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a xilogravura expressiva entre a luz e a sombra, o pessimismo

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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ<br />

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA<br />

DIEGO ANTONIO DOS SANTOS FONSECA<br />

TRANSIÇÃO GRÁFICA - A XILOGRAVURA EXPRESSIVA<br />

ENTRE A LUZ E A SOMBRA, O PESSIMISMO<br />

CURITIBA<br />

2012<br />

1


ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ<br />

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA<br />

DIEGO ANTONIO DOS SANTOS FONSECA<br />

TRANSIÇÃO GRÁFICA - A XILOGRAVURA EXPRESSIVA<br />

ENTRE A LUZ E A SOMBRA, O PESSIMISMO<br />

Pesquisa apresentada ao Departamento de Artes<br />

Visuais da Escola de Música e Belas Artes do<br />

Paraná, pelo programa de desenvolvimento à<br />

pesquisa científica da Fundação Araucária, sob a<br />

orientação da Profª. Drª. Bernadette Panek.<br />

CURITIBA-PR<br />

2012<br />

2


SUMÁRIO<br />

Introdução......................................................................................................4<br />

1 – A expressividade interna em função do gestual..................................... 5<br />

2 – No <strong>pessimismo</strong> – Traços de linhas básicas...........................................21<br />

Referências bibliográficas...........................................................................33<br />

Anexos.........................................................................................................34<br />

3


Transição Gráfica<br />

A Xilogravura Expressiva – Uma visão para um novo fim<br />

Entre a Luz e a Sombra, o Pessimismo<br />

“Embriagai-vos”<br />

“É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão.<br />

Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros e<br />

vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua. Mas de quê? De<br />

vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos. E se,<br />

alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um<br />

precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez<br />

já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao<br />

pássaro, ao relógio, a tudo que foge a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo<br />

que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a<br />

estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 'É hora de embriagar-vos!<br />

Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos:<br />

embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa<br />

maneira'.” 1<br />

1 BAUDELAIRE, Charles. Petites Poèmes en Prose. Paris: Edição Bilíngue, 1968. p.28.<br />

4


Diego Fonseca. Para ter um desejo, 2011 Xilogravura,<br />

Esta pesquisa aborda o <strong>pessimismo</strong>. Apresento-a em três partes, com três<br />

diferentes artistas e os períodos que os representam. Neste trabalho abordo o sentimento<br />

de derrotismo do homem. A exemplo do trabalho do artista alemão Ernst Ludwig<br />

Kirchner. Tomo como base o contexto histórico do <strong>entre</strong> guerras. E também o<br />

conformismo antecedente à Primeira Grande Guerra. Além de um <strong>pessimismo</strong> que se<br />

passa no fim do século XIX e durante a primeira metade do século XX. Logo a pesquisa<br />

se dá nas imagens que coloco como pessimistas, do artista brasileiro Oswaldo Goeldi. O<br />

artista procura um “eu” interior e relata seu deslocamento da sociedade para o vazio. O<br />

<strong>pessimismo</strong> que aqui relato é por uma identificação com meu trabalho, em que o<br />

contexto histórico se dá no princípio do século XXI. Pessimismo que incito falar<br />

diretamente por meio das imagens em <strong>xilogravura</strong>. Chego nas minhas virtudes e no meu<br />

envolvimento com os artistas, os quais me identifico. Artistas que considero<br />

fundamentais para um crescimento pessoal. Conecto artistas, literatura, períodos e<br />

imagens. Inicio a pesquisa afirmando o título como Transição Gráfica. Trato do<br />

<strong>pessimismo</strong> e suas vertentes ligadas em séculos, que aqui coloco em questão para o<br />

leitor.<br />

A Expressividade Interna em Função do Gestual<br />

A Xilogravura Expressiva é trabalhada na madeira inviolada pelo gestual do<br />

gravador. Dá-se essa violação gráfica na sua essência: o trágico, aos sentimentos, e ao<br />

espontâneo de um interior pessoal do artista. Esse interior que abordo, declaro ser uma<br />

relação mais real quando expressa na <strong>xilogravura</strong>. Ou seja, as suas diretrizes são<br />

negadas e a expressão interna vem em gestos do corpo quando talho a madeira,<br />

diretamente do espontâneo, assim elimino o pensamento prévio da imagem.<br />

5


Diego Fonseca. Me encontrar, 2012. Xilogravura.<br />

Declaro a imagem acima, de minha autoria com o título “Me encontrar”, como<br />

espontânea, expressão de uma linguagem interna dos meus sentimentos de imensa<br />

solidão. Pois, quando me coloco à frente do “fazer artístico” me deixo levar pelos<br />

sentimentos e a imagem aparece instantaneamente. Nessa <strong>xilogravura</strong> há um<br />

personagem de traços livres, rápidos e limpos que se encontra sentado em frente ao mar,<br />

perdido na imensidão de seus pensamentos, a questionar a vida. A montanha e o sol têm<br />

função de resgate do personagem a fim de mostrar uma saída, o sol é uma <strong>luz</strong> para um<br />

novo caminho e a montanha uma nova perspectiva de ideias. Essa gravura emanou de<br />

um ato que ocorreu de uma necessidade interna, e assim que construída a imagem, ela<br />

tornou-se parte de um devaneio de pensamentos no qual remete a uma lembrança. E<br />

quando definida a imagem, um significado torna a aparecer.<br />

A identidade de algumas pessoas se define em só ter e não sentir, tornando para<br />

mim um meio para produção de imagens. O homem moderno como indivíduo de seu<br />

próprio destino, trás para si mesmo o <strong>pessimismo</strong> ao se perceber sozinho e sem lugar no<br />

mundo existencial das coisas, no qual vive aprisionado por seus questionamentos. Os<br />

artistas que cito nesta pesquisa souberam expressar esses sentimentos de fraqueza. Ou<br />

seja, o homem não se vê em um significado para a vida, uma identidade, portanto a<br />

desistência é irremissível. E a partir deste pensamento as imagens gráficas do artista<br />

Kirchner se tornam para mim mais impactantes. Ou seja, quando a imagem traz um<br />

referente da decadência do ser humano.<br />

6


O pensamento de que tudo na vida se torna impossível liga os acontecimentos de<br />

uma década de caráter político. O início do século XX, fez com que o homem se<br />

encontrasse inexistente consigo mesmo. O que mostra uma identificação com o patético<br />

nas imagens de Kirchner. Esse patético, eu percebo quando o artista se coloca em<br />

função de retratar a vida como ela é. Ou seja, essa vida medíocre, por ser uma falsa<br />

realidade quando se trata do quotidiano, em que a vida se torna um ciclo de afazeres e<br />

esse ciclo envolve o estado somítico de percepção ao próximo.<br />

Kirchner, Pressão Interna, 1914<br />

Um <strong>pessimismo</strong> alimentado diante do mundo e das pessoas que o fazem, é<br />

possível perceber na <strong>xilogravura</strong> acima, do artista Kirchner cujo título da obra é Pressão<br />

