para procurar allivios<br />

aos seus pa<strong>de</strong>cimentos:<br />

* * * A camara municipal do concelho<br />

da Calheta, Ma<strong>de</strong>ira, resolveu representar<br />

ao governo <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>,<br />

contra a inlroducção - <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

cereaes dos Açores, a qual prejudica a<br />

cultura <strong>de</strong> canua doce naquella villa.<br />

* * # Nas Amoreiras, concelho <strong>de</strong><br />

Pampilhosa, morreram duas creanças por<br />

terem comido uns cogumellos, e está moribunda<br />

uma outra pelo mesmo motivo.<br />

Eram irmãos.<br />

* * * A<strong>de</strong>lina Patti, que canton ultimamente<br />

numa só uoite 110 Albert Hall,<br />

em Londres, recebeu a fabulosa quantia<br />

<strong>de</strong> 800 libras sterlinas.<br />

* * * Já se fez a trasladação dos<br />

restos morlaes do gran<strong>de</strong> actor Antonio<br />

Pedro para o tumulo <strong>de</strong> José Carlos dos<br />

Santos.<br />

* * # Falleceu ultimamente num<br />

convento <strong>de</strong> Jerusalem uma religiosa arménia,<br />

com a eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 115 annos. Tinha<br />

entrado para o convento aos 17 annos,<br />

e lá viveu 98, sem nunca d'alli sair 1<br />

* * # Nas faldas da serra do Marão<br />

foi vista passar uma alcatéa <strong>de</strong> sete<br />

lobos, acossados talvez pela invernia dos<br />

últimos dias.<br />

* * * Os estragos produzidos pelas<br />

ultimas tempesta<strong>de</strong>s nos Estados-Uuidos<br />

foram lerriveis. Nos portos do sul houve<br />

prejuízos superiores a 450:000 dollars 1<br />

* * # Folhas da capital dão a noticia<br />

<strong>de</strong> que o Papa dirigirá brevemente<br />

Lettras Apostolicas a Portugal para conciliar<br />

os partidos políticos d'este paiz.<br />

* * * O conselho da administração<br />

das egrejas do culto evaugelico <strong>de</strong> Weilbúrg-Nassau,<br />

resolveu que todas as pessoas<br />

que assistirem a um casamento sem<br />

fazer parte dos convidados p.igarão <strong>de</strong>z<br />

pfennig (um tosUo).<br />

wawt.i ,1,1 I gusgag—gn I. imm' ui-iL<br />

* * # No mez <strong>de</strong> outubro houve<br />

no sanctuario do Sameiro o seguinte<br />

rendimento: Esmolas <strong>de</strong> bemfeitores,<br />

71/450 réis; ditas recollpdas no prato,<br />

480280; <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> estampas, 820400.<br />

Total, 2020130 réis.<br />

* * * Os partidarios do sr. con<strong>de</strong><br />

Burnay distribuíram, na horta da fabrica<br />

<strong>de</strong> tecidos da Covilhã, um jantar a todos<br />

os pobres que alli appareceram.<br />

* * * Em digressão <strong>de</strong> propaganda<br />

partem brevemente para o Algarve, os<br />

srs. Luiz <strong>de</strong> Figueiredo e Fernan<strong>de</strong>s Alves,<br />

do Protesto Operário.<br />

* * * As : esmólas colhidas no sanctuario<br />

do Bom Jesus do Monte, em todo<br />

o mez <strong>de</strong> outubro, chegaram a 1410030<br />

réis, não mencionando as provenientes<br />

da venda das estampas, que <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r<br />

a 40/000 réis.<br />

* * * A noticia publicada pelos<br />

jornaes <strong>de</strong> New-York annunciando que<br />

rebentára a revolução no estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong>, é absolutapinnte falsa.<br />

Coisas e loisas<br />

Harmonias conjugaes:<br />

— Sabes quem morreu?<br />

— Quem?<br />

— O Eugénio Salvador.<br />

— Que <strong>de</strong>sgraça a minha !<br />

— Porque te affliges assim?<br />

— Porque me tinha promettido casar<br />

comigo assim que tu morresses.<br />

*<br />

— De que raça é fiste cão, meu rapaz<br />

? -<br />

•— É parte rateiro...<br />

— E a outra parte ?<br />

— Ah !... é unicamente cão.<br />

*<br />

O juiz. — Com esta é a oitava vez<br />

que o tribunal o con<strong>de</strong>mna pelo mesmo<br />

crime.<br />

O reu.—D'essa maneira não sei qual<br />

<strong>de</strong> nós é o reinci<strong>de</strong>nte !<br />

Desgarradas<br />

Rosa branca toma àir,<br />

Não sejas tão <strong>de</strong>smaiada,<br />

Que dizem as outras rosas:<br />

Rosa branca não és nada.<br />

Instrucções relativas ao regulamento<br />

dos partidos <strong>de</strong> facultativos<br />

e da botica da Santa Casa<br />

da Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

C\PITULO III<br />

Da botica<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Art. 16 °—O numero <strong>de</strong> praticantes<br />

internos é fixado em tres. Quando forem<br />

alumnos do Collegio, nenhuma remuneração<br />

recebem, ficando porém a cargo<br />

d'aquelle todas as <strong>de</strong>spezas com elles,<br />

emquanto se conservarem no Collegio e<br />

forem praticantes da botica. Quando forem<br />

estranhos ao Collegio, terão cama e<br />

nteza e as mais vantagens que se contractarem.<br />

| único. Os praticantes alumnos do<br />

Collegio que sahirem por se lhes arranjar<br />

collocação noutra botica, alem do enxoval<br />

que recebem todos alumnos e das<br />

<strong>de</strong>spezas com a viagem, po<strong>de</strong>rão ainda<br />

ser subsidiados, quando fizerem exame<br />

<strong>de</strong> pharmaeia, com uma quantia não superior<br />

a 10/000 réis para ajuda da matricula.<br />

Ari. 17.°—Alem dos praticantes internos<br />

po<strong>de</strong>m ser admitlidos, por accordo<br />

entre o Provedor e o administrador<br />

da botica, praticantes externos, sob as<br />

condições seguintes:<br />

1." Nenhum ónus ou encargo, incluindo<br />

os <strong>de</strong> cama e mesa, pesará sobre<br />

a Santa Casa ;<br />

2. a Virão praticar todos os dias durante<br />

as horas que lhes forem <strong>de</strong>signadas<br />

pelo administrador da botica;<br />

5. a Incorrerão em todas as penas<br />

relativas aos praticantes internos na parte<br />

em que lhes forem applicaveis.<br />

Art. 18.°—O ajudante e os praticantes<br />

são obrigados:<br />

1.° A aviar o receituário que lhes<br />

fôr distribuído pelo administrador, ou aos<br />

praticantes, pelo ajudante;<br />

2.° A tomar nota em livro especia<br />

das substancias que forem acabando e<br />

das que se hajam inutilisado, dando logo<br />

conhecimento d'isso ao administrador, e,<br />

na falta d'esle, ao ajudante;<br />

3.° A cumprir, emfim, todas as or<strong>de</strong>ns<br />

do administrador que digam respeito<br />

tanto á preparação dos medicamentos<br />

magistraes e officinaes e ao expediente<br />

do receituário, como também á<br />

limpeza, or<strong>de</strong>m e aceio dos utensílios e<br />

da própria botica.<br />

Art. 19.°—É absolutamente prohibido<br />

aos praticantes indicar aos doentes a<br />

ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> usar qualquer medicamento,<br />

exceptuando-se d'esta disposição o sentido<br />

das legendas — para uso interno —<br />

para aso externo — para collyrio — para<br />

clyster,, etc.—, que são sempre obrigatórias<br />

em cada medicamento expedido, e<br />

que <strong>de</strong>verão ser lambem expostas <strong>de</strong> vi-<br />

Ta voz.<br />

Ar. 20.°—Os medicamentos, seja qual<br />

fôr a sua applicação, não po<strong>de</strong>rão ser entregues<br />

a creanças <strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>, ainda<br />

mesmo que lhes sejam <strong>de</strong>stinados.<br />

Art. 21.°—O creado é especialmente<br />

incumbido <strong>de</strong> cortar, contundir, rasurar<br />

e peneirar as substancias medicinaes, lavar<br />

os utensílios, varrer e arrumar as<br />

differentes casas do estabelecimento, fazer<br />

os recados fóra da botica e prestar<br />

todo o mais serviço que lhe fôr <strong>de</strong>signado,<br />

em harmonia com a indole do seu<br />

logar.<br />

Ari. 22.°—Tanto os praticantes internos,<br />

sejam ou não alumnos do Collegio,<br />

como o ajudante e o creado, têm<br />

comida no Collegio, <strong>de</strong>vendo comparecer<br />

ás refeições da comntunida<strong>de</strong>, logo que a<br />

respectiva sineta <strong>de</strong>r o signal, dois praticantes,<br />

ou o ajudante e um dos praticantes,<br />

conforme a <strong>de</strong>signação que o<br />

administrador da botica tiver feilo; e á<br />

segunda mesa os restantes.<br />

Art. 23 °—O ajudante e o creado,<br />

bem como os praticantes internos que<br />

não forem alumuos do Collegio, dormem<br />

nos aposentos juntos á botica; quando<br />

porem os praticantes internos forem todos<br />

alumnos do Collegio po<strong>de</strong>rá também<br />

um d'elies, <strong>de</strong>signado pelo Provedor, ouvidos<br />

previamente o administrador da<br />

botica e o reitor do Collegio, ficar na botica.<br />

Art. 24 0 —Os encargos impostos aos<br />

Collegios com a alimentação <strong>de</strong> todo o<br />

pessoal menor da botica, e com o vestuário<br />

e aulas dos ajudantes e praticantes<br />

que forem alumnos do Collegio, consi<strong>de</strong>ram-se<br />

a justa compensação dos medicamentos<br />

e facultativos que os mesmos<br />

collegios recebem gratuitamente do Monte-Pio<br />

Art. 25.° — Estas instrucções ficam<br />

fazendo parte do Itegulamento dos partidos<br />

<strong>de</strong> facultativos e da botica, e só po<strong>de</strong>m<br />

ser alteradas pela Mesa, seguindose<br />

o processo que fôr estabelecido no<br />

respectivo regulamento.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1892.<br />

Manoel Dias da Silva, provedor.<br />

Guilherme Alves Moreira, secretario.<br />

José Doria.<br />

Antonio Francisco do Valle.<br />

Adriano da Silva Ferreira.<br />

Antonio <strong>de</strong> Paula e Silva.<br />

Daniel Gue<strong>de</strong>s Coelho.<br />

EXPEDIENTE<br />

Prevenimos os nossos estimáveis<br />

assignanles <strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

em divida á administração do<br />

Defensor do Povo, <strong>de</strong> qne vamos<br />

enviar pelo correio os recibos das<br />

sitas assignaturas, passados alé ao<br />

dia 21 <strong>de</strong> janeiro, fim do 1.* semestre<br />

da publicação do nosso jornal.<br />

Aquelles para on<strong>de</strong> se não possa<br />

fazer cobrança postal, pedimos a fineza<br />

<strong>de</strong> nos enviarem a imporfancia<br />

do i.° semestre, para regularisar<br />

a nossa escripturação.<br />

Esperando a satisfação do nosso<br />

pedido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já agra<strong>de</strong>cemos os<br />

seus obséquios.<br />

Os recibos da Figueira são cobrados,<br />

por especial fineza, pelo ex. mo<br />

sr. Antonio Fernan<strong>de</strong>s Lindote.<br />

Os recibos <strong>de</strong> Leiria lambem<br />

por obsequio serão cobrados pelo<br />

ex. mo sr. Eduardo Martins da Cruz.<br />

1


A XX» I — 3 5 O DEFEXIOR DO POVO 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />

L I V R O S<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

um exemplar.<br />

DE<br />

Antonio Narciso Alves Correia<br />

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prolongamento da vida)<br />

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A erise monetária e suas consequências,<br />

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Dedicada ao commercio e mais industrias<br />

do paiz por<br />

ALVES MIRANDA<br />

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Protesto patriotico contra Roma<br />

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Joaquim dos Santos Figueiredo<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, Coim-<br />

bra e Lisboa. — Preço 50 réis.<br />

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po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />

a S. B. F. — Pombal.<br />

E S T U D A N T E S<br />

„ ecebe-os uma familia (pie<br />

ITI dá exccllente comida e bom<br />

traio por preços modicos.<br />

Para esclarecimentos, dirigir a esta<br />

redacção directamente ou por carta com<br />

as iniciaes C. S.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

„„ fi ugusto IVuiiei dos Sanek<br />

*«s, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />

RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />

ANTONIO VEIGA<br />

Latoeiro d'amarello<br />

e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />

jstxecuta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />

& carimbos em todos os generos,<br />

sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />

— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />

banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />

para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />

metal em chapa, fundição e torneiro,<br />

amarella e branca. — Prateia-se -todo o<br />

çbjecto <strong>de</strong> metal uovo ou usado.<br />

Vinho iaduro do Douro<br />

e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />

SUPERIOR QUALIDADE<br />

en<strong>de</strong>-se na mercearia Ave-<br />

51 Y nida.— Largo do Principe<br />

D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 — <strong>Coimbra</strong>.<br />

FASQUIA PARA ESTUQUES<br />

E<br />

LAD&lIiBOS HQSAICOS<br />

15<br />

a Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />

<strong>de</strong> José Victorino<br />

B. Miranda, em Santa Clara, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia própria para estuques a 7|$500<br />

réis cada milheiro, posta em casa dos<br />

compradores em <strong>Coimbra</strong> e subúrbios.<br />

Na mesma Fabrica serra-se também<br />

fasquia <strong>de</strong> conta alheia por preços<br />

resumidos.<br />

muito<br />

Encarrega-se <strong>de</strong> tomar encommendas<br />

em <strong>Coimbra</strong> José Tavares da Co.-la successor,<br />

no largo Principe D. Carlos, 2<br />

a 8 (loja <strong>de</strong> mercearia), on<strong>de</strong> os mestres<br />

d'obras e proprielai ios encontram também<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> ladrilhos mosaicos<br />

<strong>de</strong> lindos e variados gostos, havendo-os<br />

próprios para guarda vassouras<br />

que produzem muito bonito effeito e economia.<br />

Santa Clara, 1 d'Agosto <strong>de</strong> 1898.<br />

G A R R A F A S<br />

38 Antonio Dias Themido,<br />

compra garrafas brancas<br />

e pretas.<br />

Rua Ferreira Borges,<br />

129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />

ACTPRAS<br />

IMPRIMEM-SE<br />

Typographia Operaria<br />

Largo da Freiria, 14<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

ESTABELECIMENTO<br />

P O S T O M E D I C O<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

(Arco cTÁlmedina)<br />

ANTONIO DA SILVA PONTES<br />

_„ f\onsultas das 12 horas ás<br />

5U Vt 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />

ás 9 da noite.<br />

Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser procurado<br />

na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />

Apostolos, n.° 22.<br />

EMPEEGÂDO<br />

5 J<br />

a casa <strong>de</strong> Cambio ao fundo<br />

da Praça do Commercio<br />

precisa--e <strong>de</strong> um empregado para estar<br />

á testa da mesma o qual tem <strong>de</strong> prestar<br />

caução.<br />

VINHOS DE MESA SUPERIORES<br />

B<br />

M I M ALIMENTÍCIOS<br />

. „ ftia rua <strong>de</strong> Ferreira Borges n. M<br />

4 IH 83 a 91 acaba <strong>de</strong> chegar<br />

maguilico vinho das seguiutes localida<strong>de</strong>s<br />

:<br />

T O R R E S N O V A S<br />

FUMDlO<br />

BAIRRADA<br />

Vinho branco especial. Vinhos do<br />

Porto, Ma<strong>de</strong>ira, Bucellos, Carcavellos,<br />

Champagne e muitos outros.<br />

No mesmo estabelecimento ha sempre<br />

especialida<strong>de</strong> em generos alimentícios.<br />

Manteiga franceza, ingleza e portugueza<br />

<strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>. Chá preto<br />

e ver<strong>de</strong> muito superior, bolacha <strong>de</strong> Lisboa<br />

das mais finas qualida<strong>de</strong>s, biscoitos<br />

e torta <strong>de</strong> Vallongo.<br />

SOBRE MESA<br />

Pera passada <strong>de</strong> Vizeu, abrunho <strong>de</strong><br />

Elvas, ligo do Douro e do Algarve, <strong>de</strong><br />

primeira qualida<strong>de</strong>, passas <strong>de</strong> Malaga,<br />

castanhas do Maranhão, murcellas <strong>de</strong><br />

Arouca e muito mais varieda<strong>de</strong>s para sobre<br />

mesa tanto em fructas seccas como<br />

em doce.<br />

Preços modicos em tudo<br />

Dl?<br />

l á l l l B â l B M l € l :<br />

N<br />

DE<br />

JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />

este estabelecimento encontra o comprador o que ha <strong>de</strong> mais<br />

mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />

Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />

Largo da Freiria, n. os I a 3<br />

COIMBRA<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17-ADRO DE CIMA-20<br />

fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

C O I M B R A<br />

a A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />

A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />

nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />

faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dous<br />

radas para adultos e crianças.<br />

Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />

POMADA DO DR. QUEIROZ<br />

, I_u - - M M ^ M M I W B ^ II III Ill" '••»• ii•«mwji.mm<br />

Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />

e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />

Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />

31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />

& C.»<br />

N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

CENTRO DA MODA<br />

DE<br />

MENDES D'ABREU & C. A<br />

60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

I 2 H B B A .<br />

. „ * este acreditado estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />

J* completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />

fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam coin a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preços.<br />

Os proprietários d'esle estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />

das manufacturas, montaram no mesmo prédio uma esplendida officina d'alfaiateria,<br />

on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />

No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />

Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />

gizes custa 400 réis.<br />

64<br />

DEPOSITO DA FABHICA NACIONAL<br />

DE<br />

B 0 M C M 1 1 B I S C O I T O S<br />

DE<br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

2 "VrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

B i u i l i<br />

14, Largo dlmciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 429<br />

CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />

ANTONIO JOSÉ SE MOUEA SASIO-RUA 2SS SAPATEIAS, 20 A 23<br />

OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />

ESTAMPARIA MECUAftlCA<br />

g íuge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como falo<br />

JL feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />

vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lá, etc., sem serenr <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

Tintas para escrevei* <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, allemães e fraucezes. Preços inferiores.<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serra-<br />

Iheria e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

José da Gosta Soares, á<br />

rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia para tabiqu^s e estuques<br />

a 70000 réis o milheiro.<br />

JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />

Kí° * , e u ant '8° estabelecimento<br />

J^l concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />

:<br />

Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

S|000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2^200<br />

réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1)5500<br />

Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e algodão<br />

para coberturas baratas. Garante-se<br />

a perfeição do trabalho eneommendado<br />

nesta casa.<br />

D'í)BilAS ARRENDAMENTO<br />

48 A P I ' e m < , a "* e 0 Prédio n.° 83 a<br />

A 87, da rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

com magnificas acomnioilações.<br />

Para tratar na loja do mesmo prédio,<br />

com Jose Paulo Ferreira da Costa.<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 97<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE 1SSIGNÂTURÂ<br />

Com estampilha<br />

Anno<br />

Semestre....<br />

Trimestre,..<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

WOO<br />

U330<br />

680<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2*400<br />

Semestre 1*200<br />

Trimestre... 600


A v a n t e l<br />

O partido republicano, cuja força<br />

dia a dia mais se affirma, tem, mais<br />

que o <strong>de</strong>ver, a obrigação <strong>de</strong> não<br />

afrouxar nem por um instante na<br />

lucta que travou.<br />

A. agremiação politica organisada<br />

e forte, que ha <strong>de</strong> arcar com a<br />

responsabilida<strong>de</strong> tremenda <strong>de</strong> reorganisar<br />

em bases novas a socieda<strong>de</strong><br />

portugueza, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> luctar<br />

constantemente pela propagação<br />

da sã doutrina e pela <strong>de</strong>struição do<br />

erro manifesto.<br />

E' nesta lucta que se empenham<br />

os mais <strong>de</strong>nodados esforços, que se<br />

affirmam as mais sinceras <strong>de</strong>dicações.<br />

Neste caminho <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrocada<br />

constante, batendo sem cessar a alluida<br />

fortaleza dos velhos princípios<br />

dynasticos com a catapulta serena e<br />

tena^ das novas i<strong>de</strong>ias da Justiça e<br />

do Direito, em pouco tempo havemos<br />

<strong>de</strong> arvorar nas velhas ameias<br />

da torre <strong>de</strong>smantelladà a ban<strong>de</strong>ira<br />

regeneradora dos novos princípios<br />

<strong>de</strong> progresso e civilisação.<br />

Ficará aberto e franco á tôdas as<br />

activida<strong>de</strong>s o mais largo campo para<br />

o seu <strong>de</strong>senvolvimento. O nepotismo,<br />

que impera hoje, ha <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r o<br />

passo ao livre concurso da intelligencia<br />

e do trabalho \ a insignificância<br />

dará logar ao .mérito, e num regimen<br />

<strong>de</strong> paz, honestida<strong>de</strong> e rnoralisação<br />

renascerá para um melhor<br />

futuro o nosso paiz, banhado no<br />

bom e oxigenado ar da Justiça e da<br />

Verda<strong>de</strong>.<br />

E é neste regimen salutar e nobre<br />

que as instituições republicanas hão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as i<strong>de</strong>ias levantadas<br />

da regeneração para um largo futuro<br />

prospero <strong>de</strong> renascimento e trabalho.<br />

E' para esté <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ralum que convergem<br />

os nossos esforços, é com Os<br />

olhos fitos neste i<strong>de</strong>al que nós, os<br />

sinceros, os convictos, trabalhamos<br />

e luctamos com o ardor vehemente<br />

d'aquelles, que <strong>de</strong>dicam toda a sua<br />

energia ás causas justas.<br />

Não <strong>de</strong>scancemos, pois.<br />

Levantemos bem alto a nossa<br />

ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> combate; <strong>de</strong>sfraldámos<br />

bem ao vento o nosso lábaro, e saibamos<br />

mostrar a todos que somos<br />

tenazes e energicos—persistentes na<br />

consecução do nosso fim, <strong>de</strong>cididos<br />

na resistencia e na lucta. Façamos<br />

dos nossos princípios a. propaganda<br />

mais vasta — pela palavra, pela imprensa,<br />

pelo exemplo. Chamemos a<br />

nós pela pureza dos meios <strong>de</strong> que<br />

usamos, pela honesta serieda<strong>de</strong> dos<br />

nossos actos, pela elevação dos nossos<br />

fins, pela nobreza das nossas<br />

intenções, pela nossa consciência<br />

impoíluta—os tibios, os indifferentes,<br />

os <strong>de</strong>silludidos.<br />

Como outrora os esquadrões valentes,<br />

d^olhos cerrados e coração<br />

fremente, corriam, numa loucura<br />

heróica, ao sacrifício das próprias<br />

vidás, impellidos só pelo Dever,—<br />

marchemos também assim, unidos e<br />

cerrados, á conquista brilhante da<br />

nossa generosa i<strong>de</strong>ia, com a fé inabalavel<br />

dos crentes, com o enthusiasmo<br />

vibrante dos fortes.<br />

Defensor<br />

BI-SEMANÁRIO REPUBLICANO<br />

Franco Ascot.<br />

Querem dinheiro I<br />

Os bancos do Porto reclamam á valentona<br />

que o governo regularlse a situação<br />

em que se acham ! Por força querem<br />

dinheiro —uns 2:00(1 contos!<br />

Vá, srs. do governo, accudam aos<br />

hómemsinhos do Porto, que não querem<br />

saber das <strong>de</strong>sgraças do paiz.<br />

Fartaram-se <strong>de</strong> comer e roubar os<br />

accionistas e agora o paiz é que ha <strong>de</strong><br />

pagar as suas extravagancias.<br />

Se a ca<strong>de</strong>ia e a justiça se tivesse<br />

feito para esta qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criminosos,<br />

ul ! es não fatiariam tão alto 1<br />

PELOS JORNAES<br />

Com aquella candura que caracterisa<br />

o sr r. Ilcis Torgal, diz elle na Reforma:<br />

«Como uma afflrmação mais dos arreigados<br />

aíTectos do povo pelas instituições,<br />

não as julgamos precisas, porque<br />

o povo é essencialmente monarchico,<br />

e se quizessemos proval-o, bastaria<br />

compulsar o resultado dos actos<br />

eleitoraes a que ha pouco se proce<strong>de</strong>u»<br />

Isto não é candura ccuuo dissemos<br />

acima: isto é uma outra cousa que aqui<br />

não tem nome. Para lhe chamarmos pulliice<br />

é poucíf. Fica, portanto sem classificação<br />

• *<br />

É o Tempo que confirma o que muitas<br />

vezes aqui temos afíirmado.<br />

Ouçaniot o:<br />

«Sejamos logicos, se bem que é difflcil<br />

harmonisar com os dietauies da lógica<br />

e do bom senso, ris processos seguidos<br />

por essa entida<strong>de</strong> hybridaa que<br />

pela corrupção gradual das pálavras se<br />

tem, na nossa terra, convencionado<br />

chamar a Politica.»<br />

No mesmo artigo:<br />

«E é a meio d'esse tunnel, em que<br />

<strong>de</strong>víamos suppôr todos empenhados no<br />

esforço que leva para diaute, para o<br />

ponto luminoso em que <strong>de</strong>víamos ter<br />

posto os olhos,— que a briga se estabelece,<br />

a voz em grita, gesto <strong>de</strong>scomposto,<br />

rebenta a explosão <strong>de</strong> cóleras<br />

mal contidas, o medo èa <strong>de</strong>scrença lavram,<br />

as ambições fluctuam teimosas<br />

e irreverentes.»<br />

Ha aqui unia bisca para o sr. José<br />

Luciano e mais progressistas adjuntos.<br />

E já que falíamos no sr. José Luciano!<br />

Cá temos á mão preciosida<strong>de</strong>s do Correio<br />

da Noile.<br />

Isto é ler e pedir mais:<br />

«E' assombroso o que se fez em<br />

algumas assembleias par occasião das<br />

ultimas eleições municipaes. As auctorida<strong>de</strong>s<br />

administrativas o a força publica<br />

coinmetteram taeâ violências, que<br />

fazem lembrar as épocas cabralinas <strong>de</strong><br />

ominosa recordação.»<br />

«O Culpado <strong>de</strong> todos esses excessos,<br />

o responsável por todos esses attentatados<br />

ó o governo. Só a elle nos dirigimos.<br />

Só com elle ajustaremos as nossas<br />

contas. Findou a campanha junto da<br />

urna. Começa agora a campanha junto<br />

do governo, perante o paiz, diante<br />

d'aiwgos o <strong>de</strong> adversarios. O sangue<br />

das vicUmas não lia <strong>de</strong> cahir só sobre<br />

quein o <strong>de</strong>rramou Ha <strong>de</strong> cair também<br />

sobre o snr. presi<strong>de</strong>nte do conselho,<br />

que escolheu para seus <strong>de</strong>legados indivíduos<br />

afamados pelos seus prece<strong>de</strong>ntes,<br />

e lhe or<strong>de</strong>nou ou consentiu as prepotências<br />

e arbitrarieda<strong>de</strong>s, que produziram<br />

esses tristes espectáculos, que^<br />

maculam e envergonham a nossa éducação<br />

politica.»<br />

Jsto é genuinamente verda<strong>de</strong>iro; mas<br />

nos lábios do sr. José Luciano é <strong>de</strong> pas.<br />

mar.<br />

Quando estão na opposiçào sempre<br />

são umas vestaes 1<br />

Agora o Correio da Tar<strong>de</strong>:<br />

«Em todos os districtos em que os<br />

regeneradores combateram, fizeram,-no.<br />

tendo por si não só a força da auctorida<strong>de</strong>,<br />

mas também o concurso <strong>de</strong> bayonetas.<br />

O Governo <strong>de</strong>u-lhes tudo quanto<br />

pou<strong>de</strong>, tendo até em alguns círculos,<br />

<strong>de</strong> praticar violências, que o <strong>de</strong>shonraram,<br />

<strong>de</strong>sprestigiando as instituições.<br />

E nas eleições municipaes do Pòrtó, os<br />

progressistas tiveram <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobrar-se a<br />

favor dos regeneradores para que a lista<br />

republicana não ficasse vencedora.»<br />

Estão na quaresma politica e por isso<br />

vão fazendo a penitencia.<br />

0 mesmo jornal tratando da reforma<br />

eleitoral em projecto:<br />

*Não ê pois a lei que carece <strong>de</strong> reforma,<br />

mas os homems que merecem castigo.<br />

Não é a força abstracta que precisa<br />

<strong>de</strong> correcção, mas os encarregados <strong>de</strong> a<br />

respeitar, <strong>de</strong> a fazer cumprir e guardar.<br />

O governo prevaricou, o governo<br />

<strong>de</strong>linquiu, o governo atacou á mão armada<br />

as instituições, e, não po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se,<br />

preten<strong>de</strong> agora <strong>de</strong>clinar a<br />

sua responsabilida<strong>de</strong>, propondo uma<br />

reforma irrisória, para com ella ameaçar<br />

o parlamento que fez eleger no meio<br />

dos horrores <strong>de</strong> uma lucta sangrenta e<br />

con<strong>de</strong>mnavel.»<br />

Se vae á facada, vae á facada!<br />

Mais Correio da Noite:<br />

«Para suas magesta<strong>de</strong>s tudo, para o<br />

governo nada. A situação do sr. presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho não se modificou em<br />

cousa alguma com a sua ida a Hesoanha,<br />

antes talvez se tenha aggravado,<br />

sobretudo se é certo que s. ex. A promelteu<br />

ou fez promelter certas facilida<strong>de</strong>s<br />

para a conclusão do tratado <strong>de</strong> commercio<br />

num, sentido que não po<strong>de</strong> ser<br />

favoraveí para a industria portugueza,<br />

o que <strong>de</strong>pois se ha <strong>de</strong> averiguar e liquidar.<br />

O collar <strong>de</strong> Carlos III não divinisou<br />

o sr. presi<strong>de</strong>nte do conselho <strong>de</strong> ministros,<br />

nem o po<strong>de</strong> redimir dos seus gran<strong>de</strong>s<br />

erros, nem libertar das suas tremendas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s. E' o mesmo<br />

estadista impopular, <strong>de</strong>sprestigiado, annulado<br />

a exautorado.»<br />

Aqui ha pontos mysteriosos que bom<br />

seria aclarár.-<br />

Mais um poucochinho <strong>de</strong> indiscripção,<br />

sr. José Luciano.<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

LETTRAS<br />

A <strong>de</strong>functa<br />

ir<br />

Ella estava alli, alli <strong>de</strong>baixo, na podridão!<br />

Que horrorj! Desatei a soluçar,<br />

com o ro.-lo sobre a terra.<br />

Assim fiquei muito tempo, muito tempo.<br />

Depois, percebi que cairá a noite.<br />

Então, um <strong>de</strong>sejo estravagante, louco,<br />

um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> amante <strong>de</strong>sesperado, se<br />

apossou <strong>de</strong> mim. Quiz passar a noite<br />

perto d'ella, a ultima noite, a chorar sobre<br />

a sua campa. Mas, se me vissem,<br />

expulsar-me-iam. Que fazer? Recorri<br />

a um estratagema. Levantei me, e puz<br />

me a vaguear por essa cida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sapparecidos.<br />

Caminhava. Que pequena<br />

que é essa cida<strong>de</strong> ao lado da outra,<br />

d'aquella em que se vive 1 E todavia<br />

quanto mais numerosas são que os vivos<br />

esses mortos I Sâo-nos precisas gran<strong>de</strong>s<br />

casas, ruas, tão gran<strong>de</strong> espaço para as<br />

quatro gerações, que contemplam o dia,<br />

e que ao mesmo tempo bebem a agua<br />

das fontes, o vinho das vinhas e comem<br />

o pão dos campos, ti, para tantas gerações<br />

<strong>de</strong> mortos, para toda a escala da<br />

humanida<strong>de</strong> que chegou até nós, quasi<br />

nada, um campo quasi nadai A terra <strong>de</strong><br />

novo se apo<strong>de</strong>ra d'e!1es e o olvido apaga.<br />

A<strong>de</strong>us.<br />

Ao fim do cemiterio habitado <strong>de</strong>scobri<br />

<strong>de</strong> repente o cemiterio abandonado,<br />

aquelle em que os velhos <strong>de</strong>íunctos acabam<br />

<strong>de</strong> se misturar com a terra, on<strong>de</strong><br />

as próprias cruzes apodrecem, on<strong>de</strong> amanhã<br />

serão sepultados os últimos que chegarem<br />

I Está cheio <strong>de</strong> roseiras livres <strong>de</strong><br />

cyprestes vigorosos e negros, um jardim<br />

triste e soberbo, nutrido <strong>de</strong> carne<br />

humana.<br />

Estava só, perfeitamente só. Aninheime<br />

numa arvore verdi'. Fiquei <strong>de</strong> to.do<br />

escondido entre os seus ramos folhudos<br />

e sombrios.<br />

E esperei, agarrado ao tronco como<br />

um naulragio sobre um <strong>de</strong>stroço <strong>de</strong> navio<br />

1<br />

*<br />

Quando a noite se fez escura, muito<br />

escura, <strong>de</strong>ixei o meu refugio, e puz-me<br />

a caminhar levemente, a passos lentos,<br />

a passos surdos, sobre esta terra cheia<br />

<strong>de</strong> mortos.<br />

Vaguei por muito tempo, por muito<br />

tempo, por muito tempo. Não <strong>de</strong>i com<br />

ella ! Com os braços estendidos, os olhos<br />

abertos tocando nos tumulos com as<br />

mãos, com os pés, com os joelhos, com<br />

o peito, com a própria cabeça, caminhava<br />

sem dar com ella. Tateava, apalpava<br />

como um cego que procura a sua vareda,<br />

apalpava pedras, cruzes gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 36 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

ferro, coroas <strong>de</strong> vidro, coroas <strong>de</strong> flores<br />

fanadas! Lia os nomes com os meus <strong>de</strong>dos,<br />

passeiando-se por cima das lettras.<br />

Que noite, que noile! E não a encontrava<br />

!<br />

Não havia luar! Que noite! Tinha<br />

medo, um medo horrível naquellas ruas<br />

estreita*, entre duas linhas <strong>de</strong> tumulos.<br />

Tumulos! tumulos! A- direita, á esquerda,<br />

em frente <strong>de</strong> mim em volta <strong>de</strong> mim<br />

por toda a parte, tumulos. Sentei-me sobre<br />

um d'elles porque já não podia andar,<br />

<strong>de</strong> tanto que os meus joelhos vergavam.<br />

Ouvia bater o coração! E ouvi<br />

lambem outra coisa. Um ruído in<strong>de</strong>finível<br />

!<br />

Era na minha cabeça allucinada, na<br />

noite impenetrável, ou <strong>de</strong>baixo da terra<br />

mysleriosa, <strong>de</strong>baixo da terra semeada <strong>de</strong><br />

cadaveres humanos, que nascia esse ruído?<br />

Olhava em roda!<br />

E <strong>de</strong> súbito, pareceu-me que a cobertura<br />

<strong>de</strong> mármore, sobre que me assentára,<br />

se mexia. Sem duvida, mexiase,<br />

corno se alguém a levantasse. D'uin<br />

pulo, lancei-me sobre o tumulo proximo,<br />

e vi, sim, eu vi a pedra que acabava <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar erguer-se a pino, e o <strong>de</strong>functo<br />

apparecer, um esqueleto nú, que com o<br />

dorso curvado a erguia. Eu via, via muito<br />

bem, apezar da escuridão da noile. E<br />

sobre a cruz pu<strong>de</strong> ler:<br />

«Aqui jaz Thiago Olivant, fallecido<br />

na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cincoenta e um annos. Amava<br />

os seus, foi honrado e bom, e morreu<br />

na paz do Senhor».<br />

O <strong>de</strong>functo lia também as palavras<br />

escriptas sobre o seu mausoléu. Em seguida<br />

apanhou uma pedra na rua, unia<br />

pequena pedra aguçada, e poz-se a riscar<br />

cuidadosamente aquellas palavras.<br />

Apagou-as <strong>de</strong> todo, vagarosamente,<br />

miraudo com os seus olhos vnsios o sitio,<br />

em que pouco antes estavam gravadas;<br />

e, com a extremida<strong>de</strong> do osso, que tinha<br />

sido o seu <strong>de</strong>do indicador, escreveu em<br />

lettras luminosas, como essas linhas, que<br />

se traçam num muro com a extremida<strong>de</strong><br />

d'um phosphoro :<br />

«Aqui jaz Thiago Olivant, fallecido na<br />

eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cincoenta e um annos. Por seus<br />

maus [tratos, apressou a morte <strong>de</strong> seu<br />

pae, <strong>de</strong> quem queria ser her<strong>de</strong>iro, torturou<br />

uma mulher, atormentou seus filhos,<br />

enganou os seus visiiihos, roubou<br />

sempre que pou<strong>de</strong>, e morreu miserável».<br />

Quando acabou <strong>de</strong> escrever estas<br />

palavras, o <strong>de</strong>functo immovel, quedou-se<br />

a contemplar a sua obra. E percebi então,<br />

relanceando os olhos em volta, que<br />

todos os tumulos estavam abertos, que<br />

todos os cadaveres tinham saido, que<br />

todos tinham apagado as mentiras inscriptas<br />

pelos parentes sobre a pedra funerária,<br />

restabelecendo a verda<strong>de</strong>.<br />

E vi que todos tinham sido os algozes<br />

dos seus proxiiuos, odientos sem honra,<br />

hypocritas, mentirosos, malvados, calumniadores,<br />

invejosos; que tinham roubado,<br />

praticado actos vergonhosos, actos<br />

abominaveis—todos esses bons paes, essas<br />

esposas fieis, esses filhos <strong>de</strong>dicados,<br />

essas donzellas castas, esses commerciantes<br />

probos, esses homens e essas mulheres,<br />

que se inculcavam como irreprehen-<br />

siveis.<br />

Escreviam todos ao mesmo tempo,<br />

sobre o limiar <strong>de</strong> suas eternas moradas,<br />

a cruel, a terrível, a santa verda<strong>de</strong>, que<br />

toda a gente ignora ou finge ignorar sobre<br />

a terra.<br />

Pensei que ella também <strong>de</strong>via ter<br />

traçado sobre o seu tumulo. E então,<br />

sem medo, correndo por meio dos esqueletos,<br />

procurei-a, certo, já <strong>de</strong> a encontrar.<br />

Reconheci-a <strong>de</strong> longe, sem lhe ver o<br />

rosto, envolto no sudário.<br />

E sobre a cruz <strong>de</strong> mármore, era que,<br />

pouco antes, eu linha lido:<br />

«Amou, foi amada, e morreu.»<br />

Li então :<br />

«Tendo um dia saido <strong>de</strong> casa para<br />

trair o seu amante, a chuva causou-lhe<br />

um resfriamento, e morreu.»<br />

Creio que me ergueram, sem sentidos,<br />

ao nascer do dia, perlo d'um tumulo<br />

I<br />

Guy <strong>de</strong> Maupassant.<br />

COIMBRA POR DENTRO<br />

Dm velho honrado<br />

Sendo esta secção <strong>de</strong>stinada a tratar<br />

dos assumptos mais palpitantes da semana,<br />

é bem que aqui se falle num dos<br />

filhos mais dilectos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e que<br />

nós, no dia do seu anniversario, cumprimentamos<br />

d'este logar—o velho jorna<br />

lista, sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

E' hoje, 19, o dia do seu anniversario<br />

natalício. Nascia quando expirava<br />

o gran<strong>de</strong> patriota, Manoel Fernan<strong>de</strong>s Thomaz.<br />

Esta coincidência <strong>de</strong> dia e anno já<br />

foi notada por um escriptor distincto, que<br />

teve esta plirase: — «Ao mesmo tempo<br />

que se abria uma sepultura engiinaldava-se<br />

um berçoi Aqui sorria a esperança,<br />

acolá florescia a sauda<strong>de</strong>; cerrava se na<br />

primeira o epilogo e no segundo <strong>de</strong>spontava<br />

a aurora <strong>de</strong> duas vidas, úteis ambas<br />

á causa da liberda<strong>de</strong>.»<br />

Gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> aílinnada por todos<br />

que têm conhecimento completo da vida<br />

d'este houesto cidadão, que empregou o<br />

melhor tempo da sua mocida<strong>de</strong> a luctar<br />

contra as prepotências e <strong>de</strong>spotismos dos<br />

.Cabraes e que ainda hoje sabe verberar<br />

com energia os que vêm atacando as relagias<br />

populares, coarctando as liberda<strong>de</strong>s<br />

publicas.<br />

Ninguém no jornalismo portuguez o<br />

exce<strong>de</strong>u no combate travado contra os<br />

<strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> Lopo Vaz, que supprimiu a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião e dissociação perseguindo<br />

a imprensa com maior furor do<br />

que o fizera o famigerado Costa Cabral.<br />

Ninguém como elle combateu essa lei<br />

iniqua, odienta, peor do que a antiga lei<br />

das rolhas, feita expressamente para a<br />

imprensa republicana, que foi a victima<br />

dos furores d'esse déspota azul e branco,<br />

<strong>de</strong> ominosa memoria.<br />

Representam, pois, os seus 70 annos,<br />

completos hoje, unia vida <strong>de</strong> canceíras<br />

e <strong>de</strong> trabalho continuo, que só a<br />

sua constancia e o seu amor pela familia,<br />

o obrigam ao labutar constante no seu<br />

Conimbricense, que vae entrar no 46.°<br />

anno da sua publicação.<br />

*<br />

No meio da protervia em que vivemos,<br />

consola a gente olhar para um homem,<br />

que, apesar <strong>de</strong> não conservar o vigor<br />

da mocida<strong>de</strong>, nem a ardência dos novos,<br />

se não tem amoldado 110 meio vicioso<br />

cm que ahi se vejeta, <strong>de</strong>stacando-se bem<br />

salientemente d'essa turba-muita <strong>de</strong> interesseiros<br />

e ambiciosos que vivem para<br />

comer á custa alheia, com sacrilicio da<br />

nação.<br />

Nascido no trabalho, para o trabalho<br />

tem vivido, 110 trabalho morrerá. E' isto<br />

que o honra, que o nobilita, que o faz<br />

impôr-se á consi<strong>de</strong>ração publica e ao respeito<br />

<strong>de</strong> lodos.<br />

Porque este honrado velho tem assistido<br />

com tristeza ao suicídio moral<br />

<strong>de</strong> muitos homens <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> talento,<br />

que ambiciosos por subirem, cegos pelo<br />

fausto e pelas gran<strong>de</strong>zas, caem aos primeiros<br />

passos, com o nome <strong>de</strong>shonrado<br />

e a dignida<strong>de</strong> perdida!<br />

E elle sempre no seu posto: trabalhando,<br />

estudando; ensinando os.novos<br />

a amar a liberda<strong>de</strong>, a patria, a terra<br />

que lhe foi berço! Assim, o mo<strong>de</strong>sto<br />

operário, tem conservado intacta a herança<br />

dos seus paes: nome honrado,<br />

<strong>de</strong>spido <strong>de</strong> riquezas; mas nome conhecido<br />

em todo o paiz e por todo o paiz<br />

respeitado.<br />

E' esta a sua gran<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, já rara<br />

nestes tempos, em que bons caracteres<br />

se adulteram, quando a vaida<strong>de</strong> os assola.<br />

19 <strong>de</strong> novembro.<br />

Nestorio dos Anjos.<br />

A crise ministerial<br />

Con(irma-se novamente que no ministério<br />

haverá recomposição antes <strong>de</strong><br />

aberto o parlamento, suppondo-se a saida<br />

do sr. Dias Ferreira, pelas intrigas partidarias<br />

<strong>de</strong> regeneradores e -progressistas,<br />

ávidos pelo po<strong>de</strong>r.<br />

Tau.o se nos dá.,»


I — 36 O DBFBMVOR DO POVO ao <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1899<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Sobre o abysmo<br />

Os presi<strong>de</strong>ntes das assembleias eleitoraes,<br />

que Ião hábeis empalmadores se<br />

revelaram nas ultimas eleições do município,<br />

vão dar, a pedido, mais um espectáculo<br />

<strong>de</strong> prestidigitação nas salas do<br />

tribunal criminal.<br />

É <strong>de</strong> crer (pie quem, com tão espantosa<br />

perícia, escamoteia centenas <strong>de</strong> votos,<br />

engula sem gran<strong>de</strong> estorço alguns<br />

mezes <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia!<br />

A extraordioaria funcção <strong>de</strong>ve-se á<br />

enérgica activida<strong>de</strong> (los srs. Cunha e<br />

Costa e Alexandre Braga, dois republicanos<br />

<strong>de</strong>dicadíssimos, dois homens sem<br />

macula, e dois valentes <strong>de</strong>fensores das<br />

regalias populares.<br />

Seria para <strong>de</strong>sejar que o henevolo<br />

regimen azul e branco (que nos tem arrastado<br />

a essa <strong>de</strong>cantada e <strong>de</strong>plorável<br />

brandura <strong>de</strong> costumes. ..) não protegesse<br />

os malandrins sob o seu manto, á<br />

sombra do qual o sr. Mariano <strong>de</strong> Carvalho<br />

medrou a olhos visto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

lhe ter chamado capa <strong>de</strong>. .. presi<strong>de</strong>ntes<br />

eleitoraes.<br />

O partido republicano que—diga-se<br />

sem rebuço, pese a quem pesarJ — é<br />

aqui importantíssimo, e 110 qual figuram<br />

os homens mais consi<strong>de</strong>rados do Porto,<br />

foi escandalosamente ludibriado, e é,<br />

portanto, d'absoluta necessida<strong>de</strong> que se<br />

dê uma satisfação condigna a e-sas consciências<br />

exploradas, illudidas torpemente<br />

pelos lacaios da galopinagem assalariada.<br />

*<br />

Emquanto por cá pullulam estas vergonhas<br />

(dynamonietro que nunca a força<br />

exacta da monarchia...) emquanto o<br />

paiz exhausto se estorce nas convulsões<br />

do agonisanle, luclando com as mil contrarieda<strong>de</strong>s<br />

que o esmagam, sentindo<br />

roer-lhe a alma o cancro da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia,<br />

arrazado pela crise, affrontado pela pirataria<br />

britannica, que ameaça mandar nos<br />

os seus vasos <strong>de</strong> guerra para o Tejo,<br />

emquanto Portugal cae em ruína, sem<br />

dinheiro em casa, sem credito no estrangeiro,<br />

sem moralida<strong>de</strong> no governo e sem<br />

brio 11a alma dos cortezãos, incapazes<br />

<strong>de</strong> sustentar as brilhantíssimas tradicções<br />

da antiga Lusitânia; emquanto os abutres<br />

farejam o moribundo, e a nossa in.<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ucia, e a nossa liberda<strong>de</strong>, se affundam<br />

a pouco e pouco no abysmo;<br />

emquanto — prenuncio do proximo anniquillamento!<br />

— nos flagellam todas as<br />

pequenas indignida<strong>de</strong>s e todas as baixezas<br />

ignóbeis; emquanto, cmlini o glorioso<br />

Portugal <strong>de</strong>smente iodas as outras scintillantes<br />

paginas <strong>de</strong> luz que <strong>de</strong>ixam, como<br />

constellações, refulgindo na sua grandiosa<br />

Historia — Suas Mage-la<strong>de</strong>s passam<br />

sem novida<strong>de</strong> na sua importante saú<strong>de</strong> e<br />

divertem-se em Madrid.<br />

Risos e festas I<br />

A rainha <strong>de</strong>sejou uma tourada á liespanhola,<br />

e na quinta feira ultima <strong>de</strong>viam<br />

alguns cavallos ler licado sem tripas,<br />

para que sua magesta<strong>de</strong> fizesse i<strong>de</strong>ia<br />

exacta do toureio hespanhol.<br />

Surprehen<strong>de</strong>-nos, em verda<strong>de</strong>, que a<br />

sr. & D. Amélia d'Orleans — tão boa, tão<br />

generosa, tão caritativa — goste <strong>de</strong> louradas<br />

(divertimento que repugna a todas<br />

as senhoras que . .. não são rainhas),<br />

—principalmente das qiíe se realisum no<br />

visinho reino.<br />

O sangue — e o sangue corre em<br />

abundância nas corridas <strong>de</strong> touros d'IIespanha..<br />

.—nunca agradou ao sexo bello.<br />

Ninguém diiá, no emtanto, (|ue não<br />

é bella a rainha <strong>de</strong> Portugal I<br />

*<br />

Festas, lhealròs, jantares, recepções<br />

diplomáticas, gran-cruzes e tosões <strong>de</strong><br />

ouro... eis ahi o trabalho hercúleo que<br />

lança sobre os hombros do nosso monarcha<br />

o pesadíssimo encargo <strong>de</strong> reger a<br />

nação I<br />

...lí já que estamos em maré <strong>de</strong><br />

pan<strong>de</strong>ga e a época corre para folias, vem<br />

a proposito dar aqui a noticia <strong>de</strong> que<br />

abre, em 3 do proximo <strong>de</strong>zembro, o<br />

nosso theatro lyrico, <strong>de</strong> que é emprezario<br />

o sr. Arthur Bamta. e representante<br />

da empreza o estimado e conhecido Guilherme<br />

<strong>de</strong> Castro.<br />

O elenco da companhia garante uma<br />

boa temporada d'opera aos diletlanti<br />

portuenses.<br />

Salientam-se no elenco, pelos seus<br />

reconhecidos méritos, os seguintes artistas:<br />

Matta £ Marchesio, contraltos; Elvira<br />

Brambilla, soprano; Suafies e Lafont,<br />

tenores; Arazo, barytono; Megia, basso.<br />

No reportorio figuram, entre outras,<br />

as bellas operas: Ione, Poliulo, Muda <strong>de</strong><br />

Postici, Huguenotles, Iligoletto. Africana,<br />

Bácheiro, Vestal e Buy Blas<br />

Falla-se também nos Pescadores <strong>de</strong><br />

pérolas e Bella donzella <strong>de</strong> Peslli (do<br />

<strong>de</strong>sventurado Bizet) — que serão as duas<br />

operas novas da estação lyrica.<br />

Fecharei a chronica d'hoje participando<br />

aos meus leitores que a empreza<br />

do theatro Principe Real promette <strong>de</strong>pois<br />

do burro — um rei.<br />

— O rei darnnado seguirá ao Burro<br />

do sr. Alcai<strong>de</strong>. Não sei se o quadrupedi<br />

levará vantagem ao monarcha no êxito<br />

theatral; mas quer-me parecer que o<br />

burro ganhará a palma do triumpho, e<br />

que não será o rei damnado quem <strong>de</strong>sprestigie<br />

o Serapião.<br />

É em verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>plorável se se dá o<br />

facto <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>r mais a cabeçuda do que<br />

a corôa •/•»..<br />

Fra-Diavolo.<br />

Porto, 17 <strong>de</strong> novembro.<br />

1<br />

El Gordito e El Magrito -<br />

Os bespanhoes cognominaram o nosso<br />

augusto soberano dè El Gordito.<br />

Perfeitamente.<br />

O povo portuguez <strong>de</strong>ve ser cognominado<br />

El Magrito.<br />

Também não fica mal.<br />

Caramba I<br />

Suas magesta<strong>de</strong>s portuguezas assistiram<br />

em Hespanha á tourada em que foram<br />

mortos sete touros e seis cavallos.<br />

Rezam as gazetas que quando Mazzantini<br />

matou o 5;° touro el-rei D. Simão<br />

tirou o alfinete da gravata e lançou-lh'o<br />

á a r ena I<br />

Eis um imponente rasgo <strong>de</strong> heroicida<strong>de</strong>.<br />

Tal facto traz nos á memoria a<br />

-coragem das antigas phalange* lusitanas,<br />

não extincta ainda 110 animo do famoso<br />

rei.<br />

Este caso <strong>de</strong>ve ser gravado nos fastos<br />

da historia contemporânea dos dois<br />

paizes peninsulares.<br />

E viva la gracia 1<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

Nós é que não acreditamos que em<br />

tal se pense e tal se faça... Diz se que<br />

o governo vae entregár a administração<br />

da Santa Ca*a da Misericórdia n uma<br />

commissão por ella nomeada !<br />

Vos já estaes adivinhando quem estaria<br />

<strong>de</strong>traz da cortina a olhar para o<br />

logar perdido ha pouco por <strong>de</strong>sleixo nos<br />

seus <strong>de</strong>veres!<br />

Que a cousa da eleição da Misericórdia<br />

eslá tremida e os politicões que<br />

agora querem ser o ludo em <strong>Coimbra</strong><br />

vêem tremidas as suas pretensões.<br />

*<br />

Teem aos perguntado o que faz a<br />

Associação Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, agora<br />

que se falia em negociações com a Inglaterra,<br />

e se preten<strong>de</strong> realar os laços<br />

<strong>de</strong> antigas amiza<strong>de</strong>s.<br />

O que ella fez sabemos nós: protestou<br />

contra o ultimalum; <strong>de</strong>itou manisfesto<br />

quando foi do tratado <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto;<br />

alguns commerciantes suspen<strong>de</strong>ram as<br />

transacções com casas inglezas, ele.<br />

O que fará— nicles! Porque nos parece<br />

que a Inglaterra d'agora não e a<br />

mesma d'então; porque a outra <strong>de</strong> 1890<br />

roubou nos com dolo e má fé; e esta <strong>de</strong><br />

1892 vem proteger-nos com sincerida<strong>de</strong><br />

e affecto. ..<br />

Os monarchicos — e o resto — é que<br />

enten<strong>de</strong>m estas endrominas diplomáticas.<br />

Que afinal não passam d'unta infamia!<br />

*<br />

A matrona do Terreiro da Erva tem<br />

posto pela rua d'amargura os republicanos.<br />

Mãos nas ancas, e não lia insolência<br />

que não vomite.<br />

O Sergio Vadio <strong>de</strong> mãos dadas com<br />

o barão da Divina Provi<strong>de</strong>ncia, a bichanam<br />

ao ouvido da infeliz.<br />

Eslaes fartos <strong>de</strong> conhecer os dois, vós<br />

lodos que nos lêles ?!<br />

Cá ficamos em guarda para o primeiro<br />

assalto—e cairemos a fundo.<br />

Magriço.<br />

EM SURDINA<br />

Em <strong>Coimbra</strong> festejaram,<br />

a chegada dos sob'ranos,<br />

pobremente... nem <strong>de</strong>itaram<br />

foguetorio — uns tyrannos!<br />

Quem, pois, fez toda a festança<br />

foi o bravo 23 ;<br />

tocou o hymno bragança<br />

todo o dia, muita vezj<br />

Não chegou a haver berreiro<br />

<strong>de</strong> vivas, coisas e tal...<br />

Gastaram muito dinheiro<br />

na comedia eleitorall...<br />

Realista <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

nisto timbra:<br />

só ter vóz<br />

p'ro caso — do vtn ha a nós...<br />

PINTÀ-ROIA.<br />

O commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />

— manifestação patriótica<br />

Foi imponentíssima a reunião ultimamente<br />

realisada na capital pela Associação<br />

Commercial dos Lojitas a fim <strong>de</strong> se<br />

approvar uma moção <strong>de</strong> protesto coníra<br />

amlliança ingleza.<br />

A sessão correu animada e enthusiaslica,<br />

provando aos monarchicas que<br />

as classes activas e com ellas o paiz,<br />

repcllem com nobreza as suas infames<br />

traições, porisso que não po<strong>de</strong>m esquecer<br />

a cobardia do itllimalum <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> janeiro,<br />

que vergonhosamente veiu aífrontar a<br />

honra nacional.<br />

Se aos partidos que servem as instituições<br />

lhes apraz reatar antigas amiza<strong>de</strong>s<br />

com a nação pirata, para interesses<br />

proprios, o paiz que acima <strong>de</strong> tudo colloca<br />

a honra nacional e a in<strong>de</strong>pendência da<br />

patria, saberá reagir e luctar contra os<br />

traidores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e os traidores <strong>de</strong><br />

fóra.<br />

Nesta reunião faltaram os srt. Pinheiro<br />

<strong>de</strong> Mello, Magalhães Ba-to, Saraiva<br />

Lima, Costa Júnior, Estevam <strong>de</strong> Vasconcelos,<br />

Trinda<strong>de</strong> Roquetle, Santos, Azevedo,<br />

Martins Correia, Lopes da Silva,<br />

que pronunciaram magníficos discursos,<br />

que foram cobertos com calorosos applausos.<br />

Foi apresentada a patriótica moção<br />

que abaixo publicámos, que recebeu<br />

approvação unanime, enrerrando-se a<br />

sessão aos gritos <strong>de</strong>:<br />

Viva a patria!<br />

Abaixo a alliança ingleza! ,<br />

*<br />

«Consi<strong>de</strong>rando quo o ultimalum <strong>de</strong> 11<br />

<strong>de</strong> janeiro vibrou fundo no coração do<br />

povo portuguez, abrindo nelle in<strong>de</strong>level<br />

ferida, que ainda não cicatrisou;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que aquelle acontecimento<br />

exclue toda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reatarmos por agora as antigas relações<br />

<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que ligavam es d'>is povos,<br />

cumprindo nos apenas, como bons portuguezes,<br />

ser cortezes mas frios nas nossas<br />

relações com a nação ingleza ;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que fado» <strong>de</strong> publica<br />

notorieda<strong>de</strong> dão credito aos boatos que<br />

teem corrido no publico <strong>de</strong> se tentar por<br />

parte do governo portuguez a renovação<br />

da perniciosa alliança ingleza, em com<br />

pleto <strong>de</strong>sprezo dos votos do paiz, tão<br />

energica e brilhantemente formulados,<br />

e com grave offensa dos nossos interesses<br />

commerciaes;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a annunciada vinda<br />

a Lisboa da esquadra ingleza vem dar<br />

força e authenticida<strong>de</strong> a estes boatos, fazendo-os<br />

acreditar no estrangeiro, se por<br />

parte do povo portuguez se não fizer<br />

publica e inequívoca <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

que Portugal repudia semilhàute approximaçâo;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cortezia<br />

que nos obrigam a receber com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />

e fria poli<strong>de</strong>z os nossos hospe<strong>de</strong>s<br />

não pó<strong>de</strong>m tolher-nos o direito <strong>de</strong><br />

fazermos o nosso protesto contra essa<br />

tenlativa <strong>de</strong> alliança, fazendo uma <strong>de</strong>monstração<br />

que, embora cordata e pacifica,<br />

como convém aos créditos e bom<br />

nome do corpo commercial, signifique<br />

claramente que não queremos a renovação<br />

<strong>de</strong>ste antigo pacto;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a Associação Commercial<br />

<strong>de</strong> Lojistas <strong>de</strong> Lisboa tem vinculada<br />

as suas melhores tradicções á brilhante<br />

iniciativa das manifestações realisadas<br />

peio corpo commercial <strong>de</strong> 1890<br />

contra a brutalida<strong>de</strong> da alfronta que nos<br />

foi feita pelo governo da Grã-Bretanha;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que mais uma vez lhe<br />

compele manifestar-se em perfeita coh«rencia<br />

com o seu passado, iniciando uma<br />

manifestação contra o projectado pacto<br />

qut tão gravemente pô<strong>de</strong> ferir os legítimos<br />

interesses do commercio;<br />

Resolve protestar contra a renovação<br />

da alliança ingleza, por contraria aos interesses<br />

públicos, solicitando para esse<br />

lim o concurso d'outras collectivida<strong>de</strong>s,<br />

e dirigir um manifesto ao commercio <strong>de</strong><br />

Lisboa, recommtiidando-lhe, como primeira<br />

manifestação da sua <strong>de</strong>sapprovação<br />

á referida alliança, o encerramento <strong>de</strong><br />

meia porta dos seus estabelecimentos<br />

durante 24 horas, contadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a chegada<br />

ao nosso porto da esquadra ingleza,<br />

que 'será annunciada pelas salvas do<br />

estylo.<br />

Resolve mais pedir aos commerciantes<br />

para se limitarem a esla muda mas<br />

sigiíificativa manifestação, ab»lendo-se por<br />

agora <strong>de</strong> fazer outras <strong>de</strong>monstrações que<br />

possam ser perturbadas ou adulteradas<br />

nos seus intuitos, prejudicando assim a<br />

imponência do seu pacifico mas firme e<br />

levantado protesto.<br />

Ignacio <strong>de</strong> Magalhães Basto.»<br />

THEATROS<br />

De volta pela segunda vez a <strong>Coimbra</strong><br />

a celebrada companhia Infantil, que<br />

tanto tem allrahido as attenções e o favor<br />

do publico nas tres principaes cida<strong>de</strong>s<br />

do nosso paiz, apresentou-nos na 5 a<br />

feira a conhecida Mascotte, opera cómica<br />

<strong>de</strong> larga vida já, mas sempre attrahente<br />

e formosa.<br />

O grupo notabilissimo dos artistas<br />

encarregados do <strong>de</strong>sempenho d'esta peça<br />

houve-se dislinciamente e d um modo<br />

inteiramente á altura da sua jusla fama.<br />

Ali não ha discrepâncias, não ha notas<br />

discordantes, não ha, emfim, <strong>de</strong> que se<br />

diga mal. Ila, pelo contrario, alguns, que<br />

<strong>de</strong>stacam notavelmente d'entre os seus<br />

pequenos coliegas—umas creancilas ainda,<br />

com,uma aptidão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s actores.<br />

Não sei que mais se lhes possa exigir—<br />

dicção correcta, firmeza e elegant;ia<br />

no pisar do palco, proprieda<strong>de</strong> nos<br />

gestos, e até, por vezes, phrases finamente<br />

sublinhadas, ludo isto se encontra<br />

e se aprecia nestes pequenos actores.<br />

A lodos sobresahe o nosso gran<strong>de</strong><br />

Palop. E extraordinário. Como actor, pequeno,<br />

representa <strong>de</strong> modo que tomaram<br />

muitos actores, gran<strong>de</strong>s, representar como<br />

elles. Como cantor ostenta uma bella voz,<br />

que se mantém, sem <strong>de</strong>cahir, em phrases<br />

acci<strong>de</strong>nladas, assignalando rapidas<br />

transições sem nada per<strong>de</strong>r do seu brilho,<br />

atacando as notas altas com uma<br />

firmeza, que em nada compromette a<br />

sua sonorida<strong>de</strong>.<br />

Mas nem só Palop é digno <strong>de</strong> menção;<br />

outros ha <strong>de</strong> notáveis aptidões scenicas<br />

e ainda apparecem outras vozes<br />

bellas.<br />

Valdivieso 110 papel <strong>de</strong> principe Lorenzo,<br />

Vicuna e Carrasco nos <strong>de</strong> Jiaiueta<br />

e Belina, apresentaram-se dislinctamente.<br />

No <strong>de</strong>sempenho especialisarei — o<br />

dueto do 1.° acto entre Palop e Carrasco,<br />

ondo Palop mostrou que a sua voz<br />

se doma facilmente tanto ás ternas expressões<br />

lyricas, sua* es, como és plirazes<br />

apaixonadas, cheias.<br />

Carrasco acompanhou-o também sem<br />

nada <strong>de</strong>smerecer do seu pequeno apaixonado.<br />

O côro final do 1.° acto é d'uma<br />

egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes inexcedivel e d'um<br />

bello effeito scenico. A scena do 2.°<br />

acto entre Valdivieso, Vicuría e Carrasco<br />

revela no primeiro um aclor comico <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s esperanças e mostra como Vicuna<br />

e Carrasco sublinham com finura,<br />

numa perfeita intelligeucia dos seus papeis.<br />

Finalmente, admiram-os tanto os pequenos<br />

artislas como a gran<strong>de</strong> competência<br />

do seu director, que tão bem sabe<br />

aproveitar aquellas aptidões, reveladoras<br />

<strong>de</strong> futuros artistas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> merecimento.<br />

Mas alcançarão elles 110 mundo da<br />

Arte o papel a que <strong>de</strong>vem aspirar?<br />

Pena sera que este trabalho constante<br />

e violeulo a que se entregam tão creanças<br />

ainda, para <strong>de</strong>sempenharem tanto a<br />

primor os variados papeis que lhes leem<br />

sido confiados, longe <strong>de</strong> elevar estas <strong>de</strong>cididas<br />

vocações á altura <strong>de</strong> futuras celebrida<strong>de</strong>s,<br />

antes as alrophie e esmague.<br />

Apresenta-se-nos este contra e <strong>de</strong>ixa no<br />

nosso espirito umi verda<strong>de</strong>ira impressão<br />

<strong>de</strong> magua.<br />

S PALESTRAS<br />

I V<br />

— Viva a pan<strong>de</strong>ga! Viva o pago<strong>de</strong>!<br />

Viva a alliança ingleza! Viva o rei I<br />

Viva...<br />

— Cala-te diabo, olha a policia que<br />

te ouve.<br />

— Qual policia, ou qual diabo! Com<br />

estes vivas tenho a certeza que o senhor<br />

todo Pedroso me não <strong>de</strong>ita os gatazios ;<br />

<strong>de</strong>pois eu recebi uns bagos para dar vivas<br />

a valer, e lu sabes que não gosto <strong>de</strong><br />

o ganhar á boa vida, porisso toca a gritar<br />

: Viva a nossa fiel alijada I Viva o<br />

pago<strong>de</strong> ! Viva a borga !<br />

— Raios te parlam mais aos vivas<br />

que estás dando.<br />

— Então que vivas queres tu que<br />

eu dê? Queres talvez que eu diga viva<br />

a patria, abaixo a alliança ingleza ? Nada<br />

d'iscas, que eslá o bacalhau caro. Não<br />

que os Siicarrões andam com os olhos<br />

muito abertos e as unhas muilo afiadas;<br />

e eu não estou pare ir para o estarim.<br />

E então: Viva a pandiga! Viva a alliança<br />

ingleza! Vivam as instituições. Viva o<br />

senhor folgazão Folgosa !... O' rapazes!<br />

aquillo é que é um pandigo d'uma caoa;<br />

11111 rein.adio <strong>de</strong> marca! Se não fosse elle<br />

esta Parvónia <strong>de</strong> Lisboa recebia Os nossos<br />

reis como se fosse uma Bellizaria. Elle,<br />

com mil diabos!, indignado com aquelle<br />

jacobino do Eduardo d'Abreu, e outros,<br />

terem dado vivas a patria-—que patifes!—<br />

islo nas reaes bochechas <strong>de</strong> suas magesr<br />

la<strong>de</strong>s; zangado óom aquelles gajos, lemhrou-se<br />

<strong>de</strong> fazer uma manifestação espontânea<br />

á familia real—e zas ! Pensou<br />

nisto á noute, e assim que chegou a niauliã,<br />

elle ahi vae... Volta p'ra aqui,<br />

volta p'ra alli; dinheiro p'ra aquém, dinheiro<br />

p'ra além; pedido para um lado,<br />

ameaças para o outro; e vês tu, meu<br />

amigo, tudo prompto! Aquilio parece que<br />

fez tudo por artes do diabo! D'aquelle<br />

po<strong>de</strong> dizer-se como <strong>de</strong> Cesar: chegou,<br />

viu e venceu! E que espontaneida<strong>de</strong>!!!<br />

Era vères: 110 governo civil a promptidão<br />

cóm que se apresentavam os pobres para<br />

abrilhantarem a festa, os fornecedores<br />

para ven<strong>de</strong>rem os differentes artigos e<br />

os trabalhadores para trabalharem e ganharem<br />

a cô<strong>de</strong>a. E olha que tudo isto<br />

sem lhe pedirem !!! Olha meu amigo, o<br />

povo portuguez é como o povo romano,<br />

só quer pan<strong>de</strong>ga! Deixa te lá <strong>de</strong><br />

lerias, esle mundo é <strong>de</strong> quem mais gosa!<br />

Vocês, seus republicanos <strong>de</strong> bôrra, são<br />

uns gran<strong>de</strong>s semsaborões; querem or<strong>de</strong>m<br />

e moralida<strong>de</strong>—palavrões balofos que não<br />

fazem ecco no peito dos pân<strong>de</strong>gos 1 Saibas,<br />

meu asno, que Portugal é um paiz<br />

<strong>de</strong> pân<strong>de</strong>gos. Quem diabo, a não serem<br />

vocês, se lembra das misérias que nos<br />

affligcm ? Só vocês tomaram a seu cargo<br />

o serem aves agourentas, dando-nos a<br />

nota discordanle, no meio dos nossos<br />

gosos; vào-se lodos para o diabo, e <strong>de</strong>ixem-nos<br />

divertir á vonta<strong>de</strong>. E certo que<br />

muitas vezes não temos uma <strong>de</strong> X, mas<br />

em compensação lemos <strong>de</strong> tempos a tempos<br />

um pago<strong>de</strong> real — um pago<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

truz ! Ouve : ha dias num diabo d'uui<br />

allarrabio antigo <strong>de</strong> 1780; islo é <strong>de</strong> ha<br />

112 annos, intitulado—Adágios, provérbios,<br />

rifões e anexins da língua portugueza—fui<br />

encontrar o seguinte, naturalmente<br />

escripto por algum semsaborão<br />

d'algum republicano:<br />

«Na côrte lia parcialida<strong>de</strong>s antigas,<br />

dissenções presentes, juizos temerários, e<br />

testemunhos evi<strong>de</strong>ntes, entranhas <strong>de</strong> viboras,<br />

e línguas <strong>de</strong> serpentes; malsms muitos,<br />

amigos poucos; nella todos tomam a<br />

voz da republica, e cada um busca a utilida<strong>de</strong><br />

própria; todos publicam bons <strong>de</strong>sejos,<br />

em mas obras todos se oceupam. Na<br />

côrte cada dia mudam senhores, renovam<br />

leis, <strong>de</strong>spertam paixões, levuntam ruídos,<br />

abatem os nobres, favorecem os indignos,<br />

<strong>de</strong>sterram os innocentes, honram os roubadores,<br />

amam os lisongeiros, <strong>de</strong>sprezam<br />

os virtuosos, abraçam os <strong>de</strong>leites, escouceiam<br />

as virtu<strong>de</strong>s, choram pelos maus, e<br />

riam se dos bons.*<br />

Já viste maior numero <strong>de</strong> calumnias<br />

e infamias? Emfim, meu amigo, lembrate<br />

que o braço <strong>de</strong> rei e a lança, longe<br />

alcança! Portanto, é preciso juizo, <strong>de</strong>mais<br />

em honra d'el-rei recebi uns bagos;<br />

vou comer um caldo, a<strong>de</strong>us: Viva o<br />

rei! Viva a alliança ingleza! Viva a pan<strong>de</strong>ga<br />

!<br />

— Pois sim, meu pobre diabo, dá,<br />

dá vivas a el-rei.. . Mas lembra-te que<br />

quem a vacca d'el-rei come magra, gorda<br />

a paga. Vae, vae. Eu digo comtigo :<br />

Viva o rei que folga! E morra a patria<br />

que se avilta I


AIV>0 I — X . 9 3 6 O D E F E X S O R D O P O V O<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A policia Uncal — nova» exigencias<br />

ao commercio — multa*<br />

Não queremos saber se <strong>de</strong>sgoslámos<br />

o sr. commandatite da guarda fiscal, ao<br />

darmos publicida<strong>de</strong> aos abusos praticados<br />

pelos seus subordinados, que se lançaram<br />

na 1'uria insana <strong>de</strong> esgotarem—em<br />

nome não sabemos <strong>de</strong> que lei I — a bolsa<br />

do contribuinte, obrigando o commercio<br />

d'esta cida<strong>de</strong> a paralysar as suas<br />

transacções, em face das iniquida<strong>de</strong>s que<br />

estamos presenceando.<br />

Como temos por norma combater todas<br />

as illegalida<strong>de</strong>s, lodos os abusos,<br />

partam d'ou<strong>de</strong> partirem, e como estamos<br />

convencidos que a nossa legislação não<br />

or<strong>de</strong>na semelhantes vexames, nem tão<br />

brutaes arbitrarieda<strong>de</strong>s — porisso que só<br />

em <strong>Coimbra</strong> vemos empenhada a guarda<br />

fiscal em explorar o contribuinte para seu.<br />

interesse — havemos <strong>de</strong> continuar jieste<br />

assumpto, sem que nos assustem ou intimi<strong>de</strong>m<br />

as bravatas <strong>de</strong> boçaes caserneiros,<br />

que julgam esta cida<strong>de</strong> terra conquistada.<br />

E se quasi isolados nos vemos nesta<br />

questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> interesse geral,<br />

tanto melhor, porque é Iwm que se<br />

saiba quem, nesta terra, só trabalha e,<br />

caminha para agradar a quem po<strong>de</strong> espalhar<br />

beneticios.<br />

*<br />

Chegam-nós novas informações, que<br />

submetlemos á consi<strong>de</strong>ração do publico,<br />

e elle dirá se tudo isso não repugna, se<br />

não revolta a maneira acintosa como se<br />

preten<strong>de</strong> esbulhar o publico 'do seu dinheiro,<br />

qi^í representa lautos sacriíicios,<br />

tantas torturas.<br />

Desenrolamos o sudário, parte d'elle,<br />

pois que se fossemos a publicar, d'uma<br />

so vez, os apontamentos que temos á nossa<br />

frente, as dimensões do nosso Defensor<br />

do Povo seriam pequenas para comportar<br />

tanta matéria.<br />

Seremos breves e contaremos apenas<br />

os factos que mais avultam entre tantas<br />

arbitrarieda<strong>de</strong>s — que outro nome têm !<br />

*<br />

Ven<strong>de</strong>u o negociante sr. Antonio<br />

Vieira <strong>de</strong> Carvalho, a um seu freguez,<br />

ten<strong>de</strong>iro ambulante, dois volumes <strong>de</strong> fazenda,<br />

e quando este se dispunha a seguir<br />

viagem, ura segundo sargento da preciosa<br />

guarda fiscal, intima o homem a<br />

acompanhal-o ao posto fiscal, ás Ameias.<br />

Teve conhecimento d'este facto o sr.<br />

Vieira <strong>de</strong> Carvalho, que immedialamente<br />

se apresentou alli, contestando a apprehensâo,<br />

e pedindo ao seu freguez seguisse<br />

com elle para sua casa. Antes, porém,<br />

<strong>de</strong> lá-chegar surgem <strong>de</strong> repente uns quatro<br />

ou cinco guardas que novamente obrigam<br />

o conductor das fazendas a seguir<br />

cora eiles para o posto do Arco d'Almedina,<br />

Vejam como eiles andara diligentes<br />

1<br />

Chegados alli, expostas às razões,<br />

era <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m a illegalida<strong>de</strong>, que o<br />

estado maior recusou-se a legalisar o<br />

serviço, mandando o homem embora com<br />

as fazendas.<br />

Mas perguutamòs: foi o pobre homem<br />

in<strong>de</strong>iiiuisado dos prejuizos que soffreu?<br />

Foram os guardas e o tal sargento<br />

castigados ou admoestados pelo abuso<br />

que eommetteram? Nada d'isso I<br />

Portanto, on<strong>de</strong> está a justiça dos seus<br />

actos sr. commandante da guarda fiscal?<br />

On<strong>de</strong> abriga v. ex. a a sua rectidão?<br />

O sr. Januario Damasceno Ratto,<br />

representante nesta cida<strong>de</strong> da firma Sebastião<br />

da Costa Ratto & Sobrinhos, da<br />

Covilhã, ven<strong>de</strong>ra ha dias ao sr. Manoel<br />

Dias Coelho, <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, alguma? fazendas<br />

<strong>de</strong> lá, que esta fizera conduzir<br />

por «ma recoveira. Nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Seruaihe foi assaltada a pobre mulher<br />

pelos guardas, que a fizeram retroce<strong>de</strong>r<br />

até á venda do Cego, que fica bastante<br />

longe, on<strong>de</strong> lhe exigiram a multa <strong>de</strong><br />

2$120 reis; tendo <strong>de</strong> pagar egual quantia<br />

por outros artigos que levava do estabelecimento<br />

do sr. Augusto <strong>de</strong> Sousa<br />

Machado, também d'esta cida<strong>de</strong>, li isto<br />

a titulo <strong>de</strong> favor —para não ter que vir<br />

a <strong>Coimbra</strong> !<br />

Egual sorte teve uma outra recoveira<br />

que levava uma encominenda da loja do<br />

sr. Francisco Vieira <strong>de</strong> Carvalho, para<br />

a sr. a Clementina Alves Branco, <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa,<br />

que teve <strong>de</strong> esportullar os guardas<br />

com os 2$120 reis da or<strong>de</strong>m!<br />

Scena egual se <strong>de</strong>u com Maria Biçha,<br />

<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, que havia comprado ao' sr.<br />

Antonio Gomes, pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fazendas, para seu uso, <strong>de</strong>sembolsando,<br />

como as outras <strong>de</strong>sgraçadas a referida<br />

quantia.<br />

E está explicado porque no hotel<br />

Mon<strong>de</strong>go, ha seWanis a esta parte, se<br />

ouve nos baixos do prédio, on<strong>de</strong> está<br />

iifslatlado o quartel da guarda fiscal,<br />

gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong>ira!<br />

Aos guardas pertence meta<strong>de</strong> das<br />

multas e quando o dia corre <strong>de</strong> feição,<br />

serve a noule para a celebração dos apuros<br />

!<br />

Emquanto estes gosam, choram os<br />

<strong>de</strong>sgraçados o que lhe extorquiram em<br />

nome da lei !<br />

Mas on<strong>de</strong> está essa lei, que só foi<br />

<strong>de</strong>cretada para <strong>Coimbra</strong> ?<br />

»<br />

A situação, pois,.em que collocaram<br />

o commercio d'e?ta cida<strong>de</strong> é a mais <strong>de</strong>sgraçada<br />

que se pô<strong>de</strong> imaginar.<br />

:Se este estado <strong>de</strong> cousas se prolongar<br />

e o povo das al<strong>de</strong>ias fôr sabedor <strong>de</strong><br />

(pie nas estradas será assaltado pelos<br />

beleguins <strong>de</strong> farda, que em nome da tal<br />

lei o obrigam a <strong>de</strong>spejar a bolsa, com<br />

certeza não é elle que virá á cida<strong>de</strong> fazer<br />

as suas compras, limitando-se portanto<br />

ao pequeno sortimento que lhe po<strong>de</strong>m<br />

fornecer os estabelecimentos das<br />

villaS: e das al<strong>de</strong>ias.<br />

E isto não representará para o commercio<br />

d'esta cida<strong>de</strong> um alto prejuízo?<br />

Repetimos o que dissemos em o passado<br />

numero: se a classe commercial<br />

nâo toma em sua <strong>de</strong>feza uma attitu<strong>de</strong> firme<br />

e energica virá |a sollrer perdas incalculáveis<br />

e immediatas.<br />

E o commercio melhor do que nós<br />

pô<strong>de</strong> avaliar esses prejuizos, porisso que<br />

em muitos estabelecimentos é maior o<br />

consumo <strong>de</strong> fóra que aquelle que fazem<br />

os habitantes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Po<strong>de</strong> elle sustenfar-se exclusivamente<br />

do consumo interno? Suppomos que não;<br />

e é por isso que mais uma vez aconselhamos<br />

á classe 0111 geral que é forçoso,<br />

que é urgente pensar no futuro que os<br />

aguardam, não. <strong>de</strong>scurando nem <strong>de</strong>-prezando<br />

este assumpto, porisso que d'elle<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a sorte d uma collectivida<strong>de</strong> laboriosa<br />

e trabalhadora, que se vê oppriraida<br />

e vexada tão arbitrariamente.<br />

.iôtilK>¥9i K - n;q rfinqino',' 8wi oiíioo<br />

Reúne hoje a direcção da Associação<br />

Còmmercial bem como os cidadãos que<br />

formam com aijueíla a Cómmissão que foi<br />

incumbida <strong>de</strong> redigir uma representação,<br />

pedindo provi<strong>de</strong>ncias immediatas ao sr.<br />

ministro da fazenda ácerca <strong>de</strong> taes abusos.<br />

Consta-nos que esle assumpto é tratado<br />

com proficiência, e que a representação<br />

está feila em termos dignos mas<br />

energicos, <strong>de</strong>vendo ser entregue amanhã<br />

á auctorida<strong>de</strong> superior do ilistriclo.<br />

Também nos consta que dado o caso<br />

<strong>de</strong> não ser attendida a justa pretensão<br />

da classe commercial, esta reunirá um<br />

comicio, a fim <strong>de</strong> resolver a melhor<br />

maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar o seu <strong>de</strong>sag rado.<br />

Incêndio<br />

Na quinta leira ás seis horas da manha,<br />

as torres <strong>de</strong>ram signal <strong>de</strong> incêndio;<br />

havia-se este manifestado na cocheira<br />

para guarda <strong>de</strong> animaes, que o sr. Bernardino<br />

da Silva Gomes tem á Sophia.<br />

Alguns prejuizos, havendo facilida<strong>de</strong><br />

era dominar o incêndio que estava em<br />

começo.<br />

A Salvação Publica foi a primeira a<br />

comparecer com o seu material.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Acaba <strong>de</strong> ser dirigido pela; <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> Padua, Italia, o convite para<br />

a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> se fazer representar<br />

nas festas do tricentenário da<br />

entrada <strong>de</strong> Galileu naquelle estabelecimento<br />

scieulitico.<br />

Clinica<br />

Para o logar <strong>de</strong> facultativo, vago no Seminário<br />

Episcopal, foi nomeado o sr. dr.<br />

Daniel <strong>de</strong> Mattos, illustre professor <strong>de</strong><br />

Medicina e um caracter honestíssimo.<br />

A Associação dos Artistas<br />

Na quarta feira será presente á assembleia<br />

geral o relatorio- e parecer da<br />

commissão encarregada <strong>de</strong> estudar o assumpto<br />

relativo á fundação d'uma pharmacia<br />

por conta das associações <strong>de</strong> soccorros<br />

mutuos d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

Dizem-nos que é um trabalho completo,<br />

e que mostra claramente a necessida<strong>de</strong><br />

e a vantagem <strong>de</strong> se tornar eftectiva<br />

a creação d'um,t pharitiaeia fornecedora<br />

<strong>de</strong> medicamentos para esta e outras<br />

associações.<br />

-<br />

Beneficio y<br />

Uma commissão <strong>de</strong> operários trabalha<br />

com assiduida<strong>de</strong> para a organisação<br />

d'tim sarau dramalico-musical em beneficio<br />

d'um operário que está em pre<br />

carias circumstancias. Esta festa <strong>de</strong> beneficehcia<br />

realisar-se-ha brevemente no<br />

theatro <strong>de</strong> D. Luiz, tomando parte o<br />

grupo musical—Infante da Camara.<br />

Movimento litterario<br />

No. presente anno acham se matriculados<br />

nos diversos estabelecimentos <strong>de</strong><br />

ensino, o seguinte:<br />

Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>—1:299.<br />

No Lyceu—538.<br />

No Seminário—<strong>47</strong>0.<br />

Isto afora os oollegios que teem estabelecido<br />

o ensino primário e secundário.<br />

Em convalescença<br />

As qíiatro pessoas que escaparam ao<br />

envenenamento com os cogumellos, conforme<br />

noticiámos, entraram já no período<br />

<strong>de</strong> .convalescença.<br />

Collegio Ursulino<br />

Frequentara esla casa <strong>de</strong> educação e<br />

ensino, uma das primeiras do paiz, 100<br />

alumnas, internas é externas.<br />

Isto prova que o Collegio Ursulino,<br />

superiormente dirigido pelo sr. conego<br />

Fresco, tem melhorado" e <strong>de</strong>senvolvido o<br />

ensino, recebendo alli as alumnas uma<br />

educação completa e esmerada.<br />

Furto<br />

Na semana passada furtaram do logar<br />

<strong>de</strong> Maria Russa, ren<strong>de</strong><strong>de</strong>ira no mercado,<br />

algum dinheiro que esta <strong>de</strong>ixára<br />

num caixão, dando também por falta <strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frucla.<br />

A policia lomou conhecimento do facto,<br />

por informação da queixosa; pois que<br />

o guarda alli <strong>de</strong> serviço ignorava o caso.<br />

Exames <strong>de</strong> habilitação para o<br />

magistério primário<br />

Começaram no dia 14 do corrente e<br />

têm continuado com a maior regularida<strong>de</strong><br />

os exames dos candidatos, que se<br />

<strong>de</strong>dicam a espinhosa vida <strong>de</strong> educadores<br />

da infância.<br />

O jury, presidido pelo. hábil pedagogista,<br />

sr. dr. Manoel Duarte Areosa, que<br />

tão admiravelmente tem dirigido os trabalhos,<br />

funcciona na sala das congregações<br />

do lyceu d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

O nunlero <strong>de</strong> concorrentes foi bastante<br />

limitado, pois que apenas se reduz<br />

a oito do sexo masculino e cinco do feminino.<br />

Dos oito foram excluidos dois da<br />

prova oral. Os restantes já fizeram o<br />

exame d'esta prova, sendo admittidos<br />

á pratica que começa na próxima segunda<br />

feira. Eni seguida serào chamados á<br />

prova escripta os candidatos do sexo feminino.<br />

Os dynamitistas<br />

Paris é actualmente dominado pelo<br />

terror em consequência das explosões<br />

que houve ao dia 6 promovidos pelos<br />

dynamitistas. . ,<br />

Pelo correio continuam a circular<br />

anonymos lendo ameaças contra as pev<br />

soas a quem são dirigidos.<br />

Também se encontraram cartuchos<br />

metálicos em differentes silios <strong>de</strong> Paris.<br />

Suppõe se que alguns gracejadores<br />

<strong>de</strong> mau gasto.intentara divertir-se á custa<br />

dás pessoas tímidas e impressionáveis.<br />

I ' i * i t<br />

Como se os anonymos e as ameaças<br />

dos anarchistas não bastassem para manter<br />

e augmenlar o sobresalto dos parisienses,<br />

o advogado <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> Ravachol<br />

fez uma <strong>de</strong>claração que basta por si' só<br />

para provocar medo e que se divulgou<br />

com rapi<strong>de</strong>z.<br />

Segundo o letrado referido, o feroz<br />

anarchista <strong>de</strong>clarou poucos dias antes<br />

<strong>de</strong> ser guilhotinado :<br />

Í—-Descanse, senhor: serei vingado<br />

com dynamite; todavia hão <strong>de</strong> ir<br />

pelo ar muitos casas <strong>de</strong> burguezes. Não<br />

vão já, porque é muito perigoso manipular<br />

o explosivo durante o veráo, mas<br />

aguar<strong>de</strong>m que chegue o inverno.<br />

« Com explosões far-me-hão funeraes<br />

esplendidos d<br />

M<br />

A serie d'attentados commettidos com<br />

o auxilio da dynamite, durante este anno,<br />

è já larga. Em <strong>de</strong>z nrófts eis os casos:<br />

l. 1 — 29 <strong>de</strong> fevereiro —Os habitan-<br />

tes do bairro dos Inválidos são <strong>de</strong>sperta<br />

dos por uma terrivel explosão.<br />

E' uma caixa que acaba <strong>de</strong> rebentnr<br />

na rua Saint Dominique, em frente do<br />

palacio da princeza <strong>de</strong> Sagan.<br />

O porteiro


AMO I — tf. 0 36 O DEFENSOR DO POVO 80 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> I8»i<br />

OTIIIlOS<br />

PAI1A<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

EXPEDIENTE<br />

1VVELOPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapidas<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

Prevenimos os nossos estimáveis<br />

assignanles tle fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

em divida á administração do<br />

Defensor do Povo, <strong>de</strong> que vamos<br />

enviar pelo correio os recibos das<br />

suas assignaturas, passados alé áo<br />

dia 21 <strong>de</strong> janeiro, fim do i.° semestre<br />

da publicação do nosso jornal.<br />

Aquelles para on<strong>de</strong> se não possa<br />

fazer cobrança postal, pedimos a fineza<br />

<strong>de</strong> nos enviarem a imporlancia<br />

do 1.° semestre, para regularisar<br />

a nossa escripturnção.<br />

Esperando a satisfação do nosso<br />

pedido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já agra<strong>de</strong>cemos os<br />

seus obséquios.<br />

Os recibos da Figueira são cobrados,<br />

por especial fineza, peloex.""<br />

sr. Antonio Fernan<strong>de</strong>s Lmdote.<br />

Os recibos <strong>de</strong> Leiria lambem<br />

por obsequio serão cobrados pelo<br />

ex. mo sr. Eduardo Martins da Cruz.<br />

Associação dos Artistas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

AVISO<br />

São convidados os senhores associados<br />

a reunirem-se em assemhlêa geral<br />

na quarta feira, 23 do corrente, pelas 8<br />

horas da noúte na sala da Associação.<br />

Não reunindo numero para po<strong>de</strong>r funccionar<br />

a segunda parte da or<strong>de</strong>m do dia,<br />

lica esta paiasabbado, 26 á mesma hora.<br />

ORDEM DOS TRABALHOS<br />

1.° Apresentação do relatorio da<br />

commissão encarregada <strong>de</strong> dar o seu parecer<br />

acerca da fundação <strong>de</strong> uma pharmacia,<br />

nomeada na ultima assemblêa<br />

geral,<br />

2.° Apresentação das contas do 1.°<br />

semestre <strong>de</strong> 1892 e parecer da Comissão<br />

Fiscal.<br />

Coimhra, 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892.<br />

O vice-secretario da Meza.<br />

José Rodrigues,<br />

Theatro-circo Principe Real<br />

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52<br />

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da Praça do Commercio<br />

precisa-se <strong>de</strong> um empregado para estar<br />

á testa da mesma o qual tem <strong>de</strong> prestar<br />

caução.<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />

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53 ik , l ^ l l > t o IVunes dos Sanjpà<br />

tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

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nolsiy<br />

3VJKMÍ b<br />

lòq<br />

noquÉKS o"<br />

.8IH9J/') :<br />

eaktíjíiisiB<br />

tbi/ib<br />

MB<br />

1<br />

Contrastes<br />

WHMIWIRMIMI<br />

O vento 'sopra, o mar brame, à<br />

onda sobe. Espesso nevoeiro en<strong>de</strong>nsa<br />

profundamente, ao largo, o largo<br />

espaço; e só <strong>de</strong> quando em quando<br />

se distinguem ao longe, por entre<br />

as trevas, franjas <strong>de</strong> alvura immacillada—'cristas<br />

<strong>de</strong> vagas <strong>de</strong>sfeitas<br />

em espuma, semelhantes a <strong>de</strong>sgrenhadas<br />

jubas <strong>de</strong> leões. E o mar, o<br />

colosso, no seu cavo troar presago,<br />

casa com a voz potente do vento<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado a sua voz po<strong>de</strong>rosa,<br />

num concerto magestoso, que echôa<br />

pela amplidão como notas soltas <strong>de</strong><br />

uma orchestra vibrante <strong>de</strong> Titans.<br />

Horisonte sombrio, opaco.<br />

Sem norte bal<strong>de</strong>ia ao sabor das<br />

vagas um barco <strong>de</strong>sarvorado já. A<br />

tripulação, cançada, per<strong>de</strong>u a consciência<br />

<strong>de</strong> si mesma. O timoneiro,<br />

ao leme, emprega<br />

esforços.. .<br />

ainda instinctivos<br />

Quem levará a porto <strong>de</strong> salvamento<br />

o barco <strong>de</strong>sarvorado ?<br />

Ha na vida dos povos momentos<br />

d'uma solemnida<strong>de</strong> tremenda, que<br />

são como que a lugubre con<strong>de</strong>nsação<br />

dè todos os <strong>de</strong>sfalecimentos vitaes.<br />

E é nestes soiemnes momentos históricos,<br />

que po<strong>de</strong>m anniquilar para<br />

sempre uma nacionalida<strong>de</strong>, que sopra<br />

fatalmente, inexoravelmente, sobre<br />

ella um vento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mencia.<br />

A immensida<strong>de</strong> do perigo allucina<br />

os espíritos; paral;sam-se successiVamente<br />

as forças sociaes; <strong>de</strong>snorteiam-se<br />

as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dire-cção;<br />

os olhos que <strong>de</strong>vem ver não<br />

veem.<br />

Este estado pathologico da socieda<strong>de</strong><br />

attinge o periodo agudo;<br />

mas longe <strong>de</strong> sanar um por um os<br />

males <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> enferma;<br />

<strong>de</strong> insuflar uma vida nova nos orgãos<br />

mortos; <strong>de</strong> applicar reagentes enérgicos,<br />

que <strong>de</strong>spertem o organismo<br />

amortecido da apathia, que é a morte,<br />

para a vida social, para o concerto<br />

vivo das nações,— os Corpos dirigentes<br />

o que fazem?<br />

Dia <strong>de</strong> festa. Flamulas e galhar<strong>de</strong>tes<br />

on<strong>de</strong>iam ao vento, numa ostentação<br />

garrida <strong>de</strong> variadíssimas<br />

côres; bandas marciaes atroam os<br />

ares com os hymnos da realeza; os<br />

sinos repicam, vibrantes, pelo espaço<br />

on<strong>de</strong> se cruzam e entrechocam as<br />

ondulações festivas com as dos lamentos<br />

dos que pe<strong>de</strong>m trabalho e<br />

pão; ostentam-se pelas ruas as fardas<br />

vistosas, os crachats reluzentes;<br />

fileiras <strong>de</strong> tropas rutilam das armas<br />

polidas faiscações brilhantes; as salvas<br />

reaes troam pelos ares.<br />

Chega o rei!<br />

A nação geme, a nação lucta<br />

agonisante, a nação tem fome. O<br />

póvò está sacrificado, exangue; moureja<br />

dia a dia, num labutar constante,<br />

escravo eterno, para encher d'oíro,<br />

que é sangue, a voragem dos <strong>de</strong>sperdícios.<br />

A tributação caminha num<br />

crescendo atroz, d'uma <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong><br />

cruel; o trabalho falta,, a miséria<br />

cresce, as fontes vivas da nação estancam-se;<br />

embora —haja festas,<br />

que o rei chegou !<br />

Quem levará a porto <strong>de</strong> salvamento<br />

o barco <strong>de</strong>sarvorado? Quem?*..<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO Povo<br />

Franco Ascoí.<br />

«O Democrata da Beira»<br />

Recebemos a visita d'csle novo collega<br />

que começou a publicar-se em Lamego.<br />

Vem enfileirar-se ao nosso lado:—<br />

pela Patria, pela Republica!<br />

As nossas saudações e o <strong>de</strong>sejo ar<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> uma vida longa e <strong>de</strong>safogada.<br />

