35-47 - Universidade de Coimbra
35-47 - Universidade de Coimbra
35-47 - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
" V I t t o , a f o l i a i<br />
Tudo a postos. Está a chegar o<br />
rei e a rainha <strong>de</strong> Portugal da viagem<br />
que fizeram a Hespanha.<br />
O regosijo generalisa-se, toma<br />
proporções <strong>de</strong>lirantes, toca a meta<br />
do sobrenatural.<br />
Na capital preparam-se graridio-<br />
.sas manifestações á chegada <strong>de</strong> suas<br />
magesta<strong>de</strong>s.<br />
Manifestações calorosas.<br />
Manifestações espontaneas.<br />
De toda a parte, das cida<strong>de</strong>s<br />
como das al<strong>de</strong>ias, levantam-se estrepitosas<br />
saudações aos reis <strong>de</strong> Portugal<br />
pelo seu regresso á patria-amada.<br />
De todos os peitos brotam torrentes<br />
copiosas <strong>de</strong> jubilantes alegrias<br />
sem que as empanne uma só nota<br />
<strong>de</strong>stoante, o mais tenue sopro <strong>de</strong><br />
reacção.<br />
Perante as magesta<strong>de</strong>s que vêem<br />
<strong>de</strong> — <strong>de</strong> quê? — <strong>de</strong> cimentar a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
nacional numa sabia diplomacia,<br />
tudo ajoelha, commovido<br />
até ás lagrimas, numa eloquente<br />
prostração indicativa d'uma veneração<br />
servil.<br />
O jacobino e o monarchico, irmãmente<br />
enlaçados na mais confraternal<br />
solidarieda<strong>de</strong>, calam os seus<br />
queixumes <strong>de</strong> partidarismo para que<br />
os seus brados <strong>de</strong> — viva o rei! viva<br />
a Inglaterra!—se confundam consonantemente<br />
num irrequieto torvelinho<br />
<strong>de</strong> epilepsia.<br />
Pois que suas magesta<strong>de</strong>s são o<br />
penhor da in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia nacional<br />
tão custosamente reconquistada pelos<br />
homens <strong>de</strong> 1640; pois que suas<br />
magesta<strong>de</strong>s encarnam o espirito nacional<br />
numa estranha vibração <strong>de</strong><br />
patriotismo; pois que suas magesta-i<br />
ges são a causa originaria do bemestar<br />
geral da nação:—ninguém po<strong>de</strong>rá<br />
na hora solemne em que eltas<br />
chegam <strong>de</strong> Madrid, enramadas dos<br />
ouropéis resplen<strong>de</strong>ntes d'uma victo-.<br />
ria diplomatica, soffrear estes gritos<br />
stri<strong>de</strong>ntes, cheios <strong>de</strong> amor, cheios<br />
<strong>de</strong> vida:<br />
—Viva o rei! viva a folia!<br />
Sim: viva o rei! viva a folia!<br />
A nação <strong>de</strong>finha miseravelmente,<br />
<strong>de</strong>cae <strong>de</strong> todos os lados, lacera-se a<br />
cada embate? O povo geme "sob<br />
uma pezada distribuição tributaria<br />
que o faz morrer <strong>de</strong> fome para saturar<br />
as exigencias do fisco ? Os<br />
credores estrangeiros reclamam<br />
ameaçadoramente o pagamento dos<br />
juros a receber? O thesouro está<br />
exhausto <strong>de</strong> recursos não po<strong>de</strong>ndo<br />
satisfazer os encargos mais elementares<br />
? O estado financeiro é in<strong>de</strong>scriptivelmente<br />
péssimo ? O commercio<br />
arrasta uma existencia difíicilima<br />
evi<strong>de</strong>nciada nas fallencias diariamente<br />
notadas ? A industria nacional<br />
restringe-se á mais infima expansão,<br />
estranha ao proteccionismo do Estado?<br />
A agricultura morre progressivamente<br />
? O povo emigra ? A<br />
honra coilectiva <strong>de</strong>sfaz-se num louco<br />
rodopio <strong>de</strong> corrupção ?<br />
Que importa tudo isso se as magesta<strong>de</strong>s<br />
regressam <strong>de</strong> Madrid alegremente<br />
<strong>de</strong>spreoccupadas das misérias<br />
nacionaes, dominados péla<br />
systematica indifferença pelos negocios<br />
do paiz?<br />
Que importa tudo isso se suas<br />
magesta<strong>de</strong>s veem da opulência para<br />
a opulência, nada ímportando-se com<br />
o soffrimento do seu povo, tudo importando-se<br />
com as exigencias do<br />
seu commodismo ?<br />
Sim, que importa isso?<br />
—Viva o rei! Viva a folia!<br />
Vamos, senhores. Tudo a postos.<br />
Que ninguém falte ao seu <strong>de</strong>ver.<br />
Que ninguém se acobar<strong>de</strong> em prestar<br />
ao seu rei as homenagens mais<br />
frisantes <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>al affecto.<br />
Que todos bra<strong>de</strong>m — viva o rei!<br />
viva a Inglaterra!—que são as únicas<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
manifestações <strong>de</strong> caracter legal<br />
actualmente toleradas no nosso paiz.<br />
Quem exclama —viva o rei! —<br />
evoca toda uma epopeia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas,<br />
cujos factores, antepassados<br />
hierarchicos d'esse rei, escutam nos<br />
tumulos as vibrantes translusidaçõeS<br />
da sua gloria sempiterna. Quem diz<br />
—viva o rei!—honra essa nobilíssima<br />
esteira <strong>de</strong> semi <strong>de</strong>uses da historia<br />
patria que vem por esses séculos<br />
além tendó pôr mãe d\igoa a D.<br />
Aftonso Henriques e por seguidores<br />
invictos arautos <strong>de</strong> amplos feitos,<br />
<strong>de</strong>stacando-se, ao vivo, projectados<br />
<strong>de</strong> intensas rutilancias, uns D. Fernando,<br />
D.. João III, car<strong>de</strong>al D. Henrique,<br />
D. Affonso VI, D. João V,<br />
D. João VI, etc., etc... .<br />
Quem exclama,—viva a Inglaterra!—faz<br />
vibrar <strong>de</strong> enthusiasmo todas<br />
as fibras do nosso organismo,<br />
faz enlouquecer <strong>de</strong> jubilo os que<br />
ainda amam este empobrecido torrão<br />
natal.<br />
Porque a Inglaterrá tem sido a<br />
nossa fiel alliada, tem sido a maternal<br />
protectora em todos os transes<br />
custosos da nossa existencia. Porque<br />
a Inglaterra tem Curado com amor<br />
e ardor dos nossos interesses cóloniaes,<br />
<strong>de</strong>scurando dos seus proprios...<br />
E' por isso que a <strong>de</strong>speito d'èssa<br />
jacobinagem contra quem Sergio<br />
ergue as suas ancas, que porfia em<br />
âmesquinhar a diplomacia <strong>de</strong> Carlos<br />
na sua viagem á Hespanha, nós bradaremos,<br />
no regresso <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s,<br />
banhados num escorrente<br />
suor <strong>de</strong> enthusiasmo :<br />
—Viva o rei! Viva a Inglaterra!<br />
Viva a folia!<br />
João Chagas<br />
As ulliniíis noticias dão este nosso<br />
valerite correligionário, perseguido pelas<br />
justiças'bòrtugVezás, a caminho <strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s.<br />
Contas do thesouro<br />
0 Diário publicou as contas do thesouro,<br />
fóra do continente, relativas aos<br />
mezes <strong>de</strong> setembro e outubro <strong>de</strong> 1891.<br />
Pelo resumo comparado das receitas<br />
e das <strong>de</strong>spezas em dinheiro, ordinarias<br />
sem distíneção <strong>de</strong> exercícios, em eguaes<br />
períodos dos annos economicos <strong>de</strong> 1890-<br />
1891 e 1891-1892, vè-se"o seguinte:<br />
Receitas<br />
1890-1891. . 37,.537;.98fl$930<br />
1891-189 2 37.320:93<br />
Differeuça pura<br />
menos 2l7:049$326<br />
Despezas<br />
1890-1891. . 43.537:110$691<br />
1891-180 2 <strong>47</strong>.214:648^963<br />
Oiflereiíf» pnra<br />
mais 3.677:538^273<br />
As receitas <strong>de</strong>sceram, segundo<br />
as contas publicada-*, dueentos e <strong>de</strong>zesete<br />
contos, e as <strong>de</strong>spezas subiram,<br />
no mesmo periodo, tres mil<br />
seiscentos setenta e sete contos.<br />
Segundo as mesmas contas temos em<br />
Receitas ....<br />
1890-1891<br />
37.537:980^.930<br />
Despezas ..<br />
43.537:110^691<br />
Deficit. . . ..... 5.999:129^761<br />
Receitas .. .<br />
1891-1892<br />
37.320:931^604<br />
Despezas...<br />
<strong>47</strong>.214:648j$955<br />
Deficit. . . 9:893:717^<strong>35</strong>9<br />
Pelas contas já publicadas o <strong>de</strong>ficit<br />
era 1891-1892 foi superior ao do anno<br />
anterior em tres mil oitocentos<br />
noventa e quatro contos.<br />
PELOS JORNAES<br />
Acerca da nossa situação financeira<br />
ouçamos no Economista o conselheiro<br />
CafrilliA; pàdrè mestre da oryíinieiíMogia<br />
indígena :<br />
«Emquanto não forem publicadas<br />
todas as contas do thesouro na gerencia<br />
<strong>de</strong> (891-1892, isto é, as <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1891 a junho <strong>de</strong> 1892 dos cofres fóra<br />
da metropole, que segundo o<br />
nosso modo «le calcular<br />
não <strong>de</strong>ixarao cio aggra><br />
rar <strong>de</strong> 3:000 contos,<br />
pelo menos, o «<strong>de</strong>ficit» já<br />
conhecido <strong>de</strong> 8:305 contos,<br />
o qne, com uns 1:500<br />
<strong>de</strong> differeiiças <strong>de</strong> câmbios,<br />
fará. com qne o <strong>de</strong>sequilíbrio<br />
orçamental<br />
na. ultima gerencia tenha<br />
sido um dos maiores senão<br />
o maior das epochas<br />
mo<strong>de</strong>rnas — não será possível<br />
conhecer a quantia exacta d'esse <strong>de</strong>sequilíbrio,<br />
nein com elementos palpitantes<br />
da actualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a incrédulos<br />
que não bastam os saerifieios<br />
feitos nem as reducções 9e renda impostas<br />
aos credores' do Estado para<br />
egualarmos as receitas com as <strong>de</strong>spezas.»<br />
Quando Carrilho diz "isto tudo, quanto<br />
a mais não irá lá pelas entrelinhas orçamentaes...<br />
É <strong>de</strong> fugir!<br />
Aos que do iberismo fazem o seu<br />
principal espectro <strong>de</strong> propaganda antirepublicana<br />
respon<strong>de</strong> eloquentemente a<br />
Nação, insuspeito <strong>de</strong> jacobinismo :<br />
«Em Hespanha espera-se uma gravíssima<br />
conflagração no dia em que<br />
fulleeer el-rey nino. Mas como temem<br />
lá D. Canos VII e a republica, lembraram-lhe<br />
<strong>de</strong> cá pôrem a coroa 11a cabeça<br />
do sr. D. Carlos Coburgo, rei liberal<br />
d'este jardim á beira mar implantado,<br />
por graça da imbecilida<strong>de</strong> e mercenarismo<br />
indígena.<br />
«Ficam assim reunidos, sob o mesmo<br />
sceptro os dois paizes, Portugal e<br />
Husp»nha, ou fallando mais positivamente,<br />
fica assim absorvida a metropole<br />
portugueza pelo leão <strong>de</strong> Castella.<br />
«Província <strong>de</strong> Hespanha consi<strong>de</strong>rado<br />
ha muito tempo, Portugal passará<br />
a sel-o, <strong>de</strong> facto com o <strong>de</strong>spreso da.<br />
Europa inteira que terá o direito <strong>de</strong><br />
cuspir sobre a sua campa se tamanha<br />
affronta triumphar dos vestígios do brio<br />
nacioital. •.»<br />
Depois d'isto nada mais nos resta<br />
dizer. Está conforme.<br />
Escreveram as Novida<strong>de</strong>s:<br />
«Está organisada uma gran<strong>de</strong> commissão<br />
para promover uma imponente<br />
recepção a suas magesta<strong>de</strong>s, por occasião<br />
do seu regresso <strong>de</strong> Madrid.<br />
«São numerosas e variadas as festas<br />
que a commissão tenciona realisar.<br />
Entre ellas <strong>de</strong>staca-se a generosa idéa<br />
<strong>de</strong> dar, nesse dia, em uma Vistosa barraca<br />
armada no Terreiro do Paço, ura<br />
bodo a 1:500 pobres. A' noite será facultada<br />
ao povo a entrada em todos os<br />
espectáculos e haverá, além d'isso, um<br />
gran<strong>de</strong> concerto <strong>de</strong> gala no theatro <strong>de</strong><br />
S. Carlos. A costa da Outra Banda será<br />
toda illuminada com barricas <strong>de</strong> alcatrão,<br />
e na rotunda da Avenida far-seha<br />
uma brilhante illuminação, sendo<br />
queimada uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fogo <strong>de</strong> artificio. Nas principaes ruas<br />
da cida<strong>de</strong> haverá também vistosas illuminações.»<br />
Com justa razão o nosso collega a<br />
Batalha commenia esta noticia dizendo<br />
que tristezas não pagam dividas e termina<br />
com a conhecida copia do Burro<br />
do sr. Alcai<strong>de</strong>:<br />
Viva a folia<br />
Dançar, dançar!<br />
finja alegria<br />
A' beira mar 1<br />
Sob o titulo —Os vivas ao rei — diz<br />
a Batalha:<br />
«As festas para a recepção do rei<br />
estão sendo preparadas no governo<br />
civil.<br />
«Hoje o galopim Pinoia andou em<br />
correrias para alli, sendo allnal encarregado<br />
da queima <strong>de</strong> barricas <strong>de</strong> alcatiâo<br />
na outra banda.<br />
«Os <strong>de</strong>mais galopins ficaram encar-<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
regados <strong>de</strong> arranjar garotos para o vi vorio,<br />
a mil réis por cabeça.<br />
«Esta noticia é exacta.»<br />
É a?sim que se fazem todas as manifestações<br />
nionarchicas neste <strong>de</strong>sgraçado<br />
paiz I<br />
E o paiz paga e... consente.<br />
Um nosso collega da capital recebeu<br />
o seguinte telegramma :<br />
«O concerto no palacio real offerecido<br />
aos reis <strong>de</strong> Portugal, esteve brilhante.<br />
Assistiu toda a aristocracia e o eiemento<br />
official.<br />
«Todos os festejos ofFerecem<br />
11111 caracter palaciano,<br />
sem que o povo tome<br />
parte nelles.<br />
«Assegnra-se que a visita<br />
dos reis <strong>de</strong> Portugal<br />
tem caracter politico<br />
aproveitando-se as festas<br />
do centenário afim <strong>de</strong><br />
não alarmar a opinião.<br />
«Os ministros dos dois<br />
paizes celebraram repetidas<br />
entrevistas sobre<br />
as quaes se guarda absoluto<br />
segredo, por mais<br />
que se diga o contrario.<br />
«Crê-se que se trata <strong>de</strong><br />
salvar a situação monarchica<br />
em Portugal.»<br />
Avalie-se por isto o mais que virá.<br />
E' <strong>de</strong> apitar, meus amigos.<br />
Ponham o lenço na nariz e leiam o<br />
Sergio:<br />
«O calão jornalístico da jacohinagem,<br />
que é uma especialida<strong>de</strong> indígena,<br />
percorre toda a gomma das achinealhações,<br />
da baboseira, dos patriotismos <strong>de</strong><br />
sobréposse, das indignações cynicas,<br />
dos protestos idiotas. A historia, a critica,<br />
a doutrina, o direito publico e a<br />
<strong>de</strong>cencia, andam aos trambulhões, numa<br />
dança macabra <strong>de</strong> patetices, <strong>de</strong> facécias<br />
<strong>de</strong> viella, <strong>de</strong> baboseiras <strong>de</strong> pasquim,<br />
sem que á lei as cóhiba.»<br />
Com que então a famosa vestal pelo<br />
que respeita a si, queria que respon<strong>de</strong>ssem<br />
aos seus insultos <strong>de</strong> todos os dias<br />
com beijos e abraços ?<br />
Está doido.<br />
Agarrem que é ladrão! Mais Sergio:<br />
«E alias o melhor é fugir a esta socieda<strong>de</strong>,<br />
que parece primitiva, que parece<br />
rudimentar, que parece embryonaria,<br />
fóra <strong>de</strong> todos os princípios e leis<br />
<strong>de</strong> civilização.»<br />
Fugir? Espere ahi, Sergio. Então<br />
você <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> insultar tudo e todos<br />
quer fugir? Ora essa; espere ahi que<br />
ha <strong>de</strong> levar o correctivo.<br />
Que tal o meliante !<br />
O nosso <strong>de</strong>dicado correligionário e<br />
amigo Heliodoro Salgado, dirigiu ao sr.<br />
Feio Terenas, da Batalha, uma carta explicativa<br />
da sua contenda com o Século,<br />
que abre assim :<br />
«Amigo Terenas:—Havemos <strong>de</strong> confessar<br />
que, dado o meu temperamento<br />
e o pé em que a minha questão<br />
cora o Século foi eollocada, eu tenho<br />
sido d'um comedimento que, porque<br />
me violenta bastante, é ura verda<strong>de</strong>iro<br />
sacrifício, e bem penoso, que faço ao<br />
partido republicano; que, se enten<strong>de</strong><br />
não ter razões para duvidar <strong>de</strong> Magalhães,<br />
que tem a sua folha <strong>de</strong> serviços<br />
incontestáveis e incontestados, também<br />
não tem motivos para duvidar <strong>de</strong> mim,<br />
que, se não tenho dinheiro nem sou<br />
empresário d'um jornal <strong>de</strong> larga extracção,<br />
tenho todavia doze annos <strong>de</strong><br />
activo trabalho <strong>de</strong> propaganda, com alguns<br />
<strong>de</strong>sgostos e dissabores, e uma<br />
gran<strong>de</strong> accumulaçáo do odios por parte<br />
dos meus adversarios—dos nossos adversári&s—que<br />
me perseguem com um<br />
encarniçamento muito especial.»<br />
Depois <strong>de</strong> se referir a vários correligionários<br />
que impensada e impru<strong>de</strong>ntemente<br />
lhe atiram com o epitheto <strong>de</strong> calumniador,<br />
termina o nosso amigo:<br />
«Mas, para que eu me cale será<br />
bom:<br />
«1.°—Que o Século <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> dar logar<br />
nas suas columnas a umas manifestações<br />
provocadas por uma mentira,<br />
lá da casa, quando disseram que eu<br />
accusára Magalhães Lima <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>nunciado<br />
João Chagas, Inexactidão que<br />
eu me apressei a rectificar com toda a<br />
lealda<strong>de</strong>.<br />
«2.°—Que o Século diga aos adoradores<br />
do <strong>de</strong>us Milhão que lhe estão servindo<br />
<strong>de</strong> caudatarios, que hajam por<br />
bem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer e <strong>de</strong> escrever asneiras,<br />
eiles, que se não atreveram a vifm'as<br />
dizer <strong>de</strong> frente emquanto eu ahi<br />
estive.<br />
«3.°—Que o dr. Magalhães Lima,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler a carta do nosso amigo<br />
commum José Barbosa, <strong>de</strong>clare peremptória<br />
e cafhegoricamente, sob sua palavra<br />
<strong>de</strong> honra, sem tergiversações e<br />
sem sophismas, se é ou não verda<strong>de</strong><br />
ter feito uma campanha <strong>de</strong> diffamação<br />
e <strong>de</strong> troça contra o nome <strong>de</strong> João Chagas.»<br />
Se nos permittem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir<br />
na contenda <strong>de</strong>vemos dizer que<br />
achamos <strong>de</strong>sleal a insistência do Século<br />
<strong>de</strong>pois das explicações leaes <strong>de</strong> Heliodoro,<br />
porque é inquestionável que este nosso<br />
correligionário tem sido dos mais infatjgaveis<br />
trabalhadores do edifício dcmocralico<br />
e nâo merece por isso que sobre elle se<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iem as fúrias stultas <strong>de</strong> quem<br />
quer que soja.<br />
Tê<strong>de</strong>bè.<br />
O R Y S T A B S<br />
A verda<strong>de</strong> e as mentiras<br />
(De Ramon <strong>de</strong> Campoamor)<br />
Quando por toda a esperança<br />
O padre diz ao nascer<br />
A' estremecida criança :<br />
— E's pó e pó lias <strong>de</strong> ser,<br />
Repetem num doce grito -<br />
A mãe e a ama também:<br />
— Como elle será bonito I<br />
— Bonito e homem <strong>de</strong> bem I<br />
E logo após a Esperança<br />
Faz o estribilho á cançao :<br />
— Será feliz a criança I<br />
— Será rei I brada a Ambição.<br />
E emquanto o tempo procura<br />
O menino engran<strong>de</strong>cer,<br />
A religião murmura:<br />
— E's pó e pó has <strong>de</strong> ser.<br />
Cheias <strong>de</strong> fé e certeza,<br />
Exclamam com porte audaz:<br />
— Será ura Creso I a Avareza ;<br />
A vaida<strong>de</strong>: — Oh I muito mais!<br />
E o seu nome se <strong>de</strong>rrama<br />
Da terra aos eternos céns...<br />
— E' Homero I grita a Fama,<br />
Volve a Razão: — E' um <strong>de</strong>us I<br />
Mas a voz solemne e pura<br />
Ao nascer como ao morrer,<br />
Diz no ouvido á creatura:<br />
— E's pó e pó has <strong>de</strong> ser.<br />
É bem feito<br />
Luiz GUIMARÃES.<br />
Os nossos correligionários que foram<br />
presos na capital na occasião em que<br />
davam vivas á patria, vão processar o<br />
sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima e mais agentes policiaes<br />
por motivo <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>.<br />
É bera feito. É possível que os tribunaes<br />
não façam justiça, mas todavia<br />
far-se-ha luz, moslrando-se mais uma<br />
vez a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>coro em todos os<br />
actos da monarchia.<br />
Sim, sim<br />
Na. capital disseram as Novida<strong>de</strong>s que<br />
se formou uma commissão para realisar<br />
as festas <strong>de</strong> recepção da familia real sem<br />
auxilio do thesouro.<br />
Ora isto é simplesmente para armar<br />
ao effeito, porque bem nos recordamos<br />
<strong>de</strong> que quando foi do casamento do actual<br />
rei, também se nomearam commissões<br />
para festejos e afinal o que essas commissões<br />
não pagaram teve o thesouro <strong>de</strong><br />
pagar, havendo ainda algumas contas por<br />
satisfazer, como a do gaz, por exemplo.<br />
É isto precisamente o que agora vae<br />
acontecer. Vá o povo preparando a bolsa<br />
para pagar as festas que não hão <strong>de</strong> li<br />
car nada baratas...<br />
Aguenta, Zé!
AXKO i — N. 0 84 O BEFEXIdR DO POVO 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 18©2<br />
LETTRAS<br />
A <strong>de</strong>functa<br />
Amára-a doidamente ! Porque é que<br />
se ama?! Que coisa tão extravagante<br />
não se ver no mundo mais que uma<br />
erealura, não se ter no espirito mais que<br />
um pensamento, no coração mais que um<br />
<strong>de</strong>sejo, ua bôcca mais do que um nome:<br />
—t um nome que sobe incessantemente,<br />
que sobe, como a agua d'uma nascente,<br />
das profun<strong>de</strong>zas da alma, que sobe aos<br />
lábios, e que se diz, que se rediz, que<br />
se murmura sem cessar, em toda a parte,<br />
conto se fora uma oração !<br />
Não contarei a nossa historia. O amor<br />
só tem uma historia que é sempre a mesma.<br />
Encontrei-a e amei-a. Eis tudo. E<br />
durante um anno vivi da sua ternura,<br />
nos seus braços, nas suas caricias, no<br />
seu olhar, nos seus vestidos, na sua voz,<br />
dominado, enleiado, preso por tudo o<br />
que vinha d'ella, <strong>de</strong> um modo tão completo,<br />
que eu nem já sabia quando era<br />
noite, e se estava morto ou vivo, na velha<br />
terra ou em outro mundo.<br />
E eis que ella morre ! Como... não<br />
o sei; já o sei.<br />
Regressou a casa, molhada, numa<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> chuva ; no dia seguinte tinha<br />
tosse. Tossiu durante uma semana, e<br />
recolheu se á cama.<br />
Que se passou ? I Já o não sei.<br />
Os médicos vinham, escreviam, retira<br />
vam-se.<br />
Chegavam remedios; uma mulher fazia-lh'os<br />
tomar. Às suas mãos estavam<br />
quentes, a testa ar<strong>de</strong>nte e húmida, o<br />
olhar brilhante e triste. Faliava-lhe e<br />
respondia-me. Que foi o que urn ao outro<br />
dissemos? Já o não sei. Tudo esqueci,<br />
tudo, tudo 1 Ella. .. morreu ! Lemhro-me<br />
muito bem do seu ultimo suspiro, um<br />
pequeno suspiro, tão débil... o ultimo.<br />
A enfermeira disse : Ah ! comprehendi,<br />
comprehendi 1<br />
Nada mais soube. Nada. Vi um sacerdote<br />
que me disse estas palavras: a<br />
sua amante. Pareceu-me que a insultava.<br />
Visto que estava morta ninguém tinha<br />
direito <strong>de</strong> saber isso. Pul-o fóra <strong>de</strong> casa.<br />
Veio outro, que se mo^rou muito bom,<br />
muito <strong>de</strong>licado. Chorei quando me fallou<br />
d'ella.<br />
Consultaram-me sobre mil coisas para<br />
o enterro. Já o não sei. Lembra-me todavia<br />
do caixão mortuário, das pancadas<br />
<strong>de</strong> martello, quando a <strong>de</strong>itaram <strong>de</strong>ntro.<br />
Ah 1 meu Deus I<br />
Foi enterrada ! Enterrada I Ella, naquella<br />
cova! Assistiram algumas pessoas,<br />
algumas amigas. Fugi. Deitei a correr.<br />
Caminhei por muito tempo atravez das<br />
rua*. Depois, entrei em casa. No dia<br />
seguinte parti para uma viagem.<br />
Hontem regressei a Paris. Quando<br />
tornei a ver o meu quarto <strong>de</strong> dormir, o<br />
nosso quarto <strong>de</strong> dormir, a nossa cama,<br />
os nossos moveis, esra casa toda, em que<br />
ficára tudo o que lica da vida d'um ser<br />
<strong>de</strong>pois da sua morte, fui a-saltado por<br />
um novo accesso <strong>de</strong> dôr Ião violenta, que<br />
estive quasi para abrir a janella, e <strong>de</strong>i<br />
tar-me á rua. Não po<strong>de</strong>ndo permanecer<br />
por mais tempo no meio d'es
AN.\0 ff —M. 0 <strong>35</strong> O DKFEWSOR DO POVO 1 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1 SOS<br />
exigências do fisco são maiores e mais<br />
vexatórias, por isso que colloca o commercio<br />
nas ciicuiustancias dolorosas <strong>de</strong><br />
ficar sem uma gran<strong>de</strong> parte dos seus<br />
consumidores, pelas razões expostas,<br />
cumpre lhe envidar todos os seus esforços<br />
a fim <strong>de</strong> ohter do governo o suspensão<br />
immediata <strong>de</strong> tão iníqua medida.<br />
E se os novos <strong>de</strong>putados quizerem<br />
já mostrar a sua hoa vonta<strong>de</strong> e a sua<br />
<strong>de</strong>dicação pelos interesses d'esta cida<strong>de</strong>;<br />
boa occasião é esta para que, <strong>de</strong> accordo<br />
com a Associação Commercial, empenhem<br />
junto do governo a sua importancia<br />
a lim <strong>de</strong> terminarem d'uma vez para<br />
sempre tão vergonhosas scenas.<br />
Mas se assim não acontecer, e la&s<br />
medidas não sejam revogadas, ao commercio<br />
cumpre tomar uma resolução<br />
enérgica, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo os seus inlresses,<br />
porque estamos convencidos que a maioria<br />
da imprensa local não ha <strong>de</strong> negarlhe<br />
o apoio que merece e a justiça que<br />
lhe assiste.<br />
P«zaiueg<br />
Enviamos ao nosso bom antigo sr.<br />
Joaquim da Silva e Sousa Júnior, e a sua<br />
familia, sentidos pezames pela morte <strong>de</strong><br />
sua extremosa mãe, uma boa velhinha<br />
que bem mereceu o carinho e a <strong>de</strong>dicação<br />
cont que seus filhos a trataram.<br />
Couhecendo nós bem <strong>de</strong> perto os<br />
dotes e qualida<strong>de</strong>s do nosso antigo sr.<br />
Joaquim da Silva, po<strong>de</strong>mos avaliar quanto<br />
sera pr.ofundo o golpe que acaba <strong>de</strong> ferir<br />
o seu coração <strong>de</strong> filho <strong>de</strong>dicado.<br />
E como, para estas fatalida<strong>de</strong>s da<br />
vida, não ha palavras <strong>de</strong> conforto que<br />
<strong>de</strong>eni lenitivo a tamanha dôr, limitamonos<br />
a consignar aqui o nosso pezar por<br />
tão triste acontecimento.<br />
Theatro-Circo<br />
Foi hontem a primeira recita dada<br />
pela Companhia Infantil, que está contractada<br />
para dar neste theatro cinco recitas.<br />
É-nos impossível dar hoje noticia<br />
circumstanciada do <strong>de</strong>sempenho, o que<br />
faremos no proximo numero; é <strong>de</strong> crér,<br />
porém, que os graciosos artistas continuem<br />
a manter os seus botts créditos.<br />
Hoje representa-se a opereta-comica<br />
em 3 actos — A Mascotte, que tem musica<br />
lindíssima e que o nosso publico já<br />
conhece.<br />
No sabbado, domingo e segunda feira<br />
ha espectáculo, representando-se novas<br />
e escolhidas peças.<br />
Uma publicação valiosa<br />
A imprensa Nacional eslá incumbida<br />
da reproducção d'uma cltronica d» convénio<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz, cujo exemplar conhecido<br />
pertence a uni cidadão portuguez<br />
resi<strong>de</strong>nte em Paris.<br />
Esta cltronica, dizem, é muitíssimo<br />
curiosa, e, como se vê, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rarida<strong>de</strong>.<br />
Um alegrão para os colleccionadores.<br />
Theatro 1>. Luiz<br />
Realisou-se no sabbado o annunciado<br />
espectáculo em que tomou parle o<br />
actor Taborda e os amadores Luiz da<br />
Gama, Francisco Lucas, Ereio e outros.<br />
O espectáculo correu animadamente,<br />
como era <strong>de</strong> esperar, <strong>de</strong>-tacando se sobretudo,<br />
como é natural o vulto eminente<br />
<strong>de</strong> Taborda.<br />
Francisco Lucas, muitíssimo Item no<br />
Tio Torquuto, e Luiz da Gama houve se<br />
um pouco correctamente no Inylez e<br />
Francez, notando-se todavia que na Casa<br />
<strong>de</strong> liabél exággeròu elle um tanto o<br />
seu papel, o que alterou <strong>de</strong>sagradavelmeute<br />
o apreciavel amador que temos<br />
applaudido.<br />
Também agradou muito o monologo<br />
Pisca-pisca revelando o sr. Oliveira,<br />
muita habilida<strong>de</strong> para a scena.<br />
Bilhetes postaes<br />
Na repartição do correio d'esta cida<strong>de</strong><br />
tem havido falta <strong>de</strong> bilhetes postaes,<br />
<strong>de</strong>ixando-se por isso <strong>de</strong> satisfazer ás<br />
requisições do publico.<br />
A recebedoria do concelho que é a<br />
que I9rn_r.ce as repartições postaes esgotou<br />
por completo o seu <strong>de</strong>posito.<br />
Iiente cathedratico<br />
Vae ser promovido a lente cathedratico<br />
da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina o illustrado<br />
professor sr. dr. Luiz Pereira da Costa.<br />
Visita «las magesta<strong>de</strong>»<br />
Alguns jornaes affirniam que suas<br />
ntagesla<strong>de</strong>s virão a <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong>pois do<br />
seu regresso <strong>de</strong> Hespanha.<br />
A noticia, <strong>de</strong>cididamente, não passa<br />
<strong>de</strong> boato.<br />
Estudantes <strong>de</strong> Medicina<br />
Acerca da pretensão dos estudantes<br />
<strong>de</strong> medicina da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que pediram<br />
áo governo a suppressãò das ca<strong>de</strong>iras<br />
<strong>de</strong> grego e allemão, nos preparatórios<br />
dè medicina, éonsta que este assumpto'<br />
vae ser tratado no conselho superior <strong>de</strong><br />
instriicção publica.<br />
Recita dos quintanistas<br />
Reunido o curso do 5.° anno <strong>de</strong> direito<br />
<strong>de</strong>liberou promover a recita <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida,<br />
dando começo aos trábalbos preparatórios.<br />
Contam po<strong>de</strong>r realisar esta festa antes<br />
das ferias da Pascltoa.<br />
Congresso <strong>de</strong> Medicina<br />
A faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina acaba <strong>de</strong><br />
receber convite do professor Baccelli,<br />
para se representar no congresso internacional<br />
<strong>de</strong> Medicina que ha <strong>de</strong> realisar<br />
em Roma, no mez <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1893.<br />
Deliberou o conselho da mesma Faculda<strong>de</strong><br />
nomear para seu representante,<br />
o sr. dr. Augusto Rocha, que, dizem,<br />
aceitara o encargo d'esta missão.<br />
Inventario<br />
Ao sr. reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi<br />
entregue o inventario dos differentes<br />
objectos tpie existem 110 paço.<br />
Recenseamento militar<br />
O sorteio dos mancebos recenseados<br />
110 presente anno para o serviço do exercito<br />
e da armada pertencentes aos concelhos<br />
<strong>de</strong> Sourer Cantanhe<strong>de</strong>, Mira e<br />
Louzã, lia <strong>de</strong> realisar-se 110 dia 24 do<br />
corrente.<br />
Assumptos agrícolas<br />
Na ultima reunião do conselho superior<br />
<strong>de</strong> agricultura tratou-se dos programmas<br />
da Escola Central <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, do<br />
preço das vi<strong>de</strong>iras vendidas aos agricultores<br />
e das tarifas dos cantinhos <strong>de</strong> ferro.<br />
Curso <strong>de</strong> pharmacia<br />
Reunida ullimamente a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Medicina fez a distribuição <strong>de</strong> prémios<br />
aos alumnosi do curso <strong>de</strong> pharmacia.,<br />
sendo premiados os seguintes:<br />
2. c anno—José Yictorino jíaptista dos<br />
Santos, natural <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, com o partido<br />
<strong>de</strong> 30/000 réis.<br />
Domingos Simões Sampaio, natural<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, i<strong>de</strong>m.<br />
3." anno—Diogo Augusto Coxito Granado,<br />
natural <strong>de</strong> Escalhão, i<strong>de</strong>m.<br />
300000 réis.<br />
José d'Almeida Barreio, natural <strong>de</strong><br />
Sôza, i<strong>de</strong>m.<br />
Miguel Fernan<strong>de</strong>s Ramalho, natural<br />
<strong>de</strong> Freixedas, i<strong>de</strong>m.<br />
«Povo da Figueira»<br />
É o titulo d'Um novo semanario republicano<br />
que em breve vae encetar a<br />
sua publicação na Figueira, on<strong>de</strong> o elemento<br />
republicano é já gran<strong>de</strong>.<br />
Á sua frente estão homens já experimentados<br />
nas pugnas da imprensa, o<br />
que é sobeja garantia para que o novo luctador<br />
do credo republicano possa pre,-tar<br />
naquella localida<strong>de</strong> serviços importantes.<br />
Recebemos com jubilo a noticia da<br />
appariçào do novo collega e oxalá que<br />
obtenha do publico a protecção que merece.<br />
O gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong><br />
As gentes monarchicas além das festas<br />
que promove no dia da chegada <strong>de</strong><br />
suas magesta<strong>de</strong>s, queimará na rotunda<br />
da Avenida um explenJido fogo <strong>de</strong> arlilicio,<br />
"cujo prograinnaa é o seguinte:<br />
N.° 1— Saíra <strong>de</strong> 21 tiros.<br />
N.° 2—Um bouquel <strong>de</strong> foguetes <strong>de</strong> côres.<br />
N.° 3— Gtailadas e chuva <strong>de</strong> côres e' oiro.<br />
N.° 4—Foguetes luminosos,<br />
N.° 5—Foguetes <strong>de</strong> estrellas suspensas.<br />
N.° 6—Um bouquet <strong>de</strong> foguetes venezianos.<br />
N.° 7—Fogo <strong>de</strong> estrellas do. norte.<br />
N.° 8—Granadas luminosas.<br />
N.° 9—Estrellas volantes.<br />
N,o 10—Maravilhas celestes.<br />
N.° 11—Luzes orientaes.<br />
N. e 12—Balões luminosos.<br />
N.° 13—Gran<strong>de</strong> chuva <strong>de</strong> oiro.<br />
N.° 14—Expiraes ar<strong>de</strong>ntes.<br />
N.° 15—Peça tinal.<br />
Depois d'isto só nos resta ver as<br />
condições do paiz e as contas do thesouro.<br />
Eil-as: Informa o Diário do Governo<br />
que nos <strong>de</strong>z mezes <strong>de</strong>corridos <strong>de</strong> janeiro<br />
a outubro, as receitas <strong>de</strong> 1892 na me-<br />
Iropole e consulados diminuíram 217<br />
contos e que as <strong>de</strong>spezas augmentaram<br />
3:677 contos.<br />
Nos <strong>de</strong>z mezes <strong>de</strong>corridos<br />
da gereneia do sr. José Dias<br />
Ferreira as <strong>de</strong>spezas augmentaram<br />
3:677 contos <strong>de</strong> réis!<br />
Está direito Que tem os negocios do<br />
estado tão <strong>de</strong>safogados pô<strong>de</strong> bem melterse<br />
ent extravagancias.<br />
Bem dizemos nós: — emquanto houver<br />
que ven<strong>de</strong>r e empenhar, não nos<br />
largam 1<br />
Na regencia<br />
A rainha regente acompanhada <strong>de</strong><br />
seu filho D. Affonso tem visitado a Penienciaria<br />
corveta Bartholomeu Dias e a<br />
escola <strong>de</strong>. alumnos marinheiros. Visitou<br />
lambem varias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncias do Arsenal<br />
e por fim o hospital da marinha.<br />
A GRANEL<br />
A votação republicana em Ponta Delgada<br />
foi esta: Tlteophilo Braga, 1:175;<br />
Cymbron <strong>de</strong> Sousa, 1:178, Casimiro<br />
Franco, 1:050.<br />
* * * Consta que alguns membros<br />
da commissão dos festejos realistas tentaram<br />
arrastar a commissão executiva da<br />
camara municipal a subscrever para as<br />
<strong>de</strong>spezas ou a tomar a iniciativa <strong>de</strong> alguns<br />
festejos.<br />
Diz-se que houve, porém, quem fizesse<br />
sentir que seria preferível a commissão<br />
executiva abster-se.<br />
* * # Já foram entregues ao sr.<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, inspector das escolas<br />
industriaes da circumscripção do sul, os<br />
projectos <strong>de</strong> programmas elaborado- pelos<br />
professores da e-cola «Campos Mello»,<br />
da Covilhã, para as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho,<br />
francez, mathematica, chimica e officina<br />
<strong>de</strong> tecelagem, professadas nesta escola<br />
industrial.<br />
* * # Foi enviada para Lisboa a<br />
representação da cantara municipal do<br />
Porto contra a ultima reforma administrativa.<br />
* * * Nas. ilhas do Faval, Pico e<br />
Flores lem-se apanhado bastantes baleias,<br />
que produziram consi<strong>de</strong>rável numero <strong>de</strong><br />
barris <strong>de</strong> oleo.<br />
* * * Já começaram a aftluir á Ma<strong>de</strong>ira<br />
alguns estrangeiros que vão alli<br />
passar o inverno para procurar allivios<br />
aos seus pa<strong>de</strong>cimentos:<br />
* * * A camara municipal do concelho<br />
da Calheta, Ma<strong>de</strong>ira, resolveu representar<br />
ao governo <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>,<br />
contra a inlroducção - <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
cereaes dos Açores, a qual prejudica a<br />
cultura <strong>de</strong> canua doce naquella villa.<br />
* * # Nas Amoreiras, concelho <strong>de</strong><br />
Pampilhosa, morreram duas creanças por<br />
terem comido uns cogumellos, e está moribunda<br />
uma outra pelo mesmo motivo.<br />
Eram irmãos.<br />
* * * A<strong>de</strong>lina Patti, que canton ultimamente<br />
numa só uoite 110 Albert Hall,<br />
em Londres, recebeu a fabulosa quantia<br />
<strong>de</strong> 800 libras sterlinas.<br />
* * * Já se fez a trasladação dos<br />
restos morlaes do gran<strong>de</strong> actor Antonio<br />
Pedro para o tumulo <strong>de</strong> José Carlos dos<br />
Santos.<br />
* * # Falleceu ultimamente num<br />
convento <strong>de</strong> Jerusalem uma religiosa arménia,<br />
com a eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 115 annos. Tinha<br />
entrado para o convento aos 17 annos,<br />
e lá viveu 98, sem nunca d'alli sair 1<br />
* * # Nas faldas da serra do Marão<br />
foi vista passar uma alcatéa <strong>de</strong> sete<br />
lobos, acossados talvez pela invernia dos<br />
últimos dias.<br />
* * * Os estragos produzidos pelas<br />
ultimas tempesta<strong>de</strong>s nos Estados-Uuidos<br />
foram lerriveis. Nos portos do sul houve<br />
prejuízos superiores a 450:000 dollars 1<br />
* * # Folhas da capital dão a noticia<br />
<strong>de</strong> que o Papa dirigirá brevemente<br />
Lettras Apostolicas a Portugal para conciliar<br />
os partidos políticos d'este paiz.<br />
* * * O conselho da administração<br />
das egrejas do culto evaugelico <strong>de</strong> Weilbúrg-Nassau,<br />
resolveu que todas as pessoas<br />
que assistirem a um casamento sem<br />
fazer parte dos convidados p.igarão <strong>de</strong>z<br />
pfennig (um tosUo).<br />
wawt.i ,1,1 I gusgag—gn I. imm' ui-iL<br />
* * # No mez <strong>de</strong> outubro houve<br />
no sanctuario do Sameiro o seguinte<br />
rendimento: Esmolas <strong>de</strong> bemfeitores,<br />
71/450 réis; ditas recollpdas no prato,<br />
480280; <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> estampas, 820400.<br />
Total, 2020130 réis.<br />
* * * Os partidarios do sr. con<strong>de</strong><br />
Burnay distribuíram, na horta da fabrica<br />
<strong>de</strong> tecidos da Covilhã, um jantar a todos<br />
os pobres que alli appareceram.<br />
* * * Em digressão <strong>de</strong> propaganda<br />
partem brevemente para o Algarve, os<br />
srs. Luiz <strong>de</strong> Figueiredo e Fernan<strong>de</strong>s Alves,<br />
do Protesto Operário.<br />
* * * As : esmólas colhidas no sanctuario<br />
do Bom Jesus do Monte, em todo<br />
o mez <strong>de</strong> outubro, chegaram a 1410030<br />
réis, não mencionando as provenientes<br />
da venda das estampas, que <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r<br />
a 40/000 réis.<br />
* * * A noticia publicada pelos<br />
jornaes <strong>de</strong> New-York annunciando que<br />
rebentára a revolução no estado do Rio<br />
Gran<strong>de</strong>, é absolutapinnte falsa.<br />
Coisas e loisas<br />
Harmonias conjugaes:<br />
— Sabes quem morreu?<br />
— Quem?<br />
— O Eugénio Salvador.<br />
— Que <strong>de</strong>sgraça a minha !<br />
— Porque te affliges assim?<br />
— Porque me tinha promettido casar<br />
comigo assim que tu morresses.<br />
*<br />
— De que raça é fiste cão, meu rapaz<br />
? -<br />
•— É parte rateiro...<br />
— E a outra parte ?<br />
— Ah !... é unicamente cão.<br />
*<br />
O juiz. — Com esta é a oitava vez<br />
que o tribunal o con<strong>de</strong>mna pelo mesmo<br />
crime.<br />
O reu.—D'essa maneira não sei qual<br />
<strong>de</strong> nós é o reinci<strong>de</strong>nte !<br />
Desgarradas<br />
Rosa branca toma àir,<br />
Não sejas tão <strong>de</strong>smaiada,<br />
Que dizem as outras rosas:<br />
Rosa branca não és nada.<br />
Instrucções relativas ao regulamento<br />
dos partidos <strong>de</strong> facultativos<br />
e da botica da Santa Casa<br />
da Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
C\PITULO III<br />
Da botica<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Art. 16 °—O numero <strong>de</strong> praticantes<br />
internos é fixado em tres. Quando forem<br />
alumnos do Collegio, nenhuma remuneração<br />
recebem, ficando porém a cargo<br />
d'aquelle todas as <strong>de</strong>spezas com elles,<br />
emquanto se conservarem no Collegio e<br />
forem praticantes da botica. Quando forem<br />
estranhos ao Collegio, terão cama e<br />
nteza e as mais vantagens que se contractarem.<br />
| único. Os praticantes alumnos do<br />
Collegio que sahirem por se lhes arranjar<br />
collocação noutra botica, alem do enxoval<br />
que recebem todos alumnos e das<br />
<strong>de</strong>spezas com a viagem, po<strong>de</strong>rão ainda<br />
ser subsidiados, quando fizerem exame<br />
<strong>de</strong> pharmaeia, com uma quantia não superior<br />
a 10/000 réis para ajuda da matricula.<br />
Ari. 17.°—Alem dos praticantes internos<br />
po<strong>de</strong>m ser admitlidos, por accordo<br />
entre o Provedor e o administrador<br />
da botica, praticantes externos, sob as<br />
condições seguintes:<br />
1." Nenhum ónus ou encargo, incluindo<br />
os <strong>de</strong> cama e mesa, pesará sobre<br />
a Santa Casa ;<br />
2. a Virão praticar todos os dias durante<br />
as horas que lhes forem <strong>de</strong>signadas<br />
pelo administrador da botica;<br />
5. a Incorrerão em todas as penas<br />
relativas aos praticantes internos na parte<br />
em que lhes forem applicaveis.<br />
Art. 18.°—O ajudante e os praticantes<br />
são obrigados:<br />
1.° A aviar o receituário que lhes<br />
fôr distribuído pelo administrador, ou aos<br />
praticantes, pelo ajudante;<br />
2.° A tomar nota em livro especia<br />
das substancias que forem acabando e<br />
das que se hajam inutilisado, dando logo<br />
conhecimento d'isso ao administrador, e,<br />
na falta d'esle, ao ajudante;<br />
3.° A cumprir, emfim, todas as or<strong>de</strong>ns<br />
do administrador que digam respeito<br />
tanto á preparação dos medicamentos<br />
magistraes e officinaes e ao expediente<br />
do receituário, como também á<br />
limpeza, or<strong>de</strong>m e aceio dos utensílios e<br />
da própria botica.<br />
Art. 19.°—É absolutamente prohibido<br />
aos praticantes indicar aos doentes a<br />
ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> usar qualquer medicamento,<br />
exceptuando-se d'esta disposição o sentido<br />
das legendas — para uso interno —<br />
para aso externo — para collyrio — para<br />
clyster,, etc.—, que são sempre obrigatórias<br />
em cada medicamento expedido, e<br />
que <strong>de</strong>verão ser lambem expostas <strong>de</strong> vi-<br />
Ta voz.<br />
Ar. 20.°—Os medicamentos, seja qual<br />
fôr a sua applicação, não po<strong>de</strong>rão ser entregues<br />
a creanças <strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>, ainda<br />
mesmo que lhes sejam <strong>de</strong>stinados.<br />
Art. 21.°—O creado é especialmente<br />
incumbido <strong>de</strong> cortar, contundir, rasurar<br />
e peneirar as substancias medicinaes, lavar<br />
os utensílios, varrer e arrumar as<br />
differentes casas do estabelecimento, fazer<br />
os recados fóra da botica e prestar<br />
todo o mais serviço que lhe fôr <strong>de</strong>signado,<br />
em harmonia com a indole do seu<br />
logar.<br />
Ari. 22.°—Tanto os praticantes internos,<br />
sejam ou não alumnos do Collegio,<br />
como o ajudante e o creado, têm<br />
comida no Collegio, <strong>de</strong>vendo comparecer<br />
ás refeições da comntunida<strong>de</strong>, logo que a<br />
respectiva sineta <strong>de</strong>r o signal, dois praticantes,<br />
ou o ajudante e um dos praticantes,<br />
conforme a <strong>de</strong>signação que o<br />
administrador da botica tiver feilo; e á<br />
segunda mesa os restantes.<br />
Art. 23 °—O ajudante e o creado,<br />
bem como os praticantes internos que<br />
não forem alumuos do Collegio, dormem<br />
nos aposentos juntos á botica; quando<br />
porem os praticantes internos forem todos<br />
alumnos do Collegio po<strong>de</strong>rá também<br />
um d'elies, <strong>de</strong>signado pelo Provedor, ouvidos<br />
previamente o administrador da<br />
botica e o reitor do Collegio, ficar na botica.<br />
Art. 24 0 —Os encargos impostos aos<br />
Collegios com a alimentação <strong>de</strong> todo o<br />
pessoal menor da botica, e com o vestuário<br />
e aulas dos ajudantes e praticantes<br />
que forem alumnos do Collegio, consi<strong>de</strong>ram-se<br />
a justa compensação dos medicamentos<br />
e facultativos que os mesmos<br />
collegios recebem gratuitamente do Monte-Pio<br />
Art. 25.° — Estas instrucções ficam<br />
fazendo parte do Itegulamento dos partidos<br />
<strong>de</strong> facultativos e da botica, e só po<strong>de</strong>m<br />
ser alteradas pela Mesa, seguindose<br />
o processo que fôr estabelecido no<br />
respectivo regulamento.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1892.<br />
Manoel Dias da Silva, provedor.<br />
Guilherme Alves Moreira, secretario.<br />
José Doria.<br />
Antonio Francisco do Valle.<br />
Adriano da Silva Ferreira.<br />
Antonio <strong>de</strong> Paula e Silva.<br />
Daniel Gue<strong>de</strong>s Coelho.<br />
EXPEDIENTE<br />
Prevenimos os nossos estimáveis<br />
assignanles <strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
em divida á administração do<br />
Defensor do Povo, <strong>de</strong> qne vamos<br />
enviar pelo correio os recibos das<br />
sitas assignaturas, passados alé ao<br />
dia 21 <strong>de</strong> janeiro, fim do 1.* semestre<br />
da publicação do nosso jornal.<br />
Aquelles para on<strong>de</strong> se não possa<br />
fazer cobrança postal, pedimos a fineza<br />
<strong>de</strong> nos enviarem a imporfancia<br />
do i.° semestre, para regularisar<br />
a nossa escripturação.<br />
Esperando a satisfação do nosso<br />
pedido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já agra<strong>de</strong>cemos os<br />
seus obséquios.<br />
Os recibos da Figueira são cobrados,<br />
por especial fineza, pelo ex. mo<br />
sr. Antonio Fernan<strong>de</strong>s Lindote.<br />
Os recibos <strong>de</strong> Leiria lambem<br />
por obsequio serão cobrados pelo<br />
ex. mo sr. Eduardo Martins da Cruz.<br />
1
A XX» I — 3 5 O DEFEXIOR DO POVO 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
DE<br />
Antonio Narciso Alves Correia<br />
(PretnufSei e preservativos<br />
liygienieos necessários para<br />
a estabilida<strong>de</strong> da sau<strong>de</strong> e<br />
prolongamento da vida)<br />
PREÇO 250 RÉIS<br />
A mm Sá Pâfllâ<br />
ou<br />
A erise monetária e suas consequências,<br />
imparcialmente<br />
estudadas e analysadas<br />
Dedicada ao commercio e mais industrias<br />
do paiz por<br />
ALVES MIRANDA<br />
Preço—5O réis<br />
CHRIST1AN1SM0<br />
i i L T i u m r a o<br />
Protesto patriotico contra Roma<br />
PELO<br />
PRESBYTERO<br />
Joaquim dos Santos Figueiredo<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, Coim-<br />
bra e Lisboa. — Preço 50 réis.<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha ...<br />
Repetições .<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Paxa os srs. assignantes <strong>de</strong>seonto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
TRIISPASSA-SE<br />
<strong>47</strong><br />
m estabelecimento <strong>de</strong> Fazendas,<br />
qiiinquilherias e mercearias,<br />
bem afreguezado e no melhor<br />
locai <strong>de</strong> Pombal, por seu dono não o<br />
po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />
a S. B. F. — Pombal.<br />
E S T U D A N T E S<br />
„ ecebe-os uma familia (pie<br />
ITI dá exccllente comida e bom<br />
traio por preços modicos.<br />
Para esclarecimentos, dirigir a esta<br />
redacção directamente ou por carta com<br />
as iniciaes C. S.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
„„ fi ugusto IVuiiei dos Sanek<br />
*«s, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro d'amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
jstxecuta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
& carimbos em todos os generos,<br />
sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amarella e branca. — Prateia-se -todo o<br />
çbjecto <strong>de</strong> metal uovo ou usado.<br />
Vinho iaduro do Douro<br />
e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />
SUPERIOR QUALIDADE<br />
en<strong>de</strong>-se na mercearia Ave-<br />
51 Y nida.— Largo do Principe<br />
D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 — <strong>Coimbra</strong>.<br />
FASQUIA PARA ESTUQUES<br />
E<br />
LAD&lIiBOS HQSAICOS<br />
15<br />
a Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
<strong>de</strong> José Victorino<br />
B. Miranda, em Santa Clara, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia própria para estuques a 7|$500<br />
réis cada milheiro, posta em casa dos<br />
compradores em <strong>Coimbra</strong> e subúrbios.<br />
Na mesma Fabrica serra-se também<br />
fasquia <strong>de</strong> conta alheia por preços<br />
resumidos.<br />
muito<br />
Encarrega-se <strong>de</strong> tomar encommendas<br />
em <strong>Coimbra</strong> José Tavares da Co.-la successor,<br />
no largo Principe D. Carlos, 2<br />
a 8 (loja <strong>de</strong> mercearia), on<strong>de</strong> os mestres<br />
d'obras e proprielai ios encontram também<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> ladrilhos mosaicos<br />
<strong>de</strong> lindos e variados gostos, havendo-os<br />
próprios para guarda vassouras<br />
que produzem muito bonito effeito e economia.<br />
Santa Clara, 1 d'Agosto <strong>de</strong> 1898.<br />
G A R R A F A S<br />
38 Antonio Dias Themido,<br />
compra garrafas brancas<br />
e pretas.<br />
Rua Ferreira Borges,<br />
129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />
ACTPRAS<br />
IMPRIMEM-SE<br />
Typographia Operaria<br />
Largo da Freiria, 14<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ESTABELECIMENTO<br />
P O S T O M E D I C O<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
(Arco cTÁlmedina)<br />
ANTONIO DA SILVA PONTES<br />
_„ f\onsultas das 12 horas ás<br />
5U Vt 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />
ás 9 da noite.<br />
Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser procurado<br />
na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />
Apostolos, n.° 22.<br />
EMPEEGÂDO<br />
5 J<br />
a casa <strong>de</strong> Cambio ao fundo<br />
da Praça do Commercio<br />
precisa--e <strong>de</strong> um empregado para estar<br />
á testa da mesma o qual tem <strong>de</strong> prestar<br />
caução.<br />
VINHOS DE MESA SUPERIORES<br />
B<br />
M I M ALIMENTÍCIOS<br />
. „ ftia rua <strong>de</strong> Ferreira Borges n. M<br />
4 IH 83 a 91 acaba <strong>de</strong> chegar<br />
maguilico vinho das seguiutes localida<strong>de</strong>s<br />
:<br />
T O R R E S N O V A S<br />
FUMDlO<br />
BAIRRADA<br />
Vinho branco especial. Vinhos do<br />
Porto, Ma<strong>de</strong>ira, Bucellos, Carcavellos,<br />
Champagne e muitos outros.<br />
No mesmo estabelecimento ha sempre<br />
especialida<strong>de</strong> em generos alimentícios.<br />
Manteiga franceza, ingleza e portugueza<br />
<strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>. Chá preto<br />
e ver<strong>de</strong> muito superior, bolacha <strong>de</strong> Lisboa<br />
das mais finas qualida<strong>de</strong>s, biscoitos<br />
e torta <strong>de</strong> Vallongo.<br />
SOBRE MESA<br />
Pera passada <strong>de</strong> Vizeu, abrunho <strong>de</strong><br />
Elvas, ligo do Douro e do Algarve, <strong>de</strong><br />
primeira qualida<strong>de</strong>, passas <strong>de</strong> Malaga,<br />
castanhas do Maranhão, murcellas <strong>de</strong><br />
Arouca e muito mais varieda<strong>de</strong>s para sobre<br />
mesa tanto em fructas seccas como<br />
em doce.<br />
Preços modicos em tudo<br />
Dl?<br />
l á l l l B â l B M l € l :<br />
N<br />
DE<br />
JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />
este estabelecimento encontra o comprador o que ha <strong>de</strong> mais<br />
mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />
Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />
Largo da Freiria, n. os I a 3<br />
COIMBRA<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
C O I M B R A<br />
a A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
, I_u - - M M ^ M M I W B ^ II III Ill" '••»• ii•«mwji.mm<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C.»<br />
N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
CENTRO DA MODA<br />
DE<br />
MENDES D'ABREU & C. A<br />
60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
I 2 H B B A .<br />
. „ * este acreditado estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />
J* completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />
fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam coin a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> preços.<br />
Os proprietários d'esle estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />
das manufacturas, montaram no mesmo prédio uma esplendida officina d'alfaiateria,<br />
on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />
No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />
Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />
gizes custa 400 réis.<br />
64<br />
DEPOSITO DA FABHICA NACIONAL<br />
DE<br />
B 0 M C M 1 1 B I S C O I T O S<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 "VrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
B i u i l i<br />
14, Largo dlmciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 429<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />
ANTONIO JOSÉ SE MOUEA SASIO-RUA 2SS SAPATEIAS, 20 A 23<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
ESTAMPARIA MECUAftlCA<br />
g íuge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como falo<br />
JL feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />
vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lá, etc., sem serenr <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
Tintas para escrevei* <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, allemães e fraucezes. Preços inferiores.<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serra-<br />
Iheria e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Gosta Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiqu^s e estuques<br />
a 70000 réis o milheiro.<br />
JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
Kí° * , e u ant '8° estabelecimento<br />
J^l concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />
:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
S|000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2^200<br />
réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1)5500<br />
Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e algodão<br />
para coberturas baratas. Garante-se<br />
a perfeição do trabalho eneommendado<br />
nesta casa.<br />
D'í)BilAS ARRENDAMENTO<br />
48 A P I ' e m < , a "* e 0 Prédio n.° 83 a<br />
A 87, da rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
com magnificas acomnioilações.<br />
Para tratar na loja do mesmo prédio,<br />
com Jose Paulo Ferreira da Costa.<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 97<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE 1SSIGNÂTURÂ<br />
Com estampilha<br />
Anno<br />
Semestre....<br />
Trimestre,..<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
WOO<br />
U330<br />
680<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2*400<br />
Semestre 1*200<br />
Trimestre... 600
A v a n t e l<br />
O partido republicano, cuja força<br />
dia a dia mais se affirma, tem, mais<br />
que o <strong>de</strong>ver, a obrigação <strong>de</strong> não<br />
afrouxar nem por um instante na<br />
lucta que travou.<br />
A. agremiação politica organisada<br />
e forte, que ha <strong>de</strong> arcar com a<br />
responsabilida<strong>de</strong> tremenda <strong>de</strong> reorganisar<br />
em bases novas a socieda<strong>de</strong><br />
portugueza, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> luctar<br />
constantemente pela propagação<br />
da sã doutrina e pela <strong>de</strong>struição do<br />
erro manifesto.<br />
E' nesta lucta que se empenham<br />
os mais <strong>de</strong>nodados esforços, que se<br />
affirmam as mais sinceras <strong>de</strong>dicações.<br />
Neste caminho <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrocada<br />
constante, batendo sem cessar a alluida<br />
fortaleza dos velhos princípios<br />
dynasticos com a catapulta serena e<br />
tena^ das novas i<strong>de</strong>ias da Justiça e<br />
do Direito, em pouco tempo havemos<br />
<strong>de</strong> arvorar nas velhas ameias<br />
da torre <strong>de</strong>smantelladà a ban<strong>de</strong>ira<br />
regeneradora dos novos princípios<br />
<strong>de</strong> progresso e civilisação.<br />
Ficará aberto e franco á tôdas as<br />
activida<strong>de</strong>s o mais largo campo para<br />
o seu <strong>de</strong>senvolvimento. O nepotismo,<br />
que impera hoje, ha <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r o<br />
passo ao livre concurso da intelligencia<br />
e do trabalho \ a insignificância<br />
dará logar ao .mérito, e num regimen<br />
<strong>de</strong> paz, honestida<strong>de</strong> e rnoralisação<br />
renascerá para um melhor<br />
futuro o nosso paiz, banhado no<br />
bom e oxigenado ar da Justiça e da<br />
Verda<strong>de</strong>.<br />
E é neste regimen salutar e nobre<br />
que as instituições republicanas hão<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as i<strong>de</strong>ias levantadas<br />
da regeneração para um largo futuro<br />
prospero <strong>de</strong> renascimento e trabalho.<br />
E' para esté <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ralum que convergem<br />
os nossos esforços, é com Os<br />
olhos fitos neste i<strong>de</strong>al que nós, os<br />
sinceros, os convictos, trabalhamos<br />
e luctamos com o ardor vehemente<br />
d'aquelles, que <strong>de</strong>dicam toda a sua<br />
energia ás causas justas.<br />
Não <strong>de</strong>scancemos, pois.<br />
Levantemos bem alto a nossa<br />
ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> combate; <strong>de</strong>sfraldámos<br />
bem ao vento o nosso lábaro, e saibamos<br />
mostrar a todos que somos<br />
tenazes e energicos—persistentes na<br />
consecução do nosso fim, <strong>de</strong>cididos<br />
na resistencia e na lucta. Façamos<br />
dos nossos princípios a. propaganda<br />
mais vasta — pela palavra, pela imprensa,<br />
pelo exemplo. Chamemos a<br />
nós pela pureza dos meios <strong>de</strong> que<br />
usamos, pela honesta serieda<strong>de</strong> dos<br />
nossos actos, pela elevação dos nossos<br />
fins, pela nobreza das nossas<br />
intenções, pela nossa consciência<br />
impoíluta—os tibios, os indifferentes,<br />
os <strong>de</strong>silludidos.<br />
Como outrora os esquadrões valentes,<br />
d^olhos cerrados e coração<br />
fremente, corriam, numa loucura<br />
heróica, ao sacrifício das próprias<br />
vidás, impellidos só pelo Dever,—<br />
marchemos também assim, unidos e<br />
cerrados, á conquista brilhante da<br />
nossa generosa i<strong>de</strong>ia, com a fé inabalavel<br />
dos crentes, com o enthusiasmo<br />
vibrante dos fortes.<br />
Defensor<br />
BI-SEMANÁRIO REPUBLICANO<br />
Franco Ascot.<br />
Querem dinheiro I<br />
Os bancos do Porto reclamam á valentona<br />
que o governo regularlse a situação<br />
em que se acham ! Por força querem<br />
dinheiro —uns 2:00(1 contos!<br />
Vá, srs. do governo, accudam aos<br />
hómemsinhos do Porto, que não querem<br />
saber das <strong>de</strong>sgraças do paiz.<br />
Fartaram-se <strong>de</strong> comer e roubar os<br />
accionistas e agora o paiz é que ha <strong>de</strong><br />
pagar as suas extravagancias.<br />
Se a ca<strong>de</strong>ia e a justiça se tivesse<br />
feito para esta qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criminosos,<br />
ul ! es não fatiariam tão alto 1<br />
PELOS JORNAES<br />
Com aquella candura que caracterisa<br />
o sr r. Ilcis Torgal, diz elle na Reforma:<br />
«Como uma afflrmação mais dos arreigados<br />
aíTectos do povo pelas instituições,<br />
não as julgamos precisas, porque<br />
o povo é essencialmente monarchico,<br />
e se quizessemos proval-o, bastaria<br />
compulsar o resultado dos actos<br />
eleitoraes a que ha pouco se proce<strong>de</strong>u»<br />
Isto não é candura ccuuo dissemos<br />
acima: isto é uma outra cousa que aqui<br />
não tem nome. Para lhe chamarmos pulliice<br />
é poucíf. Fica, portanto sem classificação<br />
• *<br />
É o Tempo que confirma o que muitas<br />
vezes aqui temos afíirmado.<br />
Ouçaniot o:<br />
«Sejamos logicos, se bem que é difflcil<br />
harmonisar com os dietauies da lógica<br />
e do bom senso, ris processos seguidos<br />
por essa entida<strong>de</strong> hybridaa que<br />
pela corrupção gradual das pálavras se<br />
tem, na nossa terra, convencionado<br />
chamar a Politica.»<br />
No mesmo artigo:<br />
«E é a meio d'esse tunnel, em que<br />
<strong>de</strong>víamos suppôr todos empenhados no<br />
esforço que leva para diaute, para o<br />
ponto luminoso em que <strong>de</strong>víamos ter<br />
posto os olhos,— que a briga se estabelece,<br />
a voz em grita, gesto <strong>de</strong>scomposto,<br />
rebenta a explosão <strong>de</strong> cóleras<br />
mal contidas, o medo èa <strong>de</strong>scrença lavram,<br />
as ambições fluctuam teimosas<br />
e irreverentes.»<br />
Ha aqui unia bisca para o sr. José<br />
Luciano e mais progressistas adjuntos.<br />
E já que falíamos no sr. José Luciano!<br />
Cá temos á mão preciosida<strong>de</strong>s do Correio<br />
da Noile.<br />
Isto é ler e pedir mais:<br />
«E' assombroso o que se fez em<br />
algumas assembleias par occasião das<br />
ultimas eleições municipaes. As auctorida<strong>de</strong>s<br />
administrativas o a força publica<br />
coinmetteram taeâ violências, que<br />
fazem lembrar as épocas cabralinas <strong>de</strong><br />
ominosa recordação.»<br />
«O Culpado <strong>de</strong> todos esses excessos,<br />
o responsável por todos esses attentatados<br />
ó o governo. Só a elle nos dirigimos.<br />
Só com elle ajustaremos as nossas<br />
contas. Findou a campanha junto da<br />
urna. Começa agora a campanha junto<br />
do governo, perante o paiz, diante<br />
d'aiwgos o <strong>de</strong> adversarios. O sangue<br />
das vicUmas não lia <strong>de</strong> cahir só sobre<br />
quein o <strong>de</strong>rramou Ha <strong>de</strong> cair também<br />
sobre o snr. presi<strong>de</strong>nte do conselho,<br />
que escolheu para seus <strong>de</strong>legados indivíduos<br />
afamados pelos seus prece<strong>de</strong>ntes,<br />
e lhe or<strong>de</strong>nou ou consentiu as prepotências<br />
e arbitrarieda<strong>de</strong>s, que produziram<br />
esses tristes espectáculos, que^<br />
maculam e envergonham a nossa éducação<br />
politica.»<br />
Jsto é genuinamente verda<strong>de</strong>iro; mas<br />
nos lábios do sr. José Luciano é <strong>de</strong> pas.<br />
mar.<br />
Quando estão na opposiçào sempre<br />
são umas vestaes 1<br />
Agora o Correio da Tar<strong>de</strong>:<br />
«Em todos os districtos em que os<br />
regeneradores combateram, fizeram,-no.<br />
tendo por si não só a força da auctorida<strong>de</strong>,<br />
mas também o concurso <strong>de</strong> bayonetas.<br />
O Governo <strong>de</strong>u-lhes tudo quanto<br />
pou<strong>de</strong>, tendo até em alguns círculos,<br />
<strong>de</strong> praticar violências, que o <strong>de</strong>shonraram,<br />
<strong>de</strong>sprestigiando as instituições.<br />
E nas eleições municipaes do Pòrtó, os<br />
progressistas tiveram <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobrar-se a<br />
favor dos regeneradores para que a lista<br />
republicana não ficasse vencedora.»<br />
Estão na quaresma politica e por isso<br />
vão fazendo a penitencia.<br />
0 mesmo jornal tratando da reforma<br />
eleitoral em projecto:<br />
*Não ê pois a lei que carece <strong>de</strong> reforma,<br />
mas os homems que merecem castigo.<br />
Não é a força abstracta que precisa<br />
<strong>de</strong> correcção, mas os encarregados <strong>de</strong> a<br />
respeitar, <strong>de</strong> a fazer cumprir e guardar.<br />
O governo prevaricou, o governo<br />
<strong>de</strong>linquiu, o governo atacou á mão armada<br />
as instituições, e, não po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se,<br />
preten<strong>de</strong> agora <strong>de</strong>clinar a<br />
sua responsabilida<strong>de</strong>, propondo uma<br />
reforma irrisória, para com ella ameaçar<br />
o parlamento que fez eleger no meio<br />
dos horrores <strong>de</strong> uma lucta sangrenta e<br />
con<strong>de</strong>mnavel.»<br />
Se vae á facada, vae á facada!<br />
Mais Correio da Noite:<br />
«Para suas magesta<strong>de</strong>s tudo, para o<br />
governo nada. A situação do sr. presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho não se modificou em<br />
cousa alguma com a sua ida a Hesoanha,<br />
antes talvez se tenha aggravado,<br />
sobretudo se é certo que s. ex. A promelteu<br />
ou fez promelter certas facilida<strong>de</strong>s<br />
para a conclusão do tratado <strong>de</strong> commercio<br />
num, sentido que não po<strong>de</strong> ser<br />
favoraveí para a industria portugueza,<br />
o que <strong>de</strong>pois se ha <strong>de</strong> averiguar e liquidar.<br />
O collar <strong>de</strong> Carlos III não divinisou<br />
o sr. presi<strong>de</strong>nte do conselho <strong>de</strong> ministros,<br />
nem o po<strong>de</strong> redimir dos seus gran<strong>de</strong>s<br />
erros, nem libertar das suas tremendas<br />
responsabilida<strong>de</strong>s. E' o mesmo<br />
estadista impopular, <strong>de</strong>sprestigiado, annulado<br />
a exautorado.»<br />
Aqui ha pontos mysteriosos que bom<br />
seria aclarár.-<br />
Mais um poucochinho <strong>de</strong> indiscripção,<br />
sr. José Luciano.<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
LETTRAS<br />
A <strong>de</strong>functa<br />
ir<br />
Ella estava alli, alli <strong>de</strong>baixo, na podridão!<br />
Que horrorj! Desatei a soluçar,<br />
com o ro.-lo sobre a terra.<br />
Assim fiquei muito tempo, muito tempo.<br />
Depois, percebi que cairá a noite.<br />
Então, um <strong>de</strong>sejo estravagante, louco,<br />
um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> amante <strong>de</strong>sesperado, se<br />
apossou <strong>de</strong> mim. Quiz passar a noite<br />
perto d'ella, a ultima noite, a chorar sobre<br />
a sua campa. Mas, se me vissem,<br />
expulsar-me-iam. Que fazer? Recorri<br />
a um estratagema. Levantei me, e puz<br />
me a vaguear por essa cida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sapparecidos.<br />
Caminhava. Que pequena<br />
que é essa cida<strong>de</strong> ao lado da outra,<br />
d'aquella em que se vive 1 E todavia<br />
quanto mais numerosas são que os vivos<br />
esses mortos I Sâo-nos precisas gran<strong>de</strong>s<br />
casas, ruas, tão gran<strong>de</strong> espaço para as<br />
quatro gerações, que contemplam o dia,<br />
e que ao mesmo tempo bebem a agua<br />
das fontes, o vinho das vinhas e comem<br />
o pão dos campos, ti, para tantas gerações<br />
<strong>de</strong> mortos, para toda a escala da<br />
humanida<strong>de</strong> que chegou até nós, quasi<br />
nada, um campo quasi nadai A terra <strong>de</strong><br />
novo se apo<strong>de</strong>ra d'e!1es e o olvido apaga.<br />
A<strong>de</strong>us.<br />
Ao fim do cemiterio habitado <strong>de</strong>scobri<br />
<strong>de</strong> repente o cemiterio abandonado,<br />
aquelle em que os velhos <strong>de</strong>íunctos acabam<br />
<strong>de</strong> se misturar com a terra, on<strong>de</strong><br />
as próprias cruzes apodrecem, on<strong>de</strong> amanhã<br />
serão sepultados os últimos que chegarem<br />
I Está cheio <strong>de</strong> roseiras livres <strong>de</strong><br />
cyprestes vigorosos e negros, um jardim<br />
triste e soberbo, nutrido <strong>de</strong> carne<br />
humana.<br />
Estava só, perfeitamente só. Aninheime<br />
numa arvore verdi'. Fiquei <strong>de</strong> to.do<br />
escondido entre os seus ramos folhudos<br />
e sombrios.<br />
E esperei, agarrado ao tronco como<br />
um naulragio sobre um <strong>de</strong>stroço <strong>de</strong> navio<br />
1<br />
*<br />
Quando a noite se fez escura, muito<br />
escura, <strong>de</strong>ixei o meu refugio, e puz-me<br />
a caminhar levemente, a passos lentos,<br />
a passos surdos, sobre esta terra cheia<br />
<strong>de</strong> mortos.<br />
Vaguei por muito tempo, por muito<br />
tempo, por muito tempo. Não <strong>de</strong>i com<br />
ella ! Com os braços estendidos, os olhos<br />
abertos tocando nos tumulos com as<br />
mãos, com os pés, com os joelhos, com<br />
o peito, com a própria cabeça, caminhava<br />
sem dar com ella. Tateava, apalpava<br />
como um cego que procura a sua vareda,<br />
apalpava pedras, cruzes gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 36 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
ferro, coroas <strong>de</strong> vidro, coroas <strong>de</strong> flores<br />
fanadas! Lia os nomes com os meus <strong>de</strong>dos,<br />
passeiando-se por cima das lettras.<br />
Que noite, que noile! E não a encontrava<br />
!<br />
Não havia luar! Que noite! Tinha<br />
medo, um medo horrível naquellas ruas<br />
estreita*, entre duas linhas <strong>de</strong> tumulos.<br />
Tumulos! tumulos! A- direita, á esquerda,<br />
em frente <strong>de</strong> mim em volta <strong>de</strong> mim<br />
por toda a parte, tumulos. Sentei-me sobre<br />
um d'elles porque já não podia andar,<br />
<strong>de</strong> tanto que os meus joelhos vergavam.<br />
Ouvia bater o coração! E ouvi<br />
lambem outra coisa. Um ruído in<strong>de</strong>finível<br />
!<br />
Era na minha cabeça allucinada, na<br />
noite impenetrável, ou <strong>de</strong>baixo da terra<br />
mysleriosa, <strong>de</strong>baixo da terra semeada <strong>de</strong><br />
cadaveres humanos, que nascia esse ruído?<br />
Olhava em roda!<br />
E <strong>de</strong> súbito, pareceu-me que a cobertura<br />
<strong>de</strong> mármore, sobre que me assentára,<br />
se mexia. Sem duvida, mexiase,<br />
corno se alguém a levantasse. D'uin<br />
pulo, lancei-me sobre o tumulo proximo,<br />
e vi, sim, eu vi a pedra que acabava <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ixar erguer-se a pino, e o <strong>de</strong>functo<br />
apparecer, um esqueleto nú, que com o<br />
dorso curvado a erguia. Eu via, via muito<br />
bem, apezar da escuridão da noile. E<br />
sobre a cruz pu<strong>de</strong> ler:<br />
«Aqui jaz Thiago Olivant, fallecido<br />
na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cincoenta e um annos. Amava<br />
os seus, foi honrado e bom, e morreu<br />
na paz do Senhor».<br />
O <strong>de</strong>functo lia também as palavras<br />
escriptas sobre o seu mausoléu. Em seguida<br />
apanhou uma pedra na rua, unia<br />
pequena pedra aguçada, e poz-se a riscar<br />
cuidadosamente aquellas palavras.<br />
Apagou-as <strong>de</strong> todo, vagarosamente,<br />
miraudo com os seus olhos vnsios o sitio,<br />
em que pouco antes estavam gravadas;<br />
e, com a extremida<strong>de</strong> do osso, que tinha<br />
sido o seu <strong>de</strong>do indicador, escreveu em<br />
lettras luminosas, como essas linhas, que<br />
se traçam num muro com a extremida<strong>de</strong><br />
d'um phosphoro :<br />
«Aqui jaz Thiago Olivant, fallecido na<br />
eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cincoenta e um annos. Por seus<br />
maus [tratos, apressou a morte <strong>de</strong> seu<br />
pae, <strong>de</strong> quem queria ser her<strong>de</strong>iro, torturou<br />
uma mulher, atormentou seus filhos,<br />
enganou os seus visiiihos, roubou<br />
sempre que pou<strong>de</strong>, e morreu miserável».<br />
Quando acabou <strong>de</strong> escrever estas<br />
palavras, o <strong>de</strong>functo immovel, quedou-se<br />
a contemplar a sua obra. E percebi então,<br />
relanceando os olhos em volta, que<br />
todos os tumulos estavam abertos, que<br />
todos os cadaveres tinham saido, que<br />
todos tinham apagado as mentiras inscriptas<br />
pelos parentes sobre a pedra funerária,<br />
restabelecendo a verda<strong>de</strong>.<br />
E vi que todos tinham sido os algozes<br />
dos seus proxiiuos, odientos sem honra,<br />
hypocritas, mentirosos, malvados, calumniadores,<br />
invejosos; que tinham roubado,<br />
praticado actos vergonhosos, actos<br />
abominaveis—todos esses bons paes, essas<br />
esposas fieis, esses filhos <strong>de</strong>dicados,<br />
essas donzellas castas, esses commerciantes<br />
probos, esses homens e essas mulheres,<br />
que se inculcavam como irreprehen-<br />
siveis.<br />
Escreviam todos ao mesmo tempo,<br />
sobre o limiar <strong>de</strong> suas eternas moradas,<br />
a cruel, a terrível, a santa verda<strong>de</strong>, que<br />
toda a gente ignora ou finge ignorar sobre<br />
a terra.<br />
Pensei que ella também <strong>de</strong>via ter<br />
traçado sobre o seu tumulo. E então,<br />
sem medo, correndo por meio dos esqueletos,<br />
procurei-a, certo, já <strong>de</strong> a encontrar.<br />
Reconheci-a <strong>de</strong> longe, sem lhe ver o<br />
rosto, envolto no sudário.<br />
E sobre a cruz <strong>de</strong> mármore, era que,<br />
pouco antes, eu linha lido:<br />
«Amou, foi amada, e morreu.»<br />
Li então :<br />
«Tendo um dia saido <strong>de</strong> casa para<br />
trair o seu amante, a chuva causou-lhe<br />
um resfriamento, e morreu.»<br />
Creio que me ergueram, sem sentidos,<br />
ao nascer do dia, perlo d'um tumulo<br />
I<br />
Guy <strong>de</strong> Maupassant.<br />
COIMBRA POR DENTRO<br />
Dm velho honrado<br />
Sendo esta secção <strong>de</strong>stinada a tratar<br />
dos assumptos mais palpitantes da semana,<br />
é bem que aqui se falle num dos<br />
filhos mais dilectos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e que<br />
nós, no dia do seu anniversario, cumprimentamos<br />
d'este logar—o velho jorna<br />
lista, sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
E' hoje, 19, o dia do seu anniversario<br />
natalício. Nascia quando expirava<br />
o gran<strong>de</strong> patriota, Manoel Fernan<strong>de</strong>s Thomaz.<br />
Esta coincidência <strong>de</strong> dia e anno já<br />
foi notada por um escriptor distincto, que<br />
teve esta plirase: — «Ao mesmo tempo<br />
que se abria uma sepultura engiinaldava-se<br />
um berçoi Aqui sorria a esperança,<br />
acolá florescia a sauda<strong>de</strong>; cerrava se na<br />
primeira o epilogo e no segundo <strong>de</strong>spontava<br />
a aurora <strong>de</strong> duas vidas, úteis ambas<br />
á causa da liberda<strong>de</strong>.»<br />
Gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> aílinnada por todos<br />
que têm conhecimento completo da vida<br />
d'este houesto cidadão, que empregou o<br />
melhor tempo da sua mocida<strong>de</strong> a luctar<br />
contra as prepotências e <strong>de</strong>spotismos dos<br />
.Cabraes e que ainda hoje sabe verberar<br />
com energia os que vêm atacando as relagias<br />
populares, coarctando as liberda<strong>de</strong>s<br />
publicas.<br />
Ninguém no jornalismo portuguez o<br />
exce<strong>de</strong>u no combate travado contra os<br />
<strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> Lopo Vaz, que supprimiu a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião e dissociação perseguindo<br />
a imprensa com maior furor do<br />
que o fizera o famigerado Costa Cabral.<br />
Ninguém como elle combateu essa lei<br />
iniqua, odienta, peor do que a antiga lei<br />
das rolhas, feita expressamente para a<br />
imprensa republicana, que foi a victima<br />
dos furores d'esse déspota azul e branco,<br />
<strong>de</strong> ominosa memoria.<br />
Representam, pois, os seus 70 annos,<br />
completos hoje, unia vida <strong>de</strong> canceíras<br />
e <strong>de</strong> trabalho continuo, que só a<br />
sua constancia e o seu amor pela familia,<br />
o obrigam ao labutar constante no seu<br />
Conimbricense, que vae entrar no 46.°<br />
anno da sua publicação.<br />
*<br />
No meio da protervia em que vivemos,<br />
consola a gente olhar para um homem,<br />
que, apesar <strong>de</strong> não conservar o vigor<br />
da mocida<strong>de</strong>, nem a ardência dos novos,<br />
se não tem amoldado 110 meio vicioso<br />
cm que ahi se vejeta, <strong>de</strong>stacando-se bem<br />
salientemente d'essa turba-muita <strong>de</strong> interesseiros<br />
e ambiciosos que vivem para<br />
comer á custa alheia, com sacrilicio da<br />
nação.<br />
Nascido no trabalho, para o trabalho<br />
tem vivido, 110 trabalho morrerá. E' isto<br />
que o honra, que o nobilita, que o faz<br />
impôr-se á consi<strong>de</strong>ração publica e ao respeito<br />
<strong>de</strong> lodos.<br />
Porque este honrado velho tem assistido<br />
com tristeza ao suicídio moral<br />
<strong>de</strong> muitos homens <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> talento,<br />
que ambiciosos por subirem, cegos pelo<br />
fausto e pelas gran<strong>de</strong>zas, caem aos primeiros<br />
passos, com o nome <strong>de</strong>shonrado<br />
e a dignida<strong>de</strong> perdida!<br />
E elle sempre no seu posto: trabalhando,<br />
estudando; ensinando os.novos<br />
a amar a liberda<strong>de</strong>, a patria, a terra<br />
que lhe foi berço! Assim, o mo<strong>de</strong>sto<br />
operário, tem conservado intacta a herança<br />
dos seus paes: nome honrado,<br />
<strong>de</strong>spido <strong>de</strong> riquezas; mas nome conhecido<br />
em todo o paiz e por todo o paiz<br />
respeitado.<br />
E' esta a sua gran<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, já rara<br />
nestes tempos, em que bons caracteres<br />
se adulteram, quando a vaida<strong>de</strong> os assola.<br />
19 <strong>de</strong> novembro.<br />
Nestorio dos Anjos.<br />
A crise ministerial<br />
Con(irma-se novamente que no ministério<br />
haverá recomposição antes <strong>de</strong><br />
aberto o parlamento, suppondo-se a saida<br />
do sr. Dias Ferreira, pelas intrigas partidarias<br />
<strong>de</strong> regeneradores e -progressistas,<br />
ávidos pelo po<strong>de</strong>r.<br />
Tau.o se nos dá.,»
I — 36 O DBFBMVOR DO POVO ao <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1899<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Sobre o abysmo<br />
Os presi<strong>de</strong>ntes das assembleias eleitoraes,<br />
que Ião hábeis empalmadores se<br />
revelaram nas ultimas eleições do município,<br />
vão dar, a pedido, mais um espectáculo<br />
<strong>de</strong> prestidigitação nas salas do<br />
tribunal criminal.<br />
É <strong>de</strong> crer (pie quem, com tão espantosa<br />
perícia, escamoteia centenas <strong>de</strong> votos,<br />
engula sem gran<strong>de</strong> estorço alguns<br />
mezes <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia!<br />
A extraordioaria funcção <strong>de</strong>ve-se á<br />
enérgica activida<strong>de</strong> (los srs. Cunha e<br />
Costa e Alexandre Braga, dois republicanos<br />
<strong>de</strong>dicadíssimos, dois homens sem<br />
macula, e dois valentes <strong>de</strong>fensores das<br />
regalias populares.<br />
Seria para <strong>de</strong>sejar que o henevolo<br />
regimen azul e branco (que nos tem arrastado<br />
a essa <strong>de</strong>cantada e <strong>de</strong>plorável<br />
brandura <strong>de</strong> costumes. ..) não protegesse<br />
os malandrins sob o seu manto, á<br />
sombra do qual o sr. Mariano <strong>de</strong> Carvalho<br />
medrou a olhos visto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
lhe ter chamado capa <strong>de</strong>. .. presi<strong>de</strong>ntes<br />
eleitoraes.<br />
O partido republicano que—diga-se<br />
sem rebuço, pese a quem pesarJ — é<br />
aqui importantíssimo, e 110 qual figuram<br />
os homens mais consi<strong>de</strong>rados do Porto,<br />
foi escandalosamente ludibriado, e é,<br />
portanto, d'absoluta necessida<strong>de</strong> que se<br />
dê uma satisfação condigna a e-sas consciências<br />
exploradas, illudidas torpemente<br />
pelos lacaios da galopinagem assalariada.<br />
*<br />
Emquanto por cá pullulam estas vergonhas<br />
(dynamonietro que nunca a força<br />
exacta da monarchia...) emquanto o<br />
paiz exhausto se estorce nas convulsões<br />
do agonisanle, luclando com as mil contrarieda<strong>de</strong>s<br />
que o esmagam, sentindo<br />
roer-lhe a alma o cancro da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia,<br />
arrazado pela crise, affrontado pela pirataria<br />
britannica, que ameaça mandar nos<br />
os seus vasos <strong>de</strong> guerra para o Tejo,<br />
emquanto Portugal cae em ruína, sem<br />
dinheiro em casa, sem credito no estrangeiro,<br />
sem moralida<strong>de</strong> no governo e sem<br />
brio 11a alma dos cortezãos, incapazes<br />
<strong>de</strong> sustentar as brilhantíssimas tradicções<br />
da antiga Lusitânia; emquanto os abutres<br />
farejam o moribundo, e a nossa in.<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ucia, e a nossa liberda<strong>de</strong>, se affundam<br />
a pouco e pouco no abysmo;<br />
emquanto — prenuncio do proximo anniquillamento!<br />
— nos flagellam todas as<br />
pequenas indignida<strong>de</strong>s e todas as baixezas<br />
ignóbeis; emquanto, cmlini o glorioso<br />
Portugal <strong>de</strong>smente iodas as outras scintillantes<br />
paginas <strong>de</strong> luz que <strong>de</strong>ixam, como<br />
constellações, refulgindo na sua grandiosa<br />
Historia — Suas Mage-la<strong>de</strong>s passam<br />
sem novida<strong>de</strong> na sua importante saú<strong>de</strong> e<br />
divertem-se em Madrid.<br />
Risos e festas I<br />
A rainha <strong>de</strong>sejou uma tourada á liespanhola,<br />
e na quinta feira ultima <strong>de</strong>viam<br />
alguns cavallos ler licado sem tripas,<br />
para que sua magesta<strong>de</strong> fizesse i<strong>de</strong>ia<br />
exacta do toureio hespanhol.<br />
Surprehen<strong>de</strong>-nos, em verda<strong>de</strong>, que a<br />
sr. & D. Amélia d'Orleans — tão boa, tão<br />
generosa, tão caritativa — goste <strong>de</strong> louradas<br />
(divertimento que repugna a todas<br />
as senhoras que . .. não são rainhas),<br />
—principalmente das qiíe se realisum no<br />
visinho reino.<br />
O sangue — e o sangue corre em<br />
abundância nas corridas <strong>de</strong> touros d'IIespanha..<br />
.—nunca agradou ao sexo bello.<br />
Ninguém diiá, no emtanto, (|ue não<br />
é bella a rainha <strong>de</strong> Portugal I<br />
*<br />
Festas, lhealròs, jantares, recepções<br />
diplomáticas, gran-cruzes e tosões <strong>de</strong><br />
ouro... eis ahi o trabalho hercúleo que<br />
lança sobre os hombros do nosso monarcha<br />
o pesadíssimo encargo <strong>de</strong> reger a<br />
nação I<br />
...lí já que estamos em maré <strong>de</strong><br />
pan<strong>de</strong>ga e a época corre para folias, vem<br />
a proposito dar aqui a noticia <strong>de</strong> que<br />
abre, em 3 do proximo <strong>de</strong>zembro, o<br />
nosso theatro lyrico, <strong>de</strong> que é emprezario<br />
o sr. Arthur Bamta. e representante<br />
da empreza o estimado e conhecido Guilherme<br />
<strong>de</strong> Castro.<br />
O elenco da companhia garante uma<br />
boa temporada d'opera aos diletlanti<br />
portuenses.<br />
Salientam-se no elenco, pelos seus<br />
reconhecidos méritos, os seguintes artistas:<br />
Matta £ Marchesio, contraltos; Elvira<br />
Brambilla, soprano; Suafies e Lafont,<br />
tenores; Arazo, barytono; Megia, basso.<br />
No reportorio figuram, entre outras,<br />
as bellas operas: Ione, Poliulo, Muda <strong>de</strong><br />
Postici, Huguenotles, Iligoletto. Africana,<br />
Bácheiro, Vestal e Buy Blas<br />
Falla-se também nos Pescadores <strong>de</strong><br />
pérolas e Bella donzella <strong>de</strong> Peslli (do<br />
<strong>de</strong>sventurado Bizet) — que serão as duas<br />
operas novas da estação lyrica.<br />
Fecharei a chronica d'hoje participando<br />
aos meus leitores que a empreza<br />
do theatro Principe Real promette <strong>de</strong>pois<br />
do burro — um rei.<br />
— O rei darnnado seguirá ao Burro<br />
do sr. Alcai<strong>de</strong>. Não sei se o quadrupedi<br />
levará vantagem ao monarcha no êxito<br />
theatral; mas quer-me parecer que o<br />
burro ganhará a palma do triumpho, e<br />
que não será o rei damnado quem <strong>de</strong>sprestigie<br />
o Serapião.<br />
É em verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>plorável se se dá o<br />
facto <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>r mais a cabeçuda do que<br />
a corôa •/•»..<br />
Fra-Diavolo.<br />
Porto, 17 <strong>de</strong> novembro.<br />
1<br />
El Gordito e El Magrito -<br />
Os bespanhoes cognominaram o nosso<br />
augusto soberano dè El Gordito.<br />
Perfeitamente.<br />
O povo portuguez <strong>de</strong>ve ser cognominado<br />
El Magrito.<br />
Também não fica mal.<br />
Caramba I<br />
Suas magesta<strong>de</strong>s portuguezas assistiram<br />
em Hespanha á tourada em que foram<br />
mortos sete touros e seis cavallos.<br />
Rezam as gazetas que quando Mazzantini<br />
matou o 5;° touro el-rei D. Simão<br />
tirou o alfinete da gravata e lançou-lh'o<br />
á a r ena I<br />
Eis um imponente rasgo <strong>de</strong> heroicida<strong>de</strong>.<br />
Tal facto traz nos á memoria a<br />
-coragem das antigas phalange* lusitanas,<br />
não extincta ainda 110 animo do famoso<br />
rei.<br />
Este caso <strong>de</strong>ve ser gravado nos fastos<br />
da historia contemporânea dos dois<br />
paizes peninsulares.<br />
E viva la gracia 1<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
Nós é que não acreditamos que em<br />
tal se pense e tal se faça... Diz se que<br />
o governo vae entregár a administração<br />
da Santa Ca*a da Misericórdia n uma<br />
commissão por ella nomeada !<br />
Vos já estaes adivinhando quem estaria<br />
<strong>de</strong>traz da cortina a olhar para o<br />
logar perdido ha pouco por <strong>de</strong>sleixo nos<br />
seus <strong>de</strong>veres!<br />
Que a cousa da eleição da Misericórdia<br />
eslá tremida e os politicões que<br />
agora querem ser o ludo em <strong>Coimbra</strong><br />
vêem tremidas as suas pretensões.<br />
*<br />
Teem aos perguntado o que faz a<br />
Associação Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, agora<br />
que se falia em negociações com a Inglaterra,<br />
e se preten<strong>de</strong> realar os laços<br />
<strong>de</strong> antigas amiza<strong>de</strong>s.<br />
O que ella fez sabemos nós: protestou<br />
contra o ultimalum; <strong>de</strong>itou manisfesto<br />
quando foi do tratado <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto;<br />
alguns commerciantes suspen<strong>de</strong>ram as<br />
transacções com casas inglezas, ele.<br />
O que fará— nicles! Porque nos parece<br />
que a Inglaterra d'agora não e a<br />
mesma d'então; porque a outra <strong>de</strong> 1890<br />
roubou nos com dolo e má fé; e esta <strong>de</strong><br />
1892 vem proteger-nos com sincerida<strong>de</strong><br />
e affecto. ..<br />
Os monarchicos — e o resto — é que<br />
enten<strong>de</strong>m estas endrominas diplomáticas.<br />
Que afinal não passam d'unta infamia!<br />
*<br />
A matrona do Terreiro da Erva tem<br />
posto pela rua d'amargura os republicanos.<br />
Mãos nas ancas, e não lia insolência<br />
que não vomite.<br />
O Sergio Vadio <strong>de</strong> mãos dadas com<br />
o barão da Divina Provi<strong>de</strong>ncia, a bichanam<br />
ao ouvido da infeliz.<br />
Eslaes fartos <strong>de</strong> conhecer os dois, vós<br />
lodos que nos lêles ?!<br />
Cá ficamos em guarda para o primeiro<br />
assalto—e cairemos a fundo.<br />
Magriço.<br />
EM SURDINA<br />
Em <strong>Coimbra</strong> festejaram,<br />
a chegada dos sob'ranos,<br />
pobremente... nem <strong>de</strong>itaram<br />
foguetorio — uns tyrannos!<br />
Quem, pois, fez toda a festança<br />
foi o bravo 23 ;<br />
tocou o hymno bragança<br />
todo o dia, muita vezj<br />
Não chegou a haver berreiro<br />
<strong>de</strong> vivas, coisas e tal...<br />
Gastaram muito dinheiro<br />
na comedia eleitorall...<br />
Realista <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
nisto timbra:<br />
só ter vóz<br />
p'ro caso — do vtn ha a nós...<br />
PINTÀ-ROIA.<br />
O commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />
— manifestação patriótica<br />
Foi imponentíssima a reunião ultimamente<br />
realisada na capital pela Associação<br />
Commercial dos Lojitas a fim <strong>de</strong> se<br />
approvar uma moção <strong>de</strong> protesto coníra<br />
amlliança ingleza.<br />
A sessão correu animada e enthusiaslica,<br />
provando aos monarchicas que<br />
as classes activas e com ellas o paiz,<br />
repcllem com nobreza as suas infames<br />
traições, porisso que não po<strong>de</strong>m esquecer<br />
a cobardia do itllimalum <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> janeiro,<br />
que vergonhosamente veiu aífrontar a<br />
honra nacional.<br />
Se aos partidos que servem as instituições<br />
lhes apraz reatar antigas amiza<strong>de</strong>s<br />
com a nação pirata, para interesses<br />
proprios, o paiz que acima <strong>de</strong> tudo colloca<br />
a honra nacional e a in<strong>de</strong>pendência da<br />
patria, saberá reagir e luctar contra os<br />
traidores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e os traidores <strong>de</strong><br />
fóra.<br />
Nesta reunião faltaram os srt. Pinheiro<br />
<strong>de</strong> Mello, Magalhães Ba-to, Saraiva<br />
Lima, Costa Júnior, Estevam <strong>de</strong> Vasconcelos,<br />
Trinda<strong>de</strong> Roquetle, Santos, Azevedo,<br />
Martins Correia, Lopes da Silva,<br />
que pronunciaram magníficos discursos,<br />
que foram cobertos com calorosos applausos.<br />
Foi apresentada a patriótica moção<br />
que abaixo publicámos, que recebeu<br />
approvação unanime, enrerrando-se a<br />
sessão aos gritos <strong>de</strong>:<br />
Viva a patria!<br />
Abaixo a alliança ingleza! ,<br />
*<br />
«Consi<strong>de</strong>rando quo o ultimalum <strong>de</strong> 11<br />
<strong>de</strong> janeiro vibrou fundo no coração do<br />
povo portuguez, abrindo nelle in<strong>de</strong>level<br />
ferida, que ainda não cicatrisou;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que aquelle acontecimento<br />
exclue toda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
reatarmos por agora as antigas relações<br />
<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que ligavam es d'>is povos,<br />
cumprindo nos apenas, como bons portuguezes,<br />
ser cortezes mas frios nas nossas<br />
relações com a nação ingleza ;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que fado» <strong>de</strong> publica<br />
notorieda<strong>de</strong> dão credito aos boatos que<br />
teem corrido no publico <strong>de</strong> se tentar por<br />
parte do governo portuguez a renovação<br />
da perniciosa alliança ingleza, em com<br />
pleto <strong>de</strong>sprezo dos votos do paiz, tão<br />
energica e brilhantemente formulados,<br />
e com grave offensa dos nossos interesses<br />
commerciaes;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a annunciada vinda<br />
a Lisboa da esquadra ingleza vem dar<br />
força e authenticida<strong>de</strong> a estes boatos, fazendo-os<br />
acreditar no estrangeiro, se por<br />
parte do povo portuguez se não fizer<br />
publica e inequívoca <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />
que Portugal repudia semilhàute approximaçâo;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cortezia<br />
que nos obrigam a receber com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />
e fria poli<strong>de</strong>z os nossos hospe<strong>de</strong>s<br />
não pó<strong>de</strong>m tolher-nos o direito <strong>de</strong><br />
fazermos o nosso protesto contra essa<br />
tenlativa <strong>de</strong> alliança, fazendo uma <strong>de</strong>monstração<br />
que, embora cordata e pacifica,<br />
como convém aos créditos e bom<br />
nome do corpo commercial, signifique<br />
claramente que não queremos a renovação<br />
<strong>de</strong>ste antigo pacto;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a Associação Commercial<br />
<strong>de</strong> Lojistas <strong>de</strong> Lisboa tem vinculada<br />
as suas melhores tradicções á brilhante<br />
iniciativa das manifestações realisadas<br />
peio corpo commercial <strong>de</strong> 1890<br />