Interna. Torna-se comovente na forma que se apresentam as mulheres quando em<br />

sociedade. A fragilidade das formas alongadas torna-se estigmatizada, pois a postura, as<br />

roupas, os rostos das figuras de preto e chapéus, à direita, estão a olhar de forma crítica<br />

7


outra personagem, que se encontra no canto esquerdo. O título incita a uma narração e<br />

interpretação de um sentimento que defino como humilhação, pois há no desenrolar da<br />

imagem o olhar que culpa, e o encolhimento do culpado. Alguém se torna deslocado ao<br />

ser motivo de tirania por ser considerado dessemelhante.<br />

É grandiosa a arte quando o artista necessita desta transformação: do pequeno<br />

quadrado de madeira em uma imagem gravada a partir da sensibilidade. A qual alcança<br />

as emoções tangíveis através do olhar do expectador. E do próprio artista que faz do seu<br />

inconsciente as imagens mais fortes, sensíveis e vibrantes. As comoções que as imagens<br />

nos geram trazem à infalível desordem visual, pois a imagem acima nos mostra uma<br />

realidade que até os dias atuais são visíveis no quotidiano. O desconcertante olhar sobre<br />

o homem contemporâneo que não mudou depois de séculos, torna-se uma visão de<br />

amedrontamento, pelo qual se tende a persistir por gerações.<br />

A minha afirmação de que essa imagem do artista Kirchner é tida como um<br />

problema social perceptível ainda hoje, poderia ser muito bem colocado como obra<br />

contemporânea. Onde o olhar crítico do sujeito de personalidade vaidosa se torna pelo<br />

outro sujeito que tem poucos atributos uma agressão. Chegando ser desnecessária a voz<br />

acometida, tendo apenas a utilização do olhar agressivo. Fazendo-o diminuir enquanto<br />

homem no meio social. Logo a crítica visual se tornaria um retrato humano de gerações<br />

que se perdem em diferentes valores, na maioria das vezes monetário, deixando de lado<br />

o encontro com seus próprios valores internos, que estão mascarados pelo estado de<br />

ufania.<br />

Revendo o contexto do artista alemão, no período do século XIX e XX, tratasse<br />

da procura do homem que se torna inerte à reflexão. A apropriação de estereótipos<br />

criados pelos grupos, ou valores que devem ser seguidos.<br />

8


Diego Fonseca. Teu olhar, 2011. Xilogravura<br />

Em 2011 quando iniciei minhas primeiras <strong>xilogravura</strong>s, como a imagem acima<br />

cujo título é Teu olhar, critico um valor que faz o homem crer em ser soberbo, onde<br />

estar em meio a um grupo se torna um fator importante, e a solidão algo enojado. Essa<br />

imagem eu venho aduzir à possível vivência de estar sozinho. Construo um personagem<br />

de poucos traços, fazendo-o simplesmente existir por estar só, sem a necessidade do<br />

comportamento em grupo. Esses grupos, na verdade colocam o homem contemporâneo<br />

como superior ao outro, quando esse outro está fora do grupo. Aparentemente esses<br />

grupos tornam a vida menos agressiva, quando ela mesma se faz agressiva. Quando me<br />

9


ponho à frente da minha razão, refletindo na crença alheia que toma decisões na grande<br />

massa, e influencia diretamente na vida de muitos seguidores de crenças. Aceitei a<br />

solidão e minhas vontades quando fora de qualquer grupo, portanto a vontade se liberta<br />

de qualquer razão.<br />

No momento abdico a qualquer crença para a minha vida, pela falta de clareza<br />

por uma verdade. Percebo a falta de coerência numa verdade imposta, portanto minha<br />

análise gráfica se junta à minha preferência literária e ao ímpio do meu ser. Onde a<br />

solidão se torna visceral para o crescimento humano, pois para mim a reflexão da vida é<br />

a libertação de pensamentos para um conhecimento do homem para o homem.<br />

“Um niilista é um homem que não se curva ante qualquer autoridade; nem aceita<br />

nenhum princípio sem exame, qualquer que seja o respeito que esse princípio<br />

envolva... Aquele que considera tudo de um ponto de vista crítico... O niilista é uma<br />

pessoa que não admite nenhum princípio sem provas.” 2<br />

O escritor Ivan Turgueniev, em seu livro Pais e Filhos relata pela primeira vez a<br />

existência do niilismo. Nietzsche quando fala de grupos de massa e humanidade mostra<br />

uma preferência ao estado niilista. Se niilismo é a negação a todo grupo, eu também<br />

nego a associação a qualquer grupo. Essa solidão presente no homem pode vir a ser de<br />

total veemência quando enfatizada a reflexão de uma existência. Kirchner retrata a<br />

vaidade e a condição do homem e seus valores insignificantes. Assim como as minhas<br />

indagações na <strong>xilogravura</strong>, ao me por numa crítica à falta da reflexão do homem quando<br />

faz parte de um grupo.<br />

Esse niilismo do qual falo, está presente em meu trabalho gráfico de 2011. Ou<br />

seja, só se pode estar num grupo quando se tem os requisitos exigidos por tal grupo. Ao<br />

ser diferente do grupo, existe a motivação para que haja a recriminação do sujeito fora<br />

do grupo pelo grupo. Falo de niilismo, na medida em que desenvolvo a imagem gráfica.<br />

A ininterrupção da devastação dos valores são expressados na <strong>xilogravura</strong>, já como a<br />

representação da solidão do homem. Uma construção de novas e imprevisíveis<br />

interpretações de valores. Não poderia existir, um demolir para depois reconstruir, pois<br />

viria antes a ser uma aniquilação para uma reconstrução total do ser humano. Que se<br />

fazem simultâneos, sobre o qual a repetição e a diferença, a satisfação e a insatisfação,<br />

2 TURGUENIEV, Ivan. Pais e filhos. São Paulo: Cosac & Naify, 1860. p.168<br />

10


no gozar e no querer-mais, tornando a vida nova, fazendo-a nascer do zero impossível.<br />

Em tornar a ser possível uma nova compreensão de valores, que tornariam o homem um<br />

ser superior, mas igualitário ao seu próximo, sem a mesquinhez da superioridade de<br />

poder, viria a ser o ser solitário.<br />

“Um passo a mais será ainda necessário na medida em que, para Nietzsche, o<br />

que realmente subjaz à criação e à destruição dos valores são as forças e as<br />

relações de forças que não cessam de se superar, de se recriar, de se repetir,<br />

de se renovar, de se excluir e de se incluir numa dinâmica recíproca que<br />

permeia, invade, domina e determina toda a realidade, todo o existir, todo o<br />

ser.” 3<br />

Tento mostrar nas imagens das <strong>xilogravura</strong>s a razão do ser quando está só. Pois<br />

esta razão se torna contra as prisões emocionais. Toma as rédeas da vida humana. E faz<br />

com que os seguidores desses grupos de comunicação dêem a própria vida para estar<br />

nesses grupo. Eu acredito que seria uma grande perda para o desenvolvimento do<br />

próprio ser humano, ou seja, os grupos oprimem o desenvolvimento do homem, e os<br />

fazem acreditar que a <strong>entre</strong>ga da identidade, seria para uma iniciação para uma<br />