UfiJ<br />

CHI- imioi.<br />

PELOS JORNAES<br />

E agora ripportuao passar em revista<br />

as gazetas! palacianas no que se referem<br />

ao regresso das magesta<strong>de</strong>s.<br />

É espantoso. Cada qual porfia em<br />

ser mais limpa-botas, sem acatamento<br />

pelo proprio <strong>de</strong>coro que manda ser commedido<br />

em encomios, e sem a reflexão<br />

que <strong>de</strong>via fazer olhar com unia frieza<br />

mais consentanea ao senso commum,<br />

umas festanças tresloucadas sem significação<br />

nenhuma na or<strong>de</strong>m politica nem<br />

<strong>de</strong>rivanles proveitosas na or<strong>de</strong>m moral.<br />

Ora leiam a Reforma:<br />

«Durmam tranquillamente os nossos<br />

reis, <strong>de</strong> volta <strong>de</strong> sua viagem. Ninguém<br />

lhes irá perturbar o somno. Vela-os, á<br />

cabeceira, a gran<strong>de</strong> alma popular, que<br />

ainda palpita <strong>de</strong> alegria, saudando-lhes<br />

o regresso.»<br />

O Tempo :<br />

«Saudando, pois, os monarchas portuguezes<br />

pelo seu regresso ao reiOo,<br />

não fazemos um cumprimento banal<br />

nem lhes en<strong>de</strong>reçamos uma saudação<br />

palaciana; cuidumos interpretar os votos<br />

da gran<strong>de</strong> maioria do povo portuguez<br />

que ren<strong>de</strong> preito ã família reinante<br />

pelas suas virtu<strong>de</strong>s e vê no principio<br />

monarchico por ella representado um<br />

penhor <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />

para toda a nação portUÇueza.»<br />

O Diário Popular:<br />

«A capital vestiu-se hontem <strong>de</strong> galas<br />

; para receber os nossos reis. Todos 'ós<br />

habitantes da cida<strong>de</strong> encheram os largos<br />

e as ruas por on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via passar o<br />

cortejo, e á gare da Avenida concorreu<br />

tudo o que na diplomacia, na politica,<br />

no commercio, na finanças rio fiinccionaiismo<br />

1 , occupa os primeiro*logares.»<br />

O Diário Illustrado :<br />

«As festas, com que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa recebeu a suas magesta<strong>de</strong>s, foram<br />

dignas do facto que celebravam è<br />

da capitai do reiriò.»<br />

O Correio da Manhã :<br />

«O aspecto do Largo do Camões não<br />

podia ser mais <strong>de</strong>slumbrante e festivo<br />

do que nesse momento em que a multidão<br />

manifestava a mais enthusiastica<br />

"'' alegria.»<br />

Por aqui se avalia, mesmo por grosso,<br />

o quanto <strong>de</strong> obsecação domina;esta<br />

gente, que, sem critério, çonfun<strong>de</strong> o<br />

povocom a burocracia,attribuindo aquelle<br />

o que só a esta pertence.<br />

Todos nós sabemos como são feitas<br />

estas manifestações <strong>de</strong> sympathia monarchica<br />

: á custa <strong>de</strong> muito dinheiro do thesouro.<br />

O charlatanismo dos papeis monarchicos<br />

já não iliu<strong>de</strong> ninguém, portanto.<br />

Também o Século junta o seu obulo<br />

<strong>de</strong> enthusiasmo ao coro dos louvamiuheiros<br />

supra-aponlados.<br />

Com uma semeerimonia <strong>de</strong>sopilante<br />

o Século espraia-se nestes consi<strong>de</strong>randos<br />

amenos: e-<br />

«Na Hespanha, uma rainha d'um<br />

caracter completamente opposto ao caracter<br />

eífusivo dos hespanhoes, e um<br />

rei que ainda hontem <strong>de</strong>ixou os cueiros,<br />

tuberculoso, quasi sempre doente,<br />

passando os dias a brincar com as-bonecas<br />

ou a fazer dodo nos braços da aia<br />

que o não <strong>de</strong>ixa; do lado <strong>de</strong> Portugal,<br />

uma rainha elegantíssima, jatiná no coração<br />

e no sangue,' amando as festas<br />

profundamente'peninsulares, doce, elíusiva,<br />

sempre coin um dito d'espirito Ou<br />

uma palavra <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> para tóilos'<br />

que a ro<strong>de</strong>iam e tendo por companheiro<br />

um rei moço, cheio <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

corajoso, um homem energieo e viril,<br />

<strong>de</strong> pulso rijo, bom arcaboiço, um homem<br />

emflm.»<br />

Phanlasiando um pseudo-<strong>de</strong>speito da<br />

imprensa republicana, sem razão.alguma<br />

fundamental para existir, abre conselheiralmente<br />

o Tempo:<br />

«As festas em honra da familia real<br />

incommodaram vivamente os jornaes<br />

republicanos. Era <strong>de</strong> esperar. O prestigio<br />

da monarchia exalta-se em novos<br />

fulgores e a <strong>de</strong>sorientação dos jacobinos<br />

aíflrma-se em tristíssimas aventuras.<br />

«O contraste esmaga-os. Percabe-se<br />

o <strong>de</strong>speitoJ explica-se perfeitamente a<br />

magua.»<br />

E mais abaixo:<br />

jp (IU-;<br />

«Por tudo isto comprehen<strong>de</strong>-se bem<br />

a magua das folhas republicanas. Os<br />

reis <strong>de</strong> Portugal eram as individualida<strong>de</strong>s<br />

proeminentes na consagração colombina.<br />

Aqui as festas foram uma repercusão<br />

da homenagem estrangeira;<br />

menos opulentas, <strong>de</strong>certo, mas mais<br />

intimas, mais enternecidas, immensamente<br />

mais affectuosas.»<br />

NSo chegámos a perceber on<strong>de</strong> é<br />

que 0:; partido republicano tem razões<br />

para mngoas 011 <strong>de</strong>speitos. Por não po<strong>de</strong>r<br />

fazer aos seus illustres uma manifestação<br />

tão reluzente, com paradas apparatosas,<br />

com feriado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> gala, com a burocracia?<br />

Só por isso. Em compensação o partido<br />

republicano faz as suas manifestações,<br />

quando lh'as <strong>de</strong>ixam fazer, genuinamente<br />

populares, único elemento que<br />

caracterisa as manifestações politicas.<br />

De rèsto, <strong>de</strong>masiado sabe o parlido<br />

republicana, como o sabe o Tempo, como<br />

0 .«abe toda a gente, que às manifestações<br />

raonarchicas são prejiaradas pelo<br />

elemento oCEcial, sem a coadjuvação plebêa,<br />

falta esta que lhes imprime toda a<br />

ausência <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> valor<br />

politico.<br />

-iuio'1 »J> wrmvmo^ o—Biduiio3 ni3<br />

Sergio cada vez está mais incorrigível.<br />

O vinho IIÔTO faz-jhe dar tratos <strong>de</strong><br />

polé ao bom senso.<br />

Çomo sempre rebola-se qual saltimbanco<br />

por sobre a relva do Illustrado,<br />

<strong>de</strong>spedindo cotièti bravio aos que : lhe<br />

censuram a má condiicta <strong>de</strong> beberola<br />

emerilo.<br />

c.t,-,,y.m couce :<br />

írÒ jornal republicano em Portugal,<br />

é quasi sempre um criminoso. E' um<br />

perigo, como apostolado, não c >ntra a<br />

religião monarchica, mas contra a reli-<br />

1 gião do pudor, do civismo, e da honra.»<br />

Outro : ,V giv-ib<br />

«Nada dé tréguas. Em nome da<br />

honra e pudor nacional castiguem-se<br />

os <strong>de</strong>saforados e abjectos apostolos do<br />

insulto e da obscenida<strong>de</strong> politica.»<br />

E outro:<br />

«Felizmente não estamos isolados<br />

•no combate, não aos princípios republicanos,<br />

que nada valem como formula<br />

política, mas que são tãò respeitáveis<br />

nas suas crenças sinceras como quaesquer<br />

outros, mas contra o jacobinismo,<br />

que é o caracter que aquelles princípios<br />

revestem em Portugal, e que está sendo,<br />

pela fórma por que se exhibe, um do-<br />

1 o cumento <strong>de</strong> vergonha para o bom nome<br />

portuguez.»<br />

É assim o Sergio. Por mais que lhe<br />

<strong>de</strong>sanquem a lombada, não sae fóra d'esle<br />

trilho. E como certos bUrros dé moleiros,<br />

insensíveis a toda a acção <strong>de</strong> arrocho, e<br />

que, spenns em <strong>de</strong>sforço, levantam as<br />

ancas. O Sergio também levanta as ancas<br />

é... as orelhas,<br />

fit) aflurtiotqsb t^bo «mno anp-uoi<br />

... .j *<br />

Raro ácbiitece, em confirmação d'um<br />

dictado, fjue um tolo não encontre outro<br />

ainda mais tolo que o ápplauda.<br />

É o que se dá cora o Sergio; presentemente,<br />

coin a aggravante <strong>de</strong> não *e<br />

dar o caso entre dois tolos, mas èhtre<br />

dois velhacos tolos.<br />

Já adivinharam -<strong>de</strong> quem falíamos.<br />

«Só cae nas" mãos do inimigo, quem<br />

o inimigo poupa.<br />

«Nós temoí-o poupado em <strong>de</strong>masia.<br />

«Tempo é dè sopra para emendar o<br />

erro e para começar vida 110va.»<br />

Pelo <strong>de</strong>do se conhece o gigante. Só<br />

a Reforma viria em reforço ao Sergio.<br />

Que dois L<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

Mesmo babado t<br />

O correspon<strong>de</strong>nte especial do Século<br />

em Madrid, rebola-se lodo porque os<br />

hespanhoes gostaram dos nossos reis, e<br />

diz: — «A rainha D. Amélia conquistou<br />

Madrid sem precisar d'um exercito!»<br />

Salva a comparança, parece mesmo<br />

o sr. Feio Terenas a informar >p mesmo<br />

Século, da Covilhã... Viram os senhores?<br />

O Século traz macaca I<br />

ÀNNO I <strong>Coimbra</strong>, 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892 N.° 37<br />

Mirai Zé!<br />

Suas magesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ixaram em Madrid:<br />

20:000 pesetas para os creados<br />

do palacio; 600 pesetas,para as guardas,<br />

e 10:000 para o« pobres <strong>de</strong>, Madrid.<br />

Proximadamente uns 6 contos <strong>de</strong><br />

réis. E' o Diário <strong>de</strong> Noticias, jornal <strong>de</strong><br />

bem, que o informa.<br />

Para o Brazil continuam a emigrar<br />

centecas <strong>de</strong> porluguezes por falta <strong>de</strong><br />

recursos, e a miseri3 vae cada vez atacando<br />

com mais violência as classes trabalhadoras.<br />

E viva a pan<strong>de</strong>ga !<br />

«Duvida»<br />

A brilhante poesia que hoje inserimos<br />

nos Crystaes <strong>de</strong>vemol-a á obsequiosa remessa<br />

do nosso talentoso chronisla do<br />

Porlo, sr. Augusto Mesquita.<br />

« Primorosamente burilada, em amplos<br />

vôos <strong>de</strong> finíssima concepção, esta magnifica<br />

poesia afirma por si sç, quando mais<br />

não houvesse, a. genial inspiração poética<br />

do auctor, que aliás já conhecíamos em<br />

anteriores producções <strong>de</strong> mérito elTectivo,<br />

Agra<strong>de</strong>cendo a amabilida<strong>de</strong> da sua<br />

colaboração, o Defensor do D ovo orgulha<br />

se legitimamente <strong>de</strong> a possuir.<br />

Due o povo leia!<br />

«Quando 01 ait«R po<strong>de</strong>res «lo<br />

eSlado quizerem restringir as<br />

faculda<strong>de</strong>s «le mauisfestação<br />

publica, as paixões Iião <strong>de</strong> procurar<br />

outra válvula, lião <strong>de</strong> tomar<br />

outra dirvtfâ»; e a critica<br />

serena, e mesmo apaixonada,<br />

mas feita á luz do dia, será<br />

substituída pelas reuniões clan<strong>de</strong>stinas<br />

e pelas conjurações<br />

revolucionarias.<br />

«A guerra anais perigosa para<br />

os governos, a mais difíicil<br />

<strong>de</strong> combater, é a preparada nas<br />

trevas, quando os cidadãos, encontram<br />

fechadas todas as portas<br />

<strong>de</strong> manifestação leal.»<br />

São palavras do sr. José Dias Ferreira,<br />

preteridas 11a camara dos <strong>de</strong>putados<br />

no anuo da graça <strong>de</strong> 1884 !<br />

E a melhor resposta que se po<strong>de</strong> dar<br />

aos raivosos moiiarchicos que pe<strong>de</strong>m repressão.<br />

Que o sergio e todos os outros Sergios<br />

tiqueiu scientes I<br />

A esquadra ingleza<br />

O ministro inglez informou o governo<br />

<strong>de</strong> que receava que os soldados dos navios<br />

inglezes solfressem alguns dissabores<br />

pelas ruas da capital.<br />

Consta que o governo respon<strong>de</strong>ra que<br />

po<strong>de</strong>riam vir porque a policia evitaria,<br />

pela força, qualquer manifestação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado.<br />

No entanto assevera-se que a esquadra<br />

ingleza já não virá.<br />

Pois é pena.<br />

Galeria Portugueza<br />

Assim se intitula uma revista semanal<br />

illustrada, <strong>de</strong> genero novo, que brevemente<br />

começará a publicar-se todos os<br />

domingos no Porto.<br />

Será collaborada litierariamente pelos<br />

vultos mais notáveis das lettras portugiiezas,<br />

conforme vemos do prospecto,<br />

e artisticamente por alguns dos mais<br />

conceituados gravadores nacionaes e estrangeiros.<br />

Assigna-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já em todas as livrarias<br />

e na Agencia Universal Portugueza,<br />

rua <strong>de</strong> D. Pedro, 110, 1.°—Porto.<br />

Gran<strong>de</strong> incêndio<br />

Dizem da Covilhã que 11a madrugada<br />

<strong>de</strong> domingo ar<strong>de</strong>u a fabrica da Companhia<br />

Nacional. De toda a fabrica apenas<br />

escapou a tinturaria, sendo os prejuizos<br />

calculados em 30 contos <strong>de</strong> réis.<br />

Esta fabrica occupava a area <strong>de</strong> 1:500<br />

metros quadrados.<br />

GRYSTAES<br />

DUVIDA<br />

A Hugo Diniz.<br />

Eu quando vejo, candida e formosa,<br />

Uma creança pallida dormindo<br />

No pequenino esquife côr <strong>de</strong> rosa<br />

— As mãos erguidas em uneção piedosa...<br />

— A morte impressa no seu rosto lindo...<br />

Ah ! duvido, Senhor, duvido então<br />

Que tua mãe aos pés tivesses visto<br />

Entre os braços da dôr e d'aíflição;<br />

Não posso crer que esse astro do perdão,<br />

Essa estrella do Bem chamado o Christo,<br />

Seja esse Deus feroz, <strong>de</strong>snaturado,<br />

Envolvido nas sombras do mysterio,<br />

Que mata um lyrio branco, immaculado,<br />

E o manda, <strong>de</strong>ntro d'um caixão fechado<br />

Para sempre dormir no cemiterio I<br />

Lançar á treva quem sorri á aurora I<br />

Cortar da haste a flor que <strong>de</strong>sabrocha I<br />

— Só o faz a alma negra qne não chora,<br />

Que não sente, não ama, não adora.. •<br />

— Só o faz, Senhor, um coração <strong>de</strong> roehal<br />

Gelar um riso meigo <strong>de</strong> creança<br />

On<strong>de</strong> perpassa o azul i<strong>de</strong>al dos ceus !...<br />

E' como á dôr tirar a luz da esp'rança,<br />

Dar-nos tormentas que não tem bonança...<br />

—Não o faz um homem quanto mais um Deusl<br />

Pois po<strong>de</strong> um Deus, que é balsamo <strong>de</strong> pranto,<br />

Lancinar peitos com tão fundas dôres ?<br />

Po<strong>de</strong> ser mau e ao mesmo tempo santo 1<br />

O sol é <strong>de</strong>us dos astros, e no entanto<br />

Não mata lyrios nem <strong>de</strong>stroe as flores...<br />

Quando (oh! magua profundai magua ingente!)<br />

Uma creança no caixão contemplo<br />

Sinto erguer-se em minha alma bruscamente<br />

A duvida sombria, irreverente,<br />

Como blasphemia a resoar num templo 1<br />

E as crenças puras, virginaes d'outr'ora<br />

Fogem do peito, <strong>de</strong>ixam-no vasio;<br />

— São andorinhas que se vão embora<br />

Batendo as azas pelo espaço fóra<br />

Com medo ao gelo, áo vendaval, ao frio.<br />

A duvida quo as crenças dilacera,<br />

Tornaudo-as a meus olhos tão mesquinhas,<br />

Não me dá a alegria que eu tivera<br />

Se po<strong>de</strong>sse tornar a primavera,<br />

Se po<strong>de</strong>ssem voltar as andorinhas 1<br />

Mas nunca mais hão <strong>de</strong> voltar, por certo:<br />

O meu <strong>de</strong>silludido coração<br />

E' como immenso e gélido <strong>de</strong>serto<br />

Batido aos raios d'um luar incerto,<br />

Varrido pelo vento da Razão.<br />

Nesse ermo ha um só oásis — preciosa<br />

Fonte <strong>de</strong> luz, d'amor, d'i<strong>de</strong>al bonda<strong>de</strong>,<br />

Que jorrou d'uma lagrima piedosa,<br />

E fez brotar da terra infructuosa<br />

A diamantina flôr da carida<strong>de</strong> I<br />

A carida<strong>de</strong> ?!... Será dom divino 1<br />

Ou seria a nossa alma triúmphante<br />

Que a gerou em seu pranto crystallino:<br />

— Rosa aberta ao orvalho matutino<br />

E ao clarão fulvo d'alvorada inante ...<br />

Sobre o mundo, Senhor, dos reinos teus<br />

Nenhuma estrella <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> tomba<br />

— A carida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>seeu dos ceus,<br />

E é bein mais doce do que o olhar <strong>de</strong> Deus<br />

Se Deus é aguia — a carida<strong>de</strong> é pomba I<br />

Porto.<br />

AUSUSTO DE MESQUITA.<br />

De lucto<br />

Por fallecimento <strong>de</strong> sua extremosa<br />

mãe, acha-se <strong>de</strong> luto o nosso querido<br />

amigo e correligionário o sr. Deolindo<br />

<strong>de</strong> Castro, sobrinho do eminente advogado<br />

dr. Alexandre Braga.<br />

Companheiros <strong>de</strong> ha muito nas magoas<br />

com que a adversida<strong>de</strong> o vem ferindo,<br />

mais uma vez lhe testemunhamos o<br />

nosso profundo sentir no angustioso transe<br />

da perda <strong>de</strong> sua mãe que elle tanto<br />

estremecia e presava.<br />

Bellezas<br />

do registo catholico<br />

Dizem <strong>de</strong> Villa Pouca d'Aguiar que<br />

na freguezia <strong>de</strong> Tres Minas, on<strong>de</strong> o parocho<br />

falleceu ha cerca <strong>de</strong> 20 dias, está<br />

lodo o registro parochial por fazer ha<br />

quasi dois annos, e <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> cincoenta<br />

baptismos feitos nestes dois annos não<br />

ha sequer apontamentos!


AXXO I — 39 O DEFEXSOR DO POVO <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />

LBTTRAS<br />

0 Rabequista<br />

Em tempo muito remotos, os habitantes<br />

<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> levantaram<br />

uma egreja magnifica a Santa Cecília padroeira<br />

dos músicos.<br />

As rosas mais vermelhas e os lyrios<br />

mais cândidos enfeitavam o altar.<br />

O vestido da santa era <strong>de</strong> (illigrana<br />

<strong>de</strong> prata e os sapatinhos eram <strong>de</strong> oiro,<br />

feitos pelo melhor ourives da cida<strong>de</strong>. A<br />

capella eslava completamente cheia <strong>de</strong><br />

peregrinos e <strong>de</strong>votos.<br />

Uma vez foi lá em romaria um pobre<br />

rabequista, pálido, magro, escaveirado.<br />

Como a jornada tinha sido longa, estava<br />

cançado e já no seu alforge não havia<br />

pão, nem dinheiro no bolso para o comprar.<br />

Assim que eulrou na capella, come-<br />

çou a tocar na sua rebeca com tal suavida<strong>de</strong>,<br />

com tanta expressão, que a santa<br />

ficou enternecida ao vel-o tão pobre<br />

e aó escutar aquella musica tão <strong>de</strong>liciosa.<br />

Quando terminou, Santa Cecilia abaixou-se,<br />

<strong>de</strong>scalçou um dos seus ricos sapatos<br />

<strong>de</strong> oiro, e <strong>de</strong>u-o ao pobre musico,<br />

que, tonto <strong>de</strong> alegria, dançando, cantando,<br />

chorando, correu á loja <strong>de</strong> um ourives<br />

para o ven<strong>de</strong>r.<br />

O ourives, reconhecendo o sapato da<br />

santa, pren<strong>de</strong>u o pobre rabequista e levou-o<br />

á presença do juiz. Iustauraram-<br />

Ihe proceíso, julgaram-no e foi con<strong>de</strong>in-<br />

nado á morte.<br />

Chegara o dia da execução.<br />

Os sinos dobravam lastimosamente, e<br />

b cortejo poz-se em marcha ao som dos<br />

cânticos dos fra<strong>de</strong>stque ainda assim não<br />

chegavam a dominar os sons da rabeca<br />

do con<strong>de</strong>mnado, que pedira como ultima<br />

graça o <strong>de</strong>ixarem-lhe tocar na sua rabeca<br />

até ao ultimo momento.<br />

O cortejo chegou <strong>de</strong>fronte da capella<br />

da santa, e, quando paravam, snpplicou<br />

o triste <strong>de</strong>sgraçado que o levassem lá<br />

<strong>de</strong>ntro para tocar a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira melodia.<br />

Os padres e os chefes da escolta consentiram,<br />

e o rabequista entrou, ajoelhou<br />

aos pés da santa, e, <strong>de</strong>bulhado em lagrimas,<br />

começou a tocar. Então o povo maravilhado<br />

e atterrado, viu Santa Cecilia<br />

curvar-?e <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>scalçar o outra sapato<br />

e inettel-o nas mãos do infeliz musico.<br />

A' vista d'este milagre, lodos os assistentes<br />

levaram em triumpho o rabequista,<br />

coroaram-no <strong>de</strong> llôres, e os magistrados<br />

vieram solemnemente prestar-<br />

Ihe as mais honrosas homenagens.<br />

Guerra Junqueiro.<br />

As eleições<br />

em Ponta Delgada<br />

Foi o mais lisongeiro para o partido<br />

republicano o resultado das ultimas eleições<br />

para <strong>de</strong>putados realisadas em Ponta<br />

Delgada.<br />

É tal a prepon<strong>de</strong>rância que o partido<br />

republicano adquiriu alli que a sua victoria<br />

seria <strong>de</strong>finitiva se os monarchicos<br />

se não. colligassem, e se, além d'isso,<br />

se não recorresse ao conhecido uso das<br />

chapelladas nos concelhos ruraes.<br />

Também contribuiu assásmente para<br />

o triumpho monarchico a propaganda <strong>de</strong>leleria<br />

dos reverendos parochos que atterrorisavam<br />

os eleitores com sermonatas<br />

estupautes, inculindo-lhes que votar na<br />

lista republicana era o mesmo que votar<br />

pura o acabamento da religião !...<br />

Pois apezar <strong>de</strong> tudo islo, a lisla republicana<br />

foi enormemente votada, como<br />

se vê:<br />

Dr. Theophilo Braga 1:174 votos<br />

Casimiro Franco ... 1:066 votos<br />

Augusto Cymbron Borges<br />

<strong>de</strong> Sonsa 1:177 votos<br />

Dr. Manoel d'Arriaga ... 79 votos<br />

Honra ao povo <strong>de</strong> Ponta Delgada<br />

que tão eloquentemente soube protestar<br />

contra a politica monarchica que tanto<br />

tem <strong>de</strong>scurado os interesses dos povos<br />

insulanos.<br />

Como manifestação <strong>de</strong> justiça cabenos<br />

aqui consignar que a consi<strong>de</strong>rável vo<br />

tação obtida pelo partido republicano <strong>de</strong><br />

Ponta Delgada nas ultimas eleições, foi<br />

<strong>de</strong>vida em parte ao preseveraute esforço<br />

do nosso presado amigo e correligionário<br />

sr. Augusto Cymbron Borges <strong>de</strong> Sousa,<br />

re-i<strong>de</strong>iile em <strong>Coimbra</strong>, que no periodo<br />

<strong>de</strong> alguns mezes por lá andou disciplinando,<br />

orgauisando, evangelisando, preparando<br />

emfim as nossas forças para a<br />

lucta eleitoral,<br />

— Os candidatos votados, que acima<br />

referimos, dirigiram um manifesto-agradécimeuto<br />

aos eleitores <strong>de</strong> Ponta Delgada,<br />

do qual extractamos o seguinte periodo<br />

: .<br />

«Quando nos apresentámos ao vosso<br />

suffragio, foi simplesmente para provocar<br />

a união das fileiras dos patriotas que<br />

sabem <strong>de</strong> que lado está a nossa salvação.<br />

Porque, para luctar contra quem faz a<br />

lei e possue meios excepcionaes para a<br />

falsificar—começando pelo privilegio dos<br />

gran<strong>de</strong>s contribuintes para escolher as<br />

commissões <strong>de</strong> recenseamento eleitoral,<br />

que por seu turno dão e tiram o direito<br />

<strong>de</strong> votar com um <strong>de</strong>scaro aleivoso, e<br />

como se isto não bastasse ainda, fabrica<br />

as maiorias pela compra do votorpelas<br />

pressões íiscaes e <strong>de</strong> recrutamento, actas<br />

simuladas, fuzilamentos junto da urna,<br />

amnistias para as infamias dos seus galopins,<br />

e arrebanhamento pelos padres<br />

dos simplorios al<strong>de</strong>ãos para os contrapôr<br />

pelo numero bruto ao suffragio inlelligente<br />

das capilaes,—para luctar, repetimos,<br />

contra mil burlas da hypocrisia liberal<br />

do regimen representativo, só quem<br />

se achar em estado <strong>de</strong> imbecil ingenuida<strong>de</strong>,<br />

acreditará no veredictum do sulíragio<br />

<strong>de</strong>pois da constante viciação <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> meio século.»<br />

Curiosida<strong>de</strong>s<br />

A rainha sr.*D. Maria Pia, é a 12. a<br />

das regentes que tem governado esteà<br />

reinos. As outras foram : D. Thereza <strong>de</strong><br />

Leão, mulher do con<strong>de</strong> D. Henrique, D.<br />

Leonor Telles, mulher <strong>de</strong> D. Fernando<br />

I, D. Leonor d'Arngão, mulher d'el-rei<br />

D. Duarte, D. Leonor <strong>de</strong> Lencastre, mulher<br />

<strong>de</strong> D. João II, D. Catharina, mulher<br />

<strong>de</strong> D. João III. D. Margarida <strong>de</strong> Saboya,<br />

duqueza <strong>de</strong> Mantua (na dominação hespanhola),<br />

D. Luiza <strong>de</strong> Gusmão, mulher<br />

<strong>de</strong> D. João IV, D. Catharina, ti lha <strong>de</strong> D.<br />

João IV e irmã <strong>de</strong> D. Pedro II e D. Affonso<br />

VI, D. Mariana d'Austria, mulher<br />

<strong>de</strong> D João V, D. Mariana Victoria, mulher<br />

<strong>de</strong> D. José 1, e finalmente a infanta<br />

D. Isabel Maria, filha do rei D. João<br />

VI.<br />

Pelos vencidos<br />

O cumprimento d'um <strong>de</strong>rer é a maior<br />

satisfação da consciência individual.<br />

Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />

nossos concidadãos emigrados não é o<br />

cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />

dos <strong>de</strong>veres políticos esle occupa o<br />

primeiro logar, na actual conjunctura.<br />

Urge que todo o republicano sem<br />

differenciação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />

e a sua bolsa para auxiliar aquelles<br />

malventurosos amigos que longe da<br />

patria e da família se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />

Vamos a isto, meus amigos I Cumpramos<br />

este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />

<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />

piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />

dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />

fria do nosso critério a sua significação<br />

positiva.<br />

O Diário Illustrado constatava ha<br />

dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />

em Bordéus se alimentavam<br />

com bolota pesquisada nos barris do lixol<br />

Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />

Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />

eslá abaixo <strong>de</strong> toda a noção <strong>de</strong><br />

humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />

<strong>de</strong> republicanos, dia a dia aflirmando<br />

pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />

aquella gente.<br />

É a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />

mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />

exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />

apenas pelos bicos da penna : é a<br />

solidarieda<strong>de</strong> effectiva, pratica, traduzida<br />

no mais franco auxilio moral e material.<br />

Amigos ! Soccorraroos os emigrados I<br />

Subscripção <strong>de</strong> SOO réis men-<br />

Rnei <strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

eom egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte .... 120900<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

relnetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus/n, 0 88.<br />

EM SURDINA<br />

— Porque andam assim tristonhos,<br />

tão bisonhos,<br />

os Jaquetas t<br />

— Que perguntas I<br />

Queriam que o João Maria<br />

— que mania I —<br />

ficasse em todas as juntas.<br />

— Tudo se po<strong>de</strong> fazer,<br />

a meu ver...<br />

P'ra vencer taes arrelias,<br />

basta do Ayres conseguir,<br />

residir,<br />

em todas as freguezias I<br />

— Tenho i<strong>de</strong>ia mais catita,<br />

mais bonita,<br />

que o leva á posterida<strong>de</strong> 1...<br />

O partido nomeal-o<br />

— que regalo I —<br />

viso-rei — cá da cida<strong>de</strong> 111<br />

PINTA-ROXA.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

No domingo, eleições <strong>de</strong> junta <strong>de</strong> parochia.<br />

Em todas as freguezias d'esta cida<strong>de</strong><br />

se pretendia propor o nome do sr<br />

Ayres <strong>de</strong> Campos que eslá sendo a or<strong>de</strong>m<br />

do dia da politica coimbrã.<br />

Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renlisarera tão<br />

alto pensamento, os parochianos <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz serão os únicos a po<strong>de</strong>rem usufruir<br />

tamanho regalo — e consla-nos que<br />

alli será eleito s. ex.*<br />

É muito bonita — a gratidão 1<br />

*<br />

Ouçamos os dois, que pa»sam por<br />

folhas ultra-ministeriaes :<br />

Em <strong>Coimbra</strong>—o Commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

diz :<br />

«Afllrma o Imparcial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

que o sr. dr. Vicente Rocha não tenciona<br />

pedir a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da<br />

commissão districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.»<br />

Em Lisboa — a Reforma:<br />

«Pediu a exoneração do logar <strong>de</strong><br />

presi<strong>de</strong>nte da commissão districtal <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, o sr. dr. Vicente Rocha.<br />

«Este cavalheiro será substituído<br />

pelo sr. dr. Hermano, vogal da mesma<br />

commissão.»<br />

Entre pessoas tão distinctas ha um<br />

que mente. Ora a Reforma é orgão do<br />

sr. Dias Ferreira, e a <strong>de</strong>missão parece<br />

<strong>de</strong>via ser pedida ao governo.<br />

Cá ficamos á espreita do mentiroso!<br />

*<br />

Vae ser adoptado no seminário episcopal<br />

d'esta diocese, o compendio do sr.<br />

dr. Bernardo Augusto <strong>de</strong> Madureira, intitulado:<br />

— Instituciones lheologicae dogmático<br />

polemiere.<br />

Como sabeis, em polemica dogmatica<br />

theologica ou cousa equivalente, andaram<br />

a esmurrar-se alguns mezes a Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Theologia e o sr. bispo con<strong>de</strong>.<br />

Que até chegou a arrepiar carecas !<br />

Agora as cousas vão a caminho e o<br />

que hontem era péssimo é hoje bom.<br />

Deo graltas !<br />

*<br />

Foi suspenso o sr. padre Pratas por<br />

causa das torpelias que praticou <strong>de</strong>ntro<br />

da egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, no dia da eleição<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>putados.<br />

Escapou á correcção o que consentiu<br />

e tolerou que numa cása <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

mesma egreja se servisse vinho e bacalhau<br />

aos eleitores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da Pedrulha.<br />

Não gostamos <strong>de</strong> ver chorar uns,<br />

emquanto outros se riem.<br />

Comtudo, o sr. padre Praias bem mereceu<br />

o castigo.<br />

*<br />

As con<strong>de</strong>corações continuam a sair<br />

da cornucopia das graças ás mãos cheias<br />

—p'ra todo o bicho careta.<br />

<strong>Coimbra</strong> nem por isso !<br />

Que encavacação I<br />

*<br />

Espera-se em <strong>Coimbra</strong> o sr. Hintze<br />

Ribeiro. O fúnebre ex-ministto, negociador<br />

do tratado inglez <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto,<br />

vera a esla cida<strong>de</strong>, segundo dizem, reorganisar<br />

o partido regenerador.<br />

Virá dizer aos Jaquelis, que são os<br />

dissi<strong>de</strong>ntes do paVtido, que voltem ao redil<br />

da regeneração, o qual brevemente<br />

será po<strong>de</strong>r, com o sr. José Dias á<br />

frente...<br />

Se assim fór tudo ficará — di accordo—<br />

e então veremos para on<strong>de</strong> irá o sr.<br />

Ayres <strong>de</strong> Campos que afirmava não pertencer<br />

a nenhum partido monarchico.<br />

Será facel vel-o na regeneração.<br />

Pròh pudor 1<br />

Magriço,<br />

Notes da borga<br />

•wwv^<br />

Importou em 400$000 réis a ma<strong>de</strong>ira<br />

que foi empregue no estrado que<br />

construíram junto ao mastro do Rocio.<br />

Importou era 1 conto <strong>de</strong> réis a fazenda<br />

adquirida para a confecção <strong>de</strong><br />

ban<strong>de</strong>iras que serviram para os féstejos<br />

reaes.<br />

A commissão <strong>de</strong> festejos requisitou<br />

da direcção dos caminhos do ferro do Sul<br />

e Sueste cerca <strong>de</strong> 400 bilhetes <strong>de</strong> Iodas<br />

as classes, para distribuir gratuitamente<br />

pelas pessoas que quizessem ir <strong>de</strong> Setúbal<br />

e estações intermedias a Lisboa, a<br />

fim <strong>de</strong> assistirem aos festejos.<br />

Ura telegramma <strong>de</strong> Madrid para o<br />

Século diz que teem chamado a attenção<br />

do publico as muitas <strong>de</strong>spezas particulares<br />

feitas em Madrid pelos reis <strong>de</strong> Portugal,<br />

na acquisição <strong>de</strong> jóias e outros<br />

objeclos para brin<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rados como<br />

explendidos e riquíssimos.<br />

Diz o correspon<strong>de</strong>nte do Século que<br />

a rainha D. Amélia visilou muitos estabelecimentos<br />

commerciaes comprando artigos<br />

<strong>de</strong> luxo.<br />

O almoço no entroncamento custou<br />

4:320$000 réis pagos pelo ministério da<br />

fazenda.<br />

O rei D. Carlos presenteou o marquez<br />

<strong>de</strong> Ayerbe com um alfinete <strong>de</strong> brilhantes<br />

e a rainha D. Amélia a duqueza<br />

do Infantado com uma pulseira <strong>de</strong> brilhantes,<br />

por terem estado os dois ás or<strong>de</strong>ns<br />

do* reivportuguezes.<br />

Um episodio curioso:<br />

Um secreta tripeiro pren<strong>de</strong>u no largo<br />

do Pelourinho um sujeito cora quem<br />

embirrou.<br />

Tomou a rua do Arsenal e quando<br />

chegou ao largo do Corpo Santo vollouse<br />

para o preso e perguntou-lhe :<br />

—Diga me on<strong>de</strong> é o governo civil;<br />

eu sou do Porto, e não sei cá d'eslas<br />

coisas.<br />

— Eu o ensino, — respon<strong>de</strong>u muilo<br />

<strong>de</strong>licadamente o preso.<br />

Ambos seguiram até á rua do Corpo<br />

Santo, on<strong>de</strong> o preso, tomando a escada<br />

do consnlado brazileiro <strong>de</strong>itou a correr,<br />

pondo-se cm dois pulos na rua do Ferregial,<br />

evadindo-se.<br />

O secreta correu lambem e ao chegar<br />

á rua do Ferregial, parou sem saber<br />

o caminho que <strong>de</strong>via tomar.<br />

O sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima, esmerou se<br />

na disposição dos grupos para os vivas.<br />

A coisa ficou com estas simples instrucções<br />

:<br />

—Um grupo berra, a comitiva passa,<br />

o grupo corre, vae juntar-se a oulro,<br />

os dois berram e correm juntos a reunir-se<br />

ao terceiro. E assim vão berrando<br />

e correndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Bocio até Alcantura.<br />

Assim se arranjam os vivas com pessoal<br />

<strong>de</strong> comparsa ria <strong>de</strong> magica.<br />

O espectáculo <strong>de</strong> gala em S. Carlos<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se realisar por falta <strong>de</strong> luz<br />

electrica. Um fiasco I<br />

JÍ ií/Ir-íGWfiyff Pi' í íii-j') Ó-<br />

Na casa da florista franceza, sita no<br />

2.° quarteirão indo do Rocio, estava arvorada<br />

a ban<strong>de</strong>ira nacional com a coiôa<br />

<strong>de</strong> peruas para o ar!<br />

Quando se ouviu o silvo <strong>de</strong> um comboio,<br />

uin saloio chegado <strong>de</strong> Merceana<br />

e que estava no largo <strong>de</strong> Camões,<br />

vollou-se para um policia, e exclamou.<br />

—Eia! como a companhia apila! sôr<br />

poliça!<br />

A companhia real dos caminhos <strong>de</strong><br />

ferro, lambem <strong>de</strong>u feriado aos seus operários.<br />

E a dizerem que a companhia está a<br />

cahir !<br />

Nova machina <strong>de</strong> guerra<br />

Ura oflicial <strong>de</strong> artilheria do exercito<br />

italiano invenlou uma nova luz <strong>de</strong>stinada<br />

a illuminar o campo inimigo, e cuja intensida<strong>de</strong><br />

é equivalente á <strong>de</strong> 100:000<br />

velas. A matéria que a produz é alojada<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um projéctil, o qual, rebentando<br />

no campo inimigo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tocar<br />

em qualquer corpo, o jlluminará até<br />

gran<strong>de</strong> distancia.<br />

Monumental escandalo<br />

Quando o actual ministério <strong>de</strong>cretou<br />

a reducção dos juros da divida, houve<br />

reclamações dos comités estrangeiros por<br />

causa da <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong> entre o coupon<br />

da divida interna e o da divida externa.<br />

O governo para aplanar diíHciiIda<strong>de</strong>s<br />

e dar uma satisfação aos crédores estrangeiros,<br />

facultou a conversão dos titulos<br />

da divida externa por titulos da divida<br />

interna.<br />

Poucos foram os qtte se serviram<br />

d'essa auctorisação, na doce esperança<br />

<strong>de</strong> que o goveruo reconsi<strong>de</strong>raria sobre a<br />

reducção. Em todo o caso houve con-r<br />

versão <strong>de</strong> titulos no valor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

um milhão <strong>de</strong> libras nominal. .,<br />

Segundo as praxes estabelecidas o<br />

governo <strong>de</strong>via mandar publicar na folha<br />

oflicial o numero dos títulos convertidos,<br />

para assim ficarem inulilisados.<br />

Pois o sr. José Dias Ferreira, o nosso<br />

querido patuleia, não proce<strong>de</strong>u assim ; calou-se<br />

com o jogo, guardou muito bem<br />

guardados os referidos títulos da divida<br />

externa e, segundo o que hoje ouvimos<br />

na rua dos Capel listas, o mesmíssimo sr.<br />

Dias Ferreira serviu-se d'elles para levantar<br />

numa casa estrangeira uma boa quantia.<br />

E' tão grave tudo isto, que esperamos<br />

das folhas affectas á actual situação um<br />

formal <strong>de</strong>smentido, acompanhado dos números<br />

dos titulos convertidos, pois. só<br />

assim nos po<strong>de</strong>remos persuadir <strong>de</strong> que as<br />

nossas informações são falsas.<br />

Se assim não proce<strong>de</strong>r chamaremos<br />

a attenção dos tribunaes para um facto,<br />

que, a ter-se realisado, é não só um<br />

gravíssimo crime <strong>de</strong> burla, como a prova<br />

mais formal <strong>de</strong> que são os governos mo-,<br />

narchicos os únicos factores da nossa <strong>de</strong>cadência<br />

e do <strong>de</strong>scredito em que cahimos<br />

perante o estrangeiro.<br />

Será possível que o sr. José Dias Ferreira,<br />

titular da pasta da fazenda, se<br />

apressasse a dar a ullima marlellada <strong>de</strong>molidora<br />

no throno dos braganças e ousasse<br />

afrontar por uma forma tão cynica<br />

o <strong>de</strong>coro nacional ?<br />

Aguar<strong>de</strong>mos a resposta dos orgãos<br />

ministeriaes e até lá suspendamos a nossa<br />

critica, conclue a Batalha.<br />

THEATROS<br />

Com a representação em dois actos<br />

da Marina, <strong>de</strong>spediu-se ua 2. a feira d'esla<br />

cida<strong>de</strong> a Companhia Infantil <strong>de</strong> Zarzuela,<br />

que tantos applausos conquísfon<br />

entre nos.<br />

O bom <strong>de</strong>sempenho d'esla formosa<br />

peça, por parte <strong>de</strong> todos, po<strong>de</strong>ndo nós<br />

especialisar os papeis <strong>de</strong> Palop e <strong>de</strong> Val-'<br />

divieso, e a boa execução da sua capitosa<br />

musica, d um caracter accentuadamente<br />

htí/panhol, <strong>de</strong>ixou em nosso espirito uma<br />

grata recordação, que se traduz em sinceras<br />

sauda<strong>de</strong>s por este grupo gentil <strong>de</strong><br />

creanças.<br />

As nossas palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida sãp<br />

animadas d'um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> gloria para os interessantes<br />

actoresilos, que tão bellas aptidões revelam<br />

e nus quaes alguns ha <strong>de</strong> merecimento<br />

incontestável. Oxalá que o caminho<br />

da Arte, on<strong>de</strong> dão os primeiros passos<br />

com uma lirmeza reveladora <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

aili.stas, se lhes patenteie franco e<br />

aberto como os seus corações <strong>de</strong> creanças,<br />

risonho e jovial como a sua eda<strong>de</strong><br />

juvenil; que os applausos colhidos hoje,<br />

consagraçao das suas opulentas aptidões,<br />

se transformem numa consagração real,<br />

ámanhã, da expansão brilhante do seu<br />

talento, — coroa immarcessive! <strong>de</strong> gloria<br />

nesse bello futuro <strong>de</strong>sanuuveado e largo.<br />

aiuti " iini- ' ^ ofi-.ft rrdn-, / oi ibisn<br />

Francisco Lucas anda a tramar. Traz<br />

a i<strong>de</strong>ia lixa num ponlo — a surpreza I<br />

Elle lera escripto, telegraphado e<br />

ultimamente foi ao Porto. O que elle lá<br />

foi fazer ou conseguir ainda não disse;<br />

porém, o seu contentamento, a sua alggria,<br />

laz-uos pensar que temos Burro pela<br />

pròa, senão mais alguma cousa.<br />

Que é homem para trazer pela arreata<br />

até <strong>Coimbra</strong> o festejado Burro, e dar-lhe<br />

guarida no theatro D. Luiz, ninguém o<br />

nega. E que o animalejo será recebido<br />

pelo publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> cora ovação<br />

estrondosa, também não restam duvidas.<br />

Porque o tal burro não é um burro<br />

vulgar — é O burro do sr. Alcai<strong>de</strong> — um<br />

burro já fannliarisado nas plateias <strong>de</strong><br />

Lisboa e Porto, que lera a magia <strong>de</strong><br />

nos lazer rir a ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>spergadas.<br />

Vamos inforiuar-nas e no proximo<br />

numero diremos.


AtfAO í — 3 9 O BEFfiNIOR IO POVO 34 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1893<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

» >*<br />

A guarda fitieal — novas exigen-<br />

cias ao commercio —'.multas<br />

Hojè só nos propomos provar que,<br />

perante a lei, o serviço que está fazendo<br />

nesta cida<strong>de</strong> a guarda fiscal é uma verda<strong>de</strong>ira<br />

iilegaiida<strong>de</strong>, por quauto nada a<br />

auctorisa a lai procedimento.<br />

gifíflE se uâ vejamos !, j.(;-r;;;.(»:> 0 . " oí laEU P<br />

Parece qtie tím Ançã, a 10 kilometros<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a epi<strong>de</strong>mia alacára já<br />

o gado bovino, porisso que uni creailúr<br />

d'aquella localida<strong>de</strong> requisitára ao hospital<br />

veterinário <strong>de</strong> Lisboa unia porção <strong>de</strong><br />

exemplarés das—Inèlrúcções praticas<br />

para os possuidores <strong>de</strong> gado bquino atacado<br />

<strong>de</strong> febre aphtosa.<br />

A auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve intervir neste as-;<br />

sumpto fazendo cumprir á risca a IeUra<br />

d'essas instrucções.<br />

1 3<br />

Ao Si*. cóiumissario <strong>de</strong> policia<br />

Saiba s. ex. a que, <strong>de</strong>vido a não se<br />

<strong>de</strong>stinar logar proprio para a venda do<br />

leile e á falta da inspecção ao mesmo, dá<br />

logar a que as ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras o falsifiquem,<br />

vendo-se prejudicados os consumidores.<br />

Era para agra<strong>de</strong>cer quaesquer provi<strong>de</strong>ncias<br />

neste sentido.<br />

Execuções íiscneg<br />

Publicou o Diário do Governo o nidppa-do<br />

districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> correspon<strong>de</strong>nte<br />

ao mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembço <strong>de</strong> l$89. Neste<br />

mappa se encontra bem acceptu ida a protecção<br />

aos gran<strong>de</strong>s codtrrtÃhftw.Hjasla<br />

alten<strong>de</strong>raos seguintes algarismos: 5:<strong>47</strong>3<br />

processos tio po<strong>de</strong>r judicial, importando<br />

em 19:439^236 róis, e apenas 382 processos<br />

nas administrações, mas estes importando<br />

em *20:o'3^734 reis, quantia<br />

superior aquella l No po<strong>de</strong>r judicial houve<br />

durante o mez o Weguiúte iutfvimeiW:<br />

to: 904 processos foram instuurádbs, no<br />

valor <strong>de</strong> 716^814 réis, e :333- lindaram<br />

no valor <strong>de</strong> 1 : 2 3 r e i s . Nãu,.A coutar do presente numero<br />

alé ao dia 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro; o que, importando<br />

n uráa insigpi/icaricia—e facultando,<br />

além d'ísso, o ensejo <strong>de</strong> rebentar<br />

a rir — proporciona a habilitação a qualquer<br />

premio, incluindo o <strong>de</strong> 600:000(51000<br />

rei» !! 1 • ^<br />

Para os que justamente se arreceiem<br />

<strong>de</strong> não encontrar alguma vez o Pimpão<br />

á veado, por se- haver esgotado rapidamente<br />

á edição—o que são favas contadas—<br />

abrimos uma assignatura especial—<strong>de</strong><br />

que já.se aproveitaram algumas<br />

centenas <strong>de</strong> .espertalhões.<br />

Es/a aWfgnAtufa, até o fim do anno<br />

cas.la apenas $ete vinténs e meio, tanto<br />

çm Lisboa como em qualquer ponlo dá<br />

província, bastando, para fazel-8, mandar<br />

a indicação do nome e da residência,<br />

acompanhada <strong>de</strong> uma cédula <strong>de</strong> tostão e<br />

outra <strong>de</strong> meio, para a—Redacção do<br />

Pimpão, largo <strong>de</strong> S. Roque, 8, Lisboa.<br />

Publicamos o documento que segue<br />

altamente honroso para o caracter recto<br />

e honesto do magistrado, nosso patrício,<br />

sr^ dr. Eduardo Augusto <strong>de</strong> Campos Paiva.<br />

lll. m0 ex. mo sr. Eduardo Augusto<br />

<strong>de</strong> Campos Paiva, meretissimo<br />

juiz <strong>de</strong> direito da comarca <strong>de</strong><br />

Sotavento.<br />

Se os elementos principaes constitutivos<br />

da nossa socieda<strong>de</strong> parecem dissolventes<br />

a um ponto tal que por momentos<br />

vacilla a fé e foge a esperança num porvir<br />

melhor e numa regeneração da nossa<br />

vida politica e social, é certo, porém,<br />

que do fundo d'esle quadro negro e contrislador<br />

se <strong>de</strong>stacam, solitários, alguns<br />

vultos, dignos e sympathicos, que não<br />

<strong>de</strong>ixaram ir as suas consciências e sentimentos,<br />

com a vertiginosa corrente que<br />

ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>struir os sãos princípios da<br />

moral e a pratica da virtu<strong>de</strong>.<br />

Entre estes vultos, folgam siiiceramente<br />

os abaixo assignados <strong>de</strong> reconhecer<br />

o <strong>de</strong> v. ex. a como uni dos mais dignos<br />

e sérios magistrados, que ás vezes<br />

a fortuna tem trazido para esta tão <strong>de</strong>scurada<br />

terra.<br />

' Quem ousa negar que V. ex.* é justo<br />

é reéto no; cumprimento do seu <strong>de</strong>vér?<br />

— que v. ex. a é um trabalhador infatigável,<br />

que se tem esforçado para que os<br />

processos tenham andamento rápido ? —<br />

Um magistrado convicto da verda<strong>de</strong>, e<br />

que dos seus <strong>de</strong>spachos e suas sentenças<br />

somente respira o respeito pela lei e o<br />

<strong>de</strong>sprezo pela chicana ?<br />

Ninguém !... mas ninguém <strong>de</strong> consciência<br />

immaculada. Porque aos <strong>de</strong> consciência<br />

maculada, aos <strong>de</strong> consciência<br />

manchada pelo vicio e que teem por<br />

min} e norma principal da sua vida o<br />

átropello da lei, é certo que v. ex. a não<br />

agrada.<br />

Mas o que valem e quantos são elles?<br />

Um numero infinitamente pequeno<br />

comparado com os habitantes d'esta comarca<br />

que apreciam a v. ex. a e lhe fazem<br />

justiça. , - r « 1/ .i v i i/ à<br />

São indivíduos isolados que vivem,<br />

<strong>de</strong>speitados, cheios <strong>de</strong> ignorancia e má<br />

fé — e a baba d'elles, por nojenta e ascorosa<br />

nem <strong>de</strong> leve roça pela honrada<br />

béca <strong>de</strong> v. ex. a<br />

Despreze-os.<br />

Os abaixo assignados prestando a<br />

v. ex. a o preito sincero da mais subida<br />

consi<strong>de</strong>ração e veneração profunda pelos<br />

dotes distinctissimos que ornam o caracter,<br />

o espirito e inteiligencia <strong>de</strong> v. ex. a<br />

veem pedir a v. ex. a que não ligue importância<br />

a esses indivíduos, que os<br />

<strong>de</strong>spreze e que continue a presidir á<br />

administração da justiça em beneficio dos<br />

.povos d'esta comarca, que o respeitam e<br />

estimam justamente por ser rigoroso e<br />

,exacto no cumprimento dos seus <strong>de</strong>veres.<br />

Esperam, pois, os abaixo assignados<br />

ver satisfeitos os seus <strong>de</strong>sejos, e v. ex. a<br />

continuando á testa da administração da<br />

justiça nesta comarca, teem os povos<br />

d'ella os seus direitos garantidos, escudados<br />

pela inteiligencia, pelo saber, amor<br />

a justiça e á verda<strong>de</strong> — e v. ex. a , por<br />

justa retribuição, tem o respeito e a veneração<br />

que o verda<strong>de</strong>iro funccionario<br />

gosa sempre que é honesto, justo e recto,<br />

como v. ex. a é.<br />

Ilha <strong>de</strong> S. Tlnàgo <strong>de</strong> Cabo Ver<strong>de</strong>, 17<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1892.<br />

1,-ííli ,BÍ - a» ' •' II• Oi : it 'J . .IÍISIÍ?<br />

(Seguem-se 320 assigttaturas, todas<br />

reconhecidas por tabellião, dos principaes<br />

proprietários, negociantes, agricultores e<br />

íunccionarios públicos.}<br />

A GRANEL<br />

Foi <strong>de</strong>sterrado para Tete o ex-sargento<br />

Tha<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Freitas, uma das victimas<br />

da monarchia. Tomou parte na revolta<br />

do Porto, e está por esse motivo<br />

cumprindo sentença.<br />

# * # Os regeneradores <strong>de</strong> Brag"a<br />

entregaram ao respectivo governador civil<br />

um novo protesto contra a i Ilegalida<strong>de</strong><br />

da eleição camararia.<br />

# * * Na occasião em que a« ma-gesta<strong>de</strong>s<br />

passaram em Castello <strong>de</strong> Vi<strong>de</strong>,<br />

o mundo oflicial levantou vivas áos monârchas.<br />

Um popular gritou Viva a patria I<br />

sendo este grito muito correspondido.<br />

Não houve prisões.<br />

# * # No curto espaço <strong>de</strong> dois mezes<br />

já foram nomeados oito administradores<br />

para o concelho <strong>de</strong> Fafe !<br />

# * * Doze cidadãos <strong>de</strong> Leiria<br />

constituíram uma socieda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve<br />

durar 7 annos Pagam mensalmente mil<br />

réis. A socieda<strong>de</strong> tem por fim adquirir<br />

os meios para que os socios vão em 1900<br />

dfesislir á exposição industrial <strong>de</strong> Paris.<br />

# * # Dizem <strong>de</strong> Salreu que succe<strong>de</strong>m-se<br />

alli impunemente os assaltos á<br />

mão armada.<br />

# * * O prior da egreja <strong>de</strong> S. João,<br />

eni Porto <strong>de</strong> Moz, insultou á missa conventual<br />

os progressistas, por terem vencido<br />

a eleição da junta. Os assistentes<br />

fizeram-o calar, e á sabida aggrediram-o.<br />

# * # Com <strong>de</strong>stino ao museu nacional<br />

<strong>de</strong> Lisboa, trouxe o vapor S.<br />

Thomé, <strong>de</strong> Benguclla, um caixote contendo<br />

exemplares zoologicos.<br />

# * # Nas ultimas eleições uma<br />

mulher, Ann Scally, foi eleita juiz <strong>de</strong><br />

paz em Buffallo, no Wyning, único estado<br />

da gran<strong>de</strong> confe<strong>de</strong>ração americana em<br />

que as mulheres são eleitoras e elegíveis.<br />

0D9lípâlí M ó oOp ÍOÍiIp£Ob<br />

# * * O município <strong>de</strong> Lourenço<br />

Marques vae contrair um emprestimo <strong>de</strong><br />

oitenta contos para a realisaçào <strong>de</strong> melhoramentos<br />

na cida<strong>de</strong>.<br />

# * * Pelas^noticias recebidas pelo<br />

vapor S. Thomé sabe-se que o estado<br />

das nossas províncias ultramarinas, era<br />

regular.<br />

# * * Durante a noite <strong>de</strong> 15 para<br />

16 séntiu-se um violento abalo <strong>de</strong> terra,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as visinhanças <strong>de</strong> Murça até Ribeira<br />

<strong>de</strong> Pena. Durou uns 10 segundos,<br />

causando alguns prejuízos materiaes, mas<br />

nenhum pessoal.<br />

Coisas e loisas<br />

Então a tua irmã, Luizinha, sempre<br />

te dá algum dinheiro para a tua algibeira?<br />

— Dá, sim senhor. Dá-me <strong>de</strong> vez<br />

em quando uma pratinha.<br />

— E tu preslas-lhe algum serviço<br />

para ella te pagar assim ?<br />

— Presto. Venho para a sala abrir<br />

a bocca quando se <strong>de</strong>mora muito algum<br />

massador.<br />

Professor —Qual é a significação da<br />

palavra salario?<br />

Alunado —Não sei, sr. professor.<br />

Professor—Ora diga-rae que.faz seu<br />

pae toda a semuuu ?<br />

— Trabalha.<br />

— Quando lhe pagam ?<br />

— Aos sabbados.<br />

s\ils<br />

— Então que leva elle para casa<br />

quando sae da officina ao sabbado ?<br />

— Uma gran<strong>de</strong> bebe<strong>de</strong>ira.<br />

No tribunal. O advogado á testemunha<br />

:<br />

— E ella olhou, assim como eu estou<br />

agora olhando para si, por exemplo?<br />

— Tal qual... como uma pessoa<br />

pasmada.<br />

Desgarradas<br />

Quem tem amores não dorme,<br />

Quem os não tem adormeci.<br />

F.u não perdia os meus somnos<br />

Ainda,*que amores tivesse.


AINO I — 3® O BBrBH«R »• POVO <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />

L I V R O S<br />

-I, Annuncios grátis recebendo-se<br />

ura exemplar.<br />

DE GRAÇA<br />

Carteira para notas,<br />

Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />

-6(1! - , • , íf '<br />

, A Hlit—E este o titulo <strong>de</strong> ura<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />

publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão enviados, gratuitamente, calalogos<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />

700 róis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />

-•—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

CHRISTIANISMO<br />

mmmiisiio<br />

Protesto patriotieo contra Roma<br />

, 11 ' m ú '<br />

PRESBÍTERO<br />

Joaquim dos Santos Figueiredo<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, Coim-<br />

bra e Lisboa.—Preço 50 réi».<br />

BÍBLIA SAGRADA<br />

ILLDSTS&DA<br />

900 a 1:000 gravuras<br />

Pedir prospecto e especinten<br />

Assignalura 20 réis, fascículo<br />

Está concluído o 1.' volume<br />

Para informações BÍBLIA<br />

SA6BABA IIiIÍUS-<br />

TltAUA — Mousinho da Silveira, 191<br />

—Porto.<br />

Era <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />

Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />

e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />

Flores —4.<br />

A SOLUÇÃO NACIONAL<br />

DE<br />

Felizardo <strong>de</strong> Lima<br />

O producto da venda d'este livro é,<br />

em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong>stinado ao reapparecimento<br />

do Badical, publicado por<br />

Felizardo <strong>de</strong> Lima todas aS tar<strong>de</strong>s.<br />

Porto—R. dos Cal<strong>de</strong>ireiros—-43<br />

PREÇO — 250 RÉIS<br />

A BOINA DA PATRIA<br />

OD<br />

A crise nionetaria e suas con-<br />

sequências, imparcialmente<br />

estudadas e analysadas<br />

Dedicada ao commercio e mais industrias<br />

do paiz por<br />

ALVES MIRANDA<br />

Preço—50 réis<br />

A N N U N C I O S<br />

Porltnha ... 30 réis<br />

Repetições ..... 20 réis<br />

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<strong>de</strong> 50 •/»<br />

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quem precisa d'ura que esteja apto para<br />

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ANTONIO VEIGA<br />

Latoeiro d'amarello<br />

e fabricante <strong>de</strong> carimDos <strong>de</strong> borracha<br />

RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />

_ Wxeeuta-ie todo o trabalho <strong>de</strong><br />

& carimbos em lodos os gene<br />

ros, sinetes, fac-siniiles e monograraraas.<br />

— Especialida<strong>de</strong> em tampadas, cruzes,<br />

banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />

para egreja. Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />

metal em chapa, fundição e torneiro,<br />

amarella e branca.


Suiim cuique!<br />

Alguns novelleiros estipendiados,<br />

com praça assente na feira constitucional,<br />

bolçam sobre o partido<br />

republicano as responsabilida<strong>de</strong>s da<br />

actual crise.<br />

Tal proposição nem se adapta<br />

pela originalida<strong>de</strong> nem se tolera pela<br />

<strong>de</strong>cencia: como arteirice é duma<br />

banalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comedia <strong>de</strong>ssorada;<br />

como elemento <strong>de</strong> combate politico<br />

é d'uma <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong> que punge por<br />

ingrata e in<strong>de</strong>vida.<br />

Todos sabem que o partido republicano<br />

tem vivido alheiado ao<br />

movimento scenico do Estado, sem<br />

outra collaboração que a diminuta<br />

que lhe conce<strong>de</strong> o suffragio popular<br />

na representação nacional.<br />

E ahi, é bem notoria a doutrinação<br />

republicana. Sempre na brecha<br />

contra os esbanjamentos, em graúda<br />

escala, em que sempre primaram os<br />

governos monarchicos. Os <strong>de</strong>putados<br />

republicanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Rodrigues<br />

<strong>de</strong> Freitas até á actualida<strong>de</strong>, teem<br />

sido no parlamento — que o dizem<br />

os seus discursos—os guardas avançados<br />

da moralida<strong>de</strong> politica, do<br />

bem estar popular, e das garantias<br />

civicas dos cidadãos. Nunca a voz<br />

d'elles echoou no parlamento em<br />

<strong>de</strong>feza <strong>de</strong> uma causa injusta ou antipatriótica.<br />

No entanto as suas palavras foram<br />

sempre <strong>de</strong>samadas pelos aulicos<br />

do paço, e os seus projectos que<br />

visavam a garantir interesses públicos,<br />

têm sido cautellosamente escondidos<br />

no cesto dos papeis velhos,<br />

como inúteis.<br />

*D'aqui se infere com toda a lógica,<br />

sem gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocínios<br />

profundos, que parlamentarmente<br />

nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> ser imputada ao partido republicano.<br />

*<br />

Temos a imprensa.<br />

Também é evi<strong>de</strong>nte que está<br />

instituição em nada tem contribuído<br />

para a crise pavorosa que <strong>de</strong> longe<br />

se vem avolumando sobre nós. A<br />

imprensa republicana tem sido até,<br />

e citam-se factos, em momentos solemnes<br />

da nossa história contemporânea,<br />

um dique po<strong>de</strong>roso á cortsummação<br />

<strong>de</strong> inauditos escandalos planeados.<br />

E quantos escandalos inéditos,<br />

que têm povoado a mente <strong>de</strong><br />

ministros nossos, não teriam sido effeituados,<br />

se não se receiasse a propaganda<br />

violenta, tenaz, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

dos jornaes republicanos, exercendo<br />

<strong>de</strong>cisiva acção no animo popular!<br />

Quantos ?<br />

Caboucando dia a dia, numa lucta<br />

ingloriosissima, a imprensa <strong>de</strong>mocrática<br />

portugueza tem contribuído<br />

gloriosamente para que ha mais<br />

tempo se não tenha precipitado o<br />

paiz no abysmo a que agora é inevitável<br />

submetter-se.<br />

Bem sabe o paiz que se não fosse<br />

a imprensa republicana o tratado <strong>de</strong><br />

Lourenço Marques teria sido approvado<br />

...<br />

*<br />

A' falta <strong>de</strong> outros recursos <strong>de</strong><br />

melhor effeito, os calumniadores do<br />

partido republicano, apontam a, para<br />

eiles mancha preta, revolução <strong>de</strong><br />

janeiro, como causa do aggravamento<br />

da crise nacional.<br />

Asseveram eiles que o credito<br />

estrangeiro se resentiu tanto ou<br />

quanto ao ver a instabilida<strong>de</strong> do regime<br />

monarchico, ou, por outra, ao<br />

ver que no interior não havia completo<br />

equilíbrio politico.<br />

Não ha tal.<br />

Não achamos isto verosímil, porque,<br />

logo que economicamente o nosso<br />

paiz vivesse <strong>de</strong>safogado, a questão<br />

politica seria indifferente sob o ponto<br />

<strong>de</strong> vista dos crédores externos, que<br />

apenas quereriam os seus capitaes<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

garantidos, nada lhes importando<br />

que esteja á testa do paiz o sr. D.<br />

Carlos, o sr. D. Miguel ou o sr.<br />

Theophilo Braga.<br />

Demais, o partido republicano estabelece<br />

no seu programma, o que<br />

seria insensato não fazer, o reconhecimento<br />

completo dos encargos da<br />

divida publica legalisada. D'aqui <strong>de</strong>riva<br />

que aos credores externos não<br />

seria penosa a transformação politica<br />

do paiz.<br />

A.inda, pois, não encontramos<br />

base para a cavilosa accusação da<br />

imprensa monarchica. Não a encontramos<br />

porque a não ha.<br />

Q que o partido republicano tem<br />

contribuído assásmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ultimatum<br />

<strong>de</strong> 90, com um pertinaz<br />

arrojo <strong>de</strong> civismo, é para a illucidação<br />

do estado politico e financeiro<br />

do paiz.<br />

Será esse o seu magno crime<br />

para os senhores da monarchia:<br />

para nós é o cumprimento exacto<br />

do <strong>de</strong>ver.. . vi!«:<br />

Já o furmulou Voltaire: Qui riest<br />

que juste est dur. Assim é.<br />

Seriamos cúmplices na <strong>de</strong>rrocada<br />

que se avisinha sô porventura <strong>de</strong>ixássemos<br />

<strong>de</strong> proclamar alto e claro<br />

o estado miserável das finanças, protelando<br />

assim a crise <strong>de</strong>cisiva para<br />

quando já fossem baldadas todas as<br />

tentativas <strong>de</strong> rehabilitação, para<br />

quando fossemos já, ás cegas, pen<strong>de</strong>ndo<br />

no plano inclinado do abysmo.<br />

Assim, sim.<br />

Mas ainda bem que a consciência<br />

nos não brada rçmoi sos.<br />

Ainda bem que hoje jorra plena<br />

luz na caverna. Vê-se tudo. O paiz<br />

escaveirado, resequido, myrrado,<br />

completamente exhausto e exangue.<br />

O thesouro vasio. A moralida<strong>de</strong> politica<br />

aos pontapés pelas camaras<br />

dos ministros. E na cupula d'este<br />

espectáculo repeli,ente, corôando-o,<br />

vê-se a corte ondulando num mar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>licias, <strong>de</strong> luxo e <strong>de</strong> ouro, importando<br />

um insulto flagrante ao miserável<br />

paiz, esquelectico e pobre...<br />

E' isto o que nós vemos, ás claras,<br />

e que p estrangeiro também vê.<br />

E por isso è que'o estrangeiro vendo<br />

os seus capitaes em ruína e não pagos<br />

os seus juros, nos fechou violentamente<br />

em rosto as portas do credito<br />

que ha muito vinha sendo o filé<br />

<strong>de</strong> todos os governos em apuros.<br />

Ora ahi está.<br />

O partido republicano repelle,<br />

pois, com possante energia, a comparticipação<br />

<strong>de</strong> collaborador nas <strong>de</strong>sgraças<br />

nacionaes.<br />

E' mister uma cegueira <strong>de</strong>scommum<br />

para acceitar tão peregrina<br />

theoria, que...<br />

e não tínhamos reflectido<br />

que os porta-voz <strong>de</strong> taes dislates<br />

não mereciam sequer uma referencia<br />

articulada quanto mais as<br />

longas explanações d'um artigo editorial<br />

...<br />

Tão mesquinhos eiles são!<br />

Ouviu-se a voz do povo!<br />

0 governo britanuico communicou oficialmente<br />

ao representante do governo<br />

portuguez em Londres que <strong>de</strong>liberara dar<br />

coutra-or<strong>de</strong>m á esquadra ingleza para<br />

não entrar 110 Tejo, por ter receio <strong>de</strong><br />

que nessa occasião fossem praticados<br />

actos <strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong> ou quapsquer <strong>de</strong>monstrações<br />

inconvenieittés.<br />

E El-Rei<br />

que vae paca a caça!<br />

0 sr. D. Carlos mandou perguntar<br />

para Mafra se na tapada real já tinham<br />

apparecido galhnholas...<br />

Toca a divertir-se, sr. rei 1<br />

PELOS JORNAES<br />

Dizer direito por linhas tortas:<br />

A Reforma, admirada da ousadia dos<br />

que repudiam relações com os inglezes,<br />

escreve:<br />

«Mas então é mentira o que nós<br />

vimos: — um povo profundamente monarchico<br />

e immensaraente bom e or<strong>de</strong>iro,<br />

recebendo <strong>de</strong> braços abertos e em<br />

aeelainações festivas os seus soberanos<br />

que voltavam <strong>de</strong> Madrid I»<br />

Ora ahi está uma confissão admiravel:<br />

effectivanvente é mentira o que a<br />

Reforma viu...<br />

A Nação atira-se <strong>de</strong> cabeça ás festanças<br />

reaes; e sacco<strong>de</strong>-as*<br />

«Mas a viajata foi, não só uma insensibilida<strong>de</strong><br />

em meio da agonia da<br />

Patria, foi também insulto ás lagrimas<br />

da legião dos que não teem pão, nem<br />

espaço para um grabato em tegurio<br />

habitável.»<br />

•Nãf> pára aqui;<br />

«E o povo castigou aquelle feroz<br />

esbanjamento vendo passar como visualida<strong>de</strong><br />

moralmente repugnante, o préstito<br />

real sem um viva, sem um brado<br />

<strong>de</strong> amor ; e porisso mesmo <strong>de</strong> chapéu<br />

na cabeça.<br />

«Não é preciso mais para flageilar<br />

os servilismos estonteados e immoraes<br />

doiiij^j,, . v.»KT>lnoim ub HOBXS<br />

Ora ninguém terá a irreverencia <strong>de</strong><br />

dizer que a velhota não tem razão.<br />

Isto não po<strong>de</strong> íirar no olvido. É a<br />

monarchica penna do sr. José Luciano<br />

<strong>de</strong> Casirrt, ctiefi! do parlido progressista,<br />

que assim <strong>de</strong>vaneia no Correio da Noile:<br />

«Paia não massarrnos mais os nossos<br />

leitores, <strong>de</strong>ixaremos na nossa carteira<br />

notas curiosas e grutescas que o<br />

acaso quiz que, m:iu grado nosso, presenciássemos.<br />

Po<strong>de</strong>rá! não é agradavel<br />

e confrage o coração vér senhoras em<br />

toilettes ricas aguardando na rua as<br />

carruagens que só tinham or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

voltar ás 11 e ineia. Apesar d'jsso que<br />

hotas comicásl Os ministros mandam<br />

chamar as carruagens e ellas não apparecem.<br />

O sr. conselheiro Pedro Victor<br />

leva na sua carruagem o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ficalho, um outro cavalheiro leva o si - ,<br />

rhiiiistro da guerra, que se esquecera do<br />

capote. O sr. bispo, não se importando<br />

com os seus cobtígas, saiu primeiro e<br />

mandou trotar para a Avenida, etc.,<br />

etc. 0 sr. José Dias foi o ultimo a sair.<br />

Novamente tivemos dó <strong>de</strong> sua ex. a ,<br />

que ia apoquentado e eom razão.<br />

V « — (iomo se sabe os bilhetes tinham<br />

sido distribuídos gratuitamente.<br />

«A' porta foram vendidos bilhetes<br />

<strong>de</strong> platêa a 51000 réis. Pareee que a<br />

polieia não conseguiu pren<strong>de</strong>r os ven<strong>de</strong>dores.<br />

« — A companhia do Golyseu da rua<br />

Nova da Palma para ser gentil'para<br />

com a commissão só recebeu 800|000<br />

réis.<br />

« — O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cahral, per<strong>de</strong>u<br />

no theatro <strong>de</strong> S. Carlos a placa da grancruz<br />

<strong>de</strong> Carlos III. Deu parte á policia.»<br />

Que dó o Correio da Noite não se<br />

dará pachorra <strong>de</strong> nos contar lim tiíri por<br />

trm-tim as notas curiosas e grotescas em<br />

que tãò sybillinamente toca.<br />

Pelo amor <strong>de</strong> Deu», sr. Correio da<br />

Noite!<br />

Leiam isto :<br />

t Ainda recentemente nos constou<br />

ter-se feito por um dos ministérios um<br />

fornecimento <strong>de</strong> 14:000 resinas <strong>de</strong> papel,<br />

adjudicadas ao preço <strong>de</strong> 2$i00 réis,<br />

quando se po<strong>de</strong>ria ter adjudicado ao<br />

preço <strong>de</strong> l#30í) réis., sem prejuízo <strong>de</strong><br />

nenhuma especie para o publico nem<br />

pára o sarviÇo, e com a economia <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> onze contos para o thesouro,<br />

que bem carece d'essa economia.»<br />

Damos-lhes um doce se advinharein<br />

d'on<strong>de</strong> é esta prosa. Da Vanguarda ?<br />

Da Voz Publica ? Da Batalha ?<br />

Nada d'isso.<br />

Dar-se-ha o caso <strong>de</strong> que o Século<br />

tivesse a pelulancia <strong>de</strong> publicar aquellas<br />

linhas?<br />

Is


ASXO I — 3 8 O DEFENIOR DO POVO 2 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1893<br />

LBTTBAS<br />

Doido d'amor<br />

Nunra esquecerei Aquella tar<strong>de</strong> em<br />

que nos sentámos, <strong>de</strong>pois d'um largo passeio,<br />

eu e o doutor, a beber uma garrafa<br />

<strong>de</strong> cerveja no terraço do casino. Declinava<br />

o dia, e o sol, cançado do seu<br />

passeio pelo ceu, como nós do que déramos<br />

pela terra, apagava a luz, e <strong>de</strong>ixa<br />

va-se cair no mar, enviando em cada<br />

oscilação das aguas raios <strong>de</strong> fogo que<br />

morriam com as ondas na praia.<br />

O doutor, alienista celebre e homem<br />

<strong>de</strong> raro talento, tinha-me impressionado<br />

com as cousas, novas para mim, que me<br />

contára no passeio. A hora prestava-se á<br />

meditação e eu. os braços apoiados na<br />

varanda, via <strong>de</strong>sapparecer o sol pensando<br />

em todos os doidos <strong>de</strong> quem tinhamos<br />

fatiado.<br />

— Díga-me, doutor — perguntei-Ihe,<br />

comprehen<strong>de</strong>ndo a <strong>de</strong>scortezia do meu silencio—é<br />

verda<strong>de</strong> que se morre d'amor?<br />

Ha na realida<strong>de</strong>, perante a sciencia, essas<br />

loucuras com que, tanto elles como<br />

ellas, se ameaçam uns aos outros quando<br />

não são correspondidos?<br />

— Ha: e havel-as-ha, meu amigo,<br />

em quanto o mundo fôr mundo, porque<br />

o amor é o único immutavel na terra. Milhares<br />

e milhares d'annos passaram, e<br />

em cada geração houve sempre um Adão,<br />

falto do senso pratico do seu século, disposto<br />

a per<strong>de</strong>r um Paraiso por uma Eva.<br />

E' innegavel que o amor contrariado produz<br />

em muitos casos a loucura.<br />

—Mas a morte, não.<br />

— A morte instantanea, essa morte<br />

súbita do amante que recebe o «não» da<br />

amada e cae inerte a seus pés, nunca;<br />

mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong>ns d'amor po<strong>de</strong>m produzir <strong>de</strong>sarranjos<br />

e lesões num organismo, e em<br />

praso maior ou menor, occasionar a morte.<br />

Já encontrei um caso d'estes, — um<br />

caso originalismo.<br />

—Era homem ou mulher?<br />

—Homem. Um rapaz muito sympathico,<br />

d'olhos negros muito profundos e expressivos.<br />

A sua historia era como muitas<br />

outras. Elle cego por ella, e ella ingrata<br />

para elle. A ingrata casou-se com<br />

o eleito do seu coração, e Pepe, que assim<br />

se chamava o pobre louco, á força<br />

<strong>de</strong> chorar e <strong>de</strong> pensar na ingratidão da<br />

que já era esposa e nu felicida<strong>de</strong> do marido,<br />

per<strong>de</strong>u a razão. Trouxeram m'o para<br />

que eu o tratasse em minha casa. Em<br />

nós, aparte o carinho e a sol liei tu<strong>de</strong> que<br />

por <strong>de</strong>ver niostran-os aos infelizes alienados,<br />

ha, como em lodos os homens,<br />

preferencias nascidas da maior sympathia<br />

ou compaixão que nos inspira um louco<br />

<strong>de</strong>terminado. Aquelle rapaz inleressou-me<br />

vivamente. Observei-o, e, dois dias <strong>de</strong>pois<br />

da sua entrada em minha casa, <strong>de</strong>>cobri-<br />

Ihe a mania. De sol a sol, discorria lucidamente<br />

e mostrava estar <strong>de</strong> perfeito<br />

juizo; mas, apenas começava a cair a<br />

noite, esgazeava-se-lhe a vista, corria a<br />

encerrar-se no quarto e punha-se a escrever.<br />

Todas as noites enchia as quatro paginas<br />

d'uma folha, mettia-a num enveloppe,<br />

fechava, escrevia a direcção, e en<br />

òostava-se em seguida, ficando pouco <strong>de</strong>pois<br />

profundamente adormecido.<br />

—E a quem escrevia ?<br />

—A si proprio. Naquellas horas julgava-se<br />

a noiva e escrevia cartas a si<br />

proprio, pondo em todas — as doces palavras<br />

que o seu amor <strong>de</strong>sejaria ouvir<br />

dos lábios d'ella. Mas não pára aqui a<br />

sua loucura. Ao <strong>de</strong>spertar, pedia em altos<br />

grilos a carta da noiva, e, para acalmal-o,<br />

não havia outro remedio senão<br />

entregar-lhe a carta escripta por elle na<br />

noite anterior. E era <strong>de</strong> ver a impaciência<br />

com que o <strong>de</strong>sgraçado rasgava o enveloppe<br />

e como lhe assomavam aos olhos<br />

lagrimas d"alegria ao lêr o que elle julgava<br />

ternuras da noiva, como beijava a<br />

carta e como a estreitava contra o coração,<br />

antes <strong>de</strong> niettel a no cofresinho <strong>de</strong><br />

ferro, on<strong>de</strong> guardava, atadas por uma<br />

lita roxa, a collecção <strong>de</strong> cartas que uma<br />

a uma escrevia a si proprio todas as noites.<br />

Conservo na minha carteira a copia<br />

d'uma d'aquellas cartas, — a mais curiosa<br />

e commovente, porque é talvez a explicação<br />

da sua morte, — como recordação<br />

d'esse pobre louco por quem cheguei a<br />

professar extranho carinho. Uma noite<br />

em que elle dormia profundamente, entrei<br />

no seu quarto, abri com o maior cuidado<br />

o enveloppe da carta abandonada sobre<br />

a meza e copiei-a integralmente. Veja,<br />

como amostra dó estado d'espirito do<br />

touco, estes paragraphos;<br />

«Separam nos obstáculos invencíveis,<br />

provavelmente não tornaremos a vêr-nos.<br />

Ma» eu sei amar <strong>de</strong> longe como as palmeiras,<br />

e para viver ditosa só preciso<br />

da certeza <strong>de</strong> que a minha recordação<br />

nunca se aparta <strong>de</strong> li. Pepe da minha<br />

alma! assim se cruzarão os nossos beijos<br />

no ar e os nossos olhares se encontrarão<br />

no ceu, quando, separados um do<br />

outro, mas pensando no nosso amor, passamos<br />

as horas contemplando o azul do<br />

firmamento... v<br />

— No lim da carta, accrescentou o<br />

doutor voltando a pagina, elle, em nome<br />

d'ella, diz a si proprio: «Até ámanhã.<br />

As únicas horas que vivo no dia são as<br />

que emprego em escrever-te. Assusta-me<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a doença me prostre no<br />

leito e me impeça <strong>de</strong> fallar cointigo. Mas<br />

não; sempre me (içariam forças p:ira escrever<br />

o meu nome num papel e enviarão...<br />

Sim, no dia em que não recebas<br />

carta minha, é que morri».<br />

—E um dia faltou a carta?...<br />

—Sim. O pobie doido ia per<strong>de</strong>ndo<br />

as forças e chegou esse momento; duas<br />

semanas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler adoecido gravemente,<br />

a ponlo <strong>de</strong> cair <strong>de</strong> cama, as mãos<br />

negaram-se-lhe a sustentar a penna,—a<br />

penna com que lhe escrevia a noiva 1 No<br />

dia seguinte, ao <strong>de</strong>spertar, pediu a esperada<br />

carta.—Não ha carta, respon<strong>de</strong>u-<br />

Ihe um dos assistentes, apóz uma busca<br />

minuciosa cm todo o quarto.<br />

O doido soltou um grito.<br />

—Morreu um dia antes <strong>de</strong> mim! disse<br />

com voz npagada, e, inclinando a cabeça,<br />

adormeceu para sempre.<br />

— Vamo-nos, doutor, —^disse-lhe —<br />

porque começo a sentir o frio da noite.<br />

—Sim. Vamo-nos. Saiba no emtanto<br />

que o frio que sente não é o da noite,<br />

mas o frio d 'aquella noile escura em que<br />

viveii tantos annos o pobre louco. Murre-se<br />

<strong>de</strong> amor, sr. materialista, e, gosando<br />

perfeita saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> sentir-se frio<br />

por uma noite quente <strong>de</strong> verão.<br />

Joaquim Ma\as.<br />

•<br />

João Chagas<br />

D'uma carta <strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s, datada<br />

<strong>de</strong> 19 d'outubro <strong>de</strong>stacamos o seguinte:<br />

João Chagas tem arbitrada egual<br />

fiança, (um conto <strong>de</strong> réis) havendo muito<br />

quem o aífiançasse; mas esta não teve<br />

logar, em vista do governo o ter recolhido<br />

á lortalesa <strong>de</strong> S. Fernando, aon<strong>de</strong> está<br />

preso, tendo por homenagem a parada<br />

do quartel para passeio. Foi hoje a perguntas<br />

ao tribunal, limitando-se a dizer<br />

que se evadira no palhabote A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong><br />

para o Gabão, indo <strong>de</strong>pois para Paris, e<br />

d'ahi para o Porto, on<strong>de</strong> foi prezo. Quanto<br />

ás pessoas que o coadjuvaram na fuga,<br />

diz peremptoriamente não <strong>de</strong>clarar nada<br />

a tal respeito. João Chagas acha-se no<br />

entanto bem disposto; só nos pareceu<br />

um pouco abatido, mas conserva o ar<br />

jovial, e diz que o uão suprehen<strong>de</strong>u a<br />

prisão,<br />

Enten<strong>de</strong>mos que João Chagas cumpriu<br />

o seu <strong>de</strong>ver, não <strong>de</strong>nunciando os<br />

cúmplices da sua fuga, e outra coisa<br />

não era <strong>de</strong> esperar do caracter firme e<br />

inabalavel d'este martyr da i<strong>de</strong>a republicana,<br />

que é todo o seu i<strong>de</strong>al, (diz elle)<br />

o bem da sua patria.<br />

—Agora mesmo, oito horas da noile,<br />

acabamos <strong>de</strong> saber que João Chagas,<br />

segue ámanhã para Loanda, por or<strong>de</strong>m<br />

do governo geral, vindo no paquete S.<br />

Tliomé, que <strong>de</strong>ve sair ás duas horas da<br />

tar<strong>de</strong>. Vae respon<strong>de</strong>r militarmente, visto<br />

ser <strong>de</strong>portado.<br />

Pelos vencidos<br />

Subirripfão <strong>de</strong> 900 réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

eom eynal quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 120900<br />

Manoel Antonio <strong>de</strong> Figueiredo. 500<br />

Somma, réis 130400<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acçãos po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />

EM SURDINA<br />

Jaquetas no parlamento,<br />

na camara, em toda a parte,<br />

'té nas juntas —que tormento! —<br />

não ha poleiro que os farte I...<br />

Se afinal, por muitos mezes,<br />

o governo predomina,<br />

hão <strong>de</strong> ver que estes maltezes<br />

saem eleitos p'Ia China I<br />

Mas se o Zé Dias cair...<br />

é-na pae! Que pago<strong>de</strong>ira!<br />

E' vel-os a todos — fugir<br />

á cata <strong>de</strong> quem possuir<br />

argolas naceva<strong>de</strong>ira!<br />

PINTA-ROXÀ.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Tonjours gais I<br />

Não mente a leltra da opereta franceza<br />

: nLes portugais sont toujours gais!»<br />

A ultima semana assignalou-se nos<br />

fastos do ridículo por uma nota extremamente<br />

burlesca: a festa real. Des<strong>de</strong> os<br />

cestos <strong>de</strong> gavea collocados no alto da<br />

galera Rocio, tremulando nos mastros<br />

(que po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong> cocagne, se a feslarola,<br />

em vez <strong>de</strong> consagrada ao sr. D.<br />

Carlos, tivesse sido feita em louvor do<br />

Senhor dos Passos.. .) até á bomba <strong>de</strong><br />

pataco com que um anarchista pelintra<br />

teve o mau gosto d'alterar os dias socegados<br />

e constitucionais do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Folgosa — ha uma serie interminável <strong>de</strong><br />

episodios caricatos que nos <strong>de</strong>nunciam<br />

notavelmente alegres... na accepçáo<br />

bachica da palavra !<br />

Os marinheiros d'armada, no alto <strong>de</strong><br />

mastros, em pleno Rocio, cobrindo <strong>de</strong><br />

flores as magesta<strong>de</strong>s... dão a medida<br />

exacta da esponlanta e sincera manifestação<br />

(serieda<strong>de</strong> aparte!)—a bomba <strong>de</strong><br />

dynamite lançada ao palaeio do sr. Folgosa,<br />

fazendo voar tres janellas e nãõ<br />

acordando o-i moradores, apezar do medonho<br />

estampido (!!) — significa apenas<br />

que o caso da recepção foi tomado á<br />

conta <strong>de</strong> chalaça, e que a troça (má<br />

troça no entanto!) fechou com o ponlo<br />

final <strong>de</strong> um tric-trac, essa entrudada...<br />

que veio fóra do tempo proprio !<br />

É o nosso constante carnaval que<br />

provoca aos francezes a phrase significativamente<br />

irónica, mas justificada :<br />

«Les portugais sont toujours gais».<br />

*<br />

Healmenle lêm razão os francezes:<br />

somos sempre alegres 1<br />

Os ministros assaltara os cofres do<br />

eslado ?<br />

Chalaceamos, fazendo espirito acerca<br />

da infamía.<br />

Esmagam-nos com contribuições vexatórias<br />

afim <strong>de</strong> se encobrir os <strong>de</strong>svios<br />

governamentaes ?<br />

Transigimos, sorrindo imbecilmente,<br />

e encolhendo os hombros, resignados!..<br />

Boubam-dos na urna?<br />

Achamos graça á empalmação criminosa<br />

do presi<strong>de</strong>nte da meza.<br />

Aggri<strong>de</strong>m-nos á pouta <strong>de</strong> bayoneta ?<br />

Rimos ainda, com ar <strong>de</strong> triumpho,<br />

<strong>de</strong>sabafando em ameaças irónicas... <strong>de</strong><br />

que, realmente, não temos consciência,<br />

mas que nos alliviam como um balsamo.<br />

Fazem-se manifestações <strong>de</strong> regosijo<br />

quando a patria agonisa, quando o leopardo<br />

inglez nos ameaça ?<br />

Itecebemos á gargalhada a revoltante<br />

farça, sem um movimento <strong>de</strong> protesto!. ..<br />

Vale-nos uma esperança, ao menos:<br />

Rindo tanlo talvez nos regenere o ultimo<br />

riso, nervoso, vibrante, convulso, porque<br />

lá diz o adagio parisiense: Rira bien qui<br />

rira le <strong>de</strong>rnier 1<br />

Ah!... se o povo fôr o ultimo a<br />

rir!...<br />

* "<br />

O Jornal <strong>de</strong> Noticias, orgão estafado<br />

do irrevogável sr. João Arroyo, não se<br />

cansa <strong>de</strong> entoar lôas á3 magesta<strong>de</strong>s, avolumando<br />

grotescamente, no seu excesso<br />

<strong>de</strong> zelo monarchico-trampolineiro, o acolhimento<br />

<strong>de</strong> cortezia palaciana cora que<br />

Hespanha recebeu o sr. D. Carlos e sua<br />

família.<br />

Entre muitas nolas curiosas pela imbecilida<strong>de</strong><br />

do comnienlario, resalla uma<br />

noticia em que se conta que a sr. a D.<br />

Amélia d'Orleans passava, ha dias, por<br />

uma rua <strong>de</strong> Madrid, quando—<strong>de</strong> súbito—<br />

um elegante se lhe dirige, dizendo-lhe á<br />

queima-roupa — que era ella a rainha<br />

mais gentil do mundo...<br />

A sr, a D. Amélia franziu os régios<br />

lábios num sorriso, e dignou-se respon<strong>de</strong>r-lhe,<br />

abaixando a cabeça coroada:<br />

— aMuchas gradas, Caballero!»<br />

A phrase reclama o pantheon da immortalida<strong>de</strong>!<br />

Nem a lodos lembraria, tauto a proposito,<br />

a finíssima replica !<br />

Se, cointudo, á minha creada qualquer<br />

elegante madrileno tivesse dito:<br />

Você é a sopeira mais elegante do mundo!<br />

—vou apostar (que ditferença entre uma<br />

sopeira e uma rainha !) que a <strong>de</strong>salmada<br />

em vez das muchas gradas!... lhe esten<strong>de</strong>ria<br />

na cara a sua mãosita papuda...<br />

A sr. a D. Amélia achou engraçado o<br />

galanteador; a minha sopeira achal-o hia<br />

insolente.<br />

Começo a acreditar, conforme a lenda<br />

«lo povo, que as rainhas são creaturas<br />

divinas, feitas <strong>de</strong> massa muito differente<br />

da nossa. Nós sahimos do barro ordinário<br />

e ignóbil; as magesta<strong>de</strong>s sahiram <strong>de</strong><br />

procelana... ou <strong>de</strong> louça das Caldas!<br />

E a não serem os reis formados <strong>de</strong><br />

louça muito mais fina, como se explica<br />

que não pequem, que não errem, que<br />

nunca se enganem, que tenham sciencia<br />

á farta—para dar e ven<strong>de</strong>r—que á menor<br />

palavra nos façam estalar <strong>de</strong> risos<br />

que tenham pilhas <strong>de</strong> sal nas suas graças<br />

realengas, e que sollem, lodos os<br />

dias, ditos espirituosíssimos como este:<br />

cMuchas gracias, Caballero!»<br />

Nem o atilado Mômo, gazetilheiro<br />

inexgotavel do Jornal <strong>de</strong> Noticias, seria<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir piada <strong>de</strong> mais chiste!<br />