contra a brutalida<strong>de</strong> da alfronta que nos<br />
foi feita pelo governo da Grã-Bretanha;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que mais uma vez lhe<br />
compele manifestar-se em perfeita coh«rencia<br />
com o seu passado, iniciando uma<br />
manifestação contra o projectado pacto<br />
qut tão gravemente pô<strong>de</strong> ferir os legítimos<br />
interesses do commercio;<br />
Resolve protestar contra a renovação<br />
da alliança ingleza, por contraria aos interesses<br />
públicos, solicitando para esse<br />
lim o concurso d'outras collectivida<strong>de</strong>s,<br />
e dirigir um manifesto ao commercio <strong>de</strong><br />
Lisboa, recommtiidando-lhe, como primeira<br />
manifestação da sua <strong>de</strong>sapprovação<br />
á referida alliança, o encerramento <strong>de</strong><br />
meia porta dos seus estabelecimentos<br />
durante 24 horas, contadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a chegada<br />
ao nosso porto da esquadra ingleza,<br />
que 'será annunciada pelas salvas do<br />
estylo.<br />
Resolve mais pedir aos commerciantes<br />
para se limitarem a esla muda mas<br />
sigiíificativa manifestação, ab»lendo-se por<br />
agora <strong>de</strong> fazer outras <strong>de</strong>monstrações que<br />
possam ser perturbadas ou adulteradas<br />
nos seus intuitos, prejudicando assim a<br />
imponência do seu pacifico mas firme e<br />
levantado protesto.<br />
Ignacio <strong>de</strong> Magalhães Basto.»<br />
THEATROS<br />
De volta pela segunda vez a <strong>Coimbra</strong><br />
a celebrada companhia Infantil, que<br />
tanto tem allrahido as attenções e o favor<br />
do publico nas tres principaes cida<strong>de</strong>s<br />
do nosso paiz, apresentou-nos na 5 a<br />
feira a conhecida Mascotte, opera cómica<br />
<strong>de</strong> larga vida já, mas sempre attrahente<br />
e formosa.<br />
O grupo notabilissimo dos artistas<br />
encarregados do <strong>de</strong>sempenho d'esta peça<br />
houve-se dislinciamente e d um modo<br />
inteiramente á altura da sua jusla fama.<br />
Ali não ha discrepâncias, não ha notas<br />
discordantes, não ha, emfim, <strong>de</strong> que se<br />
diga mal. Ila, pelo contrario, alguns, que<br />
<strong>de</strong>stacam notavelmente d'entre os seus<br />
pequenos coliegas—umas creancilas ainda,<br />
com,uma aptidão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s actores.<br />
Não sei que mais se lhes possa exigir—<br />
dicção correcta, firmeza e elegant;ia<br />
no pisar do palco, proprieda<strong>de</strong> nos<br />
gestos, e até, por vezes, phrases finamente<br />
sublinhadas, ludo isto se encontra<br />
e se aprecia nestes pequenos actores.<br />
A lodos sobresahe o nosso gran<strong>de</strong><br />
Palop. E extraordinário. Como actor, pequeno,<br />
representa <strong>de</strong> modo que tomaram<br />
muitos actores, gran<strong>de</strong>s, representar como<br />
elles. Como cantor ostenta uma bella voz,<br />
que se mantém, sem <strong>de</strong>cahir, em phrases<br />
acci<strong>de</strong>nladas, assignalando rapidas<br />
transições sem nada per<strong>de</strong>r do seu brilho,<br />
atacando as notas altas com uma<br />
firmeza, que em nada compromette a<br />
sua sonorida<strong>de</strong>.<br />
Mas nem só Palop é digno <strong>de</strong> menção;<br />
outros ha <strong>de</strong> notáveis aptidões scenicas<br />
e ainda apparecem outras vozes<br />
bellas.<br />
Valdivieso 110 papel <strong>de</strong> principe Lorenzo,<br />
Vicuna e Carrasco nos <strong>de</strong> Jiaiueta<br />
e Belina, apresentaram-se dislinctamente.<br />
No <strong>de</strong>sempenho especialisarei — o<br />
dueto do 1.° acto entre Palop e Carrasco,<br />
ondo Palop mostrou que a sua voz<br />
se doma facilmente tanto ás ternas expressões<br />
lyricas, sua* es, como és plirazes<br />
apaixonadas, cheias.<br />
Carrasco acompanhou-o também sem<br />
nada <strong>de</strong>smerecer do seu pequeno apaixonado.<br />
O côro final do 1.° acto é d'uma<br />
egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes inexcedivel e d'um<br />
bello effeito scenico. A scena do 2.°<br />
acto entre Valdivieso, Vicuría e Carrasco<br />
revela no primeiro um aclor comico <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s esperanças e mostra como Vicuna<br />
e Carrasco sublinham com finura,<br />
numa perfeita intelligeucia dos seus papeis.<br />
Finalmente, admiram-os tanto os pequenos<br />
artislas como a gran<strong>de</strong> competência<br />
do seu director, que tão bem sabe<br />
aproveitar aquellas aptidões, reveladoras<br />
<strong>de</strong> futuros artistas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> merecimento.<br />
Mas alcançarão elles 110 mundo da<br />
Arte o papel a que <strong>de</strong>vem aspirar?<br />
Pena sera que este trabalho constante<br />
e violeulo a que se entregam tão creanças<br />
ainda, para <strong>de</strong>sempenharem tanto a<br />
primor os variados papeis que lhes leem<br />
sido confiados, longe <strong>de</strong> elevar estas <strong>de</strong>cididas<br />
vocações á altura <strong>de</strong> futuras celebrida<strong>de</strong>s,<br />
antes as alrophie e esmague.<br />
Apresenta-se-nos este contra e <strong>de</strong>ixa no<br />
nosso espirito umi verda<strong>de</strong>ira impressão<br />
<strong>de</strong> magua.<br />
S PALESTRAS<br />
I V<br />
— Viva a pan<strong>de</strong>ga! Viva o pago<strong>de</strong>!<br />
Viva a alliança ingleza! Viva o rei I<br />
Viva...<br />
— Cala-te diabo, olha a policia que<br />
te ouve.<br />
— Qual policia, ou qual diabo! Com<br />
estes vivas tenho a certeza que o senhor<br />
todo Pedroso me não <strong>de</strong>ita os gatazios ;<br />
<strong>de</strong>pois eu recebi uns bagos para dar vivas<br />
a valer, e lu sabes que não gosto <strong>de</strong><br />
o ganhar á boa vida, porisso toca a gritar<br />
: Viva a nossa fiel alijada I Viva o<br />
pago<strong>de</strong> ! Viva a borga !<br />
— Raios te parlam mais aos vivas<br />
que estás dando.<br />
— Então que vivas queres tu que<br />
eu dê? Queres talvez que eu diga viva<br />
a patria, abaixo a alliança ingleza ? Nada<br />
d'iscas, que eslá o bacalhau caro. Não<br />
que os Siicarrões andam com os olhos<br />
muito abertos e as unhas muilo afiadas;<br />
e eu não estou pare ir para o estarim.<br />
E então: Viva a pandiga! Viva a alliança<br />
ingleza! Vivam as instituições. Viva o<br />
senhor folgazão Folgosa !... O' rapazes!<br />
aquillo é que é um pandigo d'uma caoa;<br />
11111 rein.adio <strong>de</strong> marca! Se não fosse elle<br />
esta Parvónia <strong>de</strong> Lisboa recebia Os nossos<br />
reis como se fosse uma Bellizaria. Elle,<br />
com mil diabos!, indignado com aquelle<br />
jacobino do Eduardo d'Abreu, e outros,<br />
terem dado vivas a patria-—que patifes!—<br />
islo nas reaes bochechas <strong>de</strong> suas magesr<br />
la<strong>de</strong>s; zangado óom aquelles gajos, lemhrou-se<br />
<strong>de</strong> fazer uma manifestação espontânea<br />
á familia real—e zas ! Pensou<br />
nisto á noute, e assim que chegou a niauliã,<br />
elle ahi vae... Volta p'ra aqui,<br />
volta p'ra alli; dinheiro p'ra aquém, dinheiro<br />
p'ra além; pedido para um lado,<br />
ameaças para o outro; e vês tu, meu<br />
amigo, tudo prompto! Aquilio parece que<br />
fez tudo por artes do diabo! D'aquelle<br />
po<strong>de</strong> dizer-se como <strong>de</strong> Cesar: chegou,<br />
viu e venceu! E que espontaneida<strong>de</strong>!!!<br />
Era vères: 110 governo civil a promptidão<br />
cóm que se apresentavam os pobres para<br />
abrilhantarem a festa, os fornecedores<br />
para ven<strong>de</strong>rem os differentes artigos e<br />
os trabalhadores para trabalharem e ganharem<br />
a cô<strong>de</strong>a. E olha que tudo isto<br />
sem lhe pedirem !!! Olha meu amigo, o<br />
povo portuguez é como o povo romano,<br />
só quer pan<strong>de</strong>ga! Deixa te lá <strong>de</strong><br />
lerias, esle mundo é <strong>de</strong> quem mais gosa!<br />
Vocês, seus republicanos <strong>de</strong> bôrra, são<br />
uns gran<strong>de</strong>s semsaborões; querem or<strong>de</strong>m<br />
e moralida<strong>de</strong>—palavrões balofos que não<br />
fazem ecco no peito dos pân<strong>de</strong>gos 1 Saibas,<br />
meu asno, que Portugal é um paiz<br />
<strong>de</strong> pân<strong>de</strong>gos. Quem diabo, a não serem<br />
vocês, se lembra das misérias que nos<br />
affligcm ? Só vocês tomaram a seu cargo<br />
o serem aves agourentas, dando-nos a<br />
nota discordanle, no meio dos nossos<br />
gosos; vào-se lodos para o diabo, e <strong>de</strong>ixem-nos<br />
divertir á vonta<strong>de</strong>. E certo que<br />
muitas vezes não temos uma <strong>de</strong> X, mas<br />
em compensação lemos <strong>de</strong> tempos a tempos<br />
um pago<strong>de</strong> real — um pago<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
truz ! Ouve : ha dias num diabo d'uui<br />
allarrabio antigo <strong>de</strong> 1780; islo é <strong>de</strong> ha<br />
112 annos, intitulado—Adágios, provérbios,<br />
rifões e anexins da língua portugueza—fui<br />
encontrar o seguinte, naturalmente<br />
escripto por algum semsaborão<br />
d'algum republicano:<br />
«Na côrte lia parcialida<strong>de</strong>s antigas,<br />
dissenções presentes, juizos temerários, e<br />
testemunhos evi<strong>de</strong>ntes, entranhas <strong>de</strong> viboras,<br />
e línguas <strong>de</strong> serpentes; malsms muitos,<br />
amigos poucos; nella todos tomam a<br />
voz da republica, e cada um busca a utilida<strong>de</strong><br />
própria; todos publicam bons <strong>de</strong>sejos,<br />
em mas obras todos se oceupam. Na<br />
côrte cada dia mudam senhores, renovam<br />
leis, <strong>de</strong>spertam paixões, levuntam ruídos,<br />
abatem os nobres, favorecem os indignos,<br />
<strong>de</strong>sterram os innocentes, honram os roubadores,<br />
amam os lisongeiros, <strong>de</strong>sprezam<br />
os virtuosos, abraçam os <strong>de</strong>leites, escouceiam<br />
as virtu<strong>de</strong>s, choram pelos maus, e<br />
riam se dos bons.*<br />
Já viste maior numero <strong>de</strong> calumnias<br />
e infamias? Emfim, meu amigo, lembrate<br />
que o braço <strong>de</strong> rei e a lança, longe<br />
alcança! Portanto, é preciso juizo, <strong>de</strong>mais<br />
em honra d'el-rei recebi uns bagos;<br />
vou comer um caldo, a<strong>de</strong>us: Viva o<br />
rei! Viva a alliança ingleza! Viva a pan<strong>de</strong>ga<br />
!<br />
— Pois sim, meu pobre diabo, dá,<br />
dá vivas a el-rei.. . Mas lembra-te que<br />
quem a vacca d'el-rei come magra, gorda<br />
a paga. Vae, vae. Eu digo comtigo :<br />
Viva o rei que folga! E morra a patria<br />
que se avilta I
AIV>0 I — X . 9 3 6 O D E F E X S O R D O P O V O<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A policia Uncal — nova» exigencias<br />
ao commercio — multa*<br />
Não queremos saber se <strong>de</strong>sgoslámos<br />
o sr. commandatite da guarda fiscal, ao<br />
darmos publicida<strong>de</strong> aos abusos praticados<br />
pelos seus subordinados, que se lançaram<br />
na 1'uria insana <strong>de</strong> esgotarem—em<br />
nome não sabemos <strong>de</strong> que lei I — a bolsa<br />
do contribuinte, obrigando o commercio<br />
d'esta cida<strong>de</strong> a paralysar as suas<br />
transacções, em face das iniquida<strong>de</strong>s que<br />
estamos presenceando.<br />
Como temos por norma combater todas<br />
as illegalida<strong>de</strong>s, lodos os abusos,<br />
partam d'ou<strong>de</strong> partirem, e como estamos<br />
convencidos que a nossa legislação não<br />
or<strong>de</strong>na semelhantes vexames, nem tão<br />
brutaes arbitrarieda<strong>de</strong>s — porisso que só<br />
em <strong>Coimbra</strong> vemos empenhada a guarda<br />
fiscal em explorar o contribuinte para seu.<br />
interesse — havemos <strong>de</strong> continuar jieste<br />
assumpto, sem que nos assustem ou intimi<strong>de</strong>m<br />
as bravatas <strong>de</strong> boçaes caserneiros,<br />
que julgam esta cida<strong>de</strong> terra conquistada.<br />
E se quasi isolados nos vemos nesta<br />
questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> interesse geral,<br />
tanto melhor, porque é Iwm que se<br />
saiba quem, nesta terra, só trabalha e,<br />
caminha para agradar a quem po<strong>de</strong> espalhar<br />
beneticios.<br />
*<br />
Chegam-nós novas informações, que<br />
submetlemos á consi<strong>de</strong>ração do publico,<br />
e elle dirá se tudo isso não repugna, se<br />
não revolta a maneira acintosa como se<br />
preten<strong>de</strong> esbulhar o publico 'do seu dinheiro,<br />
qi^í representa lautos sacriíicios,<br />
tantas torturas.<br />
Desenrolamos o sudário, parte d'elle,<br />
pois que se fossemos a publicar, d'uma<br />
so vez, os apontamentos que temos á nossa<br />
frente, as dimensões do nosso Defensor<br />
do Povo seriam pequenas para comportar<br />
tanta matéria.<br />
Seremos breves e contaremos apenas<br />
os factos que mais avultam entre tantas<br />
arbitrarieda<strong>de</strong>s — que outro nome têm !<br />
*<br />
Ven<strong>de</strong>u o negociante sr. Antonio<br />
Vieira <strong>de</strong> Carvalho, a um seu freguez,<br />
ten<strong>de</strong>iro ambulante, dois volumes <strong>de</strong> fazenda,<br />
e quando este se dispunha a seguir<br />
viagem, ura segundo sargento da preciosa<br />
guarda fiscal, intima o homem a<br />
acompanhal-o ao posto fiscal, ás Ameias.<br />
Teve conhecimento d'este facto o sr.<br />
Vieira <strong>de</strong> Carvalho, que immedialamente<br />
se apresentou alli, contestando a apprehensâo,<br />
e pedindo ao seu freguez seguisse<br />
com elle para sua casa. Antes, porém,<br />
<strong>de</strong> lá-chegar surgem <strong>de</strong> repente uns quatro<br />
ou cinco guardas que novamente obrigam<br />
o conductor das fazendas a seguir<br />
cora eiles para o posto do Arco d'Almedina,<br />
Vejam como eiles andara diligentes<br />
1<br />
Chegados alli, expostas às razões,<br />
era <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m a illegalida<strong>de</strong>, que o<br />
estado maior recusou-se a legalisar o<br />
serviço, mandando o homem embora com<br />
as fazendas.<br />
Mas perguutamòs: foi o pobre homem<br />
in<strong>de</strong>iiiuisado dos prejuizos que soffreu?<br />
Foram os guardas e o tal sargento<br />
castigados ou admoestados pelo abuso<br />
que eommetteram? Nada d'isso I<br />
Portanto, on<strong>de</strong> está a justiça dos seus<br />
actos sr. commandante da guarda fiscal?<br />
On<strong>de</strong> abriga v. ex. a a sua rectidão?<br />
O sr. Januario Damasceno Ratto,<br />
representante nesta cida<strong>de</strong> da firma Sebastião<br />
da Costa Ratto & Sobrinhos, da<br />
Covilhã, ven<strong>de</strong>ra ha dias ao sr. Manoel<br />
Dias Coelho, <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, alguma? fazendas<br />
<strong>de</strong> lá, que esta fizera conduzir<br />
por «ma recoveira. Nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Seruaihe foi assaltada a pobre mulher<br />
pelos guardas, que a fizeram retroce<strong>de</strong>r<br />
até á venda do Cego, que fica bastante<br />
longe, on<strong>de</strong> lhe exigiram a multa <strong>de</strong><br />
2$120 reis; tendo <strong>de</strong> pagar egual quantia<br />
por outros artigos que levava do estabelecimento<br />
do sr. Augusto <strong>de</strong> Sousa<br />
Machado, também d'esta cida<strong>de</strong>, li isto<br />
a titulo <strong>de</strong> favor —para não ter que vir<br />
a <strong>Coimbra</strong> !<br />
Egual sorte teve uma outra recoveira<br />
que levava uma encominenda da loja do<br />
sr. Francisco Vieira <strong>de</strong> Carvalho, para<br />
a sr. a Clementina Alves Branco, <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa,<br />
que teve <strong>de</strong> esportullar os guardas<br />
com os 2$120 reis da or<strong>de</strong>m!<br />
Scena egual se <strong>de</strong>u com Maria Biçha,<br />
<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, que havia comprado ao' sr.<br />
Antonio Gomes, pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fazendas, para seu uso, <strong>de</strong>sembolsando,<br />
como as outras <strong>de</strong>sgraçadas a referida<br />
quantia.<br />
E está explicado porque no hotel<br />
Mon<strong>de</strong>go, ha seWanis a esta parte, se<br />
ouve nos baixos do prédio, on<strong>de</strong> está<br />
iifslatlado o quartel da guarda fiscal,<br />
gran<strong>de</strong> pago<strong>de</strong>ira!<br />
Aos guardas pertence meta<strong>de</strong> das<br />
multas e quando o dia corre <strong>de</strong> feição,<br />
serve a noule para a celebração dos apuros<br />
!<br />
Emquanto estes gosam, choram os<br />
<strong>de</strong>sgraçados o que lhe extorquiram em<br />
nome da lei !<br />
Mas on<strong>de</strong> está essa lei, que só foi<br />
<strong>de</strong>cretada para <strong>Coimbra</strong> ?<br />
»<br />
A situação, pois,.em que collocaram<br />
o commercio d'e?ta cida<strong>de</strong> é a mais <strong>de</strong>sgraçada<br />
que se pô<strong>de</strong> imaginar.<br />
:Se este estado <strong>de</strong> cousas se prolongar<br />
e o povo das al<strong>de</strong>ias fôr sabedor <strong>de</strong><br />
(pie nas estradas será assaltado pelos<br />
beleguins <strong>de</strong> farda, que em nome da tal<br />
lei o obrigam a <strong>de</strong>spejar a bolsa, com<br />
certeza não é elle que virá á cida<strong>de</strong> fazer<br />
as suas compras, limitando-se portanto<br />
ao pequeno sortimento que lhe po<strong>de</strong>m<br />
fornecer os estabelecimentos das<br />
villaS: e das al<strong>de</strong>ias.<br />
E isto não representará para o commercio<br />
d'esta cida<strong>de</strong> um alto prejuízo?<br />
Repetimos o que dissemos em o passado<br />
numero: se a classe commercial<br />
nâo toma em sua <strong>de</strong>feza uma attitu<strong>de</strong> firme<br />
e energica virá |a sollrer perdas incalculáveis<br />
e immediatas.<br />
E o commercio melhor do que nós<br />
pô<strong>de</strong> avaliar esses prejuizos, porisso que<br />
em muitos estabelecimentos é maior o<br />
consumo <strong>de</strong> fóra que aquelle que fazem<br />
os habitantes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Po<strong>de</strong> elle sustenfar-se exclusivamente<br />
do consumo interno? Suppomos que não;<br />
e é por isso que mais uma vez aconselhamos<br />
á classe 0111 geral que é forçoso,<br />
que é urgente pensar no futuro que os<br />
aguardam, não. <strong>de</strong>scurando nem <strong>de</strong>-prezando<br />
este assumpto, porisso que d'elle<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a sorte d uma collectivida<strong>de</strong> laboriosa<br />
e trabalhadora, que se vê oppriraida<br />
e vexada tão arbitrariamente.<br />
.iôtilK>¥9i K - n;q rfinqino',' 8wi oiíioo<br />
Reúne hoje a direcção da Associação<br />
Còmmercial bem como os cidadãos que<br />
formam com aijueíla a Cómmissão que foi<br />
incumbida <strong>de</strong> redigir uma representação,<br />
pedindo provi<strong>de</strong>ncias immediatas ao sr.<br />
ministro da fazenda ácerca <strong>de</strong> taes abusos.<br />
Consta-nos que esle assumpto é tratado<br />
com proficiência, e que a representação<br />
está feila em termos dignos mas<br />
energicos, <strong>de</strong>vendo ser entregue amanhã<br />
á auctorida<strong>de</strong> superior do ilistriclo.<br />
Também nos consta que dado o caso<br />
<strong>de</strong> não ser attendida a justa pretensão<br />
da classe commercial, esta reunirá um<br />
comicio, a fim <strong>de</strong> resolver a melhor<br />
maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar o seu <strong>de</strong>sag rado.<br />
Incêndio<br />
Na quinta leira ás seis horas da manha,<br />
as torres <strong>de</strong>ram signal <strong>de</strong> incêndio;<br />
havia-se este manifestado na cocheira<br />
para guarda <strong>de</strong> animaes, que o sr. Bernardino<br />
da Silva Gomes tem á Sophia.<br />
Alguns prejuizos, havendo facilida<strong>de</strong><br />
era dominar o incêndio que estava em<br />
começo.<br />
A Salvação Publica foi a primeira a<br />
comparecer com o seu material.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Acaba <strong>de</strong> ser dirigido pela; <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> Padua, Italia, o convite para<br />
a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> se fazer representar<br />
nas festas do tricentenário da<br />
entrada <strong>de</strong> Galileu naquelle estabelecimento<br />
scieulitico.<br />
Clinica<br />
Para o logar <strong>de</strong> facultativo, vago no Seminário<br />
Episcopal, foi nomeado o sr. dr.<br />
Daniel <strong>de</strong> Mattos, illustre professor <strong>de</strong><br />
Medicina e um caracter honestíssimo.<br />
A Associação dos Artistas<br />
Na quarta feira será presente á assembleia<br />
geral o relatorio- e parecer da<br />
commissão encarregada <strong>de</strong> estudar o assumpto<br />
relativo á fundação d'uma pharmacia<br />
por conta das associações <strong>de</strong> soccorros<br />
mutuos d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
Dizem-nos que é um trabalho completo,<br />
e que mostra claramente a necessida<strong>de</strong><br />
e a vantagem <strong>de</strong> se tornar eftectiva<br />
a creação d'um,t pharitiaeia fornecedora<br />
<strong>de</strong> medicamentos para esta e outras<br />
associações.<br />
-<br />
Beneficio y<br />
Uma commissão <strong>de</strong> operários trabalha<br />
com assiduida<strong>de</strong> para a organisação<br />
d'tim sarau dramalico-musical em beneficio<br />
d'um operário que está em pre<br />
carias circumstancias. Esta festa <strong>de</strong> beneficehcia<br />
realisar-se-ha brevemente no<br />
theatro <strong>de</strong> D. Luiz, tomando parte o<br />
grupo musical—Infante da Camara.<br />
Movimento litterario<br />
No. presente anno acham se matriculados<br />
nos diversos estabelecimentos <strong>de</strong><br />
ensino, o seguinte:<br />
Na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>—1:299.<br />
No Lyceu—538.<br />
No Seminário—<strong>47</strong>0.<br />
Isto afora os oollegios que teem estabelecido<br />
o ensino primário e secundário.<br />
Em convalescença<br />
As qíiatro pessoas que escaparam ao<br />
envenenamento com os cogumellos, conforme<br />
noticiámos, entraram já no período<br />
<strong>de</strong> .convalescença.<br />
Collegio Ursulino<br />
Frequentara esla casa <strong>de</strong> educação e<br />
ensino, uma das primeiras do paiz, 100<br />
alumnas, internas é externas.<br />
Isto prova que o Collegio Ursulino,<br />
superiormente dirigido pelo sr. conego<br />
Fresco, tem melhorado" e <strong>de</strong>senvolvido o<br />
ensino, recebendo alli as alumnas uma<br />
educação completa e esmerada.<br />
Furto<br />
Na semana passada furtaram do logar<br />
<strong>de</strong> Maria Russa, ren<strong>de</strong><strong>de</strong>ira no mercado,<br />
algum dinheiro que esta <strong>de</strong>ixára<br />
num caixão, dando também por falta <strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frucla.<br />
A policia lomou conhecimento do facto,<br />
por informação da queixosa; pois que<br />
o guarda alli <strong>de</strong> serviço ignorava o caso.<br />
Exames <strong>de</strong> habilitação para o<br />
magistério primário<br />
Começaram no dia 14 do corrente e<br />
têm continuado com a maior regularida<strong>de</strong><br />
os exames dos candidatos, que se<br />
<strong>de</strong>dicam a espinhosa vida <strong>de</strong> educadores<br />
da infância.<br />
O jury, presidido pelo. hábil pedagogista,<br />
sr. dr. Manoel Duarte Areosa, que<br />
tão admiravelmente tem dirigido os trabalhos,<br />
funcciona na sala das congregações<br />
do lyceu d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
O nunlero <strong>de</strong> concorrentes foi bastante<br />
limitado, pois que apenas se reduz<br />
a oito do sexo masculino e cinco do feminino.<br />
Dos oito foram excluidos dois da<br />
prova oral. Os restantes já fizeram o<br />
exame d'esta prova, sendo admittidos<br />
á pratica que começa na próxima segunda<br />
feira. Eni seguida serào chamados á<br />
prova escripta os candidatos do sexo feminino.<br />
Os dynamitistas<br />
Paris é actualmente dominado pelo<br />
terror em consequência das explosões<br />
que houve ao dia 6 promovidos pelos<br />
dynamitistas. . ,<br />
Pelo correio continuam a circular<br />
anonymos lendo ameaças contra as pev<br />
soas a quem são dirigidos.<br />
Também se encontraram cartuchos<br />
metálicos em differentes silios <strong>de</strong> Paris.<br />
Suppõe se que alguns gracejadores<br />
<strong>de</strong> mau gasto.intentara divertir-se á custa<br />
dás pessoas tímidas e impressionáveis.<br />
I ' i * i t<br />
Como se os anonymos e as ameaças<br />
dos anarchistas não bastassem para manter<br />
e augmenlar o sobresalto dos parisienses,<br />
o advogado <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> Ravachol<br />
fez uma <strong>de</strong>claração que basta por si' só<br />
para provocar medo e que se divulgou<br />
com rapi<strong>de</strong>z.<br />
Segundo o letrado referido, o feroz<br />
anarchista <strong>de</strong>clarou poucos dias antes<br />
<strong>de</strong> ser guilhotinado :<br />
Í—-Descanse, senhor: serei vingado<br />
com dynamite; todavia hão <strong>de</strong> ir<br />
pelo ar muitos casas <strong>de</strong> burguezes. Não<br />
vão já, porque é muito perigoso manipular<br />
o explosivo durante o veráo, mas<br />
aguar<strong>de</strong>m que chegue o inverno.<br />
« Com explosões far-me-hão funeraes<br />
esplendidos d<br />
M<br />
A serie d'attentados commettidos com<br />
o auxilio da dynamite, durante este anno,<br />
è já larga. Em <strong>de</strong>z nrófts eis os casos:<br />
l. 1 — 29 <strong>de</strong> fevereiro —Os habitan-<br />
tes do bairro dos Inválidos são <strong>de</strong>sperta<br />
dos por uma terrivel explosão.<br />
E' uma caixa que acaba <strong>de</strong> rebentnr<br />
na rua Saint Dominique, em frente do<br />
palacio da princeza <strong>de</strong> Sagan.<br />
O porteiro
AMO I — tf. 0 36 O DEFENSOR DO POVO 80 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> I8»i<br />
OTIIIlOS<br />
PAI1A<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
EXPEDIENTE<br />
1VVELOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Prevenimos os nossos estimáveis<br />
assignanles tle fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
em divida á administração do<br />
Defensor do Povo, <strong>de</strong> que vamos<br />
enviar pelo correio os recibos das<br />
suas assignaturas, passados alé áo<br />
dia 21 <strong>de</strong> janeiro, fim do i.° semestre<br />
da publicação do nosso jornal.<br />
Aquelles para on<strong>de</strong> se não possa<br />
fazer cobrança postal, pedimos a fineza<br />
<strong>de</strong> nos enviarem a imporlancia<br />
do 1.° semestre, para regularisar<br />
a nossa escripturnção.<br />
Esperando a satisfação do nosso<br />
pedido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já agra<strong>de</strong>cemos os<br />
seus obséquios.<br />
Os recibos da Figueira são cobrados,<br />
por especial fineza, peloex.""<br />
sr. Antonio Fernan<strong>de</strong>s Lmdote.<br />
Os recibos <strong>de</strong> Leiria lambem<br />
por obsequio serão cobrados pelo<br />
ex. mo sr. Eduardo Martins da Cruz.<br />
Associação dos Artistas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
AVISO<br />
São convidados os senhores associados<br />
a reunirem-se em assemhlêa geral<br />
na quarta feira, 23 do corrente, pelas 8<br />
horas da noúte na sala da Associação.<br />
Não reunindo numero para po<strong>de</strong>r funccionar<br />
a segunda parte da or<strong>de</strong>m do dia,<br />
lica esta paiasabbado, 26 á mesma hora.<br />
ORDEM DOS TRABALHOS<br />
1.° Apresentação do relatorio da<br />
commissão encarregada <strong>de</strong> dar o seu parecer<br />
acerca da fundação <strong>de</strong> uma pharmacia,<br />
nomeada na ultima assemblêa<br />
geral,<br />
2.° Apresentação das contas do 1.°<br />
semestre <strong>de</strong> 1892 e parecer da Comissão<br />
Fiscal.<br />
Coimhra, 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892.<br />
O vice-secretario da Meza.<br />
José Rodrigues,<br />
Theatro-circo Principe Real<br />
RECITAS<br />
PELA<br />
Companhia Infantil <strong>de</strong> Zarzuela<br />
Domingo, 20<br />
A zarzuela em 3 actos<br />
El rey que raliió<br />
em que toma parle toda a Companhia<br />
Segunda feira, 21<br />
A zarzuela em dois actos<br />
marina<br />
e uma opereta-comica em 1 aclo<br />
El gorro Frigio<br />
Principia ás 8 lioras<br />
Camarotes, 3$500; fauteils, 600; ca<strong>de</strong>iras,<br />
500; geral, 200.<br />
IMBRES<br />
ENVELLOPES E CARIAS<br />
Imprimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
AKTIC1PA-,<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria ]<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
liTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IlilIETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
t preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
rvriog — MPKESSOS<br />
e jornaes G PAUA<br />
Pepeno e gran<strong>de</strong> I repartições<br />
formato B publicas<br />
Typ. OperariaJB Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , X J - A - I R - Q - O I D A . F R E I R X -A., 1 4<br />
LIVROS<br />
Annuncios grátis recebendó-se<br />
uin exemplar.<br />
mmmu mmm<br />
DE<br />
Antonio Narciso Alves Correia<br />
(Pree»iif3e« e pre»èrvatiiro«<br />
liygienieos Heteisnrioi para<br />
a estabilida<strong>de</strong> da sati<strong>de</strong> e<br />
prolongamento da Tida)<br />
PREÇO. 250 RÉIS<br />
SOLUÇÃO NACIONAL<br />
DE<br />
Felizardo <strong>de</strong> Lima<br />
O producto da venda d'este livro é,<br />
em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong>stinado ao reapparecimento<br />
do Kadicai, publicado por<br />
Felizardo <strong>de</strong> Lima todas as tar<strong>de</strong>s.<br />
Porto—R. dos Cal<strong>de</strong>ireiros—43<br />
PREÇO — 250 RÉIS<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Aos srs. lavradores<br />
fi massa <strong>de</strong> pui-gtieira é<br />
0 tk. sem duvida o adubo <strong>de</strong> mais<br />
reconhecida vantagem para as sementeiras<br />
<strong>de</strong> trigo, milho, batata, fava, grão<br />
feijão e para adubar vinha, etc., etc.<br />
Em toda a Extremadura, parte do<br />
Alemtejo e Beira, é o adubo que melhores<br />
resultados tem dado em todas as<br />
culturas.<br />
Fornecem no directamente da fabrica<br />
os agentes PERDIGÃO & TEIXEIRA—<br />
Rua das Fontainhas, 24 c 26 —Alcantara.<br />
Vinho EVIaduro do Douro<br />
e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />
SUPERIOR QUALIDADE<br />
¥<br />
en<strong>de</strong>-se na mercearia Ave-<br />
51<br />
nida. — Largo do Principe<br />
D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 — <strong>Coimbra</strong>.<br />
„„ «ren<strong>de</strong>-se uma em bom uso,<br />
0 ¥ própria para ensino. Dirigir<br />
á Couraça <strong>de</strong> Lisboa, 30.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro d'amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-O OIMBRA<br />
_ faixeeuta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
£4 carimbos em todos os gene<br />
ros, sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amareila e branca. — Prateia se lodo o<br />
objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
E M P R E G A D O<br />
a rua <strong>de</strong> Ferreira Bor-<br />
" N ges n. os 128-130, se diz<br />
quem precisa d'um que esteja apto para<br />
a escripta.<br />
PROBIDADE<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital « OOOiOOO^OOO réis<br />
| geneia em <strong>Coimbra</strong>, rua<br />
° A <strong>de</strong> Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
andar.<br />
VINHOS DE MESA SUPERIORES<br />
E<br />
mim ALIMENTÍCIOS<br />
i* 83 a 91 acaba <strong>de</strong> chegar<br />
magnifico vinho das seguintes localida<strong>de</strong>s<br />
:<br />
TORRES KOVAS<br />
FUNDÃO<br />
BAIRRADA<br />
Vinho branco especial. Vinhos do<br />
Porto, Ma<strong>de</strong>ira, Bucellos, Carcavellos,<br />
Champagne e muitos outros.<br />
No mesmo estabelecimento ha sempre<br />
especialida<strong>de</strong> em generos alimentícios.<br />
Manteiga franceza, ingleza e portugueza<br />
<strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>. Chá preto<br />
e ver<strong>de</strong> muito superior, bolacha <strong>de</strong> Lisboa<br />
das mais linas qualida<strong>de</strong>s, biscoitos<br />
e torta <strong>de</strong> Vallongo.<br />
SOBRE MESA<br />
Pera passada <strong>de</strong> Vizeu, abrunho <strong>de</strong><br />
Elvas, ligo do Douro e do Algarve, <strong>de</strong><br />
primeira qualida<strong>de</strong>, passas <strong>de</strong> Malaga,<br />
castanhas do Maranhão, murcellas <strong>de</strong><br />
Arouca e muito mais varieda<strong>de</strong>s para sobre<br />
mesa tanto em fructas seccas como<br />
cm doce.<br />
Preços modicos em tudo<br />
EBIPBEGADO<br />
52<br />
[«<br />
iNl<br />
casa <strong>de</strong> Cambio ao fundo<br />
da Praça do Commercio<br />
precisa-se <strong>de</strong> um empregado para estar<br />
á testa da mesma o qual tem <strong>de</strong> prestar<br />
caução.<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />
e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Gosta Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 ik , l ^ l l > t o IVunes dos Sanjpà<br />
tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda ê seus accessorio».<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
ARRENDAMENTO<br />
íS & rrenda-se o prédio n.° 83 a<br />
n 87, da rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
com magnificas acomniodações.<br />
Para tratar na loja do mesmo prédio,<br />
com José Paulo Ferreira da Costa.<br />
.
nolsiy<br />
3VJKMÍ b<br />
lòq<br />
noquÉKS o"<br />
.8IH9J/') :<br />
eaktíjíiisiB<br />
tbi/ib<br />
MB<br />
1<br />
Contrastes<br />
WHMIWIRMIMI<br />
O vento 'sopra, o mar brame, à<br />
onda sobe. Espesso nevoeiro en<strong>de</strong>nsa<br />
profundamente, ao largo, o largo<br />
espaço; e só <strong>de</strong> quando em quando<br />
se distinguem ao longe, por entre<br />
as trevas, franjas <strong>de</strong> alvura immacillada—'cristas<br />
<strong>de</strong> vagas <strong>de</strong>sfeitas<br />
em espuma, semelhantes a <strong>de</strong>sgrenhadas<br />
jubas <strong>de</strong> leões. E o mar, o<br />
colosso, no seu cavo troar presago,<br />
casa com a voz potente do vento<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado a sua voz po<strong>de</strong>rosa,<br />
num concerto magestoso, que echôa<br />
pela amplidão como notas soltas <strong>de</strong><br />
uma orchestra vibrante <strong>de</strong> Titans.<br />
Horisonte sombrio, opaco.<br />
Sem norte bal<strong>de</strong>ia ao sabor das<br />
vagas um barco <strong>de</strong>sarvorado já. A<br />
tripulação, cançada, per<strong>de</strong>u a consciência<br />
<strong>de</strong> si mesma. O timoneiro,<br />
ao leme, emprega<br />
esforços.. .<br />
ainda instinctivos<br />
Quem levará a porto <strong>de</strong> salvamento<br />
o barco <strong>de</strong>sarvorado ?<br />
Ha na vida dos povos momentos<br />
d'uma solemnida<strong>de</strong> tremenda, que<br />
são como que a lugubre con<strong>de</strong>nsação<br />
dè todos os <strong>de</strong>sfalecimentos vitaes.<br />
E é nestes soiemnes momentos históricos,<br />
que po<strong>de</strong>m anniquilar para<br />
sempre uma nacionalida<strong>de</strong>, que sopra<br />
fatalmente, inexoravelmente, sobre<br />
ella um vento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mencia.<br />
A immensida<strong>de</strong> do perigo allucina<br />
os espíritos; paral;sam-se successiVamente<br />
as forças sociaes; <strong>de</strong>snorteiam-se<br />
as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dire-cção;<br />
os olhos que <strong>de</strong>vem ver não<br />
veem.<br />
Este estado pathologico da socieda<strong>de</strong><br />
attinge o periodo agudo;<br />
mas longe <strong>de</strong> sanar um por um os<br />
males <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> enferma;<br />
<strong>de</strong> insuflar uma vida nova nos orgãos<br />
mortos; <strong>de</strong> applicar reagentes enérgicos,<br />
que <strong>de</strong>spertem o organismo<br />
amortecido da apathia, que é a morte,<br />
para a vida social, para o concerto<br />
vivo das nações,— os Corpos dirigentes<br />
o que fazem?<br />
Dia <strong>de</strong> festa. Flamulas e galhar<strong>de</strong>tes<br />
on<strong>de</strong>iam ao vento, numa ostentação<br />
garrida <strong>de</strong> variadíssimas<br />
côres; bandas marciaes atroam os<br />
ares com os hymnos da realeza; os<br />
sinos repicam, vibrantes, pelo espaço<br />
on<strong>de</strong> se cruzam e entrechocam as<br />
ondulações festivas com as dos lamentos<br />
dos que pe<strong>de</strong>m trabalho e<br />
pão; ostentam-se pelas ruas as fardas<br />
vistosas, os crachats reluzentes;<br />
fileiras <strong>de</strong> tropas rutilam das armas<br />
polidas faiscações brilhantes; as salvas<br />
reaes troam pelos ares.<br />
Chega o rei!<br />
A nação geme, a nação lucta<br />
agonisante, a nação tem fome. O<br />
póvò está sacrificado, exangue; moureja<br />
dia a dia, num labutar constante,<br />
escravo eterno, para encher d'oíro,<br />
que é sangue, a voragem dos <strong>de</strong>sperdícios.<br />
A tributação caminha num<br />
crescendo atroz, d'uma <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong><br />
cruel; o trabalho falta,, a miséria<br />
cresce, as fontes vivas da nação estancam-se;<br />
embora —haja festas,<br />
que o rei chegou !<br />
Quem levará a porto <strong>de</strong> salvamento<br />
o barco <strong>de</strong>sarvorado? Quem?*..<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO Povo<br />
Franco Ascoí.<br />
«O Democrata da Beira»<br />
Recebemos a visita d'csle novo collega<br />
que começou a publicar-se em Lamego.<br />
Vem enfileirar-se ao nosso lado:—<br />
pela Patria, pela Republica!<br />
As nossas saudações e o <strong>de</strong>sejo ar<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> uma vida longa e <strong>de</strong>safogada.<br />
UfiJ<br />
CHI- imioi.<br />
PELOS JORNAES<br />
E agora ripportuao passar em revista<br />
as gazetas! palacianas no que se referem<br />
ao regresso das magesta<strong>de</strong>s.<br />
É espantoso. Cada qual porfia em<br />
ser mais limpa-botas, sem acatamento<br />
pelo proprio <strong>de</strong>coro que manda ser commedido<br />
em encomios, e sem a reflexão<br />
que <strong>de</strong>via fazer olhar com unia frieza<br />
mais consentanea ao senso commum,<br />
umas festanças tresloucadas sem significação<br />
nenhuma na or<strong>de</strong>m politica nem<br />
<strong>de</strong>rivanles proveitosas na or<strong>de</strong>m moral.<br />
Ora leiam a Reforma:<br />
«Durmam tranquillamente os nossos<br />
reis, <strong>de</strong> volta <strong>de</strong> sua viagem. Ninguém<br />
lhes irá perturbar o somno. Vela-os, á<br />
cabeceira, a gran<strong>de</strong> alma popular, que<br />
ainda palpita <strong>de</strong> alegria, saudando-lhes<br />
o regresso.»<br />
O Tempo :<br />
«Saudando, pois, os monarchas portuguezes<br />
pelo seu regresso ao reiOo,<br />
não fazemos um cumprimento banal<br />
nem lhes en<strong>de</strong>reçamos uma saudação<br />
palaciana; cuidumos interpretar os votos<br />
da gran<strong>de</strong> maioria do povo portuguez<br />
que ren<strong>de</strong> preito ã família reinante<br />
pelas suas virtu<strong>de</strong>s e vê no principio<br />
monarchico por ella representado um<br />
penhor <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />
para toda a nação portUÇueza.»<br />
O Diário Popular:<br />
«A capital vestiu-se hontem <strong>de</strong> galas<br />
; para receber os nossos reis. Todos 'ós<br />
habitantes da cida<strong>de</strong> encheram os largos<br />
e as ruas por on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via passar o<br />
cortejo, e á gare da Avenida concorreu<br />
tudo o que na diplomacia, na politica,<br />
no commercio, na finanças rio fiinccionaiismo<br />
1 , occupa os primeiro*logares.»<br />
O Diário Illustrado :<br />
«As festas, com que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Lisboa recebeu a suas magesta<strong>de</strong>s, foram<br />
dignas do facto que celebravam è<br />
da capitai do reiriò.»<br />
O Correio da Manhã :<br />
«O aspecto do Largo do Camões não<br />
podia ser mais <strong>de</strong>slumbrante e festivo<br />
do que nesse momento em que a multidão<br />
manifestava a mais enthusiastica<br />
"'' alegria.»<br />
Por aqui se avalia, mesmo por grosso,<br />
o quanto <strong>de</strong> obsecação domina;esta<br />
gente, que, sem critério, çonfun<strong>de</strong> o<br />
povocom a burocracia,attribuindo aquelle<br />
o que só a esta pertence.<br />
Todos nós sabemos como são feitas<br />
estas manifestações <strong>de</strong> sympathia monarchica<br />
: á custa <strong>de</strong> muito dinheiro do thesouro.<br />
O charlatanismo dos papeis monarchicos<br />
já não iliu<strong>de</strong> ninguém, portanto.<br />
Também o Século junta o seu obulo<br />
<strong>de</strong> enthusiasmo ao coro dos louvamiuheiros<br />
supra-aponlados.<br />
Com uma semeerimonia <strong>de</strong>sopilante<br />
o Século espraia-se nestes consi<strong>de</strong>randos<br />
amenos: e-<br />
«Na Hespanha, uma rainha d'um<br />
caracter completamente opposto ao caracter<br />
eífusivo dos hespanhoes, e um<br />
rei que ainda hontem <strong>de</strong>ixou os cueiros,<br />
tuberculoso, quasi sempre doente,<br />
passando os dias a brincar com as-bonecas<br />
ou a fazer dodo nos braços da aia<br />
que o não <strong>de</strong>ixa; do lado <strong>de</strong> Portugal,<br />
uma rainha elegantíssima, jatiná no coração<br />
e no sangue,' amando as festas<br />
profundamente'peninsulares, doce, elíusiva,<br />
sempre coin um dito d'espirito Ou<br />
uma palavra <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> para tóilos'<br />
que a ro<strong>de</strong>iam e tendo por companheiro<br />
um rei moço, cheio <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
corajoso, um homem energieo e viril,<br />
<strong>de</strong> pulso rijo, bom arcaboiço, um homem<br />
emflm.»<br />
Phanlasiando um pseudo-<strong>de</strong>speito da<br />
imprensa republicana, sem razão.alguma<br />
fundamental para existir, abre conselheiralmente<br />
o Tempo:<br />
«As festas em honra da familia real<br />
incommodaram vivamente os jornaes<br />
republicanos. Era <strong>de</strong> esperar. O prestigio<br />
da monarchia exalta-se em novos<br />
fulgores e a <strong>de</strong>sorientação dos jacobinos<br />
aíflrma-se em tristíssimas aventuras.<br />
«O contraste esmaga-os. Percabe-se<br />
o <strong>de</strong>speitoJ explica-se perfeitamente a<br />
magua.»<br />
E mais abaixo:<br />
jp (IU-;<br />
«Por tudo isto comprehen<strong>de</strong>-se bem<br />
a magua das folhas republicanas. Os<br />
reis <strong>de</strong> Portugal eram as individualida<strong>de</strong>s<br />
proeminentes na consagração colombina.<br />
Aqui as festas foram uma repercusão<br />
da homenagem estrangeira;<br />
menos opulentas, <strong>de</strong>certo, mas mais<br />
intimas, mais enternecidas, immensamente<br />
mais affectuosas.»<br />
NSo chegámos a perceber on<strong>de</strong> é<br />
que 0:; partido republicano tem razões<br />
para mngoas 011 <strong>de</strong>speitos. Por não po<strong>de</strong>r<br />
fazer aos seus illustres uma manifestação<br />
tão reluzente, com paradas apparatosas,<br />
com feriado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> gala, com a burocracia?<br />
Só por isso. Em compensação o partido<br />
republicano faz as suas manifestações,<br />
quando lh'as <strong>de</strong>ixam fazer, genuinamente<br />
populares, único elemento que<br />
caracterisa as manifestações politicas.<br />
De rèsto, <strong>de</strong>masiado sabe o parlido<br />
republicana, como o sabe o Tempo, como<br />
0 .«abe toda a gente, que às manifestações<br />
raonarchicas são prejiaradas pelo<br />
elemento oCEcial, sem a coadjuvação plebêa,<br />
falta esta que lhes imprime toda a<br />
ausência <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> valor<br />
politico.<br />
-iuio'1 »J> wrmvmo^ o—Biduiio3 ni3<br />
Sergio cada vez está mais incorrigível.<br />
O vinho IIÔTO faz-jhe dar tratos <strong>de</strong><br />
polé ao bom senso.<br />
Çomo sempre rebola-se qual saltimbanco<br />
por sobre a relva do Illustrado,<br />
<strong>de</strong>spedindo cotièti bravio aos que : lhe<br />
censuram a má condiicta <strong>de</strong> beberola<br />
emerilo.<br />
c.t,-,,y.m couce :<br />
írÒ jornal republicano em Portugal,<br />
é quasi sempre um criminoso. E' um<br />
perigo, como apostolado, não c >ntra a<br />
religião monarchica, mas contra a reli-<br />
1 gião do pudor, do civismo, e da honra.»<br />
Outro : ,V giv-ib<br />
«Nada dé tréguas. Em nome da<br />
honra e pudor nacional castiguem-se<br />
os <strong>de</strong>saforados e abjectos apostolos do<br />
insulto e da obscenida<strong>de</strong> politica.»<br />
E outro:<br />
«Felizmente não estamos isolados<br />
•no combate, não aos princípios republicanos,<br />
que nada valem como formula<br />
política, mas que são tãò respeitáveis<br />
nas suas crenças sinceras como quaesquer<br />
outros, mas contra o jacobinismo,<br />
que é o caracter que aquelles princípios<br />
revestem em Portugal, e que está sendo,<br />
pela fórma por que se exhibe, um do-<br />
1 o cumento <strong>de</strong> vergonha para o bom nome<br />
portuguez.»<br />
É assim o Sergio. Por mais que lhe<br />
<strong>de</strong>sanquem a lombada, não sae fóra d'esle<br />
trilho. E como certos bUrros dé moleiros,<br />
insensíveis a toda a acção <strong>de</strong> arrocho, e<br />
que, spenns em <strong>de</strong>sforço, levantam as<br />
ancas. O Sergio também levanta as ancas<br />
é... as orelhas,<br />
fit) aflurtiotqsb t^bo «mno anp-uoi<br />
... .j *<br />
Raro ácbiitece, em confirmação d'um<br />
dictado, fjue um tolo não encontre outro<br />
ainda mais tolo que o ápplauda.<br />
É o que se dá cora o Sergio; presentemente,<br />
coin a aggravante <strong>de</strong> não *e<br />
dar o caso entre dois tolos, mas èhtre<br />
dois velhacos tolos.<br />
Já adivinharam -<strong>de</strong> quem falíamos.<br />
«Só cae nas" mãos do inimigo, quem<br />
o inimigo poupa.<br />
«Nós temoí-o poupado em <strong>de</strong>masia.<br />
«Tempo é dè sopra para emendar o<br />
erro e para começar vida 110va.»<br />
Pelo <strong>de</strong>do se conhece o gigante. Só<br />
a Reforma viria em reforço ao Sergio.<br />
Que dois L<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
Mesmo babado t<br />
O correspon<strong>de</strong>nte especial do Século<br />
em Madrid, rebola-se lodo porque os<br />
hespanhoes gostaram dos nossos reis, e<br />
diz: — «A rainha D. Amélia conquistou<br />
Madrid sem precisar d'um exercito!»<br />
Salva a comparança, parece mesmo<br />
o sr. Feio Terenas a informar >p mesmo<br />
Século, da Covilhã... Viram os senhores?<br />
O Século traz macaca I<br />
ÀNNO I <strong>Coimbra</strong>, 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892 N.° 37<br />
Mirai Zé!<br />
Suas magesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ixaram em Madrid:<br />
20:000 pesetas para os creados<br />
do palacio; 600 pesetas,para as guardas,<br />
e 10:000 para o« pobres <strong>de</strong>, Madrid.<br />
Proximadamente uns 6 contos <strong>de</strong><br />
réis. E' o Diário <strong>de</strong> Noticias, jornal <strong>de</strong><br />
bem, que o informa.<br />
Para o Brazil continuam a emigrar<br />
centecas <strong>de</strong> porluguezes por falta <strong>de</strong><br />
recursos, e a miseri3 vae cada vez atacando<br />
com mais violência as classes trabalhadoras.<br />
E viva a pan<strong>de</strong>ga !<br />
«Duvida»<br />
A brilhante poesia que hoje inserimos<br />
nos Crystaes <strong>de</strong>vemol-a á obsequiosa remessa<br />
do nosso talentoso chronisla do<br />
Porlo, sr. Augusto Mesquita.<br />
« Primorosamente burilada, em amplos<br />
vôos <strong>de</strong> finíssima concepção, esta magnifica<br />
poesia afirma por si sç, quando mais<br />
não houvesse, a. genial inspiração poética<br />
do auctor, que aliás já conhecíamos em<br />
anteriores producções <strong>de</strong> mérito elTectivo,<br />
Agra<strong>de</strong>cendo a amabilida<strong>de</strong> da sua<br />
colaboração, o Defensor do D ovo orgulha<br />
se legitimamente <strong>de</strong> a possuir.<br />
Due o povo leia!<br />
«Quando 01 ait«R po<strong>de</strong>res «lo<br />
eSlado quizerem restringir as<br />
faculda<strong>de</strong>s «le mauisfestação<br />
publica, as paixões Iião <strong>de</strong> procurar<br />
outra válvula, lião <strong>de</strong> tomar<br />
outra dirvtfâ»; e a critica<br />
serena, e mesmo apaixonada,<br />
mas feita á luz do dia, será<br />
substituída pelas reuniões clan<strong>de</strong>stinas<br />
e pelas conjurações<br />
revolucionarias.<br />
«A guerra anais perigosa para<br />
os governos, a mais difíicil<br />
<strong>de</strong> combater, é a preparada nas<br />
trevas, quando os cidadãos, encontram<br />
fechadas todas as portas<br />
<strong>de</strong> manifestação leal.»<br />
São palavras do sr. José Dias Ferreira,<br />
preteridas 11a camara dos <strong>de</strong>putados<br />
no anuo da graça <strong>de</strong> 1884 !<br />
E a melhor resposta que se po<strong>de</strong> dar<br />
aos raivosos moiiarchicos que pe<strong>de</strong>m repressão.<br />
Que o sergio e todos os outros Sergios<br />
tiqueiu scientes I<br />
A esquadra ingleza<br />
O ministro inglez informou o governo<br />
<strong>de</strong> que receava que os soldados dos navios<br />
inglezes solfressem alguns dissabores<br />
pelas ruas da capital.<br />
Consta que o governo respon<strong>de</strong>ra que<br />
po<strong>de</strong>riam vir porque a policia evitaria,<br />
pela força, qualquer manifestação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado.<br />
No entanto assevera-se que a esquadra<br />
ingleza já não virá.<br />
Pois é pena.<br />
Galeria Portugueza<br />
Assim se intitula uma revista semanal<br />
illustrada, <strong>de</strong> genero novo, que brevemente<br />
começará a publicar-se todos os<br />
domingos no Porto.<br />
Será collaborada litierariamente pelos<br />
vultos mais notáveis das lettras portugiiezas,<br />
conforme vemos do prospecto,<br />
e artisticamente por alguns dos mais<br />
conceituados gravadores nacionaes e estrangeiros.<br />
Assigna-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já em todas as livrarias<br />
e na Agencia Universal Portugueza,<br />
rua <strong>de</strong> D. Pedro, 110, 1.°—Porto.<br />
Gran<strong>de</strong> incêndio<br />
Dizem da Covilhã que 11a madrugada<br />
<strong>de</strong> domingo ar<strong>de</strong>u a fabrica da Companhia<br />
Nacional. De toda a fabrica apenas<br />
escapou a tinturaria, sendo os prejuizos<br />
calculados em 30 contos <strong>de</strong> réis.<br />
Esta fabrica occupava a area <strong>de</strong> 1:500<br />
metros quadrados.<br />
GRYSTAES<br />
DUVIDA<br />
A Hugo Diniz.<br />
Eu quando vejo, candida e formosa,<br />
Uma creança pallida dormindo<br />
No pequenino esquife côr <strong>de</strong> rosa<br />
— As mãos erguidas em uneção piedosa...<br />
— A morte impressa no seu rosto lindo...<br />
Ah ! duvido, Senhor, duvido então<br />
Que tua mãe aos pés tivesses visto<br />
Entre os braços da dôr e d'aíflição;<br />
Não posso crer que esse astro do perdão,<br />
Essa estrella do Bem chamado o Christo,<br />
Seja esse Deus feroz, <strong>de</strong>snaturado,<br />
Envolvido nas sombras do mysterio,<br />
Que mata um lyrio branco, immaculado,<br />
E o manda, <strong>de</strong>ntro d'um caixão fechado<br />
Para sempre dormir no cemiterio I<br />
Lançar á treva quem sorri á aurora I<br />
Cortar da haste a flor que <strong>de</strong>sabrocha I<br />
— Só o faz a alma negra qne não chora,<br />
Que não sente, não ama, não adora.. •<br />
— Só o faz, Senhor, um coração <strong>de</strong> roehal<br />
Gelar um riso meigo <strong>de</strong> creança<br />
On<strong>de</strong> perpassa o azul i<strong>de</strong>al dos ceus !...<br />
E' como á dôr tirar a luz da esp'rança,<br />
Dar-nos tormentas que não tem bonança...<br />
—Não o faz um homem quanto mais um Deusl<br />
Pois po<strong>de</strong> um Deus, que é balsamo <strong>de</strong> pranto,<br />
Lancinar peitos com tão fundas dôres ?<br />
Po<strong>de</strong> ser mau e ao mesmo tempo santo 1<br />
O sol é <strong>de</strong>us dos astros, e no entanto<br />
Não mata lyrios nem <strong>de</strong>stroe as flores...<br />
Quando (oh! magua profundai magua ingente!)<br />
Uma creança no caixão contemplo<br />
Sinto erguer-se em minha alma bruscamente<br />
A duvida sombria, irreverente,<br />
Como blasphemia a resoar num templo 1<br />
E as crenças puras, virginaes d'outr'ora<br />
Fogem do peito, <strong>de</strong>ixam-no vasio;<br />
— São andorinhas que se vão embora<br />
Batendo as azas pelo espaço fóra<br />
Com medo ao gelo, áo vendaval, ao frio.<br />
A duvida quo as crenças dilacera,<br />
Tornaudo-as a meus olhos tão mesquinhas,<br />
Não me dá a alegria que eu tivera<br />
Se po<strong>de</strong>sse tornar a primavera,<br />
Se po<strong>de</strong>ssem voltar as andorinhas 1<br />
Mas nunca mais hão <strong>de</strong> voltar, por certo:<br />
O meu <strong>de</strong>silludido coração<br />
E' como immenso e gélido <strong>de</strong>serto<br />
Batido aos raios d'um luar incerto,<br />
Varrido pelo vento da Razão.<br />
Nesse ermo ha um só oásis — preciosa<br />
Fonte <strong>de</strong> luz, d'amor, d'i<strong>de</strong>al bonda<strong>de</strong>,<br />
Que jorrou d'uma lagrima piedosa,<br />
E fez brotar da terra infructuosa<br />
A diamantina flôr da carida<strong>de</strong> I<br />
A carida<strong>de</strong> ?!... Será dom divino 1<br />
Ou seria a nossa alma triúmphante<br />
Que a gerou em seu pranto crystallino:<br />
— Rosa aberta ao orvalho matutino<br />
E ao clarão fulvo d'alvorada inante ...<br />
Sobre o mundo, Senhor, dos reinos teus<br />
Nenhuma estrella <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> tomba<br />
— A carida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>seeu dos ceus,<br />
E é bein mais doce do que o olhar <strong>de</strong> Deus<br />
Se Deus é aguia — a carida<strong>de</strong> é pomba I<br />
Porto.<br />
AUSUSTO DE MESQUITA.<br />
De lucto<br />
Por fallecimento <strong>de</strong> sua extremosa<br />
mãe, acha-se <strong>de</strong> luto o nosso querido<br />
amigo e correligionário o sr. Deolindo<br />
<strong>de</strong> Castro, sobrinho do eminente advogado<br />
dr. Alexandre Braga.<br />
Companheiros <strong>de</strong> ha muito nas magoas<br />
com que a adversida<strong>de</strong> o vem ferindo,<br />
mais uma vez lhe testemunhamos o<br />
nosso profundo sentir no angustioso transe<br />
da perda <strong>de</strong> sua mãe que elle tanto<br />
estremecia e presava.<br />
Bellezas<br />
do registo catholico<br />
Dizem <strong>de</strong> Villa Pouca d'Aguiar que<br />
na freguezia <strong>de</strong> Tres Minas, on<strong>de</strong> o parocho<br />
falleceu ha cerca <strong>de</strong> 20 dias, está<br />
lodo o registro parochial por fazer ha<br />
quasi dois annos, e <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> cincoenta<br />
baptismos feitos nestes dois annos não<br />
ha sequer apontamentos!
AXXO I — 39 O DEFEXSOR DO POVO <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />
LBTTRAS<br />
0 Rabequista<br />
Em tempo muito remotos, os habitantes<br />
<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> levantaram<br />
uma egreja magnifica a Santa Cecília padroeira<br />
dos músicos.<br />
As rosas mais vermelhas e os lyrios<br />
mais cândidos enfeitavam o altar.<br />
O vestido da santa era <strong>de</strong> (illigrana<br />
<strong>de</strong> prata e os sapatinhos eram <strong>de</strong> oiro,<br />
feitos pelo melhor ourives da cida<strong>de</strong>. A<br />
capella eslava completamente cheia <strong>de</strong><br />
peregrinos e <strong>de</strong>votos.<br />
Uma vez foi lá em romaria um pobre<br />
rabequista, pálido, magro, escaveirado.<br />
Como a jornada tinha sido longa, estava<br />
cançado e já no seu alforge não havia<br />
pão, nem dinheiro no bolso para o comprar.<br />
Assim que eulrou na capella, come-<br />
çou a tocar na sua rebeca com tal suavida<strong>de</strong>,<br />
com tanta expressão, que a santa<br />
ficou enternecida ao vel-o tão pobre<br />
e aó escutar aquella musica tão <strong>de</strong>liciosa.<br />
Quando terminou, Santa Cecilia abaixou-se,<br />
<strong>de</strong>scalçou um dos seus ricos sapatos<br />
<strong>de</strong> oiro, e <strong>de</strong>u-o ao pobre musico,<br />
que, tonto <strong>de</strong> alegria, dançando, cantando,<br />
chorando, correu á loja <strong>de</strong> um ourives<br />
para o ven<strong>de</strong>r.<br />
O ourives, reconhecendo o sapato da<br />
santa, pren<strong>de</strong>u o pobre rabequista e levou-o<br />
á presença do juiz. Iustauraram-<br />
Ihe proceíso, julgaram-no e foi con<strong>de</strong>in-<br />
nado á morte.<br />
Chegara o dia da execução.<br />
Os sinos dobravam lastimosamente, e<br />
b cortejo poz-se em marcha ao som dos<br />
cânticos dos fra<strong>de</strong>stque ainda assim não<br />
chegavam a dominar os sons da rabeca<br />
do con<strong>de</strong>mnado, que pedira como ultima<br />
graça o <strong>de</strong>ixarem-lhe tocar na sua rabeca<br />
até ao ultimo momento.<br />
O cortejo chegou <strong>de</strong>fronte da capella<br />
da santa, e, quando paravam, snpplicou<br />
o triste <strong>de</strong>sgraçado que o levassem lá<br />
<strong>de</strong>ntro para tocar a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira melodia.<br />
Os padres e os chefes da escolta consentiram,<br />
e o rabequista entrou, ajoelhou<br />
aos pés da santa, e, <strong>de</strong>bulhado em lagrimas,<br />
começou a tocar. Então o povo maravilhado<br />
e atterrado, viu Santa Cecilia<br />
curvar-?e <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>scalçar o outra sapato<br />
e inettel-o nas mãos do infeliz musico.<br />
A' vista d'este milagre, lodos os assistentes<br />
levaram em triumpho o rabequista,<br />
coroaram-no <strong>de</strong> llôres, e os magistrados<br />
vieram solemnemente prestar-<br />
Ihe as mais honrosas homenagens.<br />
Guerra Junqueiro.<br />
As eleições<br />
em Ponta Delgada<br />
Foi o mais lisongeiro para o partido<br />
republicano o resultado das ultimas eleições<br />
para <strong>de</strong>putados realisadas em Ponta<br />
Delgada.<br />
É tal a prepon<strong>de</strong>rância que o partido<br />
republicano adquiriu alli que a sua victoria<br />
seria <strong>de</strong>finitiva se os monarchicos<br />
se não. colligassem, e se, além d'isso,<br />
se não recorresse ao conhecido uso das<br />
chapelladas nos concelhos ruraes.<br />
Também contribuiu assásmente para<br />
o triumpho monarchico a propaganda <strong>de</strong>leleria<br />
dos reverendos parochos que atterrorisavam<br />
os eleitores com sermonatas<br />
estupautes, inculindo-lhes que votar na<br />
lista republicana era o mesmo que votar<br />
pura o acabamento da religião !...<br />
Pois apezar <strong>de</strong> tudo islo, a lisla republicana<br />
foi enormemente votada, como<br />
se vê:<br />
Dr. Theophilo Braga 1:174 votos<br />
Casimiro Franco ... 1:066 votos<br />
Augusto Cymbron Borges<br />
<strong>de</strong> Sonsa 1:177 votos<br />
Dr. Manoel d'Arriaga ... 79 votos<br />
Honra ao povo <strong>de</strong> Ponta Delgada<br />
que tão eloquentemente soube protestar<br />
contra a politica monarchica que tanto<br />
tem <strong>de</strong>scurado os interesses dos povos<br />
insulanos.<br />
Como manifestação <strong>de</strong> justiça cabenos<br />
aqui consignar que a consi<strong>de</strong>rável vo<br />
tação obtida pelo partido republicano <strong>de</strong><br />
Ponta Delgada nas ultimas eleições, foi<br />
<strong>de</strong>vida em parte ao preseveraute esforço<br />
do nosso presado amigo e correligionário<br />
sr. Augusto Cymbron Borges <strong>de</strong> Sousa,<br />
re-i<strong>de</strong>iile em <strong>Coimbra</strong>, que no periodo<br />
<strong>de</strong> alguns mezes por lá andou disciplinando,<br />
orgauisando, evangelisando, preparando<br />
emfim as nossas forças para a<br />
lucta eleitoral,<br />
— Os candidatos votados, que acima<br />
referimos, dirigiram um manifesto-agradécimeuto<br />
aos eleitores <strong>de</strong> Ponta Delgada,<br />
do qual extractamos o seguinte periodo<br />
: .<br />
«Quando nos apresentámos ao vosso<br />
suffragio, foi simplesmente para provocar<br />
a união das fileiras dos patriotas que<br />
sabem <strong>de</strong> que lado está a nossa salvação.<br />
Porque, para luctar contra quem faz a<br />
lei e possue meios excepcionaes para a<br />
falsificar—começando pelo privilegio dos<br />
gran<strong>de</strong>s contribuintes para escolher as<br />
commissões <strong>de</strong> recenseamento eleitoral,<br />
que por seu turno dão e tiram o direito<br />
<strong>de</strong> votar com um <strong>de</strong>scaro aleivoso, e<br />
como se isto não bastasse ainda, fabrica<br />
as maiorias pela compra do votorpelas<br />
pressões íiscaes e <strong>de</strong> recrutamento, actas<br />
simuladas, fuzilamentos junto da urna,<br />
amnistias para as infamias dos seus galopins,<br />
e arrebanhamento pelos padres<br />
dos simplorios al<strong>de</strong>ãos para os contrapôr<br />
pelo numero bruto ao suffragio inlelligente<br />
das capilaes,—para luctar, repetimos,<br />
contra mil burlas da hypocrisia liberal<br />
do regimen representativo, só quem<br />
se achar em estado <strong>de</strong> imbecil ingenuida<strong>de</strong>,<br />
acreditará no veredictum do sulíragio<br />
<strong>de</strong>pois da constante viciação <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> meio século.»<br />
Curiosida<strong>de</strong>s<br />
A rainha sr.*D. Maria Pia, é a 12. a<br />
das regentes que tem governado esteà<br />
reinos. As outras foram : D. Thereza <strong>de</strong><br />
Leão, mulher do con<strong>de</strong> D. Henrique, D.<br />
Leonor Telles, mulher <strong>de</strong> D. Fernando<br />
I, D. Leonor d'Arngão, mulher d'el-rei<br />
D. Duarte, D. Leonor <strong>de</strong> Lencastre, mulher<br />
<strong>de</strong> D. João II, D. Catharina, mulher<br />
<strong>de</strong> D. João III. D. Margarida <strong>de</strong> Saboya,<br />
duqueza <strong>de</strong> Mantua (na dominação hespanhola),<br />
D. Luiza <strong>de</strong> Gusmão, mulher<br />
<strong>de</strong> D. João IV, D. Catharina, ti lha <strong>de</strong> D.<br />
João IV e irmã <strong>de</strong> D. Pedro II e D. Affonso<br />
VI, D. Mariana d'Austria, mulher<br />
<strong>de</strong> D João V, D. Mariana Victoria, mulher<br />
<strong>de</strong> D. José 1, e finalmente a infanta<br />
D. Isabel Maria, filha do rei D. João<br />
VI.<br />
Pelos vencidos<br />
O cumprimento d'um <strong>de</strong>rer é a maior<br />
satisfação da consciência individual.<br />
Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />
nossos concidadãos emigrados não é o<br />
cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />
dos <strong>de</strong>veres políticos esle occupa o<br />
primeiro logar, na actual conjunctura.<br />
Urge que todo o republicano sem<br />
differenciação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />
e a sua bolsa para auxiliar aquelles<br />
malventurosos amigos que longe da<br />
patria e da família se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />
Vamos a isto, meus amigos I Cumpramos<br />
este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />
<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />
piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />
dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />
fria do nosso critério a sua significação<br />
positiva.<br />
O Diário Illustrado constatava ha<br />
dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />
em Bordéus se alimentavam<br />
com bolota pesquisada nos barris do lixol<br />
Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />
Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />
eslá abaixo <strong>de</strong> toda a noção <strong>de</strong><br />
humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />
<strong>de</strong> republicanos, dia a dia aflirmando<br />
pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />
aquella gente.<br />
É a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />
mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />
exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />
apenas pelos bicos da penna : é a<br />
solidarieda<strong>de</strong> effectiva, pratica, traduzida<br />
no mais franco auxilio moral e material.<br />
Amigos ! Soccorraroos os emigrados I<br />
Subscripção <strong>de</strong> SOO réis men-<br />
Rnei <strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
eom egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte .... 120900<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
relnetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus/n, 0 88.<br />
EM SURDINA<br />
— Porque andam assim tristonhos,<br />
tão bisonhos,<br />
os Jaquetas t<br />
— Que perguntas I<br />
Queriam que o João Maria<br />
— que mania I —<br />
ficasse em todas as juntas.<br />
— Tudo se po<strong>de</strong> fazer,<br />
a meu ver...<br />
P'ra vencer taes arrelias,<br />
basta do Ayres conseguir,<br />
residir,<br />
em todas as freguezias I<br />
— Tenho i<strong>de</strong>ia mais catita,<br />
mais bonita,<br />
que o leva á posterida<strong>de</strong> 1...<br />
O partido nomeal-o<br />
— que regalo I —<br />
viso-rei — cá da cida<strong>de</strong> 111<br />
PINTA-ROXA.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
No domingo, eleições <strong>de</strong> junta <strong>de</strong> parochia.<br />
Em todas as freguezias d'esta cida<strong>de</strong><br />
se pretendia propor o nome do sr<br />
Ayres <strong>de</strong> Campos que eslá sendo a or<strong>de</strong>m<br />
do dia da politica coimbrã.<br />
Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renlisarera tão<br />
alto pensamento, os parochianos <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz serão os únicos a po<strong>de</strong>rem usufruir<br />
tamanho regalo — e consla-nos que<br />
alli será eleito s. ex.*<br />
É muito bonita — a gratidão 1<br />
*<br />
Ouçamos os dois, que pa»sam por<br />
folhas ultra-ministeriaes :<br />
Em <strong>Coimbra</strong>—o Commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
diz :<br />
«Afllrma o Imparcial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
que o sr. dr. Vicente Rocha não tenciona<br />
pedir a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da<br />
commissão districtal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.»<br />
Em Lisboa — a Reforma:<br />
«Pediu a exoneração do logar <strong>de</strong><br />
presi<strong>de</strong>nte da commissão districtal <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, o sr. dr. Vicente Rocha.<br />
«Este cavalheiro será substituído<br />
pelo sr. dr. Hermano, vogal da mesma<br />
commissão.»<br />
Entre pessoas tão distinctas ha um<br />
que mente. Ora a Reforma é orgão do<br />
sr. Dias Ferreira, e a <strong>de</strong>missão parece<br />
<strong>de</strong>via ser pedida ao governo.<br />
Cá ficamos á espreita do mentiroso!<br />
*<br />
Vae ser adoptado no seminário episcopal<br />
d'esta diocese, o compendio do sr.<br />
dr. Bernardo Augusto <strong>de</strong> Madureira, intitulado:<br />
— Instituciones lheologicae dogmático<br />
polemiere.<br />
Como sabeis, em polemica dogmatica<br />
theologica ou cousa equivalente, andaram<br />
a esmurrar-se alguns mezes a Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Theologia e o sr. bispo con<strong>de</strong>.<br />
Que até chegou a arrepiar carecas !<br />
Agora as cousas vão a caminho e o<br />
que hontem era péssimo é hoje bom.<br />
Deo graltas !<br />
*<br />
Foi suspenso o sr. padre Pratas por<br />
causa das torpelias que praticou <strong>de</strong>ntro<br />
da egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, no dia da eleição<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>putados.<br />
Escapou á correcção o que consentiu<br />
e tolerou que numa cása <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
mesma egreja se servisse vinho e bacalhau<br />
aos eleitores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da Pedrulha.<br />
Não gostamos <strong>de</strong> ver chorar uns,<br />
emquanto outros se riem.<br />
Comtudo, o sr. padre Praias bem mereceu<br />
o castigo.<br />
*<br />
As con<strong>de</strong>corações continuam a sair<br />
da cornucopia das graças ás mãos cheias<br />
—p'ra todo o bicho careta.<br />
<strong>Coimbra</strong> nem por isso !<br />
Que encavacação I<br />
*<br />
Espera-se em <strong>Coimbra</strong> o sr. Hintze<br />
Ribeiro. O fúnebre ex-ministto, negociador<br />
do tratado inglez <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto,<br />
vera a esla cida<strong>de</strong>, segundo dizem, reorganisar<br />
o partido regenerador.<br />
Virá dizer aos Jaquelis, que são os<br />
dissi<strong>de</strong>ntes do paVtido, que voltem ao redil<br />
da regeneração, o qual brevemente<br />
será po<strong>de</strong>r, com o sr. José Dias á<br />
frente...<br />
Se assim fór tudo ficará — di accordo—<br />
e então veremos para on<strong>de</strong> irá o sr.<br />
Ayres <strong>de</strong> Campos que afirmava não pertencer<br />
a nenhum partido monarchico.<br />
Será facel vel-o na regeneração.<br />
Pròh pudor 1<br />
Magriço,<br />
Notes da borga<br />
•wwv^<br />
Importou em 400$000 réis a ma<strong>de</strong>ira<br />
que foi empregue no estrado que<br />
construíram junto ao mastro do Rocio.<br />
Importou era 1 conto <strong>de</strong> réis a fazenda<br />
adquirida para a confecção <strong>de</strong><br />
ban<strong>de</strong>iras que serviram para os féstejos<br />
reaes.<br />
A commissão <strong>de</strong> festejos requisitou<br />
da direcção dos caminhos do ferro do Sul<br />
e Sueste cerca <strong>de</strong> 400 bilhetes <strong>de</strong> Iodas<br />
as classes, para distribuir gratuitamente<br />
pelas pessoas que quizessem ir <strong>de</strong> Setúbal<br />
e estações intermedias a Lisboa, a<br />
fim <strong>de</strong> assistirem aos festejos.<br />
Ura telegramma <strong>de</strong> Madrid para o<br />
Século diz que teem chamado a attenção<br />
do publico as muitas <strong>de</strong>spezas particulares<br />
feitas em Madrid pelos reis <strong>de</strong> Portugal,<br />
na acquisição <strong>de</strong> jóias e outros<br />
objeclos para brin<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rados como<br />
explendidos e riquíssimos.<br />
Diz o correspon<strong>de</strong>nte do Século que<br />
a rainha D. Amélia visilou muitos estabelecimentos<br />
commerciaes comprando artigos<br />
<strong>de</strong> luxo.<br />
O almoço no entroncamento custou<br />
4:320$000 réis pagos pelo ministério da<br />
fazenda.<br />
O rei D. Carlos presenteou o marquez<br />
<strong>de</strong> Ayerbe com um alfinete <strong>de</strong> brilhantes<br />
e a rainha D. Amélia a duqueza<br />
do Infantado com uma pulseira <strong>de</strong> brilhantes,<br />
por terem estado os dois ás or<strong>de</strong>ns<br />
do* reivportuguezes.<br />
Um episodio curioso:<br />
Um secreta tripeiro pren<strong>de</strong>u no largo<br />
do Pelourinho um sujeito cora quem<br />
embirrou.<br />
Tomou a rua do Arsenal e quando<br />
chegou ao largo do Corpo Santo vollouse<br />
para o preso e perguntou-lhe :<br />
—Diga me on<strong>de</strong> é o governo civil;<br />
eu sou do Porto, e não sei cá d'eslas<br />
coisas.<br />
— Eu o ensino, — respon<strong>de</strong>u muilo<br />
<strong>de</strong>licadamente o preso.<br />
Ambos seguiram até á rua do Corpo<br />
Santo, on<strong>de</strong> o preso, tomando a escada<br />
do consnlado brazileiro <strong>de</strong>itou a correr,<br />
pondo-se cm dois pulos na rua do Ferregial,<br />
evadindo-se.<br />
O secreta correu lambem e ao chegar<br />
á rua do Ferregial, parou sem saber<br />
o caminho que <strong>de</strong>via tomar.<br />
O sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima, esmerou se<br />
na disposição dos grupos para os vivas.<br />
A coisa ficou com estas simples instrucções<br />
:<br />
—Um grupo berra, a comitiva passa,<br />
o grupo corre, vae juntar-se a oulro,<br />
os dois berram e correm juntos a reunir-se<br />
ao terceiro. E assim vão berrando<br />
e correndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Bocio até Alcantura.<br />
Assim se arranjam os vivas com pessoal<br />
<strong>de</strong> comparsa ria <strong>de</strong> magica.<br />
O espectáculo <strong>de</strong> gala em S. Carlos<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se realisar por falta <strong>de</strong> luz<br />
electrica. Um fiasco I<br />
JÍ ií/Ir-íGWfiyff Pi' í íii-j') Ó-<br />
Na casa da florista franceza, sita no<br />
2.° quarteirão indo do Rocio, estava arvorada<br />
a ban<strong>de</strong>ira nacional com a coiôa<br />
<strong>de</strong> peruas para o ar!<br />
Quando se ouviu o silvo <strong>de</strong> um comboio,<br />
uin saloio chegado <strong>de</strong> Merceana<br />
e que estava no largo <strong>de</strong> Camões,<br />
vollou-se para um policia, e exclamou.<br />
—Eia! como a companhia apila! sôr<br />
poliça!<br />
A companhia real dos caminhos <strong>de</strong><br />
ferro, lambem <strong>de</strong>u feriado aos seus operários.<br />
E a dizerem que a companhia está a<br />
cahir !<br />
Nova machina <strong>de</strong> guerra<br />
Ura oflicial <strong>de</strong> artilheria do exercito<br />
italiano invenlou uma nova luz <strong>de</strong>stinada<br />
a illuminar o campo inimigo, e cuja intensida<strong>de</strong><br />
é equivalente á <strong>de</strong> 100:000<br />
velas. A matéria que a produz é alojada<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um projéctil, o qual, rebentando<br />
no campo inimigo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tocar<br />
em qualquer corpo, o jlluminará até<br />
gran<strong>de</strong> distancia.<br />
Monumental escandalo<br />
Quando o actual ministério <strong>de</strong>cretou<br />
a reducção dos juros da divida, houve<br />
reclamações dos comités estrangeiros por<br />
causa da <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong> entre o coupon<br />
da divida interna e o da divida externa.<br />
O governo para aplanar diíHciiIda<strong>de</strong>s<br />
e dar uma satisfação aos crédores estrangeiros,<br />
facultou a conversão dos titulos<br />
da divida externa por titulos da divida<br />
interna.<br />
Poucos foram os qtte se serviram<br />
d'essa auctorisação, na doce esperança<br />
<strong>de</strong> que o goveruo reconsi<strong>de</strong>raria sobre a<br />
reducção. Em todo o caso houve con-r<br />
versão <strong>de</strong> titulos no valor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
um milhão <strong>de</strong> libras nominal. .,<br />
Segundo as praxes estabelecidas o<br />
governo <strong>de</strong>via mandar publicar na folha<br />
oflicial o numero dos títulos convertidos,<br />
para assim ficarem inulilisados.<br />
Pois o sr. José Dias Ferreira, o nosso<br />
querido patuleia, não proce<strong>de</strong>u assim ; calou-se<br />
com o jogo, guardou muito bem<br />
guardados os referidos títulos da divida<br />
externa e, segundo o que hoje ouvimos<br />
na rua dos Capel listas, o mesmíssimo sr.<br />
Dias Ferreira serviu-se d'elles para levantar<br />
numa casa estrangeira uma boa quantia.<br />
E' tão grave tudo isto, que esperamos<br />
das folhas affectas á actual situação um<br />
formal <strong>de</strong>smentido, acompanhado dos números<br />
dos titulos convertidos, pois. só<br />
assim nos po<strong>de</strong>remos persuadir <strong>de</strong> que as<br />
nossas informações são falsas.<br />
Se assim não proce<strong>de</strong>r chamaremos<br />
a attenção dos tribunaes para um facto,<br />
que, a ter-se realisado, é não só um<br />
gravíssimo crime <strong>de</strong> burla, como a prova<br />
mais formal <strong>de</strong> que são os governos mo-,<br />
narchicos os únicos factores da nossa <strong>de</strong>cadência<br />
e do <strong>de</strong>scredito em que cahimos<br />
perante o estrangeiro.<br />
Será possível que o sr. José Dias Ferreira,<br />
titular da pasta da fazenda, se<br />
apressasse a dar a ullima marlellada <strong>de</strong>molidora<br />
no throno dos braganças e ousasse<br />
afrontar por uma forma tão cynica<br />
o <strong>de</strong>coro nacional ?<br />
Aguar<strong>de</strong>mos a resposta dos orgãos<br />
ministeriaes e até lá suspendamos a nossa<br />
critica, conclue a Batalha.<br />
THEATROS<br />
Com a representação em dois actos<br />
da Marina, <strong>de</strong>spediu-se ua 2. a feira d'esla<br />
cida<strong>de</strong> a Companhia Infantil <strong>de</strong> Zarzuela,<br />
que tantos applausos conquísfon<br />
entre nos.<br />
O bom <strong>de</strong>sempenho d'esla formosa<br />
peça, por parte <strong>de</strong> todos, po<strong>de</strong>ndo nós<br />
especialisar os papeis <strong>de</strong> Palop e <strong>de</strong> Val-'<br />
divieso, e a boa execução da sua capitosa<br />
musica, d um caracter accentuadamente<br />
htí/panhol, <strong>de</strong>ixou em nosso espirito uma<br />
grata recordação, que se traduz em sinceras<br />
sauda<strong>de</strong>s por este grupo gentil <strong>de</strong><br />
creanças.<br />
As nossas palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida sãp<br />
animadas d'um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> gloria para os interessantes<br />
actoresilos, que tão bellas aptidões revelam<br />
e nus quaes alguns ha <strong>de</strong> merecimento<br />
incontestável. Oxalá que o caminho<br />
da Arte, on<strong>de</strong> dão os primeiros passos<br />
com uma lirmeza reveladora <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
aili.stas, se lhes patenteie franco e<br />
aberto como os seus corações <strong>de</strong> creanças,<br />
risonho e jovial como a sua eda<strong>de</strong><br />
juvenil; que os applausos colhidos hoje,<br />
consagraçao das suas opulentas aptidões,<br />
se transformem numa consagração real,<br />
ámanhã, da expansão brilhante do seu<br />
talento, — coroa immarcessive! <strong>de</strong> gloria<br />
nesse bello futuro <strong>de</strong>sanuuveado e largo.<br />
aiuti " iini- ' ^ ofi-.ft rrdn-, / oi ibisn<br />
Francisco Lucas anda a tramar. Traz<br />
a i<strong>de</strong>ia lixa num ponlo — a surpreza I<br />
Elle lera escripto, telegraphado e<br />
ultimamente foi ao Porto. O que elle lá<br />
foi fazer ou conseguir ainda não disse;<br />
porém, o seu contentamento, a sua alggria,<br />
laz-uos pensar que temos Burro pela<br />
pròa, senão mais alguma cousa.<br />
Que é homem para trazer pela arreata<br />
até <strong>Coimbra</strong> o festejado Burro, e dar-lhe<br />
guarida no theatro D. Luiz, ninguém o<br />
nega. E que o animalejo será recebido<br />
pelo publico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> cora ovação<br />
estrondosa, também não restam duvidas.<br />
Porque o tal burro não é um burro<br />
vulgar — é O burro do sr. Alcai<strong>de</strong> — um<br />
burro já fannliarisado nas plateias <strong>de</strong><br />
Lisboa e Porto, que lera a magia <strong>de</strong><br />
nos lazer rir a ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>spergadas.<br />
Vamos inforiuar-nas e no proximo<br />
numero diremos.
AtfAO í — 3 9 O BEFfiNIOR IO POVO 34 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1893<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
» >*<br />
A guarda fitieal — novas exigen-<br />
cias ao commercio —'.multas<br />
Hojè só nos propomos provar que,<br />
perante a lei, o serviço que está fazendo<br />
nesta cida<strong>de</strong> a guarda fiscal é uma verda<strong>de</strong>ira<br />
iilegaiida<strong>de</strong>, por quauto nada a<br />
auctorisa a lai procedimento.<br />
gifíflE se uâ vejamos !, j.(;-r;;;.(»:> 0 . " oí laEU P<br />
Parece qtie tím Ançã, a 10 kilometros<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a epi<strong>de</strong>mia alacára já<br />
o gado bovino, porisso que uni creailúr<br />
d'aquella localida<strong>de</strong> requisitára ao hospital<br />
veterinário <strong>de</strong> Lisboa unia porção <strong>de</strong><br />
exemplarés das—Inèlrúcções praticas<br />
para os possuidores <strong>de</strong> gado bquino atacado<br />
<strong>de</strong> febre aphtosa.<br />
A auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve intervir neste as-;<br />
sumpto fazendo cumprir á risca a IeUra<br />
d'essas instrucções.<br />
1 3<br />
Ao Si*. cóiumissario <strong>de</strong> policia<br />
Saiba s. ex. a que, <strong>de</strong>vido a não se<br />
<strong>de</strong>stinar logar proprio para a venda do<br />
leile e á falta da inspecção ao mesmo, dá<br />
logar a que as ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras o falsifiquem,<br />
vendo-se prejudicados os consumidores.<br />
Era para agra<strong>de</strong>cer quaesquer provi<strong>de</strong>ncias<br />
neste sentido.<br />
Execuções íiscneg<br />
Publicou o Diário do Governo o nidppa-do<br />
districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> correspon<strong>de</strong>nte<br />
ao mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembço <strong>de</strong> l$89. Neste<br />
mappa se encontra bem acceptu ida a protecção<br />
aos gran<strong>de</strong>s codtrrtÃhftw.Hjasla<br />
alten<strong>de</strong>raos seguintes algarismos: 5:<strong>47</strong>3<br />
processos tio po<strong>de</strong>r judicial, importando<br />
em 19:439^236 róis, e apenas 382 processos<br />
nas administrações, mas estes importando<br />
em *20:o'3^734 reis, quantia<br />
superior aquella l No po<strong>de</strong>r judicial houve<br />
durante o mez o Weguiúte iutfvimeiW:<br />
to: 904 processos foram instuurádbs, no<br />
valor <strong>de</strong> 716^814 réis, e :333- lindaram<br />
no valor <strong>de</strong> 1 : 2 3 r e i s . Nãu,.A coutar do presente numero<br />
alé ao dia 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro; o que, importando<br />
n uráa insigpi/icaricia—e facultando,<br />
além d'ísso, o ensejo <strong>de</strong> rebentar<br />
a rir — proporciona a habilitação a qualquer<br />
premio, incluindo o <strong>de</strong> 600:000(51000<br />
rei» !! 1 • ^<br />
Para os que justamente se arreceiem<br />
<strong>de</strong> não encontrar alguma vez o Pimpão<br />
á veado, por se- haver esgotado rapidamente<br />
á edição—o que são favas contadas—<br />
abrimos uma assignatura especial—<strong>de</strong><br />
que já.se aproveitaram algumas<br />
centenas <strong>de</strong> .espertalhões.<br />
Es/a aWfgnAtufa, até o fim do anno<br />
cas.la apenas $ete vinténs e meio, tanto<br />
çm Lisboa como em qualquer ponlo dá<br />
província, bastando, para fazel-8, mandar<br />
a indicação do nome e da residência,<br />
acompanhada <strong>de</strong> uma cédula <strong>de</strong> tostão e<br />
outra <strong>de</strong> meio, para a—Redacção do<br />
Pimpão, largo <strong>de</strong> S. Roque, 8, Lisboa.<br />
Publicamos o documento que segue<br />
altamente honroso para o caracter recto<br />
e honesto do magistrado, nosso patrício,<br />
sr^ dr. Eduardo Augusto <strong>de</strong> Campos Paiva.<br />
lll. m0 ex. mo sr. Eduardo Augusto<br />
<strong>de</strong> Campos Paiva, meretissimo<br />
juiz <strong>de</strong> direito da comarca <strong>de</strong><br />
Sotavento.<br />
Se os elementos principaes constitutivos<br />
da nossa socieda<strong>de</strong> parecem dissolventes<br />
a um ponto tal que por momentos<br />
vacilla a fé e foge a esperança num porvir<br />
melhor e numa regeneração da nossa<br />
vida politica e social, é certo, porém,<br />
que do fundo d'esle quadro negro e contrislador<br />
se <strong>de</strong>stacam, solitários, alguns<br />
vultos, dignos e sympathicos, que não<br />
<strong>de</strong>ixaram ir as suas consciências e sentimentos,<br />
com a vertiginosa corrente que<br />
ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>struir os sãos princípios da<br />
moral e a pratica da virtu<strong>de</strong>.<br />
Entre estes vultos, folgam siiiceramente<br />
os abaixo assignados <strong>de</strong> reconhecer<br />
o <strong>de</strong> v. ex. a como uni dos mais dignos<br />
e sérios magistrados, que ás vezes<br />
a fortuna tem trazido para esta tão <strong>de</strong>scurada<br />
terra.<br />
' Quem ousa negar que V. ex.* é justo<br />
é reéto no; cumprimento do seu <strong>de</strong>vér?<br />
— que v. ex. a é um trabalhador infatigável,<br />
que se tem esforçado para que os<br />
processos tenham andamento rápido ? —<br />
Um magistrado convicto da verda<strong>de</strong>, e<br />
que dos seus <strong>de</strong>spachos e suas sentenças<br />
somente respira o respeito pela lei e o<br />
<strong>de</strong>sprezo pela chicana ?<br />
Ninguém !... mas ninguém <strong>de</strong> consciência<br />
immaculada. Porque aos <strong>de</strong> consciência<br />
maculada, aos <strong>de</strong> consciência<br />
manchada pelo vicio e que teem por<br />
min} e norma principal da sua vida o<br />
átropello da lei, é certo que v. ex. a não<br />
agrada.<br />
Mas o que valem e quantos são elles?<br />
Um numero infinitamente pequeno<br />
comparado com os habitantes d'esta comarca<br />
que apreciam a v. ex. a e lhe fazem<br />
justiça. , - r « 1/ .i v i i/ à<br />
São indivíduos isolados que vivem,<br />
<strong>de</strong>speitados, cheios <strong>de</strong> ignorancia e má<br />
fé — e a baba d'elles, por nojenta e ascorosa<br />
nem <strong>de</strong> leve roça pela honrada<br />
béca <strong>de</strong> v. ex. a<br />
Despreze-os.<br />
Os abaixo assignados prestando a<br />
v. ex. a o preito sincero da mais subida<br />
consi<strong>de</strong>ração e veneração profunda pelos<br />
dotes distinctissimos que ornam o caracter,<br />
o espirito e inteiligencia <strong>de</strong> v. ex. a<br />
veem pedir a v. ex. a que não ligue importância<br />
a esses indivíduos, que os<br />
<strong>de</strong>spreze e que continue a presidir á<br />
administração da justiça em beneficio dos<br />
.povos d'esta comarca, que o respeitam e<br />
estimam justamente por ser rigoroso e<br />
,exacto no cumprimento dos seus <strong>de</strong>veres.<br />
Esperam, pois, os abaixo assignados<br />
ver satisfeitos os seus <strong>de</strong>sejos, e v. ex. a<br />
continuando á testa da administração da<br />
justiça nesta comarca, teem os povos<br />
d'ella os seus direitos garantidos, escudados<br />
pela inteiligencia, pelo saber, amor<br />
a justiça e á verda<strong>de</strong> — e v. ex. a , por<br />
justa retribuição, tem o respeito e a veneração<br />
que o verda<strong>de</strong>iro funccionario<br />
gosa sempre que é honesto, justo e recto,<br />
como v. ex. a é.<br />
Ilha <strong>de</strong> S. Tlnàgo <strong>de</strong> Cabo Ver<strong>de</strong>, 17<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1892.<br />
1,-ííli ,BÍ - a» ' •' II• Oi : it 'J . .IÍISIÍ?<br />
(Seguem-se 320 assigttaturas, todas<br />
reconhecidas por tabellião, dos principaes<br />
proprietários, negociantes, agricultores e<br />
íunccionarios públicos.}<br />
A GRANEL<br />
Foi <strong>de</strong>sterrado para Tete o ex-sargento<br />
Tha<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Freitas, uma das victimas<br />
da monarchia. Tomou parte na revolta<br />
do Porto, e está por esse motivo<br />
cumprindo sentença.<br />
# * # Os regeneradores <strong>de</strong> Brag"a<br />
entregaram ao respectivo governador civil<br />
um novo protesto contra a i Ilegalida<strong>de</strong><br />
da eleição camararia.<br />
# * * Na occasião em que a« ma-gesta<strong>de</strong>s<br />
passaram em Castello <strong>de</strong> Vi<strong>de</strong>,<br />
o mundo oflicial levantou vivas áos monârchas.<br />
Um popular gritou Viva a patria I<br />
sendo este grito muito correspondido.<br />
Não houve prisões.<br />
# * # No curto espaço <strong>de</strong> dois mezes<br />
já foram nomeados oito administradores<br />
para o concelho <strong>de</strong> Fafe !<br />
# * * Doze cidadãos <strong>de</strong> Leiria<br />
constituíram uma socieda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve<br />
durar 7 annos Pagam mensalmente mil<br />
réis. A socieda<strong>de</strong> tem por fim adquirir<br />
os meios para que os socios vão em 1900<br />
dfesislir á exposição industrial <strong>de</strong> Paris.<br />
# * # Dizem <strong>de</strong> Salreu que succe<strong>de</strong>m-se<br />
alli impunemente os assaltos á<br />
mão armada.<br />
# * * O prior da egreja <strong>de</strong> S. João,<br />
eni Porto <strong>de</strong> Moz, insultou á missa conventual<br />
os progressistas, por terem vencido<br />
a eleição da junta. Os assistentes<br />
fizeram-o calar, e á sabida aggrediram-o.<br />
# * # Com <strong>de</strong>stino ao museu nacional<br />
<strong>de</strong> Lisboa, trouxe o vapor S.<br />
Thomé, <strong>de</strong> Benguclla, um caixote contendo<br />
exemplares zoologicos.<br />
# * # Nas ultimas eleições uma<br />
mulher, Ann Scally, foi eleita juiz <strong>de</strong><br />
paz em Buffallo, no Wyning, único estado<br />
da gran<strong>de</strong> confe<strong>de</strong>ração americana em<br />
que as mulheres são eleitoras e elegíveis.<br />
0D9lípâlí M ó oOp ÍOÍiIp£Ob<br />
# * * O município <strong>de</strong> Lourenço<br />
Marques vae contrair um emprestimo <strong>de</strong><br />
oitenta contos para a realisaçào <strong>de</strong> melhoramentos<br />
na cida<strong>de</strong>.<br />
# * * Pelas^noticias recebidas pelo<br />
vapor S. Thomé sabe-se que o estado<br />
das nossas províncias ultramarinas, era<br />
regular.<br />
# * * Durante a noite <strong>de</strong> 15 para<br />
16 séntiu-se um violento abalo <strong>de</strong> terra,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as visinhanças <strong>de</strong> Murça até Ribeira<br />
<strong>de</strong> Pena. Durou uns 10 segundos,<br />
causando alguns prejuízos materiaes, mas<br />
nenhum pessoal.<br />
Coisas e loisas<br />
Então a tua irmã, Luizinha, sempre<br />
te dá algum dinheiro para a tua algibeira?<br />
— Dá, sim senhor. Dá-me <strong>de</strong> vez<br />
em quando uma pratinha.<br />
— E tu preslas-lhe algum serviço<br />
para ella te pagar assim ?<br />
— Presto. Venho para a sala abrir<br />
a bocca quando se <strong>de</strong>mora muito algum<br />
massador.<br />
Professor —Qual é a significação da<br />
palavra salario?<br />
Alunado —Não sei, sr. professor.<br />
Professor—Ora diga-rae que.faz seu<br />
pae toda a semuuu ?<br />
— Trabalha.<br />
— Quando lhe pagam ?<br />
— Aos sabbados.<br />
s\ils<br />
— Então que leva elle para casa<br />
quando sae da officina ao sabbado ?<br />
— Uma gran<strong>de</strong> bebe<strong>de</strong>ira.<br />
No tribunal. O advogado á testemunha<br />
:<br />
— E ella olhou, assim como eu estou<br />
agora olhando para si, por exemplo?<br />
— Tal qual... como uma pessoa<br />
pasmada.<br />
Desgarradas<br />
Quem tem amores não dorme,<br />
Quem os não tem adormeci.<br />
F.u não perdia os meus somnos<br />
Ainda,*que amores tivesse.
AINO I — 3® O BBrBH«R »• POVO <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1898<br />
L I V R O S<br />
-I, Annuncios grátis recebendo-se<br />
ura exemplar.<br />
DE GRAÇA<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
-6(1! - , • , íf '<br />
, A Hlit—E este o titulo <strong>de</strong> ura<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, calalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />
700 róis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />
-•—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
CHRISTIANISMO<br />
mmmiisiio<br />
Protesto patriotieo contra Roma<br />
, 11 ' m ú '<br />
PRESBÍTERO<br />
Joaquim dos Santos Figueiredo<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, Coim-<br />
bra e Lisboa.—Preço 50 réi».<br />
BÍBLIA SAGRADA<br />
ILLDSTS&DA<br />
900 a 1:000 gravuras<br />
Pedir prospecto e especinten<br />
Assignalura 20 réis, fascículo<br />
Está concluído o 1.' volume<br />
Para informações BÍBLIA<br />
SA6BABA IIiIÍUS-<br />
TltAUA — Mousinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Era <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
Flores —4.<br />
A SOLUÇÃO NACIONAL<br />
DE<br />
Felizardo <strong>de</strong> Lima<br />
O producto da venda d'este livro é,<br />
em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong>stinado ao reapparecimento<br />
do Badical, publicado por<br />
Felizardo <strong>de</strong> Lima todas aS tar<strong>de</strong>s.<br />
Porto—R. dos Cal<strong>de</strong>ireiros—-43<br />
PREÇO — 250 RÉIS<br />
A BOINA DA PATRIA<br />
OD<br />
A crise nionetaria e suas con-<br />
sequências, imparcialmente<br />
estudadas e analysadas<br />
Dedicada ao commercio e mais industrias<br />
do paiz por<br />
ALVES MIRANDA<br />
Preço—50 réis<br />
A N N U N C I O S<br />
Porltnha ... 30 réis<br />
Repetições ..... 20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 •/»<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
EÍMEGTDO<br />
quem precisa d'ura que esteja apto para<br />
a esc ri p ta.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro d'amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimDos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
_ Wxeeuta-ie todo o trabalho <strong>de</strong><br />
& carimbos em lodos os gene<br />
ros, sinetes, fac-siniiles e monograraraas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em tampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amarella e branca.