sociedade superior. Portanto a crítica que estabeleço é por esse atraso que acredito ser,<br />

pela <strong>entre</strong>ga, levada ao extremo de uma doutrina que pode arrastar o homem para o<br />

caminho da decadência humana, ele é condicionado a uma virtude que talvez nem seja a<br />

que é desejada. Desta forma limitando o pensamento do sujeito, deixando-o com<br />

amarras no seu direito de reflexão sobre a vida.<br />

Ao tratar dos grupos de comunicação nesta pesquisa, quero que a minha crítica<br />

se permeie nos sentimentos de solidão, ou seja, a vida se torna mais digna quando<br />

refletida nos seus significados e a procura do eu interior se torne fundamental para a<br />

existência coletiva. Essas respostas não se tornariam de importância vital, mas uma<br />

mera reflexão da existência, sem que a dedicação a um grupo oprima as vontades<br />

estabelecidas pelo ser.<br />

O exemplo que coloco de Nietzsche, no trecho citado no parágrafo abaixo do<br />

livro Assim falou Zaratustra, meu apoio se dá quando critico esse medo da solidão hoje.<br />

O filósofo coloca o personagem leão como um homem comum, e o dragão como sendo<br />

um Deus que exige ser venerado. Um Deus que acredita ter criado todos os valores, e<br />

exige uma veneração pelos seus feitos, sendo assim, o leão (o homem) pode ter deveres,<br />

3 ALMEIDA, Rogério - http://revistacult.uol.com.br/ (Nietzsche e a religião) - 02/08/2012<br />

11


mas não poderia querer exigir nada. Porém o leão não “pode” querer inventar valores,<br />

mas poderia criar uma nova emancipação desses valores coletivos, e enfim criar novas<br />

estimas para a vida. Desta forma o homem se torna incapaz de tomar a frente de sua<br />

própria vida, e é regido por doutrinas que se impõem como voz superior. Essa<br />

incapacidade vem pelo medo da solidão, e com essa ideia, o ser incide a seguir um<br />

grupo.<br />

“‘Tu deves’, assim se chama o grande dragão; mas o espírito do leão diz: ‘Eu<br />

quero’. O ‘Tu deves’ está postado no seu caminho, como animal escamoso de áureo<br />

fulgor; e em cada uma de suas escamas brilha em douradas letras: ‘Tu deves’.<br />

Todos os valores já foram criados, e eu sou todos os valores criados. Para o futuro<br />

não deve existir o “eu quero!” Assim falou o dragão... criar valores novos é coisa<br />

que o leão ainda não pode; mas criar uma liberdade para a nova criação, isso<br />

pode-o o poder do leão.” 4<br />

Quando eu desafio o tema solidão em algumas das minhas gravuras, tratasse de<br />

uma questão de vida ou morte e destino coletivo. Essas imagens que produzo não dizem<br />

respeito diretamente a fatores que ficam explícitos ao sugestivo niilismo em contraponto<br />

à contrariedade dos grupos de comunicação.<br />

O engano que o homem constrói diante do grupo regente, desmorona sobre ele<br />

quando ele se percebe aprisionado. E a solidão que está presente até mesmo no seu fim,<br />

traz a ele uma percepção do princípio do seu interior contemplativo. Assim essas<br />

reflexões são relações que o sujeito, junto ao seu consciente, começa a sentir quando a<br />

existência é apenas fazer parte de um grupo.<br />

E assim parto das emoções mais tangíveis, para a criação das minhas<br />

<strong>xilogravura</strong>s. Em hora sonhos que antecedem um fim, hora o fim que já ocorreu e o<br />

isolamento que perpetua no seu consciente. Esse fim que cito permanece na deriva do<br />

desconhecido, quando coexiste com a própria vida, assim permanecendo indecifrável<br />

seu destino, mas sendo ele continuamente solitário.<br />

4 NIETZCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. editora Martin Claret,2004, p.36<br />

12


Diego Fonseca. Descobrir a razão, 2011. Xilogravura,<br />

A imagem acima aborda um caráter íntimo enquanto sonho acordado, um<br />

devaneio. Logo a partir duma imagem que aplico na madeira de forma espontânea, a<br />

espacialidade se torna uma visão de dois mundos, ou seja, o centro da imagem tomando<br />

total forma de um rosto feminino. A essa imagem inicial se aplicam outras formas que a<br />

fazem dentro deste mesmo rosto que domina a imagem de maneira sutil. Entretanto a<br />

imagem principal está em segundo plano, pois a grande força dessa gravura está nas<br />

duas personagens sentadas, no primeiro plano central. Acima a lua que se torna um<br />

momento presente nas duas personagens centrais, <strong>entre</strong>tanto inexistente, e logo ao lado<br />

direito um sol que se faz parte fundamental do pensamento de dois mundos. Ou seja,<br />

esse mundo escuro eu faço como representação da morte, do reencontro, mas mesmo<br />

assim um mero sonho, um devaneio, uma ilusão que machuca a interioridade. Quando<br />

permito a imagem do rosto ser iluminada por um sol, logo trago para o plano presente a<br />

vida como ela permanece, amedrontada, sem sentido, solitária, desde o conceitual da<br />

razão do sozinho.<br />

O sujeito na imagem, que se permitiu ter um devaneio, está à deriva nos seus<br />

pensamentos e esquece que seu dever está em querer. Esse dever de querer é no sentido<br />

de excluir esses sonhos impossíveis, tornar a vida um estudo diário para o crescimento<br />

intelectual. Diminui a chance de se pôr ao conhecimento do seu próprio sentido vital, o<br />

13


destino improvável. Com a minha ligação, sobre a morte, a vida e o presente, longe da<br />

imaginação, se torna forte quando trato meu trabalho gráfico como efêmero. A minha<br />

<strong>xilogravura</strong> transitória se dá nos motivos de que o tempo passa, e assim como Kirchner,<br />

eu também estou na minha contemporaneidade, e para mim, essa palavra torna tudo<br />

efêmero.<br />

Assim sendo, afirmo que a colocação de Nietzsche, no trecho abaixo, em<br />

questionar o querer estar ajoelhado, para ter esperança, desaba a verdade de toda a<br />

razão que o ser pode construir quando grupo. Quando o escritor se direciona ao falar do<br />

mais sábio que se deseja estar num mundo em que se pode ajoelhar, em gesto de<br />

clemencia, somente ele vive nessa comunhão, e nela viverá.<br />

“Chamais ‘desejo de verdade’ ao que voz impele e incendeia, a vós os mais<br />

sábios...Quereis ainda criar o mundo perante o qual possais ajoelhar-vos: é<br />

esta a vossa última esperança e a vossa última embriaguez...” 5<br />

Utilizo o termo Xilogravura Expressiva, em meu trabalho, para determinar o<br />

fazer espontâneo do gestual na gravura, ou seja, o ato de gravar se torna algo acima da<br />

ideia, acima de qualquer estado a não ser o emocional. Busco uma autenticidade de<br />

identidade, ou seja, veto o estudo do desenho e parto do espontâneo nas minhas<br />