Ora como os reis, andam na moda, e<br />

como ludo que cheira a aristocracia capliva<br />

os pobres d'espirito, não tardará<br />

muito que as nossas costureiras, quando<br />

lhes peçam um beijo ou disparem uma<br />

proposta d'amor, respondam com ares<br />

orleanistasMuchas gracias, Caballero!<br />

Archivo, varado d'adiniração, a piada<br />

da esposa do sr. D. Carlos <strong>de</strong> Bragança,<br />

certo <strong>de</strong> que a posterida<strong>de</strong> lhe fará a<br />

justiça <strong>de</strong>vida.<br />

Parece-me bem que <strong>de</strong>pois d'esta<br />

notdbilis-sima revelação <strong>de</strong> lalento não se<br />

po<strong>de</strong>rá dizer que em Portugal tenha primazia<br />

o lendário Calino.<br />

Para rebater tal falsida<strong>de</strong>, para confundir<br />

os que julgam perdido entre nós<br />

o espirito scintillante, para esmagar os<br />

calumniadores que apregoam aos quatro<br />

ventos a nossa <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia intellectual,<br />

para, emfim, affirmar—alto e bom som—<br />

quanto vale a nossa educação litteraria,<br />

la lemos, sempre grandiosa, sempre bella,<br />

a phrase celebre da nossa rainha :<br />

«Muchas gracias, Caballero /»<br />

Soberbo! Único !<br />

Fra-Diavolo.<br />

23 <strong>de</strong> novembro.<br />

a<br />

Que plano I<br />

Diz o Correio da Tar<strong>de</strong> que o governo<br />

em troca do que <strong>de</strong>ve ao Banco <strong>de</strong><br />

Portugal, exonera-o completamente e para<br />

lodo o sempre da obrigação <strong>de</strong> converter<br />

em metal as nolas emitlidas até agora,<br />

tomando o governo a si essa responsabilida<strong>de</strong><br />

; isto é, transformando en. papelmoeda<br />

essa emissão. Em seguida o Banco<br />

<strong>de</strong> Portugal emittirá até 40:500 contos<br />

<strong>de</strong> notas (tres vezes o capital) com<br />

a obrigação da convertabilida<strong>de</strong>. Não pomos<br />

mais...!»<br />

Nós lambem não !<br />

Cabo Salomé<br />

Os nossos collegas <strong>de</strong> Lisboa a Vanguarda<br />

e o Século abriram uma subscripção<br />

a favor d'este prisioneiro politico.<br />

Como os nossos correligionários sabem<br />

o cabo Salomé foi um dos herees da revolução<br />

<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro, proce<strong>de</strong>ndo-se<br />

para com esle vencido da maneira a<br />

mais indigna e <strong>de</strong>saforada, por isso que<br />

foi o único con<strong>de</strong>mnado, pelos iníquos<br />

tiibunaes <strong>de</strong> Leixões, a cumprir a sentença<br />

na penitenciaria.<br />

Os nossos leitores que <strong>de</strong>sejarem<br />

coadjuvar e protejer aquelle hourado cidadão<br />

po<strong>de</strong>m enviar as suas quantias a<br />

qualquer das redacções acima indicadas.<br />

PALESTRAS<br />

Mas aon<strong>de</strong> estou eu? Que horas serão?<br />

Muito dormi; mas espera! Quando<br />

me <strong>de</strong>itei vinham na minha companhia<br />

Burtholoineu Dias, Affonso d'Albuquerque,<br />

Alvares Cabral e tantos outros, e agora<br />

estou sói Mas em que paiz estarei eu?<br />

Como isto é diverso! Decididamente estou<br />

sonhando. Mas espera, vejo além alguém<br />

que me olha espantado, é talvez<br />

algum indígena, vou fallar lhe, vou orienlar-me,<br />

vou finalmente saber on<strong>de</strong> estou ;<br />

mas o diabo é que eu só sei portuguez<br />

e portanlo o homem talvez me não entenda,<br />

vamos a vêr: Olá ó patrâosifiho<br />

faz favor <strong>de</strong> me dizer on<strong>de</strong> estou ?<br />

—Homem essa ! Então vocemecê não<br />

sabe on<strong>de</strong> está?<br />

—Com mil diabos! o homem falia<br />

um portuguez muilo pan<strong>de</strong>go, no emtanto<br />

percebe-se bem. Eu não sei; o que<br />

sei é que vinha muilo cançado, eu e outros<br />

companheiros; <strong>de</strong>itamo-nos, o lempo<br />

que estive a dormir não sei, o que sei é<br />

que accordo agora e vejo-me neste paiz<br />

que <strong>de</strong>sconheço.<br />

—Enlâo vocemecê d'on<strong>de</strong> é, ainda<br />

que eu mal pergunte ?<br />

— Eu sou portuguez, nascido e baptisado<br />

na freguezia <strong>de</strong> Santo Antonio dos<br />

Olivaes, em <strong>Coimbra</strong>.<br />

—Homem lambem eu, eu sou do Tovim,<br />

ma« que diabo <strong>de</strong> fatiota traz vocemecê<br />

vestida?<br />

—Essa é boa ! trago o falo que se<br />

usa no meu paiz, em Portugal.<br />

—Lá isso é que não traz, por que<br />

portuguez sou eu, e nunca sahi do meu<br />

paiz e trago isto que vocemecê vê; o<br />

facto que vocemecê traz só se usa aqui<br />

por as occasiões do entrudo, por isso<br />

quando o vi, fez-me especie vel-o assim<br />

trajado e julguei que vocemecê fosse algum<br />

extrangeiro.<br />

—Estou admirado ! Então eu estou<br />

em Portugal!?<br />

—Eslá, sim senhor, e muito perlo da<br />

sua terra, vocemecê está no Arco Pintado.<br />

—No Arco Pintado? Não me recordo<br />

d'esse nome?<br />

—Não admira, vocemecê está <strong>de</strong>smemoriado;<br />

vocemecê eslá em <strong>Coimbra</strong>.<br />

—Em <strong>Coimbra</strong>?1! Oh! como isto eslá<br />

mudado! Diga-mc em que anno estamos?<br />

—Era 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892.<br />

—Em 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892?!!<br />

E' assombroso! Em 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1521 adormeci eu! Como dormi pois 371<br />

annos ?!<br />

—Eu sei lá; isso é com vocemq^ê,<br />

mas parece-me que vocemecê está a intrujar-me<br />

?<br />

— Náo estou, palavra d'honra. Ora<br />

diga-me, como está o nosso rei D. Manoel<br />

?<br />

— D. Manoel não é rei, é um infante.<br />

O rei chama-se D. Carlos Simão<br />

— Qual D. Carlos, qual Simão; o<br />

nosso rei é o sr. D. Manoel, o venturoso,<br />

aquelle que tem tido a gloria <strong>de</strong> ter<br />

<strong>de</strong>scoberto o Brazil, tomou Ormuz, Gôa,<br />

Calicút, Malaca, etc., etc.; finalmente<br />

aquelle que assigualou o seu reinado com<br />

o cognome <strong>de</strong> eda<strong>de</strong> d'ouro?<br />

— Ai, ai, ai; vocemecê eslá engauado<br />

o sr. D. Carlos, náo <strong>de</strong>scobriu ainda<br />

coisa alguma e o seu reinado, é cognominado<br />

a—eda<strong>de</strong> do papel.<br />

— Eda<strong>de</strong> do papel?! então por que?<br />

— Por que? Por que ouro, vislel-o !<br />

— Então tanlo ouro que tem vindo<br />

da índia? Aon<strong>de</strong> esta elle?<br />

É boa a pergunta, está nas mãos dos<br />

inglezes e dos ju<strong>de</strong>us.<br />

— Dos ju<strong>de</strong>us ? mas o sr. D. Manoel<br />

expulsou-os a todos; porque não faz o sr.<br />

D. Carlos o mesmo?<br />

— Não faz, porque não tem força<br />

para isso; porque são elles que o sustentam<br />

uo llirono !<br />

— Mas com os diabos! isso não é<br />

honroso para o rei, nem para a nação.<br />

— Honra, isso é coisa em que se não<br />

falia. Nação, patria, dignida<strong>de</strong>, são palavras<br />

que se vão riscar da lingua portugueza,<br />

não só como supérfluas, mas<br />

como subversivas.<br />

— Como supérfluas e subversivas?<br />

Homem essa é notável! No meu tempo,<br />

eram palavras que enalteciam quem as<br />

soltava. Aos gritos <strong>de</strong> viva a patria, viva<br />

a nação portugueza é que nós fizemos<br />

todas as conquistas que nos tornam gran<strong>de</strong>s<br />

aos olhos <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

—Oh ! senhor cale-se que vem lá a<br />

policia e pren<strong>de</strong>-o por estar dando taes<br />

vivas.<br />

— Ah I sim! pois então vou dormir<br />

outra vez, e permitia Deus não torne a<br />

accordar senão quando possa gritar bem<br />

alio: Viva a patria! viva a nação portugueza<br />

! viva a moralida<strong>de</strong> !<br />

—Pois dorme, velho Portugal, dorme<br />

e se tencionas accordar só quando<br />

possas dar taes vivas, lar<strong>de</strong> será ! O leu<br />

somno posso consi<strong>de</strong>rai-o como um somno<br />

eterno.


a - 38 O DKFENSOR DO POVO 89 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Partido republicano


AMXO I — 3 8 O DEFEXiOR DO POVO 8 7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> i 899<br />

OTUlOi<br />

PAIIA<br />

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um exemplar.<br />

HISTORIA Dl! PORTUGAL<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schcefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemão<br />

POR<br />

F. <strong>de</strong> Assis L,opes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

POR<br />

J. mim SE SAMPAIO (OTO)<br />

Edição completá por um Corpo <strong>de</strong><br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>feso concurso,<br />

entre outros eminentes collaboradores,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Micha*lis <strong>de</strong><br />

WsconéellOs e dos ex. mo6 srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos faseipulos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigha-se<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriptorio da empreza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

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Carteira para notas,<br />

Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />

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A RIR — É este o titulo <strong>de</strong> um<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que sé<br />

publica ení Paro, quinzenalmente, pela<br />

módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves —Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

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900 a 1:000 grcwuras<br />

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Assignalura 20 réis, fascículo<br />

Está concluído o 1.' volume<br />

p |arn , informações BÍBLIA<br />

SAGRARA IliLUS-<br />

TRADA — Mòusinho da Silveira, 191<br />

—Porto.<br />

Em <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />

Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />

e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />

flores—4.<br />

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( apitai 9.000:000^000 réis<br />

K7 Â 9 ene ' a e m <strong>Coimbra</strong>, rua<br />

ML <strong>de</strong> Ferreira Borges, 97, 1°<br />

andar.<br />

E S T U D A N T E S<br />

33 O e M ' , e " A > uma familla que<br />

JOi dá excellente comida e bom<br />

trato por preços modicos.<br />

Para esclarecimentos, dirigir a èsta<br />

redacção directamente ou por carta com<br />

as iniciaes C. S.<br />

ANTONIO VEIGA<br />

Latociro d'amarello<br />

e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

RIJA DAS SOLAS-COIMBRA<br />

^ jpxecnta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />

KM carimbos em todôs os gene<br />

ros, sinetes, fac-siniiles e monogrammas.<br />

— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />

banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />

para egreja. — Faz-se toda a obra dc<br />

metal em chapa, fundição e torneiro,<br />

amarélla è branca. — Prateia-se todo o<br />

objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />

„„ IVen<strong>de</strong>-se uma porção <strong>de</strong><br />

1 ladrilho mozaico proprio para<br />

ladrilhar cosinhas e entradas <strong>de</strong> casas,<br />

etc., por qualquer preço que se combine<br />

com seu dono, praça do Commercio, n.°<br />

50—<strong>Coimbra</strong>.<br />

VENDA DE CASA<br />

58<br />

'en<strong>de</strong>-ie uma sita na Couraça<br />

dos Apostolos, n.* 66. Para<br />

tratar com^José<br />

tello.<br />

Simões, largo do Cas-<br />

TRESPASSA-SE<br />

| 1 m estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />

U zendas, quinquilherias e mercearias,<br />

bem afre^uezado e no melhor<br />

local <strong>de</strong> Pombal, por seu dono não o<br />

po<strong>de</strong>r atien<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />

a S. B. F. — Pombal.<br />

53<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

jt iigusto Nunes dos Santos,<br />

successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />

RUA DIREITA, i8—COIMBRA<br />

E M P R E G A D O "<br />

a rua <strong>de</strong> Ferreira Bor-<br />

__ ges n. 08 128-130, se diz<br />

quem precisa d'um que esteja apto para<br />

a escripta.<br />

BI-CYCLETA<br />

5o l| e,u,e ~* e uma em bom uso,<br />

1 própria para ensino. Dirigir<br />

á Couraça <strong>de</strong> Lisboa, 32.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17-ADRO DE CIMA-20<br />

(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

^ A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />

il. e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />

nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />

faille, moiré, glaóé é selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />

radas para adultos e crianças.<br />

Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />

DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />

DE<br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

2 T^ESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

1^1 junto e a retalho,, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />

anliga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

A R T A Z G S<br />

Prospectos<br />

e bilhetes<br />

<strong>de</strong> theatro<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

TAGUS<br />

FUNDADA E»I 1877<br />

CAPITAL<br />

R É I S 1 . 3 0 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />

VISOS<br />

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Leilões,<br />

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commerciaes, etc.<br />

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Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />

mobilias e?estabelecimentos<br />

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AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />

<strong>Coimbra</strong>,<br />

ouso, 61,<br />

Praça do Coiuinerelo n.° il-l.°<br />

XAROPE DE PH ELLA NO BIO<br />

COMPOSTO DE ROSA<br />

ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />

natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />

peito. Foi ensaiado com opiimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

dã capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia Uosas & Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />

Rodrigues da Silva & C. a Porto,<br />

65.<br />

pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo li<strong>de</strong><br />

CENTRO DA MODA<br />

DE<br />

MENDES D'ABREU & C. A<br />

60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges — 64<br />

mK ] 0 JE* A .<br />

46 Â esle acrei " ta( ' 0 estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />

Mi completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />

fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam com a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preços.<br />

Os proprietários d'esle estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />

das manufacturas, montaram 110 mesmo prédio uma esplendida officina dalíaiateria,<br />

on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />

No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />

Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />

gizes custa 400 réis.<br />

P O S T O M E D I C O<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

(Arco d'Almedina)<br />

ANTONIO DA SILVA PONTES<br />

^ jplonsultas das 12 horas ás<br />

Vá 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />

ás 9 da noite.<br />

Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser procurado<br />

na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />

Apostolos, n.° 22.<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />

e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

José da Gosta Soares, á<br />

rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia para tabiques e estuques<br />

a 7$000 réis o milheiro.<br />

Vinho IVIaduro do Douro<br />

e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />

SUPERIOR QUALIDADE<br />

51 lfendé-se na mercearia Ave-<br />

W nida. — Largo do Principe<br />

D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 — <strong>Coimbra</strong>.<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA RORGES, 97<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOIi<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGMTUM<br />

Com estampilha<br />

Anno<br />

Semestre....<br />

Trimestre...<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

2Í700<br />

«3Õ0<br />

680<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2$400<br />

Semestre.... 1#200<br />

Trimestre... 600


"TTIda, n o v a<br />

«Saberá Portugal para on<strong>de</strong> caminha<br />

com o <strong>de</strong>i icit que dia a dia<br />

Vae augmentando?»<br />

Esta pergunta que do estrangeiro<br />

nos vem formulada pela voz do Économisle<br />

Français, íormula-se constantemente<br />

entre nós no espirito <strong>de</strong><br />

todos aquelles que ainda se interes^<br />

sam pelo seu paiz, vibrando sem<br />

cessar a nota dolorosa d'um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>salento, exprimindo amargamente<br />

a duvida que nos opprime, a incerteza<br />

receiosa com que encaramos o<br />

dia <strong>de</strong> ámanhã.<br />

O receio do <strong>de</strong>sconhecido que<br />

nos envolve e ao mesmo tempo a<br />

<strong>de</strong>scrença funda que nos inva<strong>de</strong> —<br />

<strong>de</strong>scrença no valor moral dos nossos<br />

homens públicos, <strong>de</strong>scrença na seria<br />

honestida<strong>de</strong> dos seus processos —<br />

fazem circular <strong>de</strong> bocca em bocca<br />

esta pergunta amarga, que é para<br />

nós uma vergonha.<br />

Para on<strong>de</strong> caminhamos ? Que<br />

forças mysteriosas nos impellem, que<br />

fatalida<strong>de</strong> assustadora nos leva, numa<br />

inércia criminosa, para um vergonhoso<br />

anniquilamento ?<br />

Se é certo, como os factos exhuberantemente<br />

o provam, que não<br />

encontramos nos altos po<strong>de</strong>res do<br />

Estado uma seria garantia do nosso<br />

progresso, reajamos, luctemos, mas<br />

façamos ver aos olhos do» povos<br />

cultos que não merecemos o futuro<br />

que se nos prepara. Encarar <strong>de</strong><br />

braços crusados, na indifferença d'um<br />

lethargo suicida, este <strong>de</strong>smoronar da<br />

nossa socieda<strong>de</strong>, é uma vergonha e<br />

um crime; e vergonha e crime <strong>de</strong> tal<br />

or<strong>de</strong>m, que, se nos <strong>de</strong>ixamos ir sem<br />

lueta e sem protesto, não temos razão<br />

<strong>de</strong> existir como povo autonomo<br />

e livre.<br />

E nós po<strong>de</strong>mos reagir e luctar.<br />

Ha muitos annos que á frente do<br />

nosso paiz se mantém uma administração<br />

tal, que nos trouxe á temerosa<br />

crise em que nos <strong>de</strong>batemos,—crise<br />

esmagadora, que é mais <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />

que <strong>de</strong> embaraços economicos<br />

e financeiros. Uns aos outros se<br />

teem succedido os governos — uns<br />

aos outros se teem succedido os<br />

<strong>de</strong>senganos. A obra <strong>de</strong> moraiisação,<br />

que cada vez se torna mais instante,<br />

exige uma concentração .<strong>de</strong> forças,<br />

um <strong>de</strong>sassombro <strong>de</strong> acção, uma am j<br />

plitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista, tal nobreza <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />

e um tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong><br />

interesses, que os homens que teem<br />

surgido no po<strong>de</strong>r não po<strong>de</strong>m arcar<br />

com ella. Nem as tradições da maior<br />

parte, nem a fatal engrenagem que<br />

arrasta no po<strong>de</strong>r os animados <strong>de</strong><br />

intenções honestas, coasentem que<br />

eiles promovam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

successivo d'este principal elemento<br />

da vida d'um povo.<br />

Mas embora. Felizmente neste<br />

paiz a capacida<strong>de</strong> reformadora não<br />

está synthetisada nos hóméris que<br />

até hoje teem presidido á sua administração;<br />

se assim fosse estaríamos<br />

irremediavelmente perdidos. Ha ainda<br />

entre nós muitas intelligencias<br />

provadas, muitos talentos fecundos,<br />

muitas consciências honestas para<br />

darem á nòssa regenefaíão social o<br />

impulso que o nosso estadò imperiosamente<br />

reclama.<br />

Substitua o nosso povo por estes<br />

aquelles que o teem levado a uma<br />

vergonhosa ruina; cOfítie-se dos homens<br />

que já hoje teem após dé si<br />

Uma larga historia <strong>de</strong> relevantes serviços<br />

prestados ao seii paiz; que,<br />

sempre na brecha, teem combatido<br />

infatigavelmente os con<strong>de</strong>mnaveis<br />

processos <strong>de</strong> administração e <strong>de</strong> politica<br />

que até hoje teem dominado;<br />

que teem provado em perseguições<br />

<strong>de</strong> toda a or<strong>de</strong>m a sua <strong>de</strong>dicação e<br />

a sua sincerida<strong>de</strong>; entregue, finalmente,<br />

áquelles que teem atiirmado<br />

sempre o seu <strong>de</strong>sinteresse, a direcção<br />

dos negócios públicos ;—é mostrará<br />

ao mundo inteiro que Portugal ainda<br />

BI-SEMANARIQ, REPUBLICANO<br />

po<strong>de</strong> tomar á frente das nações õ<br />

logar á que as suas tradições gloriosas<br />

lhe dão direito.<br />

Proce<strong>de</strong>ndo assim a nação portugueza<br />

mostrará aos olhos dos estrangeiros<br />

que sabe qual o <strong>de</strong>plorável<br />

íim â que a po<strong>de</strong> levar éste estado<br />

<strong>de</strong> coisas, e que tem aptidão e<br />

farça para- se <strong>de</strong>sviar do caminho a<br />

que cegamente a teem impellido successivas<br />

administrações ruinosas; affirmárá<br />

brilhantemente a sua vitalida<strong>de</strong>,<br />

e, entrando <strong>de</strong> rosto levantado<br />

ém nova politica e processos novos,<br />

on<strong>de</strong> amplos horisontes se patenteiam<br />

á sua activida<strong>de</strong>, resurgirá, cheia <strong>de</strong><br />

vida, do calios a que loucamente se<br />

<strong>de</strong>ixou arrastar.<br />

E' o modo mais nobre e levantado<br />

<strong>de</strong> provar a sua dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

povo livre e <strong>de</strong> conquistar, com o<br />

respeito e estima das nações, um<br />

futuro rasgado.<br />

Franco Ascot.<br />

Valentes... para os fracos<br />

Vejam o seguinte telegramma da<br />

agencia liavas:<br />

« Londres 25, m.—Em consequência<br />

das uegociaçõ s entre a França e a Grau<br />

Bretanha o Eoreign Office acceilou a responsabilida<strong>de</strong><br />

dos acontecimentos da<br />

Uganda, e in<strong>de</strong>muisará os fraucezes lesados.»<br />

Se egual caso se <strong>de</strong>sse com Porlugal<br />

ainda terianios <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisa!r a Inglaterra;<br />

com a .França, porém, não lia valentias.<br />

Amor com amor se paga<br />

Aiu>uncia-s& ma próxima primavera a<br />

vinda a Litdioa da rainha regente <strong>de</strong><br />

Hespanha pagar a visita que lhe fizeram<br />

as magesta<strong>de</strong>s portuguezas, . •<br />

0 povo é que pagará todas essas ceremonias.<br />

li' cascar-lhe!<br />

PELOS JORNAES<br />

í ;V/M yi ..,!• -..•:„,• J<br />

Vinha admiravel a Reforma <strong>de</strong> domingo<br />

passado, trazia uui artigo intitulado<br />

Aqui d'El-Rei, em que promettia<br />

uma analyse teza aos abusos e lyrannias.<br />

Começa por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Lei. E uisso<br />

é profundo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s. Ora vejam: falia<br />

da Lei; .<br />

«Mas o que é ella no nosso paiz?<br />

«Uma comedia, a principio, representada<br />

em S. Bento, e <strong>de</strong>pois um pergaminho<br />

arehivado na Torro do Tombo,<br />

um ooceado <strong>de</strong> prosa com qua se euehe<br />

o Diário do Governo, e um papel impresso,<br />

sujeito a diversos usos, menos<br />

aos <strong>de</strong> garantir direitos.»<br />

e d Io a 191 o no a i o<br />

Positivamente isto. A Lei tem sido<br />

escandalosamente calcada por aqíifelles<br />

que foram investidos do <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> a executar.<br />

É o que a imprensa republicana<br />

vem proclamando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, é o que<br />

nós atlinnamos todos os dias, emquanto<br />

a Reforma e outros papeis se empenham<br />

na <strong>de</strong>feza dos que Impudicamente, a começar<br />

no... nos ministros e a acabar<br />

nrf-regedor da parochia* <strong>de</strong>sprezara a Lei<br />

ou a torcem ao saíwr dos corrilho-'. < ><br />

Ora titó que uma vez nos encontra^<br />

mos, srs. Torgaes 1<br />

' Mas eiles dizem mais. Corroborando<br />

os dizeres do período traiiscpipto, a Reforma<br />

estabelece esó-cathedra:<br />

fcioíl •)--iioil II; ob Hioq-tb<br />

«Não existe paiz neuhum no mundo,<br />

ainda o mais selvagem, on<strong>de</strong> alei tenha<br />

o <strong>de</strong>sprestigio que tém em Portugal,<br />

e o.nie as entida<strong>de</strong>s, ineuinuidas<br />

<strong>de</strong> a guardar, sejam mais criminosamente<br />

<strong>de</strong>sleixadas.<br />

Apoiadissimo!<br />

Como linha <strong>de</strong> conducta <strong>de</strong> quem começou<br />

por dizer que ia cair sera pieda<strong>de</strong><br />

e a fundo sobre abusos e lyrannias, a<br />

Reformi couclue por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o rei. Ou<br />

Hão ha lógica ou a Reforma erra. Segundo<br />

o nosso modo <strong>de</strong> ver, jacobino<br />

que elle é, o rei é <strong>de</strong> per si ura..*<br />

agora nos tramou a Reforma, porque o<br />

que o rei é,- é inviolável e sagrado e nós<br />

iamos a dizer que elle era <strong>de</strong> per si um<br />

abuso e uma tyraniia... (e lá foi!)<br />

Deixando escorrer umas plangencias<br />

harmoniosas sobre 0' p-ezffdote' officio <strong>de</strong><br />

reinante, carpe a Reforma, admirável <strong>de</strong><br />

sentimento:<br />

«Como rei, o sr. D. Carlos tem uma<br />

coroa, <strong>de</strong> sangrentos espin-hos, e por<br />

symboio do niaódo a irrisória canna<br />

ver<strong>de</strong>.»<br />

O' Torgal: traze d'ahi a taça das<br />

lagrimas.. .<br />

Mas a Reforma prosegue, altiva Cyrinêa,<br />

entornando todo o mel do seu<br />

sentimentalismo femenil:<br />

«Percorram todo o mundo eivilisado,<br />

vão mesmo ás mais selvagens hordas,<br />

e <strong>de</strong>safiamos a quem nos apresente<br />

um rei nas condições em que vive o<br />

^T^WPoflugal e sua augusta familia.»<br />

Tristíssima situação, na verda<strong>de</strong>.<br />

Elle é viagem á Covilhã, elle é viagem<br />

ao Porto, elle é viagem a Hespanha,<br />

elle e caçadas em Mafra, elle é um conto<br />

<strong>de</strong> réis por dia : em suuiuif, nem nas<br />

hordas ir.ais selvagens ha um rei ião mal<br />

vivente! *<br />

Mas a Reforma não cala ainda o seu<br />

senlir mirabolante. Guarda para o remate<br />

este tlireno seraphicn, repassado da sagrada<br />

uneção dos hòmo nobilis: Ajoelhae<br />

e lê<strong>de</strong> :<br />

«Mais infeliz do que elle, só a não<br />

menos irrisória sobbránia nacional que,<br />

na sua estupi<strong>de</strong>z, tudo isto soffre e to-<br />

" nr&tf . •' ' ,<br />

Tudo isto softre e tolera: o rei, a<br />

Reforma, os Torgaes!. .. ofo'l xul<br />

.init-" T • Í!KFR>Y II: j /mil» 9I.01]<br />

è r.iroiifiii nl> i- 1 -t o!» *»liuJilJr, n 9»p<br />

-i Isto é troça. Do Correio da Manhã:<br />

«Diz-se que uma das medidas financeiras<br />

do sr. José Dias para criar a receita<br />

é o lançamento <strong>de</strong> am pequeno<br />

imposto sobre os filhos varões. Este<br />

imposto, pago pelos paes, será <strong>de</strong>ppjts<br />

reipido ! qpando os filhos entrem ao serviço'militáí.<br />

Quando não entrem, gúarda-o<br />

» Estado.»<br />

Dissemos que era troça : está bera.<br />

Não po<strong>de</strong> ter outro nome. ,<br />

• ( (! Ji:" • *<br />

É vibrante e altivo o protesto^dos<br />

republicanos do Porto a proposito da ultima<br />

borgá eleitoral. Os alcayotes do<br />

sr. José D>as são íiiiplacavelinenle triturados<br />

numa critica rigorosa e <strong>de</strong>slibrauto.<br />

CpmiPbase do protesto, escrevem os<br />

protestantes:<br />

*A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> repetidos protestos,<br />

em muitas assembleias earcou-se a uma<br />

d'uma atmosphera <strong>de</strong> terror.ç d'amaaças;<br />

coustituiram-se illegalmeule as ré-<br />

( clainações dos eleitóres; vèdoU-sê-lhes<br />

f o direito <strong>de</strong> tisealisar as operações do<br />

suffragio; falseou-se o numero e a leitura<br />

J^s lutas; a^liuituraia-se voto» <strong>de</strong><br />

mortos e ausentes; êousarvou-se (orca<br />

armada ein ál/miiis égrejas durante o<br />

acto eleitoral; ;tizerara-se orisõis arbitrarias;<br />

expulsaraui-se.iios templos cidadãos<br />

paciiiòoâ, e houve presi<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> inez.is que, seguros da impunida<strong>de</strong>,<br />

não tiveram duridá eiii parodiar a célebre<br />

plirase das OrJeuações Philipiuas:<br />

—rr o rei é a lei viva — <strong>de</strong>clarando pi*'blicainentej<br />

em voz alta e <strong>de</strong> çaueça<br />

erguida, aos eleitores, quaihes exibiam<br />

a estricta observaucia da íeí, que d lei<br />

• ! eram eiles I<br />

01 '' Depois <strong>de</strong> fundamentar energicamente<br />

a razão do seu prolesio, concluem os<br />

nossos illu?tres correligionários:<br />

«O tempo uão pára. Por muito póvvr<br />

<strong>de</strong>roso que seja, iiao ba disposta que o<br />

faça retroee<strong>de</strong>r, ,<strong>de</strong>jer-sj uin fiyuieuto<br />

diaute das ooocas dos seus canliõjs,<br />

ou das agudas po.itas das suas<br />

•II baionetas. Como iiãr<strong>de</strong> conseguir asse<br />

resultado os ouiouros saitaaJoraã cta<br />

jj arua? D.liora a iiora eiigilfa,mj nos<br />

mais uo futuro: o prásantió o instante<br />

que passa ; è a's leis, que regem a evolução<br />

Humana são eternas e inalteráveis,<br />

como as que governam o muado<br />

pliysico. Qaereis obstar á victoru da<br />

<strong>de</strong>iniicracia? Pois bem: para isso ten<strong>de</strong>s<br />

a seguir outro camiiibo. Evitar o<br />

advento do futuro; altarao as leis que<br />

<strong>de</strong>terminaram a evolução;-suspeu<strong>de</strong>i o<br />

camiuuar ineessaiita da humanida<strong>de</strong><br />

para as regiões iloseoaoejidas, oaJa a<br />

espéra a reahsaçao do seu gráudioso<br />

<strong>de</strong>stino.»<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 3 9<br />

*<br />

No artigo <strong>de</strong> Emilio Castelar publicado<br />

na Espana Mo<strong>de</strong>rna e <strong>de</strong> que no<br />

numero passado transcrevemos um período,<br />

<strong>de</strong>paramos mais est'outro:<br />

«Uma elevadíssima senhora — diz<br />

Castelar — crendo,.sem duvida, os assumptos<br />

politicos assumptos caseiros,<br />

e as coroas e o^ Estados cousas que são<br />

eomo proprieda<strong>de</strong> particular e pessoalíssima,<br />

exposta por sua natureza a ser<br />

roubada, e a qualquer hora necessitadissima<br />

<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fendida, como suçce<strong>de</strong><br />

com fazendas ou casas, <strong>de</strong> ladrões domésticos<br />

e <strong>de</strong> incendiários audaciosos,<br />

pela cooperação e auxilio que prestam<br />

uns aos outros os visinhos em transes<br />

analogos, escreveu dos palacios reaes a<br />

certa rainha, que não quero nomear,<br />

pedindo um auxilio conhecido com o<br />

nome <strong>de</strong> intervenção estranha ou estrangeira<br />

em todos os diccionarios políticos.»<br />

Como Uto é gravíssimo, apezar da<br />

senii-mysteriosida<strong>de</strong> que o ensombra.<br />

Como nós estamos a ver, esfumando em<br />

espiraes' negrejastes, o vulto seraphico<br />

d'uma rainha-mãe implorando d'outra rainha<br />

um auxilio qoe i|os diccionarios políticos<br />

tem o nome <strong>de</strong> intervenção estrangeira<br />

!<br />

Meu Deu»! em que paiz estamos 1<br />

*<br />

Entreteu-se a Or<strong>de</strong>m, nossa preclara<br />

visinha, a <strong>de</strong>vanear seraphicamente áceri.ca<br />

do que seja republica e republicano?;<br />

e vae d'ahi, como é <strong>de</strong> prever, eucbareou-se<br />

até ao pescoço-.<br />

Em lhese está comnosco :<br />

*Cómo forma <strong>de</strong> Estado, no campo<br />

dos princípios, a republica é tão acceitavel<br />

coiho quálqaer oiitra forma <strong>de</strong><br />

governo, e nada tem que a faça lejeitavel.»<br />

Mas, <strong>de</strong>pois, cogitando farfalhices <strong>de</strong><br />

mero effeito rhetorico, embreoha-se ne-ta<br />

<strong>de</strong>monstração pyramidalmenle singular:<br />

«Nós queremos dizer e <strong>de</strong>monstrar<br />

qua em Portugal não ha republicanos,<br />

e por conseguinte não po<strong>de</strong> haver republica.»<br />

Mas o diabo emenda-lhe a mão e<br />

faz-lhe dizer logo a seguir: «Os magnates<br />

do partido republicano.. .» «E tanto<br />

assim ê que todos os jornaes republicanos....<br />

» «De resto que garantias politicas<br />

nos oITerecem os republicanos?...»<br />

«Com taes republicanos...» Etc.<br />

De maneira que, acima dizia a beata<br />

que uão havia republicanos em Porlugal<br />

e Iq^o a seguir referiu-ie a republicanos<br />

-fô^ 1 ^]» 1 :*»


I — S. a 39 O DEFEXSOR O a POVO t <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

juST<br />

L B T T B A S<br />

A consciência<br />

Cain com os cabellos soltos, segui<br />

do dt sua esposa e lillios cobertos <strong>de</strong> pel<br />

les <strong>de</strong> animaes, chegou á falda d'um uion<br />

te. A mulher e os filhos disseram:<br />

— Deitemo-nos no chão e durmamos.<br />

Cain não podia dormir, permaneceu<br />

acordado no sopé do monte. Levantou<br />

por acaso a cabeça e no fundo ilos negros<br />

ceus viu um olho muito gran<strong>de</strong> aberto<br />

nas trevas, que o olhava fixamente.<br />

— Estou muito perto, murmurou estremecendo,<br />

e accordando os filhos e a<br />

fatigada mulher, recomeçou a sua precipitada<br />

fuga.<br />

Continuava com a palli<strong>de</strong>z no rosto;<br />

estremecendo ao menor ruído, olhando<br />

para traz sem <strong>de</strong>scançar. sem parar; em<br />

breve chegou á borda do mar, no sitio<br />

on<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> se estabeleceu Asur.<br />

—Paremos, disse, porque este a-ylo<br />

é seguro: <strong>de</strong>tenhamo-nos : chegamos ao<br />

confins do mundo.<br />

Mas ao sentar-*e viu entre os sombrios<br />

ceus o mesmo olho que o contem<br />

piava.<br />

Então apo<strong>de</strong>rou-se d'elle uma vertigem.<br />

— Escon<strong>de</strong>i me, gritou.<br />

E com o <strong>de</strong>do na bocca, os pequenos<br />

contemplavam o avô que estava fóra <strong>de</strong><br />

si.<br />

Cain disse a Jaliel, par d >s que habitam<br />

o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> tendas <strong>de</strong><br />

pelle:<br />

— Esten<strong>de</strong> até este lado a tela da<br />

lua tenda.<br />

E a tela foi estendida, e quando estava<br />

segura com os seus pesos <strong>de</strong> prumo<br />

perguntou Tsilla,, a rapariga loura a filha<br />

<strong>de</strong> seus filhos, com voz doce como a aurora<br />

:<br />

— Ainda vè<strong>de</strong>s alguma coisa?<br />

E Cain respon<strong>de</strong>u :<br />

— Vejo ainda o mesmo olho !<br />

Juval, pae dos que atravessam as al<strong>de</strong>ias<br />

tocando gaita e batendo no tamboril,<br />

exclamou :<br />

— Eu saberei construir uma barrei-<br />

ra. li-uítd.' '.i. msr ianiiJ<br />

E construiu pm muro <strong>de</strong> bronze e<br />

por <strong>de</strong>traz uollocou Cain.<br />

E Cain disse:,<br />

— O olho aind i me mira.<br />

Ilenoch accrescentou :<br />

—E' preciso construir jim circulo <strong>de</strong><br />

torres táo formidável, que nada possa<br />

apnroximar-se d'elle. Edifiquemos uma cida<strong>de</strong><br />

com a sua cidadcila, e fechai adiemos<br />

<strong>de</strong>pòis.<br />

Então Tubalcin, pae dos ferreiros,<br />

construiu uma cida<strong>de</strong>lla maravilhosa. Emquanto<br />

a edificava, seus irmãos davam<br />

caça ao filhos <strong>de</strong> Enós e <strong>de</strong> Belli,; se aí<br />

guem passava por alli, arrancavam lhe os<br />

olhos; pela noile arrojavam-se flechas ás<br />

estrellas.<br />

O granito substituiu as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

tela; as pedras estavam unidas umas ás<br />

outras com gatos <strong>de</strong> ferro ; parecia uma<br />

cida<strong>de</strong>, infernal; a sombra das torres estendia-se<br />

<strong>de</strong> noite pelos campos visinlios:<br />

os muros tinham a esp"ssura dos<br />

montes; sobre a porta gravaram-se e-tas<br />

lettras: Nem Deus passa.<br />

Quando tudo ficou concluído colloraram<br />

o avô no meio <strong>de</strong> uma torre <strong>de</strong><br />

pedra, e alli permaneceu in juieto e lugubre.<br />

— Meu pae! perguntou com voz Ire?<br />

mente Tsilla: <strong>de</strong>sappareceu ?<br />

E Cain respon<strong>de</strong>u:<br />

— Não, vejo-o ainda.<br />

E accrescentou :<br />

— Quero viver <strong>de</strong>baixo da terra como<br />

um morto <strong>de</strong>baixo dp sçpulchro. Nin<br />

gueiti me verá nem tão pouco verei eu<br />

coisa alguma.<br />

Abriu-se uma caverna e Cain disse:<br />

— Eslá bem.<br />

Depois <strong>de</strong>sceu até ao inlerjor daquella<br />

sombria aboboda. Quando estava sentado,<br />

no meio da escurida<strong>de</strong>, e logo que<br />

sobre a sua cabeça tinham cerrado a<br />

poria do subterrâneo, Cain levantou a<br />

cabeça e ficou aterrado ; o olho estava<br />

<strong>de</strong>ntro do tumulo e olhava-o fixamente.<br />

Victor Hugo.<br />

O escoamento<br />

No domingo embarcaram era Lisboa<br />

mais <strong>de</strong> quinhentos emigrantes com<br />

<strong>de</strong>stino ao Brazil.<br />

Somma e segue.<br />

Uma belleza<br />

As propostas <strong>de</strong> fazenda do sr. José<br />

Dias Ferreira, são:<br />

Papel-moeda;<br />

Angmento <strong>de</strong> percentagem ás contribuições<br />

geraes;<br />

Imposto sobre as obrigações dos tabacos<br />

;<br />

Transferencia para o E-lado dos caminhos<br />

<strong>de</strong> ferro norte e leste;<br />

Empréstimo sobre penhor dos fundos<br />

públicos ou sobre bens proprios nacionaes.<br />

Hão <strong>de</strong> dizW nos, <strong>de</strong>pois d'isto, como<br />

o commerciante, o agricultor, o industrial<br />

e o operário hão <strong>de</strong> ganhar a vida.<br />

Oh <strong>de</strong>sgraçado!<br />

Oh miserável plebe que pass-as o teu<br />

tempo entregue ao trabalho violento <strong>de</strong><br />

todos os dias I Oh triste proletário semvintem<br />

que vives miseravelmente a vida<br />

dos parias, sem prazeres, sem commodidadcs.<br />

sem fausto :<br />

— Olha quanto ganha a côrte:<br />

D. Carlos 363-000^000<br />

D. Maria Amélia 60:0000000<br />

D. Luiz Filippe . 20:000^000<br />

D. Manoel 10:0000000<br />

D. Maria Pia.. 60:0000000<br />

D. Affonso Henriques.. 10:0000000<br />

Ofliciaes do exercito ás<br />

or<strong>de</strong>ns do rei 4:3200600<br />

Ofliciaes dn exercito ás<br />

or<strong>de</strong>ns do sr. D Affonso<br />

6000000<br />

Ofliciaes da armada ás<br />

or<strong>de</strong>ns do rei 5:7240000<br />

Or<strong>de</strong>nados d'estes ofliciaes<br />

11:7240000<br />

Obr.is nos paços reaes.. 6:0000000<br />

Guarda real dos archeiros"<br />

3:5480400<br />

Juros ilas inscripções em<br />

usufructo da corôa . 62:0000000<br />

618:916^400<br />

Povo! não sentes o rosto aquecer te?<br />

uão te seules varado <strong>de</strong> indignação?<br />

Vé lá.<br />

Associação peninsular<br />

O illustre hespanhol D. Haphael <strong>de</strong><br />

Labra, o conhecido amigo <strong>de</strong> Portugal,<br />

lança as bases para uma associação popular<br />

peninsular, total mente estranha a<br />

compromissos políticos e exclusivismos<br />

<strong>de</strong> escolas, para a facilitação <strong>de</strong> communicação<br />

dos pensadores, pedagogistas e<br />

publicistas dos dois povos.<br />

Palavras do sr. José Dias<br />

«Quando OH altos po<strong>de</strong>res alo<br />

estado quizerem restringir as<br />

faentda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> IIIAII i sfestação<br />

publica, Rn paixões hão <strong>de</strong> procurar<br />

outra válvula, Itfto <strong>de</strong> tomar<br />

ontra direcção; e a critica<br />

sert-na, e mesmo apaixonada,<br />

mas feita á luz do dia, será<br />

substituída pelas reuniões Clan<strong>de</strong>stinas<br />

e pelas conjurações<br />

revolucionarias.<br />

a A guerra mais perigosa para<br />

os governos, a mais difftcil<br />

<strong>de</strong> combater, 6 a preparada nas<br />

trevas, quando os cidadãos, encontram<br />

fechadas todas as portas<br />

<strong>de</strong> manifestação leal.»<br />

E os sergios a uivarem pela repressão.<br />

Anda-lhes o corpo a mor<strong>de</strong>r. Nem<br />

atlcn<strong>de</strong>ir. ás palavras do d*>no!<br />

Pelos vencidos<br />

Subscripção <strong>de</strong> SOO réis ntensaes<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

eom egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 130400<br />

Francisco Mendonça (mez <strong>de</strong><br />

novembro) 200<br />

Luiz Cardoso (idçm) 200<br />

Somma, réis 130800<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou misTua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, u.° 88.<br />

EM SURDINA<br />

Tristezas nHo pagam dividas I<br />

'stale o bello fonuetorio,<br />

haja discursos, vivorio,<br />

seja uma festa d'arrombal<br />

E que a real corporação<br />

p'ra mostrar sua potencia,<br />

p'la nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />

mostre trabalhos <strong>de</strong> bomba 1<br />

Mesmo pobre, este paiz,<br />

sempre mostra ao seu Bragança<br />

viver bem e na abastança,<br />

contente, alegra, garrido I<br />

E a salvação que é real! —<br />

e na Real ha heroes,<br />

quer mostrar aos hespanhoes<br />

não ter o esguicho entupido.<br />

Se ámanhã ou outro dia,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> finda a funcção<br />

a Rt-al Corporação<br />

andar ahi ás esmolas..<br />

dae-lh'a I Visto que os governos,<br />

mais reaes e mais corruptos,<br />

no povo lançam tributos<br />

sem horror ás hespanholas !<br />

Rapazes I Vá I com capricho<br />

gritemos : — Real, Real,<br />

pelas bombas, pelo esguicho ..<br />

Viva o nosso Portugal 111<br />

PINTA-ROXA.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

Foi preciso ler o resumo das <strong>de</strong>liberações<br />

tomadas pela camara municipal,<br />

na sessão <strong>de</strong> 16 do corrente, para o acreditarmos.<br />

Leia-se:<br />

:;.!« ' fj. ,«»,. t' Hi .> '••-. *íi: 1 .!• Hllt<br />

«Em virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>claração do vereador<br />

Barata <strong>de</strong> que não approvava o<br />

pagamento <strong>de</strong> serviços prestados pelos<br />

bombeiros municipaes, por occasião da<br />

visita <strong>de</strong> SS. Magesta<strong>de</strong>s a esta cida<strong>de</strong>,<br />

e sendo dadas explicações pelo vereador<br />

Braga e pelo presi<strong>de</strong>nte, foi approvado<br />

o pagamento por votação da maioria<br />

(5 votos contra um), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> consultada<br />

a camara peh presi<strong>de</strong>ncia.*<br />

O sr. dr. Costa Allemão <strong>de</strong>ve estar<br />

vingado do seu collega João da Fonseca<br />

Barata, que ultimamente se mostra a toda<br />

a luz. Pelo que acima lemos ningnem<br />

po<strong>de</strong> dizer, cm verda<strong>de</strong> e com justiça,<br />

que a altitu<strong>de</strong> do vereador da minoria é<br />

correcta, e que obe<strong>de</strong>ceu ella ao principio<br />

moral do protesto contra abusos praticados.<br />

Porque o sr. Barila vó não approvou<br />

0 pagamento dos serviços prestados pelos<br />

bombeiros municipaes por occasião<br />

das visitas <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s!<br />

Elle só lhe fez mysterio q* setenta e<br />

tal mil réis que a camara ia dispen<strong>de</strong>r<br />

com aquella pobre gente que só vive do<br />

seu trabalho! As <strong>de</strong>«pezas do pavilhão<br />

e muitas outras que subiram a centenas<br />

<strong>de</strong> mil réis <strong>de</strong>ixou as passar em claro 1<br />

Ora isto não é justo. Os bombeiros<br />

municipaes andaram uns poucos dias e<br />

noites, d'um lado para o outro, a acompanhar<br />

a camara mis suas manifestações<br />

ao rei; per<strong>de</strong>ram o sen Irahallty, fizeram<br />

a triste figura que nós todos vimos, e<br />

por fim quando se tratava <strong>de</strong> as remunerar,<br />

apparece nin homem que protesla<br />

conlra a resolução da maioria da camara,<br />

alé cerlo ponto equitativa e justa.<br />

Pois o sr. Barata <strong>de</strong>ixa dispor do<br />

dinheiro do município, que é do contribuinte,<br />

como se fosse roupa <strong>de</strong> francezes,<br />

sen) um único signal <strong>de</strong> protesto, não tem<br />

uma única palavra <strong>de</strong> reprovação conlra<br />

a assistência da corporação <strong>de</strong> bombeiros<br />

nas festanças, e só Agora lhe apparecem<br />

os escrúpulos quando se fala em remuneração<br />

para essa gente. Goslou <strong>de</strong> ver<br />

brilhar á luz do archote o capacete do<br />

bombeiro que levantava vivas por conta<br />

da camara, e nega se <strong>de</strong>pois ao pagamento<br />

d'esse trabalho 1<br />

Como se os bombeiros tivessem por<br />

<strong>de</strong>ver o andar <strong>de</strong> bombi e esguicho<br />

atraz das magesta<strong>de</strong>s!<br />

E sabe o sr. Barata que a corporação<br />

<strong>de</strong> bombeiros foi creada simplesmente<br />

para o serviço humanilario da extineção<br />

<strong>de</strong> incêndios, e nunca pura servir<br />

em comedias burlescas; <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, porém,<br />

que obrigaram essa gente a fazer parle<br />

do séquito <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s, la<strong>de</strong>ando<br />

os carros <strong>de</strong> pharolms accesos, á camara<br />

cumpria in<strong>de</strong>mnisal os e ao sr. Biraia<br />

reslava-lhe apenas o direito, para<br />

ser justo, <strong>de</strong> protestar contra esse <strong>de</strong>sperdício<br />

do dinheiro municipal, não dando<br />

a sua annuencia para que a corporação<br />

fosse obrigada a serviços fóra das<br />

aitribuições do seu cargo.<br />

E fel o o vereador ? Não. Oppoz-se<br />

sómente a que os pobres bombeiros fossem<br />

remunerados do tempo que per<strong>de</strong>ram<br />

!<br />

O sr. Barata que tem fortuna e vive<br />

<strong>de</strong>safogado não sabe que o operário só<br />

encontra p«lo trabalho a sua sustentação,<br />

e que uma pequena quantia <strong>de</strong>sviada dos<br />

seus rendimentos o collocam em más cir<br />

cumstancias. ;<br />

Ignora jltV! E se não ignota <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ser justo, para ser mau, <strong>de</strong>sprezando<br />

até o preceilo evangelico—não prejudicar<br />

a pobreza em beneficio da riqueza!<br />

*<br />

Authentico, em pleno largo 8 <strong>de</strong> Maio:<br />

— Então a salvação publica já não é<br />

real ?<br />

— Estás parvo!<br />

— Não vès o lettreiro?<br />

— Vejo. Elles andam indifferentes<br />

eom as magesla<strong>de</strong>s, por coisas, e vae<br />

prega ia m-llie a peça, como elles lhe tèm<br />

pregado o cão.<br />

— Percebo agora porque se fazem<br />

as festas em coinmenioruçâo do 1.° <strong>de</strong><br />

Dezembro...<br />

— Claro; é um protesto encapotado<br />

contra a visita das magesta<strong>de</strong>s a Hespanha,<br />

e contra as negociações diplomáticas<br />

do governo<br />

— Então <strong>de</strong>clarain-se republicanos?<br />

— Quando vier a Kepublica.<br />

*<br />

A Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> ao publicar<br />

os nomes da commissão executiva<br />

do parlido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> fecha<br />

com estas palavras: —«Estes nomes honram<br />

o parlido.»<br />

Fica registada a <strong>de</strong>plaiação expontânea.<br />

*<br />

Andam a faiar que sempre será construído<br />

o elevador ria rua <strong>de</strong> Ferreira<br />

B Tges ao largo <strong>de</strong> S João.<br />

Começa a intriga contra o sr. Ayres<br />

<strong>de</strong> Campos, que vê em perspectiva o angmento<br />

<strong>de</strong> reducção nos juros das inscripções.<br />

Os tempos vão bicudos e o dinheiro<br />

é sangue!<br />

Magriço.<br />

•<br />

«fisi O cal variei i c w i A<br />

Eis o quadrò dos juros que o listado<br />

tem <strong>de</strong> pagar no corrente anno:<br />

muiy.ii uilíaup itfieív B IH^I,, utiii;q-.:»li<br />

Juros <strong>de</strong> 3 por cento dos<br />

titulos <strong>de</strong> divida interna<br />

7:746 contos<br />

Juros <strong>de</strong> 3 p. c<br />

titulos <strong>de</strong> divida externa<br />

6:327 »<br />

Emprestimo <strong>de</strong> 1888, 4<br />

e meio p. c 1:756 »<br />

Emprestimo <strong>de</strong> 1889, 4<br />

e meio p. t\ .... 2:030 ' i<br />

Empréstimo <strong>de</strong> 1891, 4<br />

e meio p. r. ... . J:565 »<br />

Empréstimo <strong>de</strong> 1888, 4<br />

p. c. .......... 173<br />

Emprestimo dé 1890, 4<br />

P- c <strong>47</strong>9 »<br />

21:076 contos<br />

E a côrte a viajar! E as codornizes<br />

na tapada <strong>de</strong> Mafra !<br />

De encher o olho<br />

O presi<strong>de</strong>nte (ia republica dos Estados<br />

Unidos da America, sr. Cleveland,<br />

possue uma fortuna approximada <strong>de</strong><br />

9.000:000^000. Para que os sergios cá<br />

da terra não vão pôr se já a advinhar a<br />

sua origem, suppondo-a dos cofres públicos<br />

d.i America, ahi vae essa origem,<br />

curiosa que ella é:<br />

Um cidadão <strong>de</strong> Pitt-hurg, na PensyU<br />

vauia, legou em 186a, tudo quanto pos-r<br />

suia, ao primeiro <strong>de</strong>mocrata que fosse<br />

eleito presi<strong>de</strong>nte.<br />

Cleveland, eleiU pela primeira vez<br />

em 1885, emno era o primeiro membro<br />

do parlido <strong>de</strong>mocrático elevado a presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1865, achoti-se, pois,<br />

senhor do legado do cidadão da Pénsilvauin,<br />

avaliado com os.juros acçmuiilados,<br />

em 600:000 dollars (4.000:000^000),<br />

que Cleveland recebeu ao entrar nír Casa<br />

Branca.<br />

Os dollars pitlsburguczes foram <strong>de</strong>pois<br />

duplicando.<br />

E é bom saber-se que o sr. Cleveland,<br />

como presi<strong>de</strong>nte da republica, recebe<br />

apenas, se bem nos recorda, uma -miséria<br />

<strong>de</strong> 28 contos anuuaes, náo obstante<br />

a gran<strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> da America...<br />

É que nem todos os paizes se pareceu»<br />

com o twsso.,,<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A guarda fiscal — novas çxigen-<br />

cias ao commercio — multas<br />

Até. boje nada resolvido oficialmente;<br />

sabe-se, porém, que a guarda fiscal<br />

leni <strong>de</strong>ixado passar sem embargo os conductòres<br />

<strong>de</strong> fazendas que se dirigem para<br />

as suas terras, não exigindo facturas.<br />

Não se <strong>de</strong>ixe illudir o commercio<br />

com estas e outras negaças, pois que<br />

ellas só servem para ameni-ar e abrandar<br />

a propaganda que está levantada contra<br />

os actos da guarda fiscal. ;<br />

Preza-se o commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong><br />

serio e grave nos seus negocio»* provando,<br />

se tanto fôr preciso, as boas relações<br />

cm que está com as praças <strong>de</strong> Lisboa e<br />

Porto. Nada pois justifica a guerra accintosa<br />

que lhe está promovendo o corpo<br />

da guarda fiscal que o trata como se fos*<br />

se o mais vil contrabandista, cerceando o<br />

com uma liscalísação exaggeradissima e<br />

vexatória e onerando-o com pezados encargos,<br />

que dia a dia mais lhe aggravam<br />

as <strong>de</strong>sgraçadas Circumslancias em que o<br />

colloeou a crise geral que o paiz atravessa.<br />

Se não fosse a extrema tolerancia<br />

dos commerciante» que tem <strong>de</strong>ixado correr<br />

á revelia os seus mais caros interesses,<br />

é certo que a guarda li>cai, ás primeiras<br />

investidas, teria soffrido uma energica<br />

opposição, uão chegando o abuso a<br />

ir tão longe, nem a darem-se as scenas<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira expoliação que aqui temos<br />

narrado. •., •. •.•<br />

Em outra terra <strong>de</strong>certo se teria logo<br />

locado a rebate ás primeiras investidas<br />

que se fizeram ás malas dos passageiros* -<br />

obrigando os a avultadas multas E' cerlo<br />

que a Associação Commercial representou<br />

em tempo competente nesse sentido,<br />

mas é também verda<strong>de</strong> que tudo continuou<br />

na mesma, seguindo se immedialamente<br />

outras extorsões e outros abusos, que<br />

vieram novamente sohresallar o commercio.<br />

De que pois serve um posto fiscal na<br />

estação do caminho <strong>de</strong> ferro numa cida<strong>de</strong><br />

que Ijem centenares <strong>de</strong> caminhos<br />

ordinários para on<strong>de</strong>, muito a seu salvo,<br />

po<strong>de</strong>m entrar pioradas <strong>de</strong> contrabando?<br />

De que serve esse posto, cujo pessoal<br />

só assiste á chegada (falguns comboios<br />

para vexar os passageiros, abandonando<br />

<strong>de</strong>pois a estação d on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m sair muito<br />

livremente os volumes que lá estiverem<br />

<strong>de</strong>scaminhados aos direitos?<br />

Se as fazendas visadas e selladas ler<br />

galisam o contrabando, como esta provado,<br />

porque não mandam reforçar a raia e<br />

os postos do liltoral com a gente que tem<br />

e«pal|iada pelas differentes terras, on<strong>de</strong><br />

a sua presença uão, tem razão <strong>de</strong> ser e<br />

on<strong>de</strong> a sua Ijjscalisação é nulla?<br />

Com Irauqiieza, a guarda fiscal nunca<br />

prestou nem ha <strong>de</strong> prestar bom serviço<br />

por que, composta <strong>de</strong> ofliciaes que tem<br />

o seu futuro garantido no exercito, <strong>de</strong><br />

praças <strong>de</strong> pret que <strong>de</strong>sejam apenas ver<br />

<strong>de</strong>ccorrido o tempo do seu alistamento,<br />

e uns e outros preoccupados com as<br />

exigencias da taclica e disciplina militar,<br />

uão se po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>dicar ao estudo das<br />

leis fiscaes, sem tempo para as interpretar,<br />

nem occasião para com a pratica<br />

adquirirem a sciencia <strong>de</strong> bem couhecer<br />

a iudole Uo povo, a maneira <strong>de</strong> o tratar<br />

e a forma <strong>de</strong> distinguir o commercio<br />

licito d'aquelle que o não é.<br />

E para sustentar uipa corporação tão<br />

inútil «pino esta, ga-ta o governo mais<br />

<strong>de</strong> 2:000 contos auuuaes, ao passo qué<br />

a antiga liscalísação externa, menos espaventosa<br />

mas muilo mais conhecedora<br />

do serviço a que se <strong>de</strong>dicava, custava<br />

apenas uns 600 contos, o que facilmente<br />

verifica quem se <strong>de</strong>r ao iuçommodo <strong>de</strong><br />

examinar os orçamentos geraes do estado<br />

<strong>de</strong> 1881, 1885, 1886 e 1892.<br />

li é ainda mais para nolar que, queixando<br />

se o governo <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> recursos<br />

e apregoando economias que vae realisando<br />

á custa dos sacrilicios do pobre<br />

contribuinte e. dos pequenos empregados<br />

públicos, auginenle a guarda fiscal com<br />

ofliciaes do exercito <strong>de</strong>ixando fóra do<br />

serviço, mas com vencimento, centenas<br />

<strong>de</strong> empregados novos, robustos, muitos<br />

d'elles bastante babeis e lodos ou quasi<br />

todos superiores, na pratica do serviço<br />

fiscal, aos mais zelosos e intelligentes<br />

ofliciaes da actual guarda!<br />

Isto é assombroso e só neste paiz se<br />

po<strong>de</strong> dar lauta prova <strong>de</strong> inépcia — se<br />

não é o proposito lirine <strong>de</strong> onerar a nação.<br />

Queira o sr. ministro da fazenda tratar<br />

d'este ramo <strong>de</strong> serviço com couscieucia<br />

o (é e verão que s. ex. a po<strong>de</strong>rá dar


AX.XO Í — a » © í>u*uxm*n n o POVO 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

ao paiz uma fi.-calisaçâo completa . sem<br />

gran<strong>de</strong>s encjfgiis para o thesouro e<br />

mesmo sem Vexames para o corttnbumte.<br />

Reforcem-se os postos da raia e<br />

tos outros que estão abandonados, dè-se<br />

nova organisação a esse corpo fiséal, e<br />

escusada é a sua presença no interior do<br />

paiz, on<strong>de</strong>, se appárece o contrabando,<br />

já eslá elle naeionalisado, sêmqúe n fi*<br />

caiisação possa intervir.<br />

Falleciniento d'um veterano<br />

Chamava se Manoel Ribeiro, o valente<br />

soldado do exercito liberal. Serviu no<br />

batalhão <strong>de</strong> voluntários da rainha, fazendo<br />

a campanha do cerco do Porto.<br />

Era um velho <strong>de</strong> 92 annos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong><br />

ha muito tempo cego e entrévado, exercendo<br />

em quanto pou<strong>de</strong> a profissão <strong>de</strong> cal<strong>de</strong>ireiro.<br />

Deixa familia pobre que nunca o <strong>de</strong>samparou,<br />

valendo lhe comtudo a carida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> alguns cidadãos que tinham pelo venerando<br />

velho a maxima sympathia.<br />

Se assim não fosse, ManOel Ribeiro<br />

teria já succumbido aos estragos da<br />

miséria. Desamparado pelos gran<strong>de</strong>s,<br />

pelos senhores e possuidores d'este paiz,<br />

que nunca olharam pela sorte d'e>tes<br />

valentes batalhadores, só lhe restava, como<br />

a tantos outros, a protecção da carida<strong>de</strong><br />

publica, que felizmente nunca esqueceu<br />

os sacrifícios que lizeram para emancipar<br />

este povo do jugo <strong>de</strong>spolico do execrando<br />

governo <strong>de</strong> D. Miguel.<br />

Esse punhado <strong>de</strong> valentes, do qual já<br />

hoje poucos restam, teria morrido <strong>de</strong> fome<br />

se não fosse a iniciativa particular os ter<br />

soccorrido. E comtudo quantas centenas<br />

<strong>de</strong> homens ahi vivem á regalada, sém<br />

contarem a millessima parte dos serviços<br />

prestados ao paiz por essa plêiada<br />

<strong>de</strong> velhos que tantos exemplos <strong>de</strong> heroísmo<br />

nos <strong>de</strong>ul<br />

A' familia do velho soldado en<strong>de</strong>reçamos<br />

os nossos pezames.<br />

Kleições das juntas


ASSO se O D E F E N S O R D O P O V O 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1 898<br />

EXPEDIENTE<br />

Prevenimos os nossos estimáveis<br />

assignanles <strong>de</strong> fóra ile <strong>Coimbra</strong>,<br />

ein divida á administração do<br />

Defensor do Povo, <strong>de</strong>


iHO" 1<br />

STran-ça<br />

Tudo quanto <strong>de</strong> sujo se accumula<br />

no turbilhão da politica portugueza,<br />

ergue os seus punhos ameaçantes<br />

para a França republicana.<br />

Tudo o que vegeta por esse lugubre<br />

saguão monarchico julga-se no<br />

direito <strong>de</strong> arremessar lama sobre um<br />

paiz on<strong>de</strong> a moral politica é superiormente<br />

austera.<br />

Toda a escoria rastejante <strong>de</strong> vermes<br />

que saciam na escroquerie a se<strong>de</strong><br />

do baixo-instincto, arremette em solavancos<br />

epilepticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svairados<br />

contra umas instituições politicas<br />

que sabem enaltecer a historia do<br />

seu paiz, dando-lhe renome e prosperida<strong>de</strong>.<br />

A França republicana, a generosa<br />

mãe espiritual <strong>de</strong> todos nós, a sublime<br />

inspiradora das nossas crenças,<br />

tem, bem sabemos, para esses<br />

miseráveis que <strong>de</strong> longe lhe vão cuspindo<br />

insultos, a gran<strong>de</strong>za altiva do<br />

seu <strong>de</strong>s<strong>de</strong>m que <strong>de</strong>speja sobre elles<br />

com o sorriso heroico dos vencedores<br />

generosos.<br />

Phantasiam esses pygmeus, na<br />

sua stulticia <strong>de</strong> vandalos, que haja<br />

além-Pyrineus quem dê ouvidos ás<br />

suas palavrosas verrinas expurgadas<br />

com o rancor venenoso <strong>de</strong> venenosos<br />

reptis! Sonham esses Ínfimos<br />

sacripantas <strong>de</strong> bric-à-brac que haverá<br />

na França republicana quem leia a<br />

amalgama da sua prosa escorrente,<br />

mesclada <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> nojo!<br />

Como se enganam, os vis. A sua<br />

pequenez é infinitamente gran<strong>de</strong> para<br />

empanar o brilho <strong>de</strong> tanta gloria.<br />

A França está muito alta, infinitamente<br />

alta, para que a babugem <strong>de</strong><br />

vós todos — oh filhos da lama lhe<br />

attinja a magnificência.<br />

Uivae, uivae, oh sergios da nossa<br />

terra, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> esgotado todo<br />

o vosso tolego, a Republica Franceza<br />

permanecerá serena <strong>de</strong> espirito e<br />

branca <strong>de</strong> consciência na gran<strong>de</strong>za<br />

da sua hegemonia ecumenica!<br />

A questão Panamá trouxe á suppuração<br />

da politica franceza uma<br />

serie <strong>de</strong> casoá encontrados, envoltos<br />

em certo mysterio, que trazem preoccupadaaattençãodotodo-o-mundo.<br />

Pela imprensa quotidiana ter-seha<br />

o leitor curioso informado com<br />

minúcia d'estes successos, vendo todavia<br />

lucidamente que em todo aquelle<br />

dédalo avulta a intriga politica do<br />

orleanismo <strong>de</strong> mãos dadas com os<br />

últimos esgotos do boulangismo.<br />

Naquellas meias tintas <strong>de</strong> suspeições,<br />

em todo aquelle borborinho <strong>de</strong><br />

accusações mal precisadas, sem documentação,<br />

sem base, <strong>de</strong>scortina-se<br />

a má fé da quadrilha do con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Paris, em guerra aberta com a Republica—uma<br />

guerra <strong>de</strong> encrusilheiros<br />

cimentada <strong>de</strong> calumnias repugnantes.<br />

Nós conce<strong>de</strong>mos, sem esforço,<br />

que o caso Panamá tenha appenso<br />

alguma especulação <strong>de</strong> capitalistas<br />

que recorreram do dolo para evitar<br />

a ftiina completa dos seus capitaes.<br />

Longe <strong>de</strong>nós querer insinuar a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> haver crime, reduzindo<br />

mesmo a meta<strong>de</strong> a campanha orleanista-boulangista.<br />

Q, que queremos porém sublinhar<br />

com toda a ru<strong>de</strong>za da nossa<br />

penna, é que o regime republicano<br />

não po<strong>de</strong> ser increpado <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />

nesta questão, nada tem<br />

com ella por ser um producto isolado<br />

<strong>de</strong> administração particular.<br />

Toca-lhe o <strong>de</strong>ver, e esse está-o<br />

cumprindo affanosamente, <strong>de</strong> inquirir<br />

responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> punir os<br />

responsáveis.<br />

*<br />

Posto isto, ó jornaleiros <strong>de</strong> Portugal,<br />

a que <strong>de</strong>sproposito vem as<br />

vossas arlequinadas chulas, a vasão<br />

espumosa das vossas grosserias infamantes<br />

?<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

Que é o que vos dá direito a<br />

chacinar com a vossa misera penna,<br />

mergulhada na lama dos vossos imos,<br />

a reputação d'umas instituições /honestas<br />

que teem trilhado <strong>de</strong>sassombradamente<br />

o caminho da honra tão<br />

<strong>de</strong>sconhecido por vós?<br />

Comparae a França, essa generosa<br />

França republicana da actualida<strong>de</strong>,<br />

com uma outra França que<br />

sob as patas <strong>de</strong> Napoleão III e Luiz<br />

Filippe foi ignobilmente <strong>de</strong>shonrâda,<br />

e dizei-nos qual d'ellas mais se impõe<br />

pelo seu brilho e pela sua honestida<strong>de</strong><br />

?. ..<br />

*<br />

A França republicana vae dar<br />

ás monarchias que lhe cospem, um<br />

elevado exemplo <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>. A<br />

Republica Franceza, conhecidos que<br />

sejam os criminosos, cumprirá rigorosamente<br />

a lei, não influindo para<br />

isso a hierarchia dos criminosos como<br />

succe<strong>de</strong> neste jardim pantanoso á<br />

beira-infamia plantado.<br />

Assim, não nos resta duvida : a<br />

França saberá Iavar-se lustrosamente<br />

das manchas com que visam <strong>de</strong>negrir-lhe<br />

a reputação.<br />

A França seleccionará escrupulosamente<br />

o trigo do joio, punindo<br />

uns, illibando outros.<br />

A França que no negocio Wilson,<br />

entre vários, foi d'uma justiça<br />

exemplar, ha <strong>de</strong> também agora confundir<br />

os seus <strong>de</strong>tractores, partindolhes<br />

em rosto a calumnia que tramaram.<br />

Assim será-<br />

E quanto a estes papelosos sybaritas<br />

que d'áquem-Pyrineus esfalfam<br />

os seus arrojos em te bolçar insultos<br />

— quanto a esses, oh nobre e generosa<br />

França! <strong>de</strong>ixa-os tripudiar, <strong>de</strong>ixa-os<br />

uivar, porque <strong>de</strong>pois d^lles<br />

esgotarem todo o folego, tu permanecerás<br />

serena <strong>de</strong> espirito e branca<br />

<strong>de</strong> consciência na gran<strong>de</strong>za da tua<br />

hegemonia ecumenica!<br />

Revolução em Angola<br />

Teem corrido boatos <strong>de</strong> uma revolução<br />

em Angola para a proclamação da<br />

sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia, sob o protectorado<br />

da America.<br />

Estes boatos, se bem que sejam <strong>de</strong>smentidos,<br />

não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter o seu fundamento.<br />

Protesto eleitoral<br />

0 nosso collega do Porto a Voz Publica<br />

continúa a publicar extensas listas<br />

<strong>de</strong> adbesões ao protesto eleitoral dos<br />

nossos correligionários do norte, que ha<br />

dias foi publicado pelos jornaes do partido<br />

.<br />

Não se po<strong>de</strong> exigir mais!<br />

Annunciam conspícuas folhas monarchicas<br />

que o <strong>de</strong>ficit 110 orçamento do futuro<br />

anno economico, se se lhe não acudirem<br />

com novas provi<strong>de</strong>ncias, não será<br />

inferior a 5í000 contos <strong>de</strong> róis; isto<br />

não obstante as graves medidas <strong>de</strong> fazenda<br />

adoptadas na ultima sessão parlamentar<br />

e as economias provenientes das<br />

varias reformas.<br />

Por isto parece que o governo tenciona<br />

fazer participar dos geraes sacrifícios<br />

os titulos da Companhia dos tabacos<br />

e <strong>de</strong> outras emprezas que até agora teem<br />

sido privilegiadas.<br />

É uma razzia!<br />

O sr. Dias Ferreira<br />

Vae ser nomeado socio da Associação<br />

dos advogados do México. S. ex. a mostrará<br />

aos collegas a gran<strong>de</strong> sciencia <strong>de</strong><br />

salvar do rigor das leis e da justiça os<br />

clientes ricos e po<strong>de</strong>rosos, quando se é<br />

presi<strong>de</strong>nte do c»nselho. e se po<strong>de</strong> obter<br />

com facilida<strong>de</strong> a publicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos<br />

ten<strong>de</strong>ntes a beneficiar os criminosos <strong>de</strong><br />

que forem <strong>de</strong>fensores.<br />

0 México vae saber cousas espantosas<br />

no generoI<br />

PELOS JORNAES<br />

I A Nação <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> accenluar a austerida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos os representantes dó<br />

antigo regimen diz que D. Jayme <strong>de</strong><br />

Rourbon não uccttiará a cor6a <strong>de</strong> Hespanha<br />

a troco d\ma apostasia; e concilie:<br />

«Resta, pois, o recurso do sr. D.<br />

Carlos Coburgo que, no mesmo throno,<br />

dirigirá os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Portuyal e Hespanha.<br />

Este perigo^ se vier a tomar<br />

realida<strong>de</strong>, matará pela base a producção<br />

portugueza, e tornará o nosso paiz um<br />

Estado inferior a qualquer província<br />

<strong>de</strong> Hespanha. No entanto, o constitucionalismo<br />

trabalha pela fusão ibérica,<br />

porque não se pô<strong>de</strong> sustentar por outro<br />

meio.'<br />

A nossa opinião sob a fusão ibérica<br />

dos dois povos peninsulares, nas actuaes<br />

circumstancias, com o sr. D. Carlos Coburgo<br />

á frente, já a manifesta mas em<br />

quatro palavras :<br />

-^Achamoj o sr. D. Carlos infinitamente<br />

pequeno para emprezas tão arrojadas.<br />

..<br />

Com aquelle <strong>de</strong>splante que caracterisa<br />

funda mentalmente quem não tem<br />

vergonha, escreve o Sergio :<br />

«O iberismo renasceu ha dois annos,<br />

e <strong>de</strong>ve-se esse renascimento aos esforços<br />

conjugados dos republicanos portuguezes<br />

e hespanhoes. Estes, para lisongearem<br />

a ambição tradicional do seu<br />

paiz, e aquelles, por verem que <strong>de</strong> outra<br />

forma não podiam alcançar o seu i<strong>de</strong>al<br />

da republica pela republira, mesmo da'<br />

republica contra a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da patria,<br />

celebraram a alliança negra, firmãram<br />

em Barcelona e em Madrid o'<br />

pacto <strong>de</strong> trabalharem pela fe<strong>de</strong>ração<br />

ibérica, que vem a ser a absorpçào <strong>de</strong><br />

Portugal pela Hespanha sob um presi<strong>de</strong>nte,<br />

Como foi a <strong>de</strong> 1580 Sob o governo<br />

<strong>de</strong> um Rei.»'<br />

Nós po<strong>de</strong>ríamos adduzir uma boa <strong>de</strong>zena<br />

<strong>de</strong> factos comprovantes <strong>de</strong> que quem<br />

conspira contra a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da patria<br />

não são os republicanos:—mas para<br />

quê? Porventura a imputação jornalística<br />

e pessoal do Sergio merece a consi<strong>de</strong>ração<br />

d'um <strong>de</strong>smentido a sério ? Não I<br />

Fazem sangue as seguintes palavras<br />

do capitão Machado estampadas em rosto<br />

ao sr. José Dias Ferreira:<br />

«Quanto a este refalsado politico,<br />

que como homem e como ministro, falta<br />

ao que promeUe, traindo assim us seus<br />

protestos feitos perante a camara e a<br />

confiança da corôa, que elle está compromettendo<br />

e pondu em eminente risco;<br />

quanto a esse banido da urna, que está<br />

preparando calculada e cynicamente a<br />

ruina da patria e a <strong>de</strong>shonra do nome<br />

portuguez, aqui vos <strong>de</strong>claro, bons e leaes<br />

amigos, que não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> dar-me cabal<br />

satisfação pelos aggravos immeiecidosque<br />

vos fez, permittindo, auctorisando,<br />

se é que uão foi elle o principal<br />

e direito mandante, todas essas vilanias<br />

infames <strong>de</strong> que fostes alvo, os insultos<br />

que vos fizeram, as perseguições eom<br />

que vos opprimiram, o sangue que <strong>de</strong>rramaram<br />

os seus galopins e os seus esbirros.<br />

Irra, diabo! Depois d'uma trepa tal<br />

a gente sente gosto em não ser presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho <strong>de</strong> ministros...<br />

Em uma das famosas correspondências<br />

do sr. José d'Alpoim para o Primeiro<br />

<strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>param-se-nos os seguintes<br />

períodos :<br />

«NSo è por casos esporádicos, por<br />

acontecimentos que não são a feição<br />

característica d'uma instituição, que<br />

ella <strong>de</strong>ve ser avaliada. Querem saber<br />

o què eu penso a respeito da questão<br />

do Panamá ? E' que ella não po<strong>de</strong> servir<br />

para <strong>de</strong>sacreditar, em França, para<br />

amesq uinhar o regimen republicano, para<br />

justificar o advento da inouarchia.<br />

Pois que? A Republica que fez tamanha a<br />

França, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> Sedan e<br />

das catastrophesdaCoininuna, a Republica<br />

que libertou o território e conseguiu<br />

que Paris seja sempre a primeira<br />

cida<strong>de</strong> da Europa, a Republica que tem<br />

a França mais rica que a Allemanha<br />

enchend 1 <strong>de</strong> pavor a sua triumphaute<br />

rival, a Republica que tem resistido a<br />

todas as conspirações da politica externa,<br />

e ao boulangismo e aos preten<strong>de</strong>ntes ,<br />

não merece a admiração da Europa.<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

não fez a felicida<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong> nação<br />

franceza? Suppondo que uns banqueiros<br />

ju<strong>de</strong>us, uns <strong>de</strong>putados infames e<br />

concussionarios tenham medrado com<br />

ella, ha <strong>de</strong> ser isso bastante para acon<strong>de</strong>mnar?<br />

O proprio exemplo da sua attitu<strong>de</strong><br />

no caso Wilson, a energia agora<br />

do seu parlamento, a força com que a<br />

opinião publica se manifesta, não são<br />

um exemplo <strong>de</strong> quanto é po<strong>de</strong>rosa a sua<br />

vitalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> quanto está radicada no<br />

coração do paiz ? Negal-o, é cerrar os<br />

olhos á verda<strong>de</strong> I»<br />

Agrada-nos transplantar para aqui<br />

este pedaço <strong>de</strong> prosa porque nos consola<br />

que mesmo nos arraiaes monarchicos ha<br />

quem faça justiça á Republica Franceza.<br />

Vamos percebendo que os Sergios,<br />

os Torgaes e os Colens são uma minuscula<br />

minoria...<br />

Yalha-nos isso.<br />

0 Correio da Noite não eslá com<br />

meias medidas: é pão, pão, queijo, queijo.<br />

Vae d'ahi, agarra no giz e traça assim<br />

em linhas grossas o croquis do ministerio<br />

da justiça :<br />

«0 chamado ministério da justiça é<br />

uma succursal <strong>de</strong> todas as violências e<br />

imposições que aos agentes do governo<br />

apraz improvisar.<br />

"Os funccionarios judiciaes dignos e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes estão sem <strong>de</strong>feza. Os<br />

seus primeiros inimigos estão no ministério<br />

da justiça».<br />

Que lhe agra<strong>de</strong>ça o sr. Telles <strong>de</strong><br />

Vasconcellos.<br />

7 ê<strong>de</strong>bê.<br />

Crise ministerial<br />

Os boatos <strong>de</strong> crise áittcla se não <strong>de</strong>svaneceram<br />

e os jornaes diários occupainse<br />

sempre d'este assumpto. 0 sr. José<br />

Dias o que <strong>de</strong>seja é conciliar os seus<br />

collegas até á abertura do parlamento<br />

que está próxima, e <strong>de</strong>pois d'isso apresentar<br />

a <strong>de</strong>missão parcial ou total do<br />

ministério.<br />

Centenario<br />

da <strong>de</strong>scoberta da índia<br />

Realisou-se em Lisboa a conferencia<br />

preparatória, para a celebração do centenário<br />

da índia, das mesas das associações<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> Lisboa e redactores<br />

da imprensa diaria, a fim <strong>de</strong> se acordar<br />

sobre a organisação dos trabalhos, que<br />

em breve <strong>de</strong>vem começar.<br />

As^ pautas<br />

Dizem que não serão alteradas as<br />

principaes disposições proteccionistas das<br />

pautas aduaneiras, salisfazendo-se em<br />

parte as reclamações <strong>de</strong> vários industriaes.<br />

Corre que o sr. João Arroyo não acceitou<br />

a representação do Centro Commercial<br />

do Porto, na commissão revisora, para<br />

po<strong>de</strong>r manobrar á vonta<strong>de</strong> no sentido<br />

<strong>de</strong> não se alterar o disposto na pauta,<br />

com respeito ao papel.<br />

Como se sabe o sr. Arroyo é um dos<br />

directores da fabrica do papel do Prado,<br />

que muito Lucra com a protecção pautal.<br />

E (içaremos á mercê dos interesses<br />

do syndicato ?<br />


AXSO I — 40 O BirBNSOit DO POVO 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />

via o fogo do cigarro quando se lirava<br />

uma fumaça.<br />

À's ciuco horas menos um quarto estávamos<br />

á porta da Cité <strong>de</strong>s Fleurs, em<br />

Batignolle», promplos a vigiar.<br />

Cinco horas a dar, o portão abriuse,<br />

e uma mulher passfifi perto íe nó'.<br />

— E' ella, exclamou M... sigamol-a.<br />

—Já nâo era nova, a solteirona, um<br />

typo <strong>de</strong> velha tesa, magra. Traje <strong>de</strong>cente,<br />

simultaneamente luxuoso e miserável.<br />

lW granilé chapéu com enfeites, um<br />

chalé preto <strong>de</strong> franjas e um regalo. O<br />

nevoeiro impediu-me <strong>de</strong> ver-lhe o rosto, e<br />

foi pelo passo, um passo saltitante que<br />

indicava enfraquecimento das articulações,<br />

que eu reconheci a eda<strong>de</strong>.<br />

Apezar da velhice, ma<strong>de</strong>moiselle Nevoeiro<br />

ia <strong>de</strong>pressa, <strong>de</strong>pressa. Com certeza<br />

tinha alguma tarefa <strong>de</strong> pressa a<br />

cumprir. Apenas atrazoo o passo ao chegar<br />

ás fortificações, na avenida <strong>de</strong> Saint-<br />

Ouen.<br />

Caminhavamos quasi nos seus calcanhares<br />

para a não per<strong>de</strong>rmos na espessura<br />

da bruma. Trepou a escarpa.<br />

— Vae julgar que a não <strong>de</strong>ixamos,<br />

disse eu ao ouvido <strong>de</strong> M...<br />

-—Não ha perigo ; é tão absorta como<br />

lima sonambula.<br />

Ella adiantou-se para a borda do fosso,<br />

<strong>de</strong>itou-se <strong>de</strong> bruços, e, em voz muito<br />

sibilante, chamou:<br />

— Bebé, bebé I<br />

Depois escutou um gran<strong>de</strong> minuto<br />

pelo menos, como se esperasse uma resposta.<br />

Por trpz vezes recomeçou.<br />

—Safémo-nos disse M. .. antes da<br />

ultimo; ella vae voltar.<br />

Com effeito, tiiilia-se levantado e voltava<br />

á avenida. Retomou o caminho da<br />

Cité <strong>de</strong>s Fleurs, agora com um passo<br />

lento, a cabeça baixa, os hombros <strong>de</strong>scabidos,<br />

zig-zagando como se estivesse<br />

ébria. Parecia presles a cahir quando<br />

chegou, emfini, ao portão. Sentia-se que<br />

apenas reentrasse em casa, ia rolar no<br />

chão como um animal moido <strong>de</strong> pancadas.<br />

Do portão á sua porta arraslou-se<br />

enganchando as mãos nas balaustradas,.<br />

Dir-se-hia um velho espectro. Metteu-me<br />

medo.<br />

i. ..*;.„.,; 09IB „ «a in(j,.<br />

—- Bem I disse eu a M. .., agora vi.<br />

E a historia ? ><br />

— Primeiro, respon<strong>de</strong>u-me elle, <strong>de</strong>ixa<br />

dizer-te q.ue o que viste po<strong>de</strong>l-o lias<br />

v.or i<strong>de</strong>nticamente todas as vezes que<br />

houver um nevoeiro espesso. E' por isso<br />

que lhe chamam ma<strong>de</strong>moiselle Nevoeiro.<br />

-Conhecei-» portanto, intimamente ?<br />

— Conheço.<br />

— Como assim?<br />

— Que tens tu com issp? Supponhamos<br />

que seja por acaso. Vou dizer-te...<br />

— Sim, sim, invenção.<br />

- Dou-te a minha palavra <strong>de</strong> que te<br />

direi somente coisas succedidas.<br />

— Bem, creio em ti.<br />

— Em duas palavras, eis os factos ;<br />

Ma<strong>de</strong>moiselle B... foi seduzida aos<br />

<strong>de</strong>zesseis annos. Seu pae, um velho offi- ;<br />

ciai intralavel em questões <strong>de</strong> honra<br />

mandou o bastardo para a Roda. Dois<br />

dias <strong>de</strong>pois do parto, a joven mãe percorrendo<br />

um jornal, nelle leu a noticia<br />

<strong>de</strong> que um cadaver <strong>de</strong> bébé tinha sido<br />

lançado no fosso das fortificações, á esquerda<br />

da avenida <strong>de</strong> Saint Ouen. Este<br />

crime coincidia, por um extranho acaso,<br />

com o dia em que seu pae tinha mandado<br />

o bastardo para além, e esse dia linha-se<br />

tornado notável por um nevoeiro<br />

extraordinário.<br />

D'aqui po<strong>de</strong>s concluir a historia. A<br />

pobre mulher viveu com a i<strong>de</strong>ia fixa <strong>de</strong><br />

que esse cadaver. era o <strong>de</strong> seu filho. Ao<br />

lim d'algum lempo enlouqueceu. Cada vez<br />

que. ha nevoeiro como hoje, e como nesse<br />

dia faz o que viste. Eis tudo.<br />

*<br />

— Contas isso oxçentricamente, disse<br />

eu , a M... Por alto ! sem explicações,<br />

"sem preparações. A historia com<br />

effeito é terrível. Que estudo curioso e<br />

profundo a fazer d'esta loucura I<br />

— Escreve-a. Couta o facto como homem<br />

<strong>de</strong> lettras, se quizeres. Olha, faz<br />

d'ahi uma Morte extravagante.<br />

— Talvez experimente.<br />

Fiz mal em fallar assim. Tentei. Não<br />

pu<strong>de</strong>. Bem conheço que prejudicaria esta<br />

tragedia se a commentasse. E é por isso<br />

que nie contento com noticial-a aqui sem<br />

artificio, <strong>de</strong>scuidadamente, <strong>de</strong>ixando a<br />

cada um o cuidado <strong>de</strong> imaginar o drama<br />

ou o poema que esta realida<strong>de</strong> faz planear.<br />

Jean Richepin.<br />

EM SURDINA<br />

Por mais que puche a razão -<br />

e vasculhe a mioleira,<br />

não sei porque a Salvação<br />

teve a grata <strong>de</strong>voção<br />

<strong>de</strong> benzilhar a ban<strong>de</strong>ira 1<br />

Nesta coisa anda feitiço<br />

que merece eoinmentarios...<br />

Achei agora o enguiço :<br />

quando forem p'ro serviço<br />

os bomtieiros voluntários...<br />

Zás, ao pino a ban<strong>de</strong>ira,<br />

e ficam presos no audar,<br />

rompe-.se logo a mangueira<br />

o por maior trabalheira<br />

ao fogo não vão esguichar.<br />

Além d'isso dá saú<strong>de</strong>,<br />

dinheiro, e po<strong>de</strong> servir. •.<br />

E! trapo que tem virtu<strong>de</strong>.<br />

PINTA-ROXÀ.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

Que rio governo lavram gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sintelligencias<br />

é certo e positivo.<br />

O 1 d e <strong>de</strong>zembro, a festa patriótica,<br />

veio confirmar o que affirmamos; e<br />

não só ha <strong>de</strong>sintelligencias, mas alguma<br />

cousa mais, indicadora <strong>de</strong> graves acontecimentos.<br />

Veja quem tiver olhos. Em <strong>Coimbra</strong><br />

houve feriado nas repartições e estabelecimentos<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do ministério das<br />

obras publicas; nas repartições e estabelecimentos<br />

dirigidos pelo ministério do<br />

reino tudo funccionou.<br />

A's aca<strong>de</strong>mias não <strong>de</strong>ram feriado, o<br />

rei não assistiu ao Te-Deum, etc.<br />

Com a visita a Hespanha, diz-se que<br />

o José Dias viera ibérico, mail-o rei e<br />

niail-a corte. Não affirmamos, nem contestamos,<br />

o que esiá á vista é:—que os<br />

ministros que não foram a Hespanha solemnisaram<br />

o 1640 da nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />

O que prova que as hespanholas têm<br />

artes <strong>de</strong> fazer péccár um santo.<br />

E o José Dias com 85 apnos. Caramba<br />

! Que portuguesito guapo 1<br />

É o que vós vê<strong>de</strong>s 1<br />

A real salvação publica fez o diabo<br />

na quinta feira. Estalou, bufou, zarilhou,<br />

e por fim. .. não vos conto nada 1<br />

O gallinhola levantou vivas á casa <strong>de</strong><br />

Bragança e tão commovido pelo enthusiasmo<br />

que não atinava com as syllahas.<br />

Gaguinho <strong>de</strong> todo !<br />

*<br />

E' vel-a toda almiscarada, <strong>de</strong> pós<br />

nas faces coloridas a yermelhão, a fazer<br />

cócegas á carida<strong>de</strong> publica.<br />

Conta ella, a Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

que algumas famílias abastadas, <strong>de</strong><br />

Lisboa, se colisam mensalmente para darem<br />

uma sopa economica diaria a todas<br />

as creanças que esmolam pelas ruas, e<br />

lembra: E se em <strong>Coimbra</strong> se imitasse<br />

também este bom exemplo ?<br />

Estaes vendo o namoro <strong>de</strong>saforado<br />

ao pae dos pobres.'<br />

E elle — nem se move.<br />

Cabia aqui uma anedocta, mas nâo<br />

quero — a i<strong>de</strong>ia é sympathica.<br />

«<br />

Quando estiveram nesta cida<strong>de</strong> suas<br />

magesta<strong>de</strong>s, na occasião da visita ao<br />

quartel do 23, duas creancinhas, filhas<br />

d'um sargento, entregaram ao rei um<br />

requerimento no qual se pedia a suspensão<br />

applicada a seu pae, justificando a<br />

falta <strong>de</strong> disciplina que havia commettido.<br />

Disse a imprensa que sua magesta<strong>de</strong><br />

commovida por aquelle acto, "promettera<br />

a reclamada protecção e sobre esta promessa<br />

bordaram-se palavras <strong>de</strong> elogio transcen<strong>de</strong>nte.<br />

E até agora nada. Que diabo 1 D'antes<br />

a palavra <strong>de</strong> rei nâo tinha tal feitio.<br />

Vamos com os tempos...<br />

*<br />

A Correspondência vem lia dois números<br />

a fallar da péssima construcção<br />

das obras feitas para o abastecimeiVto<br />

das aguas, <strong>de</strong> mistura com umas cousas<br />

que ella queria que a actual camara fizesse<br />

em proveito da cida<strong>de</strong> — marcos<br />

fontenarios para abastecimento do publico,<br />

etc.<br />

Sabemos todos que essas obras foram<br />

feitas <strong>de</strong>baixo da direcção e risco<br />

do sr. Adolpho Loureiro a quem a mesma<br />

Correspondência teceu sempre os<br />

mais elevados elogios!<br />

Relativamente ao resto era <strong>de</strong> opinião<br />

que se aguardassem todos os conselhos<br />

para beneficiações publicas para<br />

a camara que vae entrar, e <strong>de</strong>ixar a<br />

ella, toda a gloria d'um reinado auspicioso,<br />

a par do mercado, e muchas cosas<br />

mas...<br />

Eu sempre quero rer em que dão os<br />

fogos d'arlificio que se queimaram para<br />

as illusões <strong>de</strong> ingénuos.<br />

Que havemos <strong>de</strong> ver coisas extraordiluirias<br />

todos o affirmam I<br />

*<br />

Continúa a distribuição <strong>de</strong> commendas<br />

e mais penduricallios por esse<br />

paiz fóra.<br />

Esquecidos por completo os polires<br />

diabos que andaram ahi a rastejar durapte<br />

a estada <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s, e a fazer<br />

jus á venera 1<br />

Faz dó isto 1 Que vós bem os visteis<br />

a emporcalharem-se diante dos seus patrícios;<br />

para um <strong>de</strong>sprezo tão completo 1<br />

Corja <strong>de</strong> ingratos 1<br />

*<br />

Bravo 1<br />

Ha quem já saiba que, pelos esforços<br />

empregados pelo sr. Alberto Monteiro,<br />

<strong>de</strong>putado por este circulo, não sairá este<br />

anuo do regimento 23 nanhuin contingente<br />

para os <strong>de</strong>mais corpos.<br />

Vê-se que a intriga lavra fundo contra<br />

o sr. Ayres <strong>de</strong> Campo», que nos<br />

consta já fez esforços, e não lh'os publicaram.<br />

..<br />

Também nos lembra se s ex. a quererá<br />

seguir na politica, aquelle preceito<br />

evangelico:—não saber a direita o que<br />

dá a esquerda.<br />

Magriço.<br />

Crise operaria<br />

Augnionta consi<strong>de</strong>ravelmente a crise<br />

<strong>de</strong> trabalho em Lisboa e Porto, por isso<br />

que algumas obras do estado teem paralysado.<br />

Apezar da attitu<strong>de</strong> serena e cordata<br />

como os operários se teem dirigido ao<br />

governo é certo que os seus rogos não<br />

teem sido attendidos, encontrando-se em<br />

Lisboa centenares <strong>de</strong> trabalhadores á<br />

mingua d'on<strong>de</strong> ganhem a sua sustentação.<br />

IU1JU,<br />

Pelos vencidos<br />

Subscripçfto <strong>de</strong> ÍOO réis men-<br />

saes <strong>de</strong>stinaria a soceorrer<br />

eom egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 130800<br />

Antonio José Alves (<strong>de</strong>zembro<br />

o janeiro) 400<br />

José Eugénio dos Santos (novembro<br />

e <strong>de</strong>zembro) ...... 400<br />

Somma, réis.....,. 140600<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta huinanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.® 88.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Tempo <strong>de</strong> crise<br />

Rosnam alguns jornaes monarchicos<br />

que está em crise o ministério. Cremos<br />

bem que a crise não po<strong>de</strong>rá ser classificada<br />

na or<strong>de</strong>m moral, porque essa tem na<br />

atravessado sans peur o actual governo,<br />

sempre victorioso na sua extraordinaria<br />

galhardia... <strong>de</strong>spida d'escrupulos. Nada<br />

d'assuslar I<br />

— Qualquer, pois, que seja a crise<br />

resolvel-a-ha vesgamentt o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> conselho, dando-lhe uma solução torta<br />

(d'harmonia com o seu phisicol) mas<br />

dando-lhe, emfim, uma solução.<br />

Se ã dificulda<strong>de</strong> tomar caracter grave<br />

e o negocio não se po<strong>de</strong>r resolver com<br />

uma rapida recomposição, tomará conta<br />

<strong>de</strong> todas as pastas o sr. Jose Dias Ferreira,<br />

que tem talento e <strong>de</strong>splante para<br />

isso e para muito mais.<br />

Do poleiro é que não <strong>de</strong>sce o sr.<br />

José Dias I Po<strong>de</strong> dissolver-se o gabinete,<br />

po<strong>de</strong>m sahir do governo os seus coliegas,<br />

po<strong>de</strong> um impulso <strong>de</strong> revolta mudar as<br />

instituições, alterar a lei fuudameDtal do<br />

estado...—-resistirá a tudo isso o presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> ministros, não abandonando<br />

nunca a sua ca<strong>de</strong>ira 1<br />

Deve dizer-se, com proprieda<strong>de</strong>, que<br />

é um presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pedra t cal!<br />

Nem só no ministério <strong>de</strong>u o microbio<br />

da crise; também appareceu no nosso<br />

pequenino meio theatral, anniquilando a<br />

empreza do Theatro Clialet.<br />

O caso nâo é. conio a crise do governo,<br />

para reticencias; pe<strong>de</strong> os pontos<br />

nos ii, e julgo, portanto, muito aproposilo<br />

algumas observações ácerca <strong>de</strong> tliea<br />

tro... visto que a lei das rolhas nos<br />

<strong>de</strong>ixou livre ainda o <strong>de</strong>sabafo em <strong>de</strong>terminados<br />

assumptos.<br />

— Ha alguns annos que os srs. emprezarios<br />

dos theatros do Porto se queixam<br />

da falta <strong>de</strong> concorrência, que lhes<br />

traz, no fim <strong>de</strong> cada epocha, um insignificante<br />

lucro ou a perda do capital com<br />

que entraram para a exploração do theatro.<br />

A que attrihuem esle?pessimo resultado?<br />

Ao indifferentismo do publico qiie,<br />

segundo eiles affirmam, já não gosta <strong>de</strong><br />

opera, opereta, vau<strong>de</strong>ville, comedia ou<br />

magica.<br />

O publico, no seu enten<strong>de</strong>r, está<br />

farto <strong>de</strong> theatros, está cansado d'espectaculos;<br />

ouvé, com a mesma impressão<br />

<strong>de</strong> tédio, uma farça licenciosa sem valor<br />

litterario e uma ohra d'arte, escripta<br />

cora pureza d'estylo e adornada d'excellentes<br />

situações d'effeito seguro.<br />

Enganam-se redondamente os srs.<br />

emprezarios.<br />

— O publico gosta do vau<strong>de</strong>ville, do<br />

drama, da opera, da opereta e da comedia—<br />

quando essas composições sejam<br />

bem <strong>de</strong>sempenhadas e bem postas em<br />

scena.<br />

A falta <strong>de</strong> publico aos espectáculos<br />

<strong>de</strong>ve lançar-se apenas á conta do <strong>de</strong>sleixo<br />

dos srs. emprezarios que esquecem a<br />

gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> : não se po<strong>de</strong> colher sem<br />

ter semeado. Ora eiles pouco semeam, e<br />

quando o fazem semeam ventos... colhendo,<br />

portanto, tempesta<strong>de</strong>s!<br />

— Um emprezario que na montagem<br />

d'uma peça nova arrisca tres, quatro ou<br />

seis contos, tem mais seguras probabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> adquirir interesses do que<br />

aquelle que, receioso <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, apresenta<br />

uma novida<strong>de</strong> pobremente vestida, e adornada<br />

com um sCenario velho, visto e<br />

revistei-'em todos os successos do reportorio.<br />

O publico não afflue aos espectáculos,<br />

como seria para désejar, porquê sae<br />

<strong>de</strong>sagradavelmente impressionado ao ver,<br />

por exemplo, num drama cuja acção se<br />

passa no tempo <strong>de</strong> Justiniano, apparecerem<br />

saias da época <strong>de</strong> Luiz XIV, ou<br />

(como nós já vimos) no segundo acto<br />

d'um vau<strong>de</strong>ville parisiense figurar um<br />

panno representando o Rocio, com a competente<br />

estátua <strong>de</strong> D. Pedro IV e o theatro<br />

<strong>de</strong> D. Maria, ao fundo!!<br />

— Julgam, <strong>de</strong>certo, os srs. emprezarios<br />

que o publico não repara na apre-<br />

sentação d'uma rainha adornada com uma<br />

coroa <strong>de</strong> papelão e um manto real <strong>de</strong><br />

precalina e na entrada d'uma mulher do<br />

povo, a quem (segundo o auclor..,.) a<br />

<strong>de</strong>sgraça reduziu a um estado <strong>de</strong> extrema<br />

miséria, e passeia o palco com os seus<br />

sapatinhos novos <strong>de</strong> verniz e meias <strong>de</strong><br />

seda ?<br />

Repara; o publico repara que lhe<br />

<strong>de</strong>em peças mal postas, ensaiadas em<br />

oito dias, com mais um actor do que<br />

aquelles que figuram no cartaz—o ponto,<br />

para o qual convergem os cinco sentidos<br />

dos que representam e que, berrando a<br />

bom berrar, é ouvido na ultima fila da<br />

geral 1<br />

Repara; o publico repara no raacliinismo<br />

d'uma magica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> espectáculo,<br />

que <strong>de</strong>safia, pela rapi<strong>de</strong>z das transformações,<br />

a marcha d'um carro <strong>de</strong> bois<br />

seguindo um caminho tortuoso d'al<strong>de</strong>ia.<br />

Repara; repara num bailado com duas<br />

bailarinas e quatro comparsas, agitando<br />

as pernas grotescamente, pulando sem<br />

arte nem geito, <strong>de</strong>slazendo-se em gestos<br />

e piruêtas ridículas. *<br />

De tudo isto—e <strong>de</strong> muito mais ainda...<br />

— tira o espectador esta singela<br />

conclusão:<br />

— Com theatros d'esta or<strong>de</strong>m não<br />

ha nada como jogar a bisca em familia<br />

ou encafuar-se a gente na caminha, ás<br />

nove da noite !<br />

Ora eis ahi como os srs. emprezarios<br />

se queixam do burguez, cabendo lhes a<br />

eiles exclusivamente a culpa da sua <strong>de</strong>sgraça.<br />

...E o burguez tem razão: vale<br />

mais resonar em casa do que cabecear<br />

— por cinco tostões — numa ca<strong>de</strong>ira da<br />

superior!<br />

Noto agora (já um pouco tar<strong>de</strong>!) que<br />

me alarguei <strong>de</strong>masiadamente nas observações<br />

provocadas a proposito da crise<br />

que atirou a terra com a empreza do<br />

popular theatro Chalet.<br />

Noto lambem que <strong>de</strong>scambei a fallar<br />

<strong>de</strong> palcos, começando por tratar <strong>de</strong> politica.<br />

.. o que po<strong>de</strong>rá provar aos olhos<br />

dos philosophos <strong>de</strong> bom liumór uma certa<br />

analogia entre a representação theatral<br />

e a representação nacional.. .<br />

Realmente, nada se approxima tanto<br />

da farça como a bambochata governamental,<br />

que o zé povo sustenta en grand<br />

seigneur, para honra e gloria da parvoíce<br />

eterna I " •<br />

Se as casas d'espectaculo reclamam<br />

urgente reforma administrativa, o theatro<br />

nacional não precisa <strong>de</strong> menos urgente<br />

reorganisação. Não accudindo a esse mal<br />

é inevitável a pateada !...<br />

* i<br />

Não fecharei a chronica sem registar<br />

aqui que passou tristemente, lugubremente,<br />

o 1.° <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro—data gloriosa<br />

que representa um sublime erro politico.<br />

A in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia reconquistada pelos<br />

bravos <strong>de</strong> 1640 per<strong>de</strong>u-se pouco e pouco<br />

no escoadouro das indignida<strong>de</strong>s constitucionaes,<br />

e a liberda<strong>de</strong> que hoje gozamos<br />

está ignobilmente manchada pela lama<br />

com que os governos monarchicos teem<br />

maculado a nossa ban<strong>de</strong>ira.<br />

De que serviu a corajosa <strong>de</strong>saffronta<br />

<strong>de</strong> Pinto Ribeiro? De pe<strong>de</strong>stal ao marquez<br />

<strong>de</strong> Vallada, a Mendonça Cortez, a<br />

Mariano ?<br />

Mais valia, no nosso caso, uma União<br />

digna e leal com a Hespanha, do que a<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia prostituída pela <strong>de</strong>shonra<br />

dos que timbram em enxovalhar a sua<br />

patria... Fra-Diavolo.<br />

1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

PALESTRAS<br />

VI<br />

— Eia, como tu vaes <strong>de</strong>pressa; para<br />

on<strong>de</strong> é a ida ?<br />

— Deixa-me que tenho <strong>de</strong> escrever<br />

ainda as Palestras para o Defensor do<br />

Povo e, palavra d'honra, não sei o que<br />

liei <strong>de</strong> dizer.<br />

— Homem essa I—pois não tens assumpto<br />

bastante para em logar d'uma<br />

escreveres centos <strong>de</strong> palestras ?<br />

— 11a assumpto?—-qual historia!—<br />

Tenho dado mil voltas á imaginação e<br />

não encontro nada que dê base para<br />

encher dois linguados.<br />

— Caramba, parece impossível! — é<br />

bem certo o dar Deus as nozes a quem<br />

nao tem <strong>de</strong>ntes; eu »e soubesse rabiscar<br />

duas lettras, palavra d houra que nunca<br />

me havia <strong>de</strong> ver em dificulda<strong>de</strong>s para<br />

encher em Jogar <strong>de</strong> dois, um cento <strong>de</strong><br />

linguados.<br />

—Pois será assim ; eu é que não<br />

sei o que hei <strong>de</strong> escrever que nao esteja<br />

já dito e redito um milhão <strong>de</strong> vezes.<br />

Bater no governo? Não tem elle levado<br />

cargas <strong>de</strong> mestre a ponto <strong>de</strong> já estar<br />

mais malhadiço que um burro <strong>de</strong> Sernache?<br />

E agora por fallar <strong>de</strong> Sernache<br />

lembrou-me o Miranda pa<strong>de</strong>iro, e pelo<br />

Miranda pa<strong>de</strong>iro, lembrou-me o Miranda<br />

camarista, pelo Miranda camarista lembraram-me<br />

as posturas municipaes; peias<br />

posturas municipaes lembra-me que nellas<br />

não ha disposição nenhum que evite nós<br />

estejamos a comer o pão quasi a 160<br />

réis o kilo 1<br />

— Ahi está, ahi tens tu, que só<br />

em assumptos municipaes tinhas para<br />

dúzias e dúzias <strong>de</strong> Palestras. Eu se escrevinhasse<br />

nos jornaes... ai,meu Deus,<br />

que tundas eu havia <strong>de</strong> dar no illustre<br />

senado <strong>de</strong>sta terra! Palavra d'honií 1<br />

A nossa Lusa Athenas é uma sentina; os<br />

que a vem visitar <strong>de</strong>vem ficar maravilhados,;<br />

como se po<strong>de</strong> viver nesta eslruv<br />

meira; os naluraes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> parecem<br />

que liuliam o epitheto <strong>de</strong> filhotes; pois<br />

melhor lhe cabia o <strong>de</strong> cogumellos; eu<br />

admiro como aqui se vive, e chego-me a<br />

convencer que os hygienistas são uns<br />

doidos! Faz-me isto suggerir a lembrança<br />

<strong>de</strong> que o illustre senado <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

<strong>de</strong>via convocar um cougresso, em que<br />

pouco mais ou menos se dissesse, ou<br />

cujo titulo fosse:—Congresso internacional<br />

sobre a immundicie conimbricense,<br />

pelo qual se prova que a hygiene é uma<br />

loucura.<br />

—Bravo! Bravo! eis como eu arranjei<br />

assumpto para unia Palestra; obrigado,<br />

pois, ó meu caro; a cavaqueira que<br />

tivemos é a que vae ser posta em leltra<br />

redonda no Defensor do Povo.


