saberes tradicionais e percepção ambiental dos catadores de - Uesc
saberes tradicionais e percepção ambiental dos catadores de - Uesc
saberes tradicionais e percepção ambiental dos catadores de - Uesc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ<br />
Programa Regional <strong>de</strong> Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />
LUCIANA DE OLIVEIRA GAIÃO<br />
SABERES TRADICIONAIS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS<br />
CATADORES DE CARANGUEJOS DO MUNICÍPIO DE<br />
CANAVIEIRAS, BAHIA, ACERCA DO GUAIAMUM,<br />
Cardisoma guanhumi (LATREILLE, 1825)<br />
ILHÉUS – BAHIA<br />
2007
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ<br />
Programa Regional <strong>de</strong> Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente<br />
LUCIANA DE OLIVEIRA GAIÃO<br />
SABERES TRADICIONAIS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS<br />
CATADORES DE CARANGUEJOS DO MUNICÍPIO DE<br />
CANAVIEIRAS, BAHIA, ACERCA DO GUAIAMUM,<br />
Cardisoma guanhumi (LATREILLE, 1825)<br />
Dissertação apresentada, para obtenção do título <strong>de</strong><br />
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio<br />
Ambiente, à Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
Orientador: Dr. Henrique Tomé da Costa Mata<br />
Co-orientador: Dr. Max <strong>de</strong> Menezes<br />
ILHÉUS – BAHIA<br />
2007<br />
ii
LUCIANA DE OLIVEIRA GAIÃO<br />
SABERES TRADICIONAIS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS<br />
CATADORES DE CARANGUEJOS DO MUNICÍPIO DE<br />
CANAVIEIRAS, BAHIA, ACERCA DO GUAIAMUM,<br />
Cardisoma guanhumi (LATREILLE, 1825)<br />
Ilhéus - BA, 02/ 10/ 2007<br />
______________________________________________________<br />
Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata<br />
UFBA – BA<br />
(Orientador)<br />
______________________________________________________<br />
Prof a . Dr a . Elis Cristina Fiamengue<br />
UESC – BA<br />
(Examinadora interna)<br />
______________________________________________________<br />
Prof a . Dr a . Maria Cecília Guerrazzi<br />
UESB – BA<br />
(Examinadora Externa)<br />
iii
Dedico esta dissertação a minha idolatrada família Loi<strong>de</strong>, Haroldo e Silvia,<br />
aos meus avôs Alcidélia, César e Nathanael, ao meu “padrinho” Alcindo,<br />
e aos moradores da Atalaia, Barra Velha, Campinhos,<br />
Oiticica, Puxim do Sul e Se<strong>de</strong> do município<br />
iv
“A esfregar seus galhos, uns nos outros, com infinita<br />
volúpia. A atolar suas grossas raízes, com gozo, na lama<br />
garanhonha do fundo do rio. Chico afirmava ter mesmo<br />
escutado, certas noites, o bailado nupcial <strong>dos</strong> mangues no<br />
fundo das águas, e o estalar <strong>de</strong> seus caules membru<strong>dos</strong><br />
gozando na carne da lama viscosa. Era um trepidar<br />
violento <strong>de</strong> amor que terminava num orgasmo final,<br />
<strong>de</strong>rramando as sementes do mangue na água cheia, para<br />
fecundar as novas terras que surgiriam na certa do ventre<br />
das águas.”<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
(Homens e caranguejos)<br />
v
AGRADECIMENTOS<br />
A Deus pela Vida e pela família maravilhosa.<br />
A minha Mãe pelo amor, carinho e apoio, e por acreditar quando eu já havia<br />
<strong>de</strong>sistido.<br />
Ao meu Pai que não falava nada, mas pensava tudo.<br />
A minha Avó querida pelo afeto, fundamental nesta jornada.<br />
A minha amiga Solange Gomes Farias pelo companheirismo e pela<br />
imensurável amiza<strong>de</strong>.<br />
A Flavia Ferreira Lage pelo auxílio no pré-projeto.<br />
Ao Vizinho Henrique Jorge Buckingham Lyra pelos bons conselhos para<br />
apresentação do pré-projeto.<br />
Ao meu Orientador Dr. Henrique Tomé da Costa Mata por ter aceito me<br />
orientar.<br />
Ao meu ANJO e Co-Orientador Dr. Max <strong>de</strong> Menezes pela INFINITA paciência<br />
e compreensão.<br />
Ao professor e “Co-Co-Orientador <strong>de</strong> coração” Salvador Dal Pozzo Trevizan<br />
por me “aguentar” na sua sala.<br />
Aos meus tios Ezir e Maria pelo apoio e “morada temporária” constante.<br />
A Colônia Z-20, em especial aos senhores Reinvil, Ernesto e João.<br />
A Prefeitura <strong>de</strong> Canavieiras pelo apoio.<br />
Ao ECOTUBA pelo apoio.<br />
A Cláudia Pio Anjos da Silva, por quem tenho um imenso carinho e gratidão,<br />
pela ajuda nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo.<br />
vi
Ao sr. Chico Trovador pelos singulares ensinamentos conta<strong>dos</strong> em trovas e<br />
versos.<br />
A to<strong>dos</strong> os moradores das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oiticica, Puxim do Sul,<br />
Campinhos, Barra Velha e Atalaia.<br />
A querida amiga Cristiana <strong>de</strong> Sousa Vieira pelo carinho, paciência e<br />
consultoria as altas horas da madrugada.<br />
A amiga Hilda Susele Rodrigues Alves pela confecção <strong>dos</strong> mapas.<br />
A Tereza Raquel Teles Tonini pelos “helps” provi<strong>de</strong>nciais.<br />
Ao Rodrigo Faria <strong>dos</strong> Santos pela ajuda, paciência e apoio nas madrugas.<br />
A Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz e ao Programa Regional <strong>de</strong> Pósgraduação<br />
em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela oportunida<strong>de</strong><br />
concedida.<br />
A Capes pela concessão da bolsa <strong>de</strong> mestrado para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
pesquisa.<br />
A to<strong>dos</strong> os que <strong>de</strong> alguma forma contribuíram para a realização <strong>de</strong>sse<br />
trabalho, o meu MUITO OBRIGADA.<br />
vii
M a n g u e t o w n<br />
(Chico Science)<br />
Ha ha ha . . . Esta noite sairei<br />
Tô enfiado na lama Vou beber com meus amigos...<br />
É um bairro sujo E com as asas que os urubus<br />
On<strong>de</strong> os urubus têm casas Me <strong>de</strong>ram ao dia<br />
E eu não tenho asas Eu voarei por toda a periferia<br />
Mas estou aqui em minha casa Vou sonhando com a mulher<br />
On<strong>de</strong> os urubus têm asas Que talvez eu possa encontrar<br />
Vou pintando, segurando a pare<strong>de</strong> E ela também vai andar<br />
No mangue do meu quintal manguetown Na lama do meu quintal manguetown<br />
Andando por entre os becos Andando por entre os becos<br />
Andando em coletivos Andando em coletivos<br />
Ninguém foge ao cheiro sujo Ninguém foge ao cheiro sujo<br />
Da lama da manguetown Da lama da manguetown<br />
Andando por entre os becos Andando por entre os becos<br />
Andando em coletivos Andando em coletivos<br />
Ninguém foge à vida suja Ninguém foge à vida suja<br />
Dos dias da manguetown Dos dias da manguetown<br />
Fui no mangue catá lixo<br />
Pegar caranguejo<br />
Conversar com urubu<br />
viii
SABERES TRADICIONAIS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CATADORES DE<br />
CARANGUEJOS DO MUNICÍPIO DE CANAVIEIRAS, BAHIA, ACERCA DO<br />
GUAIAMUM, Cardisoma guanhumi (LATREILLE, 1825)<br />
RESUMO<br />
Este estudo enfoca o saber empírico e as percepções ambientais <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong><br />
caranguejos do município <strong>de</strong> Canavieiras acerca do guaiamum (Cardisoma<br />
guanhumi). O objetivo geral foi a <strong>de</strong>scrição <strong>dos</strong> <strong>saberes</strong> <strong>tradicionais</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong><br />
acerca do guaiamum com enfoque no conhecimento ecológico sobre a biologia da<br />
espécie, visando, assim, contribuir para a sua conservação e consequentemente<br />
para a subsistência da população humana envolvida com sua captura e/ou<br />
comercialização. A fim <strong>de</strong> otimizar o cumprimento <strong>de</strong>sse objetivo, o mesmo foi<br />
subdividido em quatro pontos específicos concentra<strong>dos</strong> nas características sociais,<br />
econômicas e nos conhecimentos <strong>tradicionais</strong> sobre captura, armazenamento,<br />
comercialização e relativos à espécie em questão. Para atingir tais objetivos<br />
realizou-se em princípio a formação <strong>de</strong> parcerias com a Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-<br />
20, a ONG ECOTUBA e a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Canavieiras. Em seguida foram<br />
levanta<strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> primários acerca das características sócio-econômicas, das<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> captura e dinâmica do guaiamum (apenas com <strong>catadores</strong>), e <strong>de</strong><br />
armazenamento e comercialização (com <strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong><br />
praia). O estudo revelou a estagnação sócio-econômica em que se encontra a<br />
população <strong>de</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum do município <strong>de</strong> Canavieiras, fator agravado<br />
pela renda mensal inferior a um salário mínimo vigente. As técnicas <strong>de</strong> captura<br />
utilizadas pelos <strong>catadores</strong> foram a “ratoeira” e o “capim”, ambas estratégias seletivas<br />
e sustentáveis. Configurou-se entre <strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia o<br />
<strong>de</strong>scaso com a qualida<strong>de</strong> da carne ingerida pelo consumidor final <strong>de</strong>vido a não<br />
<strong>de</strong>sintoxicação do guaiamum quando em cativeiro, cuja principal finalida<strong>de</strong> foi o<br />
aumento <strong>de</strong> peso da espécie, enquanto aguardavam o aparecimento <strong>de</strong> potenciais<br />
compradores. A presença freqüente <strong>dos</strong> intermediários nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> difícil<br />
acesso influenciou diretamente o estabelecimento do preço <strong>de</strong> comercialização do<br />
guaiamum. Após a negociação entre <strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia,<br />
o consumidor final po<strong>de</strong> ser acometido por uma agregação <strong>de</strong> até 200% sobre do<br />
valor inicial do produto. Os <strong>catadores</strong> revelaram um conhecimento elaborado sobre<br />
a biologia do guaiamum e os fenômenos ambientais que interferem na mesma.<br />
Palavras-chave: Catadores <strong>de</strong> caranguejos; Guaiamum; Manguezal; Percepção<br />
<strong>ambiental</strong>; Cardisoma guanhumi.<br />
ix
CRAB CATCHERS’ TRADITIONAL KNOWLEDGE AND ENVIRONMENTAL<br />
PERCEPTION ABOUT GUAIAMUM, Cardisoma guanhumi (LATREILLE, 1825), IN<br />
THE COUNTY OF CANAVIEIRAS, BAHIA, BRAZIL.<br />
ABSTRACT<br />
This study focus on crab catchers’ empirical knowledge and environmental<br />
perceptions about guaiamum, Cardisoma guanhumi, in the county of Canavieiras,<br />
Bahia, Brazil. The main objective of this study was to <strong>de</strong>scribe the traditional<br />
knowledge of catchers about the guaiamum, focusing on their ecological knowledge<br />
about the species’ biology. This research expects to contribute to Cardisoma<br />
guanhumi preservation, and, consequently, to the welfare of human population<br />
involved in crab’s catching and/or commercialization. In or<strong>de</strong>r to achieve the main<br />
goal proposed, we present a subdivision into sub themes, as it follows: 1. social and<br />
economical characterization; 2. traditional knowledge about catching crabs; storage<br />
process; commercialization process; and consi<strong>de</strong>rations about the species.<br />
Partnerships with the Z-20 fisherman association, the NGO ECOTUBA and the<br />
Canavieiras City Hall were established. Primary data was collected related to socioeconomical<br />
characterization of the activity of catching guaiamum and its dynamic<br />
(carried out with catchers); as well as related to the storage and commercialization<br />
(carried out with catchers and owner of bars in the beach). This study has revealed<br />
the socio-economic stagnation of guaiamum’s catcher population, whose monthly<br />
income is inferior to the minimum wage. The techniques used by catchers and<br />
reported in this study were the ones called “ratoeira” and “capim”, consi<strong>de</strong>red both<br />
selective and sustainable strategies. It was noted that catchers and owners of bars in<br />
the beach were not concerned to the quality of the crab meat sold to the consumer,<br />
since the guaiamum is not submitted to a <strong>de</strong>-intoxication process while it is kept in<br />
captivity. The aim of keeping the crab in captivity is just to put in weight, while it is not<br />
commercialized. The study also noted that the presence of middleman, in more<br />
difficult access communities, had a straight influence on the prize to<br />
commercialization of guaiamum; after the negotiation between catchers and owners<br />
of beach bars, the final consumer may be charged with 200% rate over the initial<br />
value of the product. It was also noted that the catchers reveal a refined knowledge<br />
on the biology of guaiamum and the environmental phenomenon which is related to<br />
it.<br />
Keywords: Crab catchers; Guaiamum; Mangrove; Environmental perception;<br />
Cardisoma guanhumi<br />
x
LISTA DE FIGURAS<br />
Página<br />
Figura 1. Distribuição <strong>dos</strong> manguezais no mundo................................ 6<br />
Figura 2. Distribuição <strong>dos</strong> manguezais na costa brasileira................... 7<br />
Figura 3. Divisão corporal do guaiamum.............................................. 23<br />
Figura 4. Morfologia externa do guaiamum.......................................... 23<br />
Figura 5. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum juvenil: patas azul e laranja..... 24<br />
Figura 6. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum juvenil: patas laranja................ 24<br />
Figura 7. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum adulto....................................... 24<br />
Figura 8. Distribuição geográfica do Cardisoma guanhumi................. 26<br />
Figura 9. Distribuição do Cardisoma guanhumi na costa brasileira..... 27<br />
Figura 10. Mapa <strong>de</strong> localização do município <strong>de</strong> Canavieiras, Bahia,<br />
Brasil......................................................................................<br />
Figura 11. Mapa <strong>de</strong> localização da área <strong>de</strong> manguezal no município<br />
<strong>de</strong> Canavieiras, Bahia............................................................<br />
Figura 12. Mapa <strong>de</strong> localização das comunida<strong>de</strong>s estudadas no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras.....................................................<br />
Figura 13. Habitação <strong>de</strong> taipa e zinco em Oiticica.................................. 38<br />
Figura 14. Amontoado <strong>de</strong> lixo em Oiticica.............................................. 38<br />
Figura 15. Casa <strong>de</strong> tijolo e cerâmica em Oiticica.................................... 39<br />
Figura 16. Área <strong>de</strong> manguezal aterrada entre o centro <strong>de</strong> Canavieiras<br />
e a Ilha <strong>de</strong> Atalaia. Em <strong>de</strong>staque (A) uma obra abandonada<br />
e (B) um quiosque em funcionamento...................................<br />
Figura 17. Escola Casimiro Luiz Gomes, localizada na Ilha <strong>de</strong> Atalaia.. 43<br />
Figura 18. Apicultura em área <strong>de</strong> manguezal na Ilha <strong>de</strong> Atalaia............ 45<br />
Figura 19. Bota confeccionada com câmara <strong>de</strong> ar (vista lateral)............ 46<br />
Figura 20. Bota confeccionada com câmara <strong>de</strong> ar (vista frontal)............ 46<br />
35<br />
36<br />
37<br />
42<br />
xi
Página<br />
Figura 21. Escola Dona Maria <strong>dos</strong> Santos, localizada em Campinhos.. 47<br />
Figura 22. Lixo espalhado pelo povoado <strong>de</strong> Campinhos........................ 47<br />
Figura 23. Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20................................................. 49<br />
Figura 24. Reunião realizada na se<strong>de</strong> da Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20. 49<br />
Figura 25. Reunião realizada na casa <strong>de</strong> uma das integrantes da<br />
ECOTUBA..............................................................................<br />
Figura 26. Ilha da Passagem.................................................................. 51<br />
Figura 27. Reunião sediada na Prefeitura do município <strong>de</strong> Canavieiras 52<br />
Figura 28. Habitação construída com tábua, piso <strong>de</strong> cimento e telhado<br />
<strong>de</strong> cerâmica. (A) Parte externa. (B) Parte interna..................<br />
Figura 29. (A) Sanitário fora da casa. (B) Chão do sanitário. (C)<br />
Dejetos humanos <strong>de</strong>ntro do sanitário....................................<br />
Figura 30. Canoa em construção para utilização na pescaria artesanal 77<br />
Figura 31. Canoa utilizada na pesca artesanal....................................... 78<br />
Figura 32. Barco a motor utilizado na pesca artesanal........................... 78<br />
Figura 33. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> “ratoeiras” utilizadas para captura do<br />
guaiamum. (A) e (B) <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; (C) e (D) <strong>de</strong> garrafa<br />
plástica <strong>de</strong> refrigerante; (E) e (F) <strong>de</strong> lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong><br />
cozinha...................................................................................<br />
Figura 34. Cativeiros observa<strong>dos</strong> nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong>.<br />
Quanto ao porte – (A) gran<strong>de</strong>; (B) médio; (C) pequeno........<br />
Figura 35. Cativeiros observa<strong>dos</strong> nas cabanas <strong>de</strong> praia. Quanto à<br />
estrutura – (A) caixa d’água; (B) construção <strong>de</strong> alvenaria.....<br />
Figura 36. Dimorfismo sexual externo do guaiamum. (A) fêmea; (B)<br />
macho....................................................................................<br />
Figura 37. Estrutura utilizada como indicador <strong>de</strong> ganho e perda <strong>de</strong><br />
peso.......................................................................................<br />
51<br />
61<br />
62<br />
82<br />
95<br />
96<br />
102<br />
108<br />
xii
LISTA DE GRÁFICOS<br />
Página<br />
Gráfico 1. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à habitação..................... 60<br />
Gráfico 2. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao <strong>de</strong>stino do esgoto....... 62<br />
Gráfico 3.<br />
Gráfico 4.<br />
Gráfico 5.<br />
Gráfico 6.<br />
Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao abastecimento <strong>de</strong><br />
água....................................................................................<br />
Catadores <strong>de</strong> guaiamum <strong>de</strong> acordo com o sexo.................<br />
Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à comunida<strong>de</strong> em que<br />
resi<strong>de</strong>m................................................................................<br />
Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à faixa etária...................<br />
Gráfico 7. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem......... 66<br />
Gráfico 8. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao estado civil................. 67<br />
Gráfico 9. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao número <strong>de</strong> filhos........ 67<br />
Gráfico 10. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. 68<br />
Gráfico 11. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao rendimento mensal.... 70<br />
Gráfico 12. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à auto-<strong>de</strong>nominação da<br />
profissão..............................................................................<br />
Gráfico 13. Recurso retirado do manguezal pelos <strong>catadores</strong> <strong>de</strong><br />
guaiamum............................................................................<br />
Gráfico 14. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto aquisição <strong>de</strong> bens<br />
duráveis...............................................................................<br />
Gráfico 15. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à posse <strong>de</strong> documentos.. 74<br />
Gráfico 16. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao tipo <strong>de</strong> coleta.............. 79<br />
Gráfico 17. Material utilizado na confecção das “ratoeiras”................... 80<br />
Gráfico 18. Justificativa empregada pelos <strong>catadores</strong> para o número<br />
<strong>de</strong> “ratoeiras” utilizadas na captura do guaiamum.............<br />
Gráfico 19. Finalida<strong>de</strong> para o armazenamento do guaiamum em<br />
cativeiro, segundo os <strong>catadores</strong>..........................................<br />
63<br />
64<br />
64<br />
65<br />
71<br />
72<br />
73<br />
84<br />
90<br />
xiii
Gráfico 20. Finalida<strong>de</strong> para o armazenamento do guaiamum em<br />
cativeiro, segundo os proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong><br />
praia...................................................................................<br />
Página<br />
91<br />
Gráfico 21. Venda <strong>dos</strong> guaiamuns captura<strong>dos</strong>...................................... 97<br />
Gráfico 22. Tamanho da largura da carapaça <strong>dos</strong> guaiamuns<br />
comercializa<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong>.......................................<br />
Gráfico 23. Justificativa para a preferência na aquisição <strong>de</strong><br />
guaiamuns machos.............................................................<br />
100<br />
101<br />
xiv
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1. Dinâmica <strong>de</strong> captura do guaiamum no município <strong>de</strong><br />
Canavieiras..........................................................................<br />
Tabela 2.<br />
Tabela 3.<br />
Tabela 4.<br />
Dinâmica <strong>de</strong> cativeiro do guaiamum segundo os <strong>catadores</strong><br />
do município <strong>de</strong> Canavieiras................................................<br />
Dinâmica <strong>de</strong> cativeiro do guaiamum segundo os<br />
proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia do município <strong>de</strong><br />
Canavieiras..........................................................................<br />
Renda adquirida pelo catador <strong>de</strong> guaiamum durante os<br />
perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> baixa e alta temporadas no município <strong>de</strong><br />
Canavieiras..........................................................................<br />
Página<br />
85<br />
93<br />
96<br />
99<br />
xv
APEMA<br />
BAHIAPESCA<br />
LISTA DE SIGLAS<br />
Associação <strong>dos</strong> Pescadores, Marisqueiros e Moradores <strong>de</strong><br />
Atalaia<br />
Órgão da Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e Reforma Agrária do<br />
Estado da Bahia<br />
CAR Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento e Ação Regional<br />
CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira<br />
CEP/UESC<br />
Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa com Seres Humanos da<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
CNS Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
COELBA Companhia <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />
COEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente<br />
CONAMA Conselho Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />
CONEP Comissão Nacional <strong>de</strong> Ética em Pesquisa<br />
CONSEMA<br />
Conselho Estadual do Meio Ambiente do estado <strong>de</strong><br />
Pernambuco<br />
CRA Centro <strong>de</strong> Recursos Ambientais<br />
DATASUS Banco <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> do SUS<br />
DCL Doença do Caranguejo Letárgico<br />
ECOTUBA<br />
Instituto <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong> Ambientes Litorâneos da Mata<br />
Atlântica<br />
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e <strong>dos</strong> Recursos Naturais<br />
Renováveis<br />
IBGE Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />
I.N. Instrução Normativa<br />
MEC Ministério da Educação e Cultura<br />
MS Ministério da Saú<strong>de</strong><br />
ONG Organização Não Governamental<br />
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílio<br />
xvi
SECOMP Secretaria <strong>de</strong> Combate à Pobreza e às Desigualda<strong>de</strong>s Sociais<br />
SEI Superintendência <strong>de</strong> Estu<strong>dos</strong> Econômicos e Sociais da Bahia<br />
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente<br />
TCLE Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido<br />
UESC Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
xvii
SUMÁRIO<br />
Página<br />
Resumo.................................................................................................. ix<br />
Abstract.................................................................................................. x<br />
INTRODUÇÃO........................................................................................ 1<br />
Objetivo geral........................................................................................ 4<br />
Objetivos específicos............................................................................ 4<br />
MANGUEZAL.......................................................................................... 5<br />
Origem e Localização........................................................................... 5<br />
Caracterização...................................................................................... 8<br />
Adaptações........................................................................................... 11<br />
Importância........................................................................................... 12<br />
Legislação............................................................................................. 14<br />
APICUM.................................................................................................. 18<br />
Definição e Caracterização................................................................... 18<br />
Importância........................................................................................... 19<br />
Legislação............................................................................................. 20<br />
Cardisoma guanhumi............................................................................ 22<br />
Posição sistemática.............................................................................. 22<br />
Descrição.............................................................................................. 22<br />
Distribuição geográfica.......................................................................... 25<br />
Habitat e Aspectos comportamentais................................................... 25<br />
Hábitos alimentares.............................................................................. 28<br />
Importância Econômica......................................................................... 28<br />
Legislação............................................................................................. 29<br />
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS<br />
(CEP/UESC) ........................................................................................... 33<br />
METODOLOGIA..................................................................................... 34<br />
Caracterização da área <strong>de</strong> estudo........................................................ 34<br />
Instituições contatadas.......................................................................... 48<br />
Trajetória <strong>de</strong> campo.............................................................................. 53<br />
Instrumentos utiliza<strong>dos</strong> para a aquisição <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> primários............. 55<br />
xviii
Página<br />
Instrumentos utiliza<strong>dos</strong> para a aquisição <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> secundários........ 57<br />
Análise e interpretação <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong>........................................................ 57<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 59<br />
Perfil socioeconômico da população humana envolvida com a 59<br />
captura e/ou comercialização do guaiamum no município <strong>de</strong><br />
Canavieiras...........................................................................................<br />
Caracterização do processo <strong>de</strong> captura do guaiamum no município<br />
<strong>de</strong> Canavieiras......................................................................................<br />
Descrição <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> armazenamento e comercialização do<br />
guaiamum no município <strong>de</strong> Canavieiras...............................................<br />
Percepção <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum no município <strong>de</strong><br />
Canavieiras...........................................................................................<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 111<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 115<br />
ANEXOS.................................................................................................. 125<br />
76<br />
89<br />
103<br />
xix
INTRODUÇÃO<br />
“No passado, as guerras <strong>de</strong>struíam as<br />
cida<strong>de</strong>s e o povo; no presente, são as ativida<strong>de</strong>s<br />
pacíficas que <strong>de</strong>stroem os sistemas <strong>de</strong><br />
sustentação da vida. No passado, quando os<br />
homens mutilavam homens, mulheres e crianças<br />
e salgavam o solo para torná-lo improdutivo, os<br />
meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição eram limita<strong>dos</strong>; atualmente,<br />
são alarmantes e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r cada vez mais<br />
crescente.”<br />
Marta Vannucci<br />
Devido à elevada expansão <strong>de</strong>mográfica no litoral brasileiro e ao seu alto grau<br />
<strong>de</strong> urbanização e industrialização, os impactos antrópicos sobre os manguezais tem<br />
ocorrido <strong>de</strong> maneira intensa e diversificada. A partir da década <strong>de</strong> 1950 a<br />
industrialização acelerada do país resultou em danos diretos sobre os ecossistemas<br />
naturais, especialmente os manguezais, como o <strong>de</strong>smatamento e os aterros para<br />
projetos <strong>de</strong> implantação industrial, urbana e turística, além da contaminação por<br />
substâncias químicas, particularmente <strong>de</strong>rivadas do petróleo e metais pesa<strong>dos</strong><br />
(VANNUCCI, 1999).<br />
Além <strong>dos</strong> impactos causa<strong>dos</strong> à estrutura física do manguezal, o mesmo ainda<br />
sofre danos biológicos. Por ser um ambiente altamente produtivo, esse ecossistema<br />
disponibiliza bens e serviços <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor econômico para as comunida<strong>de</strong>s<br />
ribeirinhas que <strong>de</strong>le extraem os recursos para garantir sua subsistência. Entretanto<br />
essa extração vem ocorrendo <strong>de</strong> forma intensa, <strong>de</strong>vido à utilização <strong>de</strong> tecnologias<br />
<strong>de</strong>predadoras como redinha 1 e gancho 2 , culminando na sobre-exploração das<br />
espécies animais resi<strong>de</strong>ntes nesse ambiente (PANGEA, 2001; SOFFIATI, 2004).<br />
1<br />
Armadilha produzida com fios <strong>de</strong> nylon, montada sobre as aberturas das tocas <strong>dos</strong> caranguejos.<br />
2<br />
Cabo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com uma peça curva <strong>de</strong> metal amarrada a sua extremida<strong>de</strong>, introduzido nas tocas<br />
para remover os caranguejos.<br />
1
Uma mortalida<strong>de</strong> em massa <strong>de</strong>nominada Doença do Caranguejo Letárgico<br />
(DCL), que vem sendo relatada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, tem afetado gradualmente o<br />
caranguejo-uçá (Uci<strong>de</strong>s cordatus) ao longo do litoral nor<strong>de</strong>stino, atingindo, em 2006,<br />
o município <strong>de</strong> São Mateus no estado do Espírito Santo (VALÉRIO, 2004;<br />
SCHMIDT, 2006). Além da sobre-exploração, que já faz sentir seus efeitos há alguns<br />
anos com a redução drástica do caranguejo-uçá, a DCL praticamente inviabilizou<br />
sua coleta com tamanho mínimo exigido pelo mercado consumidor, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando<br />
o aumento da pressão <strong>de</strong> captura sobre as populações naturais <strong>de</strong> guaiamum<br />
(Cardisoma guanhumi), o que gerou uma rápida redução <strong>dos</strong> estoques naturais em<br />
algumas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Não bastasse a exploração <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>dos</strong> recursos faunísticos, o<br />
manguezal ainda sente os impactos antrópicos sobre sua vegetação. As fazendas<br />
<strong>de</strong> carcinicultura são implementadas próximas a áreas <strong>de</strong> manguezal ou<br />
especificamente no apicum, hábitat do guaiamum, <strong>de</strong>vido à exigência <strong>de</strong> água com<br />