<strong>xilogravura</strong>s. O gestual para mim torna-se de importância vital, é um respirar imagético<br />

de poesia. Genuinamente humano vindo eu a ser liberto da emancipação repreensível da<br />

razão, quando eu, o ser que possui propriedades indefinidas de pensamento, torna-se<br />

livre da razão e tornasse refém da vontade. Assim como na citação abaixo de<br />

Schopenhauer, jamais poderia ser o princípio ou o fim, mas sim, o verdadeiramente<br />

existencial do tempo de cada motivação para a vida. As vontades e conformidades<br />

tornam-se extintas de pensamento primário quando a razão torna a ser minha realidade<br />

de suportar a vida.<br />

“O conhecimento se liberta da servidão da vontade: justamente por aí o sujeito de<br />

tal conhecimento cessa de ser indivíduo, cessa de conhecer meras relações em<br />

5 NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra, Martin Claret, 2004. p.95<br />

14


conformidade com o principio da razão, cessa de conhecer nas coisas só os motivos<br />

de sua vontade”. 6<br />

Kirchner, 1906. Xilogravura.<br />

Nos corpos inconfundíveis das mulheres nuas de Kirchner ou até nos seus<br />

retratos gravados distorcidamente, como se o tempo jamais parasse, existe uma força<br />

que ali habita. Essa força que cito, a partir da imagem acima, onde a figura gravada tem<br />

seu contraste fortíssimo em preto e branco. Nessa imagem em especial observo sua<br />

insistência na vaidade enquanto mulher, quando a figura representada olha fixamente no<br />

espelho que se encontra ao lado direito, no lado esquerdo a mão põe-se a ajeitar o<br />

cabelo para melhor aparência. Ou seja, a aceitação social se torna de maior acuidade ao<br />

invés do crescimento intelectual, o autoconhecimento é vetado. Vejo essa imagem como<br />

patética, pois o engano da personagem em lidar com um estereótipo quando se propõem<br />

em seguir uma tendência, se limita a uma condição de mulher em ter o corpo belo e<br />

limitações de pensamento.<br />

Na segunda metade do século XIX, o mundo vivia seu ápice de acontecimentos<br />

de crescimento monetário e tecnológico, onde o homem se colocou num pedestal e se<br />

6 SCHOPENHAUER, Arthur. Metafiísica do belo. São Paulo: editora unes, 2001. p.45<br />

15


conformou em ser o que achava ser seu ápice. A elite intelectual se posicionou em<br />

críticas a essa situação de acomodação, a qual seria inadmissível aos olhos de escritores<br />

e artistas. Logo imagens gráficas de análise social surgiram e em seguida na primeira<br />

metade do século XX, durante a Primeira Grande Guerra que influenciou a obra gráfica<br />

de Kirchner mais fortemente. As mortes em massa, a privacidade violada, <strong>entre</strong> outras<br />

barbaridades que a guerra proporcionou para a decadência humana, vieram a ser de<br />

utilidade para o artista.<br />

Um bom exemplo para ter essa ideia de privação dos direitos humanos é o livro<br />

O Processo do escritor Franz Kafka, que nos remete a esse período abordado até então.<br />

Onde o personagem intitulado Josef K, sem motivos explicáveis, é preso em sua própria<br />

casa e sujeito a um longo interrogatório e logo a um incompreensível processo por um<br />

crime não revelado. Ele é privado de muitos direitos e da sua própria privacidade do ir e<br />

vir. A história se desenrola em muitos caminhos que sempre levam Josef K ao mesmo<br />

estado, quase de loucura. O equívoco dos sonhos tomados do peculiar universo kafkiano<br />

e as situações de contrassenso existencial chegam a limites insuspeitados. O clima de<br />

pesadelo misturado com fatos corriqueiros compõem uma transação em que a<br />

irrealidade beira a loucura e a desordem beira o caos emocional.<br />

Assim Kirchner discorreu em suas obras, primeiramente sobre o mundo em<br />

torno do artista, ou seja, suas angústias diante do mundo e suas visões sobre as<br />

conformidades que atingiam o homem. E após a eclosão da Primeira Grande Guerra,<br />

Kirchner se pôs em mostrar nos seus trabalhos, suas perturbações, assim como, por<br />

exemplo, utilizando-se da destruição da figura humana, distorcendo-a. Assim, para<br />

declarar que o homem em guerra, desfragmentava o seu próprio ser ao atingir<br />

ferozmente outro homem.<br />

A estética da imagem distorcida tem como função fundamental, no<br />

expressionismo, atingir os sentidos dos expectadores e fazê-los perceberem o homem<br />

como destruidor de si mesmo. Kirchner mostra uma preferência ao sombrio, ao trágico,<br />

às figuras contorcidas nas mais agonizantes dores do estar consciente dos atos antihumanos<br />

da guerra e do sobreviver alienado, com imagens que perturbam o ser humano.<br />

Seria para minha percepção, uma disseminação de um acontecimento trágico na história<br />

da humanidade, uma memória de medo e solidão.<br />

Em “Assim Falou Zaratustra” Nietzsche descreve os fundamentos do<br />

pensamento conformista da época, o qual antecede o período <strong>entre</strong> guerras. Observo que<br />

o autor toma como rédeas a religião e a política, ao falar do homem limitado. Como<br />

16


ase para dizer que a religião e a política, se mostram por meio de máscaras, as quais<br />

escondem uma realidade inquietante e ameaçadora para os homens do período citado.<br />

Cuja ideia do futuro é difícil de suportar, na qual os limites e imposições de uma razão,<br />

que proíbem a vida, permanecem estranhos a ela mesma. Onde as semelhanças de<br />

dissimulações confundem o homem e fazem-no ser dominado. E o ser pode e deve<br />

libertar-se de uma razão controlada e produzida.<br />

Esse preconceber que coloco se dá em um condicionamento que o homem se<br />

inclui para viver em sociedade, às vezes tornando-se um ser diferente do que poderia<br />

ser, enquanto condicionado à prisão da razão manipulada.<br />

Mas para Kant, no livro Crítica da razão pura, em que a razão que se<br />

movimenta, no seu ambiente e seus limites faz o homem compreender-se a si mesmo e o<br />

dispõe para a libertação do pensamento. No entanto Nietzsche trata de uma libertação<br />

escravizada pela razão, ou seja, essa razão trás os deveres coletivos. Sendo assim, o<br />

homem se detém a ser ele mesmo, ao ter deveres que o fazem homem. Pois seria uma<br />

razão produzida doutro ser, um dominador, que cria a opressão encarcerando a vida.<br />

A melhor forma para definir o <strong>pessimismo</strong> tratado na minha pesquisa seria<br />

proferir poemas como “L’Albatros (O Albatroz)”, “Une Charogne (Uma Carniça)”, “A<br />

Une Passante (A Uma Passante)” ou “L’Âme Du Vin (A Alma do Vinho)” do livro<br />

“Flores do Mal” de Baudelaire. Pois ele consegue atingir o mais obscuro sentimento do<br />