Suiim cuique!<br />
Alguns novelleiros estipendiados,<br />
com praça assente na feira constitucional,<br />
bolçam sobre o partido<br />
republicano as responsabilida<strong>de</strong>s da<br />
actual crise.<br />
Tal proposição nem se adapta<br />
pela originalida<strong>de</strong> nem se tolera pela<br />
<strong>de</strong>cencia: como arteirice é duma<br />
banalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comedia <strong>de</strong>ssorada;<br />
como elemento <strong>de</strong> combate politico<br />
é d'uma <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong> que punge por<br />
ingrata e in<strong>de</strong>vida.<br />
Todos sabem que o partido republicano<br />
tem vivido alheiado ao<br />
movimento scenico do Estado, sem<br />
outra collaboração que a diminuta<br />
que lhe conce<strong>de</strong> o suffragio popular<br />
na representação nacional.<br />
E ahi, é bem notoria a doutrinação<br />
republicana. Sempre na brecha<br />
contra os esbanjamentos, em graúda<br />
escala, em que sempre primaram os<br />
governos monarchicos. Os <strong>de</strong>putados<br />
republicanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Rodrigues<br />
<strong>de</strong> Freitas até á actualida<strong>de</strong>, teem<br />
sido no parlamento — que o dizem<br />
os seus discursos—os guardas avançados<br />
da moralida<strong>de</strong> politica, do<br />
bem estar popular, e das garantias<br />
civicas dos cidadãos. Nunca a voz<br />
d'elles echoou no parlamento em<br />
<strong>de</strong>feza <strong>de</strong> uma causa injusta ou antipatriótica.<br />
No entanto as suas palavras foram<br />
sempre <strong>de</strong>samadas pelos aulicos<br />
do paço, e os seus projectos que<br />
visavam a garantir interesses públicos,<br />
têm sido cautellosamente escondidos<br />
no cesto dos papeis velhos,<br />
como inúteis.<br />
*D'aqui se infere com toda a lógica,<br />
sem gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocínios<br />
profundos, que parlamentarmente<br />
nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> ser imputada ao partido republicano.<br />
*<br />
Temos a imprensa.<br />
Também é evi<strong>de</strong>nte que está<br />
instituição em nada tem contribuído<br />
para a crise pavorosa que <strong>de</strong> longe<br />
se vem avolumando sobre nós. A<br />
imprensa republicana tem sido até,<br />
e citam-se factos, em momentos solemnes<br />
da nossa história contemporânea,<br />
um dique po<strong>de</strong>roso á cortsummação<br />
<strong>de</strong> inauditos escandalos planeados.<br />
E quantos escandalos inéditos,<br />
que têm povoado a mente <strong>de</strong><br />
ministros nossos, não teriam sido effeituados,<br />
se não se receiasse a propaganda<br />
violenta, tenaz, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
dos jornaes republicanos, exercendo<br />
<strong>de</strong>cisiva acção no animo popular!<br />
Quantos ?<br />
Caboucando dia a dia, numa lucta<br />
ingloriosissima, a imprensa <strong>de</strong>mocrática<br />
portugueza tem contribuído<br />
gloriosamente para que ha mais<br />
tempo se não tenha precipitado o<br />
paiz no abysmo a que agora é inevitável<br />
submetter-se.<br />
Bem sabe o paiz que se não fosse<br />
a imprensa republicana o tratado <strong>de</strong><br />
Lourenço Marques teria sido approvado<br />
...<br />
*<br />
A' falta <strong>de</strong> outros recursos <strong>de</strong><br />
melhor effeito, os calumniadores do<br />
partido republicano, apontam a, para<br />
eiles mancha preta, revolução <strong>de</strong><br />
janeiro, como causa do aggravamento<br />
da crise nacional.<br />
Asseveram eiles que o credito<br />
estrangeiro se resentiu tanto ou<br />
quanto ao ver a instabilida<strong>de</strong> do regime<br />
monarchico, ou, por outra, ao<br />
ver que no interior não havia completo<br />
equilíbrio politico.<br />
Não ha tal.<br />
Não achamos isto verosímil, porque,<br />
logo que economicamente o nosso<br />
paiz vivesse <strong>de</strong>safogado, a questão<br />
politica seria indifferente sob o ponto<br />
<strong>de</strong> vista dos crédores externos, que<br />
apenas quereriam os seus capitaes<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
garantidos, nada lhes importando<br />
que esteja á testa do paiz o sr. D.<br />
Carlos, o sr. D. Miguel ou o sr.<br />
Theophilo Braga.<br />
Demais, o partido republicano estabelece<br />
no seu programma, o que<br />
seria insensato não fazer, o reconhecimento<br />
completo dos encargos da<br />
divida publica legalisada. D'aqui <strong>de</strong>riva<br />
que aos credores externos não<br />
seria penosa a transformação politica<br />
do paiz.<br />
A.inda, pois, não encontramos<br />
base para a cavilosa accusação da<br />
imprensa monarchica. Não a encontramos<br />
porque a não ha.<br />
Q que o partido republicano tem<br />
contribuído assásmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ultimatum<br />
<strong>de</strong> 90, com um pertinaz<br />
arrojo <strong>de</strong> civismo, é para a illucidação<br />
do estado politico e financeiro<br />
do paiz.<br />
Será esse o seu magno crime<br />
para os senhores da monarchia:<br />
para nós é o cumprimento exacto<br />
do <strong>de</strong>ver.. . vi!«:<br />
Já o furmulou Voltaire: Qui riest<br />
que juste est dur. Assim é.<br />
Seriamos cúmplices na <strong>de</strong>rrocada<br />
que se avisinha sô porventura <strong>de</strong>ixássemos<br />
<strong>de</strong> proclamar alto e claro<br />
o estado miserável das finanças, protelando<br />
assim a crise <strong>de</strong>cisiva para<br />
quando já fossem baldadas todas as<br />
tentativas <strong>de</strong> rehabilitação, para<br />
quando fossemos já, ás cegas, pen<strong>de</strong>ndo<br />
no plano inclinado do abysmo.<br />
Assim, sim.<br />
Mas ainda bem que a consciência<br />
nos não brada rçmoi sos.<br />
Ainda bem que hoje jorra plena<br />
luz na caverna. Vê-se tudo. O paiz<br />
escaveirado, resequido, myrrado,<br />
completamente exhausto e exangue.<br />
O thesouro vasio. A moralida<strong>de</strong> politica<br />
aos pontapés pelas camaras<br />
dos ministros. E na cupula d'este<br />
espectáculo repeli,ente, corôando-o,<br />
vê-se a corte ondulando num mar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>licias, <strong>de</strong> luxo e <strong>de</strong> ouro, importando<br />
um insulto flagrante ao miserável<br />
paiz, esquelectico e pobre...<br />
E' isto o que nós vemos, ás claras,<br />
e que p estrangeiro também vê.<br />
E por isso è que'o estrangeiro vendo<br />
os seus capitaes em ruína e não pagos<br />
os seus juros, nos fechou violentamente<br />
em rosto as portas do credito<br />
que ha muito vinha sendo o filé<br />
<strong>de</strong> todos os governos em apuros.<br />
Ora ahi está.<br />
O partido republicano repelle,<br />
pois, com possante energia, a comparticipação<br />
<strong>de</strong> collaborador nas <strong>de</strong>sgraças<br />
nacionaes.<br />
E' mister uma cegueira <strong>de</strong>scommum<br />
para acceitar tão peregrina<br />
theoria, que...<br />
e não tínhamos reflectido<br />
que os porta-voz <strong>de</strong> taes dislates<br />
não mereciam sequer uma referencia<br />
articulada quanto mais as<br />
longas explanações d'um artigo editorial<br />
...<br />
Tão mesquinhos eiles são!<br />
Ouviu-se a voz do povo!<br />
0 governo britanuico communicou oficialmente<br />
ao representante do governo<br />
portuguez em Londres que <strong>de</strong>liberara dar<br />
coutra-or<strong>de</strong>m á esquadra ingleza para<br />
não entrar 110 Tejo, por ter receio <strong>de</strong><br />
que nessa occasião fossem praticados<br />
actos <strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong> ou quapsquer <strong>de</strong>monstrações<br />
inconvenieittés.<br />
E El-Rei<br />
que vae paca a caça!<br />
0 sr. D. Carlos mandou perguntar<br />
para Mafra se na tapada real já tinham<br />
apparecido galhnholas...<br />
Toca a divertir-se, sr. rei 1<br />
PELOS JORNAES<br />
Dizer direito por linhas tortas:<br />
A Reforma, admirada da ousadia dos<br />
que repudiam relações com os inglezes,<br />
escreve:<br />
«Mas então é mentira o que nós<br />
vimos: — um povo profundamente monarchico<br />
e immensaraente bom e or<strong>de</strong>iro,<br />
recebendo <strong>de</strong> braços abertos e em<br />
aeelainações festivas os seus soberanos<br />
que voltavam <strong>de</strong> Madrid I»<br />
Ora ahi está uma confissão admiravel:<br />
effectivanvente é mentira o que a<br />
Reforma viu...<br />
A Nação atira-se <strong>de</strong> cabeça ás festanças<br />
reaes; e sacco<strong>de</strong>-as*<br />
«Mas a viajata foi, não só uma insensibilida<strong>de</strong><br />
em meio da agonia da<br />
Patria, foi também insulto ás lagrimas<br />
da legião dos que não teem pão, nem<br />
espaço para um grabato em tegurio<br />
habitável.»<br />
•Nãf> pára aqui;<br />
«E o povo castigou aquelle feroz<br />
esbanjamento vendo passar como visualida<strong>de</strong><br />
moralmente repugnante, o préstito<br />
real sem um viva, sem um brado<br />
<strong>de</strong> amor ; e porisso mesmo <strong>de</strong> chapéu<br />
na cabeça.<br />
«Não é preciso mais para flageilar<br />
os servilismos estonteados e immoraes<br />
doiiij^j,, . v.»KT>lnoim ub HOBXS<br />
Ora ninguém terá a irreverencia <strong>de</strong><br />
dizer que a velhota não tem razão.<br />
Isto não po<strong>de</strong> íirar no olvido. É a<br />
monarchica penna do sr. José Luciano<br />
<strong>de</strong> Casirrt, ctiefi! do parlido progressista,<br />
que assim <strong>de</strong>vaneia no Correio da Noile:<br />
«Paia não massarrnos mais os nossos<br />
leitores, <strong>de</strong>ixaremos na nossa carteira<br />
notas curiosas e grutescas que o<br />
acaso quiz que, m:iu grado nosso, presenciássemos.<br />
Po<strong>de</strong>rá! não é agradavel<br />
e confrage o coração vér senhoras em<br />
toilettes ricas aguardando na rua as<br />
carruagens que só tinham or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
voltar ás 11 e ineia. Apesar d'jsso que<br />
hotas comicásl Os ministros mandam<br />
chamar as carruagens e ellas não apparecem.<br />
O sr. conselheiro Pedro Victor<br />
leva na sua carruagem o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ficalho, um outro cavalheiro leva o si - ,<br />
rhiiiistro da guerra, que se esquecera do<br />
capote. O sr. bispo, não se importando<br />
com os seus cobtígas, saiu primeiro e<br />
mandou trotar para a Avenida, etc.,<br />
etc. 0 sr. José Dias foi o ultimo a sair.<br />
Novamente tivemos dó <strong>de</strong> sua ex. a ,<br />
que ia apoquentado e eom razão.<br />
V « — (iomo se sabe os bilhetes tinham<br />
sido distribuídos gratuitamente.<br />
«A' porta foram vendidos bilhetes<br />
<strong>de</strong> platêa a 51000 réis. Pareee que a<br />
polieia não conseguiu pren<strong>de</strong>r os ven<strong>de</strong>dores.<br />
« — A companhia do Golyseu da rua<br />
Nova da Palma para ser gentil'para<br />
com a commissão só recebeu 800|000<br />
réis.<br />
« — O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cahral, per<strong>de</strong>u<br />
no theatro <strong>de</strong> S. Carlos a placa da grancruz<br />
<strong>de</strong> Carlos III. Deu parte á policia.»<br />
Que dó o Correio da Noite não se<br />
dará pachorra <strong>de</strong> nos contar lim tiíri por<br />
trm-tim as notas curiosas e grotescas em<br />
que tãò sybillinamente toca.<br />
Pelo amor <strong>de</strong> Deu», sr. Correio da<br />
Noite!<br />
Leiam isto :<br />
t Ainda recentemente nos constou<br />
ter-se feito por um dos ministérios um<br />
fornecimento <strong>de</strong> 14:000 resinas <strong>de</strong> papel,<br />
adjudicadas ao preço <strong>de</strong> 2$i00 réis,<br />
quando se po<strong>de</strong>ria ter adjudicado ao<br />
preço <strong>de</strong> l#30í) réis., sem prejuízo <strong>de</strong><br />
nenhuma especie para o publico nem<br />
pára o sarviÇo, e com a economia <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> onze contos para o thesouro,<br />
que bem carece d'essa economia.»<br />
Damos-lhes um doce se advinharein<br />
d'on<strong>de</strong> é esta prosa. Da Vanguarda ?<br />
Da Voz Publica ? Da Batalha ?<br />
Nada d'isso.<br />
Dar-se-ha o caso <strong>de</strong> que o Século<br />
tivesse a pelulancia <strong>de</strong> publicar aquellas<br />
linhas?<br />
Is
ASXO I — 3 8 O DEFENIOR DO POVO 2 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1893<br />
LBTTBAS<br />
Doido d'amor<br />
Nunra esquecerei Aquella tar<strong>de</strong> em<br />
que nos sentámos, <strong>de</strong>pois d'um largo passeio,<br />
eu e o doutor, a beber uma garrafa<br />
<strong>de</strong> cerveja no terraço do casino. Declinava<br />
o dia, e o sol, cançado do seu<br />
passeio pelo ceu, como nós do que déramos<br />
pela terra, apagava a luz, e <strong>de</strong>ixa<br />
va-se cair no mar, enviando em cada<br />
oscilação das aguas raios <strong>de</strong> fogo que<br />
morriam com as ondas na praia.<br />
O doutor, alienista celebre e homem<br />
<strong>de</strong> raro talento, tinha-me impressionado<br />
com as cousas, novas para mim, que me<br />
contára no passeio. A hora prestava-se á<br />
meditação e eu. os braços apoiados na<br />
varanda, via <strong>de</strong>sapparecer o sol pensando<br />
em todos os doidos <strong>de</strong> quem tinhamos<br />
fatiado.<br />
— Díga-me, doutor — perguntei-Ihe,<br />
comprehen<strong>de</strong>ndo a <strong>de</strong>scortezia do meu silencio—é<br />
verda<strong>de</strong> que se morre d'amor?<br />
Ha na realida<strong>de</strong>, perante a sciencia, essas<br />
loucuras com que, tanto elles como<br />
ellas, se ameaçam uns aos outros quando<br />
não são correspondidos?<br />
— Ha: e havel-as-ha, meu amigo,<br />
em quanto o mundo fôr mundo, porque<br />
o amor é o único immutavel na terra. Milhares<br />
e milhares d'annos passaram, e<br />
em cada geração houve sempre um Adão,<br />
falto do senso pratico do seu século, disposto<br />
a per<strong>de</strong>r um Paraiso por uma Eva.<br />
E' innegavel que o amor contrariado produz<br />
em muitos casos a loucura.<br />
—Mas a morte, não.<br />
— A morte instantanea, essa morte<br />
súbita do amante que recebe o «não» da<br />
amada e cae inerte a seus pés, nunca;<br />
mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong>ns d'amor po<strong>de</strong>m produzir <strong>de</strong>sarranjos<br />
e lesões num organismo, e em<br />
praso maior ou menor, occasionar a morte.<br />
Já encontrei um caso d'estes, — um<br />
caso originalismo.<br />
—Era homem ou mulher?<br />
—Homem. Um rapaz muito sympathico,<br />
d'olhos negros muito profundos e expressivos.<br />
A sua historia era como muitas<br />
outras. Elle cego por ella, e ella ingrata<br />
para elle. A ingrata casou-se com<br />
o eleito do seu coração, e Pepe, que assim<br />
se chamava o pobre louco, á força<br />
<strong>de</strong> chorar e <strong>de</strong> pensar na ingratidão da<br />
que já era esposa e nu felicida<strong>de</strong> do marido,<br />
per<strong>de</strong>u a razão. Trouxeram m'o para<br />
que eu o tratasse em minha casa. Em<br />
nós, aparte o carinho e a sol liei tu<strong>de</strong> que<br />
por <strong>de</strong>ver niostran-os aos infelizes alienados,<br />
ha, como em lodos os homens,<br />
preferencias nascidas da maior sympathia<br />
ou compaixão que nos inspira um louco<br />
<strong>de</strong>terminado. Aquelle rapaz inleressou-me<br />
vivamente. Observei-o, e, dois dias <strong>de</strong>pois<br />
da sua entrada em minha casa, <strong>de</strong>>cobri-<br />
Ihe a mania. De sol a sol, discorria lucidamente<br />
e mostrava estar <strong>de</strong> perfeito<br />
juizo; mas, apenas começava a cair a<br />
noite, esgazeava-se-lhe a vista, corria a<br />
encerrar-se no quarto e punha-se a escrever.<br />
Todas as noites enchia as quatro paginas<br />
d'uma folha, mettia-a num enveloppe,<br />
fechava, escrevia a direcção, e en<br />
òostava-se em seguida, ficando pouco <strong>de</strong>pois<br />
profundamente adormecido.<br />
—E a quem escrevia ?<br />
—A si proprio. Naquellas horas julgava-se<br />
a noiva e escrevia cartas a si<br />
proprio, pondo em todas — as doces palavras<br />
que o seu amor <strong>de</strong>sejaria ouvir<br />
dos lábios d'ella. Mas não pára aqui a<br />
sua loucura. Ao <strong>de</strong>spertar, pedia em altos<br />
grilos a carta da noiva, e, para acalmal-o,<br />
não havia outro remedio senão<br />
entregar-lhe a carta escripta por elle na<br />
noite anterior. E era <strong>de</strong> ver a impaciência<br />
com que o <strong>de</strong>sgraçado rasgava o enveloppe<br />
e como lhe assomavam aos olhos<br />
lagrimas d"alegria ao lêr o que elle julgava<br />
ternuras da noiva, como beijava a<br />
carta e como a estreitava contra o coração,<br />
antes <strong>de</strong> niettel a no cofresinho <strong>de</strong><br />
ferro, on<strong>de</strong> guardava, atadas por uma<br />
lita roxa, a collecção <strong>de</strong> cartas que uma<br />
a uma escrevia a si proprio todas as noites.<br />
Conservo na minha carteira a copia<br />
d'uma d'aquellas cartas, — a mais curiosa<br />
e commovente, porque é talvez a explicação<br />
da sua morte, — como recordação<br />
d'esse pobre louco por quem cheguei a<br />
professar extranho carinho. Uma noite<br />
em que elle dormia profundamente, entrei<br />
no seu quarto, abri com o maior cuidado<br />
o enveloppe da carta abandonada sobre<br />
a meza e copiei-a integralmente. Veja,<br />
como amostra dó estado d'espirito do<br />
touco, estes paragraphos;<br />
«Separam nos obstáculos invencíveis,<br />
provavelmente não tornaremos a vêr-nos.<br />
Ma» eu sei amar <strong>de</strong> longe como as palmeiras,<br />
e para viver ditosa só preciso<br />
da certeza <strong>de</strong> que a minha recordação<br />
nunca se aparta <strong>de</strong> li. Pepe da minha<br />
alma! assim se cruzarão os nossos beijos<br />
no ar e os nossos olhares se encontrarão<br />
no ceu, quando, separados um do<br />
outro, mas pensando no nosso amor, passamos<br />
as horas contemplando o azul do<br />
firmamento... v<br />
— No lim da carta, accrescentou o<br />
doutor voltando a pagina, elle, em nome<br />
d'ella, diz a si proprio: «Até ámanhã.<br />
As únicas horas que vivo no dia são as<br />
que emprego em escrever-te. Assusta-me<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a doença me prostre no<br />
leito e me impeça <strong>de</strong> fallar cointigo. Mas<br />
não; sempre me (içariam forças p:ira escrever<br />
o meu nome num papel e enviarão...<br />
Sim, no dia em que não recebas<br />
carta minha, é que morri».<br />
—E um dia faltou a carta?...<br />
—Sim. O pobie doido ia per<strong>de</strong>ndo<br />
as forças e chegou esse momento; duas<br />
semanas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler adoecido gravemente,<br />
a ponlo <strong>de</strong> cair <strong>de</strong> cama, as mãos<br />
negaram-se-lhe a sustentar a penna,—a<br />
penna com que lhe escrevia a noiva 1 No<br />
dia seguinte, ao <strong>de</strong>spertar, pediu a esperada<br />
carta.—Não ha carta, respon<strong>de</strong>u-<br />
Ihe um dos assistentes, apóz uma busca<br />
minuciosa cm todo o quarto.<br />
O doido soltou um grito.<br />
—Morreu um dia antes <strong>de</strong> mim! disse<br />
com voz npagada, e, inclinando a cabeça,<br />
adormeceu para sempre.<br />
— Vamo-nos, doutor, —^disse-lhe —<br />
porque começo a sentir o frio da noite.<br />
—Sim. Vamo-nos. Saiba no emtanto<br />
que o frio que sente não é o da noite,<br />
mas o frio d 'aquella noile escura em que<br />
viveii tantos annos o pobre louco. Murre-se<br />
<strong>de</strong> amor, sr. materialista, e, gosando<br />
perfeita saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> sentir-se frio<br />
por uma noite quente <strong>de</strong> verão.<br />
Joaquim Ma\as.<br />
•<br />
João Chagas<br />
D'uma carta <strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s, datada<br />
<strong>de</strong> 19 d'outubro <strong>de</strong>stacamos o seguinte:<br />
João Chagas tem arbitrada egual<br />
fiança, (um conto <strong>de</strong> réis) havendo muito<br />
quem o aífiançasse; mas esta não teve<br />
logar, em vista do governo o ter recolhido<br />
á lortalesa <strong>de</strong> S. Fernando, aon<strong>de</strong> está<br />
preso, tendo por homenagem a parada<br />
do quartel para passeio. Foi hoje a perguntas<br />
ao tribunal, limitando-se a dizer<br />
que se evadira no palhabote A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong><br />
para o Gabão, indo <strong>de</strong>pois para Paris, e<br />
d'ahi para o Porto, on<strong>de</strong> foi prezo. Quanto<br />
ás pessoas que o coadjuvaram na fuga,<br />
diz peremptoriamente não <strong>de</strong>clarar nada<br />
a tal respeito. João Chagas acha-se no<br />
entanto bem disposto; só nos pareceu<br />
um pouco abatido, mas conserva o ar<br />
jovial, e diz que o uão suprehen<strong>de</strong>u a<br />
prisão,<br />
Enten<strong>de</strong>mos que João Chagas cumpriu<br />
o seu <strong>de</strong>ver, não <strong>de</strong>nunciando os<br />
cúmplices da sua fuga, e outra coisa<br />
não era <strong>de</strong> esperar do caracter firme e<br />
inabalavel d'este martyr da i<strong>de</strong>a republicana,<br />
que é todo o seu i<strong>de</strong>al, (diz elle)<br />
o bem da sua patria.<br />
—Agora mesmo, oito horas da noile,<br />
acabamos <strong>de</strong> saber que João Chagas,<br />
segue ámanhã para Loanda, por or<strong>de</strong>m<br />
do governo geral, vindo no paquete S.<br />
Tliomé, que <strong>de</strong>ve sair ás duas horas da<br />
tar<strong>de</strong>. Vae respon<strong>de</strong>r militarmente, visto<br />
ser <strong>de</strong>portado.<br />
Pelos vencidos<br />
Subirripfão <strong>de</strong> 900 réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
eom eynal quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 120900<br />
Manoel Antonio <strong>de</strong> Figueiredo. 500<br />
Somma, réis 130400<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acçãos po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />
EM SURDINA<br />
Jaquetas no parlamento,<br />
na camara, em toda a parte,<br />
'té nas juntas —que tormento! —<br />
não ha poleiro que os farte I...<br />
Se afinal, por muitos mezes,<br />
o governo predomina,<br />
hão <strong>de</strong> ver que estes maltezes<br />
saem eleitos p'Ia China I<br />
Mas se o Zé Dias cair...<br />
é-na pae! Que pago<strong>de</strong>ira!<br />
E' vel-os a todos — fugir<br />
á cata <strong>de</strong> quem possuir<br />
argolas naceva<strong>de</strong>ira!<br />
PINTA-ROXÀ.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Tonjours gais I<br />
Não mente a leltra da opereta franceza<br />
: nLes portugais sont toujours gais!»<br />
A ultima semana assignalou-se nos<br />
fastos do ridículo por uma nota extremamente<br />
burlesca: a festa real. Des<strong>de</strong> os<br />
cestos <strong>de</strong> gavea collocados no alto da<br />
galera Rocio, tremulando nos mastros<br />
(que po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong> cocagne, se a feslarola,<br />
em vez <strong>de</strong> consagrada ao sr. D.<br />
Carlos, tivesse sido feita em louvor do<br />
Senhor dos Passos.. .) até á bomba <strong>de</strong><br />
pataco com que um anarchista pelintra<br />
teve o mau gosto d'alterar os dias socegados<br />
e constitucionais do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Folgosa — ha uma serie interminável <strong>de</strong><br />
episodios caricatos que nos <strong>de</strong>nunciam<br />
notavelmente alegres... na accepçáo<br />
bachica da palavra !<br />
Os marinheiros d'armada, no alto <strong>de</strong><br />
mastros, em pleno Rocio, cobrindo <strong>de</strong><br />
flores as magesta<strong>de</strong>s... dão a medida<br />
exacta da esponlanta e sincera manifestação<br />
(serieda<strong>de</strong> aparte!)—a bomba <strong>de</strong><br />
dynamite lançada ao palaeio do sr. Folgosa,<br />
fazendo voar tres janellas e nãõ<br />
acordando o-i moradores, apezar do medonho<br />
estampido (!!) — significa apenas<br />
que o caso da recepção foi tomado á<br />
conta <strong>de</strong> chalaça, e que a troça (má<br />
troça no entanto!) fechou com o ponlo<br />
final <strong>de</strong> um tric-trac, essa entrudada...<br />
que veio fóra do tempo proprio !<br />
É o nosso constante carnaval que<br />
provoca aos francezes a phrase significativamente<br />
irónica, mas justificada :<br />
«Les portugais sont toujours gais».<br />
*<br />
Healmenle lêm razão os francezes:<br />
somos sempre alegres 1<br />
Os ministros assaltara os cofres do<br />
eslado ?<br />
Chalaceamos, fazendo espirito acerca<br />
da infamía.<br />
Esmagam-nos com contribuições vexatórias<br />
afim <strong>de</strong> se encobrir os <strong>de</strong>svios<br />
governamentaes ?<br />
Transigimos, sorrindo imbecilmente,<br />
e encolhendo os hombros, resignados!..<br />
Boubam-dos na urna?<br />
Achamos graça á empalmação criminosa<br />
do presi<strong>de</strong>nte da meza.<br />
Aggri<strong>de</strong>m-nos á pouta <strong>de</strong> bayoneta ?<br />
Rimos ainda, com ar <strong>de</strong> triumpho,<br />
<strong>de</strong>sabafando em ameaças irónicas... <strong>de</strong><br />
que, realmente, não temos consciência,<br />
mas que nos alliviam como um balsamo.<br />
Fazem-se manifestações <strong>de</strong> regosijo<br />
quando a patria agonisa, quando o leopardo<br />
inglez nos ameaça ?<br />
Itecebemos á gargalhada a revoltante<br />
farça, sem um movimento <strong>de</strong> protesto!. ..<br />
Vale-nos uma esperança, ao menos:<br />
Rindo tanlo talvez nos regenere o ultimo<br />
riso, nervoso, vibrante, convulso, porque<br />
lá diz o adagio parisiense: Rira bien qui<br />
rira le <strong>de</strong>rnier 1<br />
Ah!... se o povo fôr o ultimo a<br />
rir!...<br />
* "<br />
O Jornal <strong>de</strong> Noticias, orgão estafado<br />
do irrevogável sr. João Arroyo, não se<br />
cansa <strong>de</strong> entoar lôas á3 magesta<strong>de</strong>s, avolumando<br />
grotescamente, no seu excesso<br />
<strong>de</strong> zelo monarchico-trampolineiro, o acolhimento<br />
<strong>de</strong> cortezia palaciana cora que<br />
Hespanha recebeu o sr. D. Carlos e sua<br />
família.<br />
Entre muitas nolas curiosas pela imbecilida<strong>de</strong><br />
do comnienlario, resalla uma<br />
noticia em que se conta que a sr. a D.<br />
Amélia d'Orleans passava, ha dias, por<br />
uma rua <strong>de</strong> Madrid, quando—<strong>de</strong> súbito—<br />
um elegante se lhe dirige, dizendo-lhe á<br />
queima-roupa — que era ella a rainha<br />
mais gentil do mundo...<br />
A sr, a D. Amélia franziu os régios<br />
lábios num sorriso, e dignou-se respon<strong>de</strong>r-lhe,<br />
abaixando a cabeça coroada:<br />
— aMuchas gradas, Caballero!»<br />
A phrase reclama o pantheon da immortalida<strong>de</strong>!<br />
Nem a lodos lembraria, tauto a proposito,<br />
a finíssima replica !<br />
Se, cointudo, á minha creada qualquer<br />
elegante madrileno tivesse dito:<br />
Você é a sopeira mais elegante do mundo!<br />
—vou apostar (que ditferença entre uma<br />
sopeira e uma rainha !) que a <strong>de</strong>salmada<br />
em vez das muchas gradas!... lhe esten<strong>de</strong>ria<br />
na cara a sua mãosita papuda...<br />
A sr. a D. Amélia achou engraçado o<br />
galanteador; a minha sopeira achal-o hia<br />
insolente.<br />
Começo a acreditar, conforme a lenda<br />
«lo povo, que as rainhas são creaturas<br />
divinas, feitas <strong>de</strong> massa muito differente<br />
da nossa. Nós sahimos do barro ordinário<br />
e ignóbil; as magesta<strong>de</strong>s sahiram <strong>de</strong><br />
procelana... ou <strong>de</strong> louça das Caldas!<br />
E a não serem os reis formados <strong>de</strong><br />
louça muito mais fina, como se explica<br />
que não pequem, que não errem, que<br />
nunca se enganem, que tenham sciencia<br />
á farta—para dar e ven<strong>de</strong>r—que á menor<br />
palavra nos façam estalar <strong>de</strong> risos<br />
que tenham pilhas <strong>de</strong> sal nas suas graças<br />
realengas, e que sollem, lodos os<br />
dias, ditos espirituosíssimos como este:<br />
cMuchas gracias, Caballero!»<br />
Nem o atilado Mômo, gazetilheiro<br />
inexgotavel do Jornal <strong>de</strong> Noticias, seria<br />
capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir piada <strong>de</strong> mais chiste!<br />
Ora como os reis, andam na moda, e<br />
como ludo que cheira a aristocracia capliva<br />
os pobres d'espirito, não tardará<br />
muito que as nossas costureiras, quando<br />
lhes peçam um beijo ou disparem uma<br />
proposta d'amor, respondam com ares<br />
orleanistasMuchas gracias, Caballero!<br />
Archivo, varado d'adiniração, a piada<br />
da esposa do sr. D. Carlos <strong>de</strong> Bragança,<br />
certo <strong>de</strong> que a posterida<strong>de</strong> lhe fará a<br />
justiça <strong>de</strong>vida.<br />
Parece-me bem que <strong>de</strong>pois d'esta<br />
notdbilis-sima revelação <strong>de</strong> lalento não se<br />
po<strong>de</strong>rá dizer que em Portugal tenha primazia<br />
o lendário Calino.<br />
Para rebater tal falsida<strong>de</strong>, para confundir<br />
os que julgam perdido entre nós<br />
o espirito scintillante, para esmagar os<br />
calumniadores que apregoam aos quatro<br />
ventos a nossa <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia intellectual,<br />
para, emfim, affirmar—alto e bom som—<br />
quanto vale a nossa educação litteraria,<br />
la lemos, sempre grandiosa, sempre bella,<br />
a phrase celebre da nossa rainha :<br />
«Muchas gracias, Caballero /»<br />
Soberbo! Único !<br />
Fra-Diavolo.<br />
23 <strong>de</strong> novembro.<br />
a<br />
Que plano I<br />
Diz o Correio da Tar<strong>de</strong> que o governo<br />
em troca do que <strong>de</strong>ve ao Banco <strong>de</strong><br />
Portugal, exonera-o completamente e para<br />
lodo o sempre da obrigação <strong>de</strong> converter<br />
em metal as nolas emitlidas até agora,<br />
tomando o governo a si essa responsabilida<strong>de</strong><br />
; isto é, transformando en. papelmoeda<br />
essa emissão. Em seguida o Banco<br />
<strong>de</strong> Portugal emittirá até 40:500 contos<br />
<strong>de</strong> notas (tres vezes o capital) com<br />
a obrigação da convertabilida<strong>de</strong>. Não pomos<br />
mais...!»<br />
Nós lambem não !<br />
Cabo Salomé<br />
Os nossos collegas <strong>de</strong> Lisboa a Vanguarda<br />
e o Século abriram uma subscripção<br />
a favor d'este prisioneiro politico.<br />
Como os nossos correligionários sabem<br />
o cabo Salomé foi um dos herees da revolução<br />
<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro, proce<strong>de</strong>ndo-se<br />
para com esle vencido da maneira a<br />
mais indigna e <strong>de</strong>saforada, por isso que<br />
foi o único con<strong>de</strong>mnado, pelos iníquos<br />
tiibunaes <strong>de</strong> Leixões, a cumprir a sentença<br />
na penitenciaria.<br />
Os nossos leitores que <strong>de</strong>sejarem<br />
coadjuvar e protejer aquelle hourado cidadão<br />
po<strong>de</strong>m enviar as suas quantias a<br />
qualquer das redacções acima indicadas.<br />
PALESTRAS<br />
Mas aon<strong>de</strong> estou eu? Que horas serão?<br />
Muito dormi; mas espera! Quando<br />
me <strong>de</strong>itei vinham na minha companhia<br />
Burtholoineu Dias, Affonso d'Albuquerque,<br />
Alvares Cabral e tantos outros, e agora<br />
estou sói Mas em que paiz estarei eu?<br />
Como isto é diverso! Decididamente estou<br />
sonhando. Mas espera, vejo além alguém<br />
que me olha espantado, é talvez<br />
algum indígena, vou fallar lhe, vou orienlar-me,<br />
vou finalmente saber on<strong>de</strong> estou ;<br />
mas o diabo é que eu só sei portuguez<br />
e portanlo o homem talvez me não entenda,<br />
vamos a vêr: Olá ó patrâosifiho<br />
faz favor <strong>de</strong> me dizer on<strong>de</strong> estou ?<br />
—Homem essa ! Então vocemecê não<br />
sabe on<strong>de</strong> está?<br />
—Com mil diabos! o homem falia<br />
um portuguez muilo pan<strong>de</strong>go, no emtanto<br />
percebe-se bem. Eu não sei; o que<br />
sei é que vinha muilo cançado, eu e outros<br />
companheiros; <strong>de</strong>itamo-nos, o lempo<br />
que estive a dormir não sei, o que sei é<br />
que accordo agora e vejo-me neste paiz<br />
que <strong>de</strong>sconheço.<br />
—Enlâo vocemecê d'on<strong>de</strong> é, ainda<br />
que eu mal pergunte ?<br />
— Eu sou portuguez, nascido e baptisado<br />
na freguezia <strong>de</strong> Santo Antonio dos<br />
Olivaes, em <strong>Coimbra</strong>.<br />
—Homem lambem eu, eu sou do Tovim,<br />
ma« que diabo <strong>de</strong> fatiota traz vocemecê<br />
vestida?<br />
—Essa é boa ! trago o falo que se<br />
usa no meu paiz, em Portugal.<br />
—Lá isso é que não traz, por que<br />
portuguez sou eu, e nunca sahi do meu<br />
paiz e trago isto que vocemecê vê; o<br />
facto que vocemecê traz só se usa aqui<br />
por as occasiões do entrudo, por isso<br />
quando o vi, fez-me especie vel-o assim<br />
trajado e julguei que vocemecê fosse algum<br />
extrangeiro.<br />
—Estou admirado ! Então eu estou<br />
em Portugal!?<br />
—Eslá, sim senhor, e muito perlo da<br />
sua terra, vocemecê está no Arco Pintado.<br />
—No Arco Pintado? Não me recordo<br />
d'esse nome?<br />
—Não admira, vocemecê está <strong>de</strong>smemoriado;<br />
vocemecê eslá em <strong>Coimbra</strong>.<br />
—Em <strong>Coimbra</strong>?1! Oh! como isto eslá<br />
mudado! Diga-mc em que anno estamos?<br />
—Era 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892.<br />
—Em 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892?!!<br />
E' assombroso! Em 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />
1521 adormeci eu! Como dormi pois 371<br />
annos ?!<br />
—Eu sei lá; isso é com vocemq^ê,<br />
mas parece-me que vocemecê está a intrujar-me<br />
?<br />
— Náo estou, palavra d'honra. Ora<br />
diga-me, como está o nosso rei D. Manoel<br />
?<br />
— D. Manoel não é rei, é um infante.<br />
O rei chama-se D. Carlos Simão<br />
— Qual D. Carlos, qual Simão; o<br />
nosso rei é o sr. D. Manoel, o venturoso,<br />
aquelle que tem tido a gloria <strong>de</strong> ter<br />
<strong>de</strong>scoberto o Brazil, tomou Ormuz, Gôa,<br />
Calicút, Malaca, etc., etc.; finalmente<br />
aquelle que assigualou o seu reinado com<br />
o cognome <strong>de</strong> eda<strong>de</strong> d'ouro?<br />
— Ai, ai, ai; vocemecê eslá engauado<br />
o sr. D. Carlos, náo <strong>de</strong>scobriu ainda<br />
coisa alguma e o seu reinado, é cognominado<br />
a—eda<strong>de</strong> do papel.<br />
— Eda<strong>de</strong> do papel?! então por que?<br />
— Por que? Por que ouro, vislel-o !<br />
— Então tanlo ouro que tem vindo<br />
da índia? Aon<strong>de</strong> esta elle?<br />
É boa a pergunta, está nas mãos dos<br />
inglezes e dos ju<strong>de</strong>us.<br />
— Dos ju<strong>de</strong>us ? mas o sr. D. Manoel<br />
expulsou-os a todos; porque não faz o sr.<br />
D. Carlos o mesmo?<br />
— Não faz, porque não tem força<br />
para isso; porque são elles que o sustentam<br />
uo llirono !<br />
— Mas com os diabos! isso não é<br />
honroso para o rei, nem para a nação.<br />
— Honra, isso é coisa em que se não<br />
falia. Nação, patria, dignida<strong>de</strong>, são palavras<br />
que se vão riscar da lingua portugueza,<br />
não só como supérfluas, mas<br />
como subversivas.<br />
— Como supérfluas e subversivas?<br />
Homem essa é notável! No meu tempo,<br />
eram palavras que enalteciam quem as<br />
soltava. Aos gritos <strong>de</strong> viva a patria, viva<br />
a nação portugueza é que nós fizemos<br />
todas as conquistas que nos tornam gran<strong>de</strong>s<br />
aos olhos <strong>de</strong> todo o mundo.<br />
—Oh ! senhor cale-se que vem lá a<br />
policia e pren<strong>de</strong>-o por estar dando taes<br />
vivas.<br />
— Ah I sim! pois então vou dormir<br />
outra vez, e permitia Deus não torne a<br />
accordar senão quando possa gritar bem<br />
alio: Viva a patria! viva a nação portugueza<br />
! viva a moralida<strong>de</strong> !<br />
—Pois dorme, velho Portugal, dorme<br />
e se tencionas accordar só quando<br />
possas dar taes vivas, lar<strong>de</strong> será ! O leu<br />
somno posso consi<strong>de</strong>rai-o como um somno<br />
eterno.
a - 38 O DKFENSOR DO POVO 89 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1892<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Partido republicano
AMXO I — 3 8 O DEFEXiOR DO POVO 8 7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> i 899<br />
OTUlOi<br />
PAIIA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
LIVROS<br />
HTVEIiOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTORIA Dl! PORTUGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis L,opes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim SE SAMPAIO (OTO)<br />
Edição completá por um Corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>feso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Micha*lis <strong>de</strong><br />
WsconéellOs e dos ex. mo6 srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos faseipulos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigha-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
D E G R A Ç A<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
A RIR — É este o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que sé<br />
publica ení Paro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves —Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
BÍBLIA sagrada<br />
ILLBSTBASA<br />
900 a 1:000 grcwuras<br />
Pedir prospecto e especimen<br />
Assignalura 20 réis, fascículo<br />
Está concluído o 1.' volume<br />
p |arn , informações BÍBLIA<br />
SAGRARA IliLUS-<br />
TRADA — Mòusinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
flores—4.<br />
A R T I C I P 4 - ,<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
^liTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em faetnras<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ILHETEI<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria Typ<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VROB<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato<br />
, Operaria I<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.MPRESSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , 11, .A. :R, < 3 - O X3-A- F R E I R I A , 1 4<br />
ANNUNCIOS<br />
Por ltnha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 "lo<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
PEtOBIDADE<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
( apitai 9.000:000^000 réis<br />
K7 Â 9 ene ' a e m <strong>Coimbra</strong>, rua<br />
ML <strong>de</strong> Ferreira Borges, 97, 1°<br />
andar.<br />
E S T U D A N T E S<br />
33 O e M ' , e " A > uma familla que<br />
JOi dá excellente comida e bom<br />
trato por preços modicos.<br />
Para esclarecimentos, dirigir a èsta<br />
redacção directamente ou por carta com<br />
as iniciaes C. S.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latociro d'amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RIJA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
^ jpxecnta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
KM carimbos em todôs os gene<br />
ros, sinetes, fac-siniiles e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra dc<br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amarélla è branca. — Prateia-se todo o<br />
objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
„„ IVen<strong>de</strong>-se uma porção <strong>de</strong><br />
1 ladrilho mozaico proprio para<br />
ladrilhar cosinhas e entradas <strong>de</strong> casas,<br />
etc., por qualquer preço que se combine<br />
com seu dono, praça do Commercio, n.°<br />
50—<strong>Coimbra</strong>.<br />
VENDA DE CASA<br />
58<br />
'en<strong>de</strong>-ie uma sita na Couraça<br />
dos Apostolos, n.* 66. Para<br />
tratar com^José<br />
tello.<br />
Simões, largo do Cas-<br />
TRESPASSA-SE<br />
| 1 m estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />
U zendas, quinquilherias e mercearias,<br />
bem afre^uezado e no melhor<br />
local <strong>de</strong> Pombal, por seu dono não o<br />
po<strong>de</strong>r atien<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />
a S. B. F. — Pombal.<br />
53<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
jt iigusto Nunes dos Santos,<br />
successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, i8—COIMBRA<br />
E M P R E G A D O "<br />
a rua <strong>de</strong> Ferreira Bor-<br />
__ ges n. 08 128-130, se diz<br />
quem precisa d'um que esteja apto para<br />
a escripta.<br />
BI-CYCLETA<br />
5o l| e,u,e ~* e uma em bom uso,<br />
1 própria para ensino. Dirigir<br />
á Couraça <strong>de</strong> Lisboa, 32.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
^ A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
il. e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glaóé é selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />
DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 T^ESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
1^1 junto e a retalho,, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />
anliga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
A R T A Z G S<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
TAGUS<br />
FUNDADA E»I 1877<br />
CAPITAL<br />
R É I S 1 . 3 0 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
VISOS<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
C oimbra<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
R É I S § 8 : 5 0 0 ^ 0 0 0<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e?estabelecimentos<br />
a»<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
<strong>Coimbra</strong>,<br />
ouso, 61,<br />
Praça do Coiuinerelo n.° il-l.°<br />
XAROPE DE PH ELLA NO BIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com opiimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
dã capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Uosas & Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
Rodrigues da Silva & C. a Porto,<br />
65.<br />
pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo li<strong>de</strong><br />
CENTRO DA MODA<br />
DE<br />
MENDES D'ABREU & C. A<br />
60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges — 64<br />
mK ] 0 JE* A .<br />
46 Â esle acrei " ta( ' 0 estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />
Mi completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />
fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam com a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> preços.<br />
Os proprietários d'esle estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />
das manufacturas, montaram 110 mesmo prédio uma esplendida officina dalíaiateria,<br />
on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />
No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />
Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />
gizes custa 400 réis.<br />
P O S T O M E D I C O<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
(Arco d'Almedina)<br />
ANTONIO DA SILVA PONTES<br />
^ jplonsultas das 12 horas ás<br />
Vá 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />
ás 9 da noite.<br />
Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser procurado<br />
na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />
Apostolos, n.° 22.<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />
e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Gosta Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
Vinho IVIaduro do Douro<br />
e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />
SUPERIOR QUALIDADE<br />
51 lfendé-se na mercearia Ave-<br />
W nida. — Largo do Principe<br />
D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 — <strong>Coimbra</strong>.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA RORGES, 97<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOIi<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGMTUM<br />
Com estampilha<br />
Anno<br />
Semestre....<br />
Trimestre...<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
2Í700<br />
«3Õ0<br />
680<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2$400<br />
Semestre.... 1#200<br />
Trimestre... 600
"TTIda, n o v a<br />
«Saberá Portugal para on<strong>de</strong> caminha<br />
com o <strong>de</strong>i icit que dia a dia<br />
Vae augmentando?»<br />
Esta pergunta que do estrangeiro<br />
nos vem formulada pela voz do Économisle<br />
Français, íormula-se constantemente<br />
entre nós no espirito <strong>de</strong><br />
todos aquelles que ainda se interes^<br />
sam pelo seu paiz, vibrando sem<br />
cessar a nota dolorosa d'um gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>salento, exprimindo amargamente<br />
a duvida que nos opprime, a incerteza<br />
receiosa com que encaramos o<br />
dia <strong>de</strong> ámanhã.<br />
O receio do <strong>de</strong>sconhecido que<br />
nos envolve e ao mesmo tempo a<br />
<strong>de</strong>scrença funda que nos inva<strong>de</strong> —<br />
<strong>de</strong>scrença no valor moral dos nossos<br />
homens públicos, <strong>de</strong>scrença na seria<br />
honestida<strong>de</strong> dos seus processos —<br />
fazem circular <strong>de</strong> bocca em bocca<br />
esta pergunta amarga, que é para<br />
nós uma vergonha.<br />
Para on<strong>de</strong> caminhamos ? Que<br />
forças mysteriosas nos impellem, que<br />
fatalida<strong>de</strong> assustadora nos leva, numa<br />
inércia criminosa, para um vergonhoso<br />
anniquilamento ?<br />
Se é certo, como os factos exhuberantemente<br />
o provam, que não<br />
encontramos nos altos po<strong>de</strong>res do<br />
Estado uma seria garantia do nosso<br />
progresso, reajamos, luctemos, mas<br />
façamos ver aos olhos do» povos<br />
cultos que não merecemos o futuro<br />
que se nos prepara. Encarar <strong>de</strong><br />
braços crusados, na indifferença d'um<br />
lethargo suicida, este <strong>de</strong>smoronar da<br />
nossa socieda<strong>de</strong>, é uma vergonha e<br />
um crime; e vergonha e crime <strong>de</strong> tal<br />
or<strong>de</strong>m, que, se nos <strong>de</strong>ixamos ir sem<br />
lueta e sem protesto, não temos razão<br />
<strong>de</strong> existir como povo autonomo<br />
e livre.<br />
E nós po<strong>de</strong>mos reagir e luctar.<br />
Ha muitos annos que á frente do<br />
nosso paiz se mantém uma administração<br />
tal, que nos trouxe á temerosa<br />
crise em que nos <strong>de</strong>batemos,—crise<br />
esmagadora, que é mais <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />
que <strong>de</strong> embaraços economicos<br />
e financeiros. Uns aos outros se<br />
teem succedido os governos — uns<br />
aos outros se teem succedido os<br />
<strong>de</strong>senganos. A obra <strong>de</strong> moraiisação,<br />
que cada vez se torna mais instante,<br />
exige uma concentração .<strong>de</strong> forças,<br />
um <strong>de</strong>sassombro <strong>de</strong> acção, uma am j<br />
plitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista, tal nobreza <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />
e um tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong><br />
interesses, que os homens que teem<br />
surgido no po<strong>de</strong>r não po<strong>de</strong>m arcar<br />
com ella. Nem as tradições da maior<br />
parte, nem a fatal engrenagem que<br />
arrasta no po<strong>de</strong>r os animados <strong>de</strong><br />
intenções honestas, coasentem que<br />
eiles promovam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
successivo d'este principal elemento<br />
da vida d'um povo.<br />
Mas embora. Felizmente neste<br />
paiz a capacida<strong>de</strong> reformadora não<br />
está synthetisada nos hóméris que<br />
até hoje teem presidido á sua administração;<br />
se assim fosse estaríamos<br />
irremediavelmente perdidos. Ha ainda<br />
entre nós muitas intelligencias<br />
provadas, muitos talentos fecundos,<br />
muitas consciências honestas para<br />
darem á nòssa regenefaíão social o<br />
impulso que o nosso estadò imperiosamente<br />
reclama.<br />
Substitua o nosso povo por estes<br />
aquelles que o teem levado a uma<br />
vergonhosa ruina; cOfítie-se dos homens<br />
que já hoje teem após dé si<br />
Uma larga historia <strong>de</strong> relevantes serviços<br />
prestados ao seii paiz; que,<br />
sempre na brecha, teem combatido<br />
infatigavelmente os con<strong>de</strong>mnaveis<br />
processos <strong>de</strong> administração e <strong>de</strong> politica<br />
que até hoje teem dominado;<br />
que teem provado em perseguições<br />
<strong>de</strong> toda a or<strong>de</strong>m a sua <strong>de</strong>dicação e<br />
a sua sincerida<strong>de</strong>; entregue, finalmente,<br />
áquelles que teem atiirmado<br />
sempre o seu <strong>de</strong>sinteresse, a direcção<br />
dos negócios públicos ;—é mostrará<br />
ao mundo inteiro que Portugal ainda<br />
BI-SEMANARIQ, REPUBLICANO<br />
po<strong>de</strong> tomar á frente das nações õ<br />
logar á que as suas tradições gloriosas<br />
lhe dão direito.<br />
Proce<strong>de</strong>ndo assim a nação portugueza<br />
mostrará aos olhos dos estrangeiros<br />
que sabe qual o <strong>de</strong>plorável<br />
íim â que a po<strong>de</strong> levar éste estado<br />
<strong>de</strong> coisas, e que tem aptidão e<br />
farça para- se <strong>de</strong>sviar do caminho a<br />
que cegamente a teem impellido successivas<br />
administrações ruinosas; affirmárá<br />
brilhantemente a sua vitalida<strong>de</strong>,<br />
e, entrando <strong>de</strong> rosto levantado<br />
ém nova politica e processos novos,<br />
on<strong>de</strong> amplos horisontes se patenteiam<br />
á sua activida<strong>de</strong>, resurgirá, cheia <strong>de</strong><br />
vida, do calios a que loucamente se<br />
<strong>de</strong>ixou arrastar.<br />
E' o modo mais nobre e levantado<br />
<strong>de</strong> provar a sua dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
povo livre e <strong>de</strong> conquistar, com o<br />
respeito e estima das nações, um<br />
futuro rasgado.<br />
Franco Ascot.<br />
Valentes... para os fracos<br />
Vejam o seguinte telegramma da<br />
agencia liavas:<br />
« Londres 25, m.—Em consequência<br />
das uegociaçõ s entre a França e a Grau<br />
Bretanha o Eoreign Office acceilou a responsabilida<strong>de</strong><br />
dos acontecimentos da<br />
Uganda, e in<strong>de</strong>muisará os fraucezes lesados.»<br />
Se egual caso se <strong>de</strong>sse com Porlugal<br />
ainda terianios <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisa!r a Inglaterra;<br />
com a .França, porém, não lia valentias.<br />
Amor com amor se paga<br />
Aiu>uncia-s& ma próxima primavera a<br />
vinda a Litdioa da rainha regente <strong>de</strong><br />
Hespanha pagar a visita que lhe fizeram<br />
as magesta<strong>de</strong>s portuguezas, . •<br />
0 povo é que pagará todas essas ceremonias.<br />
li' cascar-lhe!<br />
PELOS JORNAES<br />
í ;V/M yi ..,!• -..•:„,• J<br />
Vinha admiravel a Reforma <strong>de</strong> domingo<br />
passado, trazia uui artigo intitulado<br />
Aqui d'El-Rei, em que promettia<br />
uma analyse teza aos abusos e lyrannias.<br />
Começa por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Lei. E uisso<br />
é profundo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s. Ora vejam: falia<br />
da Lei; .<br />
«Mas o que é ella no nosso paiz?<br />
«Uma comedia, a principio, representada<br />
em S. Bento, e <strong>de</strong>pois um pergaminho<br />
arehivado na Torro do Tombo,<br />
um ooceado <strong>de</strong> prosa com qua se euehe<br />
o Diário do Governo, e um papel impresso,<br />
sujeito a diversos usos, menos<br />
aos <strong>de</strong> garantir direitos.»<br />
e d Io a 191 o no a i o<br />
Positivamente isto. A Lei tem sido<br />
escandalosamente calcada por aqíifelles<br />
que foram investidos do <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> a executar.<br />
É o que a imprensa republicana<br />
vem proclamando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, é o que<br />
nós atlinnamos todos os dias, emquanto<br />
a Reforma e outros papeis se empenham<br />
na <strong>de</strong>feza dos que Impudicamente, a começar<br />
no... nos ministros e a acabar<br />
nrf-regedor da parochia* <strong>de</strong>sprezara a Lei<br />
ou a torcem ao saíwr dos corrilho-'. < ><br />
Ora titó que uma vez nos encontra^<br />
mos, srs. Torgaes 1<br />
' Mas eiles dizem mais. Corroborando<br />
os dizeres do período traiiscpipto, a Reforma<br />
estabelece esó-cathedra:<br />
fcioíl •)--iioil II; ob Hioq-tb<br />
«Não existe paiz neuhum no mundo,<br />
ainda o mais selvagem, on<strong>de</strong> alei tenha<br />
o <strong>de</strong>sprestigio que tém em Portugal,<br />
e o.nie as entida<strong>de</strong>s, ineuinuidas<br />
<strong>de</strong> a guardar, sejam mais criminosamente<br />
<strong>de</strong>sleixadas.<br />
Apoiadissimo!<br />
Como linha <strong>de</strong> conducta <strong>de</strong> quem começou<br />
por dizer que ia cair sera pieda<strong>de</strong><br />
e a fundo sobre abusos e lyrannias, a<br />
Reformi couclue por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o rei. Ou<br />
Hão ha lógica ou a Reforma erra. Segundo<br />
o nosso modo <strong>de</strong> ver, jacobino<br />
que elle é, o rei é <strong>de</strong> per si ura..*<br />
agora nos tramou a Reforma, porque o<br />
que o rei é,- é inviolável e sagrado e nós<br />
iamos a dizer que elle era <strong>de</strong> per si um<br />
abuso e uma tyraniia... (e lá foi!)<br />
Deixando escorrer umas plangencias<br />
harmoniosas sobre 0' p-ezffdote' officio <strong>de</strong><br />
reinante, carpe a Reforma, admirável <strong>de</strong><br />
sentimento:<br />
«Como rei, o sr. D. Carlos tem uma<br />
coroa, <strong>de</strong> sangrentos espin-hos, e por<br />
symboio do niaódo a irrisória canna<br />
ver<strong>de</strong>.»<br />
O' Torgal: traze d'ahi a taça das<br />
lagrimas.. .<br />
Mas a Reforma prosegue, altiva Cyrinêa,<br />
entornando todo o mel do seu<br />
sentimentalismo femenil:<br />
«Percorram todo o mundo eivilisado,<br />
vão mesmo ás mais selvagens hordas,<br />
e <strong>de</strong>safiamos a quem nos apresente<br />
um rei nas condições em que vive o<br />
^T^WPoflugal e sua augusta familia.»<br />
Tristíssima situação, na verda<strong>de</strong>.<br />
Elle é viagem á Covilhã, elle é viagem<br />
ao Porto, elle é viagem a Hespanha,<br />
elle e caçadas em Mafra, elle é um conto<br />
<strong>de</strong> réis por dia : em suuiuif, nem nas<br />
hordas ir.ais selvagens ha um rei ião mal<br />
vivente! *<br />
Mas a Reforma não cala ainda o seu<br />
senlir mirabolante. Guarda para o remate<br />
este tlireno seraphicn, repassado da sagrada<br />
uneção dos hòmo nobilis: Ajoelhae<br />
e lê<strong>de</strong> :<br />
«Mais infeliz do que elle, só a não<br />
menos irrisória sobbránia nacional que,<br />
na sua estupi<strong>de</strong>z, tudo isto soffre e to-<br />
" nr&tf . •' ' ,<br />
Tudo isto softre e tolera: o rei, a<br />
Reforma, os Torgaes!. .. ofo'l xul<br />
.init-" T • Í!KFR>Y II: j /mil» 9I.01]<br />
è r.iroiifiii nl> i- 1 -t o!» *»liuJilJr, n 9»p<br />
-i Isto é troça. Do Correio da Manhã:<br />
«Diz-se que uma das medidas financeiras<br />
do sr. José Dias para criar a receita<br />
é o lançamento <strong>de</strong> am pequeno<br />
imposto sobre os filhos varões. Este<br />
imposto, pago pelos paes, será <strong>de</strong>ppjts<br />
reipido ! qpando os filhos entrem ao serviço'militáí.<br />
Quando não entrem, gúarda-o<br />
» Estado.»<br />
Dissemos que era troça : está bera.<br />
Não po<strong>de</strong> ter outro nome. ,<br />
• ( (! Ji:" • *<br />
É vibrante e altivo o protesto^dos<br />
republicanos do Porto a proposito da ultima<br />
borgá eleitoral. Os alcayotes do<br />
sr. José D>as são íiiiplacavelinenle triturados<br />
numa critica rigorosa e <strong>de</strong>slibrauto.<br />
CpmiPbase do protesto, escrevem os<br />
protestantes:<br />
*A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> repetidos protestos,<br />
em muitas assembleias earcou-se a uma<br />
d'uma atmosphera <strong>de</strong> terror.ç d'amaaças;<br />
coustituiram-se illegalmeule as ré-<br />
( clainações dos eleitóres; vèdoU-sê-lhes<br />
f o direito <strong>de</strong> tisealisar as operações do<br />
suffragio; falseou-se o numero e a leitura<br />
J^s lutas; a^liuituraia-se voto» <strong>de</strong><br />
mortos e ausentes; êousarvou-se (orca<br />
armada ein ál/miiis égrejas durante o<br />
acto eleitoral; ;tizerara-se orisõis arbitrarias;<br />
expulsaraui-se.iios templos cidadãos<br />
paciiiòoâ, e houve presi<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> inez.is que, seguros da impunida<strong>de</strong>,<br />
não tiveram duridá eiii parodiar a célebre<br />
plirase das OrJeuações Philipiuas:<br />
—rr o rei é a lei viva — <strong>de</strong>clarando pi*'blicainentej<br />
em voz alta e <strong>de</strong> çaueça<br />
erguida, aos eleitores, quaihes exibiam<br />
a estricta observaucia da íeí, que d lei<br />
• ! eram eiles I<br />
01 '' Depois <strong>de</strong> fundamentar energicamente<br />
a razão do seu prolesio, concluem os<br />
nossos illu?tres correligionários:<br />
«O tempo uão pára. Por muito póvvr<br />
<strong>de</strong>roso que seja, iiao ba disposta que o<br />
faça retroee<strong>de</strong>r, ,<strong>de</strong>jer-sj uin fiyuieuto<br />
diaute das ooocas dos seus canliõjs,<br />
ou das agudas po.itas das suas<br />
•II baionetas. Como iiãr<strong>de</strong> conseguir asse<br />
resultado os ouiouros saitaaJoraã cta<br />
jj arua? D.liora a iiora eiigilfa,mj nos<br />
mais uo futuro: o prásantió o instante<br />
que passa ; è a's leis, que regem a evolução<br />
Humana são eternas e inalteráveis,<br />
como as que governam o muado<br />
pliysico. Qaereis obstar á victoru da<br />
<strong>de</strong>iniicracia? Pois bem: para isso ten<strong>de</strong>s<br />
a seguir outro camiiibo. Evitar o<br />
advento do futuro; altarao as leis que<br />
<strong>de</strong>terminaram a evolução;-suspeu<strong>de</strong>i o<br />
camiuuar ineessaiita da humanida<strong>de</strong><br />
para as regiões iloseoaoejidas, oaJa a<br />
espéra a reahsaçao do seu gráudioso<br />
<strong>de</strong>stino.»<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 3 9<br />
*<br />
No artigo <strong>de</strong> Emilio Castelar publicado<br />
na Espana Mo<strong>de</strong>rna e <strong>de</strong> que no<br />
numero passado transcrevemos um período,<br />
<strong>de</strong>paramos mais est'outro:<br />
«Uma elevadíssima senhora — diz<br />
Castelar — crendo,.sem duvida, os assumptos<br />
politicos assumptos caseiros,<br />
e as coroas e o^ Estados cousas que são<br />
eomo proprieda<strong>de</strong> particular e pessoalíssima,<br />
exposta por sua natureza a ser<br />
roubada, e a qualquer hora necessitadissima<br />
<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fendida, como suçce<strong>de</strong><br />
com fazendas ou casas, <strong>de</strong> ladrões domésticos<br />
e <strong>de</strong> incendiários audaciosos,<br />
pela cooperação e auxilio que prestam<br />
uns aos outros os visinhos em transes<br />
analogos, escreveu dos palacios reaes a<br />
certa rainha, que não quero nomear,<br />
pedindo um auxilio conhecido com o<br />
nome <strong>de</strong> intervenção estranha ou estrangeira<br />
em todos os diccionarios políticos.»<br />
Como Uto é gravíssimo, apezar da<br />
senii-mysteriosida<strong>de</strong> que o ensombra.<br />
Como nós estamos a ver, esfumando em<br />
espiraes' negrejastes, o vulto seraphico<br />
d'uma rainha-mãe implorando d'outra rainha<br />
um auxilio qoe i|os diccionarios políticos<br />
tem o nome <strong>de</strong> intervenção estrangeira<br />
!<br />
Meu Deu»! em que paiz estamos 1<br />
*<br />
Entreteu-se a Or<strong>de</strong>m, nossa preclara<br />
visinha, a <strong>de</strong>vanear seraphicamente áceri.ca<br />
do que seja republica e republicano?;<br />
e vae d'ahi, como é <strong>de</strong> prever, eucbareou-se<br />
até ao pescoço-.<br />
Em lhese está comnosco :<br />
*Cómo forma <strong>de</strong> Estado, no campo<br />
dos princípios, a republica é tão acceitavel<br />
coiho quálqaer oiitra forma <strong>de</strong><br />
governo, e nada tem que a faça lejeitavel.»<br />
Mas, <strong>de</strong>pois, cogitando farfalhices <strong>de</strong><br />
mero effeito rhetorico, embreoha-se ne-ta<br />
<strong>de</strong>monstração pyramidalmenle singular:<br />
«Nós queremos dizer e <strong>de</strong>monstrar<br />
qua em Portugal não ha republicanos,<br />
e por conseguinte não po<strong>de</strong> haver republica.»<br />
Mas o diabo emenda-lhe a mão e<br />
faz-lhe dizer logo a seguir: «Os magnates<br />
do partido republicano.. .» «E tanto<br />
assim ê que todos os jornaes republicanos....<br />
» «De resto que garantias politicas<br />
nos oITerecem os republicanos?...»<br />
«Com taes republicanos...» Etc.<br />
De maneira que, acima dizia a beata<br />
que uão havia republicanos em Porlugal<br />
e Iq^o a seguir referiu-ie a republicanos<br />
-fô^ 1 ^]» 1 :*»
I — S. a 39 O DEFEXSOR O a POVO t <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
juST<br />
L B T T B A S<br />
A consciência<br />
Cain com os cabellos soltos, segui<br />
do dt sua esposa e lillios cobertos <strong>de</strong> pel<br />
les <strong>de</strong> animaes, chegou á falda d'um uion<br />
te. A mulher e os filhos disseram:<br />
— Deitemo-nos no chão e durmamos.<br />
Cain não podia dormir, permaneceu<br />
acordado no sopé do monte. Levantou<br />
por acaso a cabeça e no fundo ilos negros<br />
ceus viu um olho muito gran<strong>de</strong> aberto<br />
nas trevas, que o olhava fixamente.<br />
— Estou muito perto, murmurou estremecendo,<br />
e accordando os filhos e a<br />
fatigada mulher, recomeçou a sua precipitada<br />
fuga.<br />
Continuava com a palli<strong>de</strong>z no rosto;<br />
estremecendo ao menor ruído, olhando<br />
para traz sem <strong>de</strong>scançar. sem parar; em<br />
breve chegou á borda do mar, no sitio<br />
on<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> se estabeleceu Asur.<br />
—Paremos, disse, porque este a-ylo<br />
é seguro: <strong>de</strong>tenhamo-nos : chegamos ao<br />
confins do mundo.<br />
Mas ao sentar-*e viu entre os sombrios<br />
ceus o mesmo olho que o contem<br />
piava.<br />
Então apo<strong>de</strong>rou-se d'elle uma vertigem.<br />
— Escon<strong>de</strong>i me, gritou.<br />
E com o <strong>de</strong>do na bocca, os pequenos<br />
contemplavam o avô que estava fóra <strong>de</strong><br />
si.<br />
Cain disse a Jaliel, par d >s que habitam<br />
o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> tendas <strong>de</strong><br />
pelle:<br />
— Esten<strong>de</strong> até este lado a tela da<br />
lua tenda.<br />
E a tela foi estendida, e quando estava<br />
segura com os seus pesos <strong>de</strong> prumo<br />
perguntou Tsilla,, a rapariga loura a filha<br />
<strong>de</strong> seus filhos, com voz doce como a aurora<br />
:<br />
— Ainda vè<strong>de</strong>s alguma coisa?<br />
E Cain respon<strong>de</strong>u :<br />
— Vejo ainda o mesmo olho !<br />
Juval, pae dos que atravessam as al<strong>de</strong>ias<br />
tocando gaita e batendo no tamboril,<br />
exclamou :<br />
— Eu saberei construir uma barrei-<br />
ra. li-uítd.' '.i. msr ianiiJ<br />
E construiu pm muro <strong>de</strong> bronze e<br />
por <strong>de</strong>traz uollocou Cain.<br />
E Cain disse:,<br />
— O olho aind i me mira.<br />
Ilenoch accrescentou :<br />
—E' preciso construir jim circulo <strong>de</strong><br />
torres táo formidável, que nada possa<br />
apnroximar-se d'elle. Edifiquemos uma cida<strong>de</strong><br />
com a sua cidadcila, e fechai adiemos<br />
<strong>de</strong>pòis.<br />
Então Tubalcin, pae dos ferreiros,<br />
construiu uma cida<strong>de</strong>lla maravilhosa. Emquanto<br />
a edificava, seus irmãos davam<br />
caça ao filhos <strong>de</strong> Enós e <strong>de</strong> Belli,; se aí<br />
guem passava por alli, arrancavam lhe os<br />
olhos; pela noile arrojavam-se flechas ás<br />
estrellas.<br />
O granito substituiu as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
tela; as pedras estavam unidas umas ás<br />
outras com gatos <strong>de</strong> ferro ; parecia uma<br />
cida<strong>de</strong>, infernal; a sombra das torres estendia-se<br />
<strong>de</strong> noite pelos campos visinlios:<br />
os muros tinham a esp"ssura dos<br />
montes; sobre a porta gravaram-se e-tas<br />
lettras: Nem Deus passa.<br />
Quando tudo ficou concluído colloraram<br />
o avô no meio <strong>de</strong> uma torre <strong>de</strong><br />
pedra, e alli permaneceu in juieto e lugubre.<br />
— Meu pae! perguntou com voz Ire?<br />
mente Tsilla: <strong>de</strong>sappareceu ?<br />
E Cain respon<strong>de</strong>u:<br />
— Não, vejo-o ainda.<br />
E accrescentou :<br />
— Quero viver <strong>de</strong>baixo da terra como<br />
um morto <strong>de</strong>baixo dp sçpulchro. Nin<br />
gueiti me verá nem tão pouco verei eu<br />
coisa alguma.<br />
Abriu-se uma caverna e Cain disse:<br />
— Eslá bem.<br />
Depois <strong>de</strong>sceu até ao inlerjor daquella<br />
sombria aboboda. Quando estava sentado,<br />
no meio da escurida<strong>de</strong>, e logo que<br />
sobre a sua cabeça tinham cerrado a<br />
poria do subterrâneo, Cain levantou a<br />
cabeça e ficou aterrado ; o olho estava<br />
<strong>de</strong>ntro do tumulo e olhava-o fixamente.<br />
Victor Hugo.<br />
O escoamento<br />
No domingo embarcaram era Lisboa<br />
mais <strong>de</strong> quinhentos emigrantes com<br />
<strong>de</strong>stino ao Brazil.<br />
Somma e segue.<br />
Uma belleza<br />
As propostas <strong>de</strong> fazenda do sr. José<br />
Dias Ferreira, são:<br />
Papel-moeda;<br />
Angmento <strong>de</strong> percentagem ás contribuições<br />
geraes;<br />
Imposto sobre as obrigações dos tabacos<br />
;<br />
Transferencia para o E-lado dos caminhos<br />
<strong>de</strong> ferro norte e leste;<br />
Empréstimo sobre penhor dos fundos<br />
públicos ou sobre bens proprios nacionaes.<br />
Hão <strong>de</strong> dizW nos, <strong>de</strong>pois d'isto, como<br />
o commerciante, o agricultor, o industrial<br />
e o operário hão <strong>de</strong> ganhar a vida.<br />
Oh <strong>de</strong>sgraçado!<br />
Oh miserável plebe que pass-as o teu<br />
tempo entregue ao trabalho violento <strong>de</strong><br />
todos os dias I Oh triste proletário semvintem<br />
que vives miseravelmente a vida<br />
dos parias, sem prazeres, sem commodidadcs.<br />
sem fausto :<br />
— Olha quanto ganha a côrte:<br />
D. Carlos 363-000^000<br />
D. Maria Amélia 60:0000000<br />
D. Luiz Filippe . 20:000^000<br />
D. Manoel 10:0000000<br />
D. Maria Pia.. 60:0000000<br />
D. Affonso Henriques.. 10:0000000<br />
Ofliciaes do exercito ás<br />
or<strong>de</strong>ns do rei 4:3200600<br />
Ofliciaes dn exercito ás<br />
or<strong>de</strong>ns do sr. D Affonso<br />
6000000<br />
Ofliciaes da armada ás<br />
or<strong>de</strong>ns do rei 5:7240000<br />
Or<strong>de</strong>nados d'estes ofliciaes<br />
11:7240000<br />
Obr.is nos paços reaes.. 6:0000000<br />
Guarda real dos archeiros"<br />
3:5480400<br />
Juros ilas inscripções em<br />
usufructo da corôa . 62:0000000<br />
618:916^400<br />
Povo! não sentes o rosto aquecer te?<br />
uão te seules varado <strong>de</strong> indignação?<br />
Vé lá.<br />
Associação peninsular<br />
O illustre hespanhol D. Haphael <strong>de</strong><br />
Labra, o conhecido amigo <strong>de</strong> Portugal,<br />
lança as bases para uma associação popular<br />
peninsular, total mente estranha a<br />
compromissos políticos e exclusivismos<br />
<strong>de</strong> escolas, para a facilitação <strong>de</strong> communicação<br />
dos pensadores, pedagogistas e<br />
publicistas dos dois povos.<br />
Palavras do sr. José Dias<br />
«Quando OH altos po<strong>de</strong>res alo<br />
estado quizerem restringir as<br />
faentda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> IIIAII i sfestação<br />
publica, Rn paixões hão <strong>de</strong> procurar<br />
outra válvula, Itfto <strong>de</strong> tomar<br />
ontra direcção; e a critica<br />
sert-na, e mesmo apaixonada,<br />
mas feita á luz do dia, será<br />
substituída pelas reuniões Clan<strong>de</strong>stinas<br />
e pelas conjurações<br />
revolucionarias.<br />
a A guerra mais perigosa para<br />
os governos, a mais difftcil<br />
<strong>de</strong> combater, 6 a preparada nas<br />
trevas, quando os cidadãos, encontram<br />
fechadas todas as portas<br />
<strong>de</strong> manifestação leal.»<br />
E os sergios a uivarem pela repressão.<br />
Anda-lhes o corpo a mor<strong>de</strong>r. Nem<br />
atlcn<strong>de</strong>ir. ás palavras do d*>no!<br />
Pelos vencidos<br />
Subscripção <strong>de</strong> SOO réis ntensaes<br />
<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
eom egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 130400<br />
Francisco Mendonça (mez <strong>de</strong><br />
novembro) 200<br />
Luiz Cardoso (idçm) 200<br />
Somma, réis 130800<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou misTua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, u.° 88.<br />
EM SURDINA<br />
Tristezas nHo pagam dividas I<br />
'stale o bello fonuetorio,<br />
haja discursos, vivorio,<br />
seja uma festa d'arrombal<br />
E que a real corporação<br />
p'ra mostrar sua potencia,<br />
p'la nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />
mostre trabalhos <strong>de</strong> bomba 1<br />
Mesmo pobre, este paiz,<br />
sempre mostra ao seu Bragança<br />
viver bem e na abastança,<br />
contente, alegra, garrido I<br />
E a salvação que é real! —<br />
e na Real ha heroes,<br />
quer mostrar aos hespanhoes<br />
não ter o esguicho entupido.<br />
Se ámanhã ou outro dia,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> finda a funcção<br />
a Rt-al Corporação<br />
andar ahi ás esmolas..<br />
dae-lh'a I Visto que os governos,<br />
mais reaes e mais corruptos,<br />
no povo lançam tributos<br />
sem horror ás hespanholas !<br />
Rapazes I Vá I com capricho<br />
gritemos : — Real, Real,<br />
pelas bombas, pelo esguicho ..<br />
Viva o nosso Portugal 111<br />
PINTA-ROXA.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
Foi preciso ler o resumo das <strong>de</strong>liberações<br />
tomadas pela camara municipal,<br />
na sessão <strong>de</strong> 16 do corrente, para o acreditarmos.<br />
Leia-se:<br />
:;.!« ' fj. ,«»,. t' Hi .> '••-. *íi: 1 .!• Hllt<br />
«Em virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>claração do vereador<br />
Barata <strong>de</strong> que não approvava o<br />
pagamento <strong>de</strong> serviços prestados pelos<br />
bombeiros municipaes, por occasião da<br />
visita <strong>de</strong> SS. Magesta<strong>de</strong>s a esta cida<strong>de</strong>,<br />
e sendo dadas explicações pelo vereador<br />
Braga e pelo presi<strong>de</strong>nte, foi approvado<br />
o pagamento por votação da maioria<br />
(5 votos contra um), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> consultada<br />
a camara peh presi<strong>de</strong>ncia.*<br />
O sr. dr. Costa Allemão <strong>de</strong>ve estar<br />
vingado do seu collega João da Fonseca<br />
Barata, que ultimamente se mostra a toda<br />
a luz. Pelo que acima lemos ningnem<br />
po<strong>de</strong> dizer, cm verda<strong>de</strong> e com justiça,<br />
que a altitu<strong>de</strong> do vereador da minoria é<br />
correcta, e que obe<strong>de</strong>ceu ella ao principio<br />
moral do protesto contra abusos praticados.<br />
Porque o sr. Barila vó não approvou<br />
0 pagamento dos serviços prestados pelos<br />
bombeiros municipaes por occasião<br />
das visitas <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s!<br />
Elle só lhe fez mysterio q* setenta e<br />
tal mil réis que a camara ia dispen<strong>de</strong>r<br />
com aquella pobre gente que só vive do<br />
seu trabalho! As <strong>de</strong>«pezas do pavilhão<br />
e muitas outras que subiram a centenas<br />
<strong>de</strong> mil réis <strong>de</strong>ixou as passar em claro 1<br />
Ora isto não é justo. Os bombeiros<br />
municipaes andaram uns poucos dias e<br />
noites, d'um lado para o outro, a acompanhar<br />
a camara mis suas manifestações<br />
ao rei; per<strong>de</strong>ram o sen Irahallty, fizeram<br />
a triste figura que nós todos vimos, e<br />
por fim quando se tratava <strong>de</strong> as remunerar,<br />
apparece nin homem que protesla<br />
conlra a resolução da maioria da camara,<br />
alé cerlo ponto equitativa e justa.<br />
Pois o sr. Barata <strong>de</strong>ixa dispor do<br />
dinheiro do município, que é do contribuinte,<br />
como se fosse roupa <strong>de</strong> francezes,<br />
sen) um único signal <strong>de</strong> protesto, não tem<br />
uma única palavra <strong>de</strong> reprovação conlra<br />
a assistência da corporação <strong>de</strong> bombeiros<br />
nas festanças, e só Agora lhe apparecem<br />
os escrúpulos quando se fala em remuneração<br />
para essa gente. Goslou <strong>de</strong> ver<br />
brilhar á luz do archote o capacete do<br />
bombeiro que levantava vivas por conta<br />
da camara, e nega se <strong>de</strong>pois ao pagamento<br />
d'esse trabalho 1<br />
Como se os bombeiros tivessem por<br />
<strong>de</strong>ver o andar <strong>de</strong> bombi e esguicho<br />
atraz das magesta<strong>de</strong>s!<br />
E sabe o sr. Barata que a corporação<br />
<strong>de</strong> bombeiros foi creada simplesmente<br />
para o serviço humanilario da extineção<br />
<strong>de</strong> incêndios, e nunca pura servir<br />
em comedias burlescas; <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, porém,<br />
que obrigaram essa gente a fazer parle<br />
do séquito <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s, la<strong>de</strong>ando<br />
os carros <strong>de</strong> pharolms accesos, á camara<br />
cumpria in<strong>de</strong>mnisal os e ao sr. Biraia<br />
reslava-lhe apenas o direito, para<br />
ser justo, <strong>de</strong> protestar contra esse <strong>de</strong>sperdício<br />
do dinheiro municipal, não dando<br />
a sua annuencia para que a corporação<br />
fosse obrigada a serviços fóra das<br />
aitribuições do seu cargo.<br />
E fel o o vereador ? Não. Oppoz-se<br />
sómente a que os pobres bombeiros fossem<br />
remunerados do tempo que per<strong>de</strong>ram<br />
!<br />
O sr. Barata que tem fortuna e vive<br />
<strong>de</strong>safogado não sabe que o operário só<br />
encontra p«lo trabalho a sua sustentação,<br />
e que uma pequena quantia <strong>de</strong>sviada dos<br />
seus rendimentos o collocam em más cir<br />
cumstancias. ;<br />
Ignora jltV! E se não ignota <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ser justo, para ser mau, <strong>de</strong>sprezando<br />
até o preceilo evangelico—não prejudicar<br />
a pobreza em beneficio da riqueza!<br />
*<br />
Authentico, em pleno largo 8 <strong>de</strong> Maio:<br />
— Então a salvação publica já não é<br />
real ?<br />
— Estás parvo!<br />
— Não vès o lettreiro?<br />
— Vejo. Elles andam indifferentes<br />
eom as magesla<strong>de</strong>s, por coisas, e vae<br />
prega ia m-llie a peça, como elles lhe tèm<br />
pregado o cão.<br />
— Percebo agora porque se fazem<br />
as festas em coinmenioruçâo do 1.° <strong>de</strong><br />
Dezembro...<br />
— Claro; é um protesto encapotado<br />
contra a visita das magesta<strong>de</strong>s a Hespanha,<br />
e contra as negociações diplomáticas<br />
do governo<br />
— Então <strong>de</strong>clarain-se republicanos?<br />
— Quando vier a Kepublica.<br />
*<br />
A Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> ao publicar<br />
os nomes da commissão executiva<br />
do parlido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> fecha<br />
com estas palavras: —«Estes nomes honram<br />
o parlido.»<br />
Fica registada a <strong>de</strong>plaiação expontânea.<br />
*<br />
Andam a faiar que sempre será construído<br />
o elevador ria rua <strong>de</strong> Ferreira<br />
B Tges ao largo <strong>de</strong> S João.<br />
Começa a intriga contra o sr. Ayres<br />
<strong>de</strong> Campos, que vê em perspectiva o angmento<br />
<strong>de</strong> reducção nos juros das inscripções.<br />
Os tempos vão bicudos e o dinheiro<br />
é sangue!<br />
Magriço.<br />
•<br />
«fisi O cal variei i c w i A<br />
Eis o quadrò dos juros que o listado<br />
tem <strong>de</strong> pagar no corrente anno:<br />
muiy.ii uilíaup itfieív B IH^I,, utiii;q-.:»li<br />
Juros <strong>de</strong> 3 por cento dos<br />
titulos <strong>de</strong> divida interna<br />
7:746 contos<br />
Juros <strong>de</strong> 3 p. c<br />
titulos <strong>de</strong> divida externa<br />
6:327 »<br />
Emprestimo <strong>de</strong> 1888, 4<br />
e meio p. c 1:756 »<br />
Emprestimo <strong>de</strong> 1889, 4<br />
e meio p. t\ .... 2:030 ' i<br />
Empréstimo <strong>de</strong> 1891, 4<br />
e meio p. r. ... . J:565 »<br />
Empréstimo <strong>de</strong> 1888, 4<br />
p. c. .......... 173<br />
Emprestimo dé 1890, 4<br />
P- c <strong>47</strong>9 »<br />
21:076 contos<br />
E a côrte a viajar! E as codornizes<br />
na tapada <strong>de</strong> Mafra !<br />
De encher o olho<br />
O presi<strong>de</strong>nte (ia republica dos Estados<br />
Unidos da America, sr. Cleveland,<br />
possue uma fortuna approximada <strong>de</strong><br />
9.000:000^000. Para que os sergios cá<br />
da terra não vão pôr se já a advinhar a<br />
sua origem, suppondo-a dos cofres públicos<br />
d.i America, ahi vae essa origem,<br />
curiosa que ella é:<br />
Um cidadão <strong>de</strong> Pitt-hurg, na PensyU<br />
vauia, legou em 186a, tudo quanto pos-r<br />
suia, ao primeiro <strong>de</strong>mocrata que fosse<br />
eleito presi<strong>de</strong>nte.<br />
Cleveland, eleiU pela primeira vez<br />
em 1885, emno era o primeiro membro<br />
do parlido <strong>de</strong>mocrático elevado a presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1865, achoti-se, pois,<br />
senhor do legado do cidadão da Pénsilvauin,<br />
avaliado com os.juros acçmuiilados,<br />
em 600:000 dollars (4.000:000^000),<br />
que Cleveland recebeu ao entrar nír Casa<br />
Branca.<br />
Os dollars pitlsburguczes foram <strong>de</strong>pois<br />
duplicando.<br />
E é bom saber-se que o sr. Cleveland,<br />
como presi<strong>de</strong>nte da republica, recebe<br />
apenas, se bem nos recorda, uma -miséria<br />
<strong>de</strong> 28 contos anuuaes, náo obstante<br />
a gran<strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> da America...<br />
É que nem todos os paizes se pareceu»<br />
com o twsso.,,<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A guarda fiscal — novas çxigen-<br />
cias ao commercio — multas<br />
Até. boje nada resolvido oficialmente;<br />
sabe-se, porém, que a guarda fiscal<br />
leni <strong>de</strong>ixado passar sem embargo os conductòres<br />
<strong>de</strong> fazendas que se dirigem para<br />
as suas terras, não exigindo facturas.<br />
Não se <strong>de</strong>ixe illudir o commercio<br />
com estas e outras negaças, pois que<br />
ellas só servem para ameni-ar e abrandar<br />
a propaganda que está levantada contra<br />
os actos da guarda fiscal. ;<br />
Preza-se o commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong><br />
serio e grave nos seus negocio»* provando,<br />
se tanto fôr preciso, as boas relações<br />
cm que está com as praças <strong>de</strong> Lisboa e<br />
Porto. Nada pois justifica a guerra accintosa<br />
que lhe está promovendo o corpo<br />
da guarda fiscal que o trata como se fos*<br />
se o mais vil contrabandista, cerceando o<br />
com uma liscalísação exaggeradissima e<br />
vexatória e onerando-o com pezados encargos,<br />
que dia a dia mais lhe aggravam<br />
as <strong>de</strong>sgraçadas Circumslancias em que o<br />
colloeou a crise geral que o paiz atravessa.<br />
Se não fosse a extrema tolerancia<br />
dos commerciante» que tem <strong>de</strong>ixado correr<br />
á revelia os seus mais caros interesses,<br />
é certo que a guarda li>cai, ás primeiras<br />
investidas, teria soffrido uma energica<br />
opposição, uão chegando o abuso a<br />
ir tão longe, nem a darem-se as scenas<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira expoliação que aqui temos<br />
narrado. •., •. •.•<br />
Em outra terra <strong>de</strong>certo se teria logo<br />
locado a rebate ás primeiras investidas<br />
que se fizeram ás malas dos passageiros* -<br />
obrigando os a avultadas multas E' cerlo<br />
que a Associação Commercial representou<br />
em tempo competente nesse sentido,<br />
mas é também verda<strong>de</strong> que tudo continuou<br />
na mesma, seguindo se immedialamente<br />
outras extorsões e outros abusos, que<br />
vieram novamente sohresallar o commercio.<br />
De que pois serve um posto fiscal na<br />
estação do caminho <strong>de</strong> ferro numa cida<strong>de</strong><br />
que Ijem centenares <strong>de</strong> caminhos<br />
ordinários para on<strong>de</strong>, muito a seu salvo,<br />
po<strong>de</strong>m entrar pioradas <strong>de</strong> contrabando?<br />
De que serve esse posto, cujo pessoal<br />
só assiste á chegada (falguns comboios<br />
para vexar os passageiros, abandonando<br />
<strong>de</strong>pois a estação d on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m sair muito<br />
livremente os volumes que lá estiverem<br />
<strong>de</strong>scaminhados aos direitos?<br />
Se as fazendas visadas e selladas ler<br />
galisam o contrabando, como esta provado,<br />
porque não mandam reforçar a raia e<br />
os postos do liltoral com a gente que tem<br />
e«pal|iada pelas differentes terras, on<strong>de</strong><br />
a sua presença uão, tem razão <strong>de</strong> ser e<br />
on<strong>de</strong> a sua Ijjscalisação é nulla?<br />
Com Irauqiieza, a guarda fiscal nunca<br />
prestou nem ha <strong>de</strong> prestar bom serviço<br />
por que, composta <strong>de</strong> ofliciaes que tem<br />
o seu futuro garantido no exercito, <strong>de</strong><br />
praças <strong>de</strong> pret que <strong>de</strong>sejam apenas ver<br />
<strong>de</strong>ccorrido o tempo do seu alistamento,<br />
e uns e outros preoccupados com as<br />
exigencias da taclica e disciplina militar,<br />
uão se po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>dicar ao estudo das<br />
leis fiscaes, sem tempo para as interpretar,<br />
nem occasião para com a pratica<br />
adquirirem a sciencia <strong>de</strong> bem couhecer<br />
a iudole Uo povo, a maneira <strong>de</strong> o tratar<br />
e a forma <strong>de</strong> distinguir o commercio<br />
licito d'aquelle que o não é.<br />
E para sustentar uipa corporação tão<br />
inútil «pino esta, ga-ta o governo mais<br />
<strong>de</strong> 2:000 contos auuuaes, ao passo qué<br />
a antiga liscalísação externa, menos espaventosa<br />
mas muilo mais conhecedora<br />
do serviço a que se <strong>de</strong>dicava, custava<br />
apenas uns 600 contos, o que facilmente<br />
verifica quem se <strong>de</strong>r ao iuçommodo <strong>de</strong><br />
examinar os orçamentos geraes do estado<br />
<strong>de</strong> 1881, 1885, 1886 e 1892.<br />
li é ainda mais para nolar que, queixando<br />
se o governo <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> recursos<br />
e apregoando economias que vae realisando<br />
á custa dos sacrilicios do pobre<br />
contribuinte e. dos pequenos empregados<br />
públicos, auginenle a guarda fiscal com<br />
ofliciaes do exercito <strong>de</strong>ixando fóra do<br />
serviço, mas com vencimento, centenas<br />
<strong>de</strong> empregados novos, robustos, muitos<br />
d'elles bastante babeis e lodos ou quasi<br />
todos superiores, na pratica do serviço<br />
fiscal, aos mais zelosos e intelligentes<br />
ofliciaes da actual guarda!<br />
Isto é assombroso e só neste paiz se<br />
po<strong>de</strong> dar lauta prova <strong>de</strong> inépcia — se<br />
não é o proposito lirine <strong>de</strong> onerar a nação.<br />
Queira o sr. ministro da fazenda tratar<br />
d'este ramo <strong>de</strong> serviço com couscieucia<br />
o (é e verão que s. ex. a po<strong>de</strong>rá dar
AX.XO Í — a » © í>u*uxm*n n o POVO 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
ao paiz uma fi.-calisaçâo completa . sem<br />
gran<strong>de</strong>s encjfgiis para o thesouro e<br />
mesmo sem Vexames para o corttnbumte.<br />
Reforcem-se os postos da raia e<br />
tos outros que estão abandonados, dè-se<br />
nova organisação a esse corpo fiséal, e<br />
escusada é a sua presença no interior do<br />
paiz, on<strong>de</strong>, se appárece o contrabando,<br />
já eslá elle naeionalisado, sêmqúe n fi*<br />
caiisação possa intervir.<br />
Falleciniento d'um veterano<br />
Chamava se Manoel Ribeiro, o valente<br />
soldado do exercito liberal. Serviu no<br />
batalhão <strong>de</strong> voluntários da rainha, fazendo<br />
a campanha do cerco do Porto.<br />
Era um velho <strong>de</strong> 92 annos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong><br />
ha muito tempo cego e entrévado, exercendo<br />
em quanto pou<strong>de</strong> a profissão <strong>de</strong> cal<strong>de</strong>ireiro.<br />
Deixa familia pobre que nunca o <strong>de</strong>samparou,<br />
valendo lhe comtudo a carida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> alguns cidadãos que tinham pelo venerando<br />
velho a maxima sympathia.<br />
Se assim não fosse, ManOel Ribeiro<br />
teria já succumbido aos estragos da<br />
miséria. Desamparado pelos gran<strong>de</strong>s,<br />
pelos senhores e possuidores d'este paiz,<br />
que nunca olharam pela sorte d'e>tes<br />
valentes batalhadores, só lhe restava, como<br />
a tantos outros, a protecção da carida<strong>de</strong><br />
publica, que felizmente nunca esqueceu<br />
os sacrifícios que lizeram para emancipar<br />
este povo do jugo <strong>de</strong>spolico do execrando<br />
governo <strong>de</strong> D. Miguel.<br />
Esse punhado <strong>de</strong> valentes, do qual já<br />
hoje poucos restam, teria morrido <strong>de</strong> fome<br />
se não fosse a iniciativa particular os ter<br />
soccorrido. E comtudo quantas centenas<br />
<strong>de</strong> homens ahi vivem á regalada, sém<br />
contarem a millessima parte dos serviços<br />
prestados ao paiz por essa plêiada<br />
<strong>de</strong> velhos que tantos exemplos <strong>de</strong> heroísmo<br />
nos <strong>de</strong>ul<br />
A' familia do velho soldado en<strong>de</strong>reçamos<br />
os nossos pezames.<br />
Kleições das juntas
ASSO se O D E F E N S O R D O P O V O 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1 898<br />
EXPEDIENTE<br />
Prevenimos os nossos estimáveis<br />
assignanles <strong>de</strong> fóra ile <strong>Coimbra</strong>,<br />
ein divida á administração do<br />
Defensor do Povo, <strong>de</strong>
iHO" 1<br />
STran-ça<br />
Tudo quanto <strong>de</strong> sujo se accumula<br />
no turbilhão da politica portugueza,<br />
ergue os seus punhos ameaçantes<br />
para a França republicana.<br />
Tudo o que vegeta por esse lugubre<br />
saguão monarchico julga-se no<br />
direito <strong>de</strong> arremessar lama sobre um<br />
paiz on<strong>de</strong> a moral politica é superiormente<br />
austera.<br />
Toda a escoria rastejante <strong>de</strong> vermes<br />
que saciam na escroquerie a se<strong>de</strong><br />
do baixo-instincto, arremette em solavancos<br />
epilepticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svairados<br />
contra umas instituições politicas<br />
que sabem enaltecer a historia do<br />
seu paiz, dando-lhe renome e prosperida<strong>de</strong>.<br />
A França republicana, a generosa<br />
mãe espiritual <strong>de</strong> todos nós, a sublime<br />
inspiradora das nossas crenças,<br />
tem, bem sabemos, para esses<br />
miseráveis que <strong>de</strong> longe lhe vão cuspindo<br />
insultos, a gran<strong>de</strong>za altiva do<br />
seu <strong>de</strong>s<strong>de</strong>m que <strong>de</strong>speja sobre elles<br />
com o sorriso heroico dos vencedores<br />
generosos.<br />
Phantasiam esses pygmeus, na<br />
sua stulticia <strong>de</strong> vandalos, que haja<br />
além-Pyrineus quem dê ouvidos ás<br />
suas palavrosas verrinas expurgadas<br />
com o rancor venenoso <strong>de</strong> venenosos<br />
reptis! Sonham esses Ínfimos<br />
sacripantas <strong>de</strong> bric-à-brac que haverá<br />
na França republicana quem leia a<br />
amalgama da sua prosa escorrente,<br />
mesclada <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> nojo!<br />
Como se enganam, os vis. A sua<br />
pequenez é infinitamente gran<strong>de</strong> para<br />
empanar o brilho <strong>de</strong> tanta gloria.<br />
A França está muito alta, infinitamente<br />
alta, para que a babugem <strong>de</strong><br />
vós todos — oh filhos da lama lhe<br />
attinja a magnificência.<br />
Uivae, uivae, oh sergios da nossa<br />
terra, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> esgotado todo<br />
o vosso tolego, a Republica Franceza<br />
permanecerá serena <strong>de</strong> espirito e<br />
branca <strong>de</strong> consciência na gran<strong>de</strong>za<br />
da sua hegemonia ecumenica!<br />
A questão Panamá trouxe á suppuração<br />
da politica franceza uma<br />
serie <strong>de</strong> casoá encontrados, envoltos<br />
em certo mysterio, que trazem preoccupadaaattençãodotodo-o-mundo.<br />
Pela imprensa quotidiana ter-seha<br />
o leitor curioso informado com<br />
minúcia d'estes successos, vendo todavia<br />
lucidamente que em todo aquelle<br />
dédalo avulta a intriga politica do<br />
orleanismo <strong>de</strong> mãos dadas com os<br />
últimos esgotos do boulangismo.<br />
Naquellas meias tintas <strong>de</strong> suspeições,<br />
em todo aquelle borborinho <strong>de</strong><br />
accusações mal precisadas, sem documentação,<br />
sem base, <strong>de</strong>scortina-se<br />
a má fé da quadrilha do con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Paris, em guerra aberta com a Republica—uma<br />
guerra <strong>de</strong> encrusilheiros<br />
cimentada <strong>de</strong> calumnias repugnantes.<br />
Nós conce<strong>de</strong>mos, sem esforço,<br />
que o caso Panamá tenha appenso<br />
alguma especulação <strong>de</strong> capitalistas<br />
que recorreram do dolo para evitar<br />
a ftiina completa dos seus capitaes.<br />
Longe <strong>de</strong>nós querer insinuar a impossibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> haver crime, reduzindo<br />
mesmo a meta<strong>de</strong> a campanha orleanista-boulangista.<br />
Q, que queremos porém sublinhar<br />
com toda a ru<strong>de</strong>za da nossa<br />
penna, é que o regime republicano<br />
não po<strong>de</strong> ser increpado <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />
nesta questão, nada tem<br />
com ella por ser um producto isolado<br />
<strong>de</strong> administração particular.<br />
Toca-lhe o <strong>de</strong>ver, e esse está-o<br />
cumprindo affanosamente, <strong>de</strong> inquirir<br />
responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> punir os<br />
responsáveis.<br />
*<br />
Posto isto, ó jornaleiros <strong>de</strong> Portugal,<br />
a que <strong>de</strong>sproposito vem as<br />
vossas arlequinadas chulas, a vasão<br />
espumosa das vossas grosserias infamantes<br />
?<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
Que é o que vos dá direito a<br />
chacinar com a vossa misera penna,<br />
mergulhada na lama dos vossos imos,<br />
a reputação d'umas instituições /honestas<br />
que teem trilhado <strong>de</strong>sassombradamente<br />
o caminho da honra tão<br />
<strong>de</strong>sconhecido por vós?<br />
Comparae a França, essa generosa<br />
França republicana da actualida<strong>de</strong>,<br />
com uma outra França que<br />
sob as patas <strong>de</strong> Napoleão III e Luiz<br />
Filippe foi ignobilmente <strong>de</strong>shonrâda,<br />
e dizei-nos qual d'ellas mais se impõe<br />
pelo seu brilho e pela sua honestida<strong>de</strong><br />
?. ..<br />
*<br />
A França republicana vae dar<br />
ás monarchias que lhe cospem, um<br />
elevado exemplo <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>. A<br />
Republica Franceza, conhecidos que<br />
sejam os criminosos, cumprirá rigorosamente<br />
a lei, não influindo para<br />
isso a hierarchia dos criminosos como<br />
succe<strong>de</strong> neste jardim pantanoso á<br />
beira-infamia plantado.<br />
Assim, não nos resta duvida : a<br />
França saberá Iavar-se lustrosamente<br />
das manchas com que visam <strong>de</strong>negrir-lhe<br />
a reputação.<br />
A França seleccionará escrupulosamente<br />
o trigo do joio, punindo<br />
uns, illibando outros.<br />
A França que no negocio Wilson,<br />
entre vários, foi d'uma justiça<br />
exemplar, ha <strong>de</strong> também agora confundir<br />
os seus <strong>de</strong>tractores, partindolhes<br />
em rosto a calumnia que tramaram.<br />
Assim será-<br />
E quanto a estes papelosos sybaritas<br />
que d'áquem-Pyrineus esfalfam<br />
os seus arrojos em te bolçar insultos<br />
— quanto a esses, oh nobre e generosa<br />
França! <strong>de</strong>ixa-os tripudiar, <strong>de</strong>ixa-os<br />
uivar, porque <strong>de</strong>pois d^lles<br />
esgotarem todo o folego, tu permanecerás<br />
serena <strong>de</strong> espirito e branca<br />
<strong>de</strong> consciência na gran<strong>de</strong>za da tua<br />
hegemonia ecumenica!<br />
Revolução em Angola<br />
Teem corrido boatos <strong>de</strong> uma revolução<br />
em Angola para a proclamação da<br />
sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia, sob o protectorado<br />
da America.<br />
Estes boatos, se bem que sejam <strong>de</strong>smentidos,<br />