alta qualida<strong>de</strong>, garantida, no manguezal, pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilação <strong>de</strong><br />
nutrientes e <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> partículas. Os canais <strong>de</strong> drenagem <strong>dos</strong> tanques das<br />
fazendas <strong>de</strong> carcinicultura <strong>de</strong>sembocam nesse ecossistema, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spejam água<br />
repleta <strong>de</strong> fertilizantes e alimentos, provedores da eutrofização no estuário, e<br />
biocidas, causadores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s prejuízos à fauna e à flora (GT-<br />
CARCINICULTURA, 2004).<br />
As informações relatadas acima <strong>de</strong>screvem a realida<strong>de</strong> vivenciada no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras que, apesar <strong>de</strong> ainda abrigar fragmentos significativos <strong>de</strong><br />
manguezal (SANTOS, et al., 2002), já começa a sentir os efeitos sociais negativos<br />
com o agravamento da situação econômica da população ribeirinha, que tem nos<br />
recursos ofereci<strong>dos</strong> por esse ecossistema a sua fonte <strong>de</strong> subsistência.<br />
2
Como conseqüência, atualmente, o guaiamum ocupa, juntamente com o<br />
caranguejo-uçá, posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no setor gastronômico da região, o que<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a preocupação com a manutenção <strong>dos</strong> seus estoques naturais.<br />
Entretanto, o conhecimento científico sobre esta espécie ainda é muito restrito,<br />
sendo in<strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> os aspectos comportamentais, como a época e o período <strong>de</strong><br />
duração da andada, distintos <strong>de</strong> uma localida<strong>de</strong> para outra nas espécies <strong>de</strong><br />
caranguejo (MMA, 2003).<br />
O estabelecimento <strong>de</strong> diretrizes legais para o uso sustentável da espécie,<br />
além do caráter conservacionista, também inclui a proteção ao consumidor. Em<br />
<strong>de</strong>terminado período do seu ciclo <strong>de</strong> vida os caranguejos ficam impróprios para o<br />
consumo humano <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias químicas acumuladas<br />
em seus corpos (ARAÚJO, 2004).<br />
Assim, urgem investimentos em pesquisas científicas sobre o guaiamum e a<br />
população humana envolvida com sua coleta e/ou comercialização, para aten<strong>de</strong>r a<br />
<strong>de</strong>manda crescente <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong> mercado.<br />
Os resulta<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> com essa pesquisa proporcionarão uma melhor<br />
compreensão das formas <strong>de</strong> <strong>percepção</strong> <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum e do<br />
contexto sócio-econômico em que se processam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> captura,<br />
armazenamento e comercialização <strong>de</strong>ssa espécie, fornecendo subsídios para o<br />
estabelecimento <strong>de</strong> programas sociais que visem a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
<strong>de</strong>sse grupo, assim como programas <strong>de</strong> manejo e conservação do guaiamum.<br />
3
Objetivo geral<br />
O objetivo principal <strong>de</strong>ste trabalho foi <strong>de</strong>screver os <strong>saberes</strong> <strong>tradicionais</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos, do município <strong>de</strong> Canavieiras, acerca do guaiamum,<br />
visando contribuir para a conservação da espécie e consequentemente para a<br />
subsistência da população humana envolvida com esse recurso.<br />
Objetivos específicos<br />
Caracterizar as condições sócio-econômicas <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos<br />
envolvi<strong>dos</strong> com o guaiamum.<br />
Descrever os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> captura do guaiamum.<br />
Descrever as técnicas empregadas no armazenamento e na comercialização<br />
do guaiamum utiliza<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong> estabelecimentos<br />
gastronômicos.<br />
I<strong>de</strong>ntificar os <strong>saberes</strong> <strong>tradicionais</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> relativos ao conhecimento<br />
ecológico do guaiamum.<br />
4
Origem e Localização<br />
MANGUEZAL<br />
“(...) para resistirem ao ímpeto das<br />
correntezas da maré e ao sopro forte <strong>dos</strong> ventos<br />
alíseos que arrepia sua cabeleira ver<strong>de</strong>, os<br />
mangues foram pouco a pouco entrelaçando<br />
suas raízes e seus braços numa amorosa<br />
promiscuida<strong>de</strong>, e foram, assim, consolidando a<br />
sua vida e a vida do solo frouxo das coroas <strong>de</strong><br />
lodo, don<strong>de</strong> brotaram.”<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
Tipicamente tropical, o manguezal encontra-se distribuído em<br />
aproximadamente 25% das linhas <strong>de</strong> costas do planeta, e em 75% da faixa<br />
intertropical, área que vai do trópico <strong>de</strong> Câncer ao trópico <strong>de</strong> Capricórnio (23º27’N e<br />
23º27’S) (Figura 1). Entretanto, ocasionalmente, po<strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>slocamentos<br />
latitudinais em seus limites (32ºN e 39ºS), <strong>de</strong>vido à incidência das correntes<br />
oceânicas sobre o clima costeiro oci<strong>de</strong>ntal, faixa na qual apresenta menor<br />
<strong>de</strong>senvolvimento em razão do clima mais rigoroso (YOKOYA, 1995).<br />
Apesar <strong>de</strong> Herz (1987) e Yokoya (1995) relatarem que os mangues tenham<br />
se originado nas regiões <strong>dos</strong> oceanos Índico e Pacífico, há cerca <strong>de</strong> 60 milhões <strong>de</strong><br />
anos, e que suas espécies teriam se dispersado pelo mundo através do transporte<br />
<strong>de</strong> propágulos, pelo mar <strong>de</strong> Thetys, durante o processo <strong>de</strong> separação <strong>dos</strong><br />
continentes, Vannucci (1999) é enfática ao afirmar que, apesar das evidências<br />
biogeográficas atuais, ainda é prematuro concluir que houve um único centro <strong>de</strong><br />
especiação e dispersão para todas as espécies <strong>de</strong> mangues.<br />
5
Figura 1. Distribuição <strong>dos</strong> manguezais no mundo. Fonte: Schaeffer-Novelli et al., 2004.<br />
Contudo, a única consi<strong>de</strong>ração relevante a ser feita é a <strong>de</strong> que esse provável<br />
centro, possivelmente tenha se originado a partir da região oriental do su<strong>de</strong>ste<br />
asiático. Esta hipótese baseia-se no fato <strong>de</strong> tal região ser a parte do mundo on<strong>de</strong><br />
ocorre o maior número <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong>sse ecossistema e on<strong>de</strong> são<br />
encontra<strong>dos</strong> os manguezais mais extensos. Outro importante fator que fundamenta<br />
esta hipótese é a existência <strong>dos</strong> mais completos registros paleontológicos já<br />
encontra<strong>dos</strong> estarem nas ilhas da Indonésia, que mostram a evolução <strong>de</strong> espécies<br />
já extintas, algumas culminando nas espécies contemporâneas (VANNUCCI, 1999).<br />
Os manguezais estão representa<strong>dos</strong> nos continentes asiático, africano,<br />
americano e oceânico, cobrindo <strong>de</strong> 162.000 a 200.000 km 2 , sendo principalmente<br />
Indonésia e Índia (Ásia), Nigéria e Madagascar (África), Brasil e Cuba (América) e<br />
Austrália (Oceania) as regiões <strong>de</strong> maior ocorrência (MATTOS-FONSECA et al.,<br />
2000; BLASCO et al., 2001).<br />
6
No Brasil, estima-se que a área total <strong>de</strong> manguezal seja cerca <strong>de</strong> 25.000 km 2<br />
sendo por isso, o segundo país em área <strong>de</strong> manguezal do mundo, ficando atrás<br />
apenas da Indonésia com 42.500 km 2 (BLASCO et al., 2001). Os bosques <strong>de</strong><br />
manguezais apresentam-se distribuí<strong>dos</strong> ao longo do litoral brasileiro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Cabo<br />
Orange, no Amapá, até o município <strong>de</strong> Laguna, no estado <strong>de</strong> Santa Catarina (Figura<br />
2). A maior concentração <strong>de</strong> manguezais ocorre no litoral do Amapá, Pará e<br />
Maranhão, contudo há também ocorrências consi<strong>de</strong>ráveis nos estuários do<br />
Nor<strong>de</strong>ste, especialmente no estado da Bahia.<br />
Figura 2. Distribuição <strong>dos</strong> manguezais na costa brasileira. Fonte: Adaptada por<br />
Hilda Susele Rodrigues a partir <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> do IBGE, 2004.<br />
7
Na Bahia estima-se que a área <strong>de</strong> manguezal seja <strong>de</strong> aproximadamente<br />
800km 2 , distribuída ao longo <strong>de</strong> 1.181 km <strong>de</strong> costa. Os maiores bosques estão<br />
localiza<strong>dos</strong> entre Valença e Maraú, e nos municípios <strong>de</strong> Canavieiras e Caravelas.<br />
De Valença a Mucuri, a área estimada é <strong>de</strong> 70.000 hectares, com <strong>de</strong>staque para os<br />
bosques existentes na baía <strong>de</strong> Camamú, Canavieiras e Nova Viçosa, pela sua<br />
exuberância (RAMOS, 2002).<br />
Caracterização<br />
O manguezal localiza-se na faixa entremarés 3 , <strong>de</strong>senvolvendo-se em água<br />
salobra, principalmente em baías, estuários 4 e foz <strong>de</strong> rios (SCHAEFFER-NOVELLI e<br />
CINTRÓN-MOLERO, 1986). A dança periódica das marés torna o substrato<br />
favorável à colonização <strong>de</strong> plantas halófitas 5 , características <strong>de</strong> ecossistemas<br />
salinos. Apesar da salubrida<strong>de</strong> a salinida<strong>de</strong> da água apresenta uma variação rítmica,<br />
e <strong>de</strong>ssa miscelânea líquida abrolha um solo alagado, salino, on<strong>de</strong> floculam silte,<br />
areia e argila, o que justifica os manguezais estarem sempre associa<strong>dos</strong> à lama. Há<br />
também gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria orgânica em <strong>de</strong>composição, <strong>de</strong>corrente da<br />
alocada movimentação da água aliada à diminuição da velocida<strong>de</strong> das correntes que<br />
penetram nesse ambiente. (SCHAEFFER-NOVELLI e CINTRÓN-MOLERO, 1986;<br />
NASCIMENTO, 1997/1998; COSTA, G. A. et al., 2004; PRADA-GAMERO et al.,<br />
2004).<br />
Os sedimentos que formam o substrato po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> origem autóctone,<br />
oriun<strong>dos</strong> do próprio manguezal (turfa) – restos vegetais e animais em<br />
<strong>de</strong>composição, ou alóctone, proveniente <strong>de</strong> regiões adjacentes – restos <strong>de</strong> plantas e<br />
3 Região entre o ponto mais alto da maré alta e o ponto mais baixo da maré baixa.<br />
4 Faixa <strong>de</strong> transição entre os ambientes terrestre e marinho on<strong>de</strong> a água salgada do mar se encontra<br />
com a água doce do rio formando a água salobra.<br />
5 Espécies que habitam harmoniosamente ambientes com alta salinida<strong>de</strong>.<br />
8
animais trazi<strong>dos</strong> pela maré, areia marinha, argila e silte (SCHAEFFER-NOVELLI,<br />
2004). As características do substrato po<strong>de</strong>m ser modificadas <strong>de</strong> acordo com a<br />
influência <strong>de</strong> fenômenos ambientais como incidência da maré, aporte <strong>de</strong> rios e<br />
precipitação pluviométrica.<br />
Devido a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria orgânica, o manguezal abriga, na<br />
camada superior do substrato, microorganismos que <strong>de</strong>compõem a serapilheira 6<br />
consumindo intensamente o oxigênio, o que impe<strong>de</strong> que este gás chegue à camada<br />
inferior do solo. Neste extrato resi<strong>de</strong>m bactérias anaeróbias, que durante o processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da matéria orgânica liberam gás sulfídrico ou sulfeto <strong>de</strong> hidrogênio<br />
(H2S), diferente das bactérias aeróbias que eliminam o inodoro gás carbônico<br />
(SANTOS, 2001).<br />
O manguezal apresenta diversos extratos, horizontais e verticais, nos quais<br />
se distribuem organismos específicos. Estes gradientes ambientais são limita<strong>dos</strong>,<br />
principalmente, pela ação das marés e das ondas, pelo teor <strong>de</strong> oxigênio dissolvido<br />
(OD) e pela disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz que inci<strong>de</strong> na copa das árvores. De acordo com<br />
Schaeffer-Novelli (2004), no Brasil, a zonação (extrato) horizontal é dividida em<br />
quatro regiões distintas: externa, interna, apicum e <strong>de</strong> transição. As espécies<br />
resi<strong>de</strong>ntes na zona externa, mais próxima à água, apresentam características<br />
peculiares, <strong>de</strong>vido às especificida<strong>de</strong>s inerentes a esta área como maior<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes e salinida<strong>de</strong> estável, distinguindo-se estruturalmente<br />
das existentes nas zonas posteriores.<br />
Segundo Lacerda (1984), apenas três espécies vegetais dominam a costa<br />
brasileira: Rhizophora mangle (mangue vermelho), Laguncularia racemosa (mangue<br />
branco ou verda<strong>de</strong>iro) e Avicennia schaueriana (siriúba ou mangue preto).<br />
6 Cobertura formada sobre o solo, constituída <strong>de</strong> restos <strong>de</strong> vegetação, como folhas, ramos e caules<br />
em diferentes estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição, bem como <strong>de</strong> animais.<br />
9
Gramíneas, ciperáceas e epífitas, como algas, líquens, bromélias, orquí<strong>de</strong>as e<br />
certas samambaias, são outras espécies pertencentes à flora do manguezal. Por ser<br />
um ecossistema tropical, quanto mais próximo à linha do Equador, maior será a<br />
altura das árvores, à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e à diversida<strong>de</strong> florística. Na região Norte do Brasil<br />
as árvores po<strong>de</strong>m atingir até trinta metros, já na região Sul raramente ultrapassam<br />
um metro <strong>de</strong> altura.<br />
Apesar da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar organismos faunísticos exclusivos do<br />
manguezal, <strong>de</strong>vido à ocorrência da gran<strong>de</strong> maioria das espécies em outros<br />
ecossistemas costeiros, é nesse ambiente que alguns animais apresentam suas<br />
maiores populações, sendo <strong>de</strong>ste modo típicos, mas não exclusivos <strong>de</strong>sse<br />
ecossistema. Sendo assim, o manguezal é composto por uma complexa<br />
comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> vida livre, sésseis, arborícolas, rastejadores,<br />
escavadores e filtradores.<br />
Essas espécies são classificadas <strong>de</strong> acordo com o tempo em que<br />
permanecem nesse ecossistema. As espécies resi<strong>de</strong>ntes, representadas,<br />
principalmente por moluscos e crustáceos, são assim <strong>de</strong>nominadas porque<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do manguezal durante todo o seu ciclo <strong>de</strong> vida. Espécies que vivem<br />
nesse ecossistema em apenas alguns estágios do seu <strong>de</strong>senvolvimento são<br />
chamadas <strong>de</strong> semi-resi<strong>de</strong>ntes, como o camarão e diversas espécies <strong>de</strong> peixes. Por<br />
último, existem as espécies classificadas como visitantes regulares que buscam este<br />
ambiente apenas como fonte <strong>de</strong> alimento, acasalamento, reprodução e/ou proteção,<br />
retornando ao seu habitat original, <strong>de</strong>ntre elas po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar aves marinhas e<br />
terrestres, anfíbios, répteis, mamíferos e algumas espécies <strong>de</strong> peixes (COSTA et al.,<br />
2003; SCHAEFFER-NOVELLI, 2004).<br />
10
Adaptações<br />
Devido às adversida<strong>de</strong>s, como sedimento lo<strong>dos</strong>o e salino em condições<br />
anóxicas, poucos organismos conseguem adaptar-se neste ambiente tão hostil, por<br />
isso a flora e a fauna do manguezal são altamente especializadas. Apesar da<br />
diversida<strong>de</strong> relativamente baixa <strong>de</strong> espécies, o manguezal se <strong>de</strong>staca por<br />
apresentar uma alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos das poucas espécies existentes. As<br />
mudanças abruptas ocorridas neste ecossistema limitam sua ocupação a espécies<br />
adaptadas à gran<strong>de</strong> variação <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> e capazes <strong>de</strong> colonizar substratos<br />
predominantemente não consolida<strong>dos</strong> (SCHAEFFER-NOVELLI, 1989; POR, 1994;<br />
COSTA et al., 2004).<br />
As principais adaptações presentes nas espécies florísticas dominantes do<br />
manguezal estão relacionadas ao aumento da absorção <strong>de</strong> oxigênio, ao controle <strong>de</strong><br />
salinida<strong>de</strong> e a eficiência reprodutiva. Dessa forma, R. mangle utiliza raízes-escora 7 e<br />
sementes lanceoladas; já o sistema radicular amplo e superficial, e a presença <strong>de</strong><br />
lenticelas 8 na base <strong>dos</strong> troncos são as estruturas presentes na L. racemosa; e A.<br />
schaueriana que apresenta pneumatóforos 9 e glândulas excretoras <strong>de</strong> sal na face<br />
foliar inferior (LACERDA, 1984; SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2004).<br />
A Para garantir o <strong>de</strong>senvolvimento harmonioso nesse ecossistema as espécies<br />
A C<br />
faunísticas, assim como a flora, foram submetidas a processos <strong>de</strong> seleção natural,<br />
por meio <strong>de</strong> mudanças evolutivas como uma série <strong>de</strong> estratégias adaptativas,<br />
principalmente com relação à <strong>de</strong>ssecação, à flutuação das marés e à variação <strong>de</strong><br />
salinida<strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>sses casos ocorre em organismos sésseis que se fixam nas raízes<br />
7<br />
Raízes que partem do caule principal e se arqueiam até o solo, tendo como principal finalida<strong>de</strong> a<br />
sustentação da planta.<br />
8<br />
Poro <strong>de</strong> respiração entre a planta e o meio externo.<br />
9<br />
Raízes aéreas que emergem <strong>de</strong> baixo do sedimento em direção ao ar <strong>de</strong> forma que suas<br />
extremida<strong>de</strong>s ultrapassam a altura da água mesmo durante a maré cheia, possibilitando as trocas<br />
gasosas.<br />
11
e troncos do mangue, na maré alta se alimentam <strong>de</strong> plâncton 10 e realizam trocas<br />
gasosas, entretanto, na maré baixa, quando ficam expostos ao ar e ao calor, fecham<br />
suas conchas para evitar o <strong>de</strong>ssecamento (COSTA, 1995). Outro exemplo ocorre<br />
durante a preamar on<strong>de</strong> os caranguejos escavam galerias subterrâneas, que<br />
permanecem úmidas, ou migram para o mangue (SCHAEFFER-NOVELLI et al.,<br />
2004).<br />
Importância<br />
Segundo a Convenção <strong>de</strong> Ramsar 11 , <strong>de</strong> 1971, o manguezal encontra-se entre<br />
as zonas úmidas <strong>de</strong> importância internacional, além <strong>de</strong> ser um <strong>dos</strong> ecossistemas<br />
associa<strong>dos</strong> da Mata Atlântica <strong>de</strong> maior produtivida<strong>de</strong> na natureza. Seu valor<br />
ultrapassa o aspecto ecológico <strong>de</strong>stacando-se por sua importância social,<br />
econômica e cultural, constituindo-se em uma das principais fontes <strong>de</strong> renda para as<br />
comunida<strong>de</strong>s litorâneas (SILVA, 2004b).<br />
Consi<strong>de</strong>rando o aspecto ecológico, o manguezal <strong>de</strong>sempenha diversas<br />
funções <strong>de</strong>ntre as quais se <strong>de</strong>stacam:<br />
Área <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> nutrientes. Localizada em zonas estuarinas, os<br />
manguezais recebem água rica em nutrientes oriunda <strong>dos</strong> rios e do mar. Associado<br />
à localização privilegiada, o mangue apresenta uma elevada produtivida<strong>de</strong>,<br />
promovendo a troca <strong>de</strong> gases entre as várias partes da planta e a atmosfera, e a<br />
produção <strong>de</strong> biomassa aérea (raízes, caules, folhas e frutos) e terrestre (raízes),<br />
sendo, por isso, consi<strong>de</strong>rado como a principal fonte <strong>de</strong> carbono do ecossistema<br />
(MATTOS-FONSECA & ROCHA, 2004).<br />
10<br />
Organismos aquáticos, geralmente, microscópicos que flutuam passivamente pela coluna <strong>de</strong> água.<br />
Alguns possuem órgãos locomotores, mas nenhum consegue vencer os movimentos da água.<br />
11<br />
Convenção sobre zonas úmidas <strong>de</strong> importância internacional, especialmente como habitat <strong>de</strong> aves<br />
aquáticas.<br />
12
Berçário natural. Como áreas <strong>de</strong> águas calmas, rasas e ricas em alimento, além da<br />
proteção que a estrutura radicular <strong>dos</strong> mangues fornece contra a ação <strong>de</strong><br />
predadores naturais, os manguezais apresentam condições i<strong>de</strong>ais para reprodução<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formas jovens <strong>de</strong> várias espécies, inclusive <strong>de</strong> interesse<br />
econômico, principalmente crustáceos e peixes. Muitos filhotes <strong>de</strong> peixes<br />
anádromos 12 (tainha, robalo) nascem e se <strong>de</strong>senvolvem nas águas do manguezal<br />
antes <strong>de</strong> voltarem para o seu ambiente natural (MACINTOSH & ASHTON, 2002).<br />
Fornecer alimentação e refúgio para animais ameaça<strong>dos</strong> <strong>de</strong> extinção,<br />
principalmente aves marinhas. Além <strong>de</strong> atuar como área <strong>de</strong> nidificação 13 e repouso<br />
para aves, o manguezal se <strong>de</strong>staca como um ecossistema <strong>de</strong> alta produtivida<strong>de</strong><br />
compondo a base <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia alimentar que passa por um incontável número<br />
<strong>de</strong> aves resi<strong>de</strong>ntes e migratórias (BIZERRIL, 2001; MACINTOSH & ASHTON,<br />
2002).<br />
Produção e exportação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos orgânicos para as águas estuarinas. Os <strong>de</strong>tritos<br />
produzi<strong>dos</strong> pelo manguezal em suspensão na água são compostos principalmente<br />
por fragmentos <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> mangue formando a base alimentar <strong>de</strong> diversas<br />
espécies <strong>de</strong> caranguejos, camarões e peixes. Por isso, o manguezal contribui<br />
significativamente para a manutenção <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>tríticas e <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mais elos<br />
tróficos constituintes da re<strong>de</strong> alimentar marinha e estuarina (AVELINE, 1980;<br />
SANT-ANNA & WHATELEY, 1981; SCHAEFFER-NOVELLI, 1989).<br />
Insolubilização <strong>de</strong> metais pesa<strong>dos</strong> e regulação da qualida<strong>de</strong> da água. Quando em<br />
perfeito estado <strong>de</strong> conservação, o manguezal atua como um filtro biológico em que<br />
bactérias aeróbias e anaeróbias trabalham a matéria orgânica e a lama<br />
12 Migração estacional <strong>dos</strong> peixes da água salgada que sobem para <strong>de</strong>sovar na água doce.<br />
13 Formação <strong>de</strong> ninho.<br />
13
promovendo a fixação e a inertização <strong>de</strong> partículas contaminantes, como os metais<br />
pesa<strong>dos</strong> (mercúrio, chumbo, cádmio entre outros) carrea<strong>dos</strong> pela lixiviação das<br />
jazidas naturais <strong>de</strong> minérios e pela poluição urbana e industrial, impedindo que<br />
sejam solubiliza<strong>dos</strong> e entrem na re<strong>de</strong> trófica (PEREIRA FILHO & ALVES, 1999).<br />
Retenção <strong>de</strong> sedimentos. Devido à sistemática movimentação das marés<br />
associada à diminuição da velocida<strong>de</strong> das correntes que penetram no manguezal,<br />
o sedimento é retido mecanicamente pelo sistema radicular, por folhas e troncos,<br />
ou mediante a floculação e precipitação, <strong>de</strong>vido a valores <strong>de</strong> pH áci<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong><br />
pelas águas lixiviadas (AMADOR, 1980), sendo incorporado ao substrato. Tal<br />
sedimentação possibilita a ocupação e a propagação da vegetação (ALVES,<br />
2001).<br />
Proteção da região costeira e das margens <strong>dos</strong> estuários contra erosão. Em<br />
virtu<strong>de</strong> da conformação <strong>dos</strong> mangues, o manguezal atua como uma barreira<br />
mecânica natural contra a ação erosiva das intempéries oceânicas e <strong>dos</strong> ventos<br />
(OTHMAN, 1994; PEREIRA FILHO & ALVES, 1999).<br />
Proteção das áreas ribeirinhas contra enchentes. O manguezal minimiza a força da<br />
inundação ao longo <strong>dos</strong> rios, <strong>de</strong>vido a sua localização fronteiriça entre os<br />
ambientes marinho, terrestre e dulcícola (LACERDA, 1984).<br />
Legislação<br />
Os diplomas legais <strong>de</strong> proteção aos manguezais po<strong>de</strong>m estar menciona<strong>dos</strong><br />
<strong>de</strong> forma direta ou não, na legislação brasileira.<br />
14
Âmbito Fe<strong>de</strong>ral – menção direta e indireta<br />
Decreto-Lei 9.760, <strong>de</strong> 05/ 09/ 46<br />
Art. 1º Declara a quem pertence: “Incluem-se entre os bens imóveis da União:<br />
a. os terrenos <strong>de</strong> marinha e seus acresci<strong>dos</strong>.”<br />
Art. 2º Define terreno <strong>de</strong> marinha: “São terrenos <strong>de</strong> marinha, em uma<br />
profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 33 metros, medi<strong>dos</strong> horizontalmente, para a parte da terra, da<br />
posição da linha do preamar-médio <strong>de</strong> 1831:<br />
a. os situa<strong>dos</strong> no continente, na costa marítima e nas margens <strong>dos</strong> rios e<br />
lagoas, até on<strong>de</strong> se faça sentir a influência das marés;<br />
b. os que contornam as ilhas situadas em zona on<strong>de</strong> se faça sentir a<br />
influência das marés.”<br />
Lei 4.771 <strong>de</strong> 15/ 09/ 65 (Código Florestal)<br />
Art. 2º Declara as áreas vegetais <strong>de</strong> preservação permanente: “Consi<strong>de</strong>ram-<br />
se <strong>de</strong> preservação permanente, pelo só efeito <strong>de</strong>sta Lei, as florestas e <strong>de</strong>mais<br />
formas <strong>de</strong> vegetação natural situadas:<br />
a. ao longo <strong>dos</strong> rios ou <strong>de</strong> outro qualquer curso d’água (...);<br />
b. ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água, naturais ou artificiais;<br />
f. nas restingas, como fixadoras <strong>de</strong> dunas ou estabilizadoras <strong>de</strong> mangues.”<br />
Lei 6.938, <strong>de</strong> 31/ 08/ 81<br />
Art. 18º Reafirma a vegetação <strong>de</strong> preservação permanente: “São<br />
transformadas em reservas ou estações ecológicas, sob a responsabilida<strong>de</strong> da<br />
SEMA, as florestas e as <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vegetação natural <strong>de</strong> preservação<br />
15
permanente, relacionadas no art. 2º da Lei nº 4.771, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1965 -<br />
Código Florestal (...).”<br />
Resolução CONAMA nº 04, <strong>de</strong> 18/ 09/ 85<br />
Art. 2º Defini manguezal: “Para efeitos <strong>de</strong>sta Resolução são estabelecidas as<br />
seguintes <strong>de</strong>finições:<br />
l. (...) 3. manguezal - ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos<br />
sujeitos à ação das marés localizadas em áreas relativamente abrigadas e<br />
formado por vasas lo<strong>dos</strong>as recentes às quais se associam comunida<strong>de</strong>s<br />
vegetais características.”<br />
Art. 3º Declara as reservas ecológicas: “São Reservas Ecológicas:<br />
b. as florestas e <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vegetação natural situadas:<br />
VIII. nos manguezais, em toda a sua extensão.”<br />
Convenção Internacional <strong>de</strong> Ramsar (assinada pelo Brasil em 24/ 09/ 93)<br />
Art. 1º Defini zonas úmidas: “Para efeitos da Convenção sobre Zonas Úmidas<br />
<strong>de</strong> Importância Internacional, da qual o Brasil é signatário, as zonas úmidas são<br />
áreas <strong>de</strong> pântanos, charco, turfa ou água, natural ou artificial, permanente ou<br />
temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo<br />
áreas <strong>de</strong> água marítima com menos <strong>de</strong> seis metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> na maré<br />
baixa (SÃO PAULO, 1997).”<br />
16
Âmbito Estadual – menção direta<br />
Constituição do Estado da Bahia<br />
Art. 215º Declara os manguezais nas áreas <strong>de</strong> preservação permanente:<br />
“São áreas <strong>de</strong> preservação permanente, como <strong>de</strong>finidas em lei:<br />
I. os manguezais.”<br />
Âmbito Municipal – menção direta<br />
Lei 572/99<br />
Art. 3º Cita os mangues como áreas <strong>de</strong> preservação permanente e Assegura<br />
sua proteção: “Ficam estabelecidas as seguintes diretrizes para atingir os<br />
objetivos pretendi<strong>dos</strong> no artigo anterior:<br />
IV. Assegurar a proteção das áreas <strong>de</strong> preservação permanente como os<br />
mangues, restingas e praias.”<br />
Art. 7º Declara os manguezais com áreas <strong>de</strong> interesse <strong>ambiental</strong>: “Para<br />
efeito <strong>de</strong> uso do solo, a área contida no perímetro urbano fica classificada em:<br />
I. área <strong>de</strong> interesse <strong>ambiental</strong><br />
§ 1º. Consi<strong>de</strong>ram-se áreas <strong>de</strong> interesse <strong>ambiental</strong>, as áreas <strong>de</strong> preservação<br />
permanente <strong>de</strong>finidas na legislação fe<strong>de</strong>ral, estadual e Lei Orgânica do<br />
Município:<br />
b. os manguezais.”<br />
17
Definição e Caracterização<br />
APICUM<br />
“Eu sou o mangue!<br />
Antes eu era verdinha, verdinha e muito.<br />
Me chamavam <strong>de</strong> manguezal<br />
Porque, além <strong>de</strong> ser bonito, também crio produtos <strong>de</strong> várias espécies.<br />
A lama negra em que eu penetro, essa também faz parte <strong>de</strong> mim,<br />
As gamboas que correm <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, as ilhas e apicuns:<br />
To<strong>dos</strong> esses companheiros me ajudam a criar meus produtos.<br />
Então, juntos, formamos uma só natureza, que damos vidas a outras vidas.<br />
Nós não viemos ao mundo por acaso.<br />
Como nosso Criador <strong>dos</strong> céus e das terras, não existe outro.”<br />
Maria do Livramento Santos<br />
(Pescadora <strong>de</strong> Curral Velho, CE)<br />
Segundo Bigarella (1946) e Nascimento (1997/1998), a zona <strong>de</strong> apicum é<br />
uma sucessão evolutiva do manguezal para outras comunida<strong>de</strong>s vegetais, sendo<br />
resultado da <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> areias finas pelas enchentes da preamar.<br />
Corroborando com Bigarella (1946), Nascimento (1999) afirma que como o<br />
solo das camadas interiores do apicum é típico sedimento <strong>de</strong> manguezal, com restos<br />
<strong>de</strong> material botânico em <strong>de</strong>composição e abundante quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conchas <strong>de</strong><br />
ostras, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa região, ter sido anteriormente, um bosque <strong>de</strong> mangue<br />
que sofreu assoreamento natural aumenta consi<strong>de</strong>ravelmente, sendo, portanto uma<br />
área <strong>de</strong> sucessão e evolução natural do ecossistema.<br />
De acordo com o CONSEMA (2002) e o COEMA (2002) apicum é o<br />
ecossistema <strong>de</strong> estágio sucessional, do manguezal, on<strong>de</strong> predomina solo arenoso e<br />
relevo um pouco mais elevado, que impe<strong>de</strong> a cobertura do solo pelas marés, sendo<br />
colonizado por espécies vegetais características <strong>de</strong> caatinga e/ou mata <strong>de</strong> tabuleiro.<br />
Schaeffer-Novelli (1989) afirma que o apicum ocorre na porção mais externa<br />
do manguezal, raramente em pleno interior do bosque e associa-se aos manguezais<br />
formando um estádio sucessional natural do ecossistema. Assim, po<strong>de</strong> ser<br />
18
consi<strong>de</strong>rado como parte do manguezal também no que tange a aplicação da<br />
legislação, uma vez que em alguns documentos legais já se encontra a expressão<br />
"manguezal, em toda a sua extensão", reconhecendo os diferentes compartimentos<br />
como integrantes <strong>de</strong>sse ecossistema (SCHAEFFER-NOVELLI, 2002).<br />
Ucha et al. (2004) sugere que apicum seja um <strong>de</strong>pósito sedimentar quartzoso<br />
localizado entre a vegetação <strong>de</strong> manguezal e as terras permanentemente emersas,<br />
produto da ação erosiva sobre os solos próximos e que recobrem sedimentos<br />
lamosos <strong>de</strong> manguezal, conduzindo ou já tendo concluído a extinção da vegetação<br />
original.<br />
Para Silva (2004a), o apicum é um solo característico <strong>de</strong> áreas semi-áridas,<br />
composto por areias <strong>de</strong> espraiamento, ou aluviões mais grosseiros com composição<br />