<strong>pessimismo</strong> diante da vida. Esses poemas escritos em forma descritiva e interpretativa<br />

são subjetivos e indiretos. Entretanto a imagem que os poemas trazem, é possível ver o<br />

homem de frente a um espelho, e o grande vazio que constrói nos passos da razão<br />

escravizada.<br />

O poema O Albatroz, por exemplo, trás para mim um referencial muito grande,<br />

por se tratar de uma comparação da ave marítima o Albatroz com a imagem do poeta.<br />

Esse comparativo se dá quando Baudelaire descreve a ave como o rei dos céus pelas<br />

suas grandes asas e voo de grande nobreza. Além de por o comparativo quando o<br />

Albatroz esta no cais, andando de maneira tosca, como o poeta em meio aos homens.<br />

No poema a ave é motivo de risos por pescadores, pela sua estranheza no<br />

caminhar, diferente de quando está nos seus vôos grandiosos. E o autor decorre, o<br />

personagem secundário o poeta como um ser igualitário ao Albatroz, que se torna<br />

majestoso nos céus. Assim a comparação com o poeta, se dá quando esta <strong>entre</strong> os<br />

homens e se torna motivo de risos por não ter outra função senão as palavras. Quando<br />

para a época outras atividades voltadas para a força do homem, seriam consideradas<br />

17


mais dignas que a de ser poeta. Entretanto as palavras quando sentidas de maneira que<br />

se tornam tangíveis a leitores, tornam o poeta sublime.<br />

Esse poema remete para as questões que Kirchner transpira em suas obras<br />

xilográficas, observo críticas de mesma potência, como na imagem abaixo de título<br />

Fehmarn Mädchen (Meninas de Fehmarn). A personagem do primeiro plano lida com a<br />

aparência, de forma que se faz entender como a vaidade, e logo acusa a falta da mesma<br />

pela outra personagem, que se esconde no plano de fundo. Torna tudo possível e de<br />

importância vital, esse respiro de vaidade. Tomando em conta a ignorar o outro, ou rir<br />

da falta de feições do próximo.<br />

Kirchner. Fehrman mädchen, 1913. Xilogravura<br />

Se ocupar da atividade que faz exprimir as mais abundantes críticas ao meio<br />

vivente, tornaria a realidade mais real. Se embevecer de vinho ou da poesia sem cessar,<br />

traria maior tranqüilidade na questão do sentido da vida. A busca de algum sentido<br />

18


significativo para seguir em frente, como arte-plástica, música, poesia, ou até onde for<br />

possível, tornaria tudo mais suportável e possível.<br />

Aquele tédio dos homens inadaptados à realidade quotidiana, aquele vago<br />

nostálgico da alma que se consome em desejos estéreis, percebe um fim mais inevitável<br />

e fadado pela angústia. Essas obras poéticas como as de Baudelaire se caracterizam pela<br />

inteligência crítica do destino do ser humano e desespero da incompatibilidade com a<br />

vivência diária.<br />

Dessa linha contextual da arte xilográfica de Kirchner coloco possíveis pontos<br />

pessoais sobre o princípio do meu trabalho gráfico. Tanto em estética como pensamento<br />

idealista, junto aos autores literários que tratam dessas ideias que questiono baseando<br />

fatos de época, que viveram as mesmas realidades do artista Kirchner. Desta maneira<br />

em 2011 quando inicio a <strong>xilogravura</strong>, concentro-me nas questões abordadas até então,<br />

dedicando meu trabalho essencialmente ao espontâneo. No entanto a minha procura se<br />

torna pessoal, sem o pensamento de atingir o expectador, para que eu encontre a visão<br />

para um novo fim.<br />

Na citação abaixo do artista Emil Nolde, proponho o mesmo sentido na minha<br />

pesquisa gráfica, mas enquanto as imagens criadas por mim não encontram outros<br />

olhares, ou seja, o expectador, essa busca se torna uma visão solitária de caráter<br />

solitário.<br />

“Com os meios do impressionismo pareceu-me ter encontrado um caminho, não<br />

uma meta... Eu gostaria tanto que minhas pinturas fossem mais, não apenas um<br />

<strong>entre</strong>tenimento belo e casual, não, que elevem e emocionem um acorde de vida e da<br />

existência humana.”. 7<br />

7 NOLDE, Emil Expressionismus Modernismo. Goethe-Institut no Brasil, 1983.<br />

19


Diego Fonseca. Coincide, 2012. Xilogravura.<br />

Esse caráter humano, solitário que complemento no início de uma série de<br />

imagens produzidas no início do ano de 2012. Como por exemplo, a <strong>xilogravura</strong> acima<br />

intitulada Coincide, trato o caráter do homem que toma a consciência como seu<br />

crescimento sentimental. Ou seja, a dúvida da vida que se torna longa e tenebrosa diante<br />

dos pensamentos criados pela razão aprisionada, a partir de verdades ditadas como<br />

regras. Onde o pensamento livre é criminoso e deliberado por seres que clamam pelo<br />

poder acima dos outros seres.<br />

Nessa <strong>xilogravura</strong> existem dois personagens, sendo que o da direita se torna<br />

principal, pois quando olha para cima se depara com seu próprio interior de crescimento<br />

inalcançável. Coloco esse inacessível crescimento a esquerda, como imagem primária,<br />

pois se trata da representação do sentimento da outra figura, onde as duas trocam<br />

olhares que incidem numa procura de um eu interior significativo.<br />

20


O dia se torna noite, penumbra que as<strong>sombra</strong> as almas frágeis, a autenticidade se<br />

encontra com a madeira abandonada. Então a gravura tem por si só uma atmosfera que<br />

dá a força necessária para que eu siga em frente em minha pesquisa, partindo agora para<br />

uma busca mais exata, como a felicidade.<br />

O meu <strong>pessimismo</strong> é inegável, porém com a contínua busca sobre algo que<br />

signifique para minha vida ser vivida, trago a tona o tema Aonde encontro, Procuro<br />

felicidade. Essa procura na minha pesquisa se torna algo agora definitivo, pois a vida<br />

que procuro revelar a mim mesmo pedindo visceralmente por sentimentos hoje<br />

desconhecidos, mesmo eles vindos das minhas tristezas.<br />

Esses sentimentos desconhecidos atingem a minha autenticidade de procurar a<br />