não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter o seu fundamento.<br />
Protesto eleitoral<br />
0 nosso collega do Porto a Voz Publica<br />
continúa a publicar extensas listas<br />
<strong>de</strong> adbesões ao protesto eleitoral dos<br />
nossos correligionários do norte, que ha<br />
dias foi publicado pelos jornaes do partido<br />
.<br />
Não se po<strong>de</strong> exigir mais!<br />
Annunciam conspícuas folhas monarchicas<br />
que o <strong>de</strong>ficit 110 orçamento do futuro<br />
anno economico, se se lhe não acudirem<br />
com novas provi<strong>de</strong>ncias, não será<br />
inferior a 5í000 contos <strong>de</strong> róis; isto<br />
não obstante as graves medidas <strong>de</strong> fazenda<br />
adoptadas na ultima sessão parlamentar<br />
e as economias provenientes das<br />
varias reformas.<br />
Por isto parece que o governo tenciona<br />
fazer participar dos geraes sacrifícios<br />
os titulos da Companhia dos tabacos<br />
e <strong>de</strong> outras emprezas que até agora teem<br />
sido privilegiadas.<br />
É uma razzia!<br />
O sr. Dias Ferreira<br />
Vae ser nomeado socio da Associação<br />
dos advogados do México. S. ex. a mostrará<br />
aos collegas a gran<strong>de</strong> sciencia <strong>de</strong><br />
salvar do rigor das leis e da justiça os<br />
clientes ricos e po<strong>de</strong>rosos, quando se é<br />
presi<strong>de</strong>nte do c»nselho. e se po<strong>de</strong> obter<br />
com facilida<strong>de</strong> a publicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos<br />
ten<strong>de</strong>ntes a beneficiar os criminosos <strong>de</strong><br />
que forem <strong>de</strong>fensores.<br />
0 México vae saber cousas espantosas<br />
no generoI<br />
PELOS JORNAES<br />
I A Nação <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> accenluar a austerida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos os representantes dó<br />
antigo regimen diz que D. Jayme <strong>de</strong><br />
Rourbon não uccttiará a cor6a <strong>de</strong> Hespanha<br />
a troco d\ma apostasia; e concilie:<br />
«Resta, pois, o recurso do sr. D.<br />
Carlos Coburgo que, no mesmo throno,<br />
dirigirá os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Portuyal e Hespanha.<br />
Este perigo^ se vier a tomar<br />
realida<strong>de</strong>, matará pela base a producção<br />
portugueza, e tornará o nosso paiz um<br />
Estado inferior a qualquer província<br />
<strong>de</strong> Hespanha. No entanto, o constitucionalismo<br />
trabalha pela fusão ibérica,<br />
porque não se pô<strong>de</strong> sustentar por outro<br />
meio.'<br />
A nossa opinião sob a fusão ibérica<br />
dos dois povos peninsulares, nas actuaes<br />
circumstancias, com o sr. D. Carlos Coburgo<br />
á frente, já a manifesta mas em<br />
quatro palavras :<br />
-^Achamoj o sr. D. Carlos infinitamente<br />
pequeno para emprezas tão arrojadas.<br />
..<br />
Com aquelle <strong>de</strong>splante que caracterisa<br />
funda mentalmente quem não tem<br />
vergonha, escreve o Sergio :<br />
«O iberismo renasceu ha dois annos,<br />
e <strong>de</strong>ve-se esse renascimento aos esforços<br />
conjugados dos republicanos portuguezes<br />
e hespanhoes. Estes, para lisongearem<br />
a ambição tradicional do seu<br />
paiz, e aquelles, por verem que <strong>de</strong> outra<br />
forma não podiam alcançar o seu i<strong>de</strong>al<br />
da republica pela republira, mesmo da'<br />
republica contra a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da patria,<br />
celebraram a alliança negra, firmãram<br />
em Barcelona e em Madrid o'<br />
pacto <strong>de</strong> trabalharem pela fe<strong>de</strong>ração<br />
ibérica, que vem a ser a absorpçào <strong>de</strong><br />
Portugal pela Hespanha sob um presi<strong>de</strong>nte,<br />
Como foi a <strong>de</strong> 1580 Sob o governo<br />
<strong>de</strong> um Rei.»'<br />
Nós po<strong>de</strong>ríamos adduzir uma boa <strong>de</strong>zena<br />
<strong>de</strong> factos comprovantes <strong>de</strong> que quem<br />
conspira contra a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia da patria<br />
não são os republicanos:—mas para<br />
quê? Porventura a imputação jornalística<br />
e pessoal do Sergio merece a consi<strong>de</strong>ração<br />
d'um <strong>de</strong>smentido a sério ? Não I<br />
Fazem sangue as seguintes palavras<br />
do capitão Machado estampadas em rosto<br />
ao sr. José Dias Ferreira:<br />
«Quanto a este refalsado politico,<br />
que como homem e como ministro, falta<br />
ao que promeUe, traindo assim us seus<br />
protestos feitos perante a camara e a<br />
confiança da corôa, que elle está compromettendo<br />
e pondu em eminente risco;<br />
quanto a esse banido da urna, que está<br />
preparando calculada e cynicamente a<br />
ruina da patria e a <strong>de</strong>shonra do nome<br />
portuguez, aqui vos <strong>de</strong>claro, bons e leaes<br />
amigos, que não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> dar-me cabal<br />
satisfação pelos aggravos immeiecidosque<br />
vos fez, permittindo, auctorisando,<br />
se é que uão foi elle o principal<br />
e direito mandante, todas essas vilanias<br />
infames <strong>de</strong> que fostes alvo, os insultos<br />
que vos fizeram, as perseguições eom<br />
que vos opprimiram, o sangue que <strong>de</strong>rramaram<br />
os seus galopins e os seus esbirros.<br />
Irra, diabo! Depois d'uma trepa tal<br />
a gente sente gosto em não ser presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho <strong>de</strong> ministros...<br />
Em uma das famosas correspondências<br />
do sr. José d'Alpoim para o Primeiro<br />
<strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>param-se-nos os seguintes<br />
períodos :<br />
«NSo è por casos esporádicos, por<br />
acontecimentos que não são a feição<br />
característica d'uma instituição, que<br />
ella <strong>de</strong>ve ser avaliada. Querem saber<br />
o què eu penso a respeito da questão<br />
do Panamá ? E' que ella não po<strong>de</strong> servir<br />
para <strong>de</strong>sacreditar, em França, para<br />
amesq uinhar o regimen republicano, para<br />
justificar o advento da inouarchia.<br />
Pois que? A Republica que fez tamanha a<br />
França, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> Sedan e<br />
das catastrophesdaCoininuna, a Republica<br />
que libertou o território e conseguiu<br />
que Paris seja sempre a primeira<br />
cida<strong>de</strong> da Europa, a Republica que tem<br />
a França mais rica que a Allemanha<br />
enchend 1 <strong>de</strong> pavor a sua triumphaute<br />
rival, a Republica que tem resistido a<br />
todas as conspirações da politica externa,<br />
e ao boulangismo e aos preten<strong>de</strong>ntes ,<br />
não merece a admiração da Europa.<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
não fez a felicida<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong> nação<br />
franceza? Suppondo que uns banqueiros<br />
ju<strong>de</strong>us, uns <strong>de</strong>putados infames e<br />
concussionarios tenham medrado com<br />
ella, ha <strong>de</strong> ser isso bastante para acon<strong>de</strong>mnar?<br />
O proprio exemplo da sua attitu<strong>de</strong><br />
no caso Wilson, a energia agora<br />
do seu parlamento, a força com que a<br />
opinião publica se manifesta, não são<br />
um exemplo <strong>de</strong> quanto é po<strong>de</strong>rosa a sua<br />
vitalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> quanto está radicada no<br />
coração do paiz ? Negal-o, é cerrar os<br />
olhos á verda<strong>de</strong> I»<br />
Agrada-nos transplantar para aqui<br />
este pedaço <strong>de</strong> prosa porque nos consola<br />
que mesmo nos arraiaes monarchicos ha<br />
quem faça justiça á Republica Franceza.<br />
Vamos percebendo que os Sergios,<br />
os Torgaes e os Colens são uma minuscula<br />
minoria...<br />
Yalha-nos isso.<br />
0 Correio da Noite não eslá com<br />
meias medidas: é pão, pão, queijo, queijo.<br />
Vae d'ahi, agarra no giz e traça assim<br />
em linhas grossas o croquis do ministerio<br />
da justiça :<br />
«0 chamado ministério da justiça é<br />
uma succursal <strong>de</strong> todas as violências e<br />
imposições que aos agentes do governo<br />
apraz improvisar.<br />
"Os funccionarios judiciaes dignos e<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes estão sem <strong>de</strong>feza. Os<br />
seus primeiros inimigos estão no ministério<br />
da justiça».<br />
Que lhe agra<strong>de</strong>ça o sr. Telles <strong>de</strong><br />
Vasconcellos.<br />
7 ê<strong>de</strong>bê.<br />
Crise ministerial<br />
Os boatos <strong>de</strong> crise áittcla se não <strong>de</strong>svaneceram<br />
e os jornaes diários occupainse<br />
sempre d'este assumpto. 0 sr. José<br />
Dias o que <strong>de</strong>seja é conciliar os seus<br />
collegas até á abertura do parlamento<br />
que está próxima, e <strong>de</strong>pois d'isso apresentar<br />
a <strong>de</strong>missão parcial ou total do<br />
ministério.<br />
Centenario<br />
da <strong>de</strong>scoberta da índia<br />
Realisou-se em Lisboa a conferencia<br />
preparatória, para a celebração do centenário<br />
da índia, das mesas das associações<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> Lisboa e redactores<br />
da imprensa diaria, a fim <strong>de</strong> se acordar<br />
sobre a organisação dos trabalhos, que<br />
em breve <strong>de</strong>vem começar.<br />
As^ pautas<br />
Dizem que não serão alteradas as<br />
principaes disposições proteccionistas das<br />
pautas aduaneiras, salisfazendo-se em<br />
parte as reclamações <strong>de</strong> vários industriaes.<br />
Corre que o sr. João Arroyo não acceitou<br />
a representação do Centro Commercial<br />
do Porto, na commissão revisora, para<br />
po<strong>de</strong>r manobrar á vonta<strong>de</strong> no sentido<br />
<strong>de</strong> não se alterar o disposto na pauta,<br />
com respeito ao papel.<br />
Como se sabe o sr. Arroyo é um dos<br />
directores da fabrica do papel do Prado,<br />
que muito Lucra com a protecção pautal.<br />
E (içaremos á mercê dos interesses<br />
do syndicato ?<br />
AXSO I — 40 O BirBNSOit DO POVO 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />
via o fogo do cigarro quando se lirava<br />
uma fumaça.<br />
À's ciuco horas menos um quarto estávamos<br />
á porta da Cité <strong>de</strong>s Fleurs, em<br />
Batignolle», promplos a vigiar.<br />
Cinco horas a dar, o portão abriuse,<br />
e uma mulher passfifi perto íe nó'.<br />
— E' ella, exclamou M... sigamol-a.<br />
—Já nâo era nova, a solteirona, um<br />
typo <strong>de</strong> velha tesa, magra. Traje <strong>de</strong>cente,<br />
simultaneamente luxuoso e miserável.<br />
lW granilé chapéu com enfeites, um<br />
chalé preto <strong>de</strong> franjas e um regalo. O<br />
nevoeiro impediu-me <strong>de</strong> ver-lhe o rosto, e<br />
foi pelo passo, um passo saltitante que<br />
indicava enfraquecimento das articulações,<br />
que eu reconheci a eda<strong>de</strong>.<br />
Apezar da velhice, ma<strong>de</strong>moiselle Nevoeiro<br />
ia <strong>de</strong>pressa, <strong>de</strong>pressa. Com certeza<br />
tinha alguma tarefa <strong>de</strong> pressa a<br />
cumprir. Apenas atrazoo o passo ao chegar<br />
ás fortificações, na avenida <strong>de</strong> Saint-<br />
Ouen.<br />
Caminhavamos quasi nos seus calcanhares<br />
para a não per<strong>de</strong>rmos na espessura<br />
da bruma. Trepou a escarpa.<br />
— Vae julgar que a não <strong>de</strong>ixamos,<br />
disse eu ao ouvido <strong>de</strong> M...<br />
-—Não ha perigo ; é tão absorta como<br />
lima sonambula.<br />
Ella adiantou-se para a borda do fosso,<br />
<strong>de</strong>itou-se <strong>de</strong> bruços, e, em voz muito<br />
sibilante, chamou:<br />
— Bebé, bebé I<br />
Depois escutou um gran<strong>de</strong> minuto<br />
pelo menos, como se esperasse uma resposta.<br />
Por trpz vezes recomeçou.<br />
—Safémo-nos disse M. .. antes da<br />
ultimo; ella vae voltar.<br />
Com effeito, tiiilia-se levantado e voltava<br />
á avenida. Retomou o caminho da<br />
Cité <strong>de</strong>s Fleurs, agora com um passo<br />
lento, a cabeça baixa, os hombros <strong>de</strong>scabidos,<br />
zig-zagando como se estivesse<br />
ébria. Parecia presles a cahir quando<br />
chegou, emfini, ao portão. Sentia-se que<br />
apenas reentrasse em casa, ia rolar no<br />
chão como um animal moido <strong>de</strong> pancadas.<br />
Do portão á sua porta arraslou-se<br />
enganchando as mãos nas balaustradas,.<br />
Dir-se-hia um velho espectro. Metteu-me<br />
medo.<br />
i. ..*;.„.,; 09IB „ «a in(j,.<br />
—- Bem I disse eu a M. .., agora vi.<br />
E a historia ? ><br />
— Primeiro, respon<strong>de</strong>u-me elle, <strong>de</strong>ixa<br />
dizer-te q.ue o que viste po<strong>de</strong>l-o lias<br />
v.or i<strong>de</strong>nticamente todas as vezes que<br />
houver um nevoeiro espesso. E' por isso<br />
que lhe chamam ma<strong>de</strong>moiselle Nevoeiro.<br />
-Conhecei-» portanto, intimamente ?<br />
— Conheço.<br />
— Como assim?<br />
— Que tens tu com issp? Supponhamos<br />
que seja por acaso. Vou dizer-te...<br />
— Sim, sim, invenção.<br />
- Dou-te a minha palavra <strong>de</strong> que te<br />
direi somente coisas succedidas.<br />
— Bem, creio em ti.<br />
— Em duas palavras, eis os factos ;<br />
Ma<strong>de</strong>moiselle B... foi seduzida aos<br />
<strong>de</strong>zesseis annos. Seu pae, um velho offi- ;<br />
ciai intralavel em questões <strong>de</strong> honra<br />
mandou o bastardo para a Roda. Dois<br />
dias <strong>de</strong>pois do parto, a joven mãe percorrendo<br />
um jornal, nelle leu a noticia<br />
<strong>de</strong> que um cadaver <strong>de</strong> bébé tinha sido<br />
lançado no fosso das fortificações, á esquerda<br />
da avenida <strong>de</strong> Saint Ouen. Este<br />
crime coincidia, por um extranho acaso,<br />
com o dia em que seu pae tinha mandado<br />
o bastardo para além, e esse dia linha-se<br />
tornado notável por um nevoeiro<br />
extraordinário.<br />
D'aqui po<strong>de</strong>s concluir a historia. A<br />
pobre mulher viveu com a i<strong>de</strong>ia fixa <strong>de</strong><br />
que esse cadaver. era o <strong>de</strong> seu filho. Ao<br />
lim d'algum lempo enlouqueceu. Cada vez<br />
que. ha nevoeiro como hoje, e como nesse<br />
dia faz o que viste. Eis tudo.<br />
*<br />
— Contas isso oxçentricamente, disse<br />
eu , a M... Por alto ! sem explicações,<br />
"sem preparações. A historia com<br />
effeito é terrível. Que estudo curioso e<br />
profundo a fazer d'esta loucura I<br />
— Escreve-a. Couta o facto como homem<br />
<strong>de</strong> lettras, se quizeres. Olha, faz<br />
d'ahi uma Morte extravagante.<br />
— Talvez experimente.<br />
Fiz mal em fallar assim. Tentei. Não<br />
pu<strong>de</strong>. Bem conheço que prejudicaria esta<br />
tragedia se a commentasse. E é por isso<br />
que nie contento com noticial-a aqui sem<br />
artificio, <strong>de</strong>scuidadamente, <strong>de</strong>ixando a<br />
cada um o cuidado <strong>de</strong> imaginar o drama<br />
ou o poema que esta realida<strong>de</strong> faz planear.<br />
Jean Richepin.<br />
EM SURDINA<br />
Por mais que puche a razão -<br />
e vasculhe a mioleira,<br />
não sei porque a Salvação<br />
teve a grata <strong>de</strong>voção<br />
<strong>de</strong> benzilhar a ban<strong>de</strong>ira 1<br />
Nesta coisa anda feitiço<br />
que merece eoinmentarios...<br />
Achei agora o enguiço :<br />
quando forem p'ro serviço<br />
os bomtieiros voluntários...<br />
Zás, ao pino a ban<strong>de</strong>ira,<br />
e ficam presos no audar,<br />
rompe-.se logo a mangueira<br />
o por maior trabalheira<br />
ao fogo não vão esguichar.<br />
Além d'isso dá saú<strong>de</strong>,<br />
dinheiro, e po<strong>de</strong> servir. •.<br />
E! trapo que tem virtu<strong>de</strong>.<br />
PINTA-ROXÀ.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
Que rio governo lavram gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sintelligencias<br />
é certo e positivo.<br />
O 1 d e <strong>de</strong>zembro, a festa patriótica,<br />
veio confirmar o que affirmamos; e<br />
não só ha <strong>de</strong>sintelligencias, mas alguma<br />
cousa mais, indicadora <strong>de</strong> graves acontecimentos.<br />
Veja quem tiver olhos. Em <strong>Coimbra</strong><br />
houve feriado nas repartições e estabelecimentos<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do ministério das<br />
obras publicas; nas repartições e estabelecimentos<br />
dirigidos pelo ministério do<br />
reino tudo funccionou.<br />
A's aca<strong>de</strong>mias não <strong>de</strong>ram feriado, o<br />
rei não assistiu ao Te-Deum, etc.<br />
Com a visita a Hespanha, diz-se que<br />
o José Dias viera ibérico, mail-o rei e<br />
niail-a corte. Não affirmamos, nem contestamos,<br />
o que esiá á vista é:—que os<br />
ministros que não foram a Hespanha solemnisaram<br />
o 1640 da nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />
O que prova que as hespanholas têm<br />
artes <strong>de</strong> fazer péccár um santo.<br />
E o José Dias com 85 apnos. Caramba<br />
! Que portuguesito guapo 1<br />
É o que vós vê<strong>de</strong>s 1<br />
A real salvação publica fez o diabo<br />
na quinta feira. Estalou, bufou, zarilhou,<br />
e por fim. .. não vos conto nada 1<br />
O gallinhola levantou vivas á casa <strong>de</strong><br />
Bragança e tão commovido pelo enthusiasmo<br />
que não atinava com as syllahas.<br />
Gaguinho <strong>de</strong> todo !<br />
*<br />
E' vel-a toda almiscarada, <strong>de</strong> pós<br />
nas faces coloridas a yermelhão, a fazer<br />
cócegas á carida<strong>de</strong> publica.<br />
Conta ella, a Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
que algumas famílias abastadas, <strong>de</strong><br />
Lisboa, se colisam mensalmente para darem<br />
uma sopa economica diaria a todas<br />
as creanças que esmolam pelas ruas, e<br />
lembra: E se em <strong>Coimbra</strong> se imitasse<br />
também este bom exemplo ?<br />
Estaes vendo o namoro <strong>de</strong>saforado<br />
ao pae dos pobres.'<br />
E elle — nem se move.<br />
Cabia aqui uma anedocta, mas nâo<br />
quero — a i<strong>de</strong>ia é sympathica.<br />
«<br />
Quando estiveram nesta cida<strong>de</strong> suas<br />
magesta<strong>de</strong>s, na occasião da visita ao<br />
quartel do 23, duas creancinhas, filhas<br />
d'um sargento, entregaram ao rei um<br />
requerimento no qual se pedia a suspensão<br />
applicada a seu pae, justificando a<br />
falta <strong>de</strong> disciplina que havia commettido.<br />
Disse a imprensa que sua magesta<strong>de</strong><br />
commovida por aquelle acto, "promettera<br />
a reclamada protecção e sobre esta promessa<br />
bordaram-se palavras <strong>de</strong> elogio transcen<strong>de</strong>nte.<br />
E até agora nada. Que diabo 1 D'antes<br />
a palavra <strong>de</strong> rei nâo tinha tal feitio.<br />
Vamos com os tempos...<br />
*<br />
A Correspondência vem lia dois números<br />
a fallar da péssima construcção<br />
das obras feitas para o abastecimeiVto<br />
das aguas, <strong>de</strong> mistura com umas cousas<br />
que ella queria que a actual camara fizesse<br />
em proveito da cida<strong>de</strong> — marcos<br />
fontenarios para abastecimento do publico,<br />
etc.<br />
Sabemos todos que essas obras foram<br />
feitas <strong>de</strong>baixo da direcção e risco<br />
do sr. Adolpho Loureiro a quem a mesma<br />
Correspondência teceu sempre os<br />
mais elevados elogios!<br />
Relativamente ao resto era <strong>de</strong> opinião<br />
que se aguardassem todos os conselhos<br />
para beneficiações publicas para<br />
a camara que vae entrar, e <strong>de</strong>ixar a<br />
ella, toda a gloria d'um reinado auspicioso,<br />
a par do mercado, e muchas cosas<br />
mas...<br />
Eu sempre quero rer em que dão os<br />
fogos d'arlificio que se queimaram para<br />
as illusões <strong>de</strong> ingénuos.<br />
Que havemos <strong>de</strong> ver coisas extraordiluirias<br />
todos o affirmam I<br />
*<br />
Continúa a distribuição <strong>de</strong> commendas<br />
e mais penduricallios por esse<br />
paiz fóra.<br />
Esquecidos por completo os polires<br />
diabos que andaram ahi a rastejar durapte<br />
a estada <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s, e a fazer<br />
jus á venera 1<br />
Faz dó isto 1 Que vós bem os visteis<br />
a emporcalharem-se diante dos seus patrícios;<br />
para um <strong>de</strong>sprezo tão completo 1<br />
Corja <strong>de</strong> ingratos 1<br />
*<br />
Bravo 1<br />
Ha quem já saiba que, pelos esforços<br />
empregados pelo sr. Alberto Monteiro,<br />
<strong>de</strong>putado por este circulo, não sairá este<br />
anuo do regimento 23 nanhuin contingente<br />
para os <strong>de</strong>mais corpos.<br />
Vê-se que a intriga lavra fundo contra<br />
o sr. Ayres <strong>de</strong> Campo», que nos<br />
consta já fez esforços, e não lh'os publicaram.<br />
..<br />
Também nos lembra se s ex. a quererá<br />
seguir na politica, aquelle preceito<br />
evangelico:—não saber a direita o que<br />
dá a esquerda.<br />
Magriço.<br />
Crise operaria<br />
Augnionta consi<strong>de</strong>ravelmente a crise<br />
<strong>de</strong> trabalho em Lisboa e Porto, por isso<br />
que algumas obras do estado teem paralysado.<br />
Apezar da attitu<strong>de</strong> serena e cordata<br />
como os operários se teem dirigido ao<br />
governo é certo que os seus rogos não<br />
teem sido attendidos, encontrando-se em<br />
Lisboa centenares <strong>de</strong> trabalhadores á<br />
mingua d'on<strong>de</strong> ganhem a sua sustentação.<br />
IU1JU,<br />
Pelos vencidos<br />
Subscripçfto <strong>de</strong> ÍOO réis men-<br />
saes <strong>de</strong>stinaria a soceorrer<br />
eom egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 130800<br />
Antonio José Alves (<strong>de</strong>zembro<br />
o janeiro) 400<br />
José Eugénio dos Santos (novembro<br />
e <strong>de</strong>zembro) ...... 400<br />
Somma, réis.....,. 140600<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta huinanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.® 88.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Tempo <strong>de</strong> crise<br />
Rosnam alguns jornaes monarchicos<br />
que está em crise o ministério. Cremos<br />
bem que a crise não po<strong>de</strong>rá ser classificada<br />
na or<strong>de</strong>m moral, porque essa tem na<br />
atravessado sans peur o actual governo,<br />
sempre victorioso na sua extraordinaria<br />
galhardia... <strong>de</strong>spida d'escrupulos. Nada<br />
d'assuslar I<br />
— Qualquer, pois, que seja a crise<br />
resolvel-a-ha vesgamentt o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> conselho, dando-lhe uma solução torta<br />
(d'harmonia com o seu phisicol) mas<br />
dando-lhe, emfim, uma solução.<br />
Se ã dificulda<strong>de</strong> tomar caracter grave<br />
e o negocio não se po<strong>de</strong>r resolver com<br />
uma rapida recomposição, tomará conta<br />
<strong>de</strong> todas as pastas o sr. Jose Dias Ferreira,<br />
que tem talento e <strong>de</strong>splante para<br />
isso e para muito mais.<br />
Do poleiro é que não <strong>de</strong>sce o sr.<br />
José Dias I Po<strong>de</strong> dissolver-se o gabinete,<br />
po<strong>de</strong>m sahir do governo os seus coliegas,<br />
po<strong>de</strong> um impulso <strong>de</strong> revolta mudar as<br />
instituições, alterar a lei fuudameDtal do<br />
estado...—-resistirá a tudo isso o presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> ministros, não abandonando<br />
nunca a sua ca<strong>de</strong>ira 1<br />
Deve dizer-se, com proprieda<strong>de</strong>, que<br />
é um presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pedra t cal!<br />
Nem só no ministério <strong>de</strong>u o microbio<br />
da crise; também appareceu no nosso<br />
pequenino meio theatral, anniquilando a<br />
empreza do Theatro Clialet.<br />
O caso nâo é. conio a crise do governo,<br />
para reticencias; pe<strong>de</strong> os pontos<br />
nos ii, e julgo, portanto, muito aproposilo<br />
algumas observações ácerca <strong>de</strong> tliea<br />
tro... visto que a lei das rolhas nos<br />
<strong>de</strong>ixou livre ainda o <strong>de</strong>sabafo em <strong>de</strong>terminados<br />
assumptos.<br />
— Ha alguns annos que os srs. emprezarios<br />
dos theatros do Porto se queixam<br />
da falta <strong>de</strong> concorrência, que lhes<br />
traz, no fim <strong>de</strong> cada epocha, um insignificante<br />
lucro ou a perda do capital com<br />
que entraram para a exploração do theatro.<br />
A que attrihuem esle?pessimo resultado?<br />
Ao indifferentismo do publico qiie,<br />
segundo eiles affirmam, já não gosta <strong>de</strong><br />
opera, opereta, vau<strong>de</strong>ville, comedia ou<br />
magica.<br />
O publico, no seu enten<strong>de</strong>r, está<br />
farto <strong>de</strong> theatros, está cansado d'espectaculos;<br />
ouvé, com a mesma impressão<br />
<strong>de</strong> tédio, uma farça licenciosa sem valor<br />
litterario e uma ohra d'arte, escripta<br />
cora pureza d'estylo e adornada d'excellentes<br />
situações d'effeito seguro.<br />
Enganam-se redondamente os srs.<br />
emprezarios.<br />
— O publico gosta do vau<strong>de</strong>ville, do<br />
drama, da opera, da opereta e da comedia—<br />
quando essas composições sejam<br />
bem <strong>de</strong>sempenhadas e bem postas em<br />
scena.<br />
A falta <strong>de</strong> publico aos espectáculos<br />
<strong>de</strong>ve lançar-se apenas á conta do <strong>de</strong>sleixo<br />
dos srs. emprezarios que esquecem a<br />
gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> : não se po<strong>de</strong> colher sem<br />
ter semeado. Ora eiles pouco semeam, e<br />
quando o fazem semeam ventos... colhendo,<br />
portanto, tempesta<strong>de</strong>s!<br />
— Um emprezario que na montagem<br />
d'uma peça nova arrisca tres, quatro ou<br />
seis contos, tem mais seguras probabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> adquirir interesses do que<br />
aquelle que, receioso <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, apresenta<br />
uma novida<strong>de</strong> pobremente vestida, e adornada<br />
com um sCenario velho, visto e<br />
revistei-'em todos os successos do reportorio.<br />
O publico não afflue aos espectáculos,<br />
como seria para désejar, porquê sae<br />
<strong>de</strong>sagradavelmente impressionado ao ver,<br />
por exemplo, num drama cuja acção se<br />
passa no tempo <strong>de</strong> Justiniano, apparecerem<br />
saias da época <strong>de</strong> Luiz XIV, ou<br />
(como nós já vimos) no segundo acto<br />
d'um vau<strong>de</strong>ville parisiense figurar um<br />
panno representando o Rocio, com a competente<br />
estátua <strong>de</strong> D. Pedro IV e o theatro<br />
<strong>de</strong> D. Maria, ao fundo!!<br />
— Julgam, <strong>de</strong>certo, os srs. emprezarios<br />
que o publico não repara na apre-<br />
sentação d'uma rainha adornada com uma<br />
coroa <strong>de</strong> papelão e um manto real <strong>de</strong><br />
precalina e na entrada d'uma mulher do<br />
povo, a quem (segundo o auclor..,.) a<br />
<strong>de</strong>sgraça reduziu a um estado <strong>de</strong> extrema<br />
miséria, e passeia o palco com os seus<br />
sapatinhos novos <strong>de</strong> verniz e meias <strong>de</strong><br />
seda ?<br />
Repara; o publico repara que lhe<br />
<strong>de</strong>em peças mal postas, ensaiadas em<br />
oito dias, com mais um actor do que<br />
aquelles que figuram no cartaz—o ponto,<br />
para o qual convergem os cinco sentidos<br />
dos que representam e que, berrando a<br />
bom berrar, é ouvido na ultima fila da<br />
geral 1<br />
Repara; o publico repara no raacliinismo<br />
d'uma magica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> espectáculo,<br />
que <strong>de</strong>safia, pela rapi<strong>de</strong>z das transformações,<br />
a marcha d'um carro <strong>de</strong> bois<br />
seguindo um caminho tortuoso d'al<strong>de</strong>ia.<br />
Repara; repara num bailado com duas<br />
bailarinas e quatro comparsas, agitando<br />
as pernas grotescamente, pulando sem<br />
arte nem geito, <strong>de</strong>slazendo-se em gestos<br />
e piruêtas ridículas. *<br />
De tudo isto—e <strong>de</strong> muito mais ainda...<br />
— tira o espectador esta singela<br />
conclusão:<br />
— Com theatros d'esta or<strong>de</strong>m não<br />
ha nada como jogar a bisca em familia<br />
ou encafuar-se a gente na caminha, ás<br />
nove da noite !<br />
Ora eis ahi como os srs. emprezarios<br />
se queixam do burguez, cabendo lhes a<br />
eiles exclusivamente a culpa da sua <strong>de</strong>sgraça.<br />
...E o burguez tem razão: vale<br />
mais resonar em casa do que cabecear<br />
— por cinco tostões — numa ca<strong>de</strong>ira da<br />
superior!<br />
Noto agora (já um pouco tar<strong>de</strong>!) que<br />
me alarguei <strong>de</strong>masiadamente nas observações<br />
provocadas a proposito da crise<br />
que atirou a terra com a empreza do<br />
popular theatro Chalet.<br />
Noto lambem que <strong>de</strong>scambei a fallar<br />
<strong>de</strong> palcos, começando por tratar <strong>de</strong> politica.<br />
.. o que po<strong>de</strong>rá provar aos olhos<br />
dos philosophos <strong>de</strong> bom liumór uma certa<br />
analogia entre a representação theatral<br />
e a representação nacional.. .<br />
Realmente, nada se approxima tanto<br />
da farça como a bambochata governamental,<br />
que o zé povo sustenta en grand<br />
seigneur, para honra e gloria da parvoíce<br />
eterna I " •<br />
Se as casas d'espectaculo reclamam<br />
urgente reforma administrativa, o theatro<br />
nacional não precisa <strong>de</strong> menos urgente<br />
reorganisação. Não accudindo a esse mal<br />
é inevitável a pateada !...<br />
* i<br />
Não fecharei a chronica sem registar<br />
aqui que passou tristemente, lugubremente,<br />
o 1.° <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro—data gloriosa<br />
que representa um sublime erro politico.<br />
A in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia reconquistada pelos<br />
bravos <strong>de</strong> 1640 per<strong>de</strong>u-se pouco e pouco<br />
no escoadouro das indignida<strong>de</strong>s constitucionaes,<br />
e a liberda<strong>de</strong> que hoje gozamos<br />
está ignobilmente manchada pela lama<br />
com que os governos monarchicos teem<br />
maculado a nossa ban<strong>de</strong>ira.<br />
De que serviu a corajosa <strong>de</strong>saffronta<br />
<strong>de</strong> Pinto Ribeiro? De pe<strong>de</strong>stal ao marquez<br />
<strong>de</strong> Vallada, a Mendonça Cortez, a<br />
Mariano ?<br />
Mais valia, no nosso caso, uma União<br />
digna e leal com a Hespanha, do que a<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia prostituída pela <strong>de</strong>shonra<br />
dos que timbram em enxovalhar a sua<br />
patria... Fra-Diavolo.<br />
1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
PALESTRAS<br />
VI<br />
— Eia, como tu vaes <strong>de</strong>pressa; para<br />
on<strong>de</strong> é a ida ?<br />
— Deixa-me que tenho <strong>de</strong> escrever<br />
ainda as Palestras para o Defensor do<br />
Povo e, palavra d'honra, não sei o que<br />
liei <strong>de</strong> dizer.<br />
— Homem essa I—pois não tens assumpto<br />
bastante para em logar d'uma<br />
escreveres centos <strong>de</strong> palestras ?<br />
— 11a assumpto?—-qual historia!—<br />
Tenho dado mil voltas á imaginação e<br />
não encontro nada que dê base para<br />
encher dois linguados.<br />
— Caramba, parece impossível! — é<br />
bem certo o dar Deus as nozes a quem<br />
nao tem <strong>de</strong>ntes; eu »e soubesse rabiscar<br />
duas lettras, palavra d houra que nunca<br />
me havia <strong>de</strong> ver em dificulda<strong>de</strong>s para<br />
encher em Jogar <strong>de</strong> dois, um cento <strong>de</strong><br />
linguados.<br />
—Pois será assim ; eu é que não<br />
sei o que hei <strong>de</strong> escrever que nao esteja<br />
já dito e redito um milhão <strong>de</strong> vezes.<br />
Bater no governo? Não tem elle levado<br />
cargas <strong>de</strong> mestre a ponto <strong>de</strong> já estar<br />
mais malhadiço que um burro <strong>de</strong> Sernache?<br />
E agora por fallar <strong>de</strong> Sernache<br />
lembrou-me o Miranda pa<strong>de</strong>iro, e pelo<br />
Miranda pa<strong>de</strong>iro, lembrou-me o Miranda<br />
camarista, pelo Miranda camarista lembraram-me<br />
as posturas municipaes; peias<br />
posturas municipaes lembra-me que nellas<br />
não ha disposição nenhum que evite nós<br />
estejamos a comer o pão quasi a 160<br />
réis o kilo 1<br />
— Ahi está, ahi tens tu, que só<br />
em assumptos municipaes tinhas para<br />
dúzias e dúzias <strong>de</strong> Palestras. Eu se escrevinhasse<br />
nos jornaes... ai,meu Deus,<br />
que tundas eu havia <strong>de</strong> dar no illustre<br />
senado <strong>de</strong>sta terra! Palavra d'honií 1<br />
A nossa Lusa Athenas é uma sentina; os<br />
que a vem visitar <strong>de</strong>vem ficar maravilhados,;<br />
como se po<strong>de</strong> viver nesta eslruv<br />
meira; os naluraes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> parecem<br />
que liuliam o epitheto <strong>de</strong> filhotes; pois<br />
melhor lhe cabia o <strong>de</strong> cogumellos; eu<br />
admiro como aqui se vive, e chego-me a<br />
convencer que os hygienistas são uns<br />
doidos! Faz-me isto suggerir a lembrança<br />
<strong>de</strong> que o illustre senado <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
<strong>de</strong>via convocar um cougresso, em que<br />
pouco mais ou menos se dissesse, ou<br />
cujo titulo fosse:—Congresso internacional<br />
sobre a immundicie conimbricense,<br />
pelo qual se prova que a hygiene é uma<br />
loucura.<br />
—Bravo! Bravo! eis como eu arranjei<br />
assumpto para unia Palestra; obrigado,<br />
pois, ó meu caro; a cavaqueira que<br />
tivemos é a que vae ser posta em leltra<br />
redonda no Defensor do Povo.
I — X. 9 IO O DEFEXiOR BO POVO 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
Recordação fúnebre<br />
Passa hbje o anniversario do falleqimcntó<br />
<strong>de</strong> João Rodrigues Braga. Ao recordarmos<br />
este dia <strong>de</strong> amargura para<br />
sua familia e para os seus mais <strong>de</strong>dicados<br />
amigos, é nosso intuito honrar a<br />
memoria d'um cidadão que soube ser honesto,<br />
hourando a classe commercial a<br />
que pertenceu.<br />
* * *<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A guarda fincai<br />
Ainda nada resolvido oficialmente<br />
relativo á representação que a Associação<br />
Commercial dirigira ao governo.<br />
E' certo que a guarda liscal suspen<strong>de</strong>u<br />
em parte os seus <strong>de</strong>satinos e prepotências,<br />
mas este facto nada signilica,<br />
porisso que o commercio não se <strong>de</strong>ve dar<br />
por satisfeito, nos parece.<br />
Portanto vemos que o governo tem<br />
<strong>de</strong>scurado este assumpto, e que o commercio<br />
que precisa d'uma solução iramediala<br />
vê se ainda <strong>de</strong>baixo da pressão do<br />
capricho da guarda fiscal, que ámanhã<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir continuar nos abusos que<br />
tão justamente levantaram a indignação<br />
<strong>de</strong> toda a classe commercial.<br />
Sabemos que o digno presi<strong>de</strong>nte da<br />
Associação Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> não<br />
tem <strong>de</strong>scurado este assumplo, tendo instado<br />
com o sr. governador civil no sentido<br />
<strong>de</strong> ver termiuada a favor <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
esla grave questão."<br />
magistério primário<br />
Como dissemos em o n.° 36 do nosso<br />
jornal, começaram no dia 21 do mez lindo<br />
as provas praticas dos seis candidatos<br />
que se propunham obter diploma <strong>de</strong> habilitação<br />
para o magistério primário, ficando<br />
todos approvados.<br />
Em seguida começaram as provas<br />
escriptas das cinco candidatas, as quaes<br />
foram admittidas ás provas oraes e pra^<br />
Ucas, terminando estas no dia 2 do correnie<br />
com a approvaçâo <strong>de</strong> todas.<br />
listão, pois, habilitados, para exercer<br />
essa diílial quanto melindrosa e mal remunerada<br />
profissão <strong>de</strong> educadores da<br />
mocida<strong>de</strong>, mais onze martyfes que irão<br />
<strong>de</strong>rramar a luz do espirito por outras<br />
tantas al<strong>de</strong>ias, on<strong>de</strong> as trevas da ignorância<br />
occultam ainda com bastante intensida<strong>de</strong><br />
os direitos e obrigações<br />
que todo o homem tem perante a patria<br />
e a socieda<strong>de</strong>.<br />
Que vão e que saibam cumprir os<br />
seus <strong>de</strong>veres, porque em breve raiará o<br />
dia <strong>de</strong> gloria para a escola popular,<br />
aclualmeute tão <strong>de</strong>sprezada pelos governos<br />
vigentes. Serão então felizes.<br />
Os nomes dos novéis professores,<br />
com a classificação dos seus diplomas,<br />
são os seguintes:<br />
SEXO FEMININO<br />
D. Maria Eduarda da Encarnação<br />
bom, com 7 valores; D. Maria'Laura<br />
d'Oliveira — i<strong>de</strong>m; D. Maria <strong>de</strong> Nazareth<br />
Nohre — i<strong>de</strong>m; D. Maria <strong>de</strong> Jesus<br />
Aguiar Pereira Frazão — i<strong>de</strong>m ; D. Augusta<br />
da Couceição da Silveira Sarmeuto<br />
Trovão — sufficiente, com 6 valores.<br />
SEXO MASCULINO<br />
Manoel Gonçalves Margalhau—bom,<br />
com 7 valores; Manoel Luiz Júnior—<br />
i<strong>de</strong>m; Alexandre Magno <strong>de</strong> Vasconcellos<br />
—i<strong>de</strong>m; Luiz <strong>de</strong> Figueiredo Correia Pinte<br />
— i<strong>de</strong>m ; Anthéro Pereira <strong>de</strong> Moura —<br />
sufficiente, com 6 valores; Carlos Gomes<br />
das Neves Ribeiro — i<strong>de</strong>m.<br />
Acabamos <strong>de</strong> saber que foi admittido<br />
á ultima hora, por or<strong>de</strong>m do governo,<br />
um candidato a quem a Camara <strong>de</strong> Agueda<br />
não quiz passar a tempo competente um<br />
documento necessário. As provas escriptas<br />
<strong>de</strong>ste candidato são na próxima<br />
segunda feira.<br />
Ciymitasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Proseguem os trabalhos para o proximo<br />
sarau, que brevemente vae ser dado,<br />
em beneficio do cofre d'esta utilíssima<br />
agremiação.<br />
Espancamento<br />
Está <strong>de</strong> cama e dizem que perigosamente<br />
enfermo o sr. Antonio Veiga, que<br />
foi barbaramente espancado em uma noite<br />
d'estas por dois indivíduos que elle não<br />
conheceu,<br />
A' auctorida<strong>de</strong> cumpre averiguar o<br />
caso, punindo os malfeitores.<br />
Recenseamento eleitoral<br />
O partido republicano da capital já<br />
encetou os seus trabalhos para o recenseamento<br />
dos cidadãos, que, déVèndo ser<br />
eleitores, se acham excluídos d'este direito.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> vaé se proce<strong>de</strong>r da<br />
mesma forma e brevemente serãó nomeadas<br />
commi.Hsões para estes trabalho^nas<br />
respectivas freguezias.<br />
Augmento no pr*ço dos gen«<br />
ro«<br />
I 1 I li J » f<br />
Nos tachos d'esta cida<strong>de</strong> o preço do<br />
carneiro augnientou 20 réis em cada<br />
IITO.<br />
Explica-se este augmento pela razão<br />
da fiscalisação ser rigorosa, e ler-se regeitado<br />
muito gado lanígero.<br />
Exercício <strong>de</strong> bombeiros<br />
Realisou-se, como estava annunciado,<br />
o exercício geral da Real Corporação <strong>de</strong><br />
Salvação Publica.<br />
Os trabalhos correram bem e as mauobras<br />
foram executadas com presteza e<br />
agilida<strong>de</strong>.<br />
Dislinguiu-se o segundo commandante,<br />
sr. Jose Pedro <strong>de</strong> Jesus, concorrendo<br />
o restante pessoal para o bom exilo dos<br />
trabalhos.<br />
Neste exercício fez-se representar a<br />
corporação dos bombeiros municipaes.<br />
Dois bombeiros voluntários do Porto,<br />
que tem estado nesta cida<strong>de</strong> para a instrucção<br />
dos bombeiros reaes, dirigiram<br />
as manobras.<br />
A cooperativa da pharmacia<br />
Reúne hoje em assembleia geral para<br />
tratar d'este e outros assumptos a Associação<br />
conimbricense do sexo femenino<br />
e. o Monte-pio conimbricense.<br />
Em ambas estas socieda<strong>de</strong>s será apresentada<br />
a proposta e relatorio da Associação<br />
dos Artistas, que promove a creação<br />
d'uma botica por conta das associações<br />
<strong>de</strong> soccorros mutuos.<br />
r«-«<br />
Obra d'arte S í<br />
. I - 1 - .. .. < ( V<br />
O sr. Estevão Parada, que com superior<br />
inteiligencia está dirigindo as obras<br />
<strong>de</strong> reparação ua egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />
conta principiar o assentamento do arco<br />
cruzeiro no dia 9 do<br />
Esta obra <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluída será<br />
mais uma prova da compelencra (Peste<br />
nosso amigo que tem empregado os melhores<br />
esforços naquelles trabalhos.<br />
Laranja<br />
Íí'Talsá a noticia d'um jornal <strong>de</strong> Lisboa<br />
que dava já comprada toda a laranja<br />
d'este concelho.<br />
Sabemos que ha ainda muitos pomares<br />
<strong>de</strong> laranja para ven<strong>de</strong>r, sem que os<br />
seus proprietários recebessem propostas<br />
para compras; um d'elíes é o sr. José<br />
Maria <strong>de</strong> Seiça Ferrer,-que possue um<br />
dos melhores pomares d'este concelho e<br />
que obteve este a no o uma cqlheita ab'un><br />
dantissima.<br />
Trabalho» agrícolas<br />
A producção <strong>de</strong> azeitona no nosso<br />
concelho tem sido fértil, continuando as<br />
fundadas esperanças d'uma boa safra.<br />
O azeite por este motivo continúa a<br />
<strong>de</strong>scer <strong>de</strong> preço, porque realmente a presente<br />
colheita é abundantíssima.<br />
EdiflcaçSes<br />
Felizmente' pára a classe operária<br />
conimbricense continuam a jjetivar-se as<br />
con-trucções <strong>de</strong> prédios nos diversos<br />
pontos da cida<strong>de</strong>.<br />
Na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz os prédios<br />
a constr.uir são bastantes e dizem-nos<br />
que vão ser edificados outros na Estrada<br />
da Reira, on<strong>de</strong> ha ainda terrenos a ven<strong>de</strong>r.<br />
: , . . . ,<br />
Dizetn-nos qué iTtn (friijio <strong>de</strong> • -maao- aV<br />
VBVII gymnasio<br />
res promove a cre.aç^o d'u.m novo gym<br />
nasio, que se <strong>de</strong>stina somente a exercícios<br />
<strong>de</strong> jogos ao ar livre.<br />
Juros das inseripçSes<br />
Na agencia do banco <strong>de</strong> Portugal já<br />
se faz o pagamento dos juros das inscripções,<br />
correspon<strong>de</strong>nte ao segundo semestre<br />
do presente anno.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Noticiam os jornaes <strong>de</strong> Lisboa que o<br />
governo não auctorisa o <strong>de</strong>sdobramento<br />
do ensino em diversas ca<strong>de</strong>iras, pedido<br />
pela reitoria.<br />
* Estão marcados Os dias 15 a 1G<br />
do corrente para a <strong>de</strong>feza <strong>de</strong> llieses e<br />
argumentação sobre a dissertação do licenciado<br />
na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, sr.<br />
Antonio Luiz Gpnies.<br />
A dissertado já está impressa e intitula<br />
sp.:p—Ociosida<strong>de</strong>, vagabundagem e<br />
mendicida<strong>de</strong>.<br />
São arguentes os srs. drs. Manoel<br />
Geral<strong>de</strong>s, Emygdio Garcia, Fernan<strong>de</strong>s<br />
Vaz, Guimaras Pedrosa, Fre<strong>de</strong>rico Laranjo,<br />
Dias-d« Silva, Henriques da Silva,<br />
.e^««}U)erm4>Moreif&X V '- V—'<br />
A ceremonia do capello <strong>de</strong>verá realisar-se<br />
no dia 18 do corrente.<br />
Hegimeitto a »*f 3<br />
St xu 0£<br />
Anresentaram-se. ultimamente neste<br />
corpo militar 144 recrutas. Ja prestaram<br />
Equitaffto<br />
fim JfiJrtB^<br />
O sr. Francisco Simões Serra, coadjuvado<br />
por alguns amadores trabalham nq<br />
sentido <strong>de</strong> estabelecerem nesta cida<strong>de</strong><br />
um instituto para ensino d'equitação.<br />
A couipetencia do sr. Serra é sobeja<br />
garantia {wjf-fl* que <strong>de</strong>sejarem apren<strong>de</strong>r,<br />
tantq mais que nós informam que a quota<br />
mensái è <strong>de</strong> prèço relatíliíeritè diminuto.<br />
-<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
E' na quinta feira na egreja <strong>de</strong> Santa<br />
efflf á festivida<strong>de</strong> a Nossa Senhora da<br />
Conceição, que como <strong>de</strong> «ostunie se celebrará<br />
com gran<strong>de</strong> pompa.<br />
Industria dos palitos<br />
EÍsíá-se <strong>de</strong>senvolvendo muito em Lorvão,<br />
a industria dos palitos, porisso que<br />
além do consumo interno tem augmentado<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente a exportação para<br />
o extrangeiro, especialmente para a Ame-<br />
ritttíh «rol»», «o n«q OH;!'»'» .<br />
Os industriaes d'esle artigo, nesta cida<strong>de</strong>,<br />
facilmente obtém venda dos seus<br />
producMs, que em gran<strong>de</strong> parte são exportados<br />
para diverses potitos <strong>de</strong> Hespanha<br />
e Brazil.<br />
Quirino Gil Carneiro<br />
Falleceu na capital esle <strong>de</strong>votado republicano,<br />
que;foi dos mais firmes batalhaáores<br />
x dò nosso i<strong>de</strong>al.<br />
A sua, penda é <strong>de</strong>parada por todo o<br />
partido republicano e inuit > especialmente<br />
pòr lodos aquelas que <strong>de</strong> pérto Hie-conheciam<br />
as virtu<strong>de</strong>s.<br />
Sentimos profundamente.<br />
—<br />
«O Século XX»<br />
Sob este" titulo recebemos o primeiro<br />
numero d'um jornal que começou a publicar-se<br />
na capital, que dizem ser redigido<br />
pelos srs. Carlos <strong>de</strong> Mello e Nobre<br />
França.<br />
O novo collega sae agora tri-semanalmenle,<br />
mas promette começar a sahir<br />
diário em janeiro proximo.<br />
Da sua apresentação respigamos :<br />
«A nossa politica será puramente<br />
<strong>de</strong>mocraliea, não <strong>de</strong> alguma classe ou<br />
parúdo dominante, mas sim a da nação<br />
labõriòSK, na qual resiafm as forças vivas.<br />
Por isso, nao serviremos a Deus e<br />
a Sataaaz,. isjq é, a burocracia, enlhronisada<br />
ou os interesses dominantes, e ao<br />
mesmo "lémpo o povo e a <strong>de</strong>mocracia<br />
industrial.<br />
fPortanto, a nossa politica será por<br />
emquanto evolutiva, consistindo especialmente<br />
em atacar a corrupção publica e<br />
a <strong>de</strong>pravação dos sentimentos etosiumes.»<br />
Longa vida ao novo collega.<br />
A população <strong>de</strong> Portugal<br />
Segundo o «Movimento do Estado<br />
Civil», que acaba <strong>de</strong> ser publicado pelo<br />
ministério das obras publicas, referente<br />
a 1888, o numero dos nascimentos no<br />
continente e ilhas adjacentes foi, naquelle<br />
anno, <strong>de</strong> 163:981, sendo 83:174 do<br />
sexo masculino e 78:807 do feminino,<br />
o que dá a percentagem <strong>de</strong> 36,03 por<br />
1:000 habitantes. Em media nasceram<br />
por mez 13:665 pessoas- e por dia 449.<br />
O districto on<strong>de</strong>, em relação á população,<br />
mais avultou o numero <strong>de</strong> nascimentos,<br />
foi o <strong>de</strong> Faro; seguem-se por<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescehte os dislrictôs do Porto,<br />
Castello Branco, Rraga e Funchal.<br />
Casamentos:<br />
O numero apurado dos casamentos<br />
celebrados naquelle anno é <strong>de</strong> 33:961,<br />
o que representa a percentagem <strong>de</strong> 7,46<br />
por 1:000 habitantes. Em média realisararo-se<br />
por mez 2:830 casaméntos epor<br />
dia 93. O districto que lornece mais<br />
Relevada percentagem <strong>de</strong> casamentos, em<br />
relação á sua população, é o <strong>de</strong> Leiria ;<br />
seguem-se-lhe immediatamente por or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>crescente os dislrictôs <strong>de</strong> Santarém,<br />
Faro, Porto, Reja, Castello Branco<br />
e Funchal.<br />
Óbitos: c. j ;it»':<br />
Os lobitos no mesmo anno elevaramse<br />
a l07:4â5, o que dá a percentagem<br />
<strong>de</strong> 23,61 por 1:000 habitantes. A mortalida<strong>de</strong><br />
distribue-se por 52:467 varões,<br />
fr 49:990 femeas. Em-média falleceram<br />
pnr mez 8:952,92 pessoas, e por dia<br />
294,34. Os districtos que, em relação á<br />
sua população, mais largamente- contribuem<br />
para o ..quadro <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> são,<br />
por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, Porto, Bragança,<br />
LisBõa, CasfêTTo Branco, Angra do Heroísmo<br />
e Villa-Real. !<br />
Eiffigração": • 8 *<br />
A emigração attingiu o elevado numero<br />
<strong>de</strong> 23:981. Des<strong>de</strong> 1873 até então<br />
nunca ella fprneçera tão avultado contingente<br />
<strong>de</strong> emigrantes. São- os dislrictôs<br />
insulanos, mormente os do Funchal e Ponta<br />
Delgada, que mais largamente colaboraram<br />
no movimçnto geral da emigração<br />
portugueza. No continente são as províncias<br />
da Reira Alta, Minho e Traz-os-<br />
Montes, on<strong>de</strong> mais intensa se mantém a<br />
corrente da emigração. Os districtos <strong>de</strong><br />
Castello Rranco, Évora, Portalegre, Santarém,<br />
Reja e Faro forneceram percentagem<br />
insignificante.<br />
Que infamia I „<br />
Consta que «e pensa em abafar o<br />
caso sujo <strong>de</strong> um sacerdote que foi encontrado<br />
na Avenida da Liberda<strong>de</strong>, em<br />
Lisboá, praticando actos immoraes com<br />
um rapaz.<br />
Mais consta que serão castigados os<br />
guardas que o pren<strong>de</strong>ram em flagrante<br />
<strong>de</strong>licio.<br />
Não admira, todos os criminosos e<br />
todos os ladrões altamente collocados<br />
costumam sair impunes; e a justiça só é<br />
recta para os pequenos criminosos.<br />
Os homens que combatem este por*<br />
co systema é que encontram sempre a<br />
perseguição das auctorida<strong>de</strong>s e soffrem<br />
os rigores das leis. bOíTIHi<br />
j m i Í)8-obRIRJ / JY IQ u c q MÍJ<br />
A Liga Libera|u[> í;tr;<br />
Na Liga Liberal vão seguir as conferencias<br />
inauguradas pelo sr. Augusto<br />
Fuschini.<br />
No dia 10 do corrente discutirá o<br />
sr. Gomes da Silva, sendo o thema da<br />
prelecção — Direito <strong>de</strong> reunião e liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> imprensa. Propaganda scièntifica e<br />
politica pela palavra escripta e oral.<br />
Era 15 realisar-se-ha outra conferencia,<br />
tóinando a palavra e sr. lenenle-coroner<br />
Duarte Fava, sobre o lhema: — O<br />
exercito e a politica.<br />
Em 28, o sr. Augusto Fuschini realisará<br />
nova conferencia, tomando por assumpto<br />
: A reforma eleitoral — Vantagens<br />
do suffragio universal.<br />
A partir <strong>de</strong> janeiro as conferencias<br />
serão mais repelidas, versando sobre os<br />
assumptos mais importantes da nossa politica<br />
e administração <strong>de</strong> modo a concitarem<br />
o geral interesse do paiz.<br />
Estas prelecções serão tomadas como<br />
excellente elemento para o estudo e<br />
observação das condições politicas e sociaes<br />
em que nos encontramos.<br />
Eleições livres<br />
O <strong>de</strong>legado do procurador régio na<br />
Povoa <strong>de</strong> Varzim já respon<strong>de</strong>u no processo<br />
para a annulação da.ultima eleição<br />
camararia. Promove que se aunule a<br />
eleição, fundamentando largamente a sua<br />
promoção.<br />
A triplice alliança<br />
Dizem <strong>de</strong> Paris que Le Journal, folha<br />
dirigida por Ferdinand Xau, publicou<br />
hontem um documento, que elle diz ser<br />
á traducção litleral do tratado <strong>de</strong> renovação<br />
da triplice alliança. No artigo 4.°<br />
d'este tratado a Áustria e a Allemanha<br />
feConhecem <strong>de</strong>finitivamente o direito e<br />
a situação politica <strong>de</strong> Roma como capital<br />
da Ilalia. O artigo 7.° regula as condições<br />
da cooperação dos alliados no caso<br />
<strong>de</strong> guerra entre a Allemanha e a Rússia:<br />
os italianos mobilisam um exercito na<br />
fronteira franceza, e <strong>de</strong>claram a guerra,<br />
se a França se <strong>de</strong>clarar a favor da Rússia;<br />
se, porém, o conflicto rebentar en-í<br />
ire a Ilalia e França, a Allemanha proce<strong>de</strong><br />
nas mesmas condições. Os outros<br />
artigos sancciouam a alliança <strong>de</strong>fensiva,<br />
a qual se tprnará, comludo, offensiva em<br />
certos casofc <strong>de</strong> perigo.<br />
A GRANEL<br />
Foram <strong>de</strong>clarados infeccionados <strong>de</strong><br />
cholera morbus todos o* portos francezes<br />
do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Morbian.<br />
* " # O mar volta a fazer gran<strong>de</strong>s<br />
e»tragos na povoação <strong>de</strong> Espinho.<br />
Agora é a parte sul da praia a invadida<br />
e talvez, com mais perigo para a parte<br />
mo<strong>de</strong>rna das construcções, do que foi a<br />
iqyasão pelo norte.<br />
* * * A colheita do tabaco na região<br />
do Douro, foi superior á do anno<br />
passado.<br />
* * # Em Lisboa estão cerca <strong>de</strong><br />
4:000 prédios com escriptos. Os senhorios<br />
tem baixado as rendas.<br />
foi consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> gala.<br />
* * # O conselho do almirantado<br />
vae mandar coilocar dois focos luminosos<br />
no porto <strong>de</strong> Leixões.<br />
* * * Ha dias fugiram do prejidio<br />
militar <strong>de</strong> Vizeu os presos que alli se<br />
achavam <strong>de</strong>tidos.<br />
* * # Vae ser creada em Celorico<br />
da Beira uma conservatória.<br />
* * * Em Braga vae encetar a<br />
publicação um novo semanario republicano;<br />
inlitular-se-ha A Lucta.<br />
* * * Na segunda feira, Lisboa terá<br />
a visita do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris.<br />
Vem <strong>de</strong> Southampton. Como <strong>de</strong> costume,<br />
vem por terra, por não lhe <strong>de</strong>ixarem<br />
atravessar a França.<br />
* * # Na freguezia do Carvalhal,<br />
concelho <strong>de</strong> Pinhel, praticou'-se um crime<br />
que vae ser punido pelas respectivas<br />
auctorida<strong>de</strong>s.<br />
Um sujeito zangou-se com a mulher,<br />
e <strong>de</strong>u-lhe uma bofetada, mas com tanta<br />
força que ella. caiti, e não mais se levantótt.<br />
Praticado o <strong>de</strong>licto, o cruel marido<br />
foi apresehtar-se á auctorida<strong>de</strong>.<br />
Os médicos municipaes que autopsiaram<br />
a mulher, <strong>de</strong>clararam que ella, <strong>de</strong><br />
organisaÇão lymphatica, tinha succumbido<br />
a uma çommoção cerebral.<br />
* * * A commissão revisora das<br />
pautas aduaneiras recebeu uma representação<br />
da Associacão dos ourives do Porto,<br />
pedindo que sejam mantidas as actuaes<br />
taxas <strong>de</strong> direitos sobre os productos <strong>de</strong><br />
ourivesaria.<br />
* * * Foi <strong>de</strong>clarado infeccionado <strong>de</strong><br />
cholera morbus o porto <strong>de</strong> Marselha.<br />
* * * Telegrapham <strong>de</strong> Madrid estar<br />
terminada por agora a crise ministerial.<br />
Os partidos monarchicos resolveram não<br />
levautar embaraços ao governo, antes da<br />
abertura do parlamento.<br />
* * * As receitas da Companhia<br />
real dos caminhos <strong>de</strong> ferro na semana<br />
finda foi <strong>de</strong> 57:287^000 réis.<br />
* * # Foi acommettida d'uma syncope<br />
na praça da Alegria em Lisboa a<br />
sr. a D. Angelina Vidal, que felizmente<br />
não se aggravou.<br />
Coisas e loisas<br />
Entre padrinho e afilhado:<br />
—Com quem estudas inglez, meu rapaz?<br />
—Com o Dr. X.<br />
—E é bom professor, quero dizer, já<br />
habilitou alguém para exame?<br />
—Já sim, senhor; habilitou o anno<br />
passado 4 rapazes que ficaram reprovados.<br />
Numa casa <strong>de</strong> campo, no verão.<br />
Calino escreve a Um personagem importante<br />
e junta á carta este póst-scriptum<br />
:<br />
aRogo-lhe se sirva <strong>de</strong>sculpar-me <strong>de</strong><br />
eu lhe estar escrevendo em mangas <strong>de</strong><br />
camisa, mas é que aqui faz um calor <strong>de</strong><br />
rachar.»<br />
Desgarradas<br />
Oh! que rua tão escura<br />
Não vejo nada por ella,<br />
Bem po<strong>de</strong>s tu oh menina<br />
Pôr can<strong>de</strong>iat d janella.
I<br />
A X X © I —X.» I O O D E F E N S O R D O P O V O 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> ft SOS<br />
OTIITiOS<br />
PAltA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e ni-<br />
.ti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
I<br />
1VVEIOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapi-<br />
1 Typ. Operaria<br />
THEATIIO S). LUIZ<br />
Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
Recita em beneAeto<br />
<strong>de</strong> José Maria «('Azevedo<br />
Em cpie tomam parle por especial<br />
obsequio os ex." 8 srs. Luiz da Gama,<br />
Nogueira Pinto Ereio, F. Lucas, a ex. ma<br />
sr. a D. Maria da Luz Velloso, e a banda<br />
do regimento <strong>de</strong> infanteria 23.<br />
Uma comedia em um acto" pelos ex. 00<br />
srs. Luiz da Gama, Nogueira Pinto<br />
Ereio, e pela ex. ma sr. a D. Maria da<br />
luz Velloso.<br />
Uma cançoneta pelo ex. m0 sr. Luiz da<br />
Gama.<br />
Uma comedia em um acto pelos ex. mos<br />
srs. Pinto Ereio, F. Lucas e D. Ma-,<br />
ria da Luz Velloso.<br />
Um numero <strong>de</strong> musica pela banda regimental.<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTOISIA DEP0RTLG4L<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Sehcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
!• POR ibOift U<br />
F. <strong>de</strong> Assis L o p e s<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim DE SAMPAIO (BUM)<br />
Edição completa por um corpo d»<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collttboradorés,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis do<br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio TelLes, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicnçãa semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porta, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriplorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
D E G R A Ç A<br />
A RIR — É èsle o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
modiea quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> ÍOO bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão, enviados, gratuitamente, catalogas<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-sc uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
4 R T I C I P A - .<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
. I Í T I I H I<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em cores<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IliMETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
t preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VROS ,<br />
e jornaes ;<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato |<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
, MPRESSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
' <strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L . A . : R , G h O J D . A . F R E I R I A , 1 4<br />
«v ,<br />
A N N U N C I O S<br />
Por l i n h a . ..<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20-#éis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
BI-CYCLETA<br />
en«le-*e uma em bom uso,<br />
55<br />
V própria para ensino. Dirigir<br />
á Couraça <strong>de</strong> Lisboa, 32.<br />
EMPREGADO<br />
„, Ita rua <strong>de</strong> Ferreira Bor-<br />
04 1\ ges n. 0 ' 128-130, se diz<br />
quem precisa d'um que esteja apto para<br />
a escripta.<br />
Vinho fvladuro do Douro<br />
e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />
SUPERIOR QUALIDADE<br />
51 lfe»»<strong>de</strong>-«e na mercearia Ave-<br />
W nida.—Largo do Principe<br />
D. Carlos, <strong>47</strong> a 53 —<strong>Coimbra</strong>.<br />
64 Commoda e oratorio<br />
<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />
rua dos Sapateiros, n." 20<br />
a 24.<br />
TRKSPASSA-SE<br />
fim estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />
<strong>47</strong><br />
U zendas, quinquilherias e mercearias,<br />
bem afreguezado e no melhor<br />
local <strong>de</strong> Pombal, por seu dono não o<br />
po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />
a S. B. F. — Pombal.<br />
DA FABííIC<br />
DE<br />
mmm<br />
Aos srs. lavradores<br />
„. S mana <strong>de</strong> purgueira é<br />
m. sem duvida o adubo <strong>de</strong> mais<br />
reconhecida vantagem para as sementeiras<br />
dc trigo, milho, batata, fava, grão<br />
feijão e para adubar vinha, etc., etc-<br />
Em toda a Extremadura, parte do<br />
Alemtejo e Beira, é o adubo que melhores<br />
resultados tem dado em todas as<br />
culturas.<br />
Fornecem-no directamente da fabrica<br />
os agentes PERDIGÃO & TEIXEIRA—<br />
Rua das Fontainhas, 24 e 26 —Alcantara.<br />
53<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
 '<br />
uguato jVunem da« Santos,<br />
successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, 18— COIMBRA<br />
AO PUBLICO<br />
eelaro para os <strong>de</strong>vidos elíei-<br />
61<br />
tos, que o sr. Antonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />
n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892.<br />
Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />
AOS MESTRES DOBÍAS<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serra-<br />
Iheria e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Gosta Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 jVrESTE Deposito regularmente montado, se acíia á venda, por<br />
L] junto e a retalho, lodos os produclos daquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
ESTABELECIMENTO<br />
mam DE!<br />
Dlí<br />
JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />
^ Meste estabelecimento encontra o comprador o que lia <strong>de</strong> mais<br />
mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />
Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />
Largo da Freiria, n. os I a 3<br />
COIMBRA<br />
ARTAZEg<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
A LA V I L L O E PARIS<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
corcmerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Coroas e Flores<br />
I P . D E L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251— Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RDA DO PRÍNCIPE I PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante nesta cida<strong>de</strong> :<br />
J0&0 BQDBIOSES WM, SDCCBSSDR<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
TIJVTliRARIA i P, J, t. CAIMNAC<br />
14, Largo d'Annunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />
ANTONIO JOSÉ 11MOUSA BASTO—SUA SOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
l i S T I H P . l H I l H I 5 C H A \ I C A<br />
Q ^P inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como ftrto<br />
1 feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />
vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> 13, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> 15, limpos por este processo nao estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
Tintas para escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, altemães e francezes. Preços Inferiores.<br />
<strong>Coimbra</strong>,<br />
fonso, 61<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
- •<br />
; . . . .. .. ijr.ji . I „ ' . , . | V I<br />
5 E" ®*® xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />
Eá quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com óptimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 atlestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Yiegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>-<br />
65.<br />
P O S T O M E D I C O<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
(Arco d'Almedina)<br />
ANTONIO DA SILVA PONTES<br />
Aonaultas das 12 horas ás<br />
U 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />
ás 9 da noite.<br />
Fóra d'estas horas po<strong>de</strong> ser. procurado<br />
na sua resi<strong>de</strong>ncia: Couraça dos<br />
Apostoles, n.° 22.<br />
VENDA DE CASA<br />
58 lJen "*®-»e uma sita na Couraça<br />
W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />
tratar com José<br />
tello.<br />
Simões, largo do Cas-<br />
G A R R A F A S<br />
38 Antonio Dias Themido,<br />
compra garrafas brancas<br />
e pretas.<br />
Rua Ferreira Borges,<br />
129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro d amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
^ xecuta-se lodo o trabalho <strong>de</strong><br />
Et carimbos em todos os gene<br />
ros, sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amarella e branca. — Prateia-se lodo o<br />
objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS B DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
KDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNÀT0RA<br />
Com estampilha<br />
Anno<br />
Semestre....<br />
-Trimestre...<br />
(PAOA ADIANTADA)<br />
21703<br />
1^<strong>35</strong>0<br />
630<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2^400<br />
Semestre.... íjaOO<br />
Trimestre... 600
Os <strong>de</strong>tractores da França<br />
Já agora tem corrido por esse<br />
paiz além, impellida pela voz <strong>de</strong>sauctorisada<br />
d'umà parte <strong>de</strong> certa imprensa,<br />
uma corrente monarchista<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>precração da florescente Republica<br />
Franceza, corrente que já é<br />
tempo <strong>de</strong> sustar e repeilir.<br />
Agarrando pelos cabellos a occasião<br />
que se lhes apresenta, fornecida<br />
pela questão do Panamá, <strong>de</strong> attribuirem<br />
ás instituições republicanas<br />
da França tudo o que <strong>de</strong> immoral e<br />
<strong>de</strong>shonesto possa haver em tal questão,<br />
aquelles jornalistas <strong>de</strong> politiquices,<br />
d'envolta com outros politiqueiros<br />
que nem são jornalistas, dão-se<br />
palmas mutuamente e exultam <strong>de</strong><br />
jubilo pela tina manifestação do seu<br />
tacto politico, vendo que se lhes<br />
apresenta agora azado ensejo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>struírem radicalmente a base fundamental<br />
das republicas, atacando-as<br />
no principio que lhes sei>ve <strong>de</strong> fundamento—<br />
a moralida<strong>de</strong>. E mettendo-se<br />
abertamente pelo caminho que<br />
se lhes <strong>de</strong>para, que elles julgam <strong>de</strong>simpedido<br />
e franco, mas que não passa<br />
<strong>de</strong> estreita vereda, atiram-se uns aos<br />
princípios republicanos com uma<br />
<strong>de</strong>scomposta fúria <strong>de</strong> energúmenos,<br />
outros ficam-se chorando lamentações<br />
hypocritas sobre o <strong>de</strong>svirtuamento<br />
d um paiz que tão respeitável<br />
se tem mostrado, lamentações que<br />
são lagrimas <strong>de</strong> crocodilo.<br />
Coitados, como uns e outros se<br />
enganam! Na sua ancia <strong>de</strong> <strong>de</strong>struírem<br />
o que <strong>de</strong> sua natureza é firme<br />
e inabalavel, não veerrl que as suas<br />
cóleras postiças embatem e recuam<br />
na firmeza dos princípios-republicanos<br />
como a fúria das ventanias embate<br />
e se quebra contra as quinas<br />
d\ima fortaleza. Nem a hombrida<strong>de</strong><br />
honesta da Republica Franceza po<strong>de</strong><br />
softrer com a questão do Panamá,<br />
antes só po<strong>de</strong> robustecer-se e radicar-se,<br />
nem a firmeza dos princípios<br />
republicanos po<strong>de</strong> ser abalada com<br />
quaesquer questões menos dignas<br />
que nas republicas se suscitem.<br />
Em quaesquer socieda<strong>de</strong>s ha manifestações<br />
mais ou menos frequentes<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>shonestida<strong>de</strong> e prevarição,<br />
em todas ellas ha quem anteponha<br />
interesses particulares aos princípios<br />
do <strong>de</strong>ver e da moral; mas só é digna<br />
do respeito e da consi<strong>de</strong>ração dos<br />
povos aquella que tem á sua frente<br />
um systema-politico, que leva <strong>de</strong>sassombradamente<br />
e sem consi<strong>de</strong>rações<br />
<strong>de</strong> especie alguma a justa punição<br />
aos que <strong>de</strong>linquem, seja qual fôr<br />
a sua esphera social.<br />
Admittido este principio, que não<br />
é susceptível <strong>de</strong> contestações serias,<br />
não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acceitar que<br />
os Estados que o observam e apregoam<br />
são os honestos e os justos.<br />
E a França republicana tem-o tomado<br />
como norma e critério.<br />
Se compararmos sob este ponto<br />
<strong>de</strong> vista, e este estudo é edificante e<br />
instructivo, o nosso paiz com aquelle<br />
que por ahi a cada passo se calumnia<br />
- agora — a França — o que vemos?<br />
Do nosso la'do encontramos —<br />
monstruosas iniquida<strong>de</strong>s, que ha largos<br />
annos florescem por esse paiz<br />
fóra; contractos escuros e ruinosos<br />
para o interesse geral, que teem locupletado<br />
diversos particulares; syndicatos<br />
immoraes e monopolios escandalosos,<br />
que toda a imprensa tem<br />
apontado; os redditos públicos esbanjados,'<br />
e o progresso material e<br />
moral paralysado; impostos vexatórios<br />
e intoleráveis e o <strong>de</strong>ficit a crescer<br />
d'um modo assustador; uma<br />
mercancia immoral <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações<br />
e dignida<strong>de</strong>s, que só <strong>de</strong>viam distinguir<br />
o valor e o mérito; e, a par <strong>de</strong><br />
tudo isto, tantas coisas <strong>de</strong>shonestas,<br />
tantas, que fazem escaldar <strong>de</strong> vergonha<br />
aquelles que vergonha teem-<br />
De todos os que teem trazido o<br />
nosso paiz á beira do <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
èm que está prestes a precipitar-se,<br />
se mãos potentes e salvadoras o não<br />
soccorrem — quaes são aquelles que<br />
se veem perseguidos pelo justo vilipendio<br />
que <strong>de</strong>ve perseguir os que,<br />
por incúria ou por má fé, administram<br />
mal o seu paiz ? Quaes são<br />
aquelles sobre quem tem pesado a<br />
severida<strong>de</strong> da justiça? Quaes?...<br />
Mas vamos á França; que encontramos<br />
ahi ?<br />
Abatida pelo tremendo <strong>de</strong>sastre<br />
<strong>de</strong> Sédan a que a levou o Império,<br />
vemol-a concentrar-se num esforço<br />
heroico <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, e, quando todos<br />
a suppunham ainda <strong>de</strong>batendose<br />
acabrunhada sob o peso enorme <strong>de</strong><br />
uma ruina tardiamente reparavel,<br />
paga á Prússia o pesadíssimo imposto<br />
<strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> novecentos mil contos<br />
<strong>de</strong> réis, imposto esmagador que,<br />
para a arruinar, a nação vencedora<br />
lhe impunha; no pequeno lapso <strong>de</strong><br />
vinte annos, á custa <strong>de</strong> uma sabia,<br />
pru<strong>de</strong>nte e honestíssima administração,<br />
levanta-se po<strong>de</strong>rosa e forte,<br />
respeitada e temida, e arremessa ás<br />
faces da Allemanha o glorioso certamen<br />
internacional, on<strong>de</strong> patenteia<br />
a todos os povos a exhuberancia da<br />
sua força e da sua riqueza material<br />
e intellectual; o seu po<strong>de</strong>r financeiro<br />
evi<strong>de</strong>nciou-o no tremendo krach que<br />
ha pouco abalou a orgulhosa Albion,<br />
emprestando ao Banco dlnglaterra<br />
copioso ouro para reforçar as suas<br />
reservas; o seu <strong>de</strong>senvolvimento industrial<br />
e artístico é ainda hoje inimitável;<br />
o que ella é como paiz on<strong>de</strong><br />
se respeita e acata a moralida<strong>de</strong>,<br />
attestou-o plenamente no processo<br />
Wilson, que está na memoria <strong>de</strong><br />
todos—por um leve <strong>de</strong>licto, comparado<br />
com os crimes e abusos do po<strong>de</strong>r<br />
que entre nós se teem praticado,<br />
con<strong>de</strong>mnou a Republica da França<br />
o genro do seu presi<strong>de</strong>nte, e o proprio<br />
presi<strong>de</strong>nte, o honradíssimo Grevy,<br />
se <strong>de</strong>mittiu.<br />
Depois d'isto, teem muita razão<br />
os que a accusam <strong>de</strong> immoralida<strong>de</strong>,<br />
muita!<br />
Não respon<strong>de</strong>mos a estes, que o<br />
não merecem; escrevemos para aquelles<br />
que alguma coisa po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r<br />
neste ligeiro confronto. »<br />
Franco Ascot.<br />
Perseguição politica<br />
Foi chamado a interrogatorios, no<br />
quartel <strong>de</strong> artiJheria 4, o sr. capitão Machado,<br />
que o governo vae processar por<br />
<strong>de</strong>licto <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />
0 sr. capitão Machado <strong>de</strong>clarou ser<br />
o auctor da representação dirigida ao rei<br />
e da carta dirigida aos eleitores das Caldas.<br />
Declarou mais que não retirava nenhuma<br />
das palavras escriptas.<br />
Vê-se por isto que o governo está<br />
disposto a perseguir o capitão Machado.<br />
Veremos em que islo pára.<br />
O coupon <strong>de</strong> janeiro<br />
Diz-se que têm encontrado sérios<br />
embaraços, em Paris, os srs. Abraham<br />
Bensau<strong>de</strong> e Mayer que foram encarregados,<br />
pelo nosso governo, <strong>de</strong> negociar um<br />
novo emprestimo, com os nossos credores<br />
e outros, para o pagamento do coupon<br />
<strong>de</strong> janeiro.<br />
A base das negociações é a transacção<br />
garantida por titulos portuguezes a<br />
20, com o augmento <strong>de</strong> garantia, se baixar<br />
a cotação.<br />
Apezar d'esla condição ainda não<br />
tem corrido favoravelmente as negociações<br />
1<br />
No paiz da militança<br />
Vão' ser nomeados dois ofliciaes do<br />
exercito para — advinhem I —para dirigir<br />
o serviço dos carteiros... e quatro<br />
sargentos para... fiscalisar esse serviço<br />
em Lisboa I...<br />
Que somos um paiz original atlestam-o<br />
estas extravaganciâs.<br />
PELOS JORNAES<br />
O Tempo, o orgão mais officioso do<br />
governo, ataca calorosamente a opposição<br />
^progressista.<br />
Retalhemos ao acaso alguns períodos<br />
que <strong>de</strong>vem ser archivados, tanto mais<br />
que o Tempo também foi orgão officioso<br />
das situações ministeriaes progressistas.<br />
Reza assim :<br />
«E com o ouro que elles <strong>de</strong>sbarataram<br />
que facílima empreza fazer o que<br />
elles fizeram I»<br />
Mais abaixo casca-lhes a valer:<br />
«Uma reforma a surgir-lhes do cérebro<br />
e um emprestimo a saltar togo<br />
nas costas do miserável paiz, que não<br />
merecia tão gran<strong>de</strong>s homens I As idéas<br />
a fuzillarem por um lado e o ouro logo<br />
a escorrer pelo outro I<br />
«Aquilio é que foi activida<strong>de</strong> I Ficou<br />
por um dinheirão o labôr d'aquellas<br />
ínclitas mioiúras, mas produziu coisas<br />
estupendas! Quanto mais elles davam<br />
á luz, mais o paiz se embrenhava nas<br />
sombras <strong>de</strong> uma crise medonha.»<br />
Inventariando as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
do governo actual e cantando-lhe os seus<br />
feitos, <strong>de</strong>sata a gritar:<br />
«Nas <strong>de</strong>spezas extraordinarias simplesmente<br />
uma dimiuuição <strong>de</strong> <strong>de</strong>speza<br />
<strong>de</strong> quasi tres mil contos, e pagou dois<br />
coupons e ainda não contraiu nenhum<br />
emprestimo I»<br />
Tudo estará muito bem menos a contracção<br />
<strong>de</strong> nenhum emprestimo. A razão<br />
porque elle não contrahiu nenhum emprestimo,<br />
é obvia: é não ter quem lh'o<br />
faça.<br />
Todos se lembram <strong>de</strong> que a ruptura<br />
do convénio com os credores externos<br />
negociado em Paris pelo sr. Serpa Pimentel,<br />
foi causada por esses mesmos<br />
credores não quererem facilitar um novo<br />
emprestimo!<br />
Po<strong>de</strong> portanto o governo ter milhões<br />
<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que lhe sejam natas: mas<br />
essa virtu<strong>de</strong> que o Tempo proclama é-lhe<br />
forçada pelas circumstaheias.<br />
Ainda se <strong>de</strong>ve notar que se o governo<br />
ainda não contrahiu nenhum emprestimo,<br />
anda a ver se o consegue; e para<br />
isso lá traz por Paris os srs. Rensau<strong>de</strong><br />
e Mayer.<br />
No mesmo artigo do Tempo ha esta<br />
passagem que não nos passou <strong>de</strong>spercebida<br />
e que se refere ao governo:<br />
«. ..impõe-se intrepidamente um sa-<br />
- criflcio que nos salva da bancarrota...»<br />
Archivamos para ulteriores commentarios.<br />
De como em um mez se opera uma<br />
transformação psychologica no modo <strong>de</strong><br />
ver as cousas :<br />
Ahi pelo principio <strong>de</strong> novembro lemos<br />
sem assombro na Ban<strong>de</strong>ira Portugueza,<br />
nosso collega da capital :<br />
«Ao publico <strong>de</strong>sceu já a intima convicção<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro da monarchia é<br />
materialmente e moralmente impossível<br />
<strong>de</strong>struir as hervas damninhas e<br />
parasitarias que se enroscam em volta<br />
das actuaos instituições.<br />
«E' necessário que essas instituições<br />
<strong>de</strong>em logar a outras novas e limpas <strong>de</strong><br />
todo o musgo corroedor.»<br />
No n.° 370 do mesmo jornal, <strong>de</strong> 4<br />
do corrente mez, lemos com assombro :<br />
«Resta saber uma cousa, se <strong>de</strong>ntro<br />
do regimen actual se pô<strong>de</strong> fazer sem<br />
perigo para a coroa, umas eleições que<br />
exprimam genuinamente a vonta<strong>de</strong> popular.<br />
«Cremos que sim.<br />
«Os partidos teem mettido um susto<br />
enorme á coroa com o phautasma republicano.<br />
«Crêmos que, se as eleições fossem<br />
absolutamente livres e que todos os cidadãos<br />
cumprissem o seu <strong>de</strong>ver, os republicanos<br />
teriam é certo, uma rasoavel<br />
miuuria, no parlamento, mas a<br />
maioria seria esmagadoramente monarchica.»<br />
Ora... bolas I<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 77 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
Com uma emphase <strong>de</strong> palafreneiro<br />
quasi em competencia com o Sergio, a<br />
Reforma <strong>de</strong>sbocca este periodo :<br />
«As folhas jacobinas julgam-se no<br />
pleno direito <strong>de</strong> infamarem as instituições.»<br />
E mais abaixo :<br />
«Ora isto ha <strong>de</strong> acabar, porque os<br />
governos mais liberaes d'esta boa terra<br />
monarchica hão <strong>de</strong> pedir á França republicana,<br />
como emprestimo <strong>de</strong> valia,<br />
as suas leis <strong>de</strong> repressão contra os inimigos<br />
das instituições; hão <strong>de</strong> executadas<br />
ru<strong>de</strong>mente e pedir a cada um<br />
a responsabilida<strong>de</strong> dos compromissos<br />
contrabidos com o estado, que não tem<br />
obrigação <strong>de</strong> estipendiar os seus proprios<br />
inimigos.»<br />
O articulista tem a enorme <strong>de</strong>sfaçatez<br />
<strong>de</strong> nos ameaçar com a França, on<strong>de</strong><br />
a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa está sob a alçada<br />
do jury 1<br />
Ameaçando a terra, o mar e o mundo,<br />
brada a Reforma, concluindo :<br />
«A França excluiu das fileiras do<br />
exercito os representantes <strong>de</strong> princípios<br />
políticos contrários á republica, e<br />
a muitos impoz o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> abandonarem<br />
o proprio território francez.<br />
«Também lá havemos <strong>de</strong> chegar,<br />
porque nos repugna esta transigência<br />
ignóbil dos governos, como nos cáusa<br />
asco a semeeremonia com que os catões<br />
do republicanismo se vão anichando<br />
nas dobradiças das secretarias, ou<br />
nas fileiras do exercito, recebendo do<br />
estado, a quem prometteram lealda<strong>de</strong>,<br />
os recursos para viver e para conspirar.<br />
«Isto ha <strong>de</strong> por força ter fim, e estamos<br />
seguros <strong>de</strong> que elle não se fará<br />
esperar muito.»<br />
Mas também pune os ladrões e por cá<br />
os da junta geral do Porto, o d'Evora, os<br />
banqueiros fraudulentos e os ministros<br />
<strong>de</strong>lapidadores gosam em paz a transigência<br />
ignóbil d
AWO I — J»j» £t O DEFEXSOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />
LETTRAS<br />
Um odio <strong>de</strong> mulher<br />
O meu amigo interrompeu-se para<br />
enxugar a fronte.<br />
— A tua inimiga não passava <strong>de</strong> uma<br />
coquette! disse-lhe rindo.<br />
— Coquetle, oh não. Quando a encontrava,<br />
via-a sempre simples no traje,<br />
indifferenle ás homenagens que o seu<br />
nome e uma certa graça eritiva lhe atlrahiam.<br />
Julgava-se que tinha vocação para<br />
o celibato, que queria ficar solteira.<br />
Num estio, em que estive a banhos<br />
em Dieppe, pensei que ia tornar-me muito<br />
apaixonado pela bella sr. a <strong>de</strong> Quepont.<br />
Nada <strong>de</strong> platónico me impellia para<br />
esta aventura ; mas o platonismo, na<br />
fórma, era <strong>de</strong> rigor; liz correctamente a<br />
minha corte; pensava que ia quasi a chegar<br />
ao fim, quando, um bello dia a sr a<br />
<strong>de</strong> Quepont riu a bom rir <strong>de</strong> mim e confessou-me<br />
que uma das suas amigas <strong>de</strong><br />
convento, Sephia B... na correspondência<br />
que costumavam trocar, me havia<br />
inscripto como o mais indiscreto dos homens.<br />
Ninguém se podia liar <strong>de</strong> mim.<br />
Então, esta insolente, esta inimiga,<br />
impedira-me <strong>de</strong> me casar e <strong>de</strong> ter uma<br />
amante.<br />
Era muito forte! Tinha furores indignos<br />
d'um homem galante. Tel-a-hia arranhado<br />
<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>. O seu pensamento<br />
tornara se uma obsessão que me<br />
impedia <strong>de</strong> trabalhar. Via-a em sonhos,<br />
com uma tesoura que lhe tinha dado,<br />
cortando por toda a parte os lios do meu<br />
<strong>de</strong>stino. De longe a longe, via-a em realida<strong>de</strong>,<br />
impossível, diminuindo como um<br />
cyrio; achava-a ainda encantadora...<br />
Teria querido encontral-a abominavel.<br />
Queres crer? resolvi expatriar-me.<br />
— Pobre louco ! exclamei eu, tu amaval-a<br />
!<br />
— Talvez! proseguiu o meu amigo;<br />
mas não tinha então consciência d'este<br />
amor, era <strong>de</strong> boa fé que a odiava. Piz<br />
varias visitas ao ministério das obras publicas<br />
para ver se obtinha uma missão,<br />
um estudo numa das províncias mineiras.<br />
Pensei que d'esta vez a menina Sophia<br />
não podia intervir. Ella, porém, soube<br />
d'estas visitas, o secretario do ministro<br />
era ainda o marido d'uma <strong>de</strong> suas amigas.<br />
Que disse ella? ignoro-o; mas teria<br />
a certeza que, mais esta vez ainda, me<br />
havia vencido.<br />
Resolvera pôr termo a isto quer á<br />
custa <strong>de</strong> um escandalo, ou <strong>de</strong> um passo<br />
abominavel. Não sabia como. O acaso<br />
forneceu-me a occasião <strong>de</strong>sejada Foi<br />
precisamente num baile dado no ministério<br />
das obras publicas, on<strong>de</strong> precisaram<br />
<strong>de</strong> mim como walsista e não como<br />
engenheiro. Trouxera-me alli a ociosida<strong>de</strong>,<br />
o enfado, ou a fatalida<strong>de</strong>, se tu queres.<br />
Logo que cheguei vi Sophia B...<br />
com sua mãe, fui direito a estas senhoras<br />
e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um cumprimento correcto,<br />
convi<strong>de</strong>i Sophia para dançar. Devia<br />
ter um aspecto terrível; franzia as sobrancelhas.<br />
Não linha o menor <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
dançar; estava persuadido que Sophia se<br />
recusaria, tomaria este protesto para provocar<br />
uma explicação <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong> sua<br />
mãe. Sophia acceitou, quasi alegremente<br />
: offereci-lhe o braço, e aífastamonos.<br />
— Quer dançar?—perguntei lhe seccnmente,<br />
quando estavamos no meio dos<br />
walsistas.<br />
— Não, respon<strong>de</strong>ume no mesmo<br />
tom.<br />
— Sim, é melhor.<br />
Fomos, <strong>de</strong> braço dado, os dois corações<br />
batendo <strong>de</strong> cólera, até um pequeno<br />
salão, um boudoir, on<strong>de</strong> estivessemos<br />
sós... Ella sentou se, eu conservei-me<br />
<strong>de</strong> pé. Já tiveste alguma explicação seria,<br />
cheia <strong>de</strong> odios, com alguma mulher?<br />
Devias, neste caso, perceber quanto é<br />
necessário para que o homem guar<strong>de</strong> a<br />
sua superiorida<strong>de</strong>, a sua segurança, o<br />
seu direito absoluto, que não contemple<br />
fixamente o seu adversario feminino<br />
E' tão penoso tentar fallar a uma mulher<br />
como se faltaria a um homem ! Se a vemos<br />
empalli<strong>de</strong>cer, corar, irritar, protestar<br />
ou supplicar, po<strong>de</strong>mos dizer a<strong>de</strong>us á<br />
rethorica, á exprobação, ao anathema !<br />
Comecei, pois, ou abaixando os olhos ou<br />
levantando-os para a contemplar a explicação<br />
projectada. Confessava o meu espanto,<br />
a minha indignação.<br />
Sophia guarda ainda o rancor dos<br />
gracejos d'outrora? Não comprehen<strong>de</strong><br />
que este papel é cruel, que me é impossível<br />
punil-a como puniria um homem?<br />
Eateruecia-me ao dizer isto; evi<strong>de</strong>nciava<br />
que não possuía o mais leve odio. Sobre<br />
tudo pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> a confundir (iz-lhe o<br />
seu retrato como <strong>de</strong>sejaria tVl-o feito antes.<br />
Descrevia sorri<strong>de</strong>nte, alegre, amante,<br />
encantandora com lodo o seu espirito<br />
adoravel em toda a sua belleza. Ah!<br />
esta Sophia como a teria respeitado...'<br />
amado!<br />
Ousei contemplai a, quando senti os<br />
olhos cheios <strong>de</strong> lagrimas. Então, meu<br />
amigo, calcula o meu espanto. A Sophia<br />
que havia doscripto estava diante <strong>de</strong><br />
mim, um sorisso sublime nos lábios, um<br />
brilho divino nos olhos; chorava, também<br />
e estendia me as mãos.<br />
— Em fim ! disse ella suspirando e<br />
levantou se.<br />
Recebia-a em nieus braços. Triumpho,<br />
meu caro! Tu tens razão, as mulheres<br />
não o<strong>de</strong>iam, muitas vezes lingem<br />
odiar, para terem um obstáculo para nos<br />
nâo amar. Ella própria o contou com<br />
uma candura adoravel.<br />
— Quando percebi que o amava, disse-nie<br />
ella, tive mais receio <strong>de</strong> mim que<br />
do senhor; sim quaudo nos divertíamos<br />
com jogos <strong>de</strong> prendas, amava-o, e arranheÍ-0<br />
até fazer sangue, com medo <strong>de</strong><br />
me enleiar'no seu pescoço! agora cahi<br />
no laço que armei! Ah I a sua tesourinha<br />
tenho a guardada. Quantas vezes não<br />
tentei servir-me d'e11n para abrir as Veias,<br />
para me matar, quando me dominavam<br />
os arrebatamentos <strong>de</strong> inveja, que eu tomava<br />
por odio; sentia que o não podia<br />
ver feliz. . . com outra, longe <strong>de</strong> mim.<br />
Sim o seu casamento, ou a sua partida<br />
ter-me hiam matado. Sim, seguia o, prejudicava-o,<br />
para o guardar. Ah! se me<br />
tivesse provocado mais cedo, mais cedo<br />
teria visto o meu coração! Este odio era<br />
a <strong>de</strong>sesperação d'um amor que o pejo<br />
tinha armado no principio com unhas<br />
que a altivez conserva ! Porque me não<br />
advinbou ! Acredita-me... Quer casar<br />
commigo ?<br />
Se a acreditava ! Se a queria amar!<br />
Ah! meu amigo, calcula a minha alegria!<br />
Num beijo casto, piedoso, reconhecido,<br />
que lhe <strong>de</strong>puz na froute, matei a antiga<br />
inimiga. — Acha-me um outro termo...<br />
—e liz apparecer a noiva sonhadora.<br />
Quando voltamos para junto <strong>de</strong> sua mãe.<br />
Sophia tinha o rosto tão radiante que a<br />
sr. a B.. . perguntou-lhe assombrada :<br />
— Amas a dança a esse ponto?<br />
— Não, mamã, é a elle qne eu amo!<br />
E foi sobre este colloqtiio, ornado<br />
dos couplels do Ricardo Coração <strong>de</strong> Leão,<br />
que o segredo foi conliado á nossa mãe.<br />
Agora - que conheces a historia do meu<br />
casamento, comprehen<strong>de</strong>rás o que te disse<br />
outr'ora, ha mais <strong>de</strong> trinta ânuos, que<br />
me linha casado por amor. Não podias<br />
advinhar que amasse aquella que julgava<br />
odiar e <strong>de</strong> quem me cria odiado.<br />
Tenho guardado ente segredo. Revelei-t'o<br />
porque confirma a tua proposição.<br />
Meu amigo, neste mundo só o amor é invencível<br />
; o odio é uma convenção humana,<br />
frágil, falsa, illusoria. Tu o disseste,<br />
eu o repilo.. . Vem, minha esposa<br />
mostrar-te-ha a tesourinha. E' com<br />
ella que cortamos as flores do jardim.<br />
Apenas serve para isso. Só uma única vez<br />
a emprestei. Foi pelo nascimento do meu<br />
primeiro filho. O doutor não achava <strong>de</strong>pressa<br />
o estojo...<br />
Louis Ulbach.<br />
Previsão do tempo<br />
Segundo Noherlosoon, vamo* ter<br />
gran<strong>de</strong>s mudanças atmosphericas, e como<br />
os nossos leitores sabem o astrologo saragoçano<br />
poucas vezes se engana.<br />
As-im o periodo chuvoso <strong>de</strong> 8 a 13<br />
sera notável pela importancia que ha <strong>de</strong><br />
ter na península. Esta perturbação atmospherica<br />
será produzida por duas tempesta<strong>de</strong>s<br />
proce<strong>de</strong>ntes do Atlântico. A primeira<br />
partirá das costas orientaes da<br />
America septentrional <strong>de</strong> 2 para 3, por<br />
entre parallelos <strong>de</strong> 40° e 50°, produzindo<br />
no Oceano um forte temporal com<br />
ventos rijos <strong>de</strong> sudoeste e noroeste. Chegará<br />
á Europa no dia 8, esten<strong>de</strong>ndo a<br />
sua acção á península com neves, chuvas<br />
e temporaes.<br />
No dia 10 outra tempesta<strong>de</strong>, que<br />
passará pelos Açores, lin<strong>de</strong> exercer fortíssima<br />
influencia nas nossas regiões,<br />
continuando as chuvas. O domingo 11<br />
será o dia mais chuvoso da quinzena,<br />
por causa <strong>de</strong> uma forte <strong>de</strong>pressão, cujo<br />
centro estará situado nas paragens das<br />
Canarias e Ma<strong>de</strong>ira. Nos últimos dias<br />
d'este periodo as chuvas serão mais abundantes.<br />
EM SURDINA<br />
Surdina, hoje, não ha I<br />
Não é caso p'ra espantar;<br />
com um frio como está<br />
não po<strong>de</strong> a gente rimar<br />
Fica a "troça <strong>de</strong> remissa<br />
vou me chegar ao brazeiro...<br />
O ealor a musa atiça<br />
lembra os gatos em janeiro.<br />
E só assim, p'lo macio,<br />
se vencerá este frio I<br />
PINTA-ROXA.<br />
Pequenos nadas<br />
O Diário <strong>de</strong> Noticias <strong>de</strong> 2 do corrente,<br />
com as lagrimas a quatro e quatro,<br />
escrevia esta noticiasinha :<br />
«Foi hontem remeltida a juizR uma<br />
<strong>de</strong>sgraçada com cinco filhos, sendo um<br />
<strong>de</strong> collo, que a policia pren<strong>de</strong>u por andar<br />
a pedir esmola.<br />
«O marido d'e«sa infeliz, que e operário,<br />
sem trabalho actualmente, acompanhou<br />
para o tribunal o triste e pugente<br />
cortejo, e ali tomou nos braços a creança<br />
<strong>de</strong> peito e pela mão os outros quatro,<br />
dirigindo-se em seguida para a rua emquanto<br />
sua mulher era conduzida ao<br />
Aljube, por não ler 1$540 réis para<br />
pagar a fiança !<br />
«Triste sorte e cruel justiça!»<br />
Emquanto estes <strong>de</strong>sgraçados assim<br />
andam aos baldões da sorte a quadrilha<br />
magna dos gran<strong>de</strong>s salteadores da fazenda<br />
publica passam placidamente a vida dos<br />
gran<strong>de</strong>s senhores, sem que a justiça lhes<br />
perturbe a «omno reparador.<br />
E edificante o contraste!<br />
A cholera<br />
Na semana finda houve na tlollanda<br />
16 obitos <strong>de</strong>vidos ao cholera.<br />
Em França continuam a dar-se diversos<br />
casos cholericos. Em Cherbourg<br />
o numero <strong>de</strong> obitos tem sido ultimamente<br />
um tanto subido.<br />
Pelos vencidos<br />
O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />
satisfação da consciência individual.<br />
Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />
nossos concidadãos emigrados não é o<br />
cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />
dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />
primeiro logar, na actual coujuuclura.<br />
Crge que todo o republicano sem'<br />
differenciaçáo <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />
e a sua bolsa pura auxiliar aquelles<br />
malveulurosos amigos que longe da<br />
patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />
Vamos a isto, meus amigos ! Cumpramos<br />
este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixeuio-nos<br />
<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />
piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />
dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />
fria do nosso critério a sua significação<br />
positiva.<br />
O Diário Illustrado constatava ha<br />
dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />
em Bordéus se alimentavam<br />
com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />
Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />
Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />
está abaixo <strong>de</strong> toda a noção dc<br />
humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudôr<br />
<strong>de</strong> republicanos, dia a dia allirmando<br />
pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />
aquella gente.<br />
E a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />
mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />
exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />
apenas pelos bicos da penna : é a<br />
solidarieda<strong>de</strong> elfecliva, pratica, traduzida<br />
no mais franco auxilio moral e material.<br />
Amigos! Soccorrarios os emigrados 1<br />
Subscripçiia <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinaria a soccorrer<br />
com egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 14$600<br />
Quintans <strong>de</strong> Luna (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro)<br />
200<br />
Teixeira <strong>de</strong> Brito (i<strong>de</strong>m) 200<br />
Somma, réis l£i$000<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />
De João Chagas<br />
Publicamos em seguida parte d'um<br />
artigo (pie o nosso illustre compatriota<br />
João Chagas, remetteu <strong>de</strong> Loanda para<br />
A Portugueza, em que elle <strong>de</strong>screve<br />
o modo como na fortaleza <strong>de</strong> S.<br />
Miguel são tratados os criminosos que<br />
d'aqui são remettidos.<br />
Revoltam se todos os sentimentos <strong>de</strong><br />
pieda<strong>de</strong> ao lerem estas linhas que vibram<br />
nos nossos corações com a agu<strong>de</strong>za geladora<br />
das gran<strong>de</strong>s impieda<strong>de</strong>s humanas!<br />
Commove, irrita, repngna, que em pleno<br />
século XIX se tolerem infamantes meios<br />
<strong>de</strong> punição, como estes que o brilhante<br />
jornalista <strong>de</strong>scarna profundamente, cheio<br />
<strong>de</strong> indignação e <strong>de</strong> cólera !<br />
«Na fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel, <strong>de</strong>posito<br />
geral dos <strong>de</strong>gredados enviados para a<br />
província d'Angola, eslá ainda em uso a<br />
gargalheira- <strong>de</strong> ferro. Esta infamia tem<br />
um ca<strong>de</strong>ado e uma chave. Esta chave<br />
está em po<strong>de</strong>r d'um homem. Este homem<br />
traz esses miseráveis presos pelo pescoço<br />
Estes miseráveis são europeus e são<br />
brancos.<br />
Antigamente, eram empregados em<br />
trabalhos públicos e, assim, <strong>de</strong> gargalheira<br />
ao pescoço, a dois e dois ligados<br />
por uma corrente <strong>de</strong> ferro, atravessavam<br />
as ruas <strong>de</strong> Loanda.<br />
Os habitantes da cida<strong>de</strong> protestaram.<br />
Parece que era vergonhoso.<br />
Um governador prohibiu estas exhibições.<br />
Mas creou se cousa peior. Aquella<br />
vergonha linha <strong>de</strong> ser substituída por<br />
outra vergonha.<br />
Inventou-se um antro a que no presidio<br />
dão o nome suggestivo <strong>de</strong> — Cova<br />
da onça.<br />
Quem o inventou, quem o <strong>de</strong>lineou,<br />
quem o fez construir?<br />
Não sei.<br />
Este nome falta-me; é uma lacuna<br />
<strong>de</strong>plorável.<br />
Esse antro fica uns seis metros abaixo<br />
da esplanada da fortaleza. Tem dois<br />
<strong>de</strong> largo e não sei quantos <strong>de</strong> fundo,<br />
mas é muito fundo. Não tem janellas,<br />
como os corredores. Mas os corredores<br />
têm cabi<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se oollocam os chapéus,<br />
on<strong>de</strong> se penduram os sobretudos,<br />
on<strong>de</strong> se apoiam as bengalas e se <strong>de</strong>ixam<br />
a escorrer os guarda-chuvas. Este<br />
corredor tem, no logar dos cabi<strong>de</strong>s, argolas<br />
<strong>de</strong> ferro, que pren<strong>de</strong>m correntes.<br />
Na extremida<strong>de</strong> d'essas correntes ha<br />
gargalheiras; d'essas gargalheiras emer-'<br />
gem cabeças d'homens, a face côr <strong>de</strong><br />
poeira, os cabellos seccos côr <strong>de</strong> terra,<br />
como figuras feitas do proprio barro das<br />
pare<strong>de</strong>s que os envolve e do chão em<br />
que dormem.<br />
E hediondo !<br />
Fui ver uma vez e salii <strong>de</strong> lá como<br />
sé tivesse assistido a um crime.<br />
Vim cheio <strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> cólera,<br />
as mãos crispadas e os olhos rasos d'agua.<br />
Esle canto do inferno entrevê-se por<br />
uma porta gra<strong>de</strong>ada. Quem assome alli<br />
vê o suffieiente para nunca mais o esquecer.<br />
Aquella longa fila <strong>de</strong> miseráveis<br />
presos pelo pescoço, esten<strong>de</strong>ndo a mão<br />
supplicante, o ruido das correntes <strong>de</strong><br />
ferro, a poeira que se levanta do chão,<br />
on<strong>de</strong> não ha nma enxerga, on<strong>de</strong> não ha<br />
uma taboa, a escuridão que mal permilte<br />
dislinguil-os, o fétido que annuncia a sua<br />
presença, como o cheiro acre das jaulas,<br />
tudo fica na memoria para a constante<br />
avocação do horror.<br />
Mas a imaginação dos funccionarios<br />
incumbidos <strong>de</strong> guardar estes rebanhos,<br />
é fértil em expedientes quaudo esse horror<br />
não basta. Aggravar esse horror,<br />
tornal-o mais horrível ainda, chama se<br />
castigar.<br />
Um dia, a fim <strong>de</strong> punir certas infracções<br />
ao regulamento praticadas pelos<br />
con<strong>de</strong>mnados á gargalheira, um governador<br />
d'esta fortaleza, mandou fechar a<br />
porta do antro.<br />
Iam morrendo todos asphyxiados.<br />
Foi preciso abrir e <strong>de</strong>pressa.<br />
A um por um é permittido tortural-os.<br />
Malai os a lodos e d'uma vez — creio<br />
que é prohibido.<br />
Comtudo, este antro, esta cíva, estas<br />
argolas <strong>de</strong> ferro, nâo excluem uma relativa<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos. Dentro<br />
da mesma jaula estão muitos. Que po<strong>de</strong>rão<br />
eiles dizer? Não sei. Mas alguma<br />
cousa dizem, e fallar, ter com quem<br />
locar impressões, dizer ai <strong>de</strong> mim ! e<br />
saber que alguém ouve, <strong>de</strong>screr e proclamal-o,<br />
queixar-se e ouvir o queixume<br />
d'outro, respirar o mesmo ar, embora<br />
envenenado, pisar a mesma terra, embora<br />
dura, — esta existencia em commum,<br />
esta promiscuida<strong>de</strong>, a dor na immundicie,<br />
são uma mitigação e um allivio.<br />
Não hnsta para punir, não é suffieiente<br />
para expiar.<br />
A justiça também tem isto <strong>de</strong> commum<br />
com o crime: é engenhosa.<br />
Procura e acha.<br />
Quem presi<strong>de</strong> nesse forte aos <strong>de</strong>stinos<br />
d'esses <strong>de</strong>sgraçados, achou cousa<br />
melhor.<br />
Chama-se — o Segredo a ess'outra<br />
fórma da expiação.<br />
O Segredo apptica-se indistinctamenle<br />
a homens e a muljieres.<br />
Para os effeitos do castigo, estas creaturas<br />
são insexuaes. A mulher não é<br />
consi<strong>de</strong>rada mais fraca do que o homem.<br />
A inferiorida<strong>de</strong> da sua structura, a sua<br />
menor resistencia physica e moral, não<br />
são levados em linha <strong>de</strong> conta. Todos<br />
são aptos para o sofirimento.<br />
Vejamos o que é o Segredo.<br />
(Conclúe•).<br />
Homenagem a Gil Carneiro<br />
A Caixa Economica Operaria promoveu<br />
para domingo uma manifestação junto<br />
ao tumulo do nosso <strong>de</strong>sditoso correligionário<br />
<strong>de</strong>vendo organisar-se um cortejo<br />
cívico, com varias associações e algumas<br />
bandas <strong>de</strong> musica, para ir pôr uma coroa<br />
na sepultura <strong>de</strong> Gil Carneiro, .visto uão<br />
po<strong>de</strong>rem ir no enterro.<br />
Como a direcção da Caixa Economica<br />
recebesse um aviso do sr. commissario<br />
participando-lhe que se não podia realisar<br />
a manifestação, porque, seudo um<br />
cortejo civico, não tinha havido participação<br />
com quarenta e oito horas <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ncia,<br />
não se pô<strong>de</strong> realisar a manifestação,<br />
porque se corria o risco da policio<br />
commetler alguma violência.<br />
Participou-se aos convidados que se<br />
não realisava a manifestação pela or<strong>de</strong>m<br />
que se <strong>de</strong>sejava, apresentando-se-lhe o<br />
alvitre <strong>de</strong> lodos os cidadãos presentes se<br />
dirigirem ao cemiterio representando isto<br />
a homenagem ao fallecido e uni prolesto<br />
contra a reacção jesuítica, que obrigou<br />
a ser enterrado catholicamente Gil Carneiro,<br />
apesar da <strong>de</strong>claração escripla <strong>de</strong><br />
que queria ser enterrado civilmente.<br />
Todos caminharam para o cemiterio,<br />
e mais <strong>de</strong> mil pessoas se approximaram<br />
do tumulo, fazendo uso da palavra os<br />
cidadãos Raul Gil, Manoel do Couto,<br />
pelo grupo anarebista, Soares Gue<strong>de</strong>s,<br />
pela Associação Industrial, Paulo da Fonseca<br />
e Manoel Men<strong>de</strong>s, pela Associação<br />
dos Corticeiros, que protestaram contra o<br />
acto do irmão do finado e da indifferença<br />
das auctorida<strong>de</strong>s.<br />
Da imprensa estavam Eugénio da Silveira<br />
e Andra<strong>de</strong> Neves, do òeculo; Eduardo<br />
José Gaspar, da Vanguarda; Alfredo<br />
Monteiro, do Transmontano; Jo-é .Julio<br />
<strong>de</strong> Azevedo, da Voz do Caixeiro; Luiz <strong>de</strong><br />
Figueiredo, do Protesto Operário, Gue<strong>de</strong>s<br />
Quinhones, da Voz do Operário; Manoel<br />
do Coulo, da Revolto; Augusto Rato da<br />
Batalha e d'A Portugueza.<br />
Depois dos discursos dispersou a multidão<br />
na melhor or<strong>de</strong>m.<br />
Os amigos politicos <strong>de</strong> Gil Carneiro,<br />
já reuniram para tratar da nova visita ao<br />
tumulo do nosso <strong>de</strong>sditoso correligionário,<br />
mas esta com todo o caracter d'uma<br />
manifestação civica. Na redacção do nosso<br />
collega A Batalha recebem-se adhesões<br />
<strong>de</strong> todo o paiz para esta visita.<br />
Sinceramente adherimos.<br />
Desapparecimento<br />
d'um principe<br />
Munich, 2 — Desappareceu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
dia 28 do mez passado, o principe Carlos<br />
da Baviera, filho do principe Luiz e<br />
primo do rei Othon. O facto é extraordinariamente<br />
commentado.<br />
O que era a inquisição<br />
A santíssima-inquisição <strong>de</strong> Hespanha,<br />
durante o espaço dc 333 ânuos, mandou<br />
queimar vivas 24:658 pessoas em effigie;<br />
con<strong>de</strong>mnados ás gilés e a prisão perpetua<br />
283:214, e mais <strong>de</strong> 200:000 con<strong>de</strong>mnados<br />
a trazerem publicamente o<br />
Sanbenilo.<br />
A matança era feila em nome <strong>de</strong> Deus,<br />
acobeftando se os malvados com a capa<br />
da religião, que por tal modo <strong>de</strong>sacreditavam.<br />
A Or<strong>de</strong>m chamará a isto — non plus<br />
ultra do catholicismj I
AXXii í —X.° 41 O DEFEMiOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong> zembro<strong>de</strong> 189Ô<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Aeto lienemerito<br />
A bentmerita junta <strong>de</strong> parochia da<br />
freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu vae comprar<br />
alguns vestuários aos alumnos mais<br />
polires que frequentam a escola elementar<br />
do sexo feminino e a complementar<br />
do sexo masculino da mesma freguezia.<br />
À esta ultima escola vão muitos pequenosjle<br />
Santa Clara, pobremente vestidos.<br />
Era justo que a junta-d'essa freguezia<br />
se lembrasse também <strong>de</strong> olhar<br />
por elles, pois que cumpria assim um<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. E o sacrifício para<br />
ella não seria muito gran<strong>de</strong>, porque lá<br />
náo ha escola, e <strong>de</strong>certo se terá cobrado<br />
o imposto <strong>de</strong>stinado á instrucção.<br />
Ahi lhe <strong>de</strong>ixamos a lembrança. Se<br />
enten<strong>de</strong>r que a <strong>de</strong>ve aproveitar, não lhe<br />
regatearemos os nossos sinceros elogios.<br />
E' bom registar que o presi<strong>de</strong>nte da<br />
junta <strong>de</strong> parochia é o nosso digno correligionário,<br />
sr. ManoeJ Antonio da Costa,<br />
que ha seis annos exerce aquelle<br />
cargo, prestando durante a sua gerencia<br />
altos serviços á instrucção popular.<br />
O Burro tio ar. Alcai<strong>de</strong><br />
Só nos visitará para o anno, ali <strong>de</strong><br />
janeiro, se Deus lhe <strong>de</strong>r vida e saú<strong>de</strong>.<br />
Acompanha-o El-rei Damnado que ha<br />
dias fez estreia auspiciosa 110 Porto, e<br />
o Solar dos Barrigas, que Taveira começou<br />
a ensaiar.<br />
Num telegramma dirigido ao sr.<br />
Francisco Lueas e profusamente distribuído,<br />
diz-se :—Impossível realisação <strong>de</strong><br />
mais espectáculos do que aquelles contractados<br />
pira seu theatro.<br />
Isto traduzido quer dizer:—quem<br />
quizer ver o Burro e o resto tem <strong>de</strong> se<br />
prevenir com tempo, aliás lica sem gosar<br />
tres noites <strong>de</strong>liciosas em que se ha<br />
<strong>de</strong> morrer a rir.<br />
Os preços são :<br />
Assignatura— Camaroles-frisas, réis<br />
3$380; l. a or<strong>de</strong>m, 3^880 ; 2. a or<strong>de</strong>m<br />
2$250; ca<strong>de</strong>iras, 800; superior, 640;<br />
varandas "250 réis.<br />
Avulso — Camarotes frisas, 4$500;<br />
l. a or<strong>de</strong>m, 4$500 ; 2. a or<strong>de</strong>m 3$000 ;<br />
ca<strong>de</strong>iras, 1$000 ; superior, 800; varandas,<br />
300 réis.<br />
Os srs. accionistas do theatro teem<br />
como <strong>de</strong> co-tume, o <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 25°/0<br />
nos preços avulsos, seja para uma ou<br />
mais recitas.<br />
Como veem, os que po<strong>de</strong>rem gosar<br />
estas tres <strong>de</strong>liciosas noites,, são duplamente<br />
felizes. Veem tudo — e mais barato.<br />
A assignatura continúa aberta. Esgotaram-se<br />
os camarotes-frisas, havendo já<br />
poucos <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m.<br />
Policias con<strong>de</strong>mnados<br />
Respon<strong>de</strong>ram em policia correccional<br />
na terça-feira, os cabos <strong>de</strong> policia, 7 e<br />
12 e o guarda 13, accnsados <strong>de</strong> terem<br />
espancado o sr. A<strong>de</strong>lino da Cunha Moura,<br />
num dos dias da romaria do Espirita<br />
Santo.<br />
Provado como ficou o crime foram<br />
con<strong>de</strong>mnados: o cabo 7 em 40 dias <strong>de</strong><br />
ca<strong>de</strong>ia remíveis a dinheiro; e o cabo 12<br />
e o guarda 13, a 5 dias <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia, e<br />
todos nas custas e sellos do processo.<br />
Veremos se <strong>de</strong>pois d'esta con<strong>de</strong>mnaçâo<br />
continuam ao serviço da policia estes<br />
mantenedores da or<strong>de</strong>m publica.<br />
Cireumscripção Iiydraulica<br />
Com a nova reforma das obras publicas<br />
foi supprimida <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> a se<strong>de</strong><br />
d'esta repartição, reunindo-se ao Porto a<br />
zona que era dirigida pela 2. 3 circuinscripcão<br />
hydraulica, com sé<strong>de</strong> em <strong>Coimbra</strong>.<br />
Como se po<strong>de</strong> suppôr a nova reforma<br />
das obras publicas veiu prejudicar bastante<br />
os interesses <strong>de</strong> muitos cidadãos<br />
d'esta cida<strong>de</strong> e a transferencia da direcção<br />
hydraulica para a capital do norte<br />
ha <strong>de</strong>-se fazer sentir na classe dos proprietários<br />
que facilmente aqui obtinham<br />
qualquer provi<strong>de</strong>ncia, em quanto para o<br />
futuro hão <strong>de</strong> supportar todas as <strong>de</strong>moras<br />
do expediente, senão mais alguma<br />
cousa.<br />
AsgociaçSes <strong>de</strong> soecorros<br />
Por falta <strong>de</strong> numero legal <strong>de</strong> associados<br />
não po<strong>de</strong>ram ser discutidos os<br />
assumptos que fizeram convocar a assemblêa<br />
geral aos corpos gerentes da Associação<br />
do sexo feminino e Monte-pio<br />
conimbricense.<br />
Ficaram adiadas para o proximo domingo,<br />
— — ' '<br />
Escola Brotero<br />
A matricula geral nesta escola subiu<br />
este anno a 400 alumnos.<br />
Espera-se que em breve comecem<br />
em laboração algumas das officinas que<br />
<strong>de</strong>verão ser annexas a este estabelecimento<br />
<strong>de</strong> ensino, um dos primeiros do<br />
paiz.<br />
Antonio liuiz <strong>de</strong>^Sousa Henriques<br />
Seeco<br />
Falleceu no domingo este honrado<br />
cidadão, lente jubilado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Direito e par do reino.<br />
Foi 11111 cidadão honesto, um portuguez<br />
<strong>de</strong> lei, revolucionário nos seus tempos,<br />
todo liberal, luctando com encarniçamento<br />
durante a .epoclia cabralina.<br />
Exerceu muitos cargos públicos:—o<br />
<strong>de</strong> juiz ordinário eleito em 1843 o <strong>de</strong><br />
juiz <strong>de</strong> direito substituto em 1844 e<br />
1850; vogal <strong>de</strong> policia correccional nomeado<br />
pela camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> ; secretario<br />
da commissão eleitoral <strong>de</strong> opposição<br />
popular, em 1845 ; tenente da 2. 8<br />
companhia do batalhão da guarda municipal<br />
em 1846; governador civil <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
por <strong>de</strong>spacho da junta revolucionaria<br />
do Porto, em 18<strong>47</strong> ; nomeado secretario<br />
geral do districto <strong>de</strong> Santarém em<br />
1851, sendo <strong>de</strong>pois transferido no mesmo<br />
cargo para <strong>Coimbra</strong>, voltando a governar<br />
este districto em 1853 ; presi<strong>de</strong>nte<br />
da camara municipal em 18 63 ; membro<br />
da junta administrativa dos campos<br />
do Mon<strong>de</strong>go, em 1856 ; membro do conselho<br />
do districto, em 1846, 1854 e<br />
1864; presi<strong>de</strong>nte da junta geral do districto<br />
em 1863; também serviu na mesa<br />
da Misericórdia e na Or<strong>de</strong>m Terceira;<br />
foi eleito <strong>de</strong>putado por <strong>Coimbra</strong> nos<br />
annos <strong>de</strong> 1854, 1857, 1858 e 1860; e<br />
em janeiro <strong>de</strong> 1881 nomeado par do<br />
reino.<br />
Por esta bem limitada resenha se vê<br />
a importancia do cidadão que esta cida<strong>de</strong><br />
acaba <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, e que serviu o<br />
seu paiz, com <strong>de</strong>dicação, sem egoísmos<br />
nem vaida<strong>de</strong>s.<br />
O sr. dr. Secco collaborou nos seguintes<br />
periodicos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> — Opposição<br />
Nacional, 1844 — Observador, 18<strong>47</strong><br />
a 1854—Conimbricense, 1854 a 1855<br />
—Epocha, 1856 — Constitucional, 1859.<br />
Publicou também os seguintes livros:<br />
— Manual historico do direito romano,<br />
1848 — Memoria historico cliorograpliica<br />
dos diversos concelhos do districto administrativo<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 1853 —Mappa<br />
do districto administrativo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
1854— A eleição municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
1856 —Novos elogios hisloricos dos reis<br />
<strong>de</strong> Portugal, 1856 —Memorias do tempo<br />
passado e presente para lição <strong>de</strong> vindouros,<br />
tomo Í. 1880 —tom'. II. 1889 —<br />
Codigo penal portuguez, precedido pelo<br />
<strong>de</strong>creto com força <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> De-'<br />
zembro <strong>de</strong> 1852, seguido <strong>de</strong> um appendice<br />
e amolado, 1881 —além <strong>de</strong> muitas<br />
outras. Actualmente tfnha 11a imprensa<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> um volume a imprimir.<br />
Homem <strong>de</strong> bom coração, esmoler, o<br />
sr. dr. Henriques Secco <strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s<br />
á pobreza a quem muito soccorreu, sem.<br />
alar<strong>de</strong>s.<br />
A' sua família e aos seus <strong>de</strong>dicados<br />
amigos enviamos os nossos pezaiues.<br />
Museu episcopal<br />
O sr. bispo con<strong>de</strong> projecta uma gran<strong>de</strong><br />
reforma no museu a seu cargo. Sera<br />
augmentado com mais vitrines para a<br />
exposição dos tecidos riquíssimos que<br />
possue a Sé Cathedral, proce<strong>de</strong>ndo a uma<br />
escolha minuciosa.<br />
D'esta missão, parece-nos, será encarregado<br />
o sr. Antonio Augusto Gonçalves<br />
a quem não lalla competencia para<br />
um trabalho completo.<br />
Rectificação<br />
Pe<strong>de</strong>-nos o sr. Antonio Veiga para<br />
ratificarmos a noticia que <strong>de</strong>mos em o<br />
numero passado relativamente ao espancamento<br />
<strong>de</strong> que este nosso patricio foi<br />
victima, pois que foram cinco os indivíduos<br />
que o esperaram, reconhecendo elle<br />
os dois João Gaspar Coelho e João Alves,<br />
que foram os primeiros que o aggrediram.<br />
O sr. Veiga felizmente vae melhor.<br />
Exposição pedagógica<br />
O sr. dr. Bernardino Machado, prestimoso<br />
cidadão, e illustrado professor na<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> a quem a instrucção <strong>de</strong>ve<br />
serviços relevantes, trata <strong>de</strong> organisar<br />
em Lisboa uma exposição pedagógica,<br />
que <strong>de</strong>verá abrir nos princípios do próximo<br />
anno.<br />
Autopsia<br />
Pela autopsia feita ao cadaver <strong>de</strong><br />
Bernardo Ferreira, d'Arrancada, verificaram<br />
os peritos que a morte fora causada<br />
por asphvxiã.<br />
Apezar d'i
av\o r—Sr. 9 âi O DEFGMIOR DO POVO 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
THEATRO D. LUIZ<br />
Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
Recita em beneficio<br />
<strong>de</strong> José Maria d'Aie*edo<br />
Em que tomam parte por especial<br />
obsequio os ex. m * s srs. Luiz da Gama,<br />
Nogueira Pinto Ereio, F. Lucas, a ex. raa<br />
sr." D. Maria da Luz Yelloso.<br />
Uma comedia em um acto, pelos ex. mos<br />
srs. Luiz da Gama, Nogueira Pinto<br />
Ereio, e pela ex. ma sr. a D. Maria da<br />
Luz Velloso.<br />
Uma cançoneta pelo ex. m0 sr. Luiz da<br />
Gama.<br />
Uma comedia em um acto pelos ex. m05<br />
srs. Pinto Ereio, F Lucas e D. Maria<br />
da Luz Velloso.<br />
Um tercetto, por Alves, Macedo e Paes.<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTORIA BIPOIITIIGIL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schafer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. M I : N SB SAMPAIO OTO)<br />
Edição completa por um corpo do<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
Ãtre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />
Vasconcellos e dos ex. 1,109 srs. Alberto<br />
Pimentel, Razilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
D E G R A Ç A<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos
Homens. Instituições<br />
Uma das características mais essencialmente<br />
indicativas da <strong>de</strong>cadência<br />
mórbida do regime constitucional<br />
no nosso paiz,~é o extranho, incomprehensivel<br />
strabismo que tem<br />
impellido os homens eleitos d'esse<br />
regime para um caminho errado,<br />
num louco rodopio vertiginoso on<strong>de</strong><br />
se aclaram os mais evi<strong>de</strong>ntes symptomas<br />
<strong>de</strong> obstruccionismo da intelligencia<br />
e do caracter.<br />
De feito, dá que cogitar este espectáculo<br />
transitorio <strong>de</strong> vai-vens menianicòs,<br />
alternado <strong>de</strong> fugachos ora<br />
vividos ora escurecentes, on<strong>de</strong> sobem<br />
e <strong>de</strong>scem, por mágicos <strong>de</strong>svãos,<br />
os estadistas da monarchia. Hontem,<br />
alcandoraram-os no vertice da omnipotência,<br />
num leva-arriba inconsciente,<br />
aos puxões histéricos <strong>de</strong> senhoras-visinhas-do<br />
-jornal-diário, sem<br />
outras recommendações que um passado<br />
<strong>de</strong> fogos fátuos, nem outra<br />
competencia que a dà rabulice <strong>de</strong>spejada<br />
na discussão com a perfídia<br />
contun<strong>de</strong>nte dos calculistas. Hoje^<br />
sic transit gloria mundi, por uma<br />
collisão <strong>de</strong> circumstancias varias,<br />
occasionaes ou não, o Deus Estadista<br />
<strong>de</strong> hontem, o Messias acclamado, é<br />
<strong>de</strong>sbocado <strong>de</strong>sapiedadamente no tur-.<br />
rião da critica, on<strong>de</strong> o assaltam,<br />
<strong>de</strong> rasoira, todas as linguas que na<br />
vespera lhe urdiam estugantes reclames.<br />
A quem algum pensar <strong>de</strong>dique á<br />
phenomenologia politica do nosso<br />
meio social, tão fértil em innovações<br />
<strong>de</strong> caracter hybrido, terá sido indifferente<br />
esta trama exquisita com que<br />
se tecem e <strong>de</strong>stecem os caracteres<br />
que no regime vigente tem contrabalançado<br />
a vida politica.<br />
Des<strong>de</strong> Rodrigo da Fonseca, a mãe<br />
d'agoa do vicio orgânico do constitucionalismo,<br />
; até aos successores<br />
nossos coevos, verda<strong>de</strong>iros exemplares<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>generencia atavica, viscosos<br />
caracteres que se acotovellam na<br />
concorrência da escroquerie, recrutados<br />
duma selecção artificial, indolentes<br />
por habito, mercantilistas por<br />
instincto, ás vezes talentosos por<br />
calculo quando não são néscios por<br />
natureza:—-o circulo <strong>de</strong> homens que<br />
tem abandado o constitucionalismo<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu inicio resente-se sensi-;<br />
velmente d'um vicio que mal se po<strong>de</strong><br />
suppor uma fortuita phase biologica<br />
ou psychologica da personalida<strong>de</strong>,<br />
mas, antes, precisa estudar-se na<br />
impureza constituitiva do organismo<br />
politico e na sua acção corrosiva<br />
atravez dos tempos.<br />
São geralmente sabidas as tendências<br />
do «homem» (Individuo)para<br />
as vicissitu<strong>de</strong>s, o que todavia não<br />
auctorisa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estabelecido o<br />
pacto social, a pratica commum <strong>de</strong>ssas<br />
vicissitu<strong>de</strong>s pelos «homens» (So-.<br />
cieda<strong>de</strong>). Parece que, se as concepções<br />
empyricas comprehen<strong>de</strong>m a<br />
creação da Auctorida<strong>de</strong> e como seu<br />
<strong>de</strong>positário immediato as Constituições<br />
Politicas, é sobretudo para a<br />
manutenção da paz social na observação<br />
obrigatoria, pela educação do<br />
instincto e pelo exercício das boas<br />
leis, dos melhbres princípios da moral<br />
conducentes á morigeração dos<br />
costumes e ao bem commum.<br />
D'outr'arte, se á creação da força<br />
Auctorida<strong>de</strong> que é mais ou menos<br />
um principio insultuoso para a Autonomia<br />
da Consciência, não correspon<strong>de</strong>,<br />
por <strong>de</strong>rivante, uma phase<br />
economica e intelectualmente amelhoradora<br />
das camadas inferiores,<br />
preciso é reclamar, abstrahindo os<br />
protestos do metaphysismo inconsequente,<br />
a eleminação d'essa força<br />
ineffiacaz.<br />
Mas admittida ella, ainda que<br />
convencionalmente, e tolerada posto<br />
que como direito <strong>de</strong> tradição, constitue-se-nos<br />
o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> exigir d'ella<br />
as melhores formulas governativas<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
para a solução dos problemas sociaes.<br />
Porque, é claro, se uma instituição<br />
social não correspon<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong>s<br />
sociaes falta-lhe ipso facto a cohesão<br />
que a consciência coilectiva<br />
lhe <strong>de</strong>ve imprimir, acatando-a e propagando-a.<br />
Ora <strong>de</strong> mais se sabe o<br />
que entre nós tem sido a lucta politica<br />
do Estado monarchico: uma legislação<br />
preconceituosa, retardataria,<br />
contravencional; a dissipação Estróina<br />
dos redditos do thesouro; administração<br />
viciosa, anarchica, <strong>de</strong>vorista;<br />
garantias civicas transmudadas<br />
em irrisões palavrosas •, etc., etc.<br />
Intuitivamente esta pratica <strong>de</strong><br />
maus hábitos exhibida nas regiões<br />
da Auctorida<strong>de</strong>, estimula nas camadas<br />
inferiores uma ten<strong>de</strong>ncia para o<br />
seguimento d'esses maus hábitos. Já<br />
o diziam os antigos: o abysmo invoca<br />
o abysmó.<br />
D'aqui nasce, por consequência<br />
lógica, que o instincto baixo da conservação<br />
pela astúcia, pela iniquida<strong>de</strong>,<br />
pelo latrocínio, que creou um<br />
typo quasi-commum na nossa esphera<br />
<strong>de</strong> estadistas, se filia na impureza<br />
nativa do regime.<br />
De tudo isto se conclue sem gran<strong>de</strong>s<br />
esforços <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte philosophismo,<br />
que ao contrario do que<br />
a opinião quasi geral preceitua, o<br />
mal não é dos homens, fundamentalmente;<br />
é das instituições. Cotteje-se<br />
a vida licenciosa do Estado monar*<br />
chico portuguez auctorisando a licenciosida<strong>de</strong><br />
nas camadas regidas, com<br />
outro regime que melhor pautasse<br />
na dignificação politica dos caracteres<br />
a sua acção directorial e ahi teríamos<br />
d posteriori a theoria que<br />
avançamos.<br />
Esta incerteza d'homens -pelo<br />
amollecimento dos caracteres exprime<br />
simultaneamente o estado pathologico<br />
das instituições e estabelece a<br />
condição suficientemente clara dasten<strong>de</strong>ncias<br />
negativistas do regime e<br />
como <strong>de</strong>terminante histórica a necessida<strong>de</strong><br />
da sua substituição no mechanismo<br />
politico' do Estado para o<br />
inicio d'umà nova evolução conducente<br />
a um novo estado social mais<br />
consentâneo ás necessida<strong>de</strong>s sociaes.<br />
Zé Dias em scena<br />
0 commissario Teixeira, da policia<br />
<strong>de</strong> Lisboa, vae para Grândola, munido<br />
<strong>de</strong> alvará que o investe na administração<br />
interina d'aquelle concelho. Syndicará<br />
alli e em Sines sobre a forma porque<br />
correu o acto para a ultima eleição <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>putados. Acompanha-o, na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> seu secretario o sr. Sobral Figueiredo.<br />
Como se sabe em Grandola venceu<br />
a eleição o partido republicano e o sr.<br />
Dias Ferreira que não po<strong>de</strong> tolerar um<br />
tal abuso, vae, dizem, arranjar ilegalida<strong>de</strong>s<br />
á sua imagem e semelhança.<br />
Não tuge, nem muge com o escandaloso<br />
e pi lio caso <strong>de</strong> Penacova.<br />
Que espantalho d'estadisla.<br />
Tudo á matroca I<br />
A camara municipal da Guarda representou<br />
ao governo, pedindo que seja<br />
nomeado juiz effeciivo (tara aquella comarca<br />
que ha dois semestres está sem<br />
juiz, não tendo havido audiências gernes<br />
e estando as ca<strong>de</strong>ias cheias <strong>de</strong> presos.<br />
Os empregados da justiça estão luctando<br />
com a miséria, por não haver quem dê<br />
andamento aos processos pen<strong>de</strong>ntes.<br />
A Inglaterra<br />
a expoliar-nos<br />
Diz-se que é verda<strong>de</strong>ira a noticia <strong>de</strong><br />
uma nova exigencia da Inglaterra ácerca<br />
da <strong>de</strong>limitação das fronteiras em Africa<br />
e que, por esse motivo, se retini <strong>de</strong><br />
Moçambique; no proximo dia 13, o sr.<br />
Antonio Ennes.<br />
E os ministros — e o resto — sem<br />
<strong>de</strong>coro algum, a frequentarem os sumptuosos<br />
bailes da legação britannica.<br />
Excessos <strong>de</strong> vergonha 1<br />
PELOS JORNAES<br />
Utn paslelíã.o que tem o nome <strong>de</strong><br />
Commercio <strong>de</strong> Portugal, escreveu :<br />
«Ha. noucos dias os jornaes republi-<br />
;,canosv publicavam um telegramma <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> noticiando que se havia fundado<br />
alli, um centro republicano e que<br />
do conselho director faziaà parte dois<br />
lentes da universida<strong>de</strong> e o director da<br />
escola industrial. O que fez o governo?»<br />
Respon<strong>de</strong> a Reforma:<br />
«Por emquanto, não fez nada, mas<br />
não se impaciente o collega, que alguma<br />
coisa fará.<br />
«Ha muito que nós, e comnosco toda<br />
a gente sensata, reclamamos do governo<br />
uma acção energica contra o que<br />
seja <strong>de</strong>srespeito á lei e abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.»<br />
Ficamos esperando os actos do governo<br />
visto que a Reforma diz que elle<br />
alguma cousa fará contra o que seja <strong>de</strong>srespeito<br />
d lei e abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />
0 seu primeiro acto, ao que nos consta,<br />
é eleger umas constituintes para a<br />
revisão do codigo fundamental da nação,<br />
que abrirá por este artigo: — 1.° é expressamente<br />
prohibido aos lentes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
e directores das escolas industriaes,<br />
serem republicanos. . . etc.<br />
É isto o que a Reforma reclama e<br />
com ella toda a gente sensata, entre a<br />
qual avulta o sr. Sergio.<br />
Conclue a Reforma:<br />
«Fique o Commercio <strong>de</strong> Portugal<br />
certo <strong>de</strong> que serão cortadas muitas<br />
hervas damninhas nesses prados jacobino<br />
progressistas da nossa terra.<br />
«A questão estava em começar.»<br />
0 diabo é se o ceifeiro na sua faina<br />
<strong>de</strong> cortar hervas damninhas chega a cortar'as<br />
Unhas...<br />
0 Diário Popular, com lagrimas <strong>de</strong><br />
crocodillo :' J; ' K ) ' '<br />
«...diremos eguaimente que nos<br />
impressiona <strong>de</strong>sagrada velmente vér ferir<br />
pequenos empregados, arrebatandolhes<br />
d'uns mesquinhos or<strong>de</strong>nados verda<strong>de</strong>iras<br />
ridicularias, ao passo que se<br />
conservam <strong>de</strong> pé reconhecidas sineeuras<br />
dispendiosas, luxos exagerados <strong>de</strong> serviços<br />
pouco mais do que inúteis, que<br />
suppriihidos dariam resultados muito<br />
mais proveitosos, do que todas as mealhas<br />
arrancadas á miséria das ultimas<br />
camadas cio funecionalismo.»<br />
Choramingando ' ternamente sobre a<br />
ingratidão" dos homens, continúa :<br />
«Mas se dissémos e sentimos isto,<br />
sentimos e dizemos também que os governos<br />
quasi qúe estão absolutamente<br />
impossibilitados <strong>de</strong> fazerem economias<br />
<strong>de</strong> vulto, porque se tal ousassem, se<br />
tivessem apeuas o pensamento <strong>de</strong> o<br />
conseguir, veriam para logo erguidos<br />
ante eiles os mais invencíveis obstáculos,<br />
e- : <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas sobre ás suas cabeças<br />
todas as cóleras implacaveis dos<br />
<strong>de</strong>speitados e dos feridos.»<br />
E logo a seguir, antevendo o escalabro<br />
<strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> tudo isto, presâgia :<br />
«Mas, no caminho sombrio que vão<br />
tomando as coisas, não é por certo o<br />
<strong>de</strong>scontentamento d'aquelles a quem as<br />
reformas possam ferir, o que mais haja<br />
a receiar; o que mais terrível se ergue<br />
nos horisontes não distantes, é a imagem<br />
do dia em qne se não possa pagar<br />
a ninguém. Nessa dia, que tudo concorre<br />
para avisinhar, é que os erros e<br />
os <strong>de</strong>satinos accumuiados hão <strong>de</strong> ter o<br />
seu <strong>de</strong>senlape. fatalmente, e a torrente<br />
dos males ha <strong>de</strong> passar indómita, sem<br />
que seja dado a ninguém <strong>de</strong>tel-a na<br />
sua marcha assoladora e terrível.»<br />
Sursum corda!<br />
Sergio, no Illustrado, diz ao sr. José<br />
Dias. -<br />
«Seguramente, não merecemos a<br />
menor consi<strong>de</strong>ração ao illustre presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho nem ao jornal que se<br />
diz ser o seu orgão na imprensa.<br />
.«Já por tres vezes, muito <strong>de</strong>licadamente,<br />
lhe pedimos que nos informasse,<br />
por alto, <strong>de</strong> quaes eram as propostas<br />
<strong>de</strong> fazenda que projectava apresentar<br />
ao parlamento.»<br />
O sr. José Dias já sabe qne o sergio<br />
— entorna - - e affiruia qne por isso não<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 42<br />
dará importancia ao pobre diabo que<br />
anda sempre entre as <strong>de</strong>z e as onze!<br />
Vadio está furioso e promette pôr<br />
em crise o ministério.<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
Contra as reformas<br />
, jfK, do governo<br />
A minoria republicana dj municipio<br />
<strong>de</strong> Lisboa resolveu não transigir com o<br />
governo preferindo <strong>de</strong>clinar o seu mandato<br />
a sujeitar se a imposições que<br />
consi<strong>de</strong>ra attentatorias da dignida<strong>de</strong> camararia.<br />
De João Chagas<br />
(CONCLUSÃO)<br />
As portas das prisões são como as<br />
portas dos tumulos: têm mysterio <strong>de</strong>ntro.<br />
Diante d'um jazigo como diante <strong>de</strong><br />
um cárcere lem-se medo. Abre-se a porta<br />
com cautella: o cadaver po<strong>de</strong> ler resuscitado,<br />
o preso po<strong>de</strong> estar morto.<br />
O segredo tem uma pequena porta<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro. Quem espreitar pelo<br />
buraco da fechadura, nada vê, porque<br />
<strong>de</strong>niro é noite. Quem a abrir vê isto:<br />
Um espaço vazio <strong>de</strong> trez metros e cincoenta<br />
<strong>de</strong> comprido por um metro e setenta<br />
<strong>de</strong> largo, entre quatro pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
caliça. No chão ha terra ; no tecto, <strong>de</strong><br />
lado, existe um orifício.<br />
Nada mais.<br />
O fundo <strong>de</strong> um poço tem agua; as<br />
pare<strong>de</strong>s gottejam; nos interstícios das<br />
pedras ha hervas; no alto ha ceu, sol,<br />
luz, estrellas, um bal<strong>de</strong> no rebordo, um<br />
galho d 'arvore, eheio <strong>de</strong> folhas. — —<br />
Aqui, nada.<br />
No chão ha terra, poeira calcada;<br />
nas pare<strong>de</strong>s, pintadas <strong>de</strong> negro ha vestígios<br />
do roçar <strong>de</strong> corpos, datas e palavras<br />
escriptas com bicos <strong>de</strong> pregos.<br />
E' um vão <strong>de</strong> escada ? E' o espaço<br />
inútil <strong>de</strong> uma construcção mal <strong>de</strong>lineatsiqmbe<br />
è/ «MdmJ**» moo oup<br />
Não. E' um cárcere,<br />
Neste cárcere meltem-se homens, mas<br />
mettem-se também mulheres.<br />
Antigamente, dava-se a este genero<br />
<strong>de</strong> castigo o nome do supplicio e o verbo<br />
emparedar <strong>de</strong>signava-o com proprieda<strong>de</strong>.<br />
A revolução nas i<strong>de</strong>ias trouxe comsigo<br />
uma revolução nas palavras. 0 sinistro<br />
vocabulario do passado teve, como as<br />
cousas:e os homens, o seu 89. Com um<br />
mundo novo, fez-se tudo noyo e assim<br />
como se redigiu um codigo, assim se redigiu<br />
ura diccionario, para uso da humanida<strong>de</strong><br />
emancipada.<br />
Aquella forma <strong>de</strong> emparedamento chama-se<br />
hoje—correcção, porque são assim<br />
punidos os incorrigiveis.<br />
O máximo do tempo que se po<strong>de</strong><br />
permanecer no segredo é <strong>de</strong> trinta e um<br />
dias. Trinta e um dias 1<br />
O con<strong>de</strong>mnado tem para se <strong>de</strong>itar—•<br />
o chão. Nada o cobre, a não ser o uniforme<br />
que o distingue: a calça e a jaqueta<br />
<strong>de</strong> cotim numerada. Deixa <strong>de</strong> comer<br />
pão e alimenla-se d'isto: arroz, feijão<br />
e farinha <strong>de</strong> mandioca. Não vê luz.<br />
Dentro d'este buraco é sempre noite. O<br />
ar recebe o pelo orifício praticado no<br />
tecto. Duas vezes por dia se abre a porta<br />
para <strong>de</strong>ixar passar uma lata. Está no<br />
escuro, <strong>de</strong>itado na terra, a sós comsigo<br />
e com a treva.<br />
Mas um outro <strong>de</strong>linquiu : dão-lhe um<br />
companheiro. Fecha-se a porta e nesse<br />
tumulo ficam dois.<br />
Succe<strong>de</strong>, porém, que <strong>de</strong>linquiu um<br />
outro. Abre-se a porta para o terceiro e<br />
<strong>de</strong> novo se fecha sobre esses tres. Ficam<br />
tres nesse espaço <strong>de</strong> tres melros, e cincoenta—um<br />
metro e <strong>de</strong>zesete para cada<br />
um 1<br />
O oulro dia, quando estive preso na<br />
fortaleza, encontravam se alli—tres mulheres.<br />
Como respiram? — Não sei.<br />
Como vivem?—Nâo tento sabei o.<br />
Mergulhar num sotfriraeulo'd'esla or-<br />
<strong>de</strong>m, é como mergulhar na agua : asphyxia-se.<br />
Soffrem muito — eis o que sei. Soffrem,<br />
a não po<strong>de</strong>r soffrer mais. Assim,<br />
ha mezes, tiraram <strong>de</strong> lá uma mulher,<br />
inteiriçada. Foi levada immedialamente<br />
para o hospital e—diz me uma testemunha—aos<br />
médicos suaram para a salvar.»<br />
" eagi&a s,i
AMO I-M.« 4? O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
OEYSTAE S<br />
Ao balcão <strong>de</strong> flores<br />
VibranteI... Ai I como o teu olhar vibrante<br />
Nenhuma estemos<br />
a fundo, po<strong>de</strong>r-nos-iamos illudir, e talvez<br />
arrepen<strong>de</strong>r-mo-nos por ter pensado<br />
ha muito tempo que o governo conspira<br />
contra a instrucção popular, porque é<br />
ella a única que po<strong>de</strong> dissipar as trevas<br />
da ignorancia ao elemento trabalhador—<br />
mosirando-lhe com clareza as patifarias<br />
governamentaes!<br />
Demos-lhe, pois, a palavra por um<br />
momento para se ver com a maior clareza<br />
a poeira com que pretendia cegarnos.<br />
«Todos sabem que em muitos pontos<br />
do paiz se fecham (os sublinhados são<br />
nossos) escolas por mal entendida economia;<br />
que noutros se conservaram por<br />
largos annos professores interinos por<br />
favoritismo; e que nalguns a ignorancia<br />
das corporações locaes (ellas que lhe<br />
agra<strong>de</strong>çam) <strong>de</strong> mãos dadas com a natural<br />
incúria por tudo quanto é progresso e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento intelleclual leni concorrido<br />
para que um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />
ca<strong>de</strong>iras creadas ou não tenham sido<br />
postas a concurso ou lenham sido entre-<br />
gues a interinos que por via <strong>de</strong> regra<br />
nao são os mais Inabilitados, mas com<br />
certeza são os mais protegidos.»<br />
Pondo <strong>de</strong> parte a incompleta virgulação<br />
e a pouca grammatica com que é<br />
feito este período, elle é no entanto sublime<br />
no-assumpto <strong>de</strong> que trata !...<br />
Mas... quem o ler com attenção,<br />
ainda mesmo que uão conheça a fundo,<br />
como nós, a ironia com que foi escripto,<br />
facilmente couclue que o Tempo nos quer<br />
metter os <strong>de</strong>dos pelos olhos, para que<br />
estejâmos sem vista para po<strong>de</strong>rmos avaliar<br />
as gran<strong>de</strong>s patifarias que o ferreiro<br />
tem na forja.<br />
É infelizmente verda<strong>de</strong> que algumas<br />
escolas se fecharam por falta <strong>de</strong> critério<br />
e excesso <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> das corporações<br />
que superintendiam nellas; mas lambem<br />
uão é menos verda<strong>de</strong> que o governo tinha<br />
força bastante para fazer cumprir a lei a<br />
essas corporações infameineule <strong>de</strong>scuidadas,<br />
e nunca o lizera.<br />
Para que vem então o Tempo a cri-<br />
I. • - -!»• I II II<br />
minar entida<strong>de</strong>s que, para não <strong>de</strong>ixarem<br />
<strong>de</strong> ser'agradaveis ao governo, <strong>de</strong>ixavam<br />
<strong>de</strong> cumprir os seus <strong>de</strong>veres?! Não nos<br />
parece muito a proposito tal recriminação<br />
porque é extemporânea. A responsabilida<strong>de</strong><br />
d'essas corporações, que <strong>de</strong>certo<br />
só funccionavam á vonta<strong>de</strong> do governo,<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia<br />
em que a instrucção primaria se tornou<br />
a centralisar. E o Tempo bem sabe que<br />
assim é, masjulgava talvez que com as<br />
suas rhetoricns, nos vinha illudir a todos,<br />
mostrando-se <strong>de</strong>fensor estrenuo da iustrucção<br />
popular. Moslrar-lhe-emos, porém,<br />
que está redondamente enganado.<br />
PALESTRAS<br />
V I I<br />
— Amigo José, tens visto a imprensa<br />
da monarchia?<br />
—Não me falles nessa senhora, amigo<br />
João.<br />
— O quê, José?! Pois tu eras-lhe<br />
tão affeiçoado e agora estás tão <strong>de</strong> mal<br />
com ella ?<br />
— Estou sim ; porque nunca vi tanta<br />
falta <strong>de</strong> caracter como aquella tem.<br />
Ora diz e aflirma uma cousa, ora nega<br />
e bate fé <strong>de</strong> que lai cousa se uão<br />
<strong>de</strong>u. Se bem que elogia e põe nos cornos<br />
da lua um pan<strong>de</strong>go qualquer, <strong>de</strong>pressa<br />
põe pelas ruas da amargura os caracteres<br />
mais ilfibados; finalmente, está<br />
uma senhora muito...<br />
—Eia ! Eia ! como tu estás, amigo<br />
José, parece-me que és exaggerado; aquella<br />
senhora não tem culpa <strong>de</strong> ser ás vezes<br />
mal informada, ella uão faz mais do<br />
que transmittir o que lhe dizem ; por tanto<br />
não tem responsabilida<strong>de</strong> das mentiras,<br />
nem das calumnias que lhe transiu<br />
i Item.<br />
— O' amigo João essa é <strong>de</strong> cabo <strong>de</strong><br />
esquadra! Eu só couheço duas entida<strong>de</strong>s<br />
que são irresponsáveis: o chefe d'um estado<br />
monarchico-constitucional e os <strong>de</strong>meutes.<br />
Salvo se queres incluir nos últimos<br />
a tal senhora imprensa, o que, seja<br />
dito aqui muito á purida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>ixas<br />
<strong>de</strong> ler razão.<br />
— Amigo José, não digas isso d'unia<br />
seuhora tao respeitável, d'uma senhora<br />
que tantos serviços tem prestado á civilisação<br />
dos povos, e que tanto tem pugnado<br />
pela sua emancipação.<br />
— Ah ! Ah I Ah ! Só essa me faria<br />
rir. Bonita civilisação não tem duvida!<br />
Uma civilisaçâo da epocha mediava!<br />
com traje a mo<strong>de</strong>rna; uma emancipação<br />
que sé assemelha muito á que tinha o<br />
Império romano! Bravo ! Bravo amigo<br />
João se te não acabasse <strong>de</strong> ouvir isso náo<br />
te acreditava.<br />
— Amigo José é fácil dizer as cousas,<br />
mais diílicil proval-o.<br />
Como difficil provar o que se vê, o<br />
que é palpavel ? Em que differe a nossa<br />
corrupção <strong>de</strong> hoje das epôchas a que nós<br />
chama mos atrazadas? Em os corruptos<br />
se apresentarem <strong>de</strong> ca.-aca preta em logar<br />
<strong>de</strong> vestirem casacas vermelhas com<br />
armadura, ou andarem semi-nús? Não<br />
temos o Tibre em que se pescavam cadaveres<br />
<strong>de</strong> creanças, mas temos os hospícios,<br />
e os específicos; vê se não abundam<br />
por esse mundo tantos exemplares<br />
da Madona e da Patrícia romana <strong>de</strong> ha 10<br />
séculos? Não temos os pavilhões do tempo<br />
<strong>de</strong> Luiz XV em França, mas temos outros<br />
milhares <strong>de</strong> pontos em que a prostituição<br />
pollula. E chamas a isto civilisação?<br />
Emquanto a emancipação e liberda<strong>de</strong>s<br />
populares tem graça I tim que dillere o<br />
nosso povo da antiga plebe? Trabalha e<br />
paga, e quando não trabalha nem paga,<br />
'morre <strong>de</strong> fome e vae para a ca<strong>de</strong>ia, se<br />
reage e diz a verda<strong>de</strong>, pren<strong>de</strong>m-no, e<br />
atiram no para cárceres unmundos. Se<br />
náo lemos o cerco romano e a bastilha,<br />
ha a compensar a Africa £ a Penitenciaria<br />
1 Ora meu amigo bulias !<br />
— Parece-me que tens razão meu<br />
José, eífectivãmente a humanida<strong>de</strong> pouco<br />
ou nada tem progredido, e a imprensa,<br />
nada tem feito neste sentido. Se alguma<br />
tem <strong>de</strong>rramado a instrucção e bons<br />
princípios, lambem outra tem ajudado á<br />
propagação <strong>de</strong> muita infamia, sustentado<br />
muita <strong>de</strong>vassidao, mantido essa corrupção<br />
que lavra e In <strong>de</strong> arruinar este pobre<br />
Portugal.<br />
— Emfim meu caro João, com esta<br />
me vou; sabes, eu comparo a imprensa<br />
com um gran<strong>de</strong> espelho on<strong>de</strong> se reflecte<br />
tudo o que <strong>de</strong> mais recondilo existe<br />
nas socieda<strong>de</strong>s, e olha que para ver<br />
misérias é melhor ou a gente ser cego<br />
ou partir o espelho.
'AWXO I — 3¥.° O DEFENSOR D® POVO f 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A guarda fiscal<br />
Tudo na mesma; com excepção das<br />
exigencias que se faziam ao commercio<br />
nas vendas para fóra da cida<strong>de</strong>.<br />
O governo ainda nào attendcu á representação<br />
que 1 lie foi dirigida pela Associação<br />
Commercial, se bem que foi suspenso<br />
o serviço vexatorio que levantou<br />
unanimes protestos; pédiii se a extincção<br />
do posto fiscal na estação do caminbo<br />
<strong>de</strong> ferro, adduzindo argumentos bem plausíveis<br />
e comtudo espera-se lia quasi um<br />
mez a <strong>de</strong>liberação do governo sobre este<br />
assumpto que é da maxima importancia.<br />
Consta-nos que alguém interessado<br />
pela conservação da guarda fiscal em<br />
<strong>Coimbra</strong> procura fazer calar o commercio,<br />
promettendo-lbe que para o futuro<br />
se usará da maior brandura e <strong>de</strong> todas<br />
as possíveis con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncias e tolerâncias<br />
; mas ao commercio, cumpre, se quer<br />
ser digno, repudiar taes promettimentos,<br />
nào se <strong>de</strong>ixando illudir.<br />
Allega esse alyuem que, se a guarda<br />
fiscal tem sido rig«rosa é em comprimento<br />
<strong>de</strong> certas disposições contidas em<br />
um Manual qualquer que ella tem para<br />
seu uso.<br />
Não temos conhecimento d'esse Manual,<br />
mas parece-nos que um regulamento<br />
privativo não po<strong>de</strong> ter valor quando<br />
as suas disposições não estejam perfeitamente<br />
d'accordo com a legislação em que<br />
se baseia. Ora o procedimento da guarda<br />
fiscal para com o conimercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
não é auctorisado pela lei, como já<br />
<strong>de</strong>monstrámos nos números anteriores, e<br />
por tanto é arbitrario e escandaloso o<br />
que se tem praticado, e que <strong>de</strong> certo se<br />
tornará a praticar passados alguns mezes,<br />
se o commercio acceitar as promessas<br />
que lhe são feitas.<br />
Extinga-se o posto fiscal do caminho<br />
<strong>de</strong> ferro, e retire-se a guarda fiscal para<br />
a sua sé<strong>de</strong>; alli sem duvida, prestará<br />
melhores serviços. Deixe-se livre o interior<br />
do paiz da oppressão do corpo fiscal.<br />
Corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
O Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> promove<br />
para o proximo domingo, 18 do corrente,<br />
uma corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se<br />
po<strong>de</strong>rão inscrever todos os velocipedistas<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Aos vencedores sçrão concedidos prémios,<br />
ollerecidos por alguns socios d'esta<br />
sympalhica agremiação.<br />
O local da corrida ain/ia não está<br />
escolhido, mas consta que ella se realisará<br />
no trio doiradas, proximo da quinta<br />
regional. «<br />
No proximo numero publicaremos o<br />
programma d,'esta corrida.<br />
A inscripção e condições da corrida<br />
estão patentes na secretaria do Gynuiasio.<br />
" ' ,<br />
Grémio Operário<br />
Nas ultimas eleições <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> recreio, ficaram eleitos os seguintes<br />
cidadãos:<br />
Presi<strong>de</strong>nte— Joaquim Antunes <strong>de</strong> Oli"<br />
Veira <strong>Coimbra</strong>.<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nle—J. Ferreira Camões.<br />
Secretario — J. Antonio dos Santos.<br />
Vice secretario—José Bastos dos Santos.<br />
Thesoureiro—Joaquim Saraiva.<br />
Vogues—-.Joaquim Teixeira <strong>de</strong> Sá e<br />
Henrique Cesar <strong>de</strong> Lima.<br />
O nosso amigo, sr. Joaquim Antunes<br />
d'Oliveira <strong>Coimbra</strong>, foi reeleito, o que<br />
prova não só a sua muita competencia<br />
para dirigir esta socieda<strong>de</strong>, mas também<br />
a muita <strong>de</strong>dicação que lhe tem dispensado<br />
a fim <strong>de</strong> a <strong>de</strong>senvolver mantendo<br />
os seus bons créditos.<br />
Os nossos parabéns ao Grémio Operário<br />
por saber fazer justiça a cidadão<br />
tão prestante e que tão bons serviços<br />
conta nesta agremiação.<br />
A nova direcção pensa na fundação<br />
d'um pequeno theatro para recreio da familia<br />
dos socios.<br />
O caso Urbino <strong>de</strong> Freitas<br />
Ficou transferida para o dia 21 do<br />
corrente a conferencia medica, or<strong>de</strong>nada<br />
pelo supremo tribunal <strong>de</strong> justiça.<br />
De <strong>Coimbra</strong> vão os srs. drs. Raymundo,<br />
Motta e Augusto Rocha, lentes<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; Joaquim dos Santos e<br />
Silva, preparador <strong>de</strong> chimica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
e A. J. Rosa, pharmaceutico <strong>de</strong><br />
Lisboa, que foram nomeados pelo <strong>de</strong>fensor<br />
do reu,<br />
Galeria <strong>de</strong> retratos<br />
Parece que vae ser coinpleta a.galeria<br />
dos retratos dos reiteres da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
faltando 'para isso es retratos dos<br />
prelados srs. viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Villa Maior,<br />
Adriano Machado e Antonio dos Santos<br />
Viegas.<br />
1<br />
Inspecção ao leite<br />
Sabemos que a policia tem procedido<br />
á inspecção do leite, multando as ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras<br />
que abusavam da indilferençae<br />
esquecimento.em que tinha caido este<br />
serviço.<br />
Assim vimos satisfeita a reclamação<br />
que fizemos neste jornal ao sr. commissario<br />
<strong>de</strong> policia.<br />
Pombos-correios<br />
Na sua ida a Lisboa, 0 sr. Joaquim<br />
Gavino, levou dois pombos que creou na<br />
sua quinta a.o Cidjçal. Na terça Teira, pelas<br />
8 horas da manhã soltou-os no terreiro<br />
do Paço, recebendo <strong>de</strong>pois participação<br />
<strong>de</strong> que tinham chegado a esta cida<strong>de</strong> ás<br />
4 da tar<strong>de</strong>.<br />
Com estes pombos já se haviam feito<br />
mais experiências, e sendo ha tempos<br />
levadas para a Figueira e <strong>de</strong>pois para<br />
Soure, em poucas horas recolhiam a<br />
casa do sr. Gavino.<br />
O burro do sr. Alcai<strong>de</strong><br />
Quem tiver empenho em obter a photographia<br />
do inimitável Burro e dos personagens<br />
que com elle figuram, encontram<br />
essa magnifica collecçáo <strong>de</strong> photographias<br />
á venda no esçriptorio do theatro<br />
D.- Luiz.<br />
Dias, José Ricardo, Santos Mello,<br />
Santos, Ramalhete, Emília Eduarda, Angela<br />
Pinto, Elvira Men<strong>de</strong>s, Thereza Pratas<br />
e outros artistas, figuram nesses graciosos<br />
grupos habilmente photographados<br />
pela casa Emilio Biel & C; a<br />
Associações <strong>de</strong> soccorros<br />
Hoje reúnem as associações <strong>de</strong> soccorros<br />
mutuos: Sexo Feminino e Montepio<br />
Conimbricense, A Tini <strong>de</strong> se tratar lUÍ « O A O l l .891;<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Figueira, 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
Ainda que tar<strong>de</strong>, vou dar-lhes noticias<br />
d'esta pacata cida<strong>de</strong> que foi be.rço<br />
do gran<strong>de</strong> patriota Manoel Fernan<strong>de</strong>s<br />
Thomaz.<br />
Ha 70 annos que o gran<strong>de</strong> caudilho<br />
das liberda<strong>de</strong>s patrias <strong>de</strong>ixou a terra,<br />
(19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1822) legando a<br />
sua familia um nome immaculado, que a<br />
historia jámais esquecerá.<br />
Nesta epocha <strong>de</strong> feroz egoismo mais<br />
se avolumi o nome d'aquelle gran<strong>de</strong> heroe<br />
<strong>de</strong> 1820 I O seu inimitável heroísmo<br />
e abnegação, são rarida<strong>de</strong>s.<br />
—Em goso <strong>de</strong> licença por 30 dias,<br />
(?) partiu para Lisboa o bacharel Annihal<br />
<strong>de</strong> Vasconcellos, administrador d'este<br />
concelho. Como passaram as eleições,<br />
po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se—homem ao mar.<br />
Ficou a substituil-o interinamente, o<br />
sr. Rodrigo Galvão, cavalheiro sympathico<br />
e digno <strong>de</strong> todo o respeito, pela<br />
sua lhaneza e fino trato.<br />
A Figueira ganhoh com a troca.<br />
—Paulo Nestorio, um bello caracter;<br />
génio folgazão, alma propensa ao bem,<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir quando a vida lhe sorria<br />
1 Figura sympalhica, <strong>de</strong> trato affavel,<br />
captivava .os que o tratavam <strong>de</strong> perto.<br />
Deixou vivas sauda<strong>de</strong>s a sua familia<br />
e amigos, que se contam por <strong>de</strong>zenas.<br />
Foi victima da <strong>de</strong>va-stadora tuberculose.<br />
Domingo passado, os seus amigos mandaram<br />
resar uma missa na capella da<br />
Misericórdia com a assistência da philarnionica<br />
10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> que o finado foi<br />
director. A concorrência foi enorme.<br />
Até á semana.<br />
A GRANEL<br />
Tompson.<br />
Nos estaleiros <strong>de</strong> Aveiro vae gran<strong>de</strong><br />
animação.<br />
No estaleiro <strong>de</strong> Fão foi lançado á agua<br />
um hiate <strong>de</strong>nominado Rocambole, pertencente<br />
ao negociante José Pereira Júnior.<br />
No estaleiro <strong>de</strong> Gafanha, está em cóttstrucção<br />
um palhabote, pertencente aos<br />
constructores Monicas, e vae em breve<br />
ser construída uma chalupa pertencente<br />
ao negociante <strong>de</strong> Aveiro, sr. Pedro Morejra.<br />
Além d'estes navios já este anno foram<br />
lançados á agua mais quatro, pertencentes<br />
á praça <strong>de</strong> Aveiro e que são as chalupas<br />
Mónica, Patria, Amisa<strong>de</strong>, e Portuguesa.'<br />
* * # Em Aveiro paga-se a lijpOft<br />
por wagon o sal <strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>.<br />
* * # No ultimo mercado mensal<br />
BT<br />
que houve em Santa Comba Dão roubaram<br />
a um homem 12 lihras .<strong>de</strong> uma algibeira<br />
do collete, e com tal arte o lizeram<br />
que até lhe cortaram com thesoura o<br />
bolso sem que o roubado o sentisse.<br />
* * # A villa <strong>de</strong> Santa Comba Dão<br />
vae ter ura novo-jornafe para isso tralase<br />
da compra d'uma typographia para<br />
aquella localida<strong>de</strong>.<br />
V<br />
* * * Num leilão <strong>de</strong> vinho do<br />
Porto realisado ha dias em Londres ven<strong>de</strong>ram-se<br />
2:188 pipas.<br />
* * * Contam d'Agueda: os larápios<br />
andam <strong>de</strong>saforados em todos os<br />
mercados e rara é a feira on<strong>de</strong> eiles não<br />
<strong>de</strong>ixem fama das suas gran<strong>de</strong>s proezas.<br />
* * * Em Mogofores uma mulher<br />
safti <strong>de</strong> casa <strong>de</strong>ixando uma creança <strong>de</strong> 7<br />
annos fechada.<br />
Ignora se o que fez o innocente; o<br />
que é certo é que os visinhos sentindo<br />
um forte cheiro a chamusco, arrombaram<br />
a porta e <strong>de</strong>pararam então com a creança<br />
prestes a expirar e horrivelmente queimada.<br />
* * # No Porto lanfbem lia crise<br />
<strong>de</strong> trabalho. No governo civil continuam<br />
a passar guias a operários.<br />
* * * Diz o Temps que actualmente<br />
circulam nos paizes da união latina<br />
100:000 contos <strong>de</strong> moeda falsa. Estamos<br />
livres d'isso.<br />
* * * Estão muito adiantadas as<br />
negociações para a <strong>de</strong>finitiva reorganisação<br />
da companhia carvoeira portugueza<br />
<strong>de</strong> S. Vicente.<br />
# * # O agio das libras tem regulado<br />
no Porto a 1/100 réis cada uma.<br />
* * # Foi <strong>de</strong>terminado que os novos<br />
bilhetes postaes, da taxa <strong>de</strong> 30 réis, e<br />
com resposta paga, sejam postos á venda<br />
no continente do reino, em 15 do corrente,"<br />
e nas ilhas dos Açores e Ma<strong>de</strong>ira,<br />
em 15 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1893.<br />
# * # Perto da fabrica <strong>de</strong> Ruães,<br />
ça[ram ao rio dois empregados da mesma<br />
fabrica, sendo um salvo e ignorando-se<br />
o <strong>de</strong>stino do outro.<br />
# * * Em Badajoz está causando<br />
consi<strong>de</strong>ráveis estragos a epi<strong>de</strong>mia da<br />
diphteria, tendo nos últimos <strong>de</strong>z dias havido<br />
cinco casos fataes.<br />
901908 ao M>boJ « !>I(!,:!;Í F> .<br />
- * * * Em Villa Real a intensida<strong>de</strong><br />
do frio tem sido <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m nos últimos<br />
dias, que parece estar-se no polo norte.<br />
A atmosphera está carregada <strong>de</strong> gelo.<br />
* * * Em Beja o azeite regula por<br />
' 00 réis o <strong>de</strong>calitro.<br />
* * * A corveta Áffonso <strong>de</strong> Albuquerque<br />
irá a New-York representar a<br />
marinha portugueza na gran<strong>de</strong> manifestação<br />
naVal <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
* * * O ministério do reino agraciou<br />
com 25 por cento do or<strong>de</strong>nado vários<br />
professores primários.<br />
* * # Parece que vae ser organisada<br />
em Lisboa uma exposição d'artes <strong>de</strong>corativas.<br />
Coisas e loisas<br />
, X. annuncia a um amigo o seu pro<<br />
ximo casamento, cora uma menina da<br />
melhor socieda<strong>de</strong>, e riquíssima.<br />
O amigo, com espanto:<br />
— Mas isso está <strong>de</strong>cidido?<br />
— E um casamento já meio feito.<br />
— Como meio feito?<br />
— Já ha o meu consentimento e o<br />
<strong>de</strong> minha familia; só falta o consentimento<br />
da noivo e da família d'ella.<br />
Um sujeito muito pedante, e que tinha<br />
como principio a theoria <strong>de</strong> puxar<br />
constantemente pela iutelligencia das<br />
creanças, maçava com perguntas extravagantes<br />
um filhinho que tinha. Um dia<br />
perguntoij-lhe:<br />
— Disse-me cá, Arthur, qual é o ani-.<br />
mal que diz hi hon, hi-hon?<br />
— Ora I... E o papá.<br />
v<br />
Desgarradas<br />
Numa ponta tinha o sol,<br />
E na outra o céu pintado ;<br />
No meio linha um lettreiro<br />
Do nosso tempo passado.<br />
THEATIIO D. LUIZ<br />
Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
Recita em beneficio<br />
<strong>de</strong> José Maria dAzevedo<br />
Em que tomam parte por especial<br />
obsequio os ex. ra " s srs. Luiz da Gama,<br />
Luiz Nogueira, Pinto Ereio, Samuel Pessoa,<br />
Taveira, Ribeiro, Macedo, Paes e<br />
F. Lucas, e as ex. mas sr. aí D. Maria da<br />
Luz Velloso e D. Carlota Velloso.<br />
PROGRAMMA<br />
Depois <strong>de</strong> velhos ... gaiteiros.<br />
Comedia em um acto, pelos ex. mo '<br />
srs. Luiz Nogueira, F. Lucas, Pinto<br />
Ereio e D. Luz Velloso.<br />
Os Milagres. Cançoneta pelo ex. m0<br />
sr. Luiz da Gama.<br />
Tercetto musical pelos ex. mos srs.<br />
Ribeiro Alves, Francisco Macedo e<br />
Augusto Paes.<br />
Assim... Assim. Cançoneta pelo<br />
ex." 10 sr. Samuel Pessoa.<br />
A cabelleira <strong>de</strong> minha mulher.<br />
Comedia em um acto pela ex. raa * sr. aS<br />
D. Carlota Velloso, D. Luz Velloso,<br />
e pelos ex. mos srs. Pinto Ereio, Taveira,<br />
F. Lucas e N. N.<br />
PREÇOS<br />
Camarotes <strong>de</strong> 1.» or<strong>de</strong>m e Frizas<br />
2/000 ; Camarotes <strong>de</strong> 2. a or<strong>de</strong>m 1/500 ;<br />
Ca<strong>de</strong>iros 500 ; Superior 300 ; Varandas<br />
4180 réis.
AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />
OTlTIiOS<br />
PA HA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
Çoimbra<br />
IVIonte-pio Conimbricense<br />
AVISO<br />
IVVEIOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Os signatarios da proposta para a<br />
fundação da pharmacia comnium a todas<br />
as associações, lembra a todos os socios<br />
do mesmo Monte-pio, que ámanhã, domingo,<br />
pelas 10 horas da manhã, tem<br />
<strong>de</strong> .ser resolvida essa proposta com qual»<br />
quer numero <strong>de</strong> associados, e como os<br />
signatarios <strong>de</strong>sejam que neste assumpto<br />
haja a maior clareza e boa fe, pe<strong>de</strong>m a<br />
todos os seus consocios o favor da sua<br />
comparência na sala da Associação dos<br />
Artistas, para ser tratado este importante<br />
assumpto com o maior numero possivel.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
uin exemplar.<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Sçhcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
T POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
* ® B P ® .olofioaq^iui; OJI .<br />
j. m m ai SAMPAIO mm<br />
Edição completa por um corpo do<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovaudo<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />
Vasconcellos e dos ex. raos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriplorio da empréza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
D E G R A Ç A<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
A KtlK — É este o titulo sita na Couraça<br />
W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />
tratar com José Simões, largo do Castello.<br />
G A R R A F A S<br />
38 Antonio Dias Themido,<br />
compra garrafas brancas<br />
e pretas.<br />
Rua Ferreira Borges,<br />
129-133—<strong>Coimbra</strong>.<br />
Vinho Maduro do Douro<br />
e ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto<br />
SUPERIOR QUALIDADE<br />
Ven<strong>de</strong>-se na mercearia Ave-<br />
51<br />
nida.— Largo do Principe<br />
D. Carlos, <strong>47</strong> a 53—<strong>Coimbra</strong>.<br />
P O S T O M E D I C O<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges<br />
(Arco d'Almedina)<br />
ANTONIO DA SILVA PONTES<br />
onsultas das 12 horas ás<br />
50 C 3 da tar<strong>de</strong> e das 6 horas<br />
ás 9 da noite.<br />
„. ft gencia em <strong>Coimbra</strong>, rua<br />
5 / M <strong>de</strong> Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
andar.<br />
JULIÃO ANTONIO D'ALIEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór - 24<br />
s Mo seu antigo estabelecimento<br />
( t concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />
:<br />
Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1(51500<br />
Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e algodão<br />
para coberturas baratas. Garante-se<br />
a perfeição do trabalho encommendado<br />
nesta ca-a.<br />
A L A V I L L E _ D E P A R I S<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
LE 1 . D E L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO BOOB1BDES 8BABA, SDGBBSSDB<br />
17—ADRO DE CIMA—20<br />
IWfIMIi Di I», J, â, ClIllillllUMl,<br />
14, Largo <strong>de</strong>nunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
6<br />
COBBESPONDENTE EM COIMBRA<br />
M M I O JOSÉ SE mu B A S T O - M SOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIPEIRA DO PAPEL<br />
ESTAMPARIA 9IEC1IAHICA<br />
^P iuge lã, sèda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />
JL feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> ho-<br />
mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por esle processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sèda e lã.<br />
Ti atais paca escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ARTAZES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
DEPOSITO DA FABIÍICA M A L<br />
DE<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
coirmerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 IvrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
XAROPE DE PHELLâMDRIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
5 f« ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />
& quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com opiimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Itosas & Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Uodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADÍTO DE CIMA - 20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
RMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junlo<br />
2 A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus; Eaz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adullos e crianças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />
AO PUBLICO<br />
D 61<br />
eclaro para os <strong>de</strong>vidos effeito^<br />
que o sr. Antonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />
n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892<br />
Manoel dos Santos ^Apostolo Júnior.<br />
Novo estabelecimento<br />
Ug a ntonio Paulo d^ttlivcira,<br />
n ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />
Santos Apostolo Júnior, participa ao illustrado<br />
publico conimbricense que vae<br />
abrir um estabelecimento egual ao do<br />
seu ex-palrão, na rua do- Sargento Mór,<br />
n. 0 ' 1, 3 e 5.<br />
TRESPASSA.SE<br />
m estabelecimento <strong>de</strong> fa-<br />
<strong>47</strong> O zendas, quinquilherias e mercearias,<br />
bem afreguezado e no melhor<br />
local <strong>de</strong> Pombal, por seu doDo não o<br />
po<strong>de</strong>r atten<strong>de</strong>r. Quem o preten<strong>de</strong>r dirijase<br />
a S. B. F. — Pombal.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 A u 9 M " to Nunes dos San-<br />
Mi tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18 —COIMBRA<br />
0 DEFENSOR 00 POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
E D I T O R<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno WOO<br />
Semestre.... 1$<strong>35</strong>0<br />
Trirnest.e... 680<br />
(PAOA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2£400<br />
Semestre...,<br />
Trimestre...<br />
11200<br />
600<br />
Impresso na Typographla<br />
Operaria — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo à rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
Em linha recta<br />
A primeira obrigação cTtim systema<br />
politico é promover e fomentar<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento do paiz em que<br />
vigora, levando-o por uma serie <strong>de</strong><br />
medidas intelligente e pru<strong>de</strong>ntemente<br />
applicadas a occupar na escala da<br />
civilisação um logar cada vez mais<br />
proeminente; e toda aquella nacionalida<strong>de</strong><br />
em que este principio não<br />
serve <strong>de</strong> norma aos seus po<strong>de</strong>res<br />
dirigentes é uma nação con<strong>de</strong>mnada<br />
pelas outras nações a um ostracismo<br />
merecido. No concerto superior das<br />
nações civilisadas só po<strong>de</strong> entrar<br />
aquella, que, pela sua intelligencia e<br />
pelo seu trabalho, tiver <strong>de</strong> direito<br />
conquistado o seu logar.<br />
Coor<strong>de</strong>nar as forças d'um povo<br />
e, numa sabia direcção constante,<br />
leval-o á realisação d'este i<strong>de</strong>al nobilíssimo<br />
é a primeira obrigação do<br />
estado; congregar os seus esforços<br />
numa aspiração permanente <strong>de</strong> realisar<br />
o seu elevado fim.é a primeira<br />
obrigação do povo.<br />
Na lucta pela vida, que caracterisa<br />
os tempos mo<strong>de</strong>rnos, em que as<br />
tradições sentimentaes e mais ou menos<br />
poéticas dos tempos idos não<br />
augmentam nem um ápice a cotação<br />
dos fundos, é indispensável que uma<br />
nacionalida<strong>de</strong>, seja qual fôr o brilho<br />
glorioso da sua aureola tradicional,<br />
não adormeça placidamente á sombra<br />
dos seus antigos loiros, porque<br />
esse <strong>de</strong>licioso e <strong>de</strong>scuidado somno<br />
po<strong>de</strong> ser o seu somno <strong>de</strong> morte ; o<br />
povo que, na sua <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia, tem a<br />
enaltecel-o aos olhos dos outros povos<br />
o fulgor radiante das glorias da<br />
sua prosperida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve unicamente<br />
ver nessas tradições gloriosas um<br />
estimulo acerado das suas forças<br />
<strong>de</strong>bilitadas, um exemplo frisante <strong>de</strong><br />
valor e <strong>de</strong> honra, que <strong>de</strong>ve constantemente<br />
imitar.<br />
Por sua vez o Estado <strong>de</strong>ve aproveitar<br />
todas as occasiões que se lhe<br />
apresentem <strong>de</strong> fazer reviver aos olhos<br />
do povo a lembrança das suas tradições<br />
heróicas, aproveitando-as co^<br />
mó um elemento po<strong>de</strong>roso para a<br />
restauração do organismo nacional,<br />
apontando-lhe os feitos memoráveis<br />
dos seus antepassados, a sua energia,<br />
a sua vitalida<strong>de</strong>, como um facho<br />
brilhante <strong>de</strong> luz que lhe <strong>de</strong>ve servir<br />
<strong>de</strong> guia.<br />
O nósso pequeno povo foi também<br />
outriora um ninho <strong>de</strong> heroes;<br />
a nossa riqueza e o nosso po<strong>de</strong>r já<br />
causaram a admiração do mundo;<br />
este canto do occi<strong>de</strong>nte já teve gran<strong>de</strong><br />
pezo na balança da Europa; a<br />
fama <strong>de</strong> Portugal echoou, noutros<br />
tempos, por todo o orbe, e nenhuma<br />
outra nação tem, como a nossa, tão<br />
brilhantefolha <strong>de</strong> serviços relevantes<br />
e gloriosos prestados á causa da<br />
humanida<strong>de</strong> ; — mas á sombra <strong>de</strong>stes<br />
loiros, colhidos pelo esforço gigante<br />
das nossas gerações passadas,<br />
temos dormido, <strong>de</strong>scuidados, um<br />
fatal somno secular, ao rythmo seductor<br />
das esplendidas narrações<br />
lendarias, que ha tantos séculos veem<br />
embalando a nossa phantasia.<br />
Mas urge que acor<strong>de</strong>mos, emfim;<br />
que sacudamos dos musculos enervados<br />
o torpor secular que nos <strong>de</strong>bilita<br />
e mata, e que nos trouxe á vida<br />
ficticia que vivemos hoje, vida <strong>de</strong><br />
misérias e <strong>de</strong> vergonhas, vida <strong>de</strong><br />
parasitas e <strong>de</strong> la^aroni; vejamos<br />
afinal" se a trocamos por um viver<br />
honesto, digno, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, proprio<br />
d'um povo conscio da sua dignida<strong>de</strong><br />
e dos seus <strong>de</strong>veres, e que<br />
se envergonha <strong>de</strong> viver á custa dos<br />
outros povos. Bem sabemos que é<br />
doloroso abandonar <strong>de</strong> vez o vicio<br />
que nos <strong>de</strong>licia —não fazer nada; é<br />
commodo o principio que caracterisa<br />
frisantemente a nossa orientação e<br />
a nossa indole — <strong>de</strong>ixar correr; mas<br />
no dilemma <strong>de</strong> morrer ou trabalhar<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
a escolha não é diflicil. Trabalhemos,<br />
pois.<br />
Oriente-se o povo portuguez pelo<br />
critério das nações mo<strong>de</strong>rnas — trabalhe;<br />
congregue todas as suas forças<br />
num esforço supremo <strong>de</strong> boa<br />
vonta<strong>de</strong> energica e <strong>de</strong>cidida; metta<br />
resolutamente os hombros á empreza<br />
restauradora da sua economia; forceje<br />
<strong>de</strong>nodadamente por se approximar.<br />
do seu fim, conquistando entre<br />
as nações cultas o seu logar <strong>de</strong><br />
honra. Precisa para realisar este<br />
i<strong>de</strong>al da cooperação po<strong>de</strong>rosa d'um<br />
systema politico rasgadamente reformador<br />
4 , e que a vis interesses<br />
mesquinhos anteponha sempre a sua<br />
acção civilisadora; não encontra nas<br />
instituições que o regem a protecção<br />
efficaz que lhe é indispensável —<br />
esmague-as.<br />
E' este o seu <strong>de</strong>ver e o seu direito.<br />
Franco Ascot.<br />
O governo em talas<br />
Tem corrido o boato <strong>de</strong> qne o governo<br />
recebeu más noticias <strong>de</strong> Paris com<br />
respeito ás negociações para o pagamento<br />
do coupón <strong>de</strong> janeiro, dizendo-se que é<br />
completamente impossível arranjar-se dinheiro<br />
para se realisar o pagamento no<br />
tempo <strong>de</strong>terminado.<br />
Crise ministerial<br />
Dá-se como certa a sabida do sr.<br />
Pedro Victor, dizendo-se que para a<br />
pasta das obras publicas entrará o sri<br />
João Franco ou o sr. Elvino <strong>de</strong> Brito.<br />
Está salva a patria !<br />
Leiam essa infamia \<br />
Numa carta do nosso querido correligionário<br />
tenente Coelho, preso em Mossame<strong>de</strong>s<br />
por causa da revolta do Porto,<br />
leem-se estes periodos:<br />
«Chagas está em calabouço, <strong>de</strong> sentinella<br />
á vista, como um faccinora.<br />
«Os rapazes que foram amnistiados<br />
ainda vivem sob o regimen<br />
do <strong>de</strong>gredo, apezar <strong>de</strong><br />
terem <strong>de</strong>corrido mezes da <strong>de</strong>cretação<br />
da amnistia.»<br />
Nâo nos espanta o que se eslá passando<br />
com o <strong>de</strong>stemido jornalista, porisso<br />
que os monarchicos hão <strong>de</strong> levar longe<br />
as suas fúrias contra esse valente revolucionário;<br />
o que nos admira é que a<br />
infamia suba a ponto <strong>de</strong> se relerem ainda<br />
presos homens que foram amnistiados<br />
pela regia munificência.<br />
E não havemos <strong>de</strong> affirmar que a<br />
amnistia foi uma burla? E não havemos<br />
<strong>de</strong> protestar contra tal <strong>de</strong>saforo <strong>de</strong> que<br />
é responsável esse governo immoral, que<br />
tem a presidil-o o <strong>de</strong>pravado patuleia,<br />
José Dias ? I<br />
liebulosida<strong>de</strong>s ...<br />
Diz o nosso collega a Folha do Povo<br />
que as folhas alfectas ao governo affirmaram<br />
que em Angola está tudo socegado,<br />
e que alli nunca se pensou mesmo<br />
em quaesquer velleida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> revolta.<br />
Quer o illustrado collega acreditar<br />
nessa affirmação; porem pe<strong>de</strong> que ao<br />
menos lhe expliquem o motivo porque<br />
se mandou apparelhar a toda a pressa a<br />
corveta Bartholomeu Dias para seguir para<br />
Angola ?...<br />
Crêmos não os molestar muito com<br />
esta pergunta, filha d'uma curiosida<strong>de</strong><br />
alias naturalissima.<br />
Heliodoro Salgado<br />
Ficou adiado para o dia 20 do corrente<br />
o processo d'este nosso amigo e<br />
collega d'A Portugueza, que se<br />
<strong>de</strong>via effeclunr no sabbado passado. O<br />
<strong>de</strong>stemido jornalista é accusado <strong>de</strong> ler<br />
incorrido, em vários artigos no crime <strong>de</strong><br />
lesa-magesta<strong>de</strong> e <strong>de</strong> offensas ás instituições<br />
vigentes.<br />
PELOS JORNAES<br />
O Tempo cahe a fundo sobre a chefia<br />
progressista e sobre o seu orgão na imprensa<br />
o Correio da Noite.<br />
Vão dois specimens.<br />
Fala do jornal:<br />
«E com que auctorida<strong>de</strong> e com que<br />
consciência e por que estimulo hostdisa<br />
tão ru<strong>de</strong> e iniquainente o governo esse<br />
jornal, que toda a gente suppõe inspirado<br />
pelo chefe progressista ?<br />
«Com que auctorida<strong>de</strong>, sa foi um<br />
corista subserviente d'esse regabofe d'operetta<br />
que nos ia arruinando e que<br />
nos empurrou pára esta gravíssima<br />
cpnjunetura, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um quinto acto<br />
<strong>de</strong> tragedia, doloroso o brutal, pom qué<br />
os proprios comediantes não contavam<br />
?»<br />
Fala do chefio:<br />
«A terra' porquê? O chefe progressista<br />
faria mais, tem maior competencia,<br />
venceria agora a crise que o fez<br />
esmorecerem janeiro, pô<strong>de</strong>.agora subir<br />
a esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que ha onze mezes tinha<br />
meaoT ", .<br />
«Porque ríão appareeeu então è porque<br />
não disso ao paiz esmorecido:<br />
Aqui estou eu, para a penitencia dos<br />
meus <strong>de</strong>svarios. Se ha um sacrifício a<br />
fazer, pertence-me. E' a minha expiação.»<br />
Ve se que andam mal-avindos os títeres<br />
do regime.<br />
Questões <strong>de</strong> estomago, meramente.<br />
Não se passa um só dia sem que os<br />
jornaes <strong>de</strong>safíectos ao ministério produzam<br />
boatos, <strong>de</strong> crise ministerial, os qúaes,<br />
por seu turno, os jornaes otSciaes <strong>de</strong>smentem<br />
<strong>de</strong> prompto.<br />
Parece, no entanto, que não voga<br />
serena a nau ministerial. Os rombos são<br />
<strong>de</strong> tal guisa que se po<strong>de</strong> presagiar sem<br />
ridícula pretenção. <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>nte, que não<br />
vae longe a charanga.<br />
Acerca, do assumpto esplana-se a<br />
Tar<strong>de</strong>, estylo d'ebservatorio:<br />
«Baixou o barometro cerca <strong>de</strong> cinco<br />
milímetros no torreão do Sul do Terreiro<br />
do Paço. As pressões mais fortes<br />
continuam sobre esse mesmo torreão.<br />
Telegrammas do Calhariz falam da<br />
existencia <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão<br />
moral naquella região. No pateo do Pimenta<br />
o tempo couserva-se varia veh<br />
Os velhos lobos do màr affirmam que a<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>af-se, não afundará o barco.»<br />
Abstrahindo as insistências facciosas<br />
<strong>de</strong> uns e os <strong>de</strong>smentidos capciosos doutros,<br />
pô<strong>de</strong> sensatamente visionar-se que<br />
não está para longe a morte do mima-*<br />
lerio.<br />
*<br />
Em artigo editorial escreve o Primeiro<br />
<strong>de</strong> Janeiro:<br />
«O paiz percebe nitidamente que a<br />
nossa situação financeira não melhorou<br />
: está peor. Sabe positivamente que,<br />
para Solver o déficit, ha-<strong>de</strong> sujeitár-se a<br />
duros sacrifícios: não ha, nos nossos homens,<br />
públicos, quem ignore a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> tal exigencia. Vai por ahi<br />
fóra um <strong>de</strong>scontentamento prpfutndo,<br />
roendo pouco a poucô todas as crenças<br />
e esfriando o respeito 0 0 amor pelas<br />
instituições: só quem é cego éque não<br />
vé, em face do ultimo acto eleitoral,<br />
quanto esse <strong>de</strong>scontentamento é profundo,<br />
coino elle mergulha profundamente<br />
na alma do paiz. Por mais que<br />
muitos incrédulos na eílicacia do que<br />
chamam os inmorlaes princípios se<br />
riam d'aquelles que <strong>de</strong>sejam vêr restauradas<br />
algumas liberda<strong>de</strong>s oífendidas<br />
por uma dictadura imbecil e cobar<strong>de</strong>,<br />
a verda<strong>de</strong> á que subsistem, na sua vergonha,<br />
as provi<strong>de</strong>ncias germinadas da<br />
impudica audacia d'alguns governantes.»<br />
E logo a seguir:<br />
«E' péssimo o nosso estado economico<br />
: é péssimo o nosso estado financeiro<br />
: é péssimo o nosso estado político.<br />
Digamos isto assim, asperamente, porque<br />
é a verda<strong>de</strong>. E comtudo, aiite esta<br />
situação, quaes são as principaes preoccupações<br />
da nossa politica, em que é que<br />
especialmente pensam muitos dos que<br />
<strong>de</strong>viam, acima <strong>de</strong> quaesquer interesses,<br />
olhar para a causa da nação? A politica<br />
que. no nosso paiz, se faz exclusivamente<br />
em Lisboa, num numero restricto<br />
porque não exce<strong>de</strong> a trinta pessoas,<br />
entre políticos e financeiros, o uuuie rd<br />
dos dominadores d'este paiz, dos seus<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 85 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
senhores, dos seus morgados, limita-se<br />
somente, ou a interesses partidarios<br />
que são o prurido ambicioso d'um<br />
grupo, ou a interesses iudividuaes, <strong>de</strong>speitos<br />
e vellerda<strong>de</strong>s que são d'um verda<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong>spejo. E isto porque o paiz,<br />
digamol-o com sincerida<strong>de</strong>, não comprehen<strong>de</strong><br />
a sua força e não tem, para<br />
muitos do que por ahi se vê, a energia<br />
que <strong>de</strong>via usar!...»<br />
É extraordinário que os nossos collegas<br />
da imprensa monarchica que analysam<br />
<strong>de</strong>sapaixonadamente os costumes políticos<br />
e olham com mais <strong>de</strong>sassombro<br />
•oS actos mihisleriaes — é extraordinário,<br />
dizemos, que eiles, reconhecendo que<br />
só ao regime monarchico <strong>de</strong>vemos a<br />
miserável situação a que chegamos ainda<br />
persistam era dar o seu concurso a tal<br />
regime.<br />
Porque a lógica impõe-se : quem tem<br />
governado o paiz? A monarchia. Quem<br />
o empobreceu evi<strong>de</strong>ntemente ? A monarchia.<br />
Logo, o Janeiros outros collegas que<br />
aliás blasonam <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong> patriótica,<br />
ou <strong>de</strong>vem acatar o dogma monarchico incondicionalmente<br />
ou romper com elle a<br />
valer.<br />
*<br />
Mestre Carrilho levantando uma ponta<br />
do vèo, <strong>de</strong>ixa ver:<br />
«A conta corrente do thesouro, que<br />
na semana finda em 9 diminuíra 18J<br />
coiitosj ainda <strong>de</strong>sceu na semana finda<br />
em 16, mais alguma cousa: 37 contos.<br />
Mas as notas em circulação, isto é, a<br />
moeda impressa e importada pelo Banco,<br />
augmenta 302 contos, e os lucros<br />
sóbem, nesta semana, apenas 1<strong>47</strong> contos;<br />
<strong>de</strong> sorte que neste anno até 16 <strong>de</strong><br />
novembro, os juros e lucros, a passar<br />
para ganhos e perdas ascen<strong>de</strong>m já á<br />
continha <strong>de</strong> dois mil contos; apenas<br />
quinze por cento do capital <strong>de</strong>sembolsado.»<br />
Isto em quanto o Tempo, orgão do sr.<br />
José Dias, se esfalfa em optimismos impru<strong>de</strong>ntes<br />
acerca da nossa situação ecouomica.<br />
Pois nós votamos pelo mestre Carrilho<br />
: isto não vae bem...<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
De João Chagas<br />
"WWSAÍ<br />
De novo na fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel.<br />
Como é domingo, está tudo fechado.<br />
Comtudo, ahi pelo pino do meio dia, sob<br />
o sol que nos cinge, andamos, eu e um<br />
sargento, a correr repartições.<br />
Finalmente cahimós aqui.<br />
Eu disse, a bordo do S. Thomé, ao<br />
partir para Mossame<strong>de</strong>s, que esta colonia<br />
<strong>de</strong> Portugal era uma infamia e que<br />
estes funccionarios eram uns bandidos.<br />
Estou a sentil-os.<br />
Quando aqui <strong>de</strong>i entrada a primeira<br />
vez, tive um calabouço vazio. Agora <strong>de</strong>ram<br />
me um calabouço cheio. Somos seis<br />
e andamos aos encontrões.<br />
Este calabouço é como as èa<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />
província. Tem gra<strong>de</strong>s para uma rua da<br />
fortaleza e é <strong>de</strong>vassado. Quem passa vê<br />
quem e>tá. Assim, hoje tem passado aqui<br />
magotes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredádos e gente curiosa<br />
a observar-rue.<br />
Em torno <strong>de</strong> mim ha velhos leitos <strong>de</strong><br />
ferro, bahus <strong>de</strong> presos, uma meza <strong>de</strong> pinho<br />
occupada por uma garrafa vasía, um<br />
velho compasso, um candieiro <strong>de</strong> chumbo<br />
que já não funcciona e ura estilhaço<br />
<strong>de</strong>' espelho. A um canto immundo, on<strong>de</strong><br />
zumbem moscas, uma lata que serviu pari<br />
petroleo, serve hoje. para conter as<br />
<strong>de</strong>jecções dos presos.<br />
O calabouço não tem janella e está<br />
pintado a cal. A soalheira <strong>de</strong> fóra é <strong>de</strong><br />
uma violência que faz fechar os olhos.<br />
Os homens que aqui estão reclusos,<br />
dormem <strong>de</strong> barriga para o ar ou assobiam<br />
encostados ás gra<strong>de</strong>s.<br />
Hontem á noile appareeeu aqui um<br />
alferes com uma enxerga e uma cama <strong>de</strong><br />
ferro. Disse-me — «Está limpa» e foi-se<br />
embora.<br />
Eu colloquei-rae o mais longe possível<br />
da enxerga e do leito e passei a noite<br />
em uma ca<strong>de</strong>ira, ouvindo resonar os<br />
homens que aqui estão presos e pensan-<br />
do que lia<strong>de</strong> vir um dia em que a populaça<br />
portugueza invadirá os paços dos<br />
reis, as salas das repartições, as redacções<br />
dos jornaes, os Bancos e as padarias<br />
e como aquelle alteres dirá simplesmente—<br />
«Está limpa!» indo-se embora<br />
como quem acaba <strong>de</strong> cumprir um<br />
<strong>de</strong>ver.<br />
Para me tirar d'este chiqueiro, acoqselharam-me<br />
a que <strong>de</strong>sse baixa ao hospital.<br />
Diabo I Mas- eu não estou doente. Infelizmente,<br />
não estou doente.<br />
A não ser que leia doze vezes este<br />
periodo do jornal o Século:<br />
«Digam o que disserem, estamos n'timo<br />
epocha <strong>de</strong> inquestionável avanço liberal<br />
e tolerancia.»<br />
Hoje, foi mandado em serviço das<br />
obras publicas, carregar pedras, o musico<br />
<strong>de</strong> infanteria 10, Rocha, con<strong>de</strong>mnado em<br />
consequência da insurreição <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro,<br />
e amnistiado por occasião<br />
da entrega da Rosa d'Oiro.<br />
O sr. Julio <strong>de</strong> Vasconcellos foi preso<br />
no Porto. Os jornaes porluguezes informaram<br />
então que o governo mandára<br />
perguntar para Loanda se havia aqui<br />
processo instaurado contra aquelle senhor.<br />
D'aqui respon<strong>de</strong>ram que não, que<br />
não havia processo instaurado.<br />
Sabem o que fez o governo ?<br />
Mandou instaurai 0.<br />
Em Paris uma pessoa pru<strong>de</strong>nte disse-me<br />
:<br />
— Cuidado com o José Dias!<br />
Em observei:<br />
— E um patarata.<br />
Não disse tudo :<br />
É também um canalhete.<br />
O calabouço em que eslou fica ao<br />
lado da cella, a que aqui chamam Segredo.<br />
Estão alli presas Ires mulheres. Uma<br />
d'ellas canta uma canção <strong>de</strong> lava<strong>de</strong>ira,<br />
como tantas vezes as ouvi no Porto, ás<br />
raparigas que iam bater roupa para as<br />
Fontainhas,<br />
De fóra dizem-lhe :<br />
— Tenha paciência, mulher!<br />
Este: «Tenha paciência, mulher!»,<br />
a uma mulher que eslá cantando, fez-me<br />
frio na espinha.<br />
Hoje <strong>de</strong> dia, esteve aqui, em frente<br />
das gra<strong>de</strong>s, uma velhota dos seus cincoenta<br />
annos.<br />
Por curiosida<strong>de</strong> perguntei-lhe o nome.<br />
Chama-se Maria Joaquina e é <strong>de</strong> Oliveira<br />
do Hospital. Também já esteve no segredo.<br />
Olhei para ella cora admiração.<br />
Esteve no segredo cincoenta e oito<br />
horas, nestas condições:<br />
Na bocca uma baste <strong>de</strong> ferro, que<br />
faz parte dos instrumentos <strong>de</strong> supplicio<br />
do presidio e a que aqui chamam — malagueta.<br />
Esta malagueta, presa á nuca<br />
por uma corda. As mãos cruzadas nas<br />
costas e manietadas. Os pés em algemas.<br />
— Mas porque foi você punida d'essa<br />
fórma ?<br />
A mulher encolheu os hombros e exclamou<br />
:<br />
— Por dizer verda<strong>de</strong>s!<br />
Estas verda<strong>de</strong>s, é prohibido dizel-as<br />
aqui.<br />
Pois bem! Eu vou dizel-as.<br />
Vamos a vêr se me inflingem o supplicio<br />
da malagueta.<br />
Vou dizel-as e quanto antes, para<br />
que isto se saiba e se fôr possível, se a<br />
justiça não fôr cousa <strong>de</strong>finitivamente<br />
morta no meu paiz, para que isto acabe.<br />
Os governos que me perseguem e<br />
mandam maltratar-me, ficam scientes<br />
d'isto: — Eu não perco o meu tempo.<br />
Não o perco aqui, como o não perdi em<br />
Paris.<br />
Simplesmente o assumpto é outro.<br />
Infamia lá, infamia aqui, tudo são infâmias.
AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />
G R Y S T A E S<br />
Amor no Outomno<br />
( A . )<br />
Nós vamos sobre as ondas rumorosas<br />
Gomo esses pagens <strong>de</strong> remotas eras...<br />
E eu adivinho as coisas mais formosas<br />
Que a tua linda mão da côr das rosas,<br />
Desenha em ondas <strong>de</strong> subtis chimeras.<br />
Na languida pupilla que adormece<br />
Ao som monotono das agoas fundas,<br />
A um tempo inalteravel como a prece,<br />
Ora entre-ahrindo nas mil côres — parece<br />
Que o sol reflectes e minha alma inundas.<br />
Entanto, a lua fria, inanimada,<br />
Trémula rond» na amorosn esteira<br />
Que, sob a photosphera constellada,<br />
Deixa na azul corrente, ainda iriada,<br />
Pallida a mão geutil <strong>de</strong> feiticeira.<br />
Mas... e quando thuribulo, fluctua,<br />
(Não já do incenso o aroma) ao abandono,<br />
Em mim teu vulto ethereo como a lua...<br />
— Em lagrimas <strong>de</strong>sfeito, me insinua<br />
Um teu sorriso... o amor no frio outomno!<br />
Porto, 92.<br />
Ao balcão <strong>de</strong> flores<br />
HUGO DINIZ.<br />
Vibrante I... Ai 1 como o teu olhar vibrante<br />
Nenhuma estrella em pleno azul nos cahe;<br />
Nem raio loiro que se filtra e vae<br />
Por entre os ramos d'arvore gigante.<br />
Lá quando a noite é rumorosa, e obumbra<br />
O luar piedoso d'amplidão em calma,<br />
Passatn-me os astros em cortejo na alma,<br />
E a alma diz: «nenhum <strong>de</strong> vós <strong>de</strong>slumbra,<br />
Se acaso... (e pára I) contra a luz se affoite<br />
Do seu olhar cahindo sobre as agoasI. •.»<br />
E os astros passam como fundas magoas,<br />
Sem brilho, opacos, n'essa <strong>de</strong>nsa noite.<br />
Se um raio, ao menos, d'essa luz bemdita<br />
De sobre a terra para os ceus fugisse,<br />
Talvez no ceo dos olhos teus cahisse<br />
Deus impassível que outro mundo habita.<br />
Não po<strong>de</strong> o aroma que nos ares se esvae<br />
Toldar o espaço on<strong>de</strong> se ergue errante...<br />
—Vibrante!... ail corno o teu olhar vibrante<br />
Nenhuma estrella em pleno azul nos cahel<br />
Porto, 7-5-90.<br />
HUGO DINIZ.<br />
COIMBRA POR DENTRO<br />
No reinado do patuleia<br />
Foi intimado o sr. Joaquim Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho, redactor e editor do nosso<br />
collega o Conimbricense, para comparecer<br />
no tribunal d'esta comarca a lim <strong>de</strong><br />
respon<strong>de</strong>r junctamente com o sr. Abílio<br />
Roque <strong>de</strong> Sa Barreto, a um processo<br />
<strong>de</strong> imprensa, promovido por um empregado<br />
da repartição <strong>de</strong> fazenda.<br />
Como se sabe a lei das rolhas vae<br />
ter execução e con<strong>de</strong>mnar dois homens<br />
respeitabilissimos: o sr. Abilio Roque,<br />
por se queixar e escrever uma carta<br />
contra os abusos praticados pela repartição<br />
<strong>de</strong> fazenda, que o collectava in<strong>de</strong>vidamente<br />
; o sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />
por publicar essa carta !<br />
O <strong>de</strong>spotismo em toda a linha ! A<br />
lei iníqua, barbara e infame a suffocar<br />
os gritos dos cidadãos extorquidos e lezados<br />
nos seus interesses e na sua bolsa!<br />
Pagar e não ralhar—é a divisa d'esle<br />
systema corrupio e <strong>de</strong>pravado que nos<br />
esmaga e nos trucida. A perfeita inquisição,<br />
em tempos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, que nega<br />
o direito <strong>de</strong> legitima <strong>de</strong>feza e pune quem<br />
se revoltar contra as arbitrarieda<strong>de</strong>s !<br />
Mas vejam os senhores a moralida<strong>de</strong><br />
dos nossos estadistas, a linha <strong>de</strong> condueta<br />
dos homens que ao chegar ao po<strong>de</strong>r<br />
esquecem tudo: tradicções, convicções,<br />
dignida<strong>de</strong> e honra.<br />
Bem lembrados estamos da fórma correcta<br />
porque o sr. Dias Ferreira, como<br />
<strong>de</strong>putado, combateu a lei das rolhas, julgando<br />
a anti-liberal, e, juridicamente,<br />
uma infamia. Agora que esse mesmo<br />
homem é presi<strong>de</strong>nte do conselho e<br />
ministro do reino, não se vexa em con-<br />
servar essa lei, auctorisando a sua execução<br />
em todo o paiz, não tendo um<br />
<strong>de</strong>creto justiceiro que termine com essa<br />
Vergonha jurídica.<br />
E para confronto vejam que ainda<br />
ha semanas o mesmíssimo sr. Dias Ferreira<br />
era accusado pela imprensa <strong>de</strong> inspirador<br />
do escandaloso <strong>de</strong>creto que satisfez<br />
a pretensão d'um criminoso, se<br />
bem que beneficiou lambem uma causa<br />
em que o proprio presi<strong>de</strong>nte do conselho<br />
<strong>de</strong> ministros figurava como seu ad-<br />
Yogado!!!<br />
Isto é assombroso e bem significativo<br />
da <strong>de</strong>smoralisação que lavra.<br />
Neste paiz a escoria é que está sendo<br />
altamente protegida e beneficiada, é ella<br />
que goza <strong>de</strong> todas as regalias dispensadas<br />
pelos governos, e com razão diz o<br />
sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho no seu<br />
Conimbricense <strong>de</strong> terça feira ultima: —<br />
«No dia 24 do corrente, para se satisfazer<br />
o odio dos afilhados do sr. José<br />
Dias Ferreira, vae sentar-se no banco<br />
«Ion r é u s um velho, quasi cego, a ponto<br />
<strong>de</strong> estar a escrever estas palavras sem<br />
vér o que escreve, e quasi pelo sentido,<br />
soffrendo muitas e graves doenças, e já<br />
com um pé <strong>de</strong>ntro da sepultura; emquanto<br />
os gran<strong>de</strong>s ladrões, os gran<strong>de</strong>s<br />
falcatrueiros, os gran<strong>de</strong>s<br />
esbanjadores da fazenda publica,<br />
os gran<strong>de</strong>s esfoladores do<br />
povo enriquecem e gozam pacificamente<br />
das consequências<br />
dos seus crimes e malefícios.s<br />
Este julgamento <strong>de</strong>ve produzir sen-,<br />
sação no paiz. Em <strong>Coimbra</strong> a indignação<br />
é geral, por isso que a matéria da<br />
carta incriminada combatia os abusos<br />
praticados na distribuição dos impostos,<br />
o que está provocando os justos clamores<br />
do contribuinte, que vê cada vez<br />
mais aggravada a sua precaria situação.<br />
Como sempre aqui <strong>de</strong>ixámos mais<br />
uma vez o nosso protesto: contra o <strong>de</strong>spotismo<br />
da lei e contra essa politica corruptora<br />
do puritano patuleia José Dias<br />
Ferreira, o qual, com o seu governo <strong>de</strong><br />
moralida<strong>de</strong>, tem dado ao paiz os exemplos<br />
mais <strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> que resa a<br />
chronica da politica-monarchico-conslilucional.<br />
Nestorio dos Anjos.<br />
LBTTRAS<br />
A fuga do tempo<br />
— Com que então, o Galimard está<br />
em Paris? perguntou Luiz Vernet.<br />
—O quê, em Paris replicou o doutor<br />
Poupardot. Está em minha casa! E' a<br />
pura verda<strong>de</strong>, está a dois passos d'aqui,<br />
num quarto contíguo ao meu... Esse figurão<br />
melteu-se-me em casa ha uma semana,<br />
e não lhe vejo meio <strong>de</strong> arredar pé !<br />
— Estás a mangar commigo?<br />
— E' o que eu lenho mais, é vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> brincar!. .. E a final talvez que<br />
seja o melhor que eu tenha a lazer. Na<br />
verda<strong>de</strong>, o caso é mais para rir do que<br />
para ouira cousa.<br />
— Mas, então, com que pretexto?<br />
— Valha-te Deus, é simplíssimo, Galimard,<br />
que ha quinze annos andava a<br />
apanhar moscas pela província, <strong>de</strong>scobriu<br />
agora que contrahiu nesse officio uma<br />
doença mortal. Já não comia, não bebia,<br />
não dormia. Pelo menos elle assim o diz.<br />
Julgava se perdido, quando lhe occorreu<br />
uma lembrança famosa. «E, ora essa,<br />
exclamou o meu amigo Galimard uma<br />
bella manhã, já sei o que hei <strong>de</strong> fazer!<br />
Poupardot, o meu caro Poupardot que é<br />
um dos príncipes da sciencia contemporânea,<br />
(é sempre elle que falia) não ha<strong>de</strong><br />
permittir que morra assim um seu<br />
antigo companheiro, um camarada <strong>de</strong><br />
collegio, esse mesmo, a quem em Santa<br />
Barbara elle mandava os lhemas do grego<br />
abarrotados <strong>de</strong> contra-sensos e as<br />
versões latinas floridas <strong>de</strong> solecismos,<br />
para lhe evitar o <strong>de</strong>sastre d'um castigo,<br />
correndo elle o risco <strong>de</strong> ser castigado<br />
duas vezes — o que na verda<strong>de</strong> aconteceu<br />
mais d'uma vez. Recordações <strong>de</strong>stas<br />
pren<strong>de</strong>m dois amigos por Ioda a vida.<br />
Toca a ir procurar Poupardot!» E cá<br />
veio ter com Poupardot. E sem mais<br />
preâmbulos, <strong>de</strong>clarou a Pompardot que,<br />
lendo necessida<strong>de</strong> urgenle dos seus cuidados,<br />
fazia tenção do estar em minha<br />
casa, até se senlir radicalmente curado.<br />
E Poupardot, que* tem sido sempre aquelle<br />
gran<strong>de</strong> pateta que lu estás farto <strong>de</strong><br />
conhecer, não teve coragem para o pôr<br />
no meio da rua. E agora, aqui o tens<br />
com a carraça d'um hospe<strong>de</strong> absurdo,<br />
massador, tyrannico, insupportavel, que<br />
transtorna todos os meus hábitos e dá<br />
uma sentença em tudo, sem saber que<br />
meio hei-<strong>de</strong> inventar para me ver livre<br />
d'elle, <strong>de</strong>sconliaudo até que lai meio não<br />
existe.<br />
—Mala-o, disse friamente Luiz Vernet.<br />
Não te hão-<strong>de</strong> faltar recursos.<br />
—Isso não. Já é bem suspeita a minha<br />
profissão. Uma morte em casa d'um<br />
medico... Prendiam-me logo.<br />
— Deita-lhe na cama bicos <strong>de</strong> alfinetes,<br />
..<br />
— Ora, vinha-se metter na minha!<br />
Não ha meio nenhum, é uma arriosca <strong>de</strong><br />
que eu não posso sahir. E nota tu que<br />
o espantalho se dá optimamente com o<br />
seu systema. Não se furta a coisa nenhuma<br />
e gosa <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>licias parisienses.<br />
Ha oito dias a esta parte que é a<br />
única pessoa que se vê pelos corredores<br />
do único theatro que por agora ha em<br />
Paris. Volta para casa, tod.is as noites,<br />
a uma hora impossível, acorda me regularmente<br />
com a barulhada que faz com<br />
as portas e no dia seguinte, então, <strong>de</strong>sforra<br />
se dormindo a manhã na cama.<br />
Olha, vê tu la, são <strong>de</strong>z horas, e eu vou<br />
apostar que aquelle tratante ainda resona<br />
a bom resonar.<br />
— Ora essa! exclamou Luiz Vernet,<br />
islo assim não é vida ; parece-me mais<br />
um vau<strong>de</strong>ville <strong>de</strong> Labiche I<br />
— Com uma differença única, é que<br />
eu não estou na platéa, estou no palco,<br />
e que as replicas que elle me dá, não<br />
me fazem sorrir.<br />
— Então é tolo ?<br />
— Ora essa I eslá tal qual tu o conheceste<br />
no collegio, com quinze annos<br />
<strong>de</strong> província a mais e um gran<strong>de</strong> ventre.<br />
— O que dizes, gran<strong>de</strong> ventre? Então<br />
e a doença ?<br />
— Não é nada, não vale uma cô<strong>de</strong>a.<br />
Uma sombra <strong>de</strong> dyspepsia proveniente <strong>de</strong><br />
quatro lustros <strong>de</strong> preguiça chronica, <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> comezaina quotidiana e <strong>de</strong> uma<br />
inundação <strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>aux. E' um caso<br />
muito interessante, não achas ?<br />
— Dum interesse palpitante. Tão<br />
palpitante, que eu no teu logar, recearia<br />
muito uma lesão <strong>de</strong> coração... Melte-o<br />
num wagon com trinta caixotes <strong>de</strong> agua<br />
<strong>de</strong> Vichy!<br />
— E' impossível. O miserável está<br />
agarrado a Paris como uma carraça. Diverle-se<br />
que é um regalo. Já cá não vinha<br />
ha quinze annos e encontrou por<br />
aqui muita novida<strong>de</strong>. Os omnihus puxados<br />
a tres cavallos <strong>de</strong>ixaram-no <strong>de</strong> bocca<br />
aberta. O telepbone encanta-o a lai<br />
ponto que só num dia gastou um dinheirão<br />
para estar a conversar commigo <strong>de</strong><br />
vários pontos <strong>de</strong> Paris. A' vigessima quarta<br />
vez, <strong>de</strong>spedacei os tubos <strong>de</strong>sesperado.<br />
Depois, cinco libras <strong>de</strong> concerto, e muitas<br />
visitas perdidas. A final, ante-hontem,<br />
chegou a vez aos relogios pneumáticos.<br />
Ao principio, não reparara nelles,<br />
suppondo que eram uns relogios como<br />
outros quaesquer. Mas <strong>de</strong>pois, não sei<br />
porque acci<strong>de</strong>nte dando-se um <strong>de</strong>sarranjo<br />
qualquer no horário dos relogios d'este<br />
bairro o meu amigo, que os vê, quer<br />
por força conhecer o mecanismo d'essa<br />
invenção nova. Aqui tens tu, duas horas<br />
<strong>de</strong> explicações. Mas o bom e o bonito<br />
foi quando elle soube que eu tinha um<br />
relogio d'esse systema. Que a agua e o<br />
gaz fossem levados em tubos para os domicílios,<br />
já era admirável. Mas as horas!<br />
Ia alem <strong>de</strong> tudo que imaginar se pô<strong>de</strong>.<br />
Acordou-me a noite passada, ao voltar<br />
para casa, para me fazer essa <strong>de</strong>claração<br />
enthusiastica, e o meu creado, que já<br />
lhe foi ao quarto esta manhã, veio-me<br />
dizer que elle quebrara o tubo do relogio,<br />
provavelmente para ver como funccionava...<br />
Luiz Vernet fez um signal ao seu<br />
amigo para que se callasse, e ficou um<br />
bocado, <strong>de</strong> <strong>de</strong>do no ar, e os beiços a tremerem-lhe<br />
com um irreprimível <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> rir.<br />
— Com os<strong>de</strong>monios! exclamou Vernet<br />
passado algum tempo. Estás salvo I<br />
— O que dizes tu ?<br />
— Digo-te que te livro d'elle num<br />
abrir e fechar os olhos.<br />
(Conclúe).<br />
Joseph Montet.<br />
Pelos vencidos<br />
Subscripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
eom egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 150200<br />
Affonso Costa (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro) 200<br />
Pedro Cardoso (i<strong>de</strong>m) 200<br />
Somma, réis 180600<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.* 88.<br />
EM SURDINA<br />
Em Braga a auctorida<strong>de</strong><br />
farta <strong>de</strong> ouvir martellar<br />
os sinos, lá na cida<strong>de</strong>,<br />
prohibiu tanto tocar.<br />
Se a bimbalhar o sineiro<br />
chamar á bruta os fieis<br />
paga o batuque a dinheiro<br />
<strong>de</strong> S a 20 mil réis.<br />
Se em <strong>Coimbra</strong> o Foz d'Arouce<br />
désse á gente este regalo<br />
não dariam tanto coice...<br />
os sineiros — c'o badalo I<br />
PINTA-ROXA.<br />
• —<br />
Tavares Coutinho<br />
Parte brevemente para o Brazil o<br />
nosso correligionário Tavares Coutinho<br />
que se acha emigrado em Paris, em virtu<strong>de</strong><br />
dos acontecimentos <strong>de</strong> janeiro.<br />
Que os intentos que o levam a partir<br />
para a republica brazileira, sejam coroados<br />
<strong>de</strong> bom exilo.<br />
Ministério hespanhol<br />
Está assim organisado: — presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho, Sagasta; ministro dos negocios<br />
estrangeiros, inarquez <strong>de</strong> la Vega<br />
<strong>de</strong> Armijo; ministro da justiça, Montero;<br />
ministro da guerra, general Lopez Dominguez;<br />
ministro da fazenda, Gamazo;<br />
ministro do reino, Venâncio Gonzalez;<br />
ministro das obras publicas, Moret; ministro<br />
do ultramar, Maura; ministro da<br />
marinha, ainda não se sabe quem será.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
Li-a toda—a carta que o sr. Manoel<br />
José da Costa Soares publicou no Conimbricense—<br />
e ella me explica com vantagem<br />
os motivos e as razões porque vemos<br />
andar na politica tanta alma <strong>de</strong> Deus, a<br />
trabalhar a favor d'esla coisa que nos está<br />
pondo em miséria e a arruinar o paiz.<br />
Só assim se comprehen<strong>de</strong> que haja<br />
gente que gaste o seu tempo e influencia<br />
para a manutenção da <strong>de</strong>pravada politica<br />
que tem sido para Portugal a maior das<br />
calamida<strong>de</strong>s I<br />
O que nos diz o sr. Soares relativamente<br />
á protecção que eslá sendo dispensada,<br />
pela repartição <strong>de</strong> fazenda do<br />
concelho, ao sr. Miguel Braga, que<br />
passa por ter po<strong>de</strong>rosa influencia junto<br />
do sr. Dias Ferreira, o qual faz favór<br />
<strong>de</strong> ser amigo d'elle ha muitos annos, é<br />
altamente escandaloso.<br />
O sr. Soares faz ver ao publico que<br />
paga as suas contribuições, que o sr.<br />
Miguel Braga <strong>de</strong>sapparecera por milagre<br />
da matriz da contribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong><br />
casas, apezar dos informadores e regedor<br />
da freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu arbitrarem<br />
em B0JI000 réis o valor locativo da<br />
sua habitação. Isto em 1891.<br />
E no presente anno egualmente não<br />
figura na respectiva matriz o nome d'esle<br />
felizardo contribuinte, com lampada<br />
na casa da Meca, apezar da anterior<br />
locataria da casa que agora habita ler pago<br />
á fazenda, uns 70$000 réis'<br />
Para um procedimento d'esta or<strong>de</strong>m<br />
da parte dos empregados do estado, que<br />
se fazem passar por cumpridores da lei<br />
e fiscaes conscienciosos dos interesses<br />
da fazenda publica, é claro que veem no<br />
sr. Miguel Braga qualquer cousa que os<br />
ponha a são e salvo d'estes flagrantes<br />
abusos.<br />
Mas ha mais: explica o sr. Soares<br />
que o sr. Braga apesar <strong>de</strong> ha muitos<br />
annos ser agente do banco do Minho,<br />
logrou sempre a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser collectado<br />
como caixeiro <strong>de</strong> balcão — 1)51200<br />
réis; que em 1891, pelos reparos feitos<br />
por contribuintes do mesmo officio, ficara<br />
como agente ou commissionado volante<br />
—13$000 réis; mas que em 1892 o<br />
transformaram em agente in<strong>de</strong>terminado<br />
— pagando 5$000 reis I<br />
É portanto manifesta a protecção dispensada<br />
a e?te contribuinte, o que prova<br />
que o sr. Miguel Braga é trumpho<br />
graúdo neste jogo da politica que tudo<br />
corrompe c avilta.<br />
Tenho estado á espera da resposta,<br />
<strong>de</strong> ver a <strong>de</strong>feza dos accusados, mas alé<br />
ao presente, quarta feira, ainda os prelos<br />
não produziram cousa alguma; logo as<br />
accusações são verda<strong>de</strong>iras, os factos verda<strong>de</strong>iros...<br />
Que fará o governo, o ministro da<br />
fazenda ?<br />
Tola pergunta! Pois se do governo é<br />
presi<strong>de</strong>nte o sr. Dias Ferreira que é também<br />
ministro da fazenda, amigo velho<br />
do sr. Braga e padrinho d'um dos empregados<br />
da repartição <strong>de</strong> fazenda d'este<br />
concelho) !!<br />
Bolas!<br />
*<br />
Noticiaram alguns jornaes <strong>de</strong> Lisboa<br />
que nesta cida<strong>de</strong>, o grupo regenerador,<br />
ia fundar um jornal.<br />
Não consta por cá que os regeneradores<br />
se <strong>de</strong>cidam a pôr na rua a lamparina.<br />
Elles aguardam o futuro advento<br />
do po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo á sua disposição<br />
ficam os conspícuos órgãos governamentaes<br />
que ahi eslão a queimar incenso ao<br />
novo idolo.<br />
O que o vulgo chama pau para toda a<br />
colher.<br />
*<br />
Veiu <strong>de</strong> Lisboa o sr. dr. Ayres <strong>de</strong><br />
Campos, que teve uma importante entrevista<br />
politica com o sr. Dias Ferreira.<br />
Des<strong>de</strong> esse dia o governo annunciara<br />
achar-se habilitado para o pagamento<br />
do coupon <strong>de</strong> janeiro.<br />
E-taes vendo a manobra do pae dos<br />
pobres 1 Também eu.<br />
Muito custa a vida a quem na politiquice<br />
<strong>de</strong>seja figurar.<br />
*<br />
—Saibas que é justo, justíssimo, que<br />
a fazenda beneficie a Miguel Braga, me<br />
disse um bom amigo.<br />
— Não vejo porque, retorqui.<br />
— Ignorancia apenas. Ouve: só nas<br />
eleições camararias gastou elle para cima<br />
<strong>de</strong> cem mel réis.<br />
— Está direito!<br />
*<br />
A cornucopia das graças continúa a<br />
<strong>de</strong>spejar. Ha dias sahiu o tilulo <strong>de</strong> marquez<br />
da Nora a um bisbórria qualquer.<br />
Para <strong>Coimbra</strong> — zero. E por cá lambem<br />
ha bisbórrias.<br />
Esla teimosia do governo é assás<br />
mephitica e quiçá ingratatona.<br />
Cebo!<br />
Magriço.<br />
Contra os actos<br />
do governo<br />
Beuniram em Lisboa os vereadores<br />
effeclivos e substitutos em numero <strong>de</strong><br />
36, para <strong>de</strong>finirem a sua altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ante<br />
das medidas do governo, que tiram aos<br />
municípios attribuiçôes que sempre tiveram.<br />
As resoluções tomadas foram votadas<br />
por unanimida<strong>de</strong>, facto que significa o<br />
accordo em que estão todos os vereadores<br />
para a <strong>de</strong>feza das franquias municipaes.<br />
Os vereadores da capital votaram o<br />
seguinte:<br />
«1.° Propor a nomeação d'uma commissão<br />
para elaborar uma representação<br />
contra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, dirigida<br />
ao chefe do Estado, que será apresentada<br />
por toda a camara municipal<br />
(vereadores effeclivos e substitutos).<br />
2.° No caso <strong>de</strong> não ser attendida a<br />
reclamaçao, lavrar-se-ha um protesto<br />
energico na próxima sessão da camara<br />
no dia 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, que ficará exarado<br />
na acta, abandonando em seguida<br />
todos os vereadores os seus respectivos<br />
logares.»<br />
A representação já foi entregue ao<br />
rei que não <strong>de</strong>u resposta <strong>de</strong>cisiva como<br />
é <strong>de</strong> costume.<br />
# A camara municipal <strong>de</strong> Santarém<br />
vae também representar contra o <strong>de</strong>creto<br />
que lhe cerceia as prerogalivas, relirando-lhe<br />
a interferencia e administração<br />
das suas obras.<br />
Homenagem a Pasteur<br />
A secção <strong>de</strong> medicina e <strong>de</strong> cirurgiã<br />
do inslituto francez, em Paris, composta<br />
<strong>de</strong> Bouchard, Guyon, Charcot Brown-<br />
Sequard e outros, tomou a iniciativa <strong>de</strong><br />
uma subscripção que tem por fim offerlar<br />
a Pasteur, no dia 27 d'esle mez, dia<br />
em que elle completa 70 annos, uma<br />
medalha <strong>de</strong> ouro, tendo <strong>de</strong> um lado o<br />
retrato do sábio francez e do outro a<br />
seguinte inscripção :<br />
A Pasteur, no dia do seu 70.° anniversario<br />
nalulicio, a sciencia e a humanida<strong>de</strong><br />
reconhecidas — 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1892.
AN3ÍO í — HT.® IS © HDFJBNiOR BO POVO 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Policia correccional<br />
Já foi intimado novamente para ser<br />
julgado em audiência <strong>de</strong> policia correccional,<br />
no dia 7 do proximo janeiro, o<br />
nosso administrador, sr. Antonio Augusto<br />
dos Santos, accusado <strong>de</strong> dar vivas na<br />
occasião em que fôra arbitrariamente<br />
preso o sr. dr. Fernando Martins <strong>de</strong><br />
Carvalho, que <strong>de</strong>verá respon<strong>de</strong>r também<br />
no mesmo dia.<br />
Vê-se que as justiças d'el-rei não<br />
esquecem os criminosos que protestam<br />
contra os actos arbitrarios <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>spóticas, se bem que <strong>de</strong>scura a<br />
punição <strong>de</strong> criminosos natos—os gran<strong>de</strong>s<br />
ladrões da fazenda publica!<br />
«Crystaes»<br />
Por ler sabido bastante iucorrecta a<br />
poesia <strong>de</strong> .Hugo Diniz que publicámos no<br />
numero anterior, intitulada—Ao balcão <strong>de</strong><br />
flores,—publicamol-a hoje <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>vidamente<br />
rectificada.<br />
Defeza<br />
É <strong>de</strong>fensor do sr. Joaquim Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho, no processo <strong>de</strong> imprensa, o<br />
illustrado lente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito,<br />
sr. dr. Manoel d'Oliveira Chaves e Castro.<br />
Ha muito que este dislincto jurisconsulto<br />
não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> em causa-crime, fazendo-o<br />
agora por consi<strong>de</strong>ração e amiza<strong>de</strong><br />
para com o digno redactor do Conimbricense.<br />
A junta <strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholonieu<br />
Como dissémos a junta <strong>de</strong> parochia<br />
<strong>de</strong>liberou vestii algumas creanças que<br />
frequentam as suas aulas <strong>de</strong> instrucção<br />
primaria, dando-lhe um fato completo e<br />
calçado, que será entregue aos alumnos<br />
no dia 1.° <strong>de</strong> janeiro.<br />
Também no fim d'este mez se <strong>de</strong>vem<br />
concluir as obras da torre e assentamento<br />
do novo relogio<br />
D'esta forma termina a junta a sua<br />
gerencia on<strong>de</strong> prestou relevantes serviços<br />
á instrucção popular.<br />
Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Publicámos hoje o programma da<br />
corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, promovida por<br />
esta agremiação, que ha <strong>de</strong> realisar-se<br />
no trio <strong>de</strong> estradas proximo da Escola<br />
Central <strong>de</strong> Agricultura, em S. Martinho<br />
do Bispo, generosamente cedidas pelo<br />
director d'a"quefle estabelecimento.<br />
As corridas são quatro:<br />
1. a corrida — Velocida<strong>de</strong> — Duas<br />
voltas <strong>de</strong> 5:000 metros.<br />
2. a corrida — Resislencia — Será<br />
vencedor o que dér maior numero <strong>de</strong><br />
voltas durante 30 minutos.<br />
3. a corrida— Negativa—100 metros.<br />
4. a corrida — Consolação — Duas<br />
voltas <strong>de</strong> 5:000 metros, po<strong>de</strong>ndo entrar<br />
nella todos os que não obtiverem premio<br />
nas tres prece<strong>de</strong>ntes.<br />
Na secretaria do Gymnasio estão patentes<br />
as condições da corrida e a inscripção,<br />
até sexta-feira ás 7 horas da<br />
noile.<br />
Entre os velocipedistas couinibrtcenses<br />
é gran<strong>de</strong> o enthusiasmo, esperandose<br />
por isso muita concorrência.<br />
Offerecem prémios: o Gymnasio, o<br />
seu presi<strong>de</strong>nte, sr. dr. Eduardo Vieira,<br />
um grupo <strong>de</strong> socios; e os agentes <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
nesta cida<strong>de</strong>, srs. Antonio José<br />
Alves e Antonio S. <strong>de</strong> Carvalho.<br />
Diz-se que um grupo <strong>de</strong> senhoras<br />
lambem concorrem com um premio para<br />
estas corridas.<br />
Está confiado o ensino <strong>de</strong> esgrima<br />
neste Gymnasio ao mestre d'armas, sr.<br />
José Ferreira Lopes, illustrado oflicial<br />
do 23.<br />
Também nos consta que se vae abrir<br />
uma secção <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> pau, dirigida por<br />
um hábil jogador do Minho, ha pouco<br />
resi<strong>de</strong>nte nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Telegramma <strong>de</strong>tido<br />
Foi hontem participado ao correspon<strong>de</strong>nte<br />
do Século, nesta cida<strong>de</strong>, que o telegramma<br />
enviado para aquelle jornal<br />
referindo-se ao processo do redactor do<br />
Conimbricense ficara sustado em virtu<strong>de</strong><br />
do expresso na lei.<br />
Parece que o motivo que <strong>de</strong>ra origem<br />
a essa <strong>de</strong>tenção fôra a transcripção<br />
d'um periodo do artigo do sr. Joaquim<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, em que este jorna-<br />
lista compara a perseguição á imprensa<br />
com a tolerancia e a impunida<strong>de</strong>.dôs ladrões<br />
dos cofres públicos e esbanjadores<br />
da fazenda publica!<br />
Bem se vé que o reinado do Zé Dias<br />
é <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>. E o caso é que houve<br />
ingénuos que o acreditaram. O <strong>de</strong>sengano<br />
também não se fez esperar muilo.<br />
A batota<br />
O nosso collega do Commercio <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> abriu campanha contra as casas<br />
<strong>de</strong> batota, estabelecidas nesta cida<strong>de</strong>, e<br />
implora provi<strong>de</strong>ncias do sr. governador<br />
civil para a extineção d'esses antros.<br />
Para que, não se suscitem cjuvidas sobre<br />
a veracida<strong>de</strong> da sua existência, o nosso<br />
collega aponta quatro que conhece no<br />
bairro-allo: rua dos Estudos, n.° 1 ; rua<br />
<strong>de</strong> Sá <strong>de</strong> Miranda* n.° 22 ; largo da Feira,<br />
n.° 8 ; travessa da rua do Norte<br />
n.° 4.<br />
O collega tem toda a razão, tem<br />
mesmo toda a justiça; mas, as auctorida<strong>de</strong>s<br />
sabem <strong>de</strong> mais da existencia d'esses<br />
antros <strong>de</strong> dissipação e, ou por negligencia<br />
ou por comprazer para_ com os seus<br />
proprietários, não se apressam a fechal-os.<br />
Demais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> qué em plena capital,<br />
sob o consulado do sr. Marianno <strong>de</strong> Carvalho,<br />
a bãtôta foi iSgalisada, não nos<br />
pô<strong>de</strong> 'suípreheníler epie pelo resto do<br />
paiz acouteça o mesmo.<br />
No entanto, por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> officio<br />
acompanhamos o collega nos seus protestos,<br />
exigindo provi<strong>de</strong>ncias efficazes e<br />
promptas, se bem que nos convencemos<br />
<strong>de</strong> que a campanha encetada será iufruclifera.<br />
Antonio Maria Pimenta<br />
Pela nova reforma dos correios e<br />
telegraphos lícou chefe do serviço telegraphico<br />
d'este districto este digno funcionário,<br />
que antes era o director da extincta<br />
repartição.<br />
Companhia Zarzuella<br />
É hoje o segundo espectáculo dado<br />
por esta companhia, na sua passagem<br />
para a capital.<br />
Representou-se hontém o Cámpanone,<br />
subindo hoje á scena a conhecida zarzuella—Barberillo<br />
<strong>de</strong> lavapiés—que tem<br />
musica lindíssima.<br />
Or<strong>de</strong>ns geraes<br />
Conce<strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns geraes no proximo<br />
sabbado, 17 do corrente, o sr. bispo<br />
con<strong>de</strong>.<br />
Começaram já na egreja do seminário<br />
os respectivos exercícios espirituaes.<br />
Util publicação<br />
A Associação dos distribuidores e<br />
guarda lios telegrapho postaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
acaba <strong>de</strong> publicar o Decreto <strong>de</strong> 28<br />
<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, o qual regula os<br />
direitos e obrigações das associações <strong>de</strong><br />
soccorros mutuos.<br />
Como se vê o presente folheto é <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> vantagem para os corpars gerentes<br />
<strong>de</strong> todas as associações d'esta or<strong>de</strong>m,<br />
por isso que lendo <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r á<br />
reforma dos estatutos, tem <strong>de</strong> ser feito<br />
esse trabalho em face,das expressas <strong>de</strong>terminações<br />
do <strong>de</strong>creto.<br />
Ò seu custo é baratíssimo—SOVéis—<br />
e o producto da venda reverte em beuelicio<br />
do cofre da Associação dos distribuidores<br />
e guarda lios, por conta <strong>de</strong> quem<br />
correram as <strong>de</strong>spezas d'esta publicação<br />
que veio preencher uma gran<strong>de</strong> falta e<br />
elucidar os socios sobre assumpto tão<br />
melindroso.<br />
Cumpre-nos agra<strong>de</strong>cer o exemplar que<br />
nos enviaram.<br />
Siiffragios<br />
Ámanhã, ás 11 horas, celebra-se missa<br />
na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, mandada<br />
resar pela família do fallecido conselheiro<br />
sr. Antouio Luiz <strong>de</strong> Sousa Henriques<br />
Secco.<br />
Nomeação<br />
O sr. Augusto José Gonçalves Fino,<br />
antigo empregado dos correios d'esta<br />
cida<strong>de</strong>, foi collocado, pela nova reforma<br />
do serviço dos correios, no logar <strong>de</strong> chefe<br />
da estação <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Os nossos parabéns.<br />
Gatunos<br />
O pobre Manoel Ribeiro viajava em<br />
comboio, em direcção a Lisboa, fazendo-lhe<br />
companhia Gaspar Pereira, Luiz<br />
Florêncio, e José Raymuudo, o llheu.<br />
Ao sairem da Pampilhosa Manoel Ribeiro<br />
achou-se roubado: a sua carteira<br />
e uns 20$000 réis que trazia, <strong>de</strong>sappareceram.<br />
Chegado a <strong>Coimbra</strong> contou o Ribeiro<br />
as suas maena^ 1 á policia que pren<strong>de</strong>u os<br />
meliantes na estação velha, conduzindo-os<br />
á esquadra.<br />
Não se lhes encontrou nada que os<br />
aceusasse e interrogados apenas <strong>de</strong>clararam<br />
qué a carteira fora roubada na estação<br />
da Pampilhosa pelo Illieu.<br />
Por este fallar dos meliantes, que parece<br />
fazem causa commum com o llheu,<br />
a policia co.nserva-os presos proce<strong>de</strong>ndo<br />
a averiguações,<br />
E o pobre Manoel Ribeiro ha <strong>de</strong>-se<br />
conformar, porque o seu dinheirinho não<br />
torna elle a ver.<br />
Egrejas a concurso<br />
Estão a concurso as egrejas parochiaes<br />
<strong>de</strong> Santa Maria Magdalena <strong>de</strong> Agadão.<br />
concelho d'Agueda, e <strong>de</strong> Santo Isidoro do<br />
Eixo, concelho <strong>de</strong> Aveiro, pertencentes<br />
ao bispado <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
De luto<br />
Pelo fallecimento <strong>de</strong> sua mne estão<br />
<strong>de</strong> luto os acreditados commerciantes<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, os srs. Francisco Vieira<br />
<strong>de</strong> Carvalho e Antonio Vieira <strong>de</strong> Carvalho.<br />
Os nossos pezames.<br />
Companhia Singer<br />
Devido á amabilida<strong>de</strong> do sr. Justiniano<br />
da Fonseca, gerente d'esía companhia<br />
em <strong>Coimbra</strong>, foi-nos offerecido um exptendido<br />
chromo-lythqgraphico, dando em<br />
grupos os costumes inais pittofescos <strong>de</strong><br />
muitas nacionalida<strong>de</strong>s, véndo-sé em todas<br />
o usó das differentes machina <strong>de</strong> costura<br />
— Singer.<br />
É um reclame pomposo e digno <strong>de</strong><br />
figurar como .quadro <strong>de</strong> apreço.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos a olferta.<br />
VJIXI l l l J i J l l i U<br />
Queixa á policia<br />
- Manoel Carvalho, <strong>de</strong> S. Silvestre,<br />
queixou-se á policia que na noite <strong>de</strong> 4<br />
pára 5 do corrente, Antonio Simões Calçato<br />
e Manoel Ferreira Laracha, do mesmo<br />
logar, lhe haviam subtníhido trés<br />
gilliubas da sua propriedâ<strong>de</strong>, indo cosinhal-ãs<br />
<strong>de</strong>pois para casa do Laracha.<br />
Parte para juizo, on<strong>de</strong> dirèo.ao Laracha,<br />
com a iei á vista, que um homem<br />
por ser Laracha não pô<strong>de</strong> gosar das regalias<br />
da velha raposa. Saem-lhe caras as<br />
gallinhaA-^^—«-V-^Xf-t. X l v .<br />
Rectifícação<br />
Pe<strong>de</strong>-nos o sr. Manoel Couto, em<br />
carta particular, 'pára rectificarmos as<br />
referencias que fizemos á sua pessoa ao<br />
noticiarmos a manifestação ao extincto<br />
republicano Gil Carneiro.<br />
Por um jornal <strong>de</strong> Lisboa formulámos<br />
essa noticia na qual se dizia que o sr.<br />
Coútô fallára no cemiterio em nome do<br />
grupo anarchista e que representava a<br />
Revolta. Pela sua carta vemos que este<br />
cidadão não representára nas homenagens<br />
fúnebres a Gil Carneiro nenhuma collectivida<strong>de</strong>.<br />
Capitão Leitão<br />
Está gravemente enfermo, em Paris,<br />
este nosso correligionário, chefe militar<br />
da malograda revolta <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />
Que ém breve se restabeleça.<br />
Silva Pinto<br />
Felizmente está um pouco melhor o<br />
illustre critico sr. Silva Pinto redactor<br />
do nosso collega a Folha do Povo. Que<br />
em breve o vejamos completamente restalielecido.<br />
"**"""*"<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Figueira, 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
O dia 1.° <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, anniversario<br />
da restauração <strong>de</strong> 1640, passou aqui sem<br />
a menor <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> regosijo.<br />
— A corporação dos Bombeiros Voluntários,<br />
festela no dia 19 do corrente<br />
o 10.° anniversario da sua fundação,<br />
naverá alvorada pela philarmonica 10<br />
d'Agosto, exercício na praça do Commercio,<br />
á tar<strong>de</strong> sessão solemne, á noite illuminação<br />
na fachada da casa da asseciação,<br />
marcha aux flambeaux, etc., etc.<br />
Dos socios fundadores só resta o<br />
actual coinmandante, sr. José Affonso da<br />
Rocha e Silva, que tem sido incansavel<br />
nos progressos <strong>de</strong> tão humanitaria quão<br />
sympathica aggremiação, pelo que é di-<br />
gno dos mais justos encomios. O festejo<br />
é feito por subscripção particular.<br />
— Uma troupe <strong>de</strong> atiiadores dramáticos,<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, anda em ensaios <strong>de</strong><br />
algumas comedias no theatro Principe<br />
I). Carlos, pa-ra um espectáculo que tencionam<br />
realisar pelo Natal Bem empregadas<br />
horas d'ocio, que ten<strong>de</strong>m sempre<br />
á instrucção, e que vêm por vezes attenuar<br />
a semsaboria dos aborrecidos mezes<br />
do tristonho inverno.<br />
—
AMIMO I — N.° 13 O BEFEIHdR BO POTO 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 18®8<br />
THEATRO D. LUIZ<br />
Sabbado, 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
Recita em beneficio<br />
<strong>de</strong> Joaé Alaria d'Azevedo<br />
Em que tomam parte por especial<br />
obsequio os ex. ra " s srs. Luiz da Gama,<br />
Luiz Nogueira, Pinto Ereio, Samuel Pessoa,<br />
Taveira, Ribeiro, Macedo, Paes e<br />
F. Lucas, e as ex. mas sr. as D. Maria da<br />
Luz Yelloso e D. Carlota Velloso.<br />
PROGRAMMA<br />
Depois dc velhos... gaiteiros.<br />
Comedia em um acto, pelos ex." 10 '<br />
srs. Luiz Nogueira, F. Lucas, Pinto<br />
Ereio e D. Luz Velloso.<br />
Os Milagres. Cançoneta pelo ex. m0<br />
sr. Luiz da Gama.<br />
OTercetto musical pelos ex. mos srs.<br />
Ribeiro Alves, Francisco Macedo e<br />
Augusto Paes.<br />
Assim... Assim. Cançoneta pelo<br />
ex. mo sr. Samuel Pessoa.<br />
A eabelleira <strong>de</strong> minha mulher.<br />
Comedia em um acto pela ex. mas sr. as<br />
D. Carlota Velloso, D. Luz Yelloso,<br />
e pelos ex. mos srs. Pinto Ereio, Taveira,<br />
F. Lucas e N. N.<br />
PREÇOS<br />
Camarotes <strong>de</strong> 1.* or<strong>de</strong>m e Frizas<br />
2/000; Camarotes <strong>de</strong> 2. a or<strong>de</strong>m 1/500 ;<br />
Ca<strong>de</strong>iros SOO; Superior 300 ; Varandas<br />
150 réis.<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
i S f f l i i i í<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original atlemão<br />
POR<br />
f. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J, mim 11 SAMPAIO (BBWO)<br />
Edição completa por um corpo da<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />
Vasconcellos e dos ex. ra ° 8 srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna^e<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
BE GRAÇA<br />
A RIR — E este o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves —Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 80 réis.<br />
Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> as-<br />
(ignante.<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha 30 réis<br />
Repetições 20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50
Sejamos humanos<br />
A penna sempre vigorosa <strong>de</strong> João<br />
Chagas, á qual nem a mais tenaz<br />
perseguição, nem os maiores soffrimentos<br />
physicos e moraes teem tirado<br />
o brilhante colorido ou quebrantado<br />
a sua força vehemente,<br />
dá-nos do ultramar, do logar do seu<br />
penoso exilio, do lobrego cárcere em<br />
que o enjaularam como um bandido<br />
da peior especie e para quem não po<strong>de</strong><br />
haver contemplações, noticias que<br />
nos horrorisam e que <strong>de</strong>vem levantar<br />
uma indignação fremente em todo o<br />
portuguez, que ainda hoje preza o<br />
borri nome <strong>de</strong> Portugal.<br />
Ao lermos a <strong>de</strong>scripção que nos<br />
faz João Chagas das infectas prisões<br />
on<strong>de</strong> no ultramar se amontoam os<br />
con<strong>de</strong>mnados, dos hediondos castigos<br />
que alli lhes infligem pelas mais leves<br />
faltas, da perseguição feroz que alli<br />
se move a homens como se não move<br />
a feras, e que neste jornal teem sido<br />
transcriptas, levantam-se em nosso<br />
espirito justificadíssimas duvidas—se<br />
as auctorida<strong>de</strong>s sanguinarias que alli<br />
campeiam, ostentando a cada passo<br />
o seu rancor e o seu fel, são representantes<br />
d'uma nação civilisada, ou<br />
se, pelo contrario, são auctorida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>legadas <strong>de</strong> feroz potentado selvagem,<br />
com longo tirocínio nas atrocida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Dahomey; se as i<strong>de</strong>ias civilisadoras<br />
que apregoamos são reaes,<br />
se atroz mentira; se os sentimentos<br />
humanitários <strong>de</strong> que nos orgulhamos<br />
são verda<strong>de</strong>iros, ou se teem sido uma<br />
comedia infame as nossas indignações<br />
pelos sacrifícios humanos do<br />
Dahomey ou pelo trafico da escravatura!<br />
Ou valerão menos aos olhos<br />
dos nossos governos, d'aquelles que<br />
permittem em possessões nossas<br />
atrocida<strong>de</strong>s taes, os portuguezes con<strong>de</strong>mnados<br />
pelos seus crimes, e que<br />
<strong>de</strong>vem estar sob a protecção da lei<br />
e da justiça, a quem foram entregues,<br />
do que os • selvagens que nos não<br />
E<br />
>ertencem, que não faliam a nossa<br />
ingua, que não se importam com as<br />
nossas leis, que não respeitam a nossa<br />
auctorida<strong>de</strong>, e que nem sequer<br />
conhecem o nosso nome ?<br />
Se náo valem mais, <strong>de</strong> modo nenhum<br />
se po<strong>de</strong> admittir que valham<br />
menos — perante a humanida<strong>de</strong> somos<br />
todos eguaes; e assim, é d'uma<br />
cruel <strong>de</strong>shumanida<strong>de</strong> que se esteja<br />
aggravando a <strong>de</strong>sgraçada situação <strong>de</strong><br />
irmãos, nossos sujeitando-os atrozmente<br />
a castigos cruéis, barbaros,<br />
illegaes e muito mais atrozes do que<br />
as penas que nos estranhos tanto nos<br />
teem indignado.<br />
Por isso é indispensável que,<br />
para respeito e consi<strong>de</strong>ração do nosso<br />
nome, para consagração da nossa<br />
justiça e para prova da nossa humanida<strong>de</strong>,<br />
não permittamos em território<br />
nosso as barbarida<strong>de</strong>s que alli se<br />
praticam, que nos levantemos indignados<br />
contra as prepotências vergonhosas<br />
das auctorida<strong>de</strong>s que indignamente<br />
por lá nos representam-, e<br />
se os nossos governos, no seu mesquinho<br />
cuidado <strong>de</strong> politica caseira e<br />
pequenina, se não lembram da hedion<strong>de</strong>z<br />
dos processos que nas nossas<br />
províncias ultramarinas crescem<br />
e se expan<strong>de</strong>m, para obrigarem a ser<br />
humanos os indignos que os empregam,<br />
e que mais parecem feras do<br />
que homens, levante-se na imprensa,<br />
que sempre tem combatido a prepotência<br />
e o <strong>de</strong>spotismo, um brado <strong>de</strong><br />
indignação tão alto, que se repercuta<br />
em todos aquelles aon<strong>de</strong> vibre ainda<br />
um principio <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>; ergam<br />
todos os homens <strong>de</strong> coração um tão<br />
vehemente protesto contra aquellas<br />
cruelda<strong>de</strong>s, que obrigue a dirigir-se<br />
para estes factos vergonhosos a attenção.<br />
dos que teem por obrigação<br />
cohibil-os; e teremos mitigado muito<br />
soffrimento atroz, muito martyrio<br />
cruento, evitando também muita injustiça<br />
cruel.<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
Mostraremos assim, que não são<br />
postiços os nossos sentimentos humanitários,<br />
que não são fingidas as<br />
nossas indignações contra as selvagerias<br />
dos barbaros, e cumpriremos<br />
um grandíssimo <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />
respeitando a tristíssima situação<br />
dos con<strong>de</strong>mnados.<br />
O terror<br />
Franco Ascot.<br />
0 administrador do concelho <strong>de</strong> Portalegre<br />
prohihiu que se representasse alli<br />
o drama 0 Filho da Republica, e que se<br />
tocasse a Marselheza.<br />
Decididamente este administrador está<br />
a pedir um baronato.<br />
A eterna questão<br />
Dizem os jornaes inglezes que o <strong>de</strong>saccordo<br />
entre o commissario portuguez<br />
e o <strong>de</strong>legado hrilannico na <strong>de</strong>limitação<br />
das possessões moçambicanas, resulta da<br />
politica <strong>de</strong> Cecil Rho<strong>de</strong>s.<br />
0 Financial Times, <strong>de</strong> 9 do corrente,<br />
discutindo este assumpto, classifica <strong>de</strong><br />
grave erro politico ir alienar mais uma<br />
vez as sympathias <strong>de</strong> Portugal só com o<br />
fim <strong>de</strong> agradar a Cecil Rho<strong>de</strong>s, e lembra<br />
que o melhor meio <strong>de</strong> «sahir d'essa<br />
dificulda<strong>de</strong> seria a nomeação <strong>de</strong> um terceiro<br />
commissario por parte <strong>de</strong> uma potencia<br />
neutral, e que leria voto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempate.»<br />
Homenagens<br />
a Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Entre as classes commercial e industrial<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, promove-se a assignatura<br />
d'uma felicitação ao jornalista, sr.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, que é um<br />
protesto bem significativo coutra a lei<br />
das rolhas e contra a politica anti-liberal<br />
<strong>de</strong> José Dias Ferreira.<br />
Este protesto contava hontem mais<br />
<strong>de</strong> 200 assignaturas. Os promotores<br />
d'esta manifestação esperavam entregar<br />
hoje ao sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
este honroso documento, mas sahendo<br />
que muitos cidadão o <strong>de</strong>sejam assignar,<br />
só ámanhã ou <strong>de</strong>pois lh'o entregarão.<br />
Isto prova as sympathias que nesta cida<strong>de</strong><br />
gosa o honrado velho, que a justiça<br />
vae con<strong>de</strong>muar, mercê da apostasia do<br />
celeberrimo patuleia José Dias Ferreira.<br />
A imprensa republicana, especialmente,<br />
tem verberado valentemente este<br />
acontecimento, enaltecendo as qualida<strong>de</strong>s<br />
cívicas dos processados srs. Abílio Roque<br />
<strong>de</strong> Sá Barreto e Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />
que no dia 24 hão <strong>de</strong> ser julgados<br />
no tribunal d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
Numa das ultimas sessões da Liga<br />
Municipal o nosso distincto correligionário<br />
sr. Eugénio da Silveira apresentou<br />
a proposta que abaixo publicamos, em<br />
nome dos jornalistas presentes, prece<strong>de</strong>ndo-a<br />
<strong>de</strong> palavras eloquentes e patrióticas,<br />
altamente honrosas para o <strong>de</strong>cano<br />
dos jornalistas portuguezes, Joaquim Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho.<br />
Eis a proposta:<br />
«Propomos que esta assembleia,<br />
como manifestação <strong>de</strong> respeito á livre<br />
expressão <strong>de</strong> pensamento, saú<strong>de</strong> no <strong>de</strong>cano<br />
da imprensa portugueza, o venerando<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, jornalista<br />
ultimamente chamado ao banco dos<br />
reus—os velhos e gloriosos liberaes que<br />
conquistaram com as armas no campo<br />
da batalha, á custa <strong>de</strong> enormes sacrifícios<br />
e pela força persistente da propaganda,<br />
as regalias publicas e immunida<strong>de</strong>s<br />
locaes.<br />
Lisboa, 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
Feio Terenas—- Albino Sarmento —<br />
Manuel Soares Gue<strong>de</strong>s — Eugénio Silveira—<br />
Lambertini Pinto — J. Julio <strong>de</strong><br />
Azevedo — Carlos Calixto—-Lomelino <strong>de</strong><br />
Freitas — Gue<strong>de</strong>s Quinhones —Azedo<br />
Gneco — João Gonçalves — Domingos<br />
Azevedo — Soares do Nascimento —<br />
Theodoro Ribeiro.<br />
PELOS JORNAES<br />
O Tempo continúa a martellar furiosamente<br />
no sr. José Luciano :<br />
«Embrulhando nos farrapos da ban<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> Passos Manuel as paginas rasgadas<br />
do Programma da Granja e fazendo<br />
<strong>de</strong> toda essa farrapagem uma<br />
trouxa, que atirou pela janella fóra,<br />
como se fosse um embrulho compromettedor,<br />
o chefe <strong>de</strong> partido iniciou<br />
pela intolerância, pelo egoísmo faccioso,<br />
pela corrupção administrativa, pela<br />
imprevidência diplomatica e pelos esbanjamentos<br />
a oltios fechados, o periodo<br />
mais arriscado, mais <strong>de</strong>plorável e mais<br />
funesto da politica portugueza.»<br />
Ainda a procissão vae em meio. Nós<br />
vamos assistindo <strong>de</strong> palanque a este estrebuchar<br />
<strong>de</strong> próceres que vêm emagrecer<br />
a presa — o thesouro.<br />
Acerca do coupon <strong>de</strong> janeiro e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> referir o boato da confirmação <strong>de</strong> que<br />
o governo se achava habilitado a pagal-o,<br />
diz o nosso collega da Folha do Povo:<br />
«Mais se dizia, que taes recursos<br />
foram obtidos pelo papel cambial comprado<br />
no Brazil, e com o pioducto'<strong>de</strong><br />
um emprestimo realisado em Paris sob<br />
garantia <strong>de</strong> certo numero <strong>de</strong> obrigações<br />
dos tabacos e <strong>de</strong> tit ulos da divida externa,<br />
<strong>de</strong> cujos números se guarda tanto segredo<br />
como dos d'aquelles que foram ha<br />
pouco convertidos...<br />
Seria conveniente que o governo<br />
publicasse os números d'estes últimos,<br />
para evitar a continuação dos sérios<br />
boatos que acerca d'aquella operação<br />
correm no vulgo, boatos a que por mais<br />
<strong>de</strong> uma vez nos temos referido, e que,<br />
até ao presente não tiveram o <strong>de</strong>smentido<br />
que todos os amantes da honra<br />
nacional <strong>de</strong>sejariam que se lhes <strong>de</strong>sse.»<br />
Seria conveniente... diz o nosso<br />
collega. Pois seria, seria ; mas espere<br />
por isso. Por mais que se berre parece<br />
que a inscripção do Dante tem alli sua<br />
proprieda<strong>de</strong>.<br />
O segredo é a alma do negocio.<br />
A proposito do confliclo entre os<br />
municípios e o governo, sae-se com isto<br />
o sr. Pinheiro Chagas no Correio da<br />
Manhã :<br />
«Este <strong>de</strong>sabamento comtudo vem <strong>de</strong><br />
longe. Os municípios ficaram feridos <strong>de</strong><br />
morte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que o illustre<br />
chefe do partido progressista confessou<br />
sem rebuço, n'uin relatorio celebre, que<br />
o gabinete, para governar, precisam <strong>de</strong><br />
ter camaras suas, e, corno o prazo <strong>de</strong><br />
duração das camaras municipaes não<br />
terrniuava antes das eleições politicas,<br />
era indispensável, dizia elle, encontrar<br />
um meio <strong>de</strong> as dissolver para que entrassem<br />
elementos do partido que estava no<br />
po<strong>de</strong>r.»<br />
Isto é o que se chama resposta á<br />
letra, por que mestre José Luciano e a<br />
sua gente andam agora numa roda viva<br />
em <strong>de</strong>feza das regalias municipaes.<br />
Quem os conhecer...<br />
Da Reforma :<br />
*<br />
«Os jornaes republicanos, que até<br />
ha pouco afflrmavam que o coupon não<br />
seria pago, perguntam agora como foi<br />
que O governo pou<strong>de</strong> pagal-o?<br />
«Com libras, é claro.»<br />
Diz a mal a Reforma ou não sabe o<br />
que diz.<br />
Porque o que os jornaes republicanos<br />
perguntam é como foi que o governo pou<strong>de</strong><br />
pagal-o e não com que foi que elle o<br />
pagou. E é ao segundo caso que a Reforma<br />
respon<strong>de</strong> e não ao primeiro. Isto<br />
é: pergunta direito mas respon<strong>de</strong> torto.<br />
í lim ici tféiis i*ioT*iat»< kJ^Mctnoi obiit<br />
Beplicando ao convite feito por varias<br />
gazelas ao partido republicano para se <strong>de</strong>sviar<br />
dos processos <strong>de</strong> propaganda que vae<br />
seguindo e abondonar-se ás papagueações<br />
poéticas <strong>de</strong> Emilio Castelar, escreve a<br />
Batalha, nosso presado collega da capital:<br />
«Mas as coisas do nosso paiz seguem<br />
seu curso, e o partido republicano <strong>de</strong>ve<br />
saber ler por alta nas amabilida<strong>de</strong>s dos<br />
jornaes conservadores. Por nós, limitar-'<br />
nos-hetnos á <strong>de</strong>fesa, e á contemplação<br />
dos astros em noites claras. Se no- falassem<br />
ein <strong>de</strong>sarmamento preparar-noshiamjs<br />
para o ataque; se nos namorassem<br />
com um governo que trouxesse a<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
ban<strong>de</strong>ira da esquerda monarchica estrema<br />
ou centro — não apagaríamos os<br />
murrões da nossa mo<strong>de</strong>sta bateria.<br />
«Viver para a .republica, e morrer<br />
pela patria. Parecerá este um lemma<br />
antigo, e temol-o por um programma<br />
simples e claro.»<br />
Diz muito bem o collega. E' preciso<br />
manter uma intransigência completa com<br />
a turba-multa que lem arrastado as finanças<br />
ao lastimoso estado em que se<br />
acham. Se isoladamente ha pela monarchia<br />
algum <strong>de</strong>silludido <strong>de</strong> consciência<br />
branca que queira vir acoitar-se no nosso<br />
pallio, que venha ; mas nós pactuarmos<br />
cpllectivamente com quaesquer grupos<br />
que procedam do paço, é o que a Batalha<br />
e todo o partido republicano não<br />
po<strong>de</strong> consentir.<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
De João Chagas<br />
30 d'outubro—Calabouço da<br />
Fortaleza <strong>de</strong> S. Miguel.<br />
Estou aqui ha oito dias e com surpreza<br />
minha, reconheço que não me é<br />
licito affirmar que estou aqui ha oito séculos<br />
Porque, se não me sinto bem, não<br />
me sinto todavia contrariado, como succe<strong>de</strong><br />
á maioria dos indivíduos a quem privam<br />
da liberda<strong>de</strong>.<br />
Isto provem <strong>de</strong> ter sido isolado. A<br />
conveniência no cárcere só convém aos<br />
criminosos. Para estes, o isolamento é<br />
terrível. Os homens <strong>de</strong> bem preferem estar<br />
AMNO I — 4L4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 180$<br />
ORYSTAES<br />
Yersos antigos<br />
PÉROLAS D ' A M O R<br />
São tão puras as lagrimas que choras<br />
Como as estrellas — lagrimas do eeu I<br />
— E por isso, creança, as guardo eu<br />
No saerario d'esta alma, on<strong>de</strong> tu moras.<br />
Por isso as guardo neste p«ito meu,<br />
Mulher feita do riso das auroras,<br />
Por isso guardo as lagrimas que choras,<br />
Tão putas como as hgrimas do ceu 1<br />
— E quando vejo dos teus olhos, flôr,<br />
Suspensa alguma pérola d'amor,<br />
Fico a scismar então, horas e horas,<br />
— O' minha pomba i<strong>de</strong>al! O' astro meu I —<br />
Nas puríssimas lagrimas que choras<br />
Tão puras como as lagrimas do eeu 1<br />
' ! Porto.<br />
AUGUSTO DE MESQUITA.<br />
LETTRAS<br />
A fuga do tempo<br />
(CONCLUSÃO)<br />
—;De Galimard?<br />
• -+r[Em pessoa.<br />
— Mas como ?<br />
— Vaes ver... Mas primeiro, preciso<br />
<strong>de</strong> alguns esclarecimentos. Não me<br />
disseste que tem o somno muito pesado<br />
?<br />
i*— Que nem um morto.<br />
— li resona ?<br />
— Como um cantor da Sé?<br />
— Muito bem. Ora vamos lá a saber,<br />
tens pó <strong>de</strong> arroz?<br />
-r4-Está visto que sim, para os meus<br />
doentes.<br />
—:ISÍO não é commigo. O que eu<br />
preciso saber é se o tens ou não tens.<br />
Ora agora, vem cá commigo.<br />
Cinco minutos <strong>de</strong>pois entravam o dr.<br />
Paupardot e Luiz Vernet, nos bicos dos<br />
pes, no quarto <strong>de</strong> Galimard.<br />
©.doutor não mentira. O seu parasita<br />
dormia a somno solto. Deitado <strong>de</strong> costas,<br />
o nariz para o ar, a bocca aberta,<br />
enchia a casa d'uma vibração ininterrupta<br />
<strong>de</strong>; ondas sonoras.<br />
Luiz Vernet, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o contemplar<br />
murmurou:<br />
—lEste traste tem o somno d'um<br />
justo.<br />
Depois àppEoximoUfSe do leito. Foi<br />
então que começou uma operação muito<br />
extravagante.<br />
Com uma borla <strong>de</strong> pó <strong>de</strong> arroz em<br />
punho, que <strong>de</strong> quando era .quando mettta<br />
numa caixa <strong>de</strong> marfim, Luiz Vernet<br />
empoava suecessivamente o cabello e a<br />
barba do dorminhoco. E a pouco e poucor<br />
oom aquella chuva <strong>de</strong> fino pó, o Cabello<br />
e a barba iam tomando uma côr<br />
grisalha que ia branqueando sensivelmente.<br />
Quando Luiz Vernet julgou a tarefa<br />
concluída, me.tieu a caixa na algibeira,<br />
e, batendo no hombro <strong>de</strong> Galimard, gritou-lhe<br />
numa voz perlidaraeute natural:<br />
-—Então, Galimard, como vae isso?<br />
Galimard, acordado <strong>de</strong> repente, assentou-se<br />
na cama. Assim se conservou,<br />
até que Luiz Vernet exclamou, muito espantado<br />
:<br />
—Oh! meu Deus! o que te aconteceu?<br />
Estas completamente branco!<br />
— Branco I repetiu Galimard a tremer.<br />
— Completamente... Vae-te ver ao<br />
espelho.<br />
Galimard, docilmente, saltou da cama<br />
e loi direito ao espelho que estava<br />
em cima do fogão. Assim que lá chegou,<br />
<strong>de</strong>u um pulo como se sollresse uma commoçao<br />
eléctrica;<br />
—Mas o que é isto? perguntava Galimard.<br />
Por <strong>de</strong>traz d'elle, Poupardot e Luiz<br />
Vernet davam todos os indícios d'uma<br />
sincera consternação.<br />
—"Mas a final, perguntou o doutor,<br />
o que foi que aconteceu?<br />
Luiz Vernet chegou-se ao fogão.<br />
-—Ah I exclamou elle <strong>de</strong> súbito, já<br />
sei o que foi, <strong>de</strong>sgraçado, mexeste neste<br />
relogio?...<br />
— Mexi, murmurou Galimard, com<br />
uma voz que mal'se ouvia.<br />
—Naturalmente quebroti-o O que dizia<br />
eu : está o tubo quebrado I<br />
;—Mas o que tem isso? susurrou o<br />
^nfeliz Galimard.<br />
—O que tem ? Tem que és um gran-<br />
<strong>de</strong> impru<strong>de</strong>nte e que toda a noile tem<br />
fugido o tempo no teu quarto I... E<br />
agora...<br />
E agora ?. ..<br />
—Que horas seriam quando isto aconteceu<br />
?<br />
— Não sei bem. Talvez fossem duas<br />
horas.<br />
Luiz Vernet puxou do relogio.<br />
— Duas horas, murmurou elle, e já<br />
são <strong>de</strong>z... Agora, disse Vernet seccamenle,<br />
tens sessenta e sele annos.<br />
Galimard <strong>de</strong>u um berro aterrorísado<br />
e agarrou nas calças, que começou a vestir<br />
com uma rapi<strong>de</strong>z febril.<br />
Tres minutos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>scia a-escada<br />
a correr.<br />
E o dr. Poupardot não o tornou a ver.<br />
Joseph Montei.<br />
Papel <strong>de</strong> impressão<br />
A' commissão revisora das pautas foi<br />
entregue uma representação assignada<br />
pelos administradores dos jornaes diários<br />
<strong>de</strong> Lisboa sobre os direitos do papel <strong>de</strong><br />
impressão. Foram incumbidos da entrega<br />
d'esSe documento os administradores dos<br />
jornaes Diário <strong>de</strong> Noticias, Diário Illustrado,<br />
Correio da Noite, Século e Novida<strong>de</strong>s,<br />
que o secretario e os membros<br />
presentes da commissão receberam com<br />
toda a <strong>de</strong>ferencia.<br />
O Escoamento<br />
Na visita a que ultimamente se proce<strong>de</strong>u<br />
no porto <strong>de</strong> Lisboa ao vapor Cly<strong>de</strong>,<br />
proveniente <strong>de</strong> Vigo, <strong>de</strong>scobriramse<br />
a bordo 80 mancebos portuguezes embarcados<br />
sem documentos legues naquelle<br />
porto, com <strong>de</strong>stino ao Brazil.<br />
Somma e segue.<br />
Pelos vencidos<br />
O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />
satisfação da consciência individual.<br />
Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />
nossos concidadãos emigrados não é o<br />
cumprimento d'uin <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />
dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />
primeiro logar, na actual conjunctura.<br />
Urge que todo o republicano sem<br />
differeneiação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />
e a sua bolsa para auxiliar aquelles<br />
malventurosos amigos que longe da<br />
patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />
Vamos a isto* meus amigos I Cumpramos<br />
este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />
<strong>de</strong> lyrisinos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />
piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />
dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />
fria do nosso critério a sua significação<br />
positiva.<br />
O Diário Illustrado constatava ha<br />
dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />
em Bordéus se alimentavam<br />
com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />
Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />
Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />
eslá abaixo <strong>de</strong> toda a noção dc<br />
humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />
<strong>de</strong> republicanos, dia a dia aííirmando<br />
pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />
aquella gente.<br />
E a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />
mais <strong>de</strong>mocráticas; mas nào é a solidarieda<strong>de</strong><br />
exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />
apenas pelos bicos da penna : é a<br />
solidarieda<strong>de</strong> elfectiva, pratica, traduzida<br />
no mais franco auxilio moral e material.<br />
Amigos! Soccorramos os emigrados !<br />
Subseripção <strong>de</strong> SOO réis men-<br />
saes <strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
coin egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte.... 15(51600<br />
Mattos Areosa (mez <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro)<br />
200<br />
Cassiano A. M. Ribeiro (i<strong>de</strong>m). 200<br />
Somma, réis 16$000<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />
Abilio Roque<br />
«Amigo e sr. — Tenho aqui a sua<br />
carta <strong>de</strong> 11 do corrente, que muito<br />
agra<strong>de</strong>ço.<br />
Sobre o contheúdo da mesma limilome<br />
a .dizer lhe que estou prevenido para<br />
ir no dia 24 sentar-me no banco dos<br />
criminosos!<br />
Podia ter sido fuzilado na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
16 para 17-anno«, quando <strong>de</strong>i principio<br />
á minha lucta pela liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> arma<br />
ao hombro.<br />
Escusavam os phariseus <strong>de</strong> esperar<br />
até aos 76 annos que tenho agora, e que<br />
me fazem mais peso do que naquelle<br />
tempo a espingarda, com os 70 cartuxos<br />
embalados—a fome—a se<strong>de</strong>—e a nu<strong>de</strong>z.<br />
Tudo reunido era nada, comparado<br />
com a gloria <strong>de</strong> vencer os inimigos da<br />
liberda<strong>de</strong>.<br />
Bem empregado tempo, não lhe parece,<br />
meu amigo? I<br />
Tenciono ahi ir na quinta feira, 22<br />
do corrente, se até então obtiver algumas<br />
melhoras, compatíveis com a jornada.<br />
O meu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é melindroso.<br />
De v.<br />
amigo atlento, criado e obrigado,<br />
Quinta dos Silvares em Con<strong>de</strong>ixa, 14<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
Abilio Roque <strong>de</strong> Sá Barreio.<br />
Eis a carta que este sincero <strong>de</strong>mocrata<br />
e velho liberal acaba <strong>de</strong> dirigir ao<br />
sr. .Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, seu<br />
amigo e companheiro no processo <strong>de</strong><br />
imprensa que lhes movem os empregados<br />
da fazenda, e que nós copiamos do<br />
nosso esclarecido collega o Conimbricense.<br />
Nessa carta transparece claramente<br />
o <strong>de</strong>sprezo que o sr. Abilio Roque liga<br />
a toda essa «fila <strong>de</strong> energúmenos, apostados<br />
a perseguirem os honestos e os<br />
honrados, notando-se lambem o vigor do<br />
revolucionário que nos seus tempos expoz<br />
a sua vida e offereceii a robustez da<br />
sua mocida<strong>de</strong> em beneficio d'uma causa<br />
sanla — a conquista das nossas liberda<strong>de</strong>s.<br />
E consciente <strong>de</strong> que cumpriu um<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cidadão livre, estygmatisando<br />
o abuso e a arbitrarieda<strong>de</strong>, ao mesmo<br />
tempo que <strong>de</strong>fendia os seus interesses,<br />
elle irá perante as justiças, não como um<br />
criminoso, mas como uma victima dos<br />
sicários que têm apunhalado infamemente<br />
as nossas liberda<strong>de</strong>s, em proveito dos<br />
ladrões dos cofres da nação, dos esbanjadores<br />
dos dinheiros públicos e <strong>de</strong> todos<br />
os criminosos: marquezes e con<strong>de</strong>s, ministros<br />
e <strong>de</strong>putados que se têm lucupletado<br />
á custa dos sacrifícios do povo.<br />
E assim que se acreditam os governos—<br />
tolerar e proteger os gran<strong>de</strong>s ladrões,<br />
perseguir e punir os cidadãos que<br />
protestarem contra este estado <strong>de</strong> cousas.<br />
Gloria a José Dias Ferreira, o mais<br />
nefando apóstata d'estes tempos 1<br />
Nestorio dos Anjos.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
Que o parlido republicano sabe fazer<br />
justiça e tem mantido as suas tradições<br />
politicas honradamente, mostra-o elle'vindo<br />
agora em <strong>de</strong>feza do venerando jornalista<br />
sr. Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />
que se vê vexado, no ultimo quartel da<br />
vida, pela ominosa lei das rolhas, apezar<br />
<strong>de</strong> lhe ter merecido inteira confiança esse<br />
homem alcunhado <strong>de</strong> liberal que subiu<br />
ao po<strong>de</strong>r para moralisar e salvar o<br />
paiz.<br />
A <strong>de</strong>cepção porque acaba <strong>de</strong> passar<br />
o illustrado redactor do Conimbricense,<br />
que viu nesse homem um cidadão talhado<br />
a honrar a sua patria e a servir a<br />
liberda<strong>de</strong> ein todas as suas manifestações,<br />
<strong>de</strong>ve ter produzido no animo do venerando<br />
jornalista um forte abalo moral<br />
bem traduzido neslas palavras do seu<br />
artigo.<br />
«Nós aohâmo-nos boje<br />
on<strong>de</strong> então ostaratnos; e<br />
talvez nem todos possam<br />
dizer o mesmo.»<br />
E o partido republicano que sabe<br />
honrar as suas tradições, vem collocarse<br />
ao lado do venerando jornalista, nesta<br />
hora dolorosa, como o tem acompanhado<br />
sempre nas suas festas e nas suas alegrias.<br />
E' bom que isto se registe.<br />
*<br />
Correu o boato <strong>de</strong> que o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Foz d'Arouce <strong>de</strong>ixaria a administração<br />
do dislriçto para dar logar a um vulto<br />
politico d'alta importancia na situação<br />
actual.<br />
Que elle foi a Lisboa e veiu na companhia<br />
do pae dos pobres, os jornaes o<br />
disseram; que elle passa por ser o portentoso<br />
Hol<strong>de</strong>ns ,]ue pucha nos cor<strong>de</strong>linhos<br />
da fantochada governamental, também<br />
o affirmam...<br />
O que ainda não ouvimos discutir é<br />
a sua competencia para administrar um<br />
dislriçto !<br />
Lá está aquelle a encolher os hombros<br />
e a fazer caretas.<br />
O' homem olhe que nesta coisa da<br />
politica o que menos vale é o talento!<br />
Por curiosida<strong>de</strong>:<br />
Às eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados custaram<br />
ao partido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> —<br />
30500 réis.<br />
As eleições eamararias—7$200 réis.<br />
Em tanto somma a conta da lythographia<br />
!<br />
Darei um doce aos monarchicos se<br />
apresentarem a lista <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas feitas.<br />
Que sempre havia <strong>de</strong> ser curiosa a verba<br />
do vinho e do bacalhau !<br />
Confessa o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos que<br />
nunca lhe passou pela mente que havia<br />
tanta miséria !<br />
Mas consolou os famintos! Gran<strong>de</strong><br />
alma !<br />
*<br />
Eslá já feito o discurso da corôa—<br />
não é tal da corôa—é o discurso da presidência<br />
aos senadores <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
E' em estylo vernáculo, disseram-me,<br />
enfarinhado com uns pósinhos <strong>de</strong> escola<br />
realista, que lhe ficam a matar.<br />
Ouvi também dizer que esse discurso<br />
tem allusões picarescas aos penetraes<br />
e ao crysol, mas que se resenle muito <strong>de</strong><br />
falta <strong>de</strong> orthographia e <strong>de</strong> grammalica.<br />
Cada um dá o que tem.<br />
*<br />
No seu posto. Dizem-nos que os governamentaesao<br />
saberem da felicitação popular<br />
que alguns commerciantes promovem<br />
em honra do redactor do Conimbricense<br />
apressaram-se a avisar as massas dando<br />
or<strong>de</strong>s para que não se inscrevessem.<br />
-O que tem graça é que muitos dos<br />
que receberam essa or<strong>de</strong> já tinham contribuído<br />
com a sua assignalura julgando<br />
esse acto justiceiro.<br />
Ora quem dá or<strong>de</strong>ns num parlido é<br />
o chefe — o chefe é o sr. dr. Ayres <strong>de</strong><br />
Campos—logo as responsabilida<strong>de</strong>s d'este<br />
facto cabem-lhe todas.<br />
E é sabido como o sr. Martins <strong>de</strong><br />
Carvalho honrou em vida o nome glorioso<br />
do venerando velho João Corrêa<br />
Ayres <strong>de</strong> Campos, e com que sentimento<br />
elle <strong>de</strong>sfolhou sobre o seu cadaver as<br />
rosas da sauda<strong>de</strong>.<br />
Magriço.<br />
Protesto<br />
das camaras municipaes<br />
A camara municipal <strong>de</strong> Lisboa já entregou<br />
a representação ao rei contra o<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, que coarcta<br />
as liberda<strong>de</strong>s do município. Eram 33<br />
vereadores levando todos as suas fachas.<br />
Quando a camara sabia dos paços do<br />
concelho e se dirigiu em trens ao paço<br />
das Necessida<strong>de</strong>s, o povo ein gran<strong>de</strong><br />
numero levantou vivas á camara municipal,<br />
aos vereadores, ao povo <strong>de</strong> Lisboa,<br />
etc.<br />
O rei recebeu a municipalida<strong>de</strong> com<br />
uma toilette pouco própria do acto —sobrecasaca<br />
abotoada, com um ramó <strong>de</strong><br />
violetas na lapella, calçando polainas<br />
brancas.<br />
A resposta que o rei <strong>de</strong>u foi:—Que<br />
a camara podia contar com a sua benevolencia,<br />
e que faria sciente <strong>de</strong>sta representação<br />
o seu governo.<br />
,0 sr. Dias Ferreira estava presente,<br />
e quaudo entraram os vereadores exclamou<br />
: Então tudo isto são vereadores ?<br />
O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ottolini, foi quem<br />
entregou nas mãos do sr. D. Carlos a<br />
representação.<br />
A policia esteve <strong>de</strong> prevenção.<br />
# A camara <strong>de</strong> Setúbal por proposta<br />
do vereador Vidal, approvou, por unanimida<strong>de</strong>,<br />
que se proteste contra os <strong>de</strong>cretos<br />
attentatorios das immunida<strong>de</strong>s munN<br />
cipaes.<br />
# Além dos municípios <strong>de</strong> Lisboa,<br />
Porto e Guimarães, vão reclamar pelas<br />
immunida<strong>de</strong>s municipaes as camaras <strong>de</strong><br />
Estarreja, Ovar, Oliveira <strong>de</strong> Azenieis,<br />
Arouca, Paiva, Oliveira do Bairro, Albergaria,<br />
Vagi s, Anadia, Braga e ainda outras.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
A onda cresce I<br />
Não assisto, ha muito, a manifestação<br />
tão imponente como essa que na ultima<br />
segunda feira, se realisou no theatro<br />
Principe Real.<br />
Comício imponentíssimo: Sete mil<br />
pessoas enchiam o vasto recinto; palpitava<br />
nellas a gran<strong>de</strong> alma popular, vibrante<br />
<strong>de</strong> enthusiasmo, ameaçadora <strong>de</strong><br />
protesto!<br />
O operariado presentiu a morte nas<br />
medidas do governo, adivinhou o completo<br />
aniquillaraento na reforma das pautas<br />
aduaneiras. Correu, então, a chamar<br />
pela vida, impedindo que a nossa industria<br />
tivesse a sorle da nossa politica, das<br />
nossas finanças, da nossa moral.<br />
No gran<strong>de</strong> comicio pozeram-se <strong>de</strong><br />
parte flores <strong>de</strong> rethorica; disse-se muito<br />
porque se faltou sem ro<strong>de</strong>ios. Os trues<br />
d'oratoria diplomatica não se amoldam a<br />
quem sob a blusa, sente pulsar um coração<br />
leal.<br />
E assim explosiu a indignação do<br />
povo, grandiosa, expontanea, imponentíssima<br />
!<br />
A serieda<strong>de</strong> do acto excluiu o expediente<br />
tnonarchico do distúrbio: tudo correu<br />
na melhor or<strong>de</strong>m.<br />
As auctorida<strong>de</strong>s sentiram-se pequenas<br />
dianle da soberania do povo, e a<br />
guarda municipal ficou em quartéis.<br />
A policia fez-se notar, d'esta vez,<br />
pela sua ausência.<br />
Exlranhei não ver o costumado apparato<br />
bellico, que para ser coherente com<br />
a importancia do protesto — <strong>de</strong>veriam<br />
guarnecer-se <strong>de</strong> bayonetas... e até <strong>de</strong><br />
canhões.<br />
Nada d'isso ridicularisou, d'esta vez<br />
o velho processo da monarchia, o que —<br />
se não prova medo garante perda absoluta<br />
d'auctorida<strong>de</strong>... moral!<br />
Todas as classes se achavam reunidas<br />
no salão do lheatro; e todas, sem<br />
discordância, <strong>de</strong>legaram plenos po<strong>de</strong>res<br />
na commissão nomeada pela assembleia<br />
afim <strong>de</strong> entregar uma representação <strong>de</strong><br />
protesto nus mãos do rei.. .<br />
Qft í; iiu,.ii. (JGI! viip {opinai VJ-..<br />
O réi cuida pouco d'industrias, e pensa<br />
<strong>de</strong>masiado em caçadas.<br />
A voz do operário que morre <strong>de</strong> 'fome,<br />
que vé cerceado o seu trabalho por<br />
<strong>de</strong>cretos vexatorios, não lhe faz <strong>de</strong>sviar<br />
a importancia — nem uma linha no tiro<br />
á lebre.<br />
Sua niagesta<strong>de</strong> não treme; <strong>de</strong>sce apenas<br />
do thesouro para as matlas <strong>de</strong> Villa<br />
Viçosa, sem fazer caminho pelos beccos<br />
d'operarios.<br />
A banda <strong>de</strong> generalíssimo não roça<br />
pela blusa do operário.<br />
A canalha eslá a cargo do governo,<br />
que a vexa e lesa a seu modo.<br />
O rei receberá, provavelmente, a<br />
commissão com o costumado sorriso benevolente,<br />
promettendo fazer tudo, e não<br />
fazendo nada.<br />
Pois talvez faça mal I<br />
*<br />
Cresce a onda I<br />
A camara municipal reuniu honlem,<br />
terça, 13, para protestar contra o ultimo<br />
<strong>de</strong>creto governamental.<br />
O sr. Oliveira Monteiro esqueceu-se<br />
do antigo servilismo monarchico e (aliou<br />
em linguagem <strong>de</strong>mocratica.<br />
Para eiles, para os do bando monarchico,<br />
é a <strong>de</strong>mocracia um <strong>de</strong>sabafo ou<br />
uma vingança.<br />
Faliam apenas alevantadamente, lealmente,<br />
quando os da grei lhes mor<strong>de</strong>m.<br />
Triste expediente e péssima consciência<br />
I<br />
Abstrahindo o passado do sr. Monteiro,<br />
gostamos, em verda<strong>de</strong>, da altitu<strong>de</strong><br />
honesta que revestiu o município.<br />
O Porto repelle a affronta do governo;<br />
o protesto explue <strong>de</strong> todos os lábios<br />
con<strong>de</strong>mnando o ministério Dias Ferreira,<br />
que entrou para o gabinete alar<strong>de</strong>ando<br />
moralida<strong>de</strong>s!<br />
A onda cresce l<br />
Fra-Diavolo.<br />
14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro,
AKS O I — 4 4<br />
v Hl, um | |in ••••li,,| •<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Protesto da eamara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Na ultima sessão da c,amara municipal<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, foi resolvido por unanimida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> votos, se lavrasse um protesto<br />
energico contra as medidas centralisadoras<br />
do governo, que vem coarctar<br />
as immunida<strong>de</strong>s municipaes, com a reforma<br />
das obras publicas.<br />
Vae ser enviada a el-rei por este<br />
município uma representação conlra o<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 do corrente, adberindo a<br />
ella muitas camaras d'esle districto.<br />
Também se diz que a nossa camara<br />
vae dirigir um manifesto ao paiz sobre o<br />
mesmo assumpto.<br />
O acto anti liberal do governo está<br />
obtendo no paiz forle opposição, por isso<br />
que elle representa uma prepotencia aos<br />
direitos e regalias municipaes, a instituição<br />
mais <strong>de</strong>mocratica do paiz.<br />
Ainda bem que a camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
não <strong>de</strong>ixa passar semelhante <strong>de</strong>spotismo<br />
sem um protesto vibrante.<br />
Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Bealisam-se hoje as corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
promovidas por esta agremiação,<br />
na escola central <strong>de</strong> agricultura Moraes<br />
Soares.<br />
O programma, que já soffreu alteração<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o termos publicado, é o<br />
seguinte:<br />
1. a corrida—Velocida<strong>de</strong>—1 volta,<br />
2:500 metros.<br />
2. a corrida—Resislencia— 3 voltas,<br />
7:500 metros.<br />
3.* corrida— Negativa—100 melros.<br />
4. a corrida—Consolação — 2 voltas,<br />
5:000 metros.<br />
5. a corrida—Reccord—<strong>de</strong> meia hora.<br />
Para a quinta corrida não ha inscripçáo<br />
nem prémios. Todos os velocipedistas<br />
inscriptos <strong>de</strong>verão comparecer no<br />
local das corridas ás 12 horas da manhã.<br />
Os prémios serão distribuídas no local<br />
das corridas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> findas estas.<br />
A. batota<br />
Prosegue o nosso collega o Commercio<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> na campanha encetada<br />
conlra o jogo, que ahi eslá sendo tolerado<br />
pelas auctorida<strong>de</strong>s, e novamente pe<strong>de</strong><br />
ao sr. governador civil o cumprimento<br />
dos seus <strong>de</strong>veres, mostrando-lhe o preceituado<br />
no. código administrativo.<br />
Numa cousa, porém, foi injusto o<br />
collega : affirmar, que a imprensa local<br />
o uão acompanhava em tão justo pedido,<br />
quando é certo que o Defensor do Povo<br />
acudiu immediatamente ao toque <strong>de</strong> rebate<br />
annunciado pelo collega.<br />
£ se nesta questão não tomamos o<br />
cafor em que o collega se mostra é por<br />
estarmos scientes e conscientes que da<br />
parte das auctorida<strong>de</strong>s exisle <strong>de</strong> ha muito<br />
gran<strong>de</strong> indilferença pelo cumprimento<br />
da lei nesta parte.<br />
Ignorará o collega que altos magnates<br />
frequentam estas casas e muitos d'elles<br />
concorrem com capitaes para a exploração<br />
do jogo? Sendo assim como quer<br />
pois que a auctorida<strong>de</strong> cumpra a lei ?<br />
Ora como vamos em epocha em que a<br />
moralida<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada como tigura <strong>de</strong><br />
rhetorica, as auctorida<strong>de</strong>s fecham os olhos<br />
e se os abrirem será por pouco tempo.<br />
Ha tantos exemplos neste caso!<br />
Injustiças<br />
Na classificação dada aos empregados<br />
das obras publicas, em virtu<strong>de</strong> da<br />
nova reforma, praticarain-se injustiças flagrantíssimas.<br />
A avaliar pelo que se <strong>de</strong>u com o<br />
pessoal empregado nesta cida<strong>de</strong> vemos<br />
que quem não teve padrinho ficou mouro,<br />
porisso que empregados antigos e <strong>de</strong><br />
reconhecido mérito, e^outros com concurso<br />
feito, cuja competência e bem conhecida,<br />
se acham preteridos e bastante<br />
lezados.<br />
Nós lamentamos o facto se bem que<br />
elle não nos espanta, porque neste paiz<br />
é sabido que o mérito affere-se sómente<br />
pelo valor da empenhoca, o que é immoral<br />
e alé infame.<br />
Mas é sabido que os governos e este<br />
systema não nos po<strong>de</strong>m dar outra cousa.<br />
Cemiterio da Concitada<br />
Yae-sé proce<strong>de</strong>r nesle cemiterio á renovação<br />
dos covatos no leirão n.° 6.<br />
Quem preten<strong>de</strong>r remover para sepultura<br />
própria as ossadas alli existentes<br />
<strong>de</strong>ve requerer á camara municipal até ao<br />
dia 26 do corrente.<br />
HKonte-pio Conimbricense<br />
Reúne boje novamente (Ma associação<br />
<strong>de</strong> soccorros mutuos a lim <strong>de</strong> tratar<br />
do assumpto <strong>de</strong> botica, por isso que na<br />
ultima sessão nada ficou resolvido.<br />
Cédulas<br />
Recebeu-se na agencia do banco <strong>de</strong><br />
Portugal d'esta cida<strong>de</strong>, 5:0000000 em<br />
cédulas <strong>de</strong> 100 réis, enviadas pela casa<br />
da Moeda.<br />
Reforma <strong>de</strong> estatutos<br />
•<br />
Para a elaboração do projecto <strong>de</strong> reforma<br />
dos estatutos da imprensa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
foi nomeada uma commissão<br />
composta dos srs:<br />
João Correia dos Santos — José <strong>de</strong><br />
Jesus Simões — José Maria Gouveia—•<br />
A<strong>de</strong>lino Viriato da Costa e Almeida —<br />
José Antonio dos Santos — Adrião Marques—<br />
Antonio Ferraz — João Rodrigues<br />
<strong>de</strong> Deus — Adolpho Maria Ferreira —<br />
Joaquim Monteiro da Silva.<br />
Doutoramento<br />
E' hoje na sala dos capellos que se<br />
effectua a ceremonia do doutoramento do<br />
sr. dr. Antonio Luiz Gomes, que ha dias<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u theses.<br />
Theatro-tirco<br />
Como referimos <strong>de</strong>u na quinta feira a<br />
ultima recita neste theatro a companhia<br />
<strong>de</strong> zarzuella hespanhola superiormente<br />
dirigida por D. Pablo Lopez.<br />
Representou-se El Barberillo <strong>de</strong> Lavapiés<br />
que impresionou o publico agradavelmente<br />
pelos musicas <strong>de</strong> qtfe é ornado.<br />
Sobresaiu a senorita Soriano Palacios<br />
e D. Pablo Lopez que receberam entliusiasticos<br />
applausos, sobretudo no segundo<br />
acto em um duetto maravilhoso que foi<br />
bisado duas vezes,<br />
A assistência era numerosa havendo<br />
em toda ella a nota agradavel <strong>de</strong> que<br />
estava a bel prazer.<br />
AssociaçãU» fúnebre familiar<br />
Alguns indivíduos d'esta cida<strong>de</strong> pensam<br />
em fundar uma associação, com a<br />
mesma organisação das que existem em<br />
Lisboa e Porto e que prestam ao publico<br />
publico valiosos serviços.<br />
A i<strong>de</strong>ia é boa, assim se consiga<br />
que a saibam aproveitar e não a sujeitem<br />
á satisfação <strong>de</strong> caprichos ou a vinganças<br />
pessoaes.<br />
Eseolas agrícolas<br />
Foi <strong>de</strong>terminado: que á escola central<br />
<strong>de</strong> agricultura pratica <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> se<br />
dè o titulo <strong>de</strong> Escola Central <strong>de</strong> Agricultura<br />
Moraes Soares; que a escola elementar<br />
<strong>de</strong> viticultura pratica <strong>de</strong> Torres<br />
Vedras passe a dénomiuar-se Escola <strong>de</strong><br />
viticultura Ferreira Lapa, e que a escola<br />
elementar <strong>de</strong> viticultura pratica da<br />
Bairrada seja Escola <strong>de</strong> viticultura Alexandre<br />
Seabra.<br />
Catalogo d'artes<br />
O sr. bispo-con<strong>de</strong> vae offerecer ao<br />
museu nacional o catalogo dos objectos<br />
<strong>de</strong> ouro existentes no museu da Se.<br />
Escola complementar<br />
Está a concurso a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ensino<br />
primário <strong>de</strong> Poiares, do districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
O or<strong>de</strong>nado é <strong>de</strong> 180/000 réis.<br />
Pagador<br />
No logar <strong>de</strong> pagador das obras publicas<br />
d'este districto foi collocado o sr.<br />
Luiz <strong>de</strong> Borja Duarle Santos.<br />
Exploração do Choupal<br />
Trata o Commercio <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong><br />
Lisboa, d'um assumpto importante para<br />
esta cida<strong>de</strong> qual é o da exploração <strong>de</strong><br />
parte do nosso Choupal, em beneficio da<br />
industria portugueza.<br />
Diz a referida folha que ha cerca <strong>de</strong><br />
onze mezes, um abastado proprietário do<br />
norte do paiz pediu ao governo para lhe<br />
ser concedida a parte do choupal <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> existem mais <strong>de</strong> 2:500<br />
amoreiras, para a cultura do bicho da<br />
sêda.<br />
Esle pedido foi feito, com todos os<br />
documentos necessários para a sua completa<br />
garantia d'exito, sendo cerlo que<br />
era susceptível <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
esta empreza, porque nos terrenos<br />
adjacentes havia meio <strong>de</strong> elevar a plantação<br />
até 600:000 amoreiras, o que<br />
daria larga margem para uma vantajosa<br />
exploração da industria das sêdas em<br />
Portugal.<br />
O DEFENSOR BO POVO 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
Não se sabe porque o pedido tem<br />
sido muito contrariado no ministério das<br />
obras publicas. Primeiro quizeram-se ouvir<br />
varias entida<strong>de</strong>s officiaes e tão longe<br />
foi este excessivo zelo pela legalida<strong>de</strong>,<br />
que alé foi ouvido o director da escola<br />
industrial <strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>lla, que não parece<br />
ter nada que ver com a exploração <strong>de</strong><br />
uma parte do'choupal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. Tolos<br />
os pareceres suscitados foram os mais<br />
favoraveis ao pedido em questão; mas,<br />
apesar d'isso, não ha meio <strong>de</strong> obter para<br />
elle um <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento ou<br />
<strong>de</strong>ferimento, conforme convenha mais aos<br />
interesses do governo. Para este facto<br />
chamamos attenção do sr. ministro das<br />
obras publicas, que <strong>de</strong>certo ignora o que<br />
se passa a este respeito.<br />
Para Roma<br />
O sr. bispo con<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberou subsidiar<br />
dois alumnos do seminário <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
para irem formar-se em Roma nas sagradas<br />
theologias.<br />
Festas do Natal<br />
Como nos mais annos, celebra-se na<br />
Sé Cathedral com magnificência e pompa<br />
as festas do Natal, á qual presidirá o sr.<br />
bispo con<strong>de</strong>, com a assistência do cabido,<br />
clero, professores e alumnos do seminário.<br />
A musica das matinas e missa é do<br />
maestro Carlos Machado, regendo o sr.<br />
padre Eduardo Gomes Freire, prior <strong>de</strong><br />
Santa Clara.<br />
A hydrophobia<br />
São Ião frequentes no nosso paiz os<br />
casos <strong>de</strong> mor<strong>de</strong>duras, feitas por diversos<br />
animaes, mas principalmente por cães,<br />
está tão vulgarisada a terrível moléstia<br />
da raiva, que parece ter tomado ou querer<br />
tomar um caracter epi<strong>de</strong>mico, <strong>de</strong><br />
existencia permanente, com a accentuada<br />
ten<strong>de</strong>ncia para o seu progresso.<br />
Não era assim nos tempos antigos.<br />
Do nosso conhecimento sabe-se apenas<br />
que, haverá oitenta annos, na freguezia<br />
<strong>de</strong> S. Paio, hoje pertencente ao concelho<br />
<strong>de</strong> Taboa, appareceu um lobo <strong>de</strong>rrancado<br />
que mor<strong>de</strong>u <strong>de</strong>zoito pessoas, as quaes,<br />
com excepção <strong>de</strong> duas, morreram, <strong>de</strong>rrancadas,<br />
e num só rafeiro que o acompanhou<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo da lucta terrível<br />
e que ainda salvou muita gente <strong>de</strong> ser<br />
mordida, sendo a final a fera segurada<br />
pela língua, por uma heroina que andava<br />
a curar meadas e que foi viclima, até<br />
que chegaram dois homens que a mataram<br />
com uma bavoneta encavada.<br />
Hoje são poucos os números dos jornaes<br />
em que se não <strong>de</strong>pare com funestas<br />
noticias <strong>de</strong> que uma ou mais pessoas<br />
foram mordid;'rs por cães hydropholros e<br />
<strong>de</strong> que os mordidos foram para Paris<br />
procurar o remedio ao horrível mal e á<br />
suá afflicçào, da família e amigos, no<br />
institulo do sábio Pasteur, a expensas do<br />
Estado, quasi todas.<br />
É pois esle um assumpto da mais<br />
palpitante transcendência em que todo o<br />
governo medianamente interessado pelo<br />
bem estar do seu povo <strong>de</strong>ve tomar uma<br />
iniciativa energica e eflfiçaz.<br />
Dois expedientes teria a tomar; um,<br />
<strong>de</strong> prevenção, outro para a cura e tratamento<br />
dos mordidos, mas até agora não<br />
se <strong>de</strong>u um só passo para se levantar um<br />
instituto egual ao do immortal Pasteur.<br />
Como preventivo <strong>de</strong>veria o governo<br />
central fazer collectar razoavelmente todos<br />
os cães — que são os animaes majs<br />
propensos para a raiva.<br />
Não o fará porque tem outros cuidados<br />
que mais o preoccupam, para a sua<br />
segurança no po<strong>de</strong>r e para a manutenção<br />
das camarilhas e outros parasitas, do que<br />
para tomar medidas <strong>de</strong> conveniência publica<br />
e continuaremos a exportar viclimas<br />
para o estrangeiro em busca <strong>de</strong> allivio<br />
que com menos sacrificios po<strong>de</strong>riam obter<br />
<strong>de</strong>ntro da sua nação.<br />
E comtudo muito maiores capitaes<br />
incomparavelmente se tem consumido e<br />
estão cousumiudo, sem utilida<strong>de</strong> alguma,<br />
e milhares <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis tem sido,<br />
ha longos annos, no triste reinado do<br />
constitucionalismo, subtrahidos dos cofres<br />
públicos, para constituírem gosos,<br />
ou fortunas individuaes 11<br />
Empregado o expediente preventivo,<br />
diminuiria muito a chusma <strong>de</strong> cães, sem<br />
um único préstimo, a não ser para o mal,<br />
que vagueiam pelas povoações e que<br />
aggri<strong>de</strong>m os viandantes, mor<strong>de</strong>ndo uus,<br />
esfarrapando outros e causando muitos<br />
vexames.<br />
Uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa cainça per-<br />
tence a gente pobre, que, por um gosto<br />
reles, por uma mania, quer ter um cão,<br />
mas que lhe não dão <strong>de</strong> comer, <strong>de</strong>ixan<br />
do os reduzir a pelle e osso, pela fome,<br />
a qual não poucas vezes é a causa do<br />
<strong>de</strong>rrancauiento. Essa' gente, vendo-se<br />
castigada pela bolça, por ter animaes<br />
inúteis e prejudiciaes, per<strong>de</strong>riam a mania.<br />
As pessèas que estimam esta qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> animaes, por gosto ou por necessida<strong>de</strong>,<br />
conserval-os-iam, a <strong>de</strong>speito<br />
da collecta, mas d'estes nãó viria gran<strong>de</strong><br />
mal, ou nenhum, por sertin convenientemente<br />
tratados e vigiados por s«us donos,<br />
para provi<strong>de</strong>nciar, no caso <strong>de</strong> se<br />
lhes pronunciar a moléstia, e em todo o<br />
caso sempre se reduziria a calila nnmerosa,<br />
em benefício da humanida<strong>de</strong> e seriam<br />
mais raros os casos.<br />
Mas quando os governos centraes o<br />
não façam, como é <strong>de</strong> esperar, as camaras<br />
municipaes <strong>de</strong>verão propor sobre o<br />
meio do imposto, porque além do fim<br />
altamente Inimanitario conseguiriam o<br />
augmento da receita sem vexação.<br />
A imprensa também <strong>de</strong>ve tomar este<br />
objecto em toda a consi<strong>de</strong>ração, instigando<br />
e animando os po<strong>de</strong>res públicos a tão<br />
humanilario emprehendimento. Pela nossa<br />
parte convencemo-nos <strong>de</strong> que o governo<br />
actual, como os seus antecessores, nunca<br />
pensou em dotar o paiz com o instituto<br />
analogo ao <strong>de</strong> Pasteur, como consta ao<br />
Defensor do Povo, mas se o levasse a<br />
effeito, muito teria merecido do paiz e<br />
da humanida<strong>de</strong>, pouparia ao thesouro<br />
uma verba importante e salvaria muitas<br />
vidas <strong>de</strong> mordidos que pelo receio da<br />
viagem, ou por negligencia, não vão á<br />
França.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
No parlamento francez<br />
Eis os últimos períodos do brilhante<br />
discurso pronunciado por Mr. Ribot, no<br />
parlamento francez :<br />
«A <strong>de</strong>mocracia franceza repelliu já<br />
as calumnias que o espirito da politica<br />
parti,laria dirigiu contra as nossas instituições.<br />
Comprelien<strong>de</strong> que o prestigio<br />
da Republica está em não<br />
abafar escandalos ou <strong>de</strong>monstrar<br />
fraquezas, mas, ao contrario,<br />
tirar d esses acontecimentos<br />
uma lição <strong>de</strong> alta moralida<strong>de</strong>.<br />
Mantenhamos, senhores, o nosso sangue<br />
frio habitual; não nos <strong>de</strong>ixemos commover<br />
por este furor <strong>de</strong> <strong>de</strong>lações que<br />
recahem, algumas vezes, sobre o nosso<br />
paiz. Sigamos severos para a punição<br />
dos <strong>de</strong>lictos, mas não nos <strong>de</strong>tenhamos<br />
a per<strong>de</strong>r muito tempo nestas<br />
misérias e retomemos o nosso anterior<br />
posto, caminhando" <strong>de</strong> cabeça erguida como<br />
é proprio dos representantes .d'um<br />
gran<strong>de</strong> paiz.<br />
É dominado por este sentimento que<br />
o governo se apresenta a solicitar para<br />
os seus trabalhos o concurso das duas<br />
camaras, e que ousa contar com a confiança<br />
<strong>de</strong> todos os republicanos, unidos<br />
por um pensamento commum, tornado<br />
mais intimo pelas difficulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> momento,<br />
e por uma <strong>de</strong>dicação para com a<br />
Republica e para com a Patria.»<br />
A GRANEL<br />
A penitenciaria tem actualmente 574<br />
reclusos.<br />
* * # Nas obras municipaes do<br />
Porto trabalham, em média 1:000 operários.<br />
* * # Em Espozen<strong>de</strong> falleceu num<br />
dos últimos dias uma velhinha que contava<br />
a bonita eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 103 annos.<br />
* * # Acossados pelo frio e pela<br />
fome, teem apparecido bastantes lobos<br />
em S. Marcos, Alendra, Cintrão, e Bota-<br />
• cães, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Trancoso.<br />
* * # Sentiu-se ha dias em Évora<br />
um fortíssimo tremor <strong>de</strong> terra.<br />
* * # Vae recomeçar os seus trabalhos<br />
em Lisboa a gran<strong>de</strong> commissão<br />
eleitoral republicana.<br />
* * # Dizem <strong>de</strong> Aveiro que é sem<br />
resultado o trabalho no mar. Este tem<br />
permittido o serviço, mãs as re<strong>de</strong>s saem<br />
d'elle sem pesca.<br />
* * * Grassa com bastante intensida<strong>de</strong>,<br />
no concelho <strong>de</strong> Aveiro, a febre<br />
aphtosa, no gado bovino.<br />
* * * O rei partiu para Villa Viçosa<br />
para a caça.<br />
* * * Os moveis fabricados na Penitenciaria<br />
<strong>de</strong> Lisboa e alli vendidos durante<br />
o anno findo, produziram cerca <strong>de</strong><br />
50:000/000 réis.<br />
* * * A pesca tem escasseado ultimamente<br />
em toda a costa do Algarve,<br />
correndo por isso por preço elevado a<br />
pouca que apparece.<br />
* * # O novo jornal, orgão do<br />
partido catholico, apparecerá em Lisboa<br />
no 1.° <strong>de</strong> janeiro, e terá por titulo Diário<br />
Nacional.<br />
* * # Em Guimarães vae estabelecesse<br />
uma tinturaria pelo processo chimico,<br />
dirigida por tres alumnos da escola<br />
industrial Francisco <strong>de</strong> Hollanda.<br />
* # A exportação portugueza.<br />
Em Abo, na Finlandia, existe uma<br />
importante fabrica <strong>de</strong> rolhas que emprega<br />
principalmente cortiça do nosso paiz.<br />
Essa fabrica foi ultimamente augmentada,<br />
occupando um inteiro quarteirão da<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
A sua importação annual <strong>de</strong> cortiça<br />
portugueza representa um médio <strong>de</strong> 157<br />
contos <strong>de</strong> réis.<br />
* * * Consta que a Liga Liberal<br />
vae realisar brevemente um comício afim<br />
<strong>de</strong> se resolver a forma <strong>de</strong> protestar<br />
contra o cerceamento das franquias municipaes.<br />
* * # Dois pharmaceuticos do Porto<br />
offereceram-se para a regencia gratuita<br />
da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> pharmacia na Escola Medica<br />
d'aquella cida<strong>de</strong>, atten<strong>de</strong>ndo á penúria<br />
do thesouro.<br />
O requerimento foi a informar ao<br />
respectivo director.<br />
* * # Os estudantes do lyceu <strong>de</strong><br />
Braga também vão representar ao governo<br />
pedindo que sejam dispensados, ao menos<br />
este anno, do exame <strong>de</strong> inglez como<br />
preparatório para po<strong>de</strong>rem matricular-se<br />
nos cursos superiores.<br />
* * # Em Braga, andando um moço<br />
<strong>de</strong> lavoura á caça em companhia <strong>de</strong> outro,<br />
a arma disparou-se, indo a carga empregar-se<br />
no rosto d'este, que morreu logo.<br />
* * # Foi fix ado.o dia 20 do corrente<br />
para a commissão do recenseamento<br />
eleitoral do concelho <strong>de</strong> Arganil se reunir,<br />
e proce<strong>de</strong>r a alterações no respectivo<br />
recenseamento.<br />
* * * Tem causado gran<strong>de</strong> successo<br />
no Porto o celebre hercules Marx,<br />
que tanto agradou em Lisboa.<br />
Coisas e loisas<br />
Casamentos-negocios.<br />
Elle: — (Beijando-lhe ternamente a<br />
mão). — Ah I Esla linda mãosinha vae<br />
fazer muitas pessoas felizes.<br />
Ella: — (Admirada). — Muitas! Só<br />
duas: eu e tu.<br />
Elle: — Ora essa 1 E então os meu9<br />
credores, que já não contavam receber<br />
vintém ? I<br />
*<br />
Em policia correccional:<br />
O juiz: — O réu é accusado <strong>de</strong> ter<br />
batido num visinho.<br />
O accusado: — Estava embriagado,<br />
sr. juiz; julguei que elle era a minha<br />
mulher 1<br />
*<br />
Bébé eslá a brincar com outras creanças.<br />
De repente <strong>de</strong>sata a chorar em altos<br />
gritos; um dos seus companheiros pespega-lhe<br />
uma bella bofetada.<br />
— Porque é que o menino lhe não<br />
pagou logo com outra? perguntou a<br />
criada.<br />
— Eu já lh'a tinha pago... antes 1<br />
Desgarradas<br />
Na janella aon<strong>de</strong> eu coso,<br />
Tenho meu magericão;<br />
Da-lhe o sol por entre as folhas,<br />
• Vivo nesta solidão.