sílico-quartzosa, que ocorrem nos leitos secos <strong>dos</strong> rios da região, ou em áreas <strong>de</strong><br />
interface do tabuleiro costeiro e da área estuarina.<br />
Importância<br />
A principal função <strong>de</strong>sempenhada pelo apicum, segundo Nascimento (1999),<br />
é atuar como um reservatório <strong>de</strong> nutrientes (matéria orgânica e mineralomassa). De<br />
acordo com a autora, durante a estação chuvosa o aumento da vazão do rio e a<br />
própria chuva lixiviam o manguezal, impedindo que a matéria vegetal se<br />
<strong>de</strong>componha e libere nutrientes.<br />
Durante este mesmo período, com a diminuição da salinida<strong>de</strong>, o apicum<br />
torna-se propício ao povoamento por diversas espécies <strong>de</strong> crustáceos que ao<br />
revolver o substrato, para escavar suas tocas, enriquecem a superfície com<br />
partículas <strong>de</strong> nutrientes retiradas das camadas mais inferiores do solo. Os nutrientes<br />
são, então, carrea<strong>dos</strong> pela ação da chuva para o interior do manguezal, mantendo o<br />
19
equilíbrio orgânico/mineral e impedindo o prejuízo energético na produtivida<strong>de</strong> do<br />
ecossistema (NASCIMENTO, 1999).<br />
Legislação<br />
No <strong>de</strong>correr da história legislativa brasileira, até o presente momento, todas<br />
as menções referentes ao apicum ocorreram <strong>de</strong> forma indireta.<br />
A primeira citação ocorreu durante as Or<strong>de</strong>nações Filipinas, leis portuguesas<br />
que regeram o Brasil a partir <strong>de</strong> 1607:<br />
Carta Régia <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1678. Declara os mangues como<br />
originários do salgado: “(...) mangues (...) por nascerem em salgado 14 , aon<strong>de</strong> só<br />
se chega à maré e com a enchente (...)”.<br />
A próxima menção na legislação brasileira referente ao apicum está na<br />
Resolução CONAMA 04, <strong>de</strong> 18/ 09/ 85:<br />
Art. 1º Declara as áreas <strong>de</strong> preservação permanente como reservas ecológicas:<br />
“São consi<strong>de</strong>radas Reservas Ecológicas as formações florísticas e as áreas <strong>de</strong><br />
florestas <strong>de</strong> preservação permanente (...).”<br />
Art. 3º Declara o apicum como reserva ecológica: “São Reservas Ecológicas:<br />
b. as florestas e <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vegetação natural situadas:<br />
VIII. nos manguezais, em toda a sua extensão.”<br />
De acordo com Schaeffer-Novelli (2002), a expressão “manguezais, em toda<br />
a sua extensão”, presente no art. 3º da Resolução CONAMA 04/85, reconhece os<br />
14 Segundo Alves (2001), a palavra “salgado” mencionada no texto é sinônimo <strong>de</strong> “apicum”,<br />
significando zona contígua ao bosque, sendo a parte mais alta do ecossistema (supra-litoral), limitado<br />
pelo nível médio das preamares <strong>de</strong> sizígia e o nível das preamares <strong>de</strong> sizígia equinociais. Enten<strong>de</strong>-se<br />
por sizígia a maré <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong>, com preamares mais altas e baixa-mares mais baixas, típica<br />
da lua cheia e da lua nova.<br />
20
diferentes compartimentos como parte do manguezal, cabendo, por isso, a<br />
consi<strong>de</strong>ração do apicum como parte integrante <strong>de</strong>sse ecossistema.<br />
21
Posição sistemática<br />
Cardisoma guanhumi<br />
“O guaiamu tem o casco e os olhos azuis<br />
como se fosse, mesmo, o representante <strong>de</strong> uma<br />
raça superior, uma raça <strong>de</strong> caranguejos bem<br />
nasci<strong>dos</strong>, bem cria<strong>dos</strong>, bem nutri<strong>dos</strong>. Guaiamu é<br />
um caranguejo <strong>de</strong> raça ariana.”<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
De acordo com Ruppert & Barnes (1996), o Cardisoma guanhumi, conhecido<br />
vulgarmente em Canavieiras como guaiamum ou gaiamum ocupa a seguinte<br />
posição sistemática: Reino: Animalia<br />
Descrição<br />
Filo: Arthropoda<br />
Subfilo: Crustácea<br />
Classe: Malacostraca<br />
Or<strong>de</strong>m: Decapoda<br />
Infra-or<strong>de</strong>m: Brachyura<br />
Seção: Brachyrhyncha<br />
Família: Gecarcinidae<br />
Gênero: Cardisoma<br />
Espécie: Cardisoma guanhumi<br />
Segundo Oliveira (1946) o guaiamum é o maior crustáceo <strong>de</strong> hábitos semi-<br />
terrestres da costa brasileira. Seu corpo é dividido em cefalotórax, abdômen e patas<br />
(Figura 3). O cefalotórax encontra-se protegido por uma carapaça lisa, e a ele estão<br />
conectadas cinco pares <strong>de</strong> patas, das quais quatro são locomotoras. As patas são<br />
esparsamente peludas. As quelas geralmente apresentam tamanhos distintos,<br />
po<strong>de</strong>ndo a maior ocorrer tanto no lado esquerdo quanto no lado direito do animal<br />
(Figura 4). Nos machos, a pinça maior po<strong>de</strong> alcançar 30cm <strong>de</strong> comprimento<br />
(WEDES, 2004).<br />
22
1ª pata<br />
2ª pata<br />
3ª pata<br />
4ª pata<br />
5ª pata<br />
cefalotórax<br />
abdômen<br />
Figura 3. Divisão corporal do guaiamum. Fonte: Adaptada por Luciana <strong>de</strong><br />
Oliveira Gaião a partir <strong>de</strong> Rodrigues, 1995. 15<br />
carpo<br />
ísquio<br />
<strong>de</strong>do móvel<br />
(dáctilo)<br />
base<br />
<strong>de</strong>do fixo<br />
olhos<br />
carapaça<br />
coxa<br />
própo<strong>de</strong><br />
abdômen<br />
mero<br />
basiísquio<br />
mero<br />
quela<br />
Figura 4. Morfologia externa do guaiamum. Fonte: Adaptada por Luciana <strong>de</strong><br />
dáctil<br />
patas<br />
carpo<br />
própodo<br />
15 RODRIGUES, S. A. O manguezal e a sua fauna. Departamento <strong>de</strong> Ecologia Geral. Instituto <strong>de</strong><br />
Biociências da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1995. Disponível<br />
em:. Acesso em: maio <strong>de</strong> 2005.<br />
23
Oliveira Gaião a partir <strong>de</strong> Rodrigues, 1995.<br />
Quando adulto, um indivíduo macho po<strong>de</strong> pesar até 500 g e sua carapaça<br />
atingir 11 cm <strong>de</strong> comprimento (GIFFORD, 1962). A coloração nesta espécie varia <strong>de</strong><br />
acordo com a maturida<strong>de</strong>. Indivíduos juvenis <strong>de</strong> guaiamum apresentam a superfície<br />
dorsal da carapaça marrom dourado com pequenas manchas púrpuras espalhadas;<br />
as patas po<strong>de</strong>m ser uma combinação <strong>de</strong> azul, laranja e marrom-dourado (Figuras 5<br />
e 6). Indivíduos adultos são geralmente azuis, po<strong>de</strong>ndo apresentar pintas azuis e<br />
brancas ou azuis e amarelo escuro; as quelas são brancas ou branco-amareladas<br />
(Figura 7).<br />
Figura 6. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum juvenil:<br />
patas laranja.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Figura 5. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum juvenil: patas<br />
azul e laranja.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Figura 7. Coloração <strong>de</strong> um guaiamum adulto.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
24
Distribuição geográfica<br />
De acordo com Hostetler et al. (2003), o guaiamum é encontrado na ilha das<br />
Bermudas, por todo o mar do Caribe, no Texas e no sul da Florida. We<strong>de</strong>s (2004) e<br />
Hill (2001) relatam que este crustáceo também está distribuído ao longo do Golfo do<br />
México, por todo o su<strong>de</strong>ste <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, na América Central, na extremida<strong>de</strong><br />
norte da América do Sul, e em partes das Ilhas Caribenhas (Figura 8). No litoral<br />
brasileiro, o guaiamum ocorre na região compreendida entre os esta<strong>dos</strong> do Ceará e<br />
<strong>de</strong> Santa Catarina (NUNES, 2004 apud OLIVEIRA et al., 2001) (Figura 9).<br />
Habitat e Aspectos comportamentais<br />
O guaiamum é uma espécie semi-terrestre. Entretanto, distribui-se nas<br />
regiões costeiras, pois as fêmeas precisam retornar ao mar para <strong>de</strong>sovar<br />
(RUPPERT & BARNES, 1996). Abriga-se em tocas situadas em áreas acima da<br />
marca da preamar, distando, em média, 500m da região banhada pela água, on<strong>de</strong><br />
geralmente o terreno é mais arenoso (OLIVEIRA, 1946).<br />
Segundo Gifford (1962), a parte superior da cova é geralmente vertical ou<br />
quase nessa direção. As tocas são cavadas até atingir a linha da água, sendo<br />
mantida no fundo <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las uma pequena piscina contendo 1 a 2 litros <strong>de</strong><br />
água doce ou salobra (HILL, 2001), mas sempre muito clara e limpa <strong>de</strong>vido à<br />
filtração sofrida pela areia (OLIVEIRA, 1946). Frequentemente as tocas contêm altas<br />
concentrações <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono <strong>de</strong>vido ao freqüente lacramento das mesmas<br />
com lama pelo próprio caranguejo (WEDES, 2004).<br />
Cada toca é ocupada por apenas um guaiamum adulto, insetos e outros pequenos<br />
artrópo<strong>de</strong>s. Entretanto, pequenos indivíduos juvenis, <strong>de</strong> até 10mm <strong>de</strong> comprimento,<br />
não escavam suas próprias tocas estando, por isso, sujeitos a ocupar tocas <strong>de</strong><br />
25
adultos, com quem co-habitam pacificamente. Contudo, <strong>de</strong>vido ao comportamento<br />
agonístico da espécie, as tocas apresentam-se afastadas umas das outras (HILL,<br />
2001).<br />
Figura 8. Distribuição geográfica do Cardisoma guanhumi. Fonte: Adaptada por Hilda<br />
Susele Rodrigues a partir <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> do IBGE, 2004.<br />
26
Figura 9. Distribuição do Cardisoma guanhumi na costa brasileira. Fonte: Adaptada<br />
por Hilda Susele Rodrigues a partir <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> do IBGE, 2004.<br />
O guaiamum não é uma espécie social, pois permanece a maior parte do<br />
tempo <strong>de</strong>ntro da toca saindo apenas para forragear, acasalar ou <strong>de</strong>sovar (WEDES,<br />
2004). Animal <strong>de</strong> hábitos semi-noturnos forrageia ao amanhecer e ao crepúsculo,<br />
perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> máxima ativida<strong>de</strong>, entretanto esta ten<strong>de</strong> a aumentar em baixos níveis<br />
<strong>de</strong> luz, com a diminuição da temperatura durante o dia e com a redução da<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comida (HILL, 2001).<br />
27
Hábitos alimentares<br />
Como um típico onívoro alimenta-se <strong>de</strong> insetos, animais mortos, fezes e às<br />
vezes é canibalesco. No entanto, sua base alimentar é composta preferencialmente<br />
por folhas <strong>de</strong> mangue vermelho (Rhizophora mangle) e branco (Laguncularia<br />
racemosa), frutos e grama (HILL, 2001).<br />
Forrageia perto das imediações <strong>de</strong> sua toca usando a luz e o som para<br />
auxiliar na procura por alimento. Depois <strong>de</strong> forragear leva sua comida para a toca,<br />
on<strong>de</strong> a consome, guardando as sobras que permanecem esquecidas (WEDES,<br />
2004).<br />
Importância Econômica<br />
Devido ao alto teor <strong>de</strong> carne o guaiamum é largamente apreciado na culinária<br />
(TAISSOUN, 1974 apud SILVA e OSHIRO, 2002).<br />
Ao longo das Bahamas, do Caribe e em Porto Rico, o guaiamum é<br />
economicamente importante, sendo explorado intensivamente como um recurso<br />
alimentar (HILL, 2001; Lloyd, 2001; HOSTETLER et al., 2003; RODRIGUEZ-<br />
FOURQUET, 2002).<br />
O guaiamum também é muito utilizado na culinária em pratos típicos e <strong>de</strong><br />
frutos do mar. Na Índia oci<strong>de</strong>ntal é o ingrediente essencial <strong>de</strong> um saboroso prato<br />
culinário conhecido simplesmente como “caranguejo e o arroz” (HARDY, 2000).<br />
No Brasil, possui gran<strong>de</strong> valor econômico entre as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixa<br />
renda que vivem nas áreas estuarinas. O guaiamum é frequentemente<br />
comercializado por ambulantes (OLIVEIRA, 1946), em beiras <strong>de</strong> estradas próximas a<br />
manguezais, e encontrado em merca<strong>dos</strong> e feiras livres em todo o litoral nor<strong>de</strong>stino<br />
(OSHIRO et al., 1999; NUNES, 2004 apud OLIVEIRA et al., 2001).<br />
28
Nos EUA, não é geralmente explorado para alimentação; algumas pessoas<br />
consi<strong>de</strong>ram-no uma peste <strong>de</strong> jardim comum na Flórida, pois regularmente cava suas<br />
tocas nos grama<strong>dos</strong> (HILL, 2001).<br />
Legislação<br />
Todas as citações que fazem alusão ao caranguejo Cardisoma guanhumi<br />
presentes na constituição brasileira aparecem <strong>de</strong> forma direta.<br />
Âmbito Fe<strong>de</strong>ral<br />
Instrução Normativa 5, <strong>de</strong> 21/ 05/ 2004:<br />
Art. 1º – Inclui o C. guanhumi na lista <strong>de</strong> espécies ameaçadas: “Reconhecer<br />
como espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção e espécies sobreexplotadas ou<br />
ameaçadas <strong>de</strong> sobreexplotação, os invertebra<strong>dos</strong> aquáticos e peixes, constantes<br />
<strong>dos</strong> Anexos a esta Instrução Normativa.<br />
Âmbito Estadual<br />
Anexo II. Lista nacional das espécies <strong>de</strong> invertebra<strong>dos</strong> aquáticos e peixes<br />
sobreexplotadas ou ameçadas <strong>de</strong> sobreexplotação:<br />
Cardisoma guanhumi (Latreille, 1825).”<br />
Instrução Normativa 90, <strong>de</strong> 02/ 02/ 2006:<br />
Art. 1º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> fêmeas <strong>de</strong> C. guanhumi: “Proibir a captura, a<br />
manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, o<br />
armazenamento e a comercialização <strong>de</strong> fêmeas da espécie Cardisoma guanhumi<br />
(...) nos esta<strong>dos</strong> (...) e Bahia.”<br />
29
Art. 2º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> C. guanhumi durante o suposto período <strong>de</strong><br />
“andada” (período reprodutivo): “Nos meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a março <strong>de</strong> cada<br />
ano, fica <strong>de</strong>legada aos Gerentes Executivos do IBAMA (...) estabelecer, em<br />
caráter experimental e segundo as peculiarida<strong>de</strong>s locais, a suspensão da<br />
captura, manutenção em cativeiro, transporte, beneficiamento, industrialização e<br />
comercialização da espécie Cardisoma guanhumi, exclusivamente, durante os<br />
dias <strong>de</strong> “andada”.”<br />
Art. 4º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> C. guanhumi com largura <strong>de</strong> carapaça<br />
inferior a 7,0 cm: “Proibir, em qualquer época do ano, a captura, a coleta, o<br />
transporte, o beneficiamento, a industrialização, o armazenamento e a<br />
comercialização <strong>de</strong> indivíduos da espécie Cardisoma guanhumi, como se segue:<br />
II. Indivíduos com largura <strong>de</strong> carapaça inferior a 7,0 cm (sete centímetros),<br />
no estado da Bahia.”<br />
Art. 5º – Veta a retirada <strong>de</strong> partes isoladas: “Proibir, em qualquer época (...) a<br />
retirada <strong>de</strong> partes isoladas (quelas, pinças ou garras), no ato da captura.”<br />
Art. 6º – Permite a captura <strong>de</strong> C. guanhumi apenas com petrecho do tipo<br />
“ratoeira”: “Permitir (...) somente a utilização do petrecho <strong>de</strong>nominado<br />
“ratoeira”, como facilitador na captura da espécie.”<br />
Instrução Normativa 6, <strong>de</strong> 21 /02/ 2006:<br />
Art. 1º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> C. guanhumi em 2006, <strong>de</strong>finindo o período<br />
<strong>de</strong> “andada”: “Proibir a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o<br />
beneficiamento, a industrialização e a comercialização do guaiamum (Cardisoma<br />
30
guanhumi), no estado da Bahia, durante os dias <strong>de</strong> "andada", em 2006, nos<br />
seguintes perío<strong>dos</strong>:<br />
I. <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro a 02 <strong>de</strong> março; e,<br />
II. <strong>de</strong> 26 a 31 <strong>de</strong> março.”<br />
Âmbito Municipal<br />
Lei 701, <strong>de</strong> 07/ 01/ 2005:<br />
Art. 1º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> C. guanhumi: “Fica proibida, em qualquer<br />
época, a captura e consequentemente, o beneficiamento, a industrialização e<br />
comercialização no município <strong>de</strong> Canavieiras, <strong>de</strong> fêmeas <strong>de</strong> qualquer tamanho e<br />
<strong>de</strong> machos inferiores a 6,0 cm (seis centímetros) <strong>de</strong> comprimento <strong>de</strong> carapaça do<br />
(...) crustáceo (...) da espécie Cardisoma guanhumi Latreille.”<br />
Art. 2º – Veta a captura <strong>de</strong> C. guanhumi durante o período <strong>de</strong> “andada”:<br />
“Fica proibida, também, a captura <strong>de</strong> caranguejos machos e fêmeas <strong>de</strong> qualquer<br />
tamanho, no período <strong>de</strong> (...) “andada”.”<br />
Art. 3º – Veta a retirada <strong>de</strong> partes isoladas <strong>de</strong> C. guanhumi: “Fica proibida,<br />
ainda, a captura com a retirada isolada do primeiro par <strong>de</strong> patas locomotoras e<br />
suas quelas, popularmente chamadas <strong>de</strong> “pinças”, “bocas”, “garras” ou “puãs”<br />
<strong>de</strong> crustáceos, em todo o município <strong>de</strong> Canavieiras.”<br />
Parágrafo Único – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> partes isoladas <strong>de</strong> C. guanhumi:<br />
“Não será permitida a comercialização, o beneficiamento e a industrialização<br />
isolada <strong>de</strong> “quelas” “pinças”, “garras”, “bocas” ou “puãs” quando não<br />
constituírem parte integrante do crustáceo adulto inteiro.”<br />
31
Instrução Normativa 83, <strong>de</strong> 05/ 01/ 2006:<br />
Art. 1º – Veta o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> C. guanhumi com largura <strong>de</strong> carapaça<br />
inferior a 8,0cm: “Proibir, no município <strong>de</strong> Canavieiras, no estado da Bahia, a<br />
captura, o <strong>de</strong>sembarque, o transporte, o armazenamento, o beneficiamento e a<br />
comercialização das espécies relacionadas a seguir, cujos comprimentos sejam<br />
inferiores a: Cardisoma guanhumi 8,0 cm.”<br />
Art. 4º – Permite a captura <strong>de</strong> C. guanhumi apenas com petrecho do tipo<br />
“ratoeira”: “Permiti a captura:<br />
V. <strong>de</strong> guaiamum (Cardisoma guanhumi) com a utilização <strong>de</strong> ratoeira.”<br />
32
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS (CEP/UESC)<br />
“Há apenas um direito humano básico:<br />
O <strong>de</strong> se fazer o que nos apetecer,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não causemos danos a outrem.<br />
A ele se associa o único <strong>de</strong>ver humano básico:<br />
O <strong>de</strong> arcar com as conseqüências.”<br />
P. J. O’ Rourke<br />
Com base na resolução 196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS), que<br />
regulamenta a ética <strong>de</strong> pesquisa em seres humanos, o Projeto em questão foi<br />
submetido à análise pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa com Seres Humanos da<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz (CEP/UESC), vinculado à Comissão Nacional<br />
<strong>de</strong> Ética em Pesquisa (CONEP) do Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS), sendo aprovado sob<br />
número <strong>de</strong> registro 035/06, no dia 27 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006.<br />
Seguindo as orientações da referida resolução, elaboramos o Termo <strong>de</strong><br />
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) <strong>de</strong> participação na pesquisa (Anexo 1).<br />
Nesse documento foi solicitada, aos pretensos entrevista<strong>dos</strong>, permissão para<br />
realização <strong>de</strong> entrevista, gravação, fotografias e observação durante ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
interesse para o estudo, e para a utilização <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />
divulgada a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> mesmos.<br />
Em caso <strong>de</strong> concordância na participação <strong>de</strong>ssa pesquisa, o TCLE era<br />
assinado somente após a sua <strong>de</strong>vida leitura e esclarecimento <strong>de</strong> dúvidas que<br />
surgiram, sendo, assim, respeitado o direito pessoal <strong>de</strong> escolha. Para os<br />
analfabetos, foi usada a impressão digital como forma <strong>de</strong> autorização mediante a<br />
presença <strong>de</strong> uma testemunha alfabetizada.<br />
33
Caracterização da área <strong>de</strong> estudo<br />
METODOLOGIA<br />
“(...) sem a ânsia <strong>de</strong> resolver problemas,<br />
<strong>de</strong> seguir palpites, <strong>de</strong> tentar idéias novas e<br />
imprecisas, a ciência <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> existir.”<br />
Marjorie Grene<br />
O município <strong>de</strong> Canavieiras localiza-se no nor<strong>de</strong>ste do Brasil, ao Sul do<br />
estado da Bahia (Figura 10), na região da Costa do Cacau, distando cerca <strong>de</strong> 576<br />
km da capital Salvador. A posição geográfica do município é <strong>de</strong>terminada pelas<br />
coor<strong>de</strong>nadas 15º41’ latitu<strong>de</strong> Sul e 38º57’ longitu<strong>de</strong> Oeste, estando quatro metros<br />
acima do nível do mar (SANTOS et al., 2002).<br />
Apresenta uma área territorial <strong>de</strong> 1.376 km² e uma população estimada em<br />
37.018 habitantes, conforme da<strong>dos</strong> do IBGE (2006). Seu sistema estuarino configura<br />
uma extensão <strong>de</strong> aproximadamente, 7.403 ha <strong>de</strong> manguezais em seu litoral (Figura<br />
11). A área em estudo é formada pelo estuário <strong>dos</strong> rios Cipó, Jacaré, Pardo, Patipe,<br />
Salgado e Salsa.<br />
O clima da região é <strong>de</strong>finido como tropical quente e úmido, com temperatura<br />
média anual <strong>de</strong> 24,5ºC, variando entre 22,3ºC e 28,0ºC. O período chuvoso se<br />
esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> abril a junho e a pluviosida<strong>de</strong> média anual oscila entre 104,6 mm e 192,7<br />
mm (SEI, 1997).<br />
A topografia do município é plana, apresentando planícies marinhas e fluvio-<br />
marinhas, com falésias mortas, pequenos maciços <strong>de</strong> morros e outeiros, e<br />
patamares inter-fluviais, <strong>de</strong> acordo com da<strong>dos</strong> da Secretaria <strong>de</strong> Cultura e Turismo <strong>de</strong><br />
Canavieiras (2006).<br />
34
Figura 10. Mapa <strong>de</strong> localização do município <strong>de</strong> Canavieiras, Bahia, Brasil. Fonte: Adaptada por Hilda Susele Rodrigues a partir <strong>de</strong> da<strong>dos</strong><br />
do IBGE, 2004 e SEI,2003.<br />
35
Figura 11. Mapa <strong>de</strong> localização da área <strong>de</strong> manguezal no município <strong>de</strong> Canavieiras, Bahia.<br />
Fonte: PANGEA, 2001.<br />
Oiticica<br />
Oiticica localiza-se no extremo norte do município <strong>de</strong> Canavieiras (Figura 12),<br />
distando cerca <strong>de</strong> 32 km da cida<strong>de</strong>. Apresenta 14,7% do seu território coberto por<br />
área <strong>de</strong> manguezal.<br />
A pesca e a extração <strong>de</strong> crustáceos e moluscos são algumas das ativida<strong>de</strong>s<br />
econômicas <strong>de</strong>senvolvidas no povoado, sendo predominante o número <strong>de</strong><br />
marisqueiras 16 . Poucos são os moradores que trabalham com o caranguejo-uçá e<br />
com o guaiamum.<br />
16 Denominação empregada, geralmente, para mulheres que trabalham com a extração e captura do<br />
crustáceo aratu, e <strong>dos</strong> moluscos sururu, ostra e lambreta.<br />
36
Figura 12. Mapa <strong>de</strong> localização das comunida<strong>de</strong>s estudadas no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras. Fonte: PANGEA, 2001.<br />
37
O povoado foi formado por assentamento <strong>de</strong> posseiros, que se<br />
estabeleceram em ambas as margens da BA 001 predominando em direção a praia.<br />
Uma linha imaginária divi<strong>de</strong> a estrutura habitacional do povoado. Seguindo a<br />
rodovia em direção a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Canavieiras, nos <strong>de</strong>paramos com uma comunida<strong>de</strong><br />
formada por casas <strong>de</strong> taipa e telhado <strong>de</strong> zinco (Figura 13), circundadas por lixo<br />
gerado pelos próprios moradores (Figura 14).<br />
Figura 14. Amontoado <strong>de</strong> lixo em Oiticica.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Figura 13. Habitação <strong>de</strong> taipa e zinco<br />
em Oiticica.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
À medida que avançamos em direção a cida<strong>de</strong> encontramos habitações <strong>de</strong><br />
tijolo e cerâmica, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo diminui sensivelmente (Figura 15). A<br />
diferença entre as duas paisagens é bem nítida.<br />
38
Puxim do Sul<br />
Figura 15. Casa <strong>de</strong> tijolo e cerâmica em Oiticica.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Puxim do Sul (Figura 12) surgiu nas primeiras décadas do Século XVIII com a<br />
vinda <strong>de</strong> brasileiros e portugueses, a procura <strong>de</strong> terras férteis ou fugindo <strong>de</strong> índios<br />
Pataxós (CEPLAC, 1980).<br />
Distante cerca <strong>de</strong> 25 km da zona urbana <strong>de</strong> Canavieiras, o povoado possui<br />
boa infra-estrutura comercial dispondo <strong>de</strong> supermercado, farmácia, armarinho, bar e<br />
etc. A comunida<strong>de</strong> conta ainda com um precário posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que funciona<br />
apenas três dias por semana.<br />
A coleta <strong>de</strong> crustáceos e moluscos é altamente eficiente. Por estar localizada<br />
na BA 001 e próxima a cida<strong>de</strong>, a comunida<strong>de</strong> pesqueira consegue ven<strong>de</strong>r seus<br />
mariscos a preços relativamente altos em relação às <strong>de</strong>mais.<br />
39
Barra Velha<br />
Ao norte do município <strong>de</strong> Canavieiras encontra-se a ilha <strong>de</strong> Barra Velha<br />
(Figura 12). Tivemos acesso a ilha pela Fazenda Cotovelo no quilômetro 18 da BA<br />
001, após 6 km <strong>de</strong> estrada <strong>de</strong> terra, pegamos uma balsa pelo rio Salgado. Em<br />
seguida, percorremos mais 4 km <strong>de</strong> estrada <strong>de</strong> terra até chegar ao povoado.<br />
Uma corda amarrada em cada uma das margens auxilia na travessia do<br />
continente para a ilha e vice-versa. Ao ingressar na balsa, cujo estado físico da<br />
ma<strong>de</strong>ira estava precário, tivemos que empregar uma força colossal para atingir a<br />
outra margem, já que o único motor existente são os músculos <strong>dos</strong> braços. Em um<br />
dado ponto, pu<strong>de</strong>mos sentir a queimação nos braços misturada com o suor das<br />
mãos, fazendo a corda escapulir. Além do <strong>de</strong>sgaste físico não havia nenhum<br />
equipamento <strong>de</strong> segurança, como o colete, o que tornou a travessia ainda mais<br />
perigosa.<br />
A ilha é dotada <strong>de</strong> exuberante área <strong>de</strong> manguezal, comportando 5,4% da<br />
superfície total utilizada pelas comunida<strong>de</strong>s <strong>tradicionais</strong> do município. Esse<br />
ecossistema é utilizado para extração artesanal <strong>de</strong> crustáceos e moluscos, e do<br />
camarão branco, presente apenas nessa região do município.<br />
A comunida<strong>de</strong> é formada por aproximadamente cinquenta famílias, cujas<br />
casas estão relativamente afastadas umas das outras.<br />
Não há um prédio escolar <strong>de</strong>vido ao pequeno número <strong>de</strong> crianças resi<strong>de</strong>ntes<br />
no local. Entretanto, a comunida<strong>de</strong> era beneficiada pelo projeto “Pescando Letras”<br />
do Ministério da Educação e Cultura (MEC), porém o mesmo estava parado há mais<br />
<strong>de</strong> seis meses por falta <strong>de</strong> professor.<br />
40
Se<strong>de</strong> do Município<br />
Dentre to<strong>dos</strong> os locais estuda<strong>dos</strong>, a Se<strong>de</strong> do município (Figura 12) abriga a<br />
maior área <strong>de</strong> manguezal, ocupando cerca <strong>de</strong> 2.608 hectares.<br />
A comunida<strong>de</strong> pesqueira está distribuída nos bairros da periferia da cida<strong>de</strong>,<br />
localiza<strong>dos</strong> nas áreas ribeirinhas ou próximos à maré.<br />
Há mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis anos uma gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> manguezal situada entre o<br />
centro <strong>de</strong> Canavieiras e a Ilha <strong>de</strong> Atalaia foi aterrada pelo então prefeito Antônio<br />
Almir Santana Melo, para construção do “Parque Recreativo e Ecológico Luiz<br />
Eduardo Magalhães”, que nunca foi viabilizado. O local, que é um exemplo <strong>de</strong> total<br />
<strong>de</strong>scaso com o meio ambiente, é conhecido como “Areial”, existindo nele um<br />
quiosque e uma obra abandonada (Figura 16).<br />
41
Figura 16. Área <strong>de</strong> manguezal aterrada entre o centro <strong>de</strong> Canavieiras e a Ilha <strong>de</strong> Atalaia. Em <strong>de</strong>staque (A) uma obra abandonada e (B)<br />
um quiosque em funcionamento. Fotos: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
42
Atalaia<br />
A Ilha <strong>de</strong> Atalaia (Figura 12) é consi<strong>de</strong>rada a mais importante das sete ilhas<br />
existentes no município <strong>de</strong> Canavieiras, <strong>de</strong>vido à extensa área <strong>de</strong> manguezal que<br />
abriga. Situada a cerca <strong>de</strong> 5 km do centro da cida<strong>de</strong>, com a qual se conecta por<br />
intermédio <strong>de</strong> uma ponte (ponte do Loy<strong>de</strong>), a Ilha, além do manguezal, abriga 14 km<br />
<strong>de</strong> contínua praia fluvial, <strong>de</strong>corrente do encontro entre as águas do rio Pardo e o<br />
mar.<br />
Ao norte da Ilha, durante a maré baixa, surgem gran<strong>de</strong>s bancos <strong>de</strong> areia, que<br />
permitem o acesso próximo à Praia do Japonês, na outra margem do rio.<br />
As casas foram construídas em torno <strong>de</strong> uma praça, a qual comporta uma<br />
igreja católica, uma escola pública do 1º ciclo fundamental (Figura 17) e a APEMA -<br />
Associação <strong>dos</strong> Pescadores, Marisqueiros e Moradores <strong>de</strong> Atalaia.<br />
Figura 17. Escola Casimiro Luiz Gomes, localizada na Ilha <strong>de</strong> Atalaia.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> o. Gaião<br />
43
A comunida<strong>de</strong> pesqueira habita a região sul da Ilha, da qual extraem peixes,<br />
crustáceos e moluscos para subsistência, porém a comercialização <strong>dos</strong> mariscos<br />
vem <strong>de</strong>clinando sensivelmente há anos junto com o ecossistema manguezal.<br />
Segundo relatos <strong>de</strong> moradores da própria comunida<strong>de</strong>, na década <strong>de</strong> 80,<br />
mais precisamente entre os anos <strong>de</strong> 1988 e 1989, durante a gestão do prefeito<br />
Antônio Almir Santana Melo, foi construída uma estrada na Ilha <strong>de</strong> Atalaia, no intuito<br />
<strong>de</strong> permitir seu acesso <strong>de</strong> Norte (barra do Albino) a Sul (barra <strong>de</strong> Atalaia ou barra <strong>de</strong><br />
Canavieiras).<br />
Durante sua construção houve o aterramento do riacho Caerá. Apesar da<br />
prefeitura ter colocado duas manilhas para possibilitar a passagem da água, o fluxo<br />
da mesma é praticamente inexistente entre o manguezal e a re<strong>de</strong> hidrográfica do<br />
estuário. Um ano após o aterro, já era perceptível o seu efeito sobre o manguezal.<br />
“Mais ou menos um ano <strong>de</strong>pois o mangue foi morrendo, as folhas foram caindo e<br />
apodrecendo porque os caranguejos não conseguiam consumir tudo. A água<br />
salgada não entrava e o mangue morreu” relata Cláudia Pio, moradora da Ilha <strong>de</strong><br />
Atalaia.<br />
Os moradores da Ilha ainda alegam estar sendo impedi<strong>dos</strong> por proprietários<br />
<strong>de</strong> terras <strong>de</strong> acessar <strong>de</strong>terminas áreas <strong>de</strong> manguezal, <strong>de</strong>vido à apicultura (Figura<br />
18), e alguns afirmam já terem sofrido ataques das abelhas enquanto se dirigiam<br />
para o manguezal.<br />
44
Campinhos<br />
Figura 18. Apicultura em área <strong>de</strong> manguezal na Ilha <strong>de</strong> Atalaia.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Campinhos (Figura 12) localiza-se na região extremo sul do município <strong>de</strong><br />
Canavieiras, distando 8,3 km da cida<strong>de</strong>. A extensão territorial abrangida pelo<br />
manguezal é <strong>de</strong> 26,7% <strong>de</strong> todo o município, o que correspon<strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 1.976 ha.<br />
O acesso ao povoado ocorre por via fluvial.<br />
A comunida<strong>de</strong> é tipicamente pesqueira, predominando a extração <strong>de</strong><br />
mariscos do manguezal, que são comercializa<strong>dos</strong> to<strong>dos</strong> os sába<strong>dos</strong> no porto da<br />
cida<strong>de</strong> a partir das 5:30 da manhã. Para a<strong>de</strong>ntrar no manguezal, os moradores<br />