<strong>luz</strong> enquanto me encontro na <strong>sombra</strong>. Assim eu estou à procura do meu espaço, das<br />

minhas vontades, dos meus amores, das minhas memórias.<br />

“Veio a primavera e a Natureza começou a falar pelo murmúrio dos riachos e dos arroios e<br />

pelo sorriso das flores; e a alma do Homem fez-se contente e feliz.” 8<br />

No <strong>pessimismo</strong> – Traços de linhas básicas<br />

Oswaldo Goeldi, 1950. Pescadores. Xilogravura.<br />

8 GIBRAN, Kahlil, A voz do Mestre, editora círculo do livro, 1958, p.54<br />

21


“A arte não produz o visível, mas torna visível” 9<br />

Uma imagem que comove a alma, que enternece o ser, seria tocante ao<br />

sentimento do homem do século XX. O ser moderno é triste, inadequado ao lugar que<br />

vive ou impróprio à própria vida. Onde um pedido de desculpas ou de culpa para um<br />

próprio existir de si mesmo clama por um grito.<br />

Um pedido de socorro desse homem moderno viria devido a não conhecer a<br />

imensa solidão que nasce dentro do seu ser. A sensível visão é presente nas gravuras do<br />

artista Oswaldo Goeldi. Na imagem intitulada Pescadores, a minha descrição ao<br />

visualizar esse tema tão decorrente na obra de Goeldi, vejo que trata de perdição, ou<br />

seja, os dois personagens se encontram em direção ao horizonte, junto a uma<br />

tempestade. Tornando essa imagem uma revelação da sua identidade de solitário, o<br />

artista se coloca sempre à deriva, não se sabe se estão em sonho ou em uma inquietante<br />

realidade íntima.<br />

A <strong>xilogravura</strong> é válida quando produzida de maneira visceral, a tentativa de<br />

exprimir a vida graficamente na madeira se torna a própria alma. Um incessante<br />

devaneio de verdades e perguntas, ou seja, a procura de um retrato do mundo dentro do<br />

artista. É frustrante o comprometimento do ato de conhecer um “Eu” interior, e ao<br />

mesmo tempo, o comportamento humano em relação aos sentimentos obscurecidos pelo<br />

tempo e pela razão coletiva.<br />

A obra Urubus é uma síntese dessa procura interna, onde essas aves carniceiras<br />

se tornam a insatisfação do que o artista revela na falta do conhecimento interno. Assim<br />

quando ele coloca essas aves em relação à vida do artista, seu significado se torna mais<br />

forte, pela falta de veracidade com seu interior corroído pelo tempo.<br />

9 KLEE, Paul. In: Expressionismus Modernismo. Goethe-Institut no Brasil, 1983.<br />

22


Oswaldo Goeldi., 1929. Urubus, Prova de impressão. Xilogravura<br />

“Sobre a obra - Agora, o artista já manipula os materiais de maneira sábia: nenhum<br />

embaraço no manejo das goivas, na quantidade da tinta, tudo está em equilíbrio. A<br />

intensidade com que imprime o preto no papel, profundamente, acentua a morbidez<br />

e o <strong>pessimismo</strong> da imagem.” 10<br />

Goeldi o artista dos caminhos sombrios, vivenciou guerras assim como<br />

Kirchner. Portanto, após esses acontecimentos o artista brasileiro tem como referência a<br />

tragédia humana. As obras xilográficas de Goeldi tornam-se impressionantes, pela<br />

fragilidade e pelo seu existencial de caráter desolador. Nas imagens, apesar de serem<br />

limitadas no seu tamanho, temos a impressão delas nos engolirem de forma que revelam<br />

sua importância quando falamos em liberdade. Os objetos que o artista Goeldi utiliza,<br />

como guarda-chuvas, latas vazias, casarios abandonados, poste de <strong>luz</strong>, são nada menos<br />

que símbolos que incitam o abandono, estão ali pedindo atenção. Ou seja, esses objetos<br />

inanimados se revelam seres que por sua natureza se tornam vazios, <strong>entre</strong>tanto sua<br />

existência tem valor simbólico na gravura.<br />

A imensa nitidez que o artista aborda quando trata da importância das coisas e<br />

seus valores, assim como o homem solitário quando liberto do cárcere da razão na busca<br />

10 Cavalcanti, Newton. "Oswaldo Goeldi". Letras e Artes, Ano V, nº 13, Rio de Janeiro Junho de 1991,<br />

pág 20-21, Acesso em 25/07/2012 http://www.centrovirtualgoeldi.com<br />

23


de um eu íntimo do artista criador. Traz para mim uma identificação com meu trabalho<br />

que tomei continuidade no início de 2012, com a <strong>xilogravura</strong>. Diferente de quando<br />

procurava uma resposta da minha angústia do aprisionamento do homem na razão<br />

coletiva e o homem descriminante, em 2011. Aqui me coloco na mesma situação do<br />

artista Goeldi, o que é para mim uma nova procura para um novo fim, que não seja a<br />

coletividade de um todo. Recomeçando de um princípio que me parece mais verdadeiro,<br />

pois se trata de um conhecimento que ainda não possuo, meu eu interior.<br />

Minhas gravuras são comparadas ao criar goeldiano, pois também parto de um<br />

sentimento pessoal. Uma criação que só poderia acontecer com a consciência da solidão<br />

do ser no mundo. A minha referência está, sim, em Goeldi, em alguns de seus<br />

questionamentos, não em suas inovações. Quando eu produzo uma série de gravuras o<br />

meu referente é a ideia de abandono, onde se torna uma memória.<br />

Essa memória eu trago à tona quando revelo minha dificuldade de<br />

relacionamento com outras pessoas, ou seja, minha <strong>entre</strong>ga está no conhecimento do<br />

meu próprio ser, deixando de lado o envolvimento social. Pois na minha essência a<br />

pergunta quem sou eu está a frente de qualquer sentimento ao próximo, ou seja, se eu<br />

não sei quem sou ou da onde vim, essas pergunta travam minha existência com outro<br />

ser. Torno-me refém do medo e da insegurança, negando a minha curiosidade em<br />

relação ao outro e seus sentimentos.<br />

Quando sou conquistado pela solidão, a preferência está na noite, o meu trabalho<br />

acontece à noite. No silêncio das <strong>sombra</strong>s abro as <strong>luz</strong>es que conduzem o olhar do<br />

expectador, que pretendo tornar visível a dor que à solidão traz para meu ser interior.<br />

Essa solidão, juntamente à noite, afirmo estar presente no meu trabalho, iniciado nessas<br />

novas questões em fevereiro de 2012. Produzo imagens neste período que mostram essa<br />

solidão de uma forma limpa e quase mórbida. Defino assim por elas apresentarem<br />

minha fraqueza de sentimento, quando o viver não satisfaz minhas vontades de quando<br />

me percebo. Como se essa percepção tratasse da falta de estímulos externos, que não me<br />

trazem um entusiasmo ou um significado.<br />

A <strong>xilogravura</strong> Esperar, feita de forma espontânea, se trata de uma identificação<br />

com Goeldi. Um homem sozinho, parado. diferente das representações de Goeldi,<br />

quando as figuras estão sempre em movimento. Essa imagem representa a minha<br />

situação quando solitário, pois se ajusta à minha autenticidade criadora e à procura por<br />

uma identidade.<br />

24


Diego Fonseca. Esperar, 2012. Xilogrvura<br />

Na imagem gravada, é evidente o veio da madeira, onde a mesma foi achada na<br />

forma que se encontra, ou seja, irregular. Portanto nesta gravura proponho outro fator da<br />

minha existência enquanto abandono. Eu pego a madeira quando abandonada, assim o<br />

achado da madeira torna possível a força do tema.<br />

A imagem gravada ligada ao desenho do veio da madeira é algo decorrente na<br />

obra de Goeldi. No meu caso, o uso da madeira, é quando eu a encontro abandonada e a<br />

ponho a meu favor, adequando em minhas imagens espontâneas os veios e os defeitos,<br />

tornando-os favoráveis para a imagem.<br />

Primeiramente penso na madeira como obra e depois a obra modificada, e então<br />

a <strong>xilogravura</strong> impressa liberta da madeira achada, logo descarto a primeira obra que é a<br />

madeira, onde ela agora se torna secundária, assim efêmera. Entretanto quando a<br />

imagem se torna expressamente evidenciada pelo olhar do expectador, ela por si só se<br />

torna a solidez da solidão que abordo quando gravada.<br />

25


“O mundo de Goeldi é um mundo em suspensão, seus habitantes ainda despertam e<br />

se procuram, e se caminham para a morte o fazem solidariamente. Daí a calma de<br />

sua tristeza, onde abandono e comunhão convivem" 11<br />

O casario, os cães, os vagabundos e os bêbados, as prostitutas, as janelas, os<br />

pescadores e as ruas, onde toda essa atmosfera sombria vive na obra de Goeldi e<br />

convive em harmonia, me levando a crer que elas por si só não sobreviveriam. Pois a<br />

unicidade esta nessa união dos seres, assim como no trecho acima descrito por Nuno<br />