I — X. 9 IO O DEFEXiOR BO POVO 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

Recordação fúnebre<br />

Passa hbje o anniversario do falleqimcntó<br />

<strong>de</strong> João Rodrigues Braga. Ao recordarmos<br />

este dia <strong>de</strong> amargura para<br />

sua familia e para os seus mais <strong>de</strong>dicados<br />

amigos, é nosso intuito honrar a<br />

memoria d'um cidadão que soube ser honesto,<br />

hourando a classe commercial a<br />

que pertenceu.<br />

* * *<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A guarda fincai<br />

Ainda nada resolvido oficialmente<br />

relativo á representação que a Associação<br />

Commercial dirigira ao governo.<br />

E' certo que a guarda liscal suspen<strong>de</strong>u<br />

em parte os seus <strong>de</strong>satinos e prepotências,<br />

mas este facto nada signilica,<br />

porisso que o commercio não se <strong>de</strong>ve dar<br />

por satisfeito, nos parece.<br />

Portanto vemos que o governo tem<br />

<strong>de</strong>scurado este assumpto, e que o commercio<br />

que precisa d'uma solução iramediala<br />

vê se ainda <strong>de</strong>baixo da pressão do<br />

capricho da guarda fiscal, que ámanhã<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir continuar nos abusos que<br />

tão justamente levantaram a indignação<br />

<strong>de</strong> toda a classe commercial.<br />

Sabemos que o digno presi<strong>de</strong>nte da<br />

Associação Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> não<br />

tem <strong>de</strong>scurado este assumplo, tendo instado<br />

com o sr. governador civil no sentido<br />

<strong>de</strong> ver termiuada a favor <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

esla grave questão."<br />

magistério primário<br />

Como dissemos em o n.° 36 do nosso<br />

jornal, começaram no dia 21 do mez lindo<br />

as provas praticas dos seis candidatos<br />

que se propunham obter diploma <strong>de</strong> habilitação<br />

para o magistério primário, ficando<br />

todos approvados.<br />

Em seguida começaram as provas<br />

escriptas das cinco candidatas, as quaes<br />

foram admittidas ás provas oraes e pra^<br />

Ucas, terminando estas no dia 2 do correnie<br />

com a approvaçâo <strong>de</strong> todas.<br />

listão, pois, habilitados, para exercer<br />

essa diílial quanto melindrosa e mal remunerada<br />

profissão <strong>de</strong> educadores da<br />

mocida<strong>de</strong>, mais onze martyfes que irão<br />

<strong>de</strong>rramar a luz do espirito por outras<br />

tantas al<strong>de</strong>ias, on<strong>de</strong> as trevas da ignorância<br />

occultam ainda com bastante intensida<strong>de</strong><br />

os direitos e obrigações<br />

que todo o homem tem perante a patria<br />

e a socieda<strong>de</strong>.<br />

Que vão e que saibam cumprir os<br />

seus <strong>de</strong>veres, porque em breve raiará o<br />

dia <strong>de</strong> gloria para a escola popular,<br />

aclualmeute tão <strong>de</strong>sprezada pelos governos<br />

vigentes. Serão então felizes.<br />

Os nomes dos novéis professores,<br />

com a classificação dos seus diplomas,<br />

são os seguintes:<br />

SEXO FEMININO<br />

D. Maria Eduarda da Encarnação<br />

bom, com 7 valores; D. Maria'Laura<br />

d'Oliveira — i<strong>de</strong>m; D. Maria <strong>de</strong> Nazareth<br />

Nohre — i<strong>de</strong>m; D. Maria <strong>de</strong> Jesus<br />

Aguiar Pereira Frazão — i<strong>de</strong>m ; D. Augusta<br />

da Couceição da Silveira Sarmeuto<br />

Trovão — sufficiente, com 6 valores.<br />

SEXO MASCULINO<br />

Manoel Gonçalves Margalhau—bom,<br />

com 7 valores; Manoel Luiz Júnior—<br />

i<strong>de</strong>m; Alexandre Magno <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

—i<strong>de</strong>m; Luiz <strong>de</strong> Figueiredo Correia Pinte<br />

— i<strong>de</strong>m ; Anthéro Pereira <strong>de</strong> Moura —<br />

sufficiente, com 6 valores; Carlos Gomes<br />

das Neves Ribeiro — i<strong>de</strong>m.<br />

Acabamos <strong>de</strong> saber que foi admittido<br />

á ultima hora, por or<strong>de</strong>m do governo,<br />

um candidato a quem a Camara <strong>de</strong> Agueda<br />

não quiz passar a tempo competente um<br />

documento necessário. As provas escriptas<br />

<strong>de</strong>ste candidato são na próxima<br />

segunda feira.<br />

Ciymitasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Proseguem os trabalhos para o proximo<br />

sarau, que brevemente vae ser dado,<br />

em beneficio do cofre d'esta utilíssima<br />

agremiação.<br />

Espancamento<br />

Está <strong>de</strong> cama e dizem que perigosamente<br />

enfermo o sr. Antonio Veiga, que<br />

foi barbaramente espancado em uma noite<br />

d'estas por dois indivíduos que elle não<br />

conheceu,<br />

A' auctorida<strong>de</strong> cumpre averiguar o<br />

caso, punindo os malfeitores.<br />

Recenseamento eleitoral<br />

O partido republicano da capital já<br />

encetou os seus trabalhos para o recenseamento<br />

dos cidadãos, que, déVèndo ser<br />

eleitores, se acham excluídos d'este direito.<br />

Em <strong>Coimbra</strong> vaé se proce<strong>de</strong>r da<br />

mesma forma e brevemente serãó nomeadas<br />

commi.Hsões para estes trabalho^nas<br />

respectivas freguezias.<br />

Augmento no pr*ço dos gen«<br />

ro«<br />

I 1 I li J » f<br />

Nos tachos d'esta cida<strong>de</strong> o preço do<br />

carneiro augnientou 20 réis em cada<br />

IITO.<br />

Explica-se este augmento pela razão<br />

da fiscalisação ser rigorosa, e ler-se regeitado<br />

muito gado lanígero.<br />

Exercício <strong>de</strong> bombeiros<br />

Realisou-se, como estava annunciado,<br />

o exercício geral da Real Corporação <strong>de</strong><br />

Salvação Publica.<br />

Os trabalhos correram bem e as mauobras<br />

foram executadas com presteza e<br />

agilida<strong>de</strong>.<br />

Dislinguiu-se o segundo commandante,<br />

sr. Jose Pedro <strong>de</strong> Jesus, concorrendo<br />

o restante pessoal para o bom exilo dos<br />

trabalhos.<br />

Neste exercício fez-se representar a<br />

corporação dos bombeiros municipaes.<br />

Dois bombeiros voluntários do Porto,<br />

que tem estado nesta cida<strong>de</strong> para a instrucção<br />

dos bombeiros reaes, dirigiram<br />

as manobras.<br />

A cooperativa da pharmacia<br />

Reúne hoje em assembleia geral para<br />

tratar d'este e outros assumptos a Associação<br />

conimbricense do sexo femenino<br />

e. o Monte-pio conimbricense.<br />

Em ambas estas socieda<strong>de</strong>s será apresentada<br />

a proposta e relatorio da Associação<br />

dos Artistas, que promove a creação<br />

d'uma botica por conta das associações<br />

<strong>de</strong> soccorros mutuos.<br />

r«-«<br />

Obra d'arte S í<br />

. I - 1 - .. .. < ( V<br />

O sr. Estevão Parada, que com superior<br />

inteiligencia está dirigindo as obras<br />

<strong>de</strong> reparação ua egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />

conta principiar o assentamento do arco<br />

cruzeiro no dia 9 do<br />

Esta obra <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluída será<br />

mais uma prova da compelencra (Peste<br />

nosso amigo que tem empregado os melhores<br />

esforços naquelles trabalhos.<br />

Laranja<br />

Íí'Talsá a noticia d'um jornal <strong>de</strong> Lisboa<br />

que dava já comprada toda a laranja<br />

d'este concelho.<br />

Sabemos que ha ainda muitos pomares<br />

<strong>de</strong> laranja para ven<strong>de</strong>r, sem que os<br />

seus proprietários recebessem propostas<br />

para compras; um d'elíes é o sr. José<br />

Maria <strong>de</strong> Seiça Ferrer,-que possue um<br />

dos melhores pomares d'este concelho e<br />

que obteve este a no o uma cqlheita ab'un><br />

dantissima.<br />

Trabalho» agrícolas<br />

A producção <strong>de</strong> azeitona no nosso<br />

concelho tem sido fértil, continuando as<br />

fundadas esperanças d'uma boa safra.<br />

O azeite por este motivo continúa a<br />

<strong>de</strong>scer <strong>de</strong> preço, porque realmente a presente<br />

colheita é abundantíssima.<br />

EdiflcaçSes<br />

Felizmente' pára a classe operária<br />

conimbricense continuam a jjetivar-se as<br />

con-trucções <strong>de</strong> prédios nos diversos<br />

pontos da cida<strong>de</strong>.<br />

Na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz os prédios<br />

a constr.uir são bastantes e dizem-nos<br />

que vão ser edificados outros na Estrada<br />

da Reira, on<strong>de</strong> ha ainda terrenos a ven<strong>de</strong>r.<br />

: , . . . ,<br />

Dizetn-nos qué iTtn (friijio <strong>de</strong> • -maao- aV<br />

VBVII gymnasio<br />

res promove a cre.aç^o d'u.m novo gym<br />

nasio, que se <strong>de</strong>stina somente a exercícios<br />

<strong>de</strong> jogos ao ar livre.<br />

Juros das inseripçSes<br />

Na agencia do banco <strong>de</strong> Portugal já<br />

se faz o pagamento dos juros das inscripções,<br />

correspon<strong>de</strong>nte ao segundo semestre<br />

do presente anno.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Noticiam os jornaes <strong>de</strong> Lisboa que o<br />

governo não auctorisa o <strong>de</strong>sdobramento<br />

do ensino em diversas ca<strong>de</strong>iras, pedido<br />

pela reitoria.<br />

* Estão marcados Os dias 15 a 1G<br />

do corrente para a <strong>de</strong>feza <strong>de</strong> llieses e<br />

argumentação sobre a dissertação do licenciado<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, sr.<br />

Antonio Luiz Gpnies.<br />

A dissertado já está impressa e intitula<br />

sp.:p—Ociosida<strong>de</strong>, vagabundagem e<br />

mendicida<strong>de</strong>.<br />

São arguentes os srs. drs. Manoel<br />

Geral<strong>de</strong>s, Emygdio Garcia, Fernan<strong>de</strong>s<br />

Vaz, Guimaras Pedrosa, Fre<strong>de</strong>rico Laranjo,<br />

Dias-d« Silva, Henriques da Silva,<br />

.e^««}U)erm4>Moreif&X V '- V—'<br />

A ceremonia do capello <strong>de</strong>verá realisar-se<br />

no dia 18 do corrente.<br />

Hegimeitto a »*f 3<br />

St xu 0£<br />

Anresentaram-se. ultimamente neste<br />

corpo militar 144 recrutas. Ja prestaram<br />

Equitaffto<br />

fim JfiJrtB^<br />

O sr. Francisco Simões Serra, coadjuvado<br />

por alguns amadores trabalham nq<br />

sentido <strong>de</strong> estabelecerem nesta cida<strong>de</strong><br />

um instituto para ensino d'equitação.<br />

A couipetencia do sr. Serra é sobeja<br />

garantia {wjf-fl* que <strong>de</strong>sejarem apren<strong>de</strong>r,<br />

tantq mais que nós informam que a quota<br />

mensái è <strong>de</strong> prèço relatíliíeritè diminuto.<br />

-<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

E' na quinta feira na egreja <strong>de</strong> Santa<br />

efflf á festivida<strong>de</strong> a Nossa Senhora da<br />

Conceição, que como <strong>de</strong> «ostunie se celebrará<br />

com gran<strong>de</strong> pompa.<br />

Industria dos palitos<br />

EÍsíá-se <strong>de</strong>senvolvendo muito em Lorvão,<br />

a industria dos palitos, porisso que<br />

além do consumo interno tem augmentado<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente a exportação para<br />

o extrangeiro, especialmente para a Ame-<br />

ritttíh «rol»», «o n«q OH;!'»'» .<br />

Os industriaes d'esle artigo, nesta cida<strong>de</strong>,<br />

facilmente obtém venda dos seus<br />

producMs, que em gran<strong>de</strong> parte são exportados<br />

para diverses potitos <strong>de</strong> Hespanha<br />

e Brazil.<br />

Quirino Gil Carneiro<br />

Falleceu na capital esle <strong>de</strong>votado republicano,<br />

que;foi dos mais firmes batalhaáores<br />

x dò nosso i<strong>de</strong>al.<br />

A sua, penda é <strong>de</strong>parada por todo o<br />

partido republicano e inuit > especialmente<br />

pòr lodos aquelas que <strong>de</strong> pérto Hie-conheciam<br />

as virtu<strong>de</strong>s.<br />

Sentimos profundamente.<br />

—<br />

«O Século XX»<br />

Sob este" titulo recebemos o primeiro<br />

numero d'um jornal que começou a publicar-se<br />

na capital, que dizem ser redigido<br />

pelos srs. Carlos <strong>de</strong> Mello e Nobre<br />

França.<br />

O novo collega sae agora tri-semanalmenle,<br />

mas promette começar a sahir<br />

diário em janeiro proximo.<br />

Da sua apresentação respigamos :<br />

«A nossa politica será puramente<br />

<strong>de</strong>mocraliea, não <strong>de</strong> alguma classe ou<br />

parúdo dominante, mas sim a da nação<br />

labõriòSK, na qual resiafm as forças vivas.<br />

Por isso, nao serviremos a Deus e<br />

a Sataaaz,. isjq é, a burocracia, enlhronisada<br />

ou os interesses dominantes, e ao<br />

mesmo "lémpo o povo e a <strong>de</strong>mocracia<br />

industrial.<br />

fPortanto, a nossa politica será por<br />

emquanto evolutiva, consistindo especialmente<br />

em atacar a corrupção publica e<br />

a <strong>de</strong>pravação dos sentimentos etosiumes.»<br />

Longa vida ao novo collega.<br />

A população <strong>de</strong> Portugal<br />

Segundo o «Movimento do Estado<br />

Civil», que acaba <strong>de</strong> ser publicado pelo<br />

ministério das obras publicas, referente<br />

a 1888, o numero dos nascimentos no<br />

continente e ilhas adjacentes foi, naquelle<br />

anno, <strong>de</strong> 163:981, sendo 83:174 do<br />

sexo masculino e 78:807 do feminino,<br />

o que dá a percentagem <strong>de</strong> 36,03 por<br />

1:000 habitantes. Em media nasceram<br />

por mez 13:665 pessoas- e por dia 449.<br />

O districto on<strong>de</strong>, em relação á população,<br />

mais avultou o numero <strong>de</strong> nascimentos,<br />

foi o <strong>de</strong> Faro; seguem-se por<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescehte os dislrictôs do Porto,<br />

Castello Branco, Rraga e Funchal.<br />

Casamentos:<br />

O numero apurado dos casamentos<br />

celebrados naquelle anno é <strong>de</strong> 33:961,<br />

o que representa a percentagem <strong>de</strong> 7,46<br />

por 1:000 habitantes. Em média realisararo-se<br />

por mez 2:830 casaméntos epor<br />

dia 93. O districto que lornece mais<br />

Relevada percentagem <strong>de</strong> casamentos, em<br />

relação á sua população, é o <strong>de</strong> Leiria ;<br />

seguem-se-lhe immediatamente por or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>crescente os dislrictôs <strong>de</strong> Santarém,<br />

Faro, Porto, Reja, Castello Branco<br />

e Funchal.<br />

Óbitos: c. j ;it»':<br />

Os lobitos no mesmo anno elevaramse<br />

a l07:4â5, o que dá a percentagem<br />

<strong>de</strong> 23,61 por 1:000 habitantes. A mortalida<strong>de</strong><br />

distribue-se por 52:467 varões,<br />

fr 49:990 femeas. Em-média falleceram<br />

pnr mez 8:952,92 pessoas, e por dia<br />

294,34. Os districtos que, em relação á<br />

sua população, mais largamente- contribuem<br />

para o ..quadro <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> são,<br />

por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, Porto, Bragança,<br />

LisBõa, CasfêTTo Branco, Angra do Heroísmo<br />

e Villa-Real. !<br />

Eiffigração": • 8 *<br />

A emigração attingiu o elevado numero<br />

<strong>de</strong> 23:981. Des<strong>de</strong> 1873 até então<br />

nunca ella fprneçera tão avultado contingente<br />

<strong>de</strong> emigrantes. São- os dislrictôs<br />

insulanos, mormente os do Funchal e Ponta<br />

Delgada, que mais largamente colaboraram<br />

no movimçnto geral da emigração<br />

portugueza. No continente são as províncias<br />

da Reira Alta, Minho e Traz-os-<br />

Montes, on<strong>de</strong> mais intensa se mantém a<br />

corrente da emigração. Os districtos <strong>de</strong><br />

Castello Rranco, Évora, Portalegre, Santarém,<br />

Reja e Faro forneceram percentagem<br />

insignificante.<br />

Que infamia I „<br />

Consta que «e pensa em abafar o<br />

caso sujo <strong>de</strong> um sacerdote que foi encontrado<br />

na Avenida da Liberda<strong>de</strong>, em<br />

Lisboá, praticando actos immoraes com<br />

um rapaz.<br />

Mais consta que serão castigados os<br />

guardas que o pren<strong>de</strong>ram em flagrante<br />

<strong>de</strong>licio.<br />

Não admira, todos os criminosos e<br />

todos os ladrões altamente collocados<br />

costumam sair impunes; e a justiça só é<br />

recta para os pequenos criminosos.<br />

Os homens que combatem este por*<br />

co systema é que encontram sempre a<br />

perseguição das auctorida<strong>de</strong>s e soffrem<br />

os rigores das leis. bOíTIHi<br />

j m i Í)8-obRIRJ / JY IQ u c q MÍJ<br />

A Liga Libera|u[> í;tr;<br />

Na Liga Liberal vão seguir as conferencias<br />

inauguradas pelo sr. Augusto<br />

Fuschini.<br />

No dia 10 do corrente discutirá o<br />

sr. Gomes da Silva, sendo o thema da<br />

prelecção — Direito <strong>de</strong> reunião e liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa. Propaganda scièntifica e<br />

politica pela palavra escripta e oral.<br />

Era 15 realisar-se-ha outra conferencia,<br />

tóinando a palavra e sr. lenenle-coroner<br />

Duarte Fava, sobre o lhema: — O<br />

exercito e a politica.<br />

Em 28, o sr. Augusto Fuschini realisará<br />

nova conferencia, tomando por assumpto<br />

: A reforma eleitoral — Vantagens<br />

do suffragio universal.<br />

A partir <strong>de</strong> janeiro as conferencias<br />

serão mais repelidas, versando sobre os<br />

assumptos mais importantes da nossa politica<br />

e administração <strong>de</strong> modo a concitarem<br />

o geral interesse do paiz.<br />

Estas prelecções serão tomadas como<br />

excellente elemento para o estudo e<br />

observação das condições politicas e sociaes<br />

em que nos encontramos.<br />

Eleições livres<br />

O <strong>de</strong>legado do procurador régio na<br />

Povoa <strong>de</strong> Varzim já respon<strong>de</strong>u no processo<br />

para a annulação da.ultima eleição<br />

camararia. Promove que se aunule a<br />

eleição, fundamentando largamente a sua<br />

promoção.<br />

A triplice alliança<br />

Dizem <strong>de</strong> Paris que Le Journal, folha<br />

dirigida por Ferdinand Xau, publicou<br />

hontem um documento, que elle diz ser<br />

á traducção litleral do tratado <strong>de</strong> renovação<br />

da triplice alliança. No artigo 4.°<br />

d'este tratado a Áustria e a Allemanha<br />

feConhecem <strong>de</strong>finitivamente o direito e<br />

a situação politica <strong>de</strong> Roma como capital<br />

da Ilalia. O artigo 7.° regula as condições<br />

da cooperação dos alliados no caso<br />

<strong>de</strong> guerra entre a Allemanha e a Rússia:<br />

os italianos mobilisam um exercito na<br />

fronteira franceza, e <strong>de</strong>claram a guerra,<br />

se a França se <strong>de</strong>clarar a favor da Rússia;<br />

se, porém, o conflicto rebentar en-í<br />

ire a Ilalia e França, a Allemanha proce<strong>de</strong><br />

nas mesmas condições. Os outros<br />

artigos sancciouam a alliança <strong>de</strong>fensiva,<br />

a qual se tprnará, comludo, offensiva em<br />

certos casofc <strong>de</strong> perigo.<br />

A GRANEL<br />

Foram <strong>de</strong>clarados infeccionados <strong>de</strong><br />

cholera morbus todos o* portos francezes<br />

do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Morbian.<br />

* " # O mar volta a fazer gran<strong>de</strong>s<br />

e»tragos na povoação <strong>de</strong> Espinho.<br />

Agora é a parte sul da praia a invadida<br />

e talvez, com mais perigo para a parte<br />

mo<strong>de</strong>rna das construcções, do que foi a<br />

iqyasão pelo norte.<br />

* * * A colheita do tabaco na região<br />

do Douro, foi superior á do anno<br />

passado.<br />

* * # Em Lisboa estão cerca <strong>de</strong><br />

4:000 prédios com escriptos. Os senhorios<br />

tem baixado as rendas.<br />

foi consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> gala.<br />

* * # O conselho do almirantado<br />

vae mandar coilocar dois focos luminosos<br />

no porto <strong>de</strong> Leixões.<br />

* * * Ha dias fugiram do prejidio<br />

militar <strong>de</strong> Vizeu os presos que alli se<br />

achavam <strong>de</strong>tidos.<br />

* * # Vae ser creada em Celorico<br />

da Beira uma conservatória.<br />

* * * Em Braga vae encetar a<br />

publicação um novo semanario republicano;<br />

inlitular-se-ha A Lucta.<br />

* * * Na segunda feira, Lisboa terá<br />

a visita do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris.<br />

Vem <strong>de</strong> Southampton. Como <strong>de</strong> costume,<br />

vem por terra, por não lhe <strong>de</strong>ixarem<br />

atravessar a França.<br />

* * # Na freguezia do Carvalhal,<br />

concelho <strong>de</strong> Pinhel, praticou'-se um crime<br />

que vae ser punido pelas respectivas<br />

auctorida<strong>de</strong>s.<br />

Um sujeito zangou-se com a mulher,<br />

e <strong>de</strong>u-lhe uma bofetada, mas com tanta<br />

força que ella. caiti, e não mais se levantótt.<br />

Praticado o <strong>de</strong>licto, o cruel marido<br />

foi apresehtar-se á auctorida<strong>de</strong>.<br />

Os médicos municipaes que autopsiaram<br />

a mulher, <strong>de</strong>clararam que ella, <strong>de</strong><br />

organisaÇão lymphatica, tinha succumbido<br />

a uma çommoção cerebral.<br />

* * * A commissão revisora das<br />

pautas aduaneiras recebeu uma representação<br />

da Associacão dos ourives do Porto,<br />

pedindo que sejam mantidas as actuaes<br />

taxas <strong>de</strong> direitos sobre os productos <strong>de</strong><br />

ourivesaria.<br />

* * * Foi <strong>de</strong>clarado infeccionado <strong>de</strong><br />

cholera morbus o porto <strong>de</strong> Marselha.<br />

* * * Telegrapham <strong>de</strong> Madrid estar<br />

terminada por agora a crise ministerial.<br />

Os partidos monarchicos resolveram não<br />

levautar embaraços ao governo, antes da<br />

abertura do parlamento.<br />

* * * As receitas da Companhia<br />

real dos caminhos <strong>de</strong> ferro na semana<br />

finda foi <strong>de</strong> 57:287^000 réis.<br />

* * # Foi acommettida d'uma syncope<br />

na praça da Alegria em Lisboa a<br />

sr. a D. Angelina Vidal, que felizmente<br />

não se aggravou.<br />

Coisas e loisas<br />

Entre padrinho e afilhado:<br />

—Com quem estudas inglez, meu rapaz?<br />

—Com o Dr. X.<br />

—E é bom professor, quero dizer, já<br />

habilitou alguém para exame?<br />

—Já sim, senhor; habilitou o anno<br />

passado 4 rapazes que ficaram reprovados.<br />

Numa casa <strong>de</strong> campo, no verão.<br />

Calino escreve a Um personagem importante<br />

e junta á carta este póst-scriptum<br />

:<br />

aRogo-lhe se sirva <strong>de</strong>sculpar-me <strong>de</strong><br />

eu lhe estar escrevendo em mangas <strong>de</strong><br />

camisa, mas é que aqui faz um calor <strong>de</strong><br />

rachar.»<br />

Desgarradas<br />

Oh! que rua tão escura<br />

Não vejo nada por ella,<br />

Bem po<strong>de</strong>s tu oh menina<br />

Pôr can<strong>de</strong>iat d janella.


I<br />

A X X © I —X.» I O O D E F E N S O R D O P O V O 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> ft SOS<br />

OTIITiOS<br />

PAltA<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e ni-<br />

.ti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

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1VVEIOPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapi-<br />

1 Typ. Operaria<br />

THEATIIO S). LUIZ<br />

Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

Recita em beneAeto<br />

<strong>de</strong> José Maria «('Azevedo<br />

Em cpie tomam parle por especial<br />

obsequio os ex." 8 srs. Luiz da Gama,<br />

Nogueira Pinto Ereio, F. Lucas, a ex. ma<br />

sr. a D. Maria da Luz Velloso, e a banda<br />

do regimento <strong>de</strong> infanteria 23.<br />

Uma comedia em um acto" pelos ex. 00<br />

srs. Luiz da Gama, Nogueira Pinto<br />

Ereio, e pela ex. ma sr. a D. Maria da<br />

luz Velloso.<br />

Uma cançoneta pelo ex. m0 sr. Luiz da<br />

Gama.<br />

Uma comedia em um acto pelos ex. mos<br />

srs. Pinto Ereio, F. Lucas e D. Ma-,<br />

ria da Luz Velloso.<br />

Um numero <strong>de</strong> musica pela banda regimental.<br />

L I V R O S<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

um exemplar.<br />

HISTOISIA DEP0RTLG4L<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Sehcefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemão<br />

!• POR ibOift U<br />

F. <strong>de</strong> Assis L o p e s<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

POR<br />

J. mim DE SAMPAIO (BUM)<br />

Edição completa por um corpo d»<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

entre outros eminentes collttboradorés,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis do<br />

Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio TelLes, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicnçãa semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porta, 100<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriplorio da empreza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

D E G R A Ç A<br />

A RIR — É èsle o titulo <strong>de</strong> um<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />

publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

modiea quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> ÍOO bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão, enviados, gratuitamente, catalogas<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-sc uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

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á Couraça <strong>de</strong> Lisboa, 32.<br />

EMPREGADO<br />

„, Ita rua <strong>de</strong> Ferreira Bor-<br />

04 1\ ges n. 0 ' 128-130, se diz<br />

quem precisa d'um que esteja apto para<br />

a escripta.<br />

Vinho fvladuro do Douro<br />

e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />

SUPERIOR QUALIDADE<br />

51 lfe»»<strong>de</strong>-«e na mercearia Ave-<br />

W nida.—Largo do Principe<br />

D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 —<strong>Coimbra</strong>.<br />

64 Commoda e oratorio<br />

<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />

rua dos Sapateiros, n." 20<br />

a 24.<br />

TRKSPASSA-SE<br />

fim estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />

<strong>47</strong><br />

U zendas, quinquilherias e mercearias,<br />

bem afreguezado e no melhor<br />

local <strong>de</strong> Pombal, por seu dono não o<br />

po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />

a S. B. F. — Pombal.<br />

DA FABííIC<br />

DE<br />

mmm<br />

Aos srs. lavradores<br />

„. S mana <strong>de</strong> purgueira é<br />

m. sem duvida o adubo <strong>de</strong> mais<br />

reconhecida vantagem para as sementeiras<br />

dc trigo, milho, batata, fava, grão<br />

feijão e para adubar vinha, etc., etc-<br />

Em toda a Extremadura, parte do<br />

Alemtejo e Beira, é o adubo que melhores<br />

resultados tem dado em todas as<br />

culturas.<br />

Fornecem-no directamente da fabrica<br />

os agentes PERDIGÃO & TEIXEIRA—<br />

Rua das Fontainhas, 24 e 26 —Alcantara.<br />

53<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

 '<br />

uguato jVunem da« Santos,<br />

successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />

RUA DIREITA, 18— COIMBRA<br />

AO PUBLICO<br />

eelaro para os <strong>de</strong>vidos elíei-<br />

61<br />

tos, que o sr. Antonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />

n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892.<br />

Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />

AOS MESTRES DOBÍAS<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serra-<br />

Iheria e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

José da Gosta Soares, á<br />

rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia para tabiques e estuques<br />

a 7$000 réis o milheiro.<br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

2 jVrESTE Deposito regularmente montado, se acíia á venda, por<br />

L] junto e a retalho, lodos os produclos daquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

ESTABELECIMENTO<br />

mam DE!<br />

Dlí<br />

JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />

^ Meste estabelecimento encontra o comprador o que lia <strong>de</strong> mais<br />

mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />

Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />

Largo da Freiria, n. os I a 3<br />

COIMBRA<br />

ARTAZEg<br />

Prospectos<br />

e bilhetes<br />

<strong>de</strong> theatro<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

VISOS<br />

A LA V I L L O E PARIS<br />

PARA<br />

Leilões,<br />

casas<br />

corcmerciaes, etc.<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Coroas e Flores<br />

I P . D E L P O R T<br />

2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251— Porto<br />

CASA FILIAL EM LISBOA: RDA DO PRÍNCIPE I PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />

Único representante nesta cida<strong>de</strong> :<br />

J0&0 BQDBIOSES WM, SDCCBSSDR<br />

17—ADRO DE CIMA —20<br />

TIJVTliRARIA i P, J, t. CAIMNAC<br />

14, Largo d'Annunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />

ANTONIO JOSÉ 11MOUSA BASTO—SUA SOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />

OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />

l i S T I H P . l H I l H I 5 C H A \ I C A<br />

Q ^P inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como ftrto<br />

1 feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />

vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> 13, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> 15, limpos por este processo nao estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

Tintas para escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, altemães e francezes. Preços Inferiores.<br />

<strong>Coimbra</strong>,<br />

fonso, 61<br />

COMPOSTO DE ROSA<br />

- •<br />

; . . . .. .. ijr.ji . I „ ' . , . | V I<br />

5 E" ®*® xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />

Eá quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />

peito. Foi ensaiado com óptimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 atlestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia Rosas & Yiegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />

Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>-<br />

65.<br />

P O S T O M E D I C O<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

(Arco d'Almedina)<br />

ANTONIO DA SILVA PONTES<br />

Aonaultas das 12 horas ás<br />

U 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />

ás 9 da noite.<br />

Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser. procurado<br />

na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />

Apostoles, n.° 22.<br />

VENDA DE CASA<br />

58 lJen "*®-»e uma sita na Couraça<br />

W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />

tratar com José<br />

tello.<br />

Simões, largo do Cas-<br />

G A R R A F A S<br />

38 Antonio Dias Themido,<br />

compra garrafas brancas<br />

e pretas.<br />

Rua Ferreira Borges,<br />

129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />

ANTONIO VEIGA<br />

Latoeiro d amarello<br />

e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />

^ xecuta-se lodo o trabalho <strong>de</strong><br />

Et carimbos em todos os gene<br />

ros, sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />

— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />

banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />

para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />

metal em chapa, fundição e torneiro,<br />

amarella e branca. — Prateia-se lodo o<br />

objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS B DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

KDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNÀT0RA<br />

Com estampilha<br />

Anno<br />

Semestre....<br />

-Trimestre...<br />

(PAOA ADIANTADA)<br />

21703<br />

1^<strong>35</strong>0<br />

630<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2^400<br />

Semestre.... íjaOO<br />

Trimestre... 600


Os <strong>de</strong>tractores da França<br />

Já agora tem corrido por esse<br />

paiz além, impellida pela voz <strong>de</strong>sauctorisada<br />

d'umà parte <strong>de</strong> certa imprensa,<br />

uma corrente monarchista<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>precração da florescente Republica<br />

Franceza, corrente que já é<br />

tempo <strong>de</strong> sustar e repeilir.<br />

Agarrando pelos cabellos a occasião<br />

que se lhes apresenta, fornecida<br />

pela questão do Panamá, <strong>de</strong> attribuirem<br />

ás instituições republicanas<br />

da França tudo o que <strong>de</strong> immoral e<br />

<strong>de</strong>shonesto possa haver em tal questão,<br />

aquelles jornalistas <strong>de</strong> politiquices,<br />

d'envolta com outros politiqueiros<br />

que nem são jornalistas, dão-se<br />

palmas mutuamente e exultam <strong>de</strong><br />

jubilo pela tina manifestação do seu<br />

tacto politico, vendo que se lhes<br />

apresenta agora azado ensejo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struírem radicalmente a base fundamental<br />

das republicas, atacando-as<br />

no principio que lhes sei>ve <strong>de</strong> fundamento—<br />

a moralida<strong>de</strong>. E mettendo-se<br />

abertamente pelo caminho que<br />

se lhes <strong>de</strong>para, que elles julgam <strong>de</strong>simpedido<br />

e franco, mas que não passa<br />

<strong>de</strong> estreita vereda, atiram-se uns aos<br />

princípios republicanos com uma<br />

<strong>de</strong>scomposta fúria <strong>de</strong> energúmenos,<br />

outros ficam-se chorando lamentações<br />

hypocritas sobre o <strong>de</strong>svirtuamento<br />

d um paiz que tão respeitável<br />

se tem mostrado, lamentações que<br />

são lagrimas <strong>de</strong> crocodilo.<br />

Coitados, como uns e outros se<br />

enganam! Na sua ancia <strong>de</strong> <strong>de</strong>struírem<br />

o que <strong>de</strong> sua natureza é firme<br />

e inabalavel, não veerrl que as suas<br />

cóleras postiças embatem e recuam<br />

na firmeza dos princípios-republicanos<br />

como a fúria das ventanias embate<br />

e se quebra contra as quinas<br />

d\ima fortaleza. Nem a hombrida<strong>de</strong><br />

honesta da Republica Franceza po<strong>de</strong><br />

softrer com a questão do Panamá,<br />

antes só po<strong>de</strong> robustecer-se e radicar-se,<br />

nem a firmeza dos princípios<br />

republicanos po<strong>de</strong> ser abalada com<br />

quaesquer questões menos dignas<br />

que nas republicas se suscitem.<br />

Em quaesquer socieda<strong>de</strong>s ha manifestações<br />

mais ou menos frequentes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>shonestida<strong>de</strong> e prevarição,<br />

em todas ellas ha quem anteponha<br />

interesses particulares aos princípios<br />

do <strong>de</strong>ver e da moral; mas só é digna<br />

do respeito e da consi<strong>de</strong>ração dos<br />

povos aquella que tem á sua frente<br />

um systema-politico, que leva <strong>de</strong>sassombradamente<br />

e sem consi<strong>de</strong>rações<br />

<strong>de</strong> especie alguma a justa punição<br />

aos que <strong>de</strong>linquem, seja qual fôr<br />

a sua esphera social.<br />

Admittido este principio, que não<br />

é susceptível <strong>de</strong> contestações serias,<br />

não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acceitar que<br />

os Estados que o observam e apregoam<br />

são os honestos e os justos.<br />

E a França republicana tem-o tomado<br />

como norma e critério.<br />

Se compararmos sob este ponto<br />

<strong>de</strong> vista, e este estudo é edificante e<br />

instructivo, o nosso paiz com aquelle<br />

que por ahi a cada passo se calumnia<br />

- agora — a França — o que vemos?<br />

Do nosso la'do encontramos —<br />

monstruosas iniquida<strong>de</strong>s, que ha largos<br />

annos florescem por esse paiz<br />

fóra; contractos escuros e ruinosos<br />

para o interesse geral, que teem locupletado<br />

diversos particulares; syndicatos<br />

immoraes e monopolios escandalosos,<br />

que toda a imprensa tem<br />

apontado; os redditos públicos esbanjados,'<br />

e o progresso material e<br />

moral paralysado; impostos vexatórios<br />

e intoleráveis e o <strong>de</strong>ficit a crescer<br />

d'um modo assustador; uma<br />

mercancia immoral <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações<br />

e dignida<strong>de</strong>s, que só <strong>de</strong>viam distinguir<br />

o valor e o mérito; e, a par <strong>de</strong><br />

tudo isto, tantas coisas <strong>de</strong>shonestas,<br />

tantas, que fazem escaldar <strong>de</strong> vergonha<br />

aquelles que vergonha teem-<br />

De todos os que teem trazido o<br />

nosso paiz á beira do <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

èm que está prestes a precipitar-se,<br />

se mãos potentes e salvadoras o não<br />

soccorrem — quaes são aquelles que<br />

se veem perseguidos pelo justo vilipendio<br />

que <strong>de</strong>ve perseguir os que,<br />

por incúria ou por má fé, administram<br />

mal o seu paiz ? Quaes são<br />

aquelles sobre quem tem pesado a<br />

severida<strong>de</strong> da justiça? Quaes?...<br />

Mas vamos á França; que encontramos<br />

ahi ?<br />

Abatida pelo tremendo <strong>de</strong>sastre<br />

<strong>de</strong> Sédan a que a levou o Império,<br />

vemol-a concentrar-se num esforço<br />

heroico <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, e, quando todos<br />

a suppunham ainda <strong>de</strong>batendose<br />

acabrunhada sob o peso enorme <strong>de</strong><br />

uma ruina tardiamente reparavel,<br />

paga á Prússia o pesadíssimo imposto<br />

<strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> novecentos mil contos<br />

<strong>de</strong> réis, imposto esmagador que,<br />

para a arruinar, a nação vencedora<br />

lhe impunha; no pequeno lapso <strong>de</strong><br />

vinte annos, á custa <strong>de</strong> uma sabia,<br />

pru<strong>de</strong>nte e honestíssima administração,<br />

levanta-se po<strong>de</strong>rosa e forte,<br />

respeitada e temida, e arremessa ás<br />

faces da Allemanha o glorioso certamen<br />

internacional, on<strong>de</strong> patenteia<br />

a todos os povos a exhuberancia da<br />

sua força e da sua riqueza material<br />

e intellectual; o seu po<strong>de</strong>r financeiro<br />

evi<strong>de</strong>nciou-o no tremendo krach que<br />

ha pouco abalou a orgulhosa Albion,<br />

emprestando ao Banco dlnglaterra<br />

copioso ouro para reforçar as suas<br />

reservas; o seu <strong>de</strong>senvolvimento industrial<br />

e artístico é ainda hoje inimitável;<br />

o que ella é como paiz on<strong>de</strong><br />

se respeita e acata a moralida<strong>de</strong>,<br />

attestou-o plenamente no processo<br />

Wilson, que está na memoria <strong>de</strong><br />

todos—por um leve <strong>de</strong>licto, comparado<br />

com os crimes e abusos do po<strong>de</strong>r<br />

que entre nós se teem praticado,<br />

con<strong>de</strong>mnou a Republica da França<br />

o genro do seu presi<strong>de</strong>nte, e o proprio<br />

presi<strong>de</strong>nte, o honradíssimo Grevy,<br />

se <strong>de</strong>mittiu.<br />

Depois d'isto, teem muita razão<br />

os que a accusam <strong>de</strong> immoralida<strong>de</strong>,<br />

muita!<br />

Não respon<strong>de</strong>mos a estes, que o<br />

não merecem; escrevemos para aquelles<br />

que alguma coisa po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r<br />

neste ligeiro confronto. »<br />

Franco Ascot.<br />

Perseguição politica<br />

Foi chamado a interrogatorios, no<br />

quartel <strong>de</strong> artiJheria 4, o sr. capitão Machado,<br />

que o governo vae processar por<br />

<strong>de</strong>licto <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />

0 sr. capitão Machado <strong>de</strong>clarou ser<br />

o auctor da representação dirigida ao rei<br />

e da carta dirigida aos eleitores das Caldas.<br />

Declarou mais que não retirava nenhuma<br />

das palavras escriptas.<br />

Vê-se por isto que o governo está<br />

disposto a perseguir o capitão Machado.<br />

Veremos em que islo pára.<br />

O coupon <strong>de</strong> janeiro<br />

Diz-se que têm encontrado sérios<br />

embaraços, em Paris, os srs. Abraham<br />

Bensau<strong>de</strong> e Mayer que foram encarregados,<br />

pelo nosso governo, <strong>de</strong> negociar um<br />

novo emprestimo, com os nossos credores<br />

e outros, para o pagamento do coupon<br />

<strong>de</strong> janeiro.<br />

A base das negociações é a transacção<br />

garantida por titulos portuguezes a<br />

20, com o augmento <strong>de</strong> garantia, se baixar<br />

a cotação.<br />

Apezar d'esla condição ainda não<br />

tem corrido favoravelmente as negociações<br />

1<br />

No paiz da militança<br />

Vão' ser nomeados dois ofliciaes do<br />

exercito para — advinhem I —para dirigir<br />

o serviço dos carteiros... e quatro<br />

sargentos para... fiscalisar esse serviço<br />

em Lisboa I...<br />

Que somos um paiz original atlestam-o<br />

estas extravaganciâs.<br />

PELOS JORNAES<br />

O Tempo, o orgão mais officioso do<br />

governo, ataca calorosamente a opposição<br />

^progressista.<br />

Retalhemos ao acaso alguns períodos<br />

que <strong>de</strong>vem ser archivados, tanto mais<br />

que o Tempo também foi orgão officioso<br />

das situações ministeriaes progressistas.<br />

Reza assim :<br />

«E com o ouro que elles <strong>de</strong>sbarataram<br />

que facílima empreza fazer o que<br />

elles fizeram I»<br />

Mais abaixo casca-lhes a valer:<br />

«Uma reforma a surgir-lhes do cérebro<br />

e um emprestimo a saltar togo<br />

nas costas do miserável paiz, que não<br />

merecia tão gran<strong>de</strong>s homens I As idéas<br />

a fuzillarem por um lado e o ouro logo<br />

a escorrer pelo outro I<br />

«Aquilio é que foi activida<strong>de</strong> I Ficou<br />

por um dinheirão o labôr d'aquellas<br />

ínclitas mioiúras, mas produziu coisas<br />

estupendas! Quanto mais elles davam<br />

á luz, mais o paiz se embrenhava nas<br />

sombras <strong>de</strong> uma crise medonha.»<br />

Inventariando as responsabilida<strong>de</strong>s<br />

do governo actual e cantando-lhe os seus<br />

feitos, <strong>de</strong>sata a gritar:<br />

«Nas <strong>de</strong>spezas extraordinarias simplesmente<br />

uma dimiuuição <strong>de</strong> <strong>de</strong>speza<br />

<strong>de</strong> quasi tres mil contos, e pagou dois<br />

coupons e ainda não contraiu nenhum<br />

emprestimo I»<br />

Tudo estará muito bem menos a contracção<br />

<strong>de</strong> nenhum emprestimo. A razão<br />

porque elle não contrahiu nenhum emprestimo,<br />

é obvia: é não ter quem lh'o<br />

faça.<br />

Todos se lembram <strong>de</strong> que a ruptura<br />

do convénio com os credores externos<br />

negociado em Paris pelo sr. Serpa Pimentel,<br />

foi causada por esses mesmos<br />

credores não quererem facilitar um novo<br />

emprestimo!<br />

Po<strong>de</strong> portanto o governo ter milhões<br />

<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que lhe sejam natas: mas<br />

essa virtu<strong>de</strong> que o Tempo proclama é-lhe<br />

forçada pelas circumstaheias.<br />

Ainda se <strong>de</strong>ve notar que se o governo<br />

ainda não contrahiu nenhum emprestimo,<br />

anda a ver se o consegue; e para<br />

isso lá traz por Paris os srs. Rensau<strong>de</strong><br />

e Mayer.<br />

No mesmo artigo do Tempo ha esta<br />

passagem que não nos passou <strong>de</strong>spercebida<br />

e que se refere ao governo:<br />

«. ..impõe-se intrepidamente um sa-<br />

- criflcio que nos salva da bancarrota...»<br />

Archivamos para ulteriores commentarios.<br />

De como em um mez se opera uma<br />

transformação psychologica no modo <strong>de</strong><br />

ver as cousas :<br />

Ahi pelo principio <strong>de</strong> novembro lemos<br />

sem assombro na Ban<strong>de</strong>ira Portugueza,<br />

nosso collega da capital :<br />

«Ao publico <strong>de</strong>sceu já a intima convicção<br />

<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro da monarchia é<br />

materialmente e moralmente impossível<br />

<strong>de</strong>struir as hervas damninhas e<br />

parasitarias que se enroscam em volta<br />

das actuaos instituições.<br />

«E' necessário que essas instituições<br />

<strong>de</strong>em logar a outras novas e limpas <strong>de</strong><br />

todo o musgo corroedor.»<br />

No n.° 370 do mesmo jornal, <strong>de</strong> 4<br />

do corrente mez, lemos com assombro :<br />

«Resta saber uma cousa, se <strong>de</strong>ntro<br />

do regimen actual se pô<strong>de</strong> fazer sem<br />

perigo para a coroa, umas eleições que<br />

exprimam genuinamente a vonta<strong>de</strong> popular.<br />

«Cremos que sim.<br />

«Os partidos teem mettido um susto<br />

enorme á coroa com o phautasma republicano.<br />

«Crêmos que, se as eleições fossem<br />

absolutamente livres e que todos os cidadãos<br />

cumprissem o seu <strong>de</strong>ver, os republicanos<br />

teriam é certo, uma rasoavel<br />

miuuria, no parlamento, mas a<br />

maioria seria esmagadoramente monarchica.»<br />

Ora... bolas I<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 77 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

Com uma emphase <strong>de</strong> palafreneiro<br />

quasi em competencia com o Sergio, a<br />

Reforma <strong>de</strong>sbocca este periodo :<br />

«As folhas jacobinas julgam-se no<br />

pleno direito <strong>de</strong> infamarem as instituições.»<br />

E mais abaixo :<br />

«Ora isto ha <strong>de</strong> acabar, porque os<br />

governos mais liberaes d'esta boa terra<br />

monarchica hão <strong>de</strong> pedir á França republicana,<br />

como emprestimo <strong>de</strong> valia,<br />

as suas leis <strong>de</strong> repressão contra os inimigos<br />

das instituições; hão <strong>de</strong> executadas<br />

ru<strong>de</strong>mente e pedir a cada um<br />

a responsabilida<strong>de</strong> dos compromissos<br />

contrabidos com o estado, que não tem<br />

obrigação <strong>de</strong> estipendiar os seus proprios<br />

inimigos.»<br />

O articulista tem a enorme <strong>de</strong>sfaçatez<br />

<strong>de</strong> nos ameaçar com a França, on<strong>de</strong><br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa está sob a alçada<br />

do jury 1<br />

Ameaçando a terra, o mar e o mundo,<br />

brada a Reforma, concluindo :<br />

«A França excluiu das fileiras do<br />

exercito os representantes <strong>de</strong> princípios<br />

políticos contrários á republica, e<br />

a muitos impoz o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> abandonarem<br />

o proprio território francez.<br />

«Também lá havemos <strong>de</strong> chegar,<br />

porque nos repugna esta transigência<br />

ignóbil dos governos, como nos cáusa<br />

asco a semeeremonia com que os catões<br />

do republicanismo se vão anichando<br />

nas dobradiças das secretarias, ou<br />

nas fileiras do exercito, recebendo do<br />

estado, a quem prometteram lealda<strong>de</strong>,<br />

os recursos para viver e para conspirar.<br />

«Isto ha <strong>de</strong> por força ter fim, e estamos<br />

seguros <strong>de</strong> que elle não se fará<br />

esperar muito.»<br />

Mas também pune os ladrões e por cá<br />

os da junta geral do Porto, o d'Evora, os<br />

banqueiros fraudulentos e os ministros<br />

<strong>de</strong>lapidadores gosam em paz a transigência<br />

ignóbil d


AWO I — J»j» £t O DEFEXSOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />

LETTRAS<br />

Um odio <strong>de</strong> mulher<br />

O meu amigo interrompeu-se para<br />

enxugar a fronte.<br />

— A tua inimiga não passava <strong>de</strong> uma<br />

coquette! disse-lhe rindo.<br />

— Coquetle, oh não. Quando a encontrava,<br />

via-a sempre simples no traje,<br />

indifferenle ás homenagens que o seu<br />

nome e uma certa graça eritiva lhe atlrahiam.<br />

Julgava-se que tinha vocação para<br />

o celibato, que queria ficar solteira.<br />

Num estio, em que estive a banhos<br />

em Dieppe, pensei que ia tornar-me muito<br />

apaixonado pela bella sr. a <strong>de</strong> Quepont.<br />

Nada <strong>de</strong> platónico me impellia para<br />

esta aventura ; mas o platonismo, na<br />

fórma, era <strong>de</strong> rigor; liz correctamente a<br />

minha corte; pensava que ia quasi a chegar<br />

ao fim, quando, um bello dia a sr a<br />

<strong>de</strong> Quepont riu a bom rir <strong>de</strong> mim e confessou-me<br />

que uma das suas amigas <strong>de</strong><br />

convento, Sephia B... na correspondência<br />

que costumavam trocar, me havia<br />

inscripto como o mais indiscreto dos homens.<br />

Ninguém se podia liar <strong>de</strong> mim.<br />

Então, esta insolente, esta inimiga,<br />

impedira-me <strong>de</strong> me casar e <strong>de</strong> ter uma<br />

amante.<br />

Era muito forte! Tinha furores indignos<br />

d'um homem galante. Tel-a-hia arranhado<br />

<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>. O seu pensamento<br />

tornara se uma obsessão que me<br />

impedia <strong>de</strong> trabalhar. Via-a em sonhos,<br />

com uma tesoura que lhe tinha dado,<br />

cortando por toda a parte os lios do meu<br />

<strong>de</strong>stino. De longe a longe, via-a em realida<strong>de</strong>,<br />

impossível, diminuindo como um<br />

cyrio; achava-a ainda encantadora...<br />

Teria querido encontral-a abominavel.<br />

Queres crer? resolvi expatriar-me.<br />

— Pobre louco ! exclamei eu, tu amaval-a<br />

!<br />

— Talvez! proseguiu o meu amigo;<br />

mas não tinha então consciência d'este<br />

amor, era <strong>de</strong> boa fé que a odiava. Piz<br />

varias visitas ao ministério das obras publicas<br />

para ver se obtinha uma missão,<br />

um estudo numa das províncias mineiras.<br />

Pensei que d'esta vez a menina Sophia<br />

não podia intervir. Ella, porém, soube<br />

d'estas visitas, o secretario do ministro<br />

era ainda o marido d'uma <strong>de</strong> suas amigas.<br />

Que disse ella? ignoro-o; mas teria<br />

a certeza que, mais esta vez ainda, me<br />

havia vencido.<br />

Resolvera pôr termo a isto quer á<br />

custa <strong>de</strong> um escandalo, ou <strong>de</strong> um passo<br />

abominavel. Não sabia como. O acaso<br />

forneceu-me a occasião <strong>de</strong>sejada Foi<br />

precisamente num baile dado no ministério<br />

das obras publicas, on<strong>de</strong> precisaram<br />

<strong>de</strong> mim como walsista e não como<br />

engenheiro. Trouxera-me alli a ociosida<strong>de</strong>,<br />

o enfado, ou a fatalida<strong>de</strong>, se tu queres.<br />

Logo que cheguei vi Sophia B...<br />

com sua mãe, fui direito a estas senhoras<br />

e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um cumprimento correcto,<br />

convi<strong>de</strong>i Sophia para dançar. Devia<br />

ter um aspecto terrível; franzia as sobrancelhas.<br />

Não linha o menor <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

dançar; estava persuadido que Sophia se<br />

recusaria, tomaria este protesto para provocar<br />

uma explicação <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong> sua<br />

mãe. Sophia acceitou, quasi alegremente<br />

: offereci-lhe o braço, e aífastamonos.<br />

— Quer dançar?—perguntei lhe seccnmente,<br />

quando estavamos no meio dos<br />

walsistas.<br />

— Não, respon<strong>de</strong>ume no mesmo<br />

tom.<br />

— Sim, é melhor.<br />

Fomos, <strong>de</strong> braço dado, os dois corações<br />

batendo <strong>de</strong> cólera, até um pequeno<br />

salão, um boudoir, on<strong>de</strong> estivessemos<br />

sós... Ella sentou se, eu conservei-me<br />

<strong>de</strong> pé. Já tiveste alguma explicação seria,<br />

cheia <strong>de</strong> odios, com alguma mulher?<br />

Devias, neste caso, perceber quanto é<br />

necessário para que o homem guar<strong>de</strong> a<br />

sua superiorida<strong>de</strong>, a sua segurança, o<br />

seu direito absoluto, que não contemple<br />

fixamente o seu adversario feminino<br />

E' tão penoso tentar fallar a uma mulher<br />

como se faltaria a um homem ! Se a vemos<br />

empalli<strong>de</strong>cer, corar, irritar, protestar<br />

ou supplicar, po<strong>de</strong>mos dizer a<strong>de</strong>us á<br />

rethorica, á exprobação, ao anathema !<br />

Comecei, pois, ou abaixando os olhos ou<br />

levantando-os para a contemplar a explicação<br />

projectada. Confessava o meu espanto,<br />

a minha indignação.<br />

Sophia guarda ainda o rancor dos<br />

gracejos d'outrora? Não comprehen<strong>de</strong><br />

que este papel é cruel, que me é impossível<br />

punil-a como puniria um homem?<br />

Eateruecia-me ao dizer isto; evi<strong>de</strong>nciava<br />

que não possuía o mais leve odio. Sobre<br />

tudo pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> a confundir (iz-lhe o<br />

seu retrato como <strong>de</strong>sejaria tVl-o feito antes.<br />

Descrevia sorri<strong>de</strong>nte, alegre, amante,<br />

encantandora com lodo o seu espirito<br />

adoravel em toda a sua belleza. Ah!<br />

esta Sophia como a teria respeitado...'<br />

amado!<br />

Ousei contemplai a, quando senti os<br />

olhos cheios <strong>de</strong> lagrimas. Então, meu<br />

amigo, calcula o meu espanto. A Sophia<br />

que havia doscripto estava diante <strong>de</strong><br />

mim, um sorisso sublime nos lábios, um<br />

brilho divino nos olhos; chorava, também<br />

e estendia me as mãos.<br />

— Em fim ! disse ella suspirando e<br />

levantou se.<br />

Recebia-a em nieus braços. Triumpho,<br />

meu caro! Tu tens razão, as mulheres<br />

não o<strong>de</strong>iam, muitas vezes lingem<br />

odiar, para terem um obstáculo para nos<br />

nâo amar. Ella própria o contou com<br />

uma candura adoravel.<br />

— Quando percebi que o amava, disse-nie<br />

ella, tive mais receio <strong>de</strong> mim que<br />

do senhor; sim quaudo nos divertíamos<br />

com jogos <strong>de</strong> prendas, amava-o, e arranheÍ-0<br />

até fazer sangue, com medo <strong>de</strong><br />

me enleiar'no seu pescoço! agora cahi<br />

no laço que armei! Ah I a sua tesourinha<br />

tenho a guardada. Quantas vezes não<br />

tentei servir-me d'e11n para abrir as Veias,<br />

para me matar, quando me dominavam<br />

os arrebatamentos <strong>de</strong> inveja, que eu tomava<br />

por odio; sentia que o não podia<br />

ver feliz. . . com outra, longe <strong>de</strong> mim.<br />

Sim o seu casamento, ou a sua partida<br />

ter-me hiam matado. Sim, seguia o, prejudicava-o,<br />

para o guardar. Ah! se me<br />

tivesse provocado mais cedo, mais cedo<br />

teria visto o meu coração! Este odio era<br />

a <strong>de</strong>sesperação d'um amor que o pejo<br />

tinha armado no principio com unhas<br />

que a altivez conserva ! Porque me não<br />

advinbou ! Acredita-me... Quer casar<br />

commigo ?<br />

Se a acreditava ! Se a queria amar!<br />

Ah! meu amigo, calcula a minha alegria!<br />

Num beijo casto, piedoso, reconhecido,<br />

que lhe <strong>de</strong>puz na froute, matei a antiga<br />

inimiga. — Acha-me um outro termo...<br />

—e liz apparecer a noiva sonhadora.<br />

Quando voltamos para junto <strong>de</strong> sua mãe.<br />

Sophia tinha o rosto tão radiante que a<br />

sr. a B.. . perguntou-lhe assombrada :<br />

— Amas a dança a esse ponto?<br />

— Não, mamã, é a elle qne eu amo!<br />

E foi sobre este colloqtiio, ornado<br />

dos couplels do Ricardo Coração <strong>de</strong> Leão,<br />

que o segredo foi conliado á nossa mãe.<br />

Agora - que conheces a historia do meu<br />

casamento, comprehen<strong>de</strong>rás o que te disse<br />

outr'ora, ha mais <strong>de</strong> trinta ânuos, que<br />

me linha casado por amor. Não podias<br />

advinhar que amasse aquella que julgava<br />

odiar e <strong>de</strong> quem me cria odiado.<br />

Tenho guardado ente segredo. Revelei-t'o<br />

porque confirma a tua proposição.<br />

Meu amigo, neste mundo só o amor é invencível<br />

; o odio é uma convenção humana,<br />

frágil, falsa, illusoria. Tu o disseste,<br />

eu o repilo.. . Vem, minha esposa<br />

mostrar-te-ha a tesourinha. E' com<br />

ella que cortamos as flores do jardim.<br />

Apenas serve para isso. Só uma única vez<br />

a emprestei. Foi pelo nascimento do meu<br />

primeiro filho. O doutor não achava <strong>de</strong>pressa<br />

o estojo...<br />

Louis Ulbach.<br />

Previsão do tempo<br />

Segundo Noherlosoon, vamo* ter<br />

gran<strong>de</strong>s mudanças atmosphericas, e como<br />

os nossos leitores sabem o astrologo saragoçano<br />

poucas vezes se engana.<br />

As-im o periodo chuvoso <strong>de</strong> 8 a 13<br />

sera notável pela importancia que ha <strong>de</strong><br />

ter na península. Esta perturbação atmospherica<br />

será produzida por duas tempesta<strong>de</strong>s<br />

proce<strong>de</strong>ntes do Atlântico. A primeira<br />

partirá das costas orientaes da<br />

America septentrional <strong>de</strong> 2 para 3, por<br />

entre parallelos <strong>de</strong> 40° e 50°, produzindo<br />

no Oceano um forte temporal com<br />

ventos rijos <strong>de</strong> sudoeste e noroeste. Chegará<br />

á Europa no dia 8, esten<strong>de</strong>ndo a<br />

sua acção á península com neves, chuvas<br />

e temporaes.<br />

No dia 10 outra tempesta<strong>de</strong>, que<br />

passará pelos Açores, lin<strong>de</strong> exercer fortíssima<br />

influencia nas nossas regiões,<br />

continuando as chuvas. O domingo 11<br />

será o dia mais chuvoso da quinzena,<br />

por causa <strong>de</strong> uma forte <strong>de</strong>pressão, cujo<br />

centro estará situado nas paragens das<br />

Canarias e Ma<strong>de</strong>ira. Nos últimos dias<br />

d'este periodo as chuvas serão mais abundantes.<br />

EM SURDINA<br />

Surdina, hoje, não ha I<br />

Não é caso p'ra espantar;<br />

com um frio como está<br />

não po<strong>de</strong> a gente rimar<br />

Fica a "troça <strong>de</strong> remissa<br />

vou me chegar ao brazeiro...<br />

O ealor a musa atiça<br />

lembra os gatos em janeiro.<br />

E só assim, p'lo macio,<br />

se vencerá este frio I<br />

PINTA-ROXA.<br />

Pequenos nadas<br />

O Diário <strong>de</strong> Noticias <strong>de</strong> 2 do corrente,<br />

com as lagrimas a quatro e quatro,<br />

escrevia esta noticiasinha :<br />

«Foi hontem remeltida a juizR uma<br />

<strong>de</strong>sgraçada com cinco filhos, sendo um<br />

<strong>de</strong> collo, que a policia pren<strong>de</strong>u por andar<br />

a pedir esmola.<br />

«O marido d'e«sa infeliz, que e operário,<br />

sem trabalho actualmente, acompanhou<br />

para o tribunal o triste e pugente<br />

cortejo, e ali tomou nos braços a creança<br />

<strong>de</strong> peito e pela mão os outros quatro,<br />

dirigindo-se em seguida para a rua emquanto<br />

sua mulher era conduzida ao<br />

Aljube, por não ler 1$540 réis para<br />

pagar a fiança !<br />

«Triste sorte e cruel justiça!»<br />

Emquanto estes <strong>de</strong>sgraçados assim<br />

andam aos baldões da sorte a quadrilha<br />

magna dos gran<strong>de</strong>s salteadores da fazenda<br />

publica passam placidamente a vida dos<br />

gran<strong>de</strong>s senhores, sem que a justiça lhes<br />

perturbe a «omno reparador.<br />

E edificante o contraste!<br />

A cholera<br />

Na semana finda houve na tlollanda<br />

16 obitos <strong>de</strong>vidos ao cholera.<br />

Em França continuam a dar-se diversos<br />

casos cholericos. Em Cherbourg<br />

o numero <strong>de</strong> obitos tem sido ultimamente<br />

um tanto subido.<br />

Pelos vencidos<br />

O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />

satisfação da consciência individual.<br />

Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />

nossos concidadãos emigrados não é o<br />

cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />

dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />

primeiro logar, na actual coujuuclura.<br />

Crge que todo o republicano sem'<br />

differenciaçáo <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />

e a sua bolsa pura auxiliar aquelles<br />

malveulurosos amigos que longe da<br />

patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />

Vamos a isto, meus amigos ! Cumpramos<br />

este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixeuio-nos<br />

<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />

piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />

dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />

fria do nosso critério a sua significação<br />

positiva.<br />

O Diário Illustrado constatava ha<br />

dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />

em Bordéus se alimentavam<br />

com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />

Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />

Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />

está abaixo <strong>de</strong> toda a noção dc<br />

humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudôr<br />

<strong>de</strong> republicanos, dia a dia allirmando<br />

pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />

aquella gente.<br />

E a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />

mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />

exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />

apenas pelos bicos da penna : é a<br />

solidarieda<strong>de</strong> elfecliva, pratica, traduzida<br />

no mais franco auxilio moral e material.<br />

Amigos! Soccorrarios os emigrados 1<br />

Subscripçiia <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinaria a soccorrer<br />

com egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 14$600<br />

Quintans <strong>de</strong> Luna (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro)<br />

200<br />

Teixeira <strong>de</strong> Brito (i<strong>de</strong>m) 200<br />

Somma, réis l£i$000<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />

De João Chagas<br />

Publicamos em seguida parte d'um<br />

artigo (pie o nosso illustre compatriota<br />

João Chagas, remetteu <strong>de</strong> Loanda para<br />

A Portugueza, em que elle <strong>de</strong>screve<br />

o modo como na fortaleza <strong>de</strong> S.<br />

Miguel são tratados os criminosos que<br />

d'aqui são remettidos.<br />

Revoltam se todos os sentimentos <strong>de</strong><br />

pieda<strong>de</strong> ao lerem estas linhas que vibram<br />

nos nossos corações com a agu<strong>de</strong>za geladora<br />

das gran<strong>de</strong>s impieda<strong>de</strong>s humanas!<br />

Commove, irrita, repngna, que em pleno<br />

século XIX se tolerem infamantes meios<br />

<strong>de</strong> punição, como estes que o brilhante<br />

jornalista <strong>de</strong>scarna profundamente, cheio<br />

<strong>de</strong> indignação e <strong>de</strong> cólera !<br />

«Na fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel, <strong>de</strong>posito<br />

geral dos <strong>de</strong>gredados enviados para a<br />

província d'Angola, eslá ainda em uso a<br />

gargalheira- <strong>de</strong> ferro. Esta infamia tem<br />

um ca<strong>de</strong>ado e uma chave. Esta chave<br />

está em po<strong>de</strong>r d'um homem. Este homem<br />

traz esses miseráveis presos pelo pescoço<br />

Estes miseráveis são europeus e são<br />

brancos.<br />

Antigamente, eram empregados em<br />

trabalhos públicos e, assim, <strong>de</strong> gargalheira<br />

ao pescoço, a dois e dois ligados<br />

por uma corrente <strong>de</strong> ferro, atravessavam<br />

as ruas <strong>de</strong> Loanda.<br />

Os habitantes da cida<strong>de</strong> protestaram.<br />

Parece que era vergonhoso.<br />

Um governador prohibiu estas exhibições.<br />

Mas creou se cousa peior. Aquella<br />

vergonha linha <strong>de</strong> ser substituída por<br />

outra vergonha.<br />

Inventou-se um antro a que no presidio<br />

dão o nome suggestivo <strong>de</strong> — Cova<br />

da onça.<br />

Quem o inventou, quem o <strong>de</strong>lineou,<br />

quem o fez construir?<br />

Não sei.<br />

Este nome falta-me; é uma lacuna<br />

<strong>de</strong>plorável.<br />

Esse antro fica uns seis metros abaixo<br />

da esplanada da fortaleza. Tem dois<br />

<strong>de</strong> largo e não sei quantos <strong>de</strong> fundo,<br />

mas é muito fundo. Não tem janellas,<br />

como os corredores. Mas os corredores<br />

têm cabi<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se oollocam os chapéus,<br />

on<strong>de</strong> se penduram os sobretudos,<br />

on<strong>de</strong> se apoiam as bengalas e se <strong>de</strong>ixam<br />

a escorrer os guarda-chuvas. Este<br />

corredor tem, no logar dos cabi<strong>de</strong>s, argolas<br />

<strong>de</strong> ferro, que pren<strong>de</strong>m correntes.<br />

Na extremida<strong>de</strong> d'essas correntes ha<br />

gargalheiras; d'essas gargalheiras emer-'<br />

gem cabeças d'homens, a face côr <strong>de</strong><br />

poeira, os cabellos seccos côr <strong>de</strong> terra,<br />

como figuras feitas do proprio barro das<br />

pare<strong>de</strong>s que os envolve e do chão em<br />

que dormem.<br />

E hediondo !<br />

Fui ver uma vez e salii <strong>de</strong> lá como<br />

sé tivesse assistido a um crime.<br />

Vim cheio <strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> cólera,<br />

as mãos crispadas e os olhos rasos d'agua.<br />

Esle canto do inferno entrevê-se por<br />

uma porta gra<strong>de</strong>ada. Quem assome alli<br />

vê o suffieiente para nunca mais o esquecer.<br />

Aquella longa fila <strong>de</strong> miseráveis<br />

presos pelo pescoço, esten<strong>de</strong>ndo a mão<br />

supplicante, o ruido das correntes <strong>de</strong><br />

ferro, a poeira que se levanta do chão,<br />

on<strong>de</strong> não ha nma enxerga, on<strong>de</strong> não ha<br />

uma taboa, a escuridão que mal permilte<br />

dislinguil-os, o fétido que annuncia a sua<br />

presença, como o cheiro acre das jaulas,<br />

tudo fica na memoria para a constante<br />

avocação do horror.<br />

Mas a imaginação dos funccionarios<br />

incumbidos <strong>de</strong> guardar estes rebanhos,<br />

é fértil em expedientes quaudo esse horror<br />

não basta. Aggravar esse horror,<br />

tornal-o mais horrível ainda, chama se<br />

castigar.<br />

Um dia, a fim <strong>de</strong> punir certas infracções<br />

ao regulamento praticadas pelos<br />

con<strong>de</strong>mnados á gargalheira, um governador<br />

d'esta fortaleza, mandou fechar a<br />

porta do antro.<br />

Iam morrendo todos asphyxiados.<br />

Foi preciso abrir e <strong>de</strong>pressa.<br />

A um por um é permittido tortural-os.<br />

Malai os a lodos e d'uma vez — creio<br />

que é prohibido.<br />

Comtudo, este antro, esta cíva, estas<br />

argolas <strong>de</strong> ferro, nâo excluem uma relativa<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos. Dentro<br />

da mesma jaula estão muitos. Que po<strong>de</strong>rão<br />

eiles dizer? Não sei. Mas alguma<br />

cousa dizem, e fallar, ter com quem<br />

locar impressões, dizer ai <strong>de</strong> mim ! e<br />

saber que alguém ouve, <strong>de</strong>screr e proclamal-o,<br />

queixar-se e ouvir o queixume<br />

d'outro, respirar o mesmo ar, embora<br />

envenenado, pisar a mesma terra, embora<br />

dura, — esta existencia em commum,<br />

esta promiscuida<strong>de</strong>, a dor na immundicie,<br />

são uma mitigação e um allivio.<br />

Não hnsta para punir, não é suffieiente<br />

para expiar.<br />

A justiça também tem isto <strong>de</strong> commum<br />

com o crime: é engenhosa.<br />

Procura e acha.<br />

Quem presi<strong>de</strong> nesse forte aos <strong>de</strong>stinos<br />

d'esses <strong>de</strong>sgraçados, achou cousa<br />

melhor.<br />

Chama-se — o Segredo a ess'outra<br />

fórma da expiação.<br />

O Segredo apptica-se indistinctamenle<br />

a homens e a muljieres.<br />

Para os effeitos do castigo, estas creaturas<br />

são insexuaes. A mulher não é<br />

consi<strong>de</strong>rada mais fraca do que o homem.<br />

A inferiorida<strong>de</strong> da sua structura, a sua<br />

menor resistencia physica e moral, não<br />

são levados em linha <strong>de</strong> conta. Todos<br />

são aptos para o sofirimento.<br />

Vejamos o que é o Segredo.<br />

(Conclúe•).<br />

Homenagem a Gil Carneiro<br />

A Caixa Economica Operaria promoveu<br />

para domingo uma manifestação junto<br />

ao tumulo do nosso <strong>de</strong>sditoso correligionário<br />

<strong>de</strong>vendo organisar-se um cortejo<br />

cívico, com varias associações e algumas<br />

bandas <strong>de</strong> musica, para ir pôr uma coroa<br />

na sepultura <strong>de</strong> Gil Carneiro, .visto uão<br />

po<strong>de</strong>rem ir no enterro.<br />

Como a direcção da Caixa Economica<br />

recebesse um aviso do sr. commissario<br />

participando-lhe que se não podia realisar<br />

a manifestação, porque, seudo um<br />

cortejo civico, não tinha havido participação<br />

com quarenta e oito horas <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ncia,<br />

não se pô<strong>de</strong> realisar a manifestação,<br />

porque se corria o risco da policio<br />

commetler alguma violência.<br />

Participou-se aos convidados que se<br />

não realisava a manifestação pela or<strong>de</strong>m<br />

que se <strong>de</strong>sejava, apresentando-se-lhe o<br />

alvitre <strong>de</strong> lodos os cidadãos presentes se<br />

dirigirem ao cemiterio representando isto<br />

a homenagem ao fallecido e uni prolesto<br />

contra a reacção jesuítica, que obrigou<br />

a ser enterrado catholicamente Gil Carneiro,<br />

apesar da <strong>de</strong>claração escripla <strong>de</strong><br />

que queria ser enterrado civilmente.<br />

Todos caminharam para o cemiterio,<br />

e mais <strong>de</strong> mil pessoas se approximaram<br />

do tumulo, fazendo uso da palavra os<br />

cidadãos Raul Gil, Manoel do Couto,<br />

pelo grupo anarebista, Soares Gue<strong>de</strong>s,<br />

pela Associação Industrial, Paulo da Fonseca<br />

e Manoel Men<strong>de</strong>s, pela Associação<br />

dos Corticeiros, que protestaram contra o<br />

acto do irmão do finado e da indifferença<br />

das auctorida<strong>de</strong>s.<br />

Da imprensa estavam Eugénio da Silveira<br />

e Andra<strong>de</strong> Neves, do òeculo; Eduardo<br />

José Gaspar, da Vanguarda; Alfredo<br />

Monteiro, do Transmontano; Jo-é .Julio<br />

<strong>de</strong> Azevedo, da Voz do Caixeiro; Luiz <strong>de</strong><br />

Figueiredo, do Protesto Operário, Gue<strong>de</strong>s<br />

Quinhones, da Voz do Operário; Manoel<br />

do Coulo, da Revolto; Augusto Rato da<br />

Batalha e d'A Portugueza.<br />

Depois dos discursos dispersou a multidão<br />

na melhor or<strong>de</strong>m.<br />

Os amigos politicos <strong>de</strong> Gil Carneiro,<br />

já reuniram para tratar da nova visita ao<br />

tumulo do nosso <strong>de</strong>sditoso correligionário,<br />

mas esta com todo o caracter d'uma<br />

manifestação civica. Na redacção do nosso<br />

collega A Batalha recebem-se adhesões<br />

<strong>de</strong> todo o paiz para esta visita.<br />

Sinceramente adherimos.<br />

Desapparecimento<br />

d'um principe<br />

Munich, 2 — Desappareceu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

dia 28 do mez passado, o principe Carlos<br />

da Baviera, filho do principe Luiz e<br />

primo do rei Othon. O facto é extraordinariamente<br />

commentado.<br />

O que era a inquisição<br />

A santíssima-inquisição <strong>de</strong> Hespanha,<br />

durante o espaço dc 333 ânuos, mandou<br />

queimar vivas 24:658 pessoas em effigie;<br />

con<strong>de</strong>mnados ás gilés e a prisão perpetua<br />

283:214, e mais <strong>de</strong> 200:000 con<strong>de</strong>mnados<br />

a trazerem publicamente o<br />

Sanbenilo.<br />

A matança era feila em nome <strong>de</strong> Deus,<br />

acobeftando se os malvados com a capa<br />

da religião, que por tal modo <strong>de</strong>sacreditavam.<br />

A Or<strong>de</strong>m chamará a isto — non plus<br />

ultra do catholicismj I


AXXii í —X.° 41 O DEFEMiOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong> zembro<strong>de</strong> 189Ô<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Aeto lienemerito<br />

A bentmerita junta <strong>de</strong> parochia da<br />

freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu vae comprar<br />

alguns vestuários aos alumnos mais<br />

polires que frequentam a escola elementar<br />

do sexo feminino e a complementar<br />

do sexo masculino da mesma freguezia.<br />

À esta ultima escola vão muitos pequenosjle<br />

Santa Clara, pobremente vestidos.<br />

Era justo que a junta-d'essa freguezia<br />

se lembrasse também <strong>de</strong> olhar<br />

por elles, pois que cumpria assim um<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. E o sacrifício para<br />

ella não seria muito gran<strong>de</strong>, porque lá<br />

náo ha escola, e <strong>de</strong>certo se terá cobrado<br />

o imposto <strong>de</strong>stinado á instrucção.<br />

Ahi lhe <strong>de</strong>ixamos a lembrança. Se<br />

enten<strong>de</strong>r que a <strong>de</strong>ve aproveitar, não lhe<br />

regatearemos os nossos sinceros elogios.<br />

E' bom registar que o presi<strong>de</strong>nte da<br />

junta <strong>de</strong> parochia é o nosso digno correligionário,<br />

sr. ManoeJ Antonio da Costa,<br />

que ha seis annos exerce aquelle<br />

cargo, prestando durante a sua gerencia<br />

altos serviços á instrucção popular.<br />

O Burro tio ar. Alcai<strong>de</strong><br />

Só nos visitará para o anno, ali <strong>de</strong><br />

janeiro, se Deus lhe <strong>de</strong>r vida e saú<strong>de</strong>.<br />

Acompanha-o El-rei Damnado que ha<br />

dias fez estreia auspiciosa 110 Porto, e<br />

o Solar dos Barrigas, que Taveira começou<br />

a ensaiar.<br />

Num telegramma dirigido ao sr.<br />

Francisco Lueas e profusamente distribuído,<br />

diz-se :—Impossível realisação <strong>de</strong><br />

mais espectáculos do que aquelles contractados<br />

pira seu theatro.<br />

Isto traduzido quer dizer:—quem<br />

quizer ver o Burro e o resto tem <strong>de</strong> se<br />

prevenir com tempo, aliás lica sem gosar<br />

tres noites <strong>de</strong>liciosas em que se ha<br />

<strong>de</strong> morrer a rir.<br />

Os preços são :<br />

Assignatura— Camaroles-frisas, réis<br />

3$380; l. a or<strong>de</strong>m, 3^880 ; 2. a or<strong>de</strong>m<br />

2$250; ca<strong>de</strong>iras, 800; superior, 640;<br />

varandas "250 réis.<br />

Avulso — Camarotes frisas, 4$500;<br />

l. a or<strong>de</strong>m, 4$500 ; 2. a or<strong>de</strong>m 3$000 ;<br />

ca<strong>de</strong>iras, 1$000 ; superior, 800; varandas,<br />

300 réis.<br />

Os srs. accionistas do theatro teem<br />

como <strong>de</strong> co-tume, o <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 25°/0<br />

nos preços avulsos, seja para uma ou<br />

mais recitas.<br />

Como veem, os que po<strong>de</strong>rem gosar<br />

estas tres <strong>de</strong>liciosas noites,, são duplamente<br />

felizes. Veem tudo — e mais barato.<br />

A assignatura continúa aberta. Esgotaram-se<br />

os camarotes-frisas, havendo já<br />

poucos <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m.<br />

Policias con<strong>de</strong>mnados<br />

Respon<strong>de</strong>ram em policia correccional<br />

na terça-feira, os cabos <strong>de</strong> policia, 7 e<br />

12 e o guarda 13, accnsados <strong>de</strong> terem<br />

espancado o sr. A<strong>de</strong>lino da Cunha Moura,<br />

num dos dias da romaria do Espirita<br />

Santo.<br />

Provado como ficou o crime foram<br />

con<strong>de</strong>mnados: o cabo 7 em 40 dias <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ia remíveis a dinheiro; e o cabo 12<br />

e o guarda 13, a 5 dias <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia, e<br />

todos nas custas e sellos do processo.<br />

Veremos se <strong>de</strong>pois d'esta con<strong>de</strong>mnaçâo<br />

continuam ao serviço da policia estes<br />

mantenedores da or<strong>de</strong>m publica.<br />

Cireumscripção Iiydraulica<br />

Com a nova reforma das obras publicas<br />

foi supprimida <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> a se<strong>de</strong><br />

d'esta repartição, reunindo-se ao Porto a<br />

zona que era dirigida pela 2. 3 circuinscripcão<br />

hydraulica, com sé<strong>de</strong> em <strong>Coimbra</strong>.<br />

Como se po<strong>de</strong> suppôr a nova reforma<br />

das obras publicas veiu prejudicar bastante<br />

os interesses <strong>de</strong> muitos cidadãos<br />

d'esta cida<strong>de</strong> e a transferencia da direcção<br />

hydraulica para a capital do norte<br />

ha <strong>de</strong>-se fazer sentir na classe dos proprietários<br />

que facilmente aqui obtinham<br />

qualquer provi<strong>de</strong>ncia, em quanto para o<br />

futuro hão <strong>de</strong> supportar todas as <strong>de</strong>moras<br />

do expediente, senão mais alguma<br />

cousa.<br />

AsgociaçSes <strong>de</strong> soecorros<br />

Por falta <strong>de</strong> numero legal <strong>de</strong> associados<br />

não po<strong>de</strong>ram ser discutidos os<br />

assumptos que fizeram convocar a assemblêa<br />

geral aos corpos gerentes da Associação<br />

do sexo feminino e Monte-pio<br />

conimbricense.<br />

Ficaram adiadas para o proximo domingo,<br />

— — ' '<br />

Escola Brotero<br />

A matricula geral nesta escola subiu<br />

este anno a 400 alumnos.<br />

Espera-se que em breve comecem<br />

em laboração algumas das officinas que<br />

<strong>de</strong>verão ser annexas a este estabelecimento<br />

<strong>de</strong> ensino, um dos primeiros do<br />

paiz.<br />

Antonio liuiz <strong>de</strong>^Sousa Henriques<br />

Seeco<br />

Falleceu no domingo este honrado<br />

cidadão, lente jubilado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Direito e par do reino.<br />

Foi 11111 cidadão honesto, um portuguez<br />

<strong>de</strong> lei, revolucionário nos seus tempos,<br />

todo liberal, luctando com encarniçamento<br />

durante a .epoclia cabralina.<br />

Exerceu muitos cargos públicos:—o<br />

<strong>de</strong> juiz ordinário eleito em 1843 o <strong>de</strong><br />

juiz <strong>de</strong> direito substituto em 1844 e<br />

1850; vogal <strong>de</strong> policia correccional nomeado<br />

pela camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> ; secretario<br />

da commissão eleitoral <strong>de</strong> opposição<br />

popular, em 1845 ; tenente da 2. 8<br />

companhia do batalhão da guarda municipal<br />

em 1846; governador civil <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

por <strong>de</strong>spacho da junta revolucionaria<br />

do Porto, em 18<strong>47</strong> ; nomeado secretario<br />

geral do districto <strong>de</strong> Santarém em<br />

1851, sendo <strong>de</strong>pois transferido no mesmo<br />

cargo para <strong>Coimbra</strong>, voltando a governar<br />

este districto em 1853 ; presi<strong>de</strong>nte<br />

da camara municipal em 18 63 ; membro<br />

da junta administrativa dos campos<br />

do Mon<strong>de</strong>go, em 1856 ; membro do conselho<br />

do districto, em 1846, 1854 e<br />

1864; presi<strong>de</strong>nte da junta geral do districto<br />

em 1863; também serviu na mesa<br />

da Misericórdia e na Or<strong>de</strong>m Terceira;<br />

foi eleito <strong>de</strong>putado por <strong>Coimbra</strong> nos<br />

annos <strong>de</strong> 1854, 1857, 1858 e 1860; e<br />

em janeiro <strong>de</strong> 1881 nomeado par do<br />

reino.<br />

Por esta bem limitada resenha se vê<br />

a importancia do cidadão que esta cida<strong>de</strong><br />

acaba <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, e que serviu o<br />

seu paiz, com <strong>de</strong>dicação, sem egoísmos<br />

nem vaida<strong>de</strong>s.<br />

O sr. dr. Secco collaborou nos seguintes<br />

periodicos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> — Opposição<br />

Nacional, 1844 — Observador, 18<strong>47</strong><br />

a 1854—Conimbricense, 1854 a 1855<br />

—Epocha, 1856 — Constitucional, 1859.<br />

Publicou também os seguintes livros:<br />

— Manual historico do direito romano,<br />

1848 — Memoria historico cliorograpliica<br />

dos diversos concelhos do districto administrativo<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 1853 —Mappa<br />

do districto administrativo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

1854— A eleição municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

1856 —Novos elogios hisloricos dos reis<br />

<strong>de</strong> Portugal, 1856 —Memorias do tempo<br />

passado e presente para lição <strong>de</strong> vindouros,<br />

tomo Í. 1880 —tom'. II. 1889 —<br />

Codigo penal portuguez, precedido pelo<br />

<strong>de</strong>creto com força <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> De-'<br />

zembro <strong>de</strong> 1852, seguido <strong>de</strong> um appendice<br />

e amolado, 1881 —além <strong>de</strong> muitas<br />

outras. Actualmente tfnha 11a imprensa<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> um volume a imprimir.<br />

Homem <strong>de</strong> bom coração, esmoler, o<br />

sr. dr. Henriques Secco <strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s<br />

á pobreza a quem muito soccorreu, sem.<br />

alar<strong>de</strong>s.<br />

A' sua família e aos seus <strong>de</strong>dicados<br />

amigos enviamos os nossos pezaiues.<br />

Museu episcopal<br />

O sr. bispo con<strong>de</strong> projecta uma gran<strong>de</strong><br />

reforma no museu a seu cargo. Sera<br />

augmentado com mais vitrines para a<br />

exposição dos tecidos riquíssimos que<br />

possue a Sé Cathedral, proce<strong>de</strong>ndo a uma<br />

escolha minuciosa.<br />

D'esta missão, parece-nos, será encarregado<br />

o sr. Antonio Augusto Gonçalves<br />

a quem não lalla competencia para<br />

um trabalho completo.<br />

Rectificação<br />

Pe<strong>de</strong>-nos o sr. Antonio Veiga para<br />

ratificarmos a noticia que <strong>de</strong>mos em o<br />

numero passado relativamente ao espancamento<br />

<strong>de</strong> que este nosso patricio foi<br />

victima, pois que foram cinco os indivíduos<br />

que o esperaram, reconhecendo elle<br />

os dois João Gaspar Coelho e João Alves,<br />

que foram os primeiros que o aggrediram.<br />

O sr. Veiga felizmente vae melhor.<br />

Exposição pedagógica<br />

O sr. dr. Bernardino Machado, prestimoso<br />

cidadão, e illustrado professor na<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> a quem a instrucção <strong>de</strong>ve<br />

serviços relevantes, trata <strong>de</strong> organisar<br />

em Lisboa uma exposição pedagógica,<br />

que <strong>de</strong>verá abrir nos princípios do próximo<br />

anno.<br />

Autopsia<br />

Pela autopsia feita ao cadaver <strong>de</strong><br />

Bernardo Ferreira, d'Arrancada, verificaram<br />

os peritos que a morte fora causada<br />

por asphvxiã.<br />

Apezar d'i


av\o r—Sr. 9 âi O DEFGMIOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

THEATRO D. LUIZ<br />

Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

Recita em beneficio<br />

<strong>de</strong> José Maria d'Aie*edo<br />

Em que tomam parte por especial<br />

obsequio os ex. m * s srs. Luiz da Gama,<br />

Nogueira Pinto Ereio, F. Lucas, a ex. raa<br />

sr." D. Maria da Luz Yelloso.<br />

Uma comedia em um acto, pelos ex. mos<br />

srs. Luiz da Gama, Nogueira Pinto<br />

Ereio, e pela ex. ma sr. a D. Maria da<br />

Luz Velloso.<br />

Uma cançoneta pelo ex. m0 sr. Luiz da<br />

Gama.<br />

Uma comedia em um acto pelos ex. m05<br />

srs. Pinto Ereio, F Lucas e D. Maria<br />

da Luz Velloso.<br />

Um tercetto, por Alves, Macedo e Paes.<br />

L I V R O S<br />

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um exemplar.<br />

HISTORIA BIPOIITIIGIL<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schafer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemão<br />

POR<br />

F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

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J. M I : N SB SAMPAIO OTO)<br />

Edição completa por um corpo do<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

Ãtre outros eminentes collaboradores,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />

Vasconcellos e dos ex. 1,109 srs. Alberto<br />

Pimentel, Razilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriptorio da empreza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