utilizam um petrecho, criado por eles mesmos, o qual não vimos e nem ouvimos<br />
menção em nenhuma das outras comunida<strong>de</strong>s pesquisadas: uma bota<br />
confeccionada com câmara <strong>de</strong> ar, que segundo eles, confere total proteção aos pés<br />
(Figura 19 e 20).<br />
45
Figura 20. Bota confeccionada com câmara <strong>de</strong> ar<br />
(vista frontal).<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Figura 19. Bota confeccionada com câmara <strong>de</strong> ar<br />
(vista lateral).<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
No centro do povoado localiza-se o prédio escolar (Figura 21), contudo havia<br />
alguns meses que as aulas não estavam sendo ministradas. As mesmas foram<br />
suspensas <strong>de</strong>vido a um <strong>de</strong>sentendimento entre a proprietária do terreno on<strong>de</strong> foi<br />
construída a escola e a prefeitura.<br />
Uma vez por mês o prédio escolar é cedido, com o consentimento da<br />
proprietária do terreno, para realização das reuniões da Associação <strong>de</strong> Pescadores.<br />
46
Figura 21. Escola Dona Maria <strong>dos</strong> Santos, localizada em Campinhos.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> o. Gaião<br />
Durante a visita ao povoado visualizamos muito lixo espalhado pelo local<br />
(Figura 22), o que parece ser uma constante <strong>de</strong> acordo com relatos <strong>dos</strong> próprios<br />
moradores.<br />
Figura 22. Lixo espalhado pelo povoado <strong>de</strong> Campinhos.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> o. Gaião<br />
47
Instituições contatadas<br />
Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20<br />
Esta pesquisa foi iniciada através do contato com a Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-<br />
20 (Figura 23), principal associação <strong>de</strong> pescadores da região. Informamos o teor da<br />
pesquisa e revelamos a pretensão <strong>de</strong> realizarmos um estudo com fins acadêmicos.<br />
Tentamos fazer, junto a esta instituição, o levantamento <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong><br />
guaiamum, no entanto a mesma não possuía estas informações.<br />
Foram sugeridas, pelos administradores da associação, durante conversa<br />
informal, como áreas <strong>de</strong> estudo as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atalaia, Barra Velha,<br />
Campinhos, Oiticica, Puxim do Sul, Puxim <strong>de</strong> Fora e Se<strong>de</strong> do município, por serem<br />
localida<strong>de</strong>s com consi<strong>de</strong>rável área <strong>de</strong> manguezal. Decidimos por trabalhar em todas<br />
as áreas sugeridas, com exceção da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Puxim <strong>de</strong> Fora por esta<br />
encontrar-se em uma área <strong>de</strong> difícil acesso (Figura 12), requerendo, por isso, maior<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo e transporte específico para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
pesquisa em questão.<br />
Dias <strong>de</strong>pois participamos como espectadores, <strong>de</strong> uma reunião realizada na<br />
se<strong>de</strong> da própria Colônia (Figura 24), na qual fomos apresenta<strong>dos</strong>, pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
Reinvil Fernan<strong>de</strong>s Costa, à comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pescadores, incluindo <strong>catadores</strong> <strong>de</strong><br />
caranguejos e marisqueiros. Durante toda a execução da pesquisa mantivemos<br />
contato com a Colônia <strong>de</strong> Pescadores, a qual foi visitada diversas outras vezes.<br />
48
Figura 23. Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
As comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atalaia, Barra Velha, Campinhos, Oiticica e Puxim do Sul,<br />
apresentam, cada uma, em seu povoado uma associação representativa, algumas<br />
compostas também por moradores que não praticam nenhum tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />
pesqueira. A comunida<strong>de</strong> da Se<strong>de</strong> do município é a única que não possui<br />
associação local, sendo representada apenas pela Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20.<br />
Figura 24. Reunião realizada na se<strong>de</strong> da Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
49
Apesar <strong>de</strong> possuírem certa autonomia, as associações estão <strong>de</strong> alguma<br />
forma subordinadas a Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20. Abaixo estão listadas as<br />
Associações e seus respectivos presi<strong>de</strong>ntes no período <strong>de</strong> execução da pesquisa:<br />
Associação <strong>dos</strong> Pescadores, Marisqueiros e Moradores <strong>de</strong> Atalaia - Carlos Alberto Pinto <strong>dos</strong> Santos<br />
Associação <strong>de</strong> Pescadores e Extrativistas <strong>de</strong> Barra Velha - Arion Teixeira Teles Filho<br />
Associação <strong>de</strong> Pescadores <strong>dos</strong> Campinhos - João Gonçalves Santana<br />
Associação <strong>de</strong> Pescadores <strong>de</strong> Oiticica – Anail<strong>de</strong>s Santos <strong>de</strong> Souza<br />
Associação <strong>de</strong> Pescadores do Puxim do Sul - A<strong>de</strong>lito Oliveira Avelino<br />
Posteriormente participamos <strong>de</strong> duas outras reuniões, uma sediada na<br />
comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barra Velha e a outra em Campinhos. Em ambas nos foi dada a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar uma sucinta explanação sobre o projeto. Em tais reuniões<br />
nos foi oferecido formalmente o apoio das respectivas li<strong>de</strong>ranças locais.<br />
Em momento oportuno, estabelecemos contato informal com representantes<br />
das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atalaia, Puxim do Sul e Oiticica.<br />
ECOTUBA<br />
Simultaneamente à parceria com a Colônia <strong>de</strong> Pescadores, estabelecemos<br />
contato com a ONG ECOTUBA (Instituto <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong> Ambientes Litorâneos<br />
da Mata Atlântica), que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996 estuda o manguezal do município <strong>de</strong><br />
Canavieiras.<br />
Nossa primeira reunião ocorreu na se<strong>de</strong> da ONG situada no Hotel<br />
Transamérica, on<strong>de</strong> fomos recebi<strong>dos</strong> pelos biólogos An<strong>de</strong>rs Jensen Schmidt e<br />
Maurício Arantes <strong>de</strong> Oliveira. Nesta oportunida<strong>de</strong> nos foram passadas algumas<br />
informações sobre as áreas <strong>de</strong> manguezal da região e material bibliográfico acerca<br />
do tema abordado na nossa pesquisa.<br />
50
Além <strong>de</strong> outras visitas a se<strong>de</strong> da ONG, nos foi oportunizada a participação<br />
como ouvintes em uma reunião informal entre duas integrantes da organização<br />
Marion May e Sara Maria Brito Araújo, também biólogas, após as mesmas<br />
realizarem pesquisa no porto <strong>de</strong> Canavieiras (Figura 25).<br />
Em outro momento fomos convida<strong>dos</strong> pelo geógrafo da ECOTUBA, El<strong>de</strong>r<br />
Pedreira <strong>de</strong> Souza, a observar uma das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo nas áreas <strong>de</strong> apicum,<br />
<strong>de</strong>senvolvida numa localida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominada “Ilha da Passagem” (Figura 26).<br />
Figura 25. Reunião realizada na casa <strong>de</strong> uma das integrantes da ECOTUBA.<br />
Em <strong>de</strong>staque da esquerda para a direita: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião e<br />
Marion May. Foto: Autor in<strong>de</strong>terminado.<br />
Figura 26. Ilha da Passagem. Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
51
Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Canavieiras<br />
Por meio <strong>de</strong> uma reunião na Prefeitura <strong>de</strong> Canavieiras (Figura 27),<br />
estabelecemos contato com os senhores Jackson Ferreira Souza (Assessor <strong>de</strong> Meio<br />
Ambiente), João Elias Ribeiro (Secretário <strong>de</strong> Administração), Abel Lisboa (Secretário<br />
do Interior) e Gilmar Avelar Oliveira (Secretário <strong>de</strong> Turismo). Também estavam<br />
presentes os professores Henrique Tomé da Costa Mata e Salvador Dal Pozzo<br />
Trevizan.<br />
Dentre diversos assuntos aborda<strong>dos</strong>, foi solicitada pelos professores, a<br />
formação <strong>de</strong> uma parceria entre a Prefeitura <strong>de</strong> Canavieiras e a pesquisa em<br />
questão, através da qual conseguimos material bibliográfico sobre o município e<br />
registros fotográficos <strong>dos</strong> manguezais.<br />
Figura 27. Reunião sediada na Prefeitura do município <strong>de</strong> Canavieiras. Em<br />
<strong>de</strong>staque da esquerda para a direita: Henrique, Jackson, Gilmar,<br />
João, Abel, Salvador e Luciana. Foto: Autor in<strong>de</strong>terminado.<br />
52
Trajetória <strong>de</strong> campo<br />
Primeiro grupo do estudo: <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum<br />
Foram entrevista<strong>dos</strong> quinze <strong>catadores</strong> 17 adultos que trabalham com o<br />
guaiamum, nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atalaia, Barra Velha, Campinhos, Oiticica, Puxim<br />
do Sul e Se<strong>de</strong> do município, situadas no município <strong>de</strong> Canavieiras, que tinham<br />
experiência na captura e/ou eram reconheci<strong>dos</strong> nas comunida<strong>de</strong>s como <strong>de</strong>tentores<br />
<strong>de</strong> conhecimentos referentes à captura ou utilização <strong>de</strong>sse crustáceo.<br />
To<strong>dos</strong> os entrevista<strong>dos</strong> respon<strong>de</strong>ram a um questionário (Anexo 2) centrado<br />
semi-estruturado, com questões abertas e fechadas. Durante as entrevistas<br />
procurou-se utilizar termos do linguajar nativo, a fim <strong>de</strong> facilitar a comunicação.<br />
Tentamos iniciar nossas entrevistas em Puxim do Sul, on<strong>de</strong> fomos<br />
acompanha<strong>dos</strong> pelo biólogo An<strong>de</strong>rs da ONG ECOTUBA, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996 estuda o<br />
manguezal do município <strong>de</strong> Canavieiras. Entretanto, não conseguimos i<strong>de</strong>ntificar<br />
nenhum catador <strong>de</strong> guaiamum nessa e em nenhuma das outras visitas.<br />
Na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atalaia fomos cordialmente recebi<strong>dos</strong> por to<strong>dos</strong> os<br />
moradores com quem estabelecemos contato. Lá conhecemos a senhora Cláudia<br />
Pio Anjos da Silva, marisqueira há trinta anos, a quem, posteriormente, tivemos o<br />
prazer <strong>de</strong> acompanhar diversas vezes em suas ativida<strong>de</strong>s rotineiras <strong>de</strong> captura.<br />
Através <strong>de</strong>la, fomos apresenta<strong>dos</strong> ao presi<strong>de</strong>nte da APEMA, senhor Carlos Alberto,<br />
e i<strong>de</strong>ntificamos duas catadoras <strong>de</strong> guaiamum na comunida<strong>de</strong>.<br />
Em todas as visitas a Campinhos e a Barra Velha fomos acompanha<strong>dos</strong> por<br />
um representante da Colônia <strong>de</strong> Pescadores <strong>de</strong> Canavieiras. Nelas conhecemos os<br />
representantes <strong>de</strong> ambas as associações <strong>de</strong> pescadores e conseguimos i<strong>de</strong>ntificar<br />
dois <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum, um em cada comunida<strong>de</strong>.<br />
17<br />
Nesta pesquisa usamos a palavra “catador” para <strong>de</strong>signar os indivíduos que trabalham com a<br />
extração e/ou captura <strong>de</strong> caranguejos.<br />
53
Quando começamos a aplicar os questionários na Se<strong>de</strong> do município já<br />
éramos conheci<strong>dos</strong> por muitos <strong>catadores</strong> e até mesmo por alguns moradores da<br />
cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à participação em uma das reuniões da Colônia, na qual fomos<br />
apresenta<strong>dos</strong> aos pescadores, e as nossas constantes visitas a essa instituição.<br />
A primeira tentativa <strong>de</strong> aplicação <strong>dos</strong> questionários em Oiticica foi complicada<br />
<strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> uma pessoa que pu<strong>de</strong>sse nos apresentar, transmitindo<br />
confiança aos moradores da comunida<strong>de</strong>. Contudo, nas visitas subseqüentes fomos<br />
encontrando menor resistência, em <strong>de</strong>corrência do trabalho realizado nos <strong>de</strong>mais<br />
povoa<strong>dos</strong>.<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> algumas entrevistas foram realiza<strong>dos</strong> ainda registros<br />
fotográficos, relatos orais, observações diretas e entrevistas centradas informais.<br />
Para as duas últimas, foi necessário o uso <strong>de</strong> um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> campo no qual<br />
registramos as observações, reflexões e conversas informais realizadas com os<br />
<strong>catadores</strong>.<br />
Segundo grupo do estudo: proprietários <strong>de</strong> estabelecimentos gastronômicos<br />
Também aplicamos um questionário (Anexo 3) centrado semi-estruturado aos<br />
proprietários <strong>de</strong> estabelecimentos gastronômicos situa<strong>dos</strong> na Praia da Costa (Ilha <strong>de</strong><br />
Atalaia), principal praia turística do município <strong>de</strong> Canavieiras.<br />
Entretanto, um clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança foi constante durante todo o trabalho <strong>de</strong><br />
campo, o que comprometeu a abordagem a certos estabelecimentos gastronômicos,<br />
pois estes temiam que se tratasse <strong>de</strong> fiscalização do IBAMA. Destarte, os<br />
questionários foram aplica<strong>dos</strong> em nove <strong>dos</strong> doze estabelecimentos gastronômicos<br />
ativos ao longo da praia no período <strong>de</strong> execução da pesquisa.<br />
54
Optamos, também, por gravar a estrutura física <strong>dos</strong> estabelecimentos<br />
gastronômicos mediante fotografia digital, registrada com uma câmera digital (HP<br />
photosmart E217, 4,0 megapixels e zoom digital <strong>de</strong> 4x).<br />
Instrumentos utiliza<strong>dos</strong> para a aquisição <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> primários<br />
Entrevista centrada Semi-estruturada<br />
A principal técnica <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> utilizada nesta pesquisa foi a entrevista<br />
centrada semi-estruturada.<br />
De acordo com Marconi & Lakatos (1999), a entrevista permite um maior<br />
aprofundamento do assunto abordado, po<strong>de</strong>ndo ser qualificada em (1) estruturada,<br />
constituída por perguntas previamente formuladas não permitindo a inclusão <strong>de</strong><br />
novas questões, e (2) não-estruturada, na qual o informante tem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
abordar o tema proposto em qualquer direção que consi<strong>de</strong>re a<strong>de</strong>quada.<br />
A entrevista semi-estruturada é caracterizada pela formulação da maioria das<br />
perguntas previstas com antecedência, sendo sua localização provisoriamente<br />
<strong>de</strong>terminada (COLOGNESE & MÉLO, 1998). Contudo, <strong>de</strong> acordo com a resposta<br />
emitida pelo entrevistado novo(s) questionamento(s) era(m) formulado(s) a fim <strong>de</strong><br />
confirmar a sua opinião sobre <strong>de</strong>terminado assunto e/ou extrair mais informações<br />
referentes ao tema abordado.<br />
Observação<br />
A observação direta foi realizada como forma <strong>de</strong> complementar a coleta <strong>de</strong><br />
da<strong>dos</strong>. Segundo Falcão (2007), a observação simples é realizada sem <strong>de</strong>terminar a<br />
priori quais os aspectos relevantes a observar e quais meios <strong>de</strong>vem-se utilizar para<br />
observá-los. Trata-se <strong>de</strong> uma observação exploratória. É apropriada para estu<strong>dos</strong><br />
55
qualitativos cujos "os da<strong>dos</strong> são compostos por <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong> situações,<br />
acontecimentos, pessoas, interações e comportamentos observa<strong>dos</strong>; citações<br />
diretas das pessoas em relação à suas experiências, atitu<strong>de</strong>s, crenças,<br />
pensamentos; enxertos ou passagens inteiras <strong>de</strong> documentos, correspondência,<br />
registro e histórias <strong>de</strong> casos".<br />
Cruz Neto (1994) cita a observação como estratégia perceptiva <strong>de</strong> situações<br />
ou fenômenos que não são percebi<strong>dos</strong> por meio <strong>de</strong> perguntas. Essa técnica<br />
possibilita a obtenção <strong>de</strong> informações sobre a realida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> informantes em seu<br />
próprio contexto, transmitindo fielmente a realida<strong>de</strong> estudada.<br />
Entrevista centrada informal<br />
A entrevista informal é, geralmente, utilizada com o objetivo <strong>de</strong> estabelecer<br />
um rapport, confiança mútua, com os informantes. (GIL, 1999), permitindo a<br />
compreensão <strong>de</strong> alguns comportamentos <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> que não po<strong>de</strong>m ser<br />
explica<strong>dos</strong> <strong>de</strong> forma objetiva através do uso exclusivo <strong>de</strong> observações.<br />
De acordo com Wielewicki (2001), a entrevista informal <strong>de</strong>tém o tom<br />
confessional que, aparentemente liberando quem fala <strong>de</strong> um peso que o incomoda,<br />
<strong>de</strong>ixa o entrevistado exposto e vulnerável, propiciando uma enxurrada <strong>de</strong><br />
informações.<br />
Registro fotográfico<br />
Samain (1995) retrata em seu artigo a relação entre Malinowski e a fotografia,<br />
evi<strong>de</strong>nciando a complementarida<strong>de</strong> entre texto e imagem no discurso científico,<br />
on<strong>de</strong> ambos juntos apresentam uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>dos</strong> sem a perda da auto-<br />
suficiência.<br />
56
A autora ainda relata a fotografia como uma importante fonte i<strong>de</strong>ntitária da<br />
socieda<strong>de</strong> local capaz <strong>de</strong> tornar uma cena reapresentável sugerindo uma gama <strong>de</strong><br />
aspectos sociais e culturais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> conhecimentos específicos prévios.<br />
Relato oral<br />
O relato oral é marcado pelo contato persuasivo e direto entre os locutores,<br />
permitindo a apreensão da subjetivida<strong>de</strong> na forma <strong>de</strong> um pensamento externalizado<br />
que po<strong>de</strong> ser reelaborado no ato <strong>de</strong> sua reprodução (FERNANDES, 2005).<br />
Queiroz (1988), aponta esta técnica como um importante instrumento<br />
metodológico ao afirmar que o relato oral é o termo amplo que recobre uma<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições a respeito <strong>de</strong> fatos não registra<strong>dos</strong> por outro tipo <strong>de</strong><br />
documentação ou cuja documentação se quer completar.<br />
Instrumentos utiliza<strong>dos</strong> para a aquisição <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> secundários<br />
Os da<strong>dos</strong> secundários que compuseram a pesquisa foram obti<strong>dos</strong> das<br />
seguintes fontes:<br />
• Da<strong>dos</strong> sobre saneamento: município <strong>de</strong> Canavieiras, banco <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> do<br />
DATASUS;<br />
• Da<strong>dos</strong> sócio-econômicos e históricos: IBGE, SEI;<br />
• Da<strong>dos</strong> sobre o ambiente estudado e mapas: IBGE, MMA, PANGEA;<br />
• Pesquisa bibliográfica: Biblioteca da UESC;<br />
• Internet.<br />
Análise e interpretação <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong><br />
A análise <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong>, primários e secundários, ocorreu por meio <strong>de</strong> leitura<br />
meticulosa das informações obtidas visando à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> categorias<br />
<strong>de</strong>scritivas.<br />
57
Os da<strong>dos</strong> foram reuni<strong>dos</strong> em tabelas e quadros, com distribuição simples das<br />
variáveis que foram consi<strong>de</strong>radas fundamentais para <strong>de</strong>scrição da área, do<br />
guaiamum e da população envolvida com este recurso, permitindo a discussão e<br />
elaboração <strong>de</strong> novas perguntas.<br />
Os cálculos necessários foram realiza<strong>dos</strong> com o auxílio <strong>dos</strong> programas Excel ®<br />
e Sphinx Lexica ® que permitiram organizar as variáveis e estimar os parâmetros das<br />
variáveis quantitativas. Algumas variáveis foram recodificadas e reagrupadas <strong>de</strong>vido<br />
a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos da<strong>dos</strong> na pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
58
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Perfil sócio-econômico da população humana envolvida com a captura e/ou<br />
comercialização do guaiamum no município <strong>de</strong> Canavieiras<br />
"João Paulo (...) para com a água a altura<br />
<strong>dos</strong> tornozelos e faz pipi <strong>de</strong>ntro d’água. (...)<br />
avança mais para frente, abaixa-se, lava o rosto<br />
na água barrenta da maré (...). Bochecha forte<br />
um pouco d’água para lavar a boca e <strong>de</strong>pois<br />
lança a água longe."<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
O cotidiano <strong>de</strong> João Paulo, <strong>de</strong>scrito no romance “Homens e caranguejos”, é<br />
na verda<strong>de</strong> o reflexo do que é e do que tem sido a vida <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong><br />
caranguejos, um grupo economicamente marginal e pouco reconhecido entre outros<br />
pescadores artesanais.<br />
Assim como na citação <strong>de</strong> Josué <strong>de</strong> Castro a maioria das residências <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum entrevista<strong>dos</strong> localizava-se em áreas <strong>de</strong> risco, sujeita à<br />
influência da maré bem como a presença <strong>de</strong> mosquitos. Essa imposição garantia o<br />
substrato em que seriam alicerçadas as suas moradias colocando-os em contato<br />
direto com o ambiente <strong>de</strong> trabalho.<br />
A colonização do município <strong>de</strong> Canavieiras teve início no século XVIII em<br />
Puxim do Sul, sendo realizada por brasileiros e portugueses fugindo <strong>de</strong> índios<br />
Pataxós. O cacau (Theobroma cacao) foi a primeira economia <strong>de</strong> sustentação do<br />
município atingindo o auge entre 1860 e 1890, o que acarretou o próprio <strong>de</strong>slanche<br />
da cida<strong>de</strong> (CEPLAC, 1980). No entanto, no início da década <strong>de</strong> 1980 a lavoura<br />
59
cacaueira foi acometida pela “vassoura-<strong>de</strong>-bruxa” 18 , <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando o seu <strong>de</strong>clínio e<br />
trazendo consigo o <strong>de</strong>semprego, o êxodo rural e a favelização (CARVALHO, 2004).<br />
Gran<strong>de</strong> parte <strong>dos</strong> <strong>de</strong>semprega<strong>dos</strong> da crise do cacau foi acolhida pelo<br />
manguezal. Para os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejo este ecossistema representava a fonte<br />
<strong>de</strong> subsistência <strong>de</strong> suas famílias, contudo, para os novos habitantes, o manguezal<br />
significava apenas o pedaço <strong>de</strong> terra on<strong>de</strong> construiriam seus toscos casebres.<br />
Passa<strong>dos</strong> mais <strong>de</strong> vinte anos, a condição subumana presente na realida<strong>de</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> permanece imutável, o que pu<strong>de</strong>mos comprovar através <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong><br />
obti<strong>dos</strong> durante esta pesquisa.<br />
A maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> possui habitação própria (Gráfico 1) através da<br />
auto-construção, que segundo Corrêa (1993), é um recurso característico das<br />
classes menos favorecidas. Os <strong>de</strong>mais entrevista<strong>dos</strong> resi<strong>de</strong>m em moradias cedidas<br />
por parentes ou amigos. Vargas e Weisshanpt (1985) obtiveram resultado<br />
semelhante com <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejo-uçá no estado <strong>de</strong> Sergipe.<br />
4<br />
11<br />
Própria<br />
Cedida<br />
Gráfico 1. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à habitação.<br />
18<br />
Enfermida<strong>de</strong> que acarreta a morte da planta por inanição, uma vez que as partes ver<strong>de</strong>s são<br />
progressivamente <strong>de</strong>struídas.<br />
60
Quanto à estrutura física das casas, <strong>de</strong>z <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> construíram suas<br />
moradias com tábua, piso <strong>de</strong> cimento e telhado <strong>de</strong> cerâmica (Figura 28). Os <strong>de</strong>mais<br />
alocaram-se em casas <strong>de</strong> alvenaria ou taipa com telhado <strong>de</strong> zinco.<br />
A<br />
Figura 28. Habitação construída com tábua, piso <strong>de</strong> cimento e telhado <strong>de</strong> cerâmica. (A) Parte exter-<br />
na. (B) Parte interna. Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
As condições sanitárias são precárias, nenhum <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> dispõe <strong>de</strong><br />
esgotamento sanitário (Gráfico 2). Ao total, onze <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> possuem fossa em<br />
suas casas, <strong>de</strong>stas, quatro são abertas (Figura 29). Apenas três <strong>catadores</strong> não<br />
possuem banheiro em casa, <strong>de</strong>fecando no mato ou na beira do rio. Esta não é uma<br />
realida<strong>de</strong> apenas <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong>, segundo da<strong>dos</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong>/DATASUS<br />
(2000) apenas 0,8% <strong>dos</strong> moradores do município <strong>de</strong> Canavieiras têm re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto<br />
sanitário.<br />
A maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> não possui água tratada (Gráfico 3), fazendo uso<br />
<strong>de</strong> rios e poços artificiais, <strong>de</strong> forma que a água é ingerida sem nenhum tipo <strong>de</strong><br />
tratamento. Apenas os moradores da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atalaia possuem água<br />
encanada. Um contra senso, pois <strong>de</strong> acordo com o Ministério da Saú<strong>de</strong>/DATASUS<br />
(2000) 62,8% das residências do município <strong>de</strong> Canavieiras dispõem <strong>de</strong> água tratada.<br />
B<br />
61
A<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
7<br />
Fossa aberta Fossa fechada<br />
Destino do esgoto<br />
Rio<br />
Gráfico 2. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao <strong>de</strong>stino do esgoto.<br />
Figura 29. (A) Sanitário fora da casa. (B) Chão do sanitário. (C) Dejetos humanos <strong>de</strong>ntro do sanitário.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
4<br />
B<br />
C<br />
1<br />
62
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
12<br />
1<br />
Poço artificial Rio<br />
Abastecimento <strong>de</strong> água<br />
Re<strong>de</strong> Pública<br />
Gráfico 3. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao abastecimento <strong>de</strong> água.<br />
A energia elétrica é acessível para os moradores das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Oiticica, Puxim do Sul, Se<strong>de</strong> e Atalaia. Os que habitam em Barra Velha utilizam<br />
energia solar, resultado <strong>de</strong> uma ação do Governo Estadual através da CAR<br />
(Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento e Ação Regional).<br />
A exclusão elétrica ocorre apenas em Campinhos. Segundo informações da<br />
COELBA (2007), o Programa do Governo Fe<strong>de</strong>ral “Luz para To<strong>dos</strong>” 19 encontra-se<br />
com pendências, estando em execução dois Licenciamentos Ambientais: um em<br />
estudo na COELBA e outro em análise no CRA.<br />
A captura do guaiamum <strong>de</strong>senvolvida no município <strong>de</strong> Canavieiras é<br />
predominantemente masculina (Gráfico 4), sendo pequeno o número <strong>de</strong> mulheres<br />
que trabalham com esse crustáceo. Essa constatação é similar a <strong>de</strong> Vergara Filho e<br />
Pereira Filho (1995) para a maioria <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> brasileiros, havendo exceções<br />
apenas em algumas localida<strong>de</strong>s, como São João da Barra (RJ) on<strong>de</strong> o número <strong>de</strong><br />
mulheres catadoras <strong>de</strong> caranguejo é o triplo <strong>dos</strong> homens.<br />
19 O programa “Luz para To<strong>dos</strong>” <strong>de</strong>stina-se ao atendimento da população resi<strong>de</strong>nte no meio rural,<br />
com priorida<strong>de</strong> para as cida<strong>de</strong>s com Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH) inferior à média do<br />
Estado e localida<strong>de</strong>s com atendimento energético inferior a 85%.<br />
2<br />
63
Durante a aplicação <strong>dos</strong> questionários, os <strong>catadores</strong> fizeram menção a<br />
gran<strong>de</strong> força nas quelas do guaiamum, o que po<strong>de</strong> vir a explicar a predominância<br />
masculina nessa ativida<strong>de</strong>.<br />
5<br />
10<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
Gráfico 4. Catadores <strong>de</strong> guaiamum <strong>de</strong> acordo com o sexo.<br />
A maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> resi<strong>de</strong> na Se<strong>de</strong> (Gráfico 5), zona urbana do<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras, on<strong>de</strong> a proximida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> turistas facilita a comercialização<br />
do guaiamum, aumentando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha. Nenhum catador <strong>de</strong> guaiamum foi<br />
encontrado na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Puxim do Sul, no entanto, percebemos, durante as<br />
observações <strong>de</strong> campo, o predomínio das marisqueiras.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
1 1 1<br />
Oiticica Campinhos Barra<br />
Velha<br />
2<br />
Comunida<strong>de</strong><br />
10<br />
Atalaia Se<strong>de</strong> Puxim do<br />
Sul<br />
Gráfico 5. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à comunida<strong>de</strong> em que resi<strong>de</strong>m.<br />
0<br />
64
Em Canavieiras, o guaiamum ainda é um caranguejo pouco explorado junto<br />
aos mais jovens que po<strong>de</strong>m vir a ser os potenciais perpetuadores e multiplicadores<br />
<strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. A estrutura etária mostrou que a ida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> variou <strong>de</strong><br />
18 a 68 anos, com média <strong>de</strong> 41 anos (Gráfico 6). Entre o sexo masculino a ativida<strong>de</strong><br />
é explorada, predominantemente, por pessoas que se encontram no auge da faixa<br />
<strong>dos</strong> economicamente ativos (30 a 39 anos).<br />
Apesar <strong>de</strong> 70% <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> resi<strong>de</strong>ntes na Se<strong>de</strong> terem ida<strong>de</strong> superior a 30<br />
anos é nesta área que estão concentra<strong>dos</strong> os indivíduos mais jovens. Nas<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atalaia, Barra Velha, Campinhos e Oiticica os entrevista<strong>dos</strong> não<br />
apresentaram ida<strong>de</strong> inferior a 30 anos.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
10 a 19<br />
2<br />
20 a 29<br />
1<br />
30 a 39<br />
4<br />
40 a 49<br />
2 2<br />
50 a 59<br />
Faixa etária (anos)<br />
60 a 69<br />
3<br />
Não respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 6. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à faixa etária.<br />
As comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Barra Velha e Campinhos situam-se em local <strong>de</strong> difícil<br />
acesso e são habitadas por populações tradicionalmente pesqueiras. A diminuição<br />
<strong>dos</strong> recursos extraí<strong>dos</strong> do manguezal provocada <strong>de</strong>ntre outros motivos pela sobre-<br />
exploração, obriga os jovens a abandonarem essa tradicional profissão, presente a<br />
diversas gerações em suas famílias, na busca por novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho.<br />
1<br />
65
Ao traçarmos um perfil <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> quanto ao local <strong>de</strong> origem <strong>dos</strong><br />
mesmos, constatamos que, a maioria <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> é proveniente do próprio<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras (Gráfico 7). Os <strong>de</strong>mais são naturais <strong>de</strong> Belmonte,<br />
Camacan, Ituberá, Salvador e Ubatã, também municípios do estado da Bahia.<br />
Segundo os entrevista<strong>dos</strong>, essa dinâmica migratória <strong>de</strong>veu-se ao <strong>de</strong>semprego e a<br />
busca por moradia.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Canavieiras<br />