AINO I — 4 4 O DEFENSOR DO POVO 18 <strong>de</strong> d e z e m b r o <strong>de</strong> 1 8 9 8<br />
O T U I I O S<br />
PA KA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
L I V R O S<br />
TVVELIOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
uin exemplar.<br />
HISTOKIA Dl POBTDGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schaefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemâo<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis L o p e s<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J, m i m SE' SAMPAIO (BBWO)<br />
Edição completa por um corpo da<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes colaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaolis da<br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réi< cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; provindas e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
DE GRAÇA<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
e bilhetes «le visita<br />
RIR -— É este o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes,, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> vis,ita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gçatuitamente, catalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviai<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
líliiLíl SAGRADA<br />
ILLDST3ADA<br />
900 a 1:000 gravuras<br />
Petlir prospecto e especimen<br />
Assignatura 20 réis, fascículo<br />
P<br />
Está concluído o 1." volume<br />
kara informações K I R I J I A<br />
S A R R A U A IIÍIÍCS-<br />
T R A » A —Mousinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong>: na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
piores — Â.<br />
A R T I C I P A - .<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria |<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
^LTIfflA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em cores<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ILHETE8<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 V R O S<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong>]<br />
formato<br />
Typ. Operaria\<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
. H P R E S S O S<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L -A. I R G - O I D A F R E I R I A , 1 4<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 «/o<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
iVla<strong>de</strong>ira para palitos<br />
auein preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />
67<br />
guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />
palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leitão,<br />
resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />
AO PUBLICO<br />
eclaro para os <strong>de</strong>vidos eíTei-<br />
61 O tos, que o sr. Antonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />
n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892<br />
Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />
Novo estabelecimento<br />
ffí I. ntonio Paulo d'0livcira,<br />
' ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />
Santos Apostolo Junior, participa ao illustrado<br />
publico conimbricense que vae<br />
abrir um estabelecimento egual ao do<br />
seu ex-patrão, na rua do Sargento Mór,<br />
n. os 1, 3 e 5.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Aos srs. lavradores<br />
„„ I massa <strong>de</strong> purgueira é<br />
0 At sem duvida o adubo <strong>de</strong> mais<br />
reconhecida vantagem para as sementeiras<br />
<strong>de</strong> trigo, milho, batata, fava, grão<br />
feijão e para adubar vinha, etc., etc.'<br />
Em toda a Extremadura, parte do<br />
Alemtejo e Beira, é o adubo que melhores<br />
resultados tem dado em todas as<br />
culturas.<br />
Fornecem-no directamente da fabrica<br />
os agentes PERDIGÃO & TEIXEIRA—<br />
Rua das Fontainhas, 24 e 26 —Alcantara.<br />
íjiao<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />
e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Costa Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
g &jo seu antigo estabelecimento<br />
Pi concertam-se e cobreni-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />
:<br />
Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1$500<br />
Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />
para coberturas baratas. Garante-se<br />
a perfeição do trabalho encommendado<br />
nesta casa.<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
BISSIS"<br />
14, Largo Mnnunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
6<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />
AOTOIIO JOSÉ SE M3UBA 2AST0—SUA SOS SAPATEIROS, 20 A 28<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
ESTAMPARIA 1IECIIAHICA<br />
''P inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />
1. feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> ho-<br />
mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
Tinhas para escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. JPreços Inferiores.<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com óptimos resultados nos hospilaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
A R T A Z E S<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. OperariaJ<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
• A L A V I L L E D E P A R I S<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
IF. D E L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO BOBBINES BBAEÂ, SUEEESSBB<br />
17—ADRO DE CIMA—20<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
CS O S 3VEC SES 3Ft A .<br />
2 A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
ix e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fita<strong>de</strong><br />
faille, moiró, glacé e selim, em tôdas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />
4 01 « O M S « l l S<br />
FUNDAM EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 86:500^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n." l-f —<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
„„ rj\ mpreatH-ie dinheiro sobre<br />
JM objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G — COIMBRA.<br />
64 Commoda e oratorio<br />
<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />
rua dos Sapateiros, n. os 20<br />
a 24.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 A n ( , u > t o IVunes tloin San-<br />
14 tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
ROA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
VENDA DE CASA<br />
58 lJF en,,e -*>® i»m» sita na Couraça<br />
W dos Apostolos, n.° 66. Para<br />
tratar com José Simões, largo do Castello.<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno 21700<br />
Semestre....<br />
Trimestre...<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
W3S0<br />
680<br />
Sem estampilha<br />
Anno $0400<br />
Semestre.... 1#200<br />
Trimestre... 600<br />
Impresso na Typo^raphjia<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.«<br />
14, proximo á rua aos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
A questão municipal<br />
Vae-se propagando a todos os<br />
ânimos uma justiceira reacção que<br />
se dispõe a levar <strong>de</strong> vencida a pertinácia<br />
intolerante do sr. Pedro Victor<br />
no <strong>de</strong>creto que visou a cercear<br />
as regalias municipaes.<br />
Apezar do que sobre a matéria<br />
teem <strong>de</strong>batido dia a dia os periodistas<br />
orthodoxos é por <strong>de</strong>masia transparente<br />
a má vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se<br />
exornou o po<strong>de</strong>r central ao vibrar<br />
aquella machadada que nenhuma significação<br />
ulterior justifica ou sequer<br />
absolve.<br />
D'entre a serie numerosa dos<br />
<strong>de</strong>satinos governativos que num <strong>de</strong>lírio<br />
communicativo se veem explanando<br />
ha algum tempo, poucos teem,<br />
como este, logrado vibrar com tanto<br />
calor no animo geral.<br />
Ao atrophiamento orgânico <strong>de</strong><br />
todas as ramificações da vida nacional<br />
— tão miseravelmente cahida na<br />
esphera baixa dos povos enfermados<br />
pela falta <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> nas<br />
suas funções vitaes, — correspondia<br />
sensivelmente uma quasi dissidência<br />
na vida municipal, náo se resentindo<br />
profundamente do mal geral que ha<br />
muito affectava o organismo da nação.<br />
Não se applica este principio em<br />
absoluto porque na phenomenologia<br />
da politica experimental seria prodigioso<br />
extrahir um dualismo tão singular:<br />
que uma parte integrante d'um<br />
todo fosse fundamentalmente in<strong>de</strong>mne<br />
dos vicios d^sse todo.<br />
Assim, a vida municipal, apezar<br />
do que <strong>de</strong> immoral e anti-hygienico<br />
lhe tem exemplificado o po<strong>de</strong>r central,<br />
tem, comtudo, habitado uma esphera<br />
<strong>de</strong> relativa limpeza, amoldando-se<br />
ás suas tradiçõ^ basicas.<br />
Essas tradições assentavam já<br />
como que sobre um principio <strong>de</strong> religião<br />
social, que o po<strong>de</strong>r central já<br />
nem pensava em perfurar, <strong>de</strong>votando-lhe<br />
uma <strong>de</strong>ferencia secular.<br />
A'parte a legislação ten<strong>de</strong>nte á<br />
mo<strong>de</strong>rnisação evolutiva das instituições<br />
municipaes, ainda nenhum governo<br />
se abalançou a cercear, no<br />
fundo, as suas regalias.<br />
A' quantiosa enxurrada <strong>de</strong> reformas<br />
que veem sendo o aprendizado<br />
das nossas balofas capacida<strong>de</strong>s governativas,<br />
tem sido extranho, para<br />
os effeitos <strong>de</strong>pressivos, as instituições<br />
municipaes, que significam, na sua<br />
tradição e na sua historia, o melhor<br />
fundamento da governação popular.<br />
Tem havido mínimas excepções<br />
emergentes <strong>de</strong> mínimas fluctuações<br />
<strong>de</strong> governos: pequenos esbulhos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminadas attribuiçõés que os<br />
governos julgaram utií á sua politica<br />
dissoluta e ventruda. Todavia<br />
como isto não affectava fundamentalmente<br />
nas suas razões tradicionaes,<br />
eífectivas, a instituição dos municípios,<br />
o caso vogava sem valor na<br />
esphera politica e passava sem os<br />
reparos dos interessados.<br />
Confiante neste já talvez <strong>de</strong>masiado<br />
fechar-dolhos é que o sr. Pedro<br />
Victor, a quem aliás os adversarios<br />
políticos reconhecem qualida<strong>de</strong>s<br />
eminentes e intenções honestas,<br />
se arrojou a referendar o seu <strong>de</strong>sastrado<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro que<br />
vae produzindo pelo paiz afora uma<br />
irritação <strong>de</strong> paixões que difficilmente<br />
ficará na platonice usual do nosso<br />
temperamento frio.<br />
Foi infelicíssimo o sr. Pedro Victor<br />
em <strong>de</strong>sviar da acção directa dos<br />
municípios a regularisação dos melhoramentos<br />
públicos, certo que ninguém<br />
com mais competencia e assiduida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> interferir nesses assumptos<br />
<strong>de</strong> interesse local. Tem<br />
havido, conce<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> •prompto,<br />
municipalida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> á matroca tem<br />
Vogado os <strong>de</strong>veres que lhes são adstrictos;<br />
municipalida<strong>de</strong>s em que a<br />
politica <strong>de</strong> interesses tem sido o apa-<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
nagio da sua gerencia; municipalida<strong>de</strong>s<br />
em que por ignorancia e por<br />
<strong>de</strong>sleixo se têm <strong>de</strong>scurado interesses<br />
communs e promovido interesses<br />
particulares. Citaríamos exemplos,<br />
se quizessemos alongar-nos. E' isto<br />
irrefutável. Não ha facciosismo que<br />
ensombre o reconhecimento d'estes<br />
factos.<br />
Mas por ventura isto auctorisa<br />
ou absolve o <strong>de</strong>creto Pedro Victor?<br />
Não, senhores. Ninguém menos<br />
auctorisado para coarctar irregularida<strong>de</strong>s<br />
do que o po<strong>de</strong>r central. Não<br />
se citam municípios cujas finanças<br />
estejam em tão imminente <strong>de</strong>scalabro<br />
como as finanças do Estado, a<br />
cuja direcção tem presidido a mais<br />
innominada ausência <strong>de</strong> pudor que é<br />
<strong>de</strong>feso alimentar-se.<br />
Por muita inépcia, por muito favoritismo,<br />
por muito <strong>de</strong>sleixo que<br />
tenha revelado a administração municipal,<br />
não terá attingido a somma<br />
<strong>de</strong> inépcia, <strong>de</strong> favoritismo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sleixo,<br />
que em tão larga escala se tem<br />
exercido no po<strong>de</strong>r, a pontos <strong>de</strong> estarmos<br />
miserrimamente reduzidos á<br />
pobre condição, d'aqui a pouco, <strong>de</strong><br />
simples matéria hypothecaria dos<br />
credores externos!<br />
Com que direito, pois, vem um<br />
governo, qualquer que elle seja, esbulhar<br />
os municípios do encargo <strong>de</strong><br />
promover os melhoramentos locaes<br />
a pretexto <strong>de</strong>stes terem sido irregularmente<br />
promovidos?<br />
Responda a consciência dos honestos.<br />
Perseguições militares<br />
Ura ofHcial illustre, o sr. tenente<br />
coronel Fava, que fez a conferencia na<br />
Liga Liberal que era outro logar referimos,<br />
foi na segunda feira chamado ao<br />
ministério da guerra e alli recebeu or<strong>de</strong>m<br />
immediata <strong>de</strong> partir para Elvas, sé<strong>de</strong> do<br />
regimento que commanda, artilheria 5,<br />
sendo-lhe logo passada guia para seguir<br />
no mesmo dia ao seu <strong>de</strong>stino, no comboio<br />
que á noite partiu da estação do Rocio!<br />
É com estas perseguições que o governo<br />
pensa naturalmente conjurar a rehelliâo<br />
dos espíritos que dia a dia se<br />
accentua fundamente 1<br />
Luz é feita!<br />
Graças ao notável arrojo investigador<br />
do novo ministério francez, vae-se apurando<br />
pelas revelações dos <strong>de</strong>poimentos<br />
feitos perante a commissão <strong>de</strong> inquérito<br />
parlamentar, que alguns dos incursos na<br />
nefanda immoralida<strong>de</strong> do Panamá são<br />
monarchicos e outros são republicanos<br />
que do orleanismo vieram para a Republica<br />
não por convicções mas por interesse.<br />
Ainda bem.<br />
Emigração<br />
Do norte chegaram a Lisboa com<br />
<strong>de</strong>stino ao Brazil mais 160 emigrantes.<br />
Bem se vô que vamos em mar <strong>de</strong><br />
rosas.<br />
E a dizerem que o Zé Dias não salva<br />
isto !<br />
Silva Pinto<br />
Deixou <strong>de</strong> pertencer á redacção da<br />
Folha do Povo e passou a pertencer á<br />
redacção da Batalha, o illustre critico sr.<br />
Silva Pinto.<br />
Cresça a lama I<br />
Já'constou ás Novida<strong>de</strong>s, não se sabe<br />
porque via, que iam em caminho <strong>de</strong> bom<br />
accordo os senhores José Dias Ferreira<br />
e José Luciano <strong>de</strong> Castro.<br />
Depois da perlinacia belligerante<br />
d'estes dois magnates da politica monarchi'ca,<br />
perlinacia que tem tocado as raias<br />
do insulto individual, só nos resta ver<br />
isto.<br />
Será o resto. Ou não?<br />
PELOS JORNAES<br />
A isenção progressista. ..<br />
O Diário Illustrado revelou esta coisa:<br />
«E ainda ha dias, fallando nós com<br />
um illustre juiz, qne já foi ministro,<br />
que é <strong>de</strong>putado, que é chefe politico<br />
* num districto do norte, mas <strong>de</strong> quem<br />
não escrevemos o nome, elle nos dizia<br />
com uma bonhomia nervosa, que é<br />
especialida<strong>de</strong> sua, e que o torna sympathico:<br />
« — Olhe, os regeneradores que subam<br />
ao po<strong>de</strong>r; estão lá seis mezes, e<br />
<strong>de</strong>pois vamos nós, entrando-se na rotação<br />
dos partidos.»<br />
Todo o interesse d'esta gente resume-se<br />
na conquista do po<strong>de</strong>r. É o que<br />
se infere da campanha violenta que ha<br />
mezes vem tomando o partido progressista<br />
e da <strong>de</strong>claração recolhida pelo Illustrado.<br />
A Reforma aproveita o titulo <strong>de</strong>—A<br />
<strong>de</strong>rrocada em França — para publicar o<br />
seguinte telegramma:<br />
"Paris, 16, n. — Os presi<strong>de</strong>ntes dos<br />
quatro grupos republicanos do senado<br />
foram felicitar o sr. Ribot, presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho dê ministros, pelas resoluções<br />
que o governo tomou concernentes<br />
ás prisões e buscas domiciliarias<br />
levadas a effeito esta manhã em Paris.<br />
«Em resultado d'uma <strong>de</strong>morada <strong>de</strong>liberação,<br />
a commissão parlamentar <strong>de</strong><br />
inquérito sobre o Panamá resolveu que<br />
não havia motivo para renunciar ao<br />
seu mandato.»<br />
Com effeito não podia arranjar melhor<br />
titulo. Assenta com uma proprieda<strong>de</strong> brilhante.<br />
Quando ha pouco tempo se <strong>de</strong>bateu<br />
o monumentalissimo escandalo <strong>de</strong> um<br />
ministro <strong>de</strong> Portugal ter <strong>de</strong>sviado illegalmente<br />
dos cofres públicos a intima<br />
bagatella <strong>de</strong> cinco mil contos <strong>de</strong><br />
réis, cremos que a Reforma escreveu<br />
artigos sob este titulo:—Prova-se que a<br />
moralida<strong>de</strong> monarchica em Portugal é um<br />
facto.—<br />
Agora que um paiz cioso das suas<br />
gloriosas tradições se abalança a perseguir<br />
sem tréguas nem quartel um grupo<br />
que á sua sombra quiz trahir os princípios<br />
<strong>de</strong> honra social, a Reforma dá aos<br />
seus artigos aquella epigraphe !<br />
Já é falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>coro 1<br />
Sergio <strong>de</strong> Castro com a libré <strong>de</strong> conselheiro<br />
Accacio e uma pose muito sua,<br />
guia paternalmente o sr, Dias Ferreira:<br />
«Experimente. Mas vá por um só<br />
caminho, a direito. Se a sua organisação,<br />
que na volubilida<strong>de</strong> ás vezes pareee<br />
<strong>de</strong> mulher, lhe permitte esta linha<br />
recta, siga-a e ha <strong>de</strong> dar-se bem.»<br />
E' pasmoso que o sr.— vá lá, vá lá<br />
— Sergio <strong>de</strong> Castro, se atreva a fallar<br />
assim a um homem que cora quanto seja<br />
politicamente uma nullida<strong>de</strong> perigosa tem<br />
<strong>de</strong> intelleclo e <strong>de</strong> critério o quanto falta<br />
ao sr. Sergio para ter auctorida<strong>de</strong> conselheiral...<br />
Fazemos justiça a ambos.<br />
Às. Novida<strong>de</strong>s que tantissimas vezes<br />
tem increpado <strong>de</strong> <strong>de</strong>.-bragada e insolente<br />
a linguagem da imprensa republicana,<br />
publicavam ha dias esta infamante diatribe<br />
contra o sr. bispo <strong>de</strong> Belhsaida,<br />
ministro do sr. D. Carlos :<br />
«Como ministro dos homens — é<br />
reul Como ministro <strong>de</strong> Deus — é um<br />
excoinmungadol Ora o excommuugado,<br />
segundo S. João Chrysostomo explica,<br />
reíeriudo-se a.umj das epistolas <strong>de</strong> ó.<br />
Paulo, <strong>de</strong>ve ser separado <strong>de</strong> todo o<br />
convívio, <strong>de</strong>ve ser relegado ao abandono<br />
e â vergonha. E' como a peste —<br />
contagioso. E' como a lepra —repugnante.<br />
E' corno a sujida<strong>de</strong>—mal cheiroso.»<br />
Quem assim falia d'um principe da<br />
egreja e ministro da monarchia é-lhe<br />
absolutamente vedado accusar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbragamento<br />
qualquer outra gente.<br />
A proposito do accordo que se diz<br />
estabelecido entre o sr. Dias Ferreira e<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
José Luciano, recortamos das Novida<strong>de</strong>s<br />
esle fragmento:<br />
«Para quem não <strong>de</strong>seja transformações<br />
ministeriaes — que po<strong>de</strong>m vir a<br />
ser um factor no accrescentamento das<br />
difficulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> occasião, — a entente<br />
entre os srs. José Luciano <strong>de</strong> Castro e<br />
Dias Ferreira, foi um passo acertado.<br />
Desembaraçou o chefe do governo <strong>de</strong><br />
luctas pessoaes e irritantes, a troco da<br />
concessão <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>stos favores<br />
políticos.»<br />
É inconcebível tanta abundancia <strong>de</strong><br />
impudôr. Cora e4a reconciliação, a troco<br />
da concessão <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>stos favores<br />
políticos, essas duas entida<strong>de</strong>s dão o<br />
<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro impulso para a própria ruina<br />
moral.<br />
Elles—que impu<strong>de</strong>ntemente se agatanharam<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o caso sujo <strong>de</strong> Agueda até<br />
ás columnas. resumbrando odios, do<br />
Correio da Noite e do Tempo — juntos,<br />
abraçados, contentes: é ignóbil!<br />
Apezar do que sobre a entente do sr.<br />
José Dias com o sr. José Luciano affirmam<br />
as Novida<strong>de</strong>s e outros jornaes, o<br />
Correio da Noite continúa a insistir:<br />
«Não retroce<strong>de</strong>mos um passo, porque<br />
a nossa posição continua a ser a<br />
mesma em frente do actual governo,<br />
isto é, <strong>de</strong> clara e franca censura aos<br />
actos e á politica ministerial.»<br />
«Os jornaes progressistas das províncias<br />
continuarão a combater o governo,<br />
perfeitamente em harmonia comnosco<br />
e com o partido progressista.<br />
Per<strong>de</strong>m o seu tempo os que quizerem<br />
atirar para o meio <strong>de</strong> nós o pomo da<br />
Discórdia.»<br />
Veremos se isto é simplesmente um<br />
balão <strong>de</strong> ensaio para salvar na apparencia<br />
a honra do convento.<br />
A proposito do silencio guardado por<br />
gran<strong>de</strong> parle da imprensa acerca do que<br />
do ultramar <strong>de</strong>nunciou a penna vibrante<br />
<strong>de</strong> João Chagas, diz com dura razão o<br />
nosso amigo Heliodoro Salgado, n'A<br />
Portugueza:<br />
«Não <strong>de</strong>ter o braço armado do assassino;<br />
não pôr embargos á obra audaciosa<br />
do ladrão; ouvir a victima pedir<br />
soccorro e encolher os hombros, e andar<br />
para diante como se nada se tivesse<br />
ouvido, sem querer saber se aquillo<br />
será um homem a quem estejam roubando<br />
a bolsa, um nosso irmào a quem<br />
estejam roubando a vida, uma nossa<br />
irmã a quem estejam roubando a honra;<br />
tudo isto não são apenas abstenções dictadas<br />
pela covardia, porque ninguém<br />
nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrermos ao povoado<br />
a gritar por soccorro: são actos <strong>de</strong><br />
communhão no bandidismo.»<br />
Tem razão o illustre articulista; mas<br />
essa imprensa estipendiada prefere commungar<br />
nesse baudidismo, calando os<br />
mais vulgares sentimentos <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />
e documentando, assim, tristemente,<br />
a sua baixeza moral 1<br />
A' caça<br />
Tê<strong>de</strong>bê.<br />
tVilla Viçosa, 18, ás 8 h. e 80 da<br />
t.—(Ao Diário <strong>de</strong> Noticias, Lisboa.) —<br />
Suas magesta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois da missa, foram<br />
caçar á tapada, matando 4 gamos, 3<br />
veados, 9 lebres, 3 coelhos e uma gallinhola.<br />
A's 7 da manhã parle el-rei para<br />
Lisboa e regressa á noite.»<br />
Isto não se commenla por que s. m.<br />
é inviolável e sagrado segundo a carta<br />
adorada.<br />
«Galeria Portugueza•<br />
Recebemos o primeiro numero d'esta<br />
revista semanal que começou a publicarse<br />
no Porto.<br />
Contém 16 paginas <strong>de</strong> bello texto e<br />
algumas gravuras originaes <strong>de</strong> Julio Machado<br />
que se revela <strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> mérito.<br />
No seu todo a Galeria Portugueza<br />
offerece um attrahente conjunclo <strong>de</strong> collaboração<br />
artistico-litteraria que merece<br />
á graciosa coadjuvação do publico.<br />
CRYSTAES<br />
DE TARDE<br />
Naquelle «pic-nic» <strong>de</strong> burguezas<br />
Houve uma scena simplesmente bella,<br />
E que, sem ter historia nem gran<strong>de</strong>zas,<br />
Em todo o caso dava uma aguarella.<br />
Foi quando tu, <strong>de</strong>scendo do burrico,<br />
Foste colher, sem imposturas tolas,<br />
A um granzoal azul <strong>de</strong> grão <strong>de</strong> bico<br />
Um ramalhete rubro <strong>de</strong> papoulas.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois, em cima d'uns penhascos,<br />
Nós acampamos, inda o sol se via;<br />
E houve talhadas <strong>de</strong> melão, damascos,<br />
E pão <strong>de</strong> ló molhado em malvasia.<br />
Mas todo purpuro a sahir da renda<br />
Dos teus dois seios como duas rolas,<br />
Era o supremo encanto da merenda<br />
O ramalhete rubro das papoulas.<br />
' CESÁRIO VERDE.<br />
A reforma eleitoral<br />
A commissão encarregada pelo governo<br />
<strong>de</strong> reformar a lei eleitoral já «pprovou<br />
os tres primeiros artigos do pro<br />
jecto elaborado pelo sr. Cunha, relator.<br />
Estes arligos referem-se á órganisaçáu do<br />
recenseamento quanto á sua base censitica<br />
e capacida<strong>de</strong> litteraria.<br />
Quanto á inscripção dos eleitores<br />
pelo censo, a base será <strong>de</strong> futuro tomada<br />
sobre documentos authenticos fornecidos<br />
pelas repartições <strong>de</strong> fazenda, secretarias<br />
das camaras e das administrações do<br />
concelho, por fórma que a parte reservada<br />
ás commissões eleitoraes neste ponto<br />
fica quasi reduzida ao or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>stas<br />
indicações, sem arbítrio <strong>de</strong> apreciação<br />
e julgamento pela sua parte.<br />
Recenseamento eleitoral<br />
Convidam-se lodos os republicanos<br />
d'este concelho que não estejam<br />
inscriptos no recenseamento<br />
eleitoral e queiram usar do direito<br />
<strong>de</strong> votar, a dar os seus nomes em<br />
qualquer dos estabelecimentos<br />
adiante indicados, a fim da commissão<br />
directora do partido republicano<br />
nesla cida<strong>de</strong> os fazer recensear:<br />
Redacção do Defmsor do Povo;<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> Manoel Augusto<br />
da Silva, rua dos Sapateiros;<br />
Typographia Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Luiz<br />
Cardoso, rua da Sophia;<br />
Drogaria Rodrigues da Silva,<br />
rua Ferreira Borges;<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> Serio Veiga,<br />
rua da Sophia; e<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> João Alves,<br />
Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />
Todo o cidadão portuguez,<br />
maior <strong>de</strong> 21 annos, ou legalmente<br />
emancipado, que saiba ler e escrever,<br />
ou seja chefe <strong>de</strong> familia, ou<br />
lenha o censo eleitoral po<strong>de</strong> ser<br />
inscripto no recenseamento.<br />
É consi<strong>de</strong>rado chefe <strong>de</strong> familia,<br />
para os effeitos eleitoraes, o cidadão<br />
que ha mais <strong>de</strong> um anno viva em<br />
commum Com qualquer seu ascen<strong>de</strong>nte,<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, lio, irmão ou<br />
sobrinho, ou com sua mulher e<br />
prover aos encargos da familia.<br />
São consi<strong>de</strong>rados como tendo<br />
o censo eleitoral — os que forem<br />
collectados no corrente anno em<br />
1$000 réis <strong>de</strong> contribuição industrial<br />
ou <strong>de</strong> qualquer outra contribuição<br />
directa.<br />
Para todo e qualquer esclarecimento<br />
po<strong>de</strong>m dirigir-se ao escriplorio<br />
do sr. dr. Eduardo Vieira,<br />
rua da Sophia.
AXXO I —IV. 0 O DEFENSOR DO POVO 22 dc <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1899<br />
LETTRAS<br />
o s SONHOS<br />
i<br />
O sonho do invejoso<br />
Felix adormecera sol» a doce impressão<br />
d'uma agradavel noticia : a quebra<br />
d'um visinho seu que o molestava com o<br />
espectáculo da sua felicida<strong>de</strong> e opulência.<br />
Sem saber como, achou se conversando<br />
com o diabo, que lhe disse familiarmente<br />
:•<br />
— Concedo-te uma graça.<br />
— Das-nie tempo para reflectir ? —<br />
perguntou-lhe Felix.<br />
— Sim — respon<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>monio; voltarei<br />
<strong>de</strong>ntro em pouco.<br />
— Qne lhe pedirei ? pensava o invejoso.<br />
Pedro tem uma mulher muito bonita<br />
e quer-lhe muito... Alas não, que as<br />
mulheres envelhecem e aborrecem. O talento<br />
<strong>de</strong> Julião? Bem pensado, serve-lhe<br />
<strong>de</strong> pouco. O capital <strong>de</strong> D. Hypolito?<br />
Pô<strong>de</strong> estar em vesperas d'uma quebra,<br />
como o meu visinho: ha banqueiros que<br />
acabam pedindo esmola. Dizem que já foi<br />
rico o pobre que pe<strong>de</strong> esmola <strong>de</strong>fronte<br />
da minha casa, e teria morrido <strong>de</strong> fome<br />
se não tivesse a fortuna <strong>de</strong> ser cego.. .<br />
— Reflectiste? — disse o diabo metendo<br />
a cabeça pela janella.<br />
—Ainda não.<br />
— Pois avia-te, retorquiu-lhe o espirito<br />
maligno; e <strong>de</strong>sappareceu.<br />
— O caso — continuou pensando Felix—<br />
é que a felicida<strong>de</strong> não eslá somente<br />
nas cousas gran<strong>de</strong>s. Conheço muita<br />
gente feliz: a minha porteira tem um<br />
gato negro que a segue para toda a parte<br />
e que ella não daria pelo talento do<br />
Julião nem pelo capital <strong>de</strong> D. Hypolito.<br />
Eu quizera possuir este gato.. .<br />
Antolin canta as malaguenas a primor,<br />
e lodos, o obsequeiam e procuram:<br />
por que não hei-<strong>de</strong> pedir a sua arte ?<br />
Má- que digo? E o esboço <strong>de</strong> Goya que<br />
me mostrou hontem o Gomes? lisse original<br />
faria a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer.<br />
Todos tem alguma coisa <strong>de</strong> notável,<br />
menos eu ; até o cego <strong>de</strong> que me lembrei<br />
ha pouco, que inspira com aquelles<br />
olhos bogalhudos e brancos, eu creio que<br />
inspira, compaixão:<br />
— Decidiste já? tornou a dizer o<br />
diabo.<br />
— Espera... espera...<br />
— Nem um intante mais.<br />
— Gonce<strong>de</strong>-me alguns segundos.<br />
— Não.<br />
— Nesse caso... dá-me a cegueira<br />
do que pedia esmola <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong> minha<br />
casa.<br />
O diabo queimou-lhe os olhos com o<br />
seu hálito, e o invejoso <strong>de</strong>spertou.<br />
Soava na rua unia guitarra furiosamente<br />
arranhada: era a guitarra do mendigo.<br />
— Que é isto? Tenho vista 1 —dizia<br />
Felix esfregando os olhos. Oh! O diabo<br />
enganou-me.<br />
li poz-se a olhar com inveja os olhos<br />
brancos do cego.<br />
II<br />
O sonho do Gastronomo<br />
A cosinheira chegou <strong>de</strong>sconsolada e<br />
disse:<br />
— Senhor, venho da praça sem trazer<br />
nada ; esláo fechadas as lendas, não<br />
ha ven<strong>de</strong>dores pelas ruas: hoje não se<br />
compra, nem se accen<strong>de</strong> lume nos fogões.<br />
— Que succe<strong>de</strong>? interrogou o comilão<br />
muito espantado.<br />
— Declarou-se toda a gente em greve,<br />
e os sublevados impõem uma dieta<br />
nacional.<br />
— Sahe e procura.<br />
— Corri todas as praças.<br />
— Julgas, com effeito que não ha<br />
meio <strong>de</strong> comprar alguma coisa !<br />
—- Nem um pão.<br />
— Que lemos em casa?<br />
— Nada.<br />
— Accen<strong>de</strong> o lume.<br />
— Para quê?<br />
— Tenho fome e espero um convidado.<br />
— Mas como ha-<strong>de</strong> o sr. dar <strong>de</strong> comer<br />
num dia assim? Hoje nada come.<br />
— Cala-te ou asso-ie. E preciso a<br />
todo o transe improvisar que comer. Se<br />
o nào conseguirmos, accen<strong>de</strong> lambem o<br />
lume, porque comerei o convidado.<br />
—Vou accen<strong>de</strong>l-o; mas não vejo maaeira<br />
<strong>de</strong> convidar cousa alguma.<br />
— Pe<strong>de</strong> o gato emprestado aos visinhos,<br />
e servir-nos-ha <strong>de</strong> lebre.<br />
— Não é má i<strong>de</strong>ia.<br />
— Mata o papagaio... e teremos<br />
ave.<br />
— Deve estar muito dura, por que<br />
tem, que eda<strong>de</strong> diz o senhor?<br />
— Trinta annos; já é tempo <strong>de</strong> que<br />
morra.<br />
—O convidado que se cuntente com<br />
dois pratos.<br />
— E eu? E eu?<br />
—Não sabes que a privação augmenta<br />
o appetile? Frige os peixes <strong>de</strong> cor que'<br />
ha na piscina.<br />
— Conhecer-«e ha que são encarnados<br />
e dourados.<br />
— Enfarinha-os bem.<br />
— Oh! Se houvesse farinha em casa!<br />
— Pois <strong>de</strong>ita-lhe cal. Faz <strong>de</strong>pois salada<br />
<strong>de</strong> hortelã.<br />
— Salada <strong>de</strong> cheiro!<br />
— Não tem duvida; os convidados<br />
-accêitam o que lhes dão.<br />
— Senhor, não ouve gemidos?<br />
— E verda<strong>de</strong>. Maldição! Os visinhos<br />
estão matando o gato para comel-o. Vão<br />
privar nos do prato principal. .. Que fazemos?<br />
Thereza, tu és gorda ; sacrilica<br />
um kilogramma <strong>de</strong> carne.<br />
— Não faltava mais nada !...<br />
— Olha que é ura compromisso sério.<br />
.. olha que a fome não repara em<br />
crimes, que te <strong>de</strong>golo...<br />
— Visinhos, soccorro, meu amo quer<br />
<strong>de</strong>goiar-me! grila a cosinheira.<br />
E o gastronomo <strong>de</strong>spertou sobresallado.<br />
III<br />
O sonho do falador<br />
Como o andaluz mais falador da província<br />
<strong>de</strong> Malaga aldrabavasse, havia<br />
meia hora, sem tomar alento, um <strong>de</strong> nós<br />
disse com difficulda<strong>de</strong>, para cortar aquella<br />
fonte <strong>de</strong> palavras:<br />
— Deve estar cançado; vá dormir<br />
bem, e <strong>de</strong> certo não sonhará!<br />
— Não sonhar! — disse o falador<br />
sem se <strong>de</strong>ter. Vou conlar-lhes o meu sonho<br />
da sesta. Sonhei que era rei, e, apenas<br />
me proclamaram, ditei ao meu secretario<br />
este <strong>de</strong>creto: Nós Antolin I, rei<br />
do mundo, a lodos os habitantes da terra<br />
or<strong>de</strong>no e mando: Que apenas lerem<br />
esta real or<strong>de</strong>m fechem as boccas com<br />
mordaças á falta <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ados: que fundam<br />
os instrumentos <strong>de</strong> metal, alem os<br />
badalos dos sinos, parlam as guitarras e<br />
<strong>de</strong>struam todos os instrumentos musicaes<br />
conhecidos; que façam calar os passaros<br />
e todo o ser vivo; que reprimam sendo<br />
possível o rugir dos mares e o sibilar<br />
dos ventos, e façam cessar toda a especie<br />
<strong>de</strong> ruidos. Ficam portanto prohibidos<br />
até os ais e soluços, o estertor do muribundo<br />
e o rumor das passadas.<br />
Pela presente <strong>de</strong>claro o mundo em<br />
estado <strong>de</strong> silencio. Pena <strong>de</strong> morte ao que<br />
pronunciar uma palavra durante o meu<br />
reinado; eu só falarei por todos.<br />
Fernan<strong>de</strong>i Bremon.<br />
m<br />
Banco <strong>de</strong> Portugal<br />
Pelo balancete do Banco <strong>de</strong> Portugal<br />
publicado no Diário do Governo, vè se<br />
que na semana <strong>de</strong> 23 a 30 <strong>de</strong> novembro<br />
foram postos em circulação mais réis<br />
215:411$500.<br />
Pelos vencidos<br />
Subscripção <strong>de</strong> «O© réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinada a soceorrer<br />
coin egual quantia UM IIOSS»»<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 16#000<br />
Dr. Augusto Barreio (mez <strong>de</strong> novembro)<br />
200<br />
Faustino Poças Leitão (i<strong>de</strong>m).. 200<br />
Jose A<strong>de</strong>lino (i<strong>de</strong>m) 200<br />
José da Silva Moraes (i<strong>de</strong>m). . 200<br />
Manoel Rodrigues Júnior (i<strong>de</strong>m) 200<br />
Manoel Antonio da Costa (novembro<br />
e <strong>de</strong>zembro) 400<br />
Somma, réis 17$400<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitária acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remeller os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brilo, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />
EM SURDINA<br />
Tiveram fasta d'estalo,<br />
domingo os v'locipedistas.<br />
Corriam mais que um cavallo<br />
p'ra apanharem o regalo<br />
que foi dado aos mais artistas.<br />
Correram como dainnados,<br />
andando metros aos mil;<br />
sem se mostrarem cauçados,<br />
sem so mostrarem 'stafados<br />
com tanto dar — ao pernil I<br />
A correr <strong>de</strong> tal maneira<br />
e tudo a correr tão bem;<br />
não vejo que fosse asneira<br />
correrem o Dias Ferreira<br />
Zé Dias — o mais alguém I<br />
PINTA-ROXA.<br />
Homenagens<br />
a Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Foi no domingo entregue ao venerando<br />
jornalista a mensagem que abaixo<br />
publicamos e que é assignada por 323<br />
cidadãos pertencentes ás classes commercial<br />
e industrial d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
A commissão promotora d'esta manifestação<br />
ao jornalista processado, era<br />
composta dos srs. Antonio Francisco do<br />
Valle—Antonio José Fernan<strong>de</strong>s—Antonio<br />
Nunes Corrêa — Ernesto Lopes <strong>de</strong> Moraes<br />
— João Antonio da Cunha -—João Gomes<br />
da Silva—João Lopes <strong>de</strong> Moraes Silvano<br />
— José Fernan<strong>de</strong>s Ferreira—Julio Machado<br />
Feliciano — Manoel Gonçalves Pereira<br />
Guimarães — Miguel José da Costa<br />
Braga e Miguel dos Santos e Silva, que<br />
assim quizeram dar um testemunho <strong>de</strong><br />
apreço e <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração ao velho liberal,<br />
que tanto tem pugnado pelos interesses<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e dos seus habitantes.<br />
O sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho tem recebido<br />
<strong>de</strong> todos os pontos do paiz adhesões<br />
sinceras <strong>de</strong> cavalheiros que sabem bem<br />
avaliar as suas nobilíssimas qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> cidadão e os seus dotes <strong>de</strong> jornalista,<br />
sempre em <strong>de</strong>leza dos opprimidos.<br />
A mensagem a que acima alludimos<br />
é um documento valiosíssimo e <strong>de</strong> alta<br />
significação. Que o leia o sr. Dias Ferreira<br />
e os seus protegidos e verão nelle<br />
a con<strong>de</strong>mnação dos seus actos e das suas<br />
apostasias.<br />
*<br />
lll. mo e ex. mo sr.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho.<br />
Os commerciantes e industriaes d'esta<br />
cida<strong>de</strong>, abaixo assignados, sabedores <strong>de</strong><br />
que v. ex. a é chamado aos tribunaes, na<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> editor do seu jornal e Conimbricense,<br />
como comparte na responsabilida<strong>de</strong><br />
d'um escripto, no qual se slygmalisa,<br />
talvez com fundadas razões, o<br />
procedimento <strong>de</strong> funccionarios da repartição<br />
<strong>de</strong> fazenda d'este concelho, veem<br />
pressurosos, no cumprimento d'um <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> justiça e gratidão, dar publico e solemne<br />
testemunho do seu profundo pezar<br />
por esta <strong>de</strong>sagradavel oceorrencia, em<br />
que se acha envolvido o nome impolluto<br />
<strong>de</strong> v. ex. a , tão querido e re-peitado não<br />
só em <strong>Coimbra</strong>, como em todo o paiz.<br />
Ao contemplar-se a individualida<strong>de</strong><br />
distincta do bsnemerito redactor d o Conimbricense,<br />
reinemorando-se os seus serviços,—<br />
como illustre <strong>de</strong>cano do jornalismo<br />
portuguez, como <strong>de</strong>fensor valoroso<br />
das liberda<strong>de</strong>s publicas, como apostolo<br />
incansavel do progresso, como protector<br />
<strong>de</strong>svelado das classes operarias e inexcedivel<br />
propugnador dos interresses <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, — bem pô<strong>de</strong> comprehen<strong>de</strong>r-se<br />
quão doloroso se torna para os signatários<br />
o verem um venerando ancião, precedido<br />
<strong>de</strong> nolabilissimas tradições, intelligente,<br />
trabalhador e honrado, cidadão<br />
emérito <strong>de</strong> quem irradiam fulgurantes<br />
ensinamentos para os novos, levado ao<br />
banco dos réus por virtu<strong>de</strong> d um artigo,<br />
que não escreveu, e cuja responsabilida<strong>de</strong><br />
o seu auctor assumiu I<br />
A espontaneida<strong>de</strong> d'esta sincera homenagem<br />
por parlerdos signatarios, tem<br />
por fim único, manifestar o muito apreço,<br />
estima e consi<strong>de</strong>ração que lêem por v.<br />
ex. a . a quem esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve tantos e<br />
tao relevantes serviços. .<br />
Creia, pois, ill.° e ex. ra0 sr. Joaquim<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, que o dia d'esse<br />
julgamento ficará, por muitos titulos,<br />
tristemente memorável no espirito dos<br />
abaixo assignados, que se confessam<br />
admiradores sinceros das virtu<strong>de</strong>s civicas<br />
que exornam o vulto sympathico <strong>de</strong> tão<br />
erudito jornalista e prestimoso cidadão.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 18 dc Dezembro <strong>de</strong> 1892.<br />
*<br />
Os corpos gerentes da Associação dos<br />
Artistas, Real Corporação <strong>de</strong> Salvação<br />
Publica e Monte pio Conimbricense também<br />
já entregaram as suas mensagens ao<br />
<strong>de</strong>cano dos jornalistas portuguezes, sr.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho, as quaes<br />
bem significam a indignação que está<br />
produzindo este processo.<br />
A direcção da Assembleia Recreativa<br />
foi na terça feira cumprimentar o sr.<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, siguificando-lhe o<br />
seu pezar pela perseguição <strong>de</strong> que está<br />
sendo victima.<br />
A falta <strong>de</strong> espaço não nos <strong>de</strong>ixa copiar<br />
na integra esses documentos que<br />
são um protesto eloquente contra a lei<br />
das rolhas, e uma prova da alta estima<br />
em que têm este digno filho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
»<br />
O exercito e a politica<br />
Dizem os jornaes que foi importantíssima<br />
a conferencia do sr. tenente coronel<br />
Fava, na Liga Liberal.<br />
Sustentou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o exercito<br />
contribuir para uma nova situação,<br />
a fim <strong>de</strong> evitar que nos seja imposta a<br />
vergonha d'uma administração estrangeira.<br />
Eis a synthese da sua <strong>de</strong>monstração:<br />
—«Se ao exercito, cumpre salvaguardar<br />
as iirununida<strong>de</strong>s e a integrida<strong>de</strong><br />
da patria, mais uma razão para que elle<br />
seja uma sentinelfa vigilante contra tudo<br />
e todos que possam prejudicar essas<br />
immunida<strong>de</strong>s ou fazer perigar essa integrida<strong>de</strong>.<br />
«Que ao exercito pertence o direilo <strong>de</strong><br />
fazer sentir a sua acção moral sobre a<br />
politica do paiz;<br />
«Que se <strong>de</strong>clara contrario ás dictadiKas<br />
militares, por que cilas só teem<br />
rasão <strong>de</strong> ser em um paiz cuja or<strong>de</strong>m<br />
publica esteja profundamente alterada e<br />
não em Portugal, que, na opinião <strong>de</strong> sua<br />
ex: a , ca minha mo<strong>de</strong>rada elrauquillamente.<br />
«Que o militar, ao assentar praça,<br />
jura <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria contra os inimigos<br />
externos e internos e que, na presente<br />
occasião, são estes últimos quem tem levado<br />
o paiz ao estado em que se encontra;<br />
«Que a missão do exercito, finalmente,<br />
não é a <strong>de</strong> um simples automato<br />
e que a sua acção moral se <strong>de</strong>ve fazer<br />
sentir em todos os actos da activida<strong>de</strong><br />
nacional.»<br />
S. ex. a foi muito applaudido.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
0 <strong>de</strong>clinar do anno<br />
Dezembro toca o seu termo.<br />
As suas neves gelarão o coração do<br />
velho 92, que se escon<strong>de</strong>rá, em breve,<br />
na immensa galeria dos tempo-, on<strong>de</strong> a<br />
Historia faz a nomenclatura dos feitos<br />
heroicos e das vergonhas immortaes.<br />
Quantos sonhos d'amor, quaulos sorrisos,<br />
quantas esperanças doiradas, e<br />
quantas lagrimas <strong>de</strong> sangue—traduzindo<br />
dores supremas—leva comsigo o auno<br />
velho á ultima morada 1<br />
Entre nós ficou bem tristemente assignalado<br />
1<br />
— Deu-nos vergonhas c vexames.<br />
Pergunto a mim mesmo, com terror<br />
e duvida, qua herança po<strong>de</strong>rá legar ao<br />
93.<br />
Perpassará no novo anno um reflexo<br />
do seu venerando antecessor que encheu<br />
a França <strong>de</strong> luz, ha um século?<br />
A era que nasce trará em si o clarão<br />
da aurora ou continuará a noite <strong>de</strong>nsa ?<br />
Ha um anno levantou o grito da revolta<br />
o senlimajjto da dignida<strong>de</strong> cruelmente<br />
olíeudido; hoje só a fome po<strong>de</strong>rá<br />
erguer a voz <strong>de</strong> protesto.<br />
Per<strong>de</strong>ram-se, entre nós, lodos os<br />
sentimentos: ficou o estomago apenas...<br />
e quando a fome aperta—os resultados<br />
egualam o esforço do brio I<br />
A fome ?!<br />
E porque não ?<br />
Os governos respon<strong>de</strong>m com bayonetas<br />
ao povo que pe<strong>de</strong> pão, e clama contra<br />
a nefasta marcha ministerial, que o<br />
carrega <strong>de</strong> impostos, usurpando-lhe a<br />
garantia do com:nercio livre, respeitada<br />
em todas as épocas e em todos os paize's.<br />
A corrente vae engrossando; os odios<br />
accumulam-se; a miséria bate-nos á porta;<br />
e o povo, reduzido á <strong>de</strong>sgraça pelas<br />
i_ t<br />
medidas exigentes do governo, hasteia<br />
a ban<strong>de</strong>ira negra da fome, e sae á revolta<br />
em nome dos martyres do trabalho,<br />
em nome dos filhos que pe<strong>de</strong>m pão'<br />
Os <strong>de</strong>sherdados da fortuna, que caminham<br />
pela senda espinhosa da vida,<br />
causlicados pelo sol, rotos, com as mãos<br />
ensanguentadas, e o olhar febril — são<br />
tremendos na sua ira quando alguém<br />
preten<strong>de</strong> roubar-lhes o pedaço <strong>de</strong> pão<br />
negro que adquirem á força <strong>de</strong> canceira<br />
e á custa <strong>de</strong> suor.<br />
Então revollam-se: do martyr sae o<br />
leão, <strong>de</strong>scommunal na sua cólera, grandioso<br />
na sua altivez 1<br />
O povo, na hora suprema das gran<strong>de</strong>s<br />
exaltações,.não teme o aço das bayonetas;<br />
transforma-se <strong>de</strong> martyr em luctador<br />
e ven<strong>de</strong> sangue por sangue e tiro<br />
por tiro 1<br />
Christo também era martyr... e expulsou,<br />
a chicote, os vendilhões do templo<br />
!<br />
*<br />
Seja como fôr — revolução ou evolução—torna-se<br />
precisa uma reforma! Não<br />
se entenda por isto que aconselhamos<br />
movimentos <strong>de</strong> violência, porque acima<br />
<strong>de</strong> qualquer paixão politica vence-nos o<br />
amor por este pedaço <strong>de</strong> terra a que no<br />
estrangeiro se chama provinda d'Hespanha,<br />
e a que nós, affectuosamente, chamamos<br />
Portugal.<br />
Primeiro que tudo—o bem da patria.<br />
Mas... para que a patria não .perca<br />
<strong>de</strong> vez a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>neia—é urgente<br />
valer-lhe, reorganisando. A gerencia<br />
actual trará a morte ! O sr. José Dias<br />
não olha direito, e assim a nau navega...<br />
torta 1<br />
Fra-Diavolo.<br />
20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
As coisas ministeriaes<br />
Parece que é <strong>de</strong>finitivamente homem<br />
ao mar o sr. bispo <strong>de</strong> Bethsaida.<br />
Sfgundo as Novida<strong>de</strong>s o bispo já está<br />
<strong>de</strong>mittido, <strong>de</strong>veudo apparecer por estes<br />
dias o <strong>de</strong>creto da <strong>de</strong>missão e ficando com<br />
a pasta dos estrangeiros interinamente<br />
o sr. Ferreira do Amaral.<br />
Este jornal redobra <strong>de</strong> virulência nos<br />
ataques ao bispo, dizendo-se que a razão<br />
d'isso está em que segundo a nova reforma<br />
do ministério dos estrangeiros<br />
feita pelo, sr. Bethsaida, o sr. Navarro<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> recebe» 13 contos para só receber<br />
6...<br />
Aqui é que bate o ponto.<br />
Instituto anti-rabico<br />
Está já assignado o <strong>de</strong>creto creando<br />
em Lisboa um instituto anti-rabico para<br />
o tratamento da hydrophobia pelo systema<br />
pastoriaoo.<br />
O plano da organisação d'esse estabelecimento<br />
foi orgauisado pelo illustre<br />
professor e eminente clinico sr. dr. Sousa<br />
Martins, e o seu orçamento apenas attinge<br />
um terço da verba que até agora era<br />
dispendida pelo estado com o fim <strong>de</strong><br />
subsidiar os mordidos que iam tratar-se<br />
a Paris, no instituto da rua <strong>de</strong> Ulm.<br />
De ha muito era reconhecida a necessida<strong>de</strong><br />
d'este estabelecimento e com<br />
certeza se o governo gastasse o seu tempo<br />
em coisas tão úteis conseguiria a<br />
<strong>de</strong>lerencia popular.<br />
Infelizmente, porém, isto são arrancos<br />
isolados <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z que raro se repercutem<br />
nos actos governativos.<br />
A hygiene do velocípe<strong>de</strong><br />
O dr. Tissié, <strong>de</strong> Bordéus, fez um<br />
estudo da acção que a velocipedia produz<br />
nas principaes funeções da nossa economia.<br />
D'esse estudo <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong>-se que a<br />
velocipedia é um exercício útil para a<br />
respiração, sempre que seja mo<strong>de</strong>rado;<br />
em caminho plano nunca a velocida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser superior a 20 kilometros por<br />
hora para os homens robustos; para o<br />
cummum, <strong>de</strong>ve oscillar entre 12 a 15<br />
kilometros.<br />
As creanças <strong>de</strong>vem abster-se d'esse<br />
exercício antes dos treze annos. Deve<br />
procurar-se, quanto possível, respirar<br />
pelo nariz, nâo obstante ser inevitável a<br />
respiração pela bocca, quando ha muita<br />
velocida<strong>de</strong> ou chega a ladiga.<br />
O exercício mo<strong>de</strong>rado da velocipedia,<br />
é um excellente calmante do systema<br />
nervoso, principalmente nas pessoas que<br />
tenham um trabalho cerebral exaggerado.<br />
Aos ameaçados <strong>de</strong> hemiplegia (paralysia<br />
parcial) <strong>de</strong>ve recommendar-se-lhes o tricyclo.
AX%i> I — 4 5<br />
* H l L . ._ . .<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>»<br />
Realisou^se no domingo, como havia -<br />
mos noticiado, a festa velocipedica, organisada<br />
pelo Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Um dia explendido, attrahindo bastante<br />
concorrência ao local da corrida,<br />
se atten<strong>de</strong>rmos que o nosso publico está<br />
pouco educado para estes divertimentos.<br />
Conitudu muitas senhoras assistiram a<br />
esta festa, que correu animada e cheia<br />
<strong>de</strong> interesse.<br />
O jury era composto dos srs. dr.<br />
Eduardo Vieira, presi<strong>de</strong>nte; Joaquim Salinas<br />
Antunes e Gualdim <strong>de</strong> Queiroz,<br />
secretários,<br />
Despedidor da corrida: Victor José<br />
<strong>de</strong> Deus—Preparador: Joaquim Pessoa<br />
—•Guardas: Cesar Ventura, Henrique<br />
<strong>de</strong> Vasconcellos, Atalyba <strong>de</strong> Sousa, Arthur<br />
Cal<strong>de</strong>ira, Luiz <strong>de</strong> Macedo, Julio<br />
Sampaio e José Meira.<br />
1.* corrida—Velocida<strong>de</strong> — 2:650<br />
metros.<br />
Estavam inscriptos 14 velocipedistas<br />
que sahiram da balisa em grupos <strong>de</strong> 3.<br />
Resultado:<br />
Alherto Rego, 6 minutos—Benjamim<br />
Rraga, 6 minutos e 19 segundos—<br />
Teixeira da Cunha, 6 m. e 24 s.—Alvaro<br />
Coelho, 6 ni. e 25 s.—Men<strong>de</strong>s d'Ahreu,<br />
6 m..e 50 s. — Pare<strong>de</strong>s, 6 ni. e 55 s.<br />
— Teixeira Coelho, 7 m. e 20 s. — A.<br />
Themudo, 7 m. e 25 s.—Joaquim Rama,<br />
7 m. e 40 s. — Rocha <strong>Coimbra</strong>, 7 m. e<br />
50 s. — Borges <strong>de</strong> Oliveira, 7 m. e 53<br />
s. — Costa Allemão, 8 m. — e Jàyme<br />
Coelho, 8 in. e 45 s.<br />
Inci<strong>de</strong>nte:—Nesta corrida ficou preterido<br />
o sr. Angelo Ferreira, que teve a<br />
infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se lhe quebrar o pedal da<br />
bi-cycleta, ferindo se bastante na queda,<br />
o que o inhihiu <strong>de</strong> tomar parle nas outras<br />
corridas.<br />
2. a corrida — Iíesisteucia —7:950<br />
metros.<br />
Apresentaram-se 11, sahindo como<br />
da primeira. Resultado:<br />
Alberto Rego, 20 minutos—-Joaquim<br />
Rama, 20 m.—Alvaro Coelho, 20 m.<br />
e 17 segundos.—Borges Oliveira, 20<br />
m. e 45 s.—Teixeira da Cunha, 21 m.<br />
e 15 s.—Teixeira Coelho, 22 m. e 10<br />
s. — Men<strong>de</strong>s d'Abreu, 22 m. e 57 s.—<br />
Pare<strong>de</strong>s, 24 m. e 20 s.<br />
Não foi classificado o sr. A. Themudo<br />
por uão seguir o terreno marcado. Como<br />
houvesse empate entre os srs. Rego e<br />
Rama proce<strong>de</strong>u-se a uma volta, saindo<br />
vencedor o sr. Rego, o que lhe valeu<br />
estrepitosos applausos.<br />
3. a corrida — Reccord — 2:650<br />
metros.<br />
Tomaram parle nesta corrida Ires<br />
soldados sapadores do regimento 23,<br />
gastando no percurso: o 1.°, 6 minutos<br />
e 55 segundos; o-2.°, 6 m. e 57 s., o<br />
3.°, 7 m.<br />
4.® corrida—Championnat— 7:950<br />
melros.<br />
Inscriplos o sr. José Motta e Rodrigues<br />
<strong>de</strong> Oliveira. Resultado:<br />
Motta, 17 minutos e 30 segundos<br />
— Oliveira, 18 m.<br />
Despertou gran<strong>de</strong> interesse esta corrida<br />
pela boa reputação que gozam os<br />
luctadores; é cerlo que o sr. Moita levou<br />
vantagem ao seu competidor ua segunda<br />
volta ganhando a corrida. Recebeu ovação<br />
do publico e os cumprimentos dos seus<br />
admiradores.<br />
George Miuchin que honrou com a<br />
sua presença esta festa do Gymnasio<br />
abraçou o vencedor que disputára tão<br />
brilhantemente a corrida do campeonato.<br />
5. a corrida—Negativa —100 metros.<br />
Partiram da balisa 10 velocipedistas;<br />
aos pi inteiros passos a maioria per<strong>de</strong>u,<br />
<strong>de</strong>ixando na pista os srs. Affonso Themudo<br />
e Alvaro Coelho, que loram os<br />
vencedores.<br />
E' preciso dizer-se que esta corrida<br />
se não teve o interesse que merecia,<br />
pelas suas difficulda<strong>de</strong>s, foi <strong>de</strong>vido á<br />
teimosia do publico que por mais esforços<br />
que se empregaram não <strong>de</strong>ixou terreno<br />
sufficiente para (pie os velocipedistas<br />
po<strong>de</strong>ssem caminhar com segurança.<br />
6. a corrida — Consolação — 5:300<br />
melros.<br />
Compareceram 5 corredores. Resultado<br />
:<br />
Borges "d'Oliveira, 13 minutos e<br />
S0 segundos—Kopke, 13 m. e 40 s.—<br />
A. Themudo, 13 m. e 45 s. —Teixeira<br />
da Cunha, 13 m. e 50 s.—Jafme Coelho,<br />
15 m. e 30 s.<br />
Também tomou parte o sr. Rodrigues<br />
d'01iveira que foi o primeiro a chegar á<br />
balisa não sendo classificado pelo facto<br />
d'estar inscripto na corrida do Campeonato.<br />
Inci<strong>de</strong>nte: Nesta corrida teria ficado<br />
vencedor o sr. Teixeira da Cunha, se não<br />
tivesse tido a má sorte <strong>de</strong> abalroar com<br />
a bi-cycleta do sr. Kopke, que o obrigou<br />
a <strong>de</strong>smontar, ganhando bastante avanço<br />
neste pequeno ínlervallo o seu competidor.<br />
Os prémios, foram entregues aos<br />
vencedores:<br />
Alberto Rego e Benjamim Braga —<br />
corrida.<br />
Alberto Rego e Joaquim Rama— 2. 8<br />
corrida.<br />
Soldado sapador n.° 33—3* corrida.<br />
José Motta — 4. & corrida.<br />
Affonso Themudo e Alvaro Coelho—<br />
5. a corrida.<br />
Borges d'Oliveira e Kopke— 6.* cor<br />
rida.<br />
*<br />
O sr. Rego, obteve também uma<br />
penna <strong>de</strong> prata, premio offerecido ao<br />
Gymnasio pelo sr. Marlins d'Araujo,<br />
para ser dado ao velocipedista que mais<br />
se distinguisse nas bi-cycletas Quadrant,<br />
<strong>de</strong> que o nosso amigo é único agente<br />
nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Devemos dizer que foram estas bicycletas<br />
que sobresairam nesta corrida,<br />
e que obtiveram os melhores prémios.<br />
*<br />
Fez a policia em parte da pista um<br />
piquete <strong>de</strong> bombeiros Voluntários que<br />
prestaram bons serviços. Esta corporação<br />
ofíereceu ao Gymnasio um bonito álbum<br />
para retratos, <strong>de</strong>stinado ao vencedor da<br />
corrida <strong>de</strong> Consolação, o qual coube ao<br />
sr. Augusto Borges d'Oliveira.<br />
*<br />
Os outros agentes <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
nesta cida<strong>de</strong> também olfereceram prémios<br />
ao Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>: o sr. Antonio<br />
José Alves, um magnifico bandolim; e o<br />
sr. Antonio Pereira <strong>de</strong> Carvalho, um relogio-<strong>de</strong>spertador<br />
e um calendario <strong>de</strong> fitas<br />
proprio para pare<strong>de</strong>.<br />
*<br />
Sabemos que o Gymnasio está organisando<br />
a secção <strong>de</strong> velocipedia e que<br />
brevemente serão annunciados passeios<br />
e viagens ofliciaes. Aos velocipedistas <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> convém, pois, inscreverem-se<br />
como socios, o que lhe dará algumas regalias.<br />
*<br />
O mesmo Gymnasio vae promover<br />
uma corrida <strong>de</strong> andarilhos, tralando-se<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>de</strong> organisar os elementos precisos<br />
para levar a effeito este pensamento,<br />
que começa a <strong>de</strong>spertar gran<strong>de</strong> enthusiasmo<br />
entre os associados d'esta- agremiação.<br />
(Gazeta Nacional»<br />
Esle nosso illustrado collega conimbricense<br />
entrou no 2.° anno da sua publicação,<br />
contando já bons serviços prestados<br />
ao paiz e á <strong>de</strong>mocracia.<br />
Acompanhando os acontecimentos políticos<br />
mais palpitantes, a Gazeta Nacional<br />
tem <strong>de</strong>sempenhado nobremente a<br />
sua missão, já tratando dos interesses<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, já combatendo a <strong>de</strong>pravação<br />
politica e a immoralida<strong>de</strong> que tem<br />
presidido aos negocios do estado.<br />
Receba o illustrado collega as nossas<br />
sinceras felicitações pelo seu primeiro<br />
anniversario.<br />
Reparações 110 templo <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz<br />
Ainda não principiou o assentamento<br />
do arco cruseíro, porisso que esle trabalho<br />
se prolongaria até á semana santa,<br />
impedindo assim que se celebrassem alli<br />
os officios divinos.<br />
Só <strong>de</strong>pois d'essa epocha se proce<strong>de</strong>rá<br />
a estajibra, que como já referimos é<br />
dirigida pelo sr. Estevão Parada, que<br />
tem recebido dos entendidos merecidos<br />
applausos pela correcção e esmero com<br />
que se tem <strong>de</strong>sempenhado das reparações<br />
feitas neste grandioso monumento<br />
artístico.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Parece que o governo em consequência<br />
da falta <strong>de</strong> professores para<br />
o ensino na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito conce<strong>de</strong>rá<br />
ao lente da mesma Faculda<strong>de</strong>,<br />
sr. dr. José Joaquim Fernan<strong>de</strong>s Vaz, a<br />
necessaria licença para a regência da sua<br />
ca<strong>de</strong>ira durante o periodo parlamentar.<br />
O DEFENSOR BO POVO 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
A Valia dos Lazaros<br />
Completou-se já o ensoleiramento<br />
d'esta valia, indo-se proce<strong>de</strong>rá cobertu<br />
ra do cano.<br />
Foi ura serviço importante para a hygiene<br />
publica a que está ligado o nome<br />
do sr. Caslro Mattoso, <strong>de</strong>putado por e>te<br />
circulo.<br />
O sr. Manoel José Esleves encarregado<br />
d'este trabalho tem empregado todos<br />
os seus esforços para o concluir com<br />
a possível brevida<strong>de</strong>.<br />
Desaitre<br />
Quando regressavam d'um enterro<br />
os nossos amigos srs. José Antonio Lucas<br />
e João da Fonseca Barata, o carro<br />
que os conduzia ficou sem uma roda ao<br />
pa-*sarem <strong>de</strong>fronte da Havaneza. Os cavallos<br />
espantaram-se e seguiram á <strong>de</strong>sfilada<br />
pela rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, po<strong>de</strong>ndo<br />
segurados os srs. Moutinho eGandarez.<br />
Por felicida<strong>de</strong> os nossos amigos ficaram<br />
illesos, soffrendo apenas o susto.<br />
De luto<br />
Pela morte <strong>de</strong> sua sogra eslá <strong>de</strong> luto<br />
o commerciante d'esta praça sr. José Joaquim<br />
da Silva Pereira, a quem enviamos os<br />
nossos pezames.<br />
Prisão .<br />
Foi preso na estação do ramal José<br />
Augusto <strong>de</strong> Sousa Ribeiro, <strong>de</strong> Yilla Nova<br />
d'Anços, por queixa que fez Bosa Pádua,<br />
do terreiro da Erva, <strong>de</strong> lhe ter furtado da<br />
gaveta 1$200 e 500 réis á meretriz Antónia<br />
da Conceição, havendo uma taberneira<br />
da Sophia a quem o mesmo subtrahiu<br />
1$000 réis.<br />
O <strong>de</strong>sgraçado confessou na esquadra<br />
ser verda<strong>de</strong>ira a accusação da Rosa. Foi-<br />
Ihe encontrado um porte-monnate, uma<br />
boquilha e um broche <strong>de</strong> plaquet, que<br />
havia comprado cora o dinheiro que fur-<br />
.tára.<br />
Ponte da Cidreira<br />
Devido ao bom tempo que temos<br />
gozado, os trabalhos <strong>de</strong> reconslrucção<br />
d'esta ponte teem proseguido com <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
esperando-se que era breves<br />
semanas seja aberta ao publico.<br />
morte repentina<br />
O pedreiro Sebastião Augusto, ao regressar<br />
d uma festa <strong>de</strong>morou-se algum<br />
tempo com os seus amigos em Santa<br />
Clara, tocando violas e guitarras, na estrada.<br />
De repente o Sebastião cae fulminado<br />
por um ataque cerebral, e os companheiros<br />
correm pressurosos a prestar-lhe<br />
auxilio.<br />
Poucos momentos <strong>de</strong>pois chegava a<br />
maca dos bombeiros Voluntários que conduzia<br />
o infeliz operário para o hospital,<br />
on<strong>de</strong> chegou já cadaver. Um medico que<br />
foi chamado verificou o obito.<br />
Ciran<strong>de</strong> corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
Um grupo <strong>de</strong> cidadãos d'esta cida<strong>de</strong><br />
promove para os princípios do proximo<br />
janeiro uma gran<strong>de</strong> corrida <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s,<br />
na qual se po<strong>de</strong>rão inscrever todos<br />
os velocipedistas portuguezes.<br />
Os prémios serão medalhas <strong>de</strong> ouro,<br />
prata e cobre, estando encarregado do<br />
seu fabrico o sr. Manoel Martins Bibeiro,<br />
ourives <strong>de</strong> muila competencia e aptidão.<br />
Falla-se que haverá duas medalhas<br />
<strong>de</strong> ouro, 5 <strong>de</strong> prata e lu <strong>de</strong> cobre.<br />
Brevemente será publicado o programma<br />
d'esta corrida, que <strong>de</strong>verá at-<br />
Irahir o <strong>Coimbra</strong> gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> velocipedistas.<br />
Grémio operário<br />
Esta agremiação conimbricense inaugurou<br />
no domingo as reuniões familiares<br />
d'esta epocha.<br />
Foi uma noite bem passada reinando<br />
sempre muita animação e dançando se até<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
Queda<br />
Seguiam pela linha do ramal na madrugada<br />
<strong>de</strong> segunda feira, José Cardoso<br />
e José Soares, das Torres, que. iam embarcar<br />
na estação velha. Aquelle ao passar<br />
na ponte fronteira á Casa do Sal cahiu<br />
ferindo-se gravemente.<br />
Conduzido em maca para o hospital<br />
ficou em tratamento.<br />
O guarda da linha suspeitando que<br />
da parle do companheiro do Cardoso houvera<br />
criminalida<strong>de</strong>, pren<strong>de</strong>s o, sendo soilo<br />
ao <strong>de</strong>clarar o ferido que a queda fôra<br />
casual.<br />
Deposito <strong>de</strong> pannos<br />
A fabrica <strong>de</strong> lanifícios da Covilhã,<br />
<strong>de</strong> que é gerente o sr. con<strong>de</strong> do Refugio<br />
acaba <strong>de</strong> estabelecer nest» cids<strong>de</strong> em<br />
<strong>de</strong>posito dos seus productos, para as vendas<br />
por junto.<br />
O <strong>de</strong>positário nesta cida<strong>de</strong> é o nosso<br />
amigo sr. Mattns Areosa, negociante ém<br />
<strong>Coimbra</strong>, que installou o escriptorio na<br />
rua Ferreira Borgos.<br />
Theatro-Circo<br />
Annuncia-se para os dias 7, 8, 10,<br />
11 e 13 <strong>de</strong> janeiro a apparição no Theatro-Circo<br />
d'uma companhia <strong>de</strong> Lisboa,<br />
representando o Burro do sr. Alcai<strong>de</strong>,<br />
Moleiro d'Alcala e Sinos <strong>de</strong> Corneville.<br />
Lembramos á empreza a conveniência<br />
<strong>de</strong> annunciar o nome da referida<br />
companhia lisbonense, porisso que se<br />
propala que é uma companhia ambulante,<br />
sem ter scenario proprio, nem corpo <strong>de</strong><br />
coristas.<br />
E o publico que tem dois Burros á<br />
escolha <strong>de</strong>seja saber era qual d'elles<br />
vae melhor servido.<br />
Annuario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Este livro correspon<strong>de</strong>nte ao anno<br />
<strong>de</strong> 1893, publica os Estatutos com que<br />
D. Manoel dotou esle estabelecimento<br />
scientilico, não alterando o orthographia<br />
d'esse antigo documento.<br />
Chuva <strong>de</strong> peixes<br />
Oobservatorio meteorologico <strong>de</strong> Bjelnia,<br />
na Bósnia, refere o seguinte phenoraeno:<br />
Na noite <strong>de</strong> 21 para 23 <strong>de</strong> julho passado,<br />
<strong>de</strong>pois da meia noite, caiu sobre<br />
Bjelnia uma tempesta<strong>de</strong> violentíssima, que<br />
durou duas horas.<br />
Com a chuva torrencial caiu uma<br />
enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixinhos ainda<br />
vivos.<br />
Na manhã seguinte, nas ruas e nos<br />
campos, por toda a parte, andou gente<br />
apanhando esses peixes.<br />
A GRANEL<br />
Consta a ura jornal qqe será concedido<br />
esle anno ao régio beneplácito o Breve<br />
Apostolico que santifica o dia <strong>de</strong> S. José,<br />
e que ha dois ou tres annos espera a occasião<br />
propicia para ser apresentado em<br />
cortes.<br />
* * # Os estudantes da escola <strong>de</strong><br />
me<strong>de</strong>cina <strong>de</strong> Budapest, apuparam em<br />
plena aula o professor <strong>de</strong> cirurgia Kovaes,<br />
por o dito professor mal tratar <strong>de</strong> pancadas<br />
os doentes do hospital.<br />
O professor quiz reagir contra as<br />
vaias dos estudantes, mas estes pozeramno<br />
fóra da aula.<br />
Houve uni tumulto in<strong>de</strong>scriptivel.<br />
* * * Os gatunos andam <strong>de</strong>saforados<br />
em Beja.<br />
* *, # Nas escavações que continuam<br />
na herda<strong>de</strong> do Montinho, dizem <strong>de</strong><br />
Beja, foram <strong>de</strong>cobertas tres supulturas<br />
na rocha.<br />
Continham poucos ossos.<br />
* * * A's senhoras recolhidas no<br />
extincto convento da Conceição (Beja)<br />
foram auctorisados subsídios raensaes<br />
pelo respectivo ministro, na importancia<br />
<strong>de</strong> 34$000 réis.<br />
* * # Em 23 do corrente <strong>de</strong>ve<br />
inaugurar-se o novo mercado, um dos<br />
mais notáveis melhoramentos com que a<br />
municipalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vianna do Castello<br />
dotou aquella cida<strong>de</strong>,<br />
* * # Acossados pelo frio, teem<br />
apparecido muitos lobos no concelho <strong>de</strong><br />
Trancoso.<br />
* * * O patacho Gulgo, na sua recente<br />
viagem <strong>de</strong> Lisboa para o Funchal,<br />
apanhou tamanho temporal, que foi obrigado<br />
a atirar carga ao mar.<br />
# * * No Alemtejo, o preço do azeite<br />
está regulando por 2$ 100 réis o <strong>de</strong>calitro.<br />
* * # Continúa subindo o cambio<br />
do Brazil. A cotação do cambio bancario<br />
sobre Londres, que tinha hcado a 13 9 /ie<br />
no dia 15, ficou a 14 d. em 17.<br />
* * * Foi preso em Loanda João<br />
Antonio da Silva, implicado no fabrico <strong>de</strong><br />
nolas falsas da exiincta junta <strong>de</strong> fazenda<br />
publica.<br />
* * * No Porto continuam a fazerse<br />
a exportação <strong>de</strong> vinhos em larga escala<br />
principalmente para o Brazil. No<br />
norte está vendida a maior parte dos<br />
existentes, a preços elevados, comparativamente<br />
com os do passado.<br />
* * * No Douro está-se proce<strong>de</strong>ndo<br />
á replantação <strong>de</strong> vários terrenos phyloxerados,<br />
por meio <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>iras americanas.<br />
* * * Foi recebida pelo sr. Dias<br />
Ferreira a commissão <strong>de</strong>legada do comício<br />
do Porto.<br />
* * * Deve começar a publicar-se<br />
em janeiro proximo um novo jornal realista<br />
intitulado Portugal Velho.<br />
* * # Falleceu em Aveiro a sr. a D.<br />
Maria Dorothea d« Magalhães, irmã do<br />
gran<strong>de</strong> tribuno José Estevão.<br />
* * # Pelas noticias recebidas pelo<br />
Cazengo sabe-se que o estado das nossas<br />
províncias da Africa Occi<strong>de</strong>ntal era regular.<br />
* * # Com o intensíssimo frio que<br />
tem feito ultimamente em Chaves, dizem<br />
d'aquella localida<strong>de</strong>, formou-se nas montanhas<br />
um espesso nevão. Das arvores<br />
pen<strong>de</strong>m enormes laminas <strong>de</strong> gelo, obrigando<br />
as a partir como peso. Nalgumas<br />
povoações ha gran<strong>de</strong>s prejuízos nos castanheiros<br />
e oliveiras.<br />
* * # Dentro da sentina <strong>de</strong> um<br />
prédio da rua <strong>de</strong> Dunões, em Guimarães,<br />
appareceu morto um cocheiro. A<br />
policia tomou conta do facto e averigua<br />
se ha crime.<br />
* * # Em Alijó tem sido muito<br />
procurada a aguar<strong>de</strong>nte, havendo gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> transacções ao preço médio <strong>de</strong><br />
180)$000 réis a pipa.<br />
* * * Parece que um grupo <strong>de</strong> capitalistas<br />
do Porto vae pedir ao governo<br />
auctorisaçâo para estabelecer um caminho<br />
<strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> via reduzida, entre a<br />
Régua e Villa Real, dispensando qualquer<br />
garantia <strong>de</strong> juro.<br />
* * # Em Villa Ver<strong>de</strong>, uma mulher<br />
<strong>de</strong>u á luz duas creanças unidas pelo baixo<br />
ventre e só com duas pernas.<br />
Falleceram horas <strong>de</strong>pois.<br />
* * # No ministério dos estrangeiros,<br />
por espaço <strong>de</strong> oito dias estão patentes<br />
as relações obituarias Hos consulados<br />
<strong>de</strong> Portugal em Cadiz, no Maranhão<br />
e no Pará, relativos ao mez <strong>de</strong> outubro.<br />
* * # No Alemtejo, o preço do<br />
azeite eslá regulando por 2$100 réis o<br />
<strong>de</strong>calilro.<br />
* * * Dizem <strong>de</strong> Beja que nestes<br />
últimos dias se lera vendido para Lisboa<br />
mais <strong>de</strong> 30:000 almu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vinho tinto.<br />
O preço tem regulado entre mil e mil e<br />
cincoenta por almu<strong>de</strong>. O azsite também<br />
tem lido procura para o Algarve, e por<br />
isso subiu <strong>de</strong> preço.<br />
Coisas e loisas<br />
Entre dois Íntimos:<br />
— Por quem trajas luto?<br />
— Por minha tia Roberta.<br />
— Herdaste alguma coisa ?<br />
— Não. Istoé um luto... platonico.<br />
*<br />
Um <strong>de</strong>sgraçado poeta peneira timidamente<br />
no gabinete do director d'uma<br />
revista litteraria.<br />
--Desejarei submetter estas poesias<br />
á sua apreciação...<br />
O director sem parar <strong>de</strong> escrever:<br />
— Versos? Muito bem. Tenha a<br />
bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>de</strong>itar o senhor mesmo<br />
ahi para o cesto. Neste momento eStou<br />
muito occupado...<br />
Desgarradas<br />
Janella tão assistida<br />
Agora te vejo só,<br />
Se tivesse um lenço preto,<br />
Eu por ti <strong>de</strong>itava dó.
AINO I — 4 5 O DEFENSOR DO POVO 3» <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTORIA DE POHTÍIGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Míopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. m i m 2S SAMPAIO (BMO)<br />
Edição completa por um corpo da<br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr a D. Carolina Michaolis da<br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
df! Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theopbilo Braga.<br />
900 a 1:000 gravuras<br />
Pedir prospecto e espeeimen<br />
Assignalura 20 réis, fascículo<br />
Está concluído o 1volume<br />
Para informações B I B 1 I A<br />
» A r . R A » A I I Í I Í U S -<br />
TRADA-Mousinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> : na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
Flores — 4.<br />
v<br />
ACTURAS<br />
IMPRIMEM-SE<br />
Typographia Operaria<br />
Largo da Freiria, 14<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
D E GRAÇA<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> borraclia<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
A KIU — Ê este o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda, carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, calalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis —o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
A N N U N C I O S<br />
Portinha<br />
Repetições . —<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Juizo <strong>de</strong> Direito da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
ARREMATAÇÃO<br />
(1annuncio)<br />
„„ Mo dia 85 do corrente, pe-<br />
II las 11 horas da manhã, á<br />
porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça d'esta cida<strong>de</strong><br />
voltam pela segunda vez á praça,<br />
por meta<strong>de</strong> do seu valor e para serem<br />
entregues a quem maior lanço oITerecer,<br />
os prédios abaixo indicados, situados na<br />
freguezia <strong>de</strong> Semache e penhorados pela<br />
execução <strong>de</strong> sentença commercial que<br />
José Alves d'Oliveira, casado, proprietário,<br />
<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa-a-Nova, move contra<br />
José Augusto d'Oliveira e mulher Maria<br />
<strong>de</strong> Jesus Pimenta, proprietários, moradores<br />
em Villa Nova <strong>de</strong> Sernache:<br />
Uma morada <strong>de</strong> casas terreas, sitas<br />
no logar <strong>de</strong> Villa Nova, no valor <strong>de</strong><br />
18/000 réis;<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio das<br />
Publicação semanal aos fesciculos <strong>de</strong> Marinheiras, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100 valor <strong>de</strong> 15/000 réis;<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assi- Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio da<br />
gna-se em todas as livrarias do paiz e Moita Santa, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />
no escriplorio da empreza editora, rua valor <strong>de</strong> 7/000 réis;<br />
do Bomjaidim, 414. — Porto,<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura com agua<br />
<strong>de</strong> rega no sitio da Relva, limite <strong>de</strong> Villa<br />
Nova, no valor <strong>de</strong> <strong>35</strong>/000 réis;<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega no<br />
BIRLIA S.4GRAB4 sitio da Moiteira, limite <strong>de</strong> Casconha,<br />
no valor <strong>de</strong> 7«$500 réis.<br />
Pelo presente são citadas quaesquer<br />
pessoas que se julguem com direito aos<br />
<strong>de</strong>scriptos prédios ou ao seu producto<br />
para que o venham <strong>de</strong>duzir no praso<br />
legal.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
Verifiquei a exactidão.<br />
O Juiz <strong>de</strong> Direito,<br />
Queiroz.<br />
O escrivão,<br />
José Lourenço da Costa.<br />
AO PUBLICO<br />
61 cclaro para os <strong>de</strong>vidos effei-<br />
U tos, que o sr. Antonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rtia do Sargento-mór,<br />
n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892<br />
Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />
Novo estabelecimento<br />
66<br />
ntonio Paulo d'Olivcira,<br />
[ ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />
Santos Apostolo Junior, participa ao illustrado<br />
publico conimbricense que vae<br />
abrir um estabelecimento egual ao do<br />
seu ex-patrão, na rua do Sargento Mór,<br />
n. 05 1, 3 e 5.<br />
JULIÃO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
a j o seu antigo estabelecimento<br />
PI concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />
:<br />
Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2/200<br />
réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1)51500<br />
Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />
para coberturas baratas. Garante-se<br />
a perfeição do trabalho encommendado<br />
nesta casa.<br />
ia<strong>de</strong>ira para palitos<br />
iiem preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />
67<br />
guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />
palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leilão,<br />
resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />
VENDA DE CASA<br />
58 ¥ entle-se nana sita na Couraça<br />
dos Apóstolos, n.° 66. Para<br />
tratar com José Simões, largo do Castello.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
„„ | ugusto Nunes «los San-<br />
JPft tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
DEPOSITO DA M U NACIONAL<br />
DE<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
o TVjESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
i\| junto e a retalho, lodos os produclos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIME<br />
RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
2 Á e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, lanlo nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREGOS SEM COMPETIDOR<br />
N'<br />
ESTABELECIMENTO<br />
DH<br />
DE<br />
JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />
este estabelecimento encontra o comprador o que ha <strong>de</strong> mais<br />
mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />
Rua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />
Largo da Freiria, n. 0S I a 3<br />
COIMBRA<br />
..mu. .«E SEGUROS -PROBIDADE-<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e oulras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C. a<br />
N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
A L i VILLE_DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
I F - D E L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante e m <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO RODRIGUES SBABA, SDCGESSDS<br />
17—ADRO DE CIMA.—20<br />
H « M S -TAGUS-<br />
-FUNDADA KM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA.<br />
RÉIS 80:500^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMRRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio a.° 1 â — t."<br />
64 Gommoda e oratorio<br />
<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />
rua dos Sapateiros, n.°' 20<br />
a 24.<br />
r^SA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
„„ rtiNpreita-ne dinheiro sobre<br />
M objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Juro modico, como po<strong>de</strong>m experimentar.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Rorges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 0 — COIMBRA.<br />
0 DEFENSOR 00 POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
E D I T O R<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Com estampilha Sem estampilha<br />
Anno 21700<br />
Semestre.... i$330<br />
Trimestre,.. 680<br />
I<br />
Anno 2MOO<br />
Semestre.... 1$200<br />
Trimestre... 600<br />
mpresso na Typographia<br />
Operaria — Largo da Fruiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
Novas medidas<br />
financeiras<br />
Propalam os jornaes affectos ao<br />
governo que o sr. José Dias Ferreira<br />
está completamente absorvido<br />
no trabalho das novas medidas <strong>de</strong><br />
fazenda; e, para nos convencerem<br />
<strong>de</strong> que elle se entrega <strong>de</strong> alma e<br />
coração ao resurgimento do nosso<br />
paiz, noticiam que o sr. ministro da<br />
fazenda até se retirou <strong>de</strong> Lisboa, do<br />
gran<strong>de</strong> centro politico on<strong>de</strong> mais o<br />
po<strong>de</strong>m perturbar no seu cuidado<br />
salvador, para trabalhar tranquilamente<br />
numa isolada thebaida.<br />
Não nos convencem comtudo as<br />
affirmações d'aquelles jornaes, porque<br />
os prece<strong>de</strong>ntes do sr. José Dias,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entrou ultimamente para<br />
o ministério, só po<strong>de</strong>m garantir cuidados<br />
muito differentes d'aquelles<br />
que agora se lhe attribuem. Quem<br />
calcou aos pés com o maior <strong>de</strong>sprezo<br />
as tradições liberaes, que lhe custaram<br />
o labor <strong>de</strong> vinte annos <strong>de</strong> opposição<br />
a todos os governos, combatendo,<br />
ainda que muitas vezes pro<br />
forma, os passos errados ou criminosos<br />
das administrações transactas;<br />
quem postergou com a maior <strong>de</strong>sfaçatez<br />
as i<strong>de</strong>ias affirmadas num espaço<br />
<strong>de</strong> tempo relativamente largo, e<br />
que fizeram que o povo o olhasse<br />
como alguém <strong>de</strong> quem alguma cousa<br />
<strong>de</strong> bom se po<strong>de</strong> esperar, liado na sua<br />
boa vonta<strong>de</strong>, no seu patriotismo e<br />
nas suas affirmações fementidas;<br />
quem se esquece vergonhosamente<br />
das promessas que, ao subir ao po<strong>de</strong>r<br />
numa hora solemnissima, solemnemente<br />
fez a um povo inteiro;<br />
quem, apresentando-se como um<br />
salvador, como um messias pre<strong>de</strong>stinado<br />
a estabelecer um novo reinado<br />
<strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> rectidão, illu<strong>de</strong><br />
sem rubor a expectativa <strong>de</strong> milhares<br />
d'homens, não dá, por certo,<br />
garantia segura <strong>de</strong> que possa tomarse<br />
a serio e faz presuppor que quaesquer<br />
medidas que apresente, se algumas<br />
apresentar, terão antes em<br />
vista satisfazer interesses particulares<br />
do que os interesses do paiz,<br />
assim como o po<strong>de</strong>r lhe tem servido<br />
só para satisfazer a sua vaida<strong>de</strong> pessoal.<br />
As antigas affirmações do sr.<br />
Dias Ferreira, apregoando que antes<br />
queria o favor das praças que o favor<br />
dos Paços e que á opinião das camarilhas<br />
preferia a opinião do povo,<br />
teem cahido ridiculamente perante a<br />
opinião sensata; poucos serão ainda<br />
os ingénuos que <strong>de</strong>ponham as suas<br />
esperanças neste salvador irrisorio.<br />
Mas' este illudir <strong>de</strong> esperanças,<br />
esta zombaria dos mais nobres sentimentos,<br />
esta suprema <strong>de</strong>cepção do<br />
nosso povo, náo po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
produzir as consequências qué d'ellas<br />
naturalmente <strong>de</strong>rivam. Descrente <strong>de</strong><br />
todosXaquelles, que antes da actual<br />
situação se sentaram nas ca<strong>de</strong>iras do<br />
po<strong>de</strong>r; <strong>de</strong>scrente ainda d'estes, que<br />
se lhe apresentavam como o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro<br />
recurso e que lhe acenavam<br />
com uma nova era <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong><br />
serieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> honra<strong>de</strong>z, o nosso<br />
povo ha- <strong>de</strong> conhecer, se d'isso não<br />
estiver convencido ainda," que nada<br />
po<strong>de</strong> esperar d^ste estado <strong>de</strong> coisas,<br />
que garantias nenhumas lhe dão estes<br />
homens e que uns valem os outros.<br />
E então, ou ha <strong>de</strong> cahir miseravelmente<br />
no precipicio, que todos elles<br />
lhe teem cavado aos pés, ou ha <strong>de</strong>,<br />
num supremo esforço <strong>de</strong> virilida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> sensatez, arrancar do po<strong>de</strong>r os<br />
homens nefastos que teem produzido<br />
a sua ruina economica e a sua pobreza<br />
humilhante, arrastando a«<br />
mesmo tempo pela lama o seu credito<br />
<strong>de</strong> povo honrado, para os substituir<br />
por outros homens, que lhe<br />
dêem um penhor seguro d'uma nova<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coisas, d'um novo regimen<br />
<strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> honra. E.estes<br />
aprenda o paiz a conhecel-os e a dis-<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
tinguil os <strong>de</strong>ntre a turba multa dos<br />
que o teem illudido' e anniquilado ;<br />
repare nos homens que lhe arrancaram<br />
dos olhos a venda que lh'os<br />
cegava, que lhe apresentaram em<br />
toda a sua nu<strong>de</strong>z os factos mais escandalosos<br />
das altas regiões do po<strong>de</strong>r,<br />
que, pela sua opposição tenaz<br />
e constante a todos os abusos e a<br />
todas as prevaricações, já obstaram<br />
em gran<strong>de</strong> parte ás mais escandalosas<br />
acções.<br />
Dos outros só po<strong>de</strong> esperar tanto<br />
como tem obtido das promessas do<br />
sr. presi<strong>de</strong>nte do conselho e como<br />
po<strong>de</strong> esperar das novas medidas financeiras<br />
do actual ministro da fazenda.<br />
Franco Ascot.<br />
E' preparar a bolça<br />
As medidas financeiras do sr. José<br />
Dias são, ao que dizem, <strong>de</strong> levar couro<br />
e cabello.<br />
Para exemplo cila-se a fei do sello<br />
em que o estado lucra uns 200 contos<br />
<strong>de</strong> réis I<br />
Vamos emigrar.<br />
Como?<br />
se elles estão no fundo!<br />
Nas praças <strong>de</strong> Paris e Londres <strong>de</strong>sceu<br />
o papel <strong>de</strong> todos os paizes á excepção<br />
do <strong>de</strong> Portugal.<br />
Acorrem pressurosos os nossos monarchistas<br />
extraindo do facto a peregrina<br />
illação <strong>de</strong> que isso attesta o nosso bom<br />
estado financeiro...<br />
Inútil o esforço. Toda a gente vê que<br />
as razões do nosso papel não <strong>de</strong>scer mais<br />
é porque elle está no fundo. Até um<br />
cego vê isto.<br />
Os caloteiros<br />
Os operários que trabalharam na occasião<br />
das festas regias á chegada das<br />
magesta<strong>de</strong>s na ultima viagem á llespanha,<br />
ainda não foram pagos I '<br />
É assim que os serventuários da monarchia<br />
sorvem o throuo, não pagando<br />
aos pobres operários que talvez não tenham<br />
que comer 1<br />
Portugal e o celebre<br />
Cécil Rho<strong>de</strong>s<br />
Telegramma <strong>de</strong> Londres com data <strong>de</strong><br />
20 diz que Cecil llho<strong>de</strong>s partiu <strong>de</strong> Londres<br />
para Paris <strong>de</strong> caminho para Monte<br />
Carlo, Egypto, Qíteliinane e Cida<strong>de</strong> do<br />
Cabo. Antes <strong>de</strong> partir dirigiu ao ministro<br />
dos negocios estrangeiros um energico<br />
protesto conlra as objecções levantadas<br />
á ultima hora por Portugal a respeito<br />
da <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> fronteiras, feita<br />
pelos srs. Antonio Ennes e Leverson. O<br />
sr. Cecil Rho<strong>de</strong>s exprimiu a esperança<br />
<strong>de</strong> que o interesse na Africa Central do<br />
governo inglez não permittirá queaobr-a<br />
executada pela commissão luso britannica<br />
seja inutilisada.<br />
O sr. Levérson partirá <strong>de</strong> Cape Teon<br />
ámanhã, 21, para Inglaterra, afim <strong>de</strong><br />
conferenciar com o governo inglez.<br />
Heliodoro Salgado<br />
Não se effectuou ainda o julgamento<br />
d'este nosso amigo, Heliodoro Salgado,<br />
accusado <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />
O advogado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza, sr. dr.<br />
Alexandre Braga, aggravou para a relação<br />
do <strong>de</strong>spacho do juiz do tribunal do<br />
1.° districto criminal, que marcára o<br />
julgamento para terça feira.<br />
Sem commentarios<br />
Consta que o nacional governo do sr.<br />
D. Carlos conce<strong>de</strong>u que os médicos inglezes<br />
possam exercer a sua prolissão em<br />
terras portuguezas sem se sujeitarem<br />
aos exames a que são obrigados os outros<br />
médicos estrangeiros que queiram estabelecer-se<br />
no paiz.<br />
PELOS JORNAES<br />
A Reforma <strong>de</strong> quinta feira abre assim<br />
o seu editorial :<br />
«Se ainda fosse discutível a hypothese<br />
<strong>de</strong> uma republica em Portugal<br />
nos tempos mais proximos, a <strong>de</strong>rrocada<br />
do Panamá seria bastante para <strong>de</strong>monstrar<br />
aos ingénuos que o dia em<br />
que esse facto se realisasse entre nós,<br />
seria talvez o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro da nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.»<br />
Abunda o dislate, como se vê O<br />
articulista começa pela peregrina Iheoria<br />
<strong>de</strong> não achar discutível a hypothese <strong>de</strong><br />
uma republica em Portugal. .. nos tem<br />
pos mais proximos; e começa a discutir<br />
sob essa hypothese...<br />
Depois insinua a <strong>de</strong>rrocada do Panamá<br />
como prova <strong>de</strong> que as instituições<br />
republicanas são immoraes. Qualquer<br />
Torgal que não seja o da Reforma veria<br />
sem esforço que o caso do Panamá, da<br />
forma austera como o governo republicano<br />
o vae conduzindo, prova a moralida<strong>de</strong><br />
do regimen, que não hesita cahir<br />
a fundo sobre vultos eminentes da politica,<br />
ao contrario do que se faz em muitos<br />
paizes monarchicos, como o nosso,<br />
p. ex.<br />
A asserção <strong>de</strong> que no dia em que a<br />
republica entre nós fosse um facto seria<br />
talvez o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro da liossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />
lica <strong>de</strong> molho por indiscutível.<br />
Ê tão insólita que só faz rir.<br />
*<br />
Para exemplificar a razão por que<br />
enten<strong>de</strong> que o systema republicano se<br />
não adapta á raça latina, refere-se assim<br />
á França a mesma Reforma:<br />
«A imprensa, em vez <strong>de</strong> dirigir<br />
sincera e lealmente a opinião, põe a<br />
sua critica á mercê dos banqueiros. Os<br />
homeus públicos, ainda os que teem<br />
maiores responsabilida<strong>de</strong>s perante a<br />
nação, <strong>de</strong>ixam-se corromper e atacam<br />
eom o prestigio da sua auctorida<strong>de</strong> a<br />
acção da justiça. Um dia abate-se a<br />
cadciia presi<strong>de</strong>ncial ante a suspeita <strong>de</strong><br />
que um membro da familia do primeiro<br />
magistrado da republica ven<strong>de</strong> honras<br />
e mercês a quem as quer comprar;<br />
outro dia, constituem-se tribunaes d'exr<br />
cepção e fazem-se con<strong>de</strong>tnnar ao exilio<br />
os que combatem o po<strong>de</strong>r e os excessos<br />
do governo I»<br />
Que po<strong>de</strong>ríamos nós dizer da imprensa<br />
monarchica <strong>de</strong> cá, subsidiada pelos<br />
cofres públicos para a <strong>de</strong>feza das diversas<br />
situações, politicas ? I<br />
Que po<strong>de</strong>ríamos nós dizer dos nossos<br />
homens públicos que vergam ao pezo <strong>de</strong><br />
infamantes accusações <strong>de</strong> <strong>de</strong>lapidadores<br />
dos cofres públicos, feitas em normando?!<br />
Que um dia se abateu a ca<strong>de</strong>ira presi<strong>de</strong>ncial<br />
ante a suspeita <strong>de</strong> que um<br />
membro da familia do primeiro magistrado<br />
da republica vendia honras e mercês a<br />
quem as queria comprar. Sim, muito<br />
bem. E que prova isso? A elevada<br />
conta em que é tida a honra das instituições.<br />
Em França um presi<strong>de</strong>nte da<br />
republica. <strong>de</strong>milte-se meramente por se<br />
suspeitar que um seu parente merca<strong>de</strong>java<br />
com commendas, sendo esse parente<br />
con<strong>de</strong>mnado; em Portugal, ministros que<br />
confessam em pleno parlamento que <strong>de</strong>sviaram<br />
illegalmente dinheiro dos cofres<br />
públicos estão á espera da mercê regia<br />
para o pariato e talvez com esperança <strong>de</strong><br />
voltar aos conselhos da coroa...<br />
Referindo-se ás improveitosas <strong>de</strong>spezas<br />
que se teem feito com o luxo dos<br />
ministérios, escreve sensatamente o Commercio<br />
do Corto, cuja sisudéz é já clássica<br />
:<br />
«Se tivesse havido o preciso respeito<br />
pelo contribuinte, não se haveria arrendado<br />
nem o sumptuoso palacio do Calhariz<br />
para os negecios estrangeiros, nem<br />
a casa do largo <strong>de</strong> S. Roque para o<br />
reinventado ministério da instrucção<br />
publica. Estadistas <strong>de</strong> memoria honrada,<br />
como Loulé e Braamcamp, entre<br />
outros, vimos nós trabalhar no Terreiro<br />
do Paço em mesquinhos e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados<br />
gabinetes<strong>de</strong> differentes secretarias<br />
<strong>de</strong> Estado, sem que se julgassem rebaixados<br />
ua sua importancia; nem elles<br />
ousariam lembrar-se <strong>de</strong> onerar a triste<br />
fazenda com sacriticios pecuniários, para<br />
satisfação <strong>de</strong> caprichos luxuosos e <strong>de</strong><br />
apparato.»<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>., 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892 N.° 46<br />
do Povo<br />
Meu amigo: outros tempos, outras<br />
gentes. A sumptuosida<strong>de</strong> nas altas- regiões,<br />
a começar pelas mais altas, tem<br />
sido o maior factor da nossa ruina economica.<br />
*<br />
O Jornal <strong>de</strong> Noticias, do Porto, orgão<br />
dos manos Arroyos, abre também já a<br />
sua hrechasijiha nas lombadas ministeriaes<br />
:<br />
«O que estamos vendo é que os salvadores<br />
se succe<strong>de</strong>m uns aos outros, e<br />
que todos elles trazem <strong>de</strong>baixo do capote<br />
um monopolio e um imposto; e que<br />
o sr. José Dias, que tanto flagellou os<br />
monopolios—os nossos amigos!. • • —e<br />
que «batia nas algibeiras, <strong>de</strong>clamando<br />
contra o augniento das contribuições»<br />
appareceu com essas duas bellas novida<strong>de</strong>s,<br />
com cangados recursos, cujo resultado<br />
s. ex. a está habilitado a provar<br />
pela própria crise que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>bellar,<br />
e que se formou sobre monopolios<br />
e sobre addiccionaes renovados uns após<br />
outros.»<br />
Salte o sr Arroyo para o ministério<br />
e acabará esle fadario ministerial 1 Vá,<br />
<strong>de</strong>pressa, que estamos em vesperas <strong>de</strong><br />
recomposição. Acudam-lhe !<br />
Tê<strong>de</strong>be.<br />
De João'Chagas<br />
(CONTINUAÇÃO)<br />
Mas o que vi está longe <strong>de</strong> ser o<br />
que ouvi.<br />
A Cova da Onça, on<strong>de</strong> duranle mezes<br />
vivem homens presos a gargalheiras<br />
dè ferro; o Segredo, on<strong>de</strong> durante semanas<br />
se asphyxiam mulheres algemadas,<br />
estão inferiores na escala do supplicio ás<br />
prisões supplemenlares da fortaleza <strong>de</strong> S.<br />
Pedro da Rarra.<br />
A fortaleza <strong>de</strong> S. Pedro da Barra fica<br />
situada á enlrada da bahia <strong>de</strong> Loanda.<br />
E' <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do <strong>de</strong>posito da forlaleza<br />
<strong>de</strong> S. Miguel e recebe lambem turnos <strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>mnados. Dirige a um alferes.<br />
Neste forte ha prisões sulilerraneas.<br />
A tres d'ellas dão se eslas tres <strong>de</strong>nominações—<br />
o Segredo, a Prisão Escura<br />
e o Oratorio.<br />
Procurei fallar separadamente com<br />
seis con<strong>de</strong>mnados que alli estiveram. Recorri<br />
em seguida ao testemunho <strong>de</strong> dois<br />
officiaes inferiores, que alli serviram. Estes<br />
oito homens conlirmaram-se. Fui escrupuloso,<br />
formulei duvidas, apresentei<br />
objecções. Apurei isto:<br />
— O Segredo — dizem-me uns — é<br />
uma especie <strong>de</strong> estreitíssimo corredor, fechado<br />
em um dos extremos e terminado<br />
no outro por uma gra<strong>de</strong> que diz para o<br />
mar. E' longo, mas muitíssimo estreito,<br />
tão estreito que não po<strong>de</strong>m dormir dois<br />
homens ao lado um do outro. Assim,<br />
<strong>de</strong>iiam-se, pés com pés. Não é mesmo um<br />
corredor—é mais propriamente o intervallo<br />
entre duas pare<strong>de</strong>s.<br />
—A Prisão Escura, chama-se-lhe assim<br />
porque nunca alli penetra a luz do<br />
dia. Fica por baixo da esplanada da fortaleza<br />
e não tem gra<strong>de</strong>s: tem os muros e<br />
uma. porta. Ar, tem o que penetra pelo<br />
intervallo existente entre essa porta e o<br />
chão. Por cima, lica a cisterna da fortaleza,<br />
<strong>de</strong> forma que <strong>de</strong>ntro da prisão, a<br />
agua infiltrada cahe em chuva, aqtíi e<br />
adi. «E' preciso andar sempre a mudar<br />
<strong>de</strong> logar», diz-me um cou<strong>de</strong>mnado. Para<br />
me dar uma i<strong>de</strong>ia justa do recinto, um<br />
outro conclue? «E' um tanque». Neste<br />
tanque, ratos e baratas disputam-lhes o<br />
rancho.<br />
Quando é dia? Quando é noite? —<br />
Só o sabem quando veem <strong>de</strong> fóra dizerlh'o.<br />
Nesta prisão, neste subterrâneo,<br />
neste antro, estão muitos, que alli vivem,<br />
alli dormem, alli comem, alli <strong>de</strong>fecam,<br />
numa iuimunda, sinistra, tragica promiscuida<strong>de</strong>.<br />
— O que p o Oratorio ?<br />
O oratorio! Não o diz a palavra?<br />
Do oratorio sahe-se para a morte, para a<br />
paralysia, para a loucura. Não m'o <strong>de</strong>screvem<br />
bem. Faliam d'elle com terror,<br />
como <strong>de</strong> uma cousa horrível, <strong>de</strong> que<br />
nem se quizessem recordar. Um exclama;<br />
«Ah! ahi nunca estivei» Outro,<br />
que por la passou, limita-se a dizer:<br />
& An<strong>de</strong>i dias e dias a soluçar qnando <strong>de</strong><br />
lá sahi ! ».<br />
Angustia, ouvil-os.<br />
Não quiz ouvir mais.<br />
Estas penas monstruosas, estes inconcebíveis<br />
castigos dão-se — já o disse—<br />
a torto e a direito, a cada passo,<br />
por insignificantes faltas, por infracções<br />
ridículas: por motivo <strong>de</strong> rixas sem consequências,<br />
por uma palavra impru<strong>de</strong>ntemente<br />
proferida, por um ligeiro movimento<br />
<strong>de</strong> protesto, por não querer comer<br />
o rancho, por ter roubado a um companheiro<br />
um pacote <strong>de</strong> tabaco, e finalmente—<br />
<strong>de</strong>licto grave, supremo e imperdoável<br />
<strong>de</strong>licto ! — por fugir. F.ugir d'este inferno<br />
é um -crime. Fugir para o sertão,<br />
só, sem recursos, os pés muitas vezes<br />
<strong>de</strong>scalços, sob o sol, á beira dos pantanos,<br />
pelo malto, noite e dia expondo a<br />
vida, a triste, a pobre, a miserável vida,<br />
para ir bater á porta <strong>de</strong> uma fazenda<br />
ou <strong>de</strong> uma feitoria e pedir o trabalho<br />
que aqui não proporcionam e o ar livre,<br />
que aqui roubam — isto é tão natural,<br />
tão comprehensivel, tão humano, isto é<br />
uin crime que só a Cova da Onça, o Segredo,<br />
a Prisão Escura, o Oratorio, a<br />
gargalheira, a manilha, a algema, po<strong>de</strong>m<br />
rasoavelmente punir.<br />
Agora, accrescente-se a isto que estes<br />
<strong>de</strong>sventurados fogem porque os <strong>de</strong>ixam<br />