D E G R A Ç A<br />

Carteira para notas,<br />

Carimbos


Homens. Instituições<br />

Uma das características mais essencialmente<br />

indicativas da <strong>de</strong>cadência<br />

mórbida do regime constitucional<br />

no nosso paiz,~é o extranho, incomprehensivel<br />

strabismo que tem<br />

impellido os homens eleitos d'esse<br />

regime para um caminho errado,<br />

num louco rodopio vertiginoso on<strong>de</strong><br />

se aclaram os mais evi<strong>de</strong>ntes symptomas<br />

<strong>de</strong> obstruccionismo da intelligencia<br />

e do caracter.<br />

De feito, dá que cogitar este espectáculo<br />

transitorio <strong>de</strong> vai-vens menianicòs,<br />

alternado <strong>de</strong> fugachos ora<br />

vividos ora escurecentes, on<strong>de</strong> sobem<br />

e <strong>de</strong>scem, por mágicos <strong>de</strong>svãos,<br />

os estadistas da monarchia. Hontem,<br />

alcandoraram-os no vertice da omnipotência,<br />

num leva-arriba inconsciente,<br />

aos puxões histéricos <strong>de</strong> senhoras-visinhas-do<br />

-jornal-diário, sem<br />

outras recommendações que um passado<br />

<strong>de</strong> fogos fátuos, nem outra<br />

competencia que a dà rabulice <strong>de</strong>spejada<br />

na discussão com a perfídia<br />

contun<strong>de</strong>nte dos calculistas. Hoje^<br />

sic transit gloria mundi, por uma<br />

collisão <strong>de</strong> circumstancias varias,<br />

occasionaes ou não, o Deus Estadista<br />

<strong>de</strong> hontem, o Messias acclamado, é<br />

<strong>de</strong>sbocado <strong>de</strong>sapiedadamente no tur-.<br />

rião da critica, on<strong>de</strong> o assaltam,<br />

<strong>de</strong> rasoira, todas as linguas que na<br />

vespera lhe urdiam estugantes reclames.<br />

A quem algum pensar <strong>de</strong>dique á<br />

phenomenologia politica do nosso<br />

meio social, tão fértil em innovações<br />

<strong>de</strong> caracter hybrido, terá sido indifferente<br />

esta trama exquisita com que<br />

se tecem e <strong>de</strong>stecem os caracteres<br />

que no regime vigente tem contrabalançado<br />

a vida politica.<br />

Des<strong>de</strong> Rodrigo da Fonseca, a mãe<br />

d'agoa do vicio orgânico do constitucionalismo,<br />

; até aos successores<br />

nossos coevos, verda<strong>de</strong>iros exemplares<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>generencia atavica, viscosos<br />

caracteres que se acotovellam na<br />

concorrência da escroquerie, recrutados<br />

duma selecção artificial, indolentes<br />

por habito, mercantilistas por<br />

instincto, ás vezes talentosos por<br />

calculo quando não são néscios por<br />

natureza:—-o circulo <strong>de</strong> homens que<br />

tem abandado o constitucionalismo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu inicio resente-se sensi-;<br />

velmente d'um vicio que mal se po<strong>de</strong><br />

suppor uma fortuita phase biologica<br />

ou psychologica da personalida<strong>de</strong>,<br />

mas, antes, precisa estudar-se na<br />

impureza constituitiva do organismo<br />

politico e na sua acção corrosiva<br />

atravez dos tempos.<br />

São geralmente sabidas as tendências<br />

do «homem» (Individuo)para<br />

as vicissitu<strong>de</strong>s, o que todavia não<br />

auctorisa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estabelecido o<br />

pacto social, a pratica commum <strong>de</strong>ssas<br />

vicissitu<strong>de</strong>s pelos «homens» (So-.<br />

cieda<strong>de</strong>). Parece que, se as concepções<br />

empyricas comprehen<strong>de</strong>m a<br />

creação da Auctorida<strong>de</strong> e como seu<br />

<strong>de</strong>positário immediato as Constituições<br />

Politicas, é sobretudo para a<br />

manutenção da paz social na observação<br />

obrigatoria, pela educação do<br />

instincto e pelo exercício das boas<br />

leis, dos melhbres princípios da moral<br />

conducentes á morigeração dos<br />

costumes e ao bem commum.<br />

D'outr'arte, se á creação da força<br />

Auctorida<strong>de</strong> que é mais ou menos<br />

um principio insultuoso para a Autonomia<br />

da Consciência, não correspon<strong>de</strong>,<br />

por <strong>de</strong>rivante, uma phase<br />

economica e intelectualmente amelhoradora<br />

das camadas inferiores,<br />

preciso é reclamar, abstrahindo os<br />

protestos do metaphysismo inconsequente,<br />

a eleminação d'essa força<br />

ineffiacaz.<br />

Mas admittida ella, ainda que<br />

convencionalmente, e tolerada posto<br />

que como direito <strong>de</strong> tradição, constitue-se-nos<br />

o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> exigir d'ella<br />

as melhores formulas governativas<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

para a solução dos problemas sociaes.<br />

Porque, é claro, se uma instituição<br />

social não correspon<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong>s<br />

sociaes falta-lhe ipso facto a cohesão<br />

que a consciência coilectiva<br />

lhe <strong>de</strong>ve imprimir, acatando-a e propagando-a.<br />

Ora <strong>de</strong> mais se sabe o<br />

que entre nós tem sido a lucta politica<br />

do Estado monarchico: uma legislação<br />

preconceituosa, retardataria,<br />

contravencional; a dissipação Estróina<br />

dos redditos do thesouro; administração<br />

viciosa, anarchica, <strong>de</strong>vorista;<br />

garantias civicas transmudadas<br />

em irrisões palavrosas •, etc., etc.<br />

Intuitivamente esta pratica <strong>de</strong><br />

maus hábitos exhibida nas regiões<br />

da Auctorida<strong>de</strong>, estimula nas camadas<br />

inferiores uma ten<strong>de</strong>ncia para o<br />

seguimento d'esses maus hábitos. Já<br />

o diziam os antigos: o abysmo invoca<br />

o abysmó.<br />

D'aqui nasce, por consequência<br />

lógica, que o instincto baixo da conservação<br />

pela astúcia, pela iniquida<strong>de</strong>,<br />

pelo latrocínio, que creou um<br />

typo quasi-commum na nossa esphera<br />

<strong>de</strong> estadistas, se filia na impureza<br />

nativa do regime.<br />

De tudo isto se conclue sem gran<strong>de</strong>s<br />

esforços <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte philosophismo,<br />

que ao contrario do que<br />

a opinião quasi geral preceitua, o<br />

mal não é dos homens, fundamentalmente;<br />

é das instituições. Cotteje-se<br />

a vida licenciosa do Estado monar*<br />

chico portuguez auctorisando a licenciosida<strong>de</strong><br />

nas camadas regidas, com<br />

outro regime que melhor pautasse<br />

na dignificação politica dos caracteres<br />

a sua acção directorial e ahi teríamos<br />

d posteriori a theoria que<br />

avançamos.<br />

Esta incerteza d'homens -pelo<br />

amollecimento dos caracteres exprime<br />

simultaneamente o estado pathologico<br />

das instituições e estabelece a<br />

condição suficientemente clara dasten<strong>de</strong>ncias<br />

negativistas do regime e<br />

como <strong>de</strong>terminante histórica a necessida<strong>de</strong><br />

da sua substituição no mechanismo<br />

politico' do Estado para o<br />

inicio d'umà nova evolução conducente<br />

a um novo estado social mais<br />

consentâneo ás necessida<strong>de</strong>s sociaes.<br />

Zé Dias em scena<br />

0 commissario Teixeira, da policia<br />

<strong>de</strong> Lisboa, vae para Grândola, munido<br />

<strong>de</strong> alvará que o investe na administração<br />

interina d'aquelle concelho. Syndicará<br />

alli e em Sines sobre a forma porque<br />

correu o acto para a ultima eleição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>putados. Acompanha-o, na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu secretario o sr. Sobral Figueiredo.<br />

Como se sabe em Grandola venceu<br />

a eleição o partido republicano e o sr.<br />

Dias Ferreira que não po<strong>de</strong> tolerar um<br />

tal abuso, vae, dizem, arranjar ilegalida<strong>de</strong>s<br />

á sua imagem e semelhança.<br />

Não tuge, nem muge com o escandaloso<br />

e pi lio caso <strong>de</strong> Penacova.<br />

Que espantalho d'estadisla.<br />

Tudo á matroca I<br />

A camara municipal da Guarda representou<br />

ao governo, pedindo que seja<br />

nomeado juiz effeciivo (tara aquella comarca<br />

que ha dois semestres está sem<br />

juiz, não tendo havido audiências gernes<br />

e estando as ca<strong>de</strong>ias cheias <strong>de</strong> presos.<br />

Os empregados da justiça estão luctando<br />

com a miséria, por não haver quem dê<br />

andamento aos processos pen<strong>de</strong>ntes.<br />

A Inglaterra<br />

a expoliar-nos<br />

Diz-se que é verda<strong>de</strong>ira a noticia <strong>de</strong><br />

uma nova exigencia da Inglaterra ácerca<br />

da <strong>de</strong>limitação das fronteiras em Africa<br />

e que, por esse motivo, se retini <strong>de</strong><br />

Moçambique; no proximo dia 13, o sr.<br />

Antonio Ennes.<br />

E os ministros — e o resto — sem<br />

<strong>de</strong>coro algum, a frequentarem os sumptuosos<br />

bailes da legação britannica.<br />

Excessos <strong>de</strong> vergonha 1<br />

PELOS JORNAES<br />

Utn paslelíã.o que tem o nome <strong>de</strong><br />

Commercio <strong>de</strong> Portugal, escreveu :<br />

«Ha. noucos dias os jornaes republi-<br />

;,canosv publicavam um telegramma <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> noticiando que se havia fundado<br />

alli, um centro republicano e que<br />

do conselho director faziaà parte dois<br />

lentes da universida<strong>de</strong> e o director da<br />

escola industrial. O que fez o governo?»<br />

Respon<strong>de</strong> a Reforma:<br />

«Por emquanto, não fez nada, mas<br />

não se impaciente o collega, que alguma<br />

coisa fará.<br />

«Ha muito que nós, e comnosco toda<br />

a gente sensata, reclamamos do governo<br />

uma acção energica contra o que<br />

seja <strong>de</strong>srespeito á lei e abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.»<br />

Ficamos esperando os actos do governo<br />

visto que a Reforma diz que elle<br />

alguma cousa fará contra o que seja <strong>de</strong>srespeito<br />

d lei e abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

0 seu primeiro acto, ao que nos consta,<br />

é eleger umas constituintes para a<br />

revisão do codigo fundamental da nação,<br />

que abrirá por este artigo: — 1.° é expressamente<br />

prohibido aos lentes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

e directores das escolas industriaes,<br />

serem republicanos. . . etc.<br />

É isto o que a Reforma reclama e<br />

com ella toda a gente sensata, entre a<br />

qual avulta o sr. Sergio.<br />

Conclue a Reforma:<br />

«Fique o Commercio <strong>de</strong> Portugal<br />

certo <strong>de</strong> que serão cortadas muitas<br />

hervas damninhas nesses prados jacobino<br />

progressistas da nossa terra.<br />

«A questão estava em começar.»<br />

0 diabo é se o ceifeiro na sua faina<br />

<strong>de</strong> cortar hervas damninhas chega a cortar'as<br />

Unhas...<br />

0 Diário Popular, com lagrimas <strong>de</strong><br />

crocodillo :' J; ' K ) ' '<br />

«...diremos eguaimente que nos<br />

impressiona <strong>de</strong>sagrada velmente vér ferir<br />

pequenos empregados, arrebatandolhes<br />

d'uns mesquinhos or<strong>de</strong>nados verda<strong>de</strong>iras<br />

ridicularias, ao passo que se<br />

conservam <strong>de</strong> pé reconhecidas sineeuras<br />

dispendiosas, luxos exagerados <strong>de</strong> serviços<br />

pouco mais do que inúteis, que<br />

suppriihidos dariam resultados muito<br />

mais proveitosos, do que todas as mealhas<br />

arrancadas á miséria das ultimas<br />

camadas cio funecionalismo.»<br />

Choramingando ' ternamente sobre a<br />

ingratidão" dos homens, continúa :<br />

«Mas se dissémos e sentimos isto,<br />

sentimos e dizemos também que os governos<br />

quasi qúe estão absolutamente<br />

impossibilitados <strong>de</strong> fazerem economias<br />

<strong>de</strong> vulto, porque se tal ousassem, se<br />

tivessem apeuas o pensamento <strong>de</strong> o<br />

conseguir, veriam para logo erguidos<br />

ante eiles os mais invencíveis obstáculos,<br />

e- : <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas sobre ás suas cabeças<br />

todas as cóleras implacaveis dos<br />

<strong>de</strong>speitados e dos feridos.»<br />

E logo a seguir, antevendo o escalabro<br />

<strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> tudo isto, presâgia :<br />

«Mas, no caminho sombrio que vão<br />

tomando as coisas, não é por certo o<br />

<strong>de</strong>scontentamento d'aquelles a quem as<br />

reformas possam ferir, o que mais haja<br />

a receiar; o que mais terrível se ergue<br />

nos horisontes não distantes, é a imagem<br />

do dia em qne se não possa pagar<br />

a ninguém. Nessa dia, que tudo concorre<br />

para avisinhar, é que os erros e<br />

os <strong>de</strong>satinos accumuiados hão <strong>de</strong> ter o<br />

seu <strong>de</strong>senlape. fatalmente, e a torrente<br />

dos males ha <strong>de</strong> passar indómita, sem<br />

que seja dado a ninguém <strong>de</strong>tel-a na<br />

sua marcha assoladora e terrível.»<br />

Sursum corda!<br />

Sergio, no Illustrado, diz ao sr. José<br />

Dias. -<br />

«Seguramente, não merecemos a<br />

menor consi<strong>de</strong>ração ao illustre presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho nem ao jornal que se<br />

diz ser o seu orgão na imprensa.<br />

.«Já por tres vezes, muito <strong>de</strong>licadamente,<br />

lhe pedimos que nos informasse,<br />

por alto, <strong>de</strong> quaes eram as propostas<br />

<strong>de</strong> fazenda que projectava apresentar<br />

ao parlamento.»<br />

O sr. José Dias já sabe qne o sergio<br />

— entorna - - e affiruia qne por isso não<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 42<br />

dará importancia ao pobre diabo que<br />

anda sempre entre as <strong>de</strong>z e as onze!<br />

Vadio está furioso e promette pôr<br />

em crise o ministério.<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

Contra as reformas<br />

, jfK, do governo<br />

A minoria republicana dj municipio<br />

<strong>de</strong> Lisboa resolveu não transigir com o<br />

governo preferindo <strong>de</strong>clinar o seu mandato<br />

a sujeitar se a imposições que<br />

consi<strong>de</strong>ra attentatorias da dignida<strong>de</strong> camararia.<br />

De João Chagas<br />

(CONCLUSÃO)<br />

As portas das prisões são como as<br />

portas dos tumulos: têm mysterio <strong>de</strong>ntro.<br />

Diante d'um jazigo como diante <strong>de</strong><br />

um cárcere lem-se medo. Abre-se a porta<br />

com cautella: o cadaver po<strong>de</strong> ler resuscitado,<br />

o preso po<strong>de</strong> estar morto.<br />

O segredo tem uma pequena porta<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro. Quem espreitar pelo<br />

buraco da fechadura, nada vê, porque<br />

<strong>de</strong>niro é noite. Quem a abrir vê isto:<br />

Um espaço vazio <strong>de</strong> trez metros e cincoenta<br />

<strong>de</strong> comprido por um metro e setenta<br />

<strong>de</strong> largo, entre quatro pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

caliça. No chão ha terra ; no tecto, <strong>de</strong><br />

lado, existe um orifício.<br />

Nada mais.<br />

O fundo <strong>de</strong> um poço tem agua; as<br />

pare<strong>de</strong>s gottejam; nos interstícios das<br />

pedras ha hervas; no alto ha ceu, sol,<br />

luz, estrellas, um bal<strong>de</strong> no rebordo, um<br />

galho d 'arvore, eheio <strong>de</strong> folhas. — —<br />

Aqui, nada.<br />

No chão ha terra, poeira calcada;<br />

nas pare<strong>de</strong>s, pintadas <strong>de</strong> negro ha vestígios<br />

do roçar <strong>de</strong> corpos, datas e palavras<br />

escriptas com bicos <strong>de</strong> pregos.<br />

E' um vão <strong>de</strong> escada ? E' o espaço<br />

inútil <strong>de</strong> uma construcção mal <strong>de</strong>lineatsiqmbe<br />

è/ «MdmJ**» moo oup<br />

Não. E' um cárcere,<br />

Neste cárcere meltem-se homens, mas<br />

mettem-se também mulheres.<br />

Antigamente, dava-se a este genero<br />

<strong>de</strong> castigo o nome do supplicio e o verbo<br />

emparedar <strong>de</strong>signava-o com proprieda<strong>de</strong>.<br />

A revolução nas i<strong>de</strong>ias trouxe comsigo<br />

uma revolução nas palavras. 0 sinistro<br />

vocabulario do passado teve, como as<br />

cousas:e os homens, o seu 89. Com um<br />

mundo novo, fez-se tudo noyo e assim<br />

como se redigiu um codigo, assim se redigiu<br />

ura diccionario, para uso da humanida<strong>de</strong><br />

emancipada.<br />

Aquella forma <strong>de</strong> emparedamento chama-se<br />

hoje—correcção, porque são assim<br />

punidos os incorrigiveis.<br />

O máximo do tempo que se po<strong>de</strong><br />

permanecer no segredo é <strong>de</strong> trinta e um<br />

dias. Trinta e um dias 1<br />

O con<strong>de</strong>mnado tem para se <strong>de</strong>itar—•<br />

o chão. Nada o cobre, a não ser o uniforme<br />

que o distingue: a calça e a jaqueta<br />

<strong>de</strong> cotim numerada. Deixa <strong>de</strong> comer<br />

pão e alimenla-se d'isto: arroz, feijão<br />

e farinha <strong>de</strong> mandioca. Não vê luz.<br />

Dentro d'este buraco é sempre noite. O<br />

ar recebe o pelo orifício praticado no<br />

tecto. Duas vezes por dia se abre a porta<br />

para <strong>de</strong>ixar passar uma lata. Está no<br />

escuro, <strong>de</strong>itado na terra, a sós comsigo<br />

e com a treva.<br />

Mas um outro <strong>de</strong>linquiu : dão-lhe um<br />

companheiro. Fecha-se a porta e nesse<br />

tumulo ficam dois.<br />

Succe<strong>de</strong>, porém, que <strong>de</strong>linquiu um<br />

outro. Abre-se a porta para o terceiro e<br />

<strong>de</strong> novo se fecha sobre esses tres. Ficam<br />

tres nesse espaço <strong>de</strong> tres melros, e cincoenta—um<br />

metro e <strong>de</strong>zesete para cada<br />

um 1<br />

O oulro dia, quando estive preso na<br />

fortaleza, encontravam se alli—tres mulheres.<br />

Como respiram? — Não sei.<br />

Como vivem?—Nâo tento sabei o.<br />

Mergulhar num sotfriraeulo'd'esla or-<br />

<strong>de</strong>m, é como mergulhar na agua : asphyxia-se.<br />

Soffrem muito — eis o que sei. Soffrem,<br />

a não po<strong>de</strong>r soffrer mais. Assim,<br />

ha mezes, tiraram <strong>de</strong> lá uma mulher,<br />

inteiriçada. Foi levada immedialamente<br />

para o hospital e—diz me uma testemunha—aos<br />

médicos suaram para a salvar.»<br />

" eagi&a s,i


AMO I-M.« 4? O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

OEYSTAE S<br />

Ao balcão <strong>de</strong> flores<br />

VibranteI... Ai I como o teu olhar vibrante<br />

Nenhuma estemos<br />

a fundo, po<strong>de</strong>r-nos-iamos illudir, e talvez<br />

arrepen<strong>de</strong>r-mo-nos por ter pensado<br />

ha muito tempo que o governo conspira<br />

contra a instrucção popular, porque é<br />

ella a única que po<strong>de</strong> dissipar as trevas<br />

da ignorancia ao elemento trabalhador—<br />

mosirando-lhe com clareza as patifarias<br />

governamentaes!<br />

Demos-lhe, pois, a palavra por um<br />

momento para se ver com a maior clareza<br />

a poeira com que pretendia cegarnos.<br />

«Todos sabem que em muitos pontos<br />

do paiz se fecham (os sublinhados são<br />

nossos) escolas por mal entendida economia;<br />

que noutros se conservaram por<br />

largos annos professores interinos por<br />

favoritismo; e que nalguns a ignorancia<br />

das corporações locaes (ellas que lhe<br />

agra<strong>de</strong>çam) <strong>de</strong> mãos dadas com a natural<br />

incúria por tudo quanto é progresso e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento intelleclual leni concorrido<br />

para que um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>iras creadas ou não tenham sido<br />

postas a concurso ou lenham sido entre-<br />

gues a interinos que por via <strong>de</strong> regra<br />

nao são os mais Inabilitados, mas com<br />

certeza são os mais protegidos.»<br />

Pondo <strong>de</strong> parte a incompleta virgulação<br />

e a pouca grammatica com que é<br />

feito este período, elle é no entanto sublime<br />

no-assumpto <strong>de</strong> que trata !...<br />

Mas... quem o ler com attenção,<br />

ainda mesmo que uão conheça a fundo,<br />

como nós, a ironia com que foi escripto,<br />

facilmente couclue que o Tempo nos quer<br />

metter os <strong>de</strong>dos pelos olhos, para que<br />

estejâmos sem vista para po<strong>de</strong>rmos avaliar<br />

as gran<strong>de</strong>s patifarias que o ferreiro<br />

tem na forja.<br />

É infelizmente verda<strong>de</strong> que algumas<br />

escolas se fecharam por falta <strong>de</strong> critério<br />

e excesso <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> das corporações<br />

que superintendiam nellas; mas lambem<br />

uão é menos verda<strong>de</strong> que o governo tinha<br />

força bastante para fazer cumprir a lei a<br />

essas corporações infameineule <strong>de</strong>scuidadas,<br />

e nunca o lizera.<br />

Para que vem então o Tempo a cri-<br />

I. • - -!»• I II II<br />

minar entida<strong>de</strong>s que, para não <strong>de</strong>ixarem<br />

<strong>de</strong> ser'agradaveis ao governo, <strong>de</strong>ixavam<br />

<strong>de</strong> cumprir os seus <strong>de</strong>veres?! Não nos<br />

parece muito a proposito tal recriminação<br />

porque é extemporânea. A responsabilida<strong>de</strong><br />

d'essas corporações, que <strong>de</strong>certo<br />

só funccionavam á vonta<strong>de</strong> do governo,<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia<br />

em que a instrucção primaria se tornou<br />

a centralisar. E o Tempo bem sabe que<br />

assim é, masjulgava talvez que com as<br />

suas rhetoricns, nos vinha illudir a todos,<br />

mostrando-se <strong>de</strong>fensor estrenuo da iustrucção<br />

popular. Moslrar-lhe-emos, porém,<br />

que está redondamente enganado.<br />

PALESTRAS<br />

V I I<br />

— Amigo José, tens visto a imprensa<br />

da monarchia?<br />

—Não me falles nessa senhora, amigo<br />

João.<br />

— O quê, José?! Pois tu eras-lhe<br />

tão affeiçoado e agora estás tão <strong>de</strong> mal<br />

com ella ?<br />

— Estou sim ; porque nunca vi tanta<br />

falta <strong>de</strong> caracter como aquella tem.<br />

Ora diz e aflirma uma cousa, ora nega<br />

e bate fé <strong>de</strong> que lai cousa se uão<br />

<strong>de</strong>u. Se bem que elogia e põe nos cornos<br />

da lua um pan<strong>de</strong>go qualquer, <strong>de</strong>pressa<br />

põe pelas ruas da amargura os caracteres<br />

mais ilfibados; finalmente, está<br />

uma senhora muito...<br />

—Eia ! Eia ! como tu estás, amigo<br />

José, parece-me que és exaggerado; aquella<br />

senhora não tem culpa <strong>de</strong> ser ás vezes<br />

mal informada, ella uão faz mais do<br />

que transmittir o que lhe dizem ; por tanto<br />

não tem responsabilida<strong>de</strong> das mentiras,<br />

nem das calumnias que lhe transiu<br />

i Item.<br />

— O' amigo João essa é <strong>de</strong> cabo <strong>de</strong><br />

esquadra! Eu só couheço duas entida<strong>de</strong>s<br />

que são irresponsáveis: o chefe d'um estado<br />

monarchico-constitucional e os <strong>de</strong>meutes.<br />

Salvo se queres incluir nos últimos<br />

a tal senhora imprensa, o que, seja<br />

dito aqui muito á purida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>ixas<br />

<strong>de</strong> ler razão.<br />

— Amigo José, não digas isso d'unia<br />

seuhora tao respeitável, d'uma senhora<br />

que tantos serviços tem prestado á civilisação<br />

dos povos, e que tanto tem pugnado<br />

pela sua emancipação.<br />

— Ah ! Ah I Ah ! Só essa me faria<br />

rir. Bonita civilisação não tem duvida!<br />

Uma civilisaçâo da epocha mediava!<br />

com traje a mo<strong>de</strong>rna; uma emancipação<br />

que sé assemelha muito á que tinha o<br />

Império romano! Bravo ! Bravo amigo<br />

João se te não acabasse <strong>de</strong> ouvir isso náo<br />

te acreditava.<br />

— Amigo José é fácil dizer as cousas,<br />

mais diílicil proval-o.<br />

Como difficil provar o que se vê, o<br />

que é palpavel ? Em que differe a nossa<br />

corrupção <strong>de</strong> hoje das epôchas a que nós<br />

chama mos atrazadas? Em os corruptos<br />

se apresentarem <strong>de</strong> ca.-aca preta em logar<br />

<strong>de</strong> vestirem casacas vermelhas com<br />

armadura, ou andarem semi-nús? Não<br />

temos o Tibre em que se pescavam cadaveres<br />

<strong>de</strong> creanças, mas temos os hospícios,<br />

e os específicos; vê se não abundam<br />

por esse mundo tantos exemplares<br />

da Madona e da Patrícia romana <strong>de</strong> ha 10<br />

séculos? Não temos os pavilhões do tempo<br />

<strong>de</strong> Luiz XV em França, mas temos outros<br />

milhares <strong>de</strong> pontos em que a prostituição<br />

pollula. E chamas a isto civilisação?<br />

Emquanto a emancipação e liberda<strong>de</strong>s<br />

populares tem graça I tim que dillere o<br />

nosso povo da antiga plebe? Trabalha e<br />

paga, e quando não trabalha nem paga,<br />

'morre <strong>de</strong> fome e vae para a ca<strong>de</strong>ia, se<br />

reage e diz a verda<strong>de</strong>, pren<strong>de</strong>m-no, e<br />

atiram no para cárceres unmundos. Se<br />

náo lemos o cerco romano e a bastilha,<br />

ha a compensar a Africa £ a Penitenciaria<br />

1 Ora meu amigo bulias !<br />

— Parece-me que tens razão meu<br />

José, eífectivãmente a humanida<strong>de</strong> pouco<br />

ou nada tem progredido, e a imprensa,<br />

nada tem feito neste sentido. Se alguma<br />

tem <strong>de</strong>rramado a instrucção e bons<br />

princípios, lambem outra tem ajudado á<br />

propagação <strong>de</strong> muita infamia, sustentado<br />

muita <strong>de</strong>vassidao, mantido essa corrupção<br />

que lavra e In <strong>de</strong> arruinar este pobre<br />

Portugal.<br />

— Emfim meu caro João, com esta<br />

me vou; sabes, eu comparo a imprensa<br />

com um gran<strong>de</strong> espelho on<strong>de</strong> se reflecte<br />

tudo o que <strong>de</strong> mais recondilo existe<br />

nas socieda<strong>de</strong>s, e olha que para ver<br />

misérias é melhor ou a gente ser cego<br />

ou partir o espelho.


'AWXO I — 3¥.° O DEFENSOR D® POVO f 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A guarda fiscal<br />

Tudo na mesma; com excepção das<br />

exigencias que se faziam ao commercio<br />

nas vendas para fóra da cida<strong>de</strong>.<br />

O governo ainda nào attendcu á representação<br />

que 1 lie foi dirigida pela Associação<br />

Commercial, se bem que foi suspenso<br />

o serviço vexatorio que levantou<br />

unanimes protestos; pédiii se a extincção<br />

do posto fiscal na estação do caminbo<br />

<strong>de</strong> ferro, adduzindo argumentos bem plausíveis<br />

e comtudo espera-se lia quasi um<br />

mez a <strong>de</strong>liberação do governo sobre este<br />

assumpto que é da maxima importancia.<br />

Consta-nos que alguém interessado<br />

pela conservação da guarda fiscal em<br />

<strong>Coimbra</strong> procura fazer calar o commercio,<br />

promettendo-lbe que para o futuro<br />

se usará da maior brandura e <strong>de</strong> todas<br />

as possíveis con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncias e tolerâncias<br />

; mas ao commercio, cumpre, se quer<br />

ser digno, repudiar taes promettimentos,<br />

nào se <strong>de</strong>ixando illudir.<br />

Allega esse alyuem que, se a guarda<br />

fiscal tem sido rig«rosa é em comprimento<br />

<strong>de</strong> certas disposições contidas em<br />

um Manual qualquer que ella tem para<br />

seu uso.<br />

Não temos conhecimento d'esse Manual,<br />

mas parece-nos que um regulamento<br />

privativo não po<strong>de</strong> ter valor quando<br />

as suas disposições não estejam perfeitamente<br />

d'accordo com a legislação em que<br />

se baseia. Ora o procedimento da guarda<br />

fiscal para com o conimercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

não é auctorisado pela lei, como já<br />

<strong>de</strong>monstrámos nos números anteriores, e<br />

por tanto é arbitrario e escandaloso o<br />

que se tem praticado, e que <strong>de</strong> certo se<br />

tornará a praticar passados alguns mezes,<br />

se o commercio acceitar as promessas<br />

que lhe são feitas.<br />

Extinga-se o posto fiscal do caminho<br />

<strong>de</strong> ferro, e retire-se a guarda fiscal para<br />

a sua sé<strong>de</strong>; alli sem duvida, prestará<br />

melhores serviços. Deixe-se livre o interior<br />

do paiz da oppressão do corpo fiscal.<br />

Corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

O Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> promove<br />

para o proximo domingo, 18 do corrente,<br />

uma corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se<br />

po<strong>de</strong>rão inscrever todos os velocipedistas<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Aos vencedores sçrão concedidos prémios,<br />

ollerecidos por alguns socios d'esta<br />

sympalhica agremiação.<br />

O local da corrida ain/ia não está<br />

escolhido, mas consta que ella se realisará<br />

no trio doiradas, proximo da quinta<br />

regional. «<br />

No proximo numero publicaremos o<br />

programma d,'esta corrida.<br />

A inscripção e condições da corrida<br />

estão patentes na secretaria do Gynuiasio.<br />

" ' ,<br />

Grémio Operário<br />

Nas ultimas eleições <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recreio, ficaram eleitos os seguintes<br />

cidadãos:<br />

Presi<strong>de</strong>nte— Joaquim Antunes <strong>de</strong> Oli"<br />

Veira <strong>Coimbra</strong>.<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nle—J. Ferreira Camões.<br />

Secretario — J. Antonio dos Santos.<br />

Vice secretario—José Bastos dos Santos.<br />

Thesoureiro—Joaquim Saraiva.<br />

Vogues—-.Joaquim Teixeira <strong>de</strong> Sá e<br />

Henrique Cesar <strong>de</strong> Lima.<br />

O nosso amigo, sr. Joaquim Antunes<br />

d'Oliveira <strong>Coimbra</strong>, foi reeleito, o que<br />

prova não só a sua muita competencia<br />

para dirigir esta socieda<strong>de</strong>, mas também<br />

a muita <strong>de</strong>dicação que lhe tem dispensado<br />

a fim <strong>de</strong> a <strong>de</strong>senvolver mantendo<br />

os seus bons créditos.<br />

Os nossos parabéns ao Grémio Operário<br />

por saber fazer justiça a cidadão<br />

tão prestante e que tão bons serviços<br />

conta nesta agremiação.<br />

A nova direcção pensa na fundação<br />

d'um pequeno theatro para recreio da familia<br />

dos socios.<br />

O caso Urbino <strong>de</strong> Freitas<br />

Ficou transferida para o dia 21 do<br />

corrente a conferencia medica, or<strong>de</strong>nada<br />

pelo supremo tribunal <strong>de</strong> justiça.<br />

De <strong>Coimbra</strong> vão os srs. drs. Raymundo,<br />

Motta e Augusto Rocha, lentes<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; Joaquim dos Santos e<br />

Silva, preparador <strong>de</strong> chimica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

e A. J. Rosa, pharmaceutico <strong>de</strong><br />

Lisboa, que foram nomeados pelo <strong>de</strong>fensor<br />

do reu,<br />

Galeria <strong>de</strong> retratos<br />

Parece que vae ser coinpleta a.galeria<br />

dos retratos dos reiteres da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

faltando 'para isso es retratos dos<br />

prelados srs. viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Villa Maior,<br />

Adriano Machado e Antonio dos Santos<br />

Viegas.<br />

1<br />

Inspecção ao leite<br />

Sabemos que a policia tem procedido<br />

á inspecção do leite, multando as ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras<br />

que abusavam da indilferençae<br />

esquecimento.em que tinha caido este<br />

serviço.<br />

Assim vimos satisfeita a reclamação<br />

que fizemos neste jornal ao sr. commissario<br />

<strong>de</strong> policia.<br />

Pombos-correios<br />

Na sua ida a Lisboa, 0 sr. Joaquim<br />

Gavino, levou dois pombos que creou na<br />

sua quinta a.o Cidjçal. Na terça Teira, pelas<br />

8 horas da manhã soltou-os no terreiro<br />

do Paço, recebendo <strong>de</strong>pois participação<br />

<strong>de</strong> que tinham chegado a esta cida<strong>de</strong> ás<br />

4 da tar<strong>de</strong>.<br />

Com estes pombos já se haviam feito<br />

mais experiências, e sendo ha tempos<br />

levadas para a Figueira e <strong>de</strong>pois para<br />

Soure, em poucas horas recolhiam a<br />

casa do sr. Gavino.<br />

O burro do sr. Alcai<strong>de</strong><br />

Quem tiver empenho em obter a photographia<br />

do inimitável Burro e dos personagens<br />

que com elle figuram, encontram<br />

essa magnifica collecçáo <strong>de</strong> photographias<br />

á venda no esçriptorio do theatro<br />

D.- Luiz.<br />

Dias, José Ricardo, Santos Mello,<br />

Santos, Ramalhete, Emília Eduarda, Angela<br />

Pinto, Elvira Men<strong>de</strong>s, Thereza Pratas<br />

e outros artistas, figuram nesses graciosos<br />

grupos habilmente photographados<br />

pela casa Emilio Biel & C; a<br />

Associações <strong>de</strong> soccorros<br />

Hoje reúnem as associações <strong>de</strong> soccorros<br />

mutuos: Sexo Feminino e Montepio<br />

Conimbricense, A Tini <strong>de</strong> se tratar lUÍ « O A O l l .891;<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Figueira, 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Ainda que tar<strong>de</strong>, vou dar-lhes noticias<br />

d'esta pacata cida<strong>de</strong> que foi be.rço<br />

do gran<strong>de</strong> patriota Manoel Fernan<strong>de</strong>s<br />

Thomaz.<br />

Ha 70 annos que o gran<strong>de</strong> caudilho<br />

das liberda<strong>de</strong>s patrias <strong>de</strong>ixou a terra,<br />

(19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1822) legando a<br />

sua familia um nome immaculado, que a<br />

historia jámais esquecerá.<br />

Nesta epocha <strong>de</strong> feroz egoismo mais<br />

se avolumi o nome d'aquelle gran<strong>de</strong> heroe<br />

<strong>de</strong> 1820 I O seu inimitável heroísmo<br />

e abnegação, são rarida<strong>de</strong>s.<br />

—Em goso <strong>de</strong> licença por 30 dias,<br />

(?) partiu para Lisboa o bacharel Annihal<br />

<strong>de</strong> Vasconcellos, administrador d'este<br />

concelho. Como passaram as eleições,<br />

po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se—homem ao mar.<br />

Ficou a substituil-o interinamente, o<br />

sr. Rodrigo Galvão, cavalheiro sympathico<br />

e digno <strong>de</strong> todo o respeito, pela<br />

sua lhaneza e fino trato.<br />

A Figueira ganhoh com a troca.<br />

—Paulo Nestorio, um bello caracter;<br />

génio folgazão, alma propensa ao bem,<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir quando a vida lhe sorria<br />

1 Figura sympalhica, <strong>de</strong> trato affavel,<br />

captivava .os que o tratavam <strong>de</strong> perto.<br />

Deixou vivas sauda<strong>de</strong>s a sua familia<br />

e amigos, que se contam por <strong>de</strong>zenas.<br />

Foi victima da <strong>de</strong>va-stadora tuberculose.<br />

Domingo passado, os seus amigos mandaram<br />

resar uma missa na capella da<br />

Misericórdia com a assistência da philarnionica<br />

10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> que o finado foi<br />

director. A concorrência foi enorme.<br />

Até á semana.<br />

A GRANEL<br />

Tompson.<br />

Nos estaleiros <strong>de</strong> Aveiro vae gran<strong>de</strong><br />

animação.<br />

No estaleiro <strong>de</strong> Fão foi lançado á agua<br />

um hiate <strong>de</strong>nominado Rocambole, pertencente<br />

ao negociante José Pereira Júnior.<br />

No estaleiro <strong>de</strong> Gafanha, está em cóttstrucção<br />

um palhabote, pertencente aos<br />

constructores Monicas, e vae em breve<br />

ser construída uma chalupa pertencente<br />

ao negociante <strong>de</strong> Aveiro, sr. Pedro Morejra.<br />

Além d'estes navios já este anno foram<br />

lançados á agua mais quatro, pertencentes<br />

á praça <strong>de</strong> Aveiro e que são as chalupas<br />

Mónica, Patria, Amisa<strong>de</strong>, e Portuguesa.'<br />

* * # Em Aveiro paga-se a lijpOft<br />

por wagon o sal <strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>.<br />

* * # No ultimo mercado mensal<br />

BT<br />

que houve em Santa Comba Dão roubaram<br />

a um homem 12 lihras .<strong>de</strong> uma algibeira<br />

do collete, e com tal arte o lizeram<br />

que até lhe cortaram com thesoura o<br />

bolso sem que o roubado o sentisse.<br />

* * # A villa <strong>de</strong> Santa Comba Dão<br />

vae ter ura novo-jornafe para isso tralase<br />

da compra d'uma typographia para<br />

aquella localida<strong>de</strong>.<br />

V<br />

* * * Num leilão <strong>de</strong> vinho do<br />

Porto realisado ha dias em Londres ven<strong>de</strong>ram-se<br />

2:188 pipas.<br />

* * * Contam d'Agueda: os larápios<br />

andam <strong>de</strong>saforados em todos os<br />

mercados e rara é a feira on<strong>de</strong> eiles não<br />

<strong>de</strong>ixem fama das suas gran<strong>de</strong>s proezas.<br />

* * * Em Mogofores uma mulher<br />

safti <strong>de</strong> casa <strong>de</strong>ixando uma creança <strong>de</strong> 7<br />

annos fechada.<br />

Ignora se o que fez o innocente; o<br />

que é certo é que os visinhos sentindo<br />

um forte cheiro a chamusco, arrombaram<br />

a porta e <strong>de</strong>pararam então com a creança<br />

prestes a expirar e horrivelmente queimada.<br />

* * # No Porto lanfbem lia crise<br />

<strong>de</strong> trabalho. No governo civil continuam<br />

a passar guias a operários.<br />

* * * Diz o Temps que actualmente<br />

circulam nos paizes da união latina<br />

100:000 contos <strong>de</strong> moeda falsa. Estamos<br />

livres d'isso.<br />

* * * Estão muito adiantadas as<br />

negociações para a <strong>de</strong>finitiva reorganisação<br />

da companhia carvoeira portugueza<br />

<strong>de</strong> S. Vicente.<br />

# * # O agio das libras tem regulado<br />

no Porto a 1/100 réis cada uma.<br />

* * # Foi <strong>de</strong>terminado que os novos<br />

bilhetes postaes, da taxa <strong>de</strong> 30 réis, e<br />

com resposta paga, sejam postos á venda<br />

no continente do reino, em 15 do corrente,"<br />

e nas ilhas dos Açores e Ma<strong>de</strong>ira,<br />

em 15 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1893.<br />

# * # Perto da fabrica <strong>de</strong> Ruães,<br />

ça[ram ao rio dois empregados da mesma<br />

fabrica, sendo um salvo e ignorando-se<br />

o <strong>de</strong>stino do outro.<br />

# * * Em Badajoz está causando<br />

consi<strong>de</strong>ráveis estragos a epi<strong>de</strong>mia da<br />

diphteria, tendo nos últimos <strong>de</strong>z dias havido<br />

cinco casos fataes.<br />

901908 ao M>boJ « !>I(!,:!;Í F> .<br />

- * * * Em Villa Real a intensida<strong>de</strong><br />

do frio tem sido <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m nos últimos<br />

dias, que parece estar-se no polo norte.<br />

A atmosphera está carregada <strong>de</strong> gelo.<br />

* * * Em Beja o azeite regula por<br />

' 00 réis o <strong>de</strong>calitro.<br />

* * * A corveta Áffonso <strong>de</strong> Albuquerque<br />

irá a New-York representar a<br />

marinha portugueza na gran<strong>de</strong> manifestação<br />

naVal <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

* * * O ministério do reino agraciou<br />

com 25 por cento do or<strong>de</strong>nado vários<br />

professores primários.<br />

* * # Parece que vae ser organisada<br />

em Lisboa uma exposição d'artes <strong>de</strong>corativas.<br />

Coisas e loisas<br />

, X. annuncia a um amigo o seu pro<<br />

ximo casamento, cora uma menina da<br />

melhor socieda<strong>de</strong>, e riquíssima.<br />

O amigo, com espanto:<br />

— Mas isso está <strong>de</strong>cidido?<br />

— E um casamento já meio feito.<br />

— Como meio feito?<br />

— Já ha o meu consentimento e o<br />

<strong>de</strong> minha familia; só falta o consentimento<br />

da noivo e da família d'ella.<br />

Um sujeito muito pedante, e que tinha<br />

como principio a theoria <strong>de</strong> puxar<br />

constantemente pela iutelligencia das<br />

creanças, maçava com perguntas extravagantes<br />

um filhinho que tinha. Um dia<br />

perguntoij-lhe:<br />

— Disse-me cá, Arthur, qual é o ani-.<br />

mal que diz hi hon, hi-hon?<br />

— Ora I... E o papá.<br />

v<br />

Desgarradas<br />

Numa ponta tinha o sol,<br />

E na outra o céu pintado ;<br />

No meio linha um lettreiro<br />

Do nosso tempo passado.<br />

THEATIIO D. LUIZ<br />

Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

Recita em beneficio<br />

<strong>de</strong> José Maria dAzevedo<br />

Em que tomam parte por especial<br />

obsequio os ex. ra " s srs. Luiz da Gama,<br />

Luiz Nogueira, Pinto Ereio, Samuel Pessoa,<br />

Taveira, Ribeiro, Macedo, Paes e<br />

F. Lucas, e as ex. mas sr. aí D. Maria da<br />

Luz Velloso e D. Carlota Velloso.<br />

PROGRAMMA<br />

Depois <strong>de</strong> velhos ... gaiteiros.<br />

Comedia em um acto, pelos ex. mo '<br />

srs. Luiz Nogueira, F. Lucas, Pinto<br />

Ereio e D. Luz Velloso.<br />

Os Milagres. Cançoneta pelo ex. m0<br />

sr. Luiz da Gama.<br />

Tercetto musical pelos ex. mos srs.<br />

Ribeiro Alves, Francisco Macedo e<br />

Augusto Paes.<br />

Assim... Assim. Cançoneta pelo<br />

ex." 10 sr. Samuel Pessoa.<br />

A cabelleira <strong>de</strong> minha mulher.<br />

Comedia em um acto pela ex. raa * sr. aS<br />

D. Carlota Velloso, D. Luz Velloso,<br />

e pelos ex. mos srs. Pinto Ereio, Taveira,<br />

F. Lucas e N. N.<br />

PREÇOS<br />

Camarotes <strong>de</strong> 1.» or<strong>de</strong>m e Frizas<br />

2/000 ; Camarotes <strong>de</strong> 2. a or<strong>de</strong>m 1/500 ;<br />

Ca<strong>de</strong>iros 500 ; Superior 300 ; Varandas<br />

4180 réis.


AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />

OTlTIiOS<br />

PA HA<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

Çoimbra<br />

IVIonte-pio Conimbricense<br />

AVISO<br />

IVVEIOPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapidas<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

Os signatarios da proposta para a<br />

fundação da pharmacia comnium a todas<br />

as associações, lembra a todos os socios<br />

do mesmo Monte-pio, que ámanhã, domingo,<br />

pelas 10 horas da manhã, tem<br />

<strong>de</strong> .ser resolvida essa proposta com qual»<br />

quer numero <strong>de</strong> associados, e como os<br />

signatarios <strong>de</strong>sejam que neste assumpto<br />

haja a maior clareza e boa fe, pe<strong>de</strong>m a<br />

todos os seus consocios o favor da sua<br />

comparência na sala da Associação dos<br />

Artistas, para ser tratado este importante<br />

assumpto com o maior numero possivel.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

L I V R O S<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

uin exemplar.<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Sçhcefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemão<br />

T POR<br />

F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

* ® B P ® .olofioaq^iui; OJI .<br />

j. m m ai SAMPAIO mm<br />

Edição completa por um corpo do<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovaudo<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

entre outros eminentes collaboradores,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />

Vasconcellos e dos ex. raos srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriplorio da empréza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

D E G R A Ç A<br />

Carteira para notas,<br />

Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />

A KtlK — É este o titulo sita na Couraça<br />

W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />

tratar com José Simões, largo do Castello.<br />

G A R R A F A S<br />

38 Antonio Dias Themido,<br />

compra garrafas brancas<br />

e pretas.<br />

Rua Ferreira Borges,<br />

129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />

Vinho Maduro do Douro<br />

e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />

SUPERIOR QUALIDADE<br />

Ven<strong>de</strong>-se na mercearia Ave-<br />

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nida.— Largo do Principe<br />

D. Carlos, <strong>47</strong> a 53—<strong>Coimbra</strong>.<br />

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Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />

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ANTONIO DA SILVA PONTES<br />

onsultas das 12 horas ás<br />

50 C 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />

ás 9 da noite.<br />

„. ft gencia em <strong>Coimbra</strong>, rua<br />

5 / M <strong>de</strong> Ferreira Borges, 97, 1.°<br />

andar.<br />

JULIÃO ANTONIO D'ALIEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór - 24<br />

s Mo seu antigo estabelecimento<br />

( t concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />

:<br />

Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1(51500<br />

Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e algodão<br />

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Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />

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2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />

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14, Largo <strong>de</strong>nunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

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M M I O JOSÉ SE mu B A S T O - M SOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />

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ESTAMPARIA 9IEC1IAHICA<br />

^P iuge lã, sèda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />

JL feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> ho-<br />

mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por esle processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sèda e lã.<br />

Ti atais paca escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

ARTAZES<br />

Prospectos<br />

e bilhetes<br />

<strong>de</strong> theatro<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

VISOS<br />

DEPOSITO DA FABIÍICA M A L<br />

DE<br />

PARA<br />

Leilões,<br />

casas<br />

coirmerciaes, etc.<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

2 IvrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

XAROPE DE PHELLâMDRIO<br />

COMPOSTO DE ROSA<br />

5 f« ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />

& quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />

peito. Foi ensaiado com opiimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia Itosas & Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />

<strong>Coimbra</strong>, Uodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />

61, 65.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17-ADÍTO DE CIMA - 20<br />

(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

RMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junlo<br />

2 A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus; Eaz-se <strong>de</strong>sconto<br />

nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />

faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />

radas para adullos e crianças.<br />

Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />

AO PUBLICO<br />

D 61<br />

eclaro para os <strong>de</strong>vidos effeito^<br />

que o sr. Antonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />

n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892<br />

Manoel dos Santos ^Apostolo Júnior.<br />

Novo estabelecimento<br />

Ug a ntonio Paulo d^ttlivcira,<br />

n ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />

Santos Apostolo Júnior, participa ao illustrado<br />

publico conimbricense que vae<br />

abrir um estabelecimento egual ao do<br />

seu ex-palrão, na rua do- Sargento Mór,<br />

n. 0 ' 1, 3 e 5.<br />

TRESPASSA.SE<br />

m estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />

<strong>47</strong> O zendas, quinquilherias e mercearias,<br />

bem afreguezado e no melhor<br />

local <strong>de</strong> Pombal, por seu doDo não o<br />

po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />

a S. B. F. — Pombal.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53 A u 9 M " to Nunes dos San-<br />

Mi tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

RUA DIREITA, 18 —COIMBRA<br />

0 DEFENSOR 00 POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

E D I T O R<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno WOO<br />

Semestre.... 1$<strong>35</strong>0<br />

Trirnest.e... 680<br />

(PAOA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2£400<br />

Semestre...,<br />

Trimestre...<br />

11200<br />

600<br />

Impresso na Typographla<br />

Operaria — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo à rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


Em linha recta<br />

A primeira obrigação cTtim systema<br />

politico é promover e fomentar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do paiz em que<br />

vigora, levando-o por uma serie <strong>de</strong><br />

medidas intelligente e pru<strong>de</strong>ntemente<br />

applicadas a occupar na escala da<br />

civilisação um logar cada vez mais<br />

proeminente; e toda aquella nacionalida<strong>de</strong><br />

em que este principio não<br />

serve <strong>de</strong> norma aos seus po<strong>de</strong>res<br />

dirigentes é uma nação con<strong>de</strong>mnada<br />

pelas outras nações a um ostracismo<br />

merecido. No concerto superior das<br />

nações civilisadas só po<strong>de</strong> entrar<br />

aquella, que, pela sua intelligencia e<br />

pelo seu trabalho, tiver <strong>de</strong> direito<br />

conquistado o seu logar.<br />

Coor<strong>de</strong>nar as forças d'um povo<br />

e, numa sabia direcção constante,<br />

leval-o á realisação d'este i<strong>de</strong>al nobilíssimo<br />

é a primeira obrigação do<br />

estado; congregar os seus esforços<br />

numa aspiração permanente <strong>de</strong> realisar<br />

o seu elevado fim.é a primeira<br />

obrigação do povo.<br />

Na lucta pela vida, que caracterisa<br />

os tempos mo<strong>de</strong>rnos, em que as<br />

tradições sentimentaes e mais ou menos<br />

poéticas dos tempos idos não<br />

augmentam nem um ápice a cotação<br />

dos fundos, é indispensável que uma<br />

nacionalida<strong>de</strong>, seja qual fôr o brilho<br />

glorioso da sua aureola tradicional,<br />

não adormeça placidamente á sombra<br />

dos seus antigos loiros, porque<br />

esse <strong>de</strong>licioso e <strong>de</strong>scuidado somno<br />

po<strong>de</strong> ser o seu somno <strong>de</strong> morte ; o<br />

povo que, na sua <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia, tem a<br />

enaltecel-o aos olhos dos outros povos<br />

o fulgor radiante das glorias da<br />

sua prosperida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve unicamente<br />

ver nessas tradições gloriosas um<br />

estimulo acerado das suas forças<br />

<strong>de</strong>bilitadas, um exemplo frisante <strong>de</strong><br />

valor e <strong>de</strong> honra, que <strong>de</strong>ve constantemente<br />

imitar.<br />

Por sua vez o Estado <strong>de</strong>ve aproveitar<br />

todas as occasiões que se lhe<br />

apresentem <strong>de</strong> fazer reviver aos olhos<br />

do povo a lembrança das suas tradições<br />

heróicas, aproveitando-as co^<br />

mó um elemento po<strong>de</strong>roso para a<br />

restauração do organismo nacional,<br />

apontando-lhe os feitos memoráveis<br />

dos seus antepassados, a sua energia,<br />

a sua vitalida<strong>de</strong>, como um facho<br />

brilhante <strong>de</strong> luz que lhe <strong>de</strong>ve servir<br />

<strong>de</strong> guia.<br />

O nósso pequeno povo foi também<br />

outriora um ninho <strong>de</strong> heroes;<br />

a nossa riqueza e o nosso po<strong>de</strong>r já<br />

causaram a admiração do mundo;<br />

este canto do occi<strong>de</strong>nte já teve gran<strong>de</strong><br />

pezo na balança da Europa; a<br />

fama <strong>de</strong> Portugal echoou, noutros<br />

tempos, por todo o orbe, e nenhuma<br />

outra nação tem, como a nossa, tão<br />

brilhantefolha <strong>de</strong> serviços relevantes<br />

e gloriosos prestados á causa da<br />

humanida<strong>de</strong> ; — mas á sombra <strong>de</strong>stes<br />

loiros, colhidos pelo esforço gigante<br />

das nossas gerações passadas,<br />

temos dormido, <strong>de</strong>scuidados, um<br />

fatal somno secular, ao rythmo seductor<br />

das esplendidas narrações<br />

lendarias, que ha tantos séculos veem<br />

embalando a nossa phantasia.<br />

Mas urge que acor<strong>de</strong>mos, emfim;<br />

que sacudamos dos musculos enervados<br />

o torpor secular que nos <strong>de</strong>bilita<br />

e mata, e que nos trouxe á vida<br />

ficticia que vivemos hoje, vida <strong>de</strong><br />

misérias e <strong>de</strong> vergonhas, vida <strong>de</strong><br />

parasitas e <strong>de</strong> la^aroni; vejamos<br />

afinal" se a trocamos por um viver<br />

honesto, digno, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, proprio<br />

d'um povo conscio da sua dignida<strong>de</strong><br />

e dos seus <strong>de</strong>veres, e que<br />

se envergonha <strong>de</strong> viver á custa dos<br />

outros povos. Bem sabemos que é<br />

doloroso abandonar <strong>de</strong> vez o vicio<br />

que nos <strong>de</strong>licia —não fazer nada; é<br />

commodo o principio que caracterisa<br />

frisantemente a nossa orientação e<br />

a nossa indole — <strong>de</strong>ixar correr; mas<br />

no dilemma <strong>de</strong> morrer ou trabalhar<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

a escolha não é diflicil. Trabalhemos,<br />

pois.<br />

Oriente-se o povo portuguez pelo<br />

critério das nações mo<strong>de</strong>rnas — trabalhe;<br />

congregue todas as suas forças<br />

num esforço supremo <strong>de</strong> boa<br />

vonta<strong>de</strong> energica e <strong>de</strong>cidida; metta<br />

resolutamente os hombros á empreza<br />

restauradora da sua economia; forceje<br />

<strong>de</strong>nodadamente por se approximar.<br />

do seu fim, conquistando entre<br />

as nações cultas o seu logar <strong>de</strong><br />

honra. Precisa para realisar este<br />

i<strong>de</strong>al da cooperação po<strong>de</strong>rosa d'um<br />

systema politico rasgadamente reformador<br />

4 , e que a vis interesses<br />

mesquinhos anteponha sempre a sua<br />

acção civilisadora; não encontra nas<br />

instituições que o regem a protecção<br />

efficaz que lhe é indispensável —<br />

esmague-as.<br />

E' este o seu <strong>de</strong>ver e o seu direito.<br />

Franco Ascot.<br />

O governo em talas<br />

Tem corrido o boato <strong>de</strong> qne o governo<br />

recebeu más noticias <strong>de</strong> Paris com<br />

respeito ás negociações para o pagamento<br />

do coupón <strong>de</strong> janeiro, dizendo-se que é<br />

completamente impossível arranjar-se dinheiro<br />

para se realisar o pagamento no<br />

tempo <strong>de</strong>terminado.<br />

Crise ministerial<br />

Dá-se como certa a sabida do sr.<br />

Pedro Victor, dizendo-se que para a<br />

pasta das obras publicas entrará o sri<br />

João Franco ou o sr. Elvino <strong>de</strong> Brito.<br />

Está salva a patria !<br />

Leiam essa infamia \<br />

Numa carta do nosso querido correligionário<br />

tenente Coelho, preso em Mossame<strong>de</strong>s<br />

por causa da revolta do Porto,<br />

leem-se estes periodos:<br />

«Chagas está em calabouço, <strong>de</strong> sentinella<br />

á vista, como um faccinora.<br />

«Os rapazes que foram amnistiados<br />

ainda vivem sob o regimen<br />

do <strong>de</strong>gredo, apezar <strong>de</strong><br />

terem <strong>de</strong>corrido mezes da <strong>de</strong>cretação<br />

da amnistia.»<br />

Nâo nos espanta o que se eslá passando<br />

com o <strong>de</strong>stemido jornalista, porisso<br />

que os monarchicos hão <strong>de</strong> levar longe<br />

as suas fúrias contra esse valente revolucionário;<br />

o que nos admira é que a<br />

infamia suba a ponto <strong>de</strong> se relerem ainda<br />

presos homens que foram amnistiados<br />

pela regia munificência.<br />

E não havemos <strong>de</strong> affirmar que a<br />

amnistia foi uma burla? E não havemos<br />

<strong>de</strong> protestar contra tal <strong>de</strong>saforo <strong>de</strong> que<br />

é responsável esse governo immoral, que<br />

tem a presidil-o o <strong>de</strong>pravado patuleia,<br />

José Dias ? I<br />

liebulosida<strong>de</strong>s ...<br />

Diz o nosso collega a Folha do Povo<br />

que as folhas alfectas ao governo affirmaram<br />

que em Angola está tudo socegado,<br />

e que alli nunca se pensou mesmo<br />

em quaesquer velleida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> revolta.<br />

Quer o illustrado collega acreditar<br />

nessa affirmação; porem pe<strong>de</strong> que ao<br />

menos lhe expliquem o motivo porque<br />

se mandou apparelhar a toda a pressa a<br />

corveta Bartholomeu Dias para seguir para<br />

Angola ?...<br />

Crêmos não os molestar muito com<br />

esta pergunta, filha d'uma curiosida<strong>de</strong><br />

alias naturalissima.<br />

Heliodoro Salgado<br />

Ficou adiado para o dia 20 do corrente<br />

o processo d'este nosso amigo e<br />

collega d'A Portugueza, que se<br />

<strong>de</strong>via effeclunr no sabbado passado. O<br />

<strong>de</strong>stemido jornalista é accusado <strong>de</strong> ler<br />

incorrido, em vários artigos no crime <strong>de</strong><br />

lesa-magesta<strong>de</strong> e <strong>de</strong> offensas ás instituições<br />

vigentes.<br />

PELOS JORNAES<br />

O Tempo cahe a fundo sobre a chefia<br />

progressista e sobre o seu orgão na imprensa<br />

o Correio da Noite.<br />

Vão dois specimens.<br />

Fala do jornal:<br />

«E com que auctorida<strong>de</strong> e com que<br />

consciência e por que estimulo hostdisa<br />

tão ru<strong>de</strong> e iniquainente o governo esse<br />

jornal, que toda a gente suppõe inspirado<br />

pelo chefe progressista ?<br />

«Com que auctorida<strong>de</strong>, sa foi um<br />

corista subserviente d'esse regabofe d'operetta<br />

que nos ia arruinando e que<br />

nos empurrou pára esta gravíssima<br />

cpnjunetura, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um quinto acto<br />

<strong>de</strong> tragedia, doloroso o brutal, pom qué<br />

os proprios comediantes não contavam<br />

?»<br />

Fala do chefio:<br />

«A terra' porquê? O chefe progressista<br />

faria mais, tem maior competencia,<br />

venceria agora a crise que o fez<br />

esmorecerem janeiro, pô<strong>de</strong>.agora subir<br />

a esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que ha onze mezes tinha<br />

meaoT ", .<br />

«Porque ríão appareeeu então è porque<br />

não disso ao paiz esmorecido:<br />

Aqui estou eu, para a penitencia dos<br />

meus <strong>de</strong>svarios. Se ha um sacrifício a<br />

fazer, pertence-me. E' a minha expiação.»<br />

Ve se que andam mal-avindos os títeres<br />

do regime.<br />

Questões <strong>de</strong> estomago, meramente.<br />

Não se passa um só dia sem que os<br />

jornaes <strong>de</strong>safíectos ao ministério produzam<br />

boatos, <strong>de</strong> crise ministerial, os qúaes,<br />

por seu turno, os jornaes otSciaes <strong>de</strong>smentem<br />

<strong>de</strong> prompto.<br />

Parece, no entanto, que não voga<br />

serena a nau ministerial. Os rombos são<br />

<strong>de</strong> tal guisa que se po<strong>de</strong> presagiar sem<br />

ridícula pretenção. <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>nte, que não<br />

vae longe a charanga.<br />

Acerca, do assumpto esplana-se a<br />

Tar<strong>de</strong>, estylo d'ebservatorio:<br />

«Baixou o barometro cerca <strong>de</strong> cinco<br />

milímetros no torreão do Sul do Terreiro<br />

do Paço. As pressões mais fortes<br />

continuam sobre esse mesmo torreão.<br />

Telegrammas do Calhariz falam da<br />

existencia <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão<br />

moral naquella região. No pateo do Pimenta<br />

o tempo couserva-se varia veh<br />

Os velhos lobos do màr affirmam que a<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>af-se, não afundará o barco.»<br />

Abstrahindo as insistências facciosas<br />

<strong>de</strong> uns e os <strong>de</strong>smentidos capciosos doutros,<br />

pô<strong>de</strong> sensatamente visionar-se que<br />

não está para longe a morte do mima-*<br />

lerio.<br />

*<br />

Em artigo editorial escreve o Primeiro<br />

<strong>de</strong> Janeiro:<br />

«O paiz percebe nitidamente que a<br />

nossa situação financeira não melhorou<br />

: está peor. Sabe positivamente que,<br />

para Solver o déficit, ha-<strong>de</strong> sujeitár-se a<br />

duros sacrifícios: não ha, nos nossos homens,<br />

públicos, quem ignore a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tal exigencia. Vai por ahi<br />

fóra um <strong>de</strong>scontentamento prpfutndo,<br />

roendo pouco a poucô todas as crenças<br />

e esfriando o respeito 0 0 amor pelas<br />

instituições: só quem é cego éque não<br />

vé, em face do ultimo acto eleitoral,<br />

quanto esse <strong>de</strong>scontentamento é profundo,<br />

coino elle mergulha profundamente<br />

na alma do paiz. Por mais que<br />

muitos incrédulos na eílicacia do que<br />

chamam os inmorlaes princípios se<br />

riam d'aquelles que <strong>de</strong>sejam vêr restauradas<br />

algumas liberda<strong>de</strong>s oífendidas<br />

por uma dictadura imbecil e cobar<strong>de</strong>,<br />

a verda<strong>de</strong> á que subsistem, na sua vergonha,<br />

as provi<strong>de</strong>ncias germinadas da<br />

impudica audacia d'alguns governantes.»<br />

E logo a seguir:<br />

«E' péssimo o nosso estado economico<br />

: é péssimo o nosso estado financeiro<br />

: é péssimo o nosso estado político.<br />

Digamos isto assim, asperamente, porque<br />

é a verda<strong>de</strong>. E comtudo, aiite esta<br />

situação, quaes são as principaes preoccupações<br />

da nossa politica, em que é que<br />

especialmente pensam muitos dos que<br />

<strong>de</strong>viam, acima <strong>de</strong> quaesquer interesses,<br />

olhar para a causa da nação? A politica<br />

que. no nosso paiz, se faz exclusivamente<br />

em Lisboa, num numero restricto<br />

porque não exce<strong>de</strong> a trinta pessoas,<br />

entre políticos e financeiros, o uuuie rd<br />

dos dominadores d'este paiz, dos seus<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 85 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

senhores, dos seus morgados, limita-se<br />

somente, ou a interesses partidarios<br />

que são o prurido ambicioso d'um<br />

grupo, ou a interesses iudividuaes, <strong>de</strong>speitos<br />

e vellerda<strong>de</strong>s que são d'um verda<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong>spejo. E isto porque o paiz,<br />

digamol-o com sincerida<strong>de</strong>, não comprehen<strong>de</strong><br />

a sua força e não tem, para<br />

muitos do que por ahi se vê, a energia<br />

que <strong>de</strong>via usar!...»<br />

É extraordinário que os nossos collegas<br />

da imprensa monarchica que analysam<br />

<strong>de</strong>sapaixonadamente os costumes políticos<br />

e olham com mais <strong>de</strong>sassombro<br />

•oS actos mihisleriaes — é extraordinário,<br />

dizemos, que eiles, reconhecendo que<br />

só ao regime monarchico <strong>de</strong>vemos a<br />

miserável situação a que chegamos ainda<br />

persistam era dar o seu concurso a tal<br />

regime.<br />

Porque a lógica impõe-se : quem tem<br />

governado o paiz? A monarchia. Quem<br />

o empobreceu evi<strong>de</strong>ntemente ? A monarchia.<br />

Logo, o Janeiros outros collegas que<br />

aliás blasonam <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong> patriótica,<br />

ou <strong>de</strong>vem acatar o dogma monarchico incondicionalmente<br />

ou romper com elle a<br />

valer.<br />

*<br />

Mestre Carrilho levantando uma ponta<br />

do vèo, <strong>de</strong>ixa ver:<br />

«A conta corrente do thesouro, que<br />

na semana finda em 9 diminuíra 18J<br />

coiitosj ainda <strong>de</strong>sceu na semana finda<br />

em 16, mais alguma cousa: 37 contos.<br />

Mas as notas em circulação, isto é, a<br />

moeda impressa e importada pelo Banco,<br />

augmenta 302 contos, e os lucros<br />

sóbem, nesta semana, apenas 1<strong>47</strong> contos;<br />

<strong>de</strong> sorte que neste anno até 16 <strong>de</strong><br />

novembro, os juros e lucros, a passar<br />

para ganhos e perdas ascen<strong>de</strong>m já á<br />

continha <strong>de</strong> dois mil contos; apenas<br />

quinze por cento do capital <strong>de</strong>sembolsado.»<br />

Isto em quanto o Tempo, orgão do sr.<br />

José Dias, se esfalfa em optimismos impru<strong>de</strong>ntes<br />

acerca da nossa situação ecouomica.<br />

Pois nós votamos pelo mestre Carrilho<br />

: isto não vae bem...<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

De João Chagas<br />

"WWSAÍ<br />

De novo na fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel.<br />

Como é domingo, está tudo fechado.<br />

Comtudo, ahi pelo pino do meio dia, sob<br />

o sol que nos cinge, andamos, eu e um<br />

sargento, a correr repartições.<br />

Finalmente cahimós aqui.<br />

Eu disse, a bordo do S. Thomé, ao<br />

partir para Mossame<strong>de</strong>s, que esta colonia<br />

<strong>de</strong> Portugal era uma infamia e que<br />

estes funccionarios eram uns bandidos.<br />

Estou a sentil-os.<br />

Quando aqui <strong>de</strong>i entrada a primeira<br />

vez, tive um calabouço vazio. Agora <strong>de</strong>ram<br />

me um calabouço cheio. Somos seis<br />

e andamos aos encontrões.<br />

Este calabouço é como as èa<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

província. Tem gra<strong>de</strong>s para uma rua da<br />

fortaleza e é <strong>de</strong>vassado. Quem passa vê<br />

quem e>tá. Assim, hoje tem passado aqui<br />

magotes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredádos e gente curiosa<br />

a observar-rue.<br />

Em torno <strong>de</strong> mim ha velhos leitos <strong>de</strong><br />

ferro, bahus <strong>de</strong> presos, uma meza <strong>de</strong> pinho<br />

occupada por uma garrafa vasía, um<br />

velho compasso, um candieiro <strong>de</strong> chumbo<br />

que já não funcciona e ura estilhaço<br />

<strong>de</strong>' espelho. A um canto immundo, on<strong>de</strong><br />

zumbem moscas, uma lata que serviu pari<br />

petroleo, serve hoje. para conter as<br />

<strong>de</strong>jecções dos presos.<br />

O calabouço não tem janella e está<br />

pintado a cal. A soalheira <strong>de</strong> fóra é <strong>de</strong><br />

uma violência que faz fechar os olhos.<br />

Os homens que aqui estão reclusos,<br />

dormem <strong>de</strong> barriga para o ar ou assobiam<br />

encostados ás gra<strong>de</strong>s.<br />

Hontem á noile appareeeu aqui um<br />

alferes com uma enxerga e uma cama <strong>de</strong><br />

ferro. Disse-me — «Está limpa» e foi-se<br />

embora.<br />

Eu colloquei-rae o mais longe possível<br />

da enxerga e do leito e passei a noite<br />

em uma ca<strong>de</strong>ira, ouvindo resonar os<br />

homens que aqui estão presos e pensan-<br />

do que lia<strong>de</strong> vir um dia em que a populaça<br />

portugueza invadirá os paços dos<br />

reis, as salas das repartições, as redacções<br />

dos jornaes, os Bancos e as padarias<br />

e como aquelle alteres dirá simplesmente—<br />

«Está limpa!» indo-se embora<br />

como quem acaba <strong>de</strong> cumprir um<br />

<strong>de</strong>ver.<br />

Para me tirar d'este chiqueiro, acoqselharam-me<br />

a que <strong>de</strong>sse baixa ao hospital.<br />

Diabo I Mas- eu não estou doente. Infelizmente,<br />

não estou doente.<br />

A não ser que leia doze vezes este<br />

periodo do jornal o Século:<br />

«Digam o que disserem, estamos n'timo<br />

epocha <strong>de</strong> inquestionável avanço liberal<br />

e tolerancia.»<br />

Hoje, foi mandado em serviço das<br />

obras publicas, carregar pedras, o musico<br />

<strong>de</strong> infanteria 10, Rocha, con<strong>de</strong>mnado em<br />

consequência da insurreição <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro,<br />

e amnistiado por occasião<br />

da entrega da Rosa d'Oiro.<br />

O sr. Julio <strong>de</strong> Vasconcellos foi preso<br />

no Porto. Os jornaes porluguezes informaram<br />

então que o governo mandára<br />

perguntar para Loanda se havia aqui<br />

processo instaurado contra aquelle senhor.<br />

D'aqui respon<strong>de</strong>ram que não, que<br />

não havia processo instaurado.<br />

Sabem o que fez o governo ?<br />

Mandou instaurai 0.<br />

Em Paris uma pessoa pru<strong>de</strong>nte disse-me<br />

:<br />

— Cuidado com o José Dias!<br />

Em observei:<br />

— E um patarata.<br />

Não disse tudo :<br />

É também um canalhete.<br />

O calabouço em que eslou fica ao<br />

lado da cella, a que aqui chamam Segredo.<br />

Estão alli presas Ires mulheres. Uma<br />

d'ellas canta uma canção <strong>de</strong> lava<strong>de</strong>ira,<br />

como tantas vezes as ouvi no Porto, ás<br />

raparigas que iam bater roupa para as<br />

Fontainhas,<br />

De fóra dizem-lhe :<br />

— Tenha paciência, mulher!<br />

Este: «Tenha paciência, mulher!»,<br />

a uma mulher que eslá cantando, fez-me<br />

frio na espinha.<br />

Hoje <strong>de</strong> dia, esteve aqui, em frente<br />

das gra<strong>de</strong>s, uma velhota dos seus cincoenta<br />

annos.<br />

Por curiosida<strong>de</strong> perguntei-lhe o nome.<br />

Chama-se Maria Joaquina e é <strong>de</strong> Oliveira<br />

do Hospital. Também já esteve no segredo.<br />

Olhei para ella cora admiração.<br />

Esteve no segredo cincoenta e oito<br />

horas, nestas condições:<br />

Na bocca uma baste <strong>de</strong> ferro, que<br />

faz parte dos instrumentos <strong>de</strong> supplicio<br />

do presidio e a que aqui chamam — malagueta.<br />

Esta malagueta, presa á nuca<br />

por uma corda. As mãos cruzadas nas<br />

costas e manietadas. Os pés em algemas.<br />

— Mas porque foi você punida d'essa<br />

fórma ?<br />

A mulher encolheu os hombros e exclamou<br />

:<br />

— Por dizer verda<strong>de</strong>s!<br />

Estas verda<strong>de</strong>s, é prohibido dizel-as<br />

aqui.<br />

Pois bem! Eu vou dizel-as.<br />

Vamos a vêr se me inflingem o supplicio<br />

da malagueta.<br />

Vou dizel-as e quanto antes, para<br />

que isto se saiba e se fôr possível, se a<br />

justiça não fôr cousa <strong>de</strong>finitivamente<br />

morta no meu paiz, para que isto acabe.<br />

Os governos que me perseguem e<br />

mandam maltratar-me, ficam scientes<br />

d'isto: — Eu não perco o meu tempo.<br />

Não o perco aqui, como o não perdi em<br />

Paris.<br />

Simplesmente o assumpto é outro.<br />

Infamia lá, infamia aqui, tudo são infâmias.


AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />

G R Y S T A E S<br />

Amor no Outomno<br />

( A . )<br />

Nós vamos sobre as ondas rumorosas<br />

Gomo esses pagens <strong>de</strong> remotas eras...<br />

E eu adivinho as coisas mais formosas<br />

Que a tua linda mão da côr das rosas,<br />

Desenha em ondas <strong>de</strong> subtis chimeras.<br />

Na languida pupilla que adormece<br />

Ao som monotono das agoas fundas,<br />

A um tempo inalteravel como a prece,<br />

Ora entre-ahrindo nas mil côres — parece<br />

Que o sol reflectes e minha alma inundas.<br />

Entanto, a lua fria, inanimada,<br />

Trémula rond» na amorosn esteira<br />

Que, sob a photosphera constellada,<br />

Deixa na azul corrente, ainda iriada,<br />

Pallida a mão geutil <strong>de</strong> feiticeira.<br />

Mas... e quando thuribulo, fluctua,<br />

(Não já do incenso o aroma) ao abandono,<br />

Em mim teu vulto ethereo como a lua...<br />

— Em lagrimas <strong>de</strong>sfeito, me insinua<br />

Um teu sorriso... o amor no frio outomno!<br />

Porto, 92.<br />

Ao balcão <strong>de</strong> flores<br />

HUGO DINIZ.<br />

Vibrante I... Ai 1 como o teu olhar vibrante<br />

Nenhuma estrella em pleno azul nos cahe;<br />

Nem raio loiro que se filtra e vae<br />

Por entre os ramos d'arvore gigante.<br />

Lá quando a noite é rumorosa, e obumbra<br />

O luar piedoso d'amplidão em calma,<br />

Passatn-me os astros em cortejo na alma,<br />

E a alma diz: «nenhum <strong>de</strong> vós <strong>de</strong>slumbra,<br />

Se acaso... (e pára I) contra a luz se affoite<br />

Do seu olhar cahindo sobre as agoasI. •.»<br />

E os astros passam como fundas magoas,<br />

Sem brilho, opacos, n'essa <strong>de</strong>nsa noite.<br />

Se um raio, ao menos, d'essa luz bemdita<br />

De sobre a terra para os ceus fugisse,<br />

Talvez no ceo dos olhos teus cahisse<br />

Deus impassível que outro mundo habita.<br />

Não po<strong>de</strong> o aroma que nos ares se esvae<br />

Toldar o espaço on<strong>de</strong> se ergue errante...<br />

—Vibrante!... ail corno o teu olhar vibrante<br />

Nenhuma estrella em pleno azul nos cahel<br />

Porto, 7-5-90.<br />

HUGO DINIZ.<br />

COIMBRA POR DENTRO<br />

No reinado do patuleia<br />

Foi intimado o sr. Joaquim Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho, redactor e editor do nosso<br />

collega o Conimbricense, para comparecer<br />

no tribunal d'esta comarca a lim <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r junctamente com o sr. Abílio<br />

Roque <strong>de</strong> Sa Barreto, a um processo<br />

<strong>de</strong> imprensa, promovido por um empregado<br />

da repartição <strong>de</strong> fazenda.<br />

Como se sabe a lei das rolhas vae<br />

ter execução e con<strong>de</strong>mnar dois homens<br />

respeitabilissimos: o sr. Abilio Roque,<br />

por se queixar e escrever uma carta<br />

contra os abusos praticados pela repartição<br />

<strong>de</strong> fazenda, que o collectava in<strong>de</strong>vidamente<br />

; o sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />

por publicar essa carta !<br />

O <strong>de</strong>spotismo em toda a linha ! A<br />

lei iníqua, barbara e infame a suffocar<br />

os gritos dos cidadãos extorquidos e lezados<br />

nos seus interesses e na sua bolsa!<br />

Pagar e não ralhar—é a divisa d'esle<br />

systema corrupio e <strong>de</strong>pravado que nos<br />

esmaga e nos trucida. A perfeita inquisição,<br />

em tempos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, que nega<br />

o direito <strong>de</strong> legitima <strong>de</strong>feza e pune quem<br />

se revoltar contra as arbitrarieda<strong>de</strong>s !<br />

Mas vejam os senhores a moralida<strong>de</strong><br />

dos nossos estadistas, a linha <strong>de</strong> condueta<br />

dos homens que ao chegar ao po<strong>de</strong>r<br />

esquecem tudo: tradicções, convicções,<br />

dignida<strong>de</strong> e honra.<br />

Bem lembrados estamos da fórma correcta<br />

porque o sr. Dias Ferreira, como<br />

<strong>de</strong>putado, combateu a lei das rolhas, julgando<br />

a anti-liberal, e, juridicamente,<br />

uma infamia. Agora que esse mesmo<br />

homem é presi<strong>de</strong>nte do conselho e<br />

ministro do reino, não se vexa em con-<br />

servar essa lei, auctorisando a sua execução<br />

em todo o paiz, não tendo um<br />

<strong>de</strong>creto justiceiro que termine com essa<br />

Vergonha jurídica.<br />

E para confronto vejam que ainda<br />

ha semanas o mesmíssimo sr. Dias Ferreira<br />

era accusado pela imprensa <strong>de</strong> inspirador<br />

do escandaloso <strong>de</strong>creto que satisfez<br />

a pretensão d'um criminoso, se<br />

bem que beneficiou lambem uma causa<br />

em que o proprio presi<strong>de</strong>nte do conselho<br />

<strong>de</strong> ministros figurava como seu ad-<br />

Yogado!!!<br />

Isto é assombroso e bem significativo<br />

da <strong>de</strong>smoralisação que lavra.<br />

Neste paiz a escoria é que está sendo<br />

altamente protegida e beneficiada, é ella<br />

que goza <strong>de</strong> todas as regalias dispensadas<br />

pelos governos, e com razão diz o<br />

sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho no seu<br />

Conimbricense <strong>de</strong> terça feira ultima: —<br />

«No dia 24 do corrente, para se satisfazer<br />

o odio dos afilhados do sr. José<br />

Dias Ferreira, vae sentar-se no banco<br />

«Ion r é u s um velho, quasi cego, a ponto<br />

<strong>de</strong> estar a escrever estas palavras sem<br />

vér o que escreve, e quasi pelo sentido,<br />

soffrendo muitas e graves doenças, e já<br />

com um pé <strong>de</strong>ntro da sepultura; emquanto<br />

os gran<strong>de</strong>s ladrões, os gran<strong>de</strong>s<br />

falcatrueiros, os gran<strong>de</strong>s<br />

esbanjadores da fazenda publica,<br />

os gran<strong>de</strong>s esfoladores do<br />

povo enriquecem e gozam pacificamente<br />

das consequências<br />

dos seus crimes e malefícios.s<br />

Este julgamento <strong>de</strong>ve produzir sen-,<br />

sação no paiz. Em <strong>Coimbra</strong> a indignação<br />

é geral, por isso que a matéria da<br />

carta incriminada combatia os abusos<br />

praticados na distribuição dos impostos,<br />

o que está provocando os justos clamores<br />

do contribuinte, que vê cada vez<br />

mais aggravada a sua precaria situação.<br />

Como sempre aqui <strong>de</strong>ixámos mais<br />

uma vez o nosso protesto: contra o <strong>de</strong>spotismo<br />

da lei e contra essa politica corruptora<br />

do puritano patuleia José Dias<br />

Ferreira, o qual, com o seu governo <strong>de</strong><br />

moralida<strong>de</strong>, tem dado ao paiz os exemplos<br />

mais <strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> que resa a<br />

chronica da politica-monarchico-conslilucional.<br />

Nestorio dos Anjos.<br />

LBTTRAS<br />

A fuga do tempo<br />

— Com que então, o Galimard está<br />

em Paris? perguntou Luiz Vernet.<br />

—O quê, em Paris replicou o doutor<br />

Poupardot. Está em minha casa! E' a<br />

pura verda<strong>de</strong>, está a dois passos d'aqui,<br />

num quarto contíguo ao meu... Esse figurão<br />

melteu-se-me em casa ha uma semana,<br />

e não lhe vejo meio <strong>de</strong> arredar pé !<br />

— Estás a mangar commigo?<br />

— E' o que eu lenho mais, é vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> brincar!. .. E a final talvez que<br />

seja o melhor que eu tenha a lazer. Na<br />

verda<strong>de</strong>, o caso é mais para rir do que<br />

para ouira cousa.<br />

— Mas, então, com que pretexto?<br />

— Valha-te Deus, é simplíssimo, Galimard,<br />

que ha quinze annos andava a<br />

apanhar moscas pela província, <strong>de</strong>scobriu<br />

agora que contrahiu nesse officio uma<br />

doença mortal. Já não comia, não bebia,<br />

não dormia. Pelo menos elle assim o diz.<br />

Julgava se perdido, quando lhe occorreu<br />

uma lembrança famosa. «E, ora essa,<br />

exclamou o meu amigo Galimard uma<br />

bella manhã, já sei o que hei <strong>de</strong> fazer!<br />

Poupardot, o meu caro Poupardot que é<br />

um dos príncipes da sciencia contemporânea,<br />

(é sempre elle que falia) não ha<strong>de</strong><br />

permittir que morra assim um seu<br />

antigo companheiro, um camarada <strong>de</strong><br />

collegio, esse mesmo, a quem em Santa<br />

Barbara elle mandava os lhemas do grego<br />

abarrotados <strong>de</strong> contra-sensos e as<br />

versões latinas floridas <strong>de</strong> solecismos,<br />

para lhe evitar o <strong>de</strong>sastre d'um castigo,<br />

correndo elle o risco <strong>de</strong> ser castigado<br />

duas vezes — o que na verda<strong>de</strong> aconteceu<br />

mais d'uma vez. Recordações <strong>de</strong>stas<br />

pren<strong>de</strong>m dois amigos por Ioda a vida.<br />

Toca a ir procurar Poupardot!» E cá<br />

veio ter com Poupardot. E sem mais<br />

preâmbulos, <strong>de</strong>clarou a Pompardot que,<br />

lendo necessida<strong>de</strong> urgenle dos seus cuidados,<br />

fazia tenção do estar em minha<br />

casa, até se senlir radicalmente curado.<br />

E Poupardot, que* tem sido sempre aquelle<br />

gran<strong>de</strong> pateta que lu estás farto <strong>de</strong><br />

conhecer, não teve coragem para o pôr<br />

no meio da rua. E agora, aqui o tens<br />

com a carraça d'um hospe<strong>de</strong> absurdo,<br />

massador, tyrannico, insupportavel, que<br />

transtorna todos os meus hábitos e dá<br />

uma sentença em tudo, sem saber que<br />

meio hei-<strong>de</strong> inventar para me ver livre<br />

d'elle, <strong>de</strong>sconliaudo até que lai meio não<br />

existe.<br />

—Mala-o, disse friamente Luiz Vernet.<br />

Não te hão-<strong>de</strong> faltar recursos.<br />

—Isso não. Já é bem suspeita a minha<br />

profissão. Uma morte em casa d'um<br />

medico... Prendiam-me logo.<br />

— Deita-lhe na cama bicos <strong>de</strong> alfinetes,<br />

..<br />

— Ora, vinha-se metter na minha!<br />

Não ha meio nenhum, é uma arriosca <strong>de</strong><br />

que eu não posso sahir. E nota tu que<br />

o espantalho se dá optimamente com o<br />

seu systema. Não se furta a coisa nenhuma<br />

e gosa <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>licias parisienses.<br />

Ha oito dias a esta parte que é a<br />

única pessoa que se vê pelos corredores<br />

do único theatro que por agora ha em<br />

Paris. Volta para casa, tod.is as noites,<br />

a uma hora impossível, acorda me regularmente<br />

com a barulhada que faz com<br />

as portas e no dia seguinte, então, <strong>de</strong>sforra<br />

se dormindo a manhã na cama.<br />

Olha, vê tu la, são <strong>de</strong>z horas, e eu vou<br />

apostar que aquelle tratante ainda resona<br />

a bom resonar.<br />

— Ora essa! exclamou Luiz Vernet,<br />

islo assim não é vida ; parece-me mais<br />

um vau<strong>de</strong>ville <strong>de</strong> Labiche I<br />

— Com uma differença única, é que<br />

eu não estou na platéa, estou no palco,<br />

e que as replicas que elle me dá, não<br />

me fazem sorrir.<br />

— Então é tolo ?<br />

— Ora essa I eslá tal qual tu o conheceste<br />

no collegio, com quinze annos<br />

<strong>de</strong> província a mais e um gran<strong>de</strong> ventre.<br />

— O que dizes, gran<strong>de</strong> ventre? Então<br />

e a doença ?<br />

— Não é nada, não vale uma cô<strong>de</strong>a.<br />

Uma sombra <strong>de</strong> dyspepsia proveniente <strong>de</strong><br />

quatro lustros <strong>de</strong> preguiça chronica, <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> comezaina quotidiana e <strong>de</strong> uma<br />

inundação <strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>aux. E' um caso<br />

muito interessante, não achas ?<br />

— Dum interesse palpitante. Tão<br />

palpitante, que eu no teu logar, recearia<br />

muito uma lesão <strong>de</strong> coração... Melte-o<br />

num wagon com trinta caixotes <strong>de</strong> agua<br />

<strong>de</strong> Vichy!<br />

— E' impossível. O miserável está<br />

agarrado a Paris como uma carraça. Diverle-se<br />

que é um regalo. Já cá não vinha<br />

ha quinze annos e encontrou por<br />

aqui muita novida<strong>de</strong>. Os omnihus puxados<br />

a tres cavallos <strong>de</strong>ixaram-no <strong>de</strong> bocca<br />

aberta. O telepbone encanta-o a lai<br />

ponto que só num dia gastou um dinheirão<br />

para estar a conversar commigo <strong>de</strong><br />

vários pontos <strong>de</strong> Paris. A' vigessima quarta<br />

vez, <strong>de</strong>spedacei os tubos <strong>de</strong>sesperado.<br />

Depois, cinco libras <strong>de</strong> concerto, e muitas<br />

visitas perdidas. A final, ante-hontem,<br />

chegou a vez aos relogios pneumáticos.<br />

Ao principio, não reparara nelles,<br />

suppondo que eram uns relogios como<br />

outros quaesquer. Mas <strong>de</strong>pois, não sei<br />

porque acci<strong>de</strong>nte dando-se um <strong>de</strong>sarranjo<br />

qualquer no horário dos relogios d'este<br />

bairro o meu amigo, que os vê, quer<br />

por força conhecer o mecanismo d'essa<br />

invenção nova. Aqui tens tu, duas horas<br />

<strong>de</strong> explicações. Mas o bom e o bonito<br />

foi quando elle soube que eu tinha um<br />

relogio d'esse systema. Que a agua e o<br />

gaz fossem levados em tubos para os domicílios,<br />

já era admirável. Mas as horas!<br />

Ia alem <strong>de</strong> tudo que imaginar se pô<strong>de</strong>.<br />

Acordou-me a noite passada, ao voltar<br />

para casa, para me fazer essa <strong>de</strong>claração<br />

enthusiastica, e o meu creado, que já<br />

lhe foi ao quarto esta manhã, veio-me<br />

dizer que elle quebrara o tubo do relogio,<br />

provavelmente para ver como funccionava...<br />

Luiz Vernet fez um signal ao seu<br />

amigo para que se callasse, e ficou um<br />

bocado, <strong>de</strong> <strong>de</strong>do no ar, e os beiços a tremerem-lhe<br />

com um irreprimível <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> rir.<br />

— Com os<strong>de</strong>monios! exclamou Vernet<br />

passado algum tempo. Estás salvo I<br />

— O que dizes tu ?<br />

— Digo-te que te livro d'elle num<br />

abrir e fechar os olhos.<br />

(Conclúe).<br />

Joseph Montet.<br />

Pelos vencidos<br />

Subscripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

eom egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 150200<br />

Affonso Costa (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro) 200<br />

Pedro Cardoso (i<strong>de</strong>m) 200<br />

Somma, réis 180600<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.* 88.<br />

EM SURDINA<br />

Em Braga a auctorida<strong>de</strong><br />

farta <strong>de</strong> ouvir martellar<br />

os sinos, lá na cida<strong>de</strong>,<br />

prohibiu tanto tocar.<br />

Se a bimbalhar o sineiro<br />

chamar á bruta os fieis<br />

paga o batuque a dinheiro<br />

<strong>de</strong> S a 20 mil réis.<br />

Se em <strong>Coimbra</strong> o Foz d'Arouce<br />

désse á gente este regalo<br />

não dariam tanto coice...<br />

os sineiros — c'o badalo I<br />

PINTA-ROXA.<br />

• —<br />

Tavares Coutinho<br />

Parte brevemente para o Brazil o<br />

nosso correligionário Tavares Coutinho<br />

que se acha emigrado em Paris, em virtu<strong>de</strong><br />

dos acontecimentos <strong>de</strong> janeiro.<br />

Que os intentos que o levam a partir<br />

para a republica brazileira, sejam coroados<br />

<strong>de</strong> bom exilo.<br />

Ministério hespanhol<br />

Está assim organisado: — presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho, Sagasta; ministro dos negocios<br />

estrangeiros, inarquez <strong>de</strong> la Vega<br />

<strong>de</strong> Armijo; ministro da justiça, Montero;<br />

ministro da guerra, general Lopez Dominguez;<br />

ministro da fazenda, Gamazo;<br />

ministro do reino, Venâncio Gonzalez;<br />

ministro das obras publicas, Moret; ministro<br />

do ultramar, Maura; ministro da<br />

marinha, ainda não se sabe quem será.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

Li-a toda—a carta que o sr. Manoel<br />

José da Costa Soares publicou no Conimbricense—<br />

e ella me explica com vantagem<br />

os motivos e as razões porque vemos<br />

andar na politica tanta alma <strong>de</strong> Deus, a<br />

trabalhar a favor d'esla coisa que nos está<br />

pondo em miséria e a arruinar o paiz.<br />

Só assim se comprehen<strong>de</strong> que haja<br />

gente que gaste o seu tempo e influencia<br />

para a manutenção da <strong>de</strong>pravada politica<br />

que tem sido para Portugal a maior das<br />

calamida<strong>de</strong>s I<br />

O que nos diz o sr. Soares relativamente<br />

á protecção que eslá sendo dispensada,<br />

pela repartição <strong>de</strong> fazenda do<br />

concelho, ao sr. Miguel Braga, que<br />

passa por ter po<strong>de</strong>rosa influencia junto<br />

do sr. Dias Ferreira, o qual faz favór<br />

<strong>de</strong> ser amigo d'elle ha muitos annos, é<br />

altamente escandaloso.<br />

O sr. Soares faz ver ao publico que<br />

paga as suas contribuições, que o sr.<br />

Miguel Braga <strong>de</strong>sapparecera por milagre<br />

da matriz da contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong><br />

casas, apezar dos informadores e regedor<br />

da freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu arbitrarem<br />

em B0JI000 réis o valor locativo da<br />

sua habitação. Isto em 1891.<br />

E no presente anno egualmente não<br />

figura na respectiva matriz o nome d'esle<br />

felizardo contribuinte, com lampada<br />

na casa da Meca, apezar da anterior<br />

locataria da casa que agora habita ler pago<br />

á fazenda, uns 70$000 réis'<br />

Para um procedimento d'esta or<strong>de</strong>m<br />

da parte dos empregados do estado, que<br />

se fazem passar por cumpridores da lei<br />

e fiscaes conscienciosos dos interesses<br />

da fazenda publica, é claro que veem no<br />

sr. Miguel Braga qualquer cousa que os<br />

ponha a são e salvo d'estes flagrantes<br />

abusos.<br />

Mas ha mais: explica o sr. Soares<br />

que o sr. Braga apesar <strong>de</strong> ha muitos<br />

annos ser agente do banco do Minho,<br />

logrou sempre a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser collectado<br />

como caixeiro <strong>de</strong> balcão — 1)51200<br />

réis; que em 1891, pelos reparos feitos<br />

por contribuintes do mesmo officio, ficara<br />

como agente ou commissionado volante<br />

—13$000 réis; mas que em 1892 o<br />

transformaram em agente in<strong>de</strong>terminado<br />

— pagando 5$000 reis I<br />

É portanto manifesta a protecção dispensada<br />

a e?te contribuinte, o que prova<br />

que o sr. Miguel Braga é trumpho<br />

graúdo neste jogo da politica que tudo<br />

corrompe c avilta.<br />

Tenho estado á espera da resposta,<br />

<strong>de</strong> ver a <strong>de</strong>feza dos accusados, mas alé<br />

ao presente, quarta feira, ainda os prelos<br />

não produziram cousa alguma; logo as<br />

accusações são verda<strong>de</strong>iras, os factos verda<strong>de</strong>iros...<br />

Que fará o governo, o ministro da<br />

fazenda ?<br />

Tola pergunta! Pois se do governo é<br />

presi<strong>de</strong>nte o sr. Dias Ferreira que é também<br />

ministro da fazenda, amigo velho<br />

do sr. Braga e padrinho d'um dos empregados<br />

da repartição <strong>de</strong> fazenda d'este<br />

concelho) !!<br />

Bolas!<br />

*<br />

Noticiaram alguns jornaes <strong>de</strong> Lisboa<br />

que nesta cida<strong>de</strong>, o grupo regenerador,<br />

ia fundar um jornal.<br />

Não consta por cá que os regeneradores<br />

se <strong>de</strong>cidam a pôr na rua a lamparina.<br />

Elles aguardam o futuro advento<br />

do po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo á sua disposição<br />

ficam os conspícuos órgãos governamentaes<br />

que ahi eslão a queimar incenso ao<br />

novo idolo.<br />

O que o vulgo chama pau para toda a<br />

colher.<br />

*<br />

Veiu <strong>de</strong> Lisboa o sr. dr. Ayres <strong>de</strong><br />

Campos, que teve uma importante entrevista<br />

politica com o sr. Dias Ferreira.<br />

Des<strong>de</strong> esse dia o governo annunciara<br />

achar-se habilitado para o pagamento<br />

do coupon <strong>de</strong> janeiro.<br />

E-taes vendo a manobra do pae dos<br />

pobres 1 Também eu.<br />

Muito custa a vida a quem na politiquice<br />

<strong>de</strong>seja figurar.<br />

*<br />

—Saibas que é justo, justíssimo, que<br />

a fazenda beneficie a Miguel Braga, me<br />

disse um bom amigo.<br />

— Não vejo porque, retorqui.<br />

— Ignorancia apenas. Ouve: só nas<br />

eleições camararias gastou elle para cima<br />

<strong>de</strong> cem mel réis.<br />

— Está direito!<br />

*<br />

A cornucopia das graças continúa a<br />

<strong>de</strong>spejar. Ha dias sahiu o tilulo <strong>de</strong> marquez<br />

da Nora a um bisbórria qualquer.<br />

Para <strong>Coimbra</strong> — zero. E por cá lambem<br />

ha bisbórrias.<br />

Esla teimosia do governo é assás<br />

mephitica e quiçá ingratatona.<br />

Cebo!<br />

Magriço.<br />

Contra os actos<br />

do governo<br />

Beuniram em Lisboa os vereadores<br />

effeclivos e substitutos em numero <strong>de</strong><br />

36, para <strong>de</strong>finirem a sua altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ante<br />

das medidas do governo, que tiram aos<br />

municípios attribuiçôes que sempre tiveram.<br />

As resoluções tomadas foram votadas<br />

por unanimida<strong>de</strong>, facto que significa o<br />

accordo em que estão todos os vereadores<br />

para a <strong>de</strong>feza das franquias municipaes.<br />

Os vereadores da capital votaram o<br />

seguinte:<br />

«1.° Propor a nomeação d'uma commissão<br />

para elaborar uma representação<br />

contra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, dirigida<br />

ao chefe do Estado, que será apresentada<br />

por toda a camara municipal<br />

(vereadores effeclivos e substitutos).<br />

2.° No caso <strong>de</strong> não ser attendida a<br />

reclamaçao, lavrar-se-ha um protesto<br />

energico na próxima sessão da camara<br />

no dia 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, que ficará exarado<br />

na acta, abandonando em seguida<br />

todos os vereadores os seus respectivos<br />

logares.»<br />

A representação já foi entregue ao<br />

rei que não <strong>de</strong>u resposta <strong>de</strong>cisiva como<br />

é <strong>de</strong> costume.<br />

# A camara municipal <strong>de</strong> Santarém<br />

vae também representar contra o <strong>de</strong>creto<br />

que lhe cerceia as prerogalivas, relirando-lhe<br />

a interferencia e administração<br />

das suas obras.<br />

Homenagem a Pasteur<br />

A secção <strong>de</strong> medicina e <strong>de</strong> cirurgiã<br />

do inslituto francez, em Paris, composta<br />

<strong>de</strong> Bouchard, Guyon, Charcot Brown-<br />

Sequard e outros, tomou a iniciativa <strong>de</strong><br />

uma subscripção que tem por fim offerlar<br />

a Pasteur, no dia 27 d'esle mez, dia<br />

em que elle completa 70 annos, uma<br />

medalha <strong>de</strong> ouro, tendo <strong>de</strong> um lado o<br />

retrato do sábio francez e do outro a<br />

seguinte inscripção :<br />

A Pasteur, no dia do seu 70.° anniversario<br />

nalulicio, a sciencia e a humanida<strong>de</strong><br />

reconhecidas — 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1892.