8<br />
Belmonte<br />
1 1 1 1 1<br />
Camacan<br />
Itubera<br />
Salvador<br />
Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem<br />
Ubatã<br />
Não respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 7. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem.<br />
Em relação ao estado civil, sete <strong>dos</strong> quinze <strong>catadores</strong> constituem união não<br />
oficializada em igreja ou cartório, o que ocorre possivelmente <strong>de</strong>vido à baixa<br />
condição financeira <strong>de</strong>ssa população (Gráfico 8). De acordo com Silva (2004b), nas<br />
socieda<strong>de</strong>s pesqueiras a ativida<strong>de</strong> se dá no âmbito familiar, sendo assim, os<br />
casamentos auxiliam na formação <strong>dos</strong> grupos <strong>de</strong> pesca, geralmente constituí<strong>dos</strong> por<br />
membros da família.<br />
2<br />
66
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2 2<br />
1<br />
Solteiro Separado Viúvo<br />
Estado civil<br />
Casado Amigado<br />
Gráfico 8. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao estado civil.<br />
Dentre os entrevista<strong>dos</strong>, registrou-se composição média <strong>de</strong> 4,7 pessoas por<br />
domicílio, sendo constituídas por parentes <strong>de</strong> primeiro grau (irmãos, pais e filhos)<br />
e/ou agrega<strong>dos</strong> (netos, cunha<strong>dos</strong>, genros e noras).<br />
Nove <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> já constituíram família, tendo <strong>de</strong> um a oito filhos<br />
(Gráfico 9). As famílias apresentam média <strong>de</strong> 3,6 filhos resi<strong>de</strong>ntes com os pais, o<br />
que representa 76,6% do total <strong>de</strong> indivíduos por domicílio. De um modo geral, a<br />
média verificada mostrou-se elevada comparando-se com o IBGE/PNAD (2004) cuja<br />
taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> da região Nor<strong>de</strong>ste estava em 2,3 nascimentos por mulher.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
4<br />
1 a 2 3 a 4 5 a 6 7 a 8<br />
Número <strong>de</strong> Filhos<br />
Gráfico 9. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao número <strong>de</strong> filhos.<br />
3<br />
2<br />
7<br />
1<br />
67
A maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> cursou parte do 1º ciclo do Ensino Fundamental<br />
(Gráfico 10). Somente três indivíduos se <strong>de</strong>clararam alfabetiza<strong>dos</strong>. O baixo nível <strong>de</strong><br />
instrução observado entre os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum, também foi constatado por<br />
Albuquerque et al. (2003), entre habitantes do manguezal <strong>de</strong> Itambi (RJ), cujo nível<br />
<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> predominante foi o 1º ciclo do Ensino Fundamental com 36,88%.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Analfabeto<br />
3<br />
Alfabetizado<br />
1<br />
1º ciclo do E.F.<br />
6<br />
Escolarida<strong>de</strong><br />
2º ciclo do E.F.<br />
1<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 10. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao grau <strong>de</strong> escolari-<br />
da<strong>de</strong>, (E.F. = Ensino Fundamental).<br />
Nenhum <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> chegou a cursar o Ensino Médio. To<strong>dos</strong> os<br />
<strong>catadores</strong> que não respon<strong>de</strong>ram eram homens, provavelmente a omissão da<br />
resposta tenha ocorrido em função <strong>dos</strong> mesmos terem se constrangido em revelar o<br />
seu baixo ou ausente acesso a educação formal, já que foram entrevista<strong>dos</strong><br />
exclusivamente por mulheres. Consi<strong>de</strong>ramos para a construção do conceito da<br />
variável “analfabeto”, pessoas que não sabem ler ou que apenas escrevem seu<br />
próprio nome.<br />
Essa realida<strong>de</strong> é previsível, consi<strong>de</strong>rando que uma expressiva proporção <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum encontra-se atualmente na faixa etária <strong>de</strong> 40 a 69 anos,<br />
4<br />
68
cujo estudo durante a infância e adolescência era uma árdua tarefa, <strong>de</strong>vido às<br />
escolas não estarem tão acessíveis como atualmente.<br />
Os da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> quanto à escolarida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> nos remetem a<br />
uma análise social, cujas evidências apontam para o fato <strong>de</strong> que muitas vezes o<br />
acesso à educação formal, direito básico do cidadão, não contempla <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong><br />
segmentos da socieda<strong>de</strong>, especialmente os forma<strong>dos</strong> pela população <strong>de</strong> baixa<br />
renda. Alves e Nishida (2003) ressaltam que o abandono <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> e a inserção<br />
no mercado <strong>de</strong> trabalho resultam do contexto social e econômico em que essas<br />
comunida<strong>de</strong>s estão inseridas, no qual o sucesso escolar constitui uma exceção.<br />
A análise <strong>dos</strong> questionários mostrou que o tempo médio <strong>de</strong> atuação como<br />
catador <strong>de</strong> guaiamum é <strong>de</strong> 18,5 anos entre os homens e <strong>de</strong> 8,0 anos entre as<br />
mulheres, o que reafirma a predominância masculina na execução <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>.<br />
Mediante os da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong>, po<strong>de</strong>-se observar que to<strong>dos</strong> os indivíduos<br />
amostra<strong>dos</strong> possuem rendimento mensal inferior a um salário mínimo vigente (R$<br />
380,00) (Gráfico 11), com média <strong>de</strong> R$ 275,00 entre os homens e R$ 160,00 entre<br />
as mulheres. Esses valores são pareci<strong>dos</strong> com os obti<strong>dos</strong> por Alves e Nishida<br />
(2003), <strong>de</strong> renda mensal menor que um salário mínimo para 50% <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong><br />
entrevista<strong>dos</strong> no estuário do rio Mamanguape, Nor<strong>de</strong>ste do Brasil.<br />
Segundo os testemunhos <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong>, com a mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> caranguejo-<br />
uçá (DCL), houve um aumento consi<strong>de</strong>rável na pressão <strong>de</strong> captura do guaiamum.<br />
Esse evento provocou uma diminuição das populações naturais <strong>de</strong>ssa espécie,<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando uma queda na renda mensal. De acordo com da<strong>dos</strong> do IBGE/PNAD<br />
(1999), a média nacional para renda mensal está situada em 2,1 salários mínimos<br />
para os emprega<strong>dos</strong> não registra<strong>dos</strong>, o que diverge consi<strong>de</strong>ravelmente da renda<br />
conseguida pelos <strong>catadores</strong> entrevista<strong>dos</strong>. Como conseqüência da situação<br />
69
<strong>de</strong>scrita, muitos <strong>catadores</strong> procuram um aditivo advindo <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s como a<br />
pesca, o trabalho rural e a extração e catação <strong>de</strong> outros mariscos.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2 2<br />
1 1<br />
até 100 101 a 200 201 a 300 Não<br />
Respon<strong>de</strong>u<br />
Renda mensal (R$)<br />
6<br />
1<br />
2<br />
0<br />
Homens<br />
Mulheres<br />
Gráfico 11. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao rendimento mensal.<br />
Quanto à profissão, <strong>de</strong>ntre as mulheres, a maioria se diz “marisqueira”,<br />
<strong>de</strong>nominação usada nas comunida<strong>de</strong>s estudadas para <strong>de</strong>signar, geralmente,<br />
mulheres que trabalham com a captura e catação (<strong>de</strong>scarne) do aratu (Goniopsi<br />
cruentata), e a extração <strong>dos</strong> moluscos sururu (Mytella sp.), ostra (Crassostrea<br />
rhizophorae) e lambreta (Lucina pectinata).<br />
Quando indaga<strong>dos</strong> quanto a sua profissão, apenas meta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> homens se<br />
auto-<strong>de</strong>nominaram “catador <strong>de</strong> caranguejo” (Gráfico 12). Três se <strong>de</strong>clararam<br />
“agricultor”, porém, no <strong>de</strong>correr da aplicação <strong>dos</strong> questionários percebemos que,<br />
para os entrevista<strong>dos</strong>, o termo “agricultor” é usado como sinônimo <strong>de</strong> “trabalhador<br />
rural”.<br />
Nas comunida<strong>de</strong>s estudadas, a expressão “catador <strong>de</strong> caranguejo” tem o<br />
mesmo significado que a palavra “caranguejeiro”, sendo ambas empregadas para<br />
pessoas que trabalham com a extração e captura <strong>dos</strong> caranguejos do manguezal:<br />
70
caranguejo-uçá (Uci<strong>de</strong>s cordatus), guaiamum (Cardisoma guanhumi) e o siri azul<br />
(Callinectes sp.).<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
5<br />
2<br />
Catador <strong>de</strong><br />
caranguejo<br />
3<br />
3<br />
1 1<br />
Agricultor Marisqueiro Pescador<br />
Profissão<br />
Homens<br />
Mulheres<br />
Gráfico 12. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à auto-<strong>de</strong>nominação da profissão.<br />
Dos entrevista<strong>dos</strong>, <strong>de</strong>z trabalham exclusivamente com o guaiamum (Gráfico<br />
13). Os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>senvolvem outra ativida<strong>de</strong> para complementar a renda familiar,<br />
relacionada à captura <strong>de</strong> outros crustáceos e moluscos ou a uma ativida<strong>de</strong> rural. Na<br />
pesquisa constatou-se que os outros crustáceos captura<strong>dos</strong> além do guaiamum são<br />
o caranguejo-uçá, o aratu e o siri azul; quanto aos moluscos são extraí<strong>dos</strong> sururu,<br />
ostra e lambreta. Os <strong>catadores</strong> relaciona<strong>dos</strong> à ativida<strong>de</strong> campestre atuam como<br />
trabalhador rural, principalmente nas fazendas <strong>de</strong> cacau e piaçava (Attalea funifera).<br />
71
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
10<br />
Guaiamum Guaiamum e outros mariscos<br />
Recurso retirado do manguezal<br />
Gráfico 13. Recurso retirado do manguezal pelos <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum.<br />
O item “bens duráveis” dá indicativo do grau <strong>de</strong> consumo das famílias e é<br />
diretamente <strong>de</strong>terminado pelo seu nível <strong>de</strong> renda. A renda mensal <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> um<br />
salário mínimo obtida pelos <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum, não permite que suas famílias<br />
disponham <strong>de</strong> muitos bens duráveis. Dessa forma a relação <strong>de</strong> bens das famílias é<br />
bastante mo<strong>de</strong>sta como po<strong>de</strong> ser averiguado no Gráfico 14.<br />
Dentre os bens duráveis adquiri<strong>dos</strong>, a televisão está presente na moradia <strong>de</strong><br />
quase dois terços <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong>, cuja principal utilida<strong>de</strong> é proporcionar<br />
momentos <strong>de</strong> lazer. Apesar <strong>de</strong> sete <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> possuírem fogão a gás, o alto<br />
preço do combustível inviabiliza a sua utilização, o que resulta na sua substituição<br />
pelo fogão à lenha.<br />
Dentre os vários significa<strong>dos</strong> existentes no dicionário Houaiss (2001) para a<br />
palavra consumir, dois são <strong>de</strong> especial relevância no contexto aqui discutido: (1)<br />
fazer uso <strong>de</strong>, gastar, utilizar, empregar; (2) comprar em <strong>de</strong>masia e freqüência sem<br />
necessida<strong>de</strong>. As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>scritas acima associadas aos da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> nesse<br />
estudo nos levaram a ratificação <strong>de</strong> que a disparida<strong>de</strong> na distribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong><br />
uma população ten<strong>de</strong> a provocar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo.<br />
5<br />
72
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Televisão<br />
9<br />
8<br />
Rádio<br />
Aparelho <strong>de</strong> CD<br />
1<br />
Gela<strong>de</strong>ira<br />
4<br />
Fogão<br />
7<br />
Liquidificador<br />
5<br />
Ferro elétrico<br />
Bens duráveis<br />
6<br />
Ventilador<br />
2<br />
Telefone fixo<br />
1 1<br />
Celular<br />
Gráfico 14. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto aquisição <strong>de</strong> bens duráveis.<br />
Os padrões insustentáveis <strong>de</strong> consumo e a produção existente,<br />
principalmente nos países industrializa<strong>dos</strong> ocasionam o agravamento da pobreza e<br />
da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, gerando maior pressão sobre os recursos naturais e o aumento<br />
<strong>dos</strong> impactos sobre o meio ambiente (BAILÃO, 2001). O direito ao meio ambiente<br />
está intimamente associado com o direito a um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, isto é,<br />
uma vida digna para to<strong>dos</strong>, com um padrão <strong>de</strong> consumo tal que preserve a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prover as necessida<strong>de</strong>s básicas das gerações vindouras.<br />
Apesar <strong>de</strong> dois terços <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> possuírem os documentos<br />
necessários para filiação na Colônia <strong>de</strong> Pescadores (Registro Geral, Cadastro <strong>de</strong><br />
Pessoa Física, Título Eleitoral e Carteira <strong>de</strong> Trabalho), como <strong>de</strong>monstrado no<br />
Gráfico 15, apenas meta<strong>de</strong> está associada a esta instituição. Quando questiona<strong>dos</strong><br />
sobre o motivo da não filiação à colônia, os entrevista<strong>dos</strong> alegaram não ser<br />
pescadores, o que <strong>de</strong>monstra a total carência <strong>de</strong> informação quanto à instituição e<br />
as benfeitorias proporcionadas pela mesma.<br />
73
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
12<br />
11<br />
10 10<br />
RG CPF TE CT<br />
Documento<br />
Gráfico 15. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto à posse <strong>de</strong> documentos<br />
(RG = Registro Geral; CPF = Cadastro <strong>de</strong> Pessoa Física;<br />
TE = Título Eleitoral; CT = Carteira <strong>de</strong> Trabalho).<br />
Com a promulgação da Constituição <strong>de</strong> 1988, a classe <strong>de</strong> pescadores passou<br />
a ter direitos a benefícios previ<strong>de</strong>nciários, tais como aposentadoria, seguro por<br />
aci<strong>de</strong>nte, pensão por morte, auxílio-doença e auxílio-reclusão. Porém, para pleiteá-<br />
los é necessário estar filiado a uma Colônia <strong>de</strong> Pescadores, que cumpre papel<br />
semelhante ao <strong>de</strong> sindicato (PINTO, 2007).<br />
A não inserção à Colônia merece especial atenção por parte <strong>dos</strong> órgãos<br />
governamentais a fim <strong>de</strong> efetivar a aplicação <strong>de</strong> políticas públicas voltadas à<br />
cidadania, tendo em vista que esta realida<strong>de</strong> é fator prepon<strong>de</strong>rante para o acesso ao<br />
auxílio <strong>de</strong>stinado ao sustento do catador durante o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>feso das espécies.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o catador realiza o extrativismo como forma <strong>de</strong> subsistência, o<br />
não recebimento do benefício constitui fator <strong>de</strong>terminante para manutenção <strong>dos</strong><br />
estoques naturais das espécies <strong>de</strong> caranguejo, pois a ausência <strong>de</strong> fontes<br />
74
alternativas <strong>de</strong> renda leva à sobre-exploração, comprometendo a sustentabilida<strong>de</strong><br />
<strong>dos</strong> recursos pesqueiros.<br />
Dada à carência econômica da região, os programas sociais <strong>de</strong> apoio às<br />
famílias carentes alcançam números bastante mo<strong>de</strong>stos: o mais freqüente é o Bolsa<br />
Escola, beneficiando quatro <strong>de</strong>las. Apenas uma família é beneficiada pelo Vale-Gás,<br />
bem como outra residência pelo Bolsa Família. Apenas dois <strong>catadores</strong> recebem<br />
benefício da previdência social.<br />
Alguns entrevista<strong>dos</strong> relataram comportamentos negligentes e burocráticos,<br />
por parte <strong>dos</strong> órgãos públicos locais responsáveis pela emissão <strong>de</strong>sses auxílios<br />
governamentais, afirmando que há meses haviam efetuado o cadastro, porém até<br />
então não haviam recebido nenhum benefício; outros disseram que após esperar<br />
meses pelo benefício seu cadastro havia <strong>de</strong>saparecido do banco <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> como se<br />
nunca o houvessem feito.<br />
75
Caracterização do processo <strong>de</strong> captura do guaiamum no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras<br />
“— Esfrega mais lama no corpo, José, se<br />
não os mosquitos te comem vivo.<br />
— Já esfreguei bastante, mas os<br />
mosquitos hoje estão dana<strong>dos</strong> <strong>de</strong> fome, estão<br />
mor<strong>de</strong>ndo, picando a gente mesmo por cima da<br />
lama. Mas eu não estou ligando pra mosquito.<br />
Ele po<strong>de</strong> mor<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong>. Já estou habituado.<br />
E mosquito não tira pedaço, só faz coçar. E<br />
coçar é até gostoso. E, dizendo isto, José se<br />
torce <strong>de</strong> gozo, coçando a bunda e as costas com<br />
as mãos enlameadas.”<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
O diálogo <strong>de</strong>scrito acima entre dois <strong>catadores</strong>, no romance “Homens e<br />
caranguejo”, relata uma das tantas adversida<strong>de</strong>s enfrentadas por esses guerreiros<br />
trabalhadores no dia-a-dia da labuta.<br />
Mesmo os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum que capturam esse animal no apicum não<br />
escapam do ataque feroz <strong>dos</strong> sanguinários mosquitos. Destarte, <strong>de</strong>vido à<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> um repelente, fruto do baixo po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>de</strong>ssa<br />
população, é costume entre os <strong>catadores</strong> do município <strong>de</strong> Canavieiras embeberem<br />
seus cáli<strong>dos</strong> corpos com querosene na tentativa <strong>de</strong> manterem-se afasta<strong>dos</strong> <strong>dos</strong><br />
pernilongos, já que a lama, como <strong>de</strong>scrito no texto <strong>de</strong> Josué <strong>de</strong> Castro, muitas vezes<br />
mostra-se impotente contra os mosquitos.<br />
Souto (2004) estudando os <strong>catadores</strong> da comunida<strong>de</strong> pesqueira <strong>de</strong> Acupe,<br />
Bahia, verificou que estes apresentam um comportamento similar ao protegerem<br />
seus corpos <strong>dos</strong> mosquitos antes <strong>de</strong> entrarem no manguezal, espalhando uma<br />
solução repelente feita com querosene e óleo, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> coco, <strong>de</strong> cozinha ou<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê.<br />
76
O dia <strong>de</strong> trabalho do catador <strong>de</strong> guaiamum em Canavieiras começa com o<br />
acesso ao apicum. Os entrevista<strong>dos</strong> relataram uma diminuição da captura <strong>de</strong><br />
guaiamum, que segundo eles tem ocorrido <strong>de</strong>vido à sobre-exploração da espécie,<br />
conseqüência da mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> caranguejo-uçá. Devido a essa escassez <strong>de</strong><br />
guaiamum os <strong>catadores</strong> são obriga<strong>dos</strong> a buscar novos pontos <strong>de</strong> coleta, geralmente,<br />
em locais mais distantes.<br />
Alguns poucos pontos <strong>de</strong> coleta são acessa<strong>dos</strong> via terrestre – quando o<br />
percurso até o local <strong>de</strong> captura é feito a pé; porém a maioria é alcançada apenas por<br />
via fluvial – através <strong>de</strong> canoas a remo ou barcos a motor para atingir locais mais<br />
distantes. As canoas são construídas pelos próprios <strong>catadores</strong> ou por pescadores,<br />
geralmente com ma<strong>de</strong>ira retirada do manguezal (Figuras 30 e 31). Os cinco barcos a<br />
motor (Figuras 32) utiliza<strong>dos</strong> pelas comunida<strong>de</strong>s pesqueiras foram doa<strong>dos</strong> à Colônia<br />
<strong>de</strong> Pescadores Z-20 por meio <strong>de</strong> uma parceria estabelecida entre a SECOMP e a<br />
BAHIAPESCA.<br />
Figura 30. Canoa em construção para utilização<br />
na pesca artesanal.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
77
Figura 31. Canoa utilizada na pesca<br />
artesanal.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião<br />
Figura 32. Barco a motor utilizado na<br />
pesca artesanal.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião<br />
O horário <strong>de</strong> trabalho é em parte estabelecido pelo próprio catador,<br />
praticamente não sofrendo influência da maré. Schmidt e Oliveira (2006) <strong>de</strong>screvem<br />
o apicum como sendo a zona do manguezal inundada apenas nas marés <strong>de</strong><br />
sizígia 20 . Assim, há entre os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum, gran<strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong><br />
quanto à jornada <strong>de</strong> trabalho empregada na ativida<strong>de</strong> extrativista (Tabela 1),<br />
variando <strong>de</strong> duas a nove horas por dia <strong>de</strong> trabalho e três a sete dias por semana.<br />
A maioria <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> executa sua ativida<strong>de</strong> extrativista individualmente<br />
(Gráfico 16). Os <strong>de</strong>mais realizam a captura em parceria, reuni<strong>dos</strong> em duplas ou<br />
grupos geralmente constituí<strong>dos</strong> por parentes próximos ou vizinhos, não havendo<br />
20<br />
Enten<strong>de</strong>-se por sizígia a maré <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong>, com preamares mais altas e baixa-mares mais<br />
baixas, típica da lua cheia e da lua nova.<br />
78
partilha <strong>dos</strong> animais coleta<strong>dos</strong>. O principal motivo alegado para a realização da<br />
ativida<strong>de</strong> em parceria foi a “periculosida<strong>de</strong> da captura individual”, segundo os<br />
entrevista<strong>dos</strong> a parceria proporciona certa proteção contra possíveis contratempos,<br />
como ferimentos, <strong>de</strong>sorientação e im<strong>percepção</strong> da subida da maré.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
6<br />
8<br />
Parceria Individual<br />
Tipo <strong>de</strong> coleta<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 16. Catadores <strong>de</strong> guaiamum quanto ao tipo <strong>de</strong> coleta.<br />
Soffiati (2001), Franco (2002), Botelho & Santos (2005), Brunet (2006) e<br />
Pacheco (2006) <strong>de</strong>screvem a “ratoeira” como estratégia utilizada, por comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> várias localida<strong>de</strong>s, especificamente para captura do guaiamum. Dentre as<br />
técnicas <strong>de</strong> captura citadas por Nordi (1992) apud Ivo (1999), em estudo realizado<br />
em estuários do estado da Paraíba, estão a “ratoeira”, utilizada para a captura <strong>dos</strong><br />
caranguejos guaiamum e caranguejo-uçá, e o “raminho”, empregado<br />
exclusivamente na captura do caranguejo-uçá. Em Canavieiras, foram registra<strong>dos</strong> os<br />
dois méto<strong>dos</strong> para a captura do guaiamum, sendo a técnica do “raminho” conhecida<br />
no município como “capim”.<br />
Catorze <strong>catadores</strong> capturam o guaiamum com o auxílio <strong>de</strong> um petrecho <strong>de</strong><br />
coleta <strong>de</strong>nominado “ratoeira” (Figura 31). Dentre as famílias, a arte <strong>de</strong> captura do<br />
1<br />
79
guaiamum é uma questão cultural ainda passada <strong>de</strong> geração a geração, sendo<br />
assim, <strong>de</strong> modo geral a “ratoeira” possui características rudimentares apesar <strong>de</strong> já<br />
ter sofrido influência <strong>dos</strong> avanços tecnológicos em sua confecção.<br />
A princípio, a matéria-prima utilizada na construção <strong>de</strong>ssa armadilha era<br />
exclusivamente a ma<strong>de</strong>ira. Entretanto, com o passar do tempo, embora continuasse<br />
sendo confeccionada <strong>de</strong> forma artesanal, paulatinamente foi ce<strong>de</strong>ndo à<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, ocorrendo assim a alternância da ma<strong>de</strong>ira pela garrafa plástica <strong>de</strong><br />
refrigerante e pela lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha (Gráfico 17).<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
7<br />
3<br />
Ma<strong>de</strong>ira Lata <strong>de</strong> óleo Garrafa pet Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Material da Armadilha<br />
Gráfico 17. Material utilizado na confecção das “ratoeiras”.<br />
Brunet (2006), Pedroza-Júnior et al (2002) e Franco (2002) referem-se a<br />
“ratoeira” como sendo feita com lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha, o último autor ainda<br />
menciona sua construção com garrafa pet. Soffiati (2001) <strong>de</strong>screve a ratoeira como<br />
um alçapão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Apesar <strong>de</strong> não narrar em sua Dissertação o material com o<br />
qual esta armadilha é confeccionada, Pacheco (2006) apresenta foto <strong>de</strong> duas<br />
“ratoeiras” <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />
2<br />
3<br />
80
As “ratoeiras” são confeccionadas conforme <strong>de</strong>scrito a seguir:<br />
• Ma<strong>de</strong>ira (Figura 32, A e B)<br />
Constrói-se uma caixa, com aproximadamente, 30 cm x 10 cm x 15 cm<br />
(comprimento (C), altura (A) e largura (L), respectivamente) aberta em cima e em<br />
uma das larguras.<br />
Sobre a caixa é presa uma tampa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira em formato <strong>de</strong> “L”, medindo<br />
cerca <strong>de</strong> 28 cm x 11 cm (C e L, respectivamente) e 8,5 cm x 11 cm (A e L,<br />
respectivamente).<br />
Enquanto ativada, a armadilha é mantida aberta por um barbante ligado à<br />
tampa. Um gatilho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira atravessa o fundo da caixa, don<strong>de</strong> irá se pren<strong>de</strong>r um<br />
pino fixado ao barbante da tampa.<br />
Anexo ao gatilho há um arame, cuja função é sustentar uma isca que atrairá o<br />
guaiamum. O animal ao puxar a isca, <strong>de</strong>sengata o gatilho, liberando a tampa para<br />
fechar a armadilha.<br />
• Garrafa Plástica <strong>de</strong> Refrigerante (Figura 33, C e D)<br />
As “ratoeiras” observadas foram feitas com garrafas <strong>de</strong> 2 litros. Retira-se a<br />
parte afunilada da garrafa. Uma lata <strong>de</strong> leite em pó é colocada <strong>de</strong>ntro (Figura 33, C)<br />
ou fora da abertura da garrafa (Figura 33, D) para reforçar a mesma.<br />
A tampa da armadilha é uma pequena lata <strong>de</strong> alimento processado, tal como<br />
creme <strong>de</strong> leite, extrato <strong>de</strong> tomate, leite con<strong>de</strong>nsado e outros, amassada até ficar<br />
plana. Nela são feitas duas fendas, em la<strong>dos</strong> opostos, por on<strong>de</strong> passa uma tira <strong>de</strong><br />
borracha <strong>de</strong> câmara <strong>de</strong> ar, que se esten<strong>de</strong> em torno da garrafa.<br />
Uma estreita peça <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira é fixada ao centro da tampa. A outra<br />
extremida<strong>de</strong> da ma<strong>de</strong>ira é afilada <strong>de</strong> maneira que termine em uma pequena<br />
reentrância, on<strong>de</strong> se pren<strong>de</strong>rá um arame, sob pressão. Este a<strong>de</strong>ntra o fundo da<br />
81
armadilha servindo <strong>de</strong> suporte para uma isca, que ao ser movida pelo animal<br />
<strong>de</strong>sloca o arame comandando o fechamento da armadilha.<br />
• Lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha (Figura 33, E e F)<br />
A confecção e o funcionamento <strong>de</strong>sta armadilha são semelhantes ao <strong>de</strong>scrito<br />
na “ratoeira” construída com garrafa plástica <strong>de</strong> refrigerante.<br />
A B<br />
30cm<br />
11cm<br />
15cm<br />
gatilho<br />
arame<br />
10cm<br />
C D<br />
E F<br />
barbante<br />
8,5cm<br />
28cm<br />
Figura 33. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> “ratoeiras” utilizadas para captura do guaiamum. (A) e (B) <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>i-<br />
ra; (C) e (D) <strong>de</strong> garrafa plástica <strong>de</strong> refrigerante; (E) e (F) <strong>de</strong> lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha.<br />
Fotos: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
82
Dentre os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum do município <strong>de</strong> Canavieiras, sete<br />
preferem as “ratoeiras” <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Apesar <strong>de</strong>ssas armadilhas serem muito<br />
pesadas, elas permitem a captura <strong>de</strong> guaiamuns com gran<strong>de</strong> carapaça. Os<br />
petrechos produzi<strong>dos</strong> com lata <strong>de</strong> óleo e garrafa plástica são extremamente leves,<br />
sendo, por isso, facilmente transporta<strong>dos</strong>, entretanto por possuírem pequeno<br />
diâmetro são utilizadas por poucos <strong>catadores</strong>.<br />
As “ratoeiras” são armadas em frente às tocas <strong>dos</strong> guaiamuns, que após a<br />
captura são armazena<strong>dos</strong> em um saco <strong>de</strong> nylon ou <strong>de</strong> ração para cachorro. Os<br />
petrechos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira são coloca<strong>dos</strong> apenas em locais planos <strong>de</strong>vido a falta <strong>de</strong><br />
maleabilida<strong>de</strong> do material. Contudo, as armadilhas <strong>de</strong> lata <strong>de</strong> óleo e garrafa plástica<br />
permitem a adaptação a superfícies com diferenças <strong>de</strong> nível.<br />
Destarte, os mecanismos utiliza<strong>dos</strong> para manter essas armadilhas presas ao<br />
solo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da consistência do substrato aon<strong>de</strong> serão armadas. Nas áreas <strong>de</strong><br />
apicum com sedimento compacto (areia) coloca-se, <strong>de</strong> ambos os la<strong>dos</strong> da<br />
armadilha, um graveto entre a tira da borracha da câmara <strong>de</strong> ar e a lata <strong>de</strong> óleo ou<br />
garrafa plástica; Nas áreas com substrato parcialmente inconsolidado (areno-<br />
lamoso), o próprio solo é colocado sobre as laterais da armadilha para fixá-la (Figura<br />
33, D).<br />
Geralmente, as iscas colocadas na “ratoeira” são pedaços <strong>de</strong> frutas, como<br />
caju, cana-<strong>de</strong>-açúcar, coco, <strong>de</strong>ndê, jaca, jenipapo e limão. Contudo, também são<br />
usa<strong>dos</strong> caule (cebola) e raiz (mandioca). A escolha das frutas empregadas na<br />
captura do guaiamum está diretamente relacionada com a oferta natural, isto é, a<br />
disponibilida<strong>de</strong> das mesmas no ambiente, sendo por isso adquiridas a custo<br />
financeiro zero.<br />
Em comparação com o processo <strong>de</strong> extração do caranguejo-uçá, o trabalho<br />
83
<strong>de</strong> captura do guaiamum é consi<strong>de</strong>rado menos árduo, apesar <strong>de</strong> ainda assim ser<br />
exaustivo e exigir muita energia. Os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong>dicam <strong>de</strong> três a sete dias da<br />
semana nessa ativida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> empregam entre duas e nove horas <strong>de</strong> trabalho<br />
diário, po<strong>de</strong>ndo ren<strong>de</strong>r até vinte guaiamuns por dia (Tabela 1). O movimento das<br />
marés é o fator limitante para os <strong>catadores</strong> que extraem do manguezal outros<br />
recursos além do guaiamum, sendo a captura e coleta <strong>de</strong>sses recursos realizada<br />
após a armação das “ratoeiras”, período em que esperam os guaiamuns caírem nas<br />
armadilhas.<br />
O número <strong>de</strong> “ratoeiras” utilizadas por dia na captura do guaiamum variou<br />
entre 6 e 25 armadilhas (Tabela 1). Quando indagado aos <strong>catadores</strong> sobre o motivo<br />
<strong>de</strong> se armar essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> petrechos a maioria afirmou ser esse o número<br />
máximo que possuíam (Gráfico 18). Os entrevista<strong>dos</strong> que respon<strong>de</strong>ram “quanto<br />
mais armadilhas melhor”, explicaram que não encontram mais o guaiamum com a<br />
mesma facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns anos atrás sendo por isso necessário colocar muitas<br />
“ratoeiras” para conseguir capturar um número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> animais.<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
8<br />
4<br />
Só tenho isso Quanto mais<br />
melhor<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Justificativa do número <strong>de</strong> armadilhas<br />