fugir, porque lhes coilocam a liberda<strong>de</strong><br />
ao alcance <strong>de</strong> um pulo, numa forlaleza,<br />
<strong>de</strong> cujas muralhas se po<strong>de</strong> saltar<br />
dia e noite, como das janellas <strong>de</strong> uma<br />
sobreloja; consi<strong>de</strong>re-se que muitos dos<br />
fugitivos veem apresentar-se voluntariamente,<br />
exhaustos, extenuados, famintos,<br />
febris, ao cabo <strong>de</strong> inúteis esforços para<br />
viver lá fóra—e pense-se no abuso e na<br />
cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> semelhantes castigos.<br />
Ob-erve-se mais que estes criminosos,<br />
se são raramente reinci<strong>de</strong>ntes, pela<br />
natureza dos <strong>de</strong>liclos que os trouxeram<br />
aqui são já <strong>de</strong> si mo<strong>de</strong>stos como typos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>linquentes. Homicídios e tentativas<br />
<strong>de</strong> homicídios ruraes, por questiúnculas<br />
<strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia, questões <strong>de</strong> bem, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
em feiras e eleições; o estupro, originado<br />
numa superstição selvagem muito corrente<br />
nas nossas províncias ; o roubo <strong>de</strong><br />
igreja, o roubo <strong>de</strong> relogios, o roubo superior<br />
a quarenta e inferior a cem mil<br />
réis e finalmente os crimes <strong>de</strong> falsificação<br />
e moeda falsa — lai é o quadro criminal<br />
d'este presidio.<br />
Dia <strong>de</strong> Natal<br />
(Conclúe).<br />
No seio das famílias estabeiecc-se hoje<br />
um lyrico mutualismo <strong>de</strong> affectos on<strong>de</strong><br />
palpita ar<strong>de</strong>ntemente o sagrado amor dos<br />
que são queridos.<br />
Por toda a parle, nos palacios opulentos<br />
dos pre<strong>de</strong>stinados como na choupana<br />
humil<strong>de</strong> dos pobresinlios, habita-se<br />
hoje uma athmosphera <strong>de</strong> jubilo esfusiante<br />
d'on<strong>de</strong> irradia a meiga ternura dos corações<br />
que se encontram numa religiosa<br />
expansão <strong>de</strong> amor, numa confraternida<strong>de</strong><br />
mystica <strong>de</strong> religião.<br />
Na longínqua rotação dos séculos ainda<br />
se alteia serenamente, na piedosa<br />
i<strong>de</strong>alisajão das crenças, o almejado nascimento<br />
do Jesus <strong>de</strong> Nazarelh, cheio <strong>de</strong><br />
pieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> bonança, evangelisando o<br />
Bem e o Amor, tal como o conceberam<br />
na sua ru<strong>de</strong>za santa as primeiras gerações<br />
humanas, límpidas da concupiscência torpe<br />
das nossas eras...<br />
Hoje, esta data, já não espelha lidimamente,<br />
no fundo das almas, a sagração<br />
amorosa do Christo : o pulso <strong>de</strong> Benan<br />
entrou-nos pelo coração, abriu sulcos<br />
profundos, abalou crenças que eram<br />
mythos, massacrou i<strong>de</strong>aes que eram crenças<br />
!<br />
D'esse escalahro doloroso apenas<br />
nos resta--o que é muito, o que é ludo<br />
— um culto religioso pela familia, uma<br />
adoração grata pelos que nos são caros,<br />
que hoje se expan<strong>de</strong> generosamente num<br />
abandono jubiloso <strong>de</strong> almas possuídas,<br />
numa elevação <strong>de</strong> coração que vibra sonorosa<br />
ao <strong>de</strong> cima do nosso <strong>de</strong>salento melancólico.<br />
Natal! Natal I
AIKO I — 16<br />
GRYSTAES<br />
Introducção ao meu primeiro livro<br />
Ahi ficam, mo<strong>de</strong>stas e singellas,<br />
Minhas pobres cauções da mocida<strong>de</strong>.<br />
Pouco valeuT <strong>de</strong>certo, mas vão nellas<br />
Recordações d'uma duirada eda<strong>de</strong>,<br />
Recordações <strong>de</strong> tempos auroraes<br />
— Fulgentes como estreitas —<br />
Que vestiam a esta alma a flicida<strong>de</strong><br />
Mas que fugiram, que não voltam mais...<br />
Que não me trazem mais mocida<strong>de</strong> I<br />
— Das aureas illusões<br />
— Das rutilas chimeras<br />
Só me restam agora estas canções<br />
mo<strong>de</strong>stas e sinceras.<br />
Nào ha nellas scentelhas <strong>de</strong> talento,<br />
Nem íulgidos clarões<br />
— Ha apenas o valor do sentimento<br />
Que em meu peito <strong>de</strong>ixou funda sauda<strong>de</strong><br />
Das aureas illusões<br />
Da minha mocida<strong>de</strong> I<br />
Creio — não ha talvez<br />
Verso que se <strong>de</strong>staque<br />
No meu livro, que tem para o burguez<br />
Um ar <strong>de</strong> bric á brac...<br />
Mas cada estrophe encerra uma lembrança<br />
— Mas quantas juvenis recordações<br />
Em cada pagina —a luzir d'esp'rançal<br />
Em cada verso — cheio d'illusões 1<br />
.. .Illusões d'existencia venturosa<br />
Que nâo voltam, <strong>de</strong>certo, ao coração I<br />
Não voltam mais?.<br />
.TalvezI Talvez!<br />
-E então<br />
Reviverá, com todos os seus brilhos,<br />
A minha mocida<strong>de</strong> côr <strong>de</strong> rosa<br />
Na mocida<strong>de</strong> alegre <strong>de</strong> meus filhos I<br />
AUGUSTO DE MESQUITA.<br />
Reforma dos estrangeiros<br />
Foi publicada na folha official a reforma<br />
da secretaria dos estrangeiros e<br />
dos serviços diplomáticos e consulares.<br />
São supprimidas as duas direcções da<br />
secretaria, licando esta dividida em 4<br />
repartições.<br />
O pessoal da secretaria liça reduzido<br />
a 1 secretario geral, 2 chefes <strong>de</strong> repartição,<br />
3 officiaes e 7 amanuenses.<br />
O corpo diplomático conipôr-se-ha <strong>de</strong><br />
10 ministros plenipotenciários, 3 encarregados<br />
<strong>de</strong> negocios, 4 secretários <strong>de</strong><br />
l. a classe e 6 secretários <strong>de</strong> 2. a classe<br />
e o corpo consular <strong>de</strong> 4 cônsules <strong>de</strong> l. a<br />
classe, 14 cônsules 1 <strong>de</strong> 2. a , 7 chancelleres.<br />
Pela organisação agora <strong>de</strong>cretada, a<br />
<strong>de</strong>speza <strong>de</strong> todos os serviços importa em<br />
286:049)5795 réis. A do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12<br />
<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1891, do sr. condi <strong>de</strong><br />
Valbom, importava em 431:252^045 rs,<br />
LETTRAS<br />
0 crepusculo da tar<strong>de</strong> *<br />
O dia cabe. Faz-se um gran<strong>de</strong> socego<br />
nos pobres espíritos fatigados do trabalho<br />
do dia; e os seus pensamentos tomam<br />
agora as cores <strong>de</strong>licadas e in<strong>de</strong>cisas<br />
do crepusculo.<br />
Comtudo, do cimo da montanha chega<br />
ao meu balcão, atravez as nuvens transparentes<br />
da tar<strong>de</strong>, um gran<strong>de</strong> uivo, composto<br />
<strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> gritos discordantes,<br />
que o espaço transforma numa<br />
lugubre harmonia, como a da maré que<br />
sobe ou d'uma tempesta<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>sperta.<br />
Quaes são os <strong>de</strong>sventurados que a<br />
tar<strong>de</strong> não tranquillisa, e que tomam, como<br />
os mochos, a vinda da noute por um<br />
signal <strong>de</strong> sabbat?<br />
Esta sinistra ululação chega-no? do<br />
negro hospicio empoleirado sobre a montanha<br />
; e, a tar<strong>de</strong>, fumando e contemplando<br />
o repouso do immenso valle coberto<br />
<strong>de</strong> casas don<strong>de</strong> cada janella diz :<br />
«E' aqui a paz agora; é aqui a alegria<br />
da família 1» eu posso, quando o<br />
vento sopra do alto. alevantar o meu pensamento<br />
cantando á imitação das harmonias<br />
do inlerno.<br />
O crepusculo excita os loucos. —<br />
Lembra-me que eu tinha dois amigos que<br />
o crepusculo fazia recuperar todas as<br />
doenças.<br />
Um <strong>de</strong>sconhecia então todas as relações<br />
d'amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, e maltratava,<br />
como um selvagem, o primeiro<br />
recem-chegado. Eu vi-o arremessar á cabeça<br />
<strong>de</strong> um maitre <strong>de</strong> liotel um exceilenle<br />
frango, no qual elle julgava ver nâo<br />
sei que lusulto hieroglypho, A tar<strong>de</strong>, precursora<br />
<strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong>s insondáveis,<br />
<strong>de</strong>teriorava-lhe as cousas as mais succulentas.<br />
O outro, um ambicioso offcndido, lornava-se<br />
á medida que o dia baixava,<br />
mais <strong>de</strong>sagradável, mais sombrio, mais<br />
contrariado. Indulgente e sociável ainda<br />
durante o dia, elle era insensível á tar<strong>de</strong><br />
; e não somente para os outros mas<br />
também para elle mesmo, que exercia<br />
irritavelmente a sua mania crepu^culosa.<br />
O primeiro morreu doido, incapaz <strong>de</strong><br />
reconhecer a sua mulher e o seu filho; o<br />
seguudo tem a inquietação d'uin mau estar<br />
perpetuo, e julga-se gnlardoado, <strong>de</strong><br />
todas as honras que po<strong>de</strong>m conferir as<br />
republicas e os príncipes: eu creio que<br />
o crepúsculo allumiará ainda nelle o ar<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> distincções imaginarias.<br />
A noite, que faz as trevas no seu espirito,<br />
faz a luz no meu ; e não é raro ver<br />
a mesma causa gerar dois effeitos contrários;<br />
eu estou sempre como intrigado<br />
e atemorisado.<br />
O' noite ! ó refrigerantes trevas 1 vós<br />
sois para mim um signal <strong>de</strong> uma fe.-ta<br />
interior, vós sois a libertação <strong>de</strong> uma<br />
angustia 1 Na. solidão das planices, nos<br />
labyrinlhos pedregosos d'uma capital,<br />
scintillante <strong>de</strong> estrellas, explosão <strong>de</strong> lanternas,<br />
vós sois o fogo artilicial <strong>de</strong> essa<br />
<strong>de</strong>usa, a Liberda<strong>de</strong> 1<br />
Crepusculo, como és doce e brando 1<br />
Os vislumbres côr <strong>de</strong> rosa que roçam<br />
ainda o horisonte, como a agonia do dia<br />
sob a oppressão victoriosa da noute, as<br />
luzes dos can<strong>de</strong>labros que formam nodoas<br />
d'um vermelho opaco sobre as ultimas<br />
glorias do poente, as pesadas tapeçarias<br />
que uma mão invisível move das<br />
profun<strong>de</strong>zas do Oriente, imitam todos os<br />
sentimentos complicados que luctam, no<br />
coração do homem nas horas solemnes<br />
da vida.<br />
Dir-se-hia ainda um d'esses vestidos<br />
exquisitos <strong>de</strong> dançarinas, em que uma<br />
gaze transparente e escura <strong>de</strong>ixa entrever<br />
os esplendores amortecidos d'uma saia<br />
brilhante, como sobre o negro premente<br />
transparece o <strong>de</strong>licioso passado; e as estrellas<br />
vacilUntes d'ouro e <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong><br />
que ella é semeada, representam esses<br />
fogos da phantasia que não brilham bem<br />
senão <strong>de</strong>baixo do lucto profundo da noute.<br />
Charles Bau<strong>de</strong>laire<br />
Pelos vencidos<br />
O cumprimento d'um <strong>de</strong>ver é a maior<br />
satisfação da consciência individual.<br />
Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />
nossos concidadãos emigrados não é o<br />
cumprimento d'um <strong>de</strong>ver, porque na or<strong>de</strong>m<br />
dos <strong>de</strong>veres politicos este occupa o<br />
primeiro logar, na actual conjunctura.<br />
Urge que todo o republicano sem<br />
diferenciação <strong>de</strong> nuances abra o seu coração<br />
e a sua bolsa para auxiliar aquelles*<br />
malventurosos amigos que longe da<br />
patria e da familia se vêm <strong>de</strong>sprotegidos.<br />
Vamos a isto, meus amigos 1 Cumpramos<br />
este sacratíssimo <strong>de</strong>ver. Deixemo-nos<br />
<strong>de</strong> lyrismos extenuados e <strong>de</strong> visualida<strong>de</strong>s<br />
piegas. Sigamos a ru<strong>de</strong>z crua<br />
dos acontecimentos e <strong>de</strong>puremos na analyse<br />
fria do nosso critério a sua significação<br />
positiva.<br />
O Viário Illustrado constatava ha<br />
dias que os emigrados republicanos portuguezes<br />
em Bordéus se alimentavam<br />
com bolota pesquisada nos barris do lixo!<br />
Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />
Tolerar isto, sem córar <strong>de</strong> vergonha,<br />
está abaixo <strong>de</strong> toda a noção <strong>de</strong><br />
humanida<strong>de</strong>, inferiorisa o nosso pudor<br />
<strong>de</strong> republicanos, dia a dia affirmando<br />
pela imprensa a nossa solidarieda<strong>de</strong> com<br />
aquella gente.<br />
É*a solidarieda<strong>de</strong> uma das virtu<strong>de</strong>s<br />
mais <strong>de</strong>mocráticas; mas não é a solidarieda<strong>de</strong><br />
exclusivamente platónica <strong>de</strong>clarada<br />
apenas pelos bicos da penna : é a<br />
solidarieda<strong>de</strong> elfectiva, pratica, traduzida<br />
no mais franco auxilio moral e material.<br />
Amigos 1 Soccorraroos os emigrados 1<br />
Subsrripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
com egual quantia o* nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 17$400<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
remetter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.® 88.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
Julgamento <strong>de</strong> Abilio Roque<br />
e Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Realisou-se hontem no tribunal d'esta<br />
comarca o julgamento dos srs. Joaquim<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho e Abilio Roque <strong>de</strong><br />
Sá Barreto. Numerosa concorrência, avida<br />
<strong>de</strong> conhecer o resultado dVste julgamento,<br />
em que á barra da justiça eram<br />
chamados, dois estrenuos <strong>de</strong>fensores da<br />
liberda<strong>de</strong>, enchia plenamente a vasta sala<br />
do tribunal.<br />
Era manifesta em todos a gran<strong>de</strong><br />
sympathia que estes cidadãos inspiram,<br />
não só pelos seus cabellos brancos, mas<br />
principalmente pelos relevantes serviços<br />
prestados por ambos á causa da sua patria.<br />
Constituiu-se, finalmente, o tribunal.<br />
Os dois venerandos aceusados occuparam<br />
como reus os logares <strong>de</strong>stinados ao julgamento<br />
dos criminosos e on<strong>de</strong> dçviam<br />
estar sentados tantos e tantos homens,<br />
que passeiam á solta cobertos <strong>de</strong> grãcruzes<br />
e medalhas.<br />
Como advogado apresentou-se o conceituadíssimo<br />
e respeitável jurisconsulto<br />
sr. dr. Chaves e Castro, um dos ornamentos<br />
do nosso foro c dos mais consi<strong>de</strong>rados<br />
lentes da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />
S. ex. a , que ha tantos annos não<br />
advogava no tribunal era causa crime,<br />
por uma especial <strong>de</strong>ferencia pelo caracter<br />
respeitabilissimo dos accusados e levado<br />
pela amisa<strong>de</strong> estreita que ha muito a<br />
eiles o liga, patrocinoti-os nesta causa<br />
com a gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração do seu nome.<br />
O illustre advogado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza principiou<br />
por um preambulo que <strong>de</strong>monstrou<br />
a toda a evi<strong>de</strong>ncia a corrupção do nosso<br />
meio social.<br />
Disse que os seus constituintes, se<br />
estavam alli não era pelo crime <strong>de</strong> terem<br />
<strong>de</strong>fraudado os cofres públicos em beneficio<br />
<strong>de</strong> syndicatos, nem por fulsilieareni<br />
testamentos, nem adulterarem as actas<br />
eleitoraes, nem tão pouco por patrocinarem<br />
a causa <strong>de</strong> envenenadores, ou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem<br />
directores <strong>de</strong> bancos e companhias!<br />
Se eiles alli se sentavam é porque haviam<br />
<strong>de</strong>fendido a causa do contribuinte, é porque<br />
haviam mostrado ao publico as injustiças<br />
que se estavam praticando na<br />
tal repartição <strong>de</strong> que elle, na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> administrador dos bens d'uns menores,<br />
havia já sido victima.<br />
Em seguida, com uma lógica irrespondivel,<br />
<strong>de</strong>duziu uma argumentação <strong>de</strong><br />
ferro, que envolveu em laços apertadís-<br />
simos a accusação. Começou por <strong>de</strong>monstrar<br />
que não era o ministério publico o<br />
competente para promover este processo<br />
e accenluou o facto inexplicável <strong>de</strong> elle<br />
ter sido requerido pelo escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />
d'este concelho, como parte, <strong>de</strong>sapparecendo,<br />
não se sabe porquê, esta<br />
entida<strong>de</strong>, para dar logar á acçào illegal<br />
do ministério publico.<br />
Que nesta comedia havia entre bastidores<br />
um contra-regra que puxava os<br />
cor<strong>de</strong>linhos, mas como nem todas as<br />
verda<strong>de</strong>s se dizem elle calava as suas<br />
consi<strong>de</strong>rações.<br />
Demonstrou, pois, a precipitiçào do<br />
sr. Delegado do Procurador Régio, que<br />
teve occasião <strong>de</strong> receber ainda agora<br />
uma lição do seu antigo professor, lição<br />
que oxalá lhe aproveite. Enredou-se a<br />
accusação na <strong>de</strong>feza que allegou do seu<br />
procedimento, e não logrou apagar no<br />
conceito publico a <strong>de</strong>sfavorável impressão<br />
que a respeito <strong>de</strong> s. ex. a produziu a<br />
lógica e conclu<strong>de</strong>nte allegação da <strong>de</strong>feza.<br />
Por fim, após um longo intervallo <strong>de</strong><br />
interrupção da audiência, reabriu-a o merelissimo<br />
juiz <strong>de</strong> direito, pronunciando<br />
uma sentença absolutória, que foi acolhida<br />
com visíveis manifestações <strong>de</strong> agrado,<br />
que a respeitabilida<strong>de</strong> do tribunal nâo<br />
permilliu que se expandissem.<br />
A sabida, porém, dos srs. Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho e Abilio Roque manifestouse<br />
a numerosa concorrência, recebendo<br />
com prolongadas salvas <strong>de</strong> palmas e muitos<br />
vivas os honrados e honestos cidadãos,<br />
que mais uma vez conheceram a gran<strong>de</strong><br />
sympathia e elevada consi<strong>de</strong>ração que ao<br />
povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> merecem.<br />
Mais talvez <strong>de</strong> quinhentas pessoas<br />
das que assistiram ao julgamento, acompanharam<br />
os srs. Martins <strong>de</strong> Carvalho e<br />
Abilio Roque, á redacção do Conimbricense,<br />
dando-lhes continuamente um gran<strong>de</strong><br />
testemunho <strong>de</strong> apreço.<br />
Os venerandos liber.ies agra<strong>de</strong>ceram<br />
as manifestações do publico levantando<br />
vivas ao povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e as classes<br />
trabalhadoras, que foram vivamente correspondidos.<br />
O sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho, jornalista<br />
austero, que tem combatido valentemente<br />
ha quarenta e seis annos nas columnas<br />
do seu jornal lodos os abusos e as mais<br />
<strong>de</strong>gradantes patifarias, interessando-semuito<br />
especialmente pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
industrial e artístico <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, recebeu<br />
neste julgamento unia brilhante consagração<br />
publica do seu caracter honesto<br />
e das suas altas virtu<strong>de</strong>s cívicas.<br />
Mais papel<br />
O Banco <strong>de</strong> Porlugal vae ser auctorisado<br />
a ampliar a emissão liduciaria,<br />
elevando-se <strong>de</strong> quarenta e oito mil a<br />
cincoenta e seis mil contos.<br />
O que significa mais uma invasão <strong>de</strong><br />
oito mil contos <strong>de</strong> papellinhos.<br />
E venha o resto !<br />
Com esta invasão <strong>de</strong> papel é que se<br />
ha <strong>de</strong> salvar o paiz I<br />
A lama do Panamá<br />
Paris, 20 t.—Foram hoje apresentados<br />
á camara pedidos <strong>de</strong> auctorisação<br />
para se proce<strong>de</strong>r judicialmente contra<br />
cinco <strong>de</strong>putados, que são os srs. Rouvier,<br />
Julio Roche, Manuel Arène, Antonio Prost<br />
e Dugué <strong>de</strong> la Fauconnerie. Ao senado<br />
foram feitos eguaes pedidos contra cinco<br />
senadores, os srs. Leon Renault, Alberto<br />
Grévy, Béral, Theveuot e Devès,<br />
O Figaro assegura que em consequência<br />
das buscas passadas nos escriptorios<br />
do Banco Franco-Egypcio, o juiz <strong>de</strong> instrucção<br />
colheu indicações precisas que<br />
estabelecera a corrupção <strong>de</strong> vários membros<br />
do paralamento. Os papeis alli<br />
apprenhendidos, /segundo consta ao XIX<br />
Siècle, são os do fallecido Levy Crémineux,<br />
que representou o papel <strong>de</strong> agente<br />
da Companhia do Panamá.<br />
Volta a correr o boato <strong>de</strong> se terem<br />
effectuado novas buscas e prisões importantes.<br />
O barão Cottú, que é administrador<br />
da Companhia do Panamá, e que<br />
estava em Vienna quando o juiz passou<br />
mandado <strong>de</strong> captura contra ellle, regressou<br />
a Paris e loi entregar-se á prisão.<br />
Recenseamento eleitoral<br />
ConviJam-se todos os republicanos<br />
d'este concelho que não estejam<br />
inscriplos no recenseamento<br />
eleitoral e queiram usar do direito<br />
<strong>de</strong> votar, a dar os seus nomes em<br />
qualquer dos estabelecimentos<br />
adiante indicados, a fim da commissão<br />
directora do partido republicano<br />
nesta cida<strong>de</strong> os fazer recensear:<br />
Redacção do Defensor do Povo;<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> Manoel Augusto<br />
da Silva, rua dos Sapateiros;<br />
Typographia Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Luiz<br />
Cardoso, rua da Sophia;<br />
Drogaria Rodrigues da Silva,<br />
rua Ferreira Borges;<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> Serio Veiga,<br />
rua da Sophia; e<br />
Estabelecimento <strong>de</strong> João Alves,<br />
Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />
*<br />
Todo o cidadão portuguez,<br />
maior <strong>de</strong> 21 annos, ou legalmente<br />
emancipado, que saiba ler e escrever,<br />
ou seja chefe <strong>de</strong> familia, ou<br />
lenha o censo eleitoral po<strong>de</strong> ser<br />
inscripto no recenseamento.<br />
E consi<strong>de</strong>rado chefe <strong>de</strong> familia,<br />
para os effeitos eleitoraes, o cidadão<br />
que ha mais <strong>de</strong> um anno viva em<br />
commum com qualquer seu ascen<strong>de</strong>nte,<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, lio, irmão ou<br />
sobrinho, ou com sua mulher e<br />
prover aos encargos da familia.<br />
São consi<strong>de</strong>rados como lendo<br />
o censo eleitoral—os que forem<br />
colleclados no corrente anno em<br />
1$000 réis <strong>de</strong> contribuição industrial<br />
ou <strong>de</strong> qualquer outra contribuição<br />
directa.<br />
Para todo e qualquer esclarecimento<br />
po<strong>de</strong>m dirigir-se ao escriplorio<br />
do sr. dr. Eduardo Vieira,<br />
rua da Sophia.<br />
»& <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1§9Í<br />
EM SURDINA<br />
Já sabem que o Tê-<strong>de</strong>-bê,<br />
um dos bons republicanos,<br />
não quer que eu diga a quem lê,<br />
que ha dias fizera annos ?<br />
Tal pedido não assigna<br />
qiibin tem <strong>de</strong> que se queixar...<br />
Saibam todos que o sovina<br />
não me quiz dar <strong>de</strong> jantar!<br />
Fez annos! Mas não diz quantos 1<br />
Eu aqui estou p'ro dizer:<br />
passa já <strong>de</strong> trinta — e tantos!!!<br />
E' verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m crer.<br />
Se julgam p'ra ahi que o Brito,<br />
'stá novo — uma illusão!<br />
é no corpo — pequenito;<br />
na eda<strong>de</strong> — um latagão I...<br />
Novo collega<br />
PINTA-ROXA.<br />
Começa no dia 1 do proximo mez <strong>de</strong><br />
janeiro a publicar-se em Lisboa um novo<br />
collega intitulado O Combale, que será<br />
completamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
A crise<br />
Está <strong>de</strong>finitivamente resolvida a sabida<br />
do bispo <strong>de</strong> Bethsaida.<br />
Não se sabe porem se a crise se limitará<br />
a este ministro ou se irão mais<br />
alguns na enxurrada.<br />
Parece porem que a pasta dos estrangeiros<br />
será gerida interinamente pelo sr.<br />
Ferreira do Amaral.<br />
Contra a vereação<br />
<strong>de</strong> Lisboa<br />
Consta ao correspon<strong>de</strong>nte do Commercio<br />
do Porto que o governo eslá disposto<br />
a impôr aos camaristas que abandonarem<br />
os logares a multa que a lei <strong>de</strong>termina<br />
para os que se recusam a exercer<br />
esses logares, chamando em seguida<br />
os substitutos e impoudo-lhes a mesma<br />
multa, no caso d'elles seguirem os passos<br />
dos effedivos. Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assim<br />
proce<strong>de</strong>r, é que nomeará a commissão<br />
execuliva para substituir a vereação.<br />
DE LANÇA EM RISTE<br />
A' bofa çra que escrevo ainda não<br />
posso dizer o resultado da policia correccional<br />
que as justiças instauraram contra<br />
o sr. Abilio Roque <strong>de</strong> Sá Barreto e sr.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho.<br />
O que sei é que as tropas vão estar<br />
<strong>de</strong> prevenção e a policia preparada e<br />
equipada para a manutenção da coisa publica.<br />
Isto é da praxe, da or<strong>de</strong>m e da<br />
Carta.<br />
Tem por dizer: quem dá o pão dá o<br />
ensino; mas o caso é que eiles tiram-nos<br />
o pão e e-pancam-nos se reagimos.<br />
Uma coinci<strong>de</strong>ueia neste periodo <strong>de</strong><br />
ferias do Natal: fecha o tribunal pelo<br />
julgameuto do sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho,<br />
em 24; e abre no dia 7 <strong>de</strong> janeiro com<br />
o julgamento do sr. dr. Fernando Martins<br />
<strong>de</strong> Carvalho, neto <strong>de</strong> venerando jornalista.<br />
Quem tiver conhecimento dos dois<br />
processos que diga se nào são duas arbitrarieda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m !<br />
Que bem sabeis vós que o da Junta<br />
do Porto, o d'Évora, o do banco do Povo,<br />
os do banco Lusitano, os dos bonds<br />
Ilersent, o dos 5:000 contos dos cofres<br />
públicos...<br />
Que até consola viver nesta socieda<strong>de</strong><br />
e ter instituições <strong>de</strong> tal feitio I<br />
Se não fosse a sisania que lavra entre<br />
o grupo governamental, que os vae<br />
aquecendo em enfhusiasrao para cada um<br />
mostrar a sua importancia junto do sr.<br />
José Dias, a estas horas não teria o<br />
appettiioso espectáculo que d'aqui estou<br />
presenciando.<br />
O baluarte a vencer é a escolha da<br />
commissão districtal; o pae dos pobres e<br />
a sua troupe, querem uns ; o pae dos ricos<br />
e»a sua tropa fandanga, querem outros.<br />
E neste esgadanliar furioso andam os<br />
Jaquetas, <strong>de</strong> Lisboa para <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> para Lisboa, a fallar com o sr.<br />
José Dias, a conferenciar cora o sr. José<br />
Dias, em audiências com o sr. José<br />
Dias... A que chegou o sr. José Dias 1 ! |<br />
Seria ridículo e comico, se não fos-
AX\4> I — 46 O DEFEXSOR BO FOTO <strong>35</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893<br />
sem immoraes todas estas scenas, o vermos<br />
para ahi meia dúzia <strong>de</strong> insignificantes<br />
e <strong>de</strong> parvalheiras, a tomarem uns<br />
ares...<br />
Que Deus sempre <strong>de</strong>ilou ao mundo<br />
muilo lortulho!<br />
*<br />
Não sei agora aqui dizer em que jornal<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> eu li islo pouco mais ou<br />
menos: que o sr. Dias Ferreira foi crear<br />
em Lisboa um posto medico anti-rabico,<br />
não se lembrando d'esti cida<strong>de</strong>, que fica<br />
no centro do paiz, e on<strong>de</strong> ha a Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Medicina com um gabinete <strong>de</strong> bactereologia.<br />
E termina por estas palavras<br />
que bem fixei: o sr. Dias Ferreira é<br />
muilo amigo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que o<br />
creou.<br />
Cabe aqui contar: O referido senhor<br />
andou a .estudar em <strong>Coimbra</strong>; como fosse<br />
pobre, o que não é <strong>de</strong>shonra, a Philantropico-aca<strong>de</strong>mica<br />
soccorreu-o. Elle trabalhava<br />
e pelas suas economias chegou<br />
a juntar para uma corrente d'ouro. Observando-lhe<br />
um companheiro por qoe a<br />
não usava, respon<strong>de</strong>u: — não que a philantropica<br />
po<strong>de</strong>-me suspen<strong>de</strong>r a mezada!<br />
Islo como veem só revela precaução,<br />
manha, porém, o facto do anno passado<br />
dissolver o Club Académico, que<br />
mais ou menos linha relação com a plii•<br />
lantropica, revela ingratidão — e bem<br />
feia 1<br />
Que admira pois que o sr. Dias Ferreira<br />
se não lembre <strong>de</strong> quem o creou,<br />
se tão boa paga <strong>de</strong>u a quem o ambientou?<br />
I<br />
*<br />
Com a <strong>de</strong>vida vénia do Tê<strong>de</strong>dé, eu<br />
passo a usurpar-lhe os direitos da sua<br />
secção, recortando para aqui um bocadinho<br />
<strong>de</strong> prosa da Reforma, acerca do caso<br />
<strong>de</strong> Panamá.<br />
Porque muitos meus amigos que acompanham<br />
por interesse e especulação a politica<br />
dominante, galhofaram e haleram<br />
palmas quando viram annunciado o gran<strong>de</strong><br />
escandalo, dizendo que não só em<br />
Portugal, monarchico, havia ladrões; mas<br />
que a França, republicana, lambem os<br />
linha. E apontavam-me o caso, a esfregarem<br />
as mãos.<br />
Ora os patriotas que leiam isso:<br />
«Aos srs. Carlos <strong>de</strong> Lesseps, Fontanes<br />
e Sans-Leroy, os indivíduos presos<br />
no dia 19 em Paris, negou-se-ihes a<br />
permissão <strong>de</strong> irem para a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
Mazas em carruagens suas ou <strong>de</strong> aluguel.<br />
«Todos tres foram ahi conduzidos<br />
em carro cellular, vulgarmente chamado<br />
panier d sata<strong>de</strong>.<br />
«Na prisão, applicou-se-lhes o regulamento<br />
com toda a severida<strong>de</strong>.<br />
«Teem, portanto, <strong>de</strong> varrer as suas<br />
cellulas como os outros presos, <strong>de</strong> fazer<br />
as camas, e só po<strong>de</strong>m passeiar nos<br />
paleos uma hora por dia, separadamente.»<br />
E <strong>de</strong> entupir. Que elles bem veem,<br />
os navarros, os marianos, os foz, os cortezes,<br />
o tal da junta do Porlo, da thesouraria<br />
d'Evora, do banco do Povo, do<br />
banco Lusitano, etc., etc., ele.<br />
Uma caterva <strong>de</strong> cavalheiros <strong>de</strong> industria<br />
que anda á solta I<br />
E são capazes <strong>de</strong> não corar—os taes<br />
meus amigos 1<br />
*<br />
Tenho cá estado a parafusar nesta<br />
cousa dos Jaquetas andarem a ferro e<br />
fogo por causa <strong>de</strong> quem ha <strong>de</strong> ficar na<br />
commissão districtal.<br />
Porque o facto explicava-se entre dois<br />
partidos oppostos, mas assim, entre familia,<br />
da mesma côr, das mesmas crenças...<br />
Que elles vêm na constituição da<br />
tal commissão districtal por on<strong>de</strong> se fure<br />
e por on<strong>de</strong> se governem—'não restam<br />
duvidas.<br />
*<br />
Não sei com que verda<strong>de</strong> se diz que<br />
o sr. dr. Agostinho Ribeiro Guimarães,<br />
cirurgião ajudante do 23, esta con<strong>de</strong>mnado<br />
pela politica dos Jaquetas, com esta<br />
nota no livro negro: — Fóra I<br />
Não gostaram elles da sua isenção<br />
nas eleições, e muilo menos da sua altitu<strong>de</strong><br />
imparcial no serviço das inspecções<br />
<strong>de</strong> recrulaá. Quem serve, serve !<br />
Ora os compromissos que se tomaram<br />
no periodo eleitoral são gran<strong>de</strong>s e os<br />
rapazes não hão <strong>de</strong> ir para casa, a choramingar,<br />
dizendo ao pae que foram<br />
apurados. O que não diriam as paternida<strong>de</strong>s<br />
d'estas redon<strong>de</strong>zas, do pae dos pobres,<br />
e dos outros pobres diabos I.. .<br />
Depois, se chamo a isto—choldra<br />
sou má lingua!<br />
Muito custa a vida a quem não po<strong>de</strong><br />
tolerar patifarias,!<br />
Magriço.<br />
CHRONICA D A. INVICTA<br />
Bispo sabido, banqueiro roubado<br />
A' falta <strong>de</strong> assumpto <strong>de</strong> maior importância,<br />
fallou-se esta semana na sabida<br />
do sr. bispo do gabinete ministerial.<br />
Cuslou-llie a sahir... mas sahiu,<br />
afinal, <strong>de</strong>smentindo reverenda e categoricamente<br />
o irrevogável do sr. Arroyo,<br />
<strong>de</strong> saudosa memoria !<br />
A cólunina da egreja tremeu ; o edifício<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabar no charco das nullida<strong>de</strong>s<br />
officiaes.<br />
A apregoada moralida<strong>de</strong> vae-se revelando<br />
dia a dia ; os processos monarchicos<br />
apparecem agora bem patentes,<br />
bem claros; c as boas intenções dos governantes<br />
manifestam-se avolumando escândalos,<br />
e <strong>de</strong>spenhando bispos na lama<br />
da chantaz.<br />
O sr. Ayres <strong>de</strong> Gouveia sae... porque<br />
é impossível sustentar-se mais no<br />
logar que lhe confiaram Ião levianamente.<br />
A opinião publica escorraça-o; a<br />
imprensa honesta (tão rara !) fulmina-o ;<br />
os seus proprios actos o esmagam, arrastando<br />
prelado e ministro na mesma vasa<br />
Lmmunda.<br />
Creio que os seus collegas, contami-<br />
nados já, sahirão um por um, sem credito,<br />
sem applausos, vergonhosamente.<br />
Ficará, talvez, sósinho — reunindo<br />
todas as pastas (e distribuiu do todas as<br />
postas...) o sr. Dias Ferreira—como<br />
imagem fi<strong>de</strong>líssima do cynismo — para<br />
excelsa gloria dos aulicos do intere-sante<br />
systema azul e branco.<br />
—Só, manejando o po<strong>de</strong>r á sua vonta<strong>de</strong>,<br />
dominando o rei e esmagando o<br />
paiz, terá sua ex. a realisado o seu mais<br />
ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejo I<br />
Se nascesse em terra <strong>de</strong> cafres, e a<br />
boa fortuna o elevasse a chefe <strong>de</strong> tribu<br />
selvagem — seria ha muito o sr. José<br />
Dias o vêsgo mais feliz d'esle mundo 1<br />
s * *<br />
Precisamente no dia em que se espalhava<br />
a noticia da sahida do sr. bispo<br />
(heroe testamenteiro... que já ha muito<br />
andava sahido) — enconlrou-se roubado<br />
o banqueiro sr. Pinto da Fonseca na<br />
bonita somma <strong>de</strong> 5:500 libras.<br />
Coincidências !<br />
Fra-Diavolo.<br />
22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
Protestos<br />
das camaras municipaes<br />
Na reunião da camara municipal <strong>de</strong><br />
Lisboa compareceram todos os vereadores<br />
elfectivos. O presi<strong>de</strong>nte historiou o<br />
que se tem passado: o <strong>de</strong>creto, a representação,<br />
a resposta do chefe do Estado,<br />
etc.<br />
Em seguida tendo verificado por uma<br />
votação unanime que a assembleia approvava<br />
o procedimento da commissão<br />
municipal, o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>clarou que em<br />
seu nome e no dos seus collegas dava<br />
a <strong>de</strong>missão dos logares que occupavam<br />
naquella commissão.<br />
O dr. Lopes Vieira apresentou em<br />
seguida a seguinte moção que foi approvada<br />
por unanimida<strong>de</strong>:<br />
«A camara municipal <strong>de</strong> Lisboa, approvando<br />
plenamente a hombrida<strong>de</strong> e<br />
energia com que a sua commissão municipal<br />
protestou contra a absorpção das<br />
prerogalívas concelhias, <strong>de</strong>libera não acceitar<br />
a <strong>de</strong>missão pedida e roga aos<br />
vogaes da commissão que se conservem<br />
nos seus logares até que os po<strong>de</strong>res públicos<br />
resolvam sobre o assumpto o que<br />
tiver por conveniente.»<br />
* A camara municipal <strong>de</strong> Gouveia,<br />
vae reunir em sessão extraordinaria, para<br />
se resolver sobre o que lhe cumpre fazer,<br />
em vista das disposições do celebre <strong>de</strong>creto<br />
relativo ás obras publicas muuicipaes.<br />
* As camaras municipaes <strong>de</strong> Santarém,<br />
Agueda e Ceia, vão também protestar<br />
contra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
* A camara <strong>de</strong> Vianna vae representar<br />
contra a reforma das obras publicas.<br />
* A commissão municipal <strong>de</strong> Guimarães<br />
pediu a convocação da camara<br />
para representar contra a reforma das<br />
obras publicas. A representação é respeitosa,<br />
mas energica. Consta que outras<br />
camaras a acompanharão.<br />
* A camara municipal <strong>de</strong> Ponte do<br />
Lima vae representar ao governo contra<br />
o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
* A camara municipal <strong>de</strong> Grandola<br />
lambem resolveu protestar contra o <strong>de</strong>creto<br />
do governo, no que diz respeito<br />
aos municípios.<br />
# A camara municipal <strong>de</strong> Benavente<br />
lambem <strong>de</strong>liberou protestar energicamente<br />
conlra a passagem para o governo<br />
das obra municipaes.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
As f«i(»R do Natal — á carida<strong>de</strong><br />
publica<br />
E' boa occasião para nos dirigirmos<br />
aos benemeritos e aos philantropicos,<br />
homens <strong>de</strong> coração, para quem a carida<strong>de</strong><br />
não é nome <strong>de</strong>sconhecido.<br />
Estamos no Natal, em plena festa e<br />
em pleno inverno. Têm os ricos e os remediados<br />
a sua lareira fumegante e meza<br />
cheia, alegria no lar, festejando-se<br />
nelle o anniversario do bom Jesus, o<br />
gran<strong>de</strong> homem-martyr que protegeu os<br />
pobres e amparou os <strong>de</strong>svalidos.<br />
Outro tanto uão succe<strong>de</strong> á pobreza ;<br />
ao operário, seiu trabalho, ao artista enfermo,<br />
á viuva ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> li lhos a tantos<br />
e tantos miseros a quem a fome victima<br />
e o frio regela. Para esses não ha<br />
festas,; lia só a privação.<br />
São estes infelizes que nós vimos<br />
lembrar e para elles chamamos a attenção<br />
das boas almas que sabem cumprir os<br />
preceitos da carida<strong>de</strong>, pedindo-lhe se não<br />
esqueçam <strong>de</strong> que ha muita lagrima a enxugar;<br />
muita nu<strong>de</strong>z a cobrir.<br />
*<br />
Merecem-nos menção especial dois<br />
homens laboriosos, a quem a doença invalidou<br />
para o trabalho: o
a w o i i e O DEFENSOR DO POVO <strong>35</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 18S3<br />
OTIILOS<br />
PA «A<br />
Pharmawa<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
L I V R O S<br />
HVELOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Annuncios grátis recebendo-se'<br />
um exemplar.<br />
HlStélSIA DE POBTIGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Yertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim BE SAMPAIO .(fifitifl)<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo iu<strong>de</strong>lesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
eni todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. —Porto.<br />
BÍBLIA S4GRADA<br />
ILLDSfBABA<br />
900 a 1:000 gravuras<br />
Pedir prospecto e especimen<br />
Assignalura 20 réis, fascículo<br />
Está concluído o 1." volume<br />
Para informações BÍBLIA<br />
SACRA» A IIÍIÍUS-<br />
T R A » A — Mousinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> : na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
Flores — 4.<br />
D E G R A Ç A<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos «le borracha<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
A RIR — Ê esle o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro— 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes dc visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> asíignante.<br />
AR Tl Cl PA-,<br />
ÇÔF.S<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria |<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.IÍTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ILHETE8<br />
<strong>de</strong> vi8ita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VROS<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong> j<br />
formato<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
, MPKESSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L J L I R , O - O J D . A . F R E I R I A , 1 4<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições ..<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
IVSa<strong>de</strong>ira para palitos<br />
auem preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />
67<br />
guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />
palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leitão,<br />
resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />
AO PUBLICO<br />
Oeclaro para os <strong>de</strong>vidos effei-<br />
61<br />
tos, que o sr. Antonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />
n. 08 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892<br />
Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />
Novo estabelecimento<br />
pg & ntonio Paulo «^Oliveira,<br />
' M ex-caixeiro do sr. Manoel dos<br />
Santos Apostolo Júnior, participa ao illustrado<br />
publico conimbricense que vae<br />
abrir um estabelecimento egual ao do<br />
seu ex-palrão, na rua do Sargento Mór,<br />
n. os 1, 3 e 5.<br />
JULIÃO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
o seu- antigo estabelecimento<br />
| concertani-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes pelos seguintes preços<br />
:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis; i<strong>de</strong>m para senhora, 1$500<br />
Também tem fazendas <strong>de</strong> lã e aigodão<br />
para coberturas baratas. Garante se<br />
a perfeição do trabalho encommendado<br />
nesta casa.<br />
VENDA DE CASA<br />
„„ en<strong>de</strong>-se uma sita na Couraça<br />
08 » dos Apóstolos, n.° 66. Para<br />
tratar com José Simões, largo do Castello.<br />
Juizo <strong>de</strong> Direito da comarca <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
ABBEHATAÇiO<br />
(2.° annuncio)<br />
68<br />
KV o dia S5 do corrente, pei^l<br />
las 11 horas da manhã, á<br />
porta do Tribunal <strong>de</strong> Justiça d'esta cida<strong>de</strong><br />
voltam pela segunda vez á praça,<br />
por meta<strong>de</strong> do seu valor e para serem<br />
entregues a quem maior lanço oITerecer,<br />
os prédios abaixo indicados, situados na<br />
freguezia <strong>de</strong> Sernache e penhorados pela<br />
execução <strong>de</strong> sentença commercial que<br />
José Alves d'Oliveira, casado, proprietário,<br />
<strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa-a-Nova, move contra<br />
José Augusto d'Oiiveira e mulher Maria<br />
<strong>de</strong> Jesus Pimenta, proprietários, moradores<br />
em Villa Nova <strong>de</strong> Sernache:<br />
Uma morada <strong>de</strong> casas terreas, sitas<br />
no logar <strong>de</strong> Villa Nova, no valor <strong>de</strong><br />
18/000 réis;<br />
tJma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio das<br />
Marinheiras, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />
valor <strong>de</strong> 15/000 réis;<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura no sitio da<br />
Moita Santa, limite <strong>de</strong> Villa Nova, no<br />
valor <strong>de</strong> 7/000 réis;<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura com agua<br />
<strong>de</strong> rega no sitio da Belva, limite <strong>de</strong> Villa<br />
Nova, no valor <strong>de</strong> <strong>35</strong>/000 réis;<br />
Uma terra <strong>de</strong> semeadura <strong>de</strong> rega no<br />
sitio da Moiteira, limite <strong>de</strong> Casconha,<br />
no valor <strong>de</strong> 7/500 réis.<br />
Pelo presente são citadas quaesquer<br />
pessoas que se julguem com direito aos<br />
<strong>de</strong>scriptos prédios ou ao seu producto<br />
para que o venham <strong>de</strong>duzir no praso<br />
legal.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
Verifiquei a exactidão.<br />
O Juiz <strong>de</strong> Direito,<br />
Queiroz.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
O escrivão,<br />
José Lourenço da Costa.<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />
e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Costa Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
A L A V I L L E D E P A R I S<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
ZE 1 . D B L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JBifl BBOBIBOiS BBâSA, SDCQBSSOB<br />
17—ADRO DE CIMA. —20<br />
ART A® ES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
NOVA OE SEGUROS DOURO<br />
Capital 1.000:0001000 réis<br />
AGENCIA EM COIMBRA-RUA DA SOPHIA, 2 A 8<br />
mnuin i p, j, a. cmíiíiim<br />
14, Largo <strong>de</strong>nunciada, 16—LISBOA - Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />
MIO JOSÉ BB MOURA BASTO—RUA BOS SAPATEIROS, 20 A 23<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
|]§TA1IPA1IIA HECHASICA<br />
Q ^P Inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como falo<br />
1 feito ou <strong>de</strong>smanehado. Limpa pelo processo parisiense: falo <strong>de</strong> homem,<br />
vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
Tintas p;u'a escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />
XAROPE DE PHELLANDRIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
B t?**® xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />
M quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado coiu optimos resultados nos hospilaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia líosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>T Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17--ADRO D E C I M A - 2 0<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholoineu)<br />
COIME<br />
a A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
A. e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas ^ara adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREGOS SEM COMPETIDOR<br />
E M P E E f i â D O<br />
dmitte-se um com habilita-<br />
69<br />
ções <strong>de</strong> mercearia e tabacos.<br />
Nesta redacção se diz.<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
„„ jst mpresta-se dinheiro sobre<br />
JU dbjectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Juro modico, como po<strong>de</strong>m experimentar.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno. 21703<br />
Semestre.... 1$<strong>35</strong>0<br />
Trimestiô... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2MOO<br />
Semestre.... ÍJ200<br />
Trimestre... 600<br />
I mpresso aa Typographia<br />
Operaria — Largo da Freiria n."<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
Os novos impostos<br />
Apesar do injustificável mutismo<br />
que o sr. ministro da fazenda<br />
se eslá permillindo acerca dos seus<br />
planos financeiros, teem corrido<br />
mundo boatos alarmantes que vão<br />
provocando por toda a parte do<br />
nosso paiz uma juslificadissima<br />
reacção, que cada vez se accentuará<br />
mais — diz-se que uma das medidas<br />
que o sr. ministro da fazenda<br />
vae tomar, i<strong>de</strong>ia luminosa do seu<br />
potenle cerebro <strong>de</strong> reformador e <strong>de</strong><br />
estadista, consiste em augmentar os<br />
impostos...<br />
E' difficil <strong>de</strong> acreditar que tal<br />
succeda; parece incrivel que o sr.<br />
Dias Ferreira, que pela sua longa<br />
vida publica ha muitos annos sabe<br />
já qual o miserando eslado do nosso<br />
povo, <strong>de</strong>vendo conhecer perfeitamente<br />
as misérrimas condições em<br />
que nos <strong>de</strong>batemos, <strong>de</strong>ixe que por<br />
um momento germine no seu espirito<br />
tão <strong>de</strong>sastrada i<strong>de</strong>ia. Mas não<br />
nos é licito duvidar; jornaes affectos<br />
á situação actual não o escon<strong>de</strong>m,<br />
antes avisam o sr. ministro do caminho<br />
errado que segue, nem é <strong>de</strong><br />
mol<strong>de</strong> a apagar as nossas justificadíssimas<br />
apprehensões o inqualificável<br />
silencio dos jornaes ministeriaes,<br />
orgãos do sr. Dias Ferreira,<br />
ás perguntas que a imprensa diariamente<br />
lhe dirige a esle respeito.<br />
Augmentar nesta angustiosíssima<br />
situação do nosso paiz <strong>de</strong>pauperado<br />
os impostos que já lanlo<br />
oneram e esmagam o povo, mais do<br />
que um <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> boa administração—é<br />
um facto criminoso e altamente<br />
con<strong>de</strong>mnavel; augmentar os<br />
impostos, que vão sugar ao pobre<br />
a ultima gotla <strong>de</strong> sangue, transudada<br />
num trabalho Ímprobo, havendo<br />
por esse paiz fora centenas<br />
<strong>de</strong> ricos, que <strong>de</strong>vem á^ fazenda centenas<br />
<strong>de</strong> contos—é um vilipendio;<br />
augmentar a tribulação quando Ioda<br />
a matéria colleclavel eslá sobrecarregada<br />
alé ao ultimo extremo, quando<br />
o trabalho falta, os capitaes se<br />
retrahem, a vida economica se paralysa,<br />
quando a proprieda<strong>de</strong> geme<br />
assoberbada por multíplices colleclas<br />
iníquas —é uma acção vergonhosa.<br />
Comparada com esta só conheço<br />
a do bandido cruel, que numa<br />
encrusilhada alaca um mendigo<br />
inerme para lhe arrebatar da sacola<br />
exhausla o ullimo pedaço <strong>de</strong> pão.<br />
Repare o sr. ministro da fazenda,<br />
que governar nas circumslancias<br />
penosas etn que nos encontramos,<br />
empobrecidos, <strong>de</strong>fraudados,<br />
sem um ceilil e sem credito, se não<br />
po<strong>de</strong> conseguir nem conlrahindo<br />
emprestimos nem augmenlando impostos.<br />
E não foi para islo que<br />
s. ex. a se guindou ás ca<strong>de</strong>iras do<br />
po<strong>de</strong>r, numa hora, que se nos afigura<br />
faial, do favor popular.<br />
Mas o sr. Dias Ferreira é um<br />
<strong>de</strong>sastre vivo. O mirífico programma<br />
<strong>de</strong> governo, que o sr. presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho <strong>de</strong>senrolou perante as<br />
duas casas do parlamento, ha apenas<br />
doze mezes incompletos, com<br />
a austerida<strong>de</strong> solemne das gran<strong>de</strong>s<br />
oceasiões e com a firmeza energica<br />
AXKO I — 4 9 O DEFENSOR DO POVO 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> ÍSOS<br />
C R Y S T A IEJS<br />
ROSICLER<br />
Eu sinto que os teus- olhos,, minha doce amada,<br />
pousando sobre mim são como a alvorada<br />
esplendida que brilha nas regiões do poio;<br />
infiltram na minha alma um cálido consolo,<br />
emanações subtis <strong>de</strong> aromas virginaes.. .<br />
São como duas pombas, brancas, muito eguaes,<br />
que trazem ao mau peito o ramo d'oliveira,<br />
nuncias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> paz na minha vida inteira;<br />
e a minha alma, em sorrisos, dá-lhes o agasalho<br />
que as pétalas dos lyrios dão também ao orvalho,<br />
que <strong>de</strong>sce e as vem beijar nos cálices <strong>de</strong> neve.<br />
Demora sobre mim o teu olhar, tão leve<br />
como a nuvem subtil <strong>de</strong> fumo que se esvae.. .<br />
Ha um fluido d'amor, magnético, que attrahe<br />
as almas como as nossas, que confun<strong>de</strong> os sábios;<br />
por isso <strong>de</strong>ixa-me ir beber sobre os teus lábios,<br />
na doce confusão dos nossos dois olhares,<br />
esse filtro subtil que anda pelos ares,<br />
que enche o coração das aves e das flores,<br />
o fluido que irradia lúbricos amores<br />
na natureza inteira — o fluido dos <strong>de</strong>sejos;<br />
e as nossas almas, numa confusão <strong>de</strong> beijos,<br />
vôem serenamente pelos ares fóra,<br />
banhadas pelo effluvio d'uma eterna aurora.. .<br />
LETTRAS<br />
Uma historia<br />
Sobre a encosta do monte ficava o<br />
alegre casal do Carvalhão. Esta vivenda<br />
respirava franqueza e alegria, e dos ramos<br />
frondosos das arvores e das hastes<br />
flexíveis das trepa<strong>de</strong>iras como que se<br />
escoavam para o ambiente aromas incessantes<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e bem estar.<br />
É que o tio Antonio do Couto fôra<br />
sempre trabalhador e honra'do, e por isso<br />
vivia tranquillo e satisfeito entre a mediania<br />
da sua casa e a estima dos seus<br />
visinhos. Para esta felicida<strong>de</strong> concorria<br />
também, e muito principalmente, a sua<br />
filha, a Elisa. E orgulhava-se d'ella, o<br />
bom do velho !<br />
Na verda<strong>de</strong>, dizia-se por toda a parte<br />
que naquelles arredores não havia cara<br />
tao risonha <strong>de</strong> frescura e <strong>de</strong> belleza. E<br />
por isso o pae se revia nella como um<br />
apaixonado se rtveria numa planta preciosa<br />
e rara, que a muito custo conservasse<br />
numa estufa.<br />
A Elisita tinha 18 annos Um bom<br />
rapaz d'alli, o Antonio da Coutada, valente<br />
como um touro e bom como um<br />
cor<strong>de</strong>iro, couversava-a então. Estimavam-se<br />
ambos, e elle um dia disse ao<br />
pae da Eli-a, com a franqueza generosa<br />
e aberta d'uín homem honrado:<br />
— Sr. Antonio, vou lallar-lbc, com a<br />
Iranqueza d'um homem <strong>de</strong> bem. Ha tempo<br />
ja que eu sinto por sua filha uma<br />
amisa<strong>de</strong> bem sincera, como se eu fosse<br />
da familia, e tanto eu como ella estimamo-nos<br />
intimamente. Como sabe, sr. Antonio,<br />
eu uão possuo manadas nem quintas,<br />
mas tenho uma junta <strong>de</strong> bois, um<br />
carro e um arado, estes braços vigorosos<br />
e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Assim, sr. Antonio<br />
do Couto, venho pedir-lhe que dê<br />
licença a sua filha paia nos casarmos.<br />
— Diabo, rapaz ; isto não se faz assim<br />
do pe para a mão. Preciso fallar<br />
com a rapariga, e <strong>de</strong>pois... ella está<br />
tão nova.. . Emfim, tu és bom rapaz e<br />
trabalhador, e, se ella quizer, não me<br />
opporei. Eu também comecei como tu,<br />
e, bem vês, hoje pertencem-me este casal,<br />
estes campos, estas arvores. Portanto,<br />
se trabalhares, ainda po<strong>de</strong>s ajuntar<br />
mais. Eu fadarei com a pequena, e<br />
como ella resolver te darei a resposta.<br />
Passados dias já corria pela al<strong>de</strong>ia<br />
que o Antonio da Coutada era o noivo<br />
da Elisa do Carvalhão, e que o casamento<br />
se realisaria pelas ceifas.<br />
*<br />
Abril; dia glorioso <strong>de</strong> sol esplendido;<br />
no azul puríssimo do ceu não se percebia<br />
a nodoa d'uma nuvem. A al<strong>de</strong>ia<br />
estava em festa. Ouviam-se por toda a<br />
parte <strong>de</strong>scantes e gargalhadas, violas e<br />
guitarra^. A multidão risonha e festiva<br />
agglomerava-se principalmente em diversos<br />
pontos, on<strong>de</strong> sobresahia o vulto<br />
negro mas aprasivel d'uma pipa <strong>de</strong> carrascão<br />
a 30 réis o quartilho. E todos<br />
aquelles rapazes, ar<strong>de</strong>ntes e enthusiasmados,<br />
num gran<strong>de</strong> ruido <strong>de</strong> risos e <strong>de</strong><br />
alegria, soltavam pelos ares, resoantes<br />
Franco Ascot.<br />
<strong>de</strong> cantigas e <strong>de</strong> animação, as gargalhadas<br />
expansivas dos seus espíritos alegres.<br />
Era d'uma miscellanea piltoresca aquelle<br />
brouhaha <strong>de</strong> festa. Entre os sons agudos<br />
dos pifaros e da gaita-<strong>de</strong>-folles' distinguia-se<br />
o som baixo, profumfò do bombo,<br />
as notas alegres do tambor, e, harmoniosamente,<br />
as nolas <strong>de</strong>licadas e sentidas<br />
das violas e das guitarras, que soltavam,<br />
ca<strong>de</strong>nciadas, o gemer d'um fado <strong>de</strong>dilhado<br />
por um rapagão robusto, <strong>de</strong> cacete<br />
<strong>de</strong>baixo do braço, emquanto, ao lado, o<br />
acompanhava a voz sonora d'um romeiro,<br />
chapéu para a nuca, lenço encarnado<br />
alado ao pescoço, collete aberto, cinta<br />
encarnada, calça clara e sapatos brancos,<br />
e flexível vara <strong>de</strong> marmelleiro na mão<br />
callosa e larga. E d envolla com tudo<br />
islo uma nuvem <strong>de</strong> poeira e uma torrente<br />
<strong>de</strong> sol.<br />
Proximo d'uma roda <strong>de</strong> dança estavam<br />
a Elisa e o pae, acompanhados do<br />
Antonio da Coutada e alguns visinhos.<br />
Conversavam sobre a belleza da festa,<br />
commentavam a nomeação dos novos<br />
mordomos para o anno seguinte, que<br />
promettiam fazel-a melhor, e afinal <strong>de</strong>scahia<br />
a conversa sobre o milho que <strong>de</strong>spontava,<br />
na ultima geada que queimara<br />
os pomares e na abundancia da próxima<br />
colheita.<br />
Passado pouco tempo chegou o morgado<br />
da Sobereira montado num cavallo<br />
novo e valente, que um creado pren<strong>de</strong>u<br />
a uma oliveira. Apenas chegou dirigiu-se<br />
logo para o Antonio do Carvalhão, cumprimentando<br />
sobranceiramente os camponezes<br />
que se <strong>de</strong>sbarretavam.<br />
Era alto e hercúleo o morgado. Os<br />
olhos pretos, escondidos quasi sob as<br />
sobrancelhas espessas, <strong>de</strong>spediam muitas<br />
vezes olhares duros e imperiosos. Era<br />
respeitado por todos, mais por medo que<br />
por estima.<br />
Acompanhou durante toda a tar<strong>de</strong> a<br />
Elisa e o pae, e frequentes vezes fez<br />
corar a Elisita com cumprimentos e sorrisos,<br />
ralando <strong>de</strong> raiva o noivo que os<br />
não perdia <strong>de</strong> vista. A' tar<strong>de</strong> acompanhou-os<br />
a casa.<br />
Bem sabia o morgado que o casamento<br />
eslava projectado; mas lembrarase<br />
um dia <strong>de</strong> aspirar a fragrancia da<br />
formosura <strong>de</strong> Elisa, e esforçava-se por o<br />
conseguir.<br />
As suas visitas ao casal do Carvalhão<br />
repetiam-se a miúdo. Ja se murmurava<br />
na al<strong>de</strong>ia, e, apesar dos protestos<br />
da sua noiva, o Antonio da Coutada<br />
andava sombrio e apprehensivo.<br />
A noite <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio apresentou-se<br />
tenebrosamente escura. No firmamento<br />
opaco e entenebrecido, não scinlillava<br />
uma estrella, e <strong>de</strong> vez em quando um<br />
trovão longínquo precedia um relampago<br />
enorme, que num listão <strong>de</strong> fogo atravessava<br />
o espaço. Era uma d'estas noites<br />
que inspiram as scenas sanguinolentas<br />
dos dramas sombrios, noites que nos<br />
trazem á imaginação bandidos e emboscadas,<br />
roubos e assassínios.<br />
Acabavam <strong>de</strong> baler 8 horas na torre<br />
da egreja. Um vulto cautelloso <strong>de</strong>slisou<br />
ao longo da casa do Antonio do Couto,<br />
inlreduziu-se no telheiro on<strong>de</strong> eslava<br />
preso o cavallo do morgado, que nesse<br />
dia alli fora lambem, e chegou-se ao<br />
cavallo que mordia o freio d'impaciencia<br />
Levantou o selim, collocou entre elle e<br />
o dorso do cavallo um ranio <strong>de</strong> tojeiro<br />
secco e resistente, aíivellou as cilhas e<br />
<strong>de</strong>sappareceu cautellosamente.<br />
Passado tempo, quando o morgado<br />
ia para sahir, conduziu á mão para a<br />
rua o cavallo, que <strong>de</strong>sconfiado e tremulo,<br />
respirava com força dilatando as na-,<br />
rinas e filando as orelhas. O morgado<br />
allrihuiu este estado anormal do seu<br />
cavallo ao ruido dos trovões, que cada<br />
vez se approximava mais. Montou; mas<br />
apenas cahiu sohre o sellim, o cavallo,<br />
até alli agitado e nervoso, encahritou-se<br />
<strong>de</strong> repente, e <strong>de</strong>spediu quasi ao mesmo<br />
tempo numa carreira furiosa e tremenda<br />
relinchando <strong>de</strong> dôr. Não obe<strong>de</strong>cia nem á<br />
redia nem á voz do cavalleiro, e em<br />
corcovos rápidos e saltos traiçoeiros tentava<br />
lafiçar fóra do selim o cavalleiro<br />
que o opprimia.<br />
No caminho da quinta da Sobereira,<br />
a quinta do morgado, havia um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />
temeroso, acima do qual passava<br />
a estrada péssima e pedregosa. O<br />
<strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro teria, neste sitio, uns vinte<br />
pas«os <strong>de</strong> largura, e cortava-se abruptamente<br />
em rochas agudas e pedregulhos<br />
enormes. Em menos <strong>de</strong> cinco minutos<br />
chegou alli o cavallo. O estampido medonho<br />
d'um trovão, que semelhava um<br />
<strong>de</strong>rruir <strong>de</strong> montanhas, um cataclysmo<br />
enorme, aterrorisou o animal, que subitamente<br />
se levantou a pino. Para traz<br />
ficava o abysmo negro como aquella noite<br />
<strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>, e cavallo e cavalleiro se<br />
<strong>de</strong>spenharam nelle...<br />
O ruido da queda foi abafado pelo<br />
silvar do vento e o ribombo dos trovões<br />
que se repetiam pelas quebradas, mas á<br />
luz pliosphorecente d'um relampago tremendo<br />
po<strong>de</strong>r-se-hia ver aquella massa<br />
ennovellada mergulhar, precipitada, na<br />
escuridão que se abria...<br />
Na epocha <strong>de</strong>terminada realisou se<br />
o projectado enlace. Da fronte do Autonio<br />
da Coutada nunca se apagou o vinco<br />
que nella se lhe tinha sulcado, como se<br />
uma i<strong>de</strong>ia sombria 0 preoccupasse constantemente.<br />
Sua mulher, a Elisa, como<br />
que adivinhando aquella dôr, nunca lhe<br />
fallou no morgado da Sobereira.<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
Fernão Silvestre.<br />
O nosso folhetim<br />
Ainda com o intuito <strong>de</strong> nos tornarmos<br />
o mais possível ágradaveis ao publico<br />
que nos lê, resolvemos publicar successivamente<br />
alguns romances.<br />
Para esle fim proce<strong>de</strong>remos á escolha<br />
minuciosa <strong>de</strong> bons livros, que a par d'uma<br />
leiturá interessante pelo enredo e pela<br />
belleza da acção se torne recommendavel<br />
pelo estylo e pela pureza da linguagem;<br />
escrupuloso critério nos guiará na<br />
preferencia <strong>de</strong> bons auclores, tendo sempre<br />
em vista os <strong>de</strong> melhor nome e d'estes<br />
as obras que mais se hannonisem coin<br />
o fim a que nos dirigimos.<br />
Será <strong>de</strong> Mery, o inolvidável romancista<br />
e brilhante estylista francez o primeiro<br />
romance que começaremos a publicar.<br />
Escolhemos d'esie escriplor insigne<br />
a sua bella producção litleraria<br />
A JUDIA ND VATICANO<br />
trabalho primoroso, que a um fino colorido<br />
<strong>de</strong>scriplivo a um encanto <strong>de</strong> linguagem<br />
soberba <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
poesia, allia um gran<strong>de</strong> interesse <strong>de</strong><br />
acção, d'uma simplicida<strong>de</strong> encantadora-.<br />
E' no proximo numero d'este jornal,<br />
no 1.° <strong>de</strong> jaueiro <strong>de</strong> 93, que daremos<br />
o primeiro folhetim <strong>de</strong>ste bello trabalho<br />
lilterario.<br />
Convencidos como estamos da belleza<br />
da obra que vamos publicar, po<strong>de</strong>mos<br />
afSrmar sem receio, que ha <strong>de</strong> ser apreciada<br />
pelos nossos leitores, como ella<br />
realmente merece.<br />
Reforma judicial para<br />
o Ultramar<br />
O sr. ministro da marinha não pou<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cretar em dicl'adura esta reforma, porque<br />
a isso se oppoz o sr. Dias Ferreira.<br />
Parece, pois, que em pouco tempo o<br />
sr. Ferreira do Amaral seguirá o caminho<br />
do bispo <strong>de</strong> Bethesaida.<br />
O sr. presi<strong>de</strong>nte do concelho não<br />
perda occasião que se lhe apresente <strong>de</strong><br />
mostrar aos seus collegas que elle é quem<br />
— todo lo manda,<br />
«Portugal»<br />
No Rio <strong>de</strong> Janeiro apparecerá brevemente<br />
um jornal intitulado assim e cuja<br />
publicação será aos sabbados.<br />
Não só o titulo traduz eloquentemente,<br />
que será mais um <strong>de</strong>fensor que o<br />
nosso paiz encontrará no seio da prospera<br />
Republica Brazileira, mas ainda a<br />
sua funcção sympathica se afBrnia nas<br />
seguintes palavras do seu programma —<br />
«Defensor ar<strong>de</strong>nte dos princípios <strong>de</strong>mocráticos,<br />
elle não esquecerá uma alta<br />
missão que naturalmente lhe está indicada<br />
— <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, não menos ar<strong>de</strong>ntemente,<br />
os interesses geraes da gran<strong>de</strong> colónia<br />
portugueza neste paiz».<br />
A serieda<strong>de</strong> e o brilhantismo d'este<br />
jornal é garantida pelo nome prestigioso<br />
dos seus colladoradores—Bodrigues <strong>de</strong><br />
Freitas, Guerra Junqueiro, João Chagas,<br />
ele., etc.<br />
D'aqui lhe enviamos, ao nosso aflectuoso<br />
collega americano, a expressão<br />
sincera do nosso <strong>de</strong>sejo d'uma larga<br />
prosperida<strong>de</strong>.<br />
O Porto e o governo<br />
A noticia <strong>de</strong> que o sr. José Dias<br />
Ferreira vae augmenlar no Porto o imposto<br />
<strong>de</strong> consumo causou na capital do<br />
Norte nma <strong>de</strong>sagradavel impressão.<br />
O Primeiro <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>screve a<br />
côres tétricas a situação precaria do povo<br />
do Porto e a influencia calamitosa que<br />
po<strong>de</strong> produzir aquella medida do sr. ministro<br />
da fazenda. A Tar<strong>de</strong>, que ninguém<br />
accusará <strong>de</strong> <strong>de</strong>saffecta ao actual nnuisterio,<br />
transcrevendo o artigo do Primeiro<br />
<strong>de</strong> Janeiro dá esle respeito salutares<br />
conselhos ao sr. José Dias.<br />
Aproveite os, sr. Dias Ferreira, que<br />
—-^quein me avisa meu amigo é,— e não<br />
queira meller-se em camisa <strong>de</strong> onze<br />
varas.<br />
A respeito <strong>de</strong> impostos, não estamos<br />
em tempo <strong>de</strong> mais ainda do que aquelles<br />
que já nos esmagam.<br />
Amnistia<br />
Tem corrido que vão ser amnistiados<br />
os revoltosos <strong>de</strong> 3,1 <strong>de</strong> jaueiro.<br />
Não acreditamos.<br />
O governo, que faz promessas que<br />
não cumpre nunca e que conserva no<br />
exílio ainda presos, homens amnistiados<br />
ja — não é susceptível <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias humanitárias.<br />
Os homens que estão no po<strong>de</strong>r,<br />
e que inanteem na Penitenciaria, como<br />
um criminoso cominum, um con<strong>de</strong>mnado<br />
politico — o pobre cabo Salomé, —estão<br />
<strong>de</strong>finidos. Aquelles que não obstam a<br />
que nos nossos presídios se coiumellani<br />
com os con<strong>de</strong>mnados as mais vergouhosas<br />
infâmias, os mais revoltantes crimes,<br />
sabendo que taes actos se praticam, porque<br />
lhe foram <strong>de</strong>nunciados pela imprensa—<br />
são <strong>de</strong>shumanos, são cruéis.<br />
Não ha que espetar amnistia.<br />
Mas os con<strong>de</strong>mnados <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro<br />
hão <strong>de</strong> recuperar, sem lavores, a<br />
sua liberda<strong>de</strong>, com um novo registo moral.<br />
Liga Liberal<br />
Annuncia-se para breve uma nova<br />
conferencia na Liga Liberal por um distinctissimo<br />
oflicial da nossa marinha e<br />
dramaturgo notável o sr. Lopes <strong>de</strong> Mendonça.<br />
A Heforma, querendo ridicularisar<br />
estas manifestações do nosso exercito e<br />
da nossa marinha, diz que não sabe se<br />
a conferencia sera era verso, como os<br />
dramas d'csle illustre auclor dramatico,<br />
ou se parodiará a conferencia do sr. tenente<br />
coronel Fava, intitulando-se—«A<br />
marinha <strong>de</strong> guerra e a politica.»<br />
Parece-nos que po<strong>de</strong>mos illucidar a<br />
Reforma; a conferenciado illustre oflicial<br />
basear-se-ha na seguinte these—Do bom<br />
senso e da loucura no governo das nações—.<br />
Não lhe parece que está ao pintar e<br />
que é própria da occasião?<br />
O 31 <strong>de</strong> janeiro<br />
E' um pamphlelo semanal <strong>de</strong> Propaganda<br />
Republicana e Litteratura, que<br />
no dia 1 <strong>de</strong> janeiro proximo começara a<br />
ser publicado'em Lisboa.<br />
Recommendar esta publicação ao publico<br />
é escusado, porque plenamente a<br />
recommenda o lim a que se propõe.<br />
Longa vida prospera é o que sinceramente<br />
<strong>de</strong>sejamos a este nosso novo<br />
collega.<br />
EM SURDINA<br />
Anda a correr a cida<strong>de</strong><br />
a agenciar alguns trocos<br />
a <strong>de</strong>vota irmanda<strong>de</strong><br />
dos Santos martens Marrocos.<br />
Quem levar c'o a campainha<br />
não sofTrerá prejuízo,<br />
nem terá vida mesquinha...<br />
O badalo dá juizo I<br />
E' badalo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong><br />
ainda que não o pareça;<br />
mas sóinente dá saú<strong>de</strong><br />
a quem o levar na cabeça.<br />
Liberta-nos do peccado<br />
afugenta as bruxarias...<br />
Deve ser utilisado<br />
pelo nosso Delegado<br />
e até mesmo—p'lo Zé Dias.<br />
PINTA-ROXA.<br />
Lettras portuguezas<br />
Yae-se estabelecendo pelo estrangeiro<br />
uma corrente a favor do nosso movimento<br />
lilterario, que tão <strong>de</strong>sconhecido<br />
leni andado para lá das nossas fronteiras<br />
e que tão digno é <strong>de</strong> se conhecer.<br />
Temos entre nós escriptores distinctissimos<br />
e obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mérito,<br />
bem capazes <strong>de</strong> merecer a attenção dos<br />
outros centros litterarios; todavia raros<br />
têm sido os nossos publicistas conhecidos<br />
e apreciados em paizes estranhos,<br />
Ultimamente, poréft, tem-se vul^arisado<br />
mais o conhecimento dos nossos escriplores,<br />
principalmente dos nossos poetas,<br />
e ainda agora acaba <strong>de</strong> apparecer<br />
em Paris um <strong>de</strong>licioso livro <strong>de</strong> Achille<br />
Millien, que se intitula—Fleurs <strong>de</strong> poésie<br />
porlugaise.<br />
Encerra traducções <strong>de</strong> poesias notáveis<br />
dos nossos poetas—Castilho, Thomaz<br />
Ribeiro, Gomes d'Amorim, Authero do<br />
Quental, João <strong>de</strong> Deus, Guerra Junqueiro,<br />
Gomes Leal, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Gonçalves Crespo,acon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monsaraz e<br />
Antonio Feijó.<br />
Como se vê são producções <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s<br />
das mais notáveis da nossa<br />
galeria litteraria.<br />
Ainda bem que começam 110 estrangeiro<br />
a dar aos nossos homens <strong>de</strong> lettras<br />
a consi<strong>de</strong>ração a que teem direito.<br />
As loiras<br />
Conta-se que 11111 investigador inglez<br />
fez um esiudo curioso acerca das qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> espirito e coração das mulheres.<br />
Sustenta elle que as mulheres que<br />
peior reputação teem <strong>de</strong>ixado nas paginas<br />
da Historia são as loiras, e cita :<br />
Madame Pompadour, amante <strong>de</strong> Luiz<br />
XV—loura e olhos azues, Lucrécia Borgia—a<br />
celebre envenenadora, Lady Macheiz<br />
— que fe? assassinar um rei d'Escocia.<br />
A celebre rainha Izabel dTuglaterra<br />
— que victimou a pobre Maria<br />
Stuart. Margarida <strong>de</strong> Navarra--que tinha<br />
a coragem <strong>de</strong> trazer comsigo os corações<br />
dos amantes que por causa d'ella<br />
haviam sido assassinados. Izabel <strong>de</strong> Baviera.<br />
Teroique <strong>de</strong> Mariant — uma das<br />
mais cruéis entre as heroinas da gran<strong>de</strong><br />
revolução franceza.<br />
Emfim, ura nunca acabar, que faz<br />
medo e que não repetimos para náo<br />
amargar em <strong>de</strong>masia aquellas nossas leitoras<br />
que tiverem cabellos loiros.<br />
Pelos Yencidos<br />
Subseripção <strong>de</strong> ««O réis meusaem<br />
<strong>de</strong>stinada a soccorrer<br />
com egual quantia os nossos<br />
correligionários emigrados<br />
Transporte 17$400<br />
Joaquim Antunes d'0. <strong>Coimbra</strong><br />
(<strong>de</strong>zembro) 200<br />
Fernan<strong>de</strong>s Costa (novembro e<br />
<strong>de</strong>zembro) 400<br />
Dr. Jeronymo Silva (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892 a março<br />
<strong>de</strong> 1893, inclusivè) 1$000<br />
Somma, réis 19$000<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contribuir<br />
para esta humauitaria acção, po<strong>de</strong>rão<br />
rometter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.
A í — Hf.' 0 49 O DEFEMSOR DO POVO 39 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1S99<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Com o fim (1'anno, finda também a<br />
gerencia camararia da actual vereação,<br />
que em tres annos successivos apenas<br />
conseguiu crear uma indisposição quasi<br />
geral dos munícipes, sem que a cida<strong>de</strong><br />
e concelho lucrasse em melhoramentos e<br />
serviços públicos com a attitu<strong>de</strong> aggressiva<br />
em que se collocou a maioria dos<br />
seus membros, mercê da influencia e'<br />
prepon<strong>de</strong>rância do seu presi<strong>de</strong>nte.<br />
Na lista <strong>de</strong> serviços a actual vereação<br />
apenas conta a regularisaçào do<br />
abastecimento das aguas e a creação e<br />
reorganisação do serviço e pessoal <strong>de</strong><br />
incêndios, e por tal forma se houve neste<br />
acto que latentes estão ainda os factos e<br />
as peripecias que se <strong>de</strong>ram entre corporações<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via ser mantida sempre a<br />
maxima harmonia e boa camaradagem.<br />
Em estradas bem se sabe o que se<br />
fez e qual o seu estado <strong>de</strong> conservação.<br />
Neste serviço publico tem a camara um<br />
padrão <strong>de</strong> gloria que muito a enobrece:<br />
a approvação e construcção d'uma estrada<br />
para uso proprio do seu presi<strong>de</strong>nte 1<br />
A arborisaçâo, a salubrida<strong>de</strong> publica,<br />
eta ntos outros ramos <strong>de</strong> serviço, quasi<br />
(içaram esquecidos pela vereação, que<br />
durante a sua gerencia não fez mais do<br />
que obe<strong>de</strong>cer cegamente aos caprichos<br />
da presi<strong>de</strong>ncia que foi e será ate final o<br />
posso, quero e mando.<br />
A actual vereação tem pois os mesmos<br />
<strong>de</strong>feitos das antigas, suas congeneres<br />
e foi constituída pelos mesmos mol<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>" que se serviu em tempo o partido<br />
regenerador. Eram os chefes os presi<strong>de</strong>ntes,<br />
fazendo-se ro<strong>de</strong>ar por insignificantes<br />
e incompetentes, para melhor<br />
po<strong>de</strong>rem exercer a sua acção corrosiva.<br />
Dahi as consequências funestas: —<br />
nâo houve presi<strong>de</strong>nte que tivesse habitação<br />
rural, que não tivesse estradas<br />
para seu regalo; e egual graça se concedia<br />
a vereadores e até a amigos politicos,<br />
como muito bem sabe o publico.<br />
No entanto, suppoz-se sempre que o<br />
sr. Costa Alemão, seguiria as pizadas da<br />
camara a quem succe<strong>de</strong>ra, que foi <strong>de</strong>ntre<br />
todas a mais correcta; e como s.<br />
ex. a havia creado fama <strong>de</strong> bom economista<br />
e bom administrador, todos suppozeram<br />
que os abusos <strong>de</strong>stradas teriam<br />
terminado, e que o município caira nas<br />
maos <strong>de</strong> homens que haviam <strong>de</strong> cumprir<br />
os seus <strong>de</strong>veres, e <strong>de</strong>sempenhar com<br />
bizarria a sua missão.<br />
O que succe<strong>de</strong>u todos os conimbricenses<br />
o sabem, e a actual vereação ao<br />
abandonar as ca<strong>de</strong>iras do senado, não<br />
<strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s num publico que experimentou<br />
bem a iíascibilida<strong>de</strong> do seu po<strong>de</strong>rio.<br />
Não sejamos, porém, injustos. Os<br />
vereadores que serviram com o sr. dr.<br />
Costa Alemão só lhes cabe a responsabilida<strong>de</strong><br />
moral <strong>de</strong> o acompanharem em<br />
tudo e por tudo com o approvo do estylo.<br />
Mas se não era outra a sua missão<br />
111...<br />
*<br />
No proximo anno temos, pois, nova<br />
camara, <strong>de</strong> quem a maioria dos habitantes<br />
da cida<strong>de</strong>, espera bons serviços e<br />
boa administração.<br />
Estarão animados os novos vereadores<br />
a conce<strong>de</strong>rem a este concelho os melhoramentos<br />
indispensáveis e a fazerem uma<br />
administração recta, imparcial e justiceira,<br />
on<strong>de</strong> não impere a politica nem o<br />
facciosismo ?<br />
A esta interrogação hão <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />
os seus actos futuros, que nós aguardamos<br />
e que <strong>de</strong>sejaríamos bem ter <strong>de</strong><br />
louvar.<br />
Em breve po<strong>de</strong>remos ajuizar dos actos<br />
da nova camara, e oxalá que se não dê<br />
ense'o ao rifão popular:—Atraz <strong>de</strong> mim<br />
«irá quem bóm me fará<br />
O flatal<br />
Em <strong>Coimbra</strong> festejou-se, como <strong>de</strong><br />
costume, a noute consagrada ao convívio<br />
e ao regosijo da familia. Em muitas casas<br />
gran<strong>de</strong> animação; <strong>de</strong>scantes e danças,<br />
e algumas salas da alta roda abriram-se<br />
para o baile em forma.<br />
Na Sé Calhedral a festivida<strong>de</strong> do rito,<br />
conservando o expleudor do meio atino;<br />
muita gente assistia e o templo bem illuminado<br />
apresentava um elleito surprehen<strong>de</strong>nte.<br />
A chuva é que nào <strong>de</strong>ixou gosar tudo,<br />
apanhando os <strong>de</strong>votos e as <strong>de</strong>votas<br />
uns burrifos capazes <strong>de</strong> fazer apagar as<br />
forjas <strong>de</strong> Vulcano,<br />
Obra <strong>de</strong> serralharia<br />
Para complemento do mausoléu que<br />
a Associação dos Artistas erigiu á memoria<br />
do seu fundador e prestante cidadão,<br />
Olympio Nicolau Ruy Fernan<strong>de</strong>s<br />
faltava a gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> contorno, havendo difliculda<strong>de</strong>s<br />
em executal-a, segundo o <strong>de</strong>senho<br />
que havia dado o sr. Antonio Augusto<br />
Gonçalves, que muito tem coadjuvado<br />
a Associação dos Artistas neste<br />
objecto.<br />
Ultimamente encarregou se d'este trabalho<br />
o sr. Manoel Pedro, serralheiro<br />
muito hábil, que felizmente o ultimou<br />
com bom êxito, vencendo as dificulda<strong>de</strong>s<br />
da execução.<br />
A gra<strong>de</strong> foi hontem collocada e quem<br />
visitar o cemiterio po<strong>de</strong> ver e apreciar o<br />
trabalho mo<strong>de</strong>rno, artístico, que honra<br />
sobremaneira o sr. Manoel Pedro.<br />
Os nossos parabéns ao hábil serralheiro<br />
e á commissão <strong>de</strong>legada da Associação<br />
dos Artistas que vê coroado <strong>de</strong><br />
bom êxito os seus esforços e linda a<br />
sua missão.<br />
Ur. Jeronymo Silva<br />
Este nosso digno amigo foi nomeado<br />
pela camara <strong>de</strong> Poiares clinico elíeetivo<br />
do partido medico d'aquelle concelho,<br />
on<strong>de</strong> está ha mezes exercendo o cargo<br />
provisoriamente<br />
Sabemos que os poiarenses estão<br />
contentíssimos, pois encontram no nosso<br />
illustre correligionário todos os dotes<br />
apreciaveis d'um bom cidadão e bom<br />
clinico.<br />
A quem a noticia não agrada por<br />
certo é aos muitos amigos que o sr. dr.<br />
Jeronymo Silva conta nesta cida<strong>de</strong>, sabendo<br />
agora que elle fixou, <strong>de</strong>finitivamente<br />
resi<strong>de</strong>ucia em Poiares, pois que<br />
sempre tiveram como nós a esperança<br />
d'elle voltar para <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> é justamente<br />
apreciado e immensamente querido<br />
por cidadãos <strong>de</strong> todas as classes.<br />
Appellwção <strong>de</strong> sentença<br />
Não ficou satisfeito o sr. <strong>de</strong>legado<br />
do procurador régio, José <strong>de</strong> Macedo<br />
Sotto Maior, com a tição applicada pelo<br />
distincto advogado sr. dr. Chaves e Castro,<br />
no processo que fez sentar nos bancos<br />
dos réus os srs Abílio Itoque e<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, e por isso mesmo<br />
appellou da sentença do sr. juiz <strong>de</strong> direito<br />
para o tribunal da relação.<br />
E' <strong>de</strong> crer que o tribunal para on<strong>de</strong><br />
subiu o processo confirme a sentença, por<br />
isso mesmo que a lei é expressa e clara,<br />
e nestas condições a situação que para<br />
si escolheu o sr. <strong>de</strong>legado é bem para<br />
lastimar.<br />
Nós todos o vimos no tribunal, ao receber<br />
a lição do mestre, bastante compromettido;<br />
no seu rosto se lia a confissão<br />
tacita do erro que comraettera, e o<br />
publico chegou a ter dó d'elle, tal era a<br />
excitação em que o via, mudando <strong>de</strong> côr<br />
centena» <strong>de</strong> vezes. E comtudo volta a<br />
insistir, a teimar que o escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />
é uma corporação 1<br />
Veremos em que pára a teimosia do<br />
sr. <strong>de</strong>legado d'esta çoíuarca que interpretando<br />
a lei a seu gosto esta favorecendo<br />
o sr. escrivão <strong>de</strong> fazenda, dandolhe<br />
regalias e direitos contrários ao espirito<br />
e lettra dos nossos codigos.<br />
Junta <strong>de</strong> parochia<br />
Na noticia que <strong>de</strong>mos em o numero<br />
passado louvando os actos da junta<br />
<strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholomeu, faltou-nos<br />
inserir os nomes dos sfs. João<br />
da Fonseca Barata, Eduardo Veríssimo<br />
<strong>de</strong> Lemos Portugal e João Lopes <strong>de</strong> Moraes<br />
Silvano, que serviram nos seis annos<br />
em que o nosso amigo e correligionário<br />
sr. Manoel Antonio da Còsta, tem<br />
exercido o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da mesma<br />
junta.<br />
' Estes cidadãos que serviram uns no<br />
primeiro trienuio, outros no segundo <strong>de</strong>ixaram<br />
lambem os seus nomes ligados<br />
aos melhoramentos e ostros serviços, em<br />
especial á instrucção primaria que é nas<br />
freguezias da cida<strong>de</strong> a que mais se distingue.<br />
Que aquelles cavalheiros nos <strong>de</strong>sculpem<br />
a omissão dos seus nomes, <strong>de</strong>vida<br />
simplesmente á falta <strong>de</strong> melhor informação,<br />
que agora obtivemos.<br />
Reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Correu o boato <strong>de</strong> que havia pedido a<br />
<strong>de</strong>missão o sr. dr. Costa Simões, que a<br />
contento <strong>de</strong> todos está dirigindo superiormente<br />
a nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
Parece que o boato é infundado e<br />
que s. ex. a nao tem motivos para que<br />
<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> continuar no exercício <strong>de</strong> tão<br />
espinhoso cargo.<br />
Ao chefe da estação postal<br />
Alguns commerciantes queixam-senos<br />
<strong>de</strong> falta <strong>de</strong> recebimento <strong>de</strong> cartas,<br />
que presumem terem dado eqtrada na<br />
repartição d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
Como é difficil <strong>de</strong> provar esta ultima<br />
parte, pedimos provi<strong>de</strong>ncias ao sr.<br />
chefe da estação postal, mandando averiguar<br />
ácerca do facto, que, a ser verda<strong>de</strong>iro,<br />
vem confirmar a injustiça ha tempos<br />
commetlida com um e\-carteiro que foi<br />
<strong>de</strong>mittido.<br />
Envenenamento<br />
Maria da Conceição, <strong>de</strong> Fóra <strong>de</strong> Portas,<br />
comprou na terça feira alguns requeijões<br />
a uma ven<strong>de</strong><strong>de</strong>ira, distribuindo-os<br />
á refeição do jantar a suas filhas .•<br />
Maria Julia, Guilhermina, Beatriz, Esther,<br />
e Firmino, uma creança <strong>de</strong> 29 mezes.<br />
Todos comeram o manjar e Maria<br />
Julia que jantou numa obra da quinta<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz, on<strong>de</strong> trabalha, foi logo<br />
accommettida <strong>de</strong> vomitos e dores horríveis<br />
<strong>de</strong> ventre, tendo <strong>de</strong> recolher a casa<br />
era braços. A' mãe e aos mais irmãos<br />
succe<strong>de</strong>u o mesmo. Foram prestados pelo<br />
clinico da Misericórdia, sr. dr. José Naza;<br />
etli, os soccorros médicos, o qual r«lenou<br />
fossem remettidos para o comiiii/shriado<br />
os restos do requeijão para alli se verificar<br />
se eiles continham matérias nocivas<br />
que produzissem o envenenamento.<br />
A ven<strong>de</strong><strong>de</strong>ira do requeijão foi presa<br />
e a pojicia proce<strong>de</strong> a indagações.<br />
Isto só vem confirmar a justiça dos<br />
pedidos que temos feito, exigindo das<br />
auctorida<strong>de</strong>s uma rigorosa vigilância<br />
para os generos que se expõem ao consumo<br />
publico.<br />
Em Lisboa, Porto e outras terras este<br />
serviço e feito com insistência e regularida<strong>de</strong>;<br />
em <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong>ixa-se tudo á<br />
revelia e cada qual ven<strong>de</strong> o que quer,<br />
sem que a auctorida<strong>de</strong> lhe peça contas.<br />
E' cou<strong>de</strong>mnavel tal procedimento.<br />
Espectáculos<br />
O sr. Francisco Lucas, um dos empresários<br />
do theatro D. Luiz, pediu nos<br />
para que noticiássemos que para as recitas<br />
do Burro dõ sr. Alcai<strong>de</strong>, Solar dos<br />
Barrigas e El rei damnado só tem dois<br />
camarotes, n os 4 e 19 (fa 2. a or<strong>de</strong>m,<br />
pois" quê a frisa foi vendida ao sr. dr.<br />
Danton <strong>de</strong> Carvalho; e o camarote <strong>de</strong><br />
l. a or<strong>de</strong>m ao sr.Mose Birbedo Vieira, já<br />
<strong>de</strong>pois do seu ultimo aviso.<br />
# A empreza do tbeatro-circo Principe<br />
Real reduziu os preços para os espectáculos<br />
annunciados nos dias 7 a 13<br />
<strong>de</strong> janeiro proximo; ficando assim : —<br />
Camarotes, 3/000 ; fautenils, 600 ; ca<strong>de</strong>iras,<br />
SOO; geral, 200 réis.<br />
Avisa o publico <strong>de</strong> que brevemente<br />
será publicado o elenco da companhia que<br />
foi coutractada para estes espectáculos.<br />
llegosija nos a <strong>de</strong>cisão da empreza<br />
que <strong>de</strong>struíra assim os boatos propalados,<br />
que aflirmam com insistência que essa<br />
companhia e <strong>de</strong> somenos importancia.<br />
A publicação dos nomes dos artistas<br />
estamos certos que ha <strong>de</strong> fazer mor<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> inveja os uovellerros que teem para<br />
ahi andado a inventar coisas do arco da<br />
velha, e que affirmam que—gallinha boa<br />
por pouco dinheiro...<br />
Se até já inventaram que o Burro<br />
não será representado por falta d'auctorisação<br />
dos auctores 1<br />
Mon<strong>de</strong>go<br />
Com as ultimas chuvas engrossou<br />
immenso a corrente do nosso poético<br />
Mon<strong>de</strong>go. Os fios <strong>de</strong> prata, muito cantados<br />
pelos poetas, a serpentearem por entre<br />
o areal trausformaram-se em caudal<br />
enorme, da côr da terra.<br />
Assim- está o Mon<strong>de</strong>go—muito feio e<br />
muito sujo.<br />
Roubo<br />
O sr. Manoel Cabral, com taberna<br />
na rua da Sophia, ao abrir hontem o seu<br />
estabelecimento, reparou que pessoas<br />
estranhas haviam ali entrado, pois que<br />
das gavetas tiuham <strong>de</strong>sapparecido algumas<br />
cédulas e dinheiro em metal, bem<br />
como um mealheiro com cobre. Os gatunos<br />
levaram também gran<strong>de</strong> porção <strong>de</strong><br />
tabacos, esgotando por completo o sortido<br />
que alli havia e que nos dizem ser<br />
o mais importante do roubo.<br />
Estão presos por <strong>de</strong>sconfiança os cal<strong>de</strong>ireiros:<br />
Domingos Miguel, italiano;<br />
Joaquim Faria e José Loureiro, porisso<br />
que se encontrou arrombado um tapume<br />
que divi<strong>de</strong> a taberna da officina em que<br />
estes trabalham, havendo vestígios <strong>de</strong><br />
passagem em ambas as casas.<br />
Logar a concurso<br />
A mesa da Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
pôz a concurso o.logar <strong>de</strong> 3.° partido<br />
medico, para tratamento dos pobres da<br />
cida<strong>de</strong>. O or<strong>de</strong>nado é <strong>de</strong> 300/000 réis.<br />
mercês honorificas<br />
O governo continúa a espalhar pelo<br />
paiz e pelo estrangeiro mercês honorificas,<br />
sem que ao menos se lembre d'esta<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Os que se julgam com direito ao<br />
pendurichlho quasi per<strong>de</strong>ram as esperanças<br />
<strong>de</strong> se verem <strong>de</strong> chapa ao peito.<br />
Um <strong>de</strong>sapontamento 1<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Depois das ferias continuará a reger<br />
a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> direito do 3.° anno civil o sr.<br />
dr. Fernan<strong>de</strong>s Vaz, porisso que o seu proprietário,<br />
sr. dr. Lopes Praça, continúa<br />
doente.<br />
Promoção<br />
O sr. dr. Augusto Rocha foi promovido<br />
a clinico ordinário dos hospitaes da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
«A Fonte dos Amores»<br />
E' o titulo d'uma opereta que o sr.<br />
Antonio <strong>de</strong> Mello (Toy) escreveu para<br />
ser <strong>de</strong>sempenhada pela troupe dramatica<br />
Luiz da Gama, no theatro-circo Principe<br />
Real.<br />
A pintura do scenario para esta opereta<br />
foi entregue ao sr. Antonio Augusto<br />
Gonçalves, cuja competencia artística é<br />
<strong>de</strong> sobejo conhecida.<br />
A Fonte dos Amores subirá á scena<br />
muito brevemente; a musica, dizem-nos,<br />
é do sr. dr. Simões Barbas.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Está doente o sr. Joaquim Gualberto<br />
Soares, redactor e proprietário da Correspondência<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
* A esposa do sr. dr. Joaquim<br />
Maria Bernar<strong>de</strong>s, filha do acreditado<br />
ctmmerciante d'esta praça, sr. Bernardo<br />
Antonio d'Oliveira, teve ha dias, com<br />
feliz parto, uma creancinha. Aos paes e<br />
avô os nossos parabéns.<br />
Movimento commercial<br />
Agio —Premio das libras: 1/100<br />
réis, ouro nacional, 22 °/0;<br />
Prata: graúda, a 2°/„; miúda a<br />
1 v».<br />
O cambio do Brazil conserva-se a<br />
13 3/,.<br />
*<br />
Generos —No ultimo mercado <strong>de</strong><br />
Montemor regularam os generos abaixo<br />
<strong>de</strong>signados pelos seguintes preços:<br />
Milho branco 360 a 380 — Dito<br />
amarello 3£0 a 380 —Trigo branco 630<br />
a 660 — Dito mouro 700 — Dito tremez<br />
630 a 640 — Feijão graúdo ou gandarez<br />
520 a 530 —Dito branco meudo 420 a<br />
440—Dito vermelho 600 — Dito rabão<br />
Branco 550 a 560 —Dito fra<strong>de</strong> 410 a<br />
420 — Dito paleta 400 — Dito mistura<br />
400 a 410 —Dito rajado 380 a 40D —<br />
Grão <strong>de</strong>bico 850 —Centeio 800 —Fava<br />
440—Batata, 260 a 280—Tremoço 420<br />
— Azeite, 12 litros, 2^000 — Vinho, 24<br />
litros, 1/300 —Aguar<strong>de</strong>nte; 24 litros,<br />
4/500.<br />
Horário postal<br />
Tiragem da correspondência nos marcos<br />
postaes da cida<strong>de</strong>:<br />
1. a ás 12 horas do dia.<br />
2. a ás 2 horas da tar<strong>de</strong>.<br />
3. a as 8 e um quarto da tar<strong>de</strong>.<br />
Nos marcos postaes <strong>de</strong> Cellas, Estradada<br />
Beira e Santa Clara: <strong>de</strong> manhã,<br />
cerca das 7 horas, e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> ás 6 horas.<br />
As ultimas tiragens na caixa geral<br />
dos correios effectuam-se:<br />
Para a linha leste e Beira Baixa ás<br />
6 horas e 5 m. da tar<strong>de</strong>.<br />
Para o sul ás 9 e 55 m. da n.<br />
Para o norte, Beira Alta e paizes da<br />
Europa ás 12 horas e 30 minutos da<br />
noite.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Concluída enterraram-se,<br />
na semana ultima os seguintes<br />
cadaveres :<br />
Maria Emilia <strong>de</strong> Lemos, filha <strong>de</strong> Pedro<br />
Garrido e Maria Garrido <strong>de</strong> Lemos, da<br />
Figueira da Foz, <strong>de</strong> 84 annos. Falleceu<br />
<strong>de</strong> moléstia <strong>de</strong>sconhecida, no dia 19.<br />
Julia, filha <strong>de</strong> Joaquim Men<strong>de</strong>s Paulo<br />
e M
ANNO I —N.° <strong>47</strong> O DEFENSOR DO POVO 39 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 189Í<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
ura exemplar.<br />
HISTORIA DIPOKTIIGIL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
mim ss SAXPAID mm<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>lesso concurso,<br />
entre outros eminentes colaboradores,<br />
da ex. ma sr a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
I P L O M S<br />
A preto e a côres<br />
Imprimem-se na<br />
TYP. OPERARIA<br />
COJMBKA<br />
BÍBLIA SAGRM<br />
ILLUSTH ASA<br />
900 a 1:000 gravuras<br />
Pedir prospecto e especimen<br />
Assignatura 20 réis, fascículo<br />
Está concluído o 1.° volume<br />
|»ra informações BÍBLIA<br />
P" SA6KADA JIÍIÍUS-<br />
TK.IIIA—Mousinho da Silveira, 191<br />
—Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> : na livraria do sr. A.<br />
Paula e Silva, rua do Infante D. Augusto,<br />
e em casa do sr. Manoel Maria, rua das<br />
Flores — 4.<br />
D E G R A Ç A<br />
Carteira para notas,<br />
Carimbos <strong>de</strong> horntclip<br />
e bilhetes <strong>de</strong> visita<br />
A ftlK— É este o titulo <strong>de</strong> um<br />
álbum <strong>de</strong> anedotas e bons ditos que se<br />
publica em Faro, quinzenalmente, pela<br />
módica quantia <strong>de</strong> 600 réis em cada seis<br />
mezes, pertencendo a cada assignante um<br />
brin<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 bilhetes <strong>de</strong> visita, ou mediante<br />
100 réis mais, uma linda carteira<br />
para notas, ou um carimbo <strong>de</strong> borracha.<br />
Para a escolha do mo<strong>de</strong>lo dos carimbos<br />
serão enviados, gratuitamente, catalogos<br />
a quem os pedir.<br />
Jornaes e brin<strong>de</strong>s serão enviados a<br />
todas as pessoas que mandarem a Agostinho<br />
Ferreira Chaves — Faro — 600 ou<br />
700 réis, segundo o brin<strong>de</strong> escolhido.<br />
Quem <strong>de</strong>sejar a carteira registada<br />
para evitar extravio no correio <strong>de</strong>verá enviar<br />
mais 50 réis.<br />
Os bilhetes <strong>de</strong> visita valem 400 réis.<br />
—As carteiras valem 600 réis — o valor<br />
dos carimbos é superior a 800 réis.<br />
Por cada <strong>de</strong>z assignaturas dá-se uma<br />
<strong>de</strong> graça, com todas as garantias <strong>de</strong> assignante.<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha 30 róis<br />
Repetições ..... 20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
JOSÉ LUIS M A M BE ASAUJO<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadrnnt»<br />
71 ir«» lds »« pelo preço da Fabrica.<br />
1 Envia catálogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
ia<strong>de</strong>ira para palitos<br />
en flnem preten<strong>de</strong>r comprar al-<br />
1 guma ma<strong>de</strong>ira para fabrico <strong>de</strong><br />
palitos po<strong>de</strong> dirigir-se a José Lopes Leilão,<br />
resi<strong>de</strong>nte em Tentúgal.<br />
a<br />
AO PUBLICO<br />
61 I^cclàro P ara os <strong>de</strong>vidos elíei-<br />
U tos, que o sr. Anlonio Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, ex-caixeiro no meu estabelecimento<br />
<strong>de</strong> mercearia, na rua do Sargento-mór,<br />
n. os 8 a 10, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aos<br />
meus serviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 18 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1892<br />
Manoel dos Santos Apostolo Júnior.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 A u9,l>to Wunes dos San-<br />
14 tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
64 Commoda e oratorio<br />
<strong>de</strong> pau preto, ven<strong>de</strong>-se na<br />
rua dos Sapateiros, n. s 20<br />
a 24.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro cTamarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
y Sseciita-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
M carimbos em todos os generos,<br />
sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-.se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal era chapa, fundição e torneiro,<br />
amareila e branca. — Prateia se todo o<br />
objècto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
NOVA COM » OE SEGUROS RO<br />
Capital 1.000:000$000 réis<br />
A G E N C I A E M C O I E M A - R U A M SOPHIA, 2 A 8<br />
46<br />
A este<br />
CENTRO DA MODA<br />
DE<br />
MENDES D'ABREU & C/<br />
60 — Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges — 64<br />
C O I M B B A<br />
acreditado estabelecimento fundado em 1878 acaba <strong>de</strong> chegar um<br />
completo sortimento <strong>de</strong> fazendas nacionaes e estrangeiras próprias para<br />
fatos <strong>de</strong> homem e creanças, que se executam com a maxima perfeição e modicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> preços.<br />
Os proprietários d'este estabelecimento, para melhor garantirem a execução<br />
das manufacturas, montaram no mesmo prédio uma esplendida ofticina d'alfaiateria,<br />
on<strong>de</strong> quasi toda a obra será feita <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s d'Abreu.<br />
No mesmo estabelecimento se encontra giz proprio para alfaiate, fabricado em<br />
Portugal. É o único <strong>de</strong>posito d'esta manufactura em <strong>Coimbra</strong>. Cada caixa com 50<br />
gizes custa 400 réis.<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C. a<br />
N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
ESTABELECIMENTO<br />
Dl?<br />
' 'íVSP líí if?i Til ^iV-fS<br />
DE<br />
JOSÉ DA COSTA RAINHA<br />
^ IVíeste estabelecimento encontra o comprador o que lia <strong>de</strong> mais<br />
1^1 mo<strong>de</strong>rno e mais chic.<br />
Bua dos Sapateiros, n. os 21, 23 e 25<br />
Largo da Freiria, n. os I a 3<br />
COIMBRA<br />
III SEGUROS TILIL V<br />
FUNDADA EDI 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
IIÉIS §6:500#000<br />
E/fectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em "prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM GOIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° tl-l.°<br />
A L A V I L L E _ D E P A R I S<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
ZÉ" 1 . D E L P O R T<br />
2<strong>47</strong>, Rua <strong>de</strong> Sá da Ran<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
J0&0 BODBIUM SItâGâ, SDCGGSSDR<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA<br />
9 À RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fila<strong>de</strong><br />
faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dous<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a ençarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fóra.<br />
PREÇOS SEM COMPETIDOR<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
.„ gatmpregta-ge dinheiro sobre<br />
lU objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Juro modico, como po<strong>de</strong>m experimentar.<br />
•<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 0 — COIMBBA.<br />
DOBITAS<br />
40 Na officina <strong>de</strong> serralheria<br />
e fundição <strong>de</strong> Manoel<br />
José da Costa Soares, á<br />
rua da Sophia, ven<strong>de</strong>-se<br />
fasquia para tabiques e estuques<br />
a 7$000 réis o milheiro.<br />
EMPREGADO<br />
gg h dmitte-ae um com habilitam<br />
ções <strong>de</strong> mercearia e tabacos.<br />
Nesta redacção se diz. -<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
E D I T O R<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno<br />
Semestre.... W<strong>35</strong>0<br />
TrimesUe... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2MOO<br />
Semestre.... 1^200<br />
Trimestre... 600<br />
Impresso na Typographia<br />
Operaria — Largo da Freiria n."<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
$ OIMBFTA,