AN3ÍO í — HT.® IS © HDFJBNiOR BO POVO 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Policia correccional<br />

Já foi intimado novamente para ser<br />

julgado em audiência <strong>de</strong> policia correccional,<br />

no dia 7 do proximo janeiro, o<br />

nosso administrador, sr. Antonio Augusto<br />

dos Santos, accusado <strong>de</strong> dar vivas na<br />

occasião em que fôra arbitrariamente<br />

preso o sr. dr. Fernando Martins <strong>de</strong><br />

Carvalho, que <strong>de</strong>verá respon<strong>de</strong>r também<br />

no mesmo dia.<br />

Vê-se que as justiças d'el-rei não<br />

esquecem os criminosos que protestam<br />

contra os actos arbitrarios <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>spóticas, se bem que <strong>de</strong>scura a<br />

punição <strong>de</strong> criminosos natos—os gran<strong>de</strong>s<br />

ladrões da fazenda publica!<br />

«Crystaes»<br />

Por ler sabido bastante iucorrecta a<br />

poesia <strong>de</strong> .Hugo Diniz que publicámos no<br />

numero anterior, intitulada—Ao balcão <strong>de</strong><br />

flores,—publicamol-a hoje <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>vidamente<br />

rectificada.<br />

Defeza<br />

É <strong>de</strong>fensor do sr. Joaquim Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho, no processo <strong>de</strong> imprensa, o<br />

illustrado lente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito,<br />

sr. dr. Manoel d'Oliveira Chaves e Castro.<br />

Ha muito que este dislincto jurisconsulto<br />

não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> em causa-crime, fazendo-o<br />

agora por consi<strong>de</strong>ração e amiza<strong>de</strong><br />

para com o digno redactor do Conimbricense.<br />

A junta <strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholonieu<br />

Como dissémos a junta <strong>de</strong> parochia<br />

<strong>de</strong>liberou vestii algumas creanças que<br />

frequentam as suas aulas <strong>de</strong> instrucção<br />

primaria, dando-lhe um fato completo e<br />

calçado, que será entregue aos alumnos<br />

no dia 1.° <strong>de</strong> janeiro.<br />

Também no fim d'este mez se <strong>de</strong>vem<br />

concluir as obras da torre e assentamento<br />

do novo relogio<br />

D'esta forma termina a junta a sua<br />

gerencia on<strong>de</strong> prestou relevantes serviços<br />

á instrucção popular.<br />

Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Publicámos hoje o programma da<br />

corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, promovida por<br />

esta agremiação, que ha <strong>de</strong> realisar-se<br />

no trio <strong>de</strong> estradas proximo da Escola<br />

Central <strong>de</strong> Agricultura, em S. Martinho<br />

do Bispo, generosamente cedidas pelo<br />

director d'a"quefle estabelecimento.<br />

As corridas são quatro:<br />

1. a corrida — Velocida<strong>de</strong> — Duas<br />

voltas <strong>de</strong> 5:000 metros.<br />

2. a corrida — Resislencia — Será<br />

vencedor o que dér maior numero <strong>de</strong><br />

voltas durante 30 minutos.<br />

3. a corrida— Negativa—100 metros.<br />

4. a corrida — Consolação — Duas<br />

voltas <strong>de</strong> 5:000 metros, po<strong>de</strong>ndo entrar<br />

nella todos os que não obtiverem premio<br />

nas tres prece<strong>de</strong>ntes.<br />

Na secretaria do Gymnasio estão patentes<br />

as condições da corrida e a inscripção,<br />

até sexta-feira ás 7 horas da<br />

noile.<br />

Entre os velocipedistas couinibrtcenses<br />

é gran<strong>de</strong> o enthusiasmo, esperandose<br />

por isso muita concorrência.<br />

Offerecem prémios: o Gymnasio, o<br />

seu presi<strong>de</strong>nte, sr. dr. Eduardo Vieira,<br />

um grupo <strong>de</strong> socios; e os agentes <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

nesta cida<strong>de</strong>, srs. Antonio José<br />

Alves e Antonio S. <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Diz-se que um grupo <strong>de</strong> senhoras<br />

lambem concorrem com um premio para<br />

estas corridas.<br />

Está confiado o ensino <strong>de</strong> esgrima<br />

neste Gymnasio ao mestre d'armas, sr.<br />

José Ferreira Lopes, illustrado oflicial<br />

do 23.<br />

Também nos consta que se vae abrir<br />

uma secção <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> pau, dirigida por<br />

um hábil jogador do Minho, ha pouco<br />

resi<strong>de</strong>nte nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Telegramma <strong>de</strong>tido<br />

Foi hontem participado ao correspon<strong>de</strong>nte<br />

do Século, nesta cida<strong>de</strong>, que o telegramma<br />

enviado para aquelle jornal<br />

referindo-se ao processo do redactor do<br />

Conimbricense ficara sustado em virtu<strong>de</strong><br />

do expresso na lei.<br />

Parece que o motivo que <strong>de</strong>ra origem<br />

a essa <strong>de</strong>tenção fôra a transcripção<br />

d'um periodo do artigo do sr. Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, em que este jorna-<br />

lista compara a perseguição á imprensa<br />

com a tolerancia e a impunida<strong>de</strong>.dôs ladrões<br />

dos cofres públicos e esbanjadores<br />

da fazenda publica!<br />

Bem se vé que o reinado do Zé Dias<br />

é <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>. E o caso é que houve<br />

ingénuos que o acreditaram. O <strong>de</strong>sengano<br />

também não se fez esperar muilo.<br />

A batota<br />

O nosso collega do Commercio <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> abriu campanha contra as casas<br />

<strong>de</strong> batota, estabelecidas nesta cida<strong>de</strong>, e<br />

implora provi<strong>de</strong>ncias do sr. governador<br />

civil para a extineção d'esses antros.<br />

Para que, não se suscitem cjuvidas sobre<br />

a veracida<strong>de</strong> da sua existência, o nosso<br />

collega aponta quatro que conhece no<br />

bairro-allo: rua dos Estudos, n.° 1 ; rua<br />

<strong>de</strong> Sá <strong>de</strong> Miranda* n.° 22 ; largo da Feira,<br />

n.° 8 ; travessa da rua do Norte<br />

n.° 4.<br />

O collega tem toda a razão, tem<br />

mesmo toda a justiça; mas, as auctorida<strong>de</strong>s<br />

sabem <strong>de</strong> mais da existencia d'esses<br />

antros <strong>de</strong> dissipação e, ou por negligencia<br />

ou por comprazer para_ com os seus<br />

proprietários, não se apressam a fechal-os.<br />

Demais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> qué em plena capital,<br />

sob o consulado do sr. Marianno <strong>de</strong> Carvalho,<br />

a bãtôta foi iSgalisada, não nos<br />

pô<strong>de</strong> 'suípreheníler epie pelo resto do<br />

paiz acouteça o mesmo.<br />

No entanto, por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> officio<br />

acompanhamos o collega nos seus protestos,<br />

exigindo provi<strong>de</strong>ncias efficazes e<br />

promptas, se bem que nos convencemos<br />

<strong>de</strong> que a campanha encetada será iufruclifera.<br />

Antonio Maria Pimenta<br />

Pela nova reforma dos correios e<br />

telegraphos lícou chefe do serviço telegraphico<br />

d'este districto este digno funcionário,<br />

que antes era o director da extincta<br />

repartição.<br />

Companhia Zarzuella<br />

É hoje o segundo espectáculo dado<br />

por esta companhia, na sua passagem<br />

para a capital.<br />

Representou-se hontém o Cámpanone,<br />

subindo hoje á scena a conhecida zarzuella—Barberillo<br />

<strong>de</strong> lavapiés—que tem<br />

musica lindíssima.<br />

Or<strong>de</strong>ns geraes<br />

Conce<strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns geraes no proximo<br />

sabbado, 17 do corrente, o sr. bispo<br />

con<strong>de</strong>.<br />

Começaram já na egreja do seminário<br />

os respectivos exercícios espirituaes.<br />

Util publicação<br />

A Associação dos distribuidores e<br />

guarda lios telegrapho postaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

acaba <strong>de</strong> publicar o Decreto <strong>de</strong> 28<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, o qual regula os<br />

direitos e obrigações das associações <strong>de</strong><br />

soccorros mutuos.<br />

Como se vê o presente folheto é <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> vantagem para os corpars gerentes<br />

<strong>de</strong> todas as associações d'esta or<strong>de</strong>m,<br />

por isso que lendo <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r á<br />

reforma dos estatutos, tem <strong>de</strong> ser feito<br />

esse trabalho em face,das expressas <strong>de</strong>terminações<br />

do <strong>de</strong>creto.<br />

Ò seu custo é baratíssimo—SOVéis—<br />

e o producto da venda reverte em beuelicio<br />

do cofre da Associação dos distribuidores<br />

e guarda lios, por conta <strong>de</strong> quem<br />

correram as <strong>de</strong>spezas d'esta publicação<br />

que veio preencher uma gran<strong>de</strong> falta e<br />

elucidar os socios sobre assumpto tão<br />

melindroso.<br />

Cumpre-nos agra<strong>de</strong>cer o exemplar que<br />

nos enviaram.<br />

Siiffragios<br />

Ámanhã, ás 11 horas, celebra-se missa<br />

na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, mandada<br />

resar pela família do fallecido conselheiro<br />

sr. Antouio Luiz <strong>de</strong> Sousa Henriques<br />

Secco.<br />

Nomeação<br />

O sr. Augusto José Gonçalves Fino,<br />

antigo empregado dos correios d'esta<br />

cida<strong>de</strong>, foi collocado, pela nova reforma<br />

do serviço dos correios, no logar <strong>de</strong> chefe<br />

da estação <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Os nossos parabéns.<br />

Gatunos<br />

O pobre Manoel Ribeiro viajava em<br />

comboio, em direcção a Lisboa, fazendo-lhe<br />

companhia Gaspar Pereira, Luiz<br />

Florêncio, e José Raymuudo, o llheu.<br />

Ao sairem da Pampilhosa Manoel Ribeiro<br />

achou-se roubado: a sua carteira<br />

e uns 20$000 réis que trazia, <strong>de</strong>sappareceram.<br />

Chegado a <strong>Coimbra</strong> contou o Ribeiro<br />

as suas maena^ 1 á policia que pren<strong>de</strong>u os<br />

meliantes na estação velha, conduzindo-os<br />

á esquadra.<br />

Não se lhes encontrou nada que os<br />

aceusasse e interrogados apenas <strong>de</strong>clararam<br />

qué a carteira fora roubada na estação<br />

da Pampilhosa pelo Illieu.<br />

Por este fallar dos meliantes, que parece<br />

fazem causa commum com o llheu,<br />

a policia co.nserva-os presos proce<strong>de</strong>ndo<br />

a averiguações,<br />

E o pobre Manoel Ribeiro ha <strong>de</strong>-se<br />

conformar, porque o seu dinheirinho não<br />

torna elle a ver.<br />

Egrejas a concurso<br />

Estão a concurso as egrejas parochiaes<br />

<strong>de</strong> Santa Maria Magdalena <strong>de</strong> Agadão.<br />

concelho d'Agueda, e <strong>de</strong> Santo Isidoro do<br />

Eixo, concelho <strong>de</strong> Aveiro, pertencentes<br />

ao bispado <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

De luto<br />

Pelo fallecimento <strong>de</strong> sua mne estão<br />

<strong>de</strong> luto os acreditados commerciantes<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, os srs. Francisco Vieira<br />

<strong>de</strong> Carvalho e Antonio Vieira <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Os nossos pezames.<br />

Companhia Singer<br />

Devido á amabilida<strong>de</strong> do sr. Justiniano<br />

da Fonseca, gerente d'esía companhia<br />

em <strong>Coimbra</strong>, foi-nos offerecido um exptendido<br />

chromo-lythqgraphico, dando em<br />

grupos os costumes inais pittofescos <strong>de</strong><br />

muitas nacionalida<strong>de</strong>s, véndo-sé em todas<br />

o usó das differentes machina <strong>de</strong> costura<br />

— Singer.<br />

É um reclame pomposo e digno <strong>de</strong><br />

figurar como .quadro <strong>de</strong> apreço.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a olferta.<br />

VJIXI l l l J i J l l i U<br />

Queixa á policia<br />

- Manoel Carvalho, <strong>de</strong> S. Silvestre,<br />

queixou-se á policia que na noite <strong>de</strong> 4<br />

pára 5 do corrente, Antonio Simões Calçato<br />

e Manoel Ferreira Laracha, do mesmo<br />

logar, lhe haviam subtníhido trés<br />

gilliubas da sua propriedâ<strong>de</strong>, indo cosinhal-ãs<br />

<strong>de</strong>pois para casa do Laracha.<br />

Parte para juizo, on<strong>de</strong> dirèo.ao Laracha,<br />

com a iei á vista, que um homem<br />

por ser Laracha não pô<strong>de</strong> gosar das regalias<br />

da velha raposa. Saem-lhe caras as<br />

gallinhaA-^^—«-V-^Xf-t. X l v .<br />

Rectifícação<br />

Pe<strong>de</strong>-nos o sr. Manoel Couto, em<br />

carta particular, 'pára rectificarmos as<br />

referencias que fizemos á sua pessoa ao<br />

noticiarmos a manifestação ao extincto<br />

republicano Gil Carneiro.<br />

Por um jornal <strong>de</strong> Lisboa formulámos<br />

essa noticia na qual se dizia que o sr.<br />

Coútô fallára no cemiterio em nome do<br />

grupo anarchista e que representava a<br />

Revolta. Pela sua carta vemos que este<br />

cidadão não representára nas homenagens<br />

fúnebres a Gil Carneiro nenhuma collectivida<strong>de</strong>.<br />

Capitão Leitão<br />

Está gravemente enfermo, em Paris,<br />

este nosso correligionário, chefe militar<br />

da malograda revolta <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />

Que ém breve se restabeleça.<br />

Silva Pinto<br />

Felizmente está um pouco melhor o<br />

illustre critico sr. Silva Pinto redactor<br />

do nosso collega a Folha do Povo. Que<br />

em breve o vejamos completamente restalielecido.<br />

"**"""*"<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Figueira, 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

O dia 1.° <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, anniversario<br />

da restauração <strong>de</strong> 1640, passou aqui sem<br />

a menor <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> regosijo.<br />

— A corporação dos Bombeiros Voluntários,<br />

festela no dia 19 do corrente<br />

o 10.° anniversario da sua fundação,<br />

naverá alvorada pela philarmonica 10<br />

d'Agosto, exercício na praça do Commercio,<br />

á tar<strong>de</strong> sessão solemne, á noite illuminação<br />

na fachada da casa da asseciação,<br />

marcha aux flambeaux, etc., etc.<br />

Dos socios fundadores só resta o<br />

actual coinmandante, sr. José Affonso da<br />

Rocha e Silva, que tem sido incansavel<br />

nos progressos <strong>de</strong> tão humanitaria quão<br />

sympathica aggremiação, pelo que é di-<br />

gno dos mais justos encomios. O festejo<br />

é feito por subscripção particular.<br />

— Uma troupe <strong>de</strong> atiiadores dramáticos,<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, anda em ensaios <strong>de</strong><br />

algumas comedias no theatro Principe<br />

I). Carlos, pa-ra um espectáculo que tencionam<br />

realisar pelo Natal Bem empregadas<br />

horas d'ocio, que ten<strong>de</strong>m sempre<br />

á instrucção, e que vêm por vezes attenuar<br />

a semsaboria dos aborrecidos mezes<br />

do tristonho inverno.<br />


AMIMO I — N.° 13 O BEFEIHdR BO POTO 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 18®8<br />

THEATRO D. LUIZ<br />

Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

Recita em beneficio<br />

<strong>de</strong> Joaé Alaria d'Azevedo<br />

Em que tomam parte por especial<br />

obsequio os ex. ra " s srs. Luiz da Gama,<br />

Luiz Nogueira, Pinto Ereio, Samuel Pessoa,<br />

Taveira, Ribeiro, Macedo, Paes e<br />

F. Lucas, e as ex. mas sr. as D. Maria da<br />

Luz Yelloso e D. Carlota Velloso.<br />

PROGRAMMA<br />

Depois dc velhos... gaiteiros.<br />

Comedia em um acto, pelos ex." 10 '<br />

srs. Luiz Nogueira, F. Lucas, Pinto<br />

Ereio e D. Luz Velloso.<br />

Os Milagres. Cançoneta pelo ex. m0<br />

sr. Luiz da Gama.<br />

OTercetto musical pelos ex. mos srs.<br />

Ribeiro Alves, Francisco Macedo e<br />

Augusto Paes.<br />

Assim... Assim. Cançoneta pelo<br />

ex. mo sr. Samuel Pessoa.<br />

A eabelleira <strong>de</strong> minha mulher.<br />

Comedia em um acto pela ex. mas sr. as<br />

D. Carlota Velloso, D. Luz Yelloso,<br />

e pelos ex. mos srs. Pinto Ereio, Taveira,<br />

F. Lucas e N. N.<br />

PREÇOS<br />

Camarotes <strong>de</strong> 1.* or<strong>de</strong>m e Frizas<br />

2/000; Camarotes <strong>de</strong> 2. a or<strong>de</strong>m 1/500 ;<br />

Ca<strong>de</strong>iros SOO; Superior 300 ; Varandas<br />

150 réis.<br />

L I V R O S<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

um exemplar.<br />

i S f f l i i i í<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schcefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original atlemão<br />

POR<br />

f. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

POR<br />

J, mim 11 SAMPAIO (BBWO)<br />

Edição completa por um corpo da<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

entre outros eminentes collaboradores,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />

Vasconcellos e dos ex. ra ° 8 srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna^e<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriptorio da empreza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

BE GRAÇA<br />

A RIR — E este o titulo <strong>de</strong> um<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />

publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves —Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 80 réis.<br />

Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> as-<br />

(ignante.<br />

A N N U N C I O S<br />

Por linha 30 réis<br />

Repetições 20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50


Sejamos humanos<br />

A penna sempre vigorosa <strong>de</strong> João<br />

Chagas, á qual nem a mais tenaz<br />

perseguição, nem os maiores soffrimentos<br />

physicos e moraes teem tirado<br />

o brilhante colorido ou quebrantado<br />

a sua força vehemente,<br />

dá-nos do ultramar, do logar do seu<br />

penoso exilio, do lobrego cárcere em<br />

que o enjaularam como um bandido<br />

da peior especie e para quem não po<strong>de</strong><br />

haver contemplações, noticias que<br />

nos horrorisam e que <strong>de</strong>vem levantar<br />

uma indignação fremente em todo o<br />

portuguez, que ainda hoje preza o<br />

borri nome <strong>de</strong> Portugal.<br />

Ao lermos a <strong>de</strong>scripção que nos<br />

faz João Chagas das infectas prisões<br />

on<strong>de</strong> no ultramar se amontoam os<br />

con<strong>de</strong>mnados, dos hediondos castigos<br />

que alli lhes infligem pelas mais leves<br />

faltas, da perseguição feroz que alli<br />

se move a homens como se não move<br />

a feras, e que neste jornal teem sido<br />

transcriptas, levantam-se em nosso<br />

espirito justificadíssimas duvidas—se<br />

as auctorida<strong>de</strong>s sanguinarias que alli<br />

campeiam, ostentando a cada passo<br />

o seu rancor e o seu fel, são representantes<br />

d'uma nação civilisada, ou<br />

se, pelo contrario, são auctorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>legadas <strong>de</strong> feroz potentado selvagem,<br />

com longo tirocínio nas atrocida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Dahomey; se as i<strong>de</strong>ias civilisadoras<br />

que apregoamos são reaes,<br />

se atroz mentira; se os sentimentos<br />

humanitários <strong>de</strong> que nos orgulhamos<br />

são verda<strong>de</strong>iros, ou se teem sido uma<br />

comedia infame as nossas indignações<br />

pelos sacrifícios humanos do<br />

Dahomey ou pelo trafico da escravatura!<br />

Ou valerão menos aos olhos<br />

dos nossos governos, d'aquelles que<br />

permittem em possessões nossas<br />

atrocida<strong>de</strong>s taes, os portuguezes con<strong>de</strong>mnados<br />

pelos seus crimes, e que<br />

<strong>de</strong>vem estar sob a protecção da lei<br />

e da justiça, a quem foram entregues,<br />

do que os • selvagens que nos não<br />

E<br />

>ertencem, que não faliam a nossa<br />

ingua, que não se importam com as<br />

nossas leis, que não respeitam a nossa<br />

auctorida<strong>de</strong>, e que nem sequer<br />

conhecem o nosso nome ?<br />

Se náo valem mais, <strong>de</strong> modo nenhum<br />

se po<strong>de</strong> admittir que valham<br />

menos — perante a humanida<strong>de</strong> somos<br />

todos eguaes; e assim, é d'uma<br />

cruel <strong>de</strong>shumanida<strong>de</strong> que se esteja<br />

aggravando a <strong>de</strong>sgraçada situação <strong>de</strong><br />

irmãos, nossos sujeitando-os atrozmente<br />

a castigos cruéis, barbaros,<br />

illegaes e muito mais atrozes do que<br />

as penas que nos estranhos tanto nos<br />

teem indignado.<br />

Por isso é indispensável que,<br />

para respeito e consi<strong>de</strong>ração do nosso<br />

nome, para consagração da nossa<br />

justiça e para prova da nossa humanida<strong>de</strong>,<br />

não permittamos em território<br />

nosso as barbarida<strong>de</strong>s que alli se<br />

praticam, que nos levantemos indignados<br />

contra as prepotências vergonhosas<br />

das auctorida<strong>de</strong>s que indignamente<br />

por lá nos representam-, e<br />

se os nossos governos, no seu mesquinho<br />

cuidado <strong>de</strong> politica caseira e<br />

pequenina, se não lembram da hedion<strong>de</strong>z<br />

dos processos que nas nossas<br />

províncias ultramarinas crescem<br />

e se expan<strong>de</strong>m, para obrigarem a ser<br />

humanos os indignos que os empregam,<br />

e que mais parecem feras do<br />

que homens, levante-se na imprensa,<br />

que sempre tem combatido a prepotência<br />

e o <strong>de</strong>spotismo, um brado <strong>de</strong><br />

indignação tão alto, que se repercuta<br />

em todos aquelles aon<strong>de</strong> vibre ainda<br />

um principio <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>; ergam<br />

todos os homens <strong>de</strong> coração um tão<br />

vehemente protesto contra aquellas<br />

cruelda<strong>de</strong>s, que obrigue a dirigir-se<br />

para estes factos vergonhosos a attenção.<br />

dos que teem por obrigação<br />

cohibil-os; e teremos mitigado muito<br />

soffrimento atroz, muito martyrio<br />

cruento, evitando também muita injustiça<br />

cruel.<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

Mostraremos assim, que não são<br />

postiços os nossos sentimentos humanitários,<br />

que não são fingidas as<br />

nossas indignações contra as selvagerias<br />

dos barbaros, e cumpriremos<br />

um grandíssimo <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

respeitando a tristíssima situação<br />

dos con<strong>de</strong>mnados.<br />

O terror<br />

Franco Ascot.<br />

0 administrador do concelho <strong>de</strong> Portalegre<br />

prohihiu que se representasse alli<br />

o drama 0 Filho da Republica, e que se<br />

tocasse a Marselheza.<br />

Decididamente este administrador está<br />

a pedir um baronato.<br />

A eterna questão<br />

Dizem os jornaes inglezes que o <strong>de</strong>saccordo<br />

entre o commissario portuguez<br />

e o <strong>de</strong>legado hrilannico na <strong>de</strong>limitação<br />

das possessões moçambicanas, resulta da<br />

politica <strong>de</strong> Cecil Rho<strong>de</strong>s.<br />

0 Financial Times, <strong>de</strong> 9 do corrente,<br />

discutindo este assumpto, classifica <strong>de</strong><br />

grave erro politico ir alienar mais uma<br />

vez as sympathias <strong>de</strong> Portugal só com o<br />

fim <strong>de</strong> agradar a Cecil Rho<strong>de</strong>s, e lembra<br />

que o melhor meio <strong>de</strong> «sahir d'essa<br />

dificulda<strong>de</strong> seria a nomeação <strong>de</strong> um terceiro<br />

commissario por parte <strong>de</strong> uma potencia<br />

neutral, e que leria voto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempate.»<br />

Homenagens<br />

a Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

Entre as classes commercial e industrial<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, promove-se a assignatura<br />

d'uma felicitação ao jornalista, sr.<br />

Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, que é um<br />

protesto bem significativo coutra a lei<br />

das rolhas e contra a politica anti-liberal<br />

<strong>de</strong> José Dias Ferreira.<br />

Este protesto contava hontem mais<br />

<strong>de</strong> 200 assignaturas. Os promotores<br />

d'esta manifestação esperavam entregar<br />

hoje ao sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

este honroso documento, mas sahendo<br />

que muitos cidadão o <strong>de</strong>sejam assignar,<br />

só ámanhã ou <strong>de</strong>pois lh'o entregarão.<br />

Isto prova as sympathias que nesta cida<strong>de</strong><br />

gosa o honrado velho, que a justiça<br />

vae con<strong>de</strong>muar, mercê da apostasia do<br />

celeberrimo patuleia José Dias Ferreira.<br />

A imprensa republicana, especialmente,<br />

tem verberado valentemente este<br />

acontecimento, enaltecendo as qualida<strong>de</strong>s<br />

cívicas dos processados srs. Abílio Roque<br />

<strong>de</strong> Sá Barreto e Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />

que no dia 24 hão <strong>de</strong> ser julgados<br />

no tribunal d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

Numa das ultimas sessões da Liga<br />

Municipal o nosso distincto correligionário<br />

sr. Eugénio da Silveira apresentou<br />

a proposta que abaixo publicamos, em<br />

nome dos jornalistas presentes, prece<strong>de</strong>ndo-a<br />

<strong>de</strong> palavras eloquentes e patrióticas,<br />

altamente honrosas para o <strong>de</strong>cano<br />

dos jornalistas portuguezes, Joaquim Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho.<br />

Eis a proposta:<br />

«Propomos que esta assembleia,<br />

como manifestação <strong>de</strong> respeito á livre<br />

expressão <strong>de</strong> pensamento, saú<strong>de</strong> no <strong>de</strong>cano<br />

da imprensa portugueza, o venerando<br />

Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, jornalista<br />

ultimamente chamado ao banco dos<br />

reus—os velhos e gloriosos liberaes que<br />

conquistaram com as armas no campo<br />

da batalha, á custa <strong>de</strong> enormes sacrifícios<br />

e pela força persistente da propaganda,<br />

as regalias publicas e immunida<strong>de</strong>s<br />

locaes.<br />

Lisboa, 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

Feio Terenas—- Albino Sarmento —<br />

Manuel Soares Gue<strong>de</strong>s — Eugénio Silveira—<br />

Lambertini Pinto — J. Julio <strong>de</strong><br />

Azevedo — Carlos Calixto—-Lomelino <strong>de</strong><br />

Freitas — Gue<strong>de</strong>s Quinhones —Azedo<br />

Gneco — João Gonçalves — Domingos<br />

Azevedo — Soares do Nascimento —<br />

Theodoro Ribeiro.<br />

PELOS JORNAES<br />

O Tempo continúa a martellar furiosamente<br />

no sr. José Luciano :<br />

«Embrulhando nos farrapos da ban<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> Passos Manuel as paginas rasgadas<br />

do Programma da Granja e fazendo<br />

<strong>de</strong> toda essa farrapagem uma<br />

trouxa, que atirou pela janella fóra,<br />

como se fosse um embrulho compromettedor,<br />

o chefe <strong>de</strong> partido iniciou<br />

pela intolerância, pelo egoísmo faccioso,<br />

pela corrupção administrativa, pela<br />

imprevidência diplomatica e pelos esbanjamentos<br />

a oltios fechados, o periodo<br />

mais arriscado, mais <strong>de</strong>plorável e mais<br />

funesto da politica portugueza.»<br />

Ainda a procissão vae em meio. Nós<br />

vamos assistindo <strong>de</strong> palanque a este estrebuchar<br />

<strong>de</strong> próceres que vêm emagrecer<br />

a presa — o thesouro.<br />

Acerca do coupon <strong>de</strong> janeiro e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> referir o boato da confirmação <strong>de</strong> que<br />

o governo se achava habilitado a pagal-o,<br />

diz o nosso collega da Folha do Povo:<br />

«Mais se dizia, que taes recursos<br />

foram obtidos pelo papel cambial comprado<br />

no Brazil, e com o pioducto'<strong>de</strong><br />

um emprestimo realisado em Paris sob<br />

garantia <strong>de</strong> certo numero <strong>de</strong> obrigações<br />

dos tabacos e <strong>de</strong> tit ulos da divida externa,<br />

<strong>de</strong> cujos números se guarda tanto segredo<br />

como dos d'aquelles que foram ha<br />

pouco convertidos...<br />

Seria conveniente que o governo<br />

publicasse os números d'estes últimos,<br />

para evitar a continuação dos sérios<br />

boatos que acerca d'aquella operação<br />

correm no vulgo, boatos a que por mais<br />

<strong>de</strong> uma vez nos temos referido, e que,<br />

até ao presente não tiveram o <strong>de</strong>smentido<br />

que todos os amantes da honra<br />

nacional <strong>de</strong>sejariam que se lhes <strong>de</strong>sse.»<br />

Seria conveniente... diz o nosso<br />

collega. Pois seria, seria ; mas espere<br />

por isso. Por mais que se berre parece<br />

que a inscripção do Dante tem alli sua<br />

proprieda<strong>de</strong>.<br />

O segredo é a alma do negocio.<br />

A proposito do confliclo entre os<br />

municípios e o governo, sae-se com isto<br />

o sr. Pinheiro Chagas no Correio da<br />

Manhã :<br />

«Este <strong>de</strong>sabamento comtudo vem <strong>de</strong><br />

longe. Os municípios ficaram feridos <strong>de</strong><br />

morte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que o illustre<br />

chefe do partido progressista confessou<br />

sem rebuço, n'uin relatorio celebre, que<br />

o gabinete, para governar, precisam <strong>de</strong><br />

ter camaras suas, e, corno o prazo <strong>de</strong><br />

duração das camaras municipaes não<br />

terrniuava antes das eleições politicas,<br />

era indispensável, dizia elle, encontrar<br />

um meio <strong>de</strong> as dissolver para que entrassem<br />

elementos do partido que estava no<br />

po<strong>de</strong>r.»<br />

Isto é o que se chama resposta á<br />

letra, por que mestre José Luciano e a<br />

sua gente andam agora numa roda viva<br />

em <strong>de</strong>feza das regalias municipaes.<br />

Quem os conhecer...<br />

Da Reforma :<br />

*<br />

«Os jornaes republicanos, que até<br />

ha pouco afflrmavam que o coupon não<br />

seria pago, perguntam agora como foi<br />

que O governo pou<strong>de</strong> pagal-o?<br />

«Com libras, é claro.»<br />

Diz a mal a Reforma ou não sabe o<br />

que diz.<br />

Porque o que os jornaes republicanos<br />

perguntam é como foi que o governo pou<strong>de</strong><br />

pagal-o e não com que foi que elle o<br />

pagou. E é ao segundo caso que a Reforma<br />

respon<strong>de</strong> e não ao primeiro. Isto<br />

é: pergunta direito mas respon<strong>de</strong> torto.<br />

í lim ici tféiis i*ioT*iat»< kJ^Mctnoi obiit<br />

Beplicando ao convite feito por varias<br />

gazelas ao partido republicano para se <strong>de</strong>sviar<br />

dos processos <strong>de</strong> propaganda que vae<br />

seguindo e abondonar-se ás papagueações<br />

poéticas <strong>de</strong> Emilio Castelar, escreve a<br />

Batalha, nosso presado collega da capital:<br />

«Mas as coisas do nosso paiz seguem<br />

seu curso, e o partido republicano <strong>de</strong>ve<br />

saber ler por alta nas amabilida<strong>de</strong>s dos<br />

jornaes conservadores. Por nós, limitar-'<br />

nos-hetnos á <strong>de</strong>fesa, e á contemplação<br />

dos astros em noites claras. Se no- falassem<br />

ein <strong>de</strong>sarmamento preparar-noshiamjs<br />

para o ataque; se nos namorassem<br />

com um governo que trouxesse a<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

ban<strong>de</strong>ira da esquerda monarchica estrema<br />

ou centro — não apagaríamos os<br />

murrões da nossa mo<strong>de</strong>sta bateria.<br />

«Viver para a .republica, e morrer<br />

pela patria. Parecerá este um lemma<br />

antigo, e temol-o por um programma<br />

simples e claro.»<br />

Diz muito bem o collega. E' preciso<br />

manter uma intransigência completa com<br />

a turba-multa que lem arrastado as finanças<br />

ao lastimoso estado em que se<br />

acham. Se isoladamente ha pela monarchia<br />

algum <strong>de</strong>silludido <strong>de</strong> consciência<br />

branca que queira vir acoitar-se no nosso<br />

pallio, que venha ; mas nós pactuarmos<br />

cpllectivamente com quaesquer grupos<br />

que procedam do paço, é o que a Batalha<br />

e todo o partido republicano não<br />

po<strong>de</strong> consentir.<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

De João Chagas<br />

30 d'outubro—Calabouço da<br />

Fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel.<br />

Estou aqui ha oito dias e com surpreza<br />

minha, reconheço que não me é<br />

licito affirmar que estou aqui ha oito séculos<br />

Porque, se não me sinto bem, não<br />

me sinto todavia contrariado, como succe<strong>de</strong><br />

á maioria dos indivíduos a quem privam<br />

da liberda<strong>de</strong>.<br />

Isto provem <strong>de</strong> ter sido isolado. A<br />

conveniência no cárcere só convém aos<br />

criminosos. Para estes, o isolamento é<br />

terrível. Os homens <strong>de</strong> bem preferem estar<br />


AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />

ORYSTAES<br />

Yersos antigos<br />

PÉROLAS D ' A M O R<br />

São tão puras as lagrimas que choras<br />

Como as estrellas — lagrimas do eeu I<br />

— E por isso, creança, as guardo eu<br />

No saerario d'esta alma, on<strong>de</strong> tu moras.<br />

Por isso as guardo neste p«ito meu,<br />

Mulher feita do riso das auroras,<br />

Por isso guardo as lagrimas que choras,<br />

Tão putas como as hgrimas do ceu 1<br />

— E quando vejo dos teus olhos, flôr,<br />

Suspensa alguma pérola d'amor,<br />

Fico a scismar então, horas e horas,<br />

— O' minha pomba i<strong>de</strong>al! O' astro meu I —<br />

Nas puríssimas lagrimas que choras<br />

Tão puras como as lagrimas do eeu 1<br />

' ! Porto.<br />

AUGUSTO DE MESQUITA.<br />

LETTRAS<br />

A fuga do tempo<br />

(CONCLUSÃO)<br />

—;De Galimard?<br />

• -+r[Em pessoa.<br />

— Mas como ?<br />

— Vaes ver... Mas primeiro, preciso<br />

<strong>de</strong> alguns esclarecimentos. Não me<br />

disseste que tem o somno muito pesado<br />

?<br />

i*— Que nem um morto.<br />

— li resona ?<br />

— Como um cantor da Sé?<br />

— Muito bem. Ora vamos lá a saber,<br />

tens pó <strong>de</strong> arroz?<br />

-r4-Está visto que sim, para os meus<br />

doentes.<br />

—:ISÍO não é commigo. O que eu<br />

preciso saber é se o tens ou não tens.<br />

Ora agora, vem cá commigo.<br />

Cinco minutos <strong>de</strong>pois entravam o dr.<br />

Paupardot e Luiz Vernet, nos bicos dos<br />

pes, no quarto <strong>de</strong> Galimard.<br />

©.doutor não mentira. O seu parasita<br />

dormia a somno solto. Deitado <strong>de</strong> costas,<br />

o nariz para o ar, a bocca aberta,<br />

enchia a casa d'uma vibração ininterrupta<br />

<strong>de</strong>; ondas sonoras.<br />

Luiz Vernet, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o contemplar<br />

murmurou:<br />

—lEste traste tem o somno d'um<br />

justo.<br />

Depois àppEoximoUfSe do leito. Foi<br />

então que começou uma operação muito<br />

extravagante.<br />

Com uma borla <strong>de</strong> pó <strong>de</strong> arroz em<br />

punho, que <strong>de</strong> quando era .quando mettta<br />

numa caixa <strong>de</strong> marfim, Luiz Vernet<br />

empoava suecessivamente o cabello e a<br />

barba do dorminhoco. E a pouco e poucor<br />

oom aquella chuva <strong>de</strong> fino pó, o Cabello<br />

e a barba iam tomando uma côr<br />

grisalha que ia branqueando sensivelmente.<br />

Quando Luiz Vernet julgou a tarefa<br />

concluída, me.tieu a caixa na algibeira,<br />

e, batendo no hombro <strong>de</strong> Galimard, gritou-lhe<br />

numa voz perlidaraeute natural:<br />

-—Então, Galimard, como vae isso?<br />

Galimard, acordado <strong>de</strong> repente, assentou-se<br />

na cama. Assim se conservou,<br />

até que Luiz Vernet exclamou, muito espantado<br />

:<br />

—Oh! meu Deus! o que te aconteceu?<br />

Estas completamente branco!<br />

— Branco I repetiu Galimard a tremer.<br />

— Completamente... Vae-te ver ao<br />

espelho.<br />

Galimard, docilmente, saltou da cama<br />

e loi direito ao espelho que estava<br />

em cima do fogão. Assim que lá chegou,<br />

<strong>de</strong>u um pulo como se sollresse uma commoçao<br />

eléctrica;<br />

—Mas o que é isto? perguntava Galimard.<br />

Por <strong>de</strong>traz d'elle, Poupardot e Luiz<br />

Vernet davam todos os indícios d'uma<br />

sincera consternação.<br />

—"Mas a final, perguntou o doutor,<br />

o que foi que aconteceu?<br />

Luiz Vernet chegou-se ao fogão.<br />

-—Ah I exclamou elle <strong>de</strong> súbito, já<br />

sei o que foi, <strong>de</strong>sgraçado, mexeste neste<br />

relogio?...<br />

— Mexi, murmurou Galimard, com<br />

uma voz que mal'se ouvia.<br />

—Naturalmente quebroti-o O que dizia<br />

eu : está o tubo quebrado I<br />

;—Mas o que tem isso? susurrou o<br />

^nfeliz Galimard.<br />

—O que tem ? Tem que és um gran-<br />

<strong>de</strong> impru<strong>de</strong>nte e que toda a noile tem<br />

fugido o tempo no teu quarto I... E<br />

agora...<br />

E agora ?. ..<br />

—Que horas seriam quando isto aconteceu<br />

?<br />

— Não sei bem. Talvez fossem duas<br />

horas.<br />

Luiz Vernet puxou do relogio.<br />

— Duas horas, murmurou elle, e já<br />

são <strong>de</strong>z... Agora, disse Vernet seccamenle,<br />

tens sessenta e sele annos.<br />

Galimard <strong>de</strong>u um berro aterrorísado<br />

e agarrou nas calças, que começou a vestir<br />

com uma rapi<strong>de</strong>z febril.<br />

Tres minutos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>scia a-escada<br />

a correr.<br />

E o dr. Poupardot não o tornou a ver.<br />

Joseph Montei.<br />

Papel <strong>de</strong> impressão<br />

A' commissão revisora das pautas foi<br />

entregue uma representação assignada<br />

pelos administradores dos jornaes diários<br />

<strong>de</strong> Lisboa sobre os direitos do papel <strong>de</strong><br />

impressão. Foram incumbidos da entrega<br />

d'esSe documento os administradores dos<br />

jornaes Diário <strong>de</strong> Noticias, Diário Illustrado,<br />

Correio da Noite, Século e Novida<strong>de</strong>s,<br />

que o secretario e os membros<br />

presentes da commissão receberam com<br />

toda a <strong>de</strong>ferencia.<br />

O Escoamento<br />

Na visita a que ultimamente se proce<strong>de</strong>u<br />

no porto <strong>de</strong> Lisboa ao vapor Cly<strong>de</strong>,<br />

proveniente <strong>de</strong> Vigo, <strong>de</strong>scobriramse<br />

a bordo 80 mancebos portuguezes embarcados<br />

sem documentos legues naquelle<br />

porto, com <strong>de</strong>stino ao Brazil.<br />

Somma e segue.<br />

Pelos vencidos<br />

O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />

satisfação da consciência individual.<br />

Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />

nossos concidadãos emigrados não é o<br />

cumprimento d'uin <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />

dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />

primeiro logar, na actual conjunctura.<br />

Urge que todo o republicano sem<br />

differeneiação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />

e a sua bolsa para auxiliar aquelles<br />

malventurosos amigos que longe da<br />

patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />

Vamos a isto* meus amigos I Cumpramos<br />

este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />

<strong>de</strong> lyrisinos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />

piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />

dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />

fria do nosso critério a sua significação<br />

positiva.<br />

O Diário Illustrado constatava ha<br />

dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />

em Bordéus se alimentavam<br />

com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />

Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />

Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />

eslá abaixo <strong>de</strong> toda a noção dc<br />

humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />

<strong>de</strong> republicanos, dia a dia aííirmando<br />

pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />

aquella gente.<br />

E a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />

mais <strong>de</strong>mocráticas; mas nào é a solidarieda<strong>de</strong><br />

exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />

apenas pelos bicos da penna : é a<br />

solidarieda<strong>de</strong> elfectiva, pratica, traduzida<br />

no mais franco auxilio moral e material.<br />

Amigos! Soccorramos os emigrados !<br />

Subseripção <strong>de</strong> SOO réis men-<br />

saes <strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

coin egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte.... 15(51600<br />

Mattos Areosa (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro)<br />

200<br />

Cassiano A. M. Ribeiro (i<strong>de</strong>m). 200<br />

Somma, réis 16$000<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />

Abilio Roque<br />

«Amigo e sr. — Tenho aqui a sua<br />

carta <strong>de</strong> 11 do corrente, que muito<br />

agra<strong>de</strong>ço.<br />

Sobre o contheúdo da mesma limilome<br />

a .dizer lhe que estou prevenido para<br />

ir no dia 24 sentar-me no banco dos<br />

criminosos!<br />

Podia ter sido fuzilado na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

16 para 17-anno«, quando <strong>de</strong>i principio<br />

á minha lucta pela liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> arma<br />

ao hombro.<br />

Escusavam os phariseus <strong>de</strong> esperar<br />

até aos 76 annos que tenho agora, e que<br />

me fazem mais peso do que naquelle<br />

tempo a espingarda, com os 70 cartuxos<br />

embalados—a fome—a se<strong>de</strong>—e a nu<strong>de</strong>z.<br />

Tudo reunido era nada, comparado<br />

com a gloria <strong>de</strong> vencer os inimigos da<br />

liberda<strong>de</strong>.<br />

Bem empregado tempo, não lhe parece,<br />

meu amigo? I<br />

Tenciono ahi ir na quinta feira, 22<br />

do corrente, se até então obtiver algumas<br />

melhoras, compatíveis com a jornada.<br />

O meu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é melindroso.<br />

De v.<br />

amigo atlento, criado e obrigado,<br />

Quinta dos Silvares em Con<strong>de</strong>ixa, 14<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

Abilio Roque <strong>de</strong> Sá Barreio.<br />

Eis a carta que este sincero <strong>de</strong>mocrata<br />

e velho liberal acaba <strong>de</strong> dirigir ao<br />

sr. .Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, seu<br />

amigo e companheiro no processo <strong>de</strong><br />

imprensa que lhes movem os empregados<br />

da fazenda, e que nós copiamos do<br />

nosso esclarecido collega o Conimbricense.<br />

Nessa carta transparece claramente<br />

o <strong>de</strong>sprezo que o sr. Abilio Roque liga<br />

a toda essa «fila <strong>de</strong> energúmenos, apostados<br />

a perseguirem os honestos e os<br />

honrados, notando-se lambem o vigor do<br />

revolucionário que nos seus tempos expoz<br />

a sua vida e offereceii a robustez da<br />

sua mocida<strong>de</strong> em beneficio d'uma causa<br />

sanla — a conquista das nossas liberda<strong>de</strong>s.<br />

E consciente <strong>de</strong> que cumpriu um<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cidadão livre, estygmatisando<br />

o abuso e a arbitrarieda<strong>de</strong>, ao mesmo<br />

tempo que <strong>de</strong>fendia os seus interesses,<br />

elle irá perante as justiças, não como um<br />

criminoso, mas como uma victima dos<br />

sicários que têm apunhalado infamemente<br />

as nossas liberda<strong>de</strong>s, em proveito dos<br />

ladrões dos cofres da nação, dos esbanjadores<br />

dos dinheiros públicos e <strong>de</strong> todos<br />

os criminosos: marquezes e con<strong>de</strong>s, ministros<br />

e <strong>de</strong>putados que se têm lucupletado<br />

á custa dos sacrifícios do povo.<br />

E assim que se acreditam os governos—<br />

tolerar e proteger os gran<strong>de</strong>s ladrões,<br />

perseguir e punir os cidadãos que<br />

protestarem contra este estado <strong>de</strong> cousas.<br />

Gloria a José Dias Ferreira, o mais<br />

nefando apóstata d'estes tempos 1<br />

Nestorio dos Anjos.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

Que o parlido republicano sabe fazer<br />

justiça e tem mantido as suas tradições<br />

politicas honradamente, mostra-o elle'vindo<br />

agora em <strong>de</strong>feza do venerando jornalista<br />

sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />

que se vê vexado, no ultimo quartel da<br />

vida, pela ominosa lei das rolhas, apezar<br />

<strong>de</strong> lhe ter merecido inteira confiança esse<br />

homem alcunhado <strong>de</strong> liberal que subiu<br />

ao po<strong>de</strong>r para moralisar e salvar o<br />

paiz.<br />

A <strong>de</strong>cepção porque acaba <strong>de</strong> passar<br />

o illustrado redactor do Conimbricense,<br />

que viu nesse homem um cidadão talhado<br />

a honrar a sua patria e a servir a<br />

liberda<strong>de</strong> ein todas as suas manifestações,<br />

<strong>de</strong>ve ter produzido no animo do venerando<br />

jornalista um forte abalo moral<br />

bem traduzido neslas palavras do seu<br />

artigo.<br />

«Nós aohâmo-nos boje<br />

on<strong>de</strong> então ostaratnos; e<br />

talvez nem todos possam<br />

dizer o mesmo.»<br />

E o partido republicano que sabe<br />

honrar as suas tradições, vem collocarse<br />

ao lado do venerando jornalista, nesta<br />

hora dolorosa, como o tem acompanhado<br />

sempre nas suas festas e nas suas alegrias.<br />

E' bom que isto se registe.<br />

*<br />

Correu o boato <strong>de</strong> que o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Foz d'Arouce <strong>de</strong>ixaria a administração<br />

do dislriçto para dar logar a um vulto<br />

politico d'alta importancia na situação<br />

actual.<br />

Que elle foi a Lisboa e veiu na companhia<br />

do pae dos pobres, os jornaes o<br />

disseram; que elle passa por ser o portentoso<br />

Hol<strong>de</strong>ns ,]ue pucha nos cor<strong>de</strong>linhos<br />

da fantochada governamental, também<br />

o affirmam...<br />

O que ainda não ouvimos discutir é<br />

a sua competencia para administrar um<br />

dislriçto !<br />

Lá está aquelle a encolher os hombros<br />

e a fazer caretas.<br />

O' homem olhe que nesta coisa da<br />

politica o que menos vale é o talento!<br />

Por curiosida<strong>de</strong>:<br />

Às eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados custaram<br />

ao partido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> —<br />

30500 réis.<br />

As eleições eamararias—7$200 réis.<br />

Em tanto somma a conta da lythographia<br />

!<br />

Darei um doce aos monarchicos se<br />

apresentarem a lista <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas feitas.<br />

Que sempre havia <strong>de</strong> ser curiosa a verba<br />

do vinho e do bacalhau !<br />

Confessa o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos que<br />

nunca lhe passou pela mente que havia<br />

tanta miséria !<br />

Mas consolou os famintos! Gran<strong>de</strong><br />

alma !<br />

*<br />

Eslá já feito o discurso da corôa—<br />

não é tal da corôa—é o discurso da presidência<br />

aos senadores <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

E' em estylo vernáculo, disseram-me,<br />

enfarinhado com uns pósinhos <strong>de</strong> escola<br />

realista, que lhe ficam a matar.<br />

Ouvi também dizer que esse discurso<br />

tem allusões picarescas aos penetraes<br />

e ao crysol, mas que se resenle muito <strong>de</strong><br />

falta <strong>de</strong> orthographia e <strong>de</strong> grammalica.<br />

Cada um dá o que tem.<br />

*<br />

No seu posto. Dizem-nos que os governamentaesao<br />

saberem da felicitação popular<br />

que alguns commerciantes promovem<br />

em honra do redactor do Conimbricense<br />

apressaram-se a avisar as massas dando<br />

or<strong>de</strong>s para que não se inscrevessem.<br />

-O que tem graça é que muitos dos<br />

que receberam essa or<strong>de</strong> já tinham contribuído<br />

com a sua assignalura julgando<br />

esse acto justiceiro.<br />

Ora quem dá or<strong>de</strong>ns num parlido é<br />

o chefe — o chefe é o sr. dr. Ayres <strong>de</strong><br />

Campos—logo as responsabilida<strong>de</strong>s d'este<br />

facto cabem-lhe todas.<br />

E é sabido como o sr. Martins <strong>de</strong><br />

Carvalho honrou em vida o nome glorioso<br />

do venerando velho João Corrêa<br />

Ayres <strong>de</strong> Campos, e com que sentimento<br />

elle <strong>de</strong>sfolhou sobre o seu cadaver as<br />

rosas da sauda<strong>de</strong>.<br />

Magriço.<br />

Protesto<br />

das camaras municipaes<br />

A camara municipal <strong>de</strong> Lisboa já entregou<br />

a representação ao rei contra o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, que coarcta<br />

as liberda<strong>de</strong>s do município. Eram 33<br />

vereadores levando todos as suas fachas.<br />

Quando a camara sabia dos paços do<br />

concelho e se dirigiu em trens ao paço<br />

das Necessida<strong>de</strong>s, o povo ein gran<strong>de</strong><br />

numero levantou vivas á camara municipal,<br />

aos vereadores, ao povo <strong>de</strong> Lisboa,<br />

etc.<br />

O rei recebeu a municipalida<strong>de</strong> com<br />

uma toilette pouco própria do acto —sobrecasaca<br />

abotoada, com um ramó <strong>de</strong><br />

violetas na lapella, calçando polainas<br />

brancas.<br />

A resposta que o rei <strong>de</strong>u foi:—Que<br />

a camara podia contar com a sua benevolencia,<br />

e que faria sciente <strong>de</strong>sta representação<br />

o seu governo.<br />

,0 sr. Dias Ferreira estava presente,<br />

e quaudo entraram os vereadores exclamou<br />

: Então tudo isto são vereadores ?<br />

O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ottolini, foi quem<br />

entregou nas mãos do sr. D. Carlos a<br />

representação.<br />

A policia esteve <strong>de</strong> prevenção.<br />

# A camara <strong>de</strong> Setúbal por proposta<br />

do vereador Vidal, approvou, por unanimida<strong>de</strong>,<br />

que se proteste contra os <strong>de</strong>cretos<br />

attentatorios das immunida<strong>de</strong>s munN<br />

cipaes.<br />

# Além dos municípios <strong>de</strong> Lisboa,<br />

Porto e Guimarães, vão reclamar pelas<br />

immunida<strong>de</strong>s municipaes as camaras <strong>de</strong><br />

Estarreja, Ovar, Oliveira <strong>de</strong> Azenieis,<br />

Arouca, Paiva, Oliveira do Bairro, Albergaria,<br />

Vagi s, Anadia, Braga e ainda outras.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

A onda cresce I<br />

Não assisto, ha muito, a manifestação<br />

tão imponente como essa que na ultima<br />

segunda feira, se realisou no theatro<br />

Principe Real.<br />

Comício imponentíssimo: Sete mil<br />

pessoas enchiam o vasto recinto; palpitava<br />

nellas a gran<strong>de</strong> alma popular, vibrante<br />

<strong>de</strong> enthusiasmo, ameaçadora <strong>de</strong><br />

protesto!<br />

O operariado presentiu a morte nas<br />

medidas do governo, adivinhou o completo<br />

aniquillaraento na reforma das pautas<br />

aduaneiras. Correu, então, a chamar<br />

pela vida, impedindo que a nossa industria<br />

tivesse a sorle da nossa politica, das<br />

nossas finanças, da nossa moral.<br />

No gran<strong>de</strong> comicio pozeram-se <strong>de</strong><br />

parte flores <strong>de</strong> rethorica; disse-se muito<br />

porque se faltou sem ro<strong>de</strong>ios. Os trues<br />

d'oratoria diplomatica não se amoldam a<br />

quem sob a blusa, sente pulsar um coração<br />

leal.<br />

E assim explosiu a indignação do<br />

povo, grandiosa, expontanea, imponentíssima<br />

!<br />

A serieda<strong>de</strong> do acto excluiu o expediente<br />

tnonarchico do distúrbio: tudo correu<br />

na melhor or<strong>de</strong>m.<br />

As auctorida<strong>de</strong>s sentiram-se pequenas<br />

dianle da soberania do povo, e a<br />

guarda municipal ficou em quartéis.<br />

A policia fez-se notar, d'esta vez,<br />

pela sua ausência.<br />

Exlranhei não ver o costumado apparato<br />

bellico, que para ser coherente com<br />

a importancia do protesto — <strong>de</strong>veriam<br />

guarnecer-se <strong>de</strong> bayonetas... e até <strong>de</strong><br />

canhões.<br />

Nada d'isso ridicularisou, d'esta vez<br />

o velho processo da monarchia, o que —<br />

se não prova medo garante perda absoluta<br />

d'auctorida<strong>de</strong>... moral!<br />

Todas as classes se achavam reunidas<br />

no salão do lheatro; e todas, sem<br />

discordância, <strong>de</strong>legaram plenos po<strong>de</strong>res<br />

na commissão nomeada pela assembleia<br />

afim <strong>de</strong> entregar uma representação <strong>de</strong><br />

protesto nus mãos do rei.. .<br />

Qft í; iiu,.ii. (JGI! viip {opinai VJ-..<br />

O réi cuida pouco d'industrias, e pensa<br />

<strong>de</strong>masiado em caçadas.<br />

A voz do operário que morre <strong>de</strong> 'fome,<br />

que vé cerceado o seu trabalho por<br />

<strong>de</strong>cretos vexatorios, não lhe faz <strong>de</strong>sviar<br />

a importancia — nem uma linha no tiro<br />

á lebre.<br />

Sua niagesta<strong>de</strong> não treme; <strong>de</strong>sce apenas<br />

do thesouro para as matlas <strong>de</strong> Villa<br />

Viçosa, sem fazer caminho pelos beccos<br />

d'operarios.<br />

A banda <strong>de</strong> generalíssimo não roça<br />

pela blusa do operário.<br />

A canalha eslá a cargo do governo,<br />

que a vexa e lesa a seu modo.<br />

O rei receberá, provavelmente, a<br />

commissão com o costumado sorriso benevolente,<br />

promettendo fazer tudo, e não<br />

fazendo nada.<br />

Pois talvez faça mal I<br />

*<br />

Cresce a onda I<br />

A camara municipal reuniu honlem,<br />

terça, 13, para protestar contra o ultimo<br />

<strong>de</strong>creto governamental.<br />

O sr. Oliveira Monteiro esqueceu-se<br />

do antigo servilismo monarchico e (aliou<br />

em linguagem <strong>de</strong>mocratica.<br />

Para eiles, para os do bando monarchico,<br />

é a <strong>de</strong>mocracia um <strong>de</strong>sabafo ou<br />

uma vingança.<br />

Faliam apenas alevantadamente, lealmente,<br />

quando os da grei lhes mor<strong>de</strong>m.<br />

Triste expediente e péssima consciência<br />

I<br />

Abstrahindo o passado do sr. Monteiro,<br />

gostamos, em verda<strong>de</strong>, da altitu<strong>de</strong><br />

honesta que revestiu o município.<br />

O Porto repelle a affronta do governo;<br />

o protesto explue <strong>de</strong> todos os lábios<br />

con<strong>de</strong>mnando o ministério Dias Ferreira,<br />

que entrou para o gabinete alar<strong>de</strong>ando<br />

moralida<strong>de</strong>s!<br />

A onda cresce l<br />

Fra-Diavolo.<br />

14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro,


AKS O I — 4 4<br />

v Hl, um | |in ••••li,,| •<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Protesto da eamara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Na ultima sessão da c,amara municipal<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, foi resolvido por unanimida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> votos, se lavrasse um protesto<br />

energico contra as medidas centralisadoras<br />

do governo, que vem coarctar<br />

as immunida<strong>de</strong>s municipaes, com a reforma<br />

das obras publicas.<br />

Vae ser enviada a el-rei por este<br />

município uma representação conlra o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 do corrente, adberindo a<br />

ella muitas camaras d'esle districto.<br />

Também se diz que a nossa camara<br />

vae dirigir um manifesto ao paiz sobre o<br />

mesmo assumpto.<br />

O acto anti liberal do governo está<br />

obtendo no paiz forle opposição, por isso<br />

que elle representa uma prepotencia aos<br />

direitos e regalias municipaes, a instituição<br />

mais <strong>de</strong>mocratica do paiz.<br />

Ainda bem que a camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

não <strong>de</strong>ixa passar semelhante <strong>de</strong>spotismo<br />

sem um protesto vibrante.<br />

Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Bealisam-se hoje as corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

promovidas por esta agremiação,<br />

na escola central <strong>de</strong> agricultura Moraes<br />

Soares.<br />

O programma, que já soffreu alteração<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o termos publicado, é o<br />

seguinte:<br />

1. a corrida—Velocida<strong>de</strong>—1 volta,<br />

2:500 metros.<br />

2. a corrida—Resislencia— 3 voltas,<br />

7:500 metros.<br />

3.* corrida— Negativa—100 melros.<br />

4. a corrida—Consolação — 2 voltas,<br />

5:000 metros.<br />

5. a corrida—Reccord—<strong>de</strong> meia hora.<br />

Para a quinta corrida não ha inscripçáo<br />

nem prémios. Todos os velocipedistas<br />

inscriptos <strong>de</strong>verão comparecer no<br />

local das corridas ás 12 horas da manhã.<br />

Os prémios serão distribuídas no local<br />

das corridas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> findas estas.<br />

A. batota<br />

Prosegue o nosso collega o Commercio<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> na campanha encetada<br />

conlra o jogo, que ahi eslá sendo tolerado<br />

pelas auctorida<strong>de</strong>s, e novamente pe<strong>de</strong><br />

ao sr. governador civil o cumprimento<br />

dos seus <strong>de</strong>veres, mostrando-lhe o preceituado<br />

no. código administrativo.<br />

Numa cousa, porém, foi injusto o<br />

collega : affirmar, que a imprensa local<br />

o uão acompanhava em tão justo pedido,<br />

quando é certo que o Defensor do Povo<br />

acudiu immediatamente ao toque <strong>de</strong> rebate<br />

annunciado pelo collega.<br />

£ se nesta questão não tomamos o<br />

cafor em que o collega se mostra é por<br />

estarmos scientes e conscientes que da<br />

parte das auctorida<strong>de</strong>s exisle <strong>de</strong> ha muito<br />

gran<strong>de</strong> indilferença pelo cumprimento<br />

da lei nesta parte.<br />

Ignorará o collega que altos magnates<br />

frequentam estas casas e muitos d'elles<br />

concorrem com capitaes para a exploração<br />

do jogo? Sendo assim como quer<br />

pois que a auctorida<strong>de</strong> cumpra a lei ?<br />

Ora como vamos em epocha em que a<br />

moralida<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada como tigura <strong>de</strong><br />

rhetorica, as auctorida<strong>de</strong>s fecham os olhos<br />

e se os abrirem será por pouco tempo.<br />

Ha tantos exemplos neste caso!<br />

Injustiças<br />

Na classificação dada aos empregados<br />

das obras publicas, em virtu<strong>de</strong> da<br />

nova reforma, praticarain-se injustiças flagrantíssimas.<br />

A avaliar pelo que se <strong>de</strong>u com o<br />

pessoal empregado nesta cida<strong>de</strong> vemos<br />

que quem não teve padrinho ficou mouro,<br />

porisso que empregados antigos e <strong>de</strong><br />

reconhecido mérito, e^outros com concurso<br />

feito, cuja competência e bem conhecida,<br />

se acham preteridos e bastante<br />

lezados.<br />

Nós lamentamos o facto se bem que<br />

elle não nos espanta, porque neste paiz<br />

é sabido que o mérito affere-se sómente<br />

pelo valor da empenhoca, o que é immoral<br />

e alé infame.<br />

Mas é sabido que os governos e este<br />

systema não nos po<strong>de</strong>m dar outra cousa.<br />

Cemiterio da Concitada<br />

Yae-sé proce<strong>de</strong>r nesle cemiterio á renovação<br />

dos covatos no leirão n.° 6.<br />

Quem preten<strong>de</strong>r remover para sepultura<br />

própria as ossadas alli existentes<br />

<strong>de</strong>ve requerer á camara municipal até ao<br />

dia 26 do corrente.<br />

HKonte-pio Conimbricense<br />

Reúne boje novamente (Ma associação<br />

<strong>de</strong> soccorros mutuos a lim <strong>de</strong> tratar<br />

do assumpto <strong>de</strong> botica, por isso que na<br />

ultima sessão nada ficou resolvido.<br />

Cédulas<br />

Recebeu-se na agencia do banco <strong>de</strong><br />

Portugal d'esta cida<strong>de</strong>, 5:0000000 em<br />

cédulas <strong>de</strong> 100 réis, enviadas pela casa<br />

da Moeda.<br />

Reforma <strong>de</strong> estatutos<br />

•<br />

Para a elaboração do projecto <strong>de</strong> reforma<br />

dos estatutos da imprensa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

foi nomeada uma commissão<br />

composta dos srs:<br />

João Correia dos Santos — José <strong>de</strong><br />

Jesus Simões — José Maria Gouveia—•<br />

A<strong>de</strong>lino Viriato da Costa e Almeida —<br />

José Antonio dos Santos — Adrião Marques—<br />

Antonio Ferraz — João Rodrigues<br />

<strong>de</strong> Deus — Adolpho Maria Ferreira —<br />

Joaquim Monteiro da Silva.<br />

Doutoramento<br />

E' hoje na sala dos capellos que se<br />

effectua a ceremonia do doutoramento do<br />

sr. dr. Antonio Luiz Gomes, que ha dias<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u theses.<br />

Theatro-tirco<br />

Como referimos <strong>de</strong>u na quinta feira a<br />

ultima recita neste theatro a companhia<br />

<strong>de</strong> zarzuella hespanhola superiormente<br />

dirigida por D. Pablo Lopez.<br />

Representou-se El Barberillo <strong>de</strong> Lavapiés<br />

que impresionou o publico agradavelmente<br />

pelos musicas <strong>de</strong> qtfe é ornado.<br />

Sobresaiu a senorita Soriano Palacios<br />

e D. Pablo Lopez que receberam entliusiasticos<br />

applausos, sobretudo no segundo<br />

acto em um duetto maravilhoso que foi<br />

bisado duas vezes,<br />

A assistência era numerosa havendo<br />

em toda ella a nota agradavel <strong>de</strong> que<br />

estava a bel prazer.<br />

AssociaçãU» fúnebre familiar<br />

Alguns indivíduos d'esta cida<strong>de</strong> pensam<br />

em fundar uma associação, com a<br />

mesma organisação das que existem em<br />

Lisboa e Porto e que prestam ao publico<br />

publico valiosos serviços.<br />

A i<strong>de</strong>ia é boa, assim se consiga<br />

que a saibam aproveitar e não a sujeitem<br />

á satisfação <strong>de</strong> caprichos ou a vinganças<br />

pessoaes.<br />

Eseolas agrícolas<br />

Foi <strong>de</strong>terminado: que á escola central<br />

<strong>de</strong> agricultura pratica <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> se<br />

dè o titulo <strong>de</strong> Escola Central <strong>de</strong> Agricultura<br />

Moraes Soares; que a escola elementar<br />

<strong>de</strong> viticultura pratica <strong>de</strong> Torres<br />

Vedras passe a dénomiuar-se Escola <strong>de</strong><br />

viticultura Ferreira Lapa, e que a escola<br />

elementar <strong>de</strong> viticultura pratica da<br />

Bairrada seja Escola <strong>de</strong> viticultura Alexandre<br />

Seabra.<br />

Catalogo d'artes<br />

O sr. bispo-con<strong>de</strong> vae offerecer ao<br />

museu nacional o catalogo dos objectos<br />

<strong>de</strong> ouro existentes no museu da Se.<br />

Escola complementar<br />

Está a concurso a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ensino<br />

primário <strong>de</strong> Poiares, do districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

O or<strong>de</strong>nado é <strong>de</strong> 180/000 réis.<br />

Pagador<br />

No logar <strong>de</strong> pagador das obras publicas<br />

d'este districto foi collocado o sr.<br />

Luiz <strong>de</strong> Borja Duarle Santos.<br />

Exploração do Choupal<br />

Trata o Commercio <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong><br />

Lisboa, d'um assumpto importante para<br />

esta cida<strong>de</strong> qual é o da exploração <strong>de</strong><br />

parte do nosso Choupal, em beneficio da<br />

industria portugueza.<br />

Diz a referida folha que ha cerca <strong>de</strong><br />

onze mezes, um abastado proprietário do<br />

norte do paiz pediu ao governo para lhe<br />

ser concedida a parte do choupal <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> existem mais <strong>de</strong> 2:500<br />

amoreiras, para a cultura do bicho da<br />

sêda.<br />

Esle pedido foi feito, com todos os<br />

documentos necessários para a sua completa<br />

garantia d'exito, sendo cerlo que<br />

era susceptível <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

esta empreza, porque nos terrenos<br />

adjacentes havia meio <strong>de</strong> elevar a plantação<br />

até 600:000 amoreiras, o que<br />

daria larga margem para uma vantajosa<br />

exploração da industria das sêdas em<br />

Portugal.<br />

O DEFENSOR BO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

Não se sabe porque o pedido tem<br />

sido muito contrariado no ministério das<br />

obras publicas. Primeiro quizeram-se ouvir<br />

varias entida<strong>de</strong>s officiaes e tão longe<br />

foi este excessivo zelo pela legalida<strong>de</strong>,<br />

que alé foi ouvido o director da escola<br />

industrial <strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>lla, que não parece<br />

ter nada que ver com a exploração <strong>de</strong><br />

uma parte do'choupal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. Tolos<br />

os pareceres suscitados foram os mais<br />

favoraveis ao pedido em questão; mas,<br />

apesar d'isso, não ha meio <strong>de</strong> obter para<br />

elle um <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento ou<br />

<strong>de</strong>ferimento, conforme convenha mais aos<br />

interesses do governo. Para este facto<br />

chamamos attenção do sr. ministro das<br />

obras publicas, que <strong>de</strong>certo ignora o que<br />

se passa a este respeito.<br />

Para Roma<br />

O sr. bispo con<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberou subsidiar<br />

dois alumnos do seminário <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

para irem formar-se em Roma nas sagradas<br />

theologias.<br />

Festas do Natal<br />

Como nos mais annos, celebra-se na<br />

Sé Cathedral com magnificência e pompa<br />

as festas do Natal, á qual presidirá o sr.<br />

bispo con<strong>de</strong>, com a assistência do cabido,<br />

clero, professores e alumnos do seminário.<br />

A musica das matinas e missa é do<br />

maestro Carlos Machado, regendo o sr.<br />

padre Eduardo Gomes Freire, prior <strong>de</strong><br />

Santa Clara.<br />

A hydrophobia<br />

São Ião frequentes no nosso paiz os<br />

casos <strong>de</strong> mor<strong>de</strong>duras, feitas por diversos<br />

animaes, mas principalmente por cães,<br />

está tão vulgarisada a terrível moléstia<br />

da raiva, que parece ter tomado ou querer<br />

tomar um caracter epi<strong>de</strong>mico, <strong>de</strong><br />

existencia permanente, com a accentuada<br />

ten<strong>de</strong>ncia para o seu progresso.<br />

Não era assim nos tempos antigos.<br />

Do nosso conhecimento sabe-se apenas<br />

que, haverá oitenta annos, na freguezia<br />

<strong>de</strong> S. Paio, hoje pertencente ao concelho<br />

<strong>de</strong> Taboa, appareceu um lobo <strong>de</strong>rrancado<br />

que mor<strong>de</strong>u <strong>de</strong>zoito pessoas, as quaes,<br />

com excepção <strong>de</strong> duas, morreram, <strong>de</strong>rrancadas,<br />

e num só rafeiro que o acompanhou<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo da lucta terrível<br />

e que ainda salvou muita gente <strong>de</strong> ser<br />

mordida, sendo a final a fera segurada<br />

pela língua, por uma heroina que andava<br />

a curar meadas e que foi viclima, até<br />

que chegaram dois homens que a mataram<br />

com uma bavoneta encavada.<br />

Hoje são poucos os números dos jornaes<br />

em que se não <strong>de</strong>pare com funestas<br />

noticias <strong>de</strong> que uma ou mais pessoas<br />

foram mordid;'rs por cães hydropholros e<br />

<strong>de</strong> que os mordidos foram para Paris<br />

procurar o remedio ao horrível mal e á<br />

suá afflicçào, da família e amigos, no<br />

institulo do sábio Pasteur, a expensas do<br />

Estado, quasi todas.<br />

É pois esle um assumpto da mais<br />

palpitante transcendência em que todo o<br />

governo medianamente interessado pelo<br />

bem estar do seu povo <strong>de</strong>ve tomar uma<br />

iniciativa energica e eflfiçaz.<br />

Dois expedientes teria a tomar; um,<br />

<strong>de</strong> prevenção, outro para a cura e tratamento<br />

dos mordidos, mas até agora não<br />

se <strong>de</strong>u um só passo para se levantar um<br />

instituto egual ao do immortal Pasteur.<br />

Como preventivo <strong>de</strong>veria o governo<br />

central fazer collectar razoavelmente todos<br />

os cães — que são os animaes majs<br />

propensos para a raiva.<br />

Não o fará porque tem outros cuidados<br />

que mais o preoccupam, para a sua<br />

segurança no po<strong>de</strong>r e para a manutenção<br />

das camarilhas e outros parasitas, do que<br />

para tomar medidas <strong>de</strong> conveniência publica<br />

e continuaremos a exportar viclimas<br />

para o estrangeiro em busca <strong>de</strong> allivio<br />

que com menos sacrificios po<strong>de</strong>riam obter<br />

<strong>de</strong>ntro da sua nação.<br />

E comtudo muito maiores capitaes<br />

incomparavelmente se tem consumido e<br />

estão cousumiudo, sem utilida<strong>de</strong> alguma,<br />

e milhares <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis tem sido,<br />

ha longos annos, no triste reinado do<br />

constitucionalismo, subtrahidos dos cofres<br />

públicos, para constituírem gosos,<br />

ou fortunas individuaes 11<br />

Empregado o expediente preventivo,<br />

diminuiria muito a chusma <strong>de</strong> cães, sem<br />

um único préstimo, a não ser para o mal,<br />

que vagueiam pelas povoações e que<br />

aggri<strong>de</strong>m os viandantes, mor<strong>de</strong>ndo uus,<br />

esfarrapando outros e causando muitos<br />

vexames.<br />

Uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa cainça per-<br />

tence a gente pobre, que, por um gosto<br />

reles, por uma mania, quer ter um cão,<br />

mas que lhe não dão <strong>de</strong> comer, <strong>de</strong>ixan<br />

do os reduzir a pelle e osso, pela fome,<br />

a qual não poucas vezes é a causa do<br />

<strong>de</strong>rrancauiento. Essa' gente, vendo-se<br />

castigada pela bolça, por ter animaes<br />

inúteis e prejudiciaes, per<strong>de</strong>riam a mania.<br />

As pessèas que estimam esta qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> animaes, por gosto ou por necessida<strong>de</strong>,<br />

conserval-os-iam, a <strong>de</strong>speito<br />

da collecta, mas d'estes nãó viria gran<strong>de</strong><br />

mal, ou nenhum, por sertin convenientemente<br />

tratados e vigiados por s«us donos,<br />

para provi<strong>de</strong>nciar, no caso <strong>de</strong> se<br />

lhes pronunciar a moléstia, e em todo o<br />

caso sempre se reduziria a calila nnmerosa,<br />

em benefício da humanida<strong>de</strong> e seriam<br />

mais raros os casos.<br />

Mas quando os governos centraes o<br />

não façam, como é <strong>de</strong> esperar, as camaras<br />

municipaes <strong>de</strong>verão propor sobre o<br />

meio do imposto, porque além do fim<br />

altamente Inimanitario conseguiriam o<br />

augmento da receita sem vexação.<br />

A imprensa também <strong>de</strong>ve tomar este<br />

objecto em toda a consi<strong>de</strong>ração, instigando<br />

e animando os po<strong>de</strong>res públicos a tão<br />

humanilario emprehendimento. Pela nossa<br />

parte convencemo-nos <strong>de</strong> que o governo<br />

actual, como os seus antecessores, nunca<br />

pensou em dotar o paiz com o instituto<br />

analogo ao <strong>de</strong> Pasteur, como consta ao<br />

Defensor do Povo, mas se o levasse a<br />

effeito, muito teria merecido do paiz e<br />

da humanida<strong>de</strong>, pouparia ao thesouro<br />

uma verba importante e salvaria muitas<br />

vidas <strong>de</strong> mordidos que pelo receio da<br />

viagem, ou por negligencia, não vão á<br />

França.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

No parlamento francez<br />

Eis os últimos períodos do brilhante<br />

discurso pronunciado por Mr. Ribot, no<br />

parlamento francez :<br />

«A <strong>de</strong>mocracia franceza repelliu já<br />

as calumnias que o espirito da politica<br />

parti,laria dirigiu contra as nossas instituições.<br />

Comprelien<strong>de</strong> que o prestigio<br />

da Republica está em não<br />

abafar escandalos ou <strong>de</strong>monstrar<br />

fraquezas, mas, ao contrario,<br />

tirar d esses acontecimentos<br />

uma lição <strong>de</strong> alta moralida<strong>de</strong>.<br />

Mantenhamos, senhores, o nosso sangue<br />

frio habitual; não nos <strong>de</strong>ixemos commover<br />

por este furor <strong>de</strong> <strong>de</strong>lações que<br />

recahem, algumas vezes, sobre o nosso<br />

paiz. Sigamos severos para a punição<br />

dos <strong>de</strong>lictos, mas não nos <strong>de</strong>tenhamos<br />

a per<strong>de</strong>r muito tempo nestas<br />

misérias e retomemos o nosso anterior<br />

posto, caminhando" <strong>de</strong> cabeça erguida como<br />

é proprio dos representantes .d'um<br />

gran<strong>de</strong> paiz.<br />

É dominado por este sentimento que<br />

o governo se apresenta a solicitar para<br />

os seus trabalhos o concurso das duas<br />

camaras, e que ousa contar com a confiança<br />

<strong>de</strong> todos os republicanos, unidos<br />

por um pensamento commum, tornado<br />

mais intimo pelas difficulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> momento,<br />

e por uma <strong>de</strong>dicação para com a<br />

Republica e para com a Patria.»<br />

A GRANEL<br />

A penitenciaria tem actualmente 574<br />

reclusos.<br />

* * # Nas obras municipaes do<br />

Porto trabalham, em média 1:000 operários.<br />

* * # Em Espozen<strong>de</strong> falleceu num<br />

dos últimos dias uma velhinha que contava<br />

a bonita eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 103 annos.<br />

* * # Acossados pelo frio e pela<br />

fome, teem apparecido bastantes lobos<br />

em S. Marcos, Alendra, Cintrão, e Bota-<br />

• cães, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Trancoso.<br />

* * # Sentiu-se ha dias em Évora<br />

um fortíssimo tremor <strong>de</strong> terra.<br />

* * # Vae recomeçar os seus trabalhos<br />

em Lisboa a gran<strong>de</strong> commissão<br />

eleitoral republicana.<br />

* * # Dizem <strong>de</strong> Aveiro que é sem<br />

resultado o trabalho no mar. Este tem<br />

permittido o serviço, mãs as re<strong>de</strong>s saem<br />

d'elle sem pesca.<br />

* * * Grassa com bastante intensida<strong>de</strong>,<br />

no concelho <strong>de</strong> Aveiro, a febre<br />

aphtosa, no gado bovino.<br />

* * * O rei partiu para Villa Viçosa<br />

para a caça.<br />

* * * Os moveis fabricados na Penitenciaria<br />

<strong>de</strong> Lisboa e alli vendidos durante<br />

o anno findo, produziram cerca <strong>de</strong><br />

50:000/000 réis.<br />

* * * A pesca tem escasseado ultimamente<br />

em toda a costa do Algarve,<br />

correndo por isso por preço elevado a<br />

pouca que apparece.<br />

* * # O novo jornal, orgão do<br />

partido catholico, apparecerá em Lisboa<br />

no 1.° <strong>de</strong> janeiro, e terá por titulo Diário<br />

Nacional.<br />

* * # Em Guimarães vae estabelecesse<br />

uma tinturaria pelo processo chimico,<br />

dirigida por tres alumnos da escola<br />

industrial Francisco <strong>de</strong> Hollanda.<br />

* # A exportação portugueza.<br />

Em Abo, na Finlandia, existe uma<br />

importante fabrica <strong>de</strong> rolhas que emprega<br />

principalmente cortiça do nosso paiz.<br />

Essa fabrica foi ultimamente augmentada,<br />

occupando um inteiro quarteirão da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

A sua importação annual <strong>de</strong> cortiça<br />

portugueza representa um médio <strong>de</strong> 157<br />

contos <strong>de</strong> réis.<br />

* * * Consta que a Liga Liberal<br />

vae realisar brevemente um comício afim<br />

<strong>de</strong> se resolver a forma <strong>de</strong> protestar<br />

contra o cerceamento das franquias municipaes.<br />

* * # Dois pharmaceuticos do Porto<br />

offereceram-se para a regencia gratuita<br />

da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> pharmacia na Escola Medica<br />

d'aquella cida<strong>de</strong>, atten<strong>de</strong>ndo á penúria<br />

do thesouro.<br />

O requerimento foi a informar ao<br />

respectivo director.<br />

* * # Os estudantes do lyceu <strong>de</strong><br />

Braga também vão representar ao governo<br />

pedindo que sejam dispensados, ao menos<br />

este anno, do exame <strong>de</strong> inglez como<br />

preparatório para po<strong>de</strong>rem matricular-se<br />

nos cursos superiores.<br />

* * # Em Braga, andando um moço<br />

<strong>de</strong> lavoura á caça em companhia <strong>de</strong> outro,<br />

a arma disparou-se, indo a carga empregar-se<br />

no rosto d'este, que morreu logo.<br />

* * # Foi fix ado.o dia 20 do corrente<br />

para a commissão do recenseamento<br />

eleitoral do concelho <strong>de</strong> Arganil se reunir,<br />

e proce<strong>de</strong>r a alterações no respectivo<br />

recenseamento.<br />

* * * Tem causado gran<strong>de</strong> successo<br />

no Porto o celebre hercules Marx,<br />

que tanto agradou em Lisboa.<br />

Coisas e loisas<br />

Casamentos-negocios.<br />

Elle: — (Beijando-lhe ternamente a<br />

mão). — Ah I Esla linda mãosinha vae<br />

fazer muitas pessoas felizes.<br />

Ella: — (Admirada). — Muitas! Só<br />

duas: eu e tu.<br />

Elle: — Ora essa 1 E então os meu9<br />

credores, que já não contavam receber<br />

vintém ? I<br />

*<br />

Em policia correccional:<br />

O juiz: — O réu é accusado <strong>de</strong> ter<br />

batido num visinho.<br />

O accusado: — Estava embriagado,<br />

sr. juiz; julguei que elle era a minha<br />

mulher 1<br />

*<br />

Bébé eslá a brincar com outras creanças.<br />

De repente <strong>de</strong>sata a chorar em altos<br />

gritos; um dos seus companheiros pespega-lhe<br />

uma bella bofetada.<br />

— Porque é que o menino lhe não<br />

pagou logo com outra? perguntou a<br />

criada.<br />

— Eu já lh'a tinha pago... antes 1<br />

Desgarradas<br />

Na janella aon<strong>de</strong> eu coso,<br />

Tenho meu magericão;<br />

Da-lhe o sol por entre as folhas,<br />

• Vivo nesta solidão.