Gráfico 18. Justificativa empregada pelos <strong>catadores</strong> para o número<br />
<strong>de</strong> “ratoeiras” utilizadas na captura do guaiamum.<br />
2<br />
84
Tabela 1. Dinâmica <strong>de</strong> captura do guaiamum no município <strong>de</strong> Canavieiras.<br />
(NR = Não Respon<strong>de</strong>u)<br />
Catador<br />
Dias trabalha<strong>dos</strong><br />
por semana<br />
Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
“ratoeiras”<br />
Isca das<br />
“ratoeiras”<br />
Verificação das<br />
“ratoeiras”<br />
(a cada X horas)<br />
Jornada diária <strong>de</strong><br />
trabalho (horas)<br />
Nº <strong>de</strong> guaiamuns<br />
captura<strong>dos</strong>/dia<br />
A 3 15 Jaca e jenipapo 0,5 2 5<br />
B 3 12 Jaca e limão 24 3 5<br />
C 3 10 Limão 2 4 10<br />
D 6 15 Jaca e limão 2 2 15<br />
E 7 10 Limão galego 2 2 10<br />
F 4 6 Limão e caju 3 5 4<br />
G 3 9 15<br />
H 3 25 Jaca e jenipapo 4 9 20<br />
I 7 22 Jenipapo e coco 24 5 5<br />
J 5 10<br />
L 6 20<br />
Limão, cana-<strong>de</strong>açúcar<br />
e mandioca<br />
Limão, jenipapo e<br />
<strong>de</strong>ndê<br />
3 8 5<br />
2 8 9<br />
M 5 8 Limão e caju 24 NR 8<br />
N 7 12 Dendê 1 NR 8<br />
O NR 15 Limão e cebola NR 2 10<br />
P NR 16 Limão e caju 4 NR 12<br />
Não utiliza petrecho do tipo “ratoeira” para a captura do guaiamum.<br />
85
Dentre as iscas utilizadas predominam as frutas, sendo o limão a jaca e o<br />
jenipapo as mais citadas pelos <strong>catadores</strong> (Tabela 1). Segundo os mesmos essas iscas<br />
possuem forte odor, o que atrai os guaiamuns facilitando sua captura. Soffiati (2001),<br />
Franco (2002), Botelho & Santos (2005), Pacheco (2006) e Brunet (2006) também<br />
fazem menção a utilização <strong>de</strong> frutas como iscas para “ratoeiras”. Botelho & Santos<br />
(2005), assim como Duarte (2004), ainda se referem à carne e as cascas <strong>de</strong> frutas<br />
como alimentos coloca<strong>dos</strong> nas armadilhas para capturar o guaiamum.<br />
De acordo com a verificação das “ratoeiras” os <strong>catadores</strong> se divi<strong>de</strong>m em dois<br />
grupos: os que as examinam no mesmo dia em que são armadas e os que executam<br />
essa tarefa apenas no dia seguinte após sua montagem. No primeiro grupo, a maioria<br />
<strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> verifica as armadilhas a cada duas horas (Tabela 1), o que po<strong>de</strong><br />
representar uma, duas ou quatro inspeções, <strong>de</strong>terminadas <strong>de</strong> acordo com a jornada<br />
diária <strong>de</strong> trabalho.<br />
To<strong>dos</strong> os <strong>catadores</strong> que examinam as “ratoeiras” no dia seguinte realizam essa<br />
tarefa exatamente 24 horas após sua montagem, pois segundo eles dificilmente o<br />
guaiamum é capturado pela armadilha no mesmo dia, sendo <strong>de</strong>snecessária a<br />
verificação antes <strong>de</strong>sse período.<br />
O número <strong>de</strong> guaiamuns captura<strong>dos</strong> por dia <strong>de</strong> trabalho alternou entre 4 e 20<br />
indivíduos (Tabela 1). A fim <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r essa gran<strong>de</strong> variação, analisamos os da<strong>dos</strong><br />
obti<strong>dos</strong> a partir das entrevistas com a eficiência <strong>de</strong> captura <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong>, chegando a<br />
algumas prováveis explicações. Tomamos como base os <strong>catadores</strong> C, D, E e M, cuja<br />
eficiência foi <strong>de</strong> 100%, isto é, número <strong>de</strong> “ratoeiras” igual ao número <strong>de</strong> guaiamuns<br />
captura<strong>dos</strong>.<br />
86
A princípio pensamos que a eficiência <strong>de</strong> captura pu<strong>de</strong>sse estar relacionada com<br />
a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armadilhas colocadas, porém outros <strong>catadores</strong> colocaram um número<br />
maior <strong>de</strong> petrechos não obtendo o mesmo resultado. A seguir associamos a eficiência<br />
com a escolha da isca utilizada na “ratoeira”, percebemos, então, que to<strong>dos</strong> os quatro<br />
<strong>catadores</strong> utilizaram o limão para atrair os guaiamuns.<br />
Depois, analisamos o tempo <strong>de</strong> permanência no manguezal: os <strong>catadores</strong> C, D,<br />
E e M permaneceram entre duas e quatro horas, pouco tempo se comparado com a<br />
maior jornada diária <strong>de</strong> trabalho – nove horas. O próximo passo foi a avaliação da<br />
freqüência <strong>de</strong> verificação das “ratoeiras”, a qual é executada apenas uma vez por três<br />
<strong>dos</strong> quatro <strong>catadores</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong>.<br />
De todas as variáveis analisadas (quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armadilhas, escolha da isca,<br />
tempo <strong>de</strong> permanência no manguezal e freqüência <strong>de</strong> verificação das “ratoeiras”)<br />
percebemos que apenas uma (escolha da isca) apresentou relação direta com a<br />
eficiência <strong>de</strong> captura. Assim sendo, efetuamos uma análise mais aprofundada <strong>dos</strong><br />
da<strong>dos</strong>, após a qual <strong>de</strong>tectamos outras variáveis que po<strong>de</strong>m vir a explicar a total<br />
eficiência <strong>de</strong> captura (100%) <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> C, D, E e M: experiência adquirida <strong>de</strong>vido<br />
ao tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à profissão e conhecimento <strong>dos</strong> melhores pontos <strong>de</strong> coleta.<br />
A armadilha do tipo “ratoeira” é uma técnica seletiva e sustentável, entretanto<br />
exige experiência do catador. Ao serem captura<strong>dos</strong> pelo petrecho os guaiamuns não<br />
sofrem nenhum dano físico, permanecendo vivos <strong>de</strong>ntro do mesmo. Quando retira<strong>dos</strong><br />
da armadilha o catador po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o sexo e tamanho <strong>dos</strong> animais captura<strong>dos</strong>,<br />
coletando assim apenas os indivíduos machos e com o tamanho permitido pela<br />
legislação vigente no município, Lei 701, <strong>de</strong> 07. 01. 2005 (ver página 31), <strong>de</strong> 6cm em<br />
diante.<br />
87
Apenas um <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> entrevista<strong>dos</strong> utiliza o método do “capim” no processo<br />
<strong>de</strong> captura do guaiamum. Esta técnica consiste em introduzir o escapo floral (talo) <strong>de</strong><br />
um vegetal da família Cyperaceae, conhecida vulgarmente pelo catador como capim-<br />
estrela, no interior da toca do guaiamum, realizando movimentos verticais. A oscilação<br />
virtualmente <strong>de</strong>senhada com o escapo floral leva o animal a um estado <strong>de</strong> aparente<br />
hipnose, passando, por isso, a seguir o seu movimento. Lentamente o vegetal, e<br />
consequentemente o guaiamum, são retira<strong>dos</strong> da toca. Quando o animal encontra-se a<br />
uma distância consi<strong>de</strong>rável da mesma, o catador coloca a mão por trás do crustáceo<br />
capturando-o pela região dorsal.<br />
Apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandar muito mais tempo do que a captura com “ratoeira” e exigir<br />
gran<strong>de</strong> concentração, esta técnica se mostrou muito eficiente consi<strong>de</strong>rando que os<br />
animais são captura<strong>dos</strong> um a um. Ao analisarmos a jornada diária <strong>de</strong> trabalho e o<br />
número <strong>de</strong> guaiamuns captura<strong>dos</strong> por dia, obtivemos uma média <strong>de</strong>, aproximadamente,<br />
1,7 animais captura<strong>dos</strong> por hora.<br />
88
Descrição <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> armazenamento e comercialização do guaiamum no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras<br />
“Caranguejo-uçá, caranguejo-uçá<br />
Apanho ele na lama, e boto no meu caçuá<br />
Tem caranguejo, tem gordo guaiamu<br />
Cada corda <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, eu dou mais um<br />
Eu dou mais um, eu dou mais um<br />
Cada corda <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, eu dou mais um<br />
Eu perdi a mocida<strong>de</strong>, com os pés sujos <strong>de</strong> lama<br />
Eu fiquei analfabeto, mas meus filho criou fama<br />
Pelo gosto <strong>dos</strong> meninos, pelo gosto da mulher<br />
Eu já ia <strong>de</strong>scansar, não sujava mais os pé<br />
Os bichinhos tão criado, satisfiz o meu <strong>de</strong>sejo<br />
Eu podia <strong>de</strong>scansar, mas continuo ven<strong>de</strong>ndo caranguejo.”<br />
Wal<strong>de</strong>ck Artur <strong>de</strong> Macedo (Gordurinha)<br />
Na composição “Ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> caranguejo”, gravada por Clara Nunes em 1972<br />
no disco “Clara Clarice Clara”, e por Gilberto Gil no Long Play “Quanta” em 97,<br />
Gordurinha faz um sucinto relato sobre a comercialização do guaiamum e a dura vida<br />
<strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejo.<br />
Armazenamento em cativeiro<br />
Segundo os entrevista<strong>dos</strong>, a dieta alimentar do guaiamum, que ingere tudo o que<br />
encontra indo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> mangue e frutas existentes próximo ao seu habitat até<br />
restos <strong>de</strong> animais mortos e fezes, provoca o acúmulo <strong>de</strong> toxinas no organismo do<br />
animal, oferecendo perigo à saú<strong>de</strong> <strong>dos</strong> consumidores que apreciam a sua carne.<br />
Alguns autores especificam com <strong>de</strong>talhe a alimentação do guaiamum,<br />
assinalando, principalmente, à sua onivoria. Hill (2001) relata que o guaiamum<br />
alimenta-se <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> mangue, frutos, grama, fezes, insetos, animais mortos,<br />
po<strong>de</strong>ndo, às vezes, praticar o canibalismo. No estudo <strong>de</strong> Duarte (2004), realizado em<br />
89
Nova Viçosa e Caravelas (Bahia), a autora cita que o guaiamum possui alimentação<br />
variada composta por vegetais e animais. Segundo Soffiati (2001), essa espécie <strong>de</strong><br />
caranguejo consome animais mortos e a fruta da aninga (Montrichardia arborecens),<br />
que além <strong>de</strong> conferir sabor <strong>de</strong>sagradável a esse crustáceo provoca <strong>de</strong>sarranjo intestinal<br />
em quem ingerir o guaiamum que <strong>de</strong>la se alimentou.<br />
Assim, para <strong>de</strong>sintoxicar o guaiamum, os <strong>catadores</strong> do município <strong>de</strong> Canavieiras<br />
têm por hábito armazenar o animal em cativeiro antes <strong>de</strong> sua comercialização. Durante<br />
o confinamento o guaiamum é submetido a um regime a base <strong>de</strong> limão e água por 15<br />
dias a fim <strong>de</strong> promover a “limpeza” do seu organismo. Apesar da importância <strong>de</strong>sse<br />
procedimento, apenas três <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> <strong>de</strong>monstraram preocupação com a<br />
<strong>de</strong>sintoxicação do animal (Gráfico 19).<br />
Catador <strong>de</strong> guaiamum<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
4<br />
3<br />
Engordar Limpar Esperar Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Finalida<strong>de</strong> do cativeiro<br />
Gráfico 19. Finalida<strong>de</strong> para o armazenamento do guaiamum<br />
em cativeiro, segundo os <strong>catadores</strong>.<br />
Dentre os <strong>catadores</strong> entrevista<strong>dos</strong>, muitos se abstêm totalmente <strong>de</strong>ssa<br />
responsabilida<strong>de</strong> ou transferem-na para as pessoas com quem comercializam o seu<br />
6<br />
2<br />
90
produto. Os animais captura<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong> po<strong>de</strong>m ter três <strong>de</strong>stinos: venda direta<br />
ao consumidor, ao intermediário ou ao proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia. O perfil do<br />
consumidor que adquire o produto diretamente <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> é, geralmente, formado<br />
por turistas que permanecem pouco tempo no município, estabelecendo um contato<br />
superficial com os <strong>catadores</strong>. Esse rápido encontro inviabiliza o posterior<br />
reconhecimento do catador pelo turista caso ocorra algum problema advindo do<br />
produto.<br />
O intermediário é também <strong>de</strong>nominado atravessador, ou seja, pessoa que<br />
compra a produção <strong>de</strong> vários <strong>catadores</strong> e a reven<strong>de</strong> a alguns proprietários <strong>de</strong> cabana<br />
<strong>de</strong> praia e a gran<strong>de</strong>s merca<strong>dos</strong> consumidores <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s. Devido à aquisição<br />
<strong>dos</strong> animais ser feita por meio <strong>de</strong> diferentes <strong>catadores</strong>, é difícil para o intermediário<br />
<strong>de</strong>terminar a procedência <strong>de</strong> cada animal, o que favorece a omissão sobre a qualida<strong>de</strong><br />
da carne do guaiamum. Este comportamento se repete com o catador, que mais uma<br />
vez transfere a responsabilida<strong>de</strong> sobre a qualida<strong>de</strong> do produto para as pessoas com<br />
quem comercializa.<br />
O proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia é aqui caracterizado como comerciante local.<br />
Este adquire o guaiamum <strong>de</strong> diversos <strong>catadores</strong> e alguns compram <strong>de</strong> intermediários. A<br />
existência <strong>de</strong> um ponto comercial torna o proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia alvo <strong>de</strong><br />
possíveis reclamações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> danos causa<strong>dos</strong> pelo consumo do crustáceo<br />
com carne <strong>de</strong> má qualida<strong>de</strong>.<br />
Neste caso, catador e intermediário transferem toda a responsabilida<strong>de</strong> sobre a<br />
qualida<strong>de</strong> do produto ao proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia. Apesar <strong>de</strong> saberem <strong>de</strong>ssa<br />
realida<strong>de</strong>, ainda assim, poucos proprietários se preocupam com a saú<strong>de</strong> do consumidor<br />
(Gráfico 20).<br />
91
Proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
5<br />
2 2<br />
Engordar Limpar<br />
Finalida<strong>de</strong> do cativeiro<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 20. Finalida<strong>de</strong> para o armazenamento do guaiamum em ca-<br />
tiveiro, segundo os proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia.<br />
O confinamento em cativeiro não tem por objetivo apenas a <strong>de</strong>sintoxicação do<br />
animal, sendo o guaiamum também submetido ao mesmo para aumentar <strong>de</strong> peso e<br />
esperar um comprador. Uma estreita relação entre as ações <strong>de</strong> “espera” e “engorda” é<br />
estabelecida pelos <strong>catadores</strong> enquanto mantêm os animais armazena<strong>dos</strong>.<br />
De acordo com os <strong>catadores</strong>, o tempo mínimo <strong>de</strong> permanência em cativeiro para<br />
que ocorra a “engorda” do animal é <strong>de</strong> 10 dias. Entretanto, em algumas situações, o<br />
guaiamum po<strong>de</strong> ser vendido antes <strong>de</strong>sse prazo caso apareça um comprador. Assim<br />
como, ultrapassado esse período o animal po<strong>de</strong>rá permanecer engordando ainda mais<br />
em cativeiro a espera <strong>de</strong> um comprador. Esses da<strong>dos</strong> corroboram com os obti<strong>dos</strong> por<br />
Oliveira (1946), Duarte (2004) e Lima (2007) em seus trabalhos que fazem menção a<br />
ceva do guaiamum em cativeiro para consumo.<br />
Em relação à “espera”, o animal é mantido em cativeiro enquanto aparece um<br />
92
comprador. Contudo, neste ínterim, o catador oportuniza a “engorda” do animal,<br />
estabelecendo-se assim uma relação direta entre “espera” e “engorda”.<br />
Dentre os quinze entrevista<strong>dos</strong>, apenas dois não mantêm o guaiamum em<br />
cativeiro (Tabela 2) ocorrendo por isso à comercialização do animal imediatamente<br />
após a sua captura. Este fato é justificado pelos entrevista<strong>dos</strong> <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
dinheiro rápido.<br />
Tabela 2. Dinâmica <strong>de</strong> cativeiro do guaiamum segundo os <strong>catadores</strong> do município <strong>de</strong><br />
Canavieiras. (NR = Não Respon<strong>de</strong>u)<br />
Catador<br />
Tempo <strong>de</strong> permanência<br />
em cativeiro (dias)<br />
Nº <strong>de</strong> guaiamuns<br />
por cativeiro<br />
Alimentação em cativeiro<br />
A 15 30 <strong>de</strong>ndê, coco, grama,<br />
B 15 60<br />
<strong>de</strong>ndê, milho, folhagem,<br />
mandioca, limão<br />
C 20 35 <strong>de</strong>ndê, milho, limão<br />
D NR NR <strong>de</strong>ndê, coco, milho<br />
E 10 400<br />
<strong>de</strong>ndê, coco, milho, cana<strong>de</strong>-açúcar<br />
F 4 30 <strong>de</strong>ndê, milho<br />
G 27 50 xerém<br />
H 7 60 capim<br />
I 7 40 <strong>de</strong>ndê, coco, limão<br />
J 17 20 <strong>de</strong>ndê, milho, limão<br />
L<br />
M<br />
N 15 22 <strong>de</strong>ndê, limão<br />
O 3 30<br />
milho, limão, cana-<strong>de</strong>açúcar<br />
P 37 15 coco, milho, caju, fubá<br />
Não mantém o guaiamum em cativeiro.<br />
93
O tempo <strong>de</strong> permanência do guaiamum em cativeiro alternou entre 3 e 37 dias<br />
(Tabela 2). De acordo com as observações <strong>de</strong> campo e análise <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> com<br />
as entrevistas, pu<strong>de</strong>mos inferir algumas proposições quanto à disparida<strong>de</strong> no período<br />
<strong>de</strong> confinamento em cativeiro. O tempo <strong>de</strong> espera po<strong>de</strong> estar relacionado a duas<br />
variáveis, a primeira a um comprador previamente <strong>de</strong>finido, sendo os animais<br />
captura<strong>dos</strong> sob encomenda. A segunda ao tempo <strong>de</strong> “engorda” do guaiamum, o que<br />
explicaria o longo período do animal em cativeiro.<br />
O número <strong>de</strong> guaiamuns manti<strong>dos</strong> por cativeiro variou <strong>de</strong> 15 a 400 indivíduos.<br />
Quando indagado aos <strong>catadores</strong> sobre o porquê mantinham esse número <strong>de</strong> animais<br />
armazena<strong>dos</strong>, a maioria afirmou ser a quantida<strong>de</strong> máxima cabível no cativeiro. O valor<br />
expresso pelo catador E <strong>de</strong>stoa <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mais apresenta<strong>dos</strong> na Tabela 2 <strong>de</strong>vido ao<br />
mesmo ser também um atravessador, possuindo um cativeiro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, o maior<br />
observado durante a pesquisa (Figura 34A). É interessante notar que o cativeiro citado,<br />
tem capacida<strong>de</strong> para comportar um número bem superior ao relatado.<br />
Dentre os alimentos ofereci<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong> ao guaiamum em cativeiro,<br />
predominam o <strong>de</strong>ndê e o milho (Tabela 2). Alimentos também cita<strong>dos</strong> por Brunet (2006)<br />
e Lima (2007), respectivamente.<br />
Quando os proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia adquirem o guaiamum, o mesmo<br />
permanece em cativeiro <strong>de</strong> 3 a 60 dias (Tabela 3), tendo como principal finalida<strong>de</strong> a<br />
“engorda”. Essa gran<strong>de</strong> diferença está diretamente relacionada com o porte e o<br />
movimento da cabana, sendo este último fator influenciado por diversas variáveis como<br />
qualida<strong>de</strong> do atendimento, preço do guaiamum, condições <strong>de</strong> higiene e etc.<br />
94
Figura 34. Cativeiros observa<strong>dos</strong> nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong>. Quanto ao porte – (A) gran<strong>de</strong>;<br />
(B) médio; (C) pequeno. Fotos: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
A estrutura <strong>dos</strong> cativeiros difere muito entre as cabanas, que utilizam caixas<br />
d’água <strong>de</strong> plástico e construções <strong>de</strong> alvenaria (Figura 35). O volume <strong>dos</strong> mesmos<br />
variou <strong>de</strong> 0,32cm 3 a 1,30cm 3 , consequentemente, o número <strong>de</strong> animais armazena<strong>dos</strong><br />
alternou entre 8 e 500 (Tabela 3).<br />
B C<br />
A<br />
95
A B<br />
Figura 35. Cativeiros observa<strong>dos</strong> nas cabanas <strong>de</strong> praia. Quanto à estrutura – (A) caixa d’água;<br />
(B) construção <strong>de</strong> alvenaria. Fotos: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
De acordo com a dieta alimentar fornecida ao guaiamum em cativeiro, o milho<br />
está presente em todas as cabanas, exceto a G1 (Tabela 3). A mesma freqüência ocorre<br />
com a farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê (preparado <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca e azeite <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê) não<br />
sendo citado apenas pelo proprietário da F1.<br />
Tabela 3. Dinâmica <strong>de</strong> cativeiro do guaiamum segundo os proprietários <strong>de</strong> cabanas<br />
<strong>de</strong> praia do município <strong>de</strong> Canavieiras. (NR = Não Respon<strong>de</strong>u)<br />
Cabana<br />
Tempo <strong>de</strong><br />
permanência em<br />
cativeiro (dias)<br />
Nº <strong>de</strong> guaiamuns<br />
no cativeiro<br />
A1 3 55<br />
Alimentação em cativeiro<br />
milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê,<br />
coco, milharina<br />
B1 3 150 milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê<br />
C1 45 40<br />
D1 60 500<br />
E1 15 65<br />
milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê,<br />
coco<br />
farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê, coco,<br />
repolho<br />
milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê,<br />
restos <strong>de</strong> comida, limão<br />
F1 15 8 milho, limão<br />
G1 8 NR farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê, limão<br />
H1 7 12 milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê<br />
I1 15 28<br />
milho, farofa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê,<br />
coco<br />
96
Comercialização<br />
Sob o ponto <strong>de</strong> vista da comercialização, observamos que sete <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong><br />
consomem a meta<strong>de</strong> ou mais da meta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> guaiamuns captura<strong>dos</strong> (Gráfico 21).<br />
Número alto em face <strong>dos</strong> animais que restam para a venda. O gran<strong>de</strong> consumo por<br />
parte <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> po<strong>de</strong> estar relacionado à carência alimentar <strong>de</strong>corrente do baixo<br />
po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>de</strong>sse grupo. De acordo com Nordi (1994) e Nunes (2004), a carne do<br />
guaiamum é consi<strong>de</strong>rada uma importante fonte <strong>de</strong> proteína. Quando há sobra da<br />
venda, a mesma é empregada no consumo próprio.<br />
Catadores <strong>de</strong> guaiamum<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
Ven<strong>de</strong> menos da<br />
meta<strong>de</strong><br />
5<br />
Ven<strong>de</strong> meta<strong>de</strong> Ven<strong>de</strong> mais da<br />
meta<strong>de</strong><br />
Destino <strong>dos</strong> animais captura<strong>dos</strong><br />
Gráfico 21. Venda <strong>dos</strong> guaiamuns captura<strong>dos</strong>.<br />
6<br />
2<br />
Ven<strong>de</strong> to<strong>dos</strong><br />
Apenas os guaiamuns vivos possuem valor comercial, sendo vendi<strong>dos</strong> pelos<br />
<strong>catadores</strong> individualmente ou em cordas contendo <strong>de</strong>z animais. Durante a baixa<br />
temporada o preço unitário <strong>de</strong> venda do guaiamum, segundo os entrevista<strong>dos</strong>, atingiu<br />
<strong>de</strong> 1,00 a 2,00 reais. Já na alta temporada esse valor variou <strong>de</strong> 1,00 a 3,00 reais.<br />
Durante a alta, um catador consegue ganhar, no máximo, cerca <strong>de</strong> 1.080,00 reais por<br />
mês e, na baixa, 364,00 reais (Tabela 4).<br />
97
Consi<strong>de</strong>ramos como “baixa temporada” os meses correspon<strong>de</strong>ntes ao inverno,<br />
isto é, período no qual o fluxo <strong>de</strong> turistas é praticamente inexistente no município, e<br />
como “alta temporada”, os meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro e janeiro nos quais o número <strong>de</strong><br />
turistas é expressivo.<br />
O ritual <strong>de</strong> negociação comercial <strong>de</strong>senvolvido no município <strong>de</strong> Canavieiras entre<br />
catador e atravessador é um processo <strong>de</strong>licado e <strong>de</strong>sgastante para o primeiro. O baixo<br />
po<strong>de</strong>r aquisitivo e, consequentemente, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> venda rápida do produto a fim <strong>de</strong><br />
suprir necessida<strong>de</strong>s básicas e imediatas, fragilizam o catador durante a transação.<br />
Receando entrar em conflito com o atravessador, o catador nem mesmo cogita a<br />
utilização do seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha ou <strong>de</strong> qualquer outro comportamento que<br />
<strong>de</strong>monstre a sua insatisfação diante a <strong>de</strong>preciação do seu produto pelo intermediário.<br />
Assim sendo, ciente <strong>de</strong>ssa situação o atravessador conduz a negociação <strong>de</strong> modo a<br />
aten<strong>de</strong>r exclusivamente aos seus interesses.<br />
Os <strong>catadores</strong> que conseguem ven<strong>de</strong>r o guaiamum diretamente para o<br />
consumidor, exercendo essa dinâmica em feiras livres, beira das estradas ou em suas<br />
próprias casas, afirmam obter uma renda maior do que quando comercializam o produto<br />
com atravessadores ou proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia.<br />
Após ser capturado pelos <strong>catadores</strong>, um <strong>dos</strong> <strong>de</strong>stinos do guaiamum passa a ser<br />
a cabana <strong>de</strong> praia. Os proprietários <strong>de</strong>sses estabelecimentos gastronômicos firmam<br />
uma relação direta entre a venda do guaiamum e a largura atingida pela carapaça do<br />
animal. O guaiamum é, então, classificado em três categorias cujos valores <strong>de</strong> mercado<br />
98
Tabela 4. Renda adquirida pelo catador <strong>de</strong> guaiamum durante os perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> baixa e alta temporadas no município<br />
<strong>de</strong> Canavieiras. (NR = Não Respon<strong>de</strong>u)<br />
Catador<br />
Dias<br />
trabalha<strong>dos</strong><br />
por semana<br />
Nº <strong>de</strong><br />
guaiamuns<br />
captura<strong>dos</strong>/dia<br />
Valor unitário na<br />
baixa temporada<br />
(R$)<br />
Valor unitário na<br />
alta temporada<br />
(R$)<br />
Renda mensal na<br />
baixa temporada<br />
(R$)<br />
Renda mensal na<br />
alta temporada<br />
(R$)<br />
A 3 5 1,50 2,00 90,00 120,00<br />
B 3 5 1,20 1,20 72,00 72,00<br />
C 3 10 1,00 2,00 120,00 240,00<br />
D 6 15 1,00 3,00 360,00 1.080,00<br />
E 7 10 1,30 1,30 364,00 364,00<br />
F 4 4 2,00 2,50 128,00 160,00<br />
G 3 15 2,00 2,50 360,00 450,00<br />
H 3 20 1,00 2,50 240,00 600,00<br />
I 7 5 1,50 3,00 210,00 420,00<br />
J 5 5 2,00 2,00 200,00 200,00<br />
L 6 9 1,00 1,50 216,00 324,00<br />
M 5 8 1,50 1,50 240,00 240,00<br />
N 7 8 1,50 2,00 336,00 448,00<br />
O NR 10 1,00 1,00 In<strong>de</strong>terminado In<strong>de</strong>terminado<br />
P NR 12 NR NR In<strong>de</strong>terminada In<strong>de</strong>terminada<br />
99
variam proporcionalmente com o aumento <strong>de</strong> tamanho do animal: pequeno (R$ 2,50<br />
a R$3,00), médio (R$3,25 a R$4,00) e gran<strong>de</strong> (R$4,00 a R$5,00).<br />
A partir da análise <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> apresenta<strong>dos</strong> acima, pu<strong>de</strong>mos observar que a<br />
estratégia <strong>de</strong> venda por tamanho possibilita ao proprietário <strong>de</strong> cabana <strong>de</strong> praia<br />
superfaturar o guaiamum, agregando um alto valor ao animal. O mesmo lucro não é<br />
alcançado pelos <strong>catadores</strong> que ven<strong>de</strong>m o guaiamum a um preço único in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
do tamanho que venham a atingir.<br />
O tamanho mínimo <strong>dos</strong> guaiamuns comercializa<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong> em<br />
Canavieiras é <strong>de</strong> 6,0 cm – medida da largura da carapaça (Gráfico 22). As respostas<br />
emitidas por esses profissionais, durante o <strong>de</strong>correr da aplicação <strong>dos</strong> questionários,<br />
a fim <strong>de</strong> elucidar a escolha <strong>de</strong>ssa medida nos levou a <strong>percepção</strong> <strong>de</strong> que o<br />
comprimento <strong>dos</strong> animais captura<strong>dos</strong> é <strong>de</strong>terminado, principalmente, pela exigência<br />
do comprador.<br />
Gráfico 22. Tamanho da largura da carapaça <strong>dos</strong> guaiamuns co-<br />
mercializa<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong>.<br />
100
Em relação ao sexo do guaiamum, apenas um catador afirmou não haver<br />
preferência por parte do comprador durante o processo <strong>de</strong> comercialização do<br />
animal. Os <strong>de</strong>mais entrevista<strong>dos</strong> relataram que a preferência <strong>dos</strong> compradores por<br />
indivíduos machos ocorre, principalmente, <strong>de</strong>vido ao receio <strong>de</strong> fiscalização por parte<br />
do IBAMA referente ao artigo 1º da I.N. 90/2006 (ver página 29) que proibe a captura<br />
<strong>de</strong> fêmeas <strong>de</strong> guaiamum no estado da Bahia em qualquer época do ano (Gráfico<br />
23). O tamanho reduzido da fêmea em relação ao macho e a preocupação<br />
conservacionista da espécie também foram respostas citadas pelos <strong>catadores</strong>.<br />
Cabanas <strong>de</strong> praia<br />
3<br />
3<br />
Proibição <strong>de</strong> captura das fêmeas<br />
A femêa é que reproduz<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
3<br />
Catadores <strong>de</strong> C. guanhumi<br />
1 1<br />
3<br />
Proibição <strong>de</strong> captura das fêmeas<br />
Tamanho reduzido da fêmea<br />
A femêa é que reproduz<br />
Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 23. Justificativa para a preferência na aquisição <strong>de</strong> guaiamuns machos.<br />
A mesma preferência por guaiamuns machos também foi expressa por seis<br />
proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia; os <strong>de</strong>mais não respon<strong>de</strong>ram essa questão.<br />
Entretanto, em relação ao motivo <strong>de</strong> tal preferência, as respostas variaram<br />
igualmente entre o receio do IBAMA e a preocupação com a conservação da<br />
espécie (Gráfico 23).<br />
9<br />
101
Embora afirmem preferir indivíduos machos, pelo menos quatro <strong>dos</strong><br />
proprietários entrevista<strong>dos</strong> (dois não respon<strong>de</strong>ram a questão) não souberam<br />
diferenciar guaiamuns fêmeas <strong>de</strong> machos (Figura 36).<br />
Figura 36. Dimorfismo sexual externo do guaiamum. (A) fêmea; (B) macho.<br />
Fotos: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
Segundo Schmidt e Oliveira (2006) os caranguejos apresentam dimorfismo<br />
sexual externo, sendo o abdome da fêmea largo com formato semicircular e o do<br />
macho estreito, alongado e com formato triangular.<br />
A<br />
B<br />
102
Percepção <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> guaiamum no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras<br />
“Começa logo a pancadaria do bombo,<br />
imitando o trovão e o sibilar do clérigo,<br />
reproduzindo com os lábios o ruído ululante do<br />
vento. Num certo momento (...) João Paulo (...)<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>sabar do carregador a chuva no buraco<br />
do guaiamum. Quando a água bate no fundo do<br />
buraco, o guaiamu sai tonto pelo campo afora.<br />
João Paulo persegue-o em seu ziguezague e,<br />
lançando-se ao chão, agarra-o num momento.<br />
Durante toda a manhã, a tempesta<strong>de</strong> ruge na<br />
planície e, só ao meio-dia, com (...) o cesto cheio<br />
<strong>de</strong> guaiamuns, o vigário volta para casa para<br />
almoçar.”<br />
Josué <strong>de</strong> Castro<br />
O fragmento <strong>de</strong>scrito acima é parte integrante do livro “Homens e<br />
caranguejos” <strong>de</strong> Josué <strong>de</strong> Castro. Neste trecho o autor nor<strong>de</strong>stino narra a artimanha<br />
<strong>de</strong>senvolvida pelo padre Aristi<strong>de</strong>s, gran<strong>de</strong> apreciador do guaiamum, para obter esse<br />
crustáceo em abundância. Conhecimento adquirido casualmente pelo vigário ao ser<br />
surpreendido por um gran<strong>de</strong> temporal.<br />
O conhecimento tradicional é o saber acumulado por diversas gerações em<br />
estreita relação com a natureza, po<strong>de</strong>ndo ser interpretado somente <strong>de</strong>ntro do<br />
contexto da cultura em que foi gerado (CARDOSO, 2004). Em se tratando <strong>de</strong><br />
pescadores artesanais, esse saber, baseado em observações contínuas <strong>de</strong><br />