Ramos.<br />

Goeldi nos leva ao seu drama da vida, quando mostra seus medos, suas<br />

angústias, desejos e procuras, vive em desunião com seu próprio se que não sabe por<br />

onde anda, por não concluir a busca que propõem o eu interior. Seus andarilhos estão<br />

sempre numa caminhada perpétua, nunca chegam em lugar nenhum a não ser aos<br />

mesmos becos escuros e umedecidos pelo tempo que se torna pesado a cada olhar do<br />

espectador.<br />

11 RAMOS, Nuno. Para Goeldi. São Paulo: AS Studio, 1996.p.17-18.<br />

26


Oswaldo Goeldi. Beco, 1935. Xilogravura<br />

A imagem que deixa de ser real torna-se fraca e sem sentido, minha apropriação<br />

do mundo externo se torna nessa série inicial de 2012, uma representação sentimental da<br />

realidade urbana. Ou seja, me apoio no sentido de estar nessa representação chamada<br />

vida, um sentido de falta de coerência quando questiono o significado das situações<br />

existenciais.<br />

O artista Goeldi põe em suas <strong>xilogravura</strong>s a sua solidão, nunca encontrando uma<br />

saída dela, durante toda sua vida ele propõe um devaneio de perturbações e sonhos que<br />

o fazem se tornar um eterno solitário. Procurando uma resposta que talvez jamais<br />

encontrasse, a pergunta que o carregou junto as suas mais vivas gravuras até hoje, quem<br />

sou eu?.<br />

“Somente uma vez fiquei mudo: quando alguém me perguntou: ‘Quem és tu?’” 12<br />

O que deixa de ser real numa representação é a falta de verdade nela, logo a<br />

representação só se torna sentimental e inerte a uma figuração da realidade externa<br />

12 GIBRAN, Kahlil, Areia e Espuma, editora Círculo do livro, 1958, p.62<br />

27


quando essa realidade se torna algo íntimo e verdadeiro. Portanto nas gravuras de<br />

Goeldi vejo uma verdade que somente ele poderia ter, a representação de um mundo<br />

externo que influenciava seu mundo interno, assim fazendo-o ter essa necessidade de<br />

criar.<br />

O escrito Rainer Maria Rilke, no trecho abaixo citado, defende a criação como<br />

algo que deve nascer da vontade, um passo à frente da razão, uma vontade que vem do<br />

âmago de viver para criar. Para mim, Goeldi tinha essa necessidade, assim como<br />

Kirchner. O ato de exprimir uma realidade inquietante os fez eternos e essa necessidade<br />

torna essas imagens verdadeiras pela sua própria existência.<br />

“Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. (...)Utilize, para se<br />

exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas<br />

lembranças.’ 13<br />

No meu trabalho, com essa variante de pensamentos que mudam a cada série<br />

criada em <strong>xilogravura</strong>, vejo como algo sem retrocesso e de constante construção de uma<br />

identidade pertencente a mim e ao meu trabalho. Uma necessidade voluntária para a<br />

construção de uma personalidade xilográfica.<br />

Oswaldo Goeldi. Sem título,1928. Xilogravura.<br />

A inquietação de Goeldi diante do mundo está presente em toda sua obra. A sua<br />

dedicação à arte o fez perceber o quão trágico é a vida do homem. Goeldi, na verdade é<br />

13 RILKE, Rainer, Cartas a um jovem poeta, editora Globo, 2010, p.26<br />

28


um eterno solitário. A citação abaixo diz respeito ao seu pensamento diante das<br />

inovações, onde a necessidade de expressão faz o artista.<br />

“Fala-se muito hoje em inovações, em abrir caminhos, etc... Mas não se devem<br />

confundir experimentos técnicos com a verdadeira inovação. Todo artista realmente<br />

criador inova, e isso porque ele amplia seus meios técnicos na proporção de suas<br />

necessidades de expressão.” 14<br />

Oswaldo Goeldi. Briga de Rua, 1930. Xilogravura.<br />

"Com a procura de uma linguagem de comunicação, o artista é hoje uma voz<br />

importante, vital, neste caos. Vivemos numa das épocas mais desastrosas e<br />

complicadas do mundo e isso se espalha também na obra de arte. Os artistas têm de<br />

lutar. É o artista o único homem capaz de ser sincero e conseguir uma linguagem<br />

14 GOELDI, Oswaldo. In: BRITO, Ronaldo; ROESLER, Sílvia (coord.). Oswaldo Goeldi. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Cultural The Axis, 2002. 228 p., il. p&b color. p. 208. [Entrevista de Oswaldo Goeldi a Ferreira Gullar para Jornal<br />

do Brasil, 12 de janeiro de 1957]<br />

29


capaz de transmitir sentimentos que podem ser um apelo a uma nova<br />

fraternidade." 15<br />

Oswaldo Goeldi foi de excelência criadora, enquanto viveu no caos do seu<br />

tempo. Assim nas suas <strong>xilogravura</strong>s trouxe a força do seu interior, e não teve medo de<br />

nos revelar seu ser. Mas ele como artista pode inovar, criar, pensar, talvez não tendo<br />

uma vida como sonhou, mas uma vida que escolheu ter, o artista, Goeldi.<br />

A minha dedicação está no achar, no conhecer algo que faça parte de mim. Pois<br />

seria possível um conhecimento independente da experiência a partir das impressões de<br />

um sentido que sente, e esse sentimento independente pode vir a ser um pensamento<br />

mais próximo do egoísmo. Esse sentimento que utilizo como egoísmo, é quando abdico<br />

do mundo dos outros e concentro toda minha criação a partir daquilo que sinto ou que<br />

quero sentir.<br />

Minhas <strong>xilogravura</strong>s não estão para serem observadas, ou estarem penduradas<br />

em uma parede, elas existem por uma necessidade minha, uma forma que encontrei de<br />

liberdade de pensamento para os sentimentos, obscuros ou animadores.<br />

Diego Fonseca. Encontro, 2012. Xilogravura,<br />

A <strong>xilogravura</strong> acima mostra a vontade de solidão, só que a força dela esta para<br />

um encontro, um sentimento de conforto. A madeira continua sendo aquela rejeitada,<br />