AINO I — 4 4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> d e z e m b r o <strong>de</strong> 1 8 9 8<br />

O T U I I O S<br />

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uin exemplar.<br />

HISTOKIA Dl POBTDGAL<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schaefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemâo<br />

POR<br />

F. <strong>de</strong> Assis L o p e s<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

POR<br />

J, m i m SE' SAMPAIO (BBWO)<br />

Edição completa por um corpo da<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

entre outros eminentes colaboradores,<br />

da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />

Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réi< cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

réis; provindas e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />

em todas as livrarias do paiz e<br />

no escriptorio da empreza editora, rua<br />

do Bomjardim, 414. — Porto.<br />

DE GRAÇA<br />

Carteira para notas,<br />

Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />

e bilhetes «le visita<br />

RIR -— É este o titulo <strong>de</strong> um<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />

publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes,, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> vis,ita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão enviados, gçatuitamente, catalogos<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviai<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

líliiLíl SAGRADA<br />

ILLDST3ADA<br />

900 a 1:000 gravuras<br />

Petlir prospecto e especimen<br />

Assignatura 20 réis, fascículo<br />

P<br />

Está concluído o 1." volume<br />

kara informações K I R I J I A<br />

S A R R A U A IIÍIÍCS-<br />

T R A » A —Mousinho da Silveira, 191<br />

—Porto.<br />

Em <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />

Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />

e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />

piores — Â.<br />

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DE CASAMENTO<br />

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Por linha .<br />

Repetições<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 «/o<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

iVla<strong>de</strong>ira para palitos<br />

auein preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />

67<br />

guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />

palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leitão,<br />

resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />

AO PUBLICO<br />

eclaro para os <strong>de</strong>vidos eíTei-<br />

61 O tos, que o sr. Antonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />

n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892<br />

Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />

Novo estabelecimento<br />

ffí I. ntonio Paulo d'0livcira,<br />

' ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />

Santos Apostolo Junior, participa ao illustrado<br />

publico conimbricense que vae<br />

abrir um estabelecimento egual ao do<br />

seu ex-patrão, na rua do Sargento Mór,<br />

n. os 1, 3 e 5.<br />

Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />

Aos srs. lavradores<br />

„„ I massa <strong>de</strong> purgueira é<br />

0 At sem duvida o adubo <strong>de</strong> mais<br />

reconhecida vantagem para as sementeiras<br />

<strong>de</strong> trigo, milho, batata, fava, grão<br />

feijão e para adubar vinha, etc., etc.'<br />

Em toda a Extremadura, parte do<br />

Alemtejo e Beira, é o adubo que melhores<br />

resultados tem dado em todas as<br />

culturas.<br />

Fornecem-no directamente da fabrica<br />

os agentes PERDIGÃO & TEIXEIRA—<br />

Rua das Fontainhas, 24 e 26 —Alcantara.<br />

íjiao<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />

e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

José da Costa Soares, á<br />

rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia para tabiques e estuques<br />

a 7$000 réis o milheiro.<br />

JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />

g &jo seu antigo estabelecimento<br />

Pi concertam-se e cobreni-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />

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Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1$500<br />

Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />

para coberturas baratas. Garante-se<br />

a perfeição do trabalho encommendado<br />

nesta casa.<br />

Capital 2.000:000^000 réis<br />

Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />

BISSIS"<br />

14, Largo Mnnunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

6<br />

CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />

AOTOIIO JOSÉ SE M3UBA 2AST0—SUA SOS SAPATEIROS, 20 A 28<br />

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ESTAMPARIA 1IECIIAHICA<br />

''P inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />

1. feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> ho-<br />

mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

Tinhas para escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. JPreços Inferiores.<br />

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ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />

natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />

peito. Foi ensaiado com óptimos resultados nos hospilaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia Rosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />

<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />

61, 65.<br />

A R T A Z E S<br />

Prospectos<br />

e bilhetes<br />

<strong>de</strong> theatro<br />

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Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

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JM objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G — COIMBRA.<br />

64 Commoda e oratorio<br />

<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />

rua dos Sapateiros, n. os 20<br />

a 24.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53 A n ( , u > t o IVunes tloin San-<br />

14 tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

ROA DIREITA, 18—COIMBRA<br />

VENDA DE CASA<br />

58 lJF en,,e -*>® i»m» sita na Couraça<br />

W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />

tratar com José Simões, largo do Castello.<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno 21700<br />

Semestre....<br />

Trimestre...<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

W3S0<br />

680<br />

Sem estampilha<br />

Anno $0400<br />

Semestre.... 1#200<br />

Trimestre... 600<br />

Impresso na Typo^raphjia<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.«<br />

14, proximo á rua aos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


A questão municipal<br />

Vae-se propagando a todos os<br />

ânimos uma justiceira reacção que<br />

se dispõe a levar <strong>de</strong> vencida a pertinácia<br />

intolerante do sr. Pedro Victor<br />

no <strong>de</strong>creto que visou a cercear<br />

as regalias municipaes.<br />

Apezar do que sobre a matéria<br />

teem <strong>de</strong>batido dia a dia os periodistas<br />

orthodoxos é por <strong>de</strong>masia transparente<br />

a má vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se<br />

exornou o po<strong>de</strong>r central ao vibrar<br />

aquella machadada que nenhuma significação<br />

ulterior justifica ou sequer<br />

absolve.<br />

D'entre a serie numerosa dos<br />

<strong>de</strong>satinos governativos que num <strong>de</strong>lírio<br />

communicativo se veem explanando<br />

ha algum tempo, poucos teem,<br />

como este, logrado vibrar com tanto<br />

calor no animo geral.<br />

Ao atrophiamento orgânico <strong>de</strong><br />

todas as ramificações da vida nacional<br />

— tão miseravelmente cahida na<br />

esphera baixa dos povos enfermados<br />

pela falta <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> nas<br />

suas funções vitaes, — correspondia<br />

sensivelmente uma quasi dissidência<br />

na vida municipal, náo se resentindo<br />

profundamente do mal geral que ha<br />

muito affectava o organismo da nação.<br />

Não se applica este principio em<br />

absoluto porque na phenomenologia<br />

da politica experimental seria prodigioso<br />

extrahir um dualismo tão singular:<br />

que uma parte integrante d'um<br />

todo fosse fundamentalmente in<strong>de</strong>mne<br />

dos vicios d^sse todo.<br />

Assim, a vida municipal, apezar<br />

do que <strong>de</strong> immoral e anti-hygienico<br />

lhe tem exemplificado o po<strong>de</strong>r central,<br />

tem, comtudo, habitado uma esphera<br />

<strong>de</strong> relativa limpeza, amoldando-se<br />

ás suas tradiçõ^ basicas.<br />

Essas tradições assentavam já<br />

como que sobre um principio <strong>de</strong> religião<br />

social, que o po<strong>de</strong>r central já<br />

nem pensava em perfurar, <strong>de</strong>votando-lhe<br />

uma <strong>de</strong>ferencia secular.<br />

A'parte a legislação ten<strong>de</strong>nte á<br />

mo<strong>de</strong>rnisação evolutiva das instituições<br />

municipaes, ainda nenhum governo<br />

se abalançou a cercear, no<br />

fundo, as suas regalias.<br />

A' quantiosa enxurrada <strong>de</strong> reformas<br />

que veem sendo o aprendizado<br />

das nossas balofas capacida<strong>de</strong>s governativas,<br />

tem sido extranho, para<br />

os effeitos <strong>de</strong>pressivos, as instituições<br />

municipaes, que significam, na sua<br />

tradição e na sua historia, o melhor<br />

fundamento da governação popular.<br />

Tem havido mínimas excepções<br />

emergentes <strong>de</strong> mínimas fluctuações<br />

<strong>de</strong> governos: pequenos esbulhos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas attribuiçõés que os<br />

governos julgaram utií á sua politica<br />

dissoluta e ventruda. Todavia<br />

como isto não affectava fundamentalmente<br />

nas suas razões tradicionaes,<br />

eífectivas, a instituição dos municípios,<br />

o caso vogava sem valor na<br />

esphera politica e passava sem os<br />

reparos dos interessados.<br />

Confiante neste já talvez <strong>de</strong>masiado<br />

fechar-dolhos é que o sr. Pedro<br />

Victor, a quem aliás os adversarios<br />

políticos reconhecem qualida<strong>de</strong>s<br />

eminentes e intenções honestas,<br />

se arrojou a referendar o seu <strong>de</strong>sastrado<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro que<br />

vae produzindo pelo paiz afora uma<br />

irritação <strong>de</strong> paixões que difficilmente<br />

ficará na platonice usual do nosso<br />

temperamento frio.<br />

Foi infelicíssimo o sr. Pedro Victor<br />

em <strong>de</strong>sviar da acção directa dos<br />

municípios a regularisação dos melhoramentos<br />

públicos, certo que ninguém<br />

com mais competencia e assiduida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> interferir nesses assumptos<br />

<strong>de</strong> interesse local. Tem<br />

havido, conce<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> •prompto,<br />

municipalida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> á matroca tem<br />

Vogado os <strong>de</strong>veres que lhes são adstrictos;<br />

municipalida<strong>de</strong>s em que a<br />

politica <strong>de</strong> interesses tem sido o apa-<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

nagio da sua gerencia; municipalida<strong>de</strong>s<br />

em que por ignorancia e por<br />

<strong>de</strong>sleixo se têm <strong>de</strong>scurado interesses<br />

communs e promovido interesses<br />

particulares. Citaríamos exemplos,<br />

se quizessemos alongar-nos. E' isto<br />

irrefutável. Não ha facciosismo que<br />

ensombre o reconhecimento d'estes<br />

factos.<br />

Mas por ventura isto auctorisa<br />

ou absolve o <strong>de</strong>creto Pedro Victor?<br />

Não, senhores. Ninguém menos<br />

auctorisado para coarctar irregularida<strong>de</strong>s<br />

do que o po<strong>de</strong>r central. Não<br />

se citam municípios cujas finanças<br />

estejam em tão imminente <strong>de</strong>scalabro<br />

como as finanças do Estado, a<br />

cuja direcção tem presidido a mais<br />

innominada ausência <strong>de</strong> pudor que é<br />

<strong>de</strong>feso alimentar-se.<br />

Por muita inépcia, por muito favoritismo,<br />

por muito <strong>de</strong>sleixo que<br />

tenha revelado a administração municipal,<br />

não terá attingido a somma<br />

<strong>de</strong> inépcia, <strong>de</strong> favoritismo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sleixo,<br />

que em tão larga escala se tem<br />

exercido no po<strong>de</strong>r, a pontos <strong>de</strong> estarmos<br />

miserrimamente reduzidos á<br />

pobre condição, d'aqui a pouco, <strong>de</strong><br />

simples matéria hypothecaria dos<br />

credores externos!<br />

Com que direito, pois, vem um<br />

governo, qualquer que elle seja, esbulhar<br />

os municípios do encargo <strong>de</strong><br />

promover os melhoramentos locaes<br />

a pretexto <strong>de</strong>stes terem sido irregularmente<br />

promovidos?<br />

Responda a consciência dos honestos.<br />

Perseguições militares<br />

Ura ofHcial illustre, o sr. tenente<br />

coronel Fava, que fez a conferencia na<br />

Liga Liberal que era outro logar referimos,<br />

foi na segunda feira chamado ao<br />

ministério da guerra e alli recebeu or<strong>de</strong>m<br />

immediata <strong>de</strong> partir para Elvas, sé<strong>de</strong> do<br />

regimento que commanda, artilheria 5,<br />

sendo-lhe logo passada guia para seguir<br />

no mesmo dia ao seu <strong>de</strong>stino, no comboio<br />

que á noite partiu da estação do Rocio!<br />

É com estas perseguições que o governo<br />

pensa naturalmente conjurar a rehelliâo<br />

dos espíritos que dia a dia se<br />

accentua fundamente 1<br />

Luz é feita!<br />

Graças ao notável arrojo investigador<br />

do novo ministério francez, vae-se apurando<br />

pelas revelações dos <strong>de</strong>poimentos<br />

feitos perante a commissão <strong>de</strong> inquérito<br />

parlamentar, que alguns dos incursos na<br />

nefanda immoralida<strong>de</strong> do Panamá são<br />

monarchicos e outros são republicanos<br />

que do orleanismo vieram para a Republica<br />

não por convicções mas por interesse.<br />

Ainda bem.<br />

Emigração<br />

Do norte chegaram a Lisboa com<br />

<strong>de</strong>stino ao Brazil mais 160 emigrantes.<br />

Bem se vô que vamos em mar <strong>de</strong><br />

rosas.<br />

E a dizerem que o Zé Dias não salva<br />

isto !<br />

Silva Pinto<br />

Deixou <strong>de</strong> pertencer á redacção da<br />

Folha do Povo e passou a pertencer á<br />

redacção da Batalha, o illustre critico sr.<br />

Silva Pinto.<br />

Cresça a lama I<br />

Já'constou ás Novida<strong>de</strong>s, não se sabe<br />

porque via, que iam em caminho <strong>de</strong> bom<br />

accordo os senhores José Dias Ferreira<br />

e José Luciano <strong>de</strong> Castro.<br />

Depois da perlinacia belligerante<br />

d'estes dois magnates da politica monarchi'ca,<br />

perlinacia que tem tocado as raias<br />

do insulto individual, só nos resta ver<br />

isto.<br />

Será o resto. Ou não?<br />

PELOS JORNAES<br />

A isenção progressista. ..<br />

O Diário Illustrado revelou esta coisa:<br />

«E ainda ha dias, fallando nós com<br />

um illustre juiz, qne já foi ministro,<br />

que é <strong>de</strong>putado, que é chefe politico<br />

* num districto do norte, mas <strong>de</strong> quem<br />

não escrevemos o nome, elle nos dizia<br />

com uma bonhomia nervosa, que é<br />

especialida<strong>de</strong> sua, e que o torna sympathico:<br />

« — Olhe, os regeneradores que subam<br />

ao po<strong>de</strong>r; estão lá seis mezes, e<br />

<strong>de</strong>pois vamos nós, entrando-se na rotação<br />

dos partidos.»<br />

Todo o interesse d'esta gente resume-se<br />

na conquista do po<strong>de</strong>r. É o que<br />

se infere da campanha violenta que ha<br />

mezes vem tomando o partido progressista<br />

e da <strong>de</strong>claração recolhida pelo Illustrado.<br />

A Reforma aproveita o titulo <strong>de</strong>—A<br />

<strong>de</strong>rrocada em França — para publicar o<br />

seguinte telegramma:<br />

"Paris, 16, n. — Os presi<strong>de</strong>ntes dos<br />

quatro grupos republicanos do senado<br />

foram felicitar o sr. Ribot, presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho dê ministros, pelas resoluções<br />

que o governo tomou concernentes<br />

ás prisões e buscas domiciliarias<br />

levadas a effeito esta manhã em Paris.<br />

«Em resultado d'uma <strong>de</strong>morada <strong>de</strong>liberação,<br />

a commissão parlamentar <strong>de</strong><br />

inquérito sobre o Panamá resolveu que<br />

não havia motivo para renunciar ao<br />

seu mandato.»<br />

Com effeito não podia arranjar melhor<br />

titulo. Assenta com uma proprieda<strong>de</strong> brilhante.<br />

Quando ha pouco tempo se <strong>de</strong>bateu<br />

o monumentalissimo escandalo <strong>de</strong> um<br />

ministro <strong>de</strong> Portugal ter <strong>de</strong>sviado illegalmente<br />

dos cofres públicos a intima<br />

bagatella <strong>de</strong> cinco mil contos <strong>de</strong><br />

réis, cremos que a Reforma escreveu<br />

artigos sob este titulo:—Prova-se que a<br />

moralida<strong>de</strong> monarchica em Portugal é um<br />

facto.—<br />

Agora que um paiz cioso das suas<br />

gloriosas tradições se abalança a perseguir<br />

sem tréguas nem quartel um grupo<br />

que á sua sombra quiz trahir os princípios<br />

<strong>de</strong> honra social, a Reforma dá aos<br />

seus artigos aquella epigraphe !<br />

Já é falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>coro 1<br />

Sergio <strong>de</strong> Castro com a libré <strong>de</strong> conselheiro<br />

Accacio e uma pose muito sua,<br />

guia paternalmente o sr, Dias Ferreira:<br />

«Experimente. Mas vá por um só<br />

caminho, a direito. Se a sua organisação,<br />

que na volubilida<strong>de</strong> ás vezes pareee<br />

<strong>de</strong> mulher, lhe permitte esta linha<br />

recta, siga-a e ha <strong>de</strong> dar-se bem.»<br />

E' pasmoso que o sr.— vá lá, vá lá<br />

— Sergio <strong>de</strong> Castro, se atreva a fallar<br />

assim a um homem que cora quanto seja<br />

politicamente uma nullida<strong>de</strong> perigosa tem<br />

<strong>de</strong> intelleclo e <strong>de</strong> critério o quanto falta<br />

ao sr. Sergio para ter auctorida<strong>de</strong> conselheiral...<br />

Fazemos justiça a ambos.<br />

Às. Novida<strong>de</strong>s que tantissimas vezes<br />

tem increpado <strong>de</strong> <strong>de</strong>.-bragada e insolente<br />

a linguagem da imprensa republicana,<br />

publicavam ha dias esta infamante diatribe<br />

contra o sr. bispo <strong>de</strong> Belhsaida,<br />

ministro do sr. D. Carlos :<br />

«Como ministro dos homens — é<br />

reul Como ministro <strong>de</strong> Deus — é um<br />

excoinmungadol Ora o excommuugado,<br />

segundo S. João Chrysostomo explica,<br />

reíeriudo-se a.umj das epistolas <strong>de</strong> ó.<br />

Paulo, <strong>de</strong>ve ser separado <strong>de</strong> todo o<br />

convívio, <strong>de</strong>ve ser relegado ao abandono<br />

e â vergonha. E' como a peste —<br />

contagioso. E' como a lepra —repugnante.<br />

E' corno a sujida<strong>de</strong>—mal cheiroso.»<br />

Quem assim falia d'um principe da<br />

egreja e ministro da monarchia é-lhe<br />

absolutamente vedado accusar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbragamento<br />

qualquer outra gente.<br />

A proposito do accordo que se diz<br />

estabelecido entre o sr. Dias Ferreira e<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

José Luciano, recortamos das Novida<strong>de</strong>s<br />

esle fragmento:<br />

«Para quem não <strong>de</strong>seja transformações<br />

ministeriaes — que po<strong>de</strong>m vir a<br />

ser um factor no accrescentamento das<br />

difficulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> occasião, — a entente<br />

entre os srs. José Luciano <strong>de</strong> Castro e<br />

Dias Ferreira, foi um passo acertado.<br />

Desembaraçou o chefe do governo <strong>de</strong><br />

luctas pessoaes e irritantes, a troco da<br />

concessão <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>stos favores<br />

políticos.»<br />

É inconcebível tanta abundancia <strong>de</strong><br />

impudôr. Cora e4a reconciliação, a troco<br />

da concessão <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>stos favores<br />

políticos, essas duas entida<strong>de</strong>s dão o<br />

<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro impulso para a própria ruina<br />

moral.<br />

Elles—que impu<strong>de</strong>ntemente se agatanharam<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o caso sujo <strong>de</strong> Agueda até<br />

ás columnas. resumbrando odios, do<br />

Correio da Noite e do Tempo — juntos,<br />

abraçados, contentes: é ignóbil!<br />

Apezar do que sobre a entente do sr.<br />

José Dias com o sr. José Luciano affirmam<br />

as Novida<strong>de</strong>s e outros jornaes, o<br />

Correio da Noite continúa a insistir:<br />

«Não retroce<strong>de</strong>mos um passo, porque<br />

a nossa posição continua a ser a<br />

mesma em frente do actual governo,<br />

isto é, <strong>de</strong> clara e franca censura aos<br />

actos e á politica ministerial.»<br />

«Os jornaes progressistas das províncias<br />

continuarão a combater o governo,<br />

perfeitamente em harmonia comnosco<br />

e com o partido progressista.<br />

Per<strong>de</strong>m o seu tempo os que quizerem<br />

atirar para o meio <strong>de</strong> nós o pomo da<br />

Discórdia.»<br />

Veremos se isto é simplesmente um<br />

balão <strong>de</strong> ensaio para salvar na apparencia<br />

a honra do convento.<br />

A proposito do silencio guardado por<br />

gran<strong>de</strong> parle da imprensa acerca do que<br />

do ultramar <strong>de</strong>nunciou a penna vibrante<br />

<strong>de</strong> João Chagas, diz com dura razão o<br />

nosso amigo Heliodoro Salgado, n'A<br />

Portugueza:<br />

«Não <strong>de</strong>ter o braço armado do assassino;<br />

não pôr embargos á obra audaciosa<br />

do ladrão; ouvir a victima pedir<br />

soccorro e encolher os hombros, e andar<br />

para diante como se nada se tivesse<br />

ouvido, sem querer saber se aquillo<br />

será um homem a quem estejam roubando<br />

a bolsa, um nosso irmào a quem<br />

estejam roubando a vida, uma nossa<br />

irmã a quem estejam roubando a honra;<br />

tudo isto não são apenas abstenções dictadas<br />

pela covardia, porque ninguém<br />

nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrermos ao povoado<br />

a gritar por soccorro: são actos <strong>de</strong><br />

communhão no bandidismo.»<br />

Tem razão o illustre articulista; mas<br />

essa imprensa estipendiada prefere commungar<br />

nesse baudidismo, calando os<br />

mais vulgares sentimentos <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

e documentando, assim, tristemente,<br />

a sua baixeza moral 1<br />

A' caça<br />

Tê<strong>de</strong>bê.<br />

tVilla Viçosa, 18, ás 8 h. e 80 da<br />

t.—(Ao Diário <strong>de</strong> Noticias, Lisboa.) —<br />

Suas magesta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois da missa, foram<br />

caçar á tapada, matando 4 gamos, 3<br />

veados, 9 lebres, 3 coelhos e uma gallinhola.<br />

A's 7 da manhã parle el-rei para<br />

Lisboa e regressa á noite.»<br />

Isto não se commenla por que s. m.<br />

é inviolável e sagrado segundo a carta<br />

adorada.<br />

«Galeria Portugueza•<br />

Recebemos o primeiro numero d'esta<br />

revista semanal que começou a publicarse<br />

no Porto.<br />

Contém 16 paginas <strong>de</strong> bello texto e<br />

algumas gravuras originaes <strong>de</strong> Julio Machado<br />

que se revela <strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> mérito.<br />

No seu todo a Galeria Portugueza<br />

offerece um attrahente conjunclo <strong>de</strong> collaboração<br />

artistico-litteraria que merece<br />

á graciosa coadjuvação do publico.<br />

CRYSTAES<br />

DE TARDE<br />

Naquelle «pic-nic» <strong>de</strong> burguezas<br />

Houve uma scena simplesmente bella,<br />

E que, sem ter historia nem gran<strong>de</strong>zas,<br />

Em todo o caso dava uma aguarella.<br />

Foi quando tu, <strong>de</strong>scendo do burrico,<br />

Foste colher, sem imposturas tolas,<br />

A um granzoal azul <strong>de</strong> grão <strong>de</strong> bico<br />

Um ramalhete rubro <strong>de</strong> papoulas.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois, em cima d'uns penhascos,<br />

Nós acampamos, inda o sol se via;<br />

E houve talhadas <strong>de</strong> melão, damascos,<br />

E pão <strong>de</strong> ló molhado em malvasia.<br />

Mas todo purpuro a sahir da renda<br />

Dos teus dois seios como duas rolas,<br />

Era o supremo encanto da merenda<br />

O ramalhete rubro das papoulas.<br />

' CESÁRIO VERDE.<br />

A reforma eleitoral<br />

A commissão encarregada pelo governo<br />

<strong>de</strong> reformar a lei eleitoral já «pprovou<br />

os tres primeiros artigos do pro<br />

jecto elaborado pelo sr. Cunha, relator.<br />

Estes arligos referem-se á órganisaçáu do<br />

recenseamento quanto á sua base censitica<br />

e capacida<strong>de</strong> litteraria.<br />

Quanto á inscripção dos eleitores<br />

pelo censo, a base será <strong>de</strong> futuro tomada<br />

sobre documentos authenticos fornecidos<br />

pelas repartições <strong>de</strong> fazenda, secretarias<br />

das camaras e das administrações do<br />

concelho, por fórma que a parte reservada<br />

ás commissões eleitoraes neste ponto<br />

fica quasi reduzida ao or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>stas<br />

indicações, sem arbítrio <strong>de</strong> apreciação<br />

e julgamento pela sua parte.<br />

Recenseamento eleitoral<br />

Convidam-se lodos os republicanos<br />

d'este concelho que não estejam<br />

inscriptos no recenseamento<br />

eleitoral e queiram usar do direito<br />

<strong>de</strong> votar, a dar os seus nomes em<br />

qualquer dos estabelecimentos<br />

adiante indicados, a fim da commissão<br />

directora do partido republicano<br />

nesla cida<strong>de</strong> os fazer recensear:<br />

Redacção do Defmsor do Povo;<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Manoel Augusto<br />

da Silva, rua dos Sapateiros;<br />

Typographia Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Luiz<br />

Cardoso, rua da Sophia;<br />

Drogaria Rodrigues da Silva,<br />

rua Ferreira Borges;<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Serio Veiga,<br />

rua da Sophia; e<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> João Alves,<br />

Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />

Todo o cidadão portuguez,<br />

maior <strong>de</strong> 21 annos, ou legalmente<br />

emancipado, que saiba ler e escrever,<br />

ou seja chefe <strong>de</strong> familia, ou<br />

lenha o censo eleitoral po<strong>de</strong> ser<br />

inscripto no recenseamento.<br />

É consi<strong>de</strong>rado chefe <strong>de</strong> familia,<br />

para os effeitos eleitoraes, o cidadão<br />

que ha mais <strong>de</strong> um anno viva em<br />

commum Com qualquer seu ascen<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, lio, irmão ou<br />

sobrinho, ou com sua mulher e<br />

prover aos encargos da familia.<br />

São consi<strong>de</strong>rados como tendo<br />

o censo eleitoral — os que forem<br />

collectados no corrente anno em<br />

1$000 réis <strong>de</strong> contribuição industrial<br />

ou <strong>de</strong> qualquer outra contribuição<br />

directa.<br />

Para todo e qualquer esclarecimento<br />

po<strong>de</strong>m dirigir-se ao escriplorio<br />

do sr. dr. Eduardo Vieira,<br />

rua da Sophia.


AXXO I —IV. 0 O DEFENSOR DO POVO 22 dc <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />

LETTRAS<br />

o s SONHOS<br />

i<br />

O sonho do invejoso<br />

Felix adormecera sol» a doce impressão<br />

d'uma agradavel noticia : a quebra<br />

d'um visinho seu que o molestava com o<br />

espectáculo da sua felicida<strong>de</strong> e opulência.<br />

Sem saber como, achou se conversando<br />

com o diabo, que lhe disse familiarmente<br />

:•<br />

— Concedo-te uma graça.<br />

— Das-nie tempo para reflectir ? —<br />

perguntou-lhe Felix.<br />

— Sim — respon<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>monio; voltarei<br />

<strong>de</strong>ntro em pouco.<br />

— Qne lhe pedirei ? pensava o invejoso.<br />

Pedro tem uma mulher muito bonita<br />

e quer-lhe muito... Alas não, que as<br />

mulheres envelhecem e aborrecem. O talento<br />

<strong>de</strong> Julião? Bem pensado, serve-lhe<br />

<strong>de</strong> pouco. O capital <strong>de</strong> D. Hypolito?<br />

Pô<strong>de</strong> estar em vesperas d'uma quebra,<br />

como o meu visinho: ha banqueiros que<br />

acabam pedindo esmola. Dizem que já foi<br />

rico o pobre que pe<strong>de</strong> esmola <strong>de</strong>fronte<br />

da minha casa, e teria morrido <strong>de</strong> fome<br />

se não tivesse a fortuna <strong>de</strong> ser cego.. .<br />

— Reflectiste? — disse o diabo metendo<br />

a cabeça pela janella.<br />

—Ainda não.<br />

— Pois avia-te, retorquiu-lhe o espirito<br />

maligno; e <strong>de</strong>sappareceu.<br />

— O caso — continuou pensando Felix—<br />

é que a felicida<strong>de</strong> não eslá somente<br />

nas cousas gran<strong>de</strong>s. Conheço muita<br />

gente feliz: a minha porteira tem um<br />

gato negro que a segue para toda a parte<br />

e que ella não daria pelo talento do<br />

Julião nem pelo capital <strong>de</strong> D. Hypolito.<br />

Eu quizera possuir este gato.. .<br />

Antolin canta as malaguenas a primor,<br />

e lodos, o obsequeiam e procuram:<br />

por que não hei-<strong>de</strong> pedir a sua arte ?<br />

Má- que digo? E o esboço <strong>de</strong> Goya que<br />

me mostrou hontem o Gomes? lisse original<br />

faria a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer.<br />

Todos tem alguma coisa <strong>de</strong> notável,<br />

menos eu ; até o cego <strong>de</strong> que me lembrei<br />

ha pouco, que inspira com aquelles<br />

olhos bogalhudos e brancos, eu creio que<br />

inspira, compaixão:<br />

— Decidiste já? tornou a dizer o<br />

diabo.<br />

— Espera... espera...<br />

— Nem um intante mais.<br />

— Gonce<strong>de</strong>-me alguns segundos.<br />

— Não.<br />

— Nesse caso... dá-me a cegueira<br />

do que pedia esmola <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong> minha<br />

casa.<br />

O diabo queimou-lhe os olhos com o<br />

seu hálito, e o invejoso <strong>de</strong>spertou.<br />

Soava na rua unia guitarra furiosamente<br />

arranhada: era a guitarra do mendigo.<br />

— Que é isto? Tenho vista 1 —dizia<br />

Felix esfregando os olhos. Oh! O diabo<br />

enganou-me.<br />

li poz-se a olhar com inveja os olhos<br />

brancos do cego.<br />

II<br />

O sonho do Gastronomo<br />

A cosinheira chegou <strong>de</strong>sconsolada e<br />

disse:<br />

— Senhor, venho da praça sem trazer<br />

nada ; esláo fechadas as lendas, não<br />

ha ven<strong>de</strong>dores pelas ruas: hoje não se<br />

compra, nem se accen<strong>de</strong> lume nos fogões.<br />

— Que succe<strong>de</strong>? interrogou o comilão<br />

muito espantado.<br />

— Declarou-se toda a gente em greve,<br />

e os sublevados impõem uma dieta<br />

nacional.<br />

— Sahe e procura.<br />

— Corri todas as praças.<br />

— Julgas, com effeito que não ha<br />

meio <strong>de</strong> comprar alguma coisa !<br />

—- Nem um pão.<br />

— Que lemos em casa?<br />

— Nada.<br />

— Accen<strong>de</strong> o lume.<br />

— Para quê?<br />

— Tenho fome e espero um convidado.<br />

— Mas como ha-<strong>de</strong> o sr. dar <strong>de</strong> comer<br />

num dia assim? Hoje nada come.<br />

— Cala-te ou asso-ie. E preciso a<br />

todo o transe improvisar que comer. Se<br />

o nào conseguirmos, accen<strong>de</strong> lambem o<br />

lume, porque comerei o convidado.<br />

—Vou accen<strong>de</strong>l-o; mas não vejo maaeira<br />

<strong>de</strong> convidar cousa alguma.<br />

— Pe<strong>de</strong> o gato emprestado aos visinhos,<br />

e servir-nos-ha <strong>de</strong> lebre.<br />

— Não é má i<strong>de</strong>ia.<br />

— Mata o papagaio... e teremos<br />

ave.<br />

— Deve estar muito dura, por que<br />

tem, que eda<strong>de</strong> diz o senhor?<br />

— Trinta annos; já é tempo <strong>de</strong> que<br />

morra.<br />

—O convidado que se cuntente com<br />

dois pratos.<br />

— E eu? E eu?<br />

—Não sabes que a privação augmenta<br />

o appetile? Frige os peixes <strong>de</strong> cor que'<br />

ha na piscina.<br />

— Conhecer-«e ha que são encarnados<br />

e dourados.<br />

— Enfarinha-os bem.<br />

— Oh! Se houvesse farinha em casa!<br />

— Pois <strong>de</strong>ita-lhe cal. Faz <strong>de</strong>pois salada<br />

<strong>de</strong> hortelã.<br />

— Salada <strong>de</strong> cheiro!<br />

— Não tem duvida; os convidados<br />

-accêitam o que lhes dão.<br />

— Senhor, não ouve gemidos?<br />

— E verda<strong>de</strong>. Maldição! Os visinhos<br />

estão matando o gato para comel-o. Vão<br />

privar nos do prato principal. .. Que fazemos?<br />

Thereza, tu és gorda ; sacrilica<br />

um kilogramma <strong>de</strong> carne.<br />

— Não faltava mais nada !...<br />

— Olha que é ura compromisso sério.<br />

.. olha que a fome não repara em<br />

crimes, que te <strong>de</strong>golo...<br />

— Visinhos, soccorro, meu amo quer<br />

<strong>de</strong>goiar-me! grila a cosinheira.<br />

E o gastronomo <strong>de</strong>spertou sobresallado.<br />

III<br />

O sonho do falador<br />

Como o andaluz mais falador da província<br />

<strong>de</strong> Malaga aldrabavasse, havia<br />

meia hora, sem tomar alento, um <strong>de</strong> nós<br />

disse com difficulda<strong>de</strong>, para cortar aquella<br />

fonte <strong>de</strong> palavras:<br />

— Deve estar cançado; vá dormir<br />

bem, e <strong>de</strong> certo não sonhará!<br />

— Não sonhar! — disse o falador<br />

sem se <strong>de</strong>ter. Vou conlar-lhes o meu sonho<br />

da sesta. Sonhei que era rei, e, apenas<br />

me proclamaram, ditei ao meu secretario<br />

este <strong>de</strong>creto: Nós Antolin I, rei<br />

do mundo, a lodos os habitantes da terra<br />

or<strong>de</strong>no e mando: Que apenas lerem<br />

esta real or<strong>de</strong>m fechem as boccas com<br />

mordaças á falta <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ados: que fundam<br />

os instrumentos <strong>de</strong> metal, alem os<br />

badalos dos sinos, parlam as guitarras e<br />

<strong>de</strong>struam todos os instrumentos musicaes<br />

conhecidos; que façam calar os passaros<br />

e todo o ser vivo; que reprimam sendo<br />

possível o rugir dos mares e o sibilar<br />

dos ventos, e façam cessar toda a especie<br />

<strong>de</strong> ruidos. Ficam portanto prohibidos<br />

até os ais e soluços, o estertor do muribundo<br />

e o rumor das passadas.<br />

Pela presente <strong>de</strong>claro o mundo em<br />

estado <strong>de</strong> silencio. Pena <strong>de</strong> morte ao que<br />

pronunciar uma palavra durante o meu<br />

reinado; eu só falarei por todos.<br />

Fernan<strong>de</strong>i Bremon.<br />

m<br />

Banco <strong>de</strong> Portugal<br />

Pelo balancete do Banco <strong>de</strong> Portugal<br />

publicado no Diário do Governo, vè se<br />

que na semana <strong>de</strong> 23 a 30 <strong>de</strong> novembro<br />

foram postos em circulação mais réis<br />

215:411$500.<br />

Pelos vencidos<br />

Subscripção <strong>de</strong> «O© réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinada a soceorrer<br />

coin egual quantia UM IIOSS»»<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 16#000<br />

Dr. Augusto Barreio (mez <strong>de</strong> novembro)<br />

200<br />

Faustino Poças Leitão (i<strong>de</strong>m).. 200<br />

Jose A<strong>de</strong>lino (i<strong>de</strong>m) 200<br />

José da Silva Moraes (i<strong>de</strong>m). . 200<br />

Manoel Rodrigues Júnior (i<strong>de</strong>m) 200<br />

Manoel Antonio da Costa (novembro<br />

e <strong>de</strong>zembro) 400<br />

Somma, réis 17$400<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitária acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remeller os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brilo, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />

EM SURDINA<br />

Tiveram fasta d'estalo,<br />

domingo os v'locipedistas.<br />

Corriam mais que um cavallo<br />

p'ra apanharem o regalo<br />

que foi dado aos mais artistas.<br />

Correram como dainnados,<br />

andando metros aos mil;<br />

sem se mostrarem cauçados,<br />

sem so mostrarem 'stafados<br />

com tanto dar — ao pernil I<br />

A correr <strong>de</strong> tal maneira<br />

e tudo a correr tão bem;<br />

não vejo que fosse asneira<br />

correrem o Dias Ferreira<br />

Zé Dias — o mais alguém I<br />

PINTA-ROXA.<br />

Homenagens<br />

a Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

Foi no domingo entregue ao venerando<br />

jornalista a mensagem que abaixo<br />

publicamos e que é assignada por 323<br />

cidadãos pertencentes ás classes commercial<br />

e industrial d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

A commissão promotora d'esta manifestação<br />

ao jornalista processado, era<br />

composta dos srs. Antonio Francisco do<br />

Valle—Antonio José Fernan<strong>de</strong>s—Antonio<br />

Nunes Corrêa — Ernesto Lopes <strong>de</strong> Moraes<br />

— João Antonio da Cunha -—João Gomes<br />

da Silva—João Lopes <strong>de</strong> Moraes Silvano<br />

— José Fernan<strong>de</strong>s Ferreira—Julio Machado<br />

Feliciano — Manoel Gonçalves Pereira<br />

Guimarães — Miguel José da Costa<br />

Braga e Miguel dos Santos e Silva, que<br />

assim quizeram dar um testemunho <strong>de</strong><br />

apreço e <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração ao velho liberal,<br />

que tanto tem pugnado pelos interesses<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e dos seus habitantes.<br />

O sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho tem recebido<br />

<strong>de</strong> todos os pontos do paiz adhesões<br />

sinceras <strong>de</strong> cavalheiros que sabem bem<br />

avaliar as suas nobilíssimas qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cidadão e os seus dotes <strong>de</strong> jornalista,<br />

sempre em <strong>de</strong>leza dos opprimidos.<br />

A mensagem a que acima alludimos<br />

é um documento valiosíssimo e <strong>de</strong> alta<br />

significação. Que o leia o sr. Dias Ferreira<br />

e os seus protegidos e verão nelle<br />

a con<strong>de</strong>mnação dos seus actos e das suas<br />

apostasias.<br />

*<br />

lll. mo e ex. mo sr.<br />

Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Os commerciantes e industriaes d'esta<br />

cida<strong>de</strong>, abaixo assignados, sabedores <strong>de</strong><br />

que v. ex. a é chamado aos tribunaes, na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> editor do seu jornal e Conimbricense,<br />

como comparte na responsabilida<strong>de</strong><br />

d'um escripto, no qual se slygmalisa,<br />

talvez com fundadas razões, o<br />

procedimento <strong>de</strong> funccionarios da repartição<br />

<strong>de</strong> fazenda d'este concelho, veem<br />

pressurosos, no cumprimento d'um <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> justiça e gratidão, dar publico e solemne<br />

testemunho do seu profundo pezar<br />

por esta <strong>de</strong>sagradavel oceorrencia, em<br />

que se acha envolvido o nome impolluto<br />

<strong>de</strong> v. ex. a , tão querido e re-peitado não<br />

só em <strong>Coimbra</strong>, como em todo o paiz.<br />

Ao contemplar-se a individualida<strong>de</strong><br />

distincta do bsnemerito redactor d o Conimbricense,<br />

reinemorando-se os seus serviços,—<br />

como illustre <strong>de</strong>cano do jornalismo<br />

portuguez, como <strong>de</strong>fensor valoroso<br />

das liberda<strong>de</strong>s publicas, como apostolo<br />

incansavel do progresso, como protector<br />

<strong>de</strong>svelado das classes operarias e inexcedivel<br />

propugnador dos interresses <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, — bem pô<strong>de</strong> comprehen<strong>de</strong>r-se<br />

quão doloroso se torna para os signatários<br />

o verem um venerando ancião, precedido<br />

<strong>de</strong> nolabilissimas tradições, intelligente,<br />

trabalhador e honrado, cidadão<br />

emérito <strong>de</strong> quem irradiam fulgurantes<br />

ensinamentos para os novos, levado ao<br />

banco dos réus por virtu<strong>de</strong> d um artigo,<br />

que não escreveu, e cuja responsabilida<strong>de</strong><br />

o seu auctor assumiu I<br />

A espontaneida<strong>de</strong> d'esta sincera homenagem<br />

por parlerdos signatarios, tem<br />

por fim único, manifestar o muito apreço,<br />

estima e consi<strong>de</strong>ração que lêem por v.<br />

ex. a . a quem esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve tantos e<br />

tao relevantes serviços. .<br />

Creia, pois, ill.° e ex. ra0 sr. Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, que o dia d'esse<br />

julgamento ficará, por muitos titulos,<br />

tristemente memorável no espirito dos<br />

abaixo assignados, que se confessam<br />

admiradores sinceros das virtu<strong>de</strong>s civicas<br />

que exornam o vulto sympathico <strong>de</strong> tão<br />

erudito jornalista e prestimoso cidadão.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 18 dc Dezembro <strong>de</strong> 1892.<br />

*<br />

Os corpos gerentes da Associação dos<br />

Artistas, Real Corporação <strong>de</strong> Salvação<br />

Publica e Monte pio Conimbricense também<br />

já entregaram as suas mensagens ao<br />

<strong>de</strong>cano dos jornalistas portuguezes, sr.<br />

Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, as quaes<br />

bem significam a indignação que está<br />

produzindo este processo.<br />

A direcção da Assembleia Recreativa<br />

foi na terça feira cumprimentar o sr.<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, siguificando-lhe o<br />

seu pezar pela perseguição <strong>de</strong> que está<br />

sendo victima.<br />

A falta <strong>de</strong> espaço não nos <strong>de</strong>ixa copiar<br />

na integra esses documentos que<br />

são um protesto eloquente contra a lei<br />

das rolhas, e uma prova da alta estima<br />

em que têm este digno filho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

»<br />

O exercito e a politica<br />

Dizem os jornaes que foi importantíssima<br />

a conferencia do sr. tenente coronel<br />

Fava, na Liga Liberal.<br />

Sustentou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o exercito<br />

contribuir para uma nova situação,<br />

a fim <strong>de</strong> evitar que nos seja imposta a<br />

vergonha d'uma administração estrangeira.<br />

Eis a synthese da sua <strong>de</strong>monstração:<br />

—«Se ao exercito, cumpre salvaguardar<br />

as iirununida<strong>de</strong>s e a integrida<strong>de</strong><br />

da patria, mais uma razão para que elle<br />

seja uma sentinelfa vigilante contra tudo<br />

e todos que possam prejudicar essas<br />

immunida<strong>de</strong>s ou fazer perigar essa integrida<strong>de</strong>.<br />

«Que ao exercito pertence o direilo <strong>de</strong><br />

fazer sentir a sua acção moral sobre a<br />

politica do paiz;<br />

«Que se <strong>de</strong>clara contrario ás dictadiKas<br />

militares, por que cilas só teem<br />

rasão <strong>de</strong> ser em um paiz cuja or<strong>de</strong>m<br />

publica esteja profundamente alterada e<br />

não em Portugal, que, na opinião <strong>de</strong> sua<br />

ex: a , ca minha mo<strong>de</strong>rada elrauquillamente.<br />

«Que o militar, ao assentar praça,<br />

jura <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria contra os inimigos<br />

externos e internos e que, na presente<br />

occasião, são estes últimos quem tem levado<br />

o paiz ao estado em que se encontra;<br />

«Que a missão do exercito, finalmente,<br />

não é a <strong>de</strong> um simples automato<br />

e que a sua acção moral se <strong>de</strong>ve fazer<br />

sentir em todos os actos da activida<strong>de</strong><br />

nacional.»<br />

S. ex. a foi muito applaudido.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

0 <strong>de</strong>clinar do anno<br />

Dezembro toca o seu termo.<br />

As suas neves gelarão o coração do<br />

velho 92, que se escon<strong>de</strong>rá, em breve,<br />

na immensa galeria dos tempo-, on<strong>de</strong> a<br />

Historia faz a nomenclatura dos feitos<br />

heroicos e das vergonhas immortaes.<br />

Quantos sonhos d'amor, quaulos sorrisos,<br />

quantas esperanças doiradas, e<br />

quantas lagrimas <strong>de</strong> sangue—traduzindo<br />

dores supremas—leva comsigo o auno<br />

velho á ultima morada 1<br />

Entre nós ficou bem tristemente assignalado<br />

1<br />

— Deu-nos vergonhas c vexames.<br />

Pergunto a mim mesmo, com terror<br />

e duvida, qua herança po<strong>de</strong>rá legar ao<br />

93.<br />

Perpassará no novo anno um reflexo<br />

do seu venerando antecessor que encheu<br />

a França <strong>de</strong> luz, ha um século?<br />

A era que nasce trará em si o clarão<br />

da aurora ou continuará a noite <strong>de</strong>nsa ?<br />

Ha um anno levantou o grito da revolta<br />

o senlimajjto da dignida<strong>de</strong> cruelmente<br />

olíeudido; hoje só a fome po<strong>de</strong>rá<br />

erguer a voz <strong>de</strong> protesto.<br />

Per<strong>de</strong>ram-se, entre nós, lodos os<br />

sentimentos: ficou o estomago apenas...<br />

e quando a fome aperta—os resultados<br />

egualam o esforço do brio I<br />

A fome ?!<br />

E porque não ?<br />

Os governos respon<strong>de</strong>m com bayonetas<br />

ao povo que pe<strong>de</strong> pão, e clama contra<br />

a nefasta marcha ministerial, que o<br />

carrega <strong>de</strong> impostos, usurpando-lhe a<br />

garantia do com:nercio livre, respeitada<br />

em todas as épocas e em todos os paize's.<br />

A corrente vae engrossando; os odios<br />

accumulam-se; a miséria bate-nos á porta;<br />

e o povo, reduzido á <strong>de</strong>sgraça pelas<br />

i_ t<br />

medidas exigentes do governo, hasteia<br />

a ban<strong>de</strong>ira negra da fome, e sae á revolta<br />

em nome dos martyres do trabalho,<br />

em nome dos filhos que pe<strong>de</strong>m pão'<br />

Os <strong>de</strong>sherdados da fortuna, que caminham<br />

pela senda espinhosa da vida,<br />

causlicados pelo sol, rotos, com as mãos<br />

ensanguentadas, e o olhar febril — são<br />

tremendos na sua ira quando alguém<br />

preten<strong>de</strong> roubar-lhes o pedaço <strong>de</strong> pão<br />

negro que adquirem á força <strong>de</strong> canceira<br />

e á custa <strong>de</strong> suor.<br />

Então revollam-se: do martyr sae o<br />

leão, <strong>de</strong>scommunal na sua cólera, grandioso<br />

na sua altivez 1<br />

O povo, na hora suprema das gran<strong>de</strong>s<br />

exaltações,.não teme o aço das bayonetas;<br />

transforma-se <strong>de</strong> martyr em luctador<br />

e ven<strong>de</strong> sangue por sangue e tiro<br />

por tiro 1<br />

Christo também era martyr... e expulsou,<br />

a chicote, os vendilhões do templo<br />

!<br />

*<br />

Seja como fôr — revolução ou evolução—torna-se<br />

precisa uma reforma! Não<br />

se entenda por isto que aconselhamos<br />

movimentos <strong>de</strong> violência, porque acima<br />

<strong>de</strong> qualquer paixão politica vence-nos o<br />

amor por este pedaço <strong>de</strong> terra a que no<br />

estrangeiro se chama provinda d'Hespanha,<br />

e a que nós, affectuosamente, chamamos<br />

Portugal.<br />

Primeiro que tudo—o bem da patria.<br />

Mas... para que a patria não .perca<br />

<strong>de</strong> vez a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia—é urgente<br />

valer-lhe, reorganisando. A gerencia<br />

actual trará a morte ! O sr. José Dias<br />

não olha direito, e assim a nau navega...<br />

torta 1<br />

Fra-Diavolo.<br />

20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

As coisas ministeriaes<br />

Parece que é <strong>de</strong>finitivamente homem<br />

ao mar o sr. bispo <strong>de</strong> Bethsaida.<br />

Sfgundo as Novida<strong>de</strong>s o bispo já está<br />

<strong>de</strong>mittido, <strong>de</strong>veudo apparecer por estes<br />

dias o <strong>de</strong>creto da <strong>de</strong>missão e ficando com<br />

a pasta dos estrangeiros interinamente<br />

o sr. Ferreira do Amaral.<br />

Este jornal redobra <strong>de</strong> virulência nos<br />

ataques ao bispo, dizendo-se que a razão<br />

d'isso está em que segundo a nova reforma<br />

do ministério dos estrangeiros<br />

feita pelo, sr. Bethsaida, o sr. Navarro<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> recebe» 13 contos para só receber<br />

6...<br />

Aqui é que bate o ponto.<br />

Instituto anti-rabico<br />

Está já assignado o <strong>de</strong>creto creando<br />

em Lisboa um instituto anti-rabico para<br />

o tratamento da hydrophobia pelo systema<br />

pastoriaoo.<br />

O plano da organisação d'esse estabelecimento<br />

foi orgauisado pelo illustre<br />

professor e eminente clinico sr. dr. Sousa<br />

Martins, e o seu orçamento apenas attinge<br />

um terço da verba que até agora era<br />

dispendida pelo estado com o fim <strong>de</strong><br />

subsidiar os mordidos que iam tratar-se<br />

a Paris, no instituto da rua <strong>de</strong> Ulm.<br />

De ha muito era reconhecida a necessida<strong>de</strong><br />

d'este estabelecimento e com<br />

certeza se o governo gastasse o seu tempo<br />

em coisas tão úteis conseguiria a<br />

<strong>de</strong>lerencia popular.<br />

Infelizmente, porém, isto são arrancos<br />

isolados <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z que raro se repercutem<br />

nos actos governativos.<br />

A hygiene do velocípe<strong>de</strong><br />

O dr. Tissié, <strong>de</strong> Bordéus, fez um<br />

estudo da acção que a velocipedia produz<br />

nas principaes funeções da nossa economia.<br />

D'esse estudo <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong>-se que a<br />

velocipedia é um exercício útil para a<br />

respiração, sempre que seja mo<strong>de</strong>rado;<br />

em caminho plano nunca a velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve ser superior a 20 kilometros por<br />

hora para os homens robustos; para o<br />

cummum, <strong>de</strong>ve oscillar entre 12 a 15<br />

kilometros.<br />

As creanças <strong>de</strong>vem abster-se d'esse<br />

exercício antes dos treze annos. Deve<br />

procurar-se, quanto possível, respirar<br />

pelo nariz, nâo obstante ser inevitável a<br />

respiração pela bocca, quando ha muita<br />

velocida<strong>de</strong> ou chega a ladiga.<br />

O exercício mo<strong>de</strong>rado da velocipedia,<br />

é um excellente calmante do systema<br />

nervoso, principalmente nas pessoas que<br />

tenham um trabalho cerebral exaggerado.<br />

Aos ameaçados <strong>de</strong> hemiplegia (paralysia<br />

parcial) <strong>de</strong>ve recommendar-se-lhes o tricyclo.


AX%i> I — 4 5<br />

* H l L . ._ . .<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>»<br />

Realisou^se no domingo, como havia -<br />

mos noticiado, a festa velocipedica, organisada<br />

pelo Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Um dia explendido, attrahindo bastante<br />

concorrência ao local da corrida,<br />

se atten<strong>de</strong>rmos que o nosso publico está<br />

pouco educado para estes divertimentos.<br />

Conitudu muitas senhoras assistiram a<br />

esta festa, que correu animada e cheia<br />

<strong>de</strong> interesse.<br />

O jury era composto dos srs. dr.<br />

Eduardo Vieira, presi<strong>de</strong>nte; Joaquim Salinas<br />

Antunes e Gualdim <strong>de</strong> Queiroz,<br />

secretários,<br />

Despedidor da corrida: Victor José<br />

<strong>de</strong> Deus—Preparador: Joaquim Pessoa<br />

—•Guardas: Cesar Ventura, Henrique<br />

<strong>de</strong> Vasconcellos, Atalyba <strong>de</strong> Sousa, Arthur<br />

Cal<strong>de</strong>ira, Luiz <strong>de</strong> Macedo, Julio<br />

Sampaio e José Meira.<br />

1.* corrida—Velocida<strong>de</strong> — 2:650<br />

metros.<br />

Estavam inscriptos 14 velocipedistas<br />

que sahiram da balisa em grupos <strong>de</strong> 3.<br />

Resultado:<br />

Alherto Rego, 6 minutos—Benjamim<br />

Rraga, 6 minutos e 19 segundos—<br />

Teixeira da Cunha, 6 m. e 24 s.—Alvaro<br />

Coelho, 6 ni. e 25 s.—Men<strong>de</strong>s d'Ahreu,<br />

6 m..e 50 s. — Pare<strong>de</strong>s, 6 ni. e 55 s.<br />

— Teixeira Coelho, 7 m. e 20 s. — A.<br />

Themudo, 7 m. e 25 s.—Joaquim Rama,<br />

7 m. e 40 s. — Rocha <strong>Coimbra</strong>, 7 m. e<br />

50 s. — Borges <strong>de</strong> Oliveira, 7 m. e 53<br />

s. — Costa Allemão, 8 m. — e Jàyme<br />

Coelho, 8 in. e 45 s.<br />

Inci<strong>de</strong>nte:—Nesta corrida ficou preterido<br />

o sr. Angelo Ferreira, que teve a<br />

infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se lhe quebrar o pedal da<br />

bi-cycleta, ferindo se bastante na queda,<br />

o que o inhihiu <strong>de</strong> tomar parle nas outras<br />

corridas.<br />

2. a corrida — Iíesisteucia —7:950<br />

metros.<br />

Apresentaram-se 11, sahindo como<br />

da primeira. Resultado:<br />

Alberto Rego, 20 minutos—-Joaquim<br />

Rama, 20 m.—Alvaro Coelho, 20 m.<br />

e 17 segundos.—Borges Oliveira, 20<br />

m. e 45 s.—Teixeira da Cunha, 21 m.<br />

e 15 s.—Teixeira Coelho, 22 m. e 10<br />

s. — Men<strong>de</strong>s d'Abreu, 22 m. e 57 s.—<br />

Pare<strong>de</strong>s, 24 m. e 20 s.<br />

Não foi classificado o sr. A. Themudo<br />

por uão seguir o terreno marcado. Como<br />

houvesse empate entre os srs. Rego e<br />

Rama proce<strong>de</strong>u-se a uma volta, saindo<br />

vencedor o sr. Rego, o que lhe valeu<br />

estrepitosos applausos.<br />

3. a corrida — Reccord — 2:650<br />

metros.<br />

Tomaram parle nesta corrida Ires<br />

soldados sapadores do regimento 23,<br />

gastando no percurso: o 1.°, 6 minutos<br />

e 55 segundos; o-2.°, 6 m. e 57 s., o<br />

3.°, 7 m.<br />

4.® corrida—Championnat— 7:950<br />

melros.<br />

Inscriplos o sr. José Motta e Rodrigues<br />

<strong>de</strong> Oliveira. Resultado:<br />

Motta, 17 minutos e 30 segundos<br />

— Oliveira, 18 m.<br />

Despertou gran<strong>de</strong> interesse esta corrida<br />

pela boa reputação que gozam os<br />

luctadores; é cerlo que o sr. Moita levou<br />

vantagem ao seu competidor ua segunda<br />

volta ganhando a corrida. Recebeu ovação<br />

do publico e os cumprimentos dos seus<br />

admiradores.<br />

George Miuchin que honrou com a<br />

sua presença esta festa do Gymnasio<br />

abraçou o vencedor que disputára tão<br />

brilhantemente a corrida do campeonato.<br />

5. a corrida—Negativa —100 metros.<br />

Partiram da balisa 10 velocipedistas;<br />

aos pi inteiros passos a maioria per<strong>de</strong>u,<br />

<strong>de</strong>ixando na pista os srs. Affonso Themudo<br />

e Alvaro Coelho, que loram os<br />

vencedores.<br />

E' preciso dizer-se que esta corrida<br />

se não teve o interesse que merecia,<br />

pelas suas difficulda<strong>de</strong>s, foi <strong>de</strong>vido á<br />

teimosia do publico que por mais esforços<br />

que se empregaram não <strong>de</strong>ixou terreno<br />

sufficiente para (pie os velocipedistas<br />

po<strong>de</strong>ssem caminhar com segurança.<br />

6. a corrida — Consolação — 5:300<br />

melros.<br />

Compareceram 5 corredores. Resultado<br />

:<br />

Borges "d'Oliveira, 13 minutos e<br />

S0 segundos—Kopke, 13 m. e 40 s.—<br />

A. Themudo, 13 m. e 45 s. —Teixeira<br />

da Cunha, 13 m. e 50 s.—Jafme Coelho,<br />

15 m. e 30 s.<br />

Também tomou parte o sr. Rodrigues<br />

d'01iveira que foi o primeiro a chegar á<br />

balisa não sendo classificado pelo facto<br />

d'estar inscripto na corrida do Campeonato.<br />

Inci<strong>de</strong>nte: Nesta corrida teria ficado<br />

vencedor o sr. Teixeira da Cunha, se não<br />

tivesse tido a má sorte <strong>de</strong> abalroar com<br />

a bi-cycleta do sr. Kopke, que o obrigou<br />

a <strong>de</strong>smontar, ganhando bastante avanço<br />

neste pequeno ínlervallo o seu competidor.<br />

Os prémios, foram entregues aos<br />

vencedores:<br />

Alberto Rego e Benjamim Braga —<br />

corrida.<br />

Alberto Rego e Joaquim Rama— 2. 8<br />

corrida.<br />

Soldado sapador n.° 33—3* corrida.<br />

José Motta — 4. & corrida.<br />

Affonso Themudo e Alvaro Coelho—<br />

5. a corrida.<br />

Borges d'Oliveira e Kopke— 6.* cor<br />

rida.<br />

*<br />

O sr. Rego, obteve também uma<br />

penna <strong>de</strong> prata, premio offerecido ao<br />

Gymnasio pelo sr. Marlins d'Araujo,<br />

para ser dado ao velocipedista que mais<br />

se distinguisse nas bi-cycletas Quadrant,<br />

<strong>de</strong> que o nosso amigo é único agente<br />

nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Devemos dizer que foram estas bicycletas<br />

que sobresairam nesta corrida,<br />

e que obtiveram os melhores prémios.<br />

*<br />

Fez a policia em parte da pista um<br />

piquete <strong>de</strong> bombeiros Voluntários que<br />

prestaram bons serviços. Esta corporação<br />

ofíereceu ao Gymnasio um bonito álbum<br />

para retratos, <strong>de</strong>stinado ao vencedor da<br />

corrida <strong>de</strong> Consolação, o qual coube ao<br />

sr. Augusto Borges d'Oliveira.<br />

*<br />

Os outros agentes <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

nesta cida<strong>de</strong> também olfereceram prémios<br />

ao Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>: o sr. Antonio<br />

José Alves, um magnifico bandolim; e o<br />

sr. Antonio Pereira <strong>de</strong> Carvalho, um relogio-<strong>de</strong>spertador<br />

e um calendario <strong>de</strong> fitas<br />

proprio para pare<strong>de</strong>.<br />

*<br />

Sabemos que o Gymnasio está organisando<br />

a secção <strong>de</strong> velocipedia e que<br />

brevemente serão annunciados passeios<br />

e viagens ofliciaes. Aos velocipedistas <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> convém, pois, inscreverem-se<br />

como socios, o que lhe dará algumas regalias.<br />

*<br />

O mesmo Gymnasio vae promover<br />

uma corrida <strong>de</strong> andarilhos, tralando-se<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>de</strong> organisar os elementos precisos<br />

para levar a effeito este pensamento,<br />

que começa a <strong>de</strong>spertar gran<strong>de</strong> enthusiasmo<br />

entre os associados d'esta- agremiação.<br />

(Gazeta Nacional»<br />

Esle nosso illustrado collega conimbricense<br />

entrou no 2.° anno da sua publicação,<br />

contando já bons serviços prestados<br />

ao paiz e á <strong>de</strong>mocracia.<br />

Acompanhando os acontecimentos políticos<br />

mais palpitantes, a Gazeta Nacional<br />

tem <strong>de</strong>sempenhado nobremente a<br />

sua missão, já tratando dos interesses<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, já combatendo a <strong>de</strong>pravação<br />

politica e a immoralida<strong>de</strong> que tem<br />

presidido aos negocios do estado.<br />

Receba o illustrado collega as nossas<br />

sinceras felicitações pelo seu primeiro<br />

anniversario.<br />

Reparações 110 templo <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz<br />

Ainda não principiou o assentamento<br />

do arco cruseíro, porisso que esle trabalho<br />

se prolongaria até á semana santa,<br />

impedindo assim que se celebrassem alli<br />

os officios divinos.<br />

Só <strong>de</strong>pois d'essa epocha se proce<strong>de</strong>rá<br />

a estajibra, que como já referimos é<br />

dirigida pelo sr. Estevão Parada, que<br />

tem recebido dos entendidos merecidos<br />

applausos pela correcção e esmero com<br />

que se tem <strong>de</strong>sempenhado das reparações<br />

feitas neste grandioso monumento<br />

artístico.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Parece que o governo em consequência<br />

da falta <strong>de</strong> professores para<br />

o ensino na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito conce<strong>de</strong>rá<br />

ao lente da mesma Faculda<strong>de</strong>,<br />

sr. dr. José Joaquim Fernan<strong>de</strong>s Vaz, a<br />

necessaria licença para a regência da sua<br />

ca<strong>de</strong>ira durante o periodo parlamentar.<br />

O DEFENSOR BO POVO 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

A Valia dos Lazaros<br />

Completou-se já o ensoleiramento<br />

d'esta valia, indo-se proce<strong>de</strong>rá cobertu<br />

ra do cano.<br />

Foi ura serviço importante para a hygiene<br />

publica a que está ligado o nome<br />

do sr. Caslro Mattoso, <strong>de</strong>putado por e>te<br />

circulo.<br />

O sr. Manoel José Esleves encarregado<br />

d'este trabalho tem empregado todos<br />

os seus esforços para o concluir com<br />

a possível brevida<strong>de</strong>.<br />

Desaitre<br />

Quando regressavam d'um enterro<br />

os nossos amigos srs. José Antonio Lucas<br />

e João da Fonseca Barata, o carro<br />

que os conduzia ficou sem uma roda ao<br />

pa-*sarem <strong>de</strong>fronte da Havaneza. Os cavallos<br />

espantaram-se e seguiram á <strong>de</strong>sfilada<br />

pela rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, po<strong>de</strong>ndo<br />

segurados os srs. Moutinho eGandarez.<br />

Por felicida<strong>de</strong> os nossos amigos ficaram<br />

illesos, soffrendo apenas o susto.<br />

De luto<br />

Pela morte <strong>de</strong> sua sogra eslá <strong>de</strong> luto<br />

o commerciante d'esta praça sr. José Joaquim<br />

da Silva Pereira, a quem enviamos os<br />

nossos pezames.<br />

Prisão .<br />

Foi preso na estação do ramal José<br />

Augusto <strong>de</strong> Sousa Ribeiro, <strong>de</strong> Yilla Nova<br />

d'Anços, por queixa que fez Bosa Pádua,<br />

do terreiro da Erva, <strong>de</strong> lhe ter furtado da<br />

gaveta 1$200 e 500 réis á meretriz Antónia<br />

da Conceição, havendo uma taberneira<br />

da Sophia a quem o mesmo subtrahiu<br />

1$000 réis.<br />

O <strong>de</strong>sgraçado confessou na esquadra<br />

ser verda<strong>de</strong>ira a accusação da Rosa. Foi-<br />

Ihe encontrado um porte-monnate, uma<br />

boquilha e um broche <strong>de</strong> plaquet, que<br />

havia comprado cora o dinheiro que fur-<br />

.tára.<br />

Ponte da Cidreira<br />

Devido ao bom tempo que temos<br />

gozado, os trabalhos <strong>de</strong> reconslrucção<br />

d'esta ponte teem proseguido com <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

esperando-se que era breves<br />

semanas seja aberta ao publico.<br />

morte repentina<br />

O pedreiro Sebastião Augusto, ao regressar<br />

d uma festa <strong>de</strong>morou-se algum<br />

tempo com os seus amigos em Santa<br />

Clara, tocando violas e guitarras, na estrada.<br />

De repente o Sebastião cae fulminado<br />

por um ataque cerebral, e os companheiros<br />

correm pressurosos a prestar-lhe<br />

auxilio.<br />

Poucos momentos <strong>de</strong>pois chegava a<br />

maca dos bombeiros Voluntários que conduzia<br />

o infeliz operário para o hospital,<br />

on<strong>de</strong> chegou já cadaver. Um medico que<br />

foi chamado verificou o obito.<br />

Ciran<strong>de</strong> corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

Um grupo <strong>de</strong> cidadãos d'esta cida<strong>de</strong><br />

promove para os princípios do proximo<br />

janeiro uma gran<strong>de</strong> corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s,<br />

na qual se po<strong>de</strong>rão inscrever todos<br />

os velocipedistas portuguezes.<br />

Os prémios serão medalhas <strong>de</strong> ouro,<br />

prata e cobre, estando encarregado do<br />

seu fabrico o sr. Manoel Martins Bibeiro,<br />

ourives <strong>de</strong> muila competencia e aptidão.<br />

Falla-se que haverá duas medalhas<br />

<strong>de</strong> ouro, 5 <strong>de</strong> prata e lu <strong>de</strong> cobre.<br />

Brevemente será publicado o programma<br />

d'esta corrida, que <strong>de</strong>verá at-<br />

Irahir o <strong>Coimbra</strong> gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> velocipedistas.<br />

Grémio operário<br />

Esta agremiação conimbricense inaugurou<br />

no domingo as reuniões familiares<br />

d'esta epocha.<br />

Foi uma noite bem passada reinando<br />

sempre muita animação e dançando se até<br />

tar<strong>de</strong>.<br />

Queda<br />

Seguiam pela linha do ramal na madrugada<br />

<strong>de</strong> segunda feira, José Cardoso<br />

e José Soares, das Torres, que. iam embarcar<br />

na estação velha. Aquelle ao passar<br />

na ponte fronteira á Casa do Sal cahiu<br />

ferindo-se gravemente.<br />

Conduzido em maca para o hospital<br />

ficou em tratamento.<br />

O guarda da linha suspeitando que<br />

da parle do companheiro do Cardoso houvera<br />

criminalida<strong>de</strong>, pren<strong>de</strong>s o, sendo soilo<br />

ao <strong>de</strong>clarar o ferido que a queda fôra<br />

casual.<br />

Deposito <strong>de</strong> pannos<br />

A fabrica <strong>de</strong> lanifícios da Covilhã,<br />

<strong>de</strong> que é gerente o sr. con<strong>de</strong> do Refugio<br />

acaba <strong>de</strong> estabelecer nest» cids<strong>de</strong> em<br />

<strong>de</strong>posito dos seus productos, para as vendas<br />

por junto.<br />

O <strong>de</strong>positário nesta cida<strong>de</strong> é o nosso<br />

amigo sr. Mattns Areosa, negociante ém<br />

<strong>Coimbra</strong>, que installou o escriptorio na<br />

rua Ferreira Borgos.<br />

Theatro-Circo<br />

Annuncia-se para os dias 7, 8, 10,<br />

11 e 13 <strong>de</strong> janeiro a apparição no Theatro-Circo<br />

d'uma companhia <strong>de</strong> Lisboa,<br />

representando o Burro do sr. Alcai<strong>de</strong>,<br />

Moleiro d'Alcala e Sinos <strong>de</strong> Corneville.<br />

Lembramos á empreza a conveniência<br />

<strong>de</strong> annunciar o nome da referida<br />

companhia lisbonense, porisso que se<br />

propala que é uma companhia ambulante,<br />

sem ter scenario proprio, nem corpo <strong>de</strong><br />

coristas.<br />

E o publico que tem dois Burros á<br />

escolha <strong>de</strong>seja saber era qual d'elles<br />

vae melhor servido.<br />

Annuario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Este livro correspon<strong>de</strong>nte ao anno<br />

<strong>de</strong> 1893, publica os Estatutos com que<br />

D. Manoel dotou esle estabelecimento<br />

scientilico, não alterando o orthographia<br />

d'esse antigo documento.<br />

Chuva <strong>de</strong> peixes<br />

Oobservatorio meteorologico <strong>de</strong> Bjelnia,<br />

na Bósnia, refere o seguinte phenoraeno:<br />

Na noite <strong>de</strong> 21 para 23 <strong>de</strong> julho passado,<br />

<strong>de</strong>pois da meia noite, caiu sobre<br />

Bjelnia uma tempesta<strong>de</strong> violentíssima, que<br />

durou duas horas.<br />

Com a chuva torrencial caiu uma<br />

enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixinhos ainda<br />

vivos.<br />

Na manhã seguinte, nas ruas e nos<br />

campos, por toda a parte, andou gente<br />

apanhando esses peixes.<br />

A GRANEL<br />

Consta a ura jornal qqe será concedido<br />

esle anno ao régio beneplácito o Breve<br />

Apostolico que santifica o dia <strong>de</strong> S. José,<br />

e que ha dois ou tres annos espera a occasião<br />

propicia para ser apresentado em<br />

cortes.<br />

* * # Os estudantes da escola <strong>de</strong><br />

me<strong>de</strong>cina <strong>de</strong> Budapest, apuparam em<br />

plena aula o professor <strong>de</strong> cirurgia Kovaes,<br />

por o dito professor mal tratar <strong>de</strong> pancadas<br />

os doentes do hospital.<br />

O professor quiz reagir contra as<br />

vaias dos estudantes, mas estes pozeramno<br />

fóra da aula.<br />

Houve uni tumulto in<strong>de</strong>scriptivel.<br />

* * * Os gatunos andam <strong>de</strong>saforados<br />

em Beja.<br />

* *, # Nas escavações que continuam<br />

na herda<strong>de</strong> do Montinho, dizem <strong>de</strong><br />

Beja, foram <strong>de</strong>cobertas tres supulturas<br />

na rocha.<br />

Continham poucos ossos.<br />

* * * A's senhoras recolhidas no<br />

extincto convento da Conceição (Beja)<br />

foram auctorisados subsídios raensaes<br />

pelo respectivo ministro, na importancia<br />

<strong>de</strong> 34$000 réis.<br />

* * # Em 23 do corrente <strong>de</strong>ve<br />

inaugurar-se o novo mercado, um dos<br />

mais notáveis melhoramentos com que a<br />

municipalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vianna do Castello<br />

dotou aquella cida<strong>de</strong>,<br />

* * # Acossados pelo frio, teem<br />

apparecido muitos lobos no concelho <strong>de</strong><br />

Trancoso.<br />

* * * O patacho Gulgo, na sua recente<br />

viagem <strong>de</strong> Lisboa para o Funchal,<br />

apanhou tamanho temporal, que foi obrigado<br />

a atirar carga ao mar.<br />

# * * No Alemtejo, o preço do azeite<br />

está regulando por 2$ 100 réis o <strong>de</strong>calitro.<br />

* * # Continúa subindo o cambio<br />

do Brazil. A cotação do cambio bancario<br />

sobre Londres, que tinha hcado a 13 9 /ie<br />

no dia 15, ficou a 14 d. em 17.<br />

* * * Foi preso em Loanda João<br />

Antonio da Silva, implicado no fabrico <strong>de</strong><br />

nolas falsas da exiincta junta <strong>de</strong> fazenda<br />

publica.<br />

* * * No Porto continuam a fazerse<br />

a exportação <strong>de</strong> vinhos em larga escala<br />

principalmente para o Brazil. No<br />

norte está vendida a maior parte dos<br />

existentes, a preços elevados, comparativamente<br />

com os do passado.<br />

* * * No Douro está-se proce<strong>de</strong>ndo<br />

á replantação <strong>de</strong> vários terrenos phyloxerados,<br />

por meio <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>iras americanas.<br />

* * * Foi recebida pelo sr. Dias<br />

Ferreira a commissão <strong>de</strong>legada do comício<br />

do Porto.<br />

* * * Deve começar a publicar-se<br />

em janeiro proximo um novo jornal realista<br />

intitulado Portugal Velho.<br />

* * # Falleceu em Aveiro a sr. a D.<br />

Maria Dorothea d« Magalhães, irmã do<br />

gran<strong>de</strong> tribuno José Estevão.<br />

* * # Pelas noticias recebidas pelo<br />

Cazengo sabe-se que o estado das nossas<br />

províncias da Africa Occi<strong>de</strong>ntal era regular.<br />

* * # Com o intensíssimo frio que<br />

tem feito ultimamente em Chaves, dizem<br />

d'aquella localida<strong>de</strong>, formou-se nas montanhas<br />

um espesso nevão. Das arvores<br />

pen<strong>de</strong>m enormes laminas <strong>de</strong> gelo, obrigando<br />

as a partir como peso. Nalgumas<br />

povoações ha gran<strong>de</strong>s prejuízos nos castanheiros<br />

e oliveiras.<br />

* * # Dentro da sentina <strong>de</strong> um<br />

prédio da rua <strong>de</strong> Dunões, em Guimarães,<br />

appareceu morto um cocheiro. A<br />

policia tomou conta do facto e averigua<br />

se ha crime.<br />

* * # Em Alijó tem sido muito<br />

procurada a aguar<strong>de</strong>nte, havendo gran<strong>de</strong><br />

numero <strong>de</strong> transacções ao preço médio <strong>de</strong><br />

180)$000 réis a pipa.<br />

* * * Parece que um grupo <strong>de</strong> capitalistas<br />

do Porto vae pedir ao governo<br />

auctorisaçâo para estabelecer um caminho<br />

<strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> via reduzida, entre a<br />

Régua e Villa Real, dispensando qualquer<br />

garantia <strong>de</strong> juro.<br />

* * # Em Villa Ver<strong>de</strong>, uma mulher<br />

<strong>de</strong>u á luz duas creanças unidas pelo baixo<br />

ventre e só com duas pernas.<br />

Falleceram horas <strong>de</strong>pois.<br />

* * # No ministério dos estrangeiros,<br />

por espaço <strong>de</strong> oito dias estão patentes<br />

as relações obituarias Hos consulados<br />

<strong>de</strong> Portugal em Cadiz, no Maranhão<br />

e no Pará, relativos ao mez <strong>de</strong> outubro.<br />

* * # No Alemtejo, o preço do<br />

azeite eslá regulando por 2$100 réis o<br />

<strong>de</strong>calilro.<br />

* * * Dizem <strong>de</strong> Beja que nestes<br />

últimos dias se lera vendido para Lisboa<br />

mais <strong>de</strong> 30:000 almu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vinho tinto.<br />

O preço tem regulado entre mil e mil e<br />

cincoenta por almu<strong>de</strong>. O azsite também<br />

tem lido procura para o Algarve, e por<br />

isso subiu <strong>de</strong> preço.<br />

Coisas e loisas<br />

Entre dois Íntimos:<br />

— Por quem trajas luto?<br />

— Por minha tia Roberta.<br />

— Herdaste alguma coisa ?<br />

— Não. Istoé um luto... platonico.<br />

*<br />

Um <strong>de</strong>sgraçado poeta peneira timidamente<br />

no gabinete do director d'uma<br />

revista litteraria.<br />

--Desejarei submetter estas poesias<br />

á sua apreciação...<br />

O director sem parar <strong>de</strong> escrever:<br />

— Versos? Muito bem. Tenha a<br />

bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>de</strong>itar o senhor mesmo<br />

ahi para o cesto. Neste momento eStou<br />

muito occupado...<br />

Desgarradas<br />

Janella tão assistida<br />

Agora te vejo só,<br />

Se tivesse um lenço preto,<br />

Eu por ti <strong>de</strong>itava dó.


AINO I — 4 5 O DEFENSOR DO POVO 3» <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />

L I V R O S<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

um exemplar.<br />

HISTORIA DE POHTÍIGAL<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schcefer<br />

Vertida fiel, integral e directamente<br />

do original allemão<br />

POR<br />

F. <strong>de</strong> Assis Míopes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

POR<br />

J. m i m 2S SAMPAIO (BMO)<br />

Edição completa por um corpo da<br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />

entre outros eminentes collaboradores,<br />

da ex. ma sr a D. Carolina Michaolis da<br />

Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

df! Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theopbilo Braga.<br />

900 a 1:000 gravuras<br />

Pedir prospecto e espeeimen<br />

Assignalura 20 réis, fascículo<br />

Está concluído o 1volume<br />

Para informações B I B 1 I A<br />

» A r . R A » A I I Í I Í U S -<br />

TRADA-Mousinho da Silveira, 191<br />

—Porto.<br />

Em <strong>Coimbra</strong> : na livraria do sr. A.<br />

Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />

e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />

Flores — 4.<br />

v<br />

ACTURAS<br />

IMPRIMEM-SE<br />

Typographia Operaria<br />

Largo da Freiria, 14<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

D E GRAÇA<br />

Carteira para notas,<br />

Carimbos <strong>de</strong> borraclia<br />

e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />

A KIU — Ê este o titulo <strong>de</strong> um<br />

álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />

publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />

mezes, pertencendo a cada assignante um<br />

brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />

100 réis mais, uma linda, carteira<br />

para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />

Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />

serão enviados, gratuitamente, calalogos<br />

a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis —o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

A N N U N C I O S<br />

Portinha<br />

Repetições . —<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

Juizo <strong>de</strong> Direito da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

ARREMATAÇÃO<br />

(1annuncio)<br />

„„ Mo dia 85 do corrente, pe-<br />

II las 11 horas da manhã, á<br />

porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça d'esta cida<strong>de</strong><br />

voltam pela segunda vez á praça,<br />

por meta<strong>de</strong> do seu valor e para serem<br />

entregues a quem maior lanço oITerecer,<br />

os prédios abaixo indicados, situados na<br />

freguezia <strong>de</strong> Semache e penhorados pela<br />

execução <strong>de</strong> sentença commercial que<br />

José Alves d'Oliveira, casado, proprietário,<br />

<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa-a-Nova, move contra<br />

José Augusto d'Oliveira e mulher Maria<br />

<strong>de</strong> Jesus Pimenta, proprietários, moradores<br />

em Villa Nova <strong>de</strong> Sernache:<br />

Uma morada <strong>de</strong> casas terreas, sitas<br />

no logar <strong>de</strong> Villa Nova, no valor <strong>de</strong><br />

18/000 réis;<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio das<br />

Publicação semanal aos fesciculos <strong>de</strong> Marinheiras, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100 valor <strong>de</strong> 15/000 réis;<br />

réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assi- Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio da<br />

gna-se em todas as livrarias do paiz e Moita Santa, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />

no escriplorio da empreza editora, rua valor <strong>de</strong> 7/000 réis;<br />

do Bomjaidim, 414. — Porto,<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura com agua<br />

<strong>de</strong> rega no sitio da Relva, limite <strong>de</strong> Villa<br />

Nova, no valor <strong>de</strong> <strong>35</strong>/000 réis;<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega no<br />

BIRLIA S.4GRAB4 sitio da Moiteira, limite <strong>de</strong> Casconha,<br />

no valor <strong>de</strong> 7«$500 réis.<br />

Pelo presente são citadas quaesquer<br />

pessoas que se julguem com direito aos<br />

<strong>de</strong>scriptos prédios ou ao seu producto<br />

para que o venham <strong>de</strong>duzir no praso<br />

legal.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

Verifiquei a exactidão.<br />

O Juiz <strong>de</strong> Direito,<br />

Queiroz.<br />

O escrivão,<br />

José Lourenço da Costa.<br />

AO PUBLICO<br />

61 cclaro para os <strong>de</strong>vidos effei-<br />

U tos, que o sr. Antonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rtia do Sargento-mór,<br />

n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892<br />

Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />

Novo estabelecimento<br />

66<br />

ntonio Paulo d'Olivcira,<br />

[ ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />

Santos Apostolo Junior, participa ao illustrado<br />

publico conimbricense que vae<br />

abrir um estabelecimento egual ao do<br />

seu ex-patrão, na rua do Sargento Mór,<br />

n. 05 1, 3 e 5.<br />

JULIÃO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />

a j o seu antigo estabelecimento<br />

PI concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />

:<br />

Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2/200<br />

réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1)51500<br />

Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />

para coberturas baratas. Garante-se<br />

a perfeição do trabalho encommendado<br />

nesta casa.<br />

ia<strong>de</strong>ira para palitos<br />

iiem preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />

67<br />

guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />

palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leilão,<br />

resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />

VENDA DE CASA<br />

58 ¥ entle-se nana sita na Couraça<br />

dos Apóstolos, n.° 66. Para<br />

tratar com José Simões, largo do Castello.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

„„ | ugusto Nunes «los San-<br />

JPft tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />

DEPOSITO DA M U NACIONAL<br />

DE<br />

DE<br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

o TVjESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

i\| junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17-ADRO DE CIMA-20<br />

(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

COIME<br />

RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />

2 Á e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />

nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />

faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />

radas para adultos e crianças.<br />

Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, lanlo nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

PREGOS SEM COMPETIDOR<br />

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ESTABELECIMENTO<br />

DH<br />

DE<br />

JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />

este estabelecimento encontra o comprador o que ha <strong>de</strong> mais<br />

mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />

Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />

Largo da Freiria, n. 0S I a 3<br />

COIMBRA<br />

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Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />

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& C. a<br />

N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

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Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />

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2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />

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JOÃO RODRIGUES SBABA, SDCGESSDS<br />

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Praça do Commercio a.° 1 â — t."<br />

64 Gommoda e oratorio<br />

<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />

rua dos Sapateiros, n.°' 20<br />

a 24.<br />

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NA<br />

CHAPELERIA CENTRAL<br />

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M objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

Juro modico, como po<strong>de</strong>m experimentar.<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Rorges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 0 — COIMBRA.<br />

0 DEFENSOR 00 POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

E D I T O R<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Com estampilha Sem estampilha<br />

Anno 21700<br />

Semestre.... i$330<br />

Trimestre,.. 680<br />

I<br />

Anno 2MOO<br />

Semestre.... 1$200<br />

Trimestre... 600<br />

mpresso na Typographia<br />

Operaria — Largo da Fruiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


Novas medidas<br />

financeiras<br />

Propalam os jornaes affectos ao<br />

governo que o sr. José Dias Ferreira<br />

está completamente absorvido<br />

no trabalho das novas medidas <strong>de</strong><br />

fazenda; e, para nos convencerem<br />

<strong>de</strong> que elle se entrega <strong>de</strong> alma e<br />

coração ao resurgimento do nosso<br />

paiz, noticiam que o sr. ministro da<br />

fazenda até se retirou <strong>de</strong> Lisboa, do<br />

gran<strong>de</strong> centro politico on<strong>de</strong> mais o<br />

po<strong>de</strong>m perturbar no seu cuidado<br />

salvador, para trabalhar tranquilamente<br />

numa isolada thebaida.<br />

Não nos convencem comtudo as<br />

affirmações d'aquelles jornaes, porque<br />

os prece<strong>de</strong>ntes do sr. José Dias,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entrou ultimamente para<br />

o ministério, só po<strong>de</strong>m garantir cuidados<br />

muito differentes d'aquelles<br />

que agora se lhe attribuem. Quem<br />

calcou aos pés com o maior <strong>de</strong>sprezo<br />

as tradições liberaes, que lhe custaram<br />

o labor <strong>de</strong> vinte annos <strong>de</strong> opposição<br />

a todos os governos, combatendo,<br />

ainda que muitas vezes pro<br />

forma, os passos errados ou criminosos<br />

das administrações transactas;<br />

quem postergou com a maior <strong>de</strong>sfaçatez<br />

as i<strong>de</strong>ias affirmadas num espaço<br />

<strong>de</strong> tempo relativamente largo, e<br />

que fizeram que o povo o olhasse<br />

como alguém <strong>de</strong> quem alguma cousa<br />

<strong>de</strong> bom se po<strong>de</strong> esperar, liado na sua<br />

boa vonta<strong>de</strong>, no seu patriotismo e<br />

nas suas affirmações fementidas;<br />

quem se esquece vergonhosamente<br />

das promessas que, ao subir ao po<strong>de</strong>r<br />

numa hora solemnissima, solemnemente<br />

fez a um povo inteiro;<br />

quem, apresentando-se como um<br />

salvador, como um messias pre<strong>de</strong>stinado<br />

a estabelecer um novo reinado<br />

<strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> rectidão, illu<strong>de</strong><br />

sem rubor a expectativa <strong>de</strong> milhares<br />

d'homens, não dá, por certo,<br />

garantia segura <strong>de</strong> que possa tomarse<br />

a serio e faz presuppor que quaesquer<br />

medidas que apresente, se algumas<br />

apresentar, terão antes em<br />

vista satisfazer interesses particulares<br />

do que os interesses do paiz,<br />

assim como o po<strong>de</strong>r lhe tem servido<br />

só para satisfazer a sua vaida<strong>de</strong> pessoal.<br />

As antigas affirmações do sr.<br />

Dias Ferreira, apregoando que antes<br />

queria o favor das praças que o favor<br />

dos Paços e que á opinião das camarilhas<br />

preferia a opinião do povo,<br />

teem cahido ridiculamente perante a<br />

opinião sensata; poucos serão ainda<br />

os ingénuos que <strong>de</strong>ponham as suas<br />

esperanças neste salvador irrisorio.<br />

Mas' este illudir <strong>de</strong> esperanças,<br />

esta zombaria dos mais nobres sentimentos,<br />

esta suprema <strong>de</strong>cepção do<br />

nosso povo, náo po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

produzir as consequências qué d'ellas<br />

naturalmente <strong>de</strong>rivam. Descrente <strong>de</strong><br />

todosXaquelles, que antes da actual<br />

situação se sentaram nas ca<strong>de</strong>iras do<br />

po<strong>de</strong>r; <strong>de</strong>scrente ainda d'estes, que<br />

se lhe apresentavam como o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro<br />

recurso e que lhe acenavam<br />

com uma nova era <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong><br />

serieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> honra<strong>de</strong>z, o nosso<br />

povo ha- <strong>de</strong> conhecer, se d'isso não<br />

estiver convencido ainda," que nada<br />

po<strong>de</strong> esperar d^ste estado <strong>de</strong> coisas,<br />

que garantias nenhumas lhe dão estes<br />

homens e que uns valem os outros.<br />

E então, ou ha <strong>de</strong> cahir miseravelmente<br />

no precipicio, que todos elles<br />

lhe teem cavado aos pés, ou ha <strong>de</strong>,<br />

num supremo esforço <strong>de</strong> virilida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> sensatez, arrancar do po<strong>de</strong>r os<br />

homens nefastos que teem produzido<br />

a sua ruina economica e a sua pobreza<br />

humilhante, arrastando a«<br />

mesmo tempo pela lama o seu credito<br />

<strong>de</strong> povo honrado, para os substituir<br />

por outros homens, que lhe<br />

dêem um penhor seguro d'uma nova<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coisas, d'um novo regimen<br />

<strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> honra. E.estes<br />

aprenda o paiz a conhecel-os e a dis-<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

tinguil os <strong>de</strong>ntre a turba multa dos<br />

que o teem illudido' e anniquilado ;<br />

repare nos homens que lhe arrancaram<br />

dos olhos a venda que lh'os<br />

cegava, que lhe apresentaram em<br />

toda a sua nu<strong>de</strong>z os factos mais escandalosos<br />

das altas regiões do po<strong>de</strong>r,<br />

que, pela sua opposição tenaz<br />

e constante a todos os abusos e a<br />

todas as prevaricações, já obstaram<br />

em gran<strong>de</strong> parte ás mais escandalosas<br />

acções.<br />

Dos outros só po<strong>de</strong> esperar tanto<br />

como tem obtido das promessas do<br />

sr. presi<strong>de</strong>nte do conselho e como<br />

po<strong>de</strong> esperar das novas medidas financeiras<br />

do actual ministro da fazenda.<br />

Franco Ascot.<br />

E' preparar a bolça<br />

As medidas financeiras do sr. José<br />

Dias são, ao que dizem, <strong>de</strong> levar couro<br />

e cabello.<br />

Para exemplo cila-se a fei do sello<br />

em que o estado lucra uns 200 contos<br />

<strong>de</strong> réis I<br />

Vamos emigrar.<br />

Como?<br />

se elles estão no fundo!<br />

Nas praças <strong>de</strong> Paris e Londres <strong>de</strong>sceu<br />

o papel <strong>de</strong> todos os paizes á excepção<br />

do <strong>de</strong> Portugal.<br />

Acorrem pressurosos os nossos monarchistas<br />

extraindo do facto a peregrina<br />

illação <strong>de</strong> que isso attesta o nosso bom<br />

estado financeiro...<br />

Inútil o esforço. Toda a gente vê que<br />

as razões do nosso papel não <strong>de</strong>scer mais<br />

é porque elle está no fundo. Até um<br />

cego vê isto.<br />

Os caloteiros<br />

Os operários que trabalharam na occasião<br />

das festas regias á chegada das<br />

magesta<strong>de</strong>s na ultima viagem á llespanha,<br />

ainda não foram pagos I '<br />

É assim que os serventuários da monarchia<br />

sorvem o throuo, não pagando<br />

aos pobres operários que talvez não tenham<br />

que comer 1<br />

Portugal e o celebre<br />

Cécil Rho<strong>de</strong>s<br />

Telegramma <strong>de</strong> Londres com data <strong>de</strong><br />

20 diz que Cecil llho<strong>de</strong>s partiu <strong>de</strong> Londres<br />

para Paris <strong>de</strong> caminho para Monte<br />

Carlo, Egypto, Qíteliinane e Cida<strong>de</strong> do<br />

Cabo. Antes <strong>de</strong> partir dirigiu ao ministro<br />

dos negocios estrangeiros um energico<br />

protesto conlra as objecções levantadas<br />

á ultima hora por Portugal a respeito<br />

da <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> fronteiras, feita<br />

pelos srs. Antonio Ennes e Leverson. O<br />

sr. Cecil Rho<strong>de</strong>s exprimiu a esperança<br />

<strong>de</strong> que o interesse na Africa Central do<br />

governo inglez não permittirá queaobr-a<br />

executada pela commissão luso britannica<br />

seja inutilisada.<br />

O sr. Levérson partirá <strong>de</strong> Cape Teon<br />

ámanhã, 21, para Inglaterra, afim <strong>de</strong><br />

conferenciar com o governo inglez.<br />

Heliodoro Salgado<br />

Não se effectuou ainda o julgamento<br />

d'este nosso amigo, Heliodoro Salgado,<br />

accusado <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />

O advogado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza, sr. dr.<br />

Alexandre Braga, aggravou para a relação<br />

do <strong>de</strong>spacho do juiz do tribunal do<br />

1.° districto criminal, que marcára o<br />

julgamento para terça feira.<br />

Sem commentarios<br />

Consta que o nacional governo do sr.<br />

D. Carlos conce<strong>de</strong>u que os médicos inglezes<br />

possam exercer a sua prolissão em<br />

terras portuguezas sem se sujeitarem<br />

aos exames a que são obrigados os outros<br />

médicos estrangeiros que queiram estabelecer-se<br />

no paiz.<br />

PELOS JORNAES<br />

A Reforma <strong>de</strong> quinta feira abre assim<br />

o seu editorial :<br />

«Se ainda fosse discutível a hypothese<br />

<strong>de</strong> uma republica em Portugal<br />

nos tempos mais proximos, a <strong>de</strong>rrocada<br />

do Panamá seria bastante para <strong>de</strong>monstrar<br />

aos ingénuos que o dia em<br />

que esse facto se realisasse entre nós,<br />

seria talvez o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro da nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.»<br />

Abunda o dislate, como se vê O<br />

articulista começa pela peregrina Iheoria<br />

<strong>de</strong> não achar discutível a hypothese <strong>de</strong><br />

uma republica em Portugal. .. nos tem<br />

pos mais proximos; e começa a discutir<br />

sob essa hypothese...<br />

Depois insinua a <strong>de</strong>rrocada do Panamá<br />

como prova <strong>de</strong> que as instituições<br />

republicanas são immoraes. Qualquer<br />

Torgal que não seja o da Reforma veria<br />

sem esforço que o caso do Panamá, da<br />

forma austera como o governo republicano<br />

o vae conduzindo, prova a moralida<strong>de</strong><br />

do regimen, que não hesita cahir<br />

a fundo sobre vultos eminentes da politica,<br />

ao contrario do que se faz em muitos<br />

paizes monarchicos, como o nosso,<br />

p. ex.<br />

A asserção <strong>de</strong> que no dia em que a<br />

republica entre nós fosse um facto seria<br />

talvez o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro da liossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />

lica <strong>de</strong> molho por indiscutível.<br />

Ê tão insólita que só faz rir.<br />

*<br />

Para exemplificar a razão por que<br />

enten<strong>de</strong> que o systema republicano se<br />

não adapta á raça latina, refere-se assim<br />

á França a mesma Reforma:<br />

«A imprensa, em vez <strong>de</strong> dirigir<br />

sincera e lealmente a opinião, põe a<br />

sua critica á mercê dos banqueiros. Os<br />

homeus públicos, ainda os que teem<br />

maiores responsabilida<strong>de</strong>s perante a<br />

nação, <strong>de</strong>ixam-se corromper e atacam<br />

eom o prestigio da sua auctorida<strong>de</strong> a<br />

acção da justiça. Um dia abate-se a<br />

cadciia presi<strong>de</strong>ncial ante a suspeita <strong>de</strong><br />

que um membro da familia do primeiro<br />

magistrado da republica ven<strong>de</strong> honras<br />

e mercês a quem as quer comprar;<br />

outro dia, constituem-se tribunaes d'exr<br />

cepção e fazem-se con<strong>de</strong>tnnar ao exilio<br />

os que combatem o po<strong>de</strong>r e os excessos<br />

do governo I»<br />

Que po<strong>de</strong>ríamos nós dizer da imprensa<br />

monarchica <strong>de</strong> cá, subsidiada pelos<br />

cofres públicos para a <strong>de</strong>feza das diversas<br />

situações, politicas ? I<br />

Que po<strong>de</strong>ríamos nós dizer dos nossos<br />

homens públicos que vergam ao pezo <strong>de</strong><br />

infamantes accusações <strong>de</strong> <strong>de</strong>lapidadores<br />

dos cofres públicos, feitas em normando?!<br />

Que um dia se abateu a ca<strong>de</strong>ira presi<strong>de</strong>ncial<br />

ante a suspeita <strong>de</strong> que um<br />

membro da familia do primeiro magistrado<br />

da republica vendia honras e mercês a<br />

quem as queria comprar. Sim, muito<br />

bem. E que prova isso? A elevada<br />

conta em que é tida a honra das instituições.<br />

Em França um presi<strong>de</strong>nte da<br />

republica. <strong>de</strong>milte-se meramente por se<br />

suspeitar que um seu parente merca<strong>de</strong>java<br />

com commendas, sendo esse parente<br />

con<strong>de</strong>mnado; em Portugal, ministros que<br />

confessam em pleno parlamento que <strong>de</strong>sviaram<br />

illegalmente dinheiro dos cofres<br />

públicos estão á espera da mercê regia<br />

para o pariato e talvez com esperança <strong>de</strong><br />

voltar aos conselhos da coroa...<br />

Referindo-se ás improveitosas <strong>de</strong>spezas<br />

que se teem feito com o luxo dos<br />

ministérios, escreve sensatamente o Commercio<br />

do Corto, cuja sisudéz é já clássica<br />

:<br />

«Se tivesse havido o preciso respeito<br />

pelo contribuinte, não se haveria arrendado<br />

nem o sumptuoso palacio do Calhariz<br />

para os negecios estrangeiros, nem<br />

a casa do largo <strong>de</strong> S. Roque para o<br />

reinventado ministério da instrucção<br />

publica. Estadistas <strong>de</strong> memoria honrada,<br />

como Loulé e Braamcamp, entre<br />

outros, vimos nós trabalhar no Terreiro<br />

do Paço em mesquinhos e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados<br />

gabinetes<strong>de</strong> differentes secretarias<br />

<strong>de</strong> Estado, sem que se julgassem rebaixados<br />

ua sua importancia; nem elles<br />

ousariam lembrar-se <strong>de</strong> onerar a triste<br />

fazenda com sacriticios pecuniários, para<br />

satisfação <strong>de</strong> caprichos luxuosos e <strong>de</strong><br />

apparato.»<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />

do Povo<br />

Meu amigo: outros tempos, outras<br />

gentes. A sumptuosida<strong>de</strong> nas altas- regiões,<br />

a começar pelas mais altas, tem<br />

sido o maior factor da nossa ruina economica.<br />

*<br />

O Jornal <strong>de</strong> Noticias, do Porto, orgão<br />

dos manos Arroyos, abre também já a<br />

sua hrechasijiha nas lombadas ministeriaes<br />

:<br />

«O que estamos vendo é que os salvadores<br />

se succe<strong>de</strong>m uns aos outros, e<br />

que todos elles trazem <strong>de</strong>baixo do capote<br />

um monopolio e um imposto; e que<br />

o sr. José Dias, que tanto flagellou os<br />

monopolios—os nossos amigos!. • • —e<br />

que «batia nas algibeiras, <strong>de</strong>clamando<br />

contra o augniento das contribuições»<br />

appareceu com essas duas bellas novida<strong>de</strong>s,<br />

com cangados recursos, cujo resultado<br />

s. ex. a está habilitado a provar<br />

pela própria crise que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>bellar,<br />

e que se formou sobre monopolios<br />

e sobre addiccionaes renovados uns após<br />

outros.»<br />

Salte o sr Arroyo para o ministério<br />

e acabará esle fadario ministerial 1 Vá,<br />

<strong>de</strong>pressa, que estamos em vesperas <strong>de</strong><br />

recomposição. Acudam-lhe !<br />

Tê<strong>de</strong>be.<br />

De João'Chagas<br />

(CONTINUAÇÃO)<br />

Mas o que vi está longe <strong>de</strong> ser o<br />

que ouvi.<br />

A Cova da Onça, on<strong>de</strong> duranle mezes<br />

vivem homens presos a gargalheiras<br />

dè ferro; o Segredo, on<strong>de</strong> durante semanas<br />

se asphyxiam mulheres algemadas,<br />

estão inferiores na escala do supplicio ás<br />

prisões supplemenlares da fortaleza <strong>de</strong> S.<br />

Pedro da Rarra.<br />

A fortaleza <strong>de</strong> S. Pedro da Barra fica<br />

situada á enlrada da bahia <strong>de</strong> Loanda.<br />

E' <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do <strong>de</strong>posito da forlaleza<br />

<strong>de</strong> S. Miguel e recebe lambem turnos <strong>de</strong><br />

con<strong>de</strong>mnados. Dirige a um alferes.<br />

Neste forte ha prisões sulilerraneas.<br />

A tres d'ellas dão se eslas tres <strong>de</strong>nominações—<br />

o Segredo, a Prisão Escura<br />

e o Oratorio.<br />

Procurei fallar separadamente com<br />

seis con<strong>de</strong>mnados que alli estiveram. Recorri<br />

em seguida ao testemunho <strong>de</strong> dois<br />

officiaes inferiores, que alli serviram. Estes<br />

oito homens conlirmaram-se. Fui escrupuloso,<br />

formulei duvidas, apresentei<br />

objecções. Apurei isto:<br />

— O Segredo — dizem-me uns — é<br />

uma especie <strong>de</strong> estreitíssimo corredor, fechado<br />

em um dos extremos e terminado<br />

no outro por uma gra<strong>de</strong> que diz para o<br />

mar. E' longo, mas muitíssimo estreito,<br />

tão estreito que não po<strong>de</strong>m dormir dois<br />

homens ao lado um do outro. Assim,<br />

<strong>de</strong>iiam-se, pés com pés. Não é mesmo um<br />

corredor—é mais propriamente o intervallo<br />

entre duas pare<strong>de</strong>s.<br />

—A Prisão Escura, chama-se-lhe assim<br />

porque nunca alli penetra a luz do<br />

dia. Fica por baixo da esplanada da fortaleza<br />

e não tem gra<strong>de</strong>s: tem os muros e<br />

uma. porta. Ar, tem o que penetra pelo<br />

intervallo existente entre essa porta e o<br />

chão. Por cima, lica a cisterna da fortaleza,<br />

<strong>de</strong> forma que <strong>de</strong>ntro da prisão, a<br />

agua infiltrada cahe em chuva, aqtíi e<br />

adi. «E' preciso andar sempre a mudar<br />

<strong>de</strong> logar», diz-me um cou<strong>de</strong>mnado. Para<br />

me dar uma i<strong>de</strong>ia justa do recinto, um<br />

outro conclue? «E' um tanque». Neste<br />

tanque, ratos e baratas disputam-lhes o<br />

rancho.<br />

Quando é dia? Quando é noite? —<br />

Só o sabem quando veem <strong>de</strong> fóra dizerlh'o.<br />

Nesta prisão, neste subterrâneo,<br />

neste antro, estão muitos, que alli vivem,<br />

alli dormem, alli comem, alli <strong>de</strong>fecam,<br />

numa iuimunda, sinistra, tragica promiscuida<strong>de</strong>.<br />

— O que p o Oratorio ?<br />

O oratorio! Não o diz a palavra?<br />

Do oratorio sahe-se para a morte, para a<br />

paralysia, para a loucura. Não m'o <strong>de</strong>screvem<br />

bem. Faliam d'elle com terror,<br />

como <strong>de</strong> uma cousa horrível, <strong>de</strong> que<br />

nem se quizessem recordar. Um exclama;<br />

«Ah! ahi nunca estivei» Outro,<br />

que por la passou, limita-se a dizer:<br />

& An<strong>de</strong>i dias e dias a soluçar qnando <strong>de</strong><br />

lá sahi ! ».<br />

Angustia, ouvil-os.<br />

Não quiz ouvir mais.<br />

Estas penas monstruosas, estes inconcebíveis<br />

castigos dão-se — já o disse—<br />

a torto e a direito, a cada passo,<br />

por insignificantes faltas, por infracções<br />

ridículas: por motivo <strong>de</strong> rixas sem consequências,<br />

por uma palavra impru<strong>de</strong>ntemente<br />

proferida, por um ligeiro movimento<br />

<strong>de</strong> protesto, por não querer comer<br />

o rancho, por ter roubado a um companheiro<br />

um pacote <strong>de</strong> tabaco, e finalmente—<br />

<strong>de</strong>licto grave, supremo e imperdoável<br />

<strong>de</strong>licto ! — por fugir. F.ugir d'este inferno<br />

é um -crime. Fugir para o sertão,<br />

só, sem recursos, os pés muitas vezes<br />

<strong>de</strong>scalços, sob o sol, á beira dos pantanos,<br />

pelo malto, noite e dia expondo a<br />

vida, a triste, a pobre, a miserável vida,<br />

para ir bater á porta <strong>de</strong> uma fazenda<br />

ou <strong>de</strong> uma feitoria e pedir o trabalho<br />

que aqui não proporcionam e o ar livre,<br />

que aqui roubam — isto é tão natural,<br />

tão comprehensivel, tão humano, isto é<br />

uin crime que só a Cova da Onça, o Segredo,<br />

a Prisão Escura, o Oratorio, a<br />

gargalheira, a manilha, a algema, po<strong>de</strong>m<br />

rasoavelmente punir.<br />

Agora, accrescente-se a isto que estes<br />

<strong>de</strong>sventurados fogem porque os <strong>de</strong>ixam<br />

fugir, porque lhes coilocam a liberda<strong>de</strong><br />

ao alcance <strong>de</strong> um pulo, numa forlaleza,<br />

<strong>de</strong> cujas muralhas se po<strong>de</strong> saltar<br />

dia e noite, como das janellas <strong>de</strong> uma<br />

sobreloja; consi<strong>de</strong>re-se que muitos dos<br />

fugitivos veem apresentar-se voluntariamente,<br />

exhaustos, extenuados, famintos,<br />

febris, ao cabo <strong>de</strong> inúteis esforços para<br />

viver lá fóra—e pense-se no abuso e na<br />

cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> semelhantes castigos.<br />

Ob-erve-se mais que estes criminosos,<br />

se são raramente reinci<strong>de</strong>ntes, pela<br />

natureza dos <strong>de</strong>liclos que os trouxeram<br />

aqui são já <strong>de</strong> si mo<strong>de</strong>stos como typos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>linquentes. Homicídios e tentativas<br />

<strong>de</strong> homicídios ruraes, por questiúnculas<br />

<strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia, questões <strong>de</strong> bem, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

em feiras e eleições; o estupro, originado<br />

numa superstição selvagem muito corrente<br />

nas nossas províncias ; o roubo <strong>de</strong><br />

igreja, o roubo <strong>de</strong> relogios, o roubo superior<br />

a quarenta e inferior a cem mil<br />

réis e finalmente os crimes <strong>de</strong> falsificação<br />

e moeda falsa — lai é o quadro criminal<br />

d'este presidio.<br />

Dia <strong>de</strong> Natal<br />

(Conclúe).<br />

No seio das famílias estabeiecc-se hoje<br />

um lyrico mutualismo <strong>de</strong> affectos on<strong>de</strong><br />

palpita ar<strong>de</strong>ntemente o sagrado amor dos<br />

que são queridos.<br />

Por toda a parle, nos palacios opulentos<br />

dos pre<strong>de</strong>stinados como na choupana<br />

humil<strong>de</strong> dos pobresinlios, habita-se<br />

hoje uma athmosphera <strong>de</strong> jubilo esfusiante<br />

d'on<strong>de</strong> irradia a meiga ternura dos corações<br />

que se encontram numa religiosa<br />

expansão <strong>de</strong> amor, numa confraternida<strong>de</strong><br />

mystica <strong>de</strong> religião.<br />

Na longínqua rotação dos séculos ainda<br />

se alteia serenamente, na piedosa<br />

i<strong>de</strong>alisajão das crenças, o almejado nascimento<br />

do Jesus <strong>de</strong> Nazarelh, cheio <strong>de</strong><br />

pieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> bonança, evangelisando o<br />