fenômenos naturais, possibilita a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões acerca <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong><br />
extrativista (SILVA, 2004b).<br />
Os <strong>catadores</strong> entrevista<strong>dos</strong> no município <strong>de</strong> Canavieiras <strong>de</strong>monstraram<br />
possuir um conhecimento altamente elaborado sobre a biologia do guaiamum e<br />
sobre fenômenos ambientais que interferem em seu ciclo <strong>de</strong> vida. Este é formado<br />
por três fases principais (“andada”, “<strong>de</strong>sova” e “ecdise”), que ocorrem ao longo do<br />
103
ano, e cuja influência afeta diretamente a qualida<strong>de</strong> da carne e a visível quantida<strong>de</strong><br />
do animal no manguezal.<br />
De acordo com as percepções reveladas pelos <strong>catadores</strong>, o ciclo do<br />
guaiamum se inicia com a “andada” (período reprodutivo). A “andada” é o<br />
fenômeno no qual caranguejos machos e fêmeas, após <strong>de</strong>ixarem suas tocas,<br />
permanecem vagando pelo manguezal com o intuito <strong>de</strong> procurar um parceiro(a) para<br />
a cópula e/ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sovar (NORDI, 1994; ALVES e NISHIDA, 2002; SOUTO, 2004;<br />
GONZÁLEZ, 2006).<br />
Segundo relatos <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong>, a “andada” ocorre nos meses <strong>de</strong> janeiro,<br />
fevereiro, março e abril, sendo precedida pelas trovoadas <strong>de</strong> verão. Soffiati (2001) e<br />
Men<strong>de</strong>s (2002) relatam período semelhante na “andada” do guaiamum, para a qual<br />
o primeiro autor suprimiu o mês <strong>de</strong> abril.<br />
Alguns autores como Oliveira (1946) e Nascimento (1993), apresentam<br />
hipóteses complementares para explicar a associação entre trovoadas e “andada”:<br />
as trovoadas ocorrem no verão; nesta estação a temperatura elevada e a gran<strong>de</strong><br />
evaporação ocasionam um substrato altamente salino; as chuvas intensas<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sse período provocam uma diminuição brusca da salinida<strong>de</strong> ao<br />
inundarem as tocas <strong>dos</strong> caranguejos com água doce; essa redução no teor <strong>de</strong> sais<br />
estimularia a fabricação <strong>de</strong> hormônios específicos que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ariam o cio do<br />
animal, iniciando, <strong>de</strong>ste modo, a “andada”.<br />
Assim sendo, as trovoadas citadas pelos <strong>catadores</strong> como indicadores da<br />
“andada” são na verda<strong>de</strong> fenômenos prece<strong>de</strong>ntes <strong>dos</strong> fortes temporais que<br />
indiretamente iniciam esse comportamento reprodutivo.<br />
A “andada” foi i<strong>de</strong>ntificada pelos entrevista<strong>dos</strong> <strong>de</strong>vido ao caminhar lento e<br />
<strong>de</strong>sgovernado do guaiamum a<strong>de</strong>ntrando áreas que normalmente não freqüentaria,<br />
104
como o interior lamoso do manguezal, chegando a haver registros <strong>de</strong> invasão a<br />
residências situadas na periferia <strong>de</strong>sse ecossistema. Corroborando com essa<br />
informação Oliveira (1946) e Soffiati (2001) citam em seus trabalhos o <strong>de</strong>slocamento<br />
atordoado do guaiamum durante o período <strong>de</strong> “andada”.<br />
Os entrevista<strong>dos</strong> afirmam que o guaiamum fêmea 21 começa a andar primeiro<br />
que o macho. A “andada” tem duração <strong>de</strong> três a cinco dias, se repetindo três vezes<br />
ao ano, três dias após a maré <strong>de</strong> sizígia, isto é, três dias após o primeiro dia <strong>de</strong> lua<br />
cheia ou nova. Estas informações também foram citadas por Men<strong>de</strong>s (2002) e<br />
We<strong>de</strong>s (2004).<br />
Nas duas primeiras “andadas” acontece a cópula, durante a qual é comum<br />
encontrar machos em combate ou perseguindo fêmeas (BRANCO, 1993). Ao final da<br />
última “andada” ocorre a “<strong>de</strong>sova” das fêmeas, alguns poucos machos também<br />
po<strong>de</strong>m ser vistos caminhando nesta etapa.<br />
O trecho que segue, mostra a <strong>percepção</strong> <strong>de</strong> um <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> sobre o<br />
acasalamento da espécie:<br />
“Na época <strong>de</strong> cruzar o guaiamum, eles ficam a partir <strong>de</strong> 10 horas. Eles<br />
ficam seguros um no outro cruzando. Após <strong>de</strong> 10 horas eles terminam aí a<br />
guaiamua já fica repleta. Depois <strong>de</strong> três horas após <strong>de</strong> que ela já se<br />
separou <strong>de</strong>le aí o sapupê 22 aparece. Aí ela já ficou <strong>de</strong> sapupê. Quando ela<br />
embranquece, ela já cruzou e agora já está <strong>de</strong> sapupê. É como diz o<br />
pessoal diz tufeira. Aí ela tá preparada já pra <strong>de</strong>sovar.”<br />
A maturida<strong>de</strong> sexual da espécie é atingida aproximadamente aos quatro<br />
anos. A fêmea carrega a massa ovariana na sua larga região abdominal, on<strong>de</strong><br />
permanece a<strong>de</strong>rida até a eclosão por aproximadamente duas semanas antes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sovar (HILL, 2001; HOSTETLER et al., 2003; WEDES, 2004). A massa <strong>de</strong> ovos<br />
que cada fêmea porta é proporcional ao seu tamanho po<strong>de</strong>ndo conter <strong>de</strong> 300.000 a<br />
1.200.000 ovos (GIFFORD 1962; WEDES, 2004).<br />
21 No município <strong>de</strong> Canavieiras a fêmea é também chamada <strong>de</strong> “pata-choca”.<br />
22 No município <strong>de</strong> Canavieiras a massa <strong>de</strong> ovos é também <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> sapupê ou tufeira.<br />
105
Segundo Gifford (1962) o padrão <strong>de</strong> coloração da carapaça esbranquiçado,<br />
amarelado ou acinzentado para fêmeas adultas é <strong>de</strong>corrente da ovulação sofrida<br />
pelas fêmeas. Esse padrão também foi encontrado por Silva e Oshiro (TAISSOUN,<br />
1974 apud SILVA e OSHIRO, 2002) em seu estudo sobre os aspectos reprodutivos<br />
do guaiamum na Baía <strong>de</strong> Sepetiba (RJ).<br />
O aparente atordoamento do guaiamum durante o fenômeno da “andada”,<br />
que resulta na perda da agressivida<strong>de</strong> e <strong>dos</strong> instintos <strong>de</strong> proteção, direção, <strong>de</strong>fesa e<br />
fuga do animal, ocasiona um consi<strong>de</strong>rável aumento <strong>de</strong> sua captura. Apesar da<br />
proibição estabelecida pelo artigo 2º da Lei Municipal 701/2005 (ver página 31)<br />
alguns <strong>catadores</strong> revelaram cometer essa prática justificando seu comportamento<br />
por questões <strong>de</strong> sobrevivência. Nordi (1994), Souto (2004) e Lima (2007) registraram<br />
a mesma conduta em seus estu<strong>dos</strong>.<br />
Dando seqüência ao ciclo da espécie, a fase posterior a “andada” é a<br />
“<strong>de</strong>sova”. Segundo os entrevista<strong>dos</strong> essa fase po<strong>de</strong> acontecer mais <strong>de</strong> uma vez<br />
durante o ano. A seguir encontra-se na íntegra <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> dois <strong>catadores</strong> que<br />
relatam a <strong>de</strong>sova e a chegada <strong>dos</strong> juvenis ao manguezal:<br />
“Aí quando ela <strong>de</strong>sova que lava na maré, então ela ficam branca. Todas<br />
as guaiamua fêmea ficam branca. (...) Elas lavam na maré, aí aquela maré<br />
pega aquelas lendinha tudo, as ovas e aí sai espalhando nos manguezais.<br />
E quando eles aparecem já é tudo grandinho.”<br />
“Depois, após oito dias a nove dias que ela tá com aquele sapupê, ela aí<br />
vai lavar na maré. Quando a maré tá preamar 23 ela <strong>de</strong>scarta na maré.<br />
Chega lá na maré ela mete as unha nela mesma. Ela se <strong>de</strong>scarta, limpa<br />
todinha. Aí a maré conduz aquelas ovas, tudo pra os mangues. Aí chega<br />
nos mangues, durante a maré ela está lastrando o mangue.”<br />
De acordo com Taissoun (1974) apud Silva e Oshiro (2002), todas as fêmeas<br />
no momento da <strong>de</strong>sova adquirem coloração branca ou amarela opaca, mantendo-a<br />
durante to<strong>dos</strong> os meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>sova. As fêmeas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sovar várias vezes no ano<br />
(HILL, 2001) <strong>de</strong>vido a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenar e conservar gametas masculinos,<br />
23 Nível máximo alcançado pela maré alta.<br />
106
em suas espermatecas, o que lhes permite utilizá-los por vários anos para fecundar<br />
os novos ovócitos, sem que seja necessário realizar novas cópulas (TAISSOUN,<br />
1974 apud SILVA e OSHIRO, 2002).<br />
Em média, os ovos permanecem no abdome das fêmeas durante <strong>de</strong>z dias,<br />
após esse período as fêmeas ovígeras caminham em direção a água salgada<br />
(OLIVEIRA, 1946; GIFFORD, 1962), on<strong>de</strong> <strong>de</strong>scartam os ovos que começam a<br />
eclodir. Uma vez eclodi<strong>dos</strong>, as minúsculas larvas são carregadas pelas correntes<br />
marinhas, on<strong>de</strong> permanecem por aproximadamente um mês (HOSTETLER et al.,<br />
2003). Entretanto, poucas conseguem sobreviver <strong>de</strong>vido à ação <strong>de</strong> predadores<br />
(HILL, 2001; HOSTETLER et al., 2003; WEDES, 2004). Neste período em que<br />
percorrem gran<strong>de</strong>s distâncias, as larvas <strong>de</strong>senvolvem-se em caranguejos juvenis,<br />
estágio no qual são <strong>de</strong>positadas nos manguezais (HOSTETLER et al., 2003).<br />
Após a fertilização, o guaiamum entra no período <strong>de</strong> engorda, que segundo<br />
os entrevista<strong>dos</strong>, se esten<strong>de</strong> do mês <strong>de</strong> junho a setembro. Relatam ainda que nessa<br />
fase o guaiamum apresenta comportamento arredio, o que, consequentemente,<br />
dificulta a sua captura. O <strong>de</strong>poimento a seguir ilustra o conhecimento produzido<br />
pelos <strong>catadores</strong> acerca da engorda:<br />
“Aí elas vão se interrar. Depois que ela se interra. Quando elas se<br />
aparece, os guaiamunzinho, já aparece o guaiamunzinho andando, cada<br />
qual no seu buraco. Aí é o seguinte, no final do ano você vê o guaiamum<br />
se tapa todo, aí você chega assim numa areia <strong>de</strong> terra. Você olha assim<br />
você não vê nenhum guaiamum pra remédio. Quando chega <strong>de</strong> setembro<br />
em diante que o guaiamum começa a se <strong>de</strong>stapar, você olha assim que o<br />
buraco tá parecendo igualmente buraco <strong>de</strong> agulha. Então o que você vê é<br />
o lastro <strong>de</strong> guaiamum. Tudo guaiamunzinho pequeno, guaiamum gran<strong>de</strong>,<br />
guaiamum médio, todo tipo <strong>de</strong> guaiamum.”<br />
Durante a engorda, os caranguejos costumam construir tocas mais profundas.<br />
Em seguida enchem-nas com folhas e as tapam com lama, abrindo apenas um<br />
pequeníssimo furo para circular o ar. Nesse período, o caranguejo pouco se<br />
107
locomove; acumulando energia em forma <strong>de</strong> gordura, que posteriormente será<br />
utilizada na fase <strong>de</strong> ecdise (NUNES, 2004).<br />
Os <strong>catadores</strong> do município <strong>de</strong> Canavieiras <strong>de</strong>senvolveram um método <strong>de</strong><br />
<strong>percepção</strong> próprio quanto à engorda do animal, como <strong>de</strong>scrito a seguir:<br />
“Aqui é o seguinte. Quando ele tá gordo ele fica amarelinho assim <strong>de</strong>ssa<br />
maneira. Então essa frente aqui fica toda peladinha aqui, essa barba <strong>de</strong>le<br />
não existe. E ela tá toda, toda aparadinha, toda lisa. E quando o guaiamum<br />
tá magro, ele fica azul e essa área daqui fica toda barbudinha aqui, então<br />
fica todo com os pêlo. Agora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando que cai os pêlo tudo e quando<br />
ele tá gordo e já preparado pra tapa pra se <strong>de</strong>scascar.”<br />
Ao término da engorda, período no qual o guaiamum adquire um consi<strong>de</strong>rável<br />
aumento <strong>de</strong> peso, inicia-se um novo enclausuramento, agora com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
crescimento do animal. A “ecdise” ou muda é um fenômeno comum a to<strong>dos</strong> os<br />
artrópo<strong>de</strong>s, e, consequentemente, a to<strong>dos</strong> os braquiúros (RUPPERT & BARNES,<br />
1996), no qual o animal troca o exoesqueleto para permitir seu crescimento corporal.<br />
Figura 37. Estrutura utilizada como indicador <strong>de</strong> ganho e perda <strong>de</strong> peso.<br />
Foto: Luciana <strong>de</strong> O. Gaião.<br />
De acordo com os entrevista<strong>dos</strong>, essa última fase do ciclo <strong>de</strong> vida do<br />
guaiamum ocorre uma vez por ano nos meses <strong>de</strong> outubro e novembro po<strong>de</strong>ndo<br />
durar <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z dias. Os <strong>catadores</strong> relataram ainda que os guaiamuns<br />
pequenos realizam a muda com maior freqüência do que os adultos.<br />
barba<br />
108
O guaiamum é uma espécie <strong>de</strong> crescimento lento comparado a maioria <strong>dos</strong><br />
outros caranguejos, enquanto os outros requerem aproximadamente 20 ecdises<br />
para atingir o tamanho máximo, o guaiamum requer mais <strong>de</strong> 60 mudas (HILL, 2001).<br />
A freqüência das ecdises diminui com a ida<strong>de</strong>, ocorrendo geralmente, uma vez por<br />
ano em indivíduos adultos, sendo, por isso, mais freqüente em jovens (HILL, 2001;<br />
ALVES e NISHIDA, 2002).<br />
Depoimento <strong>de</strong> um catador sobre a “ecdise” <strong>de</strong> guaiamuns jovens:<br />
“Depois que eles engordam aqui, eles vão se tapar. Após tapado, sem se<br />
alimentar <strong>de</strong> nada, porque o que ele comeu durante o tempo que ele<br />
engordou ele vai ficar só pra sem alimentação durante o tempo da<br />
<strong>de</strong>scasca. Quando ele se <strong>de</strong>scascam, aí agora <strong>de</strong>pois mais 10 dias que<br />
ele tá <strong>de</strong>scascado, primeira chuva que dá é quando amolece a terra eles<br />
saem cavando <strong>de</strong>vagarzinho, <strong>de</strong>vagarzinho até <strong>de</strong>stampar o buraco.<br />
Destapo ele sai. Aí agora ele torna comer novamente até chegar a época<br />
<strong>de</strong> se tapar novamente pra continuar a <strong>de</strong>scascar. Durante o ano ele se<br />
<strong>de</strong>scascam quatro vezes, que é <strong>de</strong> três em três meses. Ele <strong>de</strong>scascando,<br />
ele engordando e <strong>de</strong>scascando. Ele engorda, se tapa, <strong>de</strong>scasca. Torna a<br />
engordar, torna, <strong>de</strong>scascou, torna a engordar <strong>de</strong> novo, torna a se tapar.<br />
Tornou a <strong>de</strong>scascar, torna a <strong>de</strong>stapar. Torna a engordar, torna a tapar<br />
novamente. Quatro mês, quatro vez no período do ano, <strong>de</strong> três em três<br />
mês. Aí tomem cá ele só cresce durante o tempo que tá <strong>de</strong>scascado e<br />
endureceu o casco ele não cresce mais. Ele vai tornar a comer pra<br />
engordar. Depois que ele engorda, que se <strong>de</strong>stapa, que <strong>de</strong>scasca, durante<br />
o tempo que ele tá endurecendo a pele ele tá crescendo. Endureceu ele<br />
para novamente.”<br />
Na pré-muda, os caranguejos selam a entrada <strong>de</strong> suas tocas com lama,<br />
permanecendo imóveis no interior das mesmas até que a ecdise se realize, o que<br />
ocorre geralmente com seis a <strong>de</strong>z dias. Após a liberação do antigo exoesqueleto os<br />
caranguejos continuam a crescer, porém fora <strong>de</strong> suas tocas afim <strong>de</strong> encontrar uma<br />
maior (HILL, 2001).<br />
Segundo os entrevista<strong>dos</strong>, durante a “ecdise” o guaiamum fica <strong>de</strong> leite,<br />
tornando-se impróprio para o consumo humano. De acordo com a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />
Nascimento (1984), em seu estudo com caranguejo-uçá, a cerca do caranguejo-<strong>de</strong>-<br />
leite, uma membrana fibrosa envolve a musculatura do caranguejo impedindo que a<br />
109
parte muscular entre em contato com a antiga carapaça. O espaço formado entre as<br />
mesmas é preenchido por uma mistura esbranquiçada rica em hormônios, proteínas,<br />
lipídios, fósforo, sódio, potássio, magnésio, cobre, zinco, cromo, nitrogênio,<br />
manganês e cálcio, sendo os dois últimos fundamentais para o enrijecimento da<br />
nova carapaça. O gran<strong>de</strong> teor <strong>de</strong> carbonatos presente nas vísceras e na carne<br />
confere sabor <strong>de</strong>sagradável ao caranguejo po<strong>de</strong>ndo causar efeitos colaterais como<br />
diarréia, dores abdominais e alterações no sistema nervoso, tais como letargia e<br />
entorpecimento, em quem consumi-lo (ARAÚJO, 2004).<br />
No mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro os guaiamuns exibem suas novas carapaças e<br />
dispondo <strong>de</strong> ovócitos maduros se apresentam prontos para mais uma fase <strong>de</strong><br />
acasalamento, reiniciando o ciclo <strong>de</strong> vida da espécie.<br />
110
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
“A Carência Popular<br />
o Desespero Coletivo<br />
o Delírio e a Insanida<strong>de</strong> Nacional<br />
convivem harmoniosamente<br />
numa socieda<strong>de</strong> em que falta<br />
entre outros<br />
Água, Pão e Atenção”<br />
Nadia <strong>dos</strong> Santos Piau<br />
Este estudo teve como enfoques o saber empírico e as percepções<br />
ambientais <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos do município <strong>de</strong> Canavieiras, acerca do<br />
guaiamum, recurso do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m para sua sobrevivência, e do manguezal,<br />
ecossistema no qual habita o recurso em questão.<br />
O levantamento <strong>de</strong> informações acerca das condições sócio-econômicas <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos, mais especificamente <strong>de</strong> guaiamum, resi<strong>de</strong>ntes no<br />
município <strong>de</strong> Canavieiras veio a ratificar a estagnação da infra-estrutura básica,<br />
gerida pelo po<strong>de</strong>r público, <strong>de</strong>stinada às populações que habitam regiões<br />
circunvizinhas às áreas <strong>de</strong> manguezal. O acesso a necessida<strong>de</strong>s vitais como<br />
alimentação, saú<strong>de</strong>, moradia, educação e lazer <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong> citadas na<br />
constituição brasileira como direitos sociais comuns a to<strong>dos</strong> os cidadãos, ainda se<br />
apresentam, em pleno século XXI, como uma utopia para as classes menos<br />
favorecidas.<br />
A população humana estudada é composta principalmente por pessoas que<br />
se encontram no auge da faixa <strong>dos</strong> economicamente ativos (<strong>de</strong> 30 a 39 anos), com<br />
grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> predominante referente ao 1º ciclo do ensino fundamental e um<br />
representativo índice <strong>de</strong> analfabetismo. A renda proveniente da captura do<br />
guaiamum está abaixo <strong>de</strong> um salário mínimo vigente por mês.<br />
111
O guaiamum é capturado artesanalmente. A gran<strong>de</strong> maioria utiliza para tal<br />
façanha o petrecho do tipo “ratoeira”, que apesar da inserção <strong>de</strong> novas matérias<br />
primas em sua confecção (lata <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha e garrafa plástica <strong>de</strong> refrigerante)<br />
continua a manter a origem artesanal <strong>de</strong> produção. A eficácia <strong>de</strong>ssa armadilha é<br />
potencializada quando o limão é usado como isca. Outra técnica artesanal<br />
<strong>de</strong>nominada “capim” é empregada com alto grau <strong>de</strong> eficiência na captura do<br />
guaiamum, no entanto, a mesma exige paciência e gran<strong>de</strong> concentração por parte<br />
do catador.<br />
Ambas as estratégias <strong>de</strong> captura são seletivas e sustentáveis, pois não<br />
conferem nenhum dano físico ao animal permitindo que seja efetuada a sexagem e<br />
estimado o comprimento <strong>dos</strong> animais captura<strong>dos</strong>, evitando possíveis infrações as<br />
normas da lei <strong>de</strong>vido a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua soltura. Entretanto alguns <strong>catadores</strong><br />
revelaram, em conversas informais, praticar a captura do guaiamum durante o<br />
período <strong>de</strong> “andada”, quando em condições <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>, como ausência<br />
<strong>de</strong> alimento.<br />
A captura artesanal do guaiamum representa uma importante ativida<strong>de</strong><br />
econômica para um consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> pessoas que vivem próximas aos<br />
manguezais no município <strong>de</strong> Canavieiras. O expressivo aumento da pressão <strong>de</strong><br />
captura sobre essa espécie, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado após a ocorrência <strong>de</strong> uma mortanda<strong>de</strong><br />
acentuada (DCL) que afetou as populações <strong>de</strong> caranguejo-uçá, evi<strong>de</strong>ncia uma<br />
possível ameaça à manutenção do guaiamum em níveis ecologicamente<br />
sustentáveis, fato que tem preocupado os órgãos ambientais e governamentais,<br />
dada a importância ecológica, social e econômica <strong>de</strong>sse crustáceo na região.<br />
Configurou-se entre <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos e proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong><br />
praia o <strong>de</strong>scaso com a qualida<strong>de</strong> da carne ingerida pelo consumidor final, aqui<br />
112
exemplificado pela não <strong>de</strong>sintoxicação do guaiamum quando em cativeiro. O<br />
confinamento do animal tem como principal finalida<strong>de</strong> garantir o aumento <strong>de</strong> peso da<br />
espécie, enquanto aguardam o aparecimento <strong>de</strong> potenciais compradores. A<br />
estrutura e o volume <strong>dos</strong> cativeiros estão diretamente relaciona<strong>dos</strong> com o porte do<br />
estabelecimento gastronômico. Os cativeiros utiliza<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong> são <strong>de</strong><br />
pequeno porte, salvo os pertencentes aqueles que também assumem papel <strong>de</strong><br />
atravessador.<br />
O acesso às comunida<strong>de</strong>s e a presença <strong>de</strong> intermediários são fatores que<br />
influenciam a formação e a diferenciação no preço do guaiamum: em comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> difícil acesso o valor <strong>de</strong> mercado estabelecido para o animal é inferior às <strong>de</strong>mais<br />
localida<strong>de</strong>s, entretanto, é freqüente a presença <strong>dos</strong> intermediários que se<br />
aproveitam da situação para impor o preço <strong>de</strong>sejado. No processo <strong>de</strong><br />
comercialização do guaiamum estabelecido entre <strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong><br />
cabanas <strong>de</strong> praia o produto po<strong>de</strong> chegar ao consumidor final com agregação <strong>de</strong> até<br />
200% sobre o valor inicial, valor estipulado pelo catador cujo lucro é ínfimo.<br />
O receio em relação à emissão <strong>de</strong> multas e a apreensão do produto por parte<br />
do órgão competente (IBAMA) tem se mostrado até então como um eficiente<br />
mecanismo <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> comercialização <strong>dos</strong> guaiamuns abaixo do tamanho<br />
permitido pela legislação municipal vigente (6,0 cm) e <strong>de</strong> fêmeas.<br />
Os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos do município <strong>de</strong> Canavieiras possuem um<br />
conhecimento altamente elaborado sobre a biologia do guaiamum e sobre<br />
fenômenos ambientais que interferem na mesma, sendo, esse conhecimento, na<br />
maioria das vezes, parcial ou totalmente corroborado pela literatura científica. As<br />
percepções comportamentais sobre os caranguejos e os fenômenos ambientais<br />
relaciona<strong>dos</strong>, narra<strong>dos</strong> neste trabalho, oferecem informações referentes ao manejo e<br />
113
a conservação <strong>de</strong>sses recursos, sendo, por isso, utiliza<strong>dos</strong> pelos <strong>catadores</strong><br />
profissionais na elaboração <strong>de</strong> estratégias sustentáveis <strong>de</strong> otimização da captura.<br />
Destarte, a existência <strong>de</strong>sse minucioso conhecimento sobre os aspectos<br />
ecológicos do guaiamum, evi<strong>de</strong>nciada nesse estudo revela a viabilida<strong>de</strong> e a<br />
importância da utilização <strong>de</strong>sse saber tradicional como subsídio para estu<strong>dos</strong><br />
científicos e para o estabelecimento <strong>de</strong> normas que regulamentem a<br />
sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captura.<br />
Após uma meticulosa análise das informações acima relatadas emitimos as<br />
seguintes sugestões:<br />
• a elaboração e implementação <strong>de</strong> ações, juntamente com a participação <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong>, que viabilizem a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssa população;<br />
• a geração <strong>de</strong> fontes alternativas <strong>de</strong> rendas principalmente durante o período <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>feso do guaiamum;<br />
• a realização <strong>de</strong> um efetivo programa <strong>de</strong> conscientização, a ser realizado com<br />
<strong>catadores</strong> e proprietários <strong>de</strong> cabanas <strong>de</strong> praia locais, sobre os potenciais riscos<br />
para o consumidor final da ingestão do guaiamum sem a sua <strong>de</strong>vida<br />
<strong>de</strong>sintoxicação;<br />
• a criação e parceria com a Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-20 <strong>de</strong> um sistema<br />
corporativista, que viabilize o estabelecimento <strong>de</strong> preços justos para o catador<br />
no processo <strong>de</strong> comercialização do recurso em questão;<br />
• a inserção do conhecimento tradicional <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> na construção <strong>de</strong> planos<br />
<strong>de</strong> manejo sustentáveis para o gerenciamento <strong>dos</strong> recursos costeiros e<br />
estuarinos do município.<br />
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ALBUQUERQUE, A. L et al. As disparida<strong>de</strong>s existentes entre a proteção <strong>ambiental</strong> e<br />
ativida<strong>de</strong>s econômicas exercidas em áreas naturais analisadas em Itambí - RJ. X<br />
Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Física Aplicada, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2003.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: Outubro 2005.<br />
ALVES, R. R. da N. & NISHIDA, A. K. A ecdise do caranguejo-uçá, Uci<strong>de</strong>s cordatus<br />
(Crustácea, Decapoda, Brachyura) na visão <strong>dos</strong> caranguejeiros. Interciência. Vol.<br />
27(3): 110-117, 2002.<br />
ALVES, R. R. da N. & NISHIDA, A. K. Aspectos socioeconômicos e <strong>percepção</strong><br />
<strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejo-uçá Uci<strong>de</strong>s cordatus (L. 1763) (Decapoda,<br />
Brachyura) do estuário do rio Mamanguape, nor<strong>de</strong>ste do Brasil. Interciência. Vol.<br />
28(1): 36-43, 2003.<br />
ALVES, J. R. P. Manguezais: educar para proteger. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FEMAR:<br />
SEMADS, 2001.<br />
AMADOR, E. S. Assoreamento da Baía da Guanabara - Taxas <strong>de</strong> sedimentação.<br />
Anais da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Ciências Vol. 52(4): 723-742, 1980.<br />
ARAÚJO, L. Comer caranguejo no <strong>de</strong>feso faz mal à saú<strong>de</strong>. Diário <strong>de</strong> Vitória,<br />
Vitória, ES, 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2004.<br />
AVELINE, L. C. Fauna <strong>dos</strong> manguezais brasileiros. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />
Geografia. Vol. 42(4): 786-820, 1980.<br />
BAILÃO, C. A. G. Gestão e educação <strong>ambiental</strong>: relatos <strong>de</strong> experiências sobre a<br />
questão <strong>ambiental</strong>. Vol. 2. Santo André: Semasa, 2001.<br />
BIGARELLA, J. J. Contribuição ao estudo da planície litorânea do Estado do Paraná.<br />
Brazilian Archives of Biology and Technology. Vol. Jubilee (1946-2001): 65-110,<br />
2001. Disponível em: . Acesso em: Outubro 2005.<br />
BIZERRIL, C. R. S. F. Peixes Marinhos do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: FEMAR: SEMADS, 2001.<br />
BLASCO, F. et al. World Mangrove Resources. GLOMIS Electronic Journal. Vol.<br />
1(2), 2001. Disponível em: . Acesso em:<br />
julho <strong>de</strong> 2005.<br />
115
BOTELHO, E. R. <strong>de</strong> O. & SANTOS, M. do C. F. A cata <strong>de</strong> crustáceos e moluscos no<br />
manguezal do Rio Camaragibe – estado <strong>de</strong> Alagoas: aspectos sócio-<strong>ambiental</strong> e<br />
técnico-econômico. Boletim Técnico-Científico do CEPENE, Tamandaré. Vol.<br />
13(2): 77-96, 2005.<br />
BRANCO, J. O. Aspectos bioecológicos do caranguejo Uci<strong>de</strong>s cordatus (Linnaeus<br />
1763) (Crustacea: <strong>de</strong>capoda) no manguezal do Itacorubi, Santa Catarina, BR. Arq.<br />
Biol. Teecnol. Vol. 36(1): 133-148, 1993.<br />
BRASIL. Constituição do Estado da Bahia: promulgada em 05 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />
1989. Disponível em: .<br />
Acesso em: novembro <strong>de</strong> 2006.<br />
BRASIL. Decreto-Lei 9.760, <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1946. Dispõe sobre os bens<br />
imóveis da União e dá outras providências. Disponível em:<br />
. Acesso em:<br />
novembro <strong>de</strong> 2006.<br />
BRASIL. Lei 701 <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005. Estabelece normas para a captura do<br />
caranguejo e guaiamum e dá outras previdências.<br />
BRASIL. Lei 4.771 <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1965. Institui o novo Código Florestal.<br />
Disponível em: . Acesso em:<br />
novembro <strong>de</strong> 2006.<br />
BRASIL. Lei 6.938, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do<br />
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos <strong>de</strong> formulação e aplicação, e dá outras<br />
providências. Disponível em: .<br />
Acesso em: novembro <strong>de</strong> 2006.<br />
BRUNET, J. M. S. Aratus, caranguejos, siris e guaiamuns, animais do<br />
manguezal: uma etnografia <strong>dos</strong> <strong>saberes</strong>, técnicas e práticas <strong>dos</strong> jovens da<br />
comunida<strong>de</strong> pesqueira <strong>de</strong> Baiacu (Ilha <strong>de</strong> Itaparica-BA). Dissertação <strong>de</strong><br />
Mestrado, UFBA/UEFS, Instituto <strong>de</strong> Física-Instituto <strong>de</strong> Biologia-Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia, 2006.163pp.<br />
CANAVIEIRAS. Lei Municipal 572/99. Dispõe sobre a promoção do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento econômico, social e urbano da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> canavieiras, instituindo o<br />
plano diretor urbano. Jornal Oficial. Anexo 2. 2ª quinzena <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1999.<br />
CARDOSO, T. A. Subsídios para o manejo participativo da pesca artesanal da<br />
manjuba no Parque Estadual da Ilha do Car<strong>dos</strong>o, SP. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado,<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais. UFSCar, 2004.<br />
101pp.<br />
CARVALHO, C. P. A. <strong>de</strong>. Planejamento Estratégico e Turismo Cultural: um<br />
futuro para Canavieiras. Ilhéus: ICER, 2004. Disponível em:<br />
. Acesso em: março <strong>de</strong> 2006.<br />
116
CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira. Canavieiras:<br />
Cida<strong>de</strong>s do Cacau - 4. Ilhéus: CEPLAC, 1980.<br />
COELBA – Companhia <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> do Estado da Bahia. Programa Luz para<br />
To<strong>dos</strong>. 2007. Disponível em: . Acesso em: maio <strong>de</strong><br />
2007.<br />
COEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente. Resolução nº 02/2002, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 2002 (DOE 10/04/02). Art. 1º, XI. Superintendência Estadual do Meio<br />
Ambiente – Ceará. Disponível em:<br />
. Acesso em: outubro <strong>de</strong> 2005.<br />
COLOGNESE, S. A. & MÉLO, J. L. B. <strong>de</strong>. A Técnica <strong>de</strong> Entrevista na Pesquisa<br />
Social. In: Pesquisa Social Empírica: Méto<strong>dos</strong> e Técnicas. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Sociologia,<br />
Porto Alegre, PPGS/UFRGS, Vol. 9, 1998.<br />
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 04/1985, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 1985. Disponível em:<br />
. Acesso em: maio <strong>de</strong><br />
2006.<br />
CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente do estado <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
Resolução n° 02/2002, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2002. ANEXO IV. Disponível em:<br />
. Acesso em: outubro <strong>de</strong> 2005.<br />