15<br />

Palavras de Goeldi sobre a gravura, texto taquigrafado por Anna Letycia: mesa-redonda realizada no<br />

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1956.<br />

30


inutilizada. Uma nova série de gravuras nasce desse sentimento de encontro, onde esse<br />

encontro se torna um olhar para dentro. Esse olhar propõe sentimentos de felicidade,<br />

mas às vezes de pura tristeza. Essa ambiguidade de sentir diferentes níveis de<br />

sentimento revela a fraqueza que é o existencial.<br />

“Preferiria ser o último dos homens com sonhos e o desejo de realizá-los, do que o<br />

primeiro, sem sonhos nem desejos” 16<br />

Quando Gibran se coloca nesta afirmação citada no trecho acima, ela serve<br />

como definição do criador que cria a partir das suas necessidades e o criador que cria<br />

para inovar. Ou seja, essa citação se torna uma verdade onde meus desejos e minha<br />

vontade estão em criar, porém a inovação não se torna algo de essência primordial.<br />

Portanto hoje quando me coloco em frente à madeira com a intenção de feri-la, a<br />

mim só existe uma razão de eu estar ali com meus instrumentos e minha vontade,<br />

chamada de necessidade existencial, assim a procura do meu existir. E desta forma essa<br />

vontade criadora, se torna essa vontade e esse meio que é a <strong>xilogravura</strong>, uma escolha,<br />

por se tratar da maneira que eu encontrei para expressar minha interioridade<br />

sentimental.<br />

Diego Fonseca. Fatia doce da vida, 2012. Xilogravura.<br />

16 GIBRAN, Kahlil, Areia e Espema, editora Círculo do Livro, 1958, p.108<br />

31


“Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si<br />

mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o<br />

criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente” 17<br />

Rilke na citação acima coloca a importância do sentimento à criação, ao<br />

aconselhar o Jovem Poeta Kappus, à criação a partir da realidade na qual vive. Se para<br />

Kappus for pouco essa realidade para suas criações, então Rilke pede a ele que encontre<br />

algo que o satisfaça. Pois a criação não nasce somente de ideias que envolvem o ser e<br />

seu estado com o mundo, mas sim de uma vontade que está dentro do artista. Rilke<br />

salienta ainda a necessidade de por para fora todos os sentimentos a partir da arte.<br />

Neste momento a minha produção se vale da procura, ou seja, eu procuro uma<br />

felicidade e junto a ela o significado que ela me traz. A continuidade de todo o ritual, do<br />

pegar a madeira abandonada, usá-la de forma que a imagem venha a aparecer<br />

espontaneamente, se tornou algo de meu existir para fazer gravura. Essa vontade,<br />

nascida do tempo e das possibilidades permitidas pela madeira, me fez acreditar em algo<br />

em mim mesmo que pode se tornar uma experiência para toda a vida. A citação abaixo<br />

de Kahlil Gibran influencia meus pensamentos na procura de uma identidade enquanto<br />

solitário.<br />

“O óbvio é aquilo que ninguém enxerga, até que alguém o expresse com simplicidade” 18<br />

Para complementar minha pesquisa, apresento um vídeo intitulado Despedida. O<br />

texto do filme trata de uma poesia escrita por mim, onde ela é conduzida a um<br />

sentimento de tristeza. Portanto quando termina o texto dizendo Somente para seguir<br />

sendo, Busco a <strong>luz</strong> na <strong>sombra</strong> da decepção, é nada mais que um agradecimento ao<br />

<strong>pessimismo</strong> que me faz produzir. Um sentimento que para mim se tornou fundamental<br />

para o encontro com meu ser artista. Cada lance de imagem no vídeo torna-se um<br />

momento de criação. Quando a passagem acontece da figura para o texto, a imagem em<br />

movimento mostra uma representação do sentimento enfraquecido pelo tempo.<br />

17 RILKE, Reiner, Cartas a um jovem poeta, editora Globo, 2ª edição, 2010, p.27<br />

18 GIBRAN, Kahlil, Areia e Espema, editora Círculo do Livro, 1958, p.114<br />

32


Referências Bibliográficas<br />

BAUDELAIRE, Charles. Petites Poèmes en Prose. Paris: Edição Bilíngue,<br />

1968.<br />

TURGUENIEV, Ivan. Pais e filhos. São Paulo: Cosac & Naify, 1860.<br />

NIETZCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. editora Martin Claret,2004.<br />

SCHOPENHAUER, Arthur. Metafiísica do belo. São Paulo: editora unes,<br />

2001.<br />

GIBRAN, Kahlil, A voz do Mestre, editora círculo do livro, 1958.<br />

Expressionismus Modernismo. Goethe-Institut no Brasil, 1983.<br />

RAMOS, Nuno. Para Goeldi. São Paulo: AS Studio, 1996.<br />

RILKE, Rainer, Cartas a um jovem poeta, editora Globo, 2010,<br />

GOELDI, Oswaldo. In: BRITO, Ronaldo; ROESLER, Sílvia (coord.).<br />

Oswaldo Goeldi. Rio de Janeiro: Instituto Cultural The Axis, 2002. 228 p.,<br />

il. p&b color. p. 208. [Entrevista de Oswaldo Goeldi a Ferreira Gullar para<br />

Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1957] Palavras de Goeldi sobre a gravura,<br />

texto taquigrafado por Anna Letycia: mesa-redonda realizada no Museu de<br />

Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1956.<br />

Webgrafia<br />

ALMEIDA, Rogério - http://revistacult.uol.com.br/ (Nietzsche e a religião)<br />

Cavalcanti, Newton. "Oswaldo Goeldi". Letras e Artes, Ano V, nº 13, Rio<br />

de Janeiro Junho de 1991, pág 20-21, Acesso em<br />

http://www.centrovirtualgoeldi.com<br />

33


Anexos<br />

Diego Fonseca. Para ter um desejo, 2011. Xilogravura.<br />

Diego Fonseca. Me encontrar, 2012. Xilogravura.<br />

Kirchner, Pressão Interna, 1914. Xilogravura.<br />

Diego Fonseca. Teu olhar, 2011. Xilogravura<br />

34


Xilogravura.<br />

Diego Fonseca. Descobrir a razão, 2011.<br />

Kirchner. Xilogravura, 1906<br />

Kirchner. Fehrman mädchen, 1913. Xilogravura<br />

Diego Fonseca. Coincide, 2012. Xilogravura.<br />

35


Xilogravura.<br />

Oswaldo Goeldi, Pescadores, 1950. Xilogravura.<br />

Oswaldo Goeldi. Urubus, prova de impressão, 1929.<br />

Diego Fonseca. Esperar, 2012. Xilogrvura.<br />

Oswaldo Goeldi. Beco, 1935. Xilogravura.<br />

36


Xilogravura.<br />

Oswaldo Goeldi. Sem título,1928. Xilogravura.<br />

Oswaldo Goeldi. Briga de Rua, 1930. Xilogravura.<br />

Diego Fonseca. Encontro, 2012. Xilogravura.<br />

Diego Fonseca. Fatia doce da vida, 2012.<br />

37

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