Bem e o Amor, tal como o conceberam<br />

na sua ru<strong>de</strong>za santa as primeiras gerações<br />

humanas, límpidas da concupiscência torpe<br />

das nossas eras...<br />

Hoje, esta data, já não espelha lidimamente,<br />

no fundo das almas, a sagração<br />

amorosa do Christo : o pulso <strong>de</strong> Benan<br />

entrou-nos pelo coração, abriu sulcos<br />

profundos, abalou crenças que eram<br />

mythos, massacrou i<strong>de</strong>aes que eram crenças<br />

!<br />

D'esse escalahro doloroso apenas<br />

nos resta--o que é muito, o que é ludo<br />

— um culto religioso pela familia, uma<br />

adoração grata pelos que nos são caros,<br />

que hoje se expan<strong>de</strong> generosamente num<br />

abandono jubiloso <strong>de</strong> almas possuídas,<br />

numa elevação <strong>de</strong> coração que vibra sonorosa<br />

ao <strong>de</strong> cima do nosso <strong>de</strong>salento melancólico.<br />

Natal! Natal I


AIKO I — 16<br />

GRYSTAES<br />

Introducção ao meu primeiro livro<br />

Ahi ficam, mo<strong>de</strong>stas e singellas,<br />

Minhas pobres cauções da mocida<strong>de</strong>.<br />

Pouco valeuT <strong>de</strong>certo, mas vão nellas<br />

Recordações d'uma duirada eda<strong>de</strong>,<br />

Recordações <strong>de</strong> tempos auroraes<br />

— Fulgentes como estreitas —<br />

Que vestiam a esta alma a flicida<strong>de</strong><br />

Mas que fugiram, que não voltam mais...<br />

Que não me trazem mais mocida<strong>de</strong> I<br />

— Das aureas illusões<br />

— Das rutilas chimeras<br />

Só me restam agora estas canções<br />

mo<strong>de</strong>stas e sinceras.<br />

Nào ha nellas scentelhas <strong>de</strong> talento,<br />

Nem íulgidos clarões<br />

— Ha apenas o valor do sentimento<br />

Que em meu peito <strong>de</strong>ixou funda sauda<strong>de</strong><br />

Das aureas illusões<br />

Da minha mocida<strong>de</strong> I<br />

Creio — não ha talvez<br />

Verso que se <strong>de</strong>staque<br />

No meu livro, que tem para o burguez<br />

Um ar <strong>de</strong> bric á brac...<br />

Mas cada estrophe encerra uma lembrança<br />

— Mas quantas juvenis recordações<br />

Em cada pagina —a luzir d'esp'rançal<br />

Em cada verso — cheio d'illusões 1<br />

.. .Illusões d'existencia venturosa<br />

Que nâo voltam, <strong>de</strong>certo, ao coração I<br />

Não voltam mais?.<br />

.TalvezI Talvez!<br />

-E então<br />

Reviverá, com todos os seus brilhos,<br />

A minha mocida<strong>de</strong> côr <strong>de</strong> rosa<br />

Na mocida<strong>de</strong> alegre <strong>de</strong> meus filhos I<br />

AUGUSTO DE MESQUITA.<br />

Reforma dos estrangeiros<br />

Foi publicada na folha official a reforma<br />

da secretaria dos estrangeiros e<br />

dos serviços diplomáticos e consulares.<br />

São supprimidas as duas direcções da<br />

secretaria, licando esta dividida em 4<br />

repartições.<br />

O pessoal da secretaria liça reduzido<br />

a 1 secretario geral, 2 chefes <strong>de</strong> repartição,<br />

3 officiaes e 7 amanuenses.<br />

O corpo diplomático conipôr-se-ha <strong>de</strong><br />

10 ministros plenipotenciários, 3 encarregados<br />

<strong>de</strong> negocios, 4 secretários <strong>de</strong><br />

l. a classe e 6 secretários <strong>de</strong> 2. a classe<br />

e o corpo consular <strong>de</strong> 4 cônsules <strong>de</strong> l. a<br />

classe, 14 cônsules 1 <strong>de</strong> 2. a , 7 chancelleres.<br />

Pela organisação agora <strong>de</strong>cretada, a<br />

<strong>de</strong>speza <strong>de</strong> todos os serviços importa em<br />

286:049)5795 réis. A do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1891, do sr. condi <strong>de</strong><br />

Valbom, importava em 431:252^045 rs,<br />

LETTRAS<br />

0 crepusculo da tar<strong>de</strong> *<br />

O dia cabe. Faz-se um gran<strong>de</strong> socego<br />

nos pobres espíritos fatigados do trabalho<br />

do dia; e os seus pensamentos tomam<br />

agora as cores <strong>de</strong>licadas e in<strong>de</strong>cisas<br />

do crepusculo.<br />

Comtudo, do cimo da montanha chega<br />

ao meu balcão, atravez as nuvens transparentes<br />

da tar<strong>de</strong>, um gran<strong>de</strong> uivo, composto<br />

<strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> gritos discordantes,<br />

que o espaço transforma numa<br />

lugubre harmonia, como a da maré que<br />

sobe ou d'uma tempesta<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>sperta.<br />

Quaes são os <strong>de</strong>sventurados que a<br />

tar<strong>de</strong> não tranquillisa, e que tomam, como<br />

os mochos, a vinda da noute por um<br />

signal <strong>de</strong> sabbat?<br />

Esta sinistra ululação chega-no? do<br />

negro hospicio empoleirado sobre a montanha<br />

; e, a tar<strong>de</strong>, fumando e contemplando<br />

o repouso do immenso valle coberto<br />

<strong>de</strong> casas don<strong>de</strong> cada janella diz :<br />

«E' aqui a paz agora; é aqui a alegria<br />

da família 1» eu posso, quando o<br />

vento sopra do alto. alevantar o meu pensamento<br />

cantando á imitação das harmonias<br />

do inlerno.<br />

O crepusculo excita os loucos. —<br />

Lembra-me que eu tinha dois amigos que<br />

o crepusculo fazia recuperar todas as<br />

doenças.<br />

Um <strong>de</strong>sconhecia então todas as relações<br />

d'amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, e maltratava,<br />

como um selvagem, o primeiro<br />

recem-chegado. Eu vi-o arremessar á cabeça<br />

<strong>de</strong> um maitre <strong>de</strong> liotel um exceilenle<br />

frango, no qual elle julgava ver nâo<br />

sei que lusulto hieroglypho, A tar<strong>de</strong>, precursora<br />

<strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong>s insondáveis,<br />

<strong>de</strong>teriorava-lhe as cousas as mais succulentas.<br />

O outro, um ambicioso offcndido, lornava-se<br />

á medida que o dia baixava,<br />

mais <strong>de</strong>sagradável, mais sombrio, mais<br />

contrariado. Indulgente e sociável ainda<br />

durante o dia, elle era insensível á tar<strong>de</strong><br />

; e não somente para os outros mas<br />

também para elle mesmo, que exercia<br />

irritavelmente a sua mania crepu^culosa.<br />

O primeiro morreu doido, incapaz <strong>de</strong><br />

reconhecer a sua mulher e o seu filho; o<br />

seguudo tem a inquietação d'uin mau estar<br />

perpetuo, e julga-se gnlardoado, <strong>de</strong><br />

todas as honras que po<strong>de</strong>m conferir as<br />

republicas e os príncipes: eu creio que<br />

o crepúsculo allumiará ainda nelle o ar<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> distincções imaginarias.<br />

A noite, que faz as trevas no seu espirito,<br />

faz a luz no meu ; e não é raro ver<br />

a mesma causa gerar dois effeitos contrários;<br />

eu estou sempre como intrigado<br />

e atemorisado.<br />

O' noite ! ó refrigerantes trevas 1 vós<br />

sois para mim um signal <strong>de</strong> uma fe.-ta<br />

interior, vós sois a libertação <strong>de</strong> uma<br />

angustia 1 Na. solidão das planices, nos<br />

labyrinlhos pedregosos d'uma capital,<br />

scintillante <strong>de</strong> estrellas, explosão <strong>de</strong> lanternas,<br />

vós sois o fogo artilicial <strong>de</strong> essa<br />

<strong>de</strong>usa, a Liberda<strong>de</strong> 1<br />

Crepusculo, como és doce e brando 1<br />

Os vislumbres côr <strong>de</strong> rosa que roçam<br />

ainda o horisonte, como a agonia do dia<br />

sob a oppressão victoriosa da noute, as<br />

luzes dos can<strong>de</strong>labros que formam nodoas<br />

d'um vermelho opaco sobre as ultimas<br />

glorias do poente, as pesadas tapeçarias<br />

que uma mão invisível move das<br />

profun<strong>de</strong>zas do Oriente, imitam todos os<br />

sentimentos complicados que luctam, no<br />

coração do homem nas horas solemnes<br />

da vida.<br />

Dir-se-hia ainda um d'esses vestidos<br />

exquisitos <strong>de</strong> dançarinas, em que uma<br />

gaze transparente e escura <strong>de</strong>ixa entrever<br />

os esplendores amortecidos d'uma saia<br />

brilhante, como sobre o negro premente<br />

transparece o <strong>de</strong>licioso passado; e as estrellas<br />

vacilUntes d'ouro e <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong><br />

que ella é semeada, representam esses<br />

fogos da phantasia que não brilham bem<br />

senão <strong>de</strong>baixo do lucto profundo da noute.<br />

Charles Bau<strong>de</strong>laire<br />

Pelos vencidos<br />

O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />

satisfação da consciência individual.<br />

Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />

nossos concidadãos emigrados não é o<br />

cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />

dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />

primeiro logar, na actual conjunctura.<br />

Urge que todo o republicano sem<br />

diferenciação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />

e a sua bolsa para auxiliar aquelles*<br />

malventurosos amigos que longe da<br />

patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />

Vamos a isto, meus amigos 1 Cumpramos<br />

este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />

<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />

piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />

dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />

fria do nosso critério a sua significação<br />

positiva.<br />

O Viário Illustrado constatava ha<br />

dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />

em Bordéus se alimentavam<br />

com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />

Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />

Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />

está abaixo <strong>de</strong> toda a noção <strong>de</strong><br />

humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />

<strong>de</strong> republicanos, dia a dia affirmando<br />

pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />

aquella gente.<br />

É*a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />

mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />

exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />

apenas pelos bicos da penna : é a<br />

solidarieda<strong>de</strong> elfectiva, pratica, traduzida<br />

no mais franco auxilio moral e material.<br />

Amigos 1 Soccorraroos os emigrados 1<br />

Subsrripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

com egual quantia o* nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 17$400<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

remetter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.® 88.<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

Julgamento <strong>de</strong> Abilio Roque<br />

e Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

Realisou-se hontem no tribunal d'esta<br />

comarca o julgamento dos srs. Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho e Abilio Roque <strong>de</strong><br />

Sá Barreto. Numerosa concorrência, avida<br />

<strong>de</strong> conhecer o resultado dVste julgamento,<br />

em que á barra da justiça eram<br />

chamados, dois estrenuos <strong>de</strong>fensores da<br />

liberda<strong>de</strong>, enchia plenamente a vasta sala<br />

do tribunal.<br />

Era manifesta em todos a gran<strong>de</strong><br />

sympathia que estes cidadãos inspiram,<br />

não só pelos seus cabellos brancos, mas<br />

principalmente pelos relevantes serviços<br />

prestados por ambos á causa da sua patria.<br />

Constituiu-se, finalmente, o tribunal.<br />

Os dois venerandos aceusados occuparam<br />

como reus os logares <strong>de</strong>stinados ao julgamento<br />

dos criminosos e on<strong>de</strong> dçviam<br />

estar sentados tantos e tantos homens,<br />

que passeiam á solta cobertos <strong>de</strong> grãcruzes<br />

e medalhas.<br />

Como advogado apresentou-se o conceituadíssimo<br />

e respeitável jurisconsulto<br />

sr. dr. Chaves e Castro, um dos ornamentos<br />

do nosso foro c dos mais consi<strong>de</strong>rados<br />

lentes da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

S. ex. a , que ha tantos annos não<br />

advogava no tribunal era causa crime,<br />

por uma especial <strong>de</strong>ferencia pelo caracter<br />

respeitabilissimo dos accusados e levado<br />

pela amisa<strong>de</strong> estreita que ha muito a<br />

eiles o liga, patrocinoti-os nesta causa<br />

com a gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração do seu nome.<br />

O illustre advogado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza principiou<br />

por um preambulo que <strong>de</strong>monstrou<br />

a toda a evi<strong>de</strong>ncia a corrupção do nosso<br />

meio social.<br />

Disse que os seus constituintes, se<br />

estavam alli não era pelo crime <strong>de</strong> terem<br />

<strong>de</strong>fraudado os cofres públicos em beneficio<br />

<strong>de</strong> syndicatos, nem por fulsilieareni<br />

testamentos, nem adulterarem as actas<br />

eleitoraes, nem tão pouco por patrocinarem<br />

a causa <strong>de</strong> envenenadores, ou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem<br />

directores <strong>de</strong> bancos e companhias!<br />

Se eiles alli se sentavam é porque haviam<br />

<strong>de</strong>fendido a causa do contribuinte, é porque<br />

haviam mostrado ao publico as injustiças<br />

que se estavam praticando na<br />

tal repartição <strong>de</strong> que elle, na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> administrador dos bens d'uns menores,<br />

havia já sido victima.<br />

Em seguida, com uma lógica irrespondivel,<br />

<strong>de</strong>duziu uma argumentação <strong>de</strong><br />

ferro, que envolveu em laços apertadís-<br />

simos a accusação. Começou por <strong>de</strong>monstrar<br />

que não era o ministério publico o<br />

competente para promover este processo<br />

e accenluou o facto inexplicável <strong>de</strong> elle<br />

ter sido requerido pelo escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />

d'este concelho, como parte, <strong>de</strong>sapparecendo,<br />

não se sabe porquê, esta<br />

entida<strong>de</strong>, para dar logar á acçào illegal<br />

do ministério publico.<br />

Que nesta comedia havia entre bastidores<br />

um contra-regra que puxava os<br />

cor<strong>de</strong>linhos, mas como nem todas as<br />

verda<strong>de</strong>s se dizem elle calava as suas<br />

consi<strong>de</strong>rações.<br />

Demonstrou, pois, a precipitiçào do<br />

sr. Delegado do Procurador Régio, que<br />

teve occasião <strong>de</strong> receber ainda agora<br />

uma lição do seu antigo professor, lição<br />

que oxalá lhe aproveite. Enredou-se a<br />

accusação na <strong>de</strong>feza que allegou do seu<br />

procedimento, e não logrou apagar no<br />

conceito publico a <strong>de</strong>sfavorável impressão<br />

que a respeito <strong>de</strong> s. ex. a produziu a<br />

lógica e conclu<strong>de</strong>nte allegação da <strong>de</strong>feza.<br />

Por fim, após um longo intervallo <strong>de</strong><br />

interrupção da audiência, reabriu-a o merelissimo<br />

juiz <strong>de</strong> direito, pronunciando<br />

uma sentença absolutória, que foi acolhida<br />

com visíveis manifestações <strong>de</strong> agrado,<br />

que a respeitabilida<strong>de</strong> do tribunal nâo<br />

permilliu que se expandissem.<br />

A sabida, porém, dos srs. Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho e Abilio Roque manifestouse<br />

a numerosa concorrência, recebendo<br />

com prolongadas salvas <strong>de</strong> palmas e muitos<br />

vivas os honrados e honestos cidadãos,<br />

que mais uma vez conheceram a gran<strong>de</strong><br />

sympathia e elevada consi<strong>de</strong>ração que ao<br />

povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> merecem.<br />

Mais talvez <strong>de</strong> quinhentas pessoas<br />

das que assistiram ao julgamento, acompanharam<br />

os srs. Martins <strong>de</strong> Carvalho e<br />

Abilio Roque, á redacção do Conimbricense,<br />

dando-lhes continuamente um gran<strong>de</strong><br />

testemunho <strong>de</strong> apreço.<br />

Os venerandos liber.ies agra<strong>de</strong>ceram<br />

as manifestações do publico levantando<br />

vivas ao povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e as classes<br />

trabalhadoras, que foram vivamente correspondidos.<br />

O sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho, jornalista<br />

austero, que tem combatido valentemente<br />

ha quarenta e seis annos nas columnas<br />

do seu jornal lodos os abusos e as mais<br />

<strong>de</strong>gradantes patifarias, interessando-semuito<br />

especialmente pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

industrial e artístico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, recebeu<br />

neste julgamento unia brilhante consagração<br />

publica do seu caracter honesto<br />

e das suas altas virtu<strong>de</strong>s cívicas.<br />

Mais papel<br />

O Banco <strong>de</strong> Porlugal vae ser auctorisado<br />

a ampliar a emissão liduciaria,<br />

elevando-se <strong>de</strong> quarenta e oito mil a<br />

cincoenta e seis mil contos.<br />

O que significa mais uma invasão <strong>de</strong><br />

oito mil contos <strong>de</strong> papellinhos.<br />

E venha o resto !<br />

Com esta invasão <strong>de</strong> papel é que se<br />

ha <strong>de</strong> salvar o paiz I<br />

A lama do Panamá<br />

Paris, 20 t.—Foram hoje apresentados<br />

á camara pedidos <strong>de</strong> auctorisação<br />

para se proce<strong>de</strong>r judicialmente contra<br />

cinco <strong>de</strong>putados, que são os srs. Rouvier,<br />

Julio Roche, Manuel Arène, Antonio Prost<br />

e Dugué <strong>de</strong> la Fauconnerie. Ao senado<br />

foram feitos eguaes pedidos contra cinco<br />

senadores, os srs. Leon Renault, Alberto<br />

Grévy, Béral, Theveuot e Devès,<br />

O Figaro assegura que em consequência<br />

das buscas passadas nos escriptorios<br />

do Banco Franco-Egypcio, o juiz <strong>de</strong> instrucção<br />

colheu indicações precisas que<br />

estabelecera a corrupção <strong>de</strong> vários membros<br />

do paralamento. Os papeis alli<br />

apprenhendidos, /segundo consta ao XIX<br />

Siècle, são os do fallecido Levy Crémineux,<br />

que representou o papel <strong>de</strong> agente<br />

da Companhia do Panamá.<br />

Volta a correr o boato <strong>de</strong> se terem<br />

effectuado novas buscas e prisões importantes.<br />

O barão Cottú, que é administrador<br />

da Companhia do Panamá, e que<br />

estava em Vienna quando o juiz passou<br />

mandado <strong>de</strong> captura contra ellle, regressou<br />

a Paris e loi entregar-se á prisão.<br />

Recenseamento eleitoral<br />

ConviJam-se todos os republicanos<br />

d'este concelho que não estejam<br />

inscriplos no recenseamento<br />

eleitoral e queiram usar do direito<br />

<strong>de</strong> votar, a dar os seus nomes em<br />

qualquer dos estabelecimentos<br />

adiante indicados, a fim da commissão<br />

directora do partido republicano<br />

nesta cida<strong>de</strong> os fazer recensear:<br />

Redacção do Defensor do Povo;<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Manoel Augusto<br />

da Silva, rua dos Sapateiros;<br />

Typographia Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Luiz<br />

Cardoso, rua da Sophia;<br />

Drogaria Rodrigues da Silva,<br />

rua Ferreira Borges;<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Serio Veiga,<br />

rua da Sophia; e<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> João Alves,<br />

Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />

*<br />

Todo o cidadão portuguez,<br />

maior <strong>de</strong> 21 annos, ou legalmente<br />

emancipado, que saiba ler e escrever,<br />

ou seja chefe <strong>de</strong> familia, ou<br />

lenha o censo eleitoral po<strong>de</strong> ser<br />

inscripto no recenseamento.<br />

E consi<strong>de</strong>rado chefe <strong>de</strong> familia,<br />

para os effeitos eleitoraes, o cidadão<br />

que ha mais <strong>de</strong> um anno viva em<br />

commum com qualquer seu ascen<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, lio, irmão ou<br />

sobrinho, ou com sua mulher e<br />

prover aos encargos da familia.<br />

São consi<strong>de</strong>rados como lendo<br />

o censo eleitoral—os que forem<br />

colleclados no corrente anno em<br />

1$000 réis <strong>de</strong> contribuição industrial<br />

ou <strong>de</strong> qualquer outra contribuição<br />

directa.<br />

Para todo e qualquer esclarecimento<br />

po<strong>de</strong>m dirigir-se ao escriplorio<br />

do sr. dr. Eduardo Vieira,<br />

rua da Sophia.<br />

»& <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1§9Í<br />

EM SURDINA<br />

Já sabem que o Tê-<strong>de</strong>-bê,<br />

um dos bons republicanos,<br />

não quer que eu diga a quem lê,<br />

que ha dias fizera annos ?<br />

Tal pedido não assigna<br />

qiibin tem <strong>de</strong> que se queixar...<br />

Saibam todos que o sovina<br />

não me quiz dar <strong>de</strong> jantar!<br />

Fez annos! Mas não diz quantos 1<br />

Eu aqui estou p'ro dizer:<br />

passa já <strong>de</strong> trinta — e tantos!!!<br />

E' verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m crer.<br />

Se julgam p'ra ahi que o Brito,<br />

'stá novo — uma illusão!<br />

é no corpo — pequenito;<br />

na eda<strong>de</strong> — um latagão I...<br />

Novo collega<br />

PINTA-ROXA.<br />

Começa no dia 1 do proximo mez <strong>de</strong><br />

janeiro a publicar-se em Lisboa um novo<br />

collega intitulado O Combale, que será<br />

completamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

A crise<br />

Está <strong>de</strong>finitivamente resolvida a sabida<br />

do bispo <strong>de</strong> Bethsaida.<br />

Não se sabe porem se a crise se limitará<br />

a este ministro ou se irão mais<br />

alguns na enxurrada.<br />

Parece porem que a pasta dos estrangeiros<br />

será gerida interinamente pelo sr.<br />

Ferreira do Amaral.<br />

Contra a vereação<br />

<strong>de</strong> Lisboa<br />

Consta ao correspon<strong>de</strong>nte do Commercio<br />

do Porto que o governo eslá disposto<br />

a impôr aos camaristas que abandonarem<br />

os logares a multa que a lei <strong>de</strong>termina<br />

para os que se recusam a exercer<br />

esses logares, chamando em seguida<br />

os substitutos e impoudo-lhes a mesma<br />

multa, no caso d'elles seguirem os passos<br />

dos effedivos. Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assim<br />

proce<strong>de</strong>r, é que nomeará a commissão<br />

execuliva para substituir a vereação.<br />

DE LANÇA EM RISTE<br />

A' bofa çra que escrevo ainda não<br />

posso dizer o resultado da policia correccional<br />

que as justiças instauraram contra<br />

o sr. Abilio Roque <strong>de</strong> Sá Barreto e sr.<br />

Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho.<br />

O que sei é que as tropas vão estar<br />

<strong>de</strong> prevenção e a policia preparada e<br />

equipada para a manutenção da coisa publica.<br />

Isto é da praxe, da or<strong>de</strong>m e da<br />

Carta.<br />

Tem por dizer: quem dá o pão dá o<br />

ensino; mas o caso é que eiles tiram-nos<br />

o pão e e-pancam-nos se reagimos.<br />

Uma coinci<strong>de</strong>ueia neste periodo <strong>de</strong><br />

ferias do Natal: fecha o tribunal pelo<br />

julgameuto do sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />

em 24; e abre no dia 7 <strong>de</strong> janeiro com<br />

o julgamento do sr. dr. Fernando Martins<br />

<strong>de</strong> Carvalho, neto <strong>de</strong> venerando jornalista.<br />

Quem tiver conhecimento dos dois<br />

processos que diga se nào são duas arbitrarieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m !<br />

Que bem sabeis vós que o da Junta<br />

do Porto, o d'Évora, o do banco do Povo,<br />

os do banco Lusitano, os dos bonds<br />

Ilersent, o dos 5:000 contos dos cofres<br />

públicos...<br />

Que até consola viver nesta socieda<strong>de</strong><br />

e ter instituições <strong>de</strong> tal feitio I<br />

Se não fosse a sisania que lavra entre<br />

o grupo governamental, que os vae<br />

aquecendo em enfhusiasrao para cada um<br />

mostrar a sua importancia junto do sr.<br />

José Dias, a estas horas não teria o<br />

appettiioso espectáculo que d'aqui estou<br />

presenciando.<br />

O baluarte a vencer é a escolha da<br />

commissão districtal; o pae dos pobres e<br />

a sua troupe, querem uns ; o pae dos ricos<br />

e»a sua tropa fandanga, querem outros.<br />

E neste esgadanliar furioso andam os<br />

Jaquetas, <strong>de</strong> Lisboa para <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> para Lisboa, a fallar com o sr.<br />

José Dias, a conferenciar cora o sr. José<br />

Dias, em audiências com o sr. José<br />

Dias... A que chegou o sr. José Dias 1 ! |<br />

Seria ridículo e comico, se não fos-


AX\4> I — 46 O DEFEXSOR BO FOTO <strong>35</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />

sem immoraes todas estas scenas, o vermos<br />

para ahi meia dúzia <strong>de</strong> insignificantes<br />

e <strong>de</strong> parvalheiras, a tomarem uns<br />

ares...<br />

Que Deus sempre <strong>de</strong>ilou ao mundo<br />

muilo lortulho!<br />

*<br />

Não sei agora aqui dizer em que jornal<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> eu li islo pouco mais ou<br />

menos: que o sr. Dias Ferreira foi crear<br />

em Lisboa um posto medico anti-rabico,<br />

não se lembrando d'esti cida<strong>de</strong>, que fica<br />

no centro do paiz, e on<strong>de</strong> ha a Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Medicina com um gabinete <strong>de</strong> bactereologia.<br />

E termina por estas palavras<br />

que bem fixei: o sr. Dias Ferreira é<br />

muilo amigo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que o<br />

creou.<br />

Cabe aqui contar: O referido senhor<br />

andou a .estudar em <strong>Coimbra</strong>; como fosse<br />

pobre, o que não é <strong>de</strong>shonra, a Philantropico-aca<strong>de</strong>mica<br />

soccorreu-o. Elle trabalhava<br />

e pelas suas economias chegou<br />

a juntar para uma corrente d'ouro. Observando-lhe<br />

um companheiro por qoe a<br />

não usava, respon<strong>de</strong>u: — não que a philantropica<br />

po<strong>de</strong>-me suspen<strong>de</strong>r a mezada!<br />

Islo como veem só revela precaução,<br />

manha, porém, o facto do anno passado<br />

dissolver o Club Académico, que<br />

mais ou menos linha relação com a plii•<br />

lantropica, revela ingratidão — e bem<br />

feia 1<br />

Que admira pois que o sr. Dias Ferreira<br />

se não lembre <strong>de</strong> quem o creou,<br />

se tão boa paga <strong>de</strong>u a quem o ambientou?<br />

I<br />

*<br />

Com a <strong>de</strong>vida vénia do Tê<strong>de</strong>dé, eu<br />

passo a usurpar-lhe os direitos da sua<br />

secção, recortando para aqui um bocadinho<br />

<strong>de</strong> prosa da Reforma, acerca do caso<br />

<strong>de</strong> Panamá.<br />

Porque muitos meus amigos que acompanham<br />

por interesse e especulação a politica<br />

dominante, galhofaram e haleram<br />

palmas quando viram annunciado o gran<strong>de</strong><br />

escandalo, dizendo que não só em<br />

Portugal, monarchico, havia ladrões; mas<br />

que a França, republicana, lambem os<br />

linha. E apontavam-me o caso, a esfregarem<br />

as mãos.<br />

Ora os patriotas que leiam isso:<br />

«Aos srs. Carlos <strong>de</strong> Lesseps, Fontanes<br />

e Sans-Leroy, os indivíduos presos<br />

no dia 19 em Paris, negou-se-ihes a<br />

permissão <strong>de</strong> irem para a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Mazas em carruagens suas ou <strong>de</strong> aluguel.<br />

«Todos tres foram ahi conduzidos<br />

em carro cellular, vulgarmente chamado<br />

panier d sata<strong>de</strong>.<br />

«Na prisão, applicou-se-lhes o regulamento<br />

com toda a severida<strong>de</strong>.<br />

«Teem, portanto, <strong>de</strong> varrer as suas<br />

cellulas como os outros presos, <strong>de</strong> fazer<br />

as camas, e só po<strong>de</strong>m passeiar nos<br />

paleos uma hora por dia, separadamente.»<br />

E <strong>de</strong> entupir. Que elles bem veem,<br />

os navarros, os marianos, os foz, os cortezes,<br />

o tal da junta do Porlo, da thesouraria<br />

d'Evora, do banco do Povo, do<br />

banco Lusitano, etc., etc., ele.<br />

Uma caterva <strong>de</strong> cavalheiros <strong>de</strong> industria<br />

que anda á solta I<br />

E são capazes <strong>de</strong> não corar—os taes<br />

meus amigos 1<br />

*<br />

Tenho cá estado a parafusar nesta<br />

cousa dos Jaquetas andarem a ferro e<br />

fogo por causa <strong>de</strong> quem ha <strong>de</strong> ficar na<br />

commissão districtal.<br />

Porque o facto explicava-se entre dois<br />

partidos oppostos, mas assim, entre familia,<br />

da mesma côr, das mesmas crenças...<br />

Que elles vêm na constituição da<br />

tal commissão districtal por on<strong>de</strong> se fure<br />

e por on<strong>de</strong> se governem—'não restam<br />

duvidas.<br />

*<br />

Não sei com que verda<strong>de</strong> se diz que<br />

o sr. dr. Agostinho Ribeiro Guimarães,<br />

cirurgião ajudante do 23, esta con<strong>de</strong>mnado<br />

pela politica dos Jaquetas, com esta<br />

nota no livro negro: — Fóra I<br />

Não gostaram elles da sua isenção<br />

nas eleições, e muilo menos da sua altitu<strong>de</strong><br />

imparcial no serviço das inspecções<br />

<strong>de</strong> recrulaá. Quem serve, serve !<br />

Ora os compromissos que se tomaram<br />

no periodo eleitoral são gran<strong>de</strong>s e os<br />

rapazes não hão <strong>de</strong> ir para casa, a choramingar,<br />

dizendo ao pae que foram<br />

apurados. O que não diriam as paternida<strong>de</strong>s<br />

d'estas redon<strong>de</strong>zas, do pae dos pobres,<br />

e dos outros pobres diabos I.. .<br />

Depois, se chamo a isto—choldra<br />

sou má lingua!<br />

Muito custa a vida a quem não po<strong>de</strong><br />

tolerar patifarias,!<br />

Magriço.<br />

CHRONICA D A. INVICTA<br />

Bispo sabido, banqueiro roubado<br />

A' falta <strong>de</strong> assumpto <strong>de</strong> maior importância,<br />

fallou-se esta semana na sabida<br />

do sr. bispo do gabinete ministerial.<br />

Cuslou-llie a sahir... mas sahiu,<br />

afinal, <strong>de</strong>smentindo reverenda e categoricamente<br />

o irrevogável do sr. Arroyo,<br />

<strong>de</strong> saudosa memoria !<br />

A cólunina da egreja tremeu ; o edifício<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabar no charco das nullida<strong>de</strong>s<br />

officiaes.<br />

A apregoada moralida<strong>de</strong> vae-se revelando<br />

dia a dia ; os processos monarchicos<br />

apparecem agora bem patentes,<br />

bem claros; c as boas intenções dos governantes<br />

manifestam-se avolumando escândalos,<br />

e <strong>de</strong>spenhando bispos na lama<br />

da chantaz.<br />

O sr. Ayres <strong>de</strong> Gouveia sae... porque<br />

é impossível sustentar-se mais no<br />

logar que lhe confiaram Ião levianamente.<br />

A opinião publica escorraça-o; a<br />

imprensa honesta (tão rara !) fulmina-o ;<br />

os seus proprios actos o esmagam, arrastando<br />

prelado e ministro na mesma vasa<br />

Lmmunda.<br />

Creio que os seus collegas, contami-<br />

nados já, sahirão um por um, sem credito,<br />

sem applausos, vergonhosamente.<br />

Ficará, talvez, sósinho — reunindo<br />

todas as pastas (e distribuiu do todas as<br />

postas...) o sr. Dias Ferreira—como<br />

imagem fi<strong>de</strong>líssima do cynismo — para<br />

excelsa gloria dos aulicos do intere-sante<br />

systema azul e branco.<br />

—Só, manejando o po<strong>de</strong>r á sua vonta<strong>de</strong>,<br />

dominando o rei e esmagando o<br />

paiz, terá sua ex. a realisado o seu mais<br />

ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejo I<br />

Se nascesse em terra <strong>de</strong> cafres, e a<br />

boa fortuna o elevasse a chefe <strong>de</strong> tribu<br />

selvagem — seria ha muito o sr. José<br />

Dias o vêsgo mais feliz d'esle mundo 1<br />

s * *<br />

Precisamente no dia em que se espalhava<br />

a noticia da sahida do sr. bispo<br />

(heroe testamenteiro... que já ha muito<br />

andava sahido) — enconlrou-se roubado<br />

o banqueiro sr. Pinto da Fonseca na<br />

bonita somma <strong>de</strong> 5:500 libras.<br />

Coincidências !<br />

Fra-Diavolo.<br />

22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Protestos<br />

das camaras municipaes<br />

Na reunião da camara municipal <strong>de</strong><br />

Lisboa compareceram todos os vereadores<br />

elfectivos. O presi<strong>de</strong>nte historiou o<br />

que se tem passado: o <strong>de</strong>creto, a representação,<br />

a resposta do chefe do Estado,<br />

etc.<br />

Em seguida tendo verificado por uma<br />

votação unanime que a assembleia approvava<br />

o procedimento da commissão<br />

municipal, o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>clarou que em<br />

seu nome e no dos seus collegas dava<br />

a <strong>de</strong>missão dos logares que occupavam<br />

naquella commissão.<br />

O dr. Lopes Vieira apresentou em<br />

seguida a seguinte moção que foi approvada<br />

por unanimida<strong>de</strong>:<br />

«A camara municipal <strong>de</strong> Lisboa, approvando<br />

plenamente a hombrida<strong>de</strong> e<br />

energia com que a sua commissão municipal<br />

protestou contra a absorpção das<br />

prerogalívas concelhias, <strong>de</strong>libera não acceitar<br />

a <strong>de</strong>missão pedida e roga aos<br />

vogaes da commissão que se conservem<br />

nos seus logares até que os po<strong>de</strong>res públicos<br />

resolvam sobre o assumpto o que<br />

tiver por conveniente.»<br />

* A camara municipal <strong>de</strong> Gouveia,<br />

vae reunir em sessão extraordinaria, para<br />

se resolver sobre o que lhe cumpre fazer,<br />

em vista das disposições do celebre <strong>de</strong>creto<br />

relativo ás obras publicas muuicipaes.<br />

* As camaras municipaes <strong>de</strong> Santarém,<br />

Agueda e Ceia, vão também protestar<br />

contra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

* A camara <strong>de</strong> Vianna vae representar<br />

contra a reforma das obras publicas.<br />

* A commissão municipal <strong>de</strong> Guimarães<br />

pediu a convocação da camara<br />

para representar contra a reforma das<br />

obras publicas. A representação é respeitosa,<br />

mas energica. Consta que outras<br />

camaras a acompanharão.<br />

* A camara municipal <strong>de</strong> Ponte do<br />

Lima vae representar ao governo contra<br />

o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

* A camara municipal <strong>de</strong> Grandola<br />

lambem resolveu protestar contra o <strong>de</strong>creto<br />

do governo, no que diz respeito<br />

aos municípios.<br />

# A camara municipal <strong>de</strong> Benavente<br />

lambem <strong>de</strong>liberou protestar energicamente<br />

conlra a passagem para o governo<br />

das obra municipaes.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

As f«i(»R do Natal — á carida<strong>de</strong><br />

publica<br />

E' boa occasião para nos dirigirmos<br />

aos benemeritos e aos philantropicos,<br />

homens <strong>de</strong> coração, para quem a carida<strong>de</strong><br />

não é nome <strong>de</strong>sconhecido.<br />

Estamos no Natal, em plena festa e<br />

em pleno inverno. Têm os ricos e os remediados<br />

a sua lareira fumegante e meza<br />

cheia, alegria no lar, festejando-se<br />

nelle o anniversario do bom Jesus, o<br />

gran<strong>de</strong> homem-martyr que protegeu os<br />

pobres e amparou os <strong>de</strong>svalidos.<br />

Outro tanto uão succe<strong>de</strong> á pobreza ;<br />

ao operário, seiu trabalho, ao artista enfermo,<br />

á viuva ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> li lhos a tantos<br />

e tantos miseros a quem a fome victima<br />

e o frio regela. Para esses não ha<br />

festas,; lia só a privação.<br />

São estes infelizes que nós vimos<br />

lembrar e para elles chamamos a attenção<br />

das boas almas que sabem cumprir os<br />

preceitos da carida<strong>de</strong>, pedindo-lhe se não<br />

esqueçam <strong>de</strong> que ha muita lagrima a enxugar;<br />

muita nu<strong>de</strong>z a cobrir.<br />

*<br />

Merecem-nos menção especial dois<br />

homens laboriosos, a quem a doença invalidou<br />

para o trabalho: o


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<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

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a quem os pedir.<br />

Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />

todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />

Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />

700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />

Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> asíignante.<br />

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<strong>de</strong> 50 %<br />

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67<br />

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resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />

AO PUBLICO<br />

Oeclaro para os <strong>de</strong>vidos effei-<br />

61<br />

tos, que o sr. Antonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />

n. 08 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892<br />

Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />

Novo estabelecimento<br />

pg & ntonio Paulo «^Oliveira,<br />

' M ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />

Santos Apostolo Júnior, participa ao illustrado<br />

publico conimbricense que vae<br />

abrir um estabelecimento egual ao do<br />

seu ex-palrão, na rua do Sargento Mór,<br />

n. os 1, 3 e 5.<br />

JULIÃO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />

o seu- antigo estabelecimento<br />

| concertani-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />

:<br />

Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1$500<br />

Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />

para coberturas baratas. Garante se<br />

a perfeição do trabalho encommendado<br />

nesta casa.<br />

VENDA DE CASA<br />

„„ en<strong>de</strong>-se uma sita na Couraça<br />

08 » dos Apóstolos, n.° 66. Para<br />

tratar com José Simões, largo do Castello.<br />

Juizo <strong>de</strong> Direito da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

ABBEHATAÇiO<br />

(2.° annuncio)<br />

68<br />

KV o dia S5 do corrente, pei^l<br />

las 11 horas da manhã, á<br />

porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça d'esta cida<strong>de</strong><br />

voltam pela segunda vez á praça,<br />

por meta<strong>de</strong> do seu valor e para serem<br />

entregues a quem maior lanço oITerecer,<br />

os prédios abaixo indicados, situados na<br />

freguezia <strong>de</strong> Sernache e penhorados pela<br />

execução <strong>de</strong> sentença commercial que<br />

José Alves d'Oliveira, casado, proprietário,<br />

<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa-a-Nova, move contra<br />

José Augusto d'Oiiveira e mulher Maria<br />

<strong>de</strong> Jesus Pimenta, proprietários, moradores<br />

em Villa Nova <strong>de</strong> Sernache:<br />

Uma morada <strong>de</strong> casas terreas, sitas<br />

no logar <strong>de</strong> Villa Nova, no valor <strong>de</strong><br />

18/000 réis;<br />

tJma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio das<br />

Marinheiras, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />

valor <strong>de</strong> 15/000 réis;<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio da<br />

Moita Santa, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />

valor <strong>de</strong> 7/000 réis;<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura com agua<br />

<strong>de</strong> rega no sitio da Belva, limite <strong>de</strong> Villa<br />

Nova, no valor <strong>de</strong> <strong>35</strong>/000 réis;<br />

Uma terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega no<br />

sitio da Moiteira, limite <strong>de</strong> Casconha,<br />

no valor <strong>de</strong> 7/500 réis.<br />

Pelo presente são citadas quaesquer<br />

pessoas que se julguem com direito aos<br />

<strong>de</strong>scriptos prédios ou ao seu producto<br />

para que o venham <strong>de</strong>duzir no praso<br />

legal.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

Verifiquei a exactidão.<br />

O Juiz <strong>de</strong> Direito,<br />

Queiroz.<br />

Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />

O escrivão,<br />

José Lourenço da Costa.<br />

40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />

e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

José da Costa Soares, á<br />

rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />

fasquia para tabiques e estuques<br />

a 7$000 réis o milheiro.<br />

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14, Largo <strong>de</strong>nunciada, 16—LISBOA - Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

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MIO JOSÉ BB MOURA BASTO—RUA BOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />

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Q ^P Inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como falo<br />

1 feito ou <strong>de</strong>smanehado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> homem,<br />

vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

Tintas p;u'a escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />

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pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia líosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />

<strong>Coimbra</strong>T Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />

61, 65.<br />

JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />

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Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />

PREGOS SEM COMPETIDOR<br />

E M P E E f i â D O<br />

dmitte-se um com habilita-<br />

69<br />

ções <strong>de</strong> mercearia e tabacos.<br />

Nesta redacção se diz.<br />

CASA DE PENHORES<br />

NA<br />

CHAPELERIA CENTRAL<br />

„„ jst mpresta-se dinheiro sobre<br />

JU dbjectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

Juro modico, como po<strong>de</strong>m experimentar.<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno. 21703<br />

Semestre.... 1$<strong>35</strong>0<br />

Trimestiô... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2MOO<br />

Semestre.... ÍJ200<br />

Trimestre... 600<br />

I mpresso aa Typographia<br />

Operaria — Largo da Freiria n."<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


Os novos impostos<br />

Apesar do injustificável mutismo<br />

que o sr. ministro da fazenda<br />

se eslá permillindo acerca dos seus<br />

planos financeiros, teem corrido<br />

mundo boatos alarmantes que vão<br />

provocando por toda a parte do<br />

nosso paiz uma juslificadissima<br />

reacção, que cada vez se accentuará<br />

mais — diz-se que uma das medidas<br />

que o sr. ministro da fazenda<br />

vae tomar, i<strong>de</strong>ia luminosa do seu<br />

potenle cerebro <strong>de</strong> reformador e <strong>de</strong><br />

estadista, consiste em augmentar os<br />

impostos...<br />

E' difficil <strong>de</strong> acreditar que tal<br />

succeda; parece incrivel que o sr.<br />

Dias Ferreira, que pela sua longa<br />

vida publica ha muitos annos sabe<br />

já qual o miserando eslado do nosso<br />

povo, <strong>de</strong>vendo conhecer perfeitamente<br />

as misérrimas condições em<br />

que nos <strong>de</strong>batemos, <strong>de</strong>ixe que por<br />

um momento germine no seu espirito<br />

tão <strong>de</strong>sastrada i<strong>de</strong>ia. Mas não<br />

nos é licito duvidar; jornaes affectos<br />

á situação actual não o escon<strong>de</strong>m,<br />

antes avisam o sr. ministro do caminho<br />

errado que segue, nem é <strong>de</strong><br />

mol<strong>de</strong> a apagar as nossas justificadíssimas<br />

apprehensões o inqualificável<br />

silencio dos jornaes ministeriaes,<br />

orgãos do sr. Dias Ferreira,<br />

ás perguntas que a imprensa diariamente<br />

lhe dirige a esle respeito.<br />

Augmentar nesta angustiosíssima<br />

situação do nosso paiz <strong>de</strong>pauperado<br />

os impostos que já lanlo<br />

oneram e esmagam o povo, mais do<br />

que um <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> boa administração—é<br />

um facto criminoso e altamente<br />

con<strong>de</strong>mnavel; augmentar os<br />

impostos, que vão sugar ao pobre<br />

a ultima gotla <strong>de</strong> sangue, transudada<br />

num trabalho Ímprobo, havendo<br />

por esse paiz fora centenas<br />

<strong>de</strong> ricos, que <strong>de</strong>vem á^ fazenda centenas<br />

<strong>de</strong> contos—é um vilipendio;<br />

augmentar a tribulação quando Ioda<br />

a matéria colleclavel eslá sobrecarregada<br />

alé ao ultimo extremo, quando<br />

o trabalho falta, os capitaes se<br />

retrahem, a vida economica se paralysa,<br />

quando a proprieda<strong>de</strong> geme<br />

assoberbada por multíplices colleclas<br />

iníquas —é uma acção vergonhosa.<br />

Comparada com esta só conheço<br />

a do bandido cruel, que numa<br />

encrusilhada alaca um mendigo<br />

inerme para lhe arrebatar da sacola<br />

exhausla o ullimo pedaço <strong>de</strong> pão.<br />

Repare o sr. ministro da fazenda,<br />

que governar nas circumslancias<br />

penosas etn que nos encontramos,<br />

empobrecidos, <strong>de</strong>fraudados,<br />

sem um ceilil e sem credito, se não<br />

po<strong>de</strong> conseguir nem conlrahindo<br />

emprestimos nem augmenlando impostos.<br />

E não foi para islo que<br />

s. ex. a se guindou ás ca<strong>de</strong>iras do<br />

po<strong>de</strong>r, numa hora, que se nos afigura<br />

faial, do favor popular.<br />

Mas o sr. Dias Ferreira é um<br />

<strong>de</strong>sastre vivo. O mirífico programma<br />

<strong>de</strong> governo, que o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho <strong>de</strong>senrolou perante as<br />

duas casas do parlamento, ha apenas<br />

doze mezes incompletos, com<br />

a austerida<strong>de</strong> solemne das gran<strong>de</strong>s<br />

oceasiões e com a firmeza energica<br />


AXKO I — 4 9 O DEFENSOR DO POVO 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> ÍSOS<br />

C R Y S T A IEJS<br />

ROSICLER<br />

Eu sinto que os teus- olhos,, minha doce amada,<br />

pousando sobre mim são como a alvorada<br />

esplendida que brilha nas regiões do poio;<br />

infiltram na minha alma um cálido consolo,<br />

emanações subtis <strong>de</strong> aromas virginaes.. .<br />

São como duas pombas, brancas, muito eguaes,<br />

que trazem ao mau peito o ramo d'oliveira,<br />

nuncias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> paz na minha vida inteira;<br />

e a minha alma, em sorrisos, dá-lhes o agasalho<br />

que as pétalas dos lyrios dão também ao orvalho,<br />

que <strong>de</strong>sce e as vem beijar nos cálices <strong>de</strong> neve.<br />

Demora sobre mim o teu olhar, tão leve<br />

como a nuvem subtil <strong>de</strong> fumo que se esvae.. .<br />

Ha um fluido d'amor, magnético, que attrahe<br />

as almas como as nossas, que confun<strong>de</strong> os sábios;<br />

por isso <strong>de</strong>ixa-me ir beber sobre os teus lábios,<br />

na doce confusão dos nossos dois olhares,<br />

esse filtro subtil que anda pelos ares,<br />

que enche o coração das aves e das flores,<br />

o fluido que irradia lúbricos amores<br />

na natureza inteira — o fluido dos <strong>de</strong>sejos;<br />

e as nossas almas, numa confusão <strong>de</strong> beijos,<br />

vôem serenamente pelos ares fóra,<br />

banhadas pelo effluvio d'uma eterna aurora.. .<br />

LETTRAS<br />

Uma historia<br />

Sobre a encosta do monte ficava o<br />

alegre casal do Carvalhão. Esta vivenda<br />

respirava franqueza e alegria, e dos ramos<br />

frondosos das arvores e das hastes<br />

flexíveis das trepa<strong>de</strong>iras como que se<br />

escoavam para o ambiente aromas incessantes<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e bem estar.<br />

É que o tio Antonio do Couto fôra<br />

sempre trabalhador e honra'do, e por isso<br />

vivia tranquillo e satisfeito entre a mediania<br />

da sua casa e a estima dos seus<br />

visinhos. Para esta felicida<strong>de</strong> concorria<br />

também, e muito principalmente, a sua<br />

filha, a Elisa. E orgulhava-se d'ella, o<br />

bom do velho !<br />

Na verda<strong>de</strong>, dizia-se por toda a parte<br />

que naquelles arredores não havia cara<br />

tao risonha <strong>de</strong> frescura e <strong>de</strong> belleza. E<br />

por isso o pae se revia nella como um<br />

apaixonado se rtveria numa planta preciosa<br />

e rara, que a muito custo conservasse<br />

numa estufa.<br />

A Elisita tinha 18 annos Um bom<br />

rapaz d'alli, o Antonio da Coutada, valente<br />

como um touro e bom como um<br />

cor<strong>de</strong>iro, couversava-a então. Estimavam-se<br />

ambos, e elle um dia disse ao<br />

pae da Eli-a, com a franqueza generosa<br />

e aberta d'uín homem honrado:<br />

— Sr. Antonio, vou lallar-lbc, com a<br />

Iranqueza d'um homem <strong>de</strong> bem. Ha tempo<br />

ja que eu sinto por sua filha uma<br />

amisa<strong>de</strong> bem sincera, como se eu fosse<br />

da familia, e tanto eu como ella estimamo-nos<br />

intimamente. Como sabe, sr. Antonio,<br />

eu uão possuo manadas nem quintas,<br />

mas tenho uma junta <strong>de</strong> bois, um<br />

carro e um arado, estes braços vigorosos<br />

e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Assim, sr. Antonio<br />

do Couto, venho pedir-lhe que dê<br />

licença a sua filha paia nos casarmos.<br />

— Diabo, rapaz ; isto não se faz assim<br />

do pe para a mão. Preciso fallar<br />

com a rapariga, e <strong>de</strong>pois... ella está<br />

tão nova.. . Emfim, tu és bom rapaz e<br />

trabalhador, e, se ella quizer, não me<br />

opporei. Eu também comecei como tu,<br />

e, bem vês, hoje pertencem-me este casal,<br />

estes campos, estas arvores. Portanto,<br />

se trabalhares, ainda po<strong>de</strong>s ajuntar<br />

mais. Eu fadarei com a pequena, e<br />

como ella resolver te darei a resposta.<br />

Passados dias já corria pela al<strong>de</strong>ia<br />

que o Antonio da Coutada era o noivo<br />

da Elisa do Carvalhão, e que o casamento<br />

se realisaria pelas ceifas.<br />

*<br />

Abril; dia glorioso <strong>de</strong> sol esplendido;<br />

no azul puríssimo do ceu não se percebia<br />

a nodoa d'uma nuvem. A al<strong>de</strong>ia<br />

estava em festa. Ouviam-se por toda a<br />

parte <strong>de</strong>scantes e gargalhadas, violas e<br />

guitarra^. A multidão risonha e festiva<br />

agglomerava-se principalmente em diversos<br />

pontos, on<strong>de</strong> sobresahia o vulto<br />

negro mas aprasivel d'uma pipa <strong>de</strong> carrascão<br />

a 30 réis o quartilho. E todos<br />

aquelles rapazes, ar<strong>de</strong>ntes e enthusiasmados,<br />

num gran<strong>de</strong> ruido <strong>de</strong> risos e <strong>de</strong><br />

alegria, soltavam pelos ares, resoantes<br />

Franco Ascot.<br />

<strong>de</strong> cantigas e <strong>de</strong> animação, as gargalhadas<br />

expansivas dos seus espíritos alegres.<br />

Era d'uma miscellanea piltoresca aquelle<br />

brouhaha <strong>de</strong> festa. Entre os sons agudos<br />

dos pifaros e da gaita-<strong>de</strong>-folles' distinguia-se<br />

o som baixo, profumfò do bombo,<br />

as notas alegres do tambor, e, harmoniosamente,<br />

as nolas <strong>de</strong>licadas e sentidas<br />

das violas e das guitarras, que soltavam,<br />

ca<strong>de</strong>nciadas, o gemer d'um fado <strong>de</strong>dilhado<br />

por um rapagão robusto, <strong>de</strong> cacete<br />

<strong>de</strong>baixo do braço, emquanto, ao lado, o<br />

acompanhava a voz sonora d'um romeiro,<br />

chapéu para a nuca, lenço encarnado<br />

alado ao pescoço, collete aberto, cinta<br />

encarnada, calça clara e sapatos brancos,<br />

e flexível vara <strong>de</strong> marmelleiro na mão<br />

callosa e larga. E d envolla com tudo<br />

islo uma nuvem <strong>de</strong> poeira e uma torrente<br />

<strong>de</strong> sol.<br />

Proximo d'uma roda <strong>de</strong> dança estavam<br />

a Elisa e o pae, acompanhados do<br />

Antonio da Coutada e alguns visinhos.<br />

Conversavam sobre a belleza da festa,<br />

commentavam a nomeação dos novos<br />

mordomos para o anno seguinte, que<br />

promettiam fazel-a melhor, e afinal <strong>de</strong>scahia<br />

a conversa sobre o milho que <strong>de</strong>spontava,<br />

na ultima geada que queimara<br />

os pomares e na abundancia da próxima<br />

colheita.<br />

Passado pouco tempo chegou o morgado<br />

da Sobereira montado num cavallo<br />

novo e valente, que um creado pren<strong>de</strong>u<br />

a uma oliveira. Apenas chegou dirigiu-se<br />

logo para o Antonio do Carvalhão, cumprimentando<br />

sobranceiramente os camponezes<br />

que se <strong>de</strong>sbarretavam.<br />

Era alto e hercúleo o morgado. Os<br />

olhos pretos, escondidos quasi sob as<br />

sobrancelhas espessas, <strong>de</strong>spediam muitas<br />

vezes olhares duros e imperiosos. Era<br />

respeitado por todos, mais por medo que<br />

por estima.<br />

Acompanhou durante toda a tar<strong>de</strong> a<br />

Elisa e o pae, e frequentes vezes fez<br />

corar a Elisita com cumprimentos e sorrisos,<br />

ralando <strong>de</strong> raiva o noivo que os<br />

não perdia <strong>de</strong> vista. A' tar<strong>de</strong> acompanhou-os<br />

a casa.<br />

Bem sabia o morgado que o casamento<br />

eslava projectado; mas lembrarase<br />

um dia <strong>de</strong> aspirar a fragrancia da<br />

formosura <strong>de</strong> Elisa, e esforçava-se por o<br />

conseguir.<br />

As suas visitas ao casal do Carvalhão<br />

repetiam-se a miúdo. Ja se murmurava<br />

na al<strong>de</strong>ia, e, apesar dos protestos<br />

da sua noiva, o Antonio da Coutada<br />

andava sombrio e apprehensivo.<br />

A noite <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio apresentou-se<br />

tenebrosamente escura. No firmamento<br />

opaco e entenebrecido, não scinlillava<br />

uma estrella, e <strong>de</strong> vez em quando um<br />

trovão longínquo precedia um relampago<br />

enorme, que num listão <strong>de</strong> fogo atravessava<br />

o espaço. Era uma d'estas noites<br />

que inspiram as scenas sanguinolentas<br />

dos dramas sombrios, noites que nos<br />

trazem á imaginação bandidos e emboscadas,<br />

roubos e assassínios.<br />

Acabavam <strong>de</strong> baler 8 horas na torre<br />

da egreja. Um vulto cautelloso <strong>de</strong>slisou<br />

ao longo da casa do Antonio do Couto,<br />

inlreduziu-se no telheiro on<strong>de</strong> eslava<br />

preso o cavallo do morgado, que nesse<br />

dia alli fora lambem, e chegou-se ao<br />

cavallo que mordia o freio d'impaciencia<br />

Levantou o selim, collocou entre elle e<br />

o dorso do cavallo um ranio <strong>de</strong> tojeiro<br />

secco e resistente, aíivellou as cilhas e<br />

<strong>de</strong>sappareceu cautellosamente.<br />

Passado tempo, quando o morgado<br />

ia para sahir, conduziu á mão para a<br />

rua o cavallo, que <strong>de</strong>sconfiado e tremulo,<br />

respirava com força dilatando as na-,<br />

rinas e filando as orelhas. O morgado<br />

allrihuiu este estado anormal do seu<br />

cavallo ao ruido dos trovões, que cada<br />

vez se approximava mais. Montou; mas<br />

apenas cahiu sohre o sellim, o cavallo,<br />

até alli agitado e nervoso, encahritou-se<br />

<strong>de</strong> repente, e <strong>de</strong>spediu quasi ao mesmo<br />

tempo numa carreira furiosa e tremenda<br />

relinchando <strong>de</strong> dôr. Não obe<strong>de</strong>cia nem á<br />

redia nem á voz do cavalleiro, e em<br />

corcovos rápidos e saltos traiçoeiros tentava<br />

lafiçar fóra do selim o cavalleiro<br />

que o opprimia.<br />

No caminho da quinta da Sobereira,<br />

a quinta do morgado, havia um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />

temeroso, acima do qual passava<br />

a estrada péssima e pedregosa. O<br />

<strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro teria, neste sitio, uns vinte<br />

pas«os <strong>de</strong> largura, e cortava-se abruptamente<br />

em rochas agudas e pedregulhos<br />

enormes. Em menos <strong>de</strong> cinco minutos<br />

chegou alli o cavallo. O estampido medonho<br />

d'um trovão, que semelhava um<br />

<strong>de</strong>rruir <strong>de</strong> montanhas, um cataclysmo<br />

enorme, aterrorisou o animal, que subitamente<br />

se levantou a pino. Para traz<br />

ficava o abysmo negro como aquella noite<br />

<strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>, e cavallo e cavalleiro se<br />

<strong>de</strong>spenharam nelle...<br />

O ruido da queda foi abafado pelo<br />

silvar do vento e o ribombo dos trovões<br />

que se repetiam pelas quebradas, mas á<br />

luz pliosphorecente d'um relampago tremendo<br />

po<strong>de</strong>r-se-hia ver aquella massa<br />

ennovellada mergulhar, precipitada, na<br />

escuridão que se abria...<br />

Na epocha <strong>de</strong>terminada realisou se<br />

o projectado enlace. Da fronte do Autonio<br />

da Coutada nunca se apagou o vinco<br />

que nella se lhe tinha sulcado, como se<br />

uma i<strong>de</strong>ia sombria 0 preoccupasse constantemente.<br />

Sua mulher, a Elisa, como<br />

que adivinhando aquella dôr, nunca lhe<br />

fallou no morgado da Sobereira.<br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

Fernão Silvestre.<br />

O nosso folhetim<br />

Ainda com o intuito <strong>de</strong> nos tornarmos<br />

o mais possível ágradaveis ao publico<br />

que nos lê, resolvemos publicar successivamente<br />

alguns romances.<br />

Para esle fim proce<strong>de</strong>remos á escolha<br />

minuciosa <strong>de</strong> bons livros, que a par d'uma<br />

leiturá interessante pelo enredo e pela<br />

belleza da acção se torne recommendavel<br />

pelo estylo e pela pureza da linguagem;<br />

escrupuloso critério nos guiará na<br />

preferencia <strong>de</strong> bons auclores, tendo sempre<br />

em vista os <strong>de</strong> melhor nome e d'estes<br />

as obras que mais se hannonisem coin<br />

o fim a que nos dirigimos.<br />

Será <strong>de</strong> Mery, o inolvidável romancista<br />

e brilhante estylista francez o primeiro<br />

romance que começaremos a publicar.<br />

Escolhemos d'esie escriplor insigne<br />

a sua bella producção litleraria<br />

A JUDIA ND VATICANO<br />

trabalho primoroso, que a um fino colorido<br />

<strong>de</strong>scriplivo a um encanto <strong>de</strong> linguagem<br />

soberba <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

poesia, allia um gran<strong>de</strong> interesse <strong>de</strong><br />

acção, d'uma simplicida<strong>de</strong> encantadora-.<br />

E' no proximo numero d'este jornal,<br />

no 1.° <strong>de</strong> jaueiro <strong>de</strong> 93, que daremos<br />

o primeiro folhetim <strong>de</strong>ste bello trabalho<br />

lilterario.<br />

Convencidos como estamos da belleza<br />

da obra que vamos publicar, po<strong>de</strong>mos<br />

afSrmar sem receio, que ha <strong>de</strong> ser apreciada<br />

pelos nossos leitores, como ella<br />

realmente merece.<br />

Reforma judicial para<br />

o Ultramar<br />

O sr. ministro da marinha não pou<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cretar em dicl'adura esta reforma, porque<br />

a isso se oppoz o sr. Dias Ferreira.<br />

Parece, pois, que em pouco tempo o<br />

sr. Ferreira do Amaral seguirá o caminho<br />

do bispo <strong>de</strong> Bethesaida.<br />

O sr. presi<strong>de</strong>nte do concelho não<br />

perda occasião que se lhe apresente <strong>de</strong><br />

mostrar aos seus collegas que elle é quem<br />

— todo lo manda,<br />

«Portugal»<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro apparecerá brevemente<br />

um jornal intitulado assim e cuja<br />

publicação será aos sabbados.<br />

Não só o titulo traduz eloquentemente,<br />

que será mais um <strong>de</strong>fensor que o<br />

nosso paiz encontrará no seio da prospera<br />

Republica Brazileira, mas ainda a<br />

sua funcção sympathica se afBrnia nas<br />

seguintes palavras do seu programma —<br />

«Defensor ar<strong>de</strong>nte dos princípios <strong>de</strong>mocráticos,<br />

elle não esquecerá uma alta<br />

missão que naturalmente lhe está indicada<br />

— <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, não menos ar<strong>de</strong>ntemente,<br />

os interesses geraes da gran<strong>de</strong> colónia<br />

portugueza neste paiz».<br />

A serieda<strong>de</strong> e o brilhantismo d'este<br />

jornal é garantida pelo nome prestigioso<br />

dos seus colladoradores—Bodrigues <strong>de</strong><br />

Freitas, Guerra Junqueiro, João Chagas,<br />

ele., etc.<br />

D'aqui lhe enviamos, ao nosso aflectuoso<br />

collega americano, a expressão<br />

sincera do nosso <strong>de</strong>sejo d'uma larga<br />

prosperida<strong>de</strong>.<br />

O Porto e o governo<br />

A noticia <strong>de</strong> que o sr. José Dias<br />

Ferreira vae augmenlar no Porto o imposto<br />

<strong>de</strong> consumo causou na capital do<br />

Norte nma <strong>de</strong>sagradavel impressão.<br />

O Primeiro <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>screve a<br />

côres tétricas a situação precaria do povo<br />

do Porto e a influencia calamitosa que<br />

po<strong>de</strong> produzir aquella medida do sr. ministro<br />

da fazenda. A Tar<strong>de</strong>, que ninguém<br />

accusará <strong>de</strong> <strong>de</strong>saffecta ao actual nnuisterio,<br />

transcrevendo o artigo do Primeiro<br />

<strong>de</strong> Janeiro dá esle respeito salutares<br />

conselhos ao sr. José Dias.<br />

Aproveite os, sr. Dias Ferreira, que<br />

—-^quein me avisa meu amigo é,— e não<br />

queira meller-se em camisa <strong>de</strong> onze<br />

varas.<br />

A respeito <strong>de</strong> impostos, não estamos<br />

em tempo <strong>de</strong> mais ainda do que aquelles<br />

que já nos esmagam.<br />

Amnistia<br />

Tem corrido que vão ser amnistiados<br />

os revoltosos <strong>de</strong> 3,1 <strong>de</strong> jaueiro.<br />

Não acreditamos.<br />

O governo, que faz promessas que<br />

não cumpre nunca e que conserva no<br />

exílio ainda presos, homens amnistiados<br />

ja — não é susceptível <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias humanitárias.<br />

Os homens que estão no po<strong>de</strong>r,<br />

e que inanteem na Penitenciaria, como<br />

um criminoso cominum, um con<strong>de</strong>mnado<br />

politico — o pobre cabo Salomé, —estão<br />

<strong>de</strong>finidos. Aquelles que não obstam a<br />

que nos nossos presídios se coiumellani<br />

com os con<strong>de</strong>mnados as mais vergouhosas<br />

infâmias, os mais revoltantes crimes,<br />

sabendo que taes actos se praticam, porque<br />

lhe foram <strong>de</strong>nunciados pela imprensa—<br />

são <strong>de</strong>shumanos, são cruéis.<br />

Não ha que espetar amnistia.<br />

Mas os con<strong>de</strong>mnados <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro<br />

hão <strong>de</strong> recuperar, sem lavores, a<br />

sua liberda<strong>de</strong>, com um novo registo moral.<br />

Liga Liberal<br />

Annuncia-se para breve uma nova<br />

conferencia na Liga Liberal por um distinctissimo<br />

oflicial da nossa marinha e<br />

dramaturgo notável o sr. Lopes <strong>de</strong> Mendonça.<br />

A Heforma, querendo ridicularisar<br />

estas manifestações do nosso exercito e<br />

da nossa marinha, diz que não sabe se<br />

a conferencia sera era verso, como os<br />

dramas d'csle illustre auclor dramatico,<br />

ou se parodiará a conferencia do sr. tenente<br />

coronel Fava, intitulando-se—«A<br />

marinha <strong>de</strong> guerra e a politica.»<br />

Parece-nos que po<strong>de</strong>mos illucidar a<br />

Reforma; a conferenciado illustre oflicial<br />

basear-se-ha na seguinte these—Do bom<br />

senso e da loucura no governo das nações—.<br />

Não lhe parece que está ao pintar e<br />

que é própria da occasião?<br />

O 31 <strong>de</strong> janeiro<br />

E' um pamphlelo semanal <strong>de</strong> Propaganda<br />

Republicana e Litteratura, que<br />

no dia 1 <strong>de</strong> janeiro proximo começara a<br />

ser publicado'em Lisboa.<br />

Recommendar esta publicação ao publico<br />

é escusado, porque plenamente a<br />

recommenda o lim a que se propõe.<br />

Longa vida prospera é o que sinceramente<br />

<strong>de</strong>sejamos a este nosso novo<br />

collega.<br />

EM SURDINA<br />

Anda a correr a cida<strong>de</strong><br />

a agenciar alguns trocos<br />

a <strong>de</strong>vota irmanda<strong>de</strong><br />

dos Santos martens Marrocos.<br />

Quem levar c'o a campainha<br />

não sofTrerá prejuízo,<br />

nem terá vida mesquinha...<br />

O badalo dá juizo I<br />

E' badalo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong><br />

ainda que não o pareça;<br />

mas sóinente dá saú<strong>de</strong><br />

a quem o levar na cabeça.<br />

Liberta-nos do peccado<br />

afugenta as bruxarias...<br />

Deve ser utilisado<br />

pelo nosso Delegado<br />

e até mesmo—p'lo Zé Dias.<br />

PINTA-ROXA.<br />

Lettras portuguezas<br />

Yae-se estabelecendo pelo estrangeiro<br />

uma corrente a favor do nosso movimento<br />

lilterario, que tão <strong>de</strong>sconhecido<br />

leni andado para lá das nossas fronteiras<br />

e que tão digno é <strong>de</strong> se conhecer.<br />

Temos entre nós escriptores distinctissimos<br />

e obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mérito,<br />

bem capazes <strong>de</strong> merecer a attenção dos<br />

outros centros litterarios; todavia raros<br />

têm sido os nossos publicistas conhecidos<br />

e apreciados em paizes estranhos,<br />

Ultimamente, poréft, tem-se vul^arisado<br />

mais o conhecimento dos nossos escriplores,<br />

principalmente dos nossos poetas,<br />

e ainda agora acaba <strong>de</strong> apparecer<br />

em Paris um <strong>de</strong>licioso livro <strong>de</strong> Achille<br />

Millien, que se intitula—Fleurs <strong>de</strong> poésie<br />

porlugaise.<br />

Encerra traducções <strong>de</strong> poesias notáveis<br />

dos nossos poetas—Castilho, Thomaz<br />

Ribeiro, Gomes d'Amorim, Authero do<br />

Quental, João <strong>de</strong> Deus, Guerra Junqueiro,<br />

Gomes Leal, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Gonçalves Crespo,acon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monsaraz e<br />

Antonio Feijó.<br />

Como se vê são producções <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s<br />

das mais notáveis da nossa<br />

galeria litteraria.<br />

Ainda bem que começam 110 estrangeiro<br />

a dar aos nossos homens <strong>de</strong> lettras<br />

a consi<strong>de</strong>ração a que teem direito.<br />

As loiras<br />

Conta-se que 11111 investigador inglez<br />

fez um esiudo curioso acerca das qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> espirito e coração das mulheres.<br />

Sustenta elle que as mulheres que<br />

peior reputação teem <strong>de</strong>ixado nas paginas<br />

da Historia são as loiras, e cita :<br />

Madame Pompadour, amante <strong>de</strong> Luiz<br />

XV—loura e olhos azues, Lucrécia Borgia—a<br />

celebre envenenadora, Lady Macheiz<br />

— que fe? assassinar um rei d'Escocia.<br />

A celebre rainha Izabel dTuglaterra<br />

— que victimou a pobre Maria<br />

Stuart. Margarida <strong>de</strong> Navarra--que tinha<br />

a coragem <strong>de</strong> trazer comsigo os corações<br />

dos amantes que por causa d'ella<br />

haviam sido assassinados. Izabel <strong>de</strong> Baviera.<br />

Teroique <strong>de</strong> Mariant — uma das<br />

mais cruéis entre as heroinas da gran<strong>de</strong><br />

revolução franceza.<br />

Emfim, ura nunca acabar, que faz<br />

medo e que não repetimos para náo<br />

amargar em <strong>de</strong>masia aquellas nossas leitoras<br />

que tiverem cabellos loiros.<br />

Pelos Yencidos<br />

Subseripção <strong>de</strong> ««O réis meusaem<br />

<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />

com egual quantia os nossos<br />

correligionários emigrados<br />

Transporte 17$400<br />

Joaquim Antunes d'0. <strong>Coimbra</strong><br />

(<strong>de</strong>zembro) 200<br />

Fernan<strong>de</strong>s Costa (novembro e<br />

<strong>de</strong>zembro) 400<br />

Dr. Jeronymo Silva (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892 a março<br />

<strong>de</strong> 1893, inclusivè) 1$000<br />

Somma, réis 19$000<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />

para esta humauitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />

rometter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.


A í — Hf.' 0 49 O DEFEMSOR DO POVO 39 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1S99<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Com o fim (1'anno, finda também a<br />

gerencia camararia da actual vereação,<br />

que em tres annos successivos apenas<br />

conseguiu crear uma indisposição quasi<br />

geral dos munícipes, sem que a cida<strong>de</strong><br />

e concelho lucrasse em melhoramentos e<br />

serviços públicos com a attitu<strong>de</strong> aggressiva<br />

em que se collocou a maioria dos<br />

seus membros, mercê da influencia e'<br />

prepon<strong>de</strong>rância do seu presi<strong>de</strong>nte.<br />

Na lista <strong>de</strong> serviços a actual vereação<br />

apenas conta a regularisaçào do<br />

abastecimento das aguas e a creação e<br />

reorganisação do serviço e pessoal <strong>de</strong><br />

incêndios, e por tal forma se houve neste<br />

acto que latentes estão ainda os factos e<br />

as peripecias que se <strong>de</strong>ram entre corporações<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via ser mantida sempre a<br />

maxima harmonia e boa camaradagem.<br />

Em estradas bem se sabe o que se<br />

fez e qual o seu estado <strong>de</strong> conservação.<br />

Neste serviço publico tem a camara um<br />

padrão <strong>de</strong> gloria que muito a enobrece:<br />

a approvação e construcção d'uma estrada<br />

para uso proprio do seu presi<strong>de</strong>nte 1<br />

A arborisaçâo, a salubrida<strong>de</strong> publica,<br />

eta ntos outros ramos <strong>de</strong> serviço, quasi<br />

(içaram esquecidos pela vereação, que<br />

durante a sua gerencia não fez mais do<br />

que obe<strong>de</strong>cer cegamente aos caprichos<br />

da presi<strong>de</strong>ncia que foi e será ate final o<br />

posso, quero e mando.<br />

A actual vereação tem pois os mesmos<br />

<strong>de</strong>feitos das antigas, suas congeneres<br />

e foi constituída pelos mesmos mol<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>" que se serviu em tempo o partido<br />

regenerador. Eram os chefes os presi<strong>de</strong>ntes,<br />

fazendo-se ro<strong>de</strong>ar por insignificantes<br />

e incompetentes, para melhor<br />

po<strong>de</strong>rem exercer a sua acção corrosiva.<br />

Dahi as consequências funestas: —<br />

nâo houve presi<strong>de</strong>nte que tivesse habitação<br />

rural, que não tivesse estradas<br />

para seu regalo; e egual graça se concedia<br />

a vereadores e até a amigos politicos,<br />

como muito bem sabe o publico.<br />

No entanto, suppoz-se sempre que o<br />

sr. Costa Alemão, seguiria as pizadas da<br />

camara a quem succe<strong>de</strong>ra, que foi <strong>de</strong>ntre<br />

todas a mais correcta; e como s.<br />

ex. a havia creado fama <strong>de</strong> bom economista<br />

e bom administrador, todos suppozeram<br />

que os abusos <strong>de</strong>stradas teriam<br />

terminado, e que o município caira nas<br />

maos <strong>de</strong> homens que haviam <strong>de</strong> cumprir<br />

os seus <strong>de</strong>veres, e <strong>de</strong>sempenhar com<br />

bizarria a sua missão.<br />

O que succe<strong>de</strong>u todos os conimbricenses<br />

o sabem, e a actual vereação ao<br />

abandonar as ca<strong>de</strong>iras do senado, não<br />

<strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s num publico que experimentou<br />

bem a iíascibilida<strong>de</strong> do seu po<strong>de</strong>rio.<br />

Não sejamos, porém, injustos. Os<br />

vereadores que serviram com o sr. dr.<br />

Costa Alemão só lhes cabe a responsabilida<strong>de</strong><br />

moral <strong>de</strong> o acompanharem em<br />

tudo e por tudo com o approvo do estylo.<br />

Mas se não era outra a sua missão<br />

111...<br />

*<br />

No proximo anno temos, pois, nova<br />

camara, <strong>de</strong> quem a maioria dos habitantes<br />

da cida<strong>de</strong>, espera bons serviços e<br />

boa administração.<br />

Estarão animados os novos vereadores<br />

a conce<strong>de</strong>rem a este concelho os melhoramentos<br />

indispensáveis e a fazerem uma<br />

administração recta, imparcial e justiceira,<br />

on<strong>de</strong> não impere a politica nem o<br />

facciosismo ?<br />

A esta interrogação hão <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

os seus actos futuros, que nós aguardamos<br />

e que <strong>de</strong>sejaríamos bem ter <strong>de</strong><br />

louvar.<br />

Em breve po<strong>de</strong>remos ajuizar dos actos<br />

da nova camara, e oxalá que se não dê<br />

ense'o ao rifão popular:—Atraz <strong>de</strong> mim<br />

«irá quem bóm me fará<br />

O flatal<br />

Em <strong>Coimbra</strong> festejou-se, como <strong>de</strong><br />

costume, a noute consagrada ao convívio<br />

e ao regosijo da familia. Em muitas casas<br />

gran<strong>de</strong> animação; <strong>de</strong>scantes e danças,<br />

e algumas salas da alta roda abriram-se<br />

para o baile em forma.<br />

Na Sé Calhedral a festivida<strong>de</strong> do rito,<br />

conservando o expleudor do meio atino;<br />

muita gente assistia e o templo bem illuminado<br />

apresentava um elleito surprehen<strong>de</strong>nte.<br />

A chuva é que nào <strong>de</strong>ixou gosar tudo,<br />

apanhando os <strong>de</strong>votos e as <strong>de</strong>votas<br />

uns burrifos capazes <strong>de</strong> fazer apagar as<br />

forjas <strong>de</strong> Vulcano,<br />

Obra <strong>de</strong> serralharia<br />

Para complemento do mausoléu que<br />

a Associação dos Artistas erigiu á memoria<br />

do seu fundador e prestante cidadão,<br />

Olympio Nicolau Ruy Fernan<strong>de</strong>s<br />

faltava a gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> contorno, havendo difliculda<strong>de</strong>s<br />

em executal-a, segundo o <strong>de</strong>senho<br />

que havia dado o sr. Antonio Augusto<br />

Gonçalves, que muito tem coadjuvado<br />

a Associação dos Artistas neste<br />

objecto.<br />

Ultimamente encarregou se d'este trabalho<br />

o sr. Manoel Pedro, serralheiro<br />

muito hábil, que felizmente o ultimou<br />

com bom êxito, vencendo as dificulda<strong>de</strong>s<br />

da execução.<br />

A gra<strong>de</strong> foi hontem collocada e quem<br />

visitar o cemiterio po<strong>de</strong> ver e apreciar o<br />

trabalho mo<strong>de</strong>rno, artístico, que honra<br />

sobremaneira o sr. Manoel Pedro.<br />

Os nossos parabéns ao hábil serralheiro<br />

e á commissão <strong>de</strong>legada da Associação<br />

dos Artistas que vê coroado <strong>de</strong><br />

bom êxito os seus esforços e linda a<br />

sua missão.<br />

Ur. Jeronymo Silva<br />

Este nosso digno amigo foi nomeado<br />

pela camara <strong>de</strong> Poiares clinico elíeetivo<br />

do partido medico d'aquelle concelho,<br />

on<strong>de</strong> está ha mezes exercendo o cargo<br />

provisoriamente<br />

Sabemos que os poiarenses estão<br />

contentíssimos, pois encontram no nosso<br />

illustre correligionário todos os dotes<br />

apreciaveis d'um bom cidadão e bom<br />

clinico.<br />

A quem a noticia não agrada por<br />

certo é aos muitos amigos que o sr. dr.<br />

Jeronymo Silva conta nesta cida<strong>de</strong>, sabendo<br />

agora que elle fixou, <strong>de</strong>finitivamente<br />

resi<strong>de</strong>ucia em Poiares, pois que<br />

sempre tiveram como nós a esperança<br />

d'elle voltar para <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> é justamente<br />

apreciado e immensamente querido<br />

por cidadãos <strong>de</strong> todas as classes.<br />

Appellwção <strong>de</strong> sentença<br />

Não ficou satisfeito o sr. <strong>de</strong>legado<br />

do procurador régio, José <strong>de</strong> Macedo<br />

Sotto Maior, com a tição applicada pelo<br />

distincto advogado sr. dr. Chaves e Castro,<br />

no processo que fez sentar nos bancos<br />

dos réus os srs Abílio Itoque e<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, e por isso mesmo<br />

appellou da sentença do sr. juiz <strong>de</strong> direito<br />

para o tribunal da relação.<br />

E' <strong>de</strong> crer que o tribunal para on<strong>de</strong><br />

subiu o processo confirme a sentença, por<br />

isso mesmo que a lei é expressa e clara,<br />

e nestas condições a situação que para<br />

si escolheu o sr. <strong>de</strong>legado é bem para<br />

lastimar.<br />

Nós todos o vimos no tribunal, ao receber<br />

a lição do mestre, bastante compromettido;<br />

no seu rosto se lia a confissão<br />

tacita do erro que comraettera, e o<br />

publico chegou a ter dó d'elle, tal era a<br />

excitação em que o via, mudando <strong>de</strong> côr<br />

centena» <strong>de</strong> vezes. E comtudo volta a<br />

insistir, a teimar que o escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />

é uma corporação 1<br />

Veremos em que pára a teimosia do<br />

sr. <strong>de</strong>legado d'esta çoíuarca que interpretando<br />

a lei a seu gosto esta favorecendo<br />

o sr. escrivão <strong>de</strong> fazenda, dandolhe<br />

regalias e direitos contrários ao espirito<br />

e lettra dos nossos codigos.<br />

Junta <strong>de</strong> parochia<br />

Na noticia que <strong>de</strong>mos em o numero<br />

passado louvando os actos da junta<br />

<strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholomeu, faltou-nos<br />

inserir os nomes dos sfs. João<br />

da Fonseca Barata, Eduardo Veríssimo<br />

<strong>de</strong> Lemos Portugal e João Lopes <strong>de</strong> Moraes<br />

Silvano, que serviram nos seis annos<br />

em que o nosso amigo e correligionário<br />

sr. Manoel Antonio da Còsta, tem<br />

exercido o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da mesma<br />

junta.<br />

' Estes cidadãos que serviram uns no<br />

primeiro trienuio, outros no segundo <strong>de</strong>ixaram<br />

lambem os seus nomes ligados<br />

aos melhoramentos e ostros serviços, em<br />

especial á instrucção primaria que é nas<br />

freguezias da cida<strong>de</strong> a que mais se distingue.<br />

Que aquelles cavalheiros nos <strong>de</strong>sculpem<br />

a omissão dos seus nomes, <strong>de</strong>vida<br />

simplesmente á falta <strong>de</strong> melhor informação,<br />

que agora obtivemos.<br />

Reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Correu o boato <strong>de</strong> que havia pedido a<br />

<strong>de</strong>missão o sr. dr. Costa Simões, que a<br />

contento <strong>de</strong> todos está dirigindo superiormente<br />

a nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Parece que o boato é infundado e<br />

que s. ex. a nao tem motivos para que<br />

<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> continuar no exercício <strong>de</strong> tão<br />

espinhoso cargo.<br />

Ao chefe da estação postal<br />

Alguns commerciantes queixam-senos<br />

<strong>de</strong> falta <strong>de</strong> recebimento <strong>de</strong> cartas,<br />

que presumem terem dado eqtrada na<br />

repartição d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

Como é difficil <strong>de</strong> provar esta ultima<br />

parte, pedimos provi<strong>de</strong>ncias ao sr.<br />

chefe da estação postal, mandando averiguar<br />

ácerca do facto, que, a ser verda<strong>de</strong>iro,<br />

vem confirmar a injustiça ha tempos<br />

commetlida com um e\-carteiro que foi<br />

<strong>de</strong>mittido.<br />

Envenenamento<br />

Maria da Conceição, <strong>de</strong> Fóra <strong>de</strong> Portas,<br />

comprou na terça feira alguns requeijões<br />

a uma ven<strong>de</strong><strong>de</strong>ira, distribuindo-os<br />

á refeição do jantar a suas filhas .•<br />

Maria Julia, Guilhermina, Beatriz, Esther,<br />

e Firmino, uma creança <strong>de</strong> 29 mezes.<br />

Todos comeram o manjar e Maria<br />

Julia que jantou numa obra da quinta<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz, on<strong>de</strong> trabalha, foi logo<br />

accommettida <strong>de</strong> vomitos e dores horríveis<br />

<strong>de</strong> ventre, tendo <strong>de</strong> recolher a casa<br />

era braços. A' mãe e aos mais irmãos<br />

succe<strong>de</strong>u o mesmo. Foram prestados pelo<br />

clinico da Misericórdia, sr. dr. José Naza;<br />

etli, os soccorros médicos, o qual r«lenou<br />

fossem remettidos para o comiiii/shriado<br />

os restos do requeijão para alli se verificar<br />

se eiles continham matérias nocivas<br />

que produzissem o envenenamento.<br />

A ven<strong>de</strong><strong>de</strong>ira do requeijão foi presa<br />

e a pojicia proce<strong>de</strong> a indagações.<br />

Isto só vem confirmar a justiça dos<br />

pedidos que temos feito, exigindo das<br />

auctorida<strong>de</strong>s uma rigorosa vigilância<br />

para os generos que se expõem ao consumo<br />

publico.<br />

Em Lisboa, Porto e outras terras este<br />

serviço e feito com insistência e regularida<strong>de</strong>;<br />

em <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong>ixa-se tudo á<br />

revelia e cada qual ven<strong>de</strong> o que quer,<br />

sem que a auctorida<strong>de</strong> lhe peça contas.<br />

E' cou<strong>de</strong>mnavel tal procedimento.<br />

Espectáculos<br />

O sr. Francisco Lucas, um dos empresários<br />

do theatro D. Luiz, pediu nos<br />

para que noticiássemos que para as recitas<br />

do Burro dõ sr. Alcai<strong>de</strong>, Solar dos<br />

Barrigas e El rei damnado só tem dois<br />

camarotes, n os 4 e 19 (fa 2. a or<strong>de</strong>m,<br />

pois" quê a frisa foi vendida ao sr. dr.<br />

Danton <strong>de</strong> Carvalho; e o camarote <strong>de</strong><br />

l. a or<strong>de</strong>m ao sr.Mose Birbedo Vieira, já<br />

<strong>de</strong>pois do seu ultimo aviso.<br />

# A empreza do tbeatro-circo Principe<br />

Real reduziu os preços para os espectáculos<br />

annunciados nos dias 7 a 13<br />

<strong>de</strong> janeiro proximo; ficando assim : —<br />

Camarotes, 3/000 ; fautenils, 600 ; ca<strong>de</strong>iras,<br />

SOO; geral, 200 réis.<br />

Avisa o publico <strong>de</strong> que brevemente<br />

será publicado o elenco da companhia que<br />

foi coutractada para estes espectáculos.<br />

llegosija nos a <strong>de</strong>cisão da empreza<br />

que <strong>de</strong>struíra assim os boatos propalados,<br />

que aflirmam com insistência que essa<br />

companhia e <strong>de</strong> somenos importancia.<br />

A publicação dos nomes dos artistas<br />

estamos certos que ha <strong>de</strong> fazer mor<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> inveja os uovellerros que teem para<br />

ahi andado a inventar coisas do arco da<br />

velha, e que affirmam que—gallinha boa<br />

por pouco dinheiro...<br />

Se até já inventaram que o Burro<br />

não será representado por falta d'auctorisação<br />

dos auctores 1<br />

Mon<strong>de</strong>go<br />

Com as ultimas chuvas engrossou<br />

immenso a corrente do nosso poético<br />

Mon<strong>de</strong>go. Os fios <strong>de</strong> prata, muito cantados<br />

pelos poetas, a serpentearem por entre<br />

o areal trausformaram-se em caudal<br />

enorme, da côr da terra.<br />

Assim- está o Mon<strong>de</strong>go—muito feio e<br />

muito sujo.<br />

Roubo<br />

O sr. Manoel Cabral, com taberna<br />

na rua da Sophia, ao abrir hontem o seu<br />

estabelecimento, reparou que pessoas<br />

estranhas haviam ali entrado, pois que<br />

das gavetas tiuham <strong>de</strong>sapparecido algumas<br />

cédulas e dinheiro em metal, bem<br />

como um mealheiro com cobre. Os gatunos<br />

levaram também gran<strong>de</strong> porção <strong>de</strong><br />

tabacos, esgotando por completo o sortido<br />

que alli havia e que nos dizem ser<br />

o mais importante do roubo.<br />

Estão presos por <strong>de</strong>sconfiança os cal<strong>de</strong>ireiros:<br />

Domingos Miguel, italiano;<br />

Joaquim Faria e José Loureiro, porisso<br />

que se encontrou arrombado um tapume<br />

que divi<strong>de</strong> a taberna da officina em que<br />

estes trabalham, havendo vestígios <strong>de</strong><br />

passagem em ambas as casas.<br />

Logar a concurso<br />

A mesa da Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

pôz a concurso o.logar <strong>de</strong> 3.° partido<br />

medico, para tratamento dos pobres da<br />

cida<strong>de</strong>. O or<strong>de</strong>nado é <strong>de</strong> 300/000 réis.<br />

mercês honorificas<br />

O governo continúa a espalhar pelo<br />

paiz e pelo estrangeiro mercês honorificas,<br />

sem que ao menos se lembre d'esta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Os que se julgam com direito ao<br />

pendurichlho quasi per<strong>de</strong>ram as esperanças<br />

<strong>de</strong> se verem <strong>de</strong> chapa ao peito.<br />

Um <strong>de</strong>sapontamento 1<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Depois das ferias continuará a reger<br />

a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito do 3.° anno civil o sr.<br />

dr. Fernan<strong>de</strong>s Vaz, porisso que o seu proprietário,<br />

sr. dr. Lopes Praça, continúa<br />

doente.<br />

Promoção<br />

O sr. dr. Augusto Rocha foi promovido<br />

a clinico ordinário dos hospitaes da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

«A Fonte dos Amores»<br />

E' o titulo d'uma opereta que o sr.<br />

Antonio <strong>de</strong> Mello (Toy) escreveu para<br />

ser <strong>de</strong>sempenhada pela troupe dramatica<br />

Luiz da Gama, no theatro-circo Principe<br />

Real.<br />

A pintura do scenario para esta opereta<br />

foi entregue ao sr. Antonio Augusto<br />

Gonçalves, cuja competencia artística é<br />

<strong>de</strong> sobejo conhecida.<br />

A Fonte dos Amores subirá á scena<br />

muito brevemente; a musica, dizem-nos,<br />

é do sr. dr. Simões Barbas.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Está doente o sr. Joaquim Gualberto<br />

Soares, redactor e proprietário da Correspondência<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

* A esposa do sr. dr. Joaquim<br />

Maria Bernar<strong>de</strong>s, filha do acreditado<br />

ctmmerciante d'esta praça, sr. Bernardo<br />

Antonio d'Oliveira, teve ha dias, com<br />

feliz parto, uma creancinha. Aos paes e<br />

avô os nossos parabéns.<br />

Movimento commercial<br />

Agio —Premio das libras: 1/100<br />

réis, ouro nacional, 22 °/0;<br />

Prata: graúda, a 2°/„; miúda a<br />

1 v».<br />

O cambio do Brazil conserva-se a<br />

13 3/,.<br />

*<br />

Generos —No ultimo mercado <strong>de</strong><br />

Montemor regularam os generos abaixo<br />

<strong>de</strong>signados pelos seguintes preços:<br />

Milho branco 360 a 380 — Dito<br />

amarello 3£0 a 380 —Trigo branco 630<br />

a 660 — Dito mouro 700 — Dito tremez<br />

630 a 640 — Feijão graúdo ou gandarez<br />

520 a 530 —Dito branco meudo 420 a<br />

440—Dito vermelho 600 — Dito rabão<br />

Branco 550 a 560 —Dito fra<strong>de</strong> 410 a<br />

420 — Dito paleta 400 — Dito mistura<br />

400 a 410 —Dito rajado 380 a 40D —<br />

Grão <strong>de</strong>bico 850 —Centeio 800 —Fava<br />

440—Batata, 260 a 280—Tremoço 420<br />

— Azeite, 12 litros, 2^000 — Vinho, 24<br />

litros, 1/300 —Aguar<strong>de</strong>nte; 24 litros,<br />

4/500.<br />

Horário postal<br />

Tiragem da correspondência nos marcos<br />

postaes da cida<strong>de</strong>:<br />

1. a ás 12 horas do dia.<br />

2. a ás 2 horas da tar<strong>de</strong>.<br />

3. a as 8 e um quarto da tar<strong>de</strong>.<br />

Nos marcos postaes <strong>de</strong> Cellas, Estradada<br />

Beira e Santa Clara: <strong>de</strong> manhã,<br />

cerca das 7 horas, e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> ás 6 horas.<br />

As ultimas tiragens na caixa geral<br />

dos correios effectuam-se:<br />

Para a linha leste e Beira Baixa ás<br />

6 horas e 5 m. da tar<strong>de</strong>.<br />

Para o sul ás 9 e 55 m. da n.<br />

Para o norte, Beira Alta e paizes da<br />

Europa ás 12 horas e 30 minutos da<br />

noite.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Concluída enterraram-se,<br />

na semana ultima os seguintes<br />

cadaveres :<br />

Maria Emilia <strong>de</strong> Lemos, filha <strong>de</strong> Pedro<br />

Garrido e Maria Garrido <strong>de</strong> Lemos, da<br />

Figueira da Foz, <strong>de</strong> 84 annos. Falleceu<br />

<strong>de</strong> moléstia <strong>de</strong>sconhecida, no dia 19.<br />

Julia, filha <strong>de</strong> Joaquim Men<strong>de</strong>s Paulo<br />

e M


ANNO I —N.° <strong>47</strong> O DEFENSOR DO POVO 39 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 189Í<br />

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HISTORIA DIPOKTIIGIL<br />

PELO<br />

Doutor Henrique Schcefer<br />

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do original allemão<br />

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F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />

Continuada, sob o mesmo plano,<br />

até nossos dias<br />

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Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />

notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />

o texto, pelo in<strong>de</strong>lesso concurso,<br />

entre outros eminentes colaboradores,<br />

da ex. ma sr a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />

Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />

Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />

Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />

<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />

Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />

Chagas e Theophilo Braga.<br />

Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />

100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />

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em todas as livrarias do paiz e<br />

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—Porto.<br />

Em <strong>Coimbra</strong> : na livraria do sr. A.<br />

Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />

e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />

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e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />

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publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />

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Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />

para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />

mais 50 réis.<br />

Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />

—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />

dos carimbos é superior a 800 réis.<br />

Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />

<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />

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resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />

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AO PUBLICO<br />

61 I^cclàro P ara os <strong>de</strong>vidos elíei-<br />

U tos, que o sr. Anlonio Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />

<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />

n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />

meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1892<br />

Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53 A u9,l>to Wunes dos San-<br />

14 tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

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64 Commoda e oratorio<br />

<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />

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46<br />

A este<br />

CENTRO DA MODA<br />

DE<br />

MENDES D'ABREU & C/<br />

60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges — 64<br />

C O I M B B A<br />

acreditado estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />

completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />

fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam com a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preços.<br />

Os proprietários d'este estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />

das manufacturas, montaram no mesmo prédio uma esplendida ofticina d'alfaiateria,<br />

on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />

No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />

Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />

gizes custa 400 réis.<br />

POMADA DO DR. QUEIROZ<br />

Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />

e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />

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& C. a<br />

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4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

ESTABELECIMENTO<br />

Dl?<br />

' 'íVSP líí if?i Til ^iV-fS<br />

DE<br />

JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />

^ IVíeste estabelecimento encontra o comprador o que lia <strong>de</strong> mais<br />

1^1 mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />

Bua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />

Largo da Freiria, n. os I a 3<br />

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e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />

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gg h dmitte-ae um com habilitam<br />

ções <strong>de</strong> mercearia e tabacos.<br />

Nesta redacção se diz. -<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

E D I T O R<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno<br />

Semestre.... W<strong>35</strong>0<br />

TrimesUe... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2MOO<br />

Semestre.... 1^200<br />

Trimestre... 600<br />

Impresso na Typographia<br />

Operaria — Largo da Freiria n."<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

$ OIMBFTA,

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