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. Série Princípios. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática,<br />
1993.<br />
COSTA, L. G. da S. Adaptações. In: SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal -<br />
Ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Reserch, 1995.<br />
COSTA, G. A. et al. Fisionomia do manguezal - núcleo Picinguaba. Universida<strong>de</strong><br />
Católica <strong>de</strong> Brasília – UCB. Revista Humanitates. Vol. 1(1): 1-3, 2004. Disponível<br />
em: . Acesso em: abril <strong>de</strong> 2005.<br />
COSTA, A. L. P. et al. Macrofauna associada às raízes <strong>de</strong> Rhizophora mangle.<br />
In: Anais do VI Congresso <strong>de</strong> Ecologia do Brasil. Vol. 1, Cap. 1. Fortaleza, 2003.<br />
CRUZ NETO, O. O trabalho <strong>de</strong> campo como <strong>de</strong>scoberta e criação. In: MINAYO,<br />
M. C. <strong>de</strong> S. et al. Pesquisa social: teoria, método e criativida<strong>de</strong>. Petrópolis, RJ:<br />
Vozes. Cap. 3, 51-66 pp. 1994.<br />
DUARTE, C. B. G. Manguezal do <strong>de</strong>lta <strong>dos</strong> rios Peruipe, Pituaçu e Caravelas:<br />
alternativas para o or<strong>de</strong>namento da captura do caranguejo-uçá (Uci<strong>de</strong>s<br />
cordatus L.) propiciando a sustentabilida<strong>de</strong> da espécie e das comunida<strong>de</strong>s<br />
117
<strong>tradicionais</strong> – Nova Viçosa e Caravelas - Bahia. Monografia <strong>de</strong> Graduação,<br />
UNEB, 2004. 108pp.<br />
FALCÃO, F. Instrumentos <strong>de</strong> pesquisa: técnicas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> da<strong>dos</strong>. Instituto <strong>de</strong><br />
Ensino Superior Fucapi. Design <strong>de</strong> Interface Digital. 2007. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: fevereiro 2007.<br />
FERNANDES, J. G. <strong>dos</strong> S. Do oral ao escrito: Implicações e complicações na<br />
transcrição <strong>de</strong> narrativas orais. Outros tempos. Vol. 2: 156-166, 2005. Disponível<br />
em: . Acesso em: junho, 2007.<br />
FRANCO, M. V. G. Partilhando <strong>saberes</strong>: educação <strong>ambiental</strong> na Vila <strong>de</strong><br />
Garapua, município <strong>de</strong> Cairú-BA. Monografia <strong>de</strong> Graduação, UFBA, Instituto <strong>de</strong><br />
Biologia, 2002. 74pp.<br />
GIFFORD, C. A. Some observations on the general biology of the land crab,<br />
Cardisoma guanhumi (Latreille) in South Florida. Biological Bulletin of the Marine<br />
Biology Laboratory Woods Hole. Vol. 123: 207-223, 1962.<br />
GIL, A. C. Méto<strong>dos</strong> e técnicas <strong>de</strong> pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.<br />
GONZÁLEZ, S. Educação <strong>ambiental</strong> biorregional: a comunida<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>nte na<br />
Ilha das Caieiras, Vitória (ES). Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, UFES, 2006. 130pp.<br />
GT-CARCINICULTURA. Relatório final. Comissão <strong>de</strong> Meio Ambiente e<br />
Desenvolvimento Sustentável. Grupo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>stinado a realizar<br />
diagnóstico sobre os impactos da carcinicultura (cultura <strong>de</strong> crustáceos em<br />
viveiros) no meio ambiente, nas regiões norte e nor<strong>de</strong>ste. Relator: Dep. Fe<strong>de</strong>ral<br />
João Alfredo Melo Teles, 2004.<br />
HARDY, J. Abaco's Land Crabs. Abaco Journal on the World Wi<strong>de</strong> Web. May,<br />
2000. Disponível em: . Acesso em: abril<br />
<strong>de</strong> 2005.<br />
HILL, K. Cardisoma guanhumi. Smithsonian Marine Station at Fort Pierce, 2001.<br />
Disponível em: . Acesso em:<br />
setembro <strong>de</strong> 2005.<br />
HERZ, R. Estrutura física <strong>dos</strong> manguezais da costa do estado <strong>de</strong> São Paulo. Anais<br />
do Simpósio Sobre Ecossistemas da Costa Sul e Su<strong>de</strong>ste Brasileira. ACIESP. Vol.<br />
54(2): 117-126, 1987.<br />
HOSTETLER, M. E. et al. Blue Land Crab (Cardisoma ganhumi). Institute of Food<br />
and Agricultural Sciences. University of Florida, 2003. Disponível em:<br />
. Acesso em: setembro <strong>de</strong> 2005.<br />
118
HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Editora: Objetiva, 2001.<br />
3008pp.<br />
IBAMA. Instrução Normativa 05 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2004. Disponível em: <<br />
http://www.ibama.gov.br/pndpa/legislacao.php?id_arq=123>. Acesso em: janeiro <strong>de</strong><br />
2007.<br />
IBAMA. Instrução Normativa 06 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006. Disponível em:<br />
. Acesso em: janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />
IBAMA. Instrução Normativa 83 <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2006. (Seção 1, pg.206).<br />
Disaponível em:<br />
. Acesso em:<br />
janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />
IBAMA. Instrução Normativa 90 <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006. Disponível em:<br />
. Acesso em: janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />
IBGE– Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística. Cida<strong>de</strong>s@, Canavieiras – BA.<br />
2006. Disponível em: . Acesso em:<br />
janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />
IBGE/PNAD. Composição e Mobilida<strong>de</strong> Populacional. 2004. Disponível em:<br />
. Acesso em: fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />
IBGE/PNAD. Rendimento. 1999. Disponível em:<br />
. Acesso em: janeiro <strong>de</strong> 2007.<br />
LACERDA, L. D. Manguezais: Florestas <strong>de</strong> Beira Mar. Ciência Hoje. Vol. 13: 62-70,<br />
1984.<br />
LIMA, T. M. <strong>de</strong> A. Teia <strong>de</strong> sincretismo: uma introdução à poética <strong>dos</strong> mangues.<br />
Tese <strong>de</strong> Doutorado, UFPE, Centro <strong>de</strong> Artes e Comunicação, 2007. 401pp.<br />
LLOYD, R. M. The Illusive Great Land Crab. Regional Perspectives in marine<br />
biology. Florida Community College at Jacksonville, 2001. Disponível em:<br />
. Acesso em: setembro <strong>de</strong> 2005.<br />
MACINTOSH, D. J. & ASHTON, E. C. A review of mangrove biodiversity<br />
conservation and management. Centre for Tropical Ecosystems Research.<br />
Denmark: University of Aarhus, 2002.<br />
MARCONI, M. A. & LAKATOS, E. M. Técnicas <strong>de</strong> pesquisa: planejamento e<br />
execução <strong>de</strong> pesquisas, amostragens e técnicas <strong>de</strong> pesquisa, elaboração,<br />
análise e interpretação <strong>de</strong> da<strong>dos</strong>. São Paulo: Atlas, 1999.<br />
119
MATTOS-FONSECA, S. et al. Consi<strong>de</strong>rações Socio-Ambientais para Subsidiar a<br />
Valoração <strong>dos</strong> Danos do Derramamento <strong>de</strong> Petróleo em Manguezais do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, Brasil. In: Laboratório em Diagnóstico e Gestão Participativa <strong>de</strong><br />
Ecossistemas, 2000, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Laboratório em Diagnóstico e Gestão<br />
Participativa <strong>de</strong> Ecossistemas, 2000.<br />
MATTOS-FONSECA, S. & ROCHA, M. T. O MDL e as Florestas <strong>de</strong> Manguezal. In:<br />
VII Seminários em Administração FEA/USP, 2004, São Paulo. Anais do VII SEMEAD<br />
- FEA/USP, 2004.<br />
MENDES, L. P. Etnoecologia <strong>dos</strong> pescadores e marisqueiras da Vila <strong>de</strong><br />
Garapuá/BA. Monografia <strong>de</strong> Graduação, UFBA, 2002. 97pp.<br />
MINISTÉRIO DA SAÚDE/DATASUS. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
Informações gerais, Município: Canavieiras - BA. 2000. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: março <strong>de</strong> 2007.<br />
MMA – Ministério do Meio Ambiente. Ibama regulamente cata do caranguejo-uçá<br />
no Nor<strong>de</strong>ste e no Pará. 2003. Disponível em:<br />
. Acesso em: setembro<br />
<strong>de</strong> 2005.<br />
NASCIMENTO, S. A. Biologia do caranguejo-uçá. ADEMA. Aracajú - SE, 1993.<br />
NASCIMENTO, S. A. Ecofisiologia do manguezal. ADEMA. Aracajú - SE,<br />
1997/1998.<br />
NASCIMENTO, S. A. Estudo bio-ecológico do caranguejo-uçá e das<br />
características <strong>dos</strong> manguezais do Estado <strong>de</strong> Sergipe. Relatório Técnico da<br />
ADEMA. Aracajú - SE, 1984.<br />
NASCIMENTO, S. A. Estudo da Importância do Apicum para o Ecossistema<br />
Manguezal. Relatório Técnico da ADEMA. Aracajú - SE, 1999.<br />
NORDI, N. A captura do caranguejo-uçá (Uci<strong>de</strong>s cordatus) durante o evento<br />
reprodutivo da espécie: o ponto <strong>de</strong> vista <strong>dos</strong> caranguejeiros. Revista Nor<strong>de</strong>stina<br />
<strong>de</strong> Biologia. Vol. 9(1): 41-47, 1994.<br />
NORDI, N. O. Os <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejo-uçá (Uci<strong>de</strong>s cordatus) da região <strong>de</strong><br />
Várzea Nova (PB): uma abordagem ecológica e social. Tese <strong>de</strong> Doutorado.<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos, 1992. 107pp., apud IVO, C. T. C. & Gesteira, T.<br />
C. V. Sinopse das observações sobre a bioecologia e pesca do caranguejouçá,<br />
Uci<strong>de</strong>s cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), capturado em estuários <strong>de</strong><br />
sua área <strong>de</strong> ocorrência no Brasil. Boletim Técnico-Científico do CEPENE,<br />
Tamandaré. Vol. 7(1): 9-52, 1999.<br />
120
NUNES, A. G. A. Os argonautas do mangue. Precedido <strong>de</strong> Balinese Character<br />
(Re)visitado por Etienne Samain. Campinas: Editora da Unicamp, 2004. 246 pp.<br />
OLIVEIRA, E. R. <strong>de</strong> et al. Aspectos populacionais do guaiamum Cardisoma<br />
guanhumi Latreille, 1825, do estuário do rio Una (Pernambuco - Brasil). Boletim<br />
Técnico Científico do CEPENE/IBAMA. Vol. 9(1): 123-146, 2001.<br />
OLIVEIRA, L. P. H. <strong>de</strong>. Estu<strong>dos</strong> ecológicos <strong>dos</strong> crustáceos comestíveis uçá e<br />
guaiamú, Cardisoma guanhumi Latreille e Uci<strong>de</strong>s cordatus (L). Gecarcinidae,<br />
Brachyura. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Vol. 44(2), 1946.<br />
OSHIRO, L. M. Y.; SILVA, R. da & SILVEIRA, C. M. da. Rendimento <strong>de</strong> carne nos<br />
caranguejos guaiá, Menippe nodifrons Stimpson, 1859 e guaiamum, Cardisoma<br />
guanhumi Latreille, 1825 (Crustácea, Decapoda, Brachyura) da Baía <strong>de</strong><br />
Sepetiba/RJ. Acta Biológica Leopol<strong>de</strong>nsia. Vol. 21(1): 83-88, 1999.<br />
OTHMAN, M. A. Value of mangroves in coastal protection. Hydrobiologia. Vol. 285:<br />
277-282, 1994.<br />
PACHECO, R. S. Aspectos da ecologia <strong>de</strong> pescadores resi<strong>de</strong>ntes na península<br />
<strong>de</strong> Maraú – BA: pesca, uso <strong>de</strong> recursos marinhos e dieta. Dissertação <strong>de</strong><br />
Mestrado, UNB, 2006. 80pp.<br />
PANGEA. Relatório técnico, 2001. 112 pp.<br />
PRADA-GAMERO, R. M..; VIDAL-TORRADO, P. & FERREIRA, T. O. Mineralogia e<br />
física-química <strong>dos</strong> solos <strong>de</strong> mangue do rio Iriri no Canal <strong>de</strong> Bertioga (Santos,<br />
SP). Revista Brasileira Ciência do Solo, Vol. 28: 233-243, 2004.<br />
PEDROZA-JÚNIOR, H. S et al. Aspectos etnobiológicos da pesca e<br />
comercialização <strong>de</strong> moluscos e crustáceos do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, Itapissuma<br />
– PE. In: I Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Extensão Universitária, João Pessoa, 2002.<br />
PEREIRA FILHO, O. & ALVES, J. R. P. Conhecendo o manguezal. Apostila<br />
técnica, Grupo Mundo da Lama. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 4ª ed, 1999.<br />
PINTO, W. O trabalho invisível das mulheres pescadoras. 2007. Disponível em:<br />
. Acesso em:<br />
março <strong>de</strong> 2007.<br />
POR, F. D. Guia ilustrado do manguezal brasileiro. Itus. Nelson Fernan<strong>de</strong>s<br />
Gomes e Fre<strong>de</strong>rico Lencioni Neto. São Paulo: Instituto <strong>de</strong> Biociências da USP, 1994.<br />
QUEIROZ, M. I. P. <strong>de</strong>. Relatos orais: Do “indizível” ao “dizível”. In: SIMSON, O.<br />
(Org). Experimentos com Histórias <strong>de</strong> vida. São Paulo: Vértice, 1988.<br />
RAMOS, S. (org.). Manguezais da Bahia: breves consi<strong>de</strong>rações. Ilhéus: Editus,<br />
2002.<br />
121
RODRIGUEZ-FOURQUET, C. Effect of fishing on the land crab's (Cardisoma<br />
guanhumi) <strong>de</strong>nsity and size structure in Puerto Rico. University of Puerto Rico:<br />
San Juan, 2002. Disponível em: .<br />
Acesso em setembro <strong>de</strong> 2005.<br />
RUPPERT, E. E. & BARNES, R. D. Zoologia <strong>dos</strong> Invertebra<strong>dos</strong>. 6 ª ed. São Paulo:<br />
Roca, 1996. 1029 pp.<br />
SAMAIN, E. “Ver” e “dizer” na tradição etnográfica: Bronislaw Malinowski e a<br />
fotografia. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 1, (2):23-60, jul./set. 1995<br />
SANT-ANNA, E. M. & WHATELEY, M. H. Distribuição <strong>dos</strong> manguezais do Brasil. R.<br />
Bras. Geogr. Vol. 43(1): 47-58, 1981.<br />
SANTOS, A. R. Análise temporal do complexo estuarino da Baixada Santista-<br />
SP, por meio <strong>de</strong> imagens Tm-Landsat. II Encontro <strong>de</strong> uso escolar do<br />
sensoriamento remoto. São José <strong>dos</strong> Campos: INPE, 2001.<br />
SANTOS, P. S. et al. Remanescentes da vegetação litorânea na região su<strong>de</strong>ste<br />
da Bahia – municípios <strong>de</strong> Una e Canavieiras. Curitiba: 2ª Mostra do Talento<br />
Científico, 2002.<br />
SÃO PAULO. Convenção <strong>de</strong> Ramsar – sobre zonas úmidas <strong>de</strong> importância<br />
internacional, especialmente como habitat <strong>de</strong> aves aquáticas. Série Enten<strong>de</strong>ndo<br />
o meio ambiente. São Paulo, Secretaria <strong>de</strong> Estado do Meio Ambiente. Vol. 3, 1997.<br />
24pp.<br />
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal, marisma e apicum (Diagnóstico<br />
Preliminar). In: Fundação BIO - RIO; Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Ciência, Tecnologia e<br />
Meio Ambiente do Pará - SECTAM; Instituto <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e Meio<br />
Ambiente do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte - DEMA; Socieda<strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> Ecologia - SNE<br />
[et al]. (Org.). MMA - Ministério do Meio Ambiente 2002. Avaliações e ações<br />
prioritárias para conservação da biodiversida<strong>de</strong> das Zonas Costeira e Marinha.<br />
Brasília: MMA/SBF, 2002.<br />
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Perfil <strong>dos</strong> ecossistemas litorâneos brasileiros, com<br />
especial ênfase sobre o ecossistema manguezal. Publ. Especial do Instituto<br />
Oceanográfico da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo, 1989. nº 7.<br />
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. et al. Manguezais. Série Investigando. São Paulo: Ática,<br />
2004.<br />
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRÓN-MOLERO, G. Guia para estudo <strong>de</strong> áreas<br />
<strong>de</strong> manguezal - Estrutura, função e flora. São Paulo: Caribbean Ecological<br />
Research. 1986. 146 pp.<br />
122
SCHMIDT, A. J. Estudo da dinâmica populacional do caranguejo-uçá, Uci<strong>de</strong>s<br />
cordatus cordatus (LINNAEUS, 1763) (CRUSTACEA-DECAPODA-<br />
BRACHYURA), e <strong>dos</strong> efeitos <strong>de</strong> uma mortalida<strong>de</strong> em massa <strong>de</strong>sta espécie em<br />
manguezais do Sul da Bahia. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, USP, Instituto<br />
Oceanográfico, 2006. 199pp.<br />
SCHMIDT, A. J. & OLIVEIRA, M. A. <strong>de</strong>. Plano <strong>de</strong> ação para o caranguejo-uçá em<br />
Canavieiras. Projeto ALMA. Ecotuba. 2006.<br />
SECRETARIA DE CULTURA E TURISMO DE CANAVIEIRAS. Relatório técnico,<br />
2006. 57pp.<br />
SEI – Superintendência <strong>de</strong> Estu<strong>dos</strong> Econômicos e Sociais da Bahia. Informações<br />
geoambientais, Informações geográficas. 1997. Disponível em:<br />
. Acesso em:<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006.<br />
SILVA, C. A. R. e. Caracterização física, físico-química e química <strong>dos</strong> estuários<br />
Apodi, Conchas, Cavalos, Açu, Guamaré, Galinhos, Ceará-Mirim, Potengi,<br />
Papeba e Guaraíra. UFRN: Natal, 2004a. Disponível em:<br />
. Acesso em outubro <strong>de</strong> 2005<br />
SILVA, M. R. da. Povos da terra e água: a comunida<strong>de</strong> pesqueira canto do<br />
mangue, Canguaretama (RN) – Brasil. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, USP, Escola<br />
Superior <strong>de</strong> Agricultura Luiz <strong>de</strong> Queiroz, 2004b. 142pp.<br />
SILVA, R. da & OSHIRO, L. M. Y. Aspectos da reprodução do caranguejo<br />
guaiamum, Cardisoma guanhumi Latreille (Crustácea, Decapoda, Gecarcdinidae) da<br />
Baía <strong>de</strong> Sepetiba, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil. Revista Brasileira <strong>de</strong> Zoologia. Vol.<br />
19(Supl. 1): 71-78, 2002.<br />
SOFFIATI, A. As pressões do comércio sobre a captura do guaiamum. III<br />
Encontro Nor<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Educação Ambiental em Áreas <strong>de</strong> Manguezal. Maragogipe,<br />
2001.<br />
SOFFIATI, A. Da mão que captura o caranguejo à globalização que captura o<br />
manguezal. II Encontro da ANPPAS. Indaiatuba, SP, 2004. Disponível em:<br />
<br />
Acesso em: <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004.<br />
SOUTO, F. J. B. A ciência que veio da lama: uma abordagem etnoecológica das<br />
relações ser humano/manguezal na comunida<strong>de</strong> pesqueira <strong>de</strong> Acupe, Santo<br />
Amaro-Ba. Tese <strong>de</strong> Doutorado, UFSCar, 2004. 319pp.<br />
TAISSOUN, N. E. El cangrejo <strong>de</strong> tierra Cardisoma guanhumi (Latreille) em<br />
Venezuela. Universidad <strong>de</strong>l Zulia. Maracaibo, Centro Investigationes Biológicas,<br />
123
1974. 41pp., apud SILVA, R. da & OSHIRO, L. M. Y. Aspectos da reprodução do<br />
caranguejo guaiamum, Cardisoma guanhumi Latreille (Crustácea, Decapoda,<br />
Gecarcdinidae) da Baía <strong>de</strong> Sepetiba, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />
Zoologia. Vol. 19(Supl. 1): 71-78, 2002.<br />
UCHA, J. M. et al. Apicum: gênese <strong>dos</strong> campos arenosos e <strong>de</strong>gradação <strong>dos</strong><br />
manguezais em dois municípios baianos. Salvador: Educação, Tecnologia e<br />
Cultura. Vol. 2: 26-27, 2004.<br />
VALÉRIO, J. Descoberto fungo que mata caranguejos do Nor<strong>de</strong>ste. Diário <strong>de</strong><br />
Vitória, Vitória, ES, 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004. Disponível em:<br />
. Acesso<br />
em: 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004<br />
VANNUCCI, M. Os manguezais e nós: uma síntese <strong>de</strong> <strong>percepção</strong>. Versão Denise<br />
Navas-Pereira. São Paulo: Edusp, 1999.<br />
VARGAS, M. A. M. & WEISSHANPT, J. R. Levantamento sócio-econômico da<br />
população humana envolvida com a captura do caranguejo-uçá. Anais do III<br />
Encontro Brasileiro <strong>de</strong> Gerenciamento Costeiro. UFC, Fortaleza, 1985.<br />
VERGARA FILHO, W. L. & PEREIRA FILHO, O. As mulheres do caranguejo.<br />
Ecologia e Desenvolvimento. Vol. 5(53): 34-36, 1995.<br />
WEDES, S. Cardisoma guanhumi. Animal Diversity Web. University of Michigan<br />
Museum of Zoology. 2004. Disponível em:<br />
. Acesso em outubro <strong>de</strong> 2005.<br />
WIELEWICKI, V. H. G. A pesquisa etnográfica como construção discursiva. Acta<br />
Scientiarum. Vol. 23(1):27-32, 2001.<br />
YOKOYA, N. S. Distribuição e origem. In: SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal -<br />
Ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Reserch, 1995.<br />
124
A N E X O S<br />
125
ANEXO A<br />
Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido<br />
Prezado Senhor(a):<br />
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário, <strong>de</strong> uma pesquisa que<br />
tem o objetivo <strong>de</strong> contribuir para a conservação do guaiamum e consequentemente para o<br />
sustento <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos no município <strong>de</strong> Canavieiras. Este estudo po<strong>de</strong>rá<br />
ser um instrumento para o <strong>de</strong>senvolvimento das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caranguejeiros que<br />
sobrevivem <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> e da manutenção da comercialização <strong>de</strong>sse animal no<br />
município. Se aceitar fazer parte <strong>de</strong>ssa pesquisa, você respon<strong>de</strong>rá a uma entrevista, que<br />
po<strong>de</strong>rá ser gravada e/ou fotografada, po<strong>de</strong>ndo também ser observado, por mim, em alguns<br />
<strong>dos</strong> locais que freqüenta. Através <strong>de</strong> uma entrevista serão levantadas informações que<br />
ajudarão a manter a espécie nos manguezais, para que esse animal possa continuar sendo<br />
comercializado, porém <strong>de</strong> forma sustentável.<br />
A partir das informações obtidas po<strong>de</strong>rá ocorrer a realização <strong>de</strong> campanhas e outras<br />
ações, por instituições públicas e/ou privadas, em Canavieiras. Sempre que quiser, você<br />
po<strong>de</strong>rá tirar suas dúvidas sobre essa pesquisa. Você também po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> participar<br />
em qualquer momento que <strong>de</strong>sejar, sem que isso lhe cause qualquer problema.<br />
Como responsável por essa pesquisa, prometo que as informações obtidas serão<br />
usadas <strong>de</strong> forma generalizada, mantendo em segredo seu nome e seu en<strong>de</strong>reço. Prometo<br />
também que você será in<strong>de</strong>nizado caso sofra alguma perda física ou moral por causa <strong>de</strong>ssa<br />
pesquisa.<br />
Assim, se está claro para o senhor(a) o objetivo <strong>de</strong>ssa pesquisa e se você aceita<br />
participar, peço que, por favor, assine este documento.<br />
Muito obrigada por sua colaboração,<br />
Luciana <strong>de</strong> Oliveira Gaião<br />
Pesquisadora Responsável / matrícula nº 200560023<br />
Telefones para contato: (73) 3269-1536 / 8813-5844<br />
Eu, _____________________________________, RG__________________, aceito<br />
respon<strong>de</strong>r a entrevista da pesquisa: Saberes <strong>tradicionais</strong> e <strong>percepção</strong> <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos do município <strong>de</strong> Canavieiras, Bahia, acerca do<br />
guaiamum, Cardisoma guanhumi (Latreille, 1825). Confirmo que fui <strong>de</strong>vidamente<br />
informado(a) que a entrevista po<strong>de</strong>rá ser gravada e/ou fotografada, e que também<br />
po<strong>de</strong>rei ser observado(a) em alguns locais que freqüento. Prometeram que po<strong>de</strong>rei<br />
<strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ssa pesquisa a qualquer momento, sem que isto me cause<br />
qualquer problema, e que meu nome e meu en<strong>de</strong>reço serão manti<strong>dos</strong> em segredo.<br />
Local e data: ______________, ___ / ___ / ______<br />
____________________________________<br />
Assinatura do entrevistado<br />
126
Eu, _____________________________________, RG__________________,<br />
testemunho que _____________________________________,<br />
RG__________________,aceitou participar da entrevista da pesquisa: Saberes<br />
<strong>tradicionais</strong> e <strong>percepção</strong> <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> <strong>catadores</strong> <strong>de</strong> caranguejos do município <strong>de</strong><br />
Canavieiras, Bahia, acerca do guaiamum, Cardisoma guanhumi (Latreille, 1825), e<br />
que foi <strong>de</strong>vidamente informado(a) que a entrevista po<strong>de</strong>rá ser gravada e/ou fotografada,<br />
e que também po<strong>de</strong>rá ser observado(a) em alguns locais que freqüenta. Afirmo, também,<br />
que o mesmo foi informado que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ssa pesquisa a qualquer<br />
momento, sem que isto lhe cause qualquer problema, e que seu nome e en<strong>de</strong>reço serão<br />
manti<strong>dos</strong> em segredo.<br />
Local e data: ______________, ___ / ___ / ______<br />
____________________________________<br />
Assinatura da testemunha<br />
127
ANEXO B<br />
QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO<br />
CATADORES DE GUAIAMUM<br />
Data: _____/_____/______ Nome do entrevistador:_______________________________<br />
__<br />
1. Nome do entrevistado(a):__________________________________________________<br />
2. En<strong>de</strong>reço:_______________________________________________________________<br />
QUESTÕES SOCIOECONÔMICAS<br />
3. Ida<strong>de</strong>____________ 4. Naturalida<strong>de</strong>:____________________________________<br />
5. Estado civil:<br />
( ) Solteiro(a) ( ) Separado(a) ( ) Viúvo (a) ( ) Casado(a) ( ) Amigado(a)<br />
6. Qual foi à última série concluída?__________________( ) Nunca freqüentou a escola<br />
7. Qual é a sua profissão?_________________________________________<br />
8. Há quanto tempo trabalha nessa profissão?__________________________________<br />
9. Qual a sua renda mensal (R$)?____________________________________________<br />
10. Membros da família.<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
8<br />
9<br />
10<br />
11. Possui:<br />
( ) CPF ( ) RG ( ) TE ( ) CT<br />
Nome Sexo Parentesco<br />
12. Quais <strong>de</strong>sses objetos possui em casa?<br />
( ) TV ( ) Gela<strong>de</strong>ira ( ) Ventilador<br />
( ) Antena parabólica ( ) Freezer ( ) Ferro elétrico<br />
( ) DVD ( ) Fogão ( ) Telefone fixo<br />
( ) Rádio ( ) Liquidificador ( ) Telefone celular<br />
( ) Rádio com CD ( ) Bate<strong>de</strong>ira<br />
128
13. Situação da habitação:<br />
( ) Própria ( ) Alugada. R$__________<br />
( ) Cedida ( ) Outros__________________________<br />
14. Telhado<br />
( ) Telha ( ) Palha / Piaçava<br />
( ) Eternit ( ) Tabuinhas ( ) Outros__________________________<br />
15. Pare<strong>de</strong><br />
( ) Taipa c/ reboco ( ) Tijolo c/ reboco ( ) Tábua<br />
( ) Taipa s/ reboco ( ) Tijolo s/ reboco ( ) Outros________________<br />
16. Chão<br />
( ) Barro ( ) Cimento ( ) Tábua<br />
( ) Cerâmica ( ) Outros______________________<br />
17. Qual a origem da água usada em casa?<br />
( ) Encanamento púbico ( ) Chuva ( ) Poço ( ) Rio ( ) Outros___________<br />
18. Recebe conta?<br />
( ) Energia elétrica ( ) Água encanada<br />
19. Qual é o <strong>de</strong>stino do esgoto?<br />
( ) Esgoto sanitário ( ) Fossa aberta ( ) Fossa fechada<br />
( ) Encanamento direto no rio ( ) Outros_________________________<br />
20. Você tem banheiro <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa?<br />
( ) Sim<br />
( ) Não. Como faz quando quer ir ao banheiro?__________________________________<br />
21. Recebi algum benefício do governo?<br />
( ) Bolsa família ( ) Bolsa escola ( ) Vale gás<br />
( ) Aposentadoria ( ) Outros___________________<br />
22. Filiado à colônia <strong>de</strong> pescadores?<br />
( ) Sim<br />
( ) Não. Por quê?___________________________________________________________<br />
QUESTÕES SOBRE A CAPTURA DO GUAIAMUM<br />
23. Quantas horas trabalha por dia nessa ativida<strong>de</strong>?<br />
__________________________________________________________________________<br />
24. Quantos dias, por semana, trabalha na coleta do guaiamum?<br />
__________________________________________________________________________<br />
25. Como é a coleta?<br />
( ) Parceria ( ) Individual<br />
Por que?__________________________________________________________________<br />
26. (Se em parceria). Como é a partilha?<br />
__________________________________________________________________________<br />
27. Com o que coleta o guaiamum?___________________________________________<br />
129
28. De que material é feita à armadilha? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
29. Quantas armadilhas coloca? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
30. Com quanto tempo verifica as armadilhas? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
31. O que usa como isca? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
32. Quantos guaiamuns coleta?<br />
__________________________________________________________________________<br />
QUESTÕES SOBRE O ARMAZENAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DO GUAIAMUM<br />
33. Os guaiamuns são manti<strong>dos</strong> em cativeiro antes <strong>de</strong> serem vendi<strong>dos</strong>?<br />
( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 38)<br />
34. Com que finalida<strong>de</strong>?<br />
( ) Engordar ( ) Limpar ( ) Esperar ( ) Outros___________________<br />
35. Quantos guaiamuns mantêm por cativeiro? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
36. Por quanto tempo são manti<strong>dos</strong> em cativeiro?_______________________________<br />
37. Com o que os guaiamuns são alimenta<strong>dos</strong>?<br />
__________________________________________________________________________<br />
38. O que faz com os guaiamuns coleta<strong>dos</strong>?<br />
( ) Ven<strong>de</strong> menos da meta<strong>de</strong> ( ) Ven<strong>de</strong> meta<strong>de</strong><br />
( ) Ven<strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> ( ) Ven<strong>de</strong> tudo<br />
39. Valor do guaiamum (R$):<br />
Na baixa temporada Na alta temporada_______________<br />
40. Qual é o período <strong>de</strong> maior venda do guaiamum? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
41. A partir <strong>de</strong> que tamanho, em cm, o comprador aceita?_________________________<br />
42. O macho e a fêmea têm a mesma aceitação pelo comprador?<br />
( ) Sim<br />
( ) Não. Por quê?___________________________________________________________<br />
QUESTÕES SOBRE O CONHECIMENTO ECOLÓGICO<br />
43. Ocorre diminuição na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> guaiamum durante o ano?<br />
( ) Sim. Por quê?___________________________________________________________<br />
( ) Não ( ) Não sei respon<strong>de</strong>r<br />
130
44. Quando ocorre:<br />
Período<br />
Como sabe?<br />
MUDA ANDADA DESOVA<br />
45. O que você acha que influencia na andada do guaiamum? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
46. Você percebe alguma mudança no comportamento do guaiamum durante as<br />
diferentes fases da lua (nova, crescente, cheia e minguante)?<br />
( ) Não<br />
( ) Sim. Qual(is)?___________________________________________________________<br />
47. Qual é o período em que o guaiamum está “mais gordo”?<br />
__________________________________________________________________________<br />
48. Em que período que o guaiamum “<strong>de</strong>scasca”?<br />
__________________________________________________________________________<br />
131
ANEXO C<br />
QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO<br />
ESTABELECIMENTO GASTRONÔMICO<br />
Data: _____/_____/______ Nome do entrevistador:_______________________________<br />
1. Nome do estabelecimento:_________________________________________________<br />
2. En<strong>de</strong>reço:__________________________________________Telefone:_____________<br />
3. Nome do entrevistado(a):__________________________________________________<br />
4. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino<br />
QUESTÕES SOBRE O ARMAZENAMENTO E A COMERCIALIZAÇÃO DO GUAIAMUM<br />
5. Os guaiamuns são manti<strong>dos</strong> em cativeiro antes <strong>de</strong> serem vendi<strong>dos</strong>?<br />
( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 10)<br />
6. Com que finalida<strong>de</strong>?<br />
( ) Engordar ( ) Limpar ( ) Esperar ( ) Outros___________________<br />
7. Quantos guaiamuns mantêm por cativeiro? Por quê?<br />
__________________________________________________________________________<br />
8. Por quanto tempo são manti<strong>dos</strong> em cativeiro?_______________________________<br />
9. Com o que os guaiamuns são alimenta<strong>dos</strong>?<br />
__________________________________________________________________________<br />
10. Por quanto é vendido o guaiamum (R$):_______________<br />
11. A partir <strong>de</strong> que tamanho, em cm, você compra o guaiamum?___________________<br />
12. Ao comprar, você tem preferência entre macho e fêmea?<br />
( ) Não<br />
( ) Sim. Por quê?___________________________________________________________<br />
13. Sabe a diferença entre guaiamum macho e fêmea?<br />
( ) Não<br />
( ) Sim. Qual é a diferença?___________________________________________________<br />
132
G137 Gaião, Luciana <strong>de</strong> Oliveira.<br />
Saberes <strong>tradicionais</strong> e <strong>percepção</strong> <strong>ambiental</strong> <strong>dos</strong> ca-<br />
tadores <strong>de</strong> caranguejos do município <strong>de</strong> Canavieiras,<br />
Bahia, acerca do guaiamum, Cardisoma guanhumi (La-<br />
treille, 1825) / Luciana <strong>de</strong> Oliveira Gaião. Ilhéus, BA:<br />
UESC / PRODEMA, 2007.<br />
xix, 132f. : il. ; anexos.<br />
Orientador: Henrique Tomé da Costa Mata.<br />
Co-orientador: Max <strong>de</strong> Menezes.<br />
Dissertação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />
Santa Cruz. Programa Regional <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />
Desenvolvimento e Meio Ambiente.<br />
Inclui bibliografia.<br />
1.Ecologia <strong>dos</strong> manguezais. 2. Caranguejo – Pesca –<br />
Aspectos sociais. 3. Pescadores – Usos e costumes –<br />
Canavieiras (BA). 4. Manguezais. I. Título.<br />
CDD 